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Bom, agora fique então com o texto sobre “Hermes Trimegistrus”:

Hermes Trismegisto foi um misterioso mestre que viveu no Egito antes de Cristo. Seu
impressionante legado intelectual (centenas de obras sobre teologia e cosmogonia,
engenharia e arquitetura sagrada, medicina e filosofia, psicologia e magia, entre outras)
perdeu-se ao longo dos séculos, sobrando somente alguns textos, entre os quais a famosa
Tábua Esmeraldina e o Corpus Hermeticum, bases da alquimia árabe e europeia
medievais.

Hermes é considerado o pai da Alquimia e seu nome do latim, sendo seus outros nomes:
Toth em grego e Tehuti ou Dyehuty em egípcio. Os gregos o chamavam de Trismegisto,
significando que esse mestre dominava os três graus do Conhecimento: os níveis do
Aprendiz, do Companheiro e do Mestre dentro da simbologia maçônica; e as três
Montanhas – Iniciação, da Ressurreição e Ascensão – entre os gnósticos. Já os romanos o
chamavam de Mercurius ter Maximus.

Hermes Trismegisto é mencionado primordialmente na literatura ocultista como o maior de


todos os sábios egípcios, o grande criador da Alquimia, além de desenvolver um profundo
sistema de crenças metafísicas que hoje é conhecido como Hermética.

Para alguns pensadores medievais, Hermes Trismegisto foi um profeta pagão que
anunciou o advento do cristianismo. E segundo o Islã, esse mestre era o próprio profeta
Ídris (ou Enoch), mencionado diversas vezes no Alcorão e que viu Deus face a face graças
à sua santidade.

Esse mestre, segundo Clemente de Alexandria, escreveu 42 livros sobre a simbologia e os


fundamentos alquímicos, os quais os grandes alquimistas medievais árabes e,
posteriormente, europeus, estudaram e estabeleceram uma didática característica.

A Visão de Hermes

Um dia, Hermes ficou adormecido depois de refletir sobre a origem das coisas. Uma
pesada dormência apoderou-se de seu corpo, porém, à medida que seu corpo ficava
pesado, sem forma determinada, chamavam-no por seu nome. “Quem és?”, disse Hermes,
assustado. “Sou Osíris, a Inteligência soberana, e posso revelar-te todas as coisas.”

“Desejo contemplar a Fonte dos Seres, ó Divino Osíris, e conhecer Deus!” “Serás
satisfeito.” Nesse momento, Hermes sentiu-se inundado por uma Luz deliciosa, em suas
ondas diáfanas passavam as formas encantadoras de todos os seres. Porém, de repente,
espantosas trevas de formas sinuosas desceram sobre ele. Hermes ficou submergido num
caos úmido de fumo e de um lúgubre zumbido. Então, uma voz elevou-se do abismo. Era o
grito da Luz, em seguida de uma fogo sutil, saiu das úmidas profundidades e alcançou as
alturas etéreas.

Hermes subiu e voltou a ver os espaços. O caos voltava ao abismo, coros de astros se
espalhavam sobre sua cabeça e a voz da Luz enchia o infinito.

“Ficaste surpreso com o que viste?”, disse Osíris a Hermes, encadeado em seu sono e
suspenso entre a terra e o céu. “Não”, disse Hermes. “Bem, ainda saberás mais. Acabas
de ver o que acontece desde a Eternidade. A Luz que viste no princípio é a Inteligência
Divina que contém todas as coisas em potência e encerra os modelos de todos os seres.
As trevas em que estavas submergido em seguida são o mundo material onde vivem os
homens da terra. O fogo que viste brotar das profundezas é o Verbo Divino. Deus é o Pai,
o Verbo é o Filho, e sua união é a Vida…”

“Que sentido maravilhoso foi aberto em mim?”, disse Hermes. “Já não vejo com os olhos
do corpo, senão com os do Espírito. Como isso ocorre?” “Filho da terra”, respondeu Osíris,
“é porque o Verbo está em ti, o que em ti ouve, vê e obra é o próprio Verbo, o Fogo
Sagrado, a Palavra Criadora.” Posto que és assim”, disse Hermes, “faz-me ver a vida dos
mundos, o caminho das almas, de onde o homem vem e para onde volta.” “Faça-se
segundo teu desejo.”

De repente, Hermes ficou mais e mais pesado, como uma pedra, e caiu através dos
espaços como um aerólito. Por fim, viu-se no cume de uma montanha, estava escuro. A
terra era sombria e desnuda, e seus membros pareciam estar pesados como ferro.
“Levanta os olhos e observa!”, disse Osíris. Então, Hermes viu um espetáculo maravilhoso.
O espaço infinito, o céu estrelado envolvia-se em sete esferas luminosas. De uma só
mirada, Hermes viu os sete céus escalonados sobre sua cabeça como sete globos
transparentes e concêntricos, cujo centro sideral ele ocupava. O último tinha como cinta a
via-láctea.

Em cada esfera girava um planeta acompanhado de uma forma, um signo e uma luz
diferentes. Enquanto Hermes, deslumbrado, contemplava essa floração espargida e seus
movimentos majestosos, a voz disse: “Olha, escuta e compreende! Tu vês as sete esferas
de toda a vida. Através delas têm lugar a queda das almas e sua ascensão.

Os sete planetas com os seus Gênios são os sete Raios do Verbo-Luz. Cada um domina
em uma esfera do Espírito em uma fase da vida das almas. O mais aproximado a ti é o
Gênio da Lua, o de inquietante sorriso e coroado com uma foice de prata. Este preside os
nascimentos e as mortes. Ele desgarra as almas dos corpos e as atrai em seu raio.

Sobre ele, o pálido Mercúrio mostra para as almas o caminho das almas descendentes ou
ascendentes, com seu Caduceu que contém a Ciência.

Mais acima, Vênus sustenta o Espelho do Amor, onde as almas por turno se esquecem e
se reconhecem.

Sobre este o Gênio do Sol eleva a Tocha Triunfal da eterna beleza.

Mais acima ainda, Marte brande a Espada da Justiça.

Reinando sobre a esfera azulada, Júpiter sustenta o Cetro do Poder Supremo que é a
inteligência divina.

E nos limites do mundo sob os signos do Zodíaco, Saturno leva o Globo da Sabedoria
Universal”.

“Vejo”, disse Hermes, “as sete regiões que compreendem o mundo visível e invisível. Vejo
os sete Raios do Verbo-Luz, do Deus Único que os atravessa e governa. Porém, ó meu
Mestre!, de que forma tem lugar a viagem dos homens através de todos esses mundos?”
“Vês”, disse Osíris, “ uma semente luminosa cair das regiões da via-láctea na sétima
esfera? São germes de almas. Elas vivem como vapores ligeiros na região de Saturno,
ditosas, sem preocupação, ignorantes de sua felicidade. Porém, ao caírem de esfera em
esfera, revestem envolturas cada vez mais pesadas. Em cada encarnação adquirem um
novo sentido corporal, conforme o meio em que habitam.

Sua energia vital aumenta. Porém, à medida que entram em corpos mais espessos,
perdem a recordação de sua origem celeste. Assim, tem lugar a queda das almas
procedentes do divino Éter. Mais e mais prisioneiras da matéria, mais e mais embriagadas
pela vida, precipitam-se como uma chuva de fogo, com estremecimentos de
voluptuosidade, através das regiões da dor, do amor e da morte, até sua prisão terrestre,
onde tu gemes retido pelo centro ígneo da terra e onde a vida divina se assemelha a um
vão sonho.”

“As almas podem morrer?”, perguntou Hermes. “Sim!”, respondeu a voz de Isíris. “Muitas
perecem no descenso fatal. A alma é filha do céu e sua viagem é uma prova. Se em seu
amor desenfreado da matéria perde a recordação de sua origem, a brasa divina que nela
estava e que pudera chegar a ser mais brilhante que uma estrela, voa para a região etérea,
átomo sem vida, e a alma se desagrega no torvelinho dos elementos grosseiros.”

A essas palavras de Osíris, Hermes estremeceu, porque uma tempestade rugiente o


envolveu em uma nuvem negra. As sete esferas desapareceram sob espessos vapores.
Viu ali espectros lançando estranhos gritos, levados e desgarrados por fantasmas de
monstros e de animais, em meio a gemidos e de blasfêmias sem nome.

“Tal é”, explicou Osíris, “o destino das almas irremediavelmente baixas e malvadas. Sua
tortura só termina com sua destruição, que é a perda de toda a Consciência. Porém,
observa: os vapores se disspiam, as sete esferas reaparecem sob o Firmamento. Olha
deste lado. Vês aquele enxame de almas que tratam de remontar à região lunar? Algumas
são rechaçadas para a terra, como torvelinhos de pássaros sob os golpes da tempestade.

Outras alcançam a grandes braçadas a esfera superior, que as arrasta em sua rotação.
Uma vez chegadas ali, recobram a visão das coisas divinas. Porém, desta vez não se
contentam com refleti-las no sonho de uma felicidade impotente. Elas se impregnam
daquelas coisas com a lucidez da consciência iluminada pela dor, com a energia da
vontade adquirida na luta. Elas se voltam luminosas, porque possuem o divino em si
mesmas e o irradiam em seus atos.

Tempera, pois, tua alma, ó Hermes, e serena teu espírito obscurecido, contemplando
esses voos distantes de almas que remontam às sete esferas e ali se propagam como
pequenas faíscas. Porque tu também podes segui-las: basta querê-lo para elevar-se. Olha
como elas se enxameiam e descrevem coros divinos.

Cada uma se coloca sob seu gênio preferido. Algumas remontam-se até o Pai: entre as
potências, potências elas mesmas, porque ali donde tudo acaba, tudo começa eternamente
e as sete esferas dizem juntas: “Sabedoria! Amor! Justiça! Beleza! Esplendor! Ciência!
Imortalidade!”

“Eu Sou Toth, o senhor dos dois cornos da Lua.


Minha escrita é perfeita e minhas mãos são puras.

Detesto o mal e aborreço a iniquidade.

Fixo com meus escritos a Justiça Divina.

Sou o pincel que o Deus do Universo utiliza.

Sou o mestre do direito e da lealdade,

O senhor da Verdade e da Justiça,

O que destrói a mentira e afirma a Verdade ante os Deuses.”

(O Livro Egípcio dos Mortos)

Até breve,

Abraços Fraternos

Lino Bertrand

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