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eS ot HISTORIA NATUREZA TRABALHO EDUCACAO KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS Copyright © 2020, by Editora Expr Revisio: Nilton Viana ¢ Dulcineia Pavan ZAP Design. Projeto erifico, diagramagio ¢ mento: Cromosete Impressio ea Dados intermacionals de Catalogagao-na-Publicagio (CIP) Marx, Karl, 1818-1883 wae2h Historia, natureza, trabalho e educagao/ Karl Marx, Friedrich Engels ; Gaudéncio Frigotto, Maria Ciavatta 0 Roseli Salete Caldart (orgs.). —1.ed. Sao Paulo : Expresso Popular, 2020. 582 p. Indexado em GeoDados - http:/www.geodados.uem.br ISBN 978-85-7743-381- 0 1. Historia, 2. Natureza, 3. Trabalho. 4. Educacao. |. Engels, Friedrich. Il. Frigotto, Gaudéncio. II. Ciavatta, Maria IV. Caldart, Roseli Salete. V. Titulo, cout Catalogagao na Publicagao: Eliane M.S, Jovanovich ORB 9/1250 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorizacio da editora 1° edicio: fevereiro de 2020 EDITORA EXPRESSAO POPULAR Rua Abolicéo, 201 — Bela Vista CEP 01319-010 ~ Sao Paulo — SP ‘Tel: (11) 3112-0941 / 3105-9500 livraria@expressaopopular.com.br www.expressaopopular.com, br Gcd.expressaopopular editoraexpressaopopular 14. A MERCADORIA (1867) O Capital, Livro I Karu Marx 1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso ¢ valor (substancia do valor, grandeza do valor) A riqueza das sociedades nas quais domina o modo de producao capitalista aparece como uma “enorme acumulagao de mercadorias”|! e cada mercadoria particular como a sua forma elementar. A nossa investigagao comega, portanto, com a anilise da mercadoria. Amercadoria ¢ inicialmente um objeto exterior, uma coisa, que por meio das suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie, A natureza dessas necessidades, se originadas no estémago ou na fantasia, em nada muda a sua condi¢do.? Também nao importa como essa coisa satisfaz uma necessidade humana, se diretamente como os meios de subsisténcia, isto ¢, como objeto de consume, ou se indireta- mente, como meio de produgao. Toda coisa util, como ferro, papel etc., deve ser considerada de um duplo ponto de vista, segundo a qualidade e a quantidade. Cada uma dessas coisas é um todo em si mesmo com muitas propriedades e pode, Karl Marx, Zur Kritik der Politischen Ockonomie, Berlim, 1859, p. 3. (Publicado em portugues, com o titulo Para a critica da Economia Politica. Trad. Edgard Malagodi. Sto Paulo: Abril Cultural, 2003.) “O desejo implica necessidades © corpo... A maioria (das coisas) tem v: 4 (Nicholas Barbon, A Discourse on Coining the New Money Lighter. In Considerations etc., Londres, 1696, p. 2-3) Eo apetite do espirit, €€ tio natural como a fome para alor por satisfazer as necessidades do espirito, Answer to Mr. Locke's HisTORIA, NATUREZA, TRABALHO £ EDUCAGKO por isso, ser titil de diversas maneiras. Descobrir todos estes diversos aspectos das coisas, ou seja, seus miiltiplos modos de uso é uma conquista histérica.3 O mesmo acontece com a descoberta das medidas social. mente usadas para medir a quantidade das coisas titeis. A diversidade das medidas das mercadorias se origina em parte da natureza diversa dos objetos a medir, em parte da convengao. Autilidade de uma coisa faz dela um valor de uso.‘ Mas essa utilida- de nao flutua no ar. Ela est condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria, e nao existe sem este. O prdprio corpo da mercadoria como o ferro, trigo, diamante etc., € um valor de uso ou um bem. Este seu cardter nao depende do fato da apropriacao de suas propriedades de uso custar a0 homem muito ou pouco trabalho. Na consideragao dos valores de uso leva-se em conta sempre a sua determinacao quanti- tativa, como, por exemplo, uma diizia de relégios, um metro de tecido de linho, uma tonelada de ferro etc. Os valores de uso das mercadorias fornecem o material para uma disciplina propria: a merceologiaS O valor de uso se efetiva somente com o seu uso, ou seja, no consumo da mercadoria. Os valores de uso constituem o contetido material da riqueza, qualquer que seja o sistema de sociedade em que se viva. Na forma de sociedade que vamos considerar a seguir, os valores de uso constituem também os portadores materiais de algo espectfico dessa sociedade — 0 valor de troca. O valor de troca aparece inicialmente como uma relagao quantita- tiva, a propor¢ao na qual os valores de uso de um tipo sao trocados por A s nem uma intrinsick vertue” (virtude intrinsecal, (esta é, para Barbon, a designa- ‘¢40 especifica para o valor de uso) “que ¢ igual em todo lugar, como a do ima de atrair 0 ferro” (op. cit. p. 6). Entretanto, a propriedade do {ma de atrair o ferro s6 se tornow uma utilidade quando, por meio dela se descobriu a polaridade magnética. ( worth [valor] natural de qualquer coisa consiste na sua capacidade de satisfazer 8 Me- cessidades ou servir as conveniéncias da vida humana.” (John Locke, Some Considerations on the Consequences ofthe Lowering of Interest, 1691, in: Works, edit. Lond 1777, vol 1h P. 28.) Ainda no século XVI encontramos com frequéncia em autores ingleses a palavra worth para valor de uso e 0 termo walue para valor de troca, totalmente de acordo COM 0 spirit it i pitito de uma lingua que gosta de expressat a coisa imediata com um termo de orige™ getmanica ea coisa refletida com um termo Nasociedade burguesa domina afitio juris compradora, possui um conhecimento enc de origem romanica. [ficpto juridiea) de que qualquer pessoa, cO™? iclopédico sobre as mercadorias. 174 Kani Manx & Fr valores de uso de outro tipo,’ uma relagio que muda constantemente com 0 tempo ¢ 0 lugar. Por isso 0 valor de troca parece ser algo casual, uma coisa puramente relativa; ¢ a sim um valor de troca imanente, interior 4 mercadoria (valeur intrinséque) [valor intrinseco] pareceria ser uma contradictio in adjeto [uma contradigdo nos préprios termos).7 Examinemos a questéo mais de perto. Uma determinada metcadoria, um quarter de ttigo, por exemplo, é trocada por x de graxa de sapato, ou por y de seda ou por z de ouro etc., em suma, por outras mercadorias nas mais diversas proporcées. O trigo tem, portanto, miiltiplos valores de troca, em vez de um tinico. Porém, como x de graxa, assim como y de seda, assim como z de ouro etc., tem o valor de troca de um quarter de trigo, entao x de graxa, y de seda, z de ouro etc., devem ser valores de troca intercambiaveis entre si, ou serem valores de troca de igual grandeza comparativamente. Segue-se dai, primeiro, que os valores de troca validos de uma mesma mercadoria expressam algo igual. Entretanto, em segundo lugar: 0 valor de troca s6 pode ser 0 modo de expressio, a “forma de manifestacio” de um conteiido diferente dele proprio. Tomemos ainda duas mercadorias, por exemplo, o trigo ¢ o ferro. Qualquer que seja a relagdo de troca entre eles, esta pode sempre ser representada por uma equacao na qual uma dada quantidade de trigo € colocada em igualdade com uma quantidade qualquer de ferro, por exemplo, 1 quarter de trigo = ¥2 tonelada de ferro. O que nos diz esta equacao? Que existe alguma coisa comum da mesma grandeza em duas coisas diferentes, em 1 quarter de trigo do mesmo modo que em 4 tonelada de ferro. Consequentemente ambas sao iguais a uma terceira, que em si mesma nfo é uma coisa nem outra. Portanto, qualquer uma das duas, na medida em que seja valor de troca, tem que ser redutivel @ esta terceira. © “0 valor consiste na relagio de troca que se verifica entre uma dada coisa € uma outra, entre uma dada quantia de um produto € uma quantia de um outro.” (Le Trosne, De Vintérés social, in: Physiocrates, ed. Daire, Patis, 1846, p. 889.) “Nada pode ter um valor de troca interno” (N. Barbon, ¢p. cit. p. 6), ou, como, diz Bucler: “o valor de uma coisa é precisamente o tanto quanto ela render. [Paritrase do poema de Samuel Butler, Hudibras, parce I, canto 1. (N: 7 175 NATUREZA, TRABALIO £ EDUCAGAG HistORIA, ométrico permite visualizar isso, Para dete ‘ ae 7 CT ic de reas retilfneas, nds as decompom, A A 10s ulo é reduzido a uma expressao total Um simples exemplo ge minar e comparar a superfici em triangulos. O proprio tring} mente diferente da sua figura visivel —a metade do produto de sua base altura. Do mesmo modo, os valores de troca das mercadorias pela sua do qual elas representam uma devem set reduzidos a um algo comum, quantidade maior ou menor. Este algo comum ndo pode ser uma propriedade geométrica, fisica, quimica, ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias, As propriedades corpéreas somente sao levadas em consideracao na medida em que estio relacionadas & utilidade das coisas, que fazem delas valores de uso, No entanto, é precisamente a abstragao dos seus valores de uso que caracteriza a relagéo de troca das mercadorias. Dentro desta rela- 40, um valor de uso vale precisamente 0 mesmo que qualquer outro, desde que esteja presente na proporgao adequada. Ou, como dizia 0 velho Barbon: ‘Uma espécie de mercadoria é 40 boa como a outta, se 0 seu valor de troca for igual. Pois nao existe nenhuma diferenciagao ou distingao entre coisas com valor de troca de igual grandeza.® Enquanto valores de uso, as mercadorias sao, antes de tudo, de qua- lidade diferente; enquanto valores de troca elas podem diferir apenas m2 quantidade, nao contendo, portanto, nenhum dtomo de yalor de uso. Abstraindo 0 valor de uso do corpo das mercadorias, sobra neles apenas uma tinica propriedade, a de serem produtos de trabalho. Mas também este produto de trabalho ja se transformou em nossas m4 Se abstrairmos o valor de uso, abstraimos também os componentes ¢ formas corpéreas que fazem dele um valor de uso. Ele j4 nao é mais mesa, casa ou fio de algodao ou qualquer outra coisa titil. Todas as no difference ad or irons is cie de “One sort of wares are as good as another, if the value 7 is ie sort of wares s another, i be equal. ‘There is o drneran in dhings of equal valu. One hundred pounds worth of le of ag greta value as one hundred pounds worth of silver and gol” “Une cE Imaradorias tio hoa como outa so seu valor for igual, Nao hi elferense oU isting’ cols de Igual valor. Um valor de cem libras de chumbo ou ferro cém tanto valOt ras esterlinas de prata e ouro.”] (N. Barbon, op. cits, p. 53 ¢ 7)» 176 Kant Manx & Pritpmicn Enones suas caracteristicas sensiveis se apagaram. Ele também jé nao & mais o produto do trabalho de m arceneiro, de pedreiro da construgio, ou do trabalhador da fiagao, ou de qualquer outro trabalho produtivo de- terminado. Junto do aspecto titil dos produtos de trabalho desaparece cambém 0 aspecto ttl dos trabalhios materializados neles, igualmente as diversas formas concretas desses trabal desaparecendo hos, que agora jé no se diferenciam mais uns dos outros. Ao contrario, esses trabalhos se encontram reduzidos, todos em conjunto, a trabalho humano igual, a trabalho humano abstrato. Consideremos agora o residuo dos produtos de trabalho. Deles nada restou seno a mesma objetividade fantasmagérica, uma mera gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, de dispéndio de forca de trabalho humana sem referéncia & forma especifica desse dispéndio. Essas coisas mostram apenas que na sua produgio foi gasta forca de trabalho humana, que foi acumulado trabalho humano. Enquanto cristalizag6es dessa substancia social comum a elas, elas so valores — valores de mercadorias. Na prépria relacao de troca das mercadorias 0 valor de troca aparecia como algo completamente independente dos valores de uso das merca- dorias. Se agora abstrairmos efetivamente o valor de uso dos produtos do trabalho, vamos obter entao o seu valor, tal como foi desenvolvido acima. O elemento comum que se faz revelar na relagao de troca ou no valor de troca é, portanto, o seu valor. Na continuidade desta in- vestigaco retornaremos ao valor de troca como 0 modo necessirio de express4o ou a forma de manifestagao do valor. Vamos entao considerar a seguir o valor, independentemente desta sua forma de manifestagao, o valor de troca. Portanto, um valor de uso ou um bem tem valor apenas porque nele estd objetivado ou materializado o trabalho humano abstrato. Como entio medir a grandeza desse valor? Pelo quantum da “substincia for- madora de valor” nele contido, pelo quantum de trabalho. Por sua vez a quantidade do trabalho é medida pela sua dura¢4o no tempo, ¢ esse tempo de trabalho possui por sua vez a sua medida em determinados Periodos de tempo, como a hora, o dia etc. 7 ec niece ee Poderia parecer, entretanto, que por ser 0 valor de uma mercadoria determinado pelo quantum de trabalho gasto na sua produsao, quanto mais preguigoso ou indbil fosse um homem tanto mals valiosa seria a sua mercadoria, porque ele precisaria de mais tempo para apronté-la, Contudo, o trabalho que forma a substincia dos valores ¢ trabalho humano igual, dispéndio da mesma forga de trabalho humana. A tota- lidade da forca de trabalho da sociedade que se manifesta [no conjunto] dos valores do mundo das mercadorias vale aqui como a mesma e tinica forga de trabalho humana, apesar de ser constituida por um sem-ntimero de forgas de trabalho individuais. Cada uma dessas forgas de trabalho individuais é [parte dla mesma forga de trabalho humana como as outras, na medida em que possua o cardter de uma forga de trabalho ial média e que atue como tal forga de trabalho social média; e que, portanto, ao produzir uma mercadoria, necessite também apenas do tempo de trabalho necessirio na média da sociedade, ou seja, 0 tempo que ésocialmente necessétio. Tempo de trabalho socialmente necessério €o tempo de trabalho requerido para produzir qualquer valor de uso nas condicées de producao socialmente normais existentes € no nivel social médio de habilidade e intensidade do trabalho. Com a introdu- 4o do tear a vapor na Inglaterra, por exemplo, o tecelao inglés talvez tenha passado a gastar a metade do [tempo de] trabalho de antes para transformar uma determinada quantidade de fio em tecido. O tecelao manual continuava precisando do mesmo tempo de trabalho de antes, soci: mas agora o produto de uma hora do seu trabalho individual passava a representar apenas meia hora de trabalho social, e [seu valor] caiu por isso para a metade do que valia anteriormente. E, portanto, apenas o quantum de trabalho socialmente necessatio, ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessério para a produgio de um valor de uso o que determina a grandeza do seu valor? Cada ? Nota a 2+ ed.: “The value of them (the necessaries of life), when they are exchanged the one for anthes tregulted bythe quay of labour neces equted, and omen! taken in producing them.” ["O valor dees (os meios de vide), quando so trocados ™ pelo our, ¢reguledo pela quantidade de rabalho neesariamente equeid ecm ne usada na sua producio."] (Some shoughts on the inter in general, and parcel in the public funds et, Londres. 36,37) kee cose cote in 2 178 Kant Manx & Frippicn Bwog mercadoria individual nao vale senéo como um exemplar médio da sua espécie.!® Mercadorias nas quais estejam contidas quantidades iguais de trabalho ou que possam ser produzidas no mesmo tempo de trabalho xém, portanto, a mesma grandeza de valor. O valor de uma mercado- ria estd em relagSo ao valor de qualquer outra mercadoria, do mesmo modo como o tempo de trabalho necessdrio Para a producao de uma estd para o tempo de trabalho necessario para a producao da outra. “Como valores, todas as mercadorias sao apenas medidas determinadas de tempo de trabalho coagulado.”!! Por isso a grandeza do valor de uma mercadoria permaneceré cons- tante se o tempo de trabalho necessdrio para a sua producao também permanecer constante. Mas este tiltimo muda com qualquer mudanga da forga produtiva do trabalho. A forca produtiva do trabalho é deter- minada por mtltiplas circunstancias, entre as quais pelo grau médio de habilidade dos trabalhadores, pelo estagio de desenvolvimento da ciéncia e da sua aplicabilidade tecnoldgica, pela organizasao social do processo de producao, pela amplitude e eficacia dos meios de produgao epelas condi¢ées naturais. O mesmo quantum de trabalho manifesta- -se, por exemplo, em anos favordveis, em 80 sacas de trigo e, e em anos fracos, em apenas 40. O mesmo quantum de trabalho permite extrair mais metais em minas ricas do que em minas pobres etc. Os diamantes aparecem raramente na crosta terrestre e, por isso, sua ex- tracdo custa em média muito tempo de trabalho. Em consequéncia, eles representam muito trabalho em pouco volume. William Jacob duvida que 0 ouro tenha, em qualquer tempo, pago todo o seu valor.? Isso é vélido ainda mais para o diamante. Segundo Eschwege, ao longo de 80 anos a explorago total das minas brasileiras de diamante ~ eteulo passado mio trax data, Depreende-se, no entant, do seu contesilo que apareceu no reinado de Jorge II, por volta de 1739 ou 1740. ; “Todos os produros da mesma espécie nao formam propriamente senso uma massa, cujo reco se determina em geral e sem considerar as circunstancias particulates.” (Le Trosne, ” a p.893,) Ver Willan jee a torical imguir into the production and consumption othe precious metals, 2 vols., Londres, 1831. 179 WisTORIA, NATUREZA, TRABALHO B BDUCACK atingido em 1823 0 prego do produto médio de um oes brasileiras de agticar ou de café, emborg is trabalho ¢, portanto, mais valor. Com minas um de trabalho traduzir-se-ia em Se se conseguisse com pouco ainda no tinha ano ¢ meio das planta representasse muito ma mais abundantes, 0 mesmo quant mais diamantes ¢ o seu valor baixaria. trabalho transformar carvéo em diamante, 0 valor do diamante po- deria cair abaixo do valor dos tijolos. Em termos gerais: quanto maior for a forca produtiva do trabalho tanto menor 0 tempo de trabalho requerido para a produgio de um artigo, tanto menor a massa de trabalho nele cristalizada, tanto menor o seu valor. E inversamente, quanto menor for a forga produtiva do trabalho tanto maior o tempo de trabalho necessdrio para a producao de um artigo, tanto maior sera jor. A grandeza de valor de uma mercadoria varia, portanto, diretamente com 0 quantum de trabalho e inversamente com a forca produtiva do trabalho que nela se realiza."? Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor. E este 0 caso quando 0 uso que se faz desta coisa ndo é mediado por trabalho. E 0 caso do ar, do solo virgem, dos prados naturais, da madeira nativa etc. Uma coisa pode também ser util e ser produto de trabalho humano sem ser mercadoria. Quem satisfaz suas necessidades com seus préprios produtos cria valor de uso sem produzir mercadoria. Para produzir mercadorias é preciso produzir no apenas valores de uso, mas também valores de uso para outros, valores de uso sociais."4 Finalmente, nenhuma coisa o seu val 13 Na I* edicdo segue-se: Conhecemos agora a substancia do valor. E 0 trabalho. Conhecemos a sua medida de grandeza. Eo tempo de trabalho. Falta analisar a sua forma, que precis- mente cunha o valorcomo valor de troca. Antes disso, porém, temos que desenvolver mais pormenorizadamente as determinagées ji encontradas. ¥ F, Engels inseriu por sua conta no texto da 4* ed. de O capital, e foi adotada nas edi- g6es MEW (Dietz Verlag) o seguinte adendo (agora exeluido das edigdes Mega Il): no apenas para'os outros, sem mais nem menos. Pot exemplo, o camponés medi produzia o cereal da renda para senhor feudal o cereal elo disimo para 0 paOC0: Mas nem o cereal da renda nem o do dizimo se tornavam mereadorta pelo fato J terem sido produzidos para outros, Para se tornat mercadoria o produce tein de st transferido por meio da troca para o outro a quem deve servir come valor de uso.” EM nota de rodapé Engels justifica seu adendo com as seguintes palavtas: “Insito 0 Ue std entre parénteses porque, por sua omissio, surgin muitas veres 0 equivoco de q¥e qualquer produto que fosse consumid por alguém que nao 6 prosaror valet pat 180 Kart Manx & Priportcn Enarts poder ser valor sem ser objeto para o uso. Se uma coisa for inéil, entéo também o trabalho nela contido sera initil, nao conta como trabalho ¢ nio cria, por isso, nenhum valor. 2. O duplo caréter do trabalho contido nas mercadorias Originariamente a mercadoria apareceu como uma coisa dupla, valor de uso ¢ valor de troca. Em seguida evidenciou-se também que o trabalho, na medida em que se expressa no valor, j4 nao possui as mesmas caracteristicas que Ihe cabem como gerador de valores de uso. Coube a mim, em primeiro lugar, elaborar a demonstragao critica desta duplicidade do trabalho presente na mercadori © ponto em torno do qual gira a compreensio da economia politica, temos agora que examiné-lo mais de perto. Tomemos duas mercadorias, um casaco € 10 metros de tecido de linho, por exemplo. Admitamos que a primeira mercadoria tenha o dobro do valor da segunda, de tal modo que, se 10 metros de tecido de linho = V, 0 casaco serd = 2 V. .!5 Uma vez que este é O casaco é um valor de uso que satisfaz uma necessidade parti- cular. Para produzi-lo é necessrio um determinado tipo de atividade produtiva. Esta atividade é determinada pela sua finalidade, pelo modo de operacio, pelo objeto, pelos meios e pelo resultado. Chamaremos © trabalho cuja utilidade se apresenta no valor de uso do seu produto ou no fato do seu produto ser um valor de uso, resumidamente, de trabalho util. Sob este ponto de vista o trabalho é sempre considerado em relacao com o seu efeito util. Marx como mercadoria, - F, F.” Parece-nos evidente que tal adendo é desnecessirio ¢ equivocado, pois Marx trata da produgio nas condigées do modo de produsdo capitalista € nao nas condigoes do feudalismo. A levar em conta a observagao de Engels seria necessério salpicar o texto de Marx com tantas notas de rodapé quanto 0 modo capi- talista de produgao se assemelha ao modo antigo (greco-romano), feudal e de exploracao do trabalho e de organizacio da produgio, Talvez as semethangas sejam meras coincidéncias, pois tanto o capitalismo como os outros modos de produsio #40 modos histéricos, portanto, passageiros na vida da humanidade, % Op. cit., p. 12, 13 € passim. ‘sta 181 HisTORIA, NATUREZA, TRABALHO E EDUCAGKG Do mesmo modo como 0 casaco ¢ 0 tecido de linho sao valores de uso qualitativamente diferentes, s40 também qualitativamente di. ferentes os trabalhos mediadores da sua existéncia — costurar e tecer, Se essas coisas nao fossem valores de uso qualitativamente diferentes e, portanto, produtos de trabalhos titeis qualitativamente diferentes, elas de forma nenhuma poderiam se contrapor como mercadorias, Nao se troca casaco por casaco, um valor de uso nio se troca por esse mesmo valor de uso. No conjunto dos diferentes tipos de valores de uso ou corpos das mercadorias encontramos um conjunto de trabalhos tteis igualmente diferentes conforme o género, a espécie, a familia, a subespécie, a varie- dade — uma divisao social do trabalho. Esta é condic¢ao de existéncia da produgao de mercadorias, embora, inversamente, a produgao de merca- dorias nao seja a condi¢ao de existéncia da divisio social do trabalho. Na antiga comunidade hindu o trabalho aparece dividido socialmente sem que os produtos se tornem mercadorias. Ou, tomando um exemplo mais préximo, em toda fabrica o trabalho aparece sistematicamente dividido, mas essa divisao nao é viabilizada pelo fato dos operarios trocarem os seus produtos individuais entre si. Somente os produtos de trabalhos privados realizados de forma autonoma e independente que se defrontam uns aos outros como mercadorias. Ja vimos, portanto: no valor de uso de toda mercadoria est4 in- corporado uma determinada atividade produtiva adequada a um fim, ou um trabalho util. Valores de uso nao podem se confrontar entre si se neles nao estiverem incorporados trabalhos titeis qualitativamente diferentes. Na sociedade em que produtos tomam geralmente a forma da mercadoria, ou seja, numa sociedade de produtores de mercadorias, tem lugar o desenvolvimento da diferenca qualitativa entre os trabs- thos titeis, realizados por produtores auténomos independentes uns dos outros enquanto atividades privadas, na direcao de um sistema d€ miltiplos membros, numa divisio social do trabalho. Bom, para o prdprio casaco ¢ indiferente quem o vista, 0 alfaiat® ou um cliente do alfaiate, pois em ambos os casos ele funcionati# como um valor de uso. Também a telagdo entre 0 casaco eo trabalho 182 Kanu Manx & Frizpnicn ENGats que © produz nao é, em si, minimamente alterada pela circunstancia da confecgao de roupas se tornar um ramo profissional particular, e assim um segmento auténomo da diviséo social do trabalho. Sempre, ao longo de milénios, quando a necessidade de usar roupas empurrou o ser humano a isso, ele passou a costurar roupas antes de qualquer individuo ter se tornado um alfaiate. Mas 0 casaco, o tecido de linho, ou qualquer outro elemento da riqueza material nao oferecido pronto pela natureza teve sempre que ser mediado por uma atividade pro- dutiva especifica e adequada, capaz de transformar a matéria-prima natural em fungao de necessidades humanas particulares, Como criador de valores de uso, como trabalho util, o trabalho constitui uma condigao para a existéncia do set humano, independentemente de toda e qualquer forma de sociedade, uma necessidade natural e eterna da viabilizag4o do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da prépria vida humana. Os valores de uso casaco, tecido de linho etc., em resumo, os corpos das mercadorias, so combinagées de dois elementos — ma- téria natural e trabalho. Se retirarmos a soma total dos diferentes trabalhos tteis que est4o incorporados no casaco, no tecido de linho etc., sobra apenas um substrato material, que existe pela natureza, sem a intervencao do homem. Na produ¢io o homem pode atuar somente como a prépria natureza, isto é, pode apenas alterar a for- ma dos materiais.!° E ainda mais: neste trabalho de dar forma ele € constantemente apoiado por forcas naturais. O trabalho néo portanto, a unica fonte dos valores de uso por ele produzidos, da °© “Todos os fendmenos do universo, sejam eles produzidos pela mio do homem ou pelas leis universais da fisica, nao dao a ideia de criagdes novas, mas unicamente uma mo- dificagéo da matéria. Juntar e separar sio os tinicos elementos que 0 engenho human encontra ao analisar a ideia da reproducio; ¢ tanto é reprodugao de valor” (valor de uso, embora aqui o préptio Verri, na sua polémica com os fisiocratas, nao saiba ao certo de que espécie de valor esté falando) “e de riqueza quando a terra, 0 ar €a agua nos campos se transformam em cereal, como quando, com a mao do homem, a secregio de ‘um inseto se transformar em seda, ou mesmo se alguns pedacinhos de metal se juntam de modo a formar um rel6gio de repetigao.” (Pietto Verri, Meditazioné sulla economia politica primeira impressio em 1771 ~na edicio dos economistasitalianos de Custodi, Parte Moderna, t, XV, p. 21, 22, 1804). 183 Histronta, NATUREZA, TRABALHO F EDUCAGKO riqueza material. O trabalho é 0 pai da riqueza material, ¢ a terra ¢ amie, como diz William Petty.” Passemos agora da mercadoria enquanto objeto de uso para o valor da mercadoria. Conforme a nossa suposigao, 0 casaco tem 0 dobro do valor do tecido de linho. Porém, esta é apenas uma diferenga quantitativa que por enquanto ainda nao nos interessa. Recordemos que, se o valor de um casaco é 0 dobro dos 10 metros de tecido de linho, entio 20 metros de tecido de linho tém a mesma grandeza de valor que um casaco. Como valores, 0 casaco e o tecido de linho séo coisas de igual substancia, expressdes objetivas de trabalho de igual espécie, Mas costurar e tecer sio trabalhos qualitativamente diferentes. No entanto existem situagGes sociais em que a mesma pessoa alternada- mente costura ¢ tece, sendo estes dois modos diferentes de trabalho apenas modificagées do trabalho do mesmo individuo ¢ nao sendo ainda fungées particulares fixas de individuos diferentes; do mesmo modo como o nosso alfaiate hoje costura o casaco e amanhi as calcas, 6 que significa apenas variages do mesmo trabalho individual. A observacao nos ensina, além disso, que na nossa sociedade capita- lista, conforme as alteragées na demanda por trabalho, uma dada porcdo de trabalho humano deve ser fornecida alternadamente sob a forma de costura e outra sob a forma de tecelagem. Mudangas que muitas vezes implicam em tensées sociais.mas que precisam ocorret de todo modo inevitavelmente. Se abstrairmos a finalidade da atividade produtiva e, portanto, o cardter util do trabalho, o que nele permanece é 0 fato de ser dispéndio de for¢a de trabalho humana. Costurar e tecer, embora sejam atividades produtivas qualitativamente diferentes, consistem ambas em dispéndio produtivo de esforgo humano, de cérebro, musculos, nervos e maos etc., sendo ambas o trabalho humano. S4o, portanto, apenas duas formas diferentes de dispéndio de forga de trabalho humana, Alids, para ser gasta desta ou daquela forma " [William Petty, ] A treatise of taxes and contributions, London, 1667, p. 47. (N-E.) 184 Kant Manx & Frispricn Encers a prépria forga de trabalho humana tem de atingir certo grau de desenvolvimento. Mas o valor das mercadorias representa pura simplesmente trabalho humano, um dispéndio de trabalho huma- no em geral. E assim como na sociedade burguesa um general ou um banqueiro desempenham um grande papel enquanto o homem comum, ao contrario, desempenha um papel mesquinho,'* o mesmo ocorre com o trabalho humano. Este consiste em dispéndio de forca de trabalho simples, que em média todo homem comum possui no seu organismo fisico sem desenvolvimento especial. O proprio trabalho médio simples varia certamente o seu carater conforme o pais ¢ estagios da civilizago, mas est4 determinado em uma dada sociedade. O trabalho mais complexo conta apenas como trabalho simples potencializado, ou mesmo mutltiplicado, de tal forma que um menor quantum de trabalho complexo é igual a um quantum maior de trabalho simples. A experiéncia mostra que esta reducao se processa constantemente. Uma mercadoria pode ser 0 produto do trabalho mais complexo, mesmo assim o seu valor a iguala ao produto de trabalho simples ¢ ele préprio passa por isso a representar apenas um determinado quantum de trabalho simples." As diferentes proporcées em que as diferentes espécies de trabalho sao reduzidas a trabalho simples, como unidade de medida, sao fixadas por meio de um processo social que ocorre por tras das costas dos produtores, 0 que os faz pensar serem dadas pela tradi¢ao. Para simplificar, vamos considerar a seguir toda espécie de forca de trabalho como forca de trabalho simples, com o que se poupa o incémodo da conversao. Portanto, do mesmo modo como se abstrai a diferenga entre seus tespectivos valores de uso ao tomar casaco ¢ tecido de linho como valores, assim também se abstrai a diferenga das suas formas titeis, de costurar e tecer, quando se toma esses trabalhos como processos de ™ CE. Hegel, Philosophie des Rechts, Berlim, 1840, p. 250, § 190. ; Oleitor deve observar que nao nos referimos aqui 20 salirio ou ao valor que operirio recebe, digamos, por um dia de trabalho, mas a0 valor da metcadoria em que se materializa © seu dia de trabalho. A categoria de salirio sequer existe ainda neste estagio da nossa exposigio. 185 ON HistORtaA, NATUREZA, TRANALHO E EDUGAGAO ctiagao de valor. E tal como 0 casaco ¢ 0 tecido de linho, enquanto valores de uso, nao passam de combinagées de atividades produtivas com panos ou com fios com um fim determinado, 0 casaco ¢ tecido de linho, como valores, néo passam de meras gelatinas de trabalho da mesma espécie, e do mesmo modo os trabalhos contidos nesses valores tem vigéncia, nao pelo seu comportamento produtivo em relagéo aos panos e aos fios, mas apenas como dispéndios de forca de trabalho humana. Costurar e tecer séo os fatores da criacao dos valores de uso casaco e tecido de linho precisamente pelo fato de serem atividades de qualidade diferente; mas so substancias do valor-casaco e do valor-tecido de linho & medida que suas qualidades particulares sejam abstraidas para dar lugar a uma outra qualidade que ambas as mercadorias possuem igualmente, a qualidade de ser trabalho humano. E, ainda, casaco e tecido de linho nao sio apenas valores em geral, mas valores de determinada grandeza e, pela nossa suposicio, 0 casaco tem o dobro do valor de 10 metros de tecido de linho. De onde vem esta diferenga em suas respectivas grandezas de valor? Do fato do tecido de linho conter apenas a metade do trabalho do casaco, de modo que para a produgao deste ultimo o dispéndio da forga de trabalho deve levar 0 dobro do tempo necessario do que para a produgao do primeiro. Assim, se 0 trabalho contido na mercadoria conta apenas qua- litativamente no que se refere ao valor de uso, enquanto no que sé refere 4 grandeza de valor ele conta apenas quantitativamente, apés ja ter sido reduzido a trabalho humano sem outra qualidade. No primeiro caso trata-se de como e do que, no segundo caso do quanto, da sua duragéo no tempo. Uma vez que a grandeza de valor de uma mercadoria expressa apenas 0 quantum de trabalho nela contido, as mercadorias poderio, quando estiverem em certa proporsao, s¢ apresentar sempre como valores iguais. Sea for¢a produtiva de todos os trabalhos titeis requeridos para a produgao de uma mercadoria, digamos 0 casaco, permanecer inal- terada, a grandeza de valor dos casacos aumenta com a sua propria 186 Kant Manx & Prispaicn gp quantidade. Se um casaco representa x dias de representarao 2 x dias etc. Admitamos necessdrio para a produgao de um casaco aumentasse 0 dobro ou caisse para metade. No primeiro caso, um casaco passa a ter tanto valor como anteriormente dois casacos; no segundo caso, dois ca- sacos teriam apenas o mesmo tanto de valor como anteriormente um, embora, em ambos os casos, trabalho, 2 casacos porém, que o trabalho ; um casaco continue a prestar o mesmo servigo que antes ¢ o trabalho itil nele contido continue a ser, tal como antes, da mesma boa qualidade. Mas modificou-se 0 quantum de trabalho gasto na sua produgao. Uma maior quantidade de valor de uso constitui em si uma maior riqueza material, dois casacos mais do que um. Dois casacos podem vestir duas pessoas, um casaco apenas uma, e assim por diante. No entanto, & massa crescente de riqueza material pode corresponder uma queda simultanea da sua grandeza de valor. Este movimento contrario resulta do duplo caréter do trabalho. Forga produtiva é sempre, naturalmente, forca produtiva do trabalho util e concreto, e determina de fato apenas 0 grau de eficdcia de uma atividade produtiva adequada a uma finalidade em dado espaco de tempo. O trabalho util torna-se, por isso, uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos na relagdo direta com a subida ou a queda da sua fora produtiva. Em contrapartida, uma mudanga da forca produtiva em sie por si nao afeta em nada o trabalho materializado no valor. Uma vez que a forca produtiva pertence & forma itil e concreta do trabalho, ela ndo pode mais naturalmente intervir no trabalho {criador de valor] quando este ja esteja abstraido de sua forma ttil e concreta, Portanto, o mesmo trabalho produz sempre, nos mesmos espacos de tempo, as mesmas grandezas de valor, independente- mente da mudanga na forga pr num mesmo espago de tempo, de valores de uso: fornece mais, menos, quando ela diminui. A me que aumenta a fecundidade do tral ’ | diminuir valores de uso por ele fornecidos, faz diminu odutiva que venha a ocorret. Mas, ele fornece diferentes quantidades quando a forga produriva aumentas sma mudanga da forga produtiva balho e, portanto, a massa de a grandeza de valor 187 HisTORtA, NATUREZA, TRABALHO B EDUCAGAO dessa massa total maior se essa mudanga encurtar a soma do tempo de trabalho necessério & sua produgao. E vice-versa, Todo trabalho é constituido de dispéndio de forga de trabalho humana no sentido fisiolégico, e nesta condigao de trabalho hu- mano igual ou de trabalho humano abstrato ele forma o valor das mercadorias. Todo trabalho é, por outro lado, dispéndio de forca de trabalho humana de uma forma particular e com uma finalidade determinada, e nesta condi¢ao de trabalho util e concreto ele produz valores de uso.” % Nota a 2 ed. Para provar “que s6 0 trabalho [...] éa medida unicamente suficiente e real pela qual em todos os tempos o valor de todas as mercadorias pode ser estimado ¢ com- parado”, diz A. Smith: “Iguais quantidades de trabalho tém de ter em todos os tempos em todos os lugares igual valor para o trabalhador. No seu estado normal de satide, forsa € atividade e com o grau médio de destreza que possa possuir, ele tem sempre de desist ‘da mesma porcio do seu descanso, da sua liberdade e da sua felicidade.” (Wealth of nations {Rigueza das nagées), 1.1, cap. V, [p. 104-105}.) Por um lado, A. Smith confunde aqui (mas, nem sempre) a determinagao do valor pelo quantum de trabalho despendido na produgio da mercadoria com a determinagio dos valores das mercadorias pelo valor do trabalho, ¢ procura, por isso, demonstrar que iguais quantidades de trabalho tém sempre o mesmo valor. Por outro lado, ele pressente que o trabalho, na medida em que se manifesta n° valor das mercadorias, apenas conta como dispéndio de forga de trabalho, mas mais uma vex apreende esse dispéndio meramente como sacrificio de descanso, liberdade ¢ felis dade, € nao como exercicio normal da vida, Sem diivida que ele tem diance dos olhos o assalariado moderno, Muito mais acertadamente, o andnimo predecessor de A. Smith citado na nota 9 diz: “Um homem gastou uma semana para produzir os seus meios de vida... ¢ aquele que Ihe der outros em troca nao pode fazer melhor estimativa de quan’ €0 equivalente adequado, sendo calculando o que é que Ihe custa (produzit] exatamente com o mesmo labour {trabalho} ¢ tempo. Isso significa de fato a troca de labour [teabalho] meu, homem realizou durante um certo tempo numa coisa pelo Labour de outeo home lurante o mesmo tempo noutra coisa,” (Some thoughts on th. mney in general ets p-39) {Nora 4* edigio: A lingua inglesa tem a eae nee eae lferentes para estes dois diferentes aspectos do trabalho, O «rabalho que cria valores de uso € &44 determinado qualitativamente chama-se work, em oposigio a labour, trabalho que €F valor ¢ apenas se mede quantitativamente, Ver nota A tradugto ingl. p. 4. —F E+ 188

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