Você está na página 1de 32

11

d e z
1 8
20

informe
apresentação
A Raimunda é uma revista anárquica, o que significa
que ela não visa abrir espaço para opressão e que ela tende a
publicar obras não-opressivas. Contudo, determinar um
limiar entre o opressivo e o não-opressivo é um mistério:
não cabe a opressor algum dizer se o outro está ou não
oprimido. Sendo assim, como editar/integrar uma
publicação e ter a certeza de que o material nela veiculado
não oprime algum leitor? Impossível ter certeza. Por isso
reconhecer que se trata de uma tentativa e considerar a
publicação de materiais não-opressivos como uma
t e n d ê n c i a d a r e v i s t a : s e r í a m o s o p r e s s ivo s s e
defendêssemos que a Raimunda é absolutamente
anárquica, que ela é totalmente não-opressiva. Não nos
cabe tal feito, mas nos cabe a tentativa de fazer uma revista
não-opressiva. Essa tentativa envolve, através da arte,
expor e lutar contra o que oprime. Esse é o objetivo e a
motivação da revista Raimunda.

A principal característica desta revista não é a sua cara,


tampouco a sua bunda ou o seu vasto mundo, Raimundo,
Raimunda, pouco importa. Interessa mais a sua abertura,
o espaço livre-anárquico que ela oferece à pessoa
artista, qualquer esta seja e o que quer que isto seja.
Ela não tem dona nem é dona. A revista quer obra, quem
faz obra, quem torna experiência obra. A Raimunda é uma
qualquer, ela não tem norma não conversável, não é fixa, é
elástica, cambiável, aberta às selvagerias da vida. Recebe
sem julgar, circula, divulga, sai berrando tudo o que cabe
dentro dela. Se tem um limite é o seu espaço cada vez mais
largo. A revista Raimunda é toda dada.

A Raimunda prioriza a produção artística, destacando a


obra e o obrar artístico. Com periodicidade semestral, ela
objetiva compartilhar e divulgar material feito pelas
pessoas integ rantes, bem como ag reg ar novas
companheiras para produções e prosas afins.

Editores:
Bruno Nepomuceno
Clayton Marinho
Diego Guimarães
Jéssica Barbosa

ano 6 | número 11 | 2018

ISSN 2358-7342 [virtual]


ISSN 2358-7350 [impressa]
sumário
em todo 4
bruno nepomuceno

na pele 7
danilo ferreira da fonseca

seção temática - MANUAL DE POÉTICA


URBANA

pelos de todo corpo em pote de geleia de


jabuticaba 12
diego guimarães

a hora dos assassinos 16


jéssica barbosa

resistir/poeira/dizer/potência 19
clayton marinho
em todo
bruno nepomuceno
Em todo o canto, o que virá
Será visto, revisto, tragado,
E talvez digerido.
É visita! Dirão alguns.
É assalto! Calarão outros.
Nada demais ou nada de menos
Tudo com o que já nos acostumamos
Nem é surpresa!
É rotina.

Em todo o pranto, o que virá


Será vício, suplício, escalabro,
E talvez conforto.
É mania! Gritarão nus.
É amargo! Sentirão incautos.
Nada fugaz ou nada serena
Toda lágrima que vem, permanece.
Nem é intrusa!
É poema.

Em todo o espanto que virá


Será difícil o néscio escapar
Xadrez perdido!
Certo o dia que conduz
Sob o laço, medo e abraço.
Cada sombra e cada luz
Pelas sendas, estilhaço.
Sem se opor
É traço.

4
5
6
na pele
danilo ferreira da fonseca
Não sinto na pele
a cor da minha pele
Não passo pela violência do estado
Que assassina a juventude negra brasileira

Não sinto na pele


A dor da minha pele
Não sei o que é o antigo chicote, o novo cassetete
O antigo tronco, o novo camburão

Não sinto na pele


A força da minha pele
Não tenho a sensibilidade de Machado
E o amor de Pixinguinha

Não sinto na pele


A resistência da minha pele
Não tenho a determinação de Zumbi e Dandara
E nem a paixão de Marielle

O que sinto na minha pele é o dever:


O dever de total solidariedade e o
comprometimento
Com quem sente na pele
A cor da sua pele

7
8
9
secao
tematica
manual de
poética
urbana
Como pensar uma poética em tempos que exigem
nosso silêncio? Como fazer uma poética com o que
não há? A página em branco responde a isso. Se nada
há a dizer, deixemos que o veículo seja o dito. A
página em branco não é simplesmente uma página em
branco. É um espaço de latência, à espera de que se dê
qualquer coisa que a tire de não-potência e
transforme-a em potência (de vida, de não, de basta,
de grito apenas). A página em branco é uma boca
arreganhada pronta a engolir os incautos, a rir, a
morder ou a gritar.
pelos de todo corpo em
pote de geleia de jabuticaba
diego guimarães
14
15
a hora dos assassinos
jéssica barbosa
A vida pede coragem
Admita o que queres
Admita isso em que estás se tornando
[ – Monstruoso
quem sabe
Monstruoso mesmo é se esconder novamente
Os índios que morrem aos montes
E você se escondendo
Também encobertando
Sim,
Todos os covardes são assassinos
Pois a vida
A vida mesma
Não é para os covardes
O que ela quer é coragem

[ – Por quem você chora?

16
17
18
resistir/poeira/
dizer/potência
clayton marinho
RESISTIR

Poeira suspensa,
Poeira sobre as coisas,
Poeira, marca do tempo,
Poeira, matéria do ar.

POEIRA

Resiste à vassoura,
Resiste à vida burguesa,
Resiste ao enquadramento,
Resiste à força.

RESISTIR

Dizer apesar de tudo,


Dizer com as palavras mais precárias,
Dizer quando se quer calar,
Dizer a existência.

DIZER

Resistir ao silêncio,
Resistir ao ódio,
Resistir ao medo,
Resistir ao poder.

RESISTIR

Potência de viver,
Potência de alegrar-se,
Potência de fazer amigos,
Potência de pensar.

POTÊNCIA

Resistir ao axioma,
Resistir à reatividade,
Resistir ao fechamento,
Resistir ao individualismo.

19
20
21
22
23
24
25
26
artistas (?)
bruno nepomuceno. uma tentativa de promo(ver) a
vida leve pela filosofia, teatro e poesia. Professor por
insistência, artista por coragem e youtuber por modinha.
@brunoluftballon

clayton marinho. cansado. faz capas e faxinas. E-mail:


claytonrfmarinho@gmail.com

danilo ferreira da fonseca. professor e historiador


que risca e arrisca versos.

diego guimarães. autor de enfrentamento (2015) e de


instabilidade (2016), livros de poemas publicados de
maneira independente, artesanal e de impressão sob
demanda. um dos editores da revista raimunda e da
revista filosofia de dunas.

jéssica barbosa. Cada vez menos. Variando os gestos


e os passos da dança.
chamada para
material artístico
Abrangência | A Revista Raimunda oferece um
espaço para a divulgação de trabalhos de artistas, o que
quer que estes sejam e quaisquer sejam os seus campos,
concedendo-lhes total liberdade sobre a obra a ser
publicada.

Extensão | Não há limite de páginas para as obras,


desde que a extensão de uma obra não comprometa a
edição da revista. Ocupe o quanto quiser da Raimunda.

Sugestão temática | Cada edição conta com uma


sugestão temática, que tem a intenção apenas de
agrupar tematicamente algumas das obras publicadas
na edição em questão, sem, no entanto, limitar as
demais; ou seja, permanece a total liberdade do
artista na escolha do tema do material a ser
enviado. Aquele que estiver seguindo a sugestão de
determinado número precisa apenas indicá-lo junto ao
envio do material, com vista à organização da revista. A
sugestão temática da 11a edição é LAVAGEM.

O prazo de envio para a Raimunda 12 termina em 12


de JUNHO de 2019. Os interessados devem entrar em
c o n t a t o a t r av é s d o e - m a i l :
revistaraimunda@gmail.com.

----------------------------------------
chamada para
material artístico
Encarte Raimunda Manifesta

O encarte, que vem a acompanhar algumas das edições


da revista, nasceu para suprir uma demanda de artistas
(o que quer que estes sejam) interessados em publicar
obras mais extensas na Raimunda, que vem se
caracterizando por circular trabalhos mais breves.
Portanto, o encarte se destina a trabalhos artísticos que
destoam da extensão dos até então divulgados pela
revista, por precisarem, pelo menos a princípio, de um
percurso mais longo de leitura/observação. Ele visa a
atender a tal demanda, e, apenas quando esta se fizer
presente, haverá um encarte acompanhando
determinada edição. Também aqui, o autor é o
responsável pelo conteúdo e pela correção de sua obra.
Interessados em participar de tal maneira em alguma
edição devem entrar em contato dentro do prazo de
envio da mesma.

Observação - Apesar de contar com edição impressa,


o principal meio de circulação da revista é o virtual. Os
editores não se comprometem a enviar cópias
impressas para os colaboradores por correio, pois
dependem da disponibilidade de recurso para tanto
(mesmo assim, sugerem que sempre que haja o
interesse em ter as edições impressas, o leitor/artista
entre em contato para saber se no momento há a
disponibilidade de envio). Já nas cidades sede, as
edições impressas estarão sempre disponíveis
enquanto houver estoque. A Revista Raimunda é
gratuita e sem fins lucrativos.
expediente
Revista RAIMUNDA - Esta publicação é
independente.

ano 6 | número 11 | 2018

Editores
Bruno Nepomuceno
Clayton Marinho
Diego Guimarães
Jéssica Barbosa

Realizadores da décima-primeira edição


Clayton Marinho, Jéssica Barbosa, Diego Guimarães,
Bruno Nepomuceno .

Diagramação e arte
Clayton Marinho

Capa e contra-capa
Clayton Marinho sobre obra Seabrook, Justine in Mask;
atribuída a Man Ray e Jacques-André Boiffard.

Sedes
Belo Horizonte – Minas Gerais
Natal - Rio Grande do Norte
João Pessoa - Paraíba

Site
revistaraimunda.wix.com/revistaraimunda

Contato
revistaraimunda@gmail.com

cada autor foi responsável pelo conteúdo e


correção de seu próprio texto.

Você também pode gostar