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Instrumentação

Introdução

As barragens são projetadas para funcionarem como reservatório que podem ter diversas

finalidades, como regularização de vazão para promover irrigação, abastecimento de água

geração de energia, recreação, navegação e outros.

Entretanto, em função do grande volume de água que um reservatório deste tipo armazena,

o efeito de uma ruptura pode ser catastrófico, causando perdas de vidas humanas e danos às

propriedades a jusante do barramento. Portanto, um sistema bem elaborado de

monitoramento deve ser adotado de forma a garantir a segurança das pessoas sujeitas aos

riscos de ruptura.

Geralmente os fatores a serem monitorados em uma barragem são os deslocamentos, as

deformações, os recalques, nível d’água e a poropressão, tanto no corpo do barramento

quanto em sua fundação.

A instrumentação possui diversas finalidades, a se destacar:

- A verificação das hipóteses, dos critérios e dos parâmetros adotados em projeto,

permitindo então um aprimoramento do projeto da própria obra em estudo, ou em futuras

barragens, visando condições mais econômicas e/ou mais seguras;

- A verificação de segurança das obras, de modo a serem adotadas medidas corretivas em

tempo hábil, se necessário;

- Fornecer os dados necessários para auxiliar na validação de novas técnicas construtivas;

- Fornecer dados para diagnosticar as causas de possíveis acidentes;

- Fornecer dados para pesquisas, que podem gerar novas técnicas construtivas.
Para tais finalidades existem uma infinidade de equipamentos, como inclinômetros,

pressiômetros, células de carga e outros, que serão abordados quanto ao tipo de

funcionamento, a forma de instalação e quanto a qualidade dos dados que ele fornece.

Equipamentos de Medida de Pressão

Poropressão excessiva, tanto no barramento quanto na fundação, afetam diretamente na

estabilidade da barragem. Para avaliar as pressões são utilizados diversos tipos de

piezômetros e de células de carga total.

Os piezômetros são normalmente utilizados para medir as pressões de água que podem ser

induzidas pelo carregamento do aterro da barragem durante a fase de construção. Já as

células de carga são utilizadas para monitorar a pressão estática total atuante em um

determinado plano. Quando se tem uma célula de carga instalada perto de um piezômetro,

torna-se então possível determinar a tensão efetiva atuante na região.

Piezômetro de Casa Grande

O piezômetro de Casa Grande ou piezômetro de tubo aberto é o medidor de poropressão

mais simples que existe.

Ele consiste basicamente de um tubo de PVC com furos, envolto em um material filtrante

(um geotêxtil, por exemplo) e outro drenante (areia), com um “selo”, geralmente solo-

cimento plástico, para vedar o espaço entre o furo e o tubo. O comprimento do tubo

perfurado preenchido com material drenante é de 1,0 m a 1,5 m. A Figura 01 mostra o

esquema do equipamento.
Figura 01 – Esquema do piezômetro de tubo aberto.

A leitura é efetuada através de um cabo elétrico com dois condutores, graduado de metro

em metro. O sensor é introduzido em um tubo e ao atingir o nível d’água, a água fecha o

circuito elétrico, disparando um alerta sonoro. Com o nível d’água em mãos consegue-se

então obter a poropressão atuante no local.

As suas principais vantagens são o baixo custo, a durabilidade, a confiabilidade da resposta

e a possibilidade de estimar o coeficiente de permeabilidade do solo em torno do

instrumento, através do ensaio de recuperação do nível d’água.

A sua principal desvantagem é o seu tempo de resposta, que pode ser muito elevado quando

associado a materiais cuja permeabilidade é muito baixa. Este fato inviabiliza a utilização

deste piezômetro para a determinação da pressão neutra gerada durante a fase de construção

do núcleo barramento, por exemplo.


Piezômetro Pneumático

Seu funcionamento baseia-se no equilíbrio de pressões atuantes em um diafragma flexível,

onde de um lado atua a água cuja pressão deseja-se medir e do outro atua um gás cuja

pressão é variável e conhecida, através de um manômetro situado no painel de leituras.

Uma conexão pneumática entre o piezômetro e o painel é feita através de dois tubos

flexíveis, denominados de “alimentação” e retorno, que se comunicam com o diafragma

através de dois orifícios. Quando a pressão da água supera a do gás, o diafragma veda os

dois orifícios e não permite a passagem do gás. Quando a pressão do gás supera a da água,

a membrana flete ligeiramente, permitindo a passagem do mesmo.

O procedimento de leitura, de forma simplificada, resumi-se em abrir gradualmente a

válvula do recipiente que contem o gás comprimido, geralmente nitrogênio para evitar

oxidação, observa-se a indicação de retorno do mesmo no painel, fechar a válvula e

aguardar a estabilização da pressão lida no manômetro, dessa forma, a pressão lida será

equivalente à pressão neutra no ponto. Um esquema do funcionamento do equipamento é

mostrado na Figura 02.


Figura 02 – Esquema de funcionamento do piezômetro pneumático.

O piezômetro pneumático apresenta como principais vantagens:

- Uma menor interferência na praça de serviço;

- Não influencia dos recalques sofridos pelos instrumentos sobre as medidas;

- Inexistência de limitações quanto à localização do instrumento;

- Leitura simples e rápida;

- Insensibilidade a descargas atmosféricas;

- Tempo de resposta relativamente pequeno;

- Tecnologia para fabricação não muito complexa.

Como limitações pode-se mencionar:

- Pouca confiabilidade para medir pressões neutras negativas;


- Menor sensibilidade do que o piezômetro de cordas vibrantes;

- Leitura relativamente demorada.

Piezômetro Hidráulico

Este tipo de piezômetro é considerado por vários engenheiros como sendo o mais indicado

para medidas de pressões neutras, tanto na fase construtiva quanto nas fases de enchimento

e de operação do reservatório.

O equipamento consiste de um corpo metálico ou de material plástico ao qual está solidária

uma pedra porosa. O sistema está conectado a um painel de leitura também através de dois

tubos flexíveis. A diferença principal em relação ao piezômetro pneumático quanto ao

funcionamento é que como o fluido utilizado para a leitura é a água e não um gás, não

possui diafragma e, conseqüentemente, a água contida nos poros do solo ou nas fraturas da

rocha fica em contato direto com a água medida no instrumento.

A saturação das tubulações é obtida através da circulação de água destilada e deaerada, por

meio de equipamentos específicos.

Estando saturados com água o painel e os tubos, a leitura é efetuada abrindo, um por vez, os

registros que conectam cada um dos dois tubos provenientes do piezômetro no manômetro

de leitura, aguardando-se então a estabilização dos ponteiros.

As principais vantagens deste piezômetro são:

- Envolve técnica de construção relativamente simples;

- Permite a avaliação de pressões neutras negativas;

- Permite uma avaliação do coeficiente de permeabilidade do material envolvente.


Porém possui limitações apreciáveis, que são:

- Não ser indicado para cotas de instalação muito grandes, devido a possibilidade de atingir

a pressão de borbulhamento da pedra porosa, e por conseqüência perder a saturação do

sistema;

- Possibilidade de fornecer água ao maciço durante o processo de saturação do sistema;

- Necessidade de operações relativamente complexas para deaeração das tubulações;

- Tempo de leitura relativamente grande para solos pouco permeáveis;

- Recalques ocorridos com o instrumento afetam os resultados.

Piezômetro Elétrico de Resistência

Nos piezômetros elétricos a medição de poropressão é efetuada à partir do sinal resultante

da deformação do diafragma metálico contendo extensômetros elétricos. De modo geral,

apresentam os mais baixos tempos de resposta, devido ao pequeno volume de água que o

maciço precisa fornecer para fletir o diafragma do transdutor. Outra vantagem consiste na

possibilidade de efetuar medidas dinâmicas de pressão neutra com registro contínuo, o que

é muito importante para regiões sujeitas a sismos. Além disso, este tipo de piezômetro

permite uma fácil automação para aquisição de dados.

Entretanto este tipo de equipamento possui também algumas desvantagens relevantes,

como um custo relativamente alto em relação aos outros, a possibilidade do equipamento

sofrer danos devido a descargas elétricas, e a impossibilidade de reparo em caso de avaria.

O piezômetro elétrico encontra-se esquematizado na Figura 03.


Figura 03 – Piezômetro Elétrico

Piezômetro Elétrico de Corda Vibrante

Este piezômetro funciona com o principio de corda vibrante, onde um sensor mede a

variação da freqüência de vibração da corda e correlaciona esta com a poropressão atuante

no ponto. A Figura 04 esquematiza o principio de funcionamento deste sistema.

Figura 04 – Piezômetro de Corda Vibrante

Os medidores deste tipo apresentam durabilidade deficiente com relativamente alta

porcentagem de perda devido a descargas atmosféricas. Outra deficiência desse tipo de


equipamento é a interferência causada por campos eletromagnéticos provocados por linhas

de alta tensão, subestações, unidades geradoras da usina, etc., a tal ponto de reduzir a níveis

baixos a confiabilidade desses medidores.

Célula de Tensão Total

As células de tensão total (Figura 05) têm sido utilizadas especialmente para a

determinação dos esforços que os maciços de terra, ou mesmo de enrocamento, exercem na

estrutura de concreto, ou em cut-offs, para avaliação das tensões efetivas atuantes.

O equipamento constitui-se basicamente de uma “almofada” metálica de formato retangular

ou circular, saturada com óleo, conectada a um piezômetro pneumático que permite a

medida da pressão de óleo. A tensão aplicada pelo solo à “almofada” é transmitida de

forma quase integral ao óleo de preenchimento da célula, e sentida pelo piezômetro.

Figura 05 – Célula de carga.

O procedimento de leitura é idêntico ao exposto para o piezômetro pneumático.


Sabe-se que se o material em questão for muito mais rígido que a célula, a distribuição de

tensões provocara a leitura de uma tensão inferior à real, ao passo que se a célula for mais

rígida que o material, ocorrerá uma concentração de tensões na célula, gerando uma leitura

maior que a real. Para evitar tal problema, tem sido recomendada a aferição do

equipamento em condições próximas às de trabalho, ou seja, solos compactados com

condições similares às do campo.

As células de tensões totais podem ser instaladas também com diferentes orientações,

formando uma roseta. Isto visa determinar as tensões atuantes em vários planos distintos, o

que permite também a determinação das tensões principais.

Tal artifício deve ser sempre adotado quando se tem mudanças repentinas de geometria,

como em um cut-off, por exemplo, onde ocorre o risco de se ter regiões de tração, que por

sua vez podem gerar trincas susceptíveis ao piping. A Figura 06 mostra a montagem de

uma roseta na transição entre o solo e a estrutura de concreto.

Figura 06 – Roseta montada na interface solo – concreto.


Equipamentos de Medida de Deslocamento

O principal objetivo destes equipamentos é medir os deslocamentos horizontais e verticais

que ocorrem em uma barragem, devido ao adensamento e às deformações provocadas pelo

carregamento do barramento.

Existem inúmeros equipamentos para avaliar o movimento interno e externo do maciço,

alguns deles serão comentados a seguir.

Marcos Superficiais

Os marcos superficiais são peças de concreto, geralmente com uma esfera metálica em seu

topo, que tem como finalidade básica medir os deslocamentos superficiais nos eixos X,Y e

Z da barragem.

É um equipamento de custo de instalação relativamente baixo, e fornece respostas precisas

dos deslocamentos. Ele funciona com equipamentos de topografia convencionais,

baseando-se em um marco considerável indeslocável. Entretanto, este equipamento tem de

ser montado obrigatoriamente na face de jusante, uma vez que o acesso ao marco é

necessário para realização das medidas. Sendo assim, outras alternativas devem ser adotas

para a medida dos deslocamentos na face de montante. Os marcos superficiais são

representados graficamente, em projeto, como triângulos invertidos, conforme mostrado na

Figura 06.
Figura 06 – Exemplo de notação do marco superficial.

Medidor de Recalque de Tubos Telescópicos

O medidor de recalques de tubo telescópico consiste de um tubo galvanizado de diâmetro

de 25 mm chumbado em rocha sã, que é considerada incompressível, e de uma ou mais

placas solidárias a tubos também galvanizados de diâmetros variados dispostos de tal modo

que os tubos de diâmetros crescentes são associados a placas situadas em cotas crescentes,

conforme a Figura 07.

Figura 07 – Medidor de recalques de tubo telescópico.


A leitura é realizada da seguinte forma: na extremidade superior de cada tubo é feito um

puncionamento; a leitura de cada placa, numa determinada data, é medida ajustando um

compasso metálico com pontas secas nas punções do tubo de referência e do tubo

correspondente à placa em questão; posteriormente mede-se a distancia entre as pontas do

referido compasso em uma escala milimetrada. O recalque medido será a diferença da

leitura inicial e a leitura realizada.

Deve-se lembrar que durante a construção do aterro são acrescentados vários conjuntos de

tubos concêntricos, à medida que sobre a barragem, procedendo-se em cada conjunto da

forma acima indicada.

As principais vantagens deste método são a simplicidade construtiva e de leitura além de

uma boa durabilidade e confiabilidade, nas condições em que é aplicável.

As maiores limitações são quanto ao número de placas (quatro), interferência na praça de

serviço, manuseio difícil das placas devido ao peso, dificuldade de reparos de danos

causados por acidentes e custo.

Medidor de Recalque Tipo Magnético com Placas

Trata-se de um equipamento constituído por um conjunto de placas dotadas de orifício na

posição central e um ímã permanente, dispostas ao longo de um tubo de PVC vertical com

emendas telescópicas, conforme a Figura 08.

O sensor utilizado para realizar as leituras desce ao longo do tubo de PVC, suspenso por

uma trena metálica milimetrada. Ao atingir uma posição bem definida em relação aos ímãs

das placas, o campo magnético aciona um contato existente dentro do sensor, e esta
condição é percebida pelo operador através de um sinal sonoro emitido pelo aparelho. Um

esquema do sistema operacional do sensor é apresentado na figura 09.

Figura 08 – Medidor de Recalques tipo Magnético com Placas

Figura 09 – Esquema do funcionamento do censor.


Cada placa com um ímã permite pelo menos dois pontos de leitura, um em cima e outro

em baixo da placa, podendo-se optar pelo uso do ponto superior, pelo inferior ou por

ambos, adotando-se as médias das leituras.

As principais vantagens deste aparelho são:

- Facilidade construtiva, de instalação e de reparos a danos ocorridos;

- Baixo custo;

- Sensor acessível a qualquer instante para eventuais reparos;

- Durabilidade;

- Não limitação do número de placas.

As principais limitações são:

- Dispersão nas leituras na ordem dos milímetros;

- A instalação das placas devem ser realizadas no decorrer da obra;

- Leitura relativamente demorada.

Medidor de Recalque Tipo Magnético com “Aranhas”

Este equipamento constitui-se basicamente de um tubo de PVC por onde passam as

“aranhas” com o ímã. O principio de funcionamento deste equipamento é o mesmo do

magnético de placas, onde as medidas são realizadas com um sensor magnético.

O processo de instalação das do equipamento é relativamente simples. Realiza-se um furo

com sonda rotativa ou trado até atingir a profundidade desejada. Neste furo coloca-se o

tubo de PVC, por onde as “aranhas” são abaixadas até a cota desejada. Atingindo a cota,

aciona-se um sistema que fecha um curto circuito no arame que mantêm as hastes de
fixação presas ao corpo da “aranha”, liberando-as para fixarem na parede do furo, conforme

mostrado na Figura 10.

Figura 10 – Fixação das “aranhas” no furo.

Ao se utilizar as “aranhas” para avaliar o recalque vertical tem-se algumas vantagens:

- Não existe a necessidade da instalação das aranhas no decorrer da obra;

- O equipamento pode ser instalado mesmo após a conclusão da obra;

- Permite análise de recalques na fundação;

- Fornece medidas precisas;

Inclinômetro

O inclinômetro é utilizado com o objetivo de determinar os deslocamentos horizontais,

superficiais e em sub-superfície. Consiste de um conjunto de seguimento de tubos plásticos


ou de alumínio, confeccionados especialmente para esta finalidade, montado através de

luvas telescópicas em posição sub-vertical. Tais tubos possuem quatro ranhuras, duas a

duas diametralmente opostas, com os diâmetros assim formados perpendiculares entre si,

dispostos na barragem na direção montante / jusante e ombreiras esquerda / direita, e pelas

quais passam as rodas do sensor que fará as leituras.

Sua instalação pode ser deita em furo de sondagem ou a medida que o aterro sobe, em

maciço compactado. Quando instalado em furo de sondagem, o espaço entre o furo e os

tubos deve ser preenchido com mistura solo, cimento e bentonita.

Usualmente são efetuadas quatro séries de leituras, com as rodas fixas do sensor voltadas

para montante, jusante, ombreira esquerda e ombreira direita. Em cada série são obtidas três

leituras por segmento de tubo, de modo a se dispor, em cada data do perfil do tubo

instalado na barragem ou da curva que representa os deslocamentos horizontais ao longo da

profundidade. Desta forma torna-se possível avaliar o deslocamento do maciço com um

todo e até mesmo avaliar possíveis mecanismos de ruptura, conforme mostrado na Figura

11.

Figura 11 – Previsão do mecanismo de ruptura utilizando-se inclinômetro.


As principais características do inclinômetro são:

- A possibilidade de determinação das componentes de deslocamento horizontais em duas

direções ortogonais, ao longo do comprimento do instrumento;

- Leitura e cálculo manual relativamente demorados;

- Interferência na praça de trabalho caso esse seja instalado no decorrer da construção do

barramento;

- Possibilidade de instalação do aparelho em furo de sondagem, ou acompanhando a subida

do aterro, na vertical ou em posição inclinada;

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