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FORTE E INTENSO

ANDRESSA FÉLIX
Copyright © 2020 ANDRESSA FÉLIX
Capa: E.S DESIGN
Diagramação: Thainá Brandão – Monte Casillas Design Editorial
Revisão: Monte Casillas Design Editorial
1. Romance Contemporâneo
2. Literatura Brasileira
Edição digital. Criado no Brasil.
1ª edição / 2020.
Esta obra segue as Regras ao Novo Acordo Ortográfico
REGISTRADA E PATENTEADA NO REGISTRO DE OBRAS
________________________
Todos os direitos reservados
Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são
produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610./98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Nunca imaginei viver um amor tão forte e tão intenso. Não fui como
as outras meninas que sonhavam com o senhor perfeito, uma casa grande
com cercas brancas e crianças correndo pela casa. Se posso dizer uma coisa, é
que na realidade abominava tudo o que era relacionado a isso, nunca tive
nada contra o amor, só achava que não era para mim. Mas ele surgiu na
minha vida de repente, virando meu mundo maluco de pernas para o ar e
acendendo em mim uma vontade louca de pertencer a alguém, mas não
qualquer um.
Não, eu tinha que ser dele, somente dele.
Agora imagina você; um homem lindo, enorme, completamente sério,
com cara de mau e todo tatuado. Imaginou? Então adicione um temperamento
forte, multiplica a possessividade e o ciúmes e você chegará na metade do
que é esse homem.
Gael é completamente diferente de mim! Eu amo a liberdade, fui
criada para ser independente e nunca, jamais, levar desaforo para casa. Amo
sair, amo me divertir, fazer amizades e ele é completamente ao contrário de
mim. Deus é engraçado, não é? Ele mandou um homem no meu caminho e
me deu uma missão; Ou eu o enlouqueço ou mato esse Urso do coração.
Ursos tem problemas cardíacos? Não sei, acho melhor pesquisar!
Quer a prova de que esse homem vai ficar maluco por minha causa?
Então presta atenção!
— Você não acha que esse shorts mostra muita coisa não? É
praticamente uma calcinha, como aquelas que você usa com vestido! — Ele
diz indignado.
— Me poupe, Gael! Estamos no verão, vamos para a fazenda dos
meus pais e você quer que eu vista o que? Uma burca?
Ele resmunga, resmunga, mas sabe que não adianta discutir por que
vai perder e feio. Se ele me irritar muito, eu saio é de biquíni!
Estamos aprendendo como lidar um com o outro, Gael aprendeu que
quanto mais ele discute comigo, mais eu pirraço. Eu tive uma boa escola
quando o assunto são homens possessivos, meu pai e meus dois irmãos foram
verdadeiros pé-no-saco enquanto eu crescia, mas também não posso dizer que
nunca me vinguei deles, aprendi com a mestre que vingança é um prato que
se come frio, mas eu como sou ousada prefiro ele pelando mesmo!
Se você quer uma história de romance água com açúcar, sinto te
informar que esse não é o que você procura. Agora se quiser emoção,
apertem os cintos porque aqui a turbulência é constante!
Quando chego em casa já passa das dez da manhã. Arranco minhas
roupas e vou para o chuveiro. Cada parte do meu corpo tem marcas da noite
maravilhosa que passei com o desconhecido. Meu corpo todo está sensível
me fazendo lembrar de tudo o que fiz.
Meu corpo foi usado e abusado deliciosamente e eu não fiquei atrás.
Me perdi em cada pedacinho do corpo daquele homem, me perdi em meio as
sensações que ele me proporcionou. Nunca nenhum homem me fez tão
consciente do meu corpo quanto ele fez. Ele me tocou em lugares que eu
sequer imaginava existir, ele me fez ansiar por mais e mais.
O desconhecido de nome Gael me tocou como se já me conhecesse há
anos, ele venerou meu corpo a noite inteira. Isso mesmo, ele venerou, não foi
a transa aleatória onde duas pessoas se encontram para desafogar seus
estresses. Eu até pensei que seria, mas não, ele me provou ao contrário. Ao
mesmo tempo em que ele estava desesperado por mim, eu estava por ele.
Apesar do sexo ter sido bruto muitas vezes, também tinha um toque de
carinho. Do mesmo jeito que ele me fodia com força, ele fazia amor comigo e
isso me desestabilizou de uma maneira inexplicável. Passamos a noite toda
transando, tendo apenas alguns poucos intervalos para tomar um banho ou
comer alguma coisa. Era como se fossemos um imã, bastava apenas um
simples toque e já estávamos um nos braços do outro. A conexão entre nós
foi tão intensa que quando acordei não tive coragem para permanecer lá.
Estava confusa com tudo o que ele despertou em mim, eu simplesmente
deixei um bilhete e fugi sem ao menos me despedir.
E sabe o que é mais fodido? Eu não sei o sobrenome dele!
O quão idiota eu sou?
Saio do chuveiro, me seco e coloco uma camisola e vou direto para a
cama. Mas quem disse que consigo dormir? Toda vez que fecho os olhos,
aquele homem me vem à mente. Ele é alto, corpo trincado, músculos nos
lugares certos, todo tatuado! E um espetáculo na cama, ele me pegou de tudo
o que foi jeito. Só de lembrar já sinto meu corpo esquentar. Acabo
adormecendo pensando no homem tatuado.
Quando acordo já passam das três horas da tarde. Faço minha higiene
e vou para a cozinha, mas quando abro a geladeira não tem cacete nenhum
para comer! Visto um roupão e vou para o apartamento da Hanna. Esse final
de semana ela não vai ver os pais, Dylan tem um jantar de negócios e ela
como sua secretaria vai acompanhando.
Hanna mora um andar abaixo do meu, Bato na porta fazendo nosso
toque.
— Por que você não usa a sua chave princesinha? — Ela pergunta
abrindo a porta.
— Esqueci bicha! Me diga que você tem alguma coisa para comer?
Minha geladeira está vazia, viada! Vou para casa dos meus pais mais tarde,
vamos?
— Fica para outro dia Yza, não tenho estômago para ver seu irmão.
Hanna e meu irmão se amam, mas por uma cagada monumental de
Donatello, ambos estão sofrendo, eu cumpri o que prometi para ele no
começo. Dei uns bons socos nele e uma joelhada em suas partes íntimas,
assim ele não poderia usar com a estranha da namorada dele.
— Hanna, vocês tem que conversar meu amor. Não acha que já
sofreram demais? Ele também sofre Hanna Montana, eu sei por que o vi
definhar a cada vez que ele te via. Ele errou? Errou feio, mas ele ama você.
Tem alguma coisa acontecendo só que ninguém me diz o que é! Hoje irei
descobrir e tenho quase certeza que aquela lambisgoia anêmica, tem alguma
coisa haver.
— Yza são quase quatro anos afastados, foram quatro anos que me
ferraram bonito. Impossível... Eu estou pensando em voltar para casa. — Ela
diz seria.
— Não aceito! Dylan também não irá aceitar. Não faça nada que vá se
arrepender depois.
— Vamos mudar de assunto! Como foi a festa ontem?
— As mesmas pessoas, os mesmos papinhos, os mesmos babacas
quando bebem, mas...
— Mas o que!? — Hanna pergunta curiosa.
— Conheci um homem! Mas homem mesmo! Alto, grande parecendo
um armário, todo tatuado, com cara de mau. A voz rouca, a pegada bruta
sabe? Um carinha bêbado veio querer tirar uma casquinha, mas antes que eu
pudesse fazer alguma coisa, o Gael apareceu e colocou o moleque para correr
dizendo que eu era dele! Na hora minha calcinha deixou de existir. O homem
é uma loucura de tão possessivo, me disse cada coisa.
— E você, a rainha da independência gostou? Não acredito! — Hanna
diz rindo.
— Viada! O homem é uma loucura, toda aquela possessividade
despertou algo em mim. Não consigo parar de pensar nele um só momento.
— E quando você vai encontrá-lo novamente?
— Nunca? Eu fiquei tão mexida, que fugi. Só sei o primeiro nome
dele, e só disse o meu primeiro nome a ele. Fui burra? Eu fui! Agora esse
homem não sai da minha cabeça, e o pior? Não lembro como voltar para o
apartamento dele.
— Eu não acredito! Você não pegou nem o número dele?
— Estou falando que eu sou burra, viada!
Continuamos conversando. Eu preparo um lanche e Hanna me
acompanha.
Conversamos sobre a sua mãe, e me parte o coração ver minha amiga
assim. Deve ser foda você saber que a pessoa que você mais ama na vida,
pode morrer a qualquer momento. Eu não me vejo sendo forte assim e me
encho de orgulho da minha amiga. Ela é forte e perseverante, sempre de bom
humor e palavras amigas.
Eu as vezes tento me colocar no lugar dela, e tenho absoluta certeza
que não teria um terço da garra e força de vontade dela. Minha família é o
que tenho de mais sagrado na vida, meu pai e meus irmãos são tudo para
mim. Mas minha mãe? Minha mãe é meu alicerce, minha inspiração. Se
alguma coisa acontecesse com ela, que não sei o que seria de mim.
Quando Dylan se isolou de todos, eu senti demais. Ele é meu irmão
mais velho, um dos meus heróis, sempre me paparicou e me defendeu.
Também é o mais ciumentos dos irmãos, passei um dobrado com ele. Mas
aos poucos eu o vi se isolar, a alegria que sempre brilhava em seus olhos foi
se apagando, ele meio que entrou em um depressão. Vivia triste, nada o
animava. Ele viajou para fora do Brasil e só voltou quando o Don estava
dando trabalho. Meu pai ficou doente e teve que se afastar dos negócios e
Dylan que tomou a frente de tudo.
Mas a tristeza deu lugar a felicidade, desde que Katrisca e Luna
entraram de repente em sua vida. Eu vi meu irmão voltar a ser o que era
antes, feliz, alegre. Luna... Ela é uma criança maravilhosa, feliz, um
verdadeiro encanto e dona de uma pureza sem igual. Ela diz coisas que tocam
nossa alma e nos faz pensar que Deus realmente existe. Ela afirma com tanta
certeza que sonhou com o meu irmão, que já o conhecia e eu estou
começando a acreditar que existe sim outras vidas. Eu até tenho lido sobre
isso, e cada vez mais começo a acreditar em vidas passadas. Se realmente for
verdade, se existe outras vidas, o amor deles veio de lá.
Não é amor malicioso, doentio, com segundas intenções. Até porque a
Luna é um bebê! O amor dos dois é puro, sincero, é uma pureza imensa.
Amor de pai e filha, amor esse que estava predestinado a acontecer. O
encontro deles foi incrível, uma ligação instantânea aconteceu entre eles.
Katrisca e Luna, tem uma história triste de maus tratos, Katrisca sofreu
inúmeras agressões do pai da fadinha. Fadinha... Um apelido perfeito para
ela, pois ela trouxe consigo tanta paz, tanta alegria para a minha família. O
encontro dela com Donatello foi incrível, minha mãe me contou como foi nos
mínimos detalhes.
Mamãe! Logo de cara assumiu o papel de avó, e uma vovó muito
babona diga-se de passagem. Meu pai então nem se fala, coitada da Katrisca!
Ele vai estragar a menina de um jeito, que ela será uma Yza versão 2.0 só que
melhorada.
Me despeço da Hanna e volto para o meu apartamento. Tomo um
banho demorado, lavo meus cabelos, passo um óleo corporal. Eu sou muito
vaidosa, em meu banheiro tenho inúmeros tipos de creme, desde para corpo
até para as mãos, é um cuidado que aprendi a ter com a minha mãe. Amo
maquiagem e não saio de casa sem pelo menos um lápis e um batom.
Me arrumo, agarro as chaves do meu carro e vou para a casa dos meus
pais. Mas a imagem do Gael não sai da minha cabeça.

Acordo de um sono reparador, há muitos anos eu não dormia assim.


Meus sonhos sempre foram povoados de pesadelos, chego a passar
várias noites em claro. Quando mais novo, o psicólogo diagnosticou como
terrores noturnos e passou um calmante que me deixaria dormir
tranquilamente. Mas conforme fui me dedicando aos estudos, eles
começaram a atrapalhar minha concentração.
Sinto um cheiro gostoso, um perfume delicado, feminino e me lembro
da noite incrível que tive. Passo a mão pela cama, em busca do corpo suave
no qual me perdi, mas tudo o que encontro é uma cama fria. Levanto com
tudo, olho no banheiro, na cozinha, mas não consigo achá-la.
Volto atordoado para o quarto, sentindo uma angustia no meu peito.
Até que avisto um pedaço de papel em cima do travesseiro.
Obrigado pela noite (ou manhã) maravilhosa Gael, foi a transa mais
intensa que tive na vida. Fique bem, e quem sabe nos vemos por ai... Beijos
Yza.
Filha da puta! Não era para ter sido assim! Jogo a primeira coisa que
vejo na minha frente, que por sinal é um vaso caríssimo que minha mãe me
fez comprar!
Ela não deixou se quer um número de telefone, mas isso é o de
menos. Eu a acharei, nem que para isso vire a porra de Campinas de cabeça
para baixo!
Só depois de andar feito um urso enjaulado, me dou conta que só sei o
primeiro nome dela!
Porra! Quão idiota eu sou?
É como procurar uma agulha no palheiro! Mas não irei desanimar,
conversarei com os meus amigos que foram na festa, alguém deve conhecer
essa menina.
Vai ser engraçado explicar, que um homem vivido como eu me
encantei por uma menina novinha. Não que a diferença de idade seja muita,
deve ser o quê? Dez, doze anos? Eu ainda posso sentir o gosto dela, sua pele
macia na minha. Seus gemidos ecoam em meu ouvido, como se fossem uma
sinfonia proibida. Resolvo tomar um banho, mas assim que entro no banheiro
vejo flashes em minha mente, flashes da cena de algumas horas atrás onde
me perdia em seu corpo, embaixo do chuveiro.
Como se estivesse acontecendo agora, ainda consigo sentir seu corpo
pressionado ao meu, a quentura de sua doce boceta, o modo como ela
apertava meu membro duro dentro dela. Suas unhas fincadas em minhas
costas, o sabor do seu beijo. Tudo me tem duro, como eu queria poder repetir
essa cena agora.
Entro embaixo do chuveiro e sinto minhas costas arderem em certos
lugares, tudo consequência de um sexo louco!
Sinto um vazio dentro de mim, como um pedaço estivesse faltando e
só ela pudesse preencher. Termino meu banho e coloco uma cueca box, e vou
direto para a cozinha.
Preparo uma vitamina, enquanto o café não fica pronto. Tento focar
no que estou fazendo, mas minha mente sempre volta pra ela, para minha
Sweet.
Meu telefone toca e vou atender. Certeza que é a minha mãe.
— Ei mãe!
— Meu ursinho! Acordou agora? Já comeu? Não me diga que está
tomando essa merda de suco verde Gael D'Ávila!
— Boa tarde Mãe, sim, acordei agora e novamente sim, estou
tomando uma vitamina.
— Estou indo ai preparar uma coisa gostosa para você, ursão da
mamãe. — Ela diz e simplesmente desliga na minha cara.
Eu dou risada. Minha mãe é foda, me trata como se eu tivesse cinco
anos de idade.
Menos de cinco minutos, ela entra feito um furacão, e faz uma careta
quando me vê tomando vitamina. Sem nem ao menos me dar um beijo, ela
vai para a geladeira e começa a tirar as coisas para preparar o almoço pra
mim.
Eu fico sentado olhando para ela. Eu sempre faço isso, para muitos é
perca de tempo, uma bobeira ficar admirando a própria mãe. Mas para mim é
incrível fazer isso, mesmo depois de todos esses anos livre do monstro que
nos aprisionava, meu passatempo preferido é vê-la assim. Solta, desinibida,
alegre, passamos por muitas coisas ruins na vida.
Nossa história não é bonita, ela é recheada de coisas ruins, de maus
tratos, de negligência, de torturas. Só quem sabe realmente o que passamos,
somos eu e ela. Acho que isso fez com que nos tornássemos ainda mais
unidos do que já éramos. Minha mãe sofreu demais nas mãos de quem
prometeu cuidar e amar ela. Quando o desgraçado morreu, minha mãe estava
em cima de uma mesa de operação lutando entre a vida e a morte, e graças a
Deus ela saiu vencedora.
Tudo o que senti com a notícia da morte do meu pai, foi alívio. Um
alívio que beirava a paz interna sabe? Só de saber que ele nunca mais iria
machucá-la, que poderíamos viver em paz, e que nunca mais passaríamos por
todo o pesadelo ao qual éramos submetidos diariamente por longos vinte anos
ou mais.
Não comparecemos ao velório e enterro do coronel D'Ávila, pois
minha mãe estava na UTI, e eu não iria deixá-la sozinha para fazer bonito
para os outros. Os colegas de farda do meu pai, vieram ao hospital saber o
que tinha acontecido e saber o porquê de não ter comparecido à homenagem
ao meu próprio pai.
Acho que foi a primeira vez que eu deixei minha raiva tomar posse de
mim. Eu vomitei anos e anos de maus tratos anos, de violência física, e a
cada palavra que saia da minha boca, eu via o sangue sumir dos rostos deles.
A cada vez que eu descrevia os métodos de torturas que o tão condecorado
Coronel nos submetia, eu podia ver o horror nos olhos dos seus superiores.
Eu descrevi tudo o que eu lembrava, eu descrevi todos os ossos quebrados,
todas as ocorrências prestadas no hospital. Mandei que eles pedissem o
histórico hospitalar, para que assim pudessem ver com os próprios olhos.
Vomiteis durante horas, cada cena de terror nos quais tínhamos
vividos. Eu até pude ver uma lágrima rolando nos olhos de um deles. Falei,
falei e falei, até que chegou ao dia final, onde foi a última vez que meu
querido pai levantou a mão pra minha mãe.
Me lembro como se fosse hoje...
"Eu estava chegando do cursinho preparatório, que fazia para o
vestibular de direito. Assim que cheguei na rua onde morávamos vi o carro
do meu pai estacionado de qualquer jeito, e assim que coloquei a chave no
portão escutei coisas caindo. Corri, largando a mochila no quintal e corri
para dentro com o coração batendo na garganta. A cena que encontrei,
ficaria marcada para sempre em minha memória. Minha mãe estava caída
em uma poça de sangue, seus membros estavam em uma posição estranha,
seus rosto inchado, tão inchado que você não conseguiria ver seus olhos. Ao
lado dela estava meu pai, todo amarrotado com um pedaço de caibro na mão
esquerda. Ele me olhava com ódio, mas podia ver medo neles também.
Eu corri para o lado da minha mãe, tentando descobrir se ela estava
viva.
— Isso tudo é culpa sua! Eu deveria era te matado quando eu tive
chance. Nós vivíamos bem, antes de você chegar! Ela era minha, minha,
minha, minha! E você a roubou de mim. Agora ela está morta e a culpa é
sua. —Ele gritava descontrolado.
Ele não falava coisa com coisa, ele andava de um lado pro outro
pisando na poça de sangue da minha mãe e sujando tudo a sua volta. Ele
chorava e fala coisas desconexas.
— Você é um louco de merda! É isso que você é, um fodido que nunca
deu valor ao que tinha. Você sempre sentiu prazer em nos torturar, não
venha pagar de o incompreendido, por que se minha mãe está aqui morta a
culpa e unicamente sua! Você não tem e nem nunca teve um pingo de amor
dentro de você coronel. Eu espero que o senhor pague por tudo o que fez, por
que agora minha mãe não está aqui para me impedir de te entregar. Acabou
coronel, sua última vítima está aqui, caída e morta por sua causa! — Eu falo
mortalmente para ela.
Eu o odeio com todas as minhas forças e o farei pagar por ter matado
a minha mãe.
Ele me olha assustado e sai correndo de casa em direção ao seu
carro, eu corro atrás gritando assassino para que todos escutassem. Os
vizinhos escutaram meus gritos e saiam de suas casas, para ver o que estava
acontecendo. Um senhora vestida de branco, chegava em sua casa e quando
me viu sujo de sangue veio correndo me acudir.
— Deixe-me ver menino, onde você está machucado? — Ela pergunta
me alisando.
— O sangue não é meu, é da minha mãe. Ela está morta, meu pai a
matou.
Ela corre para dentro da minha casa, e segundos depois começa a
gritar por ajuda. Os vizinhos correm em direção ao gritos, e minutos depois
aparecem com a minha mãe nos braços.
— Ela está viva menino! Viva! Vem, não temos tempo para esperar
uma ambulância. Ela tem que ir para o hospital agora! — A senhora loira
gritava.
E foi uma loucura, de repente apareceu um carro e depois só me
lembro de chegar ao hospital... "
— GAEL! — Minha mãe grita, batendo as mãos no balcão.
— Desculpa mamãe, estava perdido nas lembranças.
— Meu menino, já te pedi tantas vezes para deixar isso pra lá. O lugar
disso é no passado, de preferência no fundo de um baú bem enterrado.
— Como a senhora sabe que estava pensando no passado? —
Pergunto curioso.
— Gael, olhe para suas mãos!
E quando faço, vejo só o fundo do copo em minhas mãos, e o sangue
escorrer por entre meus dedos. Levanto e vou até a pia, e jogo o que restou do
copo no lixo. Ligo a torneira e coloco minhas mãos embaixo da água, e vejo
meu sangue escorrer ralo abaixo. De repente minha mãe desliga a água, e
enrola minhas mãos em uma toalha branquinha. Olho para ela e vejo seu
rosto banhado de lágrimas, ela me empurra para sentar na cadeira e abre a
maleta de primeiro socorros e tira ataduras, água oxigenada, pomada e band-
aid.
— Desculpa, mãe...
— Quem tem que pedir desculpas sou eu meu bebê. Se eu tivesse sido
um pouquinho corajosa, você não teria essas lembranças horríveis. — Ela diz
chorando.
Assim que ela acaba de fazer o curativo, eu a puxo para o meu colo e
a abraço forte.
— Eu amo a senhora, dona Marta.
— Eu também amo você meu ursinho. Veja só, já é um homem feito,
grande como um urso, mas ainda precisa dos cuidados da mamãe. — Ela diz
sorrindo entre as lágrimas.
— Não importa o meu tamanho ou a minha idade mãe, eu sempre
precisarei dos seus cuidados!
— Eu tenho tanto orgulho do homem que você se transformou Gael.
Meu ursinho lindo cresceu.
— E eu morro de orgulho da senhora mamãe, de como a senhora se
reergueu depois de todo o inferno no qual viveu. A senhora é e sempre será
meu exemplo de vida, de superação.
— Então me recompense ursinho! Quero netos, quero uma filha
postiça, quero poder estragar meus netinhos e netinhas. — Ela pede sorrindo.
— Estou nisso dona Marta, só preciso encontrar a minha garota
fujona.
— Não me diga que você está namorando e não me contou Gael
D'Ávila! Quem é ela? É a Zia? Ela é bonita e combina com você, mas eu não
a escolheria como nora se eu pudesse escolher.
— Não mãe! A Zia é como se fosse minha irmãzinha, credo! É outra
pessoa, ainda não sei muito, mas assim que descobri te contarei. Agora dona
Marta, estou com fome! Alimente seu ursinho. — Falo rindo.
Ela levanta feliz e vai para o fogão, esquecendo o momento triste que
estávamos.
E eu volto a pensar na minha Sweet.
Eu vou encontrá-la e darei muitos tapas naquela bunda gostosa como
castigo por fugir de mim!
Me aguarde Sweet, eu te acharei e nunca mais você fugirá de mim.
Estou sentado no meu gabinete, perdido em uma pilha de processos.
Estou tendo uma manhã de merda, acabei de chegar de uma audiência
onde um bosta de um advogado mau caráter, defendia uma mulher nojenta.
Ela manteve um menino de cinco anos em cárcere privado, o tratando
como um animal de estimação. O menino era mantido acorrentado, tendo em
sua volta um colchão e uma vasilha de água. Era como se ele fosse um
cachorro dela, o menino estava com feridas pelo corpo, desnutrido, cabelos
grandes, e muitas marcas pelo corpo, marcas de cintadas e das correntes que
ele era preso.
Eu juro por tudo o que é mais sagrado no mundo, minha vontade era
de matar a mulher, que fez da minha sala um picadeiro, onde ela era a
palhaça principal. O advogado dela não ficou atrás, ele não me conhece, não
sabe o meu modo de trabalhar e quis me fazer de idiota.
Antes de qualquer audiência, tanto a de conciliação em caso de
guardas compartilhadas, até a que me leva a presidir um júri, eu estudo o caso
a fundo. Sempre deixo o meu gabinete aberto para tirar qualquer tipo de
dúvidas, desde que não seja nada que prejudique o processo de alguma
maneira. E por isso eu odeio que me façam de idiota!
E nesse caso, tanto a ré quanto o advogado de defesa, tentaram me
ludibriar e me fazerem de palhaço!
A promotoria colocou no rabo deles com força e sem vaselina. E a
minha vontade, quando o promotor começou a jogar as provas que
condenariam a ré a muitos anos de prisão em regime fechado, foi de rir da
cara de espanto do merdinha do advogado que mal saiu das fraldas, mas me
contive e continuei sério! O pai do menino pediu custódia total do menor,
mas antes o estado investigou se a história que ele contou era real. E só
depois de verificado os fatos, que a guarda foi consentida. Mas ficou
garantido a visita do serviço social durante um ano.
Minha escolha pela vara da infância e juventude, teve cunho pessoal.
Por tudo o que vivi e o que a minha mãe viveu. Eu sou impiedoso, quando o
assunto é a violência contra criança. Muitos amigos advogados, até mesmo
outros juízes, me procuram para tirar dúvidas e pedir conselho justamente
pelo meu modo de trabalhar.
Escuto uma batida na porta, depois um advogado muito meu amigo
entra.
— Com licença vossa majestade, meu excelentíssimo meritíssimo.
— Vai a merda, Maurício! — Falo, levantando para abraçá-lo.
Maurício Fonseca, é um dos meus amigos mais chegados. Casado e
pai de duas meninas lindas, sua esposa estudou com a gente, mas abriu mão
do direito para se tornar mãe.
— Se eu não venho atrás de você, não fico sabendo se está vivo ou
morto! Fiquei sabendo da audiência de mais cedo, esse advogado sabe quem
você é? Por que pelo pouco que eu escutei falarem, nem sei como ele ainda
está respirando. — Maurício diz, se jogando na cadeira em frente à minha
mesa.
— Eu não sei de onde esse idiota veio, mas transformou a minha
audiência num verdadeiro picadeiro!
— Mas não foi para falar de trabalho que passei aqui. Você vai fazer
o que mais tarde?
— Dormir? Sério Maurício, parece que não durmo a anos! Parecia
que a semana nunca iria acabar, estou morto. Vou até dormir na minha mãe,
para ela me mimar o final de semana inteiro.
— Como se dona Marta já não fizesse isso. Qual é cara, vamos tomar
um Chopp, Roberta me deu um vale-night hoje!
— Ela te deu um vale-night, assim, sem mais nem menos? Suspeito
você não acha? —Pergunto rindo.
— Ela está indo para casa da mãe dela com as meninas, e vai levando
meu cartão de crédito. Vou me encontrar com elas amanhã cedo, e deixou
quando disse que estava preocupado com você.
— Preocupado comigo?
— Depois que você saiu da festa aquele dia, nunca mais ouvi falar de
você. Aliás você quase me fodeu! Me deixou lá, com aquele doente mental o
Fernando, um galinha filho da puta. Roberta ficou sabendo e quase deu
divórcio!
Não tem como não rir desse idiota. Paga de dom Juan, vive mexendo
com as meninas do nosso andar. Mas é completamente fiel a mulher dele.
Roberta é foda, a mulher é um arraso e traz o paspalhão do meu amigo na
coleira.
— Você é tão pau mandado Maurício! Que agora entendo o porquê da
sua mulher ter dado o vale night. Você nunca teria coragem de mijar fora da
bacia, ou a Roberta te castraria.
— Ela é louca irmão! Mas fazer o quê, ela sabe fazer umas paradas
sinistras.
— Idiota!
— Sério agora, conseguiu alguma notícia da ninfeta que você saiu da
festa?
— Porra nenhuma. A garota sumiu e junto com ela está sumindo a
minha sanidade mental cara. Coloquei dois detetives atrás dela e a mulher
sumiu, ninguém consegue encontrá-la.
— Você vai encontrá-la Gael, se ela é sua, ela vai aparecer. Agora me
diz, vamos tomar um Chopp? Até a Zia topou, e olha que ela é foda de aceitar
meus convites. Ela só aceita quando a Roberta vai, ou quando você topa ir.
— Eu vou idiota! E a Zia não é muito de sair, se ela aceitou é sinal
que ela precisa beber e extravasar. A semana deve ter sido foda pra ela
também.
— Beleza, então as oito nos encontramos na sua casa?
— Pode ser, vou ligar pra Zia e deixá-la saber.
Maurício vai embora e eu fico pensando na Zia. A mulher tem uma
história filha da puta também, viveu durante anos um relacionamento
autodestrutível. Onde o marido um viciado em cocaína, a agredia dia sim e
outro não. Ele vendeu quase tudo da casa, e no final, onde foi a gota d’água
foi quando ele vendeu as coisas do bebê que ela estava esperando. Foi
quando ela tomou a iniciativa de chamar a polícia, que fez pouco caso da sua
situação e horas depois o desgraçado foi solto.
Zia estava de seis meses de gestação, e o desgraçado a espancou até
ela desmaiar e um pouco mais. Zia foi achada pela vizinha, desmaiada em
uma poça de sangue e levada às pressas para o hospital. Mas quando chegou,
não tinha muito o que fazer. O bebê já estava morto, e ela teve que arrancar
útero, trompas, teve que arrancar tudo. Zia quase morreu na mesa de
operação, e depois quase morreu com depressão.
A única coisa que a fez acordar para vida, foi depois que ela
denunciou o filho da puta, e presenciou a audiência. Eu fui seu advogado de
defesa, ela foi minha primeira causa depois que me formei. Eu não só ganhei
a audiência, onde o filho da puta pegou doze anos de prisão fechada, como
consegui uma compensação financeira, tanto da família dele quanto do estado
por conta do trabalho de merda que os policiais da época fizeram.
Alguns meses depois, ela me procurou e disse que queria ser
advogada, e se eu poderia ajudá-la a mudar de vida. E hoje ela é uma das
melhores promotoras do estado de São Paulo, ela é minuciosa, detalhista, e
tão sanguinária quanto eu era. Ela escolheu a vara da infância, e mulheres que
passaram o que ela passou.
Depois da minha última audiência, vou para casa descansar. Passo na
casa da minha mãe dou um beijo nela e depois vou pra minha casa. Tomo um
banho relaxante, me arrumo e fico esperando pelos meus amigos.
Assim que eles chegam, pego minha carteira e o celular e vou tomar
um merecido Chopp. Queria que a minha Sweet estivesse aqui. Garanto que
nada e nem ninguém me tiraria de casa.
Será que algum dia irei encontrá-la?

Sextou porra!
Semana infernal essa que eu passei. Deus me livre, pensei que era
mês de Agosto credo! Foi uma paulada atrás da outra, problemas com meu
irmão Donatello, reuniões estressantes. Nada me tira mais do sério, do que
lidar com gente idiota e machista.
Hoje tem uma balada show e Lila, Hanna e eu estamos indo.
Hoje eu estou pro crime, e ninguém me segura. Vou tomar todas que
eu tenho direito, e mais algumas. Já se passaram mais de uma semana, e até
agora não conseguir achar meu boy magia tatuado.
Chego em casa e corro direto para o banheiro, deixo a banheira encher
e vou preparar uma bebida. Logo a Lila chega e a bagunça está formada.
Lila é a melhor amiga da minha cunhada Katrisca, ela acabou de
mudar para cidade. Pensa em uma mulher porra louca? É a Lila! Ela é
completamente sem filtro, super alto astral, gostosa pra caralho! Véi, o corpo
dessa mulher é um escândalo, e os olhos? Puta que me pariu na esquina! Olho
de gato siamês.
Ela é linda, um mulherão da porra, a bunda dela é uma afronta a nós
relês mortais de bumbum MP (murcho e pequeno) eu achava a minha bunda
maneira, mas a dela é um esculacho!
Faço a batida de Skol bits, limão e leite condensado. Uma delícia!
Sirvo uma taça enorme, por que sou chique e vou para o meu banho de
banheira. Assim que entro na água quentinha, sinto meu corpo relaxar do
estresse da semana inteira. Fecho meus olhos, e acabo cochilando só para
sonhar com o Gael. Lembro cada detalhe do seu rosto, do gosto da boca dele,
a sensação de ter suas mãos em meu corpo, da barba roçando entre as minhas
pernas. Acabo levantando assustada, quando escuto a campainha tocar. Visto
um roupão e saio correndo pelo apartamento, quase me estabacando no chão.
— Viada, quase que você me mata! Senti minha alma sair do corpo e
voltar.
— O que você estava aprontando Yza Reed? Estava brincado de DJ?
— Lila fala rindo.
Ela entra e se joga no sofá.
— Bicha seja "menas" viada! Se eu não consigo chegar perto de outra
piroca, você acha mesmo que eu conseguiria tocar uma siririca? Esse homem
me estragou porra! — Falo, me jogando no outro sofá.
— Ai que conversa saudável! — Hanna diz, entrando no meu
apartamento.
— Chegou a santa, cheia de teia de aranha! — Falo gargalhando.
— Yza Reed, me respeita! — Hanna diz rindo.
— Você bebeu princesinha? — Lila pergunta.
— Porra, sim! Depois da semana de merda, eu precisava relaxar. Fiz
uma batida de Skol bits, e tomei uma taça. Se sirvam meninas, está na
geladeira.
— Queria ver a cara dos meninos Reed, quando souberem que você
tem a bebida do capeta em casa. — Lila diz indo em direção a cozinha.
— Meu amor, ninguém manda em mim! Se você olhar na prateleira
de baixo da geladeira, vai encontrar uma garrafa de Jurupinga e uma de
absinto!
Eu não devo nada pra ninguém, bebo mesmo, bebo com o meu
dinheiro, trabalho é pra isso Brasil!
— Você comeu alguma coisa hoje, Yza? — Hanna pergunta séria.
— Não. — Fala fazendo bico. — Comi um sanduíche de peito de
frango na hora do almoço Hanna. Hoje o dia foi foda!
— Vou pedir uma pizza.
Ficamos conversando, bebendo e comendo até dar a hora do crime.
Começamos a nos arrumar era umas dez e meia da noite, todas já estavam
meio altas até mesmo a Hanna que não é de beber. Vai ver é todo o cerco que
meu irmão vem fazendo nela, tadinha! Nem vai saber o que a atingiu.
Quando estamos todas prontas, sirvo uma dose de Jurupinga para cada
uma.
— A noite maravilhosa que nos aguarda! — Faço um brinde.
— Vamos brindar a isso! — Lila diz virando a bebida.
— A noite! — Hanna imita a Lila.
— Hora do crime, onze e quarenta e cinco da noite! Sextou, porra! —
Grito muito louca.
Pedimos um Uber, e em meia hora estamos chegando na balada.
Entramos ao som de Anitta, entro no clima e saio rebolando porta adentro.
Vem na maldade, com vontade
Chega encosta em mim
Hoje eu quero e você sabe
Que eu gosto assim.
Na hora da paradinha, paro e rebolo até o chão.
Estamos um arraso, Hanna é a mais comportada de nós três. Ela veste
um shorts jeans preto cintura alta, um top todo trançado nas costas e um salto
lindo nos pés. Lila, gostosa da minha vidinha, está com um vestido salmão
colado no corpo, mostrando suas curvas maravilhosa e um salto foda-me de
quatro. E eu? Eu meu amor, estou vestida pra causar nessa merda! Meu
vestido é todo furadinho e transparente, ele vem com um shorts curto tipo
cueca boxe, e a parte de cima é grudada no corpo, e tem um decote até o meio
da minha barriga.
Ele é vinho, e os meus salto preto verniz. Hoje eu acordei na intenção
de destruir! Isso é, se esse maldito homem sair da minha cabeça!
Vamos direto para o bar, abastecer o tanque de álcool. Depois nos
jogamos na pista. Hanna é a mais contida, mas está bem soltinha. Já eu e a
Lila, rebolamos até o chão.
Fazia tempo que eu não me divertia tanto! Vários homens chegam na
gente, mas dispensamos todos, mas sempre tem uns que são insistentes. Dois
colegas meus do trabalho chegam, e um se encanta pela Lila, ela dança de
frente para ele enquanto suga com o seu canudo a bebida do copo dele.
Lila é louca!
Tem uma hora que começa a tocar umas músicas nada a ver, e
aproveitamos e vamos ao banheiro. Uma fila do inferno, mas todas
conseguem se refrescar. Voltamos para encontrar os meninos no bar, e a Lila
acaba esbarrando em um conhecido meu.
— Ei! Não olha por onde anda não? — Otávio diz sério.
— Desculpa princeso, esqueceram de colocar a faixa real dizendo
"proibido encostar, vossa alteza no recinto". Não quer que encostem em você,
vai para área VIP meu bem! — Lila desbanca a marra do Otavio Valverde.
Os amigos dele começam a vaiar e Otávio fica todo sem graça, mas
acaba rindo também. Os meninos que estavam com a gente, acabam fazendo
amizade com os amigos do Otávio e ficamos de boa curtindo a noite.
Lila pede uma rodada de tequila, e eu vejo que amanhã estarei fodida
na ressaca. Bebemos, e vira uma bagunça só por que começa uma disputa
com os meninos e tenho certeza que a minha noite vai fechar com chave de
ouro.
Pura diversão!
Otávio se aproxima da Lila, e cochicha alguma coisa em seu ouvido.
Lila espera ele sair de canto, e me olha com cara de safada e minutos depois
sai atrás.
Lila e Otávio? Não creio!
As únicas mulheres da roda, são a Hanna e eu, e somos tratadas como
divas pelos meninos. De repente sinto minha pele se arrepiar, como no dia da
festa, olho em volta pensando que irei encontrar meu boy magia. Mas vejo
vários rostos menos o dele!
Um bom tempo depois, Lila volta sorrindo e se acomoda do meu lado.
Logo depois Otávio também chega e fica ao lado dos amigos.
— Bicha! A senhora é lacradora hein!
— Viada, o homem é um espetáculo! Que pegada da porra, estou até
agora de pernas bambas. — Ela fala rindo.
— Ele é um gato mesmo, e essa covinha? Mas ele tem uma cara de
cafajeste! — Hanna diz rindo.
— Hanna meu bem, quem gosta de mocinho é leitora de romance! Eu
gosto é dos vilões, do lobo mau. Essa carinha dele de cafajeste ficaria linda
no meio das minhas pernas, se é que você me entende! — Lila diz, e gargalha
com a cara de espanto que a Hanna faz.
— Hanna, Hanna, os meninos maus são os que mais nos dão historias
pra contar.
— Vocês são duas perdidas! — Ela diz rindo.
De repente uma morena com cara de nojenta se aproxima dos
meninos, e eles fazem uma festa. Ela cumprimentar todos com beijinho no
rosto.
— Eita que isso é mulher de verdade! — Otávio solta a pérola.
A menina ri e o beija na boca.
E o cara de pau retribui o beijo! Que filho da puta, putanheiro do
caralho!
Olho para Lila, e ela está branca.
— Você quer ir embora gostosa? — Pergunto.
— Por causa desse babaca? Nunca na vida! Ei moço! Serve quatro
doses de tequila, por favor.
E o garçom serve, Hanna dispensa a bebida, e eu e a Lila viramos
duas doses cada uma. Começa a tocar músicas antigas e a Lila dá um show
dançando sozinha. De repente aparece um moreno, tipo dois metros de altura
e tira a Lila pra dançar. E ela vai toda se querendo pra cima do moreno, eu
olho de rabo de olho em direção do Otávio e vejo ele com os olhos pregados
no casal dançando.
A música que está tocando é Sean Paul e Sacha, Black Music. E eles
dançam como se fosse um só corpo, eles estão na mesma sintonia, parecem
dois corpos se amando. É um verdadeiro espetáculo, como se eles estivessem
transando, sei lá.
— Puta que pariu! Isso é sexy para caralho. Imagina essa morena
rebolando assim entre quatro paredes!? — Um dos meninos fala.
E ele tem toda razão, a dança dos dois e sexy pra cacete! Eles pararam
a balada, todos param para olhar os dois dançando.
— Ele está bem se aproveitando dela, isso sim! Se ninguém vai fazer
nada, faço eu! — Otávio diz, e começa a ir em direção a Lila.
— Você vai ficar onde você estava seu babaca! Vai lá com aquele fim
de feira, e deixa a minha amiga em paz! — Eu falo com raiva.
— Fim de feira? Do que você está falando... Oh porra! Não acredito
nisso.
— Você é um Otário! Deixa a minha amiga em paz. — De repente
escutamos gritos e quando olho para trás os dois estão num super beijo da
porra.
Eu olho para cara do Tavinho e vejo ele olhando com ódio para os
dois.
— Perdeu trouxa! A fila andou...
Volto para o lado da Hanna e ela está rindo muito da cara do Otávio.
— Ele se fodeu! — Hanna diz sem fôlego de tanto rir.
— Parou a cachaça pra você, Hanna banana! — Falo rindo.
Voltamos a dançar e minutos depois, Lila chega ao nosso lado.
— Bicha, sei que já falei isso. Mas tu é destruidora Mona!
— O beijo desse homem! Ele me deu o número dele, e pegou o meu!
— Lila, me ensina a dançar assim? — Hanna pede.
— Viada, essa dança lacrou! Onde você aprendeu?
— Eu fazia dança quando era mais nova. Ajudava a manter o peso
que eu perdia. Mas eu ensino sim, é muito gostos. Vocês já ouviram falar de
Kizomba?
— Não. O que é isso?
— É um estilo de dança. Amanhã eu mostro para vocês e se gostarem,
tem um Studio de dança perto do shopping, que dá aulas de Kizomba. Eu vou
lá segunda feira.
— Eu também vou!
— Ei, podemos conversar? — Otávio pergunta, segurando o braço da
Lila.
— Me desculpe, princeso, mas eu não sou mulher de verdade. Melhor
você ir com a sua amiguinha bom prato.
— Deixa eu me explicar! Não é nada dis...
— Está perdendo seu tempo, querido. Se você não se apressar, vai
perder o lanchinho da madrugada. — Lila diz e sai andando em direção ao
banheiro.
— Não foi isso o que eu quis dizer! Ela não vai deixar eu me explicar
né?
— Com toda certeza não! — Falo rindo. — Acho que já deu por hoje
né? Vamos atrás da Lila e ir para casa.
A noite já deu tudo o que tinha que dar. Me divertir horrores, mal
sinto as minhas pernas. Sinto minha pele se arrepiar novamente, olho em
volta, mas nada de encontrar o meu boy tatuado!
Ódio de mim, porra!
Encontramos com a Lila e vamos embora. Pegamos um táxi em frente
a choperia, e vamos todas pro meu apartamento.
Tomo um banho e caio morta na cama. Mas antes de adormecer,
ainda penso a sensação que eu senti quando estava na balada.
Não é coisa da minha cabeça! Tenho certeza que é a mesma sensação,
que eu tive na festa. Quando Gael me olhava.
Onde que deve estar você Gael?
E é pensando nele que adormeço...
Como todos os dias desde que ficamos juntos.
Ela é tão parecida com "ela."
Mesma alegria, mesma jovialidade, mesma ânsia de viver. Tão
mulher, mas ao mesmo tempo tão menina.
Eu a quero para mim.
Eu a quebrarei de inúmeras maneiras diferentes. Eu arrancarei seu
brilho, destruirei sua felicidade, não irei parar até que eu veja seu último
suspiro abandonar seu corpo delgado.
Ela é tão parecida com "ela."
Eu a vigio a um longo tempo... E tudo o que quero é senti-la grudada
a mim, para só depois arrancar seu último suspiro.
Ela nem imagina, mas tenho toda a sua vida traçada. Ela se tornou
uma obsessão, uma coceira em minha pele. Nada me dá mais prazer do que
ver o medo no olhar das minha vítimas, de ver a alegria se esvair do seu
olhar. De ver o brilho dos seus olhos, perder a intensidade até se tornarem
opacos, sem vida.
Eu a sigo desde seus dezenove anos, ela é independente, não se
submete a ninguém, sempre com seu nariz empinado, como se fosse superior
a todos. Ela despertou a sede de sangue em mim novamente, e ela será a
única a aplacar esse vício
Eu a odeio...
Eu a quero pra mim...
É só então irei destruí-la.
Ela sorri para mim, me toca, bebe do meu copo, e mal sabe todas as
coisas feias que pretendo fazer com ela.
Quero sentir seu corpo junto ao meu, quero saber o que é estar
dentro dela, saber como são seus gemidos de prazer, sentir sua doce boceta
me agarrar fortemente, senti-la pulsar ao redor do meu pau.
Toda vez que estamos juntos, me sinto o homem mais poderoso,
invencível mesmo sem tocá-la intimamente. Mas ela não me enxerga, não me
nota, e isso me deixa cada vez mais louco. Já me imaginei várias vezes
transando com ela, e na hora do seu clímax eu aperto seu pescoço
fortemente, vendo ela se debater em busca de ar. Vejo o medo chegar aos
seus olhos, sabendo que sua morte está à espreita só esperando seu último
suspiro. Eu sei que ela sai com vários tipo de homem, e isso me causa um
ódio sem tamanho. Imaginar outro homem tocando o que me pertence, me
deixa insano, com sede de sangue. E é então que vou a caça, da minha
próxima vítima.
Ela é uma vadia suja, igual "ela" era.
Suas atitudes são tão parecidas, como assim é a sua aparência. Elas
são iguais, vadias, sujas, que só pensam no prazer carnal.
Elas são culpadas por eu ser assim! Eu as odeio tanto...
Gosto de ter o poder em minhas mãos, quando estou com a minha
caça me sinto um deus! No meu quarto eu sou o Deus, eu decido a hora das
suas mortes e como será sua morte. Eu amo a adrenalina que me domina na
hora de dar o meu veredito. Eu gosto das que lutam para sobreviver, que
imploram por suas vidas. Gosto das ariscas, daquelas que me desafiam, que
gritam, elas me chamam de louco, de psicopata.
Como se isso fosse uma ofensa para mim! Mal sabem elas que isso é
o mais puro elogio. Eu fico duro quando elas lutam, a luta em si é o que mais
me excita na realidade.
Me excita ver como eu irei quebrá-las, de como elas passarão de
raivosas para sem vida. Eu as torturo ao ponto delas clamarem pela morte. E
é isso que irei fazer com ela, eu a quebrarei!
Yza Reed é o meu sonho de morte! Mas antes eu irei torturá-la até ela
gritar por clemência! Eu posso ouvir seus gritos na minha imaginação, posso
imaginá-la lutando pela sua vida. Eu venho mandando dicas ao longo desses
anos todos, mas ela leva na brincadeira. Ela acha que alguém está
brincando com ela, mas pensando por esse lado é mais como uma
brincadeira.
Gato e o rato, onde eu a persigo e ela foge, mas uma hora o gato
consegue capturar a sua presa e esse é o momento de êxtase para o gato,
onde ele brinca com sua presa, a torturando, a fazendo de brinquedo e é isso
que a Yza Reed será. Meu brinquedo!
Yza Reed...
Seu fim será lindo...
Tenho sede de sangue, e só será saciado com o sangue dela. Ela não
imagina o perigo que a rodeia, ela tanto não sabe que já me convidou para a
sua casa. Eu estive no seu quarto, me deliciando em sua cama onde deixei
minha marca gozando em seus lençóis, em suas calcinhas. E ela nem
imagina isso!
Até nisso ela é igual a "outra dela!" Inocente, crédula, vê bondade e
amizade em tudo.
Eu as odeio do fundo da alma que não possuo mais. Por causa delas
que todas pagam. Mas não é qualquer uma, não saio matando
aleatoriamente. Não meus caros!
A mulher escolhida tem que ter a mesma aparência, morena, cabelos
compridos, ar de inocência. Geralmente escolho as que se atiram em mim, eu
as levo para o meu canto e faço com elas o que eu quero. Eu me divirto com
sua corpo, me delicio no que as vagabundas querem me dar e só então eu
dou a sentença final. E é aonde começa a diversão verdadeira.
Volto a minha atenção para o meu objeto de desejo. Ela fala, fala,
fala, e eu só consigo imaginar essa voz me implorando por sua vida. Yza
Reed é luz, e eu serei o único a apagá-la. Ela olha para mim e
sorri. Ninguém nunca desconfiaria de mim, para eles sou um nobre rapaz,
mas eles não imaginam a podridão que habita em mim.
Eu serei o único a arrancar essa felicidade!
Você será minha Yza Reed, e eu te destruirei como fiz com "elas."

Segunda-feira é o meu pior dia da semana!


Odeio as segundas, cacete!
Já chego para uma reunião, onde o representante da marca é um
escroto. Ele faz questão de me desmoralizar a cada frase que eu pronuncio,
não me deixando concluir nenhuma das minhas ideias.
E isso está me irritando, por enquanto eu ainda estou sendo educada,
mas não sei até onde eu aguentarei suas demandas machistas. Estou a um
passo de surtar e te garanto que não será bonito. Quando ele me interrompe
mais uma vez, jogo a merda no ventilador e mostro o meu lado mau.
— Isso só poderia ter vindo de uma mulher! —Ele fala debochado.
Eu respiro fundo milhares de vezes, olho para a minha equipe de
criação e todos me olham assustados. Quando volto o meu olhar para o bode
velho, sinto a calma em mim se partir em vários pedaços.
— Obrigado por terem vindo, mas vocês estão dispensados. E me
desculpem fazer vocês perderem seu precioso tempo, mas garanto que vocês
serão compensados no final do mês. — Falo para a minha equipe.
— O que? Já acabou? — O escroto pergunta assustado.
Antes mesmo da minha equipe sair da sala, começo a descarregar
minha indignação em cima desse ser repugnante. E todos param para assistir
ao show.
— Meu departamento não irá trabalhar para você! O senhor é um
escroto, filho da puta, machista, e que não sabe ficar calado. O senhor adora
desmoralizar os outros, humilhá-los, e eu não trabalho e nem deixarei a
minha equipe trabalhar para o senhor.
— Sua garota insolente! Quem você pensa que é? Eu falarei com o
seus patrões, você será mandada embora na hora. Eu já sabia que as mulheres
são umas fracas, seu lugar é em casa lavando e passando as roupas do seu
marido. — Ele grita ao quatros ventos.
Minha equipe engolem a risada.
Esse idiota nem sabe com quem está falando! No meu departamento
mando eu porra! Eu lutei para estar onde estou, eu estudei e trabalhei para
isso. Mesmo tendo dinheiro, nada me foi entregue de mão beijada, nem para
mim e nem para os meus irmãos. Nós mostramos do que somos capazes,
batalhamos para chegar onde estamos.
— Yza... Deixa pra lá! — André fala, tentando me acalmar.
— Agora é questão de honra André! Eu não trabalho para esse
caminhão de esterco, nem que Jesus descesse na terra e ordenasse!
— Sua fedelha! Acho que o que te falta é uma boas porradas!
— E quem me daria essas porradas? O senhor? Então tenta a sorte seu
velho nojento! — Grito, ficando cara a cara com o bode velho.
Quando ele levanta a mão, eu já estava me preparando para quebrá-la.
Mas meus irmãos entram correndo na sala, e me olham assustados. Alguém
deve ter ligado para eles.
— O que está acontecendo aqui? — Dylan pergunta chateado, se
colocando entre eu e o bode velho.
— Senhor Reed, o senhor deveria analisar melhor quem coloca para
trabalhar nessa empresa. Essa garota insolente me desacatou na frente dos
outros funcionários. Não aceito que ela agencie minha marca, prefiro que
você coloque outra pessoa. Estou disposto a pagar o dobro, mas quero ela
fora!
— Você pega o seu dinheiro e soque no seu rabo, seu velho idiota.
Minha empresa não trabalha para você, nem por todo o dinheiro do mundo.
Aqui nós tratamos a todos com educação e respeito, e nós exigimos os
mesmo. O senhor foi mal educado, maltratou as mulheres da minha equipe,
me confrontou a cada frase que eu falava, me humilhou na frente da minha
equipe. — Falo tremendo de ódio.
— Quem você pensa que é? E você senhor Reed, não falará nada? —
O bode velho pergunta indignado.
— Eu sou Yza Reed, caro bode velho! E eu quero que o senhor pegue
o seu dinheiro e sua marca e enfie no rabo. E se dê por satisfeito, pois eu
poderia te processar, afinal tenho mais de dez testemunhas ao meu favor.
— Yza Reed? Você é uma Reed?
— Isso mesmo, Yza Reed dona da porra dessa empresa. Eu mando no
meu departamento e eu tenho o poder de decidir com quem eu trabalho, e
nunca irei trabalhar para o senhor. E mais, farei questão de deixar as outras
agências saberem disso. Agora por gentileza, saia da minha frente.
Ele olha para Dylan e para Donatello, e quando vê que eles não iriam
falar nada, sai batendo os pés e xingando Deus e o mundo.
— Sério Yza? Confusão em plena segunda-feira? — Donatello
pergunta rindo.
— Ana, por que nos ligou desesperada? A Yza já tinha tudo no
controle. — Dylan pergunta para a minha secretária.
— Controle? Controle? Desculpa Dylan, tudo o que a Yza não tem é
controle. Liguei pois ela estava ao ponto de bater no velho! — Ela diz e todos
caem na risada.
— Vamos furacão, vamos tomar um café e um enorme pedaço de
bolo na delicatessen lá embaixo. — Donatello convida.
— Me deixa pegar a minha bolsa! Eu quero dois pedaços de bolo, e
uma torta de frutas vermelhas. Eu avisei que esse velho era um verme, mas
vocês falaram que eu era implicante!
Me desculpo com todos da equipe, e vou até a minha sala. Assim que
entro na minha, vejo uma caixa retangular preta na minha mesa. Um laço
vermelho sangue a envolve delicadamente, e um envelope branco chama a
atenção pelo contraste negro e vermelho.
— Uau! Alguém está de casinho novo, me diz furacão quem é o novo
Don Juan? — Donatello pergunta curioso.
Eu agarro o envelope, antes do meu irmão xereta pegar. Já tem algum
tempo que venho recebendo flores, de início achei que você alguém
interessado em mim. Mas os poemas, começaram a chamar a minha atenção,
acho que tem alguém fazendo um brincadeirinha sombria comigo. Donatello
abre a caixa e olha Espantado para o conteúdo, na caixa tem várias rosas
brancas sujas de tinta preta e vermelha e algumas pétalas estão soltas.
— Quem mandou isso, Yza? —Donatello pergunta sério.
— Sei lá Don! — Falo abrindo o envelope para ler o poema da vez.
Está ânsia que insanamente chega-me
ao corpo e a alma, faz querer que eu mate...
quero destruir a maior felicidade realizada
assim como destruíram a minha...
quero afogar teu jardim de flores frescas
assim como afogaram o meu...
quero deitar-te no teu corpo morto
assim, como quase deitaram ao meu...
quero deleitar-me em teu sangue...
assim como tu se deleitou ao meu...
enfim, estou doente e não há como negar...
estou infectado e contaminado pela...
síndrome do mal...

Síndrome do Mal
Autor: Dark Angel

Sinto calafrios se apossarem do meu corpo.


Que merda é essa!?
— Me deixa ler essa porra Yza! — Entrego o bilhete para o meu
irmão.
Minhas mãos tremem, demonstrando como essa mensagem mexeu
comigo.
— Isso beira ao doentio Yza! Quem está te mandando essa merda? A
quanto tempo você vem recebendo isso?
— As flores já tem uns nove meses eu acho, mas esse tipo de poema
foi a primeira vez. —Falo mexendo no celular, em busca do nome do autor
do poema e encontro o site.
O poema é de internet, então quem está me mandando isso não foi
quem escreveu!
— Quero que me avise imediatamente quando você receber esses
tipos de bilhetes. É sério Yza, isso pode ser algum louco sei lá!
— Deixa de ser paranoico Don! Deve ser algum dos meninos fazendo
graça. Vamos, você me deve dois pedaços de bolo. — Falo pegando minha
bolsa e começando a sair da sala.
Donatello me segura pelo braço e me olha sério, posso até dizer que
ele está com raiva.
— Ou você me avisa, ou irei falar para o papai e o Dylan. Você
escolhe irmãzinha. Então o que vai ser?
— Ai que saco! Eu conto Donatello, satisfeito agora? Eu não sou
criança Don, sei me cuidar.
— Eu sei princesa, mas você há de convir que esse poema é macabro.
O mundo está cheio de gente louca Yza, e você confia demais nas pessoas.
— Ok, agora vamos! Tenho que comprar maquiagem para a Luna, ou
ela vai acabar com as minhas!
Encontramos com Dylan no elevador, eles entram em uma conversa
sobre um dos clientes. E eu fico na minha, pensando no poema estranho que
recebi.
No começo eu achei fofo, até mesmo engraçado. Mas nunca tinha
recebido um poema como o de hoje! Faço uma nota mental, para falar com a
Ana e saber quem deixou a caixa. Eu sei que Donatello vai me vigiar a partir
de hoje, ele é foda! Mas não posso me deixar abater, ou eu viverei com medo.
E eu não sou assim, se eu descobrir quem está me mandando isso...
— Eu princesa, no que você está pensando? — Dylan pergunta me
abraçando.
— No bolo que vou comer, e na maquiagem que vou comprar para a
fadinha. —Falo, rindo da careta que ele faz.
— Daqui apouco essa menina monta uma loja de maquiagem! A
Katrisca vai me matar princesa, compra outra coisa, por favor!
— Eu sou tia, posso comprar o que eu quiser! E se ela acha ruim,
compro uma mala de maquiagens que eu vi na internet.
Caio na risada com a cara que meu irmão mais velho faz.
É tão bom vê-lo feliz!
Um dia, quem sabe, terei a mesma coisa que ele. Só de pensar nisso
meu pensamento vaga para Gael...
Onde será que ele está? Já procurei em tudo o que é rede social e
nada. Tentei tantos sobrenomes, até alemão! E nada dele. Acho melhor
desistir dessa minha fixação por ele. Já está ficando ridícula essa minha
busca. Não durmo direito, toda vez que adormeço sonho com ele, com sua
voz, seu toque, sua voz grossa em meu ouvido.
Esse homem conseguiu o que ninguém conseguiu antes. Ele mexeu
comigo de uma tal forma, que só de imaginá-lo sinto meu corpo reagir.
É isso!
Estou desistindo do meu boy magia. É como procurar uma agulha no
palheiro.
Sinto uma dor esquisita dentro de mim, só com a hipótese de desistir
dele. Mas não posso viver a espera de encontrá-lo, preciso seguir com a
minha vida.
— Eu princesa, quando é a reunião com o pessoal da marca de roupas
esportivas? — Dylan pergunta.
— Quinta-feira, e Don você está intimado a ir comigo.
— Eu irei furacão, só me avise um dia antes. Me manda uma
mensagem ok?
— Sim senhor!
É isso, me jogarei no trabalho e esquecerei a merda do poema, e o
único homem que conseguiu badalar as minhas estruturas.
Cheguei da escola um tempão, mas continuo estudando. Minha mãe
diz que tenho que estudar para ser um homem bom, honesto e trabalhador.
Eu não tenho amigos para brincar, pois o meu pai não deixa.
Ouço o portão bater, e pensei ser a minha mãe que tinha chegado do
mercadinho do seu João. Antes dela sair, me fez uma caneca de leite quente
com mel e um prato de biscoito de nata.
— Você tem que comer, para crescer um homem saudável e cheio de
saúde ursinho.
— Serei um ursão mamãe! Grande, forte e valente. Cuidarei da
senhora e não deixarei ninguém te machucar novamente.
Ela beija a minha testa e vai no mercadinho.
A porta bate na parede com força, e meu pai entra xingando e
gritando pela minha mãe. Eu me encolho na cadeira, tenho muito medo dele.
Ele está com os olhos vermelhos, suado, e sempre que ele chega assim ele
bate na minha mãe.
— É isso que você faz o dia todo? Comer e rabiscar? Você é um
desperdício do meu dinheiro seu desgraçado! Onde está a vadia da sua mãe?
— Ele pergunta nervoso.
Eu abaixo a minha cabeça e não respondo. Eu tenho raiva de mim,
por ter tanto medo dele! Raiva por não poder ajudar a minha mãe, por não
conseguir defendê-la.
— Eu estou falando com você, seu merdinha inútil! — Ele grita e joga
o prato com os biscoitos longe, espalhando tudo pela sala. Não contente, ele
joga a caneca de leite quente no meu peito.
Eu grito de dor, e ele fica ainda mais nervoso com os meus gritos. Ele
me puxa pelos cabelos e me sacode de um lado para o outro, me jogando no
chão e quando vai me chutar, sinto minha mãe jogando seu corpo em cima
do meu. Ela sempre faz isso, sempre me protege e aguenta o peso das mãos
dele.
— Deixa o menino coronel, ele não fez nada de errado. — Minha mãe
diz chorando.
Ele arranca a minha mãe de cima de mim, puxando ela pelos cabelos.
— E você estava onde sua vagabunda!? Estava se esfregando em
algum macho? — Meu pai fala babando de ódio.
— Eu fui no mercadinho coronel, fui buscar as coisas pra ajeitar a
sua janta.
— Mentirosa! Messalina, estava roçando em algum macho. Mas
agora eu vou te dar um corretivo! — Ele grita e sai arrastando minha mãe
pelos cabelos até seu quarto.
— Vai pro seu quarto Gael! Agora! — Minha mãe grita.
Mas antes que eu possa chegar ao meu quarto, escuto os gritos dela
vindo do quarto do meu pai.
— Para Jardel! Você está me machucando. Jardel para!
Eu acordo todo suado, meu corpo tremendo, respiração ofegante.
Sem conseguir evitar, corro para o banheiro e vômito o que não tenho
no estômago.
Eu sempre tive pesadelos assim, mas fazia muitos anos que eles não
aconteciam. Mas nessa última semana, praticamente todos os dias tenho
sonhado com ele.
Não existe no mundo, um homem que eu odeie mais que o meu pai.
Foram anos e anos de sofrimentos, de torturas, de maus tratos. Carrego
cicatrizes no corpo, hoje cobertas pelas tatuagens que fiz. Mas que ainda
existem, mesmo estando cobertas. Mas as piores foram deixadas na alma, no
meu subconsciente.
Olho para o relógio, duas e meia da manhã. Com certeza não
conseguirei dormir novamente! Levanto da cama, coloco uma calça e um
casaco de moletom, calço meus tênis e vou correr. Quem sabe assim consigo
esquecer esse pesadelo e fique cansado o bastante para conseguir dormir um
pouco.
Pego meu celular, o fone de ouvido e saio porta a fora. Conecto em
um Metálica, e corro como se minha vida dependesse disso. Mesmo com a
música estourando meus tímpanos, não consigo calar os gritos vindos da
minha mãe no pesadelo que acabo de ter. Mesmo que tenha se passado anos
da morte desse desgraçado, ele ainda consegue me perturbar, consegue abalar
o homem no qual eu me transformei.
Corro por horas, mal consigo sentir minhas pernas, a respiração
queima meu peito, estou banhado de suor. Volto caminhando para casa, mas
antes paro na casa da minha mãe. Essa necessidade de verificar ela sempre
estará em mim, muitos acham que o cuidado que eu tenho com ela ultrapassa
o ridículo, mas ninguém sabe por todas as coisas que ela passou na vida. Às
vezes me sinto culpado, pois se não fosse por mim ela não teria sofrido tudo
o que sofreu.
Entro na casa dela sem fazer barulho, mas sou pego em fragrante por
ela, que já está acordada e com uma xícara de leite quente com mel para mim.
— Outro pesadelo não é? — Ela pergunta, sem esperar que eu
responda. — Você tem que esquecer isso filho. Esquece esse homem, ele já
não pode mais nos machucar.
— Não é por escolha minha mamãe. Ele sempre encontra um jeito de
me infernizar. — Sento no balcão e agarro a xícara de leite.
— Isso sempre acontece quando você está ansioso ursinho. O que está
se passando nessa cabecinha? — Ela pergunta, pegando uma xícara também.
— Não sei mãe. Talvez algum processo, algum caso filho da puta.
Tantas coisas podem ter acionado isso.
— Filho, será que não é o caso de você tirar umas férias? Viajar,
namorar, cuidar um pouco de você? — Ela pergunta me olhando preocupada.
— Pensarei nisso dona Marta. Prometo.
— Você sempre fala isso! Eu estou ficando velha Gael, quero poder
cuidar dos meus netos!
— Sabia que essa ladainha estava vindo. — Falo rindo.
Ela é sempre assim, me questiona toda preocupada, cheia de cuidados.
Mas depois solta a cobrança de sempre. "NETOS".
— Ladainha não, você me respeite garoto!
— Mãe, como a senhora quer que eu te de netos se eu nem namorada
tenho?
— Não tem namorada por que não quer! Um homem desses, lindo,
maravilhoso, trabalhador, cheio de tatuagens, com cara de mal, as mulheres
devem cair em cima! Você que fica se fazendo de donzelo, quero netos Gael
D'Ávila! Vou anunciar no jornal da cidade, que eu estou procurando uma
nora e ainda colocarei uma foto sua!
Não resisto e gargalho alto. Minha mãe é uma figura, mas ela não
sabe que eu já tenho a futura mãe dos meus filhos. Só tenho que descobrir
onde ela se escondeu.
Olho para o relógio do micro-ondas e vejo que já são cinco horas da
manhã. Acho que vou pra casa, tentar dormir um pouco.
Me despeço da minha mãe, e saio da sua casa sobre fortes ameaças.
— Estou falando sério Gael, irei colocar um anúncio no jornal da
cidade.
Chego em casa, tomo um banho, visto uma cueca e me jogo na cama.
Meu corpo inteiro protesta por causa do exercício físico, o cansaço só bate
quando já está amanhecendo.
Meu relógio desperta as nove e meia da manhã. E hoje só tenho
audiência depois do almoço.
Levanto, tomo um café reforçado e só então vou me arrumar para o
trabalho. Quando estou saindo de casa, as palavras da minha mãe voltam na
minha cabeça.
Eu acho que estou mesmo precisando de férias. Mas primeiro tenho
que resolver tudo no fórum, para sair de férias tranquilo.
Enquanto isso, bora enfrentar mais uma quarta-feira!

Sabe quando a semana começa uma merda e vai virando uma


diarreia?
Pois bem, essa foi a minha semana!
Começou com a minha segunda sendo uma bosta, tendo aquela
reunião com o bode velho. Teve a porra das flores e o cartão com um poema
sinistro, Donatello fungando no meu pescoço o restante dos dias.
Um projeto que não estamos conseguindo desenvolver, quando
bolamos uma coisa o representante quer outra. Quando conseguimos encaixar
o que ele quer, o projeto não decola! Juro por Deus, que estou a ponto de
sentar no chão e chorar por uma garrafa de tequila!
E para acabar com o meu psicológico, estou sonhando com aquele
armário tatuado dia sim e o outro também. Acordo excitada todos os dias,
querendo sentir aquele homem me pegando novamente.
Eu preciso transar nessa merda! Mas parece que aquele infame
tatuado me colocou a porra de um cinto de castidade em mim via
pensamento. Sei lá, jogou uma mandinga das boas, por que se eu penso em
transar com outra pessoas, minha libido vai a zero. Agora é só lembrar da
noite que tive com ele... Meu amor! Minha calcinha molha tanto, que se eu
torcer enche um balde de vinte litros. Nem se eu assistir um x-vídeo maroto
eu consigo me excitar!
Preciso conversar, desabafar! Hanna está treinando para a São
Silvestre, correndo do meu irmão Donatello. Don é um filho da puta
pegajoso, agora que se viu livre das garras da barata loira (Que eu irei coloca-
la no lugar dela!) vive correndo atrás da minha amiga!
Já sei, vou ligar pra Lila! Pego meu telefone, encontro o número dela
e faço a ligação.
— Manda princesinha! — Ela atende animada.
— Gostosa! Me salva pelo amor de Deus... Vou morrer porra! Não,
não morrerei, mas com certeza vou matar alguém. — Falo desesperada e ela
gargalha alto.
— Você está aonde mocinha?
— No escritório, Lila! Pelo amor de Deus, vem me resgatar do tédio
gostosa. Donatello está sendo um idiota em cima da Hanna, parece um urubu
em cima da carniça.
— Meia hora estou ai! Já liga naquela loja de vinho importado, e diz
que estou chegando. Sua mãe me viciou naquele vinho!
— Eu te amo gostosa!
— Vamos ver se esse amor vai durar, quando você acordar de ressaca.
— Ela diz rindo e desliga.
Me debruço na minha mesa, quando minha secretária entra na sala.
— Yza...
— Eu morri Marina! Seja quem estiver perguntando por mim, diga
que eu morri e que o enterro será semana que vem em Noronha!
— Maluquinha! Só vim avisar que a reunião de amanhã mudou para
as quinze horas. Aconteceu um imprevisto e eles precisaram mudar o horário.
— Eu ouvi um amém? AMÉM IRMÃ! Juro Marina, estava ao ponto de
me jogar pela janela. Mas diga-me, eu preciso mesmo ir? Não posso mandar
o Ronaldo e o André, no meu lugar?
— Infelizmente não Yza. Eles pediram a sua presença, sinto muito. —
Marina diz sorrindo.
— Sente merda nenhuma! Você gosta de me ver desesperada, a ponto
de matar um. Sério agora, tenho mais alguma coisa para hoje? Diz que não
Marina, e prometo te dar aquele creme importado que você gosta!
— Quero o creme na minha mesa amanhã de manhã! Bom descanso
menina, vá para casa.
Eu levanto correndo e vou abraçá-la!
Marina é um amor, ela já tem quarenta e tantos anos, mãe de dois
meninos gêmeos. Precisava desesperadamente de um emprego, eu a conheci
quando ela estava procurando o local para fazer uma entrevista para trabalhar
na limpeza do shopping. Ela estava atrasada, pois um dos seus meninos teve
um imprevisto na escola, por isso chegou atrasada. Ela chorou pois estava
procurando emprego a muito tempo, então chamei ela para tomar um café
comigo. Marina me contou a história dela, o desgraçado do maridos
abandonou ela e os meninos e sumiu com uma mulher mais nova, deixando
ela no sufoco.
Na hora fiquei tocada com a história e pedi para olhar o currículo
dela. E pasmem Brasil, a mulher sabia até falar alemão cacete! Perguntei por
que tendo um currículo tão bom, ela estava aceitando um cargo tão abaixo
das suas qualificações. E ela disse que os filhos precisavam comer.
Ai vocês já sabem né? Contratei ela para ser minha assistente. Adeus
ligação com os gringos! Brincadeira, ela é muito inteligente e eu não daria
conta sem ela me ajudando e me acalmando. Me despeço dela, pego minha
bolsa e vou em direção ao empório do vinho. Mas antes passo pela sala do
Donatello e aviso que a reunião mudou para a tarde, e depois vou embora
tomar um vinho e desestressar a mente.
Me acomodo na mesinha e peço uma taça de vinho tinto. Lila chega
dez minutos depois, e já pede logo uma garrafa.
— Você não imagina o que eu tive o desprazer de descobrir!? — Ela
fala indignada.
— O que?
— Que aquele homem lindo, cavalheiro, galante, é pai daquele
encosto do cara da boate!
— O seu Roberto? Lógico! Ele é pai do Otávio Valverde, você não
sabia?
— Lógico que não! Como eu ia adivinhar que aquele coroa lindo, era
pai do escroto?
— Ele é um coroa lindo mesmo! — Falo rindo.
Jogamos conversa fora, bebemos duas garrafas de vinho e Donatello
acaba nos encontrando rindo na escada rolante. E ele acaba nos levando
embora, e Lila vai para o meu apartamento, Don nos deixa na porta e vai para
o apartamento da Hanna.
Entramos e Lila pede uma pizza e eu vou tomar um banho.
Embaixo do chuveiro, fecho meus olhos e volto para a noite que
passei com Gael. Mais precisamente quando nós nos olhamos pela primeira
vez.
O calor que senti quando ele me olhou, a maneira que minha pele
arrepiou quando ele me tocou. O choque que eu senti, quando sua boca tocou
minha pele. A maneira como ele me segurou... Foi como se ele nunca
pudesse me largar. A forma que ele tomou meu corpo para si, possuindo cada
pedaço como se fosse a coisa certa a fazer.
Gael tocou meu corpo como se ele fosse propriedade dele, arrancando
de mim tudo o que queria e me dando tudo o que jamais pensei em querer,
em troca. Ele me levou a lugares nunca antes conhecido por mim, não que eu
não tenha alcançado o orgasmo antes. Mas com ele foi mais intenso, mais
poderoso, me abalou de uma maneira significativa.
Ele me abalou tanto, que não consigo pensar em mais ninguém.
Nenhum homem consegue chamar a minha atenção, consegue despertar o
meu desejo. Mas basta somente pensar nele e meu corpo se acende, clamando
por coisas que só ele será capaz de saciar.
Saio do banho mais tensa do que quando eu entrei, visto um roupa
confortável e vou para a sala.
— Preciso achar esse homem Lila!
— Nada ainda?
— Eu sei que fui idiota por ter corrido dele. Mas porra, parece que o
homem não existe Lila, não consigo encontrá-lo em nenhum lugar. Nenhuma
rede social!
— Esquece Yza, quando você deixar de procurar ele vai acabar
aparecendo. Quando é para ser, será!
Lila vai embora depois das dez horas da noite. Conversamos sobre
tudo, principalmente sobre Otávio e o que eu sabia sobre ele. Lila não vai
admitir, mas Otávio mexeu com ela e mexeu muito. Desligo tudo e vou para
o meu quarto. Deito na minha cama, e fico olhando para o teto por um longo
tempo. Penso em tudo o que venho fazendo da minha vida, sobre viver em
festas e baladas, namorar com um e com outro.
Não sou santa, mas também não estou morta! Não sou de passar
vontade, sou amante de um bom sexo quente, de liberar as endorfinas. Não
tem nada de errado em dar ao seu corpo o que ele quer. Afinal não é só os
homens que tem a carne fraca, nós mulheres também! Gosto de transar sem
compromisso, ainda mais quando era para infernizar meus irmãos! Donatello
e Dylan, foram uma pedra na minha adolescência. Afastando todos os garotos
interessados em mim, ameaçavam, implicavam, foi um saco. E eu também fiz
da vida deles um inferno, atrapalhei todas as transas que conseguia.
Sorrio ao lembrar disso, foi muito engraçado na época. Mais
engraçado ainda, foi fugir da vigilância deles para namorar. Dylan quase
ficou louco, Donatello nem tanto, mas Dylan... Ele quase enfartou tadinho.
Sinto o sono chegar, e sorrindo fecho os meus olhos.
Meu último pensamento?
Sempre ele... Sempre será ele... Me encontre Gael...
É enlouquecedor quando você não consegue obter respostas.
Contratei dois detetives, para encontrar a minha Sweet! E até agora
nada, é como se ela tivesse evaporado no ar. Ninguém, nem mesmo as
pessoas naquela festa sabiam dizer seu nome. É impossível que tudo tenha
sido obra da minha imaginação, ainda posso sentir seu gosto em minha boca,
posso sentir sua pele na minha. Estou parecendo um urso raivoso, rosnando
para todos os lados!
Se de bom humor eu já era conhecido como carrasco na corte, agora
então, nem quero saber do que estão me chamando. Eu fecho meus olhos e
vejo nitidamente seu rosto, seu sorriso de menina travessa. Posso escutar seus
gemidos em meu ouvido.
Estou enlouquecendo! Preciso dela ao meu lado, preciso sentir o se
cheiro, seu toque, seu gosto, quero e preciso ouvir sua voz! Eu nunca me
senti assim antes, nenhuma mulher mexeu tanto comigo como essa garota. É
como se tivesse uma mão espremendo meu coração. Como é possível sentir
falta de alguém, que você mal conhece?
Minha mãe me olha sorrindo, achando graça do meu desespero.
— Você parece um urso ferido meu filho. Você tem que ter calma,
quando menos esperar essa garota vai aparecer. Agora me diga, o que a torna
tão especial? — Pergunta minha mãe.
— Não sei explicar mãe. É como se ela fosse minha sabe? Assim que
eu bati os olhos nela eu soube disso e estou enlouquecendo sem saber onde
ela está, é como se a terra tivesse tragado ela. Ninguém sabe quem ela é!
— Temos aqui um caso de amor à primeira vista! Me conte como ela
é. — Minha mãe pede.
— É mais que isso mãe, não sei explicar direito. Eu nunca senti isso
por ninguém, tenho uma angustia tão grande dentro de mim, que só será
aplacada por ela. Ela é linda mãe! Um rosto de menina travessa, um corpo de
enlouquecer, e um gênio do cão. Ela deve ter uns vinte e poucos anos, uma
menina ainda, tão jovial, alegre, livre. Tão doce! Preciso encontrá-la de
qualquer maneira!
Não sei nominar o que senti quando a olhei pela primeira vez. É
inexplicável, totalmente fora do normal.
Eu sou muito experiente, já sai com várias mulheres e nunca... Nunca
me senti assim antes. É um sentimento de posse, como se ela fosse minha
está me enlouquecendo!
— Vou dormir mãe, amanhã tenho uma audiência logo pela manhã.
— Falo me levantando.
Eu a beijo e ela me leva até a porta.
— Dorme com Deus meu filho. E aguarde, que logo irá encontrar a
sua menina.
— Assim espero mãe, ou a senhora vai ter que me internar. — Falo
sorrindo.
Vou caminhando para minha casa, com o pensamento longe. Onde
será que essa menina se escondeu? Chego em casa e prepara uma bebida e
vou para o meu quarto. Tomo banho, termino meu whisky e me deito.
Adormeço rápido, só para sonhar com ela.
— "Ei! Porque você não me achou? Estou te esperando. — Ela diz
rindo.
— Como vou te achar, se nem ao menos sei seu nome todo?
— Aaaah Gael, você ao menos me procurou? — Ela diz fazendo
beicinho.
— Procurei como um louco Sweet.
— Tchau Gael... — Ela diz rindo.
— Não, não, não! Não vá Sweet!
— Tenho que ir... Tchau Gael..."
Acordo gritando por ela.
Preciso achar essa mulher ou enlouquecerei!
Aproveito que não vou conseguir dormir novamente e vou malhar,
gastar endorfinas, pegar peso. As nove da manhã, já estou no meu gabinete.
Minha secretaria passa os meu compromissos de hoje e um nome me chama
muito a atenção, pois nunca ouvi esse nome antes. Donatello Reed. Faço uma
pesquisa rápida e descubro que ele é da área empresarial, isso muito me
chama a atenção. Pois pelo que pude ver, ele é muito bom no que faz, então
porque ele fez questão de uma audiência comigo?
Minha manhã é um pouco tumultuada, mas por volta das onze e meia
tudo se acalma um pouco. Estou revisando alguns processos, quando um
furacão loiro entra com tudo na minha sala.
— Bom dia excelentíssimo! — A loira me cumprimenta.
— Bom dia promotora. A que devo a honra de vossa visita? —
Pergunto sorrindo.
Zia Silva, umas das melhores promotoras que essa comarca já viu.
Uma mulher maravilhosa, linda e uma das minhas melhores amigas. Tem
uma história de vida fodida e que graças a Deus, hoje ela conseguiu dar a
volta por cima. Ela foi dos primeiros casos que advoguei e venci!
— Vim só saber se o nosso almoço está de pé Gael. Hoje estou de
folga, só vim entregar uma pasta na promotoria. — Diz Zia séria.
— Alguma coisa séria?
— O mesmo de sempre! Juro para você Gael, se eu não fizesse a
diferença nesse mundo, eu largaria a área de direito a muito tempo. Mas não
sei fazer outra coisa, esse caso é mais um de abuso infantil e o pior com o
consentimento da mãe. Isso me fode de várias maneira e você sabe disso. —
Zia diz chateada.
— Depois traga para mim esse caso. Quero saber do que se trata, mas
voltando ao assunto do almoço. Não sei se conseguirei sair daqui em tempo.
Minha agenda esta corrida hoje, dona Marina marcou um compromisso atrás
do outro.
— Não tem problema Gael, irei almoçar com a tia Nina e aproveito e
faço umas comprinhas. — Zia diz feliz.
Nos despedimos com um abraço e ela vai embora do mesmo jeito que
entrou. Como um furacão!
Me entrego a leitura dos processos em minha mesa, analisando caso
por caso. Dona Marina me traz um lanche e me avisa que meu próximo
compromisso é daqui a meia hora. Então aproveito para comer enquanto leio
um caso de agressão. Meia hora em ponto, ela me avisa que Donatello Reed
já está me aguardando. Dou uma verificada em minha mesa e peço para ela o
mandar entrar.
Ele entra e quando me vê, me olha assustado. Para mim já é normal,
eu causo essa reação nas pessoas. Sou alto, forte e todo tatuado e isso impacta
demais as pessoas.
— Donatello Reed, é um prazer finalmente conhece-lo. Ouvir falar
muito sobre você, mesmo não advogando na mesma área que eu. Mas sente-
se, fiquei curioso com o seu pedido de uma audiência comigo. Mudou de
área? — Pergunto curioso.
Pelo que eu pesquisei, ele é de uma família rica e de nome na cidade.
Fez seu nome no ramo empresarial, não por ser rico, mas sim por ser bom no
que faz.
— O prazer é meu excelentíssimo. Mas não, não mudei de área. Esse
caso é pessoal, é da minha cunhada Katrisca Ornellas e estou tentando ajudar.
—Ele fala rapidamente.
— Me conte do que se trata meu caro. — Peço curioso.
Ele mexe em sua bolsa e tira uma pasta, mas antes de me entregar ele
a abre para conferi se tudo está certo. Já gostei do garoto, parece ser bem
profissional e vai direto ao assunto.
— Me desculpe excelência, acabei fazendo uma pequena confusão na
hora de pegar a pasta da Katrisca. Mas está com a Yza, lá fora na sala de
espera. Se o senhor me der um minuto posso buscar. — Ele fala se
levantando envergonhado.
— Não se levante Donatello, irei passar um recado para a minha
secretaria, e aproveito e peço para sua assistente entrar com a sua pasta. —
Falo indo na direção da porta.
Abro a porta e sem olhar para os lados, começo a falar com Dona
Marina.
— Dona Marina, a senhora poderia trazer uma café e água para a
minha sala? E por gentileza não me passe qualquer ligação, enquanto eu
estiver em reunião. — Peço com gentileza pois adoro a Dona Marina.
Quando me viro para entrar em minha sala, escuto uma voz doce, que
é bem conhecida dos meus sonhos.
— Obrigada, Dona Marina. — Ela diz educadamente.
Me viro com tudo, como se tivesse tomado um choque. E ali está ela,
linda toda de branco, com os cabelos soltos parecendo um anjo.
Ela também me olha surpresa, e sem pensar uma segunda vez, vou em
direção a ela. Não me importo se estou tendo plateia, a única coisa que me
importa é que ela está aqui.
Minhas mãos vão direto em seus cabelos e minha boca direto para a
sua. No começo ela fica hesitante, mas depois se entrega ao beijos. Puxo seu
corpo para o meu, apertando em um abraço saudoso. Sinto seus braços
rodeando meu pescoço e sua mão ir diretamente para o meu cabelo. Nossos
lábios se separam em busca de ar, e eu fico olhando maravilhado para o seu
rosto.
— Você está aqui Sweet. — Falo baixinho só para ela escutar. — Eu
finalmente te encontrei!
— É... Meritíssimo? Acho que seu compromisso o aguarda. — Dona
Marina me repreende.
— Marina por gentileza, peça para que ele me aguarde por uns
minutos. Não irei demorar! — Peço para ele e saio puxando minha Sweet até
a copa.
Assim que entramos, tranco a porta e a pressiono nela. Minha mão vai
diretamente em seus pescoço, pressionando levemente. Vejo ela segurar a
respiração e isso me tem insano, saber que eu tenho o poder de afeta-la me
deixa maluco.
Passeio meu nariz por seu pescoço, querendo e respirando seu cheiro.
Meu coração bate alucinadamente, tudo por ela, só por ela. Beijo seu pescoço
e mordo sua orelha, fazendo com que solte um gemido baixinho, mais
parecido com um miado de uma gatinha manhosa. Esse som, desperta o que
há de mais primitivo em mim. Minha vontade é de despir seu delicioso corpo
e sentir sua doce boceta envolver meu pau. Um lado da minha mente, pede
para ter calma, que agindo assim irei assusta-la. Mas a outra parte, a parte
possessiva me pede para que eu marque seu corpo, que eu a faça minha!
Eu estou perdendo minha mente...
É como se cada parte de mim, quisesse possuir cada pedacinho dela.
Sinto sua respiração ofegante em meu ouvido e isso está me deixando louco.
Desço minha mão para o seu seio e o aperto, fazendo com que ela solte outro
gemido necessitado.
— Por favor... — Ela pede baixinho.
— Por onde você andou, Sweet? Por que foi embora, sem dizer nada?
Te procurei por todos os lugares! — Falo em seu ouvido enquanto brinco
com seu mamilo turgido.
Ela leva sua delicada mão em meu rosto, puxando minha boca na sua.
Eu respiro profundamente, quando sua língua toca a minha delicadamente.
Seus lábios são de uma suavidade incrível, o beijo que começou suave, e se
torna insano, cheio de necessidade e desejo. Separo nossas bocas e grudo
minha testa na dela, tentando controlar minha respiração.
Esse não é lugar porra! falo comigo mesmo.
— Me fala seu sobrenome agora! Tem noção de quantas Yza tem
nessa cidade?
— Yza R... — Ela tenta falar, mas interrompo beijando sua boca.
Minha necessidade dela vai além do absurdo.
— Yza... Preciso de você Sweet! Mas antes preciso terminar a minha
reunião. Você vai me esperar e então sairemos daqui, preciso ficar sozinho
com você, preciso matar essa necessidade que estou sentindo de você.
— O... ok!
— Vem, você vai me esperar na sala da Marina. Não irei demorar!
Abro a porta e saio, puxando-a pela mão. Assim que entro na sala de
Marina, posso ver Donatello Reed nos aguardando.
— Me desculpe Donatello, mas precisava resolver um probleminha
pessoal. — Falo me desculpando com ele.
Yza assim que o vê, solta minha mão rapidamente. Ela anda para
perto dele e quando vejo ele levantando a mão para toca-la, enlouqueço de
vez.
— Não toque nela! — Falo a puxando para os meus braços.
— O... O que está acontecendo aqui? Yza?
— Don... — Ela fala querendo se aproximar dele.
— Não! Você não vai com ele. Se você estava com ele, agora não está
mais. Sweet, você é minha e ninguém toca o que é meu!
— Gael... Você precisa se acalmar. — Pede dona Marina.
— Gael... Gael D'Ávila? O Juiz? — Ela pergunta surpresa.
— Excelência ela é minha... — Donatello tenta falar, mas eu logo o
corto.
— Não! Ela é minha e não sua!
— Gael! Ele é meu irmão! —Yza fala alto, para que eu consiga
escuta-la.
Eu a olho tentando entender o que ela falou. Donatello não é
namorado dela, ele é o irmão! Quando a notícia cai em mim, sinto-me um
completo idiota.
Graças a Deus! Pensei que teria que soca-lo, para ele deixar a minha
Sweet em paz.
— Acho melhor vocês entrarem na sua sala Meritíssimo, assim
poderão conversar sossegados. — Marina pede me olhando feio, com certeza
ela irá contar para a minha mãe.
Eu faço o que ela diz e saio puxando Yza comigo. Eu solto sua mão
somente para pegar uma cadeira e colocar perto da minha. Yza olha para mim
com uma expressão curiosa, já Donatello solta uma risadinha, mas tenta
disfarçar com uma tossida.
— Bem, onde estávamos Donatello? — Pergunto como se nada
tivesse acontecido.
— Ah sim, bem. Aqui está a pasta com todo o processo da minha
cunhada, se o senhor reparar a ineficiência tanto do antigo advogado, quanto
do Juiz da época não ligaram para o perigo que o meliante oferecia. Minha
cunhada mudou de cidade, veio morar aqui em busca de paz e sossego, mas o
infeliz apareceu e tentou sequestrar a minha sobrinha Luna! — Donatello fala
revoltado.
Eu peço uns minutos para analisar a pasta e vejo várias brechas
deixada pelo antigo juiz. Vejo laudos da perícia, das surras que a Katrisca
Ornellas levou, vejo fotos tiradas de um vídeo onde o desgraçado batia em
uma menina que deveria ter uns dois anos na época. A cada página que leio,
meu ódio sobe ainda mais, vejo também que Katrisca abriu mão de todos os
direitos da filha. A cada página que viro, minha indignação aumenta ainda
mais.
— Pelo que entendi, só de ler por alto, a Senhora Katrisca Ornellas
tinha uma medida protetiva, não é? E o Senhor Diego a quebrou, é isso? Vejo
também que tanto o advogado, quanto o juiz da época foram negligentes,
deixando assim vários furos. Para que eu possa entender melhor Donatello,
você poderia me contar a história toda?
Então ele começa a contar, e a cada nova frase minha raiva e
indignação aumentam consideravelmente. Se existe uma coisa que me tira do
sério, é a violência doméstica e o abuso infantil. Pois eu sei bem o que é isso
e já senti na pele várias vezes.
E se tem uma coisa que eu sou bom, é colocar esses idiotas valentões
nos seus devidos lugares.
Não posso acreditar que o meu homem misterioso é nada mais, nada
menos que o grande Juiz Gael D'Ávila.
A forma como ele me beijou, como ele me pegou em seus braços, me
tem de pernas bambas até agora. O homem é intensidade pura, seu jeito de
olhar me deixa em chamas. Ele é exatamente do jeito que me lembrava. A
intensidade existe, e é maior do que estava gravada na minha cabeça. Eu não
consigo me reconhecer! Nunca ninguém me deixou assim antes, necessitada,
sedenta por mais uma dose. Quando ele me levou para a copa, minha vontade
era de arrancar a sua roupa, de sentir sua pele na minha. Quando ele me
chama de Sweet, meu corpo inteiro quase entra em combustão.
Já tinha me dado por vencida em relação ao homem misterioso, em
minha cabeça ele era uma causa perdida. A única coisa que teria dele, eram as
lembranças do que ele me fez sentir. Dos seus beijos, dos seus toques, da sua
voz gemendo em meu ouvido. Mas agora ele está aqui, por obra do destino eu
o encontrei e juro que estou mais perdida que bala em tiroteio.
Olha para esse homem Brasil!
Ele tem uma áurea imponente, uma cara de mau. Ele exala poder por
onde passa, o que ele iria querer com uma menina como eu que mal saiu das
fraldas? Eu não terei capacidade de manter um homem desse tipo senhor!
Disfarçadamente, finjo estar entretida em meu celular e tiro uma foto
dele e envio para minha mãe. Ela logo responde.
—Caralho Yza, que homem é esse? Meu Jesus amado, santo das
calcinhas molhadas!
—O boy misterioso, nada mais é que o Juiz Gael D'Ávila MÃE!
Socorro... Oque eu faço com um homem desse porte, pelo amor de Deus.
—Chupa como se fosse um picolé! Porra filha, vai me dizer que está
com medo? ele lembrou de você?
—Mãe, você não tem noção do que é esse homem de perto! Ele
emana poder pelos poros dona Belle. A primeira coisa que ele fez quando me
viu, foi me beijar, CARALHOOOO MÃE, ele estava me procurando e eu não
sei o que fazer! Me ajuda...
— Filha se esse homem estava procurando por você, é sinal que ele
está interessado. Se joga princesa! Depois quero saber de todos os detalhes
sórdidos, agora eu tenho que ir. Hoje seu pai está um pé no saco, beijos filha
amo você.
Eu fico olhando perdida para o celular, tentando assimilar o que irei
fazer. Tiro os meus olhos do celular e encaro Donatello que está me olhando
fixamente.
— Donatello, irei estudar esse caso com muita atenção, não me
agradou as falhas que eu encontrei. Parece que tem alguém mexendo os
pauzinhos por detrás dessa história e eu irei descobrir. Quero que você me
traga todo e qualquer papel que a sua cunhada tenha em mãos, até o que você
ache que seja irrelevante. Procure se aprofundar nessa história e tente
descobrir qualquer coisa que possa te ajudar nesse caso, eu irei me reunir
com a promotora Zia Silva. Ela que me ajuda nesses casos e é tão engajado
quanto eu, prometo que essa semana mesmo te ligarei para conversar com
você.
— Obrigado Meritíssimo. Qualquer luz já me ajuda bastante, pois
como sabe não é minha área. Mas estou fazendo isso por amor, as meninas do
meu irmão já sofreram demais e merecem um pouco de sossego. Minha
sobrinha tem somente quatro anos e já sofreu demais, só de ouvir falar nesse
homem, seu olhos se enchem de pavor.
— Pode deixar Donatello, darei uma atenção redobrada nesse caso e
vou te ajudar em qualquer coisa.
Donatello se levanta, pega suas coisa e aperta a mão do Gael. Eu
também me levanto e começo a caminhar em direção ao meu irmão.
— Você fica Yza Reed! Precisamos conversar. — Ele pede decidido.
— Eu esperarei lá fora maninha. Com licença meritíssimo. —
Donatello diz saindo da sala.
— Meritíssimo, preciso ir embora. Tenho uma reunião daqui quarenta
minutos. — Falo, mas sem olhar em seus olhos.
Ele levanta e dá a volta na mesa e se encosta nela.
— Vem aqui Sweet. — Ele pede com a voz rouca.
— Eu... Eu ... Eu tenho que ir embora Gael.
Eu estou com medo, mas não dele me machucar. Medo do que ele me
faz sentir, se com uma vez só ele já me deixou assim, imagina se eu me
apego? Eu estarei completamente fodida porra!
— Me diz o que está se passando nessa cabecinha. — Pergunta,
curioso — Quero a verdade Sweet, sem joguinhos, sem mentira, só a
verdade.
— Você estava mesmo me procurando? — Pergunto olhando em seus
olhos, quando ele acena que sim eu continuo. — Porque? Porque você estava
me procurando Gael?
— Porque você é minha Yza, desde da primeira vez que eu te vi.
Estava enlouquecendo por não conseguir notícias suas. Eu vasculhei cada
canto dessa cidade e nada de você!
— Eu não entendo. O que posso te oferecer Gael? Sou nova, tenho
quase vinte e cinco anos. Não estou me desmerecendo, não pense isso, mas
estou me sentindo um pouco perdida nesse momento. Olha para você, um
Juiz dos mais famosos pelo que Donatello falou, você exala poder Gael e eu
sou uma menina espevitada, da pá virada como diria minha mãe. É sexo que
você quer? É isso? —Pergunto me sentindo confusa.
Sei que sou mais madura do que muita mulher mais velha que tem por
ai, a minha idade não define quem eu sou, mas pela primeira vez na vida
estou me sentindo perdida e não gosto nada disso.
— Eu quero você Sweet! Ser juiz é minha profissão e não o que eu
sou. Vamos ver aonde isso vai dar? Vamos nos conhecer melhor? Não irei
desistir de você tão fácil assim Yza, ainda mais agora que eu sei quem você é.
Coloque uma coisa na cabeça Sweet, você é minha! — Ele fala sério me para
os seus braços e me beijando.
Não tem nada de delicado nesse beijo. Ele me beija como se assim
pudesse me marcar, é um beijo com fome, com necessidade. Eu me entrego
as sensações que ele me causa, retribuo o beijos com igualdade, querendo
possuir cada parte dele, querendo que ele apague o fogo que queima em mim.
Fogo esse que ele próprio acendeu.
Eu separo nossas bocas, e tento recuperar meu folego. Seu olhar me
queima de um jeito inexplicável. Eu estou literalmente fodida!
— Aqui, coloque seu número. — Ele fala me entregando seu celular e
eu adiciono meu contato.
Ele me liga para que eu salve o dele também.
— Assim que terminar a sua reunião, você irá me ligar e eu vou aonde
você estiver. Você entendeu Sweet?
— Entendi Gael, mas achava melhor deixar esse encontro para
amanhã.
— Não irei ficar mais um dia longe de você Yza. Nada de amanhã!
— Ok meritíssimo! — Falo rindo da sua cara de bravo.
— Vá logo, antes que eu te jogue nessa mesa e faça tudo o que quero
fazer com você.
— Quem sabe um outro dia? Você acabou de me dar uma ideia
maravilhosa meu caro Juiz! — Falo rindo da sua cara de espanto.
— Eu estarei fodido não é mesmo? — Pergunta ele sorrindo.
— Como diria minha mãe, vossa excelência, Não sabe brincar não
desse para o play!
Saio da sala rindo ainda e encontro Donatello falando ao telefone.
— Vamos Don?
— Vamos princesa. Eu quero saber de onde você conhece o Juiz e
porque nunca nos disse. Yza esse cara é muito velho para você princesa, você
viu o tamanho dele?
— Eu não me meto na sua vida Donatello, então por obséquio não se
meta na minha. Não tenho mais quinze anos, e não deixarei que você faça o
que fazia antes!
— Vou contar para o papai, ai quero ver você falar para ele não se
meter na sua vida! —Donatello fala bravo.
— Conta mesmo Maria fifi!
Chegamos para a reunião. E como pedimos, o dono estava lá. E eu
minhas caras, fui a forra! Calei a boca daquele merdinha, e ainda mostrei
paro o dono da empresa as provas do preconceito do seu funcionário.
Donatello entro no modo advogado do capeta, e aplica vários tipos de artigos
no rabo do desgraçado.
Então falo que se for para a minha empresa, lidar diretamente com
esse escroto, então eles que procurassem outra firma de Marketing, pois eu e
minha equipe estávamos fora! Dei um prazo paro que ele entrasse em contato
com Donatello.
Assim que acaba a reunião, Don e eu vamos comer alguma coisa, pois
estou faminta. No caminho, envio uma mensagem para Gael. Avisando que a
minha reunião já tinha acabado. E a única resposta que recebo é um ok. Fico
olhando para o celular, sem entender. Mas depois fico puta da vida e jogo o
celular na bolsa.
Donatello me deixa no shopping e eu pego meu carro e vou para a
minha casa. Moro no mesmo prédio que a Hanna, mas dois andares depois.
Estaciono meu carro na garagem e pego minha bolsa e saio para a rua
novamente. Na esquina da rua onde eu moro, tem uma delicatessen, que
vendem bolos maravilhosos.
Compro três pedaços de sabores diferente e vou embora feliz. Assim
que vou chegando ao meu prédio, avisto Gael encostado no carro me
esperando. Ele trocou o terno por calça jeans e uma camiseta preta, uma bota
estimo militar e um óculos escuros protege seus olhos. Meu coração começa
a bater acelerado, tudo em mim treme. Ele tem o dom de me desestabilizar só
com a sua presença.
— Ei! Como achou meu endereço? — Pergunto curiosa.
— Não revelo minhas fontes Sweet. E sua reunião, foi boa? — Ele
pergunta me puxando para os seus braços.
— Um sucesso! Vem, vamos subir.
Assim que entramos no elevador, ele está em mim, me pressionando
na parede. Então sua boca gruda na minha e eu só consigo soltar meus bolos
no chão e o agarrar pelo pescoço. Sua mão segura meus cabelos com força,
fazendo com que eu fique parada onde ele quer. Chegamos ao meu andar e eu
mal consigo caminhar de tanto que minhas pernas tremem, ele que teve que
recolher as minhas coisas do chão, pois nem isso eu consegui fazer.
Ele pede as chaves da porta e eu entrego. Largo minha bolsa no sofá e
corro para o banheiro tomar um banho, grito para que ele fique à vontade.
Arranco minhas roupas e entro embaixo do chuveiro. Entro de cabeça e tudo,
para ver se consigo apagar esse fogo que me consome. Assim que termino,
me seco e coloco um vestido soltinho, sem nada por baixo. Não serei
hipócrita ao ponto de dizer que não irei transar com ele, sendo que é tudo o
que consigo pensar desde que o reencontrei!
Vou atrás dele e o encontro sentado no sofá, com um porta retrato na
mão. Me encosto na entrada da sala e fico admirando sua fisionomia.
— Eu sei que você está ai Sweet. — Ele diz rindo.
Me aproximo dele lentamente e quando vou me sentar ao seu lado, ele
me puxa até me ter sentada no seu colo. Me acomodo melhor, colocando uma
perna de cada lado do seu corpo. Sua mão vai automaticamente para os meu
cabelos ainda úmido pelo banho. Ele leva sua boca ao meu pescoço,
mordendo e chupando meu ponto sensível logo abaixo da orelha.
— Senti tanto a falta do seu cheiro, do seu gosto. — Ele fala
roucamente em meu ouvido.
Minhas mãos passeiam por seu corpo, retirando sua camisa. Olho
maravilhada para o seu peito, admirando suas tatuagens. Vou beijando seu
peito até chegar ao seu pescoço, mordendo a ponta da sua orelha, fazendo ele
soltar um gemido rouco. Ele coloca suas mãos em minha perna e vai subindo
lentamente até alcançar a minha bunda desnuda. Gael me puxa para um beijo
e deixa um tapa em minha bunda. Eu me aproveito do momento e rebolo em
seu colo e ele leva sua mão esquerda até a minha intimidade e desliza um
dedo em minhas dobras molhadas, fazendo com que eu jogue minha cabeça
para traz gemendo com a sensação que ele me causa.
— Tão molhada... — Ele geme em meu pescoço. — Queria tanto
conversar primeiro, mas não consigo...
Desço minhas mãos até o cós da sua calça, soltando os botões e
tentando tira-las do seu corpo gostoso. Ele entende o que eu quero e se
inclina, facilitando o meu trabalho. Eu saio do seu colo e me ajoelho no chão,
no meio das suas pernas musculosas. Assim que se ver livre da calça, seu
membro grosso, cheio de veias aparece. Minha boca se enche de água,
querendo sentir seu gosto. Eu o seguro em minhas mãos e aperto suavemente.
— Foda-se! —Ele praticamente rosna.
Eu movimento seu pau, para cima e para baixo várias vezes. Vejo sua
glande brilhando com seu liquido e me inclino, passando minha língua
lentamente por ela. Ele segura meu cabelo fortemente e eu aproveito para
colocá-lo todo em minha boca, quer dizer eu tento, porque ainda sobra
bastante dele para fora. O que sobra eu seguro com a mão, fazendo
movimentos de subir e descer. Eu o chupo, como se tivesse chupando um
picolé, e ele solta vários gemidos de puro tesão. Mas não permaneço assim
por muito tempo, pois ele logo me puxa para os seus braço, fazendo com que
eu sente em seu colo novamente.
— Quero tanto você Sweet, mas saiba que assim que eu entrar em
você novamente, não terá mais volta. É isso que você quer? — Ele pergunta,
enquanto seu polegar alisa meus lábios.
— Sim, eu quero isso. Quero tudo o que você puder me dar. — Falo
gemendo.
Não sei o que esse homem tem que me deixa assim, submissa as suas
vontades, ao seu toque, que me tem completamente entregue a ele.
— Eu te darei tudo minha Sweet! Você toma algum tipo de remédio?
Eu estou limpo, se você não acreditar posso te mostrar amanhã.
— Eu estou tomando a algum tempo já. E eu também estou limpa,
faço check up todos os anos.
— Eu quero entrar em você sem nada nos separando, mas se você
disser que não quer, que prefere ver meus exames eu aceito. — Ele fala
beijando meus lábios.
— Eu quero você Gael. Quero você agora! — Falo gemendo, assim
que seus dedos encontram o meu clitóris o massageando.
— Então me coloque dentro de você Sweet.
Eu levanto um pouco meu corpo e o segurando em minhas mãos,
encaixo ele em minha entrada e vou me abaixando lentamente por toda sua
extensão. Ambos gememos quando nos encaixamos perfeitamente, eu apoio
minhas mãos em seu ombro e uso de alavanca para me movimentar. Suas
mãos e bocas vão direto para os meus seios, ele morde e chupa como se
estivesse faminto e isso me faz gritar de prazer. Eu levanto e quando desço
dou uma rebolada, roçando meu clitóris em sua pélvis.
Ele tira seu membro de dentro de mim e me coloca de quatro no sofá.
Antes que eu possa dizer alguma coisa, sinto sua boca lambendo toda a
minha boceta.
— Gael! — Grito seu nome.
— Minha Sweet, essa boceta é minha. Somente eu a terei, ninguém
mais.
— Sim! Só você! Por favor Gael....
Ele atende meu pedido e entra de uma só vez dentro de mim, me
fazendo grita de prazer. Ele aumenta suas investidas, seu corpo batendo em
mim produzindo barulhos altos de tapas. A cada remetida ele entra mais
fundo e mais forte, sinto meu orgasmo se aproximando e ele segura meus
cabelos e os puxas com força me montando intensamente. Estou a poucos
passo de entrar em combustão, quando ele usa seu polegar para acariciar
minha bunda. Isso é tão proibido, tão sujo que me tem gozando na hora!
Meu clímax bate forte, me levando para outro lugar. Nunca um
orgasmo foi tão intenso como esse, eu o sinto aumentar suas investidas, me
fodendo duramente. Até que ele entra tão profundamente, derramando todo o
seu sêmen dentro de mim enquanto morde meu ombro rugindo de prazer.
Eu caio praticamente desfalecida no sofá, ele sai de dentro de mim,
me pega no colo e me leva para o quarto. Gael me deita delicadamente na
cama, vai até o banheiro e volta com uma toalha úmida, ele me limpa
lentamente, como se não quisesse me machucar. Gael joga a toalha no chão e
se deita ao meu lado me puxando para os seus braços.
— Descansa um pouco Sweet, mais tarde sairemos para comer
alguma coisa. —Diz ele beijando minha testa.
— Ok. — Respondo sonolenta.
Escondo meu rosto no seu pescoço, adormeço sentindo seu cheiro
gostoso.
Abro os olhos desorientada, achando que tudo não passou de mais um
sonho quando vejo o quarto vazio. Meus olhos se enchem de lágrimas ao
pensar nisso. Quando sento na cama, sinto um dorzinha gostosa entre minhas
pernas. E é então que a realidade bate com força...
Eu encontrei meu boy magia!
Levanto correndo da cama, mas acabo me atrapalhando no lençol e
caio no chão, em meio a uma bagunça de edredom, travesseiro e lençóis.
Tento me desvencilhar, mas a cada vez que eu me mecho, mais enrolada eu
fico.
Braços fortes me tiram de chão e me colocam sentada na cama
novamente. Sinto meu rosto arder tamanha a vergonha que estou sentindo. Eu
aqui, querendo parecer sedutora indo em busca do meu boy magia, e acabo
como uma criança atrapalhada quando tropeça nas próprias pernas.
— O que aconteceu Sweet? Escutei um barulho e quando entrei aqui,
você estava caída no chão. — Gael pergunta, me ajudando a sair da rede de
cobertores.
— Você está aqui...
— Onde mais eu estaria? — Ele pergunta me olhando confuso.
— Quando eu acordei e não te vi, pensei que tinha sonhado de novo.
Mas ai eu senti uma dorzinha gostosa na minha... Hum... Na minha
intimidade e vi que era real.
— Dorzinha gostosa? Intimidade? — Ele ri e me beija em seguida. —
Vamos tomar um banho? Depois vamos sair pra comer?
— Banho com você? Não tenho estutula não Brasil! Sim, vamos ao
que você quiser!
— Você vai me deixar maluco, não vai? — Ele pergunta, me pegando
no colo e indo em direção ao banheiro.
— Com certeza! Ou o seu dinheiro de volta.
Tomamos banho juntos, e quem diria que um homão desse tamanho
poderia ser tão delicado? Ele me trata com tanto carinho, como se a qualquer
momento eu fosse quebrar e sumir diante dos seus olhos.
Tenho que confessar que eu Yza Reed, rainha da independência, estou
adorando ser cuidada. Mas só por que é esse homem... Suas mãos são uma
loucura. Grande, forte, mas que tem uma leveza inacreditável. Ele lava meus
cabelos, meu corpo, como se não conseguisse manter as mãos longe de mim.
Eu também não fico atrás. Lavo seu corpo com carinho, ele se abaixa para
que eu possa lavar seu cabelo e suspira alto quando esfrego seu couro
cabeludo. Lavo seu corpo, me divertindo em contornar suas tatuagens uma a
uma. Sinto alguns caroços sobre suas tatuagens, e quando aliso com mais
cuidado tentando identificá-los, sinto seu corpo ficar tenso e ele logo acaba
com o banho.
Ele sai do box e pega uma toalha para me secar, e eu opto por deixar
passar a sua reação. Mas só dessa vez. Enrolo uma toalha em meus cabelos e
pego meu hidratante corporal e vou para o quarto. Gael vem logo atrás, ele
tem uma toalha enrolada na cintura e se senta na beirada da cama me olhando
fixamente.
Eu vou até o guarda-roupa, escolho uma calcinha e olhando para ele
pelo espelho, visto a calcinha lentamente. Vejo seu peito subir e descer,
quando ele respira profundamente e o vejo engolir em seco. Volto para minha
penteadeira, pegando o creme e derramo um pouco na palma da minha mão.
Apoio meu pé direito na banqueta e começo a espelhar o creme pele minha
perna, faço a mesma coisa com a perna esquerda, e passo para os braços,
barriga, seios e pescoço. Em meio ao meu ritual de beleza, acabo esquecendo
que estava provocando Gael. Só lembro quando sinto seu corpo se
encostando em minhas costas e sua ereção pressionando minha bunda.
— Deixe-me passar nas suas costas Sweet. — Ele fala em meu ouvido
roucamente. — Desculpa a minha reação no chuveiro princesa, é só que não
gosto de falar sobre essas marcas.
— Sem problemas, Gael.
Minha voz sai estranha, rouca de desejo ao sentir suas mãos grandes
percorrerem meu corpo. Ele passa o hidratante por toda as minhas costas, e
sua mão avança para os meus seios. Ele os aberta delicadamente, e sinto seu
polegar acarinhando meus mamilos rígidos. Eu tento conter um gemido, mas
não tenho sucesso. Sua boca passei pelo meu pescoço, arranhando minha pele
com sua barba.
— Vamos comer princesa, preciso te alimentar. E quando voltarmos,
me alimentarei de você a noite inteira. — Ele diz com sua voz carregada de
desejo e se afasta de mim.
— Não estou com fome!
— Mas vai comer sim! Preciso de você cheia de energia Sweet.
— Chato!
Ele veste suas roupas enquanto eu escolho um vestido. Opto por um
vestido fresquinho e um tênis que combina com meu modelito menininha.
Assim que estou pronta, ele me pega nos braços e me joga em cima do seus
ombros musculosos e sai do meu apartamento. Eu acabo gargalhando alto, e
fico toda besta quando ouço sua risada.
Ele escolhe um restaurante japonês perto de casa, e acabamos
andando de mãos dadas até o lugar. Pedimos duas cervejas enquanto não
fazemos os pedidos.
— Me conta um pouco sobre você princesa.
— Bem... Vamos lá! Meu nome é Yza Reed, tenho vinte cinco anos.
Sou formada em moda e publicidade. Hoje eu trabalho na empresa da família,
e comando a parte de marketing e publicidade. Gosto de sair, mas também
gosto de ficar em casa, assistindo a um filme. Os finais de semanas passo na
fazendo dos meus pais, tipo um ritual familiar sabe? Todos nós nos reunimos
aos finais de semana.
— Vinte cinco anos e duas faculdades? Você é bem novinha!
— Você tem algum problema com a minha idade?
— Não princesa! Só fiquei espantado, você é tão novinha e tão
madura ao mesmo tempo.
— Eu comecei a estudar cedo, e a trabalhar cedo também. Cresci em
berço de ouro, mas tive que provar o meu valor. Sou mimada? Com certeza,
até a uns meses atrás eu era a única menina. Mas tenho juízo, trabalho, moro
sozinha e me sustento. Odeio depender dos outros e odeio ainda mais que
mandem em mim.
— Essa última frase foi uma indireta? — Gael pergunta sorrindo.
— Talvez sim, talvez não. E você? Me conte um pouco sobre você.
— Meu nome é Gael D'Ávila, tenho trinta e três anos. Sou formado
em direito, e sou juiz há oito anos. Amo meu trabalho e sinto que faço a
diferença no mundo. Odeio qualquer tipo de violência, principalmente contra
crianças. Não sou muito fã de balada, mas gosto de tomar umas cervejas com
os amigos de vez em quando. Moro sozinho, mas minha mãe mora a algumas
casas depois. Sou ciumento, sou possessivo, e não gosto que mexam no que é
meu.
— Isso é uma indireta? — Repito a sua pergunta.
— Não sou homem de indireta Yza. Como eu disse pra você mais
cedo, você é minha. Eu senti isso desde da primeira vez que eu te vi, me
chame de louco, mas é o que é. Eu fiquei louco te procurando, coloquei dois
detetives atrás de você. Sabe quantas Yza existem nessa cidade? Meu Deus!
— O que irá acontecer depois de hoje?
— Não sei Sweet. A única coisa que eu posso afirmar é que você é
minha, e não deixarei que você me afaste. Vamos nos conhecer melhor, mas
não irei me afastar Yza e acho melhor você ir se acostumando.
— Não sei o que aconteceu, só sei que você mexeu comigo de um
jeito que não sei explicar. Não tenho um gênio bom, sou geniosa, mimada,
ciumenta e possessiva. Amo minha família, sou louca por eles, e sou muito
difícil de demonstrar o que sinto para pessoas estranhas. Mas você? Eu sinto
que te conheço desde que eu nasci, vou te deixar louca Gael e não estou
brincando sobre isso. Sou ciumenta nível psicótica, se você olhar para o lado
vou querer te matar!
— Uau! Psicótica? Sou ciumento Yza, não se engane com a minha
fala mansa e meu jeito quieto de ser. Se alguém encostar a mão em você, vai
ficar sem ela. Nunca namorei, nunca senti vontade, nunca fui possessivo com
ninguém e a experiência está sendo nova. Não quero saber do seu passado
Sweet, o que importa é o futuro, o nosso futuro. Mas não é porque não quero
saber do seu passado, que irei aceitar algum filho da puta colocar a mão no
que é meu. Não quero mandar em você princesa, você é minha mulher e não
minha filha. Entre quatro paredes? Tudo bem, mas fora dela? Só se acontecer
algo muito sério.
— Estamos ambos fodidos, não estamos? — Pergunto rindo.
Ele sorri, um sorriso perigoso que deixa minha humilde calcinha
completamente molhada.
É Yza... Seus dias de farra acabaram!
Game over Yza Reed!
Estou fodida...

Ela é a coisa mais perfeita que já vi na vida. Ela dorme como um


princesa de conto de fadas. Seus seios colados ao meu peito, seu cabelo
espalhado ao redor, sua perna descansando em cima da minha é a perfeição.
Ela desperta em mim sensações nunca antes sentidas. Um carinho, um
cuidado, uma proteção, que nunca senti antes por ninguém além da minha
mãe. Ela é tão nova, tão frágil, mas ao mesmo tempo demonstra uma
maturidade tão grande. Sei que ela sente o mesmo que eu, um simples toque a
desmonta toda.
Levanto da cama com cuidado e vou para a sala. Envio uma
mensagem para a minha secretaria, e pergunto se tenho alguma coisa séria
amanhã. Quero passar o maior tempo que eu poder com a minha Sweet,
quero conhecê-la, saber do que ela gosta, tipo de música, comida preferida.
Quero saber tudo sobre ela, quero passar o final de semana conhecendo seu
corpo, seus pontos fracos, suas preferências entre quatro paredes.
Logo meu celular apita, ela diz que minha agenda está livre amanhã e
que a maioria dos meus compromissos são segunda-feira. Agradeço e peço
para ela avisar que não irei trabalhar, aconteceu um imprevisto. Depois ligo
para a minha mãe e aviso que não estarei em casa esse fim de semana, e que
depois explicarei para ela o porquê.
Assim que desligo ouço um barulho alto, como se alguém ou alguma
coisa tivesse caído. Corro para o quarto e vejo a minha menina caída no chão,
enrolada nos cobertores com carinha de sono. Eu a pego no colo e ajudo a
sair do bolo de cobertores.
Ela é perfeita, tão menina, mas ao mesmo tempo tão mulher. No
banho pude percorrer minhas mãos por todo o seu corpo gostoso, lavei cada
pedacinho de pele que pude. Lavei seus cabelos sedosos, e ela também me
mimou lavando meu corpo. Suas mãos delicadas em mim, despertou tantas
coisas, minha vontade era de jogá-la na parede e foder sua boceta delicada até
amanhã. Ela quis lavar meus cabelos, e tive que abaixar um pouco para ela
conseguir alcançar.
Acho que não existe nada nesse mundo, que eu não faça para ela.
Lavando meu peito, ela conseguiu sentir sobre seus dedos as
cicatrizes que tenho. Na mesma hora a névoa em que estávamos se dissipou,
acabando com o clima de intimidade no qual estávamos.
Não quero que ela saiba sobre as cicatrizes, não quero que ela se quer
imagine pelo o que eu passei. Ela não merece ter essas imagens em sua
cabecinha linda. Depois do banho ela me tortura um pouco, no começo até
achei engraçado. Mas quando ela começou a alisar seu corpo, passando o
hidratante corporal eu quase surtei. O corpo dela é meu! Só eu que posso
tocá-lo, acariciá-lo, somente eu! Sem me aguentar, levanto e encosto minha
ereção em sua bunda gostosa e peço para passar o creme em suas costas.
Seu corpo é muito responsivo a mim, basta um único toque meu para
que seu corpo se acenda. Seguro seus seios em minhas mãos, e com o polegar
brinco com o seus mamilos que ficaram rígidos ao meu toque. Eu precisei ser
forte, ou eu teria levado ela de volta para a cama novamente. Nos trocamos e
resolvemos ir ao restaurante japonês perto da casa dela. Vamos até o
restaurante de mãos dadas, sabe quando eu andei de mãos dadas com
alguém?
Nunca!
Parecíamos um casal de adolescente, andando de mãos dadas e
parando acaba cinco minutos pra nos beijar. Sua alegria é contagiante e faz
com que eu me sinta um moleque novo. Estamos aqui, sentados comendo e
discutindo como será nossa relação.
— Não abro mão de ter você todas as noites na minha cama. — Sou
categórico.
Ela para de comer e me olha sorrindo de lado.
— Sério? Você não acha que irá enjoar rápido?
— Posso passar cinquenta anos ao seu lado, e nunca irei enjoar de
você menina.
Ela sorri abertamente, e volta a comer. Acho melhor ela saber que
penso em nós dois ao longo prazo. Não me interessa que os outros achem
cedo demais, o que é realmente importa é o que eu sinto. O que nós sentimos.
O resto eu quero que se foda!
— Já vou te avisando que meus irmãos são super ciumentos, e não
vão facilitar em nada a sua vida.
— Deixa que com seus irmãos eu me entendo. Não me importo com o
que eles pensam Yza, só o que me importa e a sua opinião. Se você achar que
estamos indo rápido demais, eu tentarei. Veja bem, eu tentarei ir com mais
calma. Mas quando o assunto em pauta é você princesa, quero tudo para
ontem.
— Eu também não ligo para a opinião dos outros meritíssimo. Só faço
o que eu quero e quando eu quero, ninguém me obriga a fazer nada que eu
não queira. E eles conhecem a irmã que tem! Só tenho cara de menina Gael,
mas sou mulher e muito bem resolvida, sei como me defender sozinha. Mas
apesar de ser autossuficiente, eu ainda sou a menininha deles. Isso nunca irá
mudar.
— Quero um relacionamento Sweet. Nada com você será ocasional,
sei que ainda é cedo e que posso te assustar, mas eu penso em nós dois a
longo prazo. Desde que te vi pela primeira vez, pude imaginar isso. Quero
você de um jeito insano, esse tempo longe de você era como se eu não
pudesse respirar.
— Eu entendo perfeitamente o que você sentiu. Eu senti o mesmo,
nenhum outro homem chamou minha atenção, nenhum toque era como o seu.
Parecia que minha libido tinha ficado com você, quando eu sai da sua casa.
Só dela falar em outro homem tocando ela, sinto meu corpo tremer de
raiva.
— Outro homem tocou em você? Você... Você deixo que tocassem no
que é meu? — Falo baixo, mas minha voz saiu mortal.
Quero arrancar a mão de quem ousou tocar a minha mulher! Quero
deitá-la no meu colo, e lhe encher a bunda de tapas.
— O que? NÃO! Quer dizer, não propositalmente. Eu sai Gael, fui
para uma choperia. Lógico que homens chegaram em mim, mas ninguém
chamou a minha atenção.
Eu respirei fundo e soltei lentamente, quando eu ouvi sua declaração.
Sei que estou parecendo um lunático, um ogro, mas é o que eu sou quando se
trata dela.
— Você já acabou? Quer sobremesa?
— Estou satisfeita.
Eu chamo o garçom e peço para ele trazer a conta. Depois de tudo
pago, pego a minha mulher pela mão e praticamente saio correndo do
restaurante.
— Gael! Você está louco? Vai devagar merda!
Eu a puxo para os meus braços e devoro sua boca. Ela agarra meus
ombros, tentando manter o equilíbrio.
— Preciso estar dentro de você Sweet. Preciso disso urgente! —
Minha voz sai tão baixa, que nem eu mesmo reconheço.
— Ok grandão, vamos pra casa.
Saio puxando ela pela mão, e a safada ri do meu desespero. Tenho
certeza que a minha vida tranquila, nunca será mais a mesma. Assim que
entramos em seu apartamento, eu a tenho pressionada na porta e minha boca
devorando a dela. Eu sou um trem desgovernado nesse momento, e só
amanhã verei o tamanho do estrago.
Encaixo minhas mãos na frente do seu delicado vestido, e em menos
de um segundo ele está caído no chão completamente destruído. Antes que
ela possa protestar pelo seu vestido, minha boca faminta cai em seus seios
perfeitos chupando seus delicados mamilos como desesperado. Sua calcinha
tem o mesmo fim que o vestido, e invado sua boceta encharcada com dois
dedos, fazendo com que ela grite meu nome para que todos saibam quem a
esta fodendo.
— Gael!
Isso aflora meu lado animal, e calo sua boca com a minha. Chupo e
mordo seus lábios, tragando todos os seus gemidos para mim. Ela também
está desesperada por mim e rasga a minha camiseta, levando sua boca ao meu
peito, mordendo e chupando, deixando sua marca em mim. Eu a pego no colo
e a levo para a sala, colocando-a de quatro na mesinha de centro. Me ajoelho
atrás dela, e festejo em sua boceta molhada lambendo e chupando seu clitóris
endurecido de tesão.
Ela geme alto, e a cada grito que ela dá me sinto a beira do precipício.
— Por favor, por favor, por favor...
— Depois de hoje, você vai saber a quem você pertence! Só eu sei
como te fazer gozar, só eu sei o jeito que você gosta, só eu tocarei em você!
Escutou Sweet?
Eu estou fora de mim porra!
Bato em sua bunda fortemente e ela grita implorando por mais.
— Responda Sweet! A quem você pertence? — Pergunto e deixo
mais um tapa em sua bunda.
— Você! Só você!
— Quem te deixa louca de tesão? — Mais um tapa.
— Você! — Ela grita em desespero.
— Quem pode tocar o que é meu? — Dois tapas.
— Ninguém! Só você Gael!
— Isso mesmo, só eu! Agora goza na minha boca, depois passarei a
noite inteira dentro de você! — Deixo mais dois tapas em sua bunda e volto a
chupar sua boceta.
Eu passo o polegar em seus sucos vaginais, e levo para sua bunda
empinada brincando com o seu buraco enrugado. Assim que meu polegar
consegue entrar, eu chupo seu clitóris fortemente em minha boca e ela goza
chamando meu nome repetidas vezes. Eu continuo lambendo sua doce
boceta, enquanto ela choraminga palavras desconexas.
Ela deita na mesinha, pois suas pernas estão tremendo a olho vivo e
mal consegue se segurar. Eu termino de tirar as minhas roupas e a pego no
colo, me sentando no sofá com suas costas coladas em meu peito. Eu encaixo
meu membro em sua entrada e antes que ela possa descansar do seu
orgasmos, eu invado sua boceta fazendo com que ela salte em meu colo. Ela
joga sua cabeça em meu ombro, e seu braço rodeia minha cabeça puxando
minha boca pra sua.
Ela começa a rebola em meu colo, me levando ainda mais
profundamente dentro de si.
— Tão fundo... — Ela geme em minha boca.
Enquanto nos beijamos apaixonadamente, seus movimentos aceleram.
Sobe, desce, rebola, me deixando a beira do orgasmo. Ela desgruda nossas
bocas, e apoia suas mãos em meus joelhos pegando embalo para terminar de
foder meu psicológico. Embrenho minha mão em seu cabelo, puxando para
que ela arquei seu pescoço em direção a minha boca. A outra mão brinca com
seus mamilos rígidos, e escorrega por seu tronco até alcançar seu delicado
clitóris. Eu chupo o seu pescoço, deixando minha marca nela.
— Eu vou gozar, Gael!
— Goza pra mim Sweet, me leve junto com você.
E ela assim o faz. Seu orgasmo bate violentamente, fazendo com que
ela desmorone em meus braços gemendo enlouquecidamente. Sua boceta
pulsa ao redor do meu membro, tirando cada gota que existem em mim. Me
sugando até me deixar seco.
— Porra! — Gozo fortemente, e descanso minha cabeça em seu
ombro.
Nossas respirações ofegantes e seus lamentos baixinhos, são os únicos
sons que quebram o silêncio do apartamento.
Mas não pense que acabou!
Minha promessa continua de pé, e ela não é a única coisa de pé nesse
momento.
A noite é uma criança...
E eu mostrarei de todas as maneiras a quem ela pertence.

Quem é esse homem que está com ela!?


Será que é alguém importante? Ou um simples caso de uma noite?
Ela parece feliz demais para o meu gosto!
Vagabunda!
Eu não deixarei ninguém atrapalhar meus planos, nem mesmo ela.
Você vai ser minha Yza Reed!
Ou não será demais ninguém.
Meu corpo queima de ódio, preciso descarregar isso ou não dormirei
em paz!
Entro no primeiro barzinho cheio que encontro. Vou direto para o bar
e peço um uísque duplo e sem gelo, minha bebida preferida. Analiso o
ambiente, em busca da caça perfeita.
E eu a encontro vinte minutos depois. Morena, cabelos compridos, até
mesmo um piercing no nariz, mas é de pedrinha e não de argola. A única
diferença, pouca, mas existe é o corpo. Esse tem um pouco mais de carne,
mas é a presa perfeita!
Ela vem desfilando até o balcão do bar, e pede uma bebida. Eu a olho
descaradamente, e ela me dá um sorrisinho safado. Eu me aproximo, sentindo
a adrenalina da caçada correr em minhas veias. Conversamos por quase uma
hora, e ela está se jogando em cima de mim. Ela me tocou várias vezes, e isso
me fez trincar os dentes violentamente.
— Vamos para um lugar mais sossegado, só eu e você? — Falo em
seu ouvido, fazendo ela gemer baixinho.
— Vamos, só tenho que pegar a minha bolsa. — Ela diz sorridente.
— Te esperarei do lado de fora.
— OK. — Ela responde e sai rebolando em direção aos seus amigos.
Eu saio do bar rapidamente e vou para o meu carro. Cinco minutos
depois ela vem toda faceira, e já chega me beijando. Eu entro no jogo da
sedução, e retribuo seu beijo, imaginando ser a boca da Yza Reed. Abro a
porta do carro para ela entrar, e assim que ela se acomoda e dou a volta para
entrar também.
Mais uma presa que vai morrer no seu lugar Yza Reed! Mas logo não
me contentarei...
— Vamos? — Ela pergunta ansiosa.
— Vamos gata. Preparada para pegar fogo?
— Com toda certeza!
A puta mal sabe que o fogo será verdadeiro.
Passamos o final de semana inteiro em seu apartamento. Pude
conhecer um pouco mais da mulher que me encantou, Yza Reed apesar da
pouca idade, demonstra ter uma maturidade incrível. Conversamos sobre
vários assuntos, ela é super inteligente e comunicativa. Ela fala do seu
trabalho com tanto amor e orgulho, que me deixa bobo. Se eu pudesse
passaria dias escutando ela falar sobre qualquer coisa. Ela me conta dos
preconceitos que passou para ter o cargo que tem, e sobre como tem que
aturar homens babacas desmerecendo seu trabalho.
Em contrapartida, contei um pouco da minha rotina no fórum, dos
casos nos quais trabalho. Conto sobre como é viver só eu e a minha mãe, e
como ela é minha parceira em tudo na vida. Falamos sobre música, filmes,
baladas, comida preferida.
De sexta para sábado, sou acordado por ela me sacudindo. Seu rosto
assustado e banhado de lágrimas. Eu a olho perdido, me amaldiçoando por ter
abaixado tanto minha guarda.
Meu corpo está suado e tremendo, coração acelerado, tudo sintomas
dos pesadelos que tenho. Sem conseguir me conter, eu a puxo para mim e a
abraço apertado escondendo meu rosto em seu pescoço.
Não queria que ela me visse assim!
Não queria ter essa conversa logo agora que a encontrei. Temos tantas
coisas para descobrimos um do outro, para aprendermos um com o outro.
Não quero que ela sinta pena de mim, isso já passou, eu já cresci e tenho
minha própria vida. Yza se ajeita em meu colo, colocando uma perna de cada
lado do meu corpo. Suas unhas fazem carinho em meu couro cabeludo,
enquanto a outra mão acaricia minhas costas. Aos poucos minha respiração
vai se normalizando, e eu vou me acalmando lentamente.
— Não precisa me contar nada agora. A única coisa que eu quero é
ficar assim com você. Quando você estiver pronto, eu estarei aqui para lhe
ouvir. — Ela fala baixinho em meu ouvido.
Eu respiro aliviado. Não é que eu não queira contar a ela, só que
quero estar preparado psicologicamente para responder todas as suas
perguntas. E nesse momento não conseguirei fazer nada disso. Passa algum
tempo até eu perceber que ela dormiu novamente. Minha menina dormiu
tranquilamente em cima de mim. Eu tento colocá-la de volta na cama, mas
ela aperta seus braços ao meu redor e eu acabo desistindo. Me acomodo
melhor nos travesseiros, e fecho meus olhos tentando dormir.
Quando acordo, estou sozinho na cama e nem sinal da minha Sweet.
Começo a ficar nervoso então me lembro que estou em seu apartamento e ela
não pode fugir da própria casa. Mais calmo vou ao banheiro, lavo o rosto e
escovo os dentes, e vou atrás da minha menina. Eu a encontro na cozinha,
terminando de fazer um suco. A mesa está toda posta, contendo pães, bolos,
frios, frutas. Eu me aproximo dela e a abraço por trás.
— Bom dia Sweet. — Falo beijando o seu pescoço.
— Bom dia Gael. Você deveria ser proibido de falar alguma coisa
com essa voz de sono! Você já é gostoso o bastante sem falar nada. — Ela
diz rindo.
— E você deveria colocar uma burca, para ninguém ver esse seu
corpo gostoso. Só eu poderei ver.
— Engraçadinho! Meu corpo, minhas regras. Você não vai mandar
nas minhas roupas Gael D'Ávila!
— Não custa nada tentar. — Falo rindo da sua carinha de brava.
Nos sentamos para tomar café, sinto que ela está se segurando para
não perguntar sobre meu pesadelo na noite passada. Eu engulo em seco várias
vezes, antes de começar a falar.
— Eu cresci em uma outra cidade no interior de São Paulo. Meu pai
era Coronel, um homem sério, rígido, e que gostava de tudo perfeito. Minha
mãe era e é uma mulher maravilhosa, boa mãe, boa esposa, sempre cuidando
da casa com todo zelo e dedicação. Ela não trabalhava fora, pois meu pai
dizia que lugar de mulher casada era dentro de casa. Quando eu era pequeno,
não entendia por que minha mãe vivia machucada. Mas conforme fui
crescendo, comecei a ligar os fatos, quando o meu pai chegava nervoso em
casa, gritando coisas horríveis, eles se trancavam no quarto e eu só conseguia
ouvir os barulhos das cintadas.
Eu tomo coragem de olhar para Yza, e vejo seu rosto pálido e seus
olhos arregalados.
— Eu entrei na escola, então os cuidados da minha mãe comigo
redobraram. Era uniforme, lanches para levar, dever de casa, me ajudar nas
leituras, e isso fez a raiva do meu pai aumentar gradativamente. Sua fúria não
era mais dirigida só a ela, ele começou a me bater por qualquer besteira. Ele
me xingava, me batia, e muitas vezes minha mãe levou a maioria dos castigos
pesados. Ele me queimou várias e várias vezes com o seu charuto, jogava
prato de comida quente no meu colo. Vivíamos um inferno em casa Sweet, e
mesmo depois dele ter morrido ele ainda me perturba nos sonhos.
Yza corre para o meu colo e me abraça fortemente, chorando por
mim. Seu choro é sofrido, dói ouvir e saber que é por minha causa.
— Não chore Sweet, isso já acabou. São apenas pesadelos.
— Eu queria ressuscitar ele e depois matá-lo! Onde ele está
enterrado? Me diz que eu vou lá jogar um caminhão de bosta em cima do
túmulo dele. Vou pintar a lápide dele de rosa choque e encher de glitter. —
Ela fala chorando, mas eu não consigo ficar sério.
— Ele iria odiar bebê. Já pensou ele se revirando no caixão? — Falo
rindo.
— E a sua mãe?
— No dia em que ele morreu, ele deu uma surra na minha mãe, foi tão
grave que quando eu cheguei a encontrei deitada em uma poça de sangue. Eu
achei que ela tinha morrido, uma mulher que me viu todo sujo de sangue,
correu para dentro de casa e constatou que ela estava viva. Minha mãe não
morreu por um milagre, ficou semanas na UTI. Quando ela recebeu alta,
queimou todos os pertences do meu pai, medalhas, troféus, roupas, até a casa
ela queria queimar. Mas depois nos mudamos de lá, vendemos a casa e
começamos uma nova vida.
— Você falou sobre isso com alguém? Um psicólogo?
— A muitos anos atrás sim. Raramente tenho esse sonhos, eles só
vem quando estou muito ansioso ou preocupado com alguma coisa.
— Você escolheu a carreira no magistrado por causa da sua mãe, não
é? Para ninguém passar pelo que ela e você passaram, não é?
— Sim. Quando contamos tudo o que passamos na mão dele, muita
gente duvidou. Acharam que queríamos manchar a imagem do coronel, que
sempre foi um homem integro, caridoso, honesto. Ele até era assim, mas com
o povo de fora, dentro de casa ele tirava a máscara e deixava o monstro que
ele era surgir.
— Por isso as tatuagens? Você fez para esconder as cicatrizes?
— Sim. A maioria são desenhos que eu mesmo criei, no começo eram
sim para esconder as cicatrizes. Mas depois se tornou um vício.
— Sei que nos conhecemos agora, que apesar de sermos muito
intensos ainda temos muita coisa pela frente. Mas é de coração que eu digo,
que tenho um orgulho enorme pelo homem que você se transformou. Que
apesar de uma vida de merda, de um exemplo fodido, você se transformou
em um homem de bem. Sua mãe deve ter muito orgulho de você.
— Ela tem! Eu não poderia ser de outro jeito Yza, eu tive o melhor
exemplo de como eu não queria ser. Se era para me espelhar em alguém,
então preferir escolher a minha mãe. Eu morro de orgulho dela, logo, logo te
levarei para conhecê-la.
— Huuum... Vamos devagar?
— Não! — Falo rindo. — O que vamos fazer hoje? Não queria que o
final de semana acabasse. Que tal se fossemos para minha casa? Amanhã eu
te trago de volta cedinho.
— Você não enjoou de mim ainda?
— Nunca!
— Tem doce na sua casa? Por que pelo jeito você é daqueles homens
fitness, e eu gosto de comer!
— Passamos no mercado e você escolhe o que quiser. Faz uma
mochila para você deixar algumas coisas lá em casa. E eu vou comprar esses
produtos que você usa para deixar no banheiro.
— Não vai adiantar eu falar não, não é?
— Isso mesmo.
— Ok, mandão!
Terminamos de tomar café, eu ajudo a limpar a mesa enquanto ela vai
se trocar e arrumar suas roupas. Depois de tudo pronto vamos pra minha casa,
mas antes passamos no mercado. Ela parecia uma criança solta em uma loja
de brinquedos. Era tanta porcaria que ela pegava, que ficou para mim a parte
da alimentação saudável. Comprei carnes, legumes, verduras, leite, pão de
forma, frios, ovos. Praticamente tudo! O carinho ficou cheio em instantes.
— Espera! Esqueci de pegar umas coisinhas. — Ela diz e sai correndo
na frente.
Vou atrás dela, e a vejo agachada em frente a uma prateleira cheia de
doces.
— Sério isso Sweet!?
— Eu amo esses doces! Mas são tantos sabores que estou em dúvida.
Eu amo esses de bananas, mas adoro esses azedinhos. Olha! Tem de
emotions, dos Minions. — Ela mais parece uma menina.
— Leve todos. Até eu fiquei com vontade de experimentar. Você sabe
que isso faz mal à saúde, não sabe? — Pergunto sério.
Ela sorri para mim, um sorrisinho safado e pega um pacote de cada
doce como falei.
— Transar também mata, e nós estamos fazendo em excesso. Mas
deve ser uma morte gozada, se é que me entende.
Eu fico olhando abismado para ela, juro que não esperava uma
resposta dessas.
— Vamos Sweet, vamos pagar e ir para casa. — Saio rindo da sua
resposta.
— Sim senhor, meritíssimo! — Ela fala e pula nas minhas costas e
assim vamos para o caixa.
Meus dias de sossego se foram! Mas confesso que estou ansioso para
ver como isso irá acontecer.
Confesso que estou vivendo em um mundo rosa, totalmente encantada
com o Gael. Ele me trata como uma princesa, todo educado, atencioso,
carinhoso. Não mede esforços para me ver contente, escuta meus desabafos,
atura meu mal humor.
Passamos a semana toda igual macaco, um dia na casa dele outro dia
na minha. Donatello anda me questionando curioso, querendo saber do meu
sumiço. Só quem está por dentro de tudo é a Hanna, que aliás já até conheceu
o meu Gael. Minha mãe também sabe, pois eu conto tudo para ela, só não
contei para os meninos e para o meu pai por que eles tem a mania de se
meterem.
Vou confessar que nunca fiquei assim por ninguém, e olha que já
namorei quase a cidade inteira. Mas nunca ninguém me cativou tanto, Gael
tem alguma coisa que mexe comigo de um jeito inexplicável.
Ele teve uma crise de ciúmes, quando estava me esperando em frente
ao shopping. Eu estava indo embora, e ele resolveu fazer uma surpresa pra
mim vindo me buscar. Eu estava acompanhada dos meninos da minha equipe,
e eu não tinha visto o senhor juiz me esperado. Parei para terminar a
conversa, Danilo me deu um abraço se despedindo, e André colocou os
braços em cima do meu ombro.
— Ou você tira os braços de cima da minha mulher, ou ficará sem ele.
— Gael diz se aproximando.
— Sua mulher? — Pergunta André.
Todos que estavam na roda conversando, se calam para assistir o
embate.
— Gael...
— Nem adianta falar Yza. Você não viu o que eu vi, então não pode
falar nada. E ai rapaz, qual vai ser? — Gael pergunta sério, seu punhos
fechados pronto para socar meu colega.
— Desculpa cara, a Yza é minha chefe e amiga. — André diz sem
graça.
— Amigos não olham para o outro do jeito que você olhou. Mas
agora você já está avisado, ela tem namorado então mantenha suas mãos para
si.
Eu fiquei muito puta da vida na hora, mas estou achando engraçado.
Um homão desse porte, morrendo de ciúmes de mim. Mas não abuso da sua
paciência e me despeço de todos e sigo para o carro dele. Ele abre a porta
para mim e depois se acomoda ao volante, ele segura tão forte que consigo
ver o nós dos seus dedos ficando esbranquiçado.
— Isso que você fez foi ridículo Gael, ali todos são meus amigos e me
respeitam. Se você for ameaçar todos os meus amigos homens, já aviso que
tenho muitos!
— Você me viu falando com os outros homens que estavam ali? Eu
acompanhei você de longe e não iria me aproximar, iria esperar você me ver.
Vi os outros brincando, te abraçando ao irem embora. Mas esse cara estava te
comendo com os olhos, então não venha me falar de respeito quando eu vi
que ele não tem nenhum!
— Escuta...
— Não Yza, escuta você. Eu entendo que você é nova, que teve uma
vida antes de mim e que já namorou o bastante. Mas isso não me incomoda,
eu sei que provavelmente irei me deparar com vários ex-namorados seu por
ai, e está tudo bem desde que não faltem com respeito nem com você e muito
menos comigo.
— Gael... Eles são meus amigos e fazem parte da minha equipe.
Nunca faltaram com respeito, nem comigo e muito menos com as outras
mulheres. Já trabalho com eles a alguns anos, e nunca tentaram nenhuma
jogada. André é noivo, Danilo é casado, Fabio tem namorada. E se eu
soubesse de qualquer intenção deles para comigo, já teria cortado.
— Vamos por isso de uma outra forma. Se fosse eu no seu lugar? Se
você visse o que eu vi, qual seria a sua atitude? — Ele para no semáforo, e
olha seriamente para mim.
— Se eu sentisse segundas intenções, eu esfregaria a cara da piranha
no asfalto.
— Então espero que você me entenda.
— Somos ambos ciumentos e precisamos saber lidar com isso. Sei
que não vi o que você viu, por isso não vou brigar.
— Ok. Quer sair para jantar? — Ele pergunta mudando de assunto.
— Hoje não. Quero um banho de banheira, fazer uma comidinha
caseira e relaxar. Amanhã é sábado, quero dormir até tarde. Talvez amanhã
que tal? Podemos sair à noite, um barzinho quem sabe.
— Tudo bem.
Ele nos leva para o meu apartamento, já que tem várias peças de
roupas dele aqui, como tem roupas minha na casa dele.
Assim que chegamos, vou arrancando a roupa na sala mesmo e vou
direto para o banheiro encher a banheira. Foi uma semana cansativa e tudo o
que eu quero e relaxar. Tiro meus brincos e pulseiras, e começo a tirar a
minha maquiagem quando ele entra no banheiro e passa os braços ao redor de
mim.
— Não fica chateada comigo Sweet. Não consegui controlar o meu
ciúmes, quando eu vi ele olhando para você, te comendo com os olhos. —
Ele fala com seu rosto escondido em meu pescoço.
— Eu entendi Gael, e não estou brava. Segunda irei conversar com
ele. Nenhum deles nunca passou dos limites comigo, também nunca reparei
no jeito deles me olharem.
Ficamos um bom tempo na banheira, conversamos sobre a nossa
semana, ele me conta dos casos fodidos que ele está estudando. Depois nos
vestimos e eu vou preparar uma comidinha para nós, ele sai para buscar
alguma coisa no carro e volta com uma sacola da minha delicatessen
preferida.
Um bolo de puro chocolate, meu preferido. Jantamos e depois
assistimos um filme de ação, metade do bolo já foi embora graças a minha
loucura por chocolate. Gael também está viciado, tadinho estou levando esse
homem para o mal caminho. Acabamos caindo no sono no meio do segundo
filme e acabamos dormindo no sofá mesmo.
Quando acordo, estou praticamente deitada em cima do Gael. Levanto
lentamente para não acordá-lo e vou ao banheiro. Depois de tudo feito, vou
para a cozinha preparar o café. Estou muito dona de casa, e confesso que
estou amando isso.
Gael merece ser mimado, não só por tudo o que ele passou na
infância. Mas por ser um homem maravilhoso e me tratar como uma
verdadeira princesa. Meu celular toca, e vejo o nome do meu irmão piscando
na tela. Eu olho para o relógio, e vejo que ainda é cedo para aguentar a
conversa do Don. Deixo tocar, mas o infame não desiste e continua a ligar.
— Espero que você tenha um ótimo motivo para me ligar a essa hora
Donatello Reed!
— Bom dia princesinha. Só liguei para saber se você quer uma carona
para a fazenda. —Ele pergunta.
Sonso!
— Eu já falei com a mamãe, e não irei esse final de semana. Quero
ficar em casa, tenho algumas coisas para resolver. Dylan já me ligou ontem,
fez um drama por que alguém não sabe ficar calado nessa merda!
— Que coisas? Ah o Dylan te ligou não é mesmo? Se você não
estivesse estranha, talvez ninguém encheria seu saco Yza Reed!
— Não te devo satisfação Donatello e muito menos para o Dylan!
Cuida da sua vida e deixa que a minha eu cuido. Cadê a Hanna?
— Está tomando banho. Quando eu estiver indo para casa dos nossos
pais, eu passarei ai para te ver.
Donatello é um fofoqueiro do caralho! Enquanto ele não souber das
coisas, ele não vai sossegar. Ele e Dylan são ciumentos demais.
— Não estou em casa Don. Fica para a próxima.
— Onde você está? — Ele pergunta nervoso.
— Tchau Don! — Desligo o telefone na cara dele.
Termino o café exatamente quando Gael entra na cozinha com a cara
amassada.
Deus do céu esse homem é uma tentação da porra! Ainda não caiu a
ficha que esse homem é meu, aliás acho que nunca cairá. Eu fico olhando
feito boba para ele sem camisa, apenas com uma cueca preta que marca seu
digníssimo pau. Até cruzo as pernas, para que ninguém possa escutar minha
boceta batendo palmas para esse espetáculo de homem.
— Onde você estava? — Gael pergunta segurando meu rosto.
— Desculpa, você disse alguma coisa? — Pergunto desnorteada
— Eu te dei bom dia, mas você estava viajando nos pensamentos.
— Desculpa, estava viajando por todo esse seu corpo gostoso. E que
viagem senhor!
— Maluquinha! — Ele me beija rapidamente. — Vou tomar café,
depois vou até a minha casa pegar umas roupas já que vamos sair mais tarde.
Quer ir comigo?
— Não, hoje quero ficar deitada o dia todo. Você já tem a chave, é só
entrar quando chegar. Com certeza estarei dormindo!
Depois do café, ele toma banho e se arruma para ir na casa dele. Esse
homem vestido com um terno é de foder qualquer psicológico, mas ele no
estilo relaxado é melhor ainda. Até o os pés do infeliz é bonito. Ele se
despede e vai embora, eu volto para a cozinha. Lavo a louça e limpo a mesa
antes de me jogar na cama. Recolho as minhas roupas que estão jogadas na
sala, levo para a lavanderia e quando estou indo deitar a campainha toca.
Na certa o Gael esqueceu as chaves.
— O que você esqueceu agora, Gae.... Papai?
Agora fodeu tudo!
Olho para a porta assustada, não acreditando no que meus olhos
veem. Papai, Dylan e Donatello e a fadinha estão parados na minha porta,
olhando atentamente para mim.
— Estava esperando alguém princesa? — Meu irmão pergunta.
— É... Oi pessoal! O que fazem aqui? Eu estou... Esperando uma
amiga!
Não posso acreditar que isso está acontecendo comigo! Era só o que
me faltava, ter meus irmãos e meu pai aqui. Ainda bem que o Gael foi até a
casa dele, ou a situação estaria mais fodida do que já está.
— Olá filha ingrata, já que você não vai visitar seu velho pai. Seu
velho pai vem visitar você.
— Pai para de drama, eu vi o senhor essa semana.
— Oi tia pincesa! Tavu com muitão de saudade. — Minha sobrinha
diz toda feliz.
— Oi minha linda fadinha! A tia também estava.
Entramos em seu apartamento, eu olho tudo minuciosamente e não
vejo nada de diferente.
— Então cara irmãzinha, me diz o que está acontecendo. Você andou
desmarcando alguns compromissos, anda toda saltitante por ai. Como se
tivesse visto um passarinho verde, ou devo dizer um passarinho tatuado? —
Dylan pergunta curioso.
— Ah entendi... Vocês vieram aqui, por que meu irmão fofoqueiro
não aguentou ficar de boca fechada! —Falo, querendo matar o Donatello!
— Olha pirralha, você me respeita que eu sou mais velho que você!
Contei mesmo, aquele homem é bem mais velho que você e tem idade para
ser seu pai, agora me diz de onde você conhece ele!? — Don fala bravo.
— Sim querida, de onde você conhece esse homem? — Meu pai
pergunta, com o semblante fechado.
Meu corpo treme de raiva. Sei que eles me amam e se preocupam
comigo, mas as vezes isso passa dos limites e acabam me sufocando.
— Minha mãe sabe sobre essa inquisição espanhola? Aposto que não,
então vamos deixá-la saber disso não é? Luna meu amor, vai lá no quarto da
tia. Eu comprei uma coisa para você, está em cima da minha penteadeira.
Luna sai correndo para o meu quarto, e eu agarro meu celular e ligo
para a minha mãe.
— Bom dia mamãe, estou ótima sim. Depois te conto tudo, mas antes
gostaria de saber se a senhora sabe da inquisição que estou sofrendo nesse
momento... Sim eles estão aqui... Ok, tchau. — Desligo depois que a minha
mãe diz que está a caminho.
—Para que ligar para a mamãe, Yza? Estamos fazendo algum mal a
você? — Dylan debocha perguntando.
— Só queremos saber o que está acontecendo princesa. Nós nos
preocupamos com você! — Meu pai fala.
Respiro fundo, conto até dez antes de falar alguma coisa. Eu amo essa
preocupação dele comigo, mas tem horas que ultrapassa os limites do
aceitável. Eu tenho um gênio explosivo, muitas vezes saio por grossa, mas é
meu jeito.
— Desculpa o que irei dizer e espero que não levem para o coração.
Eu sou maior de idade, trabalho, me sustento, não dependo de nenhum dos
três para sobreviver! Há muito tempo deixei de dar satisfação da minha vida
para o senhor e para os meus irmãos.
— Escuta aqui menina... — Meu pai tenta falar, mas eu o corto, pois
ainda não terminei.
— Não pai, quem tem que escutar é o senhor. Eu amo o senhor papai,
devo tudo o que sou a você. Mas não lhe devo satisfação da minha vida
pessoal, com quem eu saio ou deixo de sair, são problemas meus! Nenhum de
vocês tem o direito de se intrometer na minha vida. Me diga Donatello, eu me
meti na sua vida quando você namorava com aquela barata branca?
— Não, mas... — Nem deixo ele continuar.
— Ótimo! E você Dylan Reed, eu alguma vez já me meti na sua vida?
— Pergunto séria, com lágrimas nos olhos.
— Não, mas...
— Certo. E o senhor papai, alguma vez me intrometi na sua vida ou
lhe faltei com respeito?
Vejo meu pai engolir em seco. Ele não responde, só olha para mim
envergonhado.
— Foi o que pensei. Vocês, Donatello e Dylan, são dois egoístas do
caralho! Vocês tem as mulheres de vocês, estão apaixonados e vivendo suas
vidas. Mas eu sou obrigada a ficar sozinha, por que vocês são ciumentos? Eu
também quero ser amada, também tenho o direito de me apaixonar, de
namorar. É chato ver a felicidade de fora, como se eu fosse aqueles
cachorrinhos que olham esperançosos a máquina de frango. Tenho tanto
direito quanto vocês! — Falo alto e deixo as lágrimas caírem.
É injusto o que eles querem. Eu nunca levei nenhum homem a sério,
não por que não quisesse, mas por ninguém mexer comigo ao ponto disso
acontecer. Não até o Gael aparecer na minha vida.
— Yza... Não queremos te proibir de ser feliz, só estamos
preocupados por não conhecê-lo. O que sabemos dele é o que Don conhece,
não sabemos se ele vai te tratar bem ou cuidar de você. — Dylan fala sem
graça.
— Você só o conhece a poucos dias, mas já está mudada. Não vem
mais almoçar com a gente, desmarca compromissos, ignora nossas ligações.
O que estamos fazendo é zelar por você, suas atitudes não são a mesma de
sempre. E nós temos medo, medo desse homem tentar te mudar, tentar te
afastar de nós, sua família. —Donatello fala sério.
— Eu nunca namorei sério com ninguém. Aquele idiota com que eu
tive um lance, não conta. Gael é maravilhoso, me trata como uma rainha e se
eu andei tomando algumas atitudes que não condizem com quem eu sou, é
porque estou me dando a oportunidade de conhecer alguém, de deixar que
esse alguém me conheça. Não sou idiota, não sou inconsequente, se não falei
nada sobre ele é porque eu ainda estou o conhecendo melhor. Não quero
meter os pés pelas mãos, estou vivendo semanas incríveis e quero muito que
isso dê certo.
Gael é diferente de tudo o que eu já conheci. Ele é intenso, romântico,
carinhoso, mas também é bruto, autoritário, ciumento. Mas nada que seja em
excesso. Ele me trata como uma rainha, me mima de todas as formas
possíveis. Eu estou caindo apaixonada a cada dia que passamos juntos, a cada
gesto de carinho, a cada toque, a cada beijo.
A campainha toca e eu vou atender. Enxugo as lágrimas e só então
atendo a porta.
—Sweet, esqueci as chaves de casa... Porque você está chorando meu
amor? — Pergunta meu homem preocupado, me puxando para os braços
dele.
— Nada demais Gael, mas já que você está aqui venha conhecer meu
irmão mais velho e o meu pai. —Falo, já que o Don ele já conhece, só não
esperava a reação que ele teve.
— Qual de vocês três, fez a minha menina chorar? Não me interessa
se vocês são irmãos ou pai dela, não gosto de vê-la chorando! — Gael diz
sério.
— Escuta aqui garoto... — Meu pai tenta falar, mas Gael o corta
rapidamente.
— Garoto não senhor Reed, sou homem. Me chamo Gael D'Ávila,
mas acho que o senhor já sabia disso, não é mesmo? Não quero ser
desrespeitoso com o senhor, então por gentileza não me trate como um
moleque.
— Gael... —Tento acalmá-lo, pois seu corpo treme contra ao meu.
— Não Sweet. Não gosto de ver você chorando, e não me interessa
quem foi, quero saber o que aconteceu. —Ele pergunta.
— Meritíssimo, veja bem... — Donatello tenta falar, mas Gael o
interrompe.
— Aqui fora é Gael, Donatello. Eu estou aqui como namorado da sua
irmã e não como juiz. — Ele fala olhando sério para Donatello.
— Prazer Gael, me chamo Dylan Reed irmão da Yza. Acho que
acabamos extrapolando em nossas preocupações e, acabamos passando um
pouco dos limites. Mas em nossa defesa, só estávamos preocupados com ela.
— Deixa eu ver se eu entendi Dylan, vocês estavam preocupados e
por isso fizeram ela chorar. É isso? — Ele pergunta sério enquanto me abraça
mais forte.
— Não Gael, eu só fiquei nervosa e quando fico assim, choro de
raiva. Eles tem a tendência de se meterem onde não são chamados.
A campainha toca mais uma vez.
— Meu Deus! Minha casa virou o que hoje? A casa da mãe Joana? —
Falo revoltada indo atender.
— Deixa que eu atendo Sweet, vai se sentar um pouco. — Gael diz
indo atender a porta, mas eu vou atrás.
— Óh meu Deus! Tenho certeza que morri e fui para o céu! Não sabia
que existiam anjos tatuados. Se bem que com esse corpo, você está mais para
um enviado do tinhoso. Confesso que fui uma menina má a vida inteira,
mereço ir sentar no colo do capeta! —Minha mãe diz completamente sem
filtro, me fazendo rir.
— Belle Reed! — Meu pai grita com ela.
Gael cai na gargalhada, olhando encantado para a minha mãe.
— Prazer dona Belle, sou Gael namorado da sua filha. — Ele se
apresenta.
— Yza é bem minha filha mesmo! Prazer meu genro preferido. Me
chamo Belle, mas isso você já sabe, não é? Essa aqui é a Katrisca, mulher do
meu filho Dylan. Essa é a Hanna namorada do meu filho Donatello. —
Minha mãe apresenta as meninas para Gael.
— Prazer senhoras, mas por favor entrem e se faça parte da reunião
de família. — Ele fala debochado.
— Bem, bem, bem. Porque não me admiro de vocês terem vindo para
cá? — Katrisca pergunta olhando feio para o meu irmão.
— Baby...
— Sem baby para você Dylan Reed. Onde está a Luna?
— No quarto da Yza, mas baby...
— Sem Baby para você! — Ela fala brava.
— Olha Willians, se essas lágrimas nos olhos da minha princesa
foram causadas por você... Se prepare! — Minha mãe fala brava.
— Belle...
— Não! Minha filha tem os mesmo direitos que Donatello e Dylan.
Você não tem o direito de se meter na vida dela, ela também tem o direito de
namorar, tem o direito de encontrar alguém. Não seja hipócrita Willians, e
não venha jogar de possessivo para cima de mim, ou começar com a
historinha da Yza ser sua princesa! Ela já é adulta porra. — Minha mãe fala
revoltada.
— Acho muito justo e, já deixei minha opinião sobre esse assunto
antes. Se vocês estão felizes, por que ela não pode ser também? Acho lindo
que vocês sintam ciúmes dela, e queiram cuidar da sua segurança. Mas as
vezes esses cuidados extrapolam! — Katrisca diz brava.
— Tia pincesa! Muitão legal essa boneca, ela tem batom, maquiagem
e tesoura pala cota o cabelinho dela. Pode cota o meu também? — Luna
entra na sala toda animada.
— Nada de cortar o seu cabelo fadinha. — Dylan responde ela.
— Meu-meu é muito obséquio nessa vida toda! É só um pipinho meu
vidinha... Óh! —Ela para de falar quando vê o Gael ao meu lado.
Ela deita a cabecinha de lado, e olha para Gael séria. Ela o analisa
inteiro e ele se mexe sem graça com a inspeção que a Luna está fazendo, mas
acaba sorrindo meio sem graça.
Ela abre um dos seus maiores sorrisos e caminha em sua direção.
Todos ficamos em silêncio, completamente compenetrados em sua reação.
— Você chegou! Demolo um tantão da vida toda hem? Igual ao meu
vidinha sabia? Meu nome é Luna e o seu? — Luna pergunta segurando o
rosto do Gael.
— Olá Luna, você é muito bonita. Eu me chamo Gael, mas não
entendi. Você estava me esperando? — Ele pergunta confuso e olha pra mim
em busca de alguma coisa.
— Lógico que eu tavu! O meu amigo falou que você já ia chegar, e
demolo a vida toda. Cadê a minha piminha gande? Você já salvou ela? Posso
binca com ela sabia? Eu tenho um monte de binquedo legal, e eu tenho um
au-au a pincesa Tiana. Na casa do meu vovô eu tenho dois coelhinhos, e uma
jadim de balatinhas, mas não conta pala a minha vovó linda tá? Ela tem
medo aquedita?
— É... Quem é seu amigo? — Ele pergunta confuso.
Luna sobe no meu colo já que estou sentada no braço do sofá ao lado
de Gael. Luna cruzas as perninhas, e segurando o rosto do juiz, ela o vira em
sua direção.
— O papai do céu ué! Ele é meu amigão, um pipinho fofoqueiro,
maisi ele é bonzinho não é? Maisi você não falou da minha pima gande! O
meu amigo falou que você ia salva ela do homem mau, e ela ia ser a minha
melhor amiguinha. Você já salvou ela do homem mau? Eu e a minha mamãe
também tinha um homem mau, mas o meu vidinha salvou nós duas! Muito
meu vidinha ele. — Luna fala e manda beijos para mim.
— Eu acho que o seu amigo se enganou meu bem. Eu não tenho filha,
e nem salvei ninguém. — Diz Gael desnorteado.
— Tão bobinho esse pincipe desenhado. Eu não tenho dodói, sela que
eu posso fazer desenho igual o seu? Poque o papai do céu que é meu amigo
disse, que você é todinho rabiscado pala esconde seus dodói. — Assim que a
Luna fala, vejo Gael ficando branco na hora.
Olho assustada para Luna, impactada com o que ela acabou de falar.
Impossível ela saber disso, não contei isso para ninguém. Eu mesma só fiquei
sabendo quase agora. A mão do Gael que está na minha cintura fica gelada e
eu olho para ele preocupada.
— Vem aqui no meu colo fadinha, ele está sentido sua falta. — Dylan
chama Luna para o seu colo, tirando a atenção dela de Gael.
— Muitão poxessivo esse meu vidinha viu! Mamãe, tem que fala pala
o meu vidinha, que ele tem que dividi euzinha! Não pode não Meu-meu.
Maisi eu vou no colinho pala ele não ficar tiste!
— De quem é essa fadinha? — Meu irmão distrai a Luna.
— Sua não é? Maisi tem que dividir eu meu vidinha. Não pode se
poxessivo não! Mamãe fala pala o nosso vidinha, que euzinha não tenho
estutula de obséquio.
— Dylan, a fadinha não tem estutula. Então não pode ser possessivo,
OK? — Katrisca repete rindo.
— Muito meu amô essa mamãe!
Todos riem, até mesmo Gael ri, mesmo estando um pouco abalado
com que a Luna falou.
— Gael, nós iremos fazer um churrasco na casa do meu filho Dylan,
você nos acompanha? — Minha mãe o convida.
— Lógico que sim, mas só se não for incomodar.
— Não será incomodo nenhum Gael. Nós vamos embora, para
terminar as coisas e os meninos vão ao mercado. Yza sabe o caminho. —
Katrisca fala.
Todos se encaminham para porta, mas Dylan é um dos últimos a sair.
— Desculpas princesa, não queria fazê-la chorar. Só estava
preocupado com você, mas pelo visto você está em boas mãos. — Dylan fala
e beija minha testa.
— Desculpa ter surtado irmãozão, é só que ele me trata bem, cuida e
me mima. Estou realmente gostando de alguém, só quero que tudo dê certo.
Sem ninguém se interferir. — Falo sinceramente o abraçando.
— Ui essa doeu! Eu te amo princesa. — Ele diz e segue todo mundo.
Eu fecho a porta, e encosto minha cabeça nela respirando fundo.
Sinto minha garganta arranhando, de tanto segurar o choro. Eu estou
gostando tanto do Gael, que não quero que nada saia errado. Braços rodeiam
minha cintura, e me segura fortemente. A sensação que tenho e que esse é o
meu lugar, nos braços dele é aonde eu pertenço.

Uma dor imensa me atinge quando vejo a minha menina chorando.


Não quis faltar com respeito com o pai e os irmãos dela, mas foi
impossível segurar a minha reação. Quando entrei no apartamento da Yza e
vi seus olhos cheios de lagrimas, confesso que a minha vontade era de matar
o culpado. Mesmo depois de saber que os causadores, foram seus irmãos e
pai, ainda senti raiva.
Vê-la chorando me causou uma dor inexplicável, cada gota que
escorria por seu rosto de boneca, era uma facada em meu peito. Não sei
explicar com palavras o que sinto por ela, só sei que é forte, poderoso,
intenso, enlouquecedor. Estar longe dela, mesmo que se seja por alguns
minutos me deixa agoniado, como se ela pudesse sumir a qualquer momento.
Desde que nos encontramos em meu gabinete, nos tornamos
inseparáveis. Tem duas semanas que não durmo mais sozinho, duas semanas
que não tenho pesadelos, duas semanas que sou um outro homem. Nunca
pensei que seria assim, nunca quis nada sério com ninguém. Mas com ela?
Com ela eu quero tudo, quero ser dono de todos os seus pensamentos, quero
ser o homem que vai realizar todos os seus desejos, quero cada sorriso seu,
cada suspiro.
Quero tudo para mim!
Gostei da preocupação de seus irmãos para com ela, mas agora que eu
cheguei essa é minha obrigação. Eu estou completamente encantado por ela,
Yza é a alegria em pessoa! Ela ri de coisas bobas, e chora até em comerciais
de margarina. (exagerei aqui) Ela é tão vivaz, leal, amiga, carinhosa, e um
furacão na cama. Tão novinha mas tão experiente, que minha vontade é de
matar todos os homens que já tocaram no que é meu! Conhecer sua família
foi incrível. Sua mãe é uma delícia de se ter por perto, tão alto astral, alegre,
feliz, completamente insana. Minha Sweet é tão parecida com ela.
Mas a pessoa que mais me encantou e me amedrontou, foi a pequena
Luna. Ela é dona de uma intensidade tão grande, que é impossível não se
encantar. Ela disse coisas que me deixaram abismado e muito surpreso, ela
cismou em falar em uma prima grande que se eu não estiver enganado, ela
acha que é minha filha. Mas eu não tenho filha nenhuma, ela disse que eu
salvaria a tal prima grande de um homem mau. Tento puxar pela memória,
sobre algum caso meu em particular, mas não consigo lembrar de nada.
Por dia atendo em média a dez, doze casos. E mesmo me empenhando
em todos, fica meio impossível de gravar na memória.
Mas o que me deixou mexido e mais impactado foi ela ter falado das
minhas tatuagens. Ninguém além de mim e da minha mãe, sabem a
verdadeira história por detrás de cada uma delas. Já frequentei vários
psicólogos, fiz tratamento com psiquiatras, mas nunca conseguir contar o real
motivo delas a ninguém. Como também nunca ninguém conseguiu com que
eu parasse de ter pesadelos, somente minha Sweet.
Tê-la em meus braços, aplaca toda a dor que eu carrego dentro de
mim, toda magoa desaparece quando a tenho ao meu lado. Nunca fui um
homem romântico, nunca namorei, nunca tive sonhos de ter uma família. Mas
com ela, depois dela ter aparecido em minha vida, eu passei a desejar cada
uma dessas coisas. Já consigo imagina-la vestida de noiva, gravida de um
filho meu, consigo imaginar a casa cheia de crianças, ela sentada em uma
poltrona amamentando meu filho. São vontades que nunca tive antes, mas
depois que eu a encontrei, é tudo o que mais quero na vida.
Nesse momento estamos indo para a casa do seu irmão, depois de ter
passado em minha casa para trocar de roupa e deixar um recado para a minha
mãe.
Minha mãe... Ela irá adorar conhecer a minha Sweet. Ficará
extremamente feliz, por eu ter finalmente encontrado minha outra metade, E
é isso que a Yza Reed é para mim.
Minha outra metade!
Estaciono meu carro na entrada da casa de Dylan Reed. Eu saio do
carro para abrir a porta para Yza, mas ela sai antes que eu consiga mostrar
que sou um cavalheiro.
— Sweet, você tem que esperar que eu abra a porta para você. — Falo
chateado.
— Por favor Gael! Deixa de bobeira, não sou essas mocinhas de filme
meloso. — Ela diz rindo, pulando no meu colo.
— Eu sei que você não é, mas quero trata-la como uma princesa. —
Falo beijando seus lábios.
— Tudo bem senhor meritíssimo! Agora vamos entrar, estou faminta.
— Ela me beija rapidamente e desce do meu colo.
Yza entra na casa sem nem tocar a campainha. Ela sai entrando como
se a casa fosse dela, e deve ser mesmo pois pelo que eu pude ver, eles a
tratam como a princesinha.
Princesinha Reed... Logo será D'Ávila.
Encontramos todos reunidos no quintal, Todos nos cumprimentam e
quando dou por mim, já estou com uma cerveja nas mãos e conversando com
Dylan como se fossemos amigos de infância. Eles são uma família muito
engraçada, pude constatar que Dylan também é tão controlador quanto eu.
Mesmo entretido na conversa, seu olhos nunca deixavam a sua mulher. Pelo
que percebi, Luna é a rainha da atenção. Ela é uma criança encantadora, meio
falastrona, mas encantadora. Ela com seu jeitinho meigo, tem todos os Reeds
enrolada em seu mindinho, basta um sorriso e um piscar de olhos e, ela
consegue o que quer. Desde que eu cheguei ela já conseguiu; um dia na
manicure, uma passeio no parquinho, um pato e a promessa que amanhã
buscariam o seu gatinho.
É incrível poder ver uma criança feliz, sem traumas, rodeada de amor.
Eu acho que toda criança tem que viver assim, feliz, sem medo, e sabendo
que é amada.
Dylan volta seu olhar para mim, e vê meu sorriso enquanto olho para
Luna deitada no chão, brincando com a cachorrinha.
— Olhando assim, nem parece que já sofreu tanto né? — Dylan me
pergunta.
— Oque? Como assim sofreu?
— Katrisca sofria violência doméstica do seu antigo namorado, pai da
Luna. A Luna também sofreu muito nas mãos do desgraçado, até pouco
tempo atrás ela sofria tendo pesadelos com ele. — Dylan fala sério e posso
ver o ódio em seus olhos.
— Agora que liguei o nome à pessoa, desculpe Dylan. Não sou de
trazer o trabalho para fora do fórum. Donatello me deixou a pasta contendo o
caso da sua mulher. Eu já estou trabalhando nele e minha amiga que é
promotora está me ajudando. Confesso que jamais imaginaria que essa
menina tenha sofrido algum mal. Ela é tão alegre, feliz, e jurava que ela era
sua filha.
— Ela é minha filha Gael, pai não é aquele quem faz, mas sim aquele
quem cria e que dá amor. — Ele fala me olhando seriamente nos olhos.
— Desculpa Dylan, não quis te chatear. O que quis dizer é que eu
pensei que ela era sua filha, justamente por ver tanto amor entre vocês dois. É
como se vocês tivessem algum tipo de ligação entende?
— Não tem por que se desculpar Gael. Sou meio sensível quando o
assunto são as minhas meninas. Elas já sofreram muito nessa vida, Katrisca
carrega marcas até hoje. Tanto no corpo, quanto na alma, sei que aqui você
não é o Juiz, mas quero agradece-lo por sua ajuda, só assim minha mulher
poderá se ver livre daquele encosto.
— Não precisa me agradecer Dylan. Eu tenho os meu motivos para
lutar por esse tipo de causa, e posso te garantir que esse homem nunca mais
chegará perto da suas meninas. Eu te dou a minha palavra que irei ajudar o
máximo que conseguir.
— Obrigado.
A tarde passa voando e me divirto muito com a família Reed. As
crises de ciúmes do pai da Yza são hilárias, Belle Reed é fora do comum e
posso ver muito dela na minha Sweet, é uma menina no corpo de mulher. Ela
rola na grama com a Luna, corre atrás dela pelo quintal, brinca com a
cachorrinha. Yza se cansa de toda algazarra e vem se deitar em meu colo.
Olho para cima, para encontrar o olhar contrariado de Willians em minha
direção.
— Estou morta meritíssimo! —Yza fala sorrindo se jogando em meus
braços.
— Posso ver Sweet, você não parou um minuto e mal tocou na
comida. Quer que eu faça um prato para você? — Pergunto alisando seu
rosto.
— Todo esse exercício me deu fome, mas pode deixar que eu mesma
me sirvo excelência! — Fala me dando um beijo no rosto e se levantando.
Ela faz seu prato e volta a sentar em meu colo, para o desgosto do seu
pai. De repente Luna chega com três canetas na mão e me entrega.
— Pincipe pode fazer um rabisco igual o seu? Peguei as canetinhas
do meu vidinha, ele não biga não poque eu sou a fadinha dele. Ele é muito
poxessivo com euzinha, ele até biga com o meu anjinho, o meu vidinha é
muitão de obséquio, nem tenho estutula aquedita? — Luna fala uma coisa
atrás da outra, me deixando completamente zonzo.
Eu olho perdido para Yza, que está tentando segurar o riso. Eu olho
para Dylan e em seguida para Katrisca, mãe dessa menina esperta. E ela
acena com a cabeça, permitindo que eu faça o que a Luna quer.
— Me levantarei do seu colo meu caro meritíssimo. — Yza diz rindo.
— Não! Quer dizer, você ficará sentada aqui do meu lado. Quero ver
se vai comer tudo Sweet.
— Sim senhor excelência! — Fala Yza rindo, saindo do meu colo
para se sentar ao meu lado.
Espero ela se acomodar ao meu lado e, só então volto minha atenção
para a pequena arteira.
— Pois bem senhorita, qual desenho você quer fazer? — Pergunto
para a pequena.
— Muitão melitissimo esse pincipe não é? Eu quelo um cavalinho e
um molango, poque eu amo molango. E depois eu quelo um colação e um
coelhinho da pascoa. Aaaah e uma flozinha com uma balatinha nela, poque a
balatinha é minha amiguinha, maisi não conta pala a vovó linda tá?
— Você é bem exigente, não? Mas tudo bem, vou tentar desenhar isso
tudo ai que você quer. — Falo rindo.
Essa menina é um verdadeiro balsamo para a alma, tão feliz e
carinhosa. Pego o seu bracinho minúsculo e começo desenhando um cavalo, a
sorte dela é que eu adoro desenhar. A maioria das minhas tatuagens são
desenhos de minha própria criação. Fico mais ou menos uns vinte minutos
desenhando, faço um mini roseiral em um braço, vários morangos em sua
mãozinha e um cavalo em seu ombro. No meio das rosas, desenho um par de
orelhas de coelho, fazendo parecer que ele está escondido em meios as rosas.
Quando eu termino, percebo o silêncio que reinou no local e quando olho
para cima, vejo todos nos olhando.
— O que? — Pergunto envergonhado.
— Você desenha maravilhosamente bem Gael! Olha para esses
traços! — Belle diz maravilhada.
— Eu gosto de desenhar, era a única coisa que me acalmava quando
eu... Quando eu estava na faculdade, em semana de provas. Quando estou
muito estressado, eu pego meu caderno e desenho, ajuda a relaxar.
— Olha meu vidinha! To muitão linda de excelência não é? Olha os
meus molanguinhos bem vemelhinho, dá até uma vontade de lambe eles!
Olha o meu cavalinho! Muito lindo da vida toda, to muitão chique de
excelência da vida toda. —Luna diz batendo palma.
Acho que ela gostou da palavra excelência, pois não para de repetir.
Dylan ri enquanto a pega no colo.
— Só você fadinha, para encaixar excelência em tudo o que é frase!
Está muito lindo os seus desenhos, mas não pode lamber não ok? Se não vai
apagar os desenhos lindo que o Gael fez,
— Apagar? Mas a do pincipe não apaga meu vidinha!
— Por que as dele são tatuagens meu amor, e tatuagens são
permanentes. E só gente grande que pode fazer. — Dylan explica e ela me
olha muito séria, já até posso imaginar o que ela vai dizer. Essa menina é
terrível!
— Então quando eu for gande eu vou fazer um montão de tatuagem!
Ponto só sei disso, vou fica linda de chique, muito chique de excelência da
vida toda!
— Mas não vai mesmo! Você não vai fazer tatuagem nenhuma, por
que é meu neném, minha fadinha da vida toda, e neném não pode fazer
tatuagem e nem namorar! — Dylan fala sério e a minha vontade é de
gargalhar alto.
— Maisi eu vou se gande Meu-meu, e vô fazer tatuagem sim. Não
pode se poxessivo não, euzinha vou quece e se medica de bichinho, e namola
um namolado cheio de tatuagem igual o pincipe da tia pincesa! E ter um
pinceso ponto falei. — Luna ala emburrada.
— Olha o que você fez Yza! Tudo culpa sua, quem mandou você
arrumar um namorado que mais parece um gibi ambulante? Você está
proibida de ficar com a minha fadinha! — Dylan fala revoltado e todos ao
redor caem na gargalhada, inclusive eu mesmo. — Luna você é meu
bebezinho, o meu amor da vida todinha. Não pode namorar não, meninos são
nojento, tem piolhos, você não pode abandonar o seu vidinha não é? O papai
do céu me deu pra você, por isso eu sou o seu Meu-meu duas vezes!
KATRISCA, ME AJUDA AQUI BABY!
Eu não aguento mais rir na vida, essa família é muito doida. Yza volta
para o meu colo e eu escondo meu rosto em seu pescoço, tentando controlar
meu riso.
— Não chora fadinha... Vamos pedir para mamãe o seu princeso?
Então para de chorar, O pai, me ajuda aqui! — Dylan pede em desespero.
Coitada dessa menina, se com a irmã ele já é ciumento, imagine com
essa fadinha?
Vai ser pura diversão ver essa menina crescer!
No comecinho da noite, voltamos para o apartamento da Yza.
Acabamos por cancelar o barzinho, e ficamos em casa curtindo um ao outro.
Pedimos uma pizza, e vou buscar um bolo de chocolate para ela. Enquanto
espero ser atendido, presto atenção na televisão onde está passando o
noticiário. Uma jovem de vinte e quatro anos, foi encontrada morta na beira
da rodovia. Seu corpo apresentava marcas de abuso, o repórter diz que tudo
leva a crer que a jovem foi torturada e estuprada.
— Posso ajudar senhor? — A atendente pergunta.
— Desculpa estava distraído. Eu quero um bolo avalanche de
chocolate. — Faço o meu pedido e volto a prestar atenção na televisão.
Agora está passando o depoimento dos familiares, e é triste ver uma
mãe sofrendo a perda de um filho. Ainda mais de forma tão grotesca como a
dessa jovem. O repórter volta a falar e ao fundo a imagem da garota que foi
morta.
Puta que pariu! Se eu não soubesse que a minha Sweet é filha única,
diria que se tratava de uma irmã gêmea. Elas são muito parecidas! O repórter
diz saber de fontes seguras, que esse não é o primeiro corpo a aparecer nas
redondezas de Campinas.
Eu pago pela minha encomenda, e vou pra casa. A imagem da menina
não me sai do pensamento.
Aonde esse mundo vai parar!?
Tanta gente morrendo, tanto desamor.
O que leva uma pessoa a fazer isso? Assassinar uma pessoa sem mais
nem menos? Sem se quer se importar como ficará sua família depois.
Dizer que estou encantado é pouco. Eu estou completamente
enfeitiçado.
A cada dia que passa, conheço um pouco mais da minha Sweet. A
cada dia descubro o quão maravilhosa a minha menina mulher é. Ela é um
verdadeiro desastre da natureza, é totalmente independente e um caos na
cozinha.
A duas semanas atrás, ela cismou que iria preparar um jantar para
mim. Se vestiu como uma dona de casa dos filmes americanos, saia
rodadinha, salto alto, até mesmo um lenço ela tinha no cabelo. Quando eu
cheguei, senti um cheiro gostoso de alho e cebola no ar, assim que entrei na
cozinha, não sabia se ria ou se eu agarrava e comia ela no jantar.
Ela toda linda, tirou meu paletó e me serviu uma cerveja gelada. Disse
que estava fazendo um frango assado recheado, legumes na manteiga e arroz
branco. Eu amei o cardápio, nada muito pesado. Mas enquanto fui tomar um
banho alguma coisa deu errado, um cheiro forte de queimado se apoderou do
apartamento. Palavrões vinham da cozinha, e um grito surge vindo de lá
também.
— O que foi Sweet!? — Pergunto correndo para o lado dela.
— É um cu ser dona de casa! Esqueci de abaixar a temperatura do
forno, e o frango torrou. Os legumes cozinharam demais e o arroz ficou cru.
— Ela diz chateada.
Eu seguro o riso, e desligo o forno.
— Sweet, você sabe cozinhar?
— Sei! Lógico que eu sei. Só nunca fiz esse tipo de comida.
— E por que você não cozinhou uma das coisas que sabe fazer? —
Pergunto curioso.
— Queria fazer uma coisa diferente pra você. — Ela diz fazendo bico.
— Não precisa princesa. Você trabalha o dia inteiro e ainda chega e
quer fazer o jantar? No próximo final de semana vou te ensinar a fazer esse
frango assado.
Só de lembrar desse dia, me faz sorrir feito um idiota.
Meus dias mudaram completamente, antes eu voltava para uma casa
vazia e silenciosa. Agora eu tenho ela para alegrar meus dias e enlouquecer
minhas noites.
Hoje fiquei de ir direto para a casa dos pais dela, ela levou uma
mochila com algumas peças de roupas minhas. Estamos praticamente
morando junto, se eu não durmo na casa dela, ela está dormindo na minha.
Tem coisas minha lá e dela aqui. Por mim ela já teria mudado para a minha
casa, mas ela cisma em se iludir dizendo que estamos namorando!
Hoje ficarei até mais tarde estudando dois casos difíceis. Um pai
omisso, uma mãe cansada, e uma menininha com uma doença rara. Outro é
sobre uma mãe drogada que fugiu com o filho, e uma família desesperada
querendo obter a guarda. Em ambos os casos, tenho que estudar
minuciosamente os dois lados. Visando exclusivamente o bem-estar da
criança. Estou perdido em meio aos papéis, quando meu celular toca. O
número não está salvo e isso me deixa curioso
— D'Ávila. — Atendo prontamente.
— Desculpa te perturbar Gael, aqui é a Katrisca Ornellas. Cunhada da
Yza. —A mulher do Dylan se identifica.
— Boa noite Katrisca, aconteceu alguma coisa? Minha Yza está bem?
A Luna? —Pergunto preocupado.
Ela conta o que aconteceu, e quem foi a causadora. Conta que a Luna
está com o braço quebrado e tudo o que menina falou para minha Yza. Eu
ainda me espanto como existe pessoas cruéis, capazes de machucarem uma
criança. Ainda mais uma menina tão amorosa quanto a Luna.
— Então, depois de tudo o que a Luna contou, Yza deu um jeito de
sair sem que nenhum de nós nos déssemos contas. Só ouvimos os pneus
cantando enquanto ela arrancava com o carro. Dylan, Donatello e Willians,
foram atrás dela. Mas Belle e eu achamos que ela não vai escutar os meninos.
— Sweet! Minha garota problema! Eu irei encontrá-la Katrisca, não
se preocupe. Assim que estiver com ela eu te ligarei. Cuida da pequena e diga
que amanhã, levarei uma coisa para deixar o gesso dela bem legal.
— Obrigado Gael.
— Não precisa me agradecer Katrisca. Te contarei uma coisa, mas
tem que me prometer manter segredo. — Falo sério.
— Não contarei, pode ficar tranquilo. — Ela diz curiosa.
— Prometo deixar a Yza bater um pouco nessa tal Felipa!
— Obrigado Gael, mas o que é dessa vadia está guardado. Não me
esquecerei do que ela fez!
— Ok. Mas só para desencargo de consciência... Eu sou Juiz! — Ele
diz rindo.
— Me mantenha informada. Qualquer coisa te aviso.
— Até mais Katrisca, mande um oi para minha sogra. Até mais...
Desligo e fico olhando para o telefone. Procuro pelo número dela, e
faço a ligação. O telefone toca, toca, até cair na caixa postal. Desligo, guardo
a pasta com os casos na minha mala e pego minhas coisas para ir embora.
O que que essa maluca vai fazer? Espero que nada aconteça com ela,
ou essa Felipa vai se ver comigo. Me despeço dos seguranças e vou para o
meu carro. Contínuo tentando ligar para Yza, mas continua caindo na caixa
de mensagem!
Procuro o contato do Donatello e ligo pra ele.
— Alô? — Donatello atende rapidamente.
— Ei Don, Gael falando. A Katrisca me ligou e contou o que
aconteceu. Vocês conseguiram encontra a Yza?
— Essa palhaça tirou o rastreador do carro! Dylan está tentando ligar
no telefone dela. — Ele fala bravo. — Espera Gael... O que? No bar do
Galdino? A Yza tem merda na cabeça porra!? Gael mandarei o endereço por
mensagem, Dylan conseguiu achar a minha irmã. Ela está em um barzinho no
centro.
— Me mande a localização. Valeu Don! — Desligo e mudo a minha
coração.
O que essa menina vai fazer!?
Minutos depois a mensagem chega, e já sei onde minha Sweet esta.
Entro por uma rua para cortar caminho, e me arrependo imediatamente. A rua
está interditada, e o pior, já tem dois carros atrás de mim! Respiro fundo, e
saio do carro para avisar quem está atrás para dar ré. Perco uns vinte minutos
nisso, pois mais carros chegam para terminar de me foder. Nesse meio tempo
Dylan me liga do telefone da irmã, e avisa que já chegou e que as coisas não
estão bonitas. Fico nervoso, e assim que consigo sair do lugar, acelero para
chegar até a minha maluquinha. Quando estou quase chegando, meu telefone
volta a tocar.
— Alô? Dylan estou a três quadras daí. Mais alguns minutos e já
chego. —Falo rapidamente.
— Não quero você aqui Gael. A polícia chegou e não quero que seu
nome esteja ligado ao meu nesse momento. Você é um homem conhecido e
tem um nome a zelar. — Yza fala rispidamente me fazendo ficar com raiva.
— Sweet... Eu quero que meu nome se foda! Tudo o que me importa
é você. Não ligo para o meu nome, meu cargo, não ligo para porra nenhuma,
só você! — Respondo a altura. — Eu já estou chegando ok? Não saia do
lugar Yza Reed, ou essa sua bunda será espancada.
— Yza Reed? — Escuto uma voz de homem falar.
— Preciso desligar Gael. — E assim ela o faz.
Isso me deixa ainda mais nervoso.
Mal estaciono o carro, e já saio correndo para dentro do bar, largando
chave no contato e tudo quando eu vejo viatura e ambulância.
Entro no bar e enlouqueço quando a vejo sendo conduzida pelos
policiais. Ando em direção a eles, e Yza me olha assustada.
— O que está acontecendo aqui!? — Eu pergunto, puxando ela para
os meus braços.
— Meritíssimo? — O policial diz assustado.
— Já está tudo resolvido Gael, eu disse para você não vir aqui! — Ela
tem a coragem de ficar brava!
— Você não manda em mim Sweet. Porque seu rosto está
machucado? — Pergunto tocando seu rosto machucado.
— Acidente de percurso meu bem, agora que você já viu que estou
bem, pode voltar para casa. Vou até a delegacia esclarecer algumas coisas,
Donatello irá me acompanhando. Caso eu não volte, é porque fui presa. Então
você como um Juiz gostosão, que você é, irá liberar visita íntima para mim!
— Fala baixinho, rindo da minha cara de espanto.
— Você está de palhaçada com a minha cara Sweet? Já te aviso que
não gosto de brincadeiras sem graça! E você irá comigo, Donatello nos
encontrará na delegacia.
Nem em uma hora crítica, essa menina deixa de ser maluca. Visita
íntima! Vê se isso é coisa de se dizer.
— Agora sou eu quem digo, Você não manda em mim, Gael! Eu irei
a pé se eu assim decidir, melhor ainda! Policial pode me levar na viatura! —
Ela diz puta.
Ela sai andando na frente, decidida a ir de viatura. Mas não deixo ela
dar nem três passos e a tomo em meus braço e a jogo em cima do meu
ombro, igual um homem das cavernas
— Menininha petulante! — Digo dando um tapa na bunda dela.
Posso escutar os risos dos meus cunhados, e aposto que a Yza está
mostrando o dedo para eles. Eu a coloco sentada no carro, e entro em seguida
nos colocando em direção a delegacia. Olho para ela, e ela sorri como se nada
tivesse acontecido
— Não adianta me olhar com essa carinha de inocente Sweet! Estava
todo mundo procurando por você, todos preocupados. Katrisca me ligou
preocupada. O que você aprontou meu amor? — Pergunto carinhoso.
—- Não fiz nada demais Gael, simplesmente fiz a mesma coisa que
ela fez com a fadinha. — Ela diz dando os ombros. — Lógico que com
alguns hematomas de acréscimo.
— Mas a Luna quebrou o bra... Sweet o que você fez? — Pergunto
assustado.
Ela não pode ter feito o que estou imaginando.
— Eu dei uma surra nela! Ninguém, ouça com a atenção, ninguém
mexe com a minha família Gael. Ela machucou a minha sobrinha, disse
coisas horrorosas para ela. A fadinha tem quatro anos, e está com o braço
quebrado e ela ainda riu ao ver a Luna cheia de dor! Então nada mais justo
que ela ter o braço quebrado também.
— Isso é loucura Yza!
— Eu sou louca Gael, e sou mil vezes pior quando se trata de quem
eu amo. Sou contra a violência, sei tudo pelo que minha cunhada e minha
sobrinha passaram. Felipa mexeu com quem não devia e se algum dia, ela
sonhar em aparecer de novo eu vou presa, mas passo com o carro em cima
dela. — Ela diz revoltada.
— Vamos ver se ela vai prestar queixa contra você. Se ela fizer isso,
Falarei para Donatello entrar com um processo contra ela. — Digo sério,
estacionando em frente à delegacia.
Saímos do carro e ela caminha em direção a porta de entrada do DP,
mas eu a puxo pelos braços forçando ela olhar para mim.
— Prometa que deixará eu e Donatello, falarmos? Não vá dar uma de
super poderosa e falar alguma merda. — Peço beijando sua testa.
— Não irei prometer Gael, pois quebrarei essa promessa. Não sou de
fugir de nada, muito menos das consequências dos meus atos.
— Menininha Petulante!
Entramos na delegacia e encontramos com o policial que estava no
bar.
— Senhorita Reed, o delegado já está a sua espera. O outro policial
foi até o hospital, pegar o depoimento da outra moça. — Ele diz
envergonhado olhando para mim.
— Ela prestará queixa? — Pergunto.
— Até o momento que ela estava sendo socorrida sim.
— Tudo bem, eu entrarei com ela na sala. Donatello Reed já está
chegando. — Aviso ao policial.
O policial nos acompanha até a sala do delegado e eu paro para dar
um recado a ele e Yza entra na sala, mas logo entro atrás dela e ouço.
—- Ora, ora, ora, o que a princesinha dos Reeds aprontou dessa vez?
— Ouço o delegado dizer.
Mas logo seu sorriso morre, quando eu entro na sala também.
— Boa noite Ruan, não irá perguntar o que aprontei também ou essa
recepção é só para a minha mulher?
— Desculpe meritíssimo, é que conheço a Yza desde novinha. —
Ruan diz envergonhado.
— Desculpas aceita, mas que não volte a se repetir. Estamos
esperando o meu cunhado, mas se você quiser adiantar o porquê da minha
mulher estar aqui, sendo que ainda não prestaram queixa, ficarei muito
agradecido.
— A queixa ainda não foi prestada, pois a senhorita precisou ir para o
hospital. Mas ela adiantou para os policiais que foram averiguar a denúncia,
que Yza Reed a agrediu. —Ruan diz sério.
— Ela também disse o porquê de ter sido agredida? —Yza pergunta
debochada.
— Não Yza, ela não disse. — Ele diz sério.
— Ela quebrou o braço da minha sobrinha de quatro anos. Filha do
meu irmão Dylan. — Fala séria.
— Mas isso é grave, Yza! — Ele exclama revoltado, mas para mim
ele está sendo muito forçado.
— Senhora Yza para você Ruan. Vamos manter o protocolo, não é
mesmo. — Falo não gostando nada, nada dessa intimidade.
— Gael! — Yza protesta.
— O que? — Pergunto me fazendo de desentendido.
— Desculpa meritíssimo, não acontecerá novamente. — Diz Ruan
sem graça.
Donatello chega, acompanhado dos dois policiais que estavam no bar.
Eles explicam que a Felipa, preferiu não prestar queixa. Disse que foi um
desentendimento entre primas.
— Bem, nesse caso não tem o porquê minha mulher estar aqui, não é
mesmo delegado?
—- Não meritíssimo, se aparecer alguma novidade eu entrarei em
contato com a senhorita Reed. — Ruan fala olhando para Yza.
Péssima jogada meu caro! Ele quer medir forças comigo? Pois vamos
ver se ele tem cacife pra isso. Me aproximo da mesa do delegado, apoio
minhas duas mãos e olho seriamente para Ruan que engole em seco. Abaixo
minha voz
— Você está engando Ruan. Se aparecer alguma novidade, você
ligará para mim que sou marido dela, ou para Donatello que é advogado da
Família Reed. Menos Senhora Yza, nunca para ela. Estamos entendidos? —
Falo friamente.
— Puta que pariu. — Donatello exclama baixinho.
— Completamente entendido meritíssimo.
— Muito obrigado, Ruan e boa noite.
Seguro a mão da minha Sweet e puxo ela para fora da sala, sem ao
menos dar a chance dela se despedir.
— Seu ogro! — Fala batendo em meu braço.
Eu não respondo e saio de dentro da delegacia com Donatello logo
atrás. Assim que saímos, vejo Dylan e Will encostados no carro do lado de
fora.
— E ai? — Dylan pergunta preocupado.
— Tudo resolvido, a tal Felipa não prestou queixa. — Respondo.
— Gael D'Ávila, me solte agora!
— Fica bem quietinha Sweet, quando chegarmos em casa iremos
conversar! — Fala bravo.
— Eu vou para a casa da minha mãe! — Ela me desafia, mas eu finjo
não escutar.
— Pessoal, boa noite. Nos vemos amanhã na hora do almoço, levarei
Yza e minha mãe como a Belle pediu. Dylan mande um beijo para a Luna e
diga que levarei uma surpresa pra ela. — Falo me despedindo
— Pode deixar Gael, avisarei sim. E vê se coloca um pouco de juízo
nessa desmiolada! — Dylan diz rindo e Yza fica ainda mais puta da vida e
resolve provocá-lo.
— Dylan meu amor, irmãozinho lindo da minha vidinha. De tudo o
que Gael colocará em mim, juízo é a última coisa que se passa na cabeça
dele! Boa noite. —Ela retruca com cara de atentada e sai em direção ao meu
carro.
— Yza Reed! — Dylan grita e caio na risada.
Menina terrível!
Entramos no carro, ela está com a cara emburrada e eu ainda continuo
rindo.
— Agora é só nós dois minha Sweet, minha menininha petulante.
— Você está certinho meu ursão possessivo, agora é só nós dois. —
Fala sorrindo toda diabólica.
Essa mulher ainda vai me enlouquecer! E eu estou ansioso por isso!
Eu estou completamente surpreso com esse furacão que é a minha
Sweet.
Estamos no carro à caminho da minha casa. Eu sei por cima do que
aconteceu, mas eu juro que eu jamais imaginei ter que tirá-la da delegacia.
E o que foi aquele delegado de meia tigela, dando em cima da minha
mulher?
Jesus amado, eu não estou sabendo lidar com essa porra de ciúmes!
Minha vontade era de dar uns bons socos na cara daquele idiota. Mas eu me
segurei, querendo ou não, não pega bem para a minha imagem bater nos
outros. Mesmo que a vontade seja enorme.
Yza está sentada, mas não para quieta um minuto. Ela já mudou a
estação do rádio trezentas vezes, apertou todos os botões que tem no carro,
abriu e fechou milhares de vezes a janela, mas eu sei o que é isso,
"Adrenalina".
Depois que a raiva passa, o pico de adrenalina sobe. Eu sei por que já
passei por isso, quando eu treinava MMA. Depois de uma luta, o sangue
corre mais rápido nas veias. A pessoa não consegue ficar parada, e a minha
Sweet está assim. Mas eu sei o que fazer para acalmá-la.
Quando ela levanta a mão para trocar mais uma vez de rádio, eu a
seguro.
— Não Sweet. Nós já estamos chegando a casa, fica paradinha por
um minuto.
— Então acelera, estou agoniada. Não é fácil ficar trancada dentro do
carro com você excelência, minha vontade é de abrir o seu zíper e provar
você. Estou quente Gael, pegando fogo para ser mais precisa. — Ela diz,
mordendo os lábios.
É impossível não reagir diante de uma declaração dessas. Acelero o
carro e em menos de cinco minutos, estou estacionado o carro na garagem.
Antes mesmo que eu possa tirar o cinto, ela está montada no meu colo. Yza
me agarra como se estivesse sedenta por mim. Eu não a impresso, deixo que
ela fazer o que quiser. Ela me beija com volúpia, mordendo meu lábio
inferior e depois o suga. A única coisa que eu faço é agarrar seus cabelos.
Yza consegue arrancar a minha camiseta, e desce beijando meu pescoço e
deixando pequenas mordidas, me deixando louco. Estar trancado dentro do
carro com ela, me faz lembrar da minha adolescência. Quando eu tinha
encontro com as meninas da faculdade, não era sempre, pois eu estudava
muito. Mas sempre tirava um tempinho para saciar as minhas necessidade.
Ela volta a me beijar, e começa a rebolar no meu colo. Essa garota
está possuída! Muito safada, e eu gosto dela assim, sem vergonha, sem pudor,
que sabe o que quer e não espera ninguém oferecer.
Ela simplesmente vai lá é toma.
Quando ela desce suas delicadas mãos, para o cós da minha calça e
consegue abri-la. Alguém bate na janela do carro, e eu até posso imaginar
quem é.
Minha mãe...
— Está tudo bem ursinho? Fiquei preocupada e vim te esperar, mas
você demorou para descer. Está passando mal neném? — Minha mãe fala,
acabando com a minha dignidade.
— Ursinho? Neném? Pelo amor de Deus Gael, me diz que não é a sua
mãe! — Yza pergunta, escondendo o rosto no meu pescoço.
— A própria meu amor. Por gentileza Sweet, pega a minha camisa?
Depois você sai primeiro, não tenho condições de sair nesse estado.
— Meu Jesus amado, minha nossa senhora das pepecas piscando, ela
tinha que aparecer justo agora? Isso é jeito de conhecer a mãe do boy magia?
Deus! Me leva, nunca te pedi nada!
— Yza! —Grito para chamar a atenção da minha menina maluca.
—- O que cacete!? Ta louco gritando desse jeito? Eu só queria dar
uma sentada brava, uma pentada violenta, sexo selvagem. Mas não, eu vou
conhecer a mãe do meu digníssimo Juiz gostoso.
Ela é completamente fora do normal, descompensada.
— Yza meu amor, minha Sweet, cala a boquinha por favor. Minha
mãe está esperando fora do carro. — Falo tentando segurar o riso.
Menina maluquinha.
Ela abre a porta do carro e sai toda cheia de atitude.
— Prazer senhora, seu filho está... Huuumm... Como eu posso dizer?
Ocupado, então... Marta?
— Olá princesinha Reed! Estava ansiosa para vê-la. Então quer dizer
que você é a Sweet do meu ursão? — Minha mãe diz.
— Mãe! Ursão não. — Falo saindo do carro.
— Está bem neném. —Ela fala rindo.
— Deixa a Martinha ursão. Vamos entrar sogrinha, já chamo assim
por que sou íntima. —Yza diz abraçando minha mãe e caminhando para
dentro.
— Acho que você era o que faltava, na vida do meu ursinho menina.
— Martinha, vamos concordar que seu filho de inho não tem nada!
Agora ursão combina com ele, olha o tamanho desse homem?
— Só para lembrarem vocês duas, eu ainda estou aqui! — Falo
revoltado.
Chegamos na sala e Yza e minha mãe se sentam no sofá e eu sento em
outro.
— Eu fiquei preocupada, primeiro Katrisca me ligou, depois Gael liga
avisando que não iria para casa porque tinha acontecido um problema com a
Sweet dele.
— Aconteceu mesmo Marta. Uma safada machucou a minha fadinha,
agora ela está com o braço quebrado. Tadinha, tão novinha. Você vai
conhecê-la amanhã, tão iluminada aquela menina. — Yza fala.
Percebi que sua família é muito importante pra ela, e que ela e capaz
de tudo para defendê-la.
— Eu a conheço meu bem, a loja da Katrisca fica em frente ao meu
antiquário. E a Luna se tornou minha amiguinha. Essa menina é muito
especial e iluminada, não consigo imaginar que alguém consiga fazer mal a
ela.
— E ela é mãe, tudo bem que ela é um pouquinho doidinha e fala
umas coisas que me deixa arrepiado.
— Verdade! A fadinha diz coisas surpreendentes. Ela cismou que ia
ter um princeso e a Katrisca ficou gravida, só falta ser menino. Ela também
disse que vai ganhar uma prima grande e que será minha filha! —Yza diz
rindo.
Elas conversam animadamente e eu fico imensamente feliz, por minha
duas mulheres está se dando bem. Minha mãe é só sorrisos, seus olhos
brilham contentes.
Minha mãe ficar por mais alguns minutos e depois vai embora.
Assim que eu fecho a porta, Yza já está apenas de calcinha. E puta
que pariu, é a visão mais fantástica que já tive.
— Vai me dar banho ursão? —Ela pergunta.
— Eu juro que quando eu te pegar Yza Reed, você só vai acordar
amanhã!
— Desmaio por pau? A-DO-RO. — Ela diz.
Safada!
A carinha engana. Ela tem o rostinho de princesa, mas a mente?
Safadeza pura.
Quando caminho em sua direção, ela corre para o meu quarto.
Quando eu chego, ela está em pé, em cima da cama. Quando me aproximo,
ela pula para o outro lado.
Ela quer brincar? Então vamos lá!
— O que foi Vossa excelência? Está cansado?
— Cansado? Para você Sweet? Jamais! Estou ponderando de que jeito
irei te pegar.
— Você pensa demais meritíssimo. Quer? — Ela pergunta segurando
os seios e os apertando. — É só vir buscar!
Sem parar de me olhar, ela desliza a calcinha e a joga na minha cara.
Eu pego em minhas mãos e levo ao nariz inalando seu cheiro enlouquecedor.
Mais que depressa, arranco minhas roupas rasgando a camiseta no caminho.
Não me importo, a única coisa que preciso é estar dentro dessa garota agora,
ou morrerei.
Ela olhando meu desespero, sobe em cima da cama e vem
engatinhando até a beirada. Ela me puxa pelo cós da cueca até me ter na sua
frente. Ela passa a língua pela tatuagem que tenho na barriga, ela circula cada
letra com sua língua quente e meu pau pulsa a cada vez que sua língua viaja
pelo meu corpo.
Ela lambe e morde deixando marcas dos seus dentes por onde passa,
eu tento agarrá-la mas ela me impede todas as vezes. Sua mão faceira desliza
minha cueca pelas minha coxas, soltando meu membro da prisão sufocante
em que ele estava.
Ela o agarra com sua mão delicada e sem desviar seus olhos de mim,
desliza sua língua travessa por toda a minha glande. Eu seguro a respiração,
deixando ela me torturar a vontade. É inexplicável a sensação de ter sua boca
em mim, e ela faz tudo olhando em meus olhos. Ela tem o poder de me tirar o
fôlego. Yza me coloca inteiro em sua boca gulosa, ou quase todo e me
masturba com o que sobra.
Eu quebro nosso contato visual quando em êxtase, jogo minha cabeça
para trás, perdido na maravilhosa sensação de tê-la me chupando. Ela é
gulosa e me chupa com ímpeto, acelerando o movimento de sobe e desce. Ela
leva meu pau profundamente até bater em sua garganta, ela geme e a
sensação de vibração que dá me tem derramando meu orgasmo em sua boca.
Eu não consigo refrear e gemo alto. É o melhor boquete que já recebi
na vida, nunca gozei tão rápido como agora. Ela não deixa escapar uma gota
se quer, ela retira meu pau ainda duro de sua boca, e com sua língua
enlouquecedora limpa meu membro, não deixando nenhum vestígio do meu
orgasmo.
Ela olha para mim e sorrindo, lambe os cantos da sua boca.
— Estava muito gostoso ursão. Estou achando que vou querer
Leitinho todo dia!
— Agora é a minha vez, deite na cama Sweet. Quero comer o meu
banquete.
Ela sem pudor nenhum, se deita na cama e abre suas delgadas pernas
para que eu possa apreciar a minha refeição.
E é o que eu faço a noite inteira. Nós vamos dormir com o dia
clareando.

Eu acordo com o telefone tocando, levanto meio desorientada sem


saber onde estou. Só me dou conta, quando vejo meu homem enorme cobrir a
cabeça com o travesseiro resmungando em seu sono.
Minha nossa senhora das pepecas ambulantes, que homem é esse?
Senhor amado!
Levanto da cama e tudo dói, existe partes do meu corpo que eu nem
se quer sabia que existia e que dói também. Vou em direção ao som que me
acordou, visto a camisa do ursão e vou para a sala. Assim que vou me
aproximando do som, o infame do telefone para de tocar. Quando olho, nove
chamadas não atendida e olho o horário. Puta que pariu, já passa do meio dia
cacete. Ligo para a minha mãe, e ela atende no primeiro toque.
— Yza Reed! Se você me disser que ainda está na cama, eu irei te
matar! — Minha mãe grita.
— Desculpa mãe, acordei agora, mas prometo que em meia hora
estou ai.
— Tudo bem, estamos todos preocupados. Os meninos foram buscar
as coisas para o churrasco, não demora boneca e traga esse espetáculo de
homem que é o seu boy! — Ela fala e desliga logo em seguida.
Eu fico olhando para o celular distraída, quando braços fortes me
pegam no colo e me levam para o quarto. Gael me deita na cama e depois
deita ao meu lado, ele nos cobre e fecha os olhos.
— Ursão, precisamos levantar. Minha mãe já ligou brava, já passa do
meio dia.
— Não.
— Então você fica dormindo, que eu chamarei um Uber para me levar
já que meu carro ficou com os meninos.
— Não.
— Gael!
— Sweet, estou morto, caindo de sono. Deixa para irmos mais tarde.
— Estão todos preocupados e minha mãe não dará sossego. Nós
passamos todos os finais de semana lá, e eu não quero perder o almoço.
— Tudo bem Sweet... Mais cinco minutinhos. — Ele diz, me puxando
para os seus braços fortes.
— Meu ursão!
— Sim, seu. Agora fica quietinha e faça um cafuné em mim.
Eu sorrio, ele parece um urso mal humorado. Deixo que ele durma
mais um pouco para ver se seu humor melhora. Quando vejo que ele voltou a
dormir, me levanto e vou em busca das minhas roupas, fuço na gaveta do
Gael e pego uma cueca que em mim mais parece um shorts, e vou tomar um
banho. Quando eu chegar lá, só trocarei de roupa.
Nem cinco minutos no banho, um urso ranzinza entra com tudo no
chuveiro.
— Você me deixou sozinho na cama! Estou falando sério Sweet, vou
te amarrar nela se esse for o único jeito de acordar com você. — Ele fala
chateado.
— Gael, você fica um saco quando acorda cedo! Deus me livre. Estão
todos nos esperando em casa, e ainda temos que buscar sua mãe. Aliás onde
ela mora?
— Ela mora aqui no condomínio mesmo. Depois do banho, vou ligar
para ela. Quando estivermos indo, tenho que fazer uma parada antes de ir
para os seus pais.
Tomamos banhos juntos, quer dizer, ele me deu banho. O homem não
consegue afastar as mãos de mim.
— Ontem não conversamos direito, mas quero saber o que aconteceu
Sweet. — Ele pergunta, enquanto nos enrolamos na toalha.
— O que aconteceu Gael, foi que coloquei aquela vadia no lugar dela.
Ninguém mexe com a minha família, ou com quem eu amo. Ela machucou a
minha sobrinha, tudo por que é uma recalcada fodida, que não aceita que meu
irmão nunca vai querer ela. Eu só fiz com ela, o que ela fez com a Luna só
que com alguns acréscimos.
— Yza, você quebrou o braço da garota. Violência não é paga com
violência, sei que você ficou chateada e juro que te entendo. Eu odeio
violência contra crianças e foi justamente por isso que me tornei juiz,
nenhuma criança merece ser maltratada. Você tem o pavio curto, e não tiro
sua razão. Só que agora estamos de mãos atadas, como vamos processá-la? E
ainda por cima você pode responder por agressão!
— Caguei! Está com dó dela? Então faça companhia a ela e meu pai!
Eu quero que se foda todo mundo, e se ela aparecer na minha frente eu mato
ela.
Saio andando para sala, ou tentei por que o homem das cavernas me
pega feito um saco de batata e me joga na cama.
— Vou falar a primeira e última vez Yza. Não me interessa os outros,
tudo o que me importa é você, e sua segurança. Sua família é importante para
você? Então ela se torna para mim também, só que não gosto de
inconsequência Sweet. Não gosto de nada que possa te afastar de mim. Foi
foda o que a sua prima fez? Com toda certeza. Ela mereceu o que teve, só que
agir impulsivamente nem sempre é a coisa certa. Eu amo que você seja assim,
adoro ver como você fica quando fala da sua família, mas não gosto quando
você se irrita e quer jogar tudo pro alto e foda-se os outros.
— Não é assim...
— É assim sim! Só porque não concordei com você, você saiu toda
esquentadinha. Você esnobou seu pai ontem, sem nem querer saber o porquê
dele agir daquele jeito. Você tem que aprender que o mundo não gira ao redor
do seu umbigo, que nem sempre nossas opiniões serão iguais. Discordar faz
parte Sweet, e não é por isso que deixaremos de gostar um do outro. Você
entende?
— Ele a defendeu! Eu sou a filha dele, e ele ficou do lado dela.
Isso foi o que mais me magoou. Ele se preocupou com ela, mesmo
sabendo o que ela fez com a fadinha.
— Ele não a defendeu Sweet! Você vê por esse lado, por que ele
sempre fez tudo o que você quis. Por você ser a princesinha dele. Ele te
parou, para você não se prejudicar Yza. Se ela resolver levar a frente e te
processar, ela tem provas e testemunhas. Você pode não se importar, mas ele
se importa. Na realidade todos nós fazemos isso.
— Não pensei por esse lado.
— Não pensou por que é uma menininha mimada, que quer tudo do
seu jeito. Nem sempre será assim, e não é por isso que o sentimento mudará.
— Eu não sou mimada! Eu dou um duro do caralho, trabalho todos os
dias para provar que eu sou capaz!
— E eu me orgulho muito disso Sweet. Mas você é mimada, e a Luna
será igual! —Gael fala rindo.
— O que você está fazendo com a menininha mimada?
— Vou te dar umas palmadas Yza Reed!
— Isso seria um castigo? Por que vou te dizer... Eu adoro.
— Eu sei que você gosta, agora vamos. Tenho que passar naquela
galeria que tem perto do shopping.
— O que você vai comprar ursão?
— Uma surpresa para Luna. E promete que não vai me chamar de
ursão, na frente da sua família? Já basta a Luna me chamando de príncipe
rabiscado!
— Meu ursão rabiscado! — Falo rindo.
Ele me agarra novamente e me joga em seu ombro. Ele pega uma
garrafa de suco na geladeira, e sai para o estacionamento. Ele mal me deixa
pegar minha bolsa, só a pega depois de muita briga. Assim que me coloca no
carro, ele liga para a mãe dele e ela já está nos esperando na portaria.
Passamos a bendita galeria e ele desce do carro sozinho, enquanto
fico conversando com a sua mãe. Marta é um amor, e eu penso em como o
mundo é pequeno! Conheço Marta a alguns anos, ela é um amor, mas seus
olhos são um pouco triste. Foi a primeira coisa que me chamou a atenção
nela.
Quem diria que euzinha iria encontrar o seu filho!
Gael volta com uma sacola enorme e coloca no porta malas. Assim
que ele entra, eu e Marta perguntamos o que ele comprou.
— É presente para Luna suas curiosas.
— E depois eu que sou a mimada! A Luna será pior que eu, ela tem
meus irmãos, meus pais, eu, Lila e agora você!
— Curiosa!
Vamos em direção a casa dos meus pais. Estou curiosas com duas
coisas.
A primeira é como será a minha reação, quando eu ver meu pai. E a
outra? É saber o que ele comprou pra Luna!
Final de semana perfeito com a família toda reunida. Ter meu ursão e
minha sogra (é minha sogra e ponto) foi perfeito.
Mas mais perfeito ainda é ter feito as pazes com o meu pai. Eu sei que
sou mimada, tenho um gênio difícil, principalmente quando estou nervosa.
Mas o que eu posso fazer, todas as suas atitudes diziam que ele estava do
lado daquela maldita. Ouvir sua conversa com os meninos, foi o que faltava
para eu me desculpar com ele.
A história que a minha mãe contou é foda, mas eu não a culpo por
agir e matar a louca que roubou meu irmão. Se eu fosse mãe faria o mesmo,
se pelos meus irmãos eu sou capaz de tudo, imagine por um filho!?
Por falar em filhos, ver o Gael todo cuidadoso, super atencioso com a
Luna, vou confessar que o útero chega coçou para ter um ursinho. Ele será
um pai incrível, a paciência dele merece um troféu. Ele comprou um kit de
pintura para Luna, e pintou seu gesso de rosa e fez vários desenhos. Foi lindo
ver o cuidado dele com o braço da Luna, a preocupação de fazer um
momento que foi trágico e traumático, se transformar em uma coisa incrível
foi lindo.
Sua voz grossa falando calmamente com a fadinha, seu sorriso feliz
ao pintar o gesso dela, as histórias engraçadas que ele contava só para mantê-
la entretida foi lindo demais. Isso só mostra o tipo de homem que ele é, que
mesmo tendo sofrido tanto na infância, ainda é capaz de demonstrar amor e
carinho pelo próximo. Fora o seu caráter que é fora de série! O trabalho dele
é magnifico e a razão para fazê-lo também. Mas mexe muito com o lado
emocional dele, eu não aguentaria ver diariamente casos de abuso infantil,
sem querer matar alguém. Ele é firme, decidido, e faz valer sua fama de mau,
mas quando chega em casa... Quando ele chega, se tranca no banheiro e é
embaixo do chuveiro que ele deixa toda a angústia sair em forma de choro.
Ele não tem medo de demonstrar suas aflições, de desabar no choro.
Gael é um verdadeiro urso, aparência assustadora por fora, mas delicado por
dentro. Ele é um ótimo filho, sempre preocupado com a mãe. Gael morre de
ciúmes da Marta, não pode ver nenhum homem chegar perto que ele já quer
surtar.
Ele é um ótimo namorido (Pois é, esse é o nosso status já que estamos
praticamente morando juntos). Gael é um príncipe me trata super bem,
cuidadoso, carinhoso, preocupado. Me liga para ver se já almocei, se estou
com alguma dor ele só falta me pegar no colo e levar pro hospital. Eu não me
arrependo por estar nos dando uma chance, não me arrependo de me entregar
de cabeça nesse sentimento tão arrebatador que existe entre nós.
Hoje é segunda-feira, Gael tem uma audiência complicada. Então
acordo mais cedo e preparo um café da manhã generoso, pois sei que ele não
irá almoçar tão cedo. Até preparo a gororoba que ele toma todos os dias de
manhã.
Deus me livre! É vitamina, é suco detox, é Granola, é semente disso,
semente daquilo, Quinoa e mais um monte de merda fitness. É até engraçado
de ver a mesa, um lado pura saúde com tudo fitness. Do outro pura gulodice,
pão de queijo, presunto, requeijão, bolo e o caralho a quatro!
Quando tudo está pronto, me viro para ir no quarto acordar o meu
meritíssimo e o vejo encostado na entrada da cozinha. Se existe homem mais
gostoso que o meu, eu desconheço Brasil! Gael está vestindo uma calça
social preta com o botão aberto, mostrando o cós da sua cueca boxe, sem
camisa e descalço. Seus cabelos estão molhados do recente banho que tomou,
e o seu perfume gostoso exala pela cozinha.
— Bom dia Meritíssimo! O café está servido. — Faço uma reverência
e caio na risada.
— Bom dia minha Sweet! Você não perde a mania de me deixar
sozinho na cama. — Ele diz sério.
— Mas foi por uma grande causa. Estava preparando o café do meu
homem! Sei que seu dia será corrido, e que não terá tempo de almoçar direito.
Então preparei um café da manhã completo pra você Ursão.
— Eu ainda prefiro você como a minha primeira refeição do dia.
— Gael! — Protesto.
Esse homem sabe como me deixar envergonhada. Ele é totalmente
aberto quando o assunto é sexo. Gosta de falar coisas no duplo sentido,
piadinha infames como essa que ele acabou de dizer.
— O que? Só estava sendo sincero. Mas obrigado meu amor, por esse
lindo café da manhã. Não precisa ter todo esse trabalho, assim ficarei mimado
e vou querer todos os dias.
— Você cuida de mim e eu cuido de você. Não é assim? Agora vamos
comer!
Eu me sento na cadeira e ele fica olhando pra mim, depois pra cadeira
dele. Não contente, ele arrasta a cadeira para o meio da mesa e me pega no
colo e, assim ficamos no meio da mesa onde tudo está dividido.
— Assim está melhor!
E assim que eu tomo meu café da manhã, sentada em seu colo
desfrutando do nosso momento de sossego. Depois que acabamos, ele fica
limpando a cozinha e eu vou tomar banho. Minutos depois, quando eu estou
me maquiando ele entra no quarto para terminar de se vestir.
E eu tenho que confessar uma coisa.
Se esse homem de cueca é um pecado, imaginem ele de terno e
gravata! É a porra de um sonho erótico. Eu paro de me maquiar e começo a
praticar dois dos sete pecados capitais.
A gula e a luxúria!
Na minha imaginação tenho a cena toda montada. Imagino ele
entrando em sua sala, todo sério e compenetrado e eu estarei escondida
embaixo se sua mesa. Assim que ele se senta eu coloco minhas mãos em suas
pernas, subindo em direção ao botão da sua calça. Ele se assusta, mas não
pode falar nada por que tem mais alguém na sala com ele. Eu abro sua calça e
tiro o seu membro meia bomba de dentro da sua cueca. Minha boca salivando
por um gosto dele, e eu coloco minha língua para fora e quando vou passá-la
pela sua glande sou acordada do meu devaneio pelo próprio protagonista da
minha história suja.
— Yza! — Gael me grita.
— O que diabo!? Quer me matar do coração? —Grito assustada.
— Eu estou falando com você, mas você não me escuta. No que
estava pensando? Está ficando vermelha, porque?
— Eu hem! Não se pode nem ter pensamentos sujos com o meu boy
magia, que já perguntam no que estou pensando! Me deixa Gael, eu hem. —
Falo revoltada por ser impedida de concluir me plano diabólico na minha
imaginação.
— Menina Safada! Perguntei o que você vai fazer hoje. — Ele
pergunta me dando um sorriso safado.
— Tenho uma reunião de equipe agora de manhã, depois irei
encontrar com a minha mãe e a tia Luz. Hoje a Katrisca tem exame e o Dylan
vai tentar ver se consegue uma ultrassom.
— Legal. Tomara que ele consiga, Dylan está mais ansioso que
jogador de futebol quando começa a escalação para a seleção brasileira.
Saímos juntos de casa e ele me leva até o shopping. Nos despedimos e
eu entro, aproveito e vou dar um beijo na minha sogrinha e depois vou para o
meu escritório. O dia passa voando e quando dá o horário da consulta, vou
andando até o consultório que fica a duas quadras daqui. Quando vou me
aproximando, vejo um furdunço. Corro quando vejo meu irmão desesperado.
— O que foi!?
— A Luna fugiu! Foi questão de segundos, ela estava chorando
dizendo alguma coisa sobre a prima grande. Que precisava encontrá-la, ela
saiu correndo rápido, eu não consegui alcançá-la e a perdi de vista. — Minha
mãe diz chorando.
— Fica aqui, eu irei com o Dylan procurar. Tenho certeza que ela não
foi longe.
Saímos correndo na direção que minha mãe apontou. Paro pessoas
aleatórias na rua, e mostro uma foto da Luna em meu celular perguntando se
alguém viu a fadinha. Eu ando de um lado da calçada e o Dylan do outro.
Entro nas lojas que ficam no caminho, e a cada negativa meu desespero
aumenta. Gritamos o nome dela no meio da rua e nada dessa menina
aparecer. Meu irmão está desesperado tadinho, as lágrimas já começaram a
cair. Tanto as dele como as minhas.
Meu celular toca e eu vejo a foto do Dylan, deduzo que deve ser a
Katrisca. Mas eu quase caio de joelhos quando eu vejo a Luna.
— Fadinha sua danadinha! Você fugiu e não me levou? Seu pai está
muito bravo.
— Você ta cholando tia pincesa? Não chola não, eu já achei a sua
filha. Ela é muito linda, maisi só ta um pipinho suja. Olha como ela é linda.
— Luna diz animada e me mostra uma menina sujinha com o rosto mais
triste que já vi na vida.
Ela é linda, mesmo estando toda suja. Algo em seu olhar mexeu
comigo de um jeito inexplicável. A necessidade de pegá-la em meus braços é
imensa, quero cuidar e afastar todos os seus pesadelos.
— Óh meu Deus! Vocês duas estão bem? Onde vocês estão? Eu estou
com o seu pai, você consegue escutar a gente?
— Ela tem um monte de dodói tia pincesa. Eu escutei a voz do meu
papai. — Luna diz chorando.
— Espera, Dylan a Luna! — Eu grito meu irmão, que vem correndo
em minha direção.
Eu entrego o celular para ele, e saio correndo. Ela disse que consegue
escutar a minha voz, isso é sinal que ela está pertinho. Paro uma senhora e
mostro a foto novamente, mas antes que ela possa responder a Luna aparece
vindo de um beco.
— Me achou tia pincesa! Muito espetinha da vida toda. — Ela fala
sorrindo e eu corro até ela e a pego no colo.
— Oooh meu amor, eu te achei. Onde está a outra menininha?
— Ali do lado do lixo. Eu falei que eu ia acha a sua filha, o papai do
céu disse e ele nunca mente!
E ela realmente falou a verdade.

Ela é tão linda... Parece uma princesa de verdade!


Seus olhos também são lindos e bondosos, iguais os da branca de
neve. Ela tem a pele tão macia e cheira tão bem, eu poderia dormir só
sentindo esse cheiro.
Agora estou aqui, dentro de uma banheira cheia de água quentinha e
cheirosa. A neném que me achou também toma banho comigo... Ela é muito
faladeira, e fala tão bonitinho que dá até vontade de apertar ela. Meus pés
doem e os machucados também, não quero reclamar de dor ou a princesa
bonita não vai gostar de mim.
A mãe da neném entra no banheiro e entrega uma sacola para a
princesa, depois entrega duas esponjas a de princesa para mim e a da sininho
para a neném.
— O Gael comprou uma esponja para cada uma. — A mãe da neném
diz.
— O Usão já chegou!? — A neném pergunta feliz.
— Já sim meu amor, ele está conversando com o papai.
— Não quelo maisi tomar banho, pode tila eu daqui? — A neném
pede levantando os bracinhos para a mamãe dela.
Deve ser muito legal ter uma mãe. Eu não lembro da minha ou se já
tive uma, mas aposto que ela não gostava de nós, ou não teria deixado eu e o
meu irmão com aquele homem horrível. Sempre foi eu e meu irmão, sinto
tanto a falta dele e estou muito preocupada. Será que o monstro pegou ele?
— Ei menina bonita, vamos sair do banho também? Preciso olhar
seus machucados e passar uma pomada.
Eu olho para ela querendo dizer não, por que eu sei que vai doer
muito. Mas eu balanço a cabeça e acabo aceitando. Ela me ajuda a sair da
banheira e pega uma toalha para me secar. Minhas costas tem vários
machucados que doem muito, acabei me machucando enquanto procurava
pelo Júlio.
Quando ela levantou a toalha para me secar, eu fecho meus olhos bem
forte esperando a dor aparecer. Mas a princesa é muito carinhosa, e me seca
bem devagar e não sinto dor nenhuma. Quando ela vem para minha frente me
secar, vejo que ela está chorando.
— Por que está chorando?
— Por que você está cheia de machucados, e eu aposto que deve estar
doendo muito e você não está chorando. — Ela fala baixinho.
— Mas os machucados são meus e não seus. Por que você chora, se
sou eu que estou sentindo dor?
Não entendo isso, eu que tenho machucados e ela que está sentindo
dor? É isso?
— Estou chorando por que dói te ver machucada.
— Eu acho que entendi.
Ela me senta no balcão e tira da sacola uma pomada e faixas para
enrolar meus pés. Depois que ela termina de remendar meus machucados, ela
me ajuda a colocar as roupas e me leva no colo para o quarto da Luna.
É tudo tão lindo e colorido, a neném realmente gosta da sininho. Ela
tem muitos brinquedos espalhados, e corre de um lado para o outro pegando
mais e mais brinquedos. É engraçado porque ela faz tudo com um braço só, já
que o outro está engessado.
— Vem minha Malia! Vamos binca, essa aqui é sua filhinha e essa é
minha. Tem maquiagem, você qué? Qué sim, pela que eu vou pega. Senta
aqui pala não machuca o seu dodói no pé.
A princesa me senta no tapete da sininho e senta ao meu lado. Luna
senta ao meu lado e me entrega uma boneca linda, de cabelos pretos e
vestidinho cheio de flores. Ela não para de falar e nem consegue ficar
quietinha por muito tempo, ela fala tanta coisa de uma vez que as vezes não
consigo entender. Ela sai do quarto várias e várias vezes enquanto brincamos.
Eu queria tanto ter uma boneca assim, gordinha e com cabelos
grandes para eu poder pentear. Eu pego uma xuxinha para amarrar os
cabelinhos dela, mas vejo um homem parado me olhando.
Ele é muito grande, muito grande mesmo! Ele tem um monte de
tatuagens nos braços, o meu irmão disse que quando ele for mais velho, vai
fazer uma no peito. Eu olho para a princesa, depois pra neném, a neném sorri
e a princesa está chorando de novo. Eu volto a olhá-lo e ele sorri para mim,
ele é bem bonito e quando sorri seus olhos ficam pequeninos.
— Você vai brincar? — Eu pergunto e ele me olha surpreso, a
princesa olha para trás e sorri.
— Você quer que eu brinque?
— Sim... A neném também pode brincar?
—Lógico que pode! Essa neném é muito arteira sabia? — Ele fala e a
neném ri, ele senta do lado da princesa e beija sua cabeça.
— Ela fala muito né?
— Ela fala, vem aqui fadinha, vamos brincar. — Ele chama a neném
de fadinha também.
— Eu vou pedi pala a minha mamãe, me dá suquinho e bolachinhas.
Ai a gente binca de casinha! Pela ai um pipinho que eu já volto! MAMÃE! —
Ela sai gritando chamando sua mamãe.
Eu sempre quis uma mãe. Será que a neném falou a verdade, e a
princesa vai ser minha mãe?
— Maria? — Ele me chama
— Hum. — Respondo penteando os cabelos da boneca.
— Como é o nome do seu irmão? E quantos anos ele tem?
— Júlio, o nome do meu mano é Júlio. E ele tem um montão de anos!
Ele diz que é quase um velho, mas ele é bem bonito.
— Quantos anos você tem? —- A princesa pergunta, e eu conto meus
dedos como o meu irmão me ensinou.
— Seis! Assim é seis não é?
— Sim meu amor, então você tem seis anos? E em que ano você está?
— Eu não vou pra escola, eu sou muito burrinha. O meu mano
também não vai, ele disse que não precisa por que ele é muito inteligente.
Isso doeu? —Eu pergunto curiosa, e passo meus dedos pelos desenhos.
Eu não tenho medo dele, como eu tenho medo do monstro e dos
homens maus. Ele é bonzinho e brinca comigo. Seus olhos são tão bonzinhos,
parece doce de caramelo.
— Não princesa, não doeu não. — Ele sorri.
— Um dia, quando eu for grande você deixa eu fazer também?
— Deixo princesa. — Ele fala com a voz engraçada.
— Você é bem grandão não é? Mas eu não tenho medo de você, seu
olho é tão bonito que parece a bala de caramelo que o meu mano sempre
compra pra mim. A neném falou que você vai ser meu pai, é verdade? — Eu
pergunto curiosa, subo no seu colo e mexo na sua barba.
É tão macia, parece algodão. Será que ele quer ser meu pai de
verdade? Será que a neném falou sério?
— Eu gostaria muito, e você quer?
— Eu quero! Posso? Você não vai deixar ninguém me machucar, né?
— Ninguém, nunca mais irá te machucar princesa. Você nunca mais
precisa ter medo de nada e nem de ninguém. Todos que estão aqui hoje,
Dylan, Donatello, Willians e eu, iremos cuidar e te proteger sempre. Eles são
muito legais sabia? Willians é pai da Yza, Dylan que é o pai da fadinha, e
Donatello são irmãos da Yza. Ai tem a Belle que é mãe dela e a Luz que é tia.
Todos nós vamos te proteger!
— A Luz é muito legal. Ela me deu uma torta muito gostosa e ia me
levar para procurar meu irmão. Mas os homens maus apareceram, e eu tive
que fugir.
A neném volta trazendo suco e uma sacola cheia de biscoito. Fazemos
um piquenique, dividimos as bolachas nas panelinhas e brincamos de
casinha.
Depois de comer e tomar o suco, sinto meus olhos ficarem pesados.
Eu abro a boca várias vezes e a Luna ri de mim, mas também faz igual. Eu
abraço a boneca que a neném me deu, e me aconchego melhor no colo do
meu novo pai.
Eu sei que agora eu estou segura, que os homens maus não vão me
pegar. Agora eu tenho um papai bem grande, que vai cuidar de mim e me
proteger. E quando meu irmão aparecer, ele vai cuidar do Júlio também.
Meu coração canta de alegria, agora eu acho que o final feliz das
histórias que o Júlio conta pra mim, está se realizando. Eu encontrei uma fada
madrinha que é a neném, uma princesa chorona e um príncipe rabiscado.
Eu sabia que um dia ele a pareceria para me salvar.
Depois de um final de semana perfeito, onde me divertir muito, ver
minha mãe rindo foi o ponto alto para mim. Ela já sofreu demais nessa vida, e
é merecedora de toda a felicidade do mundo. Vê-la toda cheia de carinho com
a danadinha da Luna, mexeu com alguma coisa dentro de mim. Ela sempre
gostou de crianças e vive me pedindo netos, ainda mais agora que encontrei a
minha Sweet.
Mas nada é perfeito, e a semana chegou para me provar isso. Sair de
um final de semana regado de carinho e alegria, e entrar a semana com um
caso fodido é como pular do frio para o quente.
Eu amo o que faço, sou justo e imparcial. Mas a cada dia a maldade
humana aumenta gradativamente, e em casos como esse que estou
analisando, a vontade que tenho é que no Brasil existisse pena de morte. É
cruel, é desumano, é revoltante a capacidade humana de causar mau aos
outros. Aqui diante de mim, está um dos casos mais revoltantes que existe.
Abuso infantil com o agravante de estupro, tudo consentido pela própria mãe!
O que eu nunca irei entender, é como que uma mãe da a luz a uma criança
para mais tarde permitir uma atrocidades dessas.
Uma menina de quatro anos porra!
Uma criança que não tem como se defender, mal sabe contar o que
fizeram com ela. Esse caso só foi descoberto, por que o pai da menina chegou
na hora e viu! É de dilacerar qualquer coração. Mas se tem uma coisa na vida
que eu sei fazer, é o meu trabalho. E com toda a certeza, esse eu terei o prazer
de executá-lo com maestria.
Vou foder com a vida desses dois seres repugnantes!
Bia entra na sala, e me olha seriamente.
— Menino, tem que se acalmar. Não deixe que casos assim te afetem.
Uma hora você terá um enfarto!
— Impossível ficar passivo sobre isso Bia. Eu morrerei e mesmo
assim, jamais entenderei a mente doentia desse povo.
— Tenho que ir buscar uns papéis na promotoria, mas não irei
demorar. Quer alguma coisa de lá?
— Não Bia, obrigado. Pode deixar a porta aberta, assim poderei ver
quem entra.
— Ok. Não esqueça de comer!
Ela vai embora e eu fico rindo, agora tenho os olhos de dona Marta
mim. Por que eu fui apresentar essas duas?
Volto a ler o arquivo do caso e fico completamente absorvido. Anoto
algumas coisas para poder pesquisar mais profundamente e vou pontuando
todos os erros que encontro.
Uma movimentação no corredor chama a minha atenção, e é quando
Zia entra no meu campo de visão.
— Bom dia Meritíssimo! — Ela diz contente.
— Bom dia promotora, ao que devo a honra de sua visita?
— Eu vim deixar uma pasta com um caso, para Bia entregar para
você. É um caso foda e preciso que você me dê uma direção, é sobre um
menino que sofria abuso do seus responsável. Tanto ele quanto a irmã, mas
ele foi o que mais sofreu.
— Pode entregar direto para mim Zia, Bia foi na promotoria, mas
deve estar voltando logo. Eu me pergunto, quando casos como esse vão
acabar? Está foda Zia, a cada dia essa merda aumenta.
— Agradeço de coração, ele tem dezesseis anos e desde que a mãe
faleceu, ele vem cuidando da menina. Aliás, ele cuida dela, antes mesmo da
mãe morrer. A história é triste Gael. Mas me diz, o que anda fazendo da vida?
Nunca mais almoçamos juntos e você anda bem sumido vossa excelência.
Adoro Zia, ela é uma mulher surpreendente e com uma história de
superação incrível. Nós somos amigos, nunca teve nada de segundas
intenções. Somos amigos íntimos a alguns anos, ela não tem família aqui,
somente uma tia que aparece de vez em quando.
— Ando meio ocupado, desculpa por sumir. Me diz, como andam as
coisas?
— Eu estou bem, conheci uma pessoa e estamos vendo onde isso vai
dar.
— Sério? Você nunca comentou isso! Mas eu também conheci uma
pessoa, e com toda a certeza te digo que é a mulher da minha vida. Vou
marcar um almoço para vocês se conhecerem.
— Faça isso! Quero saber quem é a Felizarda que conseguiu capturar
Gael D'Ávila. — Zia diz rindo.
Quando vou responder, meu telefone toca. Dylan está me ligando por
uma chamada de vídeo.
— Me dá só um segundo, meu cunhado está me ligando.
Já atendo preocupado, será que aconteceu alguma coisa com a Sweet?
— Oi Dylan... Oi fadinha, o que você está fazendo com o celular do
seu pai? — Pergunto rindo, essa menina é demais!
— Eu achei Usão, eu achei a sua filhinha! Ela tá tão cheia de dodói,
tadinha dela Usão. — Ela diz chorando.
— Filha? Do que você está falando? Onde você está meu bem? Cadê
o seu pai? — Pergunto preocupado, não consigo identificar onde ela está.
— A Malia pincipe! A sua filha que o papai do céu falo pala euzinha.
Pela vou mosta ela! — De repente a tela fica preta e do nada aparece uma
menina, com o rosto sujo e os olhos assustados. — Essa é a minha pima
gande! Malia esse é o seu papai Usão. Ele não é lindo? — Luna diz Feliz.
Quando ela levanta os olhos para olhar para mim, é como se um raio
tivesse me atingido. Não sei explicar o que sinto, só sei dizer que foi algo
surpreendente. Ver a tristeza em seus olhos, dói em mim como se alguém
tivesse me dando mil facadas no peito.
Minha!
— Onde vocês duas estão? — Pergunto. Minha voz sai grossa
tamanha a emoção que estou sentindo.
— Não sei... Eu corri pala acha a minha Malia. — Luna diz toda
protetora e possessiva.
— Mas aonde você estava antes fadinha?
— No médico pala vê o meu pinceso ué! Fala oi pala o seu papai
Malia! Tem que falar oi pala ela Usão!
— Oi Maria, você sabe me dizer onde vocês duas estão?
— Oi... Eu não sei... Eu vi os homens maus que queriam me
machucar e fugi.
— Homens maus? Aonde você estava antes de se esconder? Na sua
casa? — Sinto meu corpo ferver de ódio, quando ela diz sobre homens
querendo machucá-la.
— Não, eu... Eu moro na rua, desde que os homens maus me levaram
da minha casa. Eu estava procurando o meu irmão, mas eu não consegui
achar ele. — Ela diz chorando e meu coração sangra por isso.
Ela é tão linda, mesmo estando com o rostinho sujo, consigo enxergar
isso. Seus olhos são tão tristes, sua pele pálida, seus lábios sem cor. Só Deus
sabe o que essa menina passou! Mas isso muda agora, eu nunca deixarei que
ela sinta medo.
— Não chola pima, vou conversa com o papai do céu e ele vai me
dize onde seu imão esta. — Luna diz chorando também.
Essa menina é tão iluminada! Ela disse que a prima grande dela iria
aparecer, e que seria minha filha como ela é filha do Dylan. E olha o que
aconteceu!
Quem consegue explicar isso?
Maria chora muito, e a fadinha abraça ela e fico fazendo cafuné nos
cabelos da minha menina. Ela é minha, e não existe ninguém para dizer ao
contrário.
— Luna! — Eu escuto alguém gritando pela Luna.
— To aqui papai! — Ela responde gritando de volta.
— O meu papai ta chegando Usão. Maisi eu vou cuida da sua filhinha
ok? Agola vou ligar pala a minha tia pincesa, xau! — Luna desliga na minha
cara.
Eu entro em desespero, e se não foi o Dylan que gritou? E se fizerem
mal a elas?
Levanto apressado, pego minha mochila e jogo tudo o que tem dentro
dela desesperado. Meu peito está apertado, não sei explicar, só sei que
preciso chegar onde ela está.
— Gael o que houve? Você está branco, tremendo! Aonde vai? Não
pode dirigir assim Gael! Me escuta porra! — Zia grita e só assim consegue
chamar a minha atenção.
— Eu adoro você Zia, te tenho como minha irmã. Mas nem você me
impedirá de ir encontrar a minha menina.
— Eu te levo! Eu levo você aonde você quiser, mas não vá dirigindo
Gael, por favor.
— Eu estou de moto Zia, e prometo tomar cuidado. Você avisa a Bia
que precisei sair? Diz que foi uma urgência, caso de vida ou morte.
Nem termino de falar e saio correndo para o estacionamento. Antes de
sair, ligo para Yza para perguntar onde é a tal clínica.
— Ei Gael! — Dylan atende.
— Graças a Deus! Escuta Dylan, a fadinha me ligou, ela está com
uma menininha chamada Maria. Ela me disse que foi com vocês no médico,
preciso que me diga o endereço! Onde está a Sweet?
— Respira Gael! A Yza achou as meninas, eu estou indo até elas
agora. O consultório fica na mesma rua do Shopping, uma quadra e meia
Depois.
— Ok. Eu chego ai em menos de dez minutos... E Dylan... Não deixe
ninguém levar a menina ok?
— Pode deixar. Mas quem é essa menina? — Ele pergunta curioso.
— Pergunta para a sua filha. Ela saberá te responder melhor que eu.
Coloco meu capacete e saio em disparada. Chego a rua do consultório
em oito minutos, estaciono e ligo para o celular da minha Yza.
— Ursão... — Yza atende chorando.
— Eu sei... Eu a vi... Onde vocês estão? Estou chegando no
consultório.
— Ela é minha Gael... — Porra! Ela também sentiu.
— Sweet, preciso que você me responda amor. Onde vocês estão?
— Perto da farmácia, na mesma rua do consultório. Tem um beco ao
lado da farmácia, nós estamos aqui.
— Estou chegando Sweet. Cuide dela princesa... Só cuide dela. —
Peço para ela.
Ligo a moto novamente e vou até a farmácia que ela me disse.
Estaciono a moto e vou em direção ao beco que ela falou. Mesmo antes de
chegar perto, posso ver a minha Sweet com ela em seus braços. Meu coração
bate alucinadamente, chegando até mesmo me faltar o ar. Encosto na parede,
tentando me acalmar um pouco.
Preciso me acalmar ou irei assustá-las.
Nesse momento Dylan sai do beco segurando uma fadinha faladeira
em seus braços. Ele me vê assim que sai e fica parado me olhando.
— Não sei o que está acontecendo com você Gael, mas você precisa
se acalmar! Essa menina está machucada, e mesmo sem me dizer sei que
alguém a machucou, pois ela assim que me ouviu ficou com medo. Não sei se
aconteceu o mesmo quando ela viu a minha irmã, mas tenho quase certeza
que não! Quem a machucou foi um homem e ela está com muito medo. —
Dylan diz sério.
Sem conseguir me conter, soco a parede que estava atrás de mim.
Encosto minha testa nela, fechando meus olhos tentando me acalmar. Só de
imaginar alguém fazendo mal a ela, me deixa insano! Não quero imaginar
que ela tenha sido abusada sexualmente, ou eu farei uma merda das grandes.
— Ela... Ela disse quem a machucou? Ela contou mais alguma coisa
Dylan? — Eu pergunto, querendo ouvir, mas ao mesmo tempo não.
— Para mim, ao telefone ela disse que tinha fugido dos homens maus.
Não sei se ela contou pra Yza. — Dylan diz, e eu me sento no chão me
sentindo um pouco mais aliviado.
— Coloca euzinha no chão papai. Eu vou dá um beijinho de amô no
Usão. —Luna fala séria.
— Não fadinha, o Gael está chateado e não queremos perturbá-lo, não
é?
— Eu não petubo não meu vidinha. O papai do céu não me deu ele?
Ele não é o meu pincipe rabiscado? O Usão da Matinha? Então eu tenho que
cuida dele ué! Só um beijinho de amô papai, não pode ficar poxessivo agola
não. Ele ta tiste poque a filhinha dele tem dodói, e o Usão sabe poque ele
também teve um montão de dodói na vida.
— Ok menina! Mas você ainda está encrencada.
Escuto seus pezinhos batendo no chão, enquanto ela vem em minha
direção. Ela me abraça forte e minha vontade é de chorar, mas não um choro
qualquer. Um choro de dor, de desespero, um choro sofrido.
Não sei o que essa menina tem, ou o que ela é. Se suas palavras são
aleatórias, ou se são palavras de um sábio. Mas ela tem a capacidade de saber
coisas sobre mim, que ninguém além da minha mãe sabe. Não é a primeira
vez que ela diz sobre meus machucados, é como se ela soubesse tudo o que
me aconteceu quando eu era criança.
Ela segura meu rosto, e com os seus dedinhos arteiros ela abre meus
olhos. Se eu não estivesse me sentindo tão angustiado, até riria dela. Eu abro
meus olhos e ela está séria me olhando, enquanto faz carinho no meu rosto.
— É muitão tiste quando uma quiança tem dodói, a minha Malia que
é sua filhinha tem dodói que o homem mau fez nela. Maisi agola não pode
ficar tiste pincipe, tem que se forte igual o Usão do desenho. Sabe o nome
dele? É Baguela, ele é bem gandão e cuida do Mogli que é um menino
sozinho sem papais. Maisi agola a minha Malia tem euzinha, tem a mamãe
pincesa, tem o papai Usão que é você! Ela tem todo mundo, maisi tem que
acha o imão dela. Poque aquele fofoquelo não me falou que a pima gande
tinha imão! Aiaiai, to possuída de mentalidade que ele não me falou!
— Ok princesa, vou ser corajoso. — Eu falo para Luna.
— Eu sou fadinha Usão, minha pima que é pincesa da minha tia.
Poque minha tia é pincesa você sabe não é? Uma pincesa sutada de
excelência que ela é! Agola vou chama a minha tia, pela ai ta!? — Ela diz
sorrindo e sai correndo.
Mas ela para na entrada do beco e me chama.
— Usão...
— Oi menina serelepe?
— Você sabe que ela é sua filhinha não sabe?
Eu engulo em seco, por que eu sei que o que ela diz é verdade. Eu
sinto dentro de mim.
— Eu sei.
Assim que eu respondo ela vai correndo de encontro a minha Sweet.
— Se te consola de alguma maneira Gael, nada nunca mais irá
machucar aquela menina. Eu sei o que você está sentindo, porque me senti
assim a alguns meses atrás. E inexplicável a sensação, você só sabe que ela é
sua. Eu me senti exatamente assim com a Luna.
Eu levanto do chão, na mesma hora que minha Yza aparece. Ela vem
correndo para os meus braços e se pendura em mim, como um macaquinho.
— Ursão... — Ela diz chorando.
— Xiu... Eu sei princesa, eu sei.
—- Ela está tão machucada, seus pezinhos estão tão machucados. Ela
é tão magrinha e está com muito medo Gael. Ela tremeu em meus braços
quando Dylan chegou perto! Será que alguém fez algum mal a ela?
— Não sei meu amor, mas nós iremos descobrir. Vamos cuidar dela, e
levá-la a um pediatra. —Eu falo para Yza e ele vai se acalmando.
— Ela é minha Gael, eu sei que é. Eu senti aqui no coração, a parti do
momento que olhei em seus olhos.
—- Ela é nossa Sweet. E vamos cuidar dela, vamos amá-la e fazer
com que ela seja uma criança muito feliz. Vamos encontrar o irmão dela,
vamos resolver a situação deles juntos. Sempre juntos Yza.
— Eu pedi para Hanna comprar algumas coisas para ela. Roupa,
sapatos, tudo o que ela vai precisar no momento. Você poderia buscar lá no
shopping?
— Eu vou princesa. Também comprarei pomadas e curativos, e uns
produtos de higiene infantil. Você vai com o seu irmão, por que estou de
moto. Vou pegar o carro no caminho e no máximo vinte minutos estarei lá.
Assim vai dar tempo de eu me acalmar um pouco. Não chora mais ok?
— Ok. Não demora tá? — Ela pede, com uma carinha de menina
perdida.
Eu deixo elas com Dylan e vou em direção ao shopping. Não
consegui vê-la nesse momento, tive medo de assustá-la e não quero que ela
tenha medo de mim.
Em casos de abuso infantil, a criança fica arredia, com medo, posso
dizer até mesmo com pavor das pessoas. E se essa criança sofreu algum
abuso sexual o medo dobra de tamanho. Ela passa a ser desconfiada de tudo e
todos, tem medo de chegar perto de um adulto, tanto faz se for homem ou
mulher, o medo existe e é quase palpável. Tanto eu quanto minha mãe,
passamos a ser voluntários em abrigos para mulheres e crianças que sofreram
abusos. E é de cortar o coração porra! Você ver um menino de cinco anos, te
olhar com pavor, chorar querendo fugir. Ver mulheres se encolherem quando
você chega, até mesmo presenciei uma mulher urinar na roupa por medo de
mim.
E eu não quero que Maria fique assim comigo. Quero que ela confie
em mim, que se abra e me conte tudo o que aconteceu com ela. Irei entrar
com um pedido de guarda provisória, nem que para isso eu Burle algumas
regras. Eu tenho um nome e farei uso disso, ou não me chamo Gael D'Ávila!
Passo em casa rapidamente, deixo minha moto e pego o meu carro.
Vou para o shopping e pego as coisas que a Hanna comprou, ela me diz que
só vai terminar umas coisas e vai encontrar com todos na casa do Dylan. Eu
agradeço e vou até a farmácia, compro tudo o que ela vai precisar e ainda
compro duas esponjas de banho das princesas. Uma de coroa e outra da
sininho, uma para Maria e outra para a fadinha.
Vou o caminho todo para casa de Dylan, treinando a minha
respiração. Eu tenho que ficar calmo, no posso assustá-la, e é com isso em
mente que chego lá.
Katrisca abre a porta, seus olhos vermelhos de chorar. Assim que ela
me vê, me abraça forte e me deseja sorte. Entro na sala e todos estão
reunidos, Belle e Luz estão do mesmo jeito que a Katrisca. Eu olho em volta,
procurando as minhas meninas, mas elas não estão.
— Elas estão no meu quarto Gael, estão tomando banho de banheira.
Luna é tão para frente que entrou junto com ela. — Katrisca diz sorrindo.
— Você pode levar essas sacolas para Yza? E essa aqui é uma
esponja para Luna e outra para Maria. — Entrego a sacola para Katrisca.
Ela pega as escolas e vai em direção ao quarto. Minha vontade é de
segui-la, mas me contenho a tempo.
— Aqui Gael, beba um pouco de chá. Tenho certeza que vai te
acalmar um pouco. -Belle diz.
—Não bebo chá Belle, mas obrigado.
— Vai beber sim e pronto!
Eu faço o que manda, essa mulher é muito surtada como diz a
fadinha.
— O que vai acontecer agora Gael? — Will pergunta.
— Vou entrar com um pedido de guarda provisória Willians. Nem
que para isso eu tenha que mexer alguns pauzinhos. O certo seria levá-la até
uma delegacia, fazer um boletim de ocorrência e ela ser encaminhada para
um abrigo. Isso seria o correto, mas não vou fazer isso nem fodendo! Pela
primeira vez em toda a minha carreira, vou fazer uso do meu nome!
— Se precisar de ajuda, pode contar comigo. — Donatello diz sério.
— Vou precisar sim, mas para encontrar o irmão dela. Não sei
quantos anos tem o menino, e nem por onde começar a procurá-lo.
— Temos que conversar com ela. Mas como, se ela entrou em
desespero quando nos viu? Ela se agarrou na Yza de uma tal forma, que se
pudesse, ela entrava dentro da minha irmã. Seu pavor era quase palpável. —
Dylan diz.
— Atitudes assim, é normal em vítimas de abuso. Elas sentem medo,
muito medo de que volte a sofrer novamente. Eu só peço a Deus, que ela não
tenha sido estuprada ou não responderei pelos meus atos.
— Eu cheguei! Tô muito, cheilosa e a minha Malia também! Eu vim
aqui buscar o Usão... Huum, o pincipe rabiscado, pala vê a filhinha dele que
ta cheilosa da vida toda.
— Você sua sapequinha, nunca vai parar de me chamar de ursão não
é? — Pergunto sorrindo para ela.
— Só um pipinho as vezes ok?
Todos riem, por que sabem que ela nunca vai parar. O jeito é
acostumar.
Eu a sigo até o quarto dela, onde minhas duas meninas estão sentadas
no chão com um monte de brinquedos espalhados. Assim que a Yza me vê,
seus olhos enchem de lágrimas. Eu entro calmamente no quarto e paro a
alguns metros de onde elas estão. Maria me olha, depois olha para Yza e em
seguida para Luna. Ela deita a cabeça de lado, e volta a me olhar curiosa. Não
vejo nenhum rastro de medo em seu olhar.
— Você vai brincar? — Ela me pergunta baixinho.
— Você quer que eu brinque? — Pergunto.
— Sim... A neném também pode brincar?
— Lógico que pode! Essa neném é muito arteira sabia? —Pergunto,
sentando ao lado da minha Sweet.
— Ela fala muito né? — Ela diz sorrindo.
E é o sorriso mais lindo do mundo. Eu me pego retribuindo o sorriso
feito um bobo.
— Ela fala, vem aqui fadinha, vamos brincar.
— Eu vou pedi pala a minha mamãe, me dá suquinho e bolachinhas.
Ai a gente binca de casinha! Pela ai um pipinho que eu já volto! MAMÃE! —
Ela sai gritando pela Katrisca.
Yza e eu, arrumamos as bonecas com a ajuda da Maria.
— Maria?
— Hum. — Ela responde distraída.
— Como é o nome do seu irmão? E quantos anos ele tem?
— Júlio, o nome do meu mano é Júlio. E ele tem um montão de anos!
Ele diz que é quase um velho, mas ele é bem bonito.
— Quantos anos você tem? —Yza pergunta. E eu vejo ela contar nos
dedos antes de responder.
— Seis! Assim é seis não é? —Ela pergunta, mostrando os dedos.
— Sim meu amor, então você tem seis anos? E em que ano você está?
— Eu não vou para escola, eu sou muito burrinha. O meu mano
também não vai, ele disse que não precisa por que ele é muito inteligente.
Isso doeu? —Ela pergunta, passando o dedinho na tatuagem da minha mão.
Ela não sente medo de mim!
— Não princesa, não doeu não.
Ela chega mais perto, quase sentando no meu colo. Ela olha curiosa
para as tatuagens que estão visíveis, e toca com as mãos.
— Um dia, quando eu for grande você deixa eu fazer também? —Ela
pergunta, sem tirar os olhos das tatuagens.
— Deixo princesa. — Falo com a voz embargada.
— Você é bem grandão não é? Mas eu não tenho medo de você, seu
olho é tão bonito que parece a bala de caramelo que o meu mano sempre
compra para mim. A neném falou que você vai ser meu pai, é verdade? —
Ela diz, sentando na minha perna e alisando minha barba.
— Eu gostaria muito, e você quer?
— Eu quero! Posso? Você não vai deixar ninguém me machucar né?
— Ela pergunta me olhando nos olhos.
— Ninguém, nunca mais irá te machucar princesa. Você nunca mais
precisa ter medo de nada e nem de ninguém. Todos que estão aqui hoje,
Dylan, Donatello, Willians e eu, iremos cuidar e te proteger sempre. Eles são
muito legais sabia? Willians é pai da Yza, Dylan que é o pai da fadinha, e
Donatello são irmãos da Yza. Ai tem a Belle que é mãe dela e a Luz que é tia.
Todos nós vamos te proteger!
— A Luz é muito legal. Ela me deu uma torta muito gostosa e ia me
levar pra procurar meu irmão. Mas os homens maus apareceram, e eu tive
que fugir.
Luna chega com dois copinhos de sucos, os dois com tampas graças a
Deus, ou a sujeira que ela iria fazer pelo caminho ia ser grande. Ela também
traz uma sacolinha com vários tipos de bolachas. As duas se divertem,
comem todas as bolachas. Maria não saiu um só minuto do meu colo, e Yza
sorri apaixonada.
Depois de tantas brincadeiras, e com a barriga cheia, Maria acaba
adormecendo em meus braços. A confiança que ela depositou em mim, me
faz querer chorar durante dias. Luna também está deitada no tapete
acolchoado, e está quase dormindo. Eu deito Maria ao seu lado, e
instantaneamente Luna segura sua mão.
— Eu cuido de você miga, to indo convesa com o papai do céu pala
acha seu maninho. — Luna diz com os olhos fechados e adormece logo em
seguida.
Minha Sweet pega uma manta e cobre as duas belas adormecidas.
Depois ela vem engatinhando e se senta no meu colo.
— Ela não sentiu medo de você Ursão. — Diz deitando a cabeça em
meu ombro.
— E você não sabe como isso me deixou aliviado. Você viu? Ela quer
ser nossa Sweet! —Falo beijando sua testa.
— Sim! Mas o que faremos sobre o irmão dela? Temos que encontrá-
lo Gael, eles não podem ficar separados!
— Nós iremos procurar princesa.
— Eu quero os dois Gael. Não existe a possibilidade de separá-los.
Quero os dois juntos, como deve ser. Ela disse que ele sempre cuidou dela,
desde que era bebê. Até uma caverna encantada ele fez para mantê-la segura.
O que será que esse menino deve ter passado para manter a irmã segura? Só
de imaginar me dói na alma.
— Também não quero imaginar isso amor. E nunca passou pela
minha cabeça separá-los. Nós vamos achar ele! Vou conversar com a Zia,
uma amiga minha e irei pedir ajuda.
—Zia? —Ela pergunta curiosa.
— Uma amiga minha, ela é promotora.
— Sei... Também quero estar presente nessa conversa.
— Ciumenta? — Pergunto sorrindo.
— Ciumenta, eu? Jamais meu amor. Só quero fazer parte de tudo o
que diz respeito a minha filha!
— Sua filha né? Muito sua filha mesmo! Nossa filha Sweet...
Inacreditável não é?
— Demais!
Ficamos olhando para as duas meninas adormecidas.
Eu juro por tudo o que há de mais sagrado nessa vida, que nenhuma
dessas meninas irá sofrer mais. Luna também tem uma história triste, e eu já
estou cuidando disso.
Eu, Gael D'Ávila, prometo que essas duas serão as crianças mais
felizes do mundo. Nada, exatamente nada vai machucá-las. E quando o Júlio
aparecer, também fará parte dessa promessa.
Ficamos um bom tempo velando o sono das meninas. Luna dorme
segurando a mão da minha Maria. Sim, minha. Meu coração a reconheceu
como dele e não existe nada nesse mundo capaz de mudar isso. Sei que o
Gael também sentiu alguma coisa, mas isso não quer dizer que ele queira se
jogar de cabeça na paternidade.
O que senti quando a vi é inexplicável. Um sentimento que jamais
senti antes, um desejo enorme de cuidar e proteger essa menina. De amar e
afastar tudo e qualquer coisa que possa machucá-la. É um sentimento
poderoso, forte, como se ela tivesse saído de mim. O medo que vi em seus
olhos, a maneira que seu corpo ficou rígido quando ouviu a voz do meu
irmão, quase me matou. Não tive coragem de perguntar se alguém a tocou,
não tenho estrutura para saber de uma coisa desse porte sem surtar.
— Vamos deixá-las dormindo. Temos que conversar com a sua
família. — Gael diz em meu ouvido.
— Eu... Eu não cheguei a falar nada com você, mas antes que a gente
saia preciso te dizer que não abandonarei essa menina. Não sei te explicar o
sentimento de... De posse que bateu em mim, sei que ainda estamos nos
conhecendo, que isso que temos não é um relacionamento sério.
— O que!? — Ele fala mais alto.
— Xiu! Você vai acordá-las Gael.
— Vem comigo.
Ele diz e me puxa do chão, me deixando em meus pés. Em seguida sai
me puxando até a sala, e caminha em direção a porta que leva para o quintal.
— Nós já voltamos. — Ele diz sério.
Ele sai e me puxa para fora, depois tranca a porta e me olha sério. Ele
respira fundo antes de começar a falar, sua voz está mortalmente baixa e seus
olhos estão tão sérios que me causa arrepio.
— Ouça com atenção Yza, só irei falar uma vez e depois
esqueceremos isso e vamos focar na Maria. Nós estamos em um
relacionamento, isso entre nós sempre foi sério desde que estive dentro de
você a primeira vez. Não é porque passamos um tempo distante, que
deixamos de ser um do outro. Você foi minha desde do primeiro beijo, assim
como fui seu. O que temos é duradouro e se você falar ao contrário baterei na
sua bunda! Fui claro?
Puta que pariu! Eu sabia que esse homem era intenso, sabia que ele é
todo macho alfa possessivo. Mas isso!? Isso me tirou da casinha literalmente.
— Gael...
— Não! Me diga se você entendeu o que eu falei.
— Eu entendi, mas...
— Entendeu? Ótimo! Agora vamos ao que interessa, a Maria. Eu
também senti a mesma coisa que você, esse sentimento arrebatador que tira o
ar, que te faz querer protegê-la, é o mesmo que eu senti quando eu a vi pela
primeira vez. Amanhã mexerei todos os pauzinhos possíveis, para obter a
guarda provisória dela. Eu já mandei uma mensagem para a Zia e para o
Maurício meu amigo, e juntos iremos achar um jeito de fazer isso acontecer.
Nós estamos nisso juntos, eu e você Sweet. Nós iremos cuidar e proteger a
nossa menina, nós dois juntos como deve ser sempre.
Eu o abraço fortemente, me sentindo tão aliviada por ter ele ao meu
lado. Eu sei que sem ele, eu ainda iria seguir em frente com isso. Mas tê-lo ao
meu lado é a melhor coisa, saber que ele também sentiu, que também caiu de
amores por ela me deixa feliz.
— Eu nunca senti isso antes, esse poder, essa força de querer cuidar
dela. Esse sentimento de posse, como se ela fosse minha, eu nunca senti isso
antes.
— Mas eu já, e da mesma forma que te deixa cheio de força, também
te deixa vulnerável. O medo que alguma coisa aconteça te deixa agoniado. -
Ele diz em meu ouvido.
— Você já sentiu isso antes? — Pergunto surpresa.
— Sim. A alguns meses atrás, quando eu olhei uma mulher linda, com
rostinho de menina e um corpo feito para o pecado. E foi você Yza, você me
ganhou na primeira vez que me olhou e sorriu. Eu já era uma causa perdida, e
confesso que gostei da sensação.
— Meu ursão. — Falo emocionada.
— Seu, assim como você é minha. Pronta para enfrentar a inquisição
dos Reeds? — Ele pergunta sorrindo.
— Com você ao meu lado? Sempre ursão. — Falo e beijo sua boca
rapidamente.
Entramos novamente e todos olham em nossa direção. Eu vou até a
minha mãe e a abraço, enquanto Gael senta em uma poltrona.
— E então bebê, o que vocês irão fazer agora? Como você está se
sentindo? — Minha mãe pergunta.
— Não sei dizer mãe. Mexida talvez? Não sei explicar o que senti
quando eu a vi. Eu só senti dentro de mim que ela é minha! Eu a quero, ela é
um pedaço de mim mamãe! — Eu falo emocionada.
Dylan, Donatello, tia Luz e meu pai, me olham curiosos. Meu pai
parece querer falar alguma coisa, e então ele respira fundo e solta.
— Princesa... Não quero te desanimar, e nem acabar com esse
momento lindo que você está tendo. Mas uma criança é assunto sério, é
responsabilidade. Não é um objeto que você pode devolver quando cansar,
não estou dizendo que você vá fazer isso. Mas elas necessitam de cuidados,
de uma base sólida, elas ficam doentes, requer atenção. —Meu pai diz sério.
— Eu sei pai, não sou irresponsável ao ponto de brincar com isso. Só
que é mais forte que eu, entende? — Eu digo e vou para o seu colo.
— Eu senti a mesma coisa quando eu a vi por telefone. Foi como se
eu estivesse recebendo várias descargas elétricas ao mesmo tempo. Um
sentimento de posse, de proteção, de zelo. Eu só senti isso uma vez na vida!
E o resultado está no seu colo Willians. — Gael diz sério.
— Vocês acabaram de se conhecer, tem certeza que querem assumir
tamanha responsabilidade? — Meu pai pergunta sério.
— Sim. — Nós respondemos juntos.
— Olha quem fala, sobre acabarem de se conhecer! Querido, te
conheci na segunda e na quarta já estava grávida! — Minha mãe diz
debochada.
— Xiu Belle! Mas me diz Gael, como poderemos ter a certeza que a
Maria ficará com a gente? —Meu pai pergunta.
— Vou entrar com um pedido de guarda provisória. Já mandei
mensagem para os meus amigos e amanhã mesmo falarei com a Zia e o
Maurício. Ambos promotores.
— Mais uma neta! Will, pode liberando o cartão. Tenho compras a
fazer amanhã! Minha neta precisa de um monte de coisas, roupas, sapatos,
brinquedos, maquiagem! E uma cama na minha casa, será que ela gosta de
rosa? Por que a minha fadinha ama rosa da vida toda! — Minha mãe diz
empolgada.
— E lá vamos nós ficarmos mais pobres! — Meu pai diz rindo.
— Ela falou que tem um irmão. Ele quem sempre cuidou dela, ela não
me disse muita coisa. Não sei se foi abusada... Não posso sequer imaginar
isso! Ela... Ela falou que o irmão apanhava muito, e que... E que viu o
desgraçado puxando o cabelo do irmão e o colocando de joelhos na frente
dele. E se... E se... Meu Deus! E se esse mostro abusou dele? —Eu entro em
completo desespero, só de imaginar uma coisa dessas.
Eu choro desesperadamente e mais que depressa, sinto braços fortes
me levantarem do colo do meu pai e me abraçarem apertado. Gael me
balança como se eu fosse um bebê, ele fala palavras de conforto em meu
ouvido, dizendo que tudo vai ficar bem.
— Nós iremos achá-lo princesinha. E vamos trazê-lo para casa, só
precisamos saber por onde começar! – Donatello diz decidido.
— Que chololo é esse aqui? Muito cheio de gente! Vovô onde tá a
minha filhinha? A Malia qué vê a Tiana, eu contei pala ela que eu vou ganhar
um leão e ela qué um Nemo. Você compa um Nemo pala a minha piminha
que é gande? Tem que compa poque eu sou o neném dela! — Luna entra na
sala, arrastando uma Maria envergonhada.
— Óh! O vovô não trouxe. Mas não tem importância, sexta ela vai
conhecer todos os animais que você tem! E eu vou pescar um Nemo bem
grandão para ela. — Meu pai diz sorrindo todo bobo.
— Vem Malia! Essa aqui é a nossa vovó linda. Maisi tem que chama
ela de vovó linda viu? Aquedita que ela tem medo de balatinha? Maisi não
conta pala ninguém ok?
— Luna apresenta Maria para minha mãe.
A fadinha apresenta minha menina para todos, sem soltar sua mão
uma única vez. Eu sempre e para sempre serei grata a essa menina, acho que
se ela me pedir o céu eu sou capaz de dar. Ela me trouxe o bem mais precioso
que existe no mundo, ela que está fazendo com que a minha menina não fique
com medo.
Quando a Luna diz que elas estão com fome, minha mãe e minha tia
Luz correm mais que depressa para a cozinha. Dylan coloca um desenho para
elas assistirem, e eu sem conseguir ficar muito tempo longe dela, me deito ao
seu lado para assistir também. Maria me olha sorrindo e mexe em meus
cabelos delicadamente.
Se depender de mim, essa menina nunca mais ficará sem um sorriso
nesse rosto de bonequinha.
Minha missão na vida será fazer que ela cresça feliz.

Depois de conversar com a família da Yza, me senti um pouco mais


aliviado após saber que eles vão nos apoiar. Não que isso mudasse alguma
coisa, mas eu sei que para a minha Sweet é importante a aprovação dos
Reeds.
Por falar na minha Sweet, ela está deitada no tapete da sala do irmão
assistindo desenho com a nossa menina e a fadinha. Mas tem uma hora que as
duas cruzam os braços e apoiam a cabeça em cima e ficam uma olhando para
a outra. Sem conseguir me conter, tiro uma foto e envio para a minha mãe
com a legenda.
"Sua nora e sua neta."
Na mesma hora que ela visualiza, meu telefone começa a tocar. Eu
vou para a cozinha, onde está apenas a minha sogra.
— Oi mamãe.
— Que a Yza é minha nora, isso eu já sabia. Mas uma neta!? Que
porra é essa Gael D'Ávila!? — Dona Marta grita no telefone.
— História longa mãe, mas amanhã eu conto tudo pra senhora antes
de ir trabalhar. Mas sim, a senhora agora tem uma neta linda e que precisa de
muito amor.
— Ai meu Deus! Ai meu Deus! ai meu Deus! É sério? Jura filho? —
Ela grita entusiasmada e Belle ri ao escutar os gritos.
— Juro dona Marta, amanhã te explicarei tudo ok?
— Tudo bem filho, fale para Belle não roubar a menina de mim viu!
Eu amo você ursão.
— Também amo você mãe. — Falo e desligo.
Belle me estuda por longos minutos, depois sorri como se tivesse feito
uma descoberta.
— O quê?
Mas antes que ela possa me responder, escutamos um estrondo e
corremos na direção do barulho. Assim que abrimos a porta que leva a
varanda, vejo Donatello andando de um lado para o outro e logo depois
jogando seu celular longe. Dylan pergunta o que estava vendo e Donatello
solta a bomba.
Diego estava fora da cadeia.
Dylan surta e só para quando a filha entra em cena, reclamando dos
seus vasos quebrados. Eu mando uma mensagem para o meu contato na
polícia, e peço para que ele averigue a notícia sobre a soltura de Diego
Castro. Donatello fala sobre viajar para resolver o problema do Diego, e vai
embora louco de raiva. Quando Dylan dá a notícia para Katrisca, ela desmaia
em seus braços levando todo mundo ao desespero.
Quando ela acorda, entra em pânico quando lembra das ameaças do
filho da puta.
— Katrisca! — Falo alto chamando a sua atenção.
— Oi... — Ela responde chorando
— Sei que mal nos conhecemos, mas quero que você confie em mim.
Você pode fazer isso? — Pergunto, me ajoelhando ao seu lado.
— Posso. — Ela diz chorando.
— Nada, não existe nada nesse mundo que possa machucar aquela
menina. E eu me encarregarei disso! Não sou conhecido como o juiz
implacável à toa.
— Obrigado Gael! — Katrisca agradece me abraçando.
E falo isso de coração. Aquela menina é a coisa mais pura que já vi na
vida, e não deixarei ninguém machucá-la.
Depois que ela se acalma, vamos todos para a sala e Belle serve um
lanche reforçado, uma mesa com várias coisas gostosas. Meus olhos caem em
uma torta de banana caramelada, e Yza vendo isso cai na risada.
— O que? Do que você está rindo?
— Seus olhos brilhando olhando para o bolo. — Ela me serve um
pedaço grande.
Logo na primeira mordida já pego outro pedaço. A massa derrete na
boca, o sabor das bananas carameladas explodem na boca.
— Belle isso aqui é uma delícia! — Falo de boca cheia mesmo.
— Gostaria de levar o crédito menino, mas os bolos e Pães recheados
são da delicatessen aqui perto, eles acabaram de entregar.
Maria entra na cozinha junto com a Luna. Seus olhos brilham ao ver
os doces, mas logo se envergonha e vem sentar ao meu lado. Yza prepara o
lanche para ela, mas seus olhos voltam para namorar o bolo.
— Você quer bolo meu bem? — Pergunto baixinho.
— Eu... A princesa me deu um pãozinho. — Ela cochicha.
— Mas você quer o bolo, não é? Qual você quer?
— Quero, mas eu tenho que comer o pão. Não pode estragar a
comida.
— Não se preocupe com o pão meu bem, se for te fazer feliz eu como
o seu pão se você não aguentar. Agora mocinha, qual bolo você quer? — Eu
falo e ela sorri para mim.
Não um sorriso qualquer, mas um enorme. Como se eu tivesse lhe
dado a melhor coisa do mundo.
— Eu gosto de chocolate e bolo de laranja, mas todos os bolos
parecem gostosos. Qual é o seu preferido? — Ela pergunta cheia de dúvidas.
— Vou te contar um segredo... Eu amo qualquer tipo de doce, mas eu
como pouco para não engordar ou não caberei nas minhas roupas. — Falo
baixinho e ela sorri.
Eu pego um pratinho e pego pequenos pedaços dos bolos que estão na
mesa, depois entrego para ela. Reparo que todos estão nos olhando.
— O que? Estamos fazendo uma competição de qual bolo está mais
gostoso, não é
Maria?
Ela timidamente concorda e todos entendem o que quero fazer.
Willians é o primeiro a entrar na brincadeira, e pega até mesmo papel e
caneta para anotar os votos. Maria se sente importante por contribuir com a
pesquisa, e acaba comendo todos os pedaços.
Yza vem se sentar e meu colo.
— Obrigado por fazê-la se sentir à vontade.
— Não foi nada Sweet. Ela estava namorando o bolo, mas você já
tinha dado o pão para ela por isso ela ficou com vergonha. — Eu falo, e logo
em seguida sinto uma mãozinha me cutucar.
— Eu posso tomar mais um pouco de suco? Se não puder eu tomo
água mesmo. — Maria pergunta pra mim.
— Maria, você não precisa perguntar se pode. Basta pedir se não
quiser pegar sozinha, tudo o que está na mesa é para nós. Entendeu? — Yza
diz segurando seu rostinho.
— Entendi.
Yza serve mais suco para Maria. Katrisca está abatida e Dylan olha
para ela preocupado. Sua atenção está sendo dividida entre Luna e Katrisca,
mas se percebe a preocupação com a mulher dele.
— Ei fadinha. — Chamo sua atenção.
— O que usã... Pincipe rabiscado.
— O que você acha de dormir na casa da tia Yza hoje? Fazer uma
festa do pijama, a Maria, sua tia e você?
— Com pipoca e sorvete?
— Posso providenciar.
— Deixa mamãe, deixa euzinha ir? Pometo obedecer a tia pincesa, o
usão, todo mundo eu obedeço. Ai eu vou domi com a minha Malia e da amô
pala ela.
— Tem certeza Gael? — Dylan pergunta.
— Sim. Vá pegar o seu pijama menina faladeira. — E ela sai correndo
puxando a Maria junto. — Eu sei que você está preocupada, mas prometo que
ela ficará bem. Tire a noite pra vocês dois, e descanse bastante.
— Obrigado Gael. — Katrisca agradece.
Yza vai ajudar a Luna a arrumar a bolsa. E eu e Luz limpamos a
mesa.
— Você sabe que, o que está fazendo é uma coisa linda, não sabe? —
Luz pergunta.
— Luna não dá trabalho Luz, ele é faladeira, mas é um amor.
— Estou dizendo sobre a Maria. Não é qualquer um que pega para si
a dor do próximo, e foi isso o que você e minha sobrinha fizeram. A conexão
entre vocês é nítida, e eu tenho muito orgulho por você fazer parte da família.
— Luz diz emocionada.
— Não que eu não faria isso por qualquer criança Luz, mas ela é
especial entende? Não sei te dizer como, ou porque, só sei que ela é uma
parte de mim. Eu queria ter tido alguém que pegasse minhas dores e as da
minha mãe, quando eu era pequeno. Que impedissem que meu pai batesse na
minha mãe e em mim, mas eles se faziam de cegos.
— As dores do seu passado, poderiam ter te moldado em um homem
diferente Gael. Mas olhe para você, tem esse tamanhão todo, essa cara de
mau, mas tem um coração enorme dentro de si. Você pegou as pedradas que
recebeu na infância e construiu uma fortaleza. E é nessa fortaleza, que você
colocará a sua família e a manterá segura custe o que custar. — Ela diz
sorrindo.
— Pode ter certeza disso Luz!
Ficamos mais um pouco com eles, mas logo vamos embora. Amanhã
eu acordo cedo, tenho que resolver tudo em relação a guarda provisória.
Luna e Maria vão no banco de trás, presas em seus cintos de
segurança. Dylan chama a minha atenção para procurar um acento adequado
para Maria, e eu faço uma nota mental disso.
Quando chegamos ao apartamento, Maria olha tudo completamente
encantada e Luna sai puxando ela até o quarto, onde tem alguns dos seus
brinquedos já que ela sempre fica com a Yza pelo menos uma vez por
semana.
— O que faremos sobre o irmão dela? Esse garoto deve estar
desesperado atrás dela. — Yza pergunta.
— Nós daremos um jeito meu amor. Temos que conversar com ela,
perguntar se ela lembra de onde morava ou de algo que nos ajude a encontrá-
lo.
Quando a noite cai, peço pizza para jantar. Luna gosta de calabresa,
Maria nunca comeu pizza e Yza gosta de portuguesa. Já eu como qualquer
uma, estou vendo que amanhã o treino será puxado.
Com as meninas de pijamas, comemos assistindo desenho. E dessa
vez é um da Barbie pop stars. Sério o que esse povo tem na cabeça, de fazer
desenho musical? O mais engraçado não é a Luna cantando e dançando, e
sim a minha Sweet que sabe todas as músicas. Elas estão tão empolgadas que
até Maria se anima. Elas pulam e dançam por toda a sala, e eu acabei de
perceber que eu terei duas crianças em casa!
Deus me ajude!
Outro filme começa, um tal de Barbie Burttefly. Juro que minha
cabeça até dá uma pontada, quando outro musical começa. Mas graças a
Deus as meninas acabam adormecendo na metade do filme. Yza vai arrumar
a cama no quarto de hospede, e quando termina eu levo uma por uma no colo
e as ajeito na cama. Deixamos o abajur ligado e a porta aberta, caso uma das
duas acordem durante a madrugada.
— Vem Sweet, minha vez de fazer você dormir. — Falo levando a
minha menina para o banheiro.
Quando entramos embaixo do chuveiro, ela se agarra em mim e deixa
toda a tensão do dia ir embora através das lágrimas. Meu coração fica
apertado por ver tanto sofrimento, e isso é apenas o começo de tudo. Eu sei
que, uma criança que passou por vários tipos de abusos, tem pesadelos,
insônia, medo, pânico e não sabemos realmente o que aconteceu com a
Maria. Eu sei que ainda teremos um longo caminho, se tratando da nossa
menina. Mas iremos lutar e vencer cada obstáculo que aparecer. Meu maior
medo é o menino... Júlio... O que esse garoto deve ter passado? Yza contou
por cima que a Maria viu o homem colocando o irmão de joelhos na frente
dele. E eu posso imaginar para que, mas me recuso a formar a imagem em
minha mente ou matarei esse monstro.
Minha Sweet está esgotada, eu a seco e coloco a camisola nela e em
seguida a deito na cama. Em menos de dois minutos ela desmaia. Eu me visto
e vou ver as meninas mais uma vez, e deixo a luz do corredor ligada para elas
acharem o caminho do nosso quarto.
Assim que deito o cansaço bate, e não digo o cansaço físico e sim o
mental. Passamos por muita coisa hoje, muita intensidade. Logo adormeço...
Escuto uma voz me chamar baixinho.
— Ursão... Ursão... Acorda Ursão...
Eu abro meus olhos cansados e vejo a minha menina. Seu rostinho
banhado de lágrimas, seus olhos vermelhos. Eu tiro as mãos da Yza do meu
peito e me sento na cama.
— O que foi meu bem?
— Deixa eu dormir aqui com você? Eu estou com medo, deixa? —
Ela pede chorando.
Sem me conter, eu a puxo para o meu colo e a abraço com força. Ela
esconde seu rosto em meu pescoço e chora ainda mais.
— Xiu... Não chora princesinha. Nada mais vai te machucar ok? Eu
nunca mais deixarei ninguém te machucar.
Ela continua a chorar sentida, nada do que eu falo consegue acalmá-
la. Eu levanto da cama com ela em meus braços, e ando pelo quarto como se
estivesse ninando um bebê. Muito tempo se passou quando ela começa a se
acalmar, eu saio do quarto com ela em meu colo e vou para a cozinha.
Quando eu vou colocar ela sentada no balcão, ela abraça apertado meu
pescoço pedindo para não deixá-la.
Isso acaba comigo, ao mesmo tempo que me enche de orgulho, pois
ela confia em mim para protegê-la.
Eu encho uma caneca com leite e esquento no micro-ondas, assim que
fica pronto eu acrescento mel e canela. Minha mãe sempre fazia esse leite
quando eu tinha pesadelos. Na verdade, até hoje ela faz para mim sempre que
estou chateado. Volto para o quarto levando ela e a caneca de leite. Sento na
cama e encosto na cabeceira e entrego a caneca para a Maria.
— Aqui princesinha, leite com mel. É uma delícia e vai acalmá-la e
você dormirá tranquila.
Ela toma metade da caneca e me entrega, e eu termino de tomar o
restante. Coloco a caneca no criado mudo, e puxo a coberta para nós.
— E a neném?
— A neném está bem, quando ela acordar virá até aqui. Agora feche
seus olhinhos lindos e tente dormir. Eu estou aqui e nada vai te acontecer.
—Você vai me proteger, não vai?
— Sempre e para sempre. Agora durma meu bem.
E assim ela faz, poucos minutos depois sua respiração fica lenta
mostrando que ela realmente adormeceu.
Eu fecho meus olhos e faço uma oração, pedindo a Deus que abençoe
e tire tudo o que for ruim da cabecinha dela. Segurando ela em meus braços,
acabo adormecendo sentado.
Acordo com duas mãozinhas segurando meu rosto, e quando abro os
olhos vejo um par de olhos verdes brilhantes.
— Bom dia tia pincesa. — Ela diz cochichando.
— Bom dia fadinha. — Falo sonolenta.
Ela sobe na cama, ou tenta subir já que a cama é muito alta. Eu a
ajudo e ela se senta ao meu lado, e sorri.
— Tão lindinho esse nosso pincipe usão né? Ele cuidou da minha
Malia, assim como o meu vidinha fez com euzinha. — Ela fala baixinho e só
então eu olho para o lado.
Vejo Gael sentado com as costas encostadas na cabeceira, com a
Maria dormindo em seu colo, ambos adormecidos. Essa cena me traz
lagrimas nos olhos. São tão lindos, e todos meus.
Minha menina... Quantas coisas ela não deve ter presenciado, quanta
maldade ela não deve ter visto. Dias e dias nas ruas, comendo coisas do lixo,
passando frio, dormindo na chuva. Isso me parte ao meio, principalmente por
saber que ela não é a única e que não será a última criança a passar por isso.
A raiva que eu sinto pela mãe dessa menina, e principalmente pelo
homem que causou isso é monumental. Medo pelo irmão dela que está
sumido, sabe-se lá Deus por onde. A incerteza corrói minha mente, por não
saber onde começar a procurar, sem saber se o homem desgraçado fez
alguma coisa com ele.
O que não entendo é, como que ninguém percebeu isso? A escola, os
vizinhos, professores, ninguém sabia? Será que ninguém via? Pelo que a
Maria me contou, o filho da puta vivia espancando o Júlio e ninguém nunca
ouviu nada!? Sabe qual a minha vontade? É pegar uma metralhadora e sair
atirando em todas as pessoas omissas, que fecharam os olhos para tudo de
ruim que fizeram contra ela e o irmão. Queria fazer um paredão de
fuzilamento e brincar de justiceiro, sair metralhando todo mundo.
— Tia pincesa? Tá ouvindo euzinha?
— Oi minha fadinha, desculpa. Mas o que você falou?
— Eu disse pala não fica tiste ok? Agola a sua filha tá aqui, eu não
disse que ela ia chegar? Eu vou convesa com o papai do céu, e vou descobi
onde o imão da minha Malia tá. Ai a gente busca ele e eles vão se felizes
pala sempe e fim!
Eu olho para Luna emocionada. Essa menina é completamente
iluminada, abençoada. Ela diz tantas coisas, e a convicção em sua voz é
incrível e admirável. Ela realmente disse sobre a prima grande, ela
atormentou durante semanas! E olha o que aconteceu, eu com vinte e quatro,
quase vinte e cinco, me tornei mãe de uma menina linda.
— Você falou não é? O que você acha de prepararmos o café da
manhã? Quer me ajudar? — Pergunto e ela pula da cama sorrindo e corre
para fora do quarto.
Eu me levanto e dou uma última olhada para os meus dois amores, e
vou para a cozinha. Ligo a cafeteira e olho para o relógio, oito e quinze da
manhã. Se o Gael não levantar até as nove, eu o acordarei ou ele chegará
atrasado. Pego meu celular e envio uma mensagem para a minha secretária, e
peço para ela cancelar todos os meus compromissos de hoje.
Luna me ajuda a quebrar os ovos para fazer um mexido. Faço misto
quente no grill, e um suco de laranja. Faço uma nota mental de ir ao mercado
mais tarde, minha geladeira está vazia.
— Tia.
— Oi meu amor.
— A minha mamãe sempe esqueve quando tem que compa as coisas,
assim ela não esquece.
— Hum, bem lembrado! Vou fazer uma agorinha. —Falo pegando
um caderno e caneta.
Vou falando alto, enquanto vou escrevendo. Luna com o seu jeitinho,
vai me lembrando o que eu tenho que comprar.
— Tem que compa bisnaguinha do scooby-doo, poque é muitão
gostoso. Requeijo também, e suquinho do Bob esponja, e Danone de
chocolate, e de molango também. E sovete de uva! Minha Malia adola
uvinha, e doces, muitão de doces.
Eu rio do seu jeitinho de falar. Ela está pendurada no balcão,
praticamente deitada em cima dele.
— Você só falou de comprar gulodices Luna. Mas e a comida?
— Sim! Carninha, perninha de fango, macarrão! Bolo, pastel,
hambuguinho.
Eu não aguento e caio na risada. Ela se cansa de fazer a lista, e pede
para assistir desenho. Eu a levo para a sala e ligo a televisão, e volto para a
cozinha. Arrumo as coisas no balcão, aproveito e pico umas frutas e faço uma
salada de frutas. Quando estou terminando, Gael entra na cozinha e coloca
uma caneca na pia e me abraça.
— Bom dia. — Ele diz com o rosto escondido em meu pescoço.
— Bom dia Ursão. Eu já estava indo te acordar.
Eu encho duas canecas de café e entrego uma para ele. Gael está com
os olhos cansados, o rosto abatido.
— Eu fui pegar no sono já estava clareando. Eu só não ligo para
desmarcar tudo, porque tenho que conversar com o Maurício sobre a guarda
provisória da Maria. Ou eu ficaria em casa hoje.
— Depois que resolver tudo, você volta e dorme um pouco. O... O
que aconteceu?
— Ela teve pesadelo, e chorou muito até se acalmar. Eu nunca me
senti tão impotente como me senti nessa madrugada.
— Aos poucos, com muito amor e atenção ela ficará melhor. — Eu
falo e volto para a minha lista.
— O que você está fazendo? — Ele pergunta sentando ao meu lado.
— Minha geladeira está vazia, preciso fazer compras. E tenho que
providenciar roupas para a Maria.
— Sweet, temos que decidir o que iremos fazer, onde iremos ficar. Se
é aqui no seu apartamento ou na minha casa. Ou talvez vender tudo e
comprar outra casa.
Ele tem razão, meu apartamento é grande. Duas suítes, sala, cozinha,
banheiro social, varanda gourmet e o caralho a quatro. Mas temos que pensar
a longo prazo, com fé em Deus o Júlio logo estará aqui e ele terá que ter o
quarto dele.
— Vamos fazer assim, mais tarde nós conversaremos sobre isso e
decidiremos juntos. Pode ser?
— Pode Sweet. Vou resolver as coisas, ver se consigo uns dias de
férias já que faz anos que não tiro. Agora de início, quero poder estar
presente na adaptação dela com a gente.
— Eu também vou tentar fazer isso. Conversar com o Dylan e o
Donatello sobre um afastamento. Minha prioridade agora é a Maria, vou ligar
para a pediatra para consultar ela.
— Isso! A prioridade agora é ela, vamos cuidar de tudo junto Sweet.
Agora vou tomar um banho no quarto de hóspedes, não quero acordá-la. —
Ele diz e me beija.
— Tão lindinhos namolando! — Luna entra na cozinha batendo
palmas.
— Sua danadinha! — Gael ri pegando a Luna no colo. — O que você
quer ganhar de presente?
— Maisi nem é meu nivesalio! — Ela pergunta confusa.
— Eu sei que não é, mas quero retribuir o presente que você me deu.
— Ele diz carinho.
— Olha tia pincesa, esse seu Usão tá bem maluquinho viu. Eu não te
dei pesente não Usão!
— Você me deu a Maria! O melhor presente do mundo.
Eu fico emocionada ao ouvi-lo dizer isso. Realmente ela é o melhor
presente que eu ganhei na vida.
— Usão bobinho! Não foi eu, foi o papai do céu. Tem que reza pala
ele e agadece, minha mamãe sempe diz que tem que agadece pelas coisas
boas da vida. Então na hola de domi, você reza pala ele e agadece, ele vai
fica muitão feliz da vida toda. Ele é muito bonzinho, só é um pipinho
fofoqueilo.
— Eu irei agradecer com certeza! E quando você falar com ele, diz
que eu gostei muito do meu presente. E se ele quiser dar o irmão da Maria de
presente para mim também, eu vou gostar muito. Agora eu vou tomar banho,
tenho que ir trabalhar. — Ele a coloca no chão e vai tomar banho.
— Eu to com fome tia pincesa.
— Então vamos comer! — Falo animada, e nos sirvo o café da
manhã.
Decido não acordar a Maria, pois acho que é a primeira vez que ela
está dormindo verdadeiramente. E ainda mais depois dos pesadelos.
Gael aparece de banho tomado, vestido estilo bad boy. Ele come um
pouco de salada de frutas e sai correndo para o fórum. Luna e eu ficamos
assistindo desenho, enquanto a minha menina dorme.
Quando é quase onze horas da manhã, ela aparece na sala toda
descabelada e com o rostinho amassado.
— Oia a minha Malia acodo! Bom dia, quem ama maisi essa Malia
no mundo todo!? — Luna pergunta feliz.
— Ninguém neném. Eu não tenho ninguém que me ama, só o meu
irmão que sumiu. —Ela diz tristonha e isso parte meu coração.
Luna olha muito brava pra ela, e com as mãos na cintura ela faz uma
pose aborrecida, com direito a bater o pé e tudo. Juro que nunca vi essa
menina nervosa, hoje é a primeira vez.
— Lógico que você tem! Euzinha amei você primeiro, quando o meu
amigo fofoqueilo contou que eu ia ganha uma pima gande. Minha tia pincesa
te amou assim que viu você, meu pincipe rabiscado ama você igual o meu
papai me ama. Agola você não é maisi sem família, agola você tem um
montão de gente que te ama! To muito sutada de obséquio, poque você não
qué que eu te ame! — Luna fala brava, e no final ela acaba chorando.
Maria assim que vê suas lágrimas, corre para abraçar a fadinha.
— Xiiiuuu... Não chora neném, não chora. Me desculpa? Por
favorzinho? Você me ama mesmo? — Maria pergunta.
As duas estão sentadas no chão abraçadas.
— Eu disse não é mesmo? Eu amo você Malia, um amô que vai até a
lua e volta. Você é minha pima gande e minha miga pala sempe.
— Ok então. Eu também amo você neném, tá? Você me desculpa?
— Desculpo só um pipinho ta bom? Maisi só poque eu sou a sua
neném tá?
— Ta bom! Hum, onde está o papai ursão? — Ela pergunta
envergonhada.
— Ele foi no trabalho dele, mas logo ele volta e nós vamos passear!
Agora venha aqui que eu quero conversar com você. — Eu a chamo para o
meu colo.
— Desculpa ter ido dormir na sua cama tá? Eu... Eu... Eu fiquei com
medo, e o ursão disse que ia me proteger. — Ela diz com os olhos cheios de
lágrimas.
Eu a puxo para o meu colo, e faço um carinho em seus cabelos até ela
se acalmar.
— Não precisa se desculpar, se você sentir medo eu quero que você
venha para a minha cama. Mas o que eu quero falar é que, eu amo muito você
e aqui no meu coração você já é minha filha. Assim como no coração do
Gael, você é filha dele. Nos cuidaremos e protegeremos você sempre, e a
minha família também ama muito você. Quero que você saiba que será muito
amada, assim como seu irmão também será.
— Você quer ser minha mamãe mesmo? — Ela pergunta, com seus
olhinhos brilhando de esperança.
— É tudo o que eu mais quero na vida. Mas você decide quando me
chamar de mamãe ok?
— Ok. — Ela diz sorrindo.
— Que tal você tomar um café bem gostoso?
— Eu estou com fome.
— Então vamos lá! Fadinha, você quer tomar café de novo?
— Sim! Maisi eu só quelo futinhas, pode ser?
— Pode! Vamos lá, marchando para a cozinha.
E as duas me copiam e vão marchando até a cozinha.
Depois do café, darei um banho nelas, só para que se sujem
novamente. Mostrarei a elas o que é ser criança, e como se divertirem!

Chego ao meu escritório, e Marina já está me esperando.


— Bom dia Marina! Você poderia trazer a minha agenda?
— Bom dia menino, em cinco minutos. Só vou pegar o seu café. —
Ela diz e vai em direção a copa.
Eu me sento, coloco minha pasta na mesa e tiro a minha
documentação e os da Yza. Olho tudo para ver se não falta nada, logo o
Maurício estará aqui e quero tudo organizado. Não consegui resposta para as
minhas mensagens que enviei pra Zia, mas não tem problema.
Depois de tudo separado e conferido três vezes, eu relaxo um pouco,
antes que a Marina volte com a minha agenda e o café. Lembro do que
aconteceu nessa noite que passou, dos olhos carregados de medo. Das
lágrimas da minha menina, do seu pedido choroso para que eu a protegesse.
Ela entrou no meu sistema de um jeito indescritível, ela se apossou de um
pedaço do meu coração e nele fincou sua bandeira de posse. Não a nada no
mundo que eu não vá fazer por ela, é um sentimento tão avassalador que
muitas vezes perco o fôlego. Quando eu a vi chorando em pé no meu quarto,
foi como se alguém tivesse cravado uma faca no meu peito.
— Prontinho menino, seu café. Você pediu a sua agenda, mas hoje
você não tem muitos compromissos agendados. Somente duas reuniões, um
com aquele escroto metido a advogado, e o outro é o Juiz Ericsson.
— Hum... Interessante. Que horas é a reunião com esse juiz?
— Daqui a quarenta minutos.
— Perfeito. Preciso de um grande favor Marina. Quero que você
levante para mim, quando eu poderei tirar férias e quantas férias vencidas eu
tenho.
— Você está doente? É uma doença terminal? — Ela pergunta
assustada.
— Eu hein! Estou vendendo saúde mulher, só preciso de férias.
Aconteceram uns imprevistos e precisarei me afastar por uns tempos, nada
grave pode ficar tranquila.
— Ok, irei fazer esse levantamento e depois da reunião com o Juiz eu
já terei tudo em mãos. — Ela diz séria e caminha para sair da sala, dando de
cara com Maurício assim que ela abre a porta.
— Marina meu grande amor! Já decidiu assumir seu amor por mim?
Vai largar aquele Brucutu e ficar comigo? — Ele diz todo galante.
— Sim! Cansei dessa vida doméstica, quero adrenalina correndo nas
minhas veias. Não se preocupe, irei ligar para a sua esposa e informar que a
partir de hoje ela será ex-mulher.
— Nem me assumiu, e já quer me matar? Misericórdia mulher!
Marina sai da sala rindo das palhaçadas do Maurício, e esse quando
me olha fica sério na mesma hora. Ele sabe que o assunto é sério, ele se senta
na minha frente e desabotoa o terno.
— Diga Gael, o que você precisa? — Ele pergunta.
Maurício é um dos meus melhores amigos. E sei que ele vai me
ajudar em qualquer coisa que eu pedir. Eu explico tudo para ele, conto toda a
história e ele me olha espantado.
— Porra cara! Que história fodida.
— Isso por que não sei o que realmente aconteceu. Ela não sabe onde
era a casa, o endereço, nada! Ela não sabe nada.
— Como advogado, eu aconselharia a ir a uma delegacia e abrir um
boletim de ocorrência. É preciso saber o que realmente aconteceu com ela, se
existe alguma pessoa responsável pela menor. E ainda existe o tal irmão,
quantos anos ele tem e se for maior de idade, ele tem que arcar com a
responsabilidade perante a justiça. — Maurício diz sério.
— Polícia está fora da questão! Eles vão tomá-la de mim e leva-la
para um abrigo. Ela já sofreu demais, estava machucada e disse que foi
vendida para os homens maus. Então a polícia está fora.
— Escuta Gael, você é meu amigo de longa data. Você fez um nome
sozinho, é um juiz conceituado e muito respeitado. Agindo assim, você estará
arriscando a sua carreira.
— Eu trabalhei anos e anos nesse meio judiciário, e não fiz por conta
do dinheiro. Eu fiz e faço, para que crianças como ela não sofram o que eu
sofri. Se para tê-la eu precise mexer meus pauzinhos, agir por debaixo dos
panos, então é o que eu irei fazer! E foda-se a minha carreira.
Não estou ligando para nada, desde que eu obtenha a guarda dela. Eu
não deixarei que ela vá para um abrigo, onde ninguém dará a mínima para os
seus medos e pesadelos.
— Você já cuidou de vários tipos de casos, você já viu casos fodidos
e nunca se envolveu além de fazer justiça. O que essa menina tem de
especial, para você passar por cima até mesmo da sua ética? — Ele pergunta
sério.
— Por que ela é minha! Aqui dentro do meu coração ela é minha. Não
posso te descrever esse sentimento, só posso te dizer que ela é diferente.
Você pode me ajudar?
— Lógico que vou te ajudar porra! Eu irei falar com o juiz Ericsson,
ele é a vara da infância e tem experiência sobre isso. Aliás, ele melhor que
ninguém sabe o que você está sentindo, já que passou por isso a alguns anos
atrás.
É de conhecimento de todos que Josafá Ericsson adotou uma menina.
O que muitos não sabem é que ele tirou ela de uma situação fodida. Foi um
dos casos mais foda que eu já presenciei, a menina estava sendo leiloada para
um bando de riquinhos sedentos para roubarem a inocência dela. Esse caso
parou o país na época, e ele foi o juiz que aplicou a pena máxima para esses
abutres.
Marina abre a porta depois de bater algumas vezes.
— Meritíssimo, o Juiz Ericsson está aqui. — Ela avisa, e Maurício me
olha surpreso.
— Pode deixa-lo entrar Marina, e por gentileza providencie água e
café, e não me passe nenhuma ligação.
— Sim senhor. — Ela diz fechando a porta.
— O que?
— Pura coincidência meu amigo. Pura coincidência! — Falo rindo e
logo a porta se abre, mostrando a figura imponente de Josafá Ericsson.
— Bom dia Gael, desculpa interromper, mas sua secretária disse para
eu entrar. — Josefa fala com sua voz barítono ecoando pela sala.
— Não precisa de desculpar. Por incrível que pareça, estávamos
falando do senhor. Por favor, sente-se e me diga, ao que devo a honra dessa
visita.
Ele olha para mim e para Maurício, analisando se deveria ou não
falar.
— Eu vim te pedir um grande favor, o que direi aqui tem que ficar
entre nós. — Ele pede.
E quando eu e Maurício garantimos o sigilo, ele começa a falar.
— Há alguns anos atrás presidi um caso, onde a polícia descobriu um
abrigo onde várias crianças estavam sendo torturadas. Ontem um amigo meu
da polícia, descobriu outro abrigo desse tipo. Foram descobertas mais de
quarenta e duas crianças, vivendo de maneira precária. Muitas crianças foram
abusadas, espancadas e sabe-se lá mais o que! E a pessoa que estava no
comando, era uma das pessoas envolvidas no primeiro caso e que acabou
fugindo. — Josefa diz com pesar.
— Do que você precisa Josafá? Independentemente do que for, minha
resposta será sim! — Digo com certeza.
— Eles tiraram meu nome, dizendo que eu estava envolvido
emocionalmente no caso. E eu pedi para ajudar a escolher o juiz que ficaria
no meu lugar. E é isso, preciso que você aceite presidir esse julgamento e que
fará justiça assim como eu.
— Estou dentro!
— Eu quero ajudar, já tem promotor de acusação? — Maurício
pergunta.
— Ainda não. Mas ficaria satisfeito se você se juntasse a essa batalha,
eu não posso presidir, mas posso auxiliar. É um caso grande, com direito a
júri popular. Preciso que esses infelizes paguem por tudo o que fizeram.
— Quando será isso?
— O caso será montado até o final do mês, meu amigo irá mandar
tudo o que eles conseguiram para poder ser estudado.
— Ótimo, eu estou me afastando por uns dias. Só estarei disponível
para você e mais dois casos. Mas agora eu irei fazer um pedido especial para
você.
— Eu sou todo ouvidos meu amigo.
Depois que ele me ouve por quase meia hora, ele diz para não me
preocupar e que irá resolver tudo. Ele pediu para conhecer as minhas
meninas, e me desejou felicidades. Depois de tudo resolvido, me despeço de
Marina e vou embora. Passo em casa e preparo uma mochila, ligo para a
diarista e peço para ela dar um geral em casa e principalmente no quarto de
hóspede.
Minha casa é enorme, quatro quartos, um escritório enorme, sala, sala
de jantar, cozinha, área de serviço, varanda e a porra toda. Eu a comprei em
um impulso, mas até então minha mãe moraria comigo. Mas ela quis morar
sozinha, então fiquei aqui em uma casa enorme e sozinho. Mas não serei
assim por muito tempo, logo minhas meninas estarão aqui comigo. Ou se a
Sweet não gostar, podemos comprar outra casa, quem sabe mais perto do
irmão ou até mesmo dos seus pais.
Envio uma mensagem para a minha mãe, e digo que iremos jantar
com ela mais tarde. Depois de tudo resolvido, entro no carro e vou em
direção ao apartamento da minha mulher. Sorrio ao pensar em Yza como
minha mulher, ela me enlouquecera isso é certeza. Mas eu irei adorar cada
segundo disso. E a prova da sua loucura, eu tenho assim que abro o
apartamento.
Uma música alta ecoa por toda casa, a sala está uma bagunça de
roupas. E encontro Yza, Maria e Luna, todas maquiadas com chapéus
ridículos em suas cabeças. Elas pulam e dançam como se estivessem doidas,
o melhor são as gargalhadas que vêm delas. Eu me escondo quando a música
muda, e começa a tocar um funk. Yza dança e as meninas tentam imitar. Elas
estão coradas, rostos molhados de suor, mostrando que elas já estão nisso a
algum tempo.
Yza é a primeira a me ver, e me chama com um dedo para me juntar a
elas. Ela abaixa a música e só então as meninas me veem.
— Papai ursão! — Maria diz sorrindo, e só de ouvi-la me chamar de
pai meu coração erra algumas batidas.
— Eu princesinha! Está se divertindo? — Pergunto pegando ela no
colo.
— Muito! A mamãe princesa é muito legal. Você gostou da minha
maquiagem? — Ela pergunta fechando os olhos para que eu veja a
maquiagem meio borrada.
— Você está linda bebê, mas prefiro você sem maquiagens.
— Usão vem dança também! Muito legal dançar sabia? Agola vem,
minha tia princesa disse que dança espanta o mal olhado. — Luna diz rindo.
— Vamos dançar papai Ursão? — Maria me pede sorrindo.
E não a nada no mundo que eu não faça por esse sorriso.
— Hum... Não sei, eu não gosto muito dessas músicas. Acho muito
barulhentas. — Falo rindo.
— Vem ursão! Vamos dançar, que música você quer ouvir? — Yza
pergunta rindo.
Eu coloco Maria no chão e encaminho para a minha Sweet, e pego
seu celular para escolher uma música. Eu aproveito e a beijo forte, mas logo
ela está rindo ao ouvir a música que escolhi.
— Eu amo essa música! — Ela grita e canta alto.
Yza começa a dançar pela sala, imitando a cantora em seus passos
loucos. Luna e Maria seguem ela, imitando tudo o que a Sweet faz. Meu
coração se enche ainda mais de amor por elas, suas risadas alegra-me muito.
Maria corre até mim, me puxando para o meio da sala e eu me deixo
levar, pego ela no colo e danço com ela por toda a sala. Lembro de quando eu
era menino e minha mãe me pegava no colo e dançava comigo pela casa toda.
Esses eram meus dias preferido, onde eu a via alegre e cantando.
Pensa em um homem de mais de um metro e oitenta, cheio de
músculos, cara de mau, dançando Cindy Lauper no meio da sala. Já pensou
alguém vê isso? Estou perdido, será zoação infinita! Pouco me importa, faria
isso mil vezes só para ver a alegria das minhas meninas. Passamos por uma
série de músicas, até as meninas ficarem cansadas e com fome. Elas vão
tomar banho, enquanto eu recolho a bagunça que está na sala e preparo um
lanche para elas.
Um pouco depois, Dylan e Katrisca aparecem para buscar a fadinha, e
quando vejo a tristeza da minha menina, proponho irmos ao mercado e depois
comprar as coisas dela. Maria sorri contente e Yza principalmente.
— Ursão, está preparado para ir as compras comigo? — Diz ela
sorrindo diabolicamente.
— Hum, agora eu não tenho certeza se é uma boa ideia irmos as
compras. Acho melhor irmos só ao mercado mesmo, mais tarde temos que ir
na minha mãe.
— Nada disso bonitão! Agora não adianta fugir.
Ela e Maria saem rindo em direção ao elevador, e eu fico para trancar
a casa. Se eu apenas soubesse a loucura que seria, sair com a minha Sweet
para fazer compras, eu nunca teria feito essa proposta. No mercado foi como
se eu estivesse lidando com uma creche cheia de crianças, e não com uma
mulher adulta. Acho que se eu não estivesse junto dela, Yza teria nada além
de porcarias em casa para comer. Maria ria das palhaçadas da Yza, e dos
meus gritos com ela. Na realidade, todos no mercado riam das graças que a
minha Sweet fazia.
— Essa mamãe é muito engraçada. — Maria diz rindo.
— Sim princesinha, e eu gosto dela desse jeitinho mesmo. Toda
maluquinha!
Eu não mudaria a minha Sweet em nada! Amo o seu jeitinho doido,
sua lealdade, sua entrega a tudo o que ama.
Eu a amo de qualquer jeito.
Quando me dou conta do que pensei, paro no corredor e fico olhando
para ela enquanto conversa com a Maria. Tento achar o medo dentro de mim
por amar essa menina. Mas tudo o que sinto é alegria, felicidade e
encantamento.
Agora bastar saber o que ela sente por mim. E tentar descobrir como
amarrá-la a mim definitivamente. Uma ideia passa pela minha cabeça, e eu
sorrio largamente.
Yza Reed, você não saberá o que a atingiu!
Ela não sabe ainda, mas assim como a Maria, eu estou indo faze-la
minha também. De papel passado e tudo!
Tudo o que uma mãe deseja para um filho, é vê-lo feliz, realizado. E
eu não sou diferente quando se trata do meu ursinho.
Desde menina eu sempre sonhei em ser mãe. Minha brincadeira
preferida era brincar de casinha, tratava as minhas bonecas como minhas
filhas. Nunca risquei ou quebrei qualquer boneca minha. Meu pai era um
homem rigoroso, nunca foi de demonstrar carinho, mas também nunca me
machucou. Minha mãe era uma mãe carinhosa, mas foi criada para servir ao
marido em qualquer situação. Cansei de vê-la chorando, por meu pai traí-la
com outras mulheres, mas logo passava.
Eu cresci, terminei os estudos, mas não pude fazer faculdade e nem
cursinho técnico. Sempre quis ser enfermeira, cuidar das pessoas,
principalmente trabalhar na parte pediátrica para cuidar das crianças. Mas
nada disso foi possível, pois assim que completei dezesseis anos meu pai
arrumou um noivo para mim.
O pai do Gael.
Não gosto nem de citar o nome dele, que me causa calafrios. No
início ele parecia um bom homem, atencioso, simpático, conversávamos de
vários assuntos. Ele já estava no exército a alguns anos, e eu achava lindo
quando ele vinha me visitar fardado. As minhas primas morriam de inveja, as
meninas da minha rua também. Nos primeiros meses que nos casamos, foram
mil maravilhas. Ele saia para trabalhar e eu ficava cuidando da casa e das
suas coisas, fazia o que fui criada para fazer. Cuidar do meu marido! Mas
depois as coisas foram mudando, ele passou a ficar vários e vários dias fora
de casa, começou a chegar bêbado, suas roupas fedendo a perfume barato. E
eu comecei a lembrar da minha mãe, dos seus choros calados.
Eu o confrontei, e pela primeira vez eu apanhei. E depois disso passou
a ocorrer sempre. Eu desisti de perguntar as coisas, de brigar quando ele
chegava bêbado, com marcas no corpo feitas por outra mulher. Já não sentia
prazer em me deitar com ele, tudo se tornou mecânico. Meus sonhos de
menina foram morrendo, e depois de dois anos de casamento eu engravidei.
Ele ficou feliz, seu comportamento agressivo amenizou, as agressões
pararam. Ele se tornou obsessivo, ciumento, controlador. Não podia sair no
portão, que eu estava querendo me mostrar para outros homens.
As agressões físicas pararam, mas em compensação os abusos
mentais começaram. Então o meu ursinho nasceu, e tudo começou a fazer
sentido para mim. Meu pequeno príncipe, a razão do meu viver, veio para me
mostrar o que era o amor verdadeiro. O pai ficou feliz que era um menino, se
gabou para todos de como seu filho era grande. Mas conforme o Gael foi
crescendo, as agressões voltaram e com força total ou até pior. Tentei
conversar com os meus pais, mas para eles era inadmissível ter uma filha
divorciada, e que eles não me aceitariam em casa. Eu não tinha com quem
contar, nunca tinha trabalhado na vida e não teria como sustentar meu filho.
Só me restou aceitar as agressões, os abusos, e até mesmo estupros.
Sim, estupro! Só depois de anos eu fui descobrir que o que ele fazia
era estupro. Pois quando eu falava não e ele continuava, era estupro e não
obrigação como ele e os meus pais diziam. Eu engravidei de novo, o Gael
tinha dois nos na época. Mas em um surto, onde eu apanhei de mão fechada,
onde eu recebi chutes, e acabei perdendo o bebê e fiquei impossibilitada de
engravidar novamente. Graças a Deus! Ele se desculpou, pediu perdão,
chorou, disse que nunca mais iria fazer isso. Mas essa conversa durou uma
semana, até ele chegar bêbado novamente. As coisas começaram a piorar,
seus abusos estavam se direcionando para o meu menino. Muitas vezes eu me
metia na frente e não deixava, mas teve dias que eu não consegui impedir.
Meu maior arrependimento na vida foi isso. Foi ver o meu filho
sofrendo por minha causa, Gael apanhou, foi queimado pelo charuto do pai,
teve o bracinho quebrado com quatro anos, apanhou de cinto, levou
coronhadas. Só de relembrar das torturas, meu estômago se revira.
Passamos o pão que o diabo amassou, vivemos momentos de puro
terror que só parou quando Gael cresceu. Ele começou a enfrentar o pai, que
na época se tornou um bêbado. Quando ele morreu, eu senti um alívio
enorme. Quase morri no processo, mas eu chorei por estar libertada do
inferno no qual vivi mais de vinte anos. Quando recebi alta, a primeira coisa
que fiz foi queimar tudo o que era dele. Eu queria queimar a casa, que foi
palco de várias cenas de horror, mas Gael chegou na hora para me impedir.
Vendemos a casa, mudamos de cidade, deixando para trás tudo o que nos
causou mal, inclusive meus pais. Cortei tudo e qualquer relação com eles.
Com o dinheiro da casa, indenização do estado, e a pensão do
falecido, nós mudamos de vida. Gael entrou na melhor faculdade de direito,
nós fizemos terapias juntos. Mas enquanto eu guardei todas as coisas ruins
em um baú na minha mente, Gael teve muita dificuldade de esquecer. Até
hoje ele tem seus episódios de terror noturno.
Mas a vida do meu filho mudou, graças ao aparecimento do amor da
sua vida, da sua Sweet. Yza é o anjo que eu pedi a Deus, ela aos poucos está
fazendo uma mudança no meu menino. E agora ela tem a ajuda de um
verdadeiro anjo.
A nossa Maria.
O amor entre Gael e ela é lindo. Ver o meu menino ser tão cuidadoso
com ela, me faz chorar todas as vezes. Eu acho que o que mais impulsiona o
Gael, é que ele pode fazer pela Maria o que ninguém fez por ele. Minha neta
tem uma história complicada, não sabemos de tudo o que aconteceu, mas o
pouco já é de revoltar.
Ela brinca, sorri, conversa, mas qualquer um pode ver a tristeza em
seus olhinhos amendoados. Ela tem um irmão mais velho, um irmão que
sempre cuidou dela, mas que sumiu e ninguém conseguiu encontra-lo até
agora.
Depois que a menina Reed e a Maria, entraram na vida do meu
ursinho, ele sorri, brinca, está muito mais leve. Seus olhos ainda mostram
suas marcas, mas também contém alegria e felicidade que a muitos anos eu
não via. Vê-lo feliz aplaca a culpa que eu sinto, por ele ter sofrido tanto na
infância.
— Vovó? — Eu sorrio ao ouvir a vozinha meiga da minha neta.
— Oi princesinha.
— Meu pai vai demorar? Eu estou com fome. — Ela pergunta
penteando a Barbie que eu dei a ela.
— Eu acho que não meu amor, ele só foi buscar o seu biquíni para
vocês entrarem na piscina.
— Cheguei! — Gael anuncia.
— Você demorou Ursão! — Maria reclama.
— Desculpa meu amor, mas eu não estava achando o seu biquíni.
Tive que ligar para a sua mãe, e ela falou, falou, falou até dizer chega. Me fez
trazer toalha, roupão, protetor solar, creme de corpo para depois do banho,
até um chapéu ela mandou eu trazer. Juro que essa mulher vai me
enlouquecer! — Gael reclama exasperado.
— Mas você gosta que a mamãe é maluquinha. — Maria diz rindo.
— Ela é mãe ursinho! Agora vamos almoçar, que minha neta está
com fome. Fiz o seu prato preferido.
— Purê de batata? — Ela pergunta ansiosa.
— Sim! Purê de batata e filé de peixe, arroz Branquinho e salada
verde.
— Agora é tudo para Maria, e nada para mim! Estou me sentindo
excluído mãe. — Gael faz drama e Maria ri.
— Deixa de ser chorão ursinho, eu fiz o pudim de laranja que você
gosta.
— Vovó! Meu papai é muito grandão para ser ursinho. — Maria
protesta rindo.
— Sim mamãe, eu sou grandão! Pare de me chamar de ursinho.
Agora vamos lavar as mãos mocinha. — Gael diz pegando Maria nos braços
e a jogando nos ombros feito um saco de batata.
Eu sorrio emocionada vendo o meu filho tão feliz. Vou para a cozinha
para servir o almoço. Gael fazendo palhaçada, faz com que Maria coma tudo
e até repita. Ele é todo delicado com ela, paciente, atencioso. Seus olhos
brilham a cada gargalhada que a Maria dá.
Maria não para de falar na prima, a cada dez palavras onze é a Luna.
Luna é outro presente de Deus. Faladeira que só ela, encanta todos
por onde passa. Seu jeitinho especial, sua desenvoltura, fazem com que todos
caiam apaixonados por ela. Gael é apaixonado por ela, e como todos os
meninos Reeds, morre de ciúmes dessas duas meninas. Já imagino várias
situações com Luna e Maria adultas, e em todas elas ele acaba preso por
matar ou espancar os meninos.
Será engraçado ver essas meninas crescerem, tanto Luna quanto
Maria são lindas, imagina quando crescerem? Prevejo infarto coletivos entre
esses homens possessivos.
Depois de descansar o almoço, Gael e Maria estão na piscina se
divertindo. As gargalhadas são altas, ao redor está tudo molhado. Preparo um
suco de melancia para eles, o preferido do meu filho. Desde que ficamos
sozinhos, eu o mimei demais. Todas as oportunidades que tive, eu fiz todas as
comida que ele gostava, dei todos os colos que ele precisava. Ouvia suas
preocupações, ficava acordada a cada pesadelo que ele teve. Eu fiz e faço por
ele, tudo o que não pude fazer antes, mas isso não o fez um homem mimado,
ao contrário, o fez um homem que sabe dar valor a tudo, até mesmo as coisas
pequenas.
Minha nora chega no meio da tarde, como sempre parecendo um
furacão.
— Sogra linda da minha vida! Seu filho deu alguma coisa para Maria
beber? Esse sol forte está lascando. Ele passou protetor? — Ela pergunta
afobada.
— Relaxa meu bem, ele seguiu todas as regras. Eu fiz suco de
melancia para eles, Maria almoço bem. Agora vou chamá-los para comer um
pudim. Vamos para a cozinha.
— Desculpa sogrinha. Pareço louca né? Mas fico preocupada, Maria
tem o Gael enrolado no dedinho mindinho dela. Ela faz bico e ele a deixa
fazer tudo o que quer, aposto que ela não saiu da piscina um minuto.
— Certou! Mas o Gael sempre leva ela para a parte que tem sombra.
Você está saindo uma ótima mãe meu amor. E não é só a Maria que tem o
Gael na palma da mão, você também o tem.
E não estou mentindo, entre essas duas, acho que não a nada que meu
menino não faça para vê-las felizes.
— Não vou mentir, sou louca pelo seu filho Marta. Mas confesso que
ele me enlouquece, ao ponto de querer matá-lo. Às vezes o olho enquanto
dorme tranquilo, e a vontade me sufocá-lo enquanto ele dorme é grande.
Quem vê ele dormindo, nem imagina o pé no saco que ele é. — Ela diz rindo.
— Normal menina. Gael sempre foi intenso demais, e é a primeira
vez que ele está apaixonado. Então ele vai errar, vai cometer excessos, mas
ele vai aprender.
— Eu também sou intensa, com o acréscimo de ser louca. Então as
nossas brigas vão ser monumentais, podendo a polícia ser envolvida ou os
médicos. Por que ou eu mato ele e vou presa, ou ele vai enfartar e ir para
UTI. Ou eu posso sofrer um derrame cerebral de tanto ciúmes, você já viu
esse homem? — Yza diz séria.
— Meu bebê é lindo.
— Ele é um espetáculo, lindo, bem de vida, tem uma boa profissão.
Um deus do sexo Jesus! As mulheres babam em cima dele. E os braços? Se
elas dão mole para ele, comigo do seu lado. Imagina quando eu não estou?
Você conhece essa tal de Zia? Eu não conheço, mas já não gosto.
— Respira menina! — Digo rindo. — Zia não oferece nenhum perigo
para Gael. Ele a vê como uma irmãzinha, nunca teve nada entre eles. Teve
uma época, que eu até achei que eles ficariam juntos, mas Gael não vê ela
como mulher. Mas por que você está me dizendo isso? Você desconfia de
alguma coisa?
— Dele não, eu tenho total confiança no meu ursão. Mas nela? Eu não
sei... Ela tem evitado todos os encontros que Gael tenta marcar para nos
apresentar. Maurício andou soltando umas piadinhas, que me deixou com a
pulga atrás da orelha. —Ela desabafa.
— Maurício é doido meu amor, aquele menino tem algum problema
psicológico. Mas se você quer conhece-la, apareça no escritório do Gael de
surpresa. Faça uma visita como quem não quer nada.
— Boa ideia sogrinha! Alguma coisa me diz, que essa Zia vai me dar
problemas. Posso estar enganada, mas a minha intuição nunca falha.
Eu espero de coração, que a Zia não atrapalhe a vida do meu menino.
Ou ela não ter só a Yza para temer.

Ela está me desafiando a cada segundo do dia.


Primeiro arrumou um namorado, o cara é quase um armário. Agora
está brincando de casinha!
Estou dentro do carro vigiando, enquanto ela passeia com a filhinha.
Será que ela pensa que assim fugirá de mim? Se pensa, devo avisá-la que ela
está cometendo um grande engano. Não existe nada no mundo, que me faça
desistir dela. Nem outro homem, nem criança, nada! Nada me fará desistir.
Ela será minha!
Tenho grandes planos para ela. Será que ela ficará feliz ao saber que
estou fazendo um curso de taxidermia? Estou aprendendo a empalhar
animais! Eu pensei em embalsamar seu corpo, mas os resultados não são tão
satisfatório. Agora o empalhamento sim! Já imaginou aquele corpo
empalhado? Irei drenar todo o sangue do seu corpo, e depois irei empalhar e
assim fazê-la minha para sempre.
Só minha!
Preciso dizer a ela o quanto suas atitudes estão me irritando. Primeiro
um namorado, depois uma criança, e agora ela abandona tudo para brincar de
casinha. Não estou nada satisfeito, não mesmo. Por sua causa estou com
muita raiva, e aproveito para descontar nos clones que acho "delas". Mas
confesso que os resultados não estão me agradando.
Os gritos de socorro não estão me causando mais aquela adrenalina.
Preciso mudar as minhas técnicas, ficar mais ousado talvez? É pode ser que
melhore, vamos ver.
Se ela acha que eu desisti dos meus planos, ela está redondamente
enganada.
Eles estão sendo adiados, por algum tempo. Mas desistir? Isso nunca.
Ela pode brincar de casinha o quanto quiser, mas o seu fim será só
um, o que eu escolhi!
Você pode passear livre e solta Yza Reed, mas quando chegar a hora
você será minha.
Enquanto isso, irei me especializar em empalhar. Ficarei muito bom, e
ai... Ai irei pegá-la para mim.
Aproveite enquanto pode princesa, brinque de casinha a vontade.
Serão as únicas coisas boas que você terá, antes que eu coloque minhas mãos
em você!
Dizer que minha mãe gostou da Maria é pouco, ela está
completamente apaixonada. Assim que a conheceu já mandou Maria chama-
la de vovó.
Minha menininha tímida, se encheu de luz quando minha mãe pediu
isso. Enquanto a Yza foi mostrar a casa para Maria, minha mãe me fez
algumas perguntas a respeito dela. A raiva em seus olhos me espantou muito,
pois a minha mãe é a calma em pessoa. Ela até se irrita, mas raiva? Isso
nunca.
— Espero que esse homem sofra na cadeia Gael, eu não espero menos
que isso! Mentira. Eu queria que você pudesse ficar dez minutos sozinho com
ele, e que mostrasse do que esses músculos são capazes! — Mamãe diz
revoltada.
— Mãe...
— Sem mãe Gael! Esse homem é um monstro, e merece receber tudo
o que ele fez contra essa menina de volta.
— Eu te amo mãe. — Falo abraçando ela e seguida.
— Também te amo ursinho. E estou feliz por você está construindo a
sua família.
Isso aconteceu a alguns dias atrás, e desde lá as coisas estão perfeitas.
Só não estão totalmente perfeitas pela falta que o Júlio faz para a minha
menina.
Volto a minha atenção para as minhas meninas e sorrio olhando para
Yza deitada no chão ao lado da Maria, agarrada a um pote de pipoca
enquanto assiste desenho. Ainda custo a acreditar que a encontrei, que ela
também sente o mesmo que eu. Yza é uma mulher incrível, linda por dentro e
por fora. Quem não a conhece, acha que ela não passa de uma patricinha
mimada. Mas depois que passa a conhecer realmente, pode ver o quão
incrível ela é. Ela é trabalhadora, honesta, passional quando se trata das
pessoas que ela ama. Ela é audaciosa, corajosa e tem um coração do tamanho
do mundo.
Muitas pessoas iriam se acovardar com tamanha responsabilidade,
mas ela não! Ela pegou para si todas as dores da Maria, e se transformou em
uma verdadeira leoa quando o assunto é a filha. Ela tem uma paciência
enorme, um carinho infinito quando a minha menina está em pauta. Não tem
sido dias fáceis, e ela não se deixa abalar, pelo menos não na nossa frente. O
que mais nos entristece, são os pesadelos e a falta que o Júlio faz para Maria.
Até mesmo fomos parar na emergência, por que ela teve uma febre muito
alta.
Febre emocional, como disse o médico. Tirando o probleminha com a
anemia e o baixo peso para a idade dela, a saúde da Maria está muito boa. Ela
tem tomado um composto de vitaminas, e tendo uma alimentação muito bem
balanceada. Eu e a Sweet conversamos, e resolvemos procurar um psicólogo
infantil para nos ajudar com a nossa menina.
Josafá conseguiu a guarda provisória para nós, e se prontificou a nos
ajudar na adoção assim que o irmão for encontrado. Por falar nele, parece que
o menino evaporou no ar. Meus investigadores não conseguiram nenhuma
pista dele ainda, visitamos várias obras nas redondezas de onde Maria foi
achada. Mas não tivemos sucesso com, e isso está tirando o meu sono. Não
saber o que esse menino está passando, se ele está bem, se ele tem aonde
dormir ou o que comer, está me deixando louco.
Ver como a minha menina sente a falta do irmão, está acabando tanto
comigo quanto com a Sweet. Maria sente falta até mesmo dos docinhos que o
irmão comprava, do macarrão com salsichas que ele fazia. Vê-la chorar todas
as noites e não poder fazer nada é desesperador. A única coisa que a deixa
animada, é quando a fadinha faladeira está presente. Acho que ela deixa a
preocupação com o irmão de lado, e passa a se preocupar para que a Luna
não entre em apuros.
Por falar na pestinha, hoje ficaremos de baba dela, já que o Dylan tem
uma festa onde será homenageado. Ele está muito relutante em ir, já que a
Katrisca está grávida e o Diego Castro está na rua graças a algum idiota
facilitou uma fiança que nunca existiu. Eu já tenho Maurício em cima desse
caso, e se tem uma coisa que meu amigo odeia é gente que se vende.
Paro de pensar quando um corpo se aconchega em meu colo.
— Onde o senhor estava? Estou falando com você a alguns minutos.
— Yza diz escondendo o rosto no meu pescoço.
— Estava pensando meu amor, você não acha que precisamos
resolver o nosso problema de moradia? Quero que a Maria tenha o quartinho
dela, todo decorado por ela. Temos que pensar no quarto do Júlio e no nosso
também.
— Gael...
— Sei que é cedo meu amor, mas me diz uma coisa. Onde você nos
vê daqui a dez anos?
— Juntos, criando nossos filhos. Passando os finais de semana na
fazenda, viajando. Mas tudo isso juntos. — Ela diz séria.
— Então qual e o problema de nos mudarmos?
Juro que as mulheres são os seres humanos mais difíceis que existem.
Ela gosta de mim, confia no que nós temos, mas tem alguma coisa de a trava.
— Gael, eu sou o que sou e aceito isso. Mas e você? Está pronto para
encarar um relacionamento com uma mulher mais nova? Criar uma filha que
não é sua? Preconceitos existem, você está preparado para isso? Você tem
uma carreira a seguir, uma carreira importante. E eu? Eu sou louca,
sequelada, barraqueira, e tenho surtos de raiva e um atestado de doida. — Ela
diz e tudo o que quero fazer é rir.
— Eu estou me fodendo para a merda da opinião dos outros. Estou
me fodendo para a minha profissão, se eles derem mais importância ao meu
relacionamento do que a minha competência, então eles que se fodam. Eu
estou sempre pronto se tiver você ao meu lado Yza Reed, criaremos a nossa
filha e outros filhos também. Eu amo esse seu jeitinho, e eu como juiz assino
embaixo esse atestado de doida.
— Você é maluco, você sabe disso não é? De todas as mulheres que
você poderia se apaixonar, eu sou a pior opção! Mas agora não adianta mudar
de ideia, você está preso comigo. — Ela diz me beijando.
— Então você vai mudar para minha casa?
— Pode liberando o cartão de crédito meu amor, tenho uma quarto
para decorar! Um não, dois quartos. — Ela diz animada.
Eu a puxo ainda mais para perto de mim e a beijo intensamente. Por
mim a levaria para o quarto e mostraria o quanto estou feliz com essa notícia,
mas logo me lembro que temos uma pessoinha na sala.
— Hum... Sweet. Quando você quer casar?
— Casar? Casar, sério isso? Casar Gael D’Ávila? Você quer me
enlouquecer, não é possível! — Ela diz indignada.
— Qual é o problema em casar? Sou velho menina, gosto tudo
conforme o figurino! Já colocamos a carroça na frente dos bois, já temos até
filhos. — Falo rindo e ela levanta do meu colo.
— Maria? —Yza chama.
— Oi mamãe.
— Vem dar amor para esse urso louco, ou eu vou acabar matando ele
esganado! Não tenho estrutura nessa vida não! — Ela diz e sai revoltada da
sala.
— O que você aprontou Ursão? — Maria pergunta vindo para o meu
colo.
— Nada meu amor, sua mãe que é louca.
— Eu ouvi isso Gael D'Ávila! —Yza grita de algum cômodo do
apartamento.
Eu e Maria caímos na risada.
— Falta muito para irmos acampar papai?
— Não meu amor, já iremos para a casa da fadinha faladeira. Você já
arrumou a sua mochila? As barracas já estão no carro.
— Já sim, a mamãe arrumou hoje cedo.
— Então vá tomar banho, e quando estiver pronta nós iremos. —
Assim que termino de falar ela sai correndo para o seu quarto.
Eu vou para o quarto, atrás da minha Sweet e a encontro deitada na
cama com um travesseiro na cara. Eu sorrio para mim mesmo. Essa garota é
muito maluca, posso ouvir seus palavrões sendo abafados.
Aonde eu fui amarrar meu burro?
Pior é que não faria nada diferente. Ela me completa em todos os
sentidos, ela é o furacão em pessoa onde eu sou a calmaria. Ela trouxe alegria
e leveza para os meus dias. Saio de casa ansioso para voltar. Ela me
despertou sentimentos nunca antes sentidos, como amor, carinho,
encantamento, possessividade e um ciúmes imenso. Eu estou me vendo em
uma situação completamente diferente, só de imaginar que algum homem a
toque ou a tocou me tem insano. Ela é nova, com certeza já namorou
bastante. Sei que é meio sem pé e sem cabeça sentir ciúmes do passado dela,
mas me perturba! Me perturba saber que outro homem já tocou o que é meu,
que já sentiu os seus lábios, seu gosto. Quero matar todos com as minhas
próprias mãos! Ela se acha louca, mas não tem noção do grau da minha
loucura por ela.
Subo na cama e me acomodou entre suas pernas, jogo longe o
travesseiro e sorrio para o seu rostinho bravo.
— Você alguma vez na sua vida, fez algo lento? Por que se você me
responder que fez, eu vou dizer que é mentira. — Ela diz séria.
— Não me lembro de nada antes de você Yza. Que mal há em casar?
Nós já moramos juntos, já temos uma filha e logo o meu bebê vai estar no seu
ventre. Só tenho que achar um jeito de você para de tomar o remédio.
Quando se trata dela, quero tudo para ontem. Desde que a vi pela
primeira vez, sabia que ela era minha. Quero que ela carregue meu
sobrenome e a minha aliança, a maior que eu conseguir encontrar. Quero uma
vida ao seu lado, quero mais filhos, quero vê-la com uma barriga enorme e
andar engraçado.
— Você é maluco cacete! Me diz, já pensou no asilo que vamos ficar
depois de velhos? Por que só falta isso. Eu amo você Gael, amo mesmo, mas
você é um trator do caralho que sai derrubando tudo. Vamos fazer um coisa
de cada vez? Vamos com calma ok? Já aceitei em morar com você, então
você já pode acalmar esse urso possessivo que existe dentro de você.
— Tudo bem Sweet, tudo bem. Mas quando menos imaginar, você
estará casada comigo e gravida do meu bebê. Agora vá, temos que nos trocar,
a Maria já foi tomar banho.
— Só você para inventar um acampamento dentro de casa. A sorte é
que a casa do Dylan é grande. — Ela diz rindo e se levanta da cama.
Enquanto ela se troca vou tomar um banho rápido. Depois que todos
estamos prontos, vamos a caminho da casa do meu cunhado. Se eu disser que
ele está animado para sair de casa, estarei mentindo. Desde que recebemos
notícia que o Diego está foragido, Dylan tem surtado com a segurança da
Katrisca e da Luna. Elas quase não saem de casa sozinhas. Acho que muita
coisa aconteceu em tão curto espaço de tempo. Primeiro foi o quase sequestro
da fadinha, depois a maluca da prima, agora a mãe do Diego. Tudo isso e
acabou afetando a família inteira.
Quando as meninas ficam prontas, nós vamos para a garagem. E
lógico vou implicando com a roupa da minha Sweet, mas faço isso mais para
perturbar ela. Maria e eu caímos na risada cada vez que ela nos olha feio.
— Esse shorts é indecente! Suas pernas toda de fora, pernas essas que
só eu posso olhar. Esse shorts é da Maria? Por que só pode Yza Reed!
— Não começa Gael... Quer me foder me beija seu infame! Maria
meu amor, não pode falar palavrão ok? Essa shorts é meu e eu vou usar
quando eu quiser. E se você achar ruim, eu saio de biquíni nessa merda! —
Ela diz brava.
— A vai! Vai sair pelada, só por cima do meu cadáver Yza Reed! Me
desafia Sweet, e sua bunda ficará vermelha. —Exclamo revoltado só de
pensar nisso, que acabo esquecendo da minha filha.
Mulher louca! Eu tenho certeza que ela vai me desafiar sempre que
puder, mas eu vou gostar dessa brigas. Das brigas não, mas de fazer as pazes
com certeza eu vou!
Chegamos na casa do Dylan para passarmos a tarde com eles,
almoçamos juntos embalados em uma conversa sadia. Dylan desabafa sobre o
medo que o Diego faça alguma coisa com as meninas, falamos sobre o
processo e conto que coloquei meu amigo para investigar sobre a tal fiança.
Luna acorda melhor, já que acordou manhosa de manhã. Mas mesmo
assim, sempre aparecia na cozinha e se declarava para a mãe. No meio da
tarde começo a montar as barracas no jardim perto da piscina, as meninas
estão empolgadas para acampar, fazer fogueira e assar marshmallow. Esse
último é coisa da Maria e seus desenhos animados.
Dylan e Katrisca se despedem de nós e vão para a tal festa. E então
Yza e eu estamos por conta própria.
— Usão, nós já vamos acampar? Quero assar o docinho na fogueira.
—Luna pergunta animada.
— Vamos, vou acender a fogueira. Quando tudo estiver pronto eu
chamo vocês duas, mas antes tem que me prometer que não vai mexer no
fogo sem eu ou sua tia estar perto.
— Eu prometo! — Maria e Luna falam juntas.
Dylan deu a ideia de usar uma churrasqueira portátil para fazer a
fogueira, só tiramos os pés para ficar na altura das meninas.
Elas se acabam nos marshmallow, e Yza coloca uma batatas para
assar. Nos sentamos ao redor da fogueira, Yza começa a contar sobre o
acampamento que ela e os irmãos faziam na fazenda. Pelo o que ela conta,
sua infância foi perfeita e regada de coisas boas. A minha foi uma merda, as
únicas lembranças boas que tenho era das danças da minha mãe, e as histórias
que ela me contava quando fazíamos cabaninha na minha cama sob a luz da
lanterna.
Logo depois das dez da noite, Belle chega nervosa e nos conta o que
aconteceu. Enquanto Yza arruma as coisas das meninas, eu começo a fazer
ligações para os meus conhecidos na polícia. Hanna nos mantém informados
e eles descobriram que uma tal Sarah, era mãe do Diego. Ela já vinha
rondando a Katrisca alguns dias, e isso nos deixou possessos.
Como uma mulher pode ser tão cega, ao ponto de ajudar o filho
psicopata?

Acho que Deus está de graça com a minha família! Por que não é
possível, é um coisa atrás da outra com intervalos mínimos.
Já não bastava a piranha da Felipa, agora a porra de um sequestro.
Minha prima teve o que merecia, agora essa Sarah? Essa vai ter o que é dela.
Já tem uma hora que o Gael levou as meninas e minha mãe para a fazenda, e
eu, a Lila e o Otávio estamos ligando para os hotéis em busca da Sarah e do
Diego. Dizer que fiquei surpresa quando eu vi o Otávio e a Lila juntos é
eufemismo. Desde que as coisas desandaram, os dois tem agido como cão e
gato. As brigas são engraçadas, porque está na cara que os dois se gostam e
querem esconder isso. E é o que eu vejo agora, ele todo preocupado com ela,
a tratando com carinho. Lila está muito abalada com o que está acontecendo,
Katrisca é mais que uma amiga para ela, é como uma irmã.
Dylan chega arrasado, é de partir o coração vê-lo assim. Katrisca e a
Luna mudaram a vida do meu irmão, e ele é louco por elas. Me destrói não
poder fazer nada para ajuda-lo, mas estamos fazendo o possível para tentar
achar aquela vadia da Sarah Castro. Eu até tento ser forte, mas ver meu irmão
tão devastado me faz entrar em desespero e Gael que me consola.
Já amanheceu e nada de obter notícias, eu escuto os gritos do meu
irmão e sem conseguir me conter corro até ele. Dylan está de joelhos no
quintal, e eu o abraço apertado pedido para ele ficar calmo. São quase oito
horas da manhã, e a cada hora que passa o medo que alguma coisa tenha
acontecido com a minha cunhada e o bebê, é grande. Mas por ironia do
destino, quem consegue localizar a Katrisca é o pai do Diego.
Donatello chega correndo para dar a notícia, e todos nós
comemoramos. Um pouco do desespero some da fisionomia do meu irmão, e
uma animação aparece no lugar.
Tudo vai dar certo, Katrisca e o bebê estarão bem e aquela vaca e o
psicopata do filho dela vão ter o que merece.
Todos começam a se mexer para ir buscar a Katrisca. Gael liga para
os seus amigos da polícia e passa o lugar aonde Sarah e Diego estão. Eu só
pego o meu celular e já estou pronta para ir com eles.
— Vamos buscar a sua mulher Dylan. Já chamei a polícia, eles vão
nos encontrar na porta do hotel e a Yza vai ficar aqui e nos esperar. — Gael
diz.
— O QUE!? MAS...
— Vai ficar e pronto!
— Gael D'Ávila! Abaixa a bola que você aqui não manda em nada
não meu filho! Eu vou e pronto.
— Você vai ficar aqui sim! Vai ligar para a sua mãe, vai ver como as
meninas estão e vai atualizar ela do que está acontecendo. Não sabemos do
que esse louco é capaz, e você indo junto, não vamos poder nos concentrar
em fazer o que deve ser feito. Fui claro Yza Reed? — Gael fala sério.
Puta que pariu! Eu nunca o vi desse jeito, tá, lógico que ele é
autoritário, mas eu nunca o vi assim!
Eu estou muito fodida porra!
Depois de horas de terror, escuto uma gargalhada alta. Quando olho,
vejo meu pai dobrado de tanto rir. Eu olho séria para ele, não achando
nenhuma graça.
— Graças a Deus essa responsabilidade não é mais minha! — Meu
pai diz rindo.
— Pai!
— Nada a declarar princesa. Vamos, vamos buscar a minha nora. —
Ele se encaminha para a porta e meus irmãos vão atrás.
Gael para a minha frente e eu levanto meu rosto para olhá-lo, e o
fuzilo com os olhos.
— Você pode ficar brava o quanto quiser, que eu pouco me importo.
A situação é grave, não sabemos o que nos espera e eu sei que se você for
junto vai querer fazer merda. Não posso lidar com o seu temperamento louco
agora Sweet, preciso concentrar no seu irmão para que ele não faça nenhuma
merda. — Diz Gael.
— Não se acostume a fazer isso Gael D'Ávila. Você não vai mandar
em mim, nem aqui, nem na casa do caralho. Eu só vou ficar, por que meu
irmão precisa de toda a atenção e não por que você mandou!
— Eu vou fazer isso sempre que eu achar necessário, sempre que
você estiver em perigo. Então aceita que dói menos, não é assim que você
fala?
Antes que eu possa responder, ele me beija e sai correndo assim que a
buzina toca.
Idiota arrogante!
Otávio ri e Lila o acompanha.
— Cara! Se esse homem já é assim, imagina quando ele começar a
topar com os seus antigos contatinhos Yza? Acho que ele será capaz de te
trancar em casa. — Otávio diz rindo.
— Pelo amor de Deus Otávio! Para de jogar praga para minha vida.
Você não tem noção do que é esse homem não. Ele é ciumento, possessivo,
ele surtou sobre meu shorts hoje. Quem dirá se encontrar algum caso antigo.
— Princesa, uma hora isso vai acontecer. — Lila diz rindo.
— Eu estou muito fodida, não estou? Jesus amado! Porque senhor?
Por que eu fui tão piriguete? Esse passado de biscate, vai me morde na bunda
tão forte, mas tão forte que vou ficar sem sentar por meses.
Viadas eu aprontei horrores, sai desde o delegado até o dono da
chimboquinha. E os caras da faculdade? E os amigos dos meus irmãos? E se
eu já sai com algum conhecido do Gael?
Minha nossa senhora protetora dos ursos raivosos, me proteja de toda
a raiva e surtos de ciúmes do Gael.
Esse homem vai me manter em cárcere privado! Eu sinto isso no
fundo da minha alma de ex-biscate.
Estou muito fodida da vida toda!
Minha mãe! É isso, preciso conversar com a minha mãe.
As coisas ficaram intensas por uns dias, mas graças a Deus a Katrisca
e o meu sobrinho estão bem.
Aquele desgraçado bateu nela ao ponto da Kat ter descolamento de
placenta. Foi um susto, mas ela já teve alta e está passando uns dias na
fazenda. Ela tem que ficar de repouso absoluto, e lá tem gente para cuidar da
Luna e ficar de olho na Katrisca enquanto meu irmão trabalha.
Eu, Gael e Maria, entramos em uma rotina legal. Estamos ambos de
férias, então a atenção está voltada totalmente para ela. Hoje nós fomos ver
escolas para ela, como ela nunca estudou antes terá que começar do zero.
Gael e eu reparamos que ela sabe falar bem, reconhece letras, lê algumas
coisas, mas sempre desiste esfregando os olhos. Eu tenho uma amiga que é
pedagoga e comentei sobre isso com ela, que indicou um oftalmo e pediu
para que eu a levasse no seu escritório para dar uma avaliação. Lúcia é
psicopedagoga, ama crianças e tenho certeza que poderá ajudar a minha
menina.
— Mamãe?
— Oi meu amor.
— Por que eu tenho que ir na escola? Eu já disse que eu sou burra,
meu irmão tentou me ensinar a ler, mas eu não consigo fazer isso. — Maria
diz toda triste.
— Meu amor, você não é burra! Como você pode achar isso? Você
vai para a escola e vai aprender tudo, e se tiver dificuldade nós iremos te
ajudar.
— Não sei... E se as pessoas rirem de mim, por que eu não consigo
aprender?
— Então você me conta e eu vou conversar com essas pessoas!
— Conversar com quem Sweet!? — Gael pergunta entrando na sala.
— Conversar com as pessoas que rirem da minha filha na escola!
Ele sorri e balança a cabeça. Eu sei, eu sei, sou um caso perdido!
Lógico que não irei bater nos filhos dos outros, mas irei conversar e mostrar
que não se pode rir das limitações das pessoas.
— E porque as pessoas iriam rir da sua filha Yza? — Ele pergunta
sentando ao meu lado.
Maria rapidamente vai para o colo do pai. Eu a tenho só para mim
quando ele sai, mas é ele chegar em casa ela esquece que tem mãe.
— Por que eu sou burra papai.
— Burra? Por que você acha que é burra ursinha? Eu jurava que você
era uma menina! Aonde você escondeu a orelha de burra e o rabinho? —
Gael diz fazendo Maria rir.
— Ursão bobinho! Eu sou burra, por que não aprendo as coisas. O
Júlio tentou, mas as letras ficam dançando na minha frente.
— Escuta ursinha, você não é burra. Eu não quero ouvir você falar
isso novamente ok? Você pode ter alguma dificuldade, mas isso não te torna
burra meu amor. Só terá um pouquinho mas de trabalho para aprender, mas
eu e sua mãe iremos te ajudar sempre.
— Tudo bem, não falarei mais isso.
— Bom, agora que eu fui jogada de canto feito um trapo velho, irei no
salão fazer as unhas, levaria você menina ingrata, mas agora o Ursão está em
casa você não vai querer ir.
— Mamãe...
— Eu sei, eu sei, mas não tem problema não. O Júlio vai preferir
euzinha por que sou muito legal.
— Mas você é legal mamãe, eu vou no salão com você tá? — Ela diz,
mas posso ver a indecisão em seus olhinhos.
— Eu estou brincando meu amor, pode ficar com o seu pai. Mostra
aquela revista de decoração para ele e diz as coisas que você escolheu. Mais
tarde sua vovó Marta virá te buscar.
— Sim! Hoje é dia de namorar com o Ursão, e eu vou ficar com a
minha vó. Vamos fazer festa do pijama e o tio vidinha vai trazer a neném!
— Dia de namorar? — Gael pergunta.
— Sim. Roberta me ligou e perguntou se queríamos nos reunir com
eles no barzinho, a maioria dos seus amigos vão. Convidei a Hanna e o Don
para ir também. — Falo e Gael fica olhando para mim surpreso.
— Roberta te ligou?
— Sim, por que? Gael eu sou mãe, mas não estou morta não. É só um
barzinho, música ao vivo, umas biritas. Eu conheço o bar e é super top.
— É papai, tem que namorar! Eu quero um irmãozinho também,
então você tem que namorar a mamãe. Eu quero uma irmã, pode ser?
Agora quem olha surpresa sou eu! De onde saiu essa história de
irmão? Só Jesus na causa, aposto que tem dedo da Luna e da minha mãe
nessa história.
— Pedindo desse jeitinho ursinha, eu super topo namorar a sua mãe.
— Gael diz sorrindo diabolicamente para mim.
— Eu... Eu... Eu já estou indo! Daqui a uma hora eu volto. — Pego
minha bolsa e saio correndo.
Gente é sério, vocês me imaginam grávida? Eu sou doida, nem o
psiquiatra conseguiu me consertar! Eu sei que eu sou mãe da Maria, mas ela
não cresceu na minha barriga, ela não saiu pela minha priquita. Vocês já
viram o tamanho do Gael? Aposto que ele nasceu grande e cabeçudo! Não
obrigado, tenho amor a minha priquita. Já pensou sentir alguém mexendo
dentro de mim? Vai parecer aquele filme, MIB homens de preto. Quando o
Alien mexe na barriga do cara querendo sair!
Obrigado mais eu passo!
NÃO TENHO MENTALIDADE!
Entro dentro do carro e saio acelerando, em direção ao salão.
Faço minhas unhas, aproveito e dou um trato no cabelo e quando
termino, compro um modelito arrasador. Temos que separar as coisas, sou
mãe agora, mas isso não pode ser meu único foco. Sou nova, estou
praticamente casada com um boy muito gostoso, e tenho que dar conta do
recado. Logico que com uma criança em casa, dificulta um pouco, mesmo a
Maria tendo o quarto dela, ela ainda tem pesadelos. E quando isso acontece
ela vem para a nossa cama, então não tem como dormir um pouco mais à
vontade depois de um sexo gostoso.
Mas eu não reclamo, pois amo essa menina. Até por que, eu e Gael
vivemos inventando algo para poder aplacar a vontade louca que temos um
pelo outro. Eu adoro provocá-lo, principalmente quando ele não está em casa.
Mando mensagens picantes, fotos provocantes, conto uma fantasia, até
comprei umas fantasias eróticas. Sei que parecemos nos conhecer desde
sempre, tamanha a intensidade que temos. Mas somos novos, nosso
relacionamento está apenas engatinhando, mesmo que tenhamos dado um
pulo imenso.
Eu sou nova demais, e tenho que saber da conta de um homem como
o meu. Não posso deixar que o nosso relacionamento caia na rotina. Graças a
Deus eu tenho minha mãe e a minha sogra, as duas me entendem e sabem que
precisamos ter momentos nossos. Sair só nós dois, nos encontrarmos com os
amigos, sair para dançar, ir a um motelzinho. Tudo isso para não cairmos na
rotina. Minha mãe mesmo disse isso, que não posso deixar de cuidar do meu
relacionamento por causa dos filhos. Tenho que manter a chama acesa, e olha
que fogo eu tenho de sobra!
Quando chego em casa, Marta já está lá para pegar a Maria. Mas
como sempre, ela está fazendo as vontades do ursinho dela.
— Boa tarde família! Martinha, minha sogra linda. O que você está
fazendo com a barriga colada no fogão?
— Oi minha linda, eu estou fazendo bolinho de chuva com banana. O
ursinho disse que estava com vontade. — Ela diz toda feliz.
Eu não ligo que ela mime o Gael, só acho injusto que ela tenha que ir
para a cozinha. Ela vem nos visitar e o que o Gael faz? Pede alguma comida
diferente, ou um doce!
Muito neném da mamãe.
— Marta, já falei para você mandar seu filho se lascar, quando ele
pedir que você vá para a cozinha.
— Ela é minha mãe! O que é que tem, se ela fizer bolinhos de chuva?
— Ele pergunta sem entender.
Obtuso!
— Por que meritíssimo, toda vez que a sua mãe vem nos visitar você
pede algum coisa. Às vezes ela só quer conversar, passar um tempo com o
filho ou com a neta, mas não! Ela mal entra em casa e você já sai pedindo as
coisas, as vezes nem pergunta como ela está.
— Yza... — Marta tenta me calar.
— Não Marta! Sei que você ama mimar seu filho, e acho lindo porque
a minha mãe é igualzinha. Mas custa ele te mimar um pouco? Custa Gael?
Ele me olha surpreso e até mesmo envergonhado.
— Eu não sabia que fazia isso. Eu estou acostumado a pedir as coisas
para a minha mãe. Desculpa mamãe, a Yza falou a verdade, eu nem perguntei
como estão as coisas na loja e já fui pedindo para a senhora ir pra a cozinha.
— Ele diz arrependido.
— O papai está de castigo? — Maria pergunta.
— Não sei meu amor, o que você acha? Ele deve ficar de castigo? —
Pergunto rindo.
— Eu acho que sim. Assim sobra mais bolinhos para mim, ele come
tudo! Eu como um e ele come três, muito guloso esse Ursão. — Maria diz
rindo.
Todos acabamos rindo com ela, e a clima muda na cozinha.
— Como está indo a loja Marta? Semana passada reparei que chegou
bastante peças novas.
— Chegou mesmo, tenho um vendedor que roda o mundo inteiro e
sempre traz coisas novas para mim. Ele trouxe uma caixa de lenços de seda,
um mais lindo que o outro. —Marta diz animada.
— Quantos anos tem esse vendedor mamãe? — Gael ciumento ataca
novamente.
Esse meu ursão não tem jeito mesmo viu! De tudo o que a mãe falou,
ele só reparou no vendedor. Às vezes eu me pergunto se esse homem é
normal.
E a noite eu tenho a certeza.
Ele não é normal!
Ouvir a minha Sweet chamar a minha atenção, me fez entender que
algumas atitudes em relação à minha mãe estavam erradas.
Mas para me justificar, sempre foi minha mãe e eu. Sempre foi um
pelo outro, e ela sempre me mimou demais. Acho que para aplacar um pouco
da culpa que ela acha que tem, mas eu não a culpo de nada. Mesmo morando
em casas diferentes, ela sempre vinha me fazer agrados e meus doces
favoritos. Ela cozinhava as refeições e deixa congelada, fazia bolos e doces
para deixar na geladeira para a semana. Mesmo eu treinando, tomando meus
shakes de proteínas e fazendo dieta, ela sempre cozinhou para mim. Então
isso virou meio que um vício. Só que a Yza está certa, minha mãe nem tinha
atravessado a porta direito e eu já fui pedindo para ela fazer bolinho de
chuva.
Fiquei extremamente envergonhado de não ter perguntado sobre a
loja, ou se tinha acontecido alguma coisa diferente com ela. Mas eu prometo
me policiar sobre isso, e passar a cuidar mais da minha mãe.
Minha mãe e a Maria já foram embora, minha Sweet está se
arrumando e eu estou terminando de lavar a louça. Quando deixo tudo limpo,
vou em direção ao quarto e fico paralisado na porta. Minha mulher é a
encarnação do pecado puta que pariu. Ela está apenas com uma calcinha
branca, se é que se pode chamar aquilo de calcinha. O pequeno pano não
cobre nada, e está perdido no meio da sua bunda gostosa. Seus seios lindos
estão livres, e eu chego deixo cair uma baba quando vejo ela passar o
hidratante sobre eles. Ela se abaixa para passar o creme nas pernas, e eu tenho
a melhor visão do mundo; sua pequena boceta me chama, implorando pelos
meus carinhos. Não quero mais sair, a única coisa que eu quero é entrar nela
e esquecer o mundo!
Eu caminho em sua direção, mas ela logo foge para o outro lado da
cama.
— Você fez isso de propósito?
— Quem eu!? Jamais meu amor, fiz de caso pensado mesmo.
Imagine como você vai estar no final da noite. Duro e louco para me pegar
com força! — Ela diz sorrindo.
Safada!
— Não preciso imaginar nada! Eu já estou duro e vou te pegar com
força, mas tanta força, que amanhã você não vai ne conseguir sair da cama.
Não iremos mais para lugar nenhum! — Digo e ela ri para mim.
— Não senhor. Nós iremos sair sim, vamos aproveitar a companhia
dos nossos amigos. E então, só mais tarde você me pegará com força. Uma
foda bruta, sem carinho, sem melação. Quero um sexo cru e bruto com tudo o
que eu tenho direito! Agora vai tomar um banho, de preferência frio.
Essa mulher ainda me mata.
Mas se ela quer esperar, tudo bem. Só não me responsabilizo pelos
meus atos mais tarde. Tomo um banho rápido, escolho um jeans e uma
camiseta, calço um tênis, passo um gel no cabelo e um pouco de perfume. E
já estou pronto. Vou atrás dela e a encontro na sala, mexendo na sua bolsa.
— Já está pronto meu amor?
— Já, só estou esperando você terminar de se vestir. — Respondo e
ela ri.
— Eu já estou pronta ursão! Vamos?
— Falta a parte de cima, não? Ou você vai sair de sutiã?
— Me poupe Gael! Isso é um top, um muito lindo por sinal.
— Não gosto! Mostra muita coisa que só eu posso ver.
— Que pena para você, pois eu gosto muito. Vamos?
— Não vai levar nem uma jaqueta? —Tento fazê-la mudar de ideia,
mas é tudo em vão.
— Tchau Gael! — Ela diz e sai do apartamento.
Estou sentindo que minha noite vai ser uma merda!
Entramos no carro e ela me diz o endereço do tal bar. O mesmo bar
no qual ela bateu na prima dela.
Maravilha!
Ela vai conversando com a Hanna por mensagem, enquanto fala
comigo sobre coisas aleatórias. Ela diz que a Roberta e o Maurício já estão
nos esperando, e que alguns conhecidos já chegaram. Assim que estaciono o
carro, vejo Donatello chegando com a Hanna. Entramos todos juntos, e
vamos em direção ao restante do pessoal.
— Yza, Yza, já se cansou desse urso raivoso? Estou à disposição
hem, aproveita que a Roberta não é ciumenta. — Maurício diz
cumprimentando minha Sweet.
— Sinto muito Maurício, mas estou presa na vara desse homem. —
Ela diz rindo e todos ao redor riem também.
Dos dois não sei quem é pior, Mauricio por falar merda, ou a Yza por
responder no mesmo nível.
Comprimento a todos, e me surpreendo por ver a filha mais velha do
Josafá entre nós. Joyce é uma morena linda, e super auto astral. Está
terminando o último ano da faculdade de direito.
— Ei Gael! Quanto tempo, e sua mãe como está? — Joyce pergunta
me abraçando.
— Ei menina! Você que anda sumida, não vai mais visitar os amigos.
Minha mãe está bem, dá uma passadinha na loja ou na casa dela. Ela vai amar
ver você, mas já logo aviso que ela vai ficar toda chorosa por ver a moça
linda que você se tornou!
Eu me lembro quando ela era mais novinha, e vivia correndo pelos
corredores do fórum. Ela seguia o pai para cima e para baixo, ela
praticamente cresceu entre nós. Acho que o fato dela ter escolhido o direito,
tem muito a ver com isso e também pela sua irmãzinha.
— Moça linda? Interessante. — Yza diz me fuzilando com os olhos.
Acabei me esquecendo de apresentá-la a Yza, e só agora que notei
que o grupinho que ela estava ficou silencioso.
— Sweet... Essa é a Joyce, filha do Juiz que nos ajudou na custódia da
Maria. Ela praticamente cresceu dentro do fórum, ela deve ter a mesma idade
que a sua.
— Hum... Interessante. Prazer Joyce, Yza Reed. Mulher do Gael. —
Yza diz séria e estende a mão para Joyce.
Joyce olha para mim, depois para a Yza e aperta a mão da minha
Ciumentinha, puxando ela para um abraço.
— Prazer meu bem. Mas comigo você não precisa se preocupar, acho
que se alguém tem que ter cuidado comigo, esse alguém é o Gael, pois adoro
a mesma fruta que ele. —Joyce diz e acaba caindo na gargalhada ao ver a
Yza de boca aberta.
— É sério? — Yza pergunta olhando para mim.
— Muito sério Sweet. Joyce é lésbica, tipo muito mesmo. Então não
fique perto dela, ou acabarei tendo a minha mulher roubada de mim!
— Imagina Gael! Mulher de amigo meu, para mim é homem. Mas
Yza, se quiser matar a curiosidade estamos ai viu. — Joyce diz piscando para
Yza.
— Primeiro a Roberta, agora a Yza. Limites para que né Joyce! Vou
ligar para o seu pai. —Mauricio diz sério, mas posso ver que é só para encher
o saco da menina.
— Não tenho culpa se sua mulher está insatisfeita com você mau-
mau. Mas pode ligar para o meu pai, já até sei o que ele vai responder.
"Minha filha é foda". Agora deixarei vocês e vou curtir com o pessoal da
faculdade.
Ela se despede de todos e vai para a rodinha de amigos, que não está
muito longe da gente. A noite passa tranquila, Yza, Hanna e Roberta entram
em uma conversa descontraída. E eu, Don, Maurício e outros amigos falamos
sobre processos. O normal quando vários advogados se reúnem.
Mesmo distraído com a conversa, meus olhos sempre estão na Yza.
Ela e as meninas estão bebendo e dançando descontraídas. Eu puxo a minha
Sweet para os meus braços, e a acompanho na dança um pouquinho.
— Quer alguma coisa? — Pergunto ao seu ouvido e ela para me
provocar, rebola roçando sua bunda em mim.
— Quero alguma coisa bem gelada!
— Tipo o que? Refrigerante, uma cerveja, outra bebida igual à que
você estava bebendo?
— Se eu pudesse escolher, seria a sua boca e gelo. Mas como não
posso, pode ser uma cerveja bem gelada. — Ela diz sorrindo.
— Safada! Me aguarde até chegarmos em casa viu!
— Promessas, promessas, promessas.
Eu agarro seus cabelos em meus punhos e a beijo intensamente. Os
meninos começam a vaiar e nós acabamos rindo.
— Já volto! Meninas, querem cerveja também? — Pergunto e todas
respondem que sim.
Vou em direção ao bar e faço o meu pedido.
— Você está com a Yza Reed? — O barman pergunta.
— Sim, porquê?
— Nada não. Mas aqui vai um conselho de quem já passou por isso.
Aproveita bastante, ela logo vai cansar e partir pra outro. — Ele diz
debochado.
O que!? Que merda é essa?
— Eu sou o marido dela cara! — Falo puto da vida.
— Não é o que parece. — Ele diz me entregando as cervejas e
apontado para trás de mim.
Eu olho na direção que ele aponta. E vejo tudo vermelho.
Isso só pode ser pegadinha caralho!
Yza está conversando com um homem, e ele está segurando sua
cintura enquanto fala algo que a faz gargalhar. Eu não vejo nada no meu
caminho, enquanto vou na direção dos dois.
— Que porra é essa, Yza Reed!? — Grito furioso.
Mas nem perco o meu tempo esperando a resposta, já afasto os dois e
meto um murro na cara do filho da puta! O cara bambeia e vem para cima de
mim e eu acerto outro murro na cara dele. Yza grita, Don e Maurício tentam
me segurar enquanto os outros levam o idiota para longe de mim.
— Você é louco!? — Ela pergunta brava.
— Eu que tenho que te fazer essa pergunta, porra! Você é louca?
Deixar outro homem tocar o que é meu!? — Grito e Don vem para o meu
lado.
— Calma Gael... —Ele tenta dizer.
— Calma porra nenhuma Donatello. Ela sabe muito bem como eu
sou, ela sabe que odeio que outro homem a toque e mesmo assim estava toda
sorrisos para o filho da puta! E eu ainda sou obrigado a ouvir do garçom, que
eu tenho que aproveitar, pois logo ela partiria para outro e detalhe! É um
conselho de quem já passou por isso! NÃO FODE PORRA!
— Gael você está nervoso cara, vamos lá fora pegar um ar e se
acalmar. — Maurício pede.
Eu nem respondo e saio andando em direção a saída. Caminho de um
lado para o outro, respiro fundo para não fazer uma merda. Nunca senti isso
antes, nunca passei por nada parecido antes. Esse ciúmes queima, corrói por
dentro e eu só consigo ver tudo vermelho.
— Você vai me deixar explicar Gael? —Yza diz de longe.
— Não! Isso não tem explicação. Você veio toda territorial quando a
Joyce veio me cumprimentar, e só sossegou quando ela disse que gostava de
mulher.
— Tem explicação sim! E você vai me ouvir. — Ela grita vermelha
de raiva e tenta se aproximar de mim.
Eu me afasto a cada passo que ela da. Eu nunca senti tanta raiva
assim, e agora tenho medo de ser mais parecido com o meu pai do que apenas
a aparência. Vejo Donatello segurando a irmã, e me sinto um pouco mais
aliviado. Eu iria me odiar se na raiva, acabasse machucando ela. Isso é tudo
novo para mim, e eu preciso me acalmar, preciso analisar tudo isso que estou
sentindo e sei que se ficar perto dela não irei conseguir. Pego as chaves do
carro e caminho na direção dele.
— Gael! Aonde você vai!? — Ela pergunta e posso ouvir seus passos
vindo na minha direção.
— Don, faz um favor para mim? Leva a sua irmã para casa. — Peço e
entro no meu carro.
— Abre essa merda Gael! Não é assim que se resolve as coisas,
vamos conversar ursão. — Ela diz e posso ouvir o medo na sua voz.
Eu abaixo o vidro e olho para o seu rosto e vejo as lágrimas caindo.
— Vai para casa Sweet. Se conversarmos do jeito que eu estou, te
garanto que não vai ser legal. Deixa eu me acalmar e depois conversamos ok?
— Não! Vamos conversar agora Gael.
— Don...
— Vamos princesa. O Gael está certo, ele está nervoso e você
também. Nada bom sairá se vocês conversarem agora. Faz o que ele está
pedindo. — Donatello diz e a afasta do carro.
Eu dou partida e saio do estacionando.
Preciso me acalmar.
Não quero ser alguém como ele.
Você já é! — A voz do meu pai ecoa na minha cabeça.
Fico olhando o carro se afastar, tentando entender tudo o que
aconteceu. Em um minuto estávamos bem, fazendo planos para o final da
noite e no outro tudo desanda, e sou deixada para trás!
— Ei princesinha, não fica assim. Vamos para casa, deixe a poeira
abaixar e só então vocês poderão se resolver. — Meu irmão diz chateado.
— Você entendeu o que aconteceu Don? Por que vou ser sincera, eu
não entendi porra nenhuma!
— Eu sabia que uma hora isso iria acontecer Maninha. Gael é
possessivo demais e foi assim desde o início, você se lembra quando ele
chegou na sua casa quando estávamos conversando? O jeito que ele enfrentou
o papai, só porque você estava chorando?
— Lembro.
— Eu não estou dizendo que o que ele sente é errado. Quem sou eu,
faço a mesma coisa com a Joy. Mas o Gael é muito mais intenso, ele vai
atropelar quem estiver no seu caminho se isso for te manter segura. O cara é
um poço de ciúmes e ver outro homem tocando você, e ainda depois que o
Galdino falou para ele, é compreensivo essa raiva toda.
— Galdino? O que ele tem a ver com isso? — Pergunto curiosa.
Eu sai algumas vezes com o Galdino a alguns anos atrás, mas tudo
terminou de boa. Ele passou a ser um amigo muito querido.
— Eu não sei de tudo, mas pelo que o Gael falou o garçom falou para
ele que logo você o trocaria. E que o conselho dele era que, o Gael
aproveitasse enquanto era tempo. E o garçom era o Galdino, Yza.
NÃO POSSO ACREDITAR QUE ISSO ESTA ACONTECENDO!
Nem respondo o meu irmão, me viro e vou direto para o bar aonde o
idiota está. Assim que me vê, Galdino abre um sorriso que logo some quando
o agarro pelo colarinho.
Eu apoio meus pés no apoio do banco de madeira e me inclino sobre o
balcão, e o puxo pelo colarinho.
— Que merda você falou para ele!? — Grito em seu rosto e o vejo
engolir em seco.
— Falei a verdade ué. É sempre a mesma coisa Yza, você sai com o
cara, enreda ele na sua teia e quando o cara está todo apaixonado você o
dispensa. — Galdino diz amargurado.
— Você é a porra do maior idiota da face da terra! O fato de não ter
me apaixonado por você, não quer dizer que não possa acontecer com outro
homem. Eu nunca te prometi nada Galdino, o que tivemos foi um lance que
ambos fomos recompensados. Por que quando é um homem que age sem
compromisso, ele é o tal e quando é uma mulher ela é a bruxa que ilude o
homem? Não fode porra!
— Mas eu estou mentindo? O que eu falei para ele é mentira Yza? O
cara só faltava babar em cima de você, te olhava com adoração, só quis evitar
que ele se iluda. — Ele diz sorrindo.
Minha vontade é de matar esse filho da puta! Mas tenho, coisa melhor
pra fazer.
— Sabe a diferença daquele homem? — Pergunto e ele diz que não.
— A diferença é que ele me tem completamente Gaudino. De corpo, alma,
coração e loucura. Eu amo aquele homem, e essa é a diferença bebê. E você
viu isso e quis atrapalhar, tudo porque você é um recalcado e mal perdedor.
Que feio Galdino, inveja para mulher já é feio imagina para um homem.
Largo sua camisa e sorrio para ele. Quando viro minhas costas para ir
embora, eu o ouço.
— Putinha do caralho! — Ele diz baixinho.
Aaaah minhas amigas, paciência tem limites e a minha se esgotou.
Volto com tudo e o agarro pela camisa novamente, tanto ele quanto eu irmão
ficam sem reação.
— Sabe qual é o seu problema Galdino? É que você não sabe lidar
com uma mulher forte, decidida e que sabe o que quer. Eu sou puta mesmo,
puta com orgulho e sabe por que? Por que essa puta aqui não se deixou iludir
por um babaca feito você, que essa puta aqui tem o direito de fazer o que
quiser e não sou obrigada a me contentar com uma foda meia boca. Se ser
independente, decidida, e que sabe o que quer e como quer, me faz ser uma
puta, então eu sou a maior puta que Campinas já viu! Só que essa putinha
aqui tem dono, e graças a Deus não é você! — Falo na sua cara e sem resistir,
deixo um soco no seu nariz que começa a sangrar rapidamente.
Me viro para ir embora e vejo meu irmão sorrindo de orelha a orelha,
Hanna vem me abraçar.
— Vamos princesinha, vamos para casa. — Ela diz me levando para
fora.
— Você pode me deixar na casa do Gael, Don?
— Acho melhor não Yza. Ele pediu para levar você embora, e é o que
eu vou fazer. —Don diz decidido.
— Desculpa irmão, mas você não tem que achar nada! A vida é
minha, o homem é meu e eu que decido. Na realidade, me leva para casa.
Hanna você ainda tem as chaves do meu apartamento? O Gael levou minha
bolsa.
— Tenho sim.
— Então partiu My House!
E Don nos leva de cara feia. Pego minhas chaves com a Hanna e vou
para minha casa. Tomo um banho, visto apenas um vestido Levinho, pego as
chaves da casa do ursão e vou atrás dele.
Se ele pensa que vai se livrar de mim, está muito enganado. Vou
mostrar para ele com quantos paus se faz uma canoa. Ele não pode me deixar
de fora, não pode sair e me largar como se eu não fosse porra nenhuma. Se
antes eu estava com medo, agora eu estou puta da vida.
Vou provar que eu posso lidar com todos as Facetas de Gael D'Ávila.
Na realidade estou até excitada... Gael insano me deixa louca, mais do que já
sou!
Mal paro o carro e já estou entrando dentro da casa dele, no caminho
várias caixas enfeitam o lugar. Tudo coisas que compramos para decorar os
quartos e dar um toque especial nos outros cômodos. Olho no quarto e vejo as
roupas que ele vestia mais cedo, jogada no chão. Volto para a sala e vou em
direção a cozinha, até que um som me chama a atenção. Vou seguindo a
música até chegar a academia, um rock pesado explode das caixas de som e
eu vejo meu homem detonando o saco de areia.
Puta que pariu, ele está realmente com raiva, a cada murro que ele dá
no saco o mesmo voa longe. Eu me encosto no batente da porta e fico
olhando ele se matar de tanto treinar.
Ele está com raiva do que o Galdino falou e junta o fato dele ver um
homem me abraçando, pronto temos um urso raivoso. Mas não é nada do que
ele está pensando! Tá, tinha sim um homem me tocando, mas ele era o meu
amigo muito, muito gay. Ele tinha acabado de chegar de do Japão e quando
me viu, veio logo me contar que estava noivo. Eu gargalhei alto quando ele
me disse que era mentira que todo japonês tinha pau pequeno.
Mas o Gael me deixou explicar? NÃO! Beleza que ele é ciumento,
possessivo, controlador, mas ai duvidar de mim, duvidar do que sinto por ele?
A isso não! Isso é o que mais me deixou brava, porque ele duvidou sim. A
partir do momento que ele achou que deixaria alguém me tocar com segundas
intenções.
Agora ele vai ter que aguentar o terror que eu vou botar!
Dou meia volta, e vou para o quarto dele e começo a pegar tudo o que
é meu. Roupas, sapatos, cremes, tudo o que eu vejo coloco dentro de um saco
preto de lixo que peguei na cozinha. É infantil? É, mas foda-se.
Ele não pode sair duvidando de mim, dos meus sentimentos e muito
menos do meu caráter. Eu tenho um passado? Tenho e ele vai ter que
aprender a lidar com isso. Eu era sozinha, solteira e namorei geral da cidade,
mas veja bem, eu era SOLTEIRA! Nunca senti o que eu sinto pelo Gael,
nunca deixei ninguém se aproximar de mim como ele fez. Meu pai sempre
disse que eu saberia quando o homem certo aparecesse, e que ele seria o
único para mim. Que ele causaria um maremoto dentro de mim, e foi o que
aconteceu assim que eu coloquei os olhos no Gael.
Eu sou ciumenta, não vou negar. Fui sim toda territorial para cima
dele, quando a Joyce apareceu. Mas eu deixei que ele explicasse e me
apresentasse, não é porque ela era lésbica que eu deixei passar. Mas sim por
que ele me apresentou como mulher dele, então não tem porque eu me sentir
insegura.
Levo todas as minhas coisas para o carro, agarro as chaves do carro
dele e pego minha bolsa e meu celular. Fico alguns minutos tentando me
calmar, respiro fundo várias vezes e só então vou enfrentar a fera.
Agora ou vai ou racha Brasil!
Ele vai ver que eu não sou um objeto, que ele descarta quando quer.
Ele saberá que toda ação tem uma reação, e quando se trata de mim a reação
vem com força!
Entro na academia e vou direto para o som e desligo, chamando sua
atenção para mim automaticamente.
— Yza eu te pedi... — Ele tenta falar, mas o corto imediatamente.
— Eu sei o que você pediu meritíssimo, e eu não vim aqui me
humilhar para você. Eu entendi, e vim aqui somente para te entregar as suas
chaves. Depois mandarei as suas coisas, e pedirei para alguém pegar as
minhas chaves.
— O que!? — Ele pergunta assustado.
Esse homem é a porra de um monumento ambulante! Ele é todo cheio
de músculos, tatuagens, um sorriso matador. Mas o que mais me chama a
atenção são os seus olhos penetrantes, eles dizem tantas coisas.
— Sobre a Maria, enquanto a guarda dela não sair você poderá vê-la
quando quiser, mas terá que avisar antes e eu pedirei a alguém para levá-la na
casa da sua mãe.
— Que merda você está falando!? Eu não estou bem para aturar as
suas gracinhas Yza.
— E no que depender de mim, você nunca vai precisar aturar mais
nada da minha pessoa. Para um bom entendedor, um pingo é letra. E eu meu
caro, sou muito inteligente. Mas já disse tudo o que eu queria falar, aqui esta
as suas chaves e amanhã pedirei para alguém trazer suas coisas. — Falo
decidida e saio da academia e vou para o meu carro.
Assim que abro a porta do meu carro, Gael aparece na porta
enlouquecido.
— Volta aqui e venha conversar como uma adulta! Não é fugindo que
você vai conseguir resolver as coisas. — Ele diz bravo e vem em minha
direção.
— Essas palavras vindo de você é uma grande hipocrisia, você não
acha caro juiz? Você me julgando por que estou indo embora, só te torna um
hipócrita de merda Gael! Eu só estou te retribuindo a consideração, quando
você me largou no estacionamento do bar como uma qualquer. — Falo
sentindo a raiva se apoderar de mim.
— Você não entende! Eu precisei fazer isso porra. — Ele grita
puxando os cabelos.
— Agora não importa, também não quero saber Gael. Até mais. —
Entro no carro e vou direto para o meu apartamento.
— Seu Fran, não deixe ninguém subir para o meu apartamento ok? O
Gael não está mais autorizado a ir para o meu apartamento, fui clara? —
Aviso ao porteiro.
— Tudo bem menina. — Ele responde todo educado.
Entro em casa e vou direto para o chuveiro. Todo um banho
demorado, me seco e visto o pijama. Apago as luzes e tranco a porta do meu
quarto, sei que o Gael irá dar um jeito de passar pelo porteiro. Mas no meu
quarto ele só entra se arrombar a porta.
Por incrível que pareça eu adormeço rapidamente. Acordo horas
depois, meu quarto parcialmente escuro com alguns raios de sol, que estão
saindo por detrás das cortinas. Levanto e vou para o banheiro, faço minha
higiene, tomo um banho rápido, visto um roupão e vou paro o quarto escolher
uma roupa e depois vou buscar a minha filha. Mas paraliso assim que coloco
meus pés no quarto.
Gael está sentado na poltrona e olhando em minha direção.
Eu olho para a porta e só então vejo que está encostada.
— Como você entrou aqui?
— Eu tenho as chaves Sweet, esqueceu? — Ele diz balançado as
chaves para mim.
— Isso eu sei gênio, eu quero dizer o que você está fazendo no meu
quarto?
— Nosso quarto Sweet. — Ele diz sério e reviro meus olhos.
— O que você quer Gael? Já falei tudo o que eu queria, então por
gentileza vá embora. Eu vou me arrumar e buscar a minha filha na casa da
avó dela.
— Nossa filha Yza, nossa filha! Você falou o que queria, então agora
é a minha vez.
— Minha, sua, que seja! Tenho que buscar ela. E por que eu escutaria
você? Acabou Gael, acabou no momento que você me largou naquele
estacionamento. — Falo séria e vou para o closet pegar uma roupa.
Segundos depois sinto seu corpo colado ao meu, sua respiração em
meu ouvido. Minha pele se arrepia, meus batimentos aceleram, minha
respiração se torna ofegante e ele nem se quer me tocou. É essa a reação que
ele desperta em mim, é isso que me enlouquece, porque ele não precisa me
tocar para me transformar em uma poça de excitação. Basta ele estar no
mesmo ambiente.
Suas mãos entram em ação e eu me torno inútil, deixo ele fazer o que
quiser de mim. Não protesto, não reclamo, só anseio por ele. Eu sabia que ele
viria atrás, o que temos é muito forte para acabar por conta de um ciúmes
louco. Sei que ele deve ter um bom motivo para ter me deixado, e aposto
minhas pregas que foi por causa da raiva. Meu Ursão... Tão previsível!
Ele solta o nó do meu roupão e toca minha barriga, subindo para os
meus seios até meu ombro. Tirando o roupão do meu corpo. Seu punho
agarram o meu cabelo fortemente, inclinando minha cabeça para trás, em
direção a sua boca. Nem preciso falar que já estou encharcada, por que
somente a presença dele já me excita.
— Sabe quando o que nós temos irá acabar? — Ele pergunta beijando
meu pescoço. — Nunca, nem mesmo se eu morrer Sweet. Você é minha e
sempre vai ser! E não será um briga boba que mudará isso.
Eu estou muda, como diz meu irmão contra fatos não há argumentos.
Eu sou dele.
Enquanto ele beija e morde meu pescoço, sua mão desce para a minha
boceta brincando com o meu clitóris. É impossível conter a minha reação,
quando ele belisca meu clitóris me fazendo gritar em êxtase. Ele gira meu
corpo e o levanta, e me pressiona contra a porta do closet e ataca minha boca.
Ele me beija com fome, com raiva, como se quisesse me devorar. Ele me
coloca de volta em meus pés e se agacha na minha frente. Gael levanta minha
perna e a coloca apoiada em seu ombro.
— Eu vou te lembrar o porquê você é minha! Primeiro com a minha
boca, depois com o meu pau. Eu vou te foder com força e depois vou amar
cada pedacinho de você Yza Reed.
Ele passeia sua língua por toda a minha boceta necessitada e suga
meu clitóris
duro, usando seus dentes. A dor é intensa, mas um dor suportável e que
acende algo dentro de mim, algo nunca antes sentido. A dor se transformou
em prazer quando ele alivia o doce desconforto com a sua língua quente.
— Huuumm, porra Gael preciso de você dentro de mim! — Imploro
necessitada.
— Isso é o que pretendo fazer Sweet, mas primeiro quero que você
goze na minha boca. — Ele diz gemendo gostoso na minha intimidade.
Gael encaixa dois dedos dentro de mim, deslizando profundamente
me fazendo ofegar alto, enquanto continua me chupando. Eu estou na borda
do precipício, arrepios passam pela minha espinha, minhas pernas tremem,
minha barriga se contrai tamanha a intensidade que estou sentindo. Eu agarro
seus cabelos e me esfrego descaradamente, em busca do meu orgasmo.
Nenhuma das minhas transas aleatórias se compara a essa, nenhum homem
tem tanto poder sobre mim, como esse homem ajoelhado na minha frente.
Nenhum homem me fez sentir o que só ele é capaz de fazer. Ele me faz
querer mais e mais, me tornou gananciosa pelo seus toques, pelo prazer que
só ele me dá.
— Sua buceta é tão doce, tão gostosa. Goza pra mim Sweet, agora! —
Ele manda e suga seu clitóris ao mesmo tempo que me fode rapidamente com
seus dedos e eu explodo gritando seu nome.
Esse foi um dos orgasmos mais forte que já tive. Meu corpo
convulsiona e Gael me segura em seus braços quando eu desmorono. Ele me
carrega para a cama e me deita delicadamente e se afasta e eu passo a ser
expectadora, assistindo esse monumento tirar a roupa. Cada pedaço desse
homem grita pecado, cada pedacinho me enche de luxúria.
Ele é gostoso e todo meu!
Ele sobe na cama, me olhando seriamente enquanto se encaixa entre
as minhas pernas. Ele segura seu membro duro, acariciando para cima e para
baixo deixando escapar uma gota do seu desejo por mim. Ele aproxima seu
membro, alisando minha boceta de cima a baixo, me deixando cada vez mais
sedenta por ele. Sem que eu possa me preparar, ele entra com tudo dentro de
mim arrancando um grito de dor e desejo.
— Minha! — Ele ruge.
Gael está descontrolado e me fode fortemente, pouco ligando se está
me machucando ou não. Mas isso não importa agora, eu gosto dele assim;
louco, descontrolado, perdido em mim e por mim. Sem se segurar, sem me
tratar como se eu pudesse quebrar a qualquer momento. Nossas transas
sempre foram intensas, mas essa? Essa é crua, cheia de significado. Ele não
se segura, me aperta com força, me morde e chupa deixando minha pele com
a sua marca. Mostrando realmente a quem eu pertenço. A ele! Eu sou dele.
Precisamos conversar, isso eu tenho toda certeza. Mas essa conversa
pode esperar. Ele precisa firmar sua posse por mim, mas não é só ele que tem
algo a reivindicar. Eu também tenho!
E ele logo saberá disso!
Nada no mundo me deu mais medo do que ela dizendo que acabou,
que mandaria as minhas coisas por alguém.
Um frio gelado correu por toda a minha espinha, um medo tão forte
me bateu que eu não sei explicar. Eu só senti isso uma vez na vida e foi
quando eu encontrei minha mãe em uma poça de sangue, praticamente morta.
Essa menina é o meu mundo inteiro, e em tão pouco tempo ela ganhou um
significado imenso na minha vida. Ela mexe com cada nervo em meu corpo,
ela tem o poder em suas mãos de me levar ao chão. Minha vida não fazia
sentido antes dela. Eu tinha a minha mãe, minha carreira e alguns poucos
amigos, mas nada além da minha carreira fazia sentido. Sabe quando você
olha para algo e tem a certeza que foi feito para você?
Foi assim que me senti quando eu a vi ela primeira vez. Ela tem tudo
de mim, tanto sentimentos bons como; amor, carinho, dedicação. As também
desperta o pior em mim como; ciúmes, controle, possessividade. Ela me
enlouquece com o seu jeitinho de menina travessa, e me tem de joelhos
quando ela assume seu lado mulher decidida como agora.
Ei sei que ela está certa de estar com raiva. Eu jamais, em hipótese
alguma, deveria tê-la deixado para trás. Um relacionamento é baseado em
confiança e eu me deixei levar, por um babaca que não conseguiu conquistar
a sua atenção. Eu sei que ela tem um passado, assim como eu também tenho
o meu, mas juntou tudo de uma vez só. Juntei o que o garçom falou e o que
eu vi diante de mim, isso mexeu com um monstro dentro de mim. Monstro
esse que só ela é capaz de acordar. Eu nunca, em toda a minha vida, senti
ciúmes de nada. Tinha meus casos, mas isso se baseava em um quarto de
hotel, aonde eu e a minha parceira no momento ganhávamos o que
queríamos. Prazer. Mas quando saia dali era cada um para o seu canto.
Essa vontade de ter uma família, casa, filhos, casamento, eu só passei
a ter depois que ela entrou na minha vida. É intenso demais o meu sentimento
por ela, mas também causa um medo enorme em mim. É inacreditável o
tamanho do poder que ela tem sobre mim, basta apenas um sorriso e eu iria
até o céu, só para ver um sorriso seu novamente. Não há absolutamente nada
que eu não faça por ela e para ela. Yza é literalmente meu ponto fraco, pois
eu sei que sem ela eu não conseguirei existir.
Entende o medo que eu senti?
Eu me afastei, deixei-a no estacionamento por medo de machucá-la.
Eu nunca senti essa raiva antes, onde eu via tudo vermelho, um ciúmes que e
corroía por dentro me deixando doente. Meu pai era assim, e eu nunca quero
fazer o que ele fazia. Na minha cabeça meu maior medo estava se
concretizando, onde eu fui atingido por uma raiva que estava me cegando. E
se eu a machucasse? E se eu não conseguisse me parar e acabasse atingindo a
ela? Eu iria me tornar o meu pai, onde ele tudo desconfiava da minha mãe e a
agredia constantemente.
Mas ela não me deixou pensar, ela simplesmente explodiu na minha
cara, dizendo que estava indo embora. E foi onde eu realmente enxerguei que
eu jamais a machucaria, que só a simples ideia me deixava doente. Ela foi
feita para ser minha, como eu sou dela.
Eu corri, corri para tentar remediar o que eu mesmo causei, entrei no
meu quarto e vi que ela tinha pegado todas as suas coisas.
Ela realmente estava falando sério, sobre me deixar!
Tomei um banho rápido e fui atrás da minha mulher, mas você achou
que ela iria facilitar a minha vida? Ledo engano minhas caras, fui barrado
assim que entrei na portaria. Foi preciso ligar para o meu cunhado em plena
madrugada e pedir para ele autorizar a minha subida. Entrei no seu
apartamento com a minha chaves, eu achando que estava tudo certo e então a
porta do quarto estava trancada. Minha primeira reação foi arrombar a porta
com um chute, mas depois percebi que tudo estava silencioso demais e ela
estava dormindo. Então minha segunda opção foi tentar abrir a porta de um
jeito mais delicado. Demorou um pouco, mas conseguir arrancar o miolo da
porta, ela vai xingar para caralho, mas no amor e na guerra vale tudo.
Entro no quarto e a vejo adormecida na cama, como se nada estivesse
acontecendo. Tenho duas opções; eu a acordo e encho sua bunda de tapas, só
por ela ter pensado em me deixar ou espero a linda ter seu sono da beleza e
quando ela acordar eu foder pra fora da sua mente a ideia de merda de me
deixar. Escolho a segunda opção e me sento na poltrona no canto do quarto.
Tomei meu tempo olhando ela dormir e pensando em tudo o que
vivemos desde do começo. Nossa química foi instantânea desde a primeira
vez que nos vimos. A paixão à primeira vista se transformou em amor forte,
que veio ser coroado com a chegada da nossa menina. Desde que ficamos
juntos não tive mais nenhum pesadelo, muito menos crises de ansiedade.
Continuo o mesmo homem de sempre, porém um pouco mais humano. Antes
minha vida era voltada somente para o trabalho, agora ela é voltada para as
minhas meninas. Por volta das seis horas da manhã ela despertou, e nem se
deu conta que eu estava no quarto. Ela tomou seu banho e só quando voltou
para o quarto, que ela me viu realmente. Meio que discutimos, e ela mais uma
vez fala sobre o fim. E isso me enlouquece, fui para cima dela feito um trator
e provei por A mais B, que ela era e sempre seria minha.
Não me segurei, não tive cuidado na hora do sexo. Quis e fiz com que
ela visse que nós fomos feitos um para o outro. Marquei cada pedacinho do
seu corpo, descontei todo o meu medo de perdê-la em seu corpo. Foi uma
foda bruta, mas cheia de significado. Teve um momento que eu não sabia
aonde eu começava e ela terminava. Ela também não ficou atrás e provou que
ela também me possuía, cada parte da minha pele tem uma marca dela, eu
ouso até dizer que existe resquício de pele minha embaixo das suas unhas.
Ela me torturou, me negou, me enlouqueceu e mostrou que eu era
inteiramente dela.
Caímos exaustos na cama, mas se eu pensava que ela iria facilitar
alguma coisa, me enganei redondamente. Logo ela levantou e foi para o
banheiro, escuto o barulho do chuveiro e vou atrás dela, mas a porta do
banheiro estava trancada. Eu encosto minha testa na porta e peço para ela
abrir.
— Sweet, abre a porta meu amor.
— Não! Você já teve o que veio buscar, então pode ir embora. — Ela
grita decidida.
Eu não retruco e vou até o banheiro do quarto de hospede e tomo um
banho rápido. Quando eu volto para o quarto a vejo se trocando.
— Podemos conversar agora?
— Conversar o que Gael? Sobre como você desconfiou de mim? Ou
sobre como você me deixou sozinha naquele estacionamento?
— Me perdoa Sweet, eu fiquei cego quando vi aquele cara com as
mãos em você e não ajudou muito o que aquele filho da puta falou. Fui
errado por ter ti deixado para trás, mas você precisa entender que foi para o
seu bem!
— Eu não preciso entender nada Gael. O que eu entendi é que você
não confia em mim, e que ao menor sinal de problema sua reação foi me
deixar. E se meu irmão não estivesse lá? Sim, porque você foi embora sem ao
menos se preocupar se eu tinha a merda da minha bolsa ou como eu entraria
em casa.
— M e desculpa, ok? Eu fui errado, mas estava com medo. Medo de
te machucar na hora da raiva, medo de me tornar igual ao meu pai!
— Igual ao seu pai? Mas ele batia na sua... Ah merda! Me diz que
você não pensou isso Gael D'Ávila! Você nunca me machucaria, nem se
estivesse no auge da sua raiva. Você odeia violência Gael, como pode pensar
isso? Você luta a favor de mulheres abusadas e jamais faria isso comigo.
— Mas na hora da raiva eu não pensei nisso Yza. Eu nunca senti tanta
raiva na minha vida, eu poderia matar aquele homem que estava te tocando.
Eu nunca fui esse homem, nunca fui ciumento com nada, nem ninguém. Mas
eu o mataria sorrindo. E eu tive medo de bater em você, entende? Não de
propósito, mas sei lá, talvez se você se metesse no meio ou tentasse me
segurar. Eu estava cego Yza e quando isso passou na minha cabeça, me bateu
um medo do caralho de ser igual a ele, de fazer o mesmo que ele fazia com a
minha mãe. — Falo me sentando na beirada da cama, e apoio meu cotovelos
nas minhas coxas e tampo o eu rosto.
Ela suspira alto e vem para o meu lado. Ela afasta meus braços e
levanta meu rosto, me fazendo olhar seu rosto. Ela se acomoda no meu colo e
faz um carinho em meus cabelos.
— Fecha os olhos Gael. — Ela pede e eu fecho meus olhos. — Agora
me imagine machucada.
— Não!
— Só imagina Gael. Agora me diz o que você sente ao me ver
machucada.
— Me dói Sweet. Dói tanto, nunca quero ver você machucada. Eu
morreria antes disso acontecer, você é tão perfeitinha, tão linda e não merece
sentir nenhuma dor.
— Ai está a sua resposta meu amor. Você jamais me machucaria,
porque isso doeria mil vezes em você. Você não é igual ao desgraçado do seu
pai, ele sentia prazer em machucar a sua mãe. Você não, você luta com todas
as suas forças para salvar mulheres que passam pelo que sua mãe passou.
Você é um homem bom, dentro de você não existe sentimentos ruins. — Ela
diz baixinho.
Eu a agarro apertado e escondo meu rosto em seu pescoço, sentindo o
seu cheiro que é a única coisa no mundo que tem o poder de me acalmar.
— Me perdoa? Eu amo você demais Sweet, amo como nunca amei
nada na minha vida. Esse sentimento é forte e intenso, é tudo novo para mim
até mesmo o ciúmes.
— Eu te perdoo Gael, mas temos que conversar.
— Eu aceito qualquer exigência desde que você esqueça essa ideia de
me abandonar.
— Gael eu nasci e cresci aqui, eu viajei para muitos lugares, estudei
muito e fiz muitos amigos. Tanto homens quanto mulheres, principalmente
homens. Quando você me conheceu, eu não era virgem, então isso é sinal que
eu tive uma vida sexual antes de você. Você vai topar com vários casos
antigos meus pela cidade, e eu não irei ignorá-los porque você é ciumento.
Lógico que não falo com todos, muitos já são casados e outros nem moram
aqui. Eu nunca disse que fui santa, só pelo meu gênio você já pode ter ideia
de tudo o que eu aprontei. Mas eu nunca me entreguei a ninguém, do jeito
que me entreguei a você. Eu nunca senti por outro, nem ao menos a metade
ou um terço do que sinto por você. Eu nunca amei ninguém além da minha
família, como eu amo você. E é nisso que você tem que confiar, é no que
temos e no que estamos construindo que você tem que acreditar e não em um
homem invejoso como o Galdino. É em mim, sua mulher, que você tem que
confiar. Relacionamento é isso Gael, confiança acima de tudo. Nós somos
intensos, somos possessivos, somos cimentos, por que nos amamos demais.
Mas o amor sem confiança não serve de nada. Eu também sei que você teve
alguns casos no passado, eu surtarei? Com certeza sim! Mas eu confio em
você e o que temos juntos. Vamos brigar? Porra, vamos e muito, mas sempre
vamos conversar e nos entender. Não existe isso de dar um tempo, de você
me deixar sozinha ou visse e versa. Somos adultos e iremos resolver os
problemas como tais.
Porra! Olha o show de maturidade que ela está me dando. Uma
menina muito mais nova que eu, de quase vinte e cinco anos nas costas. Mas
tudo o que ela acaba de dizer é a mais pura verdade, um casamento sem
confiança não vale de nada.
— Eu prometo que jamais te deixarei sozinha novamente. Prometo
controlar o meu ciúmes, mas não prometo nada muito imediato. Desculpa por
dar ouvidos para aquele idiota, sei que você teve uma vida antes de mim, só
não gosto de ver outro homem tocar o que é meu.
— Sobre isso... O homem que você viu me abraçando, era apenas um
amigo. Um amigo muito gay por sinal que tinha acabado de chegar do Japão,
e ele estava me contando que tinha achado um homem e que estava noivo.
Ele até me contou que o que dizem sobre Japonês ter o pinto pequeno era
mito. Mas independente dele ser gay ou não, isso não te dá o direito de bater
nele. Você tem que entender que eu me respeito e respeito o que temos,
jamais faltaria com respeito com você Gael e foi isso que mais e machucou.
Sua falta de confiança e mim e no meu caráter, se eu quisesse ficar com
outros homens eu jamais estaria com você. Posso ser qualquer coisa, mas mal
caráter não é um delas.
Gay! O filho da puta era gay! Eu não sei em quem eu quero bater
mais, se é no tal do Galdino ou e mim mesmo.
— Me desculpa Sweet. Prometo que desconfiar de você nem se quer
passou pela minha cabeça. Eu fiquei com raiva por vê-lo tocando o que era
meu. Me perdoa princesa? —Falo beijando suas mãos e é então que eu vejo
que está vermelha e machucada. — O que aconteceu com a sua mão? Fui eu
quem fez isso?
— Não Gael, não foi você. Isso não é nada demais.
— Me diz! — Peço autoritário e ela rola os olhos.
— Mandão! Eu posso ter acertado o nariz de alguém por querer,
depois que ele me chamou de putinha.
E olha a raiva dando as caras novamente.
— Quem te chamou disso?
— O Gaudino, mas eu já resolvi isso do meu jeito. Eu saia com ele
anos atrás, mas nunca foi sério. Eu era doida, vivia nas baladas e beijava
meio mundo. E ele foi um dos caras que eu ficava na época, mas não deu
certo e ficamos só na amizade. Eu jamais imaginei que ele fosse capaz de
falar as merdas que ele falou. Homem é foda! Quando eles pegam geral, são
considerados os reis. Mas nós mulheres quando agimos iguais, somos
consideradas putas e que gostamos de iludir os coitadinhos. Se você pode
ficar com quem quiser, porque eu não posso? Direitos iguais bebê e eu fiz uso
desses direitos, mas ele levou a recusa de namoro para o coração, fazer o que.
— Eu prometo controlar o meu ciúmes e o meu temperamento, mas se
eu ver esse cara na minha frente vou acabar com ele.
— Ursão nervoso!
— Sou. Estamos bem? — Pergunto beijando seu lábios.
— Bem nós estamos, mas isso não quer dizer que não terá punição.
— Eu aceito, desde que não seja nada sério. Agora podemos dormir
um pouco? Tudo o que eu quero e dormir agarrado em você, depois vamos na
minha mãe buscar a ursinha. O seu irmão vai trazer a fadinha maia tarde?
— Sim, no final da tarde. Katrisca tem uns exames para fazer a
tardezinha, e ele a deixará aqui antes de ir. Deita um pouco, só vou tomar um
copo de suco. — Ela diz e vai para a cozinha.
Eu me acomodo melhor na cama, ligo o ar-condicionado deixando o
quarto bem gelado. Dez minutos depois ela volta e sorri quando sente o ar
frio. Eu amo dormir assim, porque ela se enrosca em mim bem gostoso.
Ela corre direto para a cama e se aconchega em meus braços. Eu puxo
o coberto para cima da gente e respiro aliviado.
— Sweet?
— Hum...
— Você iria realmente deixar?
— Nunca, foi só um terrorismo mesmo. Mas não pense que não serei
capaz Gael, experiente fazer algo parecido com o que você fez e nunca mais
você tocará em mim. Só nos falaremos através de advogados a respeito da
Maria. — Ela diz seria.
Eu olho para ela, certo que iria ver um sorriso brincalhão. Mas me
fodi legal, pois ela estava com os olhos fechados e a testa franzida.
É Gael... Você acabou de receber uma ameaça meu caro. Penso
comigo mesmo.
Eu a beijo na testa e aproximo mais nossos corpos.
— Eu amo você, Sweet.
— Também amo você, Ursão.
E agarrado a minha mulher, caio no sono profundo. Não sem antes
pensar no encontro que terei com o tal Galdino.
Ele que me aguarde.
Acharam mesmo que eu tinha sumido? Ah, eu estou aqui, só na
espreita de uma oportunidade.
Qual foi a minha surpresa, quando eu vi Yza Reed entrando no bar
acompanhada daquele armário tatuado? Eu imaginava que ela estava
brincado de casinha, mas pelo visto a brincadeira cansou e ela resolveu voltar
a sua vidinha de balada.
Fiquei observando todos os seus passos a noite inteira, a espera de um
descuido apenas. A adrenalina corre em minhas veias, meu corpo se arrepia
com a possibilidade de pegá-la embaixo do nariz desse idiota tatuado. Vejo o
exato momento em que ele se afasta dela e caminha em minha direção, ele
para ao meu lado e pede uma bebida para o garçom. Bastou que ele virasse as
costas, para que outro homem se aproximasse dela. Escuto tudo o que o
garçom diz a ele, posso ouvir em sua voz um toque de sarcasmo e amargura.
Na certa ele foi um dos brinquedos nas mãos da Yza Reed. O tatuado, que eu
descobri se chamar Gael D'Ávila, fica enfurecido com as palavras do garçom
e quando ele olha na direção da Yza fica enlouquecido. O homem chegou a
tremer de raiva, e foi para cima feito um boi louco.
Houve um tumulto, socos proferidos, gritos e então levaram o rapaz
agredido embora. Vejo o casal discutindo e ele saindo do bar, sendo seguido
por ela.
Acho que a minha chance realmente chegou!
Vou atrás como quem não quer nada, louco para colher em meus
braços uma Yza destruída. Pagaria de bom moço, daria meus ombros para ela
chorar e só então eu a teria para mim e arrancaria seu último suspiro. Mas as
chance estava contra mim! O irmão dela estava ao seu lado.
Droga!
PORQUE ESSE DONATELLO TINHA QUE TER FICADO!?
Eu achei que ele já tinha ido embora! Desgraçado, tinha que
atrapalhar os meus planos. Essa seria a oportunidade perfeita para atacar. Ela
estaria sozinha e vulnerável, a presa perfeita. Mas, mais uma vez meus planos
foram interrompidos, isso está começando a me irritar porra! Estou ficando
sem paciência.
Volto para o bar cheio de ódio dentro de mim. Peço um uísque puro e
fico remoendo tudo o que aconteceu. Uma garota chama a minha atenção,
cabelos compridos, pele queimada se sol e o sorriso idêntico ao da minha
"Ela". Se passaram anos e mesmo assim não consigo pronunciar seu nome. O
único sorriso que achei idêntico ao dela, foi o da Yza Reed e agora o dessa
garota. Pego o meu copo e me aproximo dela e assim que ela me vê abre um
sorriso lindo. Eu quase esqueço do meu objetivo, tamanha a confusão que se
instalou na minha mente. Mas logo meu foco volta e começo a tecer a minha
teia.
Se "Ela" não pode mais mostrar o seu sorriso, ninguém mais pode!
— Seu sorriso é lindo.
— Obrigado. — Ela responde sorrindo e isso me enfurece ainda mais.
— Qual é o seu nome?
— Lethy. Lethy Oliveira e o seu? — Ela pergunta.
— Lethy do sorriso lindo tem namorado? Será que eu estou sendo
abusado em estar aqui, falando com você? — Pergunto, tirando o foco de
mim.
Ela nega e ri, me faz lembrar ainda mais dela. A alegria, os olhos
brilhando de prazer, as bochechas coradas. Mas isso não durará por muito
tempo, logo seu brilho no olhar será apagado, seu rosto perdera a cor e eu
verei a vida escoando do seu corpo, assim como foi com "ela".
Conversamos uma boa parte da noite, e a minha ansiedade foi
aumentando gradativamente conforme as horas iam passando. Dançamos
juntos algumas músicas, fui um verdadeiro cavalheiro. Quando ela diz que
tem que ir embora, eu me disponho a levá-la para casa. Seus amigos estão
muito bêbados, ela estava em alguma comemoração e eu aposto que ninguém
se lembrará de nada amanhã!
O crime perfeito.
Ela caminha para o meu carro em meio aos tropeços e eu a ajudo a se
firmar em seus pés. Eu a acomodo no banco e coloco o sinto de segurança
nela, depois dou a volta e sento ao volante.
— Uma pena que você queira ir embora, esperava ficar um pouco
sozinho com você. —Falo todo galante.
— Eu ainda não fui embora, então você pode fazer o que quiser
comigo. Tenho certeza que irei adorar cada segundo. — Ela diz contente.
— Eu não tenho tanta certeza. — Falo baixinho.
— Não entendi o que você falou. — Ela diz confusa.
— Eu disse que eu também irei adorar ficar com você. Vamos para a
minha casa?
— Tudo bem, mas tenho que entrar no serviço as onze da manhã.
— Não se preocupe com o horário meu bem, você nunca mais terá
que fazer isso depois de hoje.
— Uau... Quer dizer que você tomará conta de mim?
— Eu tomarei, e cuidarei de cada pedacinho de você.
Depois de quarenta minutos agonizantes, chegamos ao meu
matadouro. Uma casa afastada de qualquer civilização, rodeada por terras.
— Nossa! Você mora em uma fazenda? Eu amei. Você cria o que?
Cavalos?
— É herança de família, vamos entrar?
— Vamos.
Ela quase caí do carro e eu mais uma vez a ajudo. Assim que
entramos a louca me ataca, arrancando a minha camisa e eu a deixo pensar
que vamos transar. Ela tira a saia e abre sua camisa e cai sentada no sofá.
— Estou um pouco bêbada! — Ela sorri.
— Eu cuidarei de você. Mas pode me responder uma coisa? — Eu
falo caminhando até a cozinha.
— Claro. — Ela responde vindo atrás de mim.
Eu vou para a área de serviço e abro uma porta que me leva a um
cômodo escuro, que tem todo um isolamento acústico. Assim que eu abro a
porta, sinto seu corpo colar nas minhas costas, suas mãos vão de encontro ao
zíper da minha calça. Eu me viro bruscamente e a pressiono contra a parede,
segurando seu pescoço.
— Quão alto você é capaz de gritar Lethy? — Falo roucamente em
seu ouvido.
— Muito, posso gritar muito alto.
Então eu seguro pelo cabelo com força e a guio para dentro do quarto.
Assim que eu acendo a luz seu sorriso safado some, dando lugar ao medo.
Isso!
É assim que eu gosto, posso sentir o gosto do seu pavor na ponta da
língua. O gosto mais saboroso que existe no mundo, é doce e ao mesmo
tempo cítrico. Minha boca chega a salivar.
— Que lugar é esse? Olha eu mudei se ideia, quero ir para casa. —
Ela diz amedrontada tentando se soltar do meu aperto.
— Muito tarde para isso Lethy, veja bem... Não posso deixá-la ir. —
Eu a empurro para o meio do quarto e volto para trancar a porta.
Ela vem para cima de mim, tentando impedir que eu a tranque na sala.
Eu gosto das que lutam, das garotas bravas, corajosas. Nada me dá mais
prazer do que quebrá-las.
— Seu louco! Me tira daqui! Seu doente! Socorro! Alguém me ajude,
socorro! — Ela grita me fazendo sorrir.
— Pode gritar a vontade minha querida Lethy, ninguém pode te ouvir.
Agora seja uma boa menina e caminhe na direção daquela mesa.
O quarto é amplo e totalmente isolado, então ela pode gritar o quanto
quiser que ninguém a ouvirá. O piso é todo branco, para realçar o sangue
quando cair no chão. A mesa é toda feita se alumínio, com vários furos em
todo o seu comprimento para poder escoar o sangue. Tipo aquela mesas de
frigorífico, onde colocam o boi para poder cortar. Inclusive eu comprei
diretamente de um, eu só adaptei com os apetrechos que eu precisava. Em
cada ponta da mesa existe uma algema e braçadeiras, para manter a minha
presa no lugar. Também tem correntes vindas do teto, para uma brincadeira
mais diferenciada. E um painel cheio de fotos "dela" e da Yza. Na realidade
as quatro paredes são revestidas com fotos das duas.
— Você é um doente!
— Cala a boca e faz o que eu mandei! — Eu grito fazendo ela pular
se susto.
— Olha cara, me deixa ir embora. Eu prometo não falar nada para
ninguém, eu até vou embora da cidade. Mas por favor não me mata! — Ela
implora chorando.
— Tire a roupa e faça o que eu mandei! Você deveria ter pensado
antes de aceitar carona de um estranho. Você não merece viver, não merece!
"ELA" não pode viver, então você também não pode!
— Quem é ela? Eu... Eu... Por favor, me deixa ir embora!
— Ela era a única coisa na boa no meu mundo, mas ela morreu. Então
se ela morreu, você também vai! Seu sorriso... Seu sorriso é igual ao dela,
mas ela não pode mais sorrir para mim. Então você também não vai!
Eu caminho em sua direção, e a pequena idiota tenta correr. Mas eu a
agarro pelos cabelos e a arrasto até a mesa. Eu rasgo a blusa do seu corpo, a
deixando só de calcinha e sutiã. Ela grita alto, e pede por clemência fazendo
meu sangue correr ainda mais rápido em minhas veias.
O medo que vem dela, só alimenta ainda mais a minha sede por
poder. O medo e o pavor que elas sentem alimentam meu ego. Cada grito,
cada palavra de clamor, cada pedido de socorro, faz com que eu me sinta
poderoso, me sinto o rei. EU ME SINTO UM DEUS!
Por que eu tenho o poder em minhas mãos, sua vida depende de mim.
Lethy tenta me parar, arranha meu rosto me fazendo perder a cabeça.
Eu acerto sua mandíbula com um soco e ela cai desacordada no chão. Droga!
Vai atrasar toda a diversão. Eu a pego nos braços e a deito na mesa,
prendendo as algemas em seus pulsos e tornozelos. Depois é a vez das
braçadeira, uma abaixo do seu peito, outra na altura da sua barriga e a terceira
em suas coxas. Agora ela está aonde eu queria. A minha mercê!
Assoviando o tema de A pantera cor de rosa, vou até o balcão e sirvo
de uma dose de uísque.
A música passa a tocar na minha mente e eu vou dançando e fazendo
passinhos, enquanto preparo meu material de tortura. Tesoura, alicate,
martelo, uma serra, sugadores dentários, afastadores labiais, álcool e o meu
preferido... Bisturi. Com a minha bandeja preparada, caminho para acordar
minha bela adormecida Lethy.
— Acorda! Está na hora da diversão minha querida! —Falo jogando
água na cara dela.
Você deve estar se perguntando se eu sempre agi assim com as
minhas vítimas, não é? E a minha resposta é; nem sempre. Às vezes quero
acabar rápido e outras vezes não. Como agora. Eu quero levar o meu tempo
com ela, gostei que ela tentou me enfrentar, ouso até dizer que isso me
excitou. Eu gosto quando elas lutam, isso me dá prazer, eu fico ainda mais
eufórico.
Ela vai abrindo os olhos, meio desorientada. Tenta se levantar e não
consegue, é então que a realidade bate e Lethy começa a entrar em pânico.
— Ela acordou! Sua mãe nunca te ensinou, que é falta de educação
adormecer em um encontro? Aposto que ela ficaria muito triste!
— Seu louco! Você é um lunático, um psicopata! Me solta agora! —
Ela grita, mas posso ver que está cheia se medo.
Aproximo a bandeja se mim, e escolho a tesoura. Volto minha
atenção para ela, que olha cheia se pavor para a tesoura em minha mãos.
— Sabe Lethy... Eu gosto de mulheres corajosas como você, das que
lutam contra o inevitável. — Falo cortando o seu sutiã.
Seus seios aparecem gloriosos, com uma marca se biquíni, mamilos
rosa escuro.
— Se vai me matar, então me mata logo! — Ela grita cheia de atitude.
— E aonde estaria a graça disso? E o meu prazer? Não, não, não. Não
será assim tão rápido, primeiro você fará o que me prometeu.
Pego o separador labial e em meio a luta eu consigo encaixar em sua
boca. Em seguida pego o alicate e me aproximo de sua boca, mas antes passo
a última braçadeira em sua cabeça. E encaixo o alicate no primeiro dente que
consigo, começo a puxar, puxar e sou brindado com o seu grito agonizante.
Quando arranco seu dente, sua boca se enche de sangue e eu uso o sugador.
Embebedo um algodão com álcool e coloco no buraco onde estava o dente.
Seus gritos ficam ainda mais alto, o que me enche ainda maia de
prazer.
— Bem, bem, bem, você se saiu perfeitamente bem. Agora vamos
fazer sua promessa valer a pena! Quero seus gritos Lethy. — Falo pegando o
bisturi.
E ela cumpriu o que prometeu!
Gritou, gritou, e gritou.
Ela aguentou tudo corajosamente, devo dizer que até me sinto
orgulhoso dela. A muito tempo não me sentia tão bem e não sentia tanto
prazer.
Eu a quebrei e Lethy nunca mais irá sorrir, assim como "Ela".
A próxima será você Yza Reed.
Eu estou adorando ter uma mamãe. Eu ganhei uma família muito
grande, com muitos tios e tias, um vovô e duas vovós, e uma priminha linda
que mais parece um anjinho de tão loirinha que é.
Eu gosto da minha mãe, ela é bem maluquinha mais cuida muito bem
de mim. Faz as melhores comidas do mundo, mas eu gosto mais dos doces
que ela faz. Ela brinca de boneca comigo, dança pela casa, faz bagunça e me
conta histórias na hora de dormir. Agora eu tenho uma cama cheirosa para
dormir, muitas roupas lindas e várias bonecas para brincar. Tenho até uma
cozinha de brinquedos e a minha mãe brinca comigo e faz comidinha. Eu
amo a minha mãe nova, mas o meu amor maior é o meu pai ursão.
Ele é tão lindo!
Meu pai é grandão, tem um monte de tatuagens e uma cara de homem
mau, mas ele é muito bonzinho e tem o sorriso mais lindo do mundo inteiro.
Ele nunca me olha feio, nunca briga comigo ou fala alto. Ele dança comigo
no colo, brinca de boneca assiste filme, faz a melhor pipoca do mundo inteiro
e diz que sou a ursinha dele para sempre e sempre. Mas eu amo ele desde o
primeiro dia que o vi. Ele prometeu sempre cuidar de mim e me proteger de
todos os monstros do mundo, e eu acredito nele. E ele sempre me deixa
dormir no seu colo quando eu tenho pesadelos.
Eu só sinto muito a falta do meu irmão. Queria tanto que ele estivesse
aqui, aposto que ele iria amar a nossa mamãe nova. Ela é maluquinha e gosta
de inventar histórias igual a ele.
— Ursinha, você já arrumou a suas coisas? Daqui apouco seu tio
estará aqui. — Meu papai ursão pergunta.
— Já sim papai. Podemos ir no rio amanhã? E andar de cavalo
também?
Na casa do meu vovô Will tem muitos bichos, e também tem cavalo.
Meu pai adora andar de cavalo e dar comida para as galinhas, a Luna adora
correr atrás delas e o meu tio vidinha fica louco. Minha tia baby está dodói,
um homem muito mal queria roubar ela do meu tio, mas ele não deixou!
Porque tem que existir tantos homens maus? Meu ursão não é ruim,
nem meu tio vidinha e nem meu tio Don. O vovô Will é tão bonzinho, ele vai
me dar um cavalo de presente. Mas eu trocaria todos os presentes que eu
ganhei só para ter meu irmão de volta.
— No rio só se estiver sol, e temos que ver direitinho, mas acho que
podemos sim andar a cavalo. O que você tem ursinha? Porque está triste? —
Ele pergunta sentando ao meu lado.
— Queria meu irmão ursão, ele está demorando a vida toda para
aparecer né?
— Não chora ursinha, acaba comigo todas as vezes que isso acontece.
Nós vamos achar ele, está demorando um pouco mais do que eu imaginava.
Vamos, dá um sorriso para mim, não gosto de ver esses olhinhos tão tristes.
Nem meu pai e nem a minha mãe gostam de me ver chorando. Minha
mãe fica muito triste quando eu choro, ela acaba chorando junto e meu pai
tem que dar colo para nós duas. Mas a saudade do meu irmão é muito grande,
e as vezes dói tanto. Eu pedi para a neném conversar com o amigão dela, e
pedir para ele trazer o meu irmão de volta.
— Papai porque o amigão da neném não pode ser meu amigo
também? Eu fiz alguma coisa feia? Se ele fosse meu amigo, eu poderia pedir
para ele trazer meu irmão de volta né?
— Aaaah meu Amorzinho, você acaba comigo assim! Ele é seu
amigo também, não é porque você não pode conversar com ele igual a Luna
faz, que ele não é seu amigo. Ele cuida de todos nós, até mesmo daqueles que
não merecem. E você minha ursinha é uma menina linda e bondosa, tem um
coração lindo.
— Não fica triste Ursão, não gosto quando você fica assim. Eu já
estou bem, está vendo? —-Mostro um sorriso para ele.
— Ursinha! Seu tio Don e a Hanna estão aqui, você já está pronta? —
Minha mãe grita do corredor.
— Já estou pronta mamãe!
Hoje eu e a neném vamos passear com o tio anjinho e a tia Hanna.
Vamos no cinema e depois no parquinho, meu tio vidinha vai encontrar a
gente lá no shopping. Amanhã eu vou pra fazenda, minha mãe e o meu pai
vão ter que ir trabalhar e eu vou ficar com a vovó Belle.
— Vamos ursinha, aproveita bem o passeio e se divirta. Mais tarde
nos vamos jantar na casa da vovó Marta, ela fez até pudim!
Meu pai adora pudim e eu também, por isso ela vive fazendo doces
toda vez que vamos lá.
Ele me pega no colo e me abraça apertado.
— Eu amo você papai, obrigado por sempre cuidar de mim.
— Você não tem noção do tamanho do meu amor por você menina,
eu posso não ser amigo do amigão da Luna, mas ele deve me conhecer e me
deu o melhor presente do mundo todo. Você minha ursinha. Eu também amo
você pequena, agora pare de me fazer chorar e vai se divertir. — Ele diz e me
coloca no chão.
Eu corro até a porta e depois eu volto a olhar para ele.
— Ursão?
— Oi ursinha.
— A neném me disse que sempre que o tio vidinha namora com a tia
baby, ela fica boazinha e deixa a Luna fazer as coisas.
— Essa menina é uma fofoqueira! O que, que tem isso pequena?
— Você poderia namorar um pipinho a mamãe, assim ela deixaria eu
ter um cachorrinho.
— Vou fazer isso, mas se ela não deixar eu vou te levar para escolher
um assim mesmo. Mas tem que me prometer que não vai mais chorar, OK?
— Muito Ok da vida toda! — Falo rindo.
— Você está ficando muito com aquela menina tagarela. Está falando
igual ela! Aiaiai, não gosto disso não. — Meu pai fala imitando a neném.
Vou pedir para ela conversar com o seu amigo de novo, quem sabe
ele não diz aonde meu mano está.

Nada prepara a gente para aguentar a dor de um filho, nós suportamos


tudo, menos a dor que eles sentem. Principalmente se for algo que não
podemos curar ou remediar.
Já revirei tudo, paguei o melhor detetive e ele revirou Campinas de
cabeça para baixo, mas o garoto sumiu sem deixar rastros. Isso está acabando
comigo, o fato de não saber o que está acontecendo com ele está me deixando
no ponto de ruptura. Mal ando conseguindo dormir, pesadelos me perturbam
e se alguém conseguiu pegá-lo? E se ele estiver passando fome ou
machucado? A falta que ele está fazendo para a minha ursinha é grande, já
fomos parar até na emergência com ela. Febre emocional, tem dias que ela
está bem, mas tem outros que a saudade é mais forte e ela queima de febre.
Isso está me enlouquecendo!
Quando ela fica assim só a Luna consegue acalmá-la, porque ela
deixa tudo de canto para cuidar da prima. Eu até mesmo a sequestrei uma
semana inteira para ficar com a minha ursinha, de início Dylan não gostou
muito, mas aceitou porque a Katrisca precisava de toda a atenção no
momento.
Passo pelo corredor, entro na cozinha e vou direto para a academia.
Nesse momento preciso extravasar ou acabarei fazendo merda, me dói vê-la
tão triste, tão machucada. Ligo o som no último volume e vou para o saco de
areia. Deixo toda a raiva passar pelo meu corpo e sair pelos meu punhos,
soco várias e várias vezes antes de tomar um respiração mais profunda. Sei
que o que estou fazendo é errado, posso distender um músculo, mas estou
pouco me lixando. Um Rock'n'roll ecoa alto pelas paredes da minha
academia, enquanto massacro o saco de areia com chutes e socos. Meia hora
depois estou pingando de suor, mas a minha raiva continua a mesma ou até
mesmo maior. Defiro mais um golpe e seguro o saco de areia, encostando
minha testa nele enquanto tento normalizar minha respiração.
Me Afasto para pegar uma garrafinha de água e vejo minha mulher
encostada no batente da porta. Ela está linda, toda vestida de social, uma saia
lápis creme e uma blusa branca colada no corpo que acentuam seus seios
magníficos. Em seus pés um scarpin creme com um salto super alto, que dá
um toque no seu modelito executivo. Minha vontade é de arrancar suas
roupas e foder seu corpo com brutalidade, do jeitinho que ela gosta. Yza é tão
impetuosa no sexo, ama quando fazemos amor, mas adora ainda mais quando
sou bruto. Caminho para o som e desligo a música.
— Ursão... Você tem que se acalmar, sei que é difícil justamente por
ver a nossa ursinha sofrendo. Mas você está fazendo tudo, até mesmo o
impossível para encontrar o Júlio. Nada disso é sua culpa meu amor.
— Eu sei Sweet, mas é impossível. Me destrói vê-la assim, você
escutou nossa conversa?
— Só uma parte.
— Ela acha que Deus não gosta dela, que ela deve ter feito alguma
coisa ruim para ele não querer ser seu amigo. Isso fode, fode para caralho. Eu
sinto que ela não ficará bem até que seu irmão apareça, eu tenho medo Yza.
Todos os dias vejo relatos de crianças com depressão, crianças essas Sweet,
que deveriam viver felizes sem preocupações. E se não acharmos ele? E se
ela for mais uma criança dessas maldita estatística de depressão infantil?
— Ela não vai ursão, sabe porquê? Por que nós estaremos aqui para
ela, porque ela vai estar rodeada de amor e atenção e principalmente porque
vamos achar o Júlio. Você acha que não me dói não saber aonde ele está? Ou
que gosto de ver a minha filha assim, sofrendo e tendo pesadelos? Eu sofro
meu amor, mas preciso ser forte por ela e por você também, porque eu sei
como a história deles te afeta.
— Vai trabalhar, Sweet! Vá ou você não sairá daqui hoje. Eu vou
tomar banho, tenho uma reunião daqui uma hora. Amanhã no final da tarde
vamos para a fazenda e segunda vamos tirar uma semana de férias e viajar.
Vamos sei lá, uma praia? Aposto que a Maria nunca foi.
— Eu irei, mas não porque você está mandando! Minha reunião é
daqui meia hora e eu tenho que revisar umas coisas, e sobre a viagem super
apoio. Amanhã meu dia vai ser foda, mas depois sou toda sua e tenho
algumas ideias... Ideias diabólicas para usar nesse seu corpo gostoso.
— Sweet...
— Vamos brincar de pirata? Eu compro até uma fantasia. Você é meu
mapa do tesouro e eu tenho que desvendar cada desenho do seu corpo... Com
a língua, e achar o pote de ouro no final do arco-íris que é o seu corpo ou
seria pau de ouro? Vamos brincar? — Ela pergunta mordendo os lábios.
Quando eu ando em sua direção, ela sai correndo gritando pela casa e
rindo alto.
— Pare de correr! Vai acabar quebrando o pescoço nesses saltos Yza
Reed!
Essa mulher será a minha morte com certeza. Eu sei o que ela fez...
Mudou o foco da conversa para melhorar meu ânimo. Eu sei que ela sofre,
não só pela ursinha, mas por mim também. A história deles mexem muito
comigo, reacende algumas memórias que tento manter trancada a qualquer
custo. A minha ligação com a Maria foi intensa. O amor foi instantâneo,
como se já tivéssemos nos conhecido a muito tempo, como se ela já fosse um
pedaço de mim.
— Vem me dar um beijo Gael D’Ávila! —Yza grita da porta.
Eu vou rindo por todo o caminho até chegar na porta. Seu carro está
no prédio dela, então ela está indo trabalhar de Uber. Eu iria levá-la, mas
nossos compromissos são quase na mesma hora.
— Sem encostar seu corpo em mim, você está todo suado e vai
manchar a minha roupa de menina grande. — Ela diz sorrindo.
— Se você não estivesse em cima da hora, eu faria você trocar de
roupa. Não sei o que é pior, você andando quase pelada ou toda vestida. Os
homens vão te comer com os olhos, tentando adivinhar o que tem por de
baixo dessa roupa.
— Nem começa Ursão! Meu corpo, minhas roupas! Nem adianta que
você não vai mandar. — Ela diz petulante.
— Você é minha?
— Por toda a vida.
— Então seu corpo é meu!
— Chato! Agora me dá um beijinho, assim vou trabalhar com o seu
gosto. — Ela pede manhosa e eu rosno para ela.
Eu seguro seu rosto e a beijo com força. Essa mulher é o ar que eu
respiro, me enlouquece e vai acabar me causando um infarto, mas não sei
mais viver sem ela.
— Amo você Ursão!
— Também amo você Sweet, se comporte e nada de ficar sozinha por
ai. Recebi uma ligação de um amigo meu da polícia, e ele me falou que estão
desconfiado que tem um assassino em série por aqui. Pelo amor de Deus, não
é te controlando, mas tome cuidado ok?
— Tipo um serial killer? Igual dos filmes? Puta que pariu! Vou tomar
cuidado, mas se ele aparecer eu mostrarei que sou tão louca ou mais que ele!
— Ela diz valente.
— Yza, isso não é brincadeira porra! Vou conversar melhor com ele,
mas pela primeira vez na vida escute o que estou dizendo.
— Tá, tá, tá. Amo você! — Ela diz e vai trabalhar.
Ela acha que estou brincando, mas meu contato na polícia me ligou
hoje cedo. Eles estão trabalhando com essa possibilidade, já encontraram
quatro corpos todos eles mutilados e todas mulheres. Eles estão pesquisando
em outros estados para ver se tem alguma coisa parecida. Ele é um amigo da
época da faculdade, de vez em quando nos encontramos para uma bebida.
Vou marcar com ele para saber mais sobre isso.
Tomo um banho e vou para o meu escritório. Já encontro Maurício
todo a vontade com o Josafá na minha sala.
— Então senhores... Preparados para chutarem umas bundas podres
por ai?
Mal tive tempo de analisar as coisas que andaram acontecendo hoje
em casa. Já cheguei no escritório e fui soterrada pelo trabalho. Cliente difícil,
exigente e hipermachista e conhecido do meu pai. Dylan irá me acompanhar
na reunião, mas a maior parte do trabalho será comigo. Eu tenho uma equipe
do caralho, todos são profissionais de primeira e que levam o trabalho super a
sério.
Entro na sala de reuniões e todos da equipe já estão nos seus lugares.
Ângela, Danilo, André, Flavio, Ronaldo, Pike, Antônia e Suellen. Todos eles
são pessoas maravilhosas, os conheço dentro e fora do escritório, já saímos
muitas vezes.
— Bom dia turma! — -Comprimento e sou respondida em coral. —
Vamos mostrar do que somos capazes, peço que por gentileza não retruquem
nenhuma ofensa que o infeliz vier a proferir.
— Você tem que dizer isso para si mesma Yza. Você é a quem acaba
perdendo a cabeça sempre. — Pike diz rindo.
— Hoje eu terei o meu grilo falante ao meu lado.
— E quem seria esse? — Suellen pergunta curiosa.
— Bom dia pessoal! — Dylan fala entrando na sala.
— Eu apresento a vocês o meu grilo falante! — Falo rindo.
— Furacão se controle hoje hem. — Ele diz me dando um beijo.
— Eu sou uma boa menina sempre irmãozão.
— NEM SEMPRE! — Minha equipe diz juntos e acabamos rindo.
O cliente chega minutos depois e eu apresento cada um da minha
equipe para ele. Aos poucos cada um faz a suas apresentações, mostrando o
ponto forte que iremos trabalhar para a sua marca. O velho não diz nada, mas
quando chega a minha vez ele começa a atrapalhar a minha apresentação e
isso vai me irritando cada vez mais. Dylan olha para mim, mas posso ver que
até ele está ficando bravo.
— O que me garante que você é capaz de cuidar da minha conta?
Você não me passa profissionalismo, é muito jovem para o meu gosto. — O
estrume diz debochado e eu decido que eu cansei, olho feio para o meu irmão
para mantê-lo calado.
— Como o senhor chegou até a minha agência, senhor Garcia?
— Um amigo meu me recomendo e eu aceitei depois de ver o
trabalho que fizeram para ele. Trabalho esse que tenho certeza que foi feito
por um profissional qualificado para isso. — Ele sorri mostrando seus dentes
amarelados.
— Pode me dizer quem é o seu amigo? — Pergunto já pegando meu
celular.
— Ferreira.
— Gustavo Ferreira? — Pergunto já sabendo sua resposta.
— O próprio, ele rasgou elogios sobre o escritório, mas agora estou
tendo minhas dúvidas.
— Espere só um minutos senhor García. — Peço fazendo uma ligação
e colocando no viva voz, olho para Dylan e ele está tentando segurar o riso.
— Princesinha Reed, ao que devo a honra de sua ligação? —
Gustavo atende me chamando pelo apelido que meus irmãos usam.
— Gustavo querido, tudo bem? E Flor como esta?
— Está bem melhor, praticamente recuperada. Mas você não ligou
para perguntar dela, não é mesmo? No que posso ajudá-la Yza?
— Tenho aqui na minha frente um cliente, que diz que foi
recomendado por você a procurar o meu escritório. Você poderia dizer quem
fez o seu último trabalho, para aquela propaganda esportiva?
— Você e sua equipe! Aliás, tenho que agradecer por seu trabalho
impecável. E já vou avisando que tenho algumas coisa em mente, ligarei
para marcarmos uma reunião semana que vem. —Gustavo diz animado.
— Obrigado meu querido, e ligue sim. Não estarei disponível semana
que vem, mas assim que eu voltar te ligo e marcamos alguma coisa. Mande
meu amor para Flor e diga que já quero uma visita. — Depois de mais
alguma palavras eu desligo.
Eu olho para cada membro da minha equipe e os vejo ansiosos pelo
desfecho que irei dar. Meu irmão também me olha animado, Dylan é um
hipócrita do caralho! Vive tentando podar minhas atitudes impulsivas, mas
quando é para esmagar algumas bolas ele é o primeiro a se animar.
— Bem senhor García, deixe-me esclarecer algumas coisas para o
senhor. Esse escritório é meu, essa equipe é minha desde que sai da faculdade
a alguns anos atrás. Eu consegui isso por mérito e não por ser filhinha de
papai, eu dou duro no meu trabalho e todos os meus clientes estão contentes
com ele e com a minha equipe. Eu só trabalho com os melhores, e a minha
equipe é a melhor do mercado. Eu como a chefe me orgulho deles e tenho o
poder de escolher com quem trabalho e para quem trabalho e felizmente não
aceito sua conta. Aqui todos respeitamos uns aos outros e exijo que sejamos
respeitados, e infelizmente o senhor não me respeitou em nenhum momento.
— Veja bem senhorita...
— Quem ter que ver bem é o senhor. Sou mulher, sou nova, mas sei
da minha capacidade e garanto que o senhor não irá encontrar um trabalho
melhor que o meu e o da minha equipe. Eu abri uma brecha na minha agenda
que está lotada, por consideração ao meu pai que pediu com tanto carinho.
Mas aposto que se ele souber como a sua princesinha está sendo tratada pelo
senhor, te garanto que ele seria o único metendo o pé na sua bunda murcha!
Eu sou educada, mas a minha educação acaba aonde a sua termina, e eu não
sou obrigada a trabalhar para alguém ignorante e preconceituoso.
— Peço desculpa menina, não foi minha intensão ofendê-la. Mas
durante os anos de trabalho já vi muita coisa e peço desculpa por duvidar do
seu caráter. Estou sendo humilde e reconhecendo o meu erro, peço desculpa
por deixar que erros do passado tenha nublado minha mente. Podemos
começar novamente? — García pede humilde e isso até que me balança, sei
que ele errou, mas está sendo homem em assumir seu erro e eu reconheço a
grandiosidade disso.
— Poderemos sim, mas desde já aviso que algumas coisas vão mudar.
Mas garanto que farei valer o seu dinheiro. O que me diz? É pegar ou largar.
— Vejo que você tem a quem puxar! Não esperava menos da filha de
Belle Reed. Eu pego e tenho certeza que você vai compensar o dinheiro que
irei investir. — Ele diz rindo.
— Ótimo! Ângela, poderia pedir para minha secretária refazer o
contrato e acrescentar vinte por cento a mais do valor estabelecido? — Estou
sendo audaciosa, mas ele merece.
— Agora chefe! — Ela diz e sai da sala.
— Então senhor García... — E eu passo quarenta minutos debatendo
sobre a minha proposta para ele, mostrando os pós e os contra do que ele tem
em mente. Eu sou boa no que faço e minha equipe é a melhor do ramo, não é
me vangloriando não, mas eles são fodas!
Depois que nos despedimos do senhor García, depois dele assinar o
contrato, o pessoal vai almoçar para encarar a próxima reunião.
— Estou orgulhoso de você princesinha. — Meu irmão diz sorrindo.
— Se orgulhe mesmo! Sabe o sacrifício que eu tive que fazer para não
chutar a bunda dele?
— Mas você se saiu bem e ainda aumentou o valor do contrato. Agora
me diz, como anda a vida de casada e mãe de família?
— Está maravilhosa, Gael é um santo por me aguentar. Tenho certeza
que ainda irei fazer o homem ter um infarto. Maria está bem na medida do
possível, estamos tendo altos e baixos por conta da falta que o Júlio faz para
ela. Gael está surtando e estou vendo a hora que ele irá ruir, ele odeia ver a
ursinha sofrendo.
— Nenhum pai gosta disso princesa. Mas com fé em Deus, esse
menino vai aparecer. Está preparada para ser mãe de um adolescente?
— Isso eu tiro de letra, ele vai precisar de muito amor e compreensão.
Foda vai ser lidar com os traumas que esse menino deve carregar. Se com o
pouco que a Maria passou me fode, imagina as coisas que ele teve que
suportar? Isso vai me quebrar Dylan, e tenho a certeza que não serei mais a
mesma depois de descobrir tudo.
— Mas tenha certeza que vocês não estarão sozinhos. Juntos seremos
capazes de ajudá-lo a superar, no início será difícil com certeza, mas nós
estaremos lá para ele.
— Obrigado irmãozão. Vou comer alguma coisa, essa próxima
reunião vai ser foda.
Me despeço dele e vou para minha sala. Peço um lanche e um suco, e
enquanto espero fico pensando em tudo. Vai ser foda segurar a pressão, mas
eu serei mais forte ainda. Eu lutarei para manter a minha família unida e
ajudar as crianças a se reerguerem, não importa o que aconteça eu tenho que
ser forte por eles e pelo Gael. Eu tenho certeza que isso irá foder com ele de
inúmeras maneira. Gael é forte, poderoso, mas por dentro ainda tem várias
feridas que não foram cicatrizadas ainda. A história do Júlio vai ser pesada,
isso eu não tenho dúvidas. Mas eu irei conseguir superar e ajudar aos meus
meninos, só peço a Deus que ele me envie esse menino logo, eu sinto que ele
precisa de nós, assim como precisamos dele.
E Deus ouviu minhas preces!
Um homem de quase trinta e três anos, que se transforma em
marshmallow nas mãos de uma garotinha de seis anos.
Apesar de lutar pelas crianças, de defendê-las com unhas e dentes,
minha convivência com elas são poucas. Mas com a Maria é diferente, é
como se vivêssemos anos e anos juntos. A forma como criamos um vínculo
desde o primeiro dia, como ela me aceitou e aceito a minha Sweet em sua
vida, a maneira carinhosa e respeitosa com a qual ela nos trata é incrível.
Ela é uma criança completamente diferente de quando a conhecemos.
Ela conversa, brinca, faz charme, e está sempre feliz, mas alguns dias a
saudade do irmão bate e ela chora sentida. E quando isso acontece, ela só
quer à mim, dorme em meu peito com a Yza fazendo carinho em seus cabelos
chocolate.
Ela é tão inocente, tão pura, carente de carinho. Vive perguntando se
posso dar-lhe um abraço, com a Yza a mesma coisa. Quando tem alguma
coisa que ela goste de comer, ela pergunta se pode comer mais um pouco. E
isso me quebra todas as vezes que ela pergunta, ela sempre teve tão pouco
que a minha vontade é de comprar o mundo para ela. Minha mãe
enlouqueceu quando a conheceu, chorou e tudo! Fez bolo de chocolate,
brigadeiro, e já quer uma festa do pijama com a Maria e a Fadinha.
Fadinha...
Essa menina é um encanto, a forma que ela abraçou a minha Maria é
de emocionar qualquer um. Ela a protege, a ama, e é extremamente
possessiva com ela. Aliás com todos que a rodeia, reparem com ele chama a
todos! Sempre tem o meu ou o minha na frente, chega a ser engraçado.
MINHA Maria, MEU vidinha, MEU anjinho, MINHA vovó linda, ela é até
mesmo possessiva com a minha mãe, MINHA Matinha.
Ela é de uma pureza sem tamanho, e de uma luz que as vezes chego a
me questionar várias e várias vezes, se ela tem mesmo quatro anos. Por que
as coisas que ela diz, abala qualquer um. Maria a trata como um bebê, acho
que ela nem se dá conta que a diferença de idade é pouquíssima entre elas. Eu
sempre serei grato a Luna por amar a minha menina, por fazê-la se entrosar
na família Reed, por voltar a ser uma criança, por fazê-la esquecer um pouco
o passado sofrido e voltar a brinca, a ser feliz.
Levo as minhas meninas até o apartamento da Yza para pegar o carro
dela. Desde que Maria chegou, elas tem ficado na minha casa e poucas vezes
ficamos no apartamento da Sweet. Para mim é desnecessário manter esse
apartamento, mas a Yza é petulante e faz isso só para me contrariar. Maria se
diverte quando entramos em conflitos, por que nossas brigas são engraçadas.
E a Sweet faz de tudo para me irritar, e acaba que eu tenho duas crianças
dentro de casa.
— Papai Ursão? — Maria me chama, eu nunca vou deixar de me
emocionar quando ela me chama assim.
— Oi minha ursinha.
— Eu vou dormir na fazendo da vovó linda com a neném?
— Vai sim meu amor, todos os finais de semana a família se reúne lá.
Ela só dormiu lá um vez, e foi quando a Katrisca foi sequestrada. Nos
outros finais de semana, nós viemos embora a noitinha.
— Papai Ursão? — Eu sorrio.
— Oi meu amor.
— E se eu acordar de noite e quiser dormir com você? E se eu tiver
pesadelo? E se eu chorar com saudades do meu maninho?
São esses tipos de perguntas, que me arrebentam. Ela é tão frágil, tão
carente.
— Eu estarei lá princesa, se você acordar é só vim dormir comigo. Se
você tiver pesadelo eu matarei o monstro. E sobre a saudade do seu irmão, só
posso dizer que estou tentando achá-lo.
— Cheguei! Vamos meu amor, tenho uma reunião do caral... Do
caramba. Amorzinho da minha vida, não pode falar palavrão ok? — Yza
descontrolada chega ligada no duzentos e vinte.
— Muito ok da vida toda! — Maria diz rindo, esquecendo dos seus
medos.
— Vou passar em casa, pegar o meu carro e depois levarei a Maria
para a casa da mamãe. Hoje meu dia vai ser corrido, minha última reunião é
ás cinco e meia da tarde e sabe Deus que horas vai acabar essa merda!
Ursão...
— Gael, Sweet, Gael! — Respondo rindo.
— Foi o que eu disse! — Ela vira para Maria e pisca o olho, e Maria
cai na risada. — Ursão, acho melhor você ir direto para a fazenda.
— Não.
— Mas...
— Não Sweet!
— Eu odeio quando você me interrompe Gael D'Ávila!
— E minha resposta continua sendo não Yza Reed. Vou buscá-la e
ponto final.
— Saco!
Chegando no prédio da Yza, me despeço das minhas meninas.
— Se comporte meu amor.
— Eu vou papai Ursão. — Maria diz me beijando.
— Falei com sua mamãe, meu amor. Ela que precisa se comportar ou
darei uns tapas na bunda malcriada dela. — Falo, colocando a Maria no
acento do carro da Sweet.
— Não me dê ideias ursão! Bom trabalho meu amor! — Yza diz me
beijando e depois entra no carro e segue em direção a casa de Belle.
Eu vou para o fórum, hoje o dia será mais tranquilo. Duas audiência e
o restante do dia irei analisar uns processos. Tenho uma reunião com mais
dois juízes, para analisar o processo do menino que foi mantido em cárcere
privado.
Assim que chego, dona Marina me traz um café e a minha agenda.
Minha primeira e audiência é em vinte minutos, eu olho o processo
novamente e com meu café em mãos sigo para a sala. É um processo rápido
sobre abandono de incapaz, a mãe deixou uma menina de dois anos sozinha e
saiu para usar drogas. A bebê estava chorando muito e os vizinhos chamaram
a polícia, várias testemunhas falaram que a mãe sempre fazia isso. A bebê foi
encontrada suja, desnutrida e com fome, os parentes mais próximo foi
convocado e a avó pediu a guarda da menina. Em casos como esse, a regra é
clara, abandono de incapaz é crime e a mãe perde o direito a guarda, ainda
mais quando existem provas contra a mesma. Declaro que a guarda vai para a
avó, mas que a mãe teria direito a visita assistida.
A próxima audiência é cancelada pelo advogado de defesa, e essa é a
segunda vez! Como minha reunião com os juízes e as quinze horas, me jogo
nos processos e esqueço do mundo. Recebo uma chamada de vídeo da
fadinha arteira e da minha princesinha.
— O que as duas estão aprontando? — Falo sorrindo.
— Muito lindo esse meu pincipe rabiscado né minha Malia? A gente
é linda de viver Usão, não aponta nada não.
— O que vocês querem?
— Papai ursão você pode trazer massinha pra gente brincar? A neném
tem as forminhas de cupcakes, forminha de bombom, mas as massinhas estão
secas e não dá para brincar. Mas se for muito dinheiro, não precisa não ok?
— Maria pede envergonhada.
— Eu levo meu amor, vou comprar de todas as cores ok?
— Obrigado Papai!
— Muito lindão esse Usão né Malia? Pede uma cachorrinho que ele
te da, só faz olhinho do gatinho do Shrek! — Luna cochicha antes de
desligar.
Eu sorrio como um pateta, se elas me pedissem o céu eu acho que
daria um jeito de conseguir. Marco em um papel adesivo sobre a massinha de
modelar e grudo no meu celular para não esquecer. Volto a minha atenção
para o processo que estava lendo, faço as últimas anotações e passo para o
próximo. Logo na primeira página, um sobrenome me chama a atenção,
Valverde. Esse sobrenome não me é estranho penso comigo mesmo. Me
aprofundo na leitura, e sinto um arrepio, volto para a capa do processo e vejo
uma nota (Zia) automaticamente ligo para ela.
— Ei meritíssimo! O que devo a honra dessa ligação? — Ela atende.
— Você está no fórum? Preciso que você venha na minha sala.
— Acabei de chegar, tenho um tempinho ainda antes da minha
audiência. Estou indo ai! Você conseguiu dar uma olhada no processo que
deixei com você?
— É justamente sobre isso que quero conversar com você.
— Em cinco minutos estarei ai. — Ela responde e desliga.
Volto a minha atenção para o processo, um menino de dezesseis anos
que sofreu negligência da própria mãe, e que sofreu anos e anos de abusos
nas mãos do seu padrasto. Não ouve estupro da carne, mas ele sofreu vários
abusos sexuais do homem que mantinha sua guarda depois que a mãe faleceu.
Ele trabalhava irregularmente nas obras da empresa de engenharia de Otávio
e Roberto Valverde. Foi assim que os mesmos ficaram sabendo sobre tudo o
que o menino sofria, ele tem uma irmã que até o momento da queixa estava
desaparecida.
Meu corpo gela na hora, e eu corro as páginas para a parte dos nomes
das vítimas e está lá em negrito:
Vítimas menores de idades; Júlio César de Souza, dezesseis anos,
nascido no dia trinta e um de agosto de dois mil e dois. Maria Júlia de
Souza, seis anos, nascida em doze de outubro de dois mil e doze.
Eu não posso acreditar que ele esteve tão perto de nós, esse tempo
todo! Quão relapso eu fui? Esse processo estava em minha mesa a mais de
um mês! Ele poderia estar esse tempo todo ao lado da irmã, minha menina
não sofreria por tantos dias. Uma batida na porta me tira do espiral de culpa
que estou sentindo.
— Bom dia Excelen... O que aconteceu Gael? Você está pálido,
aconteceu alguma coisa? Sua mãe está bem?
— Me conte tudo o que sabe sobre esse processo Zia. Preciso saber de
todos os detalhes, você viu esse garoto? Sabe onde ele está?
— Calma Gael! Eu conto, mas respira e tente se acalmar.
— É muito importante Zia, preciso saber de tudo. Principalmente de
onde ele está, qual abrigo ele foi enviado.
Ela começa a me contar tudo o que ela sabe. O garoto viveu sobre
abuso desde os onze anos, foi violado sexualmente, obrigado a fazer favores
sexuais em troca da segurança da irmã. Era ele quem mantinha a minha
menina segura, alimentada e vestida, ele pagava uma senhora para tomar
conta da irmã, enquanto ia trabalhar escondido. Ele apanhava
constantemente, e o mais fodido era que todos no bairro sabiam que o homem
era um monstro, mas nunca fizeram nada para ajudar.
— Ele se encontra sobre os cuidados dos Valverde, o advogado deles
é muito bom. Eles estão à procura da irmã do menino, eles não sabem o que
aconteceu com ela e o padrasto não diz onde a menina está. Ele a vendeu para
uma pessoa, em troca de saldar a suas dívidas, ele não vai revelar o nome,
mas tenho quase a certeza que é peixe grande.
— Eu tenho certeza que já ouvi esse sobrenome antes, mas não
consigo me lembrar aonde! Minha mulher... É isso, me dê só um minuto Zia.
Ligo para Yza, meu corpo inteiro treme de antecipação. Eu o achei
meu Deus!
— Oi Ursão, já está com saudades?
— Princesa, qual é o sobrenome do Otávio?
— Para que você quer saber? Gael, o Otávio está de quatro pela Lila
e...
— Sweet, qual o sobrenome do Otávio e do pai dele? É de extrema
urgência meu amor!
— Otávio e Roberto Valverde. O que está acontecendo Gael? — Ela
pergunta assustada.
— Eu... Eu o achei Sweet! Achei o irmão da nossa menina. Ele estava
perto esse tempo todo princesa, é culpa minha que a nossa menina estava
sofrendo esse tempo todo longe do irmão.
— V... Vo... Você achou o Júlio? Jura Gael? Ele está com o Tavinho?
— Ela pergunta chorando.
— Onde é a construtora dele Sweet? — Ela me passa o endereço e o
número de telefone. — Eu te mantenho informada meu amor.
— Eu te encontrarei lá Gael. — Ela diz decidida.
— Yza...
— Eu vou e ponto final! Ele é meu também, queira você ou não,
gostando você ou não eu vou buscar ele. E ninguém irá me impedir. — Ela
diz desligando o telefone na minha cara.
Levanto e pego minhas coisas, me esquecendo que Zia estava na sala.
Interfono para dona Marina e peço que ela venha até a minha sala.
— Gael o que está acontecendo? — Zia pergunta curiosa.
— A história é muito longa e prometo que te contarei tudo, mas agora
não é uma boa hora. — Respondo e dona Marina entra na sala. — Marina,
preciso que você cancele todos os meus compromissos de hoje. Peça mil
desculpas aos juízes em meu nome, mas diga que apareceu um imprevisto
muito sério. Eles irão entender, pois nunca fiz isso antes.
— Claro menino, vá tranquilo e que tudo fique bem.
— Obrigado Marina. Zia me perdoe mas tenho que sair, mais tarde eu
te ligo e conto tudo para você.
Saio correndo do fórum, e vou em direção a construtora. Ela fica no
centro da cidade, e chego lá em vinte minutos. Eu estaciono e um minuto
depois Yza chega cantando pneu. Ela sai do carro correndo e se joga nos
meus braços chorando.
— Calma meu amor, não queremos assustar o menino não é? — Falo
fazendo carinho em seus cabelos, tentando acalmar a minha menina.
— Nós o encontramos Gael! Nós o encontramos.
— Sim princesa, mas temos que nos acalmar bebê. Deixa que eu falo
com eles ok?
— Ok.
Segurando suas mão, entramos na construtoras e somos recebidos por
uma senhora simpática.
— Bom dia, em que posso ajudar?
— Preciso falar com Otávio e Roberto Valverde.
— O senhor tem hora marcada?
— Não senhora. Mas diga que é Gael D'Ávila, e que é de extrema
urgência.
A senhora telefona para um deles, e Yza inquieta começa a andar pelo
lugar. O ambiente é muito bonito, paredes de vidro rodeiam as salas e são
cobertas parcialmente por persianas creme. Yza para em frente a uma parede
de vidro e coloca as mãos na boca, segurando as lágrimas. Caminho até ela e
olho para onde ela está olhando.
Vejo um menino Branquinho, com os cabelos de chocolate iguais aos
da Maria. Ele está concentrado rabiscando em uma prancheta de desenho.
— É ele Gael! Olha como ele é parecido com a nossa menina. O
mesmo tom de pele, a mesma cor de cabelo. Ele é tão lindo meu amor.
Como se sentisse o nosso olhar, ele levanta a cabeça e olha em nossa
direção. Seus olhos são tão tristes, existe um buraco em seu olhar, seu
semblante caído, mostra a tristeza que ele carrega.
— Não aguento! — Yza diz e corro até a sala.
—Yza!
Vou atrás dela e quando chego ela já está abraçando o garoto, que fica
completamente sem ação. Ele me olha assustado, como se me pedisse ajuda,
sem saber o que fazer com ela. Nesse exato momento Otávio e um senhor
entram na sala e param para assistir a cena.
— Gael? O que está acontecendo aqui? — Otávio pergunta sem
entender nada.
— Menina Reed? O que foi? Por que está chorando? — O senhor
pergunta, chegando ao lado da minha mulher.
— Eu o achei seu Roberto. Eu o achei!
— Moça, por que você está chorando? E como assim me achou? —
Júlio pergunta desnorteado.
— Nós estávamos te procurando Júlio, e todo esse tempo você estava
perto de nós. — Eu respondo.
Ele me olha sem entender, e volta a olhar para Yza preocupado com o
choro dela. Eu vendo o seu desconforto, vou até eles e puxo minha mulher
dos seus braços.
— Você tem que se acalmar princesa, está assustando o menino. —
Falo em seu ouvido.
— Desculpa Júlio, eu... Eu não queria assustá-lo. É só que te
procuramos tanto, tanto, que só de vê-lo meu alívio é enorme.
— Vamos nos sentar para que possamos conversar e entender o que
está acontecendo. Pai, o senhor pode pedir para servirem água e café para
nós? E um achocolatado para o Júlio? — Otavio pede.
O senhor Roberto, deduzo eu, sai da sala e todos nós nos sentamos.
Yza senta ao lado do Júlio, não conseguindo soltá-lo de suas mãos ansiosas.
Quando o senhor Roberto volta, se acomoda ao lado do Otávio.
— Yza achou uma menina a um pouco mais de um mês, ela estava
muito machucada, suja, com fome e com sede. Nos encantamos
imediatamente por ela, como se já a conhecêssemos a anos. Eu pedi a guarda
provisória dela, até conseguir resolver a história toda. Ela nos contou um
pouco sobre o que a levou a estar sozinha nas ruas, e ela nos disse tudo o que
aconteceu. Ela fugiu dos seus captores e estava procurando pelo irmão. —
Falo engolindo seco pela emoção que estava sentindo.
— Ela está bem cuidada conosco, brinca, e é uma menina muito
carinhosa e feliz. Mas ela sente falta do irmão, e desde que ela nos contou um
pouco da sua história, nós entramos com as busca desse irmão tão amado por
ela, esse irmão que sempre amou e cuidou dela. — Yza mexe em sua bolsa e
tira o celular. — Você conhece essa menina Júlio?
Yza entrega o celular para ele, e automaticamente ele começa a
chorar. Júlio alisa a tela do celular inúmeras vezes, como se assim pudesse
tocar a irmã.
— É... É a minha Maria. — Ele diz baixinho. — Nessa foto ela está
tão feliz, suas bochechas estão gordinhas, iguais eram quando ela era bebê.
Todos nas sala estão emocionados, olhando para o menino que sorri
para a foto da irmã. Yza mostra as outras fotos, e ele abraça o celular em seu
peito e chora alto. Yza abraça forte seu corpo franzino, e ele se deixa levar
pelas lágrimas da saudade.
— Aquela menina que estava com a filha do Dylan, é a irmã dele? Eu
pensei que era sua filha Gael, pois a vi te chamar de pai. — Otávio diz
emocionado.
— E é o que eu sou Otávio, ela me escolheu como seu pai, seu
protetor. Ela despertou em mim um sentimento de proteção enorme, eu sou
capaz de tudo para vê-la segura e protegida. Eu acabarei com esse desgraçado
que os maltrataram tanto, eu não irei descansar enquanto ele não pagar por
tudo o que ele fez.
— O que acontecerá com o Júlio? Meu advogado conseguiu uma
guarda provisória, já que ele tem dezesseis anos e pode conversar com o juiz.
Ele está estudando, e passa o restante do tempo aqui conosco. Ele ama
desenhar, e acaba me ajudando em algumas plantas.
— Ele vai pra casa comigo Otávio, ele é meu do mesmo jeito que a
Maria é minha filha! Não se pode separar os irmãos, eles se amam e nós o
amaremos também. Eu cuidarei deles com todas as minhas forças, ele é meu
filho também! — Yza diz séria.
— Menina... Você sabe que ele é pouca coisa mais novo que você? —
Roberto pergunta rindo.
— Eu poderei ficar junto da minha Maria? Sério? Eu sinto tantas
saudades dela, me sinto vazio sem ela. Mas eu entenderei se vocês não me
quiserem por perto, afinal já sou muito velho. Eu só gostaria de vê-la de vez
enquanto, saber se ela está bem, se está feliz. — Júlio diz tristemente.
— Nós jamais a tomaríamos de você Júlio, ela é sua, sempre foi. Foi
você que cuidou, que a amou, que a protegeu. Mas agora essa parte é nossa, e
só queremos que você seja seu irmão. Sem ter que se preocupar com ela, o
que eu acho que será meio impossível né? Ela vai crescer, vai querer
namorar, e eu irei precisar de ajuda para manter esses infelizes afastados.
— Ela não vai namorar! Vai ser da igreja e virar freira! — Ele diz
sério. Seus olhos castanhos claros nublado de lágrimas mas posso ver
determinação neles.
— Não começa Gael D'Ávila! E você também Júlio! Você vai virar
padre, não quero nenhuma piriguete na porta de casa não. Esse menino vai
ser lindo! Olha pra ele!? Olha esse cílios, esses olhos? Eu irei enfartar antes
dos trinta senhor, Ursão onde eu pesquiso para inscrever ele para ser padre?
O Jesus, estou tão fodida da Silva! — Yza fala, tampando o rosto de fazendo
um dramalhão.
Todos riem, até mesmo Júlio sorri das loucuras da minha mulher.
Posso ver que ele se sente mais leve, um pouco mais feliz por saber que sua
irmãzinha está bem.
— Posso ver a minha Maria? — Ele pergunta ansioso.
— Lógico que pode! Vamos pra casa, ela está com os meus pais. —
Yza diz puxando o menino pela mão.
— Yza!
— O que foi agora, Gael!? — Ela me olha com raiva.
— Princesa, a responsabilidade sobre o Júlio, é do Otávio. Não
podemos sair levando o garoto, temos que conversar direito.
— Mas ele é meu! O que eu tenho que conversar? — Ela pergunta,
escondendo Júlio atrás do seu corpo.
Não sei o que faço com essa mulher senhor!
— Fica tranquila menina, eu sei que você irá cuidar desse menino. Só
não o afaste de nós ok? Nos apegamos muito a ele. — Senhor Roberto diz
sorrindo.
— Otávio? — Júlio pergunta.
— Oi garoto.
— Como eu ficarei agora? Não poderei mais vir aqui desenhar com
você? — Ele pergunta assustado.
— Lógico que pode garoto! Você é meu nerd preferido, e também
tem o professor que vem te dar aula. Mas isso nos resolveremos depois, ok?
Vai curtir e matar as saudades da sua Maria, mais tarde levo algumas peças
de roupas para você na fazenda. Não se preocupe com nada, e você pode
confiar nos Reed e no Gael. Eles irão cuidar e proteger você e a sua irmã, eu
sempre estarei aqui, sou seu amigo esqueceu? — Otávio diz emocionado.
Júlio sai do esconderijo que a Yza o colocou e vai até Otávio e o
abraça.
— Você é meu melhor amigo Tavinho! Obrigado por me salvar e
cuidar de mim.
— Se você me fizer chorar garoto, te colocarei de castigo! Uma
semana sem papel e lápis de cor. — Ele diz rindo, tentando esconder a
emoção.
— Vá meu filho, e abrace muito sua irmã. Não se preocupe, nós
vamos nos ver sempre. Sou muito amigo dos pais dessa sua mãe novinha que
você arrumou. — Seu Roberto diz gargalhando.
Yza vai até Otávio e o abraça apertado, ela fala alguma coisa em seu
ouvido que o faz sorrir. Em seguida é a vez de Roberto. Logo após, ela volta
para o lado de Júlio e nós vamos embora. Otávio nos leva até o
estacionamento e vê o embate que nos toma.
— Deixa o carro aqui Yza, eu o levarei até a fazenda mais tarde
quando for levar algumas roupas do Júlio.
— Tavinho, você manda um beijo para a Lila? Diz que eu estou quase
terminando o desenho que ela pediu. — Júlio fala mostrando o caderno de
desenhos a Otávio.
— Eu direi garoto.
Entramos no carro, e sigo em direção a fazenda. Meu coração se
sentindo mais leve por ter encontrado o Júlio.
— Pronto para mudar de vida, Júlio? — Minha Sweet pergunta.
— Não sei... Acho que sim.
Partimos em direção a fazenda. Estou ansioso para ver a reação da
minha princesinha.
Na realidade estou ansioso para ver a reação de duas pessoas. Maria e
Luna, tenho certeza que dessa vez deixarei as lágrimas caírem.
Eu já tinha me dado por vencido, após longos dias à procura da minha
menininha. Meu desespero me fez ficar dias sem dormir direito, a única coisa
que aliviava minha agonia era desenhar.
Maria ama meus desenhos, e era deles que criava a maioria das
histórias que contava para ela antes de dormir. Minha vida sempre foi cuidar
dela, protegê-la, alimentá-la, e de uma hora para outra a coisa que eu mais
amava na vida, foi tirada de mim e eu não sei aonde ela possa estar, se está
bem, se está com medo.
Era minha obrigação mantê-la segura, e eu falhei miseravelmente.
Uma culpa me corrói por dentro ao lembrar do dia em que tudo isso
aconteceu, lembro do seu choro me implorando para não deixá-la, como se
ela soubesse que alguma coisa de ruim aconteceria. Agora a minha Maria
estava perdida no mundo, sem paradeiro.
Otávio e seu Roberto me acolheram e não mediram esforços para
encontrar a minha menininha. Mas todos os esforços se tornaram em vão,
todas as buscas não deram em nada, é como se ela tivesse evaporado. Otávio
quer que eu estude, que eu faça o que eu gosto que é desenhar. Por enquanto
estou morando na casa do Tavinho, mas me sinto culpado sabe? Como posso
viver no conforto, comer coisas gostosas, dormir em uma cama macia,
quando não sei onde minha menininha está?
Seu Roberto conversa muito comigo, diz que quando menos esperar
estarei com ela novamente. Mas enquanto isso não acontece, eu tenho que
estudar para poder dar a minha Maria um futuro de princesa, com tudo o que
ela tem direito. Três vezes na semana, um professor vem me dar aulas para
que eu possa me inteirar nas matérias para poder prestar vestibular e entrar
para uma faculdade. Como diz Otávio, eu sou um nerd, minha inteligência já
tinha sido testada na escola onde eu estudava. Mas pela minha pouca idade,
eu tenho que ser atestado para entrar na faculdade.
Enquanto o professor não chega, estou sentado na sala de reuniões
fazendo um desenho para a Lila. Ela é meio que uma namorada do Tavinho
eu acho, mas eles brigam muito e eu e o seu Roberto, nos divertimos muito
assistindo. Estou perdido desenhando, mas de repente sinto olhos grudados
em mim e quando levanto meu rosto vejo uma mulher me olhando com
lágrimas nos olhos. E atrás dela um homem grande, com o rosto sério e posso
ver em seu pescoço uns riscos pretos, de certo deve ser tatuagens.
Inclino a cabeça, curioso por vê-la me olhando tão emocionada. De
repente ela se solta dos braços do homem e vem correndo em minha direção,
quando dei por mim estava em seus braços, sendo abraçado fortemente. Ela
clama baixinho em meu ouvido, como se tivesse fazendo uma oração.
Eu te achei, eu te achei, eu te achei.
Mas eu não entendo, por que ela estaria me procurando? Nunca vi
essa moça! De repente seu Roberto e Otávio entram correndo na sala, e
perguntam o que estava acontecendo. Foi tudo muito rápido, eu estava em pé
sendo abraçado por essa moça, depois me vi sentado olhando para um celular
onde mostra a imagem da minha menininha.
Como ela estava grande! Suas bochechas gordinhas e coradas, muito
parecida de quando ela era um bebê. Na foto posso ver que ela está feliz, seu
sorriso lindo que a muito tempo eu não via. A moça de nome Yza, me mostra
mais fotos da minha Maria. Seus cabelos caramelos bem cuidados, vestindo
roupas novas, sorrindo alegre para quem estava tirando a foto.
A saudade bate com força total e eu levo o celular com a sua imagem
ao meu peito, e deixo todo o medo rasgar para fora do meu corpo em formato
de choro.
Choro por saber que ela está bem, que está viva e até mesmo por ela
estar feliz. Olhando para ela assim, bem cuidada, me faz enxergar o quanto eu
estava errado. O quanto lhe faltava, mas não deixo o sentimento de culpa me
corroer, eu não tinha condições de lhe dar conforto. Merda! Eu quase mal
podia mantê-la alimentada. A moça, Yza, me abraça apertado e me faz sentir
amparado, faz com que eu vá me acalmando. Eu estava tão focado vendo a
foto da minha menina, que mal prestei atenção na conversa que estava
rolando ao meu redor.
Eu ainda continuo agarrado ao celular, quando todos levantam e a
moça me puxa pelo braço para me levar até a minha irmã. A única coisa que
eu faço é agarrar o meu caderno e o estojo de lápis, antes dela me puxar para
trás dela. Tudo passa rapidamente, me despeço do seu Roberto e do Tavinho,
e quando vejo já estou dentro do carro com duas pessoas estranhas indo até a
minha menininha.
Não posso dizer que não sinto medo, pois eu sinto e um muito grande.
Mas se for para estar com a minha irmã, me submeto a passar por qualquer
coisa. E agora eu tenho para quem correr e pedir ajuda, Otávio é meu amigo e
ele disse que eu estou seguro com esses estranhos, e que ele sempre seria meu
amigo. Sinto um par de olhos me analisando e quando levanto meu rosto,
vejo que o homem, Gael, está me olhando sério, me estudando.
Eu deveria ter medo dele, ele tem um semblante fechado, cara de mal
e ele é muito grande! Mas não vejo maldade em seu olhar, ele não desperta
em mim aquele sentimento de me proteger do feio, não sinto nada de ruim
vindo dele. Acho que Gael se dá conta que eu também estou analisando ele, e
me joga uma piscada e sorri.
— Do que você gosta de fazer além de desenhar, Júlio? O que você
gosta de comer? Sua sobremesa preferida? Sua cor preferida? Óh! Você gosta
de filmes de ação? Tem algum super herói preferido? —Yza fala muito, e ela
está muito empolgada pulando em seu acento.
Eu abaixo a cabeça escondendo o sorriso. Ela lembra muito a minha
menininha quando eu falava que iria contar uma história nova. Maria não
parava de falar, de fazer perguntas, ela me deixa meio louco com todas as
suas perguntas.
— Menos Sweet, você vai acabar assustando o garoto. — Disse Gael,
tentando acalmar a moça bonita.
— Pode deixar ela. Eu gosto de desenhar e depois disso, gosto de
cuidar da minha irmã. Eu gosto de comer tudo, bolo de chocolate é o meu
preferido. Gosto de azul e preto, e não sou muito de assistir televisão, prefiro
ler Mangá. — Eu respondo e ela abre o maior sorriso que eu já vi.
— Sua irmã gosta muito de você Júlio, não pense que só por que ela
está sorrindo nas fotos é por que ela está feliz. Ela até é, mas sente muito sua
falta, tem noites que ela acorda chorando de tanta saudades e ela custa a
dormir novamente. Quero que você saiba que nós cuidaremos de vocês dois,
e nada vai machucá-los novamente. — Gael diz, me olhando pelo espelho
retrovisor.
— Se você manter a minha irmã segura, eu já serei agradecido
eternamente. Eu não consegui fazer isso, e essa culpa sempre estará gravada
em mim.
— Você não tem culpa de nada meu bem. Se existe um culpado é sua
mãe, seu padrasto e todas as pessoas que sabiam por tudo o que vocês dois
passavam, mas nunca fizeram nada! Sua mãe já faleceu e eu não posso dar
umas porradas nela por ser idiota, mas o seu padrasto? Esse eu vou fazer
questão que pague por tudo o que fez! — Yza fala séria.
— Você não pode chegar perto dele, entende? Ele é mau, ele faz
coisas ruins, e eu não quero que você se machuque dona Yza.
— Não me chame de dona Yza garoto! Só Yza está bom. Mas eu
tenho esse Ursão aqui para me manter segura, e quer saber mais? Ele é o juiz
que irá foder com a vida do seu padrasto. — Ela diz, e mais se parece com
uma criança atentada. Ela olha para Gael como se fizesse um plano maligno
em sua cabeça.
— Olha a boca Sweet.
— Não começa Gael D'Ávila! Mas não repita meus palavrões
mocinho, ou vou passar pimenta na sua boca! Minha mãe sempre dizia isso,
agora é a minha vez! — Ela fala feliz. — Aaaah também esperarei para falar
que você não é todo mundo. Por favor Júlio, não me decepcione hem!
Quando você vier falar, mas mãe todo mundo vai, eu vou dizer que você não
é todo mundo! Ai vou ser uma mãe foda!
Gael sorri e balança a cabeça consternado.
Chegamos a um tipo de fazenda, com uma casa enorme e com muito
verde a rodeando. Yza bate palma empolgada e sai do carro correndo para
abrir a porta para mim.
— Você terá que me ajudar a cuidar dessas duas. Sinto que ficarei
velho caduco, com a sua irmã e a minha mulher. — Gael diz sorrindo.
— Pode deixar que eu o ajudarei!
Logo Yza me puxa do carro e anda me puxando para dentro da casa.
Entramos em uma sala vazia, mas ela logo me leva para a cozinha onde
várias pessoas estão reunidas.
— Mãe onde está a Maria?
— O que... Ela está na casinha brincando com a Luna. Quem é esse
menino lindo? —Uma senhora dos olhos mais lindo que já vi pergunta.
— Depois eu explico. Vamos Júlio! — Ela diz meu nome e todos que
estão na cozinha fazem uma expressão de surpresa. Posso até ver lágrimas
nos olhos das mulheres presentes.
Antes que eu possa dizer oi, Yza me puxa para o quintal onde minha
menininha está. Ela para na varanda e me vira de frente para ela. Yza leva as
mãos ao me rosto, segurando em sua direção.
— Vá pegar a sua irmã, mas saiba que vocês estão seguros. Eu posso
ser um pouco louca com quem mexe com as pessoas que eu gosto. E agora
mais ainda, quando o assunto envolver você e a sua irmã posso virar uma
leoa em busca de sangue. Eu quero que você entenda Júlio, que apesar de ser
muito nova você e a Maria são meus. Entende? Agora vá matar as saudades
da sua irmã, depois te apresentarei a sua nova família. É isso que nós somos
garoto, sua família. — Ela fala emocionada e me empurra na direção do
quintal.
Eu deixo para absorver essa notícia depois, agora tudo o que quero e
ver a minha menininha. Com minhas pernas tremendo, me aproximo de uma
cabana, onde posso escutar risos infantis. Eu inclino minha cabeça para poder
vê-la melhor. E ela está sentada ao lado de uma menina loirinha, penteando
os cabelos de uma boneca. A primeira a me ver é a loirinha, e ela me olha
curiosa e eu peço silêncio. Ela abre um sorriso enorme e tampa a boca com as
mãos, seus olhos brilhando de alegria.
Acho que o som dá risada abafada chama a atenção da minha Maria.
Ela olha para a menina loirinha e só então olha em direção para onde a
menina está olhando. Automaticamente ela deixa a escova e a boneca caírem
e levanta correndo e se pula de cima da casinha e vem para os meus braços.
E só então me sinto completo novamente.

É muito bom ter um pai e uma mãe. E eu não ganhei só isso, ganhei
avós, tios, tias, e uma priminha que é o meu neném. Tudo está perfeito na
minha vida, mas para ficar completo só falta o meu irmão. Sinto tanta
saudade dele, das suas histórias, dos doces que ele me trazia, dos seus
carinhos. Ele é o melhor irmão do mundo, e sinto muita a falta dele. Mas meu
papai ursão falou que vai encontrar o meu irmão, e eu acredito nele.
Eu tenho um papai bem grandão e uma mamãe Maluquinha. Eles me
amam demais, e fazem tudo para me ver feliz. Não gosto de ver a minha mãe
triste, e ela fica muito triste quando eu acordo chorando, ela até chora junto
comigo e o meu pai pega nós duas no colo até pararmos de chorar.
Eu também gosto do tio vidinha, ele é muito engraçado. Diz que eu e
a neném vamos ser freiras e da igreja. Minha tia baby ri das loucuras dele, e a
vó Belle também. Mas depois do meu pai e da minha mãe, a minha pessoa
preferida nessa família louca é a neném. Ela é tão fofinha, que dá vontade de
ficar abraçando ela o dia todo! Ela é muito sapeca e arteira, corre o dia todo
atrás da Tiana, e eu corro atrás delas para a neném não cair e se machucar. E
ela fala muito, e engraçado por que ela não consegue falar o "R" direito e
acaba trocando o "R" pelo "L". É engraçado, mas eu sempre ensino ela. Eu
não sei ler direito, mas o meu irmão me ensinou a falar tudo direitinho. Júlio
é muito inteligente, e eu queria ser igual ele.
— Malia?
— Oi neném.
— Você já foi na plaia?
— Se fala Praia neném, com "R". — Falo rindo.
— Foi o que eu disse ué, plaia! Eu vou pedi pala o meu papai leva
nós duas na plaia do calibe, que a água é azul igual os olhos do meu vidinha.
Ai nós vamos nadar na água e faze castelo de aleia. Muito legal não é?
— Eu nunca fui na praia, deve ser legal né? Neném você tem que
pentear o cabelo da sua boneca para baixo, assim óh. — Mostro para ela
como ela tem que pentear.
Eu penteio o cabelo da minha boneca que a minha mamãe princesa
me deu. Agora eu tenho um monte de bonecas, brinquedos, roupas novas,
tenho até maquiagem. Mas o papai ursão não gosta, disse que bebês não usam
maquiagem e que a minha mãe é doidinha.
Escuto a risadinha da neném e olho para ela para ver o que ela
aprontou dessa vez. Ela está com a mãozinha na boca e olhando para a fora
da nossa casinha.
E é quando eu o vejo. Eu solto a escova e esfrego os meus olhos, acho
que estou dormindo e sonhando com o meu irmão. Sinto até vontade de
chorar.
Quando abro os olhos novamente ele ainda está no mesmo lugar. E eu
largo tudo e corro para ele, me jogo da casinha e ele me segura apertado.
— Você está aqui! — Falo, abraçando ele bem apertado, querendo
que ele nunca mais me deixe.
Eu estava feliz com a minha nova família, eu os amo muito. Mas
sentia falta do meu irmão, sempre foi ele quem cuidou de mim, quem me
protegeu.
— Xiu... Não chora menininha! Você está tão grande e bonita. — Ele
fala, mas também está chorando.
Sempre foi nós dois contra o mundo. Ele dizia que eu era as mocinhas
valentes das suas histórias, dos seus desenhos.
— Eu senti tanto sua falta! Meu coração tinha um vazio sem você.
Promete que nunca mais vai me deixar?
— Nunca mais menininha, eu também senti tanta a sua falta. Doía
tanto não saber onde você estava.
Ele senta no chão e me coloca sentada em seu colo, sem deixar de me
abraçar.
— Eu procurei você! Eu andei, andei, andei, mas não conseguia te
achar. Aonde você estava Júlio?
Faço carinho no seu rosto e seco as lágrimas que caem do seus olhos.
Mas nós dois não conseguimos parar de chorar, mesmo sorrindo de felicidade
por estarmos juntos, as lágrimas ainda cismam em cair.
— Eu também te procurei Maria, eu fiquei quase louco quando vi que
você não estava no nosso esconderijo. Eu entrei em desespero! Porque você
saiu do nosso esconderijo?
— O homem mau me achou. Ele me bateu Júlio, doeu muito mesmo.
Ele me vendeu para dois homens maus, e quando eles me levaram embora eu
fugi! Eu corri um montão, bem rápido igual a Valente corria no cavalo dela,
eu fui muito corajosa né? Eles iam fazer maldade comigo Júlio, eles eram
muito feios e fedidos!
— Você foi muito corajosa menininha! Mas agora você está segura,
ele não pode mais nos machucar. O homem mau foi preso, e nunca mais vai
machucar você. Agora levante, deixe-me ver como você cresceu!
Nos levantamos do chão e ele me olha e sorri. Ele me gira em seus
braços me fazendo gargalhar de felicidade. Quando paro de girar vejo a
minha neném me olhando.
— Venha conhecer a minha neném Júlio! Olha como ela é linda. —
Falo puxando meu irmão pelo braço. — Essa é a minha neném Luna. Neném
esse é meu maninho Júlio, ele não é lindo?
— Sua neném? — Meu irmão pergunta sorrindo.
— É sim! Sou muitão neném da minha Malia. Você é uma coisinha
não é? Ficou sumido pala sempe, e demolou um montão da vida toda pala
apalece, e a minha Malia ficava tiste. E quiança não pode ficar tiste, o meu
papai quem disse e ele sabe de tudo. Eu não vou biga com você não, poque o
papai do céu falou que não pode. Maisi se você sumi de novo eu vou biga,
aiaiai.
— Sua Maria? Papai do céu?
— É! Ela é muito minha, poque eu que achei ela ué. O papai do céu
que me disse pala eu achar ela. Eu sei que você não quedita no papai do céu,
mas ele existe e eu vou fala pala todo o sempe dele, até você quedita!
— Ela é linda não é? Muito sapeca essa neném, o meu papai ursão
chama ela de faladeira. Por que ela fala muito e não para nunca!
— Pai? Mas você não tem pai menininha.
Eu olho para o meu irmão séria. Eu agora tenho pai sim, e uma
mamãe maluquinha!
— Ela tem um papai sim, e ele é o meu pincipe rabiscado! E a minha
tia pincesa é a mamãe dela. Eu hem, esse maninho não sabe de nada, tudo
fica peguntando né Malia? Vem, eu vou te mosta a mamãe dela!
Eu puxo meu irmão pelo braço e vou atrás da neném. Mas nem
precisamos ir longe, por todos estão na varanda. Minha mamãe ta chorando e
meu papai ursão está abraçando ela. Todo mundo está chorando, mas eu não
sei o que aconteceu.
— Poque tá todo mundo cholando? Aiaiai, é pala fica muito feliz de
excelência! O imão da minha Malia apaleceu, ele é bem bonito, mas ele é
muito sem obséquio viu! Todo sem estutula da vida toda!
— Luna! — A tia baby briga com a neném.
— Não briga não tia baby, ela é neném!
E todos riem, secando as lágrimas.
Eu puxo o meu irmão até aonde meu pai está.
— Júlio, esse é o meu papai ursão e essa é a minha mamãe princesa
maluquinha. Eu que escolhi eles, agora eles são meus pais. Você viu o meu
irmão mamãe? Eu disse que ele era bonito né?
— Sim meu amor, seu irmão é muito bonito. — Minha mãe diz
sorrindo.
— Você não se importa dela chamar você de mãe? — Meu irmão
pergunta.
— Não Júlio, não me importo. Ela é minha filhinha, minha
princesinha. — Minha mãe fala me abraçando.
— Nem olha para mim garoto. Você mesmo disse que iria me ajudar
a cuidar dessas duas maluquinhas! Agora não pode fugir. — Meu pai diz
rindo.
— Papai ursão! Eu não sou maluquinha. — Eu protesto e levanto os
braços para ele me pegar no colo.
— Você não é... Ainda! Mas a sua mãe é muito maluquinha, e vai te
deixar maluquinha também. Mas eu e o seu irmão vamos tomar conta de
vocês duas.
Eu desço do colo do meu pai e apresento o meu irmão para todos. A
família toda fica feliz por ele ter aparecido, minha vovó Belle chama a todos
para almoçar e meu irmão fica com vergonha.
— Júlio?
— Oi menininha.
— Agora nós temos uma família. Eles gostam da gente, e não vão nos
machucar. Não precisa ficar mais com medo ok? O nosso papai ursão não vai
deixar que nada nos machuque. Por que se ele é meu pai e ela é minha mãe,
eles são seus também. Por que nós somos irmãos!
— O que você quiser menininha. Agora vamos, você tem que comer.
Nós nos sentamos a mesa, e Júlio senta ao meu lado e Luna senta ao
lado dele. Minha mãe coloca comida nos nossos pratos, e Júlio corta a minha
carne em pedacinhos, igual ele fazia antes.
— Ei! — Luna cutuca o meu irmão.
— Oi loirinha.
— Eu sou sua pima, então você tem que cuida de mim também. Tem
que cuida de mim e da minha Malia sabia? Poque você é gande, ok? Tem
que ser muito ok da vida toda, né Malia?
— Isso! Muito ok da vida toda. — Eu falo rindo.
— Entendido loirinha. Vou cuidar de vocês duas, e vocês tem que me
obedecer por que eu sou o mais velho!
— Ai não quedito! Ele é muitão poxessivo, maisi um nessa vida
Malia! Não tenho estutula maisi não, meu papai, meu anjinho, meu vovô,
meu pincipe rabiscado, agola o pimo gande! Tá bom Galoto gande, agola
cota a minha carninha igual à da minha Malia.
— Luna! Deixa de ser obtusa, deixa que o seu pai corta a sua carne.
— A tia baby briga com a Luna, mas todos estão rindo.
— NÃO QUELO! O Júlio é meu pimo não é? —Meu pai responde
que sim e sorri para ela. — Então ele é minha família não é? — Novamente
todos dizem que sim. — E família cuida um do outo, então ele vai cota a
minha caninha poque ele é minha família e vai cuida de mim ponto obigado
de nada! Maisi dona mamãe, o que é obtusa?
Todos riem, até mesmo o meu irmão ri. Seu sorriso é tão lindo, acho
que ele deveria sorrir mais.
— Obtuso quer dizer quando uma pessoa é rude, sem tato. Entendeu
loirinha? — Meu irmão responde para Luna.
— Então quando o meu papai biga comigo, ele é um obtuso? — Luna
pergunta.
— Mais ou menos isso!
— Viu papai! Não pode biga não, tem que deixa eu e a minha Malia
namola quando a gente for gande, né Malia? Poque o papai biga e fica
muitão obtuso da vida toda.
— O que!? De onde saiu essa história de namorado? Pode soltando
sua fadinha faladeira. — Meu pai pergunta sério.
— Esse Usão é muito obtuso também viu!
— Pergunta para sua mulher, de onde a minha fadinha tirou essa
história! E aproveita e pergunta também, sobre viajar para a Itália! Essa...
Essa desvirtuada! — Meu tio vidinha fala revoltado.
Todos começam a rir, quando meu pai pergunta as coisas para minha
mãe. Começa uma briga engraçada entre eles, e todos riem.
— É sempre assim? — Júlio pergunta baixinho.
— Sempre! Mas é muito divertido, tem sempre muito amor!
Ele sorri e volta a cortar a carne para Luna.
— Júlio?
— Oi menininha.
— Eu amo você muito. E estou muito feliz por que você voltou.
— Eu também amo você minha Maria. Nunca mais sairei do seu lado.
— Você promete?
— Com a minha vida princesa Valente.
Agora a minha felicidade está completa.
Tenho uma família nova que me ama.
Tenho um pai e uma mãe.
E o meu irmão está aqui comigo!
Não preciso de mais nada nessa vida.
Talvez, só talvez, eu possa pedir para a neném falar com o papai do
céu, para ele me dar um irmãozinho bebê.
Não! Uma irmãzinha é melhor.
Quando eu for dormir, vou pedir para a neném falar com o amigo
fofoqueiro dela.
Não sei expressar o que senti quando vi o Júlio pela primeira vez, e
nem dizer o quão devastada me senti quando vi o imenso vazio em seu olhar.
Como se alguma coisa tivesse sido arrancada dele, como se faltasse algo vital
dentro dele.
Eu não quis saber se minha reação o assustaria, não quis saber da
burocracia que o Otávio e o Roberto tiveram que tratar. Só queria levar o meu
menino de volta para sua irmã, levá-lo para casa onde eu poderia cuidar e dar
o amor que ele precisa e merece. Quando mostrei as fotos da Maria para ele,
pude ver a dimensão do amor que ele sente por ela, seu choro sofrido, sua
dor, poderia ser sentido por todos que estavam na sala. Eu pude ver o
tamanho do carinho e da gratidão que ele sente por Otávio e vi a amizade e a
confiança que o Júlio sente por eles. Serei eternamente grata por eles terem
acudido e cuidado de um menino que sequer conheciam. Hoje em dia isso é
tão difícil, ver uma pessoa se condoendo pelo problema próximo, foi e é uma
atitude linda a que eles tiveram. E me peguei pensando por todo o caminho
até a fazenda, se Otávio que nunca o tinha visto se condoeu pelo Júlio,
porque seus vizinhos e conhecidos não fizeram o mesmo? Porque não
procurar a polícia? Porque não denunciar?
Eu pude assistir o reencontro de duas pessoas que se amavam, e não
poupei uma lágrima e acho que nem conseguiria essa proeza. Foi lindo, foi
emocionante o reencontro dos dois irmãos. Maria parecia que estava no céu,
ela chorava e ria enquanto abraçava e beijava o irmão. Júlio sorria lindamente
para a irmã e a admirava, olhando extasiado para ela. O vazio que existia no
seus olhos, foi um pouco preenchido quando ele a abraçou novamente. Afinal
ela sempre foi dele, ele quem cuidou, quem amou e quem a protegeu a vida
inteira. Mas agora ele poderá ser um adolescente normal, não precisará mais
se preocupar com a segurança dela, pois eu e Gael iremos proteger os dois de
tudo e qualquer coisa.
Almoçamos todos juntos e pude ver mais um pouquinho do Júlio. Ver
como ele era delicado com a irmã e paciente com a Luna, isso são
características de um bom menino. Depois do almoço, Katrisca e minha mãe
levaram as meninas para o quintal e Gael, Don, Dylan, meu pai, eu e o Júlio
fomos para o escritório. Gael e Donatello precisavam saber sobre algumas
coisas, para poderem dar entrada nos papéis o mais rápido possível. Gael
também queria explicar para o Júlio sobre o padrasto que estava preso. Todos
nos acomodamos no escritório, eu me sentei ao lado do Júlio e o Gael sentou
em uma cadeira de frente para nós. Meu pai e os meus irmãos sentaram no
sofá próximo a nós, para ouvir tudo o que seria falado ali.
Mas nada na vida me preparou para o baque que eu tomaria.
— Júlio, eu quero que saiba que aqui você está seguro. Que nunca
iremos te machucar ou machucar a Maria, nós agora somos a sua família e
cuidaremos de você, assim como estamos fazendo com a sua irmã. — Gael
começa a falar.
— Se vocês mantiverem a minha irmã segura, eu aceitarei qualquer
coisa. Me submeterei ao que vocês quiserem, apenas mantenha a minha irmã
segura. — Júlio diz baixinho.
— Aqui você não precisará se submeter a nada, não precisará aceitar
nada de ruim. Porque nós cuidamos e zelamos pelo que é nosso, e vocês dois
são importantes para nós. Não vamos amar e cuidar somente da Maria, Júlio.
Mas de você também. A partir de hoje você tem uma família, não posso pedir
que você confie inteiramente em nós, até porque é difícil confiar logo de
primeira. Mas nós iremos conquistar a sua confiança e mostraremos para
você que somos pessoas boas. — Dylan diz sério.
— Júlio... Precisamos que você nos conte um pouco da sua vida. Que
nos diga o que aconteceu com vocês. A Maria não soube falar direito, nós a
encontramos vagando nas ruas, com fome, com sede e machucada. Ela só nos
disse que estava fugindo dos homens maus e que estava procurando por você.
— Gael diz.
— Tudo bem... Eu morava com a minha mãe, foi somente eu e ela por
um bom tempo. Ela bebia e saia muito, mas sempre me deixava com uma
vizinha. Um dia ela começou a trazer vários homens para dentro de casa, eu
tinha mais ou menos uns sete anos quando isso começou. Eram muitos
homens, todo dia um diferente, eu lembro que tinha muita bebida e drogas,
muitas drogas. Um desses homens começou a ficar mais tempo e todos os
outros sumiram, tinha comida em fartura na mesa, roupas boas e até gibis
para mim. Esse homem... O meu padrasto, ele tinha muita paciência comigo,
me tratava bem até demais. Só quando ele começou a me tocar que eu
comecei a entender e também a vizinha que tomava conta de mim me
explicou. — Ele para de falar e olha para todos na sala, posso vê-lo corando
com vergonha.
— Continue. — Don pede.
— Eu comecei a me afastar sempre que ele me tocava, muitas vezes
eu estava assistindo televisão e ele sentava ao meu lado e colocava a mão
dentro da minha bermuda. Minha mãe muitas vezes presenciou, mas nunca
fez nada. As brigas começaram, ele batia nela e chegou até mesmo ir embora
de casa. Os homens voltaram a frequentar a casa novamente, e ela me
colocava para servir bebidas a eles e alguns me tocavam também. Eu odiava
tudo aquilo! Quando eu completei nove anos, ela disse que estava grávida, o
meu padrasto voltou pra casa e o inferno começou novamente. Eu me
trancava e só saia do quarto quando ele não estava, passei a tomar banho uma
vez por dia e só quando ele saia de casa. Eu o peguei uma vez no banheiro
enquanto eu tomava banho e me assustei. As brigas continuavam, ouvia
gritos de que a Maria não era filha dele e que ele jogaria ela fora assim que
nascesse. — Ele para de falar e vejo suas mãos tremendo e as seguro nas
minhas fortemente.
Eu não sei dizer como me sinto ouvindo ele dizer essas coisas. Mas
uma coisa é certa, a raiva que eu sinto só está aumentando. O rosto do meu
pai está branco, Dylan está olhando para o teto e Donatello está petrificado no
lugar, sem esboçar nenhuma reação. Gael está segurando os braços da cadeira
com tanta força, que os nós dos seus dedos estão brancos.
— A Maria nasceu, e fui eu quem deu esse nome a ela. Ela era a coisa
mais perfeita que eu tinha visto, gordinha e tão Rosinha que dava vontade de
morder. Minha mãe cuidou dela por vários dias, mas depois deixou de mão
por causa das reclamações do meu padrasto. Então eu que cuidei dela, dava
banho, fazia mamadeira, cantava para ela dormir, contava histórias e a levava
para brincar na rua. Acho que a Maria tinha dois anos quando a minha mãe
morreu, não me recordo direito. Eu pensei que a gente iria embora, sei lá, um
orfanato talvez. Mas não, nós ficamos com aquele monstro. Ele não
comprava mais o leite da Maria e nem fralda, a senhora que cuidava de mim
que me ajudou a fazer a Maria usar o banheiro. Eu entregava jornal para o
senhor da banca e ele me dava alguns trocados, eu levava o cachorro da
vizinha para passear e ela também me dava um dinheiro. E com isso eu
comprava algumas coisas pra Maria, frutas, bolachas, Danone. Eu e ela íamos
na igreja e lá nós ganhávamos roupas e sapatos. Um dia ele encurralou a
Maria na sala, eu estava fazendo macarrão para ela jantar... Quando eu fui
buscá-la, ela estava sentada no colo dele com a mão dentro do seus shorts. Eu
enlouqueci! Não podia deixar que ele fizesse mal a ela, eu ameacei ligar para
a polícia e ele correu de casa e ficou fora por três dias. Minha irmã tinha três
anos! Um bebê, como ele pode pensar em uma coisa dessas? Ele nunca
deixou de me molestar, mas eu vivia mais na rua que dentro de casa. Eu ia
para a escola e a vizinha que tomava conta da Maria. Um dia ele chegou
bêbado em casa, a Maria estava doente e eu precisava de dinheiro para
comprar o remédio para febre. Eu não tinha, eu comprei as coisinhas dela,
não tinha para quem pedir, eu já tinha pedido para as vizinhas e ninguém
poderia me emprestar. Então pedi para ele. Ele me deu, mas ele tinha uma
condição. — Ele para de falar.
Meu coração parou de bater por míseros segundos e voltou a bater
como se estivesse uma escola de samba dentro do meu peito. Eu sei que
depois que eu ouvir o que ele tem para falar, jamais serei a mesma. Meus
olhos se enchem de lágrimas, e eu respiro fundo para segurá-las no lugar.
— Ele disse que me daria o dinheiro e que nunca tocaria na minha
irmã, mas que para isso eu precisava fazer alguns favores para ele. Se eu não
aceitasse, ele iria tocar a minha irmã e faria ela sua putinha mirim, foram
essas as palavras que ele usou. Eu não tinha o que fazer! Eu aceitei, eu
precisava do remédio! Não poderia deixar ele tocar a minha irmã! Não podia,
não podia, não podia! — Ele gritava e chorava, Donatello correu para a
lixeira e esvaziou o estomago. Meu pai e Dylan estavam pálidos e Gael
arrancou os braços da cadeira. — Eu comprei os remédios, ele me deu
bastante dinheiro e disse para comprar tudo o que a minha irmã precisava. Ele
fez compras para dentro de casa, até algumas roupas ele comprou para ela.
Depois de dois dias ele veio me cobrar o favor... Ele me fez... Ele me fez
tocar seu pinto, me fez colocar na boca, ele batia na minha cara e quando eu
não deixava ele me dava uma surra. Ele me fez ficar pelado na frente dele, se
eu fechar os olhos eu posso sentir suas mãos e sua boca no meu corpo, eu
sonho todos os dias com o que ele fez comigo. Ele se esfregava em mim,
fazia-me sentar no seu colo, em cima do seu pinto. Eu ainda ouço os seus
gemidos na minha cabeça! EU OUÇO E SINTO TODOS OS DIAS! E EU
AGUENTEI ISSO DURANTE ANOS, EU TIVE QUE CHUPAR O SEU
PINTO TODOS OS DIAS E NÃO SÓ DELE, MAS DE ALGUNS AMIGOS
DELE TAMBÉM!
Ele até tenta correr até a lixeira, mas acaba vomitando tudo no chão.
Ele chora como se alguém o estivesse torturando.
— Vocês tem noção do quanto eu sou sujo? Não existe água no
mundo que limpe a minha sujeira. Eu tentei viu, usei todos os produtos de
limpeza que eu achei na minha frente, mas nada consegue arrancar essa
sujeira de mim. Se eu fosse vocês, nem me deixaria chegar perto, para não se
contaminarem com a minha podridão. Mas eu não me arrependo do que fiz,
sinto vergonha, sinto nojo, mas não me arrependo. Eu fiz isso para cuidar da
minha irmã, eu mal podia olhar para ela sem querer vomitar. Quando ela
vinha me abraçar ou me pedia colo, me matava por dentro por que tinha
medo de contaminar ela. Não existe nada no mundo que eu não faça pela
minha irmã, ela é o único pedaço puro em mim, porque o resto é lixo, é sujo e
podre. Eu vou entender se vocês não quiserem que eu fique, ninguém em sã
consciência iria querer algo tão podre por perto.
Eu não aguento, peço licença e saio correndo do escritório. Não existe
nada inteiro dentro de mim, tudo foi quebrado por cada palavra que ele disse.
Sinto um desespero, uma falta de ar, um ódio enorme. Minhas pernas
tremem, meu corpo inteiro treme. Não consigo respirar, é como se alguém
estivesse impedindo os meus pulmões de trabalharem, como se alguma coisa
estivesse me esmagando.
Eu entro com tudo na cozinha, completamente transtornada, nem me
dou conta de quem está aqui. Eu abro e fecho as gavetas dos armários, sem
saber o que estou procurando. Meu desespero é imenso, ouço as palavras do
Júlio na minha cabeça se repetindo constantemente. EU SOU SUJO, EU SOU
PODRE, EU SOU UM LIXO. Isso está me enlouquecendo! Minhas pernas
falham e eu me sento no chão segurando meus joelhos e deixo o choro sair.
— Yza! O que foi filha? — Ouço a voz da minha mãe perguntando e
sinto seus braços me puxando para o seu colo.
— Dói mãe... Dói demais!
Minha mãe tenta me entregar um copo com água, mas minhas mãos
estão tremendo tanto que acabo derramando mais do que tomando. Eu não
consigo para de chorar, a cada vez que lembro das suas palavras é como se
alguém cravasse uma faca em mim e torcesse. Minha mãe me balança de um
lado para o outro, e pede baixinho em meu ouvido para que eu me acalme.
Diz que tudo vai acabar bem, mas é impossível isso, impossível esquecer
cada palavra.
— Mãe... Mãe ele foi... Óh meu Deus! Ele foi molestado durante anos
mãe! Quem faz isso com um criança? Pelo amor de Deus, dói imaginar por
tudo o que esse menino passou para proteger a irmã. Tem noção do quão
devastado ele é? Do quão sujo ele se sente? Eu quero matar esse homem!
Quero desenterrar aquela desgraçada e matá-la novamente! Não consigo
imaginar isso mãe... Ele carregará essa marca para o resto da vida. Mãe? Se
eu for presa, você cuida deles pra mim? Eu vou matar esse homem, estou
falando sério!
Tudo o que consigo imaginar é matar esse homem, é fazer com que
ele sinta o que o meu menino está sentindo. Eu quero arrancar cada parte do
seu corpo, quero machucá-lo até ouvir seus gritos pedindo por misericórdia e
nem mesmo assim eu iria parar. Ele pagará pelo que fez, de um jeito ou de
outro eu irei fazê-lo pagar ou eu não me chamo Yza Reed!
Ouço o choro das meninas, mas não consigo sair do colo da minha
mãe. Eu preciso dela, preciso do seu colo, preciso da sua força. Ela é meu
maior exemplo, e eu serei uma mãe igual a ela, eu cuidarei dos meus filhos
igual ela cuidou de mim e dos meus irmãos. Eu passarei por cima de tudo e
de todos para manter os meus filhos seguros, se para isso eu preciso matar, é
o que eu farei.
Eu escuto passos, mas não sou capaz de olhar para descobrir quem é.
De repente eu escuto um estrondo e olho assustada só para ver o meu ursão.
Ele acabou de deixar um buraco na parede, o piso cai no chão e ele me olha.
Seus olhos é um mar de devastidão, há tanta dor, tanto sofrimento que sinto o
meu peito se apertar.
— Sweet... — Gael diz com sua voz rouca de emoção.
— Dói Gael... Nunca senti essa dor antes. Eu vou matá-lo, vou
arrancar seu pau e fazê-lo engolir, vou arrancar suas mãos e picotar tudo. Ele
vai pagar por tudo o que ele fez com o meu menino. — Eu falo chorando.
Gael me pega no colo e me abraça apertado, deixando que eu chore
toda a dor que eu estou sentindo.
— Xiu... Acabou meu amor. Acabou! Eu prometo que esse monstro
vai pagar por tudo o que ele fez. — Ele diz baixinho, chorando também.
Ele senta na cadeira comigo em seus braços, e vai falando coisas
baixinho em meus ouvido, dizendo que agora as crianças estão protegidas e
que iremos cuidar e amar o Júlio. Que tudo o que ele precisa é do nosso
amor. Aos poucos eu vou me acalmando. Me sinto esgotada e acabo
adormecendo.

Eu olho para a porta, por onde a Yza passou correndo. Eu sabia que
ela não iria me querer por perto, é muita podridão que eu carrego dentro de
mim. Eu estou feliz que a minha Maria tenha tanta gente que a ame, e eu sei
que ela ficará segura.
— Gael... Você pode ligar para o Tavinho vim me buscar? Obrigado
por ter me deixado ver a minha irmã, obrigado a todos vocês por cuidarem
dela. Sei que é pedir muito, mas eu gostaria de vê-la de vez em quando.
Todos eles e olham sem entender, mas eu sei que por dentro eles estão
aliviados que eu tirei de suas mãos essa decisão. Eu não preciso de mais
nada, desde que a minha irmã esteja segura. Só isso me conforta, o resto... Eu
irei sobreviver. Não preciso de nada mais, só da minha irmã feliz, isso já é o
bastante.
— Te buscar? — Dylan pergunta.
— Sim, eu ficarei com ele e com o seu Roberto.
— Você não está indo a lugar nenhum Júlio. Você está aonde
pertence, aqui é seu lar, nós somos a sua família e cuidaremos de você.
Família é isso, nós cuidamos uns dos outros. — O senhor Willians diz sério.
— Você ouviu tudo o que eu acabei de dizer? Eu não posso ficar aqui,
não posso ficar com vocês. Vocês demonstraram ser pessoas de bem, eu não
posso contaminar vocês com a minha sujeira. Pensando bem, agora que a
minha irmã está sendo bem cuidada, eu nem preciso mais viver.
Quantas vezes eu já não pensei nisso? Foram várias e várias vezes,
mas nunca fiz porque não poderia deixar a minha menina sozinha. Agora ela
está bem amparada, tem um pai e uma mãe, tem tios, tias e até avós. Ela
estará bem cuidada, não precisa mais de mim.
Ouço o barulho da cadeira caindo e olho assustado. Duas mãos me
levantam do chão com tudo, e eu encaro um Gael muito bravo. Mesmo ele
estando com raiva, eu não sinto medo dele. Todos os que estão aqui, eu não
sinto medo deles, não sei dizer o porquê. Só sei que eles não irão me
machucar, nem mesmo o Gael que me olha com raiva.
— Você nunca mais irá repetir isso, está me ouvindo? Você não é
podre, você não é sujo, e você não é um lixo, porra! Você é um sobrevivente,
um guerreiro que fez de tudo para salvar a irmã. Você será um homem
maravilhoso, você será incrível e eu terei a honra de ver tudo isso acontecer.
Você não está indo a lugar nenhum Júlio, você é meu assim como a sua irmã
é minha. Logo você estará carregando o meu sobrenome, e tudo o que te
aconteceu ficara no passado. Eu te ajudarei, a Yza vai te ajudar, todos dessa
família estarão ao seu lado a cada passo que você der, a cada degrau que você
subir. Você me entendeu? — Gael diz sério e me abraça forte.
E eu me deixo ser abraçado pela primeira vez na vida, sem sentir
medo, sem sentir receio, só aceito o abraço. É como se algo dentro de mim
estivesse se colando, tudo o que eu sonhei um dia pode vir a se tornar
realidade. Eu sempre quis uma família que me amasse, que me protegesse,
que cuidasse de mim. Eu sempre cuidei da Maria e não me arrependo, mas
sempre quis que alguém cuidasse de mim também. Cansa ser forte todos os
dias, cansa ser sozinho, cansa não me sentir amado. Eu choro por tudo o que
perdi um dia, e por tudo o que estou ganhando também. São poucas as vezes
que alguém ganha uma segunda chance de viver, e essa chance está sendo
dada a mim por esse homem que mal conheço.
— Aqui é o seu lugar Júlio, nós iremos passar por tudo e todos os
problemas juntos. Você será um grande homem e nos encherá de orgulho,
isso eu tenho certeza. — O senhor Willians diz ao meu lado.
Todos estão sorrindo para mim, vejo determinação em seus olhos e
em suas palavras. Cada um deles me abraça forte e eu aceito todo o carinho
que eles estão demonstrando.
— A Yza...
— Minha filha precisa de um tempo dela, não porque ela acha ou
concorda com o que você pensa de si mesmo. Mas sim por ela ser intensa e
explosiva, aposto que ela está sofrendo por você e bolando um jeito de matar
o seu padrasto. Minha filha parece ser uma menina calma e maluquinha, e ela
até é, desde que ninguém machuque quem ela ama. E ela já amava você sem
ter te conhecido, agora então. Você terá que ter paciência com ela, Yza vai te
deixar maluco, mas vai compensar, por todo amor que ela vai te dar. —
Willians diz rindo.
— Ele é um homem perigoso, eu não quero que ela se machuque.
— Ele pode ser perigoso Júlio, mas eu sou muito mais. Aquela
mulher é o ar que eu respiro, e nada e nem ninguém vai machucar o que é
meu. Ela é minha, assim como você e sua irmã são meus e eu protejo a minha
família. Quando eu acabar com aquele homem, ele vai desejar nunca ter
colocado as mãos em você. — Gael diz sério.
— Gael, acho melhor você ir cuidar da minha irmã, deixa que nós
cuidaremos do Júlio. As meninas estão no quintal brincando, nós iremos fazer
companhia para elas. Minha irmã precisa de você. — Donatello diz sério e
Gael sai apressado.
— Eu vou pegar as coisas para limpar o chão. — Dylan avisa.
— Eu posso fazer isso. — Falo envergonhado.
— Eu sei que você pode, mas não quer dizer que precise. Você vai
aprender que nós cuidamos um dos outros, eu tenho a suas costas e você terá
as minhas. Isso que é uma família, mas você vai aprender. — Dylan diz
sorrindo.
Nós vamos para fora, as meninas estão deitadas na casinha da arvore.
E eu vejo a Lila sentada em uma almofada grande no quintal, me aproximo
dela e vejo seus olhos vermelhos.
— Está tudo bem Lila?
— Ei meu nerd preferido! Estou sim meu bem, só com um pouco
cansada. Tomei um antialérgico e estou morrendo de sono.
— Eu estou quase terminando o seu desenho. Quando eu sai da
construtora, fiquei triste por que não iria mais te ver e não ia conseguir
entregar o seu desenho.
— O destino nos prega cada peça rapazinho. Mas me diz, como você
está se sentindo? — Ela pergunta e bate ao seu lado para eu me sentar.
— Aliviado por ter finalmente encontrado a minha Maria. Mas estou
sobrecarregado sobre o restante. É difícil de acreditar que tudo o que eu mais
quis e desejei um dia, está se tornando realidade. Eu sempre quis uma família
Lila, sempre quis ser amado e que tivesse alguém que cuidasse de mim. E de
uma hora para outra eu caio de paraquedas no meio de uma. É tudo meio que
confuso.
— É normal você se sentir assim meu amor, mas saiba que não existe
família melhor do que essa para você cair de paraquedas. Eles são malucos,
bagunceiros, mas são as pessoas mais incríveis que eu já conheci. Você terá a
mim, o Otavio e o Beto ao seu lado, nós estaremos sempre aqui por você. —
Ela diz sorrindo.
Eu sempre gostei da Lila. Ela é maluca, ri alto e deixa o Tavinho
maluco. A comida dela é super gostosa, e ela sempre me tratou com muito
carinho.
— Você sabe que o Tavinho fica doido quando você chama o pai dele
de Beto, não sabe?
— Otávio é um idiota Júlio, não de atenção para as merdas que ela
fala.
— Ele é um idiota, mas você gosta dele, assim como ele gosta de
você. O Beto não vê a hora de vocês pararem de brigar e dar um netinho para
ele.
— O Beto também é um idiota! Um velho idiota.
Eu me sento ao seu lado e fico olhando as crianças brincarem. Minha
Maria me sorri, um sorriso lindo, o melhor e maior sorriso do mundo. Não
importa o que aconteceu ou o que aconteça daqui para frente, o importante é
que ela sempre tenha esse sorriso no rosto.
Os problemas?
Esses ficam para depois.
A minha Maria sempre virá em primeiro lugar.
Mais de um mês desde que achamos o Júlio, e as coisas estão indo na
medida do possível. Não está sendo fácil a adaptação dele em casa. Quer
dizer, até está, mas como se fosse meio maquiado.
Ele conversa poucas coisas, vai para a construtora trabalhar com o
Otávio e ter as aulas com o professor particular, que o Otávio e o senhor
Roberto insistem em pagar, mesmo eu querendo fazer isso. Por causa do Júlio
a minha amizade com eles está se solidificando a cada dia. Júlio é um menino
incrível, bondoso, generoso, super educado e carinhoso. Ele é um menino
muito inteligente, e em uma conversa com o professor, ele me disse que o
menino é um gênio.
Tanto a Yza quanto eu, estamos tentando deixá-lo a vontade. Mas eu
acho que a ficha dele ainda não caiu, porque ele age como se fosse o único e
responsável pela Maria. Ele acorda cedo, prepara o café dela, coloca ela para
tomar banho. Não falamos nada porque queremos que ele veja que não está
mais sozinho, mas eu não sei até quando consigo segurar a minha Sweet.
Seus pesadelos são constantes e isso me fode todas as vezes, eu o ouço
acordar chorando, ouço ele vomitando e andando pela casa toda madrugada.
Em uma conversa com a minha mulher, concordamos em procurar um
psicólogo para ele urgentemente. As únicas vezes que ele não acorda
chorando é quando a minha menina cisma de dormir com ele.
A união e o amor que eles sentem um pelo outro é de uma magnitude
infinita. Maria sabe quando o irmão não está bem, acho que é por isso que ela
o deixa tratá-la como bebê. Eu tenho certeza que ele não nos contou tudo, ele
sente vergonha de ter feito o que fez. Na realidade o que ele foi obrigado a
fazer para manter a irmã segura. Ele acha isso um ato vergonhoso, já eu acho
isso um ato de grandiosidade. Ele não mediu esforços para manter a irmã
segura, mesmo custando perder toda a sua inocência. Vamos ter muito
trabalho para fazê-lo entender, para fazê-lo esquecer a culpa e o nojo que ele
se alto impôs.
Volto a prestar atenção no processo que estou estudando, para debater
a melhor forma de fechar o cerco dessa quadrilha. Depois do almoço tenho
um encontro com Josafá e Maurício para debater sobre esse caso. Juro que
podem se passar anos e eu nunca deixarei de sentir nojo de pessoas como
essas. O caso é pior do que eu pensava, não são pessoas que lidam apenas
com drogas e sim sequestro e contrabando de mulheres e crianças. Eles as
drogam e as vendem como prostitutas. A humanidade a cada dia está mais
podre, e isso me enoja de tantas maneiras que é impossível manter alguma
coisa no estômago. Eu ainda estou de férias, mas abri a exceção para esse
caso, mesmo não sabendo de tudo até que um nome me chama a atenção.
Rapidamente Interfono para a minha secretária.
— Pois não Gael. — Ela atende.
— Meu bem, você pode me trazer aquele processo que a Zia me
mandou? Preciso conferir uns nomes.
Em segundos ela entra em minha sala, trazendo a pasta, uma xícara de
café e um lanche.
— Aqui menino, trouxe um lanche porque sei que você não comeu
nada desde que chegou horas atrás. — Ela diz carinhosamente.
— Obrigado, o que seria de mim sem a senhora?
— Estaria desnutrido! — Ela diz rindo e vai embora.
Abro o arquivo do caso do Júlio e vou direto para o nome do padrasto
dele e bingo! O infeliz estava metido na sujeira do caso do Josafá. Filho da
puta! Agora eu sei aonde a minha ursinha estaria se não tivesse fugido, esse
filho da puta tinha vendido ela em troca das dívidas de drogas que ele tinha.
Pego meu celular e ligo diretamente para o número do Josafá.
— Gael?
— Josafá, boa tarde. Estava analisando o arquivo que você me trouxe,
e um nome me chamou a atenção. Ramiro Gomes, você conhece?
— Ele era um dos homens de confiança do chefão, mas se envolveu
com coisa pesada e foi afastado. Porque a curiosidade? — Ele diz
rapidamente.
— Ele era o padrasto dos meus filhos, ele vendeu minha menina para
outros homens e a sorte foi que ela fugiu ou só Deus sabe o que aconteceria.
— Filhos? Você conseguiu achar o menino? — Ele pergunta surpreso.
— Sim, acabei esquecendo de falar com você. Estamos nos adaptando
a situação, ele passou por muita merda Josafá. Foi abusado durante anos para
manter a irmã longe desse verme. Você não tem noção do que esse menino
passou! O que o meu pai fez comigo, não é um terço do que ele sofreu.
Não consigo parar de pensar em suas palavras, todas as noites quando
eu fecho os olhos ouço ele se menosprezando. Imagens dançam na minha
mente, e insuportável saber que um menino tão maravilhoso como ele passou
por isso. E eu não sou o único que fiquei assim, minha Sweet também. Quase
todas as noites ela acorda chorando, e agora em vez de uma eu tenho duas
meninas para acalentar. Embora os pesadelos da minha ursinha tenham
diminuído.
— Gael, sei que uma coisa dessas abala todos da família. Eu sei o que
você está passando, é difícil demais, mas você precisa ser forte meu amigo.
Por você e por sua família. Agora que eu sei que encontraram o menino, vou
correr com os papéis da adoção definitiva. Vou precisar mandar uma
assistente social para visitar vocês e conversar com as crianças, isso é só um
procedimento necessário. Vou te enviar o contato da psicóloga que cuidou da
minha Joyce e da minha esposa. Ela é ótima e cuida de casos de crianças que
sofreram abusos.
— Como você conseguiu lidar com isso? A Joyce foi uma menina
maravilhosa, é uma mulher incrível e quem não sabe da história jamais
imaginaria que ela passou por todo aquele pesadelo.
— Para ser sincero meu amigo, eu nunca consegui, na realidade eu
passei a fingir muito bem. Eu precisei ser forte, tanto pela Joyce quanto pela
Glória, não tinha nada no mundo que fizesse minha mulher desistir da minha
menina. Se for para ser verdadeiro, a Glória foi meu alicerce, minha âncora,
não sei se eu teria passado por tudo sem ela ao meu lado. Até hoje quando
vou dormir eu tenho pesadelos, eu vejo minha menina toda machucada,
desnutridas e suja. Ainda posso ver o pavor e o horror e seus olhos, graças a
Deus e a psicóloga, a Joyce seguiu em frente.
— Obrigado meu amigo, me manda o número que marcarei uma
consulta. Minha mulher também está muito mexida, mal consegue dormir.
Acho que todos nós precisaremos de psicólogo. A Yza está por um fio,
acredita que até ir na cadeia, ela quer ir?
Acabamos rindo, mas morro de medo que aquela maluca faça isso.
— Está ai uma mulher de força. Estou curioso para conhecer a sua
mulher. Vamos marcar alguma coisa, um almoço ou jantar. Glória vai ficar
feliz de vê-lo formando sua família.
—- Vou falar com a Yza e te mando uma resposta. Aproveito e levo
dona Marta junto, assim ela e a Glória fofocam.
Nos despedimos e volto a me concentrar no processo. Envio uma
mensagem para o Maurício e aviso o que descobrir. Mas meia hora lendo e eu
resolvo levar as coisas para casa e mais tarde terminar, quero ver como as
minhas meninas estão. Me despeço da minha secretária e quando já estou no
estacionamento, ouço a Zia gritar meu nome.
— Ei estranho! Estava indo falar com você, acredita que o advogado
de defesa daquele caso que estou trabalhando, o dos Valverde. Veio acusar os
meus clientes de mandarem bater no infeliz que foi preso? — Ela solta
revoltada.
— O quê?
E ela me conta que o advogado de defesa do filho da puta, acusou o
Otávio e o Roberto de serem mandantes de quase matarem o infeliz na
cadeia. O cara agora se encontra na UTI, e sendo escoltado por policiais para
que não fuja do lugar. Zia está possessa, mas não mais que eu! Eu não sei
explicar e nem dizer o porquê, eu só sei que tem dedo da minha Sweet nisso.
E eu juro que vou acabar tendo um infarto.
Essa mulher será a causa da minha morte!
— Mas deixa pra lá, queria só desabafar a raiva mesmo. Mas me diz,
vamos jantar juntos hoje? Faz tempo que não passamos um tempo juntos,
nem sei mais o que acontece com você. E o senhor ainda tem que me explicar
sobre o que aconteceu aquele dia. — Ela diz sorrindo.
— Eu até que gostaria de conversar com você Zia, mas minha mulher
está me esperando na casa da minha mãe. Mas que tal um almoço, amanhã
está sossegado só tenho que assinar algumas coisa e revisar um caso. Minha
mulher vai para um chá de lingerie da cunhada, então vou trabalhar um
pouco.
Katrisca e Dylan casam esse final de semana, então as mulheres estão
fazendo um chá, já que uma despedida de solteira está fora de cogitação.
— Mulher!? Não sabia que as coisas estavam nesse ponto, logo você
que é tão na sua. Todo excluso, sem deixar ninguém se aproximar. — Ela diz
séria.
— As coisas mudam minha querida. Mas falaremos mais amanhã,
agora eu realmente tenho que ir. — Me despeço dela e saio do
estacionamento.
Estranhei as palavras da Zia, somos amigos a muito tempo e nunca a
vi falar assim. Eu já tinha comentado com ela que tinha encontrado a mulher
da minha vida, então porque esse espanto?
Yza me manda uma mensagem e pede para que eu busque o Júlio na
construtora, já que ela está enrolada com a Lila na preparação do chá. Mudo
meu destino e vou buscar o meu garoto, assim consigo passar um tempo com
ele. Assim que estaciono, ele e Otávio saem e ficam me olhando curiosos.
— Ei garoto! Yza pediu para que viesse buscá-lo, está atolada nos
preparativos da festa da sua tia Katrisca. — Falo saindo do carro para
cumprimentar Otávio.
— Ei Gael, muito trabalho tentando condenar os malvados? — Otávio
me cumprimentar.
— Estou tentando. Como foi a aula Júlio?
— Foi boa, o professor já quer marcar uma prova. Mas não sei se
estou preparado. — Ele diz em uma mistura de receio e empolgação.
— Tudo no seu tempo garoto. Não precisa correr, você ainda é novo e
tem tempo para se decidir.
— Sério? Você não vai ficar chateado com isso? Eu pensei...
— Eu falei para você pirralho! Mas não acredita em mim. — Otávio
diz rindo.
— Vamos para casa, no caminho você me diz o que pensou. Que tal
se a gente parar naquela doceria, e pegasse um daqueles bolos que gostamos?
Assim nós teremos tempo de comer antes da ursinha chegar e acabar com
tudo.
Nesse tempo que passamos juntos, descobrimos algo em comum. Os
doces. Júlio é uma formiguinha assim como eu quando se trata de doces, mas
sempre perdemos quando a Maria está por perto. Ela nos olha com aqueles
olhinhos de cachorro abandonado, quando estamos comendo o último pedaço
e acabamos cedendo e entregando a ela.
— Acho legal, mas não adianta muito né? Sempre acabamos
pensando nela e não comemos. — Ele diz sorrindo levemente.
— Então acho que podemos comer uma fatia ou duas de bolo,
enquanto esperamos a moça embrulhar o bolo. — Falo e acabo rindo com o
olhar esperançoso que ele me dá. — Vamos lá garoto, vamos matar a nossa
lombriga. Otávio, te vemos no casamento? Vamos amanhã para fazenda, o
Dylan quer uma ajuda com as tendas.
— Eu vou sim, fiquei de ajudar também então nos vemos amanhã.
Vamos para o carro e seguimos a caminho da doceria. O lugar é uma
fábrica dos sonhos, eu viveria lá dentro se pudesse. O cheiro dos bolos, dos
doces incríveis é uma tentação. Tanto que a minha Sweet ficou com ciúmes
da atendente que já me conhece pelo nome, mas em minha defesa eu vou lá
todos os dias a anos.
Assim que chegamos, nos sentamos em uma mesa e fazemos nossos
pedidos. Eu escolho uma fatia generosa de bolo de chocolate com brigadeiro
belga e o Júlio pede uma fatia do bolo com recheio de Rafaello. Eu já peço
para ela separar um bolo inteiro de três amores, que é de chocolate branco,
brigadeiro belga e ninho com morango. O bolo é uma bomba calórica, mas
não ligo porque as minhas meninas adoram e eu sempre posso fazer
exercícios a mais. Assim que a garçonete entrega os nossos pedidos, olho
encantado a apreciação do Júlio quando dá a primeira mordida. Ele chega a
suspirar alto me fazendo rir. Esse é sempre o nosso momento, onde
esquecemos de tudo e dividimos o nosso amor por bolos.
— Agora me diga no que você pensou, Júlio.
— Eu pensei que você e a Yza ficariam chateados por eu não querer
fazer a prova. Não me sinto preparado ainda, não que eu não queira. Não é
isso, é só que eu não estou preparado para ir para a faculdade. — Ele diz sem
me olhar.
— Entendi... Você sabe o que quer fazer? Que faculdade quer cursar?
Eu acho que sei qual é a sua dúvida. Ele é tão fácil de ler, pelo menos
para mim. Júlio é extremamente leal para com as pessoas que o rodeiam, e eu
tenho a absoluta certeza que ele está inseguro com medo de magoar alguém
com a sua escolha.
— Não sei... Direito, é isso que eu quero fazer. — Ele diz sério, mas
não sinto confiança em suas palavras.
— Por que você quer fazer Direito?
— Eu quero me tornar Juiz, assim como você! Quero poder ajudar
crianças como a Maria, a loirinha e eu.
Eu falei!
— Porque será que eu não sinto tanta certeza nisso?
— Não sei do que você está falando. — Ele diz rapidamente e enche a
boca de bolo.
— Escuta Júlio. Você ama desenhar, você adora ajudar o Otávio a
projetar casas e edifícios, você gosta até de ajudar a projetar o paisagismo.
Então por favor, me explica como cursar Direito entrou na sua cabecinha
inteligente. — Falo calmamente.
— Porque você é um juiz! Eu quero ser igual a você, quero poder
ajudar as crianças que sofreram como eu. Quero ser importante, assim como
você. Quero que você não se arrependa de me adotar, se eu for um Juiz você
se sentirá orgulhoso. — Ele diz baixinho que quase não consigo escutar.
Júlio é tão previsível!
— Eu sentirei orgulho de você, independente do que você quiser
estudar Júlio. Eu tenho muito orgulho de ter você como meu filho, e se você
decidir não querer fazer faculdade, ainda sim eu me sentirei orgulhoso de
você. Você não precisa desistir do que gosta para agradar ninguém, nem
mesmo eu ou a Yza. Nós queremos que você seja feliz, que faça o que gosta e
ama. Se você for um desenhista, um pintor, um arquiteto, até mesmo se você
for um faxineiro, eu ainda me orgulharia de você. E quem te disse que se
você não for juiz, não poderá ajudar crianças como você? Lógico que você
pode! Você pode ser voluntário em um abrigo, em um orfanato, em um lar de
idosos. Basta querer e gostar de fazer o bem.
— Você não vai ficar chateado? E a Yza? — Ele pergunta surpreso.
— Nós ficaremos chateados se você não seguir os seus sonhos. Eu sei
que você passou por muita coisa ruim, sei que não confia em muitas pessoas,
mas saiba que eu sempre estarei aqui para o que precisar. Mesmo que seja
para roubar o seu bolo! — Falo pegando uma garfada do seu Rafaello e uma
coisa incrível acontece.
Ele ri! Pela primeira vez Júlio ri de verdade e com vontade. Não um
riso qualquer, mas um riso que alcança os olhos. Rapidamente pego meu
celular e registro esse momento e envio para a minha Sweet.
— Nada mais justo do que eu roubar o seu também! — Ele diz alegre
e rouba o meu bolo.
E isso o que quero pra ele. Essa alegria e felicidade. Quero que ele
seja uma criança e tenha e faça tudo o que ele quiser e o que deixá-lo feliz.
Quando chegamos em casa, ele vai para o seu quarto e eu vou tomar
um banho. Depois vou para a cozinha preparar o jantar para as minhas
meninas. Dez minutos depois Júlio aparece e se senta na bancada.
— O que você quer para o jantar? — Pergunto enquanto olho a
geladeira tentando decidir o que fazer.
— A Maria tinha pedido macarrão com salsicha. — Ele diz sorrindo
já sabendo a minha reação.
— Ela ainda não enjoo disso, não é? Eu não sei você, mas eu não
aguento ver macarrão na minha frente.
— Então somos dois! — Ele ri alto. — Talvez um bife e batata frita?
Posso fazer o macarrão para ela e a Yza, essas duas amam isso.
— Então mãos ao trabalho!
E juntos começamos a fazer o jantar. Yza me manda uma mensagem,
dizendo que chegaria em vinte minutos.
— Júlio, eu falei com o Juiz amigo meu e ele vai adiantar a papelada
da adoção. Ele vai mandar uma assistente social para olhar a casa e conversar
com você e a Maria.
— Ela pode nos tirar de vocês? — Ele pergunta e sinto o medo em
suas palavras.
Eu deixo a faca que estava usando em cima da pia e olho para ele.
— Ninguém, Júlio! E eu quero dizer isso: ninguém vai tirá-los de
mim, eu compro briga com o diabo se for preciso, mas isso não vai acontecer.
Você pode não nos chamar de pai e mãe, mas é isso que somos para você. Eu
sou seu pai e a Yza, mesmo sendo maluca é a sua mãe. Vocês são nossos
filhos e ponto final. Você entendeu?
— Eu entendi.
— Bom. Agora vai lá fora ajudar a sua mãe a trazer aquelas
tranqueiras para dentro. Ela já estacionou e daqui apouco começa a gritar.
— URSÃO! — Yza grita da garagem assim que termino de falar.
Júlio me olha e ri, mas vai ajudar a minha Sweet.
Aos poucos ele começou a entender o que queremos e está aceitando
que somos a sua família.
Deixo minhas duas meninas dormirem e vou para o meu escritório.
Maria pediu para dormir com a gente, estava animada com o casamento e não
vê a hora da tia baby se vestir de noiva e ela poder se vestir como princesa.
São as mínimas coisas que a encantam, ela se contenta com tão pouco
que me deixa sempre emocionado. Ouvi-la me chamar de pai é a melhor
coisa do meu dia todo, ela vem se sentar no meu colo e me contar tudo o que
aconteceu no dia dela. Se eu estou em casa ela vira meu chicletinho, e a
minha Sweet fica doida. Então ela se pendura no Júlio e passa horas e horas
desenhando com ele.
Vou para a sala, pego minha pasta e tiro os arquivos que tenho que
estudar. Hoje estou sem sono e nem toda a conversa das minhas meninas me
fizeram adormecer. Não sei, sinto o meu peito apertado, uma dorzinha
inexplicável, uma inquietação imensa. Sento na mesa de jantar deixo os
arquivos e vou pegar uma cerveja para relaxar.
Esse caso é imenso e se o Maurício conseguir com que os homens que
estão presos falem, vamos fechar o cerco em uma das maiores quadrilhas do
estado de São Paulo. Elas trabalham com tudo, desde drogas, armas, até
tráfico humano. Eles tem prostíbulos por todos os cantos do Brasil,
principalmente no interior da terra da garoa. O que me mata é que eles usam
as crianças, e que tem gente que tem prazer com isso. Tanta mulher que se
prontifica a dar de graça, até mesmo existem aquelas que gostam da profissão
mais antiga do mundo. Então porque eles usam crianças? Porque tirar a
inocência delas? Porque maltratar? O que me fode é que existem mães e pais
que vendem os próprios filhos para esses vermes. No arquivo que o Josafá
me mandou, tem seis nomes de mulheres que venderam as próprias filhas e
será nelas que vou mandar o Maurício apertar.
Estou perdido em meio ao processo, quando escuto um grito
estridente que me arrepia inteiro.
Júlio!
Corro para o quarto dele e quando abro a porta o cheiro do medo e
terror me abate. Júlio está lutando com as cobertas ainda meio adormecido.
Sua pele brilha de suor e sua camisa está completamente molhada. Ele
consegue se soltar antes que eu me aproxime e posso ver a cama molhada de
xixi.
— Júlio. — Chamo seu nome baixinho e ele me olha como um animal
ferido, antes de se abaixar e vomitar tudo em sua volta. — Porra!
Corro para o seu lado e o puxo para os meus braços, tentando ajudá-lo
de alguma forma. Ele tenta lutar contra o meu abraço, mas eu o aperto ainda
mais e é quando ele quebra se entregando a um choro alto e convulsivo.
— Você não pode me querer, vocês não podem. Eu sou sujo, não
existe nada em mim que seja puro ou bom. Me deixe ir por favor. Eu vou...
Eu vou sumir, vou acabar com essa sujeira em mim. Não posso contaminar
vocês. — Ele diz entre soluços.
— Xiu... Nada mais vai machucar você filho. Ninguém mais vai tocar
em você, acabou...
Eu acabo quebrando em meio a tanto desespero. É muita coisa para
um menino tão grande suportar. Ele precisa de ajuda ou eu tenho certeza que
ele fará alguma merda.
Fico sentado no chão com ele em meus braços, deixo que ele bote
para fora tudo o que está fazendo mal a ele. Pela primeira vez ele me deixa
abraçá-lo sem reserva alguma, e eu faço carinho em seus cabelos, assim como
faço com a minha ursinha quando ela tem pesadelos. Os dois são minhas
crianças, meus filhos e o carinho pelos dois são iguais. Assim que ele vai se
acalmando eu levanto com ele em meus braços e o levo para o banheiro.
Tento colocá-lo no chão, mas ele se agarra em mim como se eu fosse seu
bote salvador. Ele nesse momento não tem dezesseis anos e sim seis, eu o
trato como um menininho que precisa ser cuidado. Ligo o chuveiro e entro
com ele embaixo dos jatos de água morna, eu o ajudo a tirar a camiseta suja
de vomito e jogo no canto do boxe. A princípio fico com medo do meu gesto
se tornar um gatilho, mas Deus é minha testemunha que tudo o que quero é
cuidar dele, assim como a vagabunda da mãe dele deveria ter feito. Respiro
aliviado quando ele não reage como eu pensava, e me deixa cuidar dele.
Eu estico meu braço e agarro a esponja e o sabonete para que ele
possa tomar banho. Adiciono o sabonete na esponja e entrego em sua mão,
enquanto eu pego o shampoo e derramo em seus cabelos. Fazemos uma
parceria no banho, enquanto ele esfrega seus braços e peito, eu lavo os seus
cabelos. Mas aonde ele é áspero eu sou delicado, não falo nada sobre a forma
que ele esfrega a esponja em seu corpo, deixando marcas vermelhas em sua
pele muito branca. Sei que isso é o jeito que ele tem para se sentir limpo.
Quando a espuma acaba, ele estende a esponja para que eu coloque mais
sabonete. E em nenhum minuto deixa de chorar.
— Não esfregue com tanta força filho ou vai machucar a sua pele.
Você não precisa se machucar Júlio, não precisa tirar sangue para saber que
está limpo. — Falo baixinho e ele só acena a cabeça e passar a esfregar com
menos ímpeto.
Eu enxaguo o shampoo dos seus cabelos, e depois o coloco sentado
no chão.
— Você termina seu banho que eu vou pegar uma roupa para você,
ok? Não esfregue com força para não machucar, eu já volto com a toalha e
suas roupas. — Ele ainda não diz nada, só balança a cabeça perdido em seu
ritual de limpeza.
Saio do boxe e pego uma toalha para mim. No quarto tiro a minha
bermuda e me enrolo na toalha, arranco os lençóis, capa dos travesseiros e o
edredom e vou em direção a lavanderia. Aproveito e puxo outra bermuda do
varal e visto. Quando volto para o quarto, vejo a minha menina sentada no
chão em frente a porta do quarto do Júlio, assim que me vê chegando levanta
seu rosto minha direção e vejo as lágrimas caindo. Ela pula e corre para os
meus braços e sobe no meu colo, praticamente me escalando.
— Xiu meu amor, agora não é a hora de entrar em desespero. Ele
precisa que eu cuide dele nesse momento, quero que você vá para o quarto e
tente dormir. Sei que é difícil fazer isso, mas agora ele precisa de mim. Você
pode fazer isso meu amor, por mim? —Peço delicadamente, sabendo o
quanto ela também está sofrendo.
Ela me abraça forte e me dá um beijo no rosto e vai para o nosso
quarto. Eu encosto minha testa na parede e respiro fundo, para me manter no
controle. Ele precisa de mim, precisa que eu seja forte para ele e é o que
serei. Entro no quarto no exato momento em que o chuveiro é desligado,
então eu pego uma cueca em sua gaveta, junto com uma calca de pijama e
uma camiseta. Puxo uma toalha limpa do guarda roupa e vou para o banheiro.
Deixo tudo em cima do balcão, dando uma olhada rápida para ele e volto para
o quarto. Abro a janela para deixar entrar um ar, pego o colchão e levo para a
garagem, onde amanhã o jogarei fora. Não quero que ele se sinta
envergonhado, amanhã comprarei um novo. Vou para a área de serviço e
pego um balde com água, pano de chão e o desinfetante e volto para o quarto.
Ele ainda está no banheiro e eu aproveito para limpar tudo, antes que ele
possa sair. Faço duas viagens até a lavanderia quando ele sai do banheiro.
— Não precisava fazer isso, eu iria limpar. — Diz ele envergonhado.
— Então que bom que eu fiz, não é? Assim você não tem trabalho.
Vamos, vamos para sala e assistir um programa daqueles de reforma que
você tanto gosta. — Falo, passando o braço por cima do seu ombro e o
levando para a sala.
Eu ligo a TV e deixo ele sentado no sofá, vou até a cozinha e preparo
um leite quente com mel. Todas as vezes que tinha um pesadelo, minha mãe
fazia esse leite para mim. Até hoje, quando eu não estou bem
psicologicamente ou chateado com algum caso, minha mãe o faz para mim.
Coloco em duas canecas e volto para a sala. Me sento ao seu lado e entrego
uma das canecas para ele.
— Aqui, beba com calma que vai te relaxar. Minha mãe sempre fazia
para mim quando eu tinha pesadelos. — Falo enquanto ele toma o primeiro
gole.
— É gostoso. Tinha muitos? Quero dizer, os pesadelos? — Ele
pergunta baixinho.
O olho seriamente, ponderando se devo ou não contar a minha
história para ele. Até que eu decido me abrir.
— Muito, confesso que até hoje eu os tenho. Não com tanta
frequência desde que a Yza e sua irmã entraram na minha vida. Meu pai era
um homem totalmente abusivo, Júlio. Ele batia diariamente na minha mãe e
em mim. A maioria das tatuagens que eu tenho, foram feitas para esconder as
marcas que ele me deixou. Ele nunca abusou de mim sexualmente, mas sim
abusos físicos e mentais.
Não preciso decorrer cada detalhe do que foi feito a mim e a minha
mãe, basta ele saber que também sofri.
— Era?
— Sim. Graças a Deus ele morreu! Mas eu sofri até quase meus
dezoito anos. Ele morreu no dia em que quase matou a minha mãe. Ele bateu
tanto nela, que quando eu a vi pensei que estava morta. Eu tenho inúmeros
pesadelos daquele dia, e quando minha mãe estava sendo operada eu recebi a
notícia de sua morte. E sabe o que eu senti?
— O que?
— Me senti em paz. Pela primeira vez na vida, me senti tranquilo,
aliviado.
— Você acha que um dia eu poderei me sentir assim? Que sentirei
paz?
— Eu acredito. E estaremos com você lado a lado. Lutaremos com
você em busca dessa paz. Todos nós, Yza, eu, seus tios e tias, suas avós e seu
avô, Otávio e Roberto. Todos nós estaremos juntos nessa empreitada.
— Eu... Eu me sinto vazio, como se faltasse um pedaço de mim. A
cada pesadelo que tenho, é como se a vida fosse se esvaindo de mim aos
poucos. Me sinto em um mar de lixo, sabe aquele documentário que
assistimos um dia desses? Onde aparecia um monte de lixo no mar? Eu me
sinto assim, boiando em meio a tanto lixo, sendo parte daquela sujeira. Não
sei se um dia irei me recuperar ou superar isso, estou tão cansado Gael, tão
sem vida.
Porra se não é uma das piores coisas a se ouvir de um menino tão
novo.
— Eu sei que o que você passou foi ruim e que deixou uma sequela
enorme em você. Um acontecimento desse porte, tem a tendência de nos
marcar para o resto da vida. Eu sei porque me senti assim por muito tempo e
sabe o que me fez mudar isso? Encontrar a minha Sweet. Minha vida só
voltou a fazer sentido, depois que eu a encontrei. Ela é maluca, me deixa
louco todos os dias, é mais carteira que a Maria e a Luna juntas, mas eu não
me importo. Porque ela é a razão de eu ter voltado a viver. E isso vai
acontecer com você, mas enquanto isso não acontece, você vai seguindo sua
vida. Vai estudar, vai trabalhar, e quando você menos esperar a sua vida vai
voltar a fazer sentido.
— Você acredita nisso? — Ele pergunta com os olhos banhados de
esperança.
— Eu tenho fé e você também terá. Nós somos aquilo que queremos e
não o que acham de nós. Posso te pedir um favor?
— Até dez!
— Quero que você faça um acompanhamento psicológico. Tenho o
numero de uma psicóloga, que trabalha com pessoas que sofreram abusos.
Quero que você se dê a oportunidade de seguir em frente, de procurar ajuda.
Eu ainda estarei ao seu lado, não custa nada ter uma ajudinha a mais, não é?
Ele me olha por um bom tempo antes de acenar que sim. Eu até
respiro aliviado depois da sua afirmação. Ficamos assistindo televisão até que
vejo seus olhos ficando pesados de sono. Eu pego a caneca vazia da sua mão,
acomodo seu corpo no sofá e ele adormece de vez. Vou até o quarto de
hospede e pego um travesseiro e um cobertor para ele. Depois que o cubro,
me sento no sofá ao lado e fico vendo seu peito subir e descer em um sono
tranquilo.
Fico pensando em tudo o que ele falou, das coisas que ele me contou
em meio ao seu choro desesperado. Acho que ninguém sairia inteiro depois
de ouvir suas confissões de puro terror, e eu não fui diferente. Acho que uma
parte de mim se quebrou naquele momento, e eu tenho a certeza que jamais
conseguirei colar de volta. A meta da minha vida será fazer esse garoto voltar
a viver, a se sentir digno. Ou não me chamo Gael D’Ávila!

Nada no mundo me feriu mais do que ver o meu menino destruído


daquele jeito. Nem saber que meu irmão Donatello pensou em acabar com
sua vida, ou o desespero do Dylan quando sua mulher foi sequestrada. Isso
me feriu muito, mas não tanto como ver o desespero na voz do Júlio.
Eu ouvi cada palavra proferida, eu ouvi seu choro desesperado. E isso
me mata por dentro, mata saber que ele pensa tão pouco de si. Como se ele
tivesse culpa por tudo o que aconteceu com ele. Ele não entende que foi
vítima daquele monstro, que o único culpado é aquele crápula do padrasto
dele que a essa hora deve estar sentindo toda a força do ódio que sinto por
ele.
Não tenho vergonha por mexer meus pauzinhos, fiz e faço
novamente. Deixa só ele se recuperar que tomará outra surra, e vai acontecer
isso até que ele morra ou se mate. Já que eu não posso fazer isso
pessoalmente, encontrei quem faça. Conheço Deus e o mundo nesse lugar e
com certeza encontrei alguém que tinha conhecidos na prisão. Um bom
dinheiro aqui, um pedido ali e pronto!
Depois do Gael pedir para eu ir paro o quarto, estou aqui olhando para
o teto e pensando na vida. Minha vida deu um giro de trezentos e sessenta
graus em um curto espaço de tempo, e não me arrependo de nada. Não me
arrependo de ter conhecido e me apaixonado pelo Gael, não me arrependo de
ter encontrado a minha ursinha, e muito menos de ter um filho um pouco
mais novo que eu. Não me importo com o tamanho da sua bagagem, eu o
ajudarei a carregar e lutarei com cada monstro que estiver em sua cabeça.
— Bom dia mamãe! — Minha ursinha diz sonolenta e só então reparo
que já amanheceu.
— Bom dia minha ursinha linda.
— Onde está o ursão? Ele já acordou?
Ela é apaixonada pelo pai, nunca vi nada igual. Quer dizer, eu
também era assim com o meu pai e super entendo ela.
— Acho que ele dormiu na sala, vamos lá vê?
E de mãos dadas vamos para a sala, só para encontrá-lo dormindo
sentado no sofá. Júlio também está desmaiado no outro, seu rosto abatido e
olheiras fundas.
— Eles tiveram uma festa do pijama e nem me convidaram! — Maria
diz emburrada.
— Meu amor, eles também precisam de um tempinho de meninos. —
Falo sorrindo.
— Pensei que o tempinho de meninos é quando eles vão na doceria
sozinhos. — Ela dá uma risadinha.
Júlio começa a se mexer no sofá, até que desperta totalmente. Ele abre
os olhos e olha para Gael, Maria dá uma risadinha abafada e seus olhos viram
em nossa direção.
— É... Bom dia. — Ele diz envergonhado.
— Bom dia maninho. — Maria corre para abraçar o irmão.
Gael também acorda e olha em volta desorientado, até que seus olhos
amolecem quando param nos dois irmãos.
— Bom dia! — Ele diz com aquela voz grossa e rouca de sono,
fazendo minha pele se arrepiar instantaneamente.
— Papai! — Maria corre para os braços do ursão. — Não vale ter dois
tempinho de meninos com o Juju. Agora você também tem que ter um dia de
menina comigo, pintar a unha, fazer penteado e maquiagem.
— Não, não, nada de dia das meninas. Da última vez, fui trabalhar
cheio de glitter no cabelo e cheirando a morango.
— Mas não foi culpa minha papai!
— Foi sua sim, foi tomar banho no meu quarto e deixou suas coisas
de menina no lugar das minhas. Demorei dois dias para tirar todo aquele
glitter do meu corpo, nem sabia que um shampoo poderia ter tanto brilho
assim! — Gael diz sério e Maria cai na risada.
Me lembro desse dia, Gael chegou cansadíssimo do trabalho, e ainda
tinha poucos dias que tinha sarado de uma gripe e ainda estava abatido e com
o nariz entupido. Caiu desmaiado na cama e acordou super atrasado para uma
audiência, tomou banho com o sabonete da Maria, que tinha esquecido no
nosso banheiro. Eu até tentei falar, mas antes que eu pudesse dizer alguma
coisa ele já tinha ido embora.
— Está bom, mas eu não deixei mais minhas coisas de menina no seu
banheiro. Mas eu ainda quero um dia de meninas papai!
— Que tal você ir trabalhar comigo hoje? Assim você conhece meu
trabalho. Não vou demorar e logo depois vamos para a fazenda.
— Eba!
— Então vai tomar banho ursinha, depois vou escolher uma roupa
para você. Deixa só eu ligar a máquina de café. — Falo indo para a cozinha.
— Pode deixar que eu cuido da roupa dela. — Júlio diz e antes que eu
possa falar alguma coisa, ele já está saindo da sala.
Eu respiro fundo para não falar nada. Eu sei que ele se sente
responsável pela irmã, mas quando ele está em casa não me deixa fazer nada.
Até a roupa dela ele anda colocando na máquina de lavar.
— Deixa ele Sweet, logo ele acostuma. — Gael diz me abraçando. —
Bom dia meu amor.
— Bom dia Ursão.
— Agora não, mas mais tarde vamos ter uma conversa muito séria
mocinha. — Ele diz mordendo meu pescoço.
— Sobre?
— Sobre um certo alguém que levou uma surra.
— Não sei do que você está falando! Vou tomar um banho, você pode
ligar a máquina de café? — Pergunto e antes dele responder, corro para o
meu quarto para tomar um banho.
Porra! Como ele ficou sabendo?
Hoje meu dia será tranquilo, só tenho que assinar alguns papéis e
olhar dois processos. Coisa rápida, por isso trouxe a ursinha comigo. Ela olha
tudo completamente encantada, cumprimentar a todos que me param com
muita educação e um sorriso lindo no rosto.
— Papai, porque todos te olham assim?
— Assim como ursinha?
— Não sei explicar. Não é medo, é outra palavra! — Ela diz confusa.
Estamos sentados na minha sala, eu na minha cadeira e ela na
mesinha de centro com lápis de colorir e folhas de sulfite.
— A palavra certa senhorita, é respeito. — Maurício diz entrando na
sala. — Olá pequena ursinha, já ouvi falar muito sobre você. Esse urso
rabugento está te tratando bem?
— Meu Ursão não é rabugento! — Maria diz olhando feio para
Maurício.
— Não ligue para ele Ursinha, ele é um velho bobão. Deixa minha
menina em paz idiota!
— Porra! Você tem uma defensora de calibre aqui Gael. — Maurício
diz rindo.
— Papai, você falou uma palavra feia e agora tem que me dar dez
reais para o pote de palavras feias. — Minha ursinha diz com as mãozinhas
estendidas.
— Isso está ficando muito caro! Você e sua mãe vão ficar ricas as
minhas custas. —Reclamo, mas entrego a nota para ela.
— A mamãe é quem coloca mais dinheiro no pote, ela apenas pega o
dinheiro da sua carteira. — Ela diz rindo.
— Maria, esse é o Maurício. Amigo do papai, Maurício essa é minha
ursinha Maria.
— Ei ursinha, vamos fazer as pazes? — Maurício diz na cara de pau.
— Você tem que me dar uma nota de vinte reais, para colocar no meu
pote de palavras feias.
— Porque seu pai te da dez reais e eu tenho que te dar vinte? Você
está me extorquindo menina!
— Sua palavra foi mais feia que a do meu Ursão. Não tenho nada com
isso, minha tia baby quem fez as regras. — Ela diz séria e estende a mão para
ele que entrega uma nota de cinquenta.
— Maurício!
— Estou deixando dinheiro em caixa, tenho certeza que antes de eu ir
embora já terei gastado meu crédito com ela.
Maurício é um idiota. Se as meninas continuarem nesse caminho, vão
fazer seu primeiro milhão antes dos quinze. Maria volta a se concentrar nos
desenhos e Maurício puxa uma cadeira e se senta ao meu lado.
— Cara, a Mulher cantou igual um canário. Entregou Deus e o
mundo, a polícia vai colocá-la no seguro até a audiência. Gael, tem peixe
grande nessa merda, deputados, governadores, a porra toda da alta sociedade.
— Maurício diz baixinho me entregando uma pasta.
Puta que pariu! A cada página que folheio é um palavrão que grito em
minha cabeça. Isso aqui é caso de federal, se essa mulher testemunhar a
merda vai bater no ventilador e fodeu. Políticos renomados, são financiadores
de vários prostíbulos e casa de leilão de mulheres e crianças.
— Você mostrou isso pro Josafá?
— Ainda não, quis mostrar primeiro pra você. Gael é merda até dizer
chega, isso vai quebrar a banca. Não sei se é a melhor opção nós nos
envolvermos. A retaliação é certa.
Pego meu telefone e ligo para o Josafá.
— Ei Josafá, como vai? A está aqui, ok te espero na minha sala. —
Falo rapidamente e desligo logo em seguida. — Ele acabou de chegar, em
cinco minutos já estará aqui.
Levanto lentamente e vou até a minha secretária.
— Dona Marina, preciso de um imenso favor. Josafá está chegando e
preciso passar algumas coisas muito sérias para ele. Mas minha filha está
aqui, hoje era para ser um dia calmo, mas pelo visto me ferrei. Você pode
levá-la para tomar um lanche ou um sorvete? Coisa de meia hora no máximo.
— Claro menino! Sua menina é um doce e não será incômodo
nenhum. — Ela diz sorrindo e eu volto para a minha sala e me abaixo ao lado
da minha menina.
— Ursinha, Dona Marina vai levar você para um passeio para tomar
um lanche ou um sorvete.
— Conversa de adulto? Tudo bem, posso tomar um sorvete de uva?
— Pode sim meu amor, mas não exagere porque você tem que
almoçar, ok?
— Tudo bem ursão. — Ela arruma suas coisa, então segura minha
mão e eu a levo para Dona Marina.
Assim que elas estão saindo, Josafá entra na sala e olha para mim e
depois para Maria. Eu assisto elas sumirem de vista e depois me volto para
ele.
— É a sua menina? — Pergunta curioso e eu digo que sim. — Linda
menina Gael, parabéns.
Assim que todos nos acomodamos, passo tudo o que Maurício
descobriu. Entrego a pasta com os documentos e o testemunho em suas mãos,
e ele analisa tudo com muita atenção.
— Caralho! Não posso acreditar nisso, eu já me encontrei com a
maioria desses nomes que estão nessa lista. Isso aqui é muita coisa, eu
imaginava que era grande, mas não nessa proporção. Não sei se vai dar para
desmembrar o caso, preciso conversar com o meu contato na federal. Essa
merda é das grandes, e se bater no ventilador vai ser feio. Não quero que nada
chegue até vocês, merda, não quero que chegue até a mim e olha que sou um
dos maiores interessados. — Ele diz assombrado.
— Foi o que pensei. Essa merda vai foda Josafá e se não tomarmos
cuidado, vai acabar respingando na gente. Também tenho alguns contatos na
federal, podemos marcar um encontro em um lugar neutro e abrir o caso para
eles e ver o que tem a nos dizer.
— É a melhor coisa a fazer Gael. Essas pessoas são peixe grande, sem
escrúpulos nenhum e capazes que fazerem uma queima de arquivo fodida. Se
o que essa mulher disse for verdade, se ela tiver essas provas eu entrego o
caso para a federal e tiro meu time de canto. Eles vão saber o que fazer,
aonde agir e como agir. — Maurício diz sério, pela primeira vez eu vejo ele
sério realmente.
Repassamos tudo novamente, analisamos todas as pastas do caso. Eu
mando uma mensagem para os meus amigos da federal, meu amigo ficou de
me mandar um local exato para o encontro. Josafá também liga para o seu
conhecido, e nos acertamos de marcar um local e uma data. Meia hora
depois, Marina volta com uma Maria suja de sorvete, e com um saco enorme
de jujubas.
A Yza vai me matar!
— Papai! A Dona Marina é muito legal, nós tomamos sorvete e ela
ainda comprou jujubas. — Diz toda faceira.
— Você enrolou a Dona Marina, Ursinha? — Falo segurando o riso
com a carinha que ela faz.
— Não sei, eu fiz dona Marina? — Ela pergunta duvidosa.
— Não princesa, em nenhum momento. Agora vou voltar para o meu
posto. Vocês querem café? — Marina pergunta.
— Por favor Marina. — Espero ela sair e chamo a Maria para sentar
ao meu lado. — Filha, esse é um amigo do papai. Seu nomes é Josafá e ele é
um juiz igual a mim e é ele que está ajudando nos papéis da adoção.
— Mas nós já temos esse papel, não é? Eu já sou sua filha e o Juju é
seu filho! — Ela me olha ansiosa.
— Sim, mas aqueles papéis são provisório. Ele está preparando os
definitivos.
— O senhor vai me tirar do meu pai? Não pode não, a minha mamãe
é muito brava e vai brigar com você. Se quiser eu posso devolver as jujubas,
eu não comi nenhuma ainda ai você não me tira do meu ursão? Eu devolvo o
dinheiro do tio Maurício, você quer? —Maria desembesta a falar, suas mãos
tremem e seus olhos enchem de lágrimas.
— Não meu amor, eu não vou tirar você dos seu pai. Posso ver que
você gosta muito do seu pai, você pode ficar com as jujubas meu bem. E
porque o Maurício de deu dinheiro? — Josafá diz calmamente e minha
ursinha relaxa.
— Porque eu tenho um pote de palavras feias, e toda vez que alguém
fala uma tem que colocar dez reais. O tio Maurício falou uma muito feia,
então era vinte e ele me deu uma de cinquenta. Agora ele tem crédito, foi o
que ele disse. — Maria explica e vem para o meu colo.
Todos rimos e Josefa faz várias perguntas para a minha menina. Se
ela gosta da sua nova casa, se gosta da sua nova mãe, se já está indo para a
escola. Meia hora depois Maurício e Josafá vão embora, e Maria fica vendo
desenho no meu celular. Assim que me dou por satisfeito, começo a guardar
minhas coisas, entrego umas pasta para Marina e dou fim ao meu expediente.
— Ursinha, vamos embora? Estou morrendo de fome, você não está?
Podemos comer em algum lugar ou almoçar na fazenda.
Mas antes que ela posso me responder, um furacão loiro entra
intempestivo na minha sala, chamando a atenção da minha menina que já
estava guardando seus desenhos.
— Meritíssimo! Já está pronto para irmos almoçar? — Zia diz e vem
me abraçar e Maria fecha a carinha, fazendo cara feia.
Abraços são normais entre Zia e eu, mas nada tão meloso assim. Não
estou entendendo o porquê de suas atitudes. Nosso cumprimentos sempre
foram rápidos, nada muito demorado ou pessoal demais. Mas Zia passa seus
braços pelo meu pescoço e parece que está me cheirando.
Que porra é essa!?
Afasto seus braços do meu pescoço e dou um passo para trás, a
olhando seriamente.
— Zia...
— Nossa Gael, você está mais lindo que nunca e muito mais forte.
Tem andado malhando? — Ela pergunta alisando meu peito e nesse exato
momento minha ursinha deixa cair a lata de lápis no chão e me olha muito
feio.
Porra estou muito fodido nessa vida! Pela cara da minha filha, hoje eu
não durmo na minha cama.
— Essa é a Maria...
— A sim, a menininha de rua. Não sabia que ela ainda estava sobre
sua guarda? Olá querida, logo, logo iremos arrumar uma casa para você e
assim ficará livre desse homem rabugento. Logo você terá uma mãe e um pai,
e eu ficarei com ele todinho para mim — Zia fala secamente.
— Eu já tenho uma casa, um pai e uma mãe. — Maria retruca batendo
os pés no chão, seus olhos cheios de lágrimas e suas bochechas vermelhas.
— Já!? Então precisamos ligar para eles virem te buscar, ou eles te
deixaram aqui? Só um minuto Gael, vou ligar para uma assistente social e
então podemos almoçar juntos. — Zia diz mexendo no celular.
Eu rapidamente tomo o celular da sua mão, deixando-a surpresa.
— Já chega Zia! Nunca vi você agindo assim. Por um acaso não se
deu conta que está falando com uma criança? Uma menina de seis anos!?
Maria já tem um pai e sou eu o pai dela!
— Sim, ele é meu pai e eu também tenho uma mamãe que é o amor
dele. Eu tenho uma casa e uma família bem grande! Eu quero ir embora
papai, não gosto dela e minha mãe também não vai gostar. — Maria diz
nervosa.
— Você adotou essa menina!? Ela já te chama de pai? Que merda
Gael. Você está namorando a pouco tempo e essa menina já a chama de
mãe!? — Zia diz revoltada.
— Ursinha, leva esses papeis para dona Marina? E fique um
pouquinho lá com ela, enquanto converso com a Zia.
Ela me olha feio, cheia de ciúmes pega o papel com tudo das minhas
mãos e sai pisando duro para fora da minha sala.
— Que porra é essa!? Que merda que te deu para agir assim? Você
nunca fez merdas como essas. Nunca ficou me abraçando, me alisando e
muito menos me cheirando e você sabe que eu tenho mulher. Ela não é minha
namorada Zia, ela é minha mulher! Agora me diz que porra está
acontecendo!?
Eu estou puto da vida, não apenas por suas atitudes esquisitas, mas
pelo jeito que ela tratou a minha filha. Ela agiu sem um pingo de sentimento,
chamando-a de menininha de rua. Essa não é a Zia que eu conheço, não é a
amiga que passei a considerar como uma irmã. E o que me deixa ainda mais
puto, é que a minha Sweet vai ficar furiosa quando a Maria contar e pode ter
certeza que ela vai!
— Eu estou normal Gael. Achei que essa coisa com a nova mulher em
sua vida, era apenas passatempo. Agora fico sabendo que você está adotando
uma criança!? O que sua mãe acha disso? Aposto que ela não sabe que o filho
está completamente surtado. Esse não é você Gael, você não se envolve, você
é como eu, sem sentimentos, não gosta de relacionamentos.
Essa eu uma pessoa que não conheço. Essa é uma Zia completamente
diferente. Eu estou abismado e até ouso dizer que estou assustado com sua
declaração.
— Escuta Zia, nós somos amigos de trabalho. Te ajudei em um
momento que estava precisando, te apoiei no que quis fazer e te direcionei
para a direção que queria seguir. Mesmo te considerando uma irmã, pois o
carinho que tinha por você sempre foi fraternal, nunca fomos íntimos assim.
Você não sabe da minha vida mais do que desejei contar, minha vida pessoal
é isso. Pessoal. Você não me conhece, você não sabe do que eu quero ou
gosto, então por gentiliza não volte a fazer isso novamente.
Ela me olha séria, me analisando minuciosamente como se tivesse
procurando por alguma coisa.
— Nós somos amigos Gael, sempre fomos. Você nunca falou que
queria filhos. Porra você nunca disse que gostava de crianças! Aposto que
você está sendo obrigado pela sua nova namorada. Mas não precisa ser assim,
você não precisa fazer o que não quer. Eu posso arrumar um lar para essa
menina, basta um simples ligação para o conselho tutelar. Para começo, nem
achei certo você ter ficado com ela. Agora ela está emocionalmente ligada a
você, te chamando de pai e será muito mais difícil para ela se adaptar em
outra família. Mas posso dar um jeito nisso, mandarei alguém até sua casa
buscá-la. — Ela ainda insiste e isso me tira do sério.
— Você está se ouvindo!? Você sequer ouviu o que eu disse, Zia? Eu
não te devo satisfações da minha vida, de quem eu namoro ou deixo de
namorar. Você não sabia que eu gostava de crianças, porque não vi
necessidade de contar para você. E sequer pense em ligar para arrumar um
novo lar, porque aquela menina é minha filha e eu irei até o inferno, Zia, e te
destruo se fizer alguma coisa a ela. Estamos entendidos, porra!? — Grito na
sua cara completamente transtornado com o que ela falou.
Como posso ter me enganado tanto com uma pessoa. Eu a tratava
como uma irmã, nunca dei a entender que queria alguma coisa a mais com
ela. Ela está agindo como se fosse uma mulher traída, como se eu devesse
satisfação a ela.
— Você está fora de si! Sofreu uma lavagem cerebral, só isso explica
o que você está fazendo. Eu sempre estive do seu lado, sempre fui a pessoa
certa pra você. Nós combinamos em tudo, nossas profissões, nosso passado,
nós gostamos das mesmas coisas, temos os mesmos amigos, queremos as
mesmas coisas da vida e principalmente não queremos crianças nela! Mas
deixarei isso de lado e semana que vem, voltamos a conversar. — Ela diz e
me dá um beijo no canto da minha boca, antes que eu possa empurrá-la ela
sai do mesmo jeito que entrou. Feito um furacão.
Eu fico olhando para a porta, completamente abismado com o que
aconteceu aqui. Eu não entendo suas atitudes, nunca dei a entender que
queria algo com ela. Eu sempre a tratei com todo respeito, mas como disse,
pensava nela como uma irmã. Me orgulhava dela por ter passado por tudo e
mesmo assim ter dado a volta por cima. Ela se empenhou em mudar de vida,
processou o ex-marido depois de todo o mal que ele causou. Entrou para a
faculdade, se formou como uma das primeiras da sala. Eu até mesmo fui a
sua formatura! Vi ela subindo cada degrau da sua carreira, se tornou uma das
melhores promotoras da cidade.
Eu estou sem palavras.
— Podemos ir embora? Eu quero a minha mãe. — Maria diz toda
triste.
— Vem aqui filha. — Eu a chamo para os meus braços e pela
primeira vez, desde que nós conhecemos ela se recusa a vir.
— Eu quero a minha mãe, você pode chamar ela? Ela pode vir me
buscar.
Vê-la assim, tão tristinha me parte o coração. Sei que ela ficou
magoada com tudo o que a Zia disse, mas eu nunca, jamais, faria algo
parecido. Eu vou até ela e a pego no colo. Seu corpo está tenso, ela não me
olha nos olhos, seu rostinho de boneca está molhado com suas lágrimas.
Zia filha da puta!
— Ei! Você é minha ursinha e eu amo você demais filha. Não fica
pensando em nada do que ela falou, eu jamais faria isso com você. Você é
minha princesinha, minha menina linda e eu sou o seu papai e ninguém vai
tirar você de mim, ok?
Ela fica me olhando, e longos segundos depois ela acena com a
cabeça.
— Podemos ir embora? Não quero mais ficar aqui, eu quero a minha
mamãe. Me leva para ela?
— Eu levo meu amor. Pega as suas coisas, vamos deixar para comer
na fazenda.
— Não estou mais com fome. Só quero a minha mãe.
— Tudo bem ursinha, vamos levá-la para sua mamãe.
Pego minhas coisas, a chave do carro e saímos do escritório. Marina
me dá um olhar bravo, e se despede da minha Maria. Então vamos embora
em direção a fazenda. Maria vai quietinha no seu acento, e eu fico olhando
para ela pelo espelho retrovisor.
Um dia que era para ser divertido, se tornou uma merda das grandes.
Em uma escala de zero a dez, o quanto vocês acham que eu estou
fodido?
A Yza vai acabar com a minha vida, isso é fato. Principalmente
quando ela souber tudo o que a Zia falou. Estou tentado a dar meia volta e
fugir no mundo.
Chá de lingerie da minha cunhada!
Lila, Hanna, tia Luz, minha mãe e eu, bolamos uma surpresa para
Katrisca. Como ela não tem amigas aqui tirando nós, combinamos um chá
muito legal para ela. Katrisca passou por um susto enorme e precisa de um
agrado. Combinamos de montar as coisas na casa de hóspedes, meu irmão vai
trazê-la mais tarde, minha mãe encomendou o bolo e os salgados. Agora
estou no carro indo para a fazenda junto do meu menino, já que a minha
ursinha traidora foi trabalhar com o pai.
— Não posso ir para a construtora? — Júlio pergunta.
— Hoje não amigo, hoje você vai passar um tempo com seu avô e
seus tios. Daqui a pouco o Gael chega e vocês terão um tempo de meninos. O
Otávio também vai vim, e eu bem poderia usar o seus músculos para ajudar
na decoração.
— Mas eu nem tenho músculos! — Ele diz dando um sorrisinho de
lado.
Já é alguma coisa.
— Olha que legal então! Com o esforço que você vai fazer, é capaz de
arrumar alguns. — Digo rindo.
— Yza?
— Oi, tudo bom?
— Você é bem maluquinha mesmo. Posso te perguntar uma coisa? —
Ele diz envergonhado.
— Tudo o que você quiser.
— Se eu não quiser ser um juiz, você ficará triste?
— Jamais meu amor, tudo o que eu quero é que você seja feliz. Mas
eu pensei que você quisesse ser arquiteto, já que gosta tanto de ajudar o
Tavinho.
— Eu gosto, mas eu achei que se eu fizesse outra coisa que não fosse
Direito, vocês ficariam chateados e se arrependeriam de me adotar.
Na mesma hora freio com tudo, e olho assustada para ele.
— De onde você tirou essa merda!? Jamais faríamos isso bebê, você
pode escolher estudar o que quiser. É a sua vida, são as suas escolhas. Você
tem tempo para decidir e escolher o que quer ser, sei que você é meu pequeno
Einstein, mas tem que fazer tudo no seu tempo, ok?
— Ok!
— Muito bem! — Falo e volto a dirigir.
— Eu ainda estou indo falar para o Gael, que você dirige feito doida.
— Ele diz me provocando.
— Se ficar quietinho, prometo guardar os docinhos da festa para você.
Olha aonde chegamos meu Deus! Chantageando a criança com doces,
que mãe é essa!?
— Fechado.
— Garoto, garoto, olha a mãe que você está me obrigando a ser. Uma
mãe que chantageia o próprio filho! Que absurdo.
— Meu ganho, sua perda. Como você diz mesmo? Aaaah lembrei,
aceita que dói menos. — Ele diz rindo solto.
Eu daria uma fábrica inteira de doces para ele, pagaria a mulher dos
docinhos para viver lá em casa fazendo doces só para vê-lo sorrir assim.
Chegamos na fazenda, quase ao mesmo tempo que a Lila. Vejo ela
debruçada na janela do motorista, no maior beijasso com o Tavinho. Júlio sai
do carro e tampa os olhos rindo baixinho.
— Meu Deus que pouca vergonha! Fecha os olhos meu filho, isso é
atentado ao pudor e você é muito novinho para ver uma coisa dessas.
— Yza! — Lila diz brava.
— Ei garoto! — Otávio mexe com Júlio.
— Você ainda tem oxigênio para falar Otávio!? — Júlio faz uma cara
surpresa, provocando os dois.
— Júlio César, pare com isso! — Lila diz vermelha de vergonha.
— Lila Vidal, não deixarei mais o meu menino com você! Júlio, será
que você vê cenas como essa na casa deles? — Eu continuo a provocar, e
saio correndo puxando o Júlio comigo quando ela ameaça correr atrás de
mim.
— Que gritaria é essa!? — Meu pai fala aparecendo na entrada.
— Uma pouca vergonha meu velho! Acredita que a Lila e o Tavinho
estavam um engolindo o outro? — Falo piscando pra ele.
— Otávio Valverde, você está abusando da minha menina inocente?
Será que tenho que pegar a minha arma e chamar meus filhos e genro!? —
Meu pai diz, entrando na brincadeira.
— Calma sogrão, acho que quem está sendo abusado nesse namoro
sou eu. Acho bom o senhor ir preparando o dote, meu pai ficará muito
chateado quando souber que seu menino está sendo abusado por essa
bruxinha. — Otávio diz rindo.
— Vocês são impossíveis! Tchau Otávio. — Lila diz saindo de perto
do carro.
— Tchau gostosa! — Otávio buzina e vai embora.
Entramos na sala e quase todos já estão a postos. Hanna e Don estão
enchendo os balões, minha mãe está amarrando no cordão para fazer um
arco. Tia Luz está soltando uns rococós, sei lá o que ela vai fazer com eles.
— Bom dia família!
— Bom dia irmãzinha, bom dia Júlio. — Meu irmão cumprimenta.
— Bom dia a todos. Posso ajudar em alguma coisa? Tipo assistir
televisão? — Júlio diz todo cheio de gracinha.
Hoje ele está mais leve, mais extrovertido. Achei que depois do
pesadelo de ontem, ele estaria para baixo, triste, mas não, alguma coisa
mudou. Mas não me pergunte o que!
— Nada disso mocinho, você vai nos ajudar aqui. Temos balões para
arrumar, mesa para decorar, e você vai nos ajudar junto com seus tios. Só não
podemos deixar que ela descubra. — Minha mãe diz rindo.
Júlio olha para mim consternado e começa a encher os balões.
— Onde está a minha netinha? — Meu pai pergunta curioso.
— Aonde o senhor acha, papai? Grudada naquele pai dela! Gael foi só
resolver umas coisas e a levou junto, juro que se essa menina chegar suja de
doce eu mato ele.
— Então acho bom escolher suas armas de tortura, furacão. Gael faz
tudo o que as crianças querem. — Donatello me provoca.
— E sua mãe Hanna? Está mais que na hora desse almoço acontecer!
Nós podemos fazer alguma coisa na chácara, assim ela não tem que se
locomover tanto.
— Mamãe está bem, combinamos de fazer um almoço depois do
casamento do Dylan. Eles até viriam para o casamento, mas eles vão viajar
para a consulta quinzenal no instituto. Ela até queria faltar, tentou remarcar,
mas o médico foi categórico. Nada de faltar a consulta, porque o caso é
delicado e precisa de toda a atenção possível e já estava tudo agendado com
os outros médicos que ela se consulta. — Hanna diz.
— Não se preocupe meu amor, logo, logo esse almoço sai. Sua mãe é
uma mulher incrível, sabemos que essa doença é terrível e o médico está
certo mesmo. Tem que cuidar por que o progresso da ELA é agressivo. —
Minha mãe fale carinhosamente.
Graças a Deus e ao tapado do meu irmão, meus pais conheceram os
pais da Hanna. Donatello pediu a mão dela em casamento para João e dona
Cidinha. Essa doença é uma desgraça, só espero que demore bastante para
que o pior aconteça.
Levamos tudo para a casa de hóspedes, e deixamos a sala arrumada
para que a Katrisca não desconfie de nada. Minha mãe, Lila e tia Luz,
começam a embrulhar os presentes e colocar na mesinha ao lado da poltrona
aonde a Katrisca vai se sentar. Minha sogra chega duas horas depois e mete a
mão na massa também, minha mãe é a mais louca das mães, e tira de dentro
de uma caixa vários produtos eróticos. Até algemas tinha no meio! Todas nós
caímos na risada, e minha mãe começa a discutir os benefícios de uma vida
sexual ativa.
Tudo o que eu queria ouvir! Minha mãe falando da sua relação sexual
com meu pai. SOCOROOOO!
Katrisca chegou, e chorou quando viu a festa. Fizemos brincadeiras,
ela abriu os presentes e amou tudo. A comida estava magnífica, Lila, Hanna e
eu, abusamos do vinho. Até minha sogrinha estava alegrinha e começou a
soltar sobre sua amizade com o Douglas Castro, avô da Luna. Minha tia Luz
conta sobre seus encontros com Roberto e Lila a enche de perguntas sobre o
coroa.
— O homem tem potência minhas caras. Ele está na flor da idade, e
vocês sabem, né? Sou adepta ao Yoga a anos, então sou muito flexível. —
Diz tia Luz com carinha de safada. — Sei algumas posições inusitadas e o
Beto fica louco! O homem tem um fogo que só Jesus na causa.
Minha tia transa! Jesus me leva!
A conversa rola solta sobre sexo, Lila conta sobre o desempenho do
Tavinho.
— Então o Otávio tem a quem puxar! O homem é um furacão na
cama. O tipo de homem que sabe o que quer, mandão, possessivo, só falta me
jogar na parede. Não pera ai, ele faz bastante isso. — Ela diz rindo alto.
— Não é justo! Hanna e eu saímos perdendo nessa brincadeira. Aqui
está a mãe e a irmã dos nossos homens. — Katrisca diz brava.
— Solta os podres Kat, até o final da noite já estarei bêbada e não me
lembrarei que os meus irmãos transam.
— Então tá! O Dylan é insaciável, tem um fogo que puta que pariu.
Ele é todo territorial e ao mesmo tempo ele é tão delicado. Ele desperta um
furacão em mim, basta ele chegar perto que quero transar com ele. —
Katrisca diz empolgada.
Levanto e abro mais uma garrafa de vinho. Pelo visto vou precisar.
— E você Hanna Banana? Desembucha! Você com essa carinha de
santa, deve transar mais que chuchu na serra. — Minha mãe fala provocando
a Hanna.
— Seu filho só tem cara de anjo. Aquele ali de anjo não tem nada,
Belle. Donatello na cama é dominador, nada de chicotes e algemas, apesar
que seria interessante experimentar. Ele tem um fogo e por ele vivia pelada,
espalhada na cama esperando por ele. Mas não tenho com quem comparar,
ele foi meu primeiro. — Hanna diz ficando vermelha quando se dá conta que
falou demais.
— Esse é o meu bebê! Entre Dylan e Donatello, acho que o Don é o
mais intenso. Mesmo ele sendo o mais descontraído, o mais divertido, o
jeitinho dele nunca me enganou. Dylan sempre foi ciumento, mas Donatello?
Ele é a possessividade em pessoa, e cuida muito bem do que é dele. — Minha
mãe diz alegre, alegrinha demais para o meu gosto.
— E você princesinha? — Lila pergunta debochada.
Eu olho para minha mãe e depois para Marta que está vermelha de
todo o vinho que bebeu.
— Eu já estou bêbada norinha, pode falar. — Ela diz rindo.
— Vocês já viram o tamanho do meu homem? Gael é uma máquina
na cama meus amores! Minha vontade é de ficar vinte quatro por quarenta e
oito, montada nele. Ele é forte, seu corpo é uma delícia e seu pau? Aaaah seu
pau é minha sobremesa preferida no mundo todo. Gael é perfeito em fazer
amor, mas quando me fode com força... Puta que pariu! Estou muito bêbada.
— Acabo rindo das minhas próprias merdas.
— Essa tem a quem puxar! — Mamãe gargalha alto.
A putaria acaba quando Luna e Maria chegam. Fadinha como sempre
se torna o centro das atenções, briga com a mãe sobre não ter chamado ela
para a festa. Mas logo esquece e se acaba nos doces. Observo a minha
ursinha, seu semblante é triste, os olhinhos caídos e avermelhados. Ela não
me olha, vai logo para os braços da Marta.
— Como foi trabalhar com o papai hoje meu amor? — Marta
pergunta para a minha filha.
Maria olha para Luna com atenção, enquanto a fadinha sobe no colo
da Katrisca com um doce na mão. E só depois de ver a prima segura, ela
responde a sua avó.
— Foi legal, todo muito olha com respeito para o Ursão vovó. E todo
mundo me tratou super bem, só não gostei de uma moça que foi ver meu pai.
Ela já chegou abraçando o meu pai, e toda hora ficava alisando a camisa dele
como se tivesse arrumando. Ele me apresentou para ela sabe, ela sorriu e
disse que logo eu arrumaria uma família para mim.
— O que!? — Pergunto indignada.
— Ela me chamou de menininha de rua e falou que ia arrumar uma
família para mim, e que logo eu não teria que aturar o mal humor do Gael e
ela teria ele só para ela. Eu não gostei dela não, mas ela é bem bonita. —
Maria fala toda inocente.
— Ela é bonita não é? Mas logo deixará de ser quando eu vê-la! Qual
é o nome da moça bonita filha? — Yza pergunta.
— Zia. Ela trabalha no serviço do meu pai. Eu não gosto dela mamãe!
— Olha que linda! Segunda-feira irei fazer uma visita no gabinete do
meritíssimo Juiz.
— Mas você disse que já tem uma família Malia? Que não pecisa de
outa não? Poque você é minha pima gande, e já tem uma família bem linda
da vida toda! Você falou? —Luna pergunta séria.
— Eu falei que já tenho um pai e uma mãe e uma família bem bonita!
E o meu pai falou que eu sou filha dele, ela fez uma careta engraçada por que
meu pai falou bem bravo. Ai meu pai pediu para levar uma pasta para a dona
Marina e eu sai, mas escutei meu pai gritar. Vovó, você acha que o meu pai é
doido porque ele me adotou? — Maria pergunta para Marta.
— Lógico que não meu amor, eu amo que ele me deu uma netinha
linda e um neto inteligente. Não ligue para o que aquela mulher falou, ok? —
Marta diz abraçando a minha filha.
— Meu pai brigou feio com ela.
— Muito lindo esse Usão! Melece um montão de beijos, pela ai que
eu já volto, não come todos os doces não! — Luna diz e sai correndo e Maria
vai atrás.
— Filha, não se irrite. O Gael já colocou ela no devido lugar, não vale
a pena se chatear por pouca coisa. — Minha mãe me aconselha.
— Eu sei mamãe, mas não custa nada eu ir fazer uma visita, não é
mesmo?
— Eu gosto muito da Zia, ela tem uma história triste demais. Mas eu
sempre falei para o meu filho, que ela nutria sentimentos por ele. Gael a trata
como uma irmãzinha. — Marta diz séria.
— Vamos esquecer isso e vamos voltar a festejar! — Lila diz
tentando descontrair.
Voltamos a beber e minha mãe e a tia Luz contam sobre suas
aventuras na adolescência. O clima voltou a ficar descontraído, mas em
minha cabeça já está se formando um plano. Os meninos aparecem, Dylan
olha todos os presentes com um sorrisinho safado, estampado na cara. Gael
entra e vai direto para a mesa de doces, enquanto come me olha de rabo de
olho. Aposto que ele estava pensando que iria fazer um escândalo, mas não,
eu irei matá-lo na unha.
Vou até ele e o abraço pelo pescoço e passo minha língua por ele até
chegar a sua orelha, onde deixo uma mordida.
— Hoje você é meu! Vou te chupar como se você fosse um picolé.
Huuumm, picolé de Gael, meu sabor preferido. — Cochicho em seu ouvido
baixinho enquanto ele me aperta contra o seu corpo. Mas a risada das
meninas me provam ao contrário, acho que falei alto demais
O que? Não tenho culpa se meu homem é gostoso.
Hanna e Donatello começam a discutir. Acho que a Hanna bebeu
demais e está soltando tudo o que estava guardado dentro dela. Donatello
olha para ela perdido, e a pega nos braços e a joga pelos ombros e sai da casa
de hóspedes. Uma Hanna muito bêbada grita por socorro e xinga Donatello,
nos fazendo rir.
- Me solta seu idiota gostoso! Babaca lindo! Ai como eu te odeio
Donatello, só vou transar com você hoje por que amo o seu pau. — Hanna
grita e nós caímos na risada.
Ajudamos a Katrisca a guardar todos os presentes. Como prometido,
guardo muitos doces para o meu menino formiga dois. E Gael ajuda ao Dylan
a levar os presentes para a casa principal. Os meninos pediram pizza, então
minha mãe está livre da cozinha. Eu agarro a última garrafa de vinho e vou
tomar banho, me despeço de todos e vou em direção ao quarto. Júlio já deu
banho na Maria e agora estão deitados no chão, lendo uma história. Júlio no
meio e a Luna de uma lado e a Maria de outro.
— Boa noite meus amores. — Falo para eles e me abaixo ao lado da
minha ursinha. — Maria, eu sou sua mãe e do Júlio. Não existe ninguém
nesse mundo que vá mudar isso. Entendeu?
— Entendi mamãe. Eu te amo. — Ela diz me abraçando.
Depois disso vou para o meu quarto. Arranco minha roupa e na
companhia do meu amigo vinho, vou tomar um banho. Fico pensando no que
a minha filha contou. O que essa desgraçada tem na cabeça, para falar tanta
merda na frente de uma criança de seis anos?
Pelo que Gael contou, ela é uma promotora muito boa e que luta a
favor das crianças que sofreram abusos. Mas se for realmente isso, porque ela
tratou a minha filha feito lixo? Gael contou que ela perdeu um filho, mas isso
não a faria se condoer pela dor de outra criança? Eu posso ser nova, posso ser
inconsequente e até louca, mas eu sinto a dor do próximo. Eu me apaixonei
pela Maria assim que a vi, foi impossível não amar aquela menininha suja e
machucada. Foi impossível não chorar ao saber por tudo o que ela passou.
Será que essa Zia não sabe dos horrores de tudo o que ela viveu? Será que em
nenhum momento ela não se colocou no lugar da minha filha?
Ela acha que o Gael é dela? Pois veremos se ela vai continuar
pensando assim, depois da visita que eu farei a ela.
Gael abre a porta do banheiro e entra no boxe comigo, completamente
nu. Agora me digam, vocês têm noção do que é esse homem pelado? Não né,
mas eu digo que ele é um espetáculo do caralho! E o melhor, ele é todinho
meu. Cada centímetro do seu corpo me pertence, cada polegada desse corpo
sarado é meu e para o meu prazer! Essa Zia que me aguarde. Ela não mexeu
só com a minha filha, não, ela quer o que é meu. E eu cuido do que me
pertence.
Vou mostrar para essa Zia, com quantos paus se faz um galinheiro!
Ou não me chamo Yza Reed.
Um homem só tem a certeza que está fodido quando, sua esposa
surtada e com o gênio do cão promete te chupar feito um picolé quando
deveria estar fazendo um escândalo e querendo matar meio mundo.
Lógico que eu me sinto um sortudo. Afinal é uma chupada minha
senhoras! Todo homem adora ter o pau chupado. Mas se tratando da minha
mulher, corro risco de ter meu pau arrancado a dentadas, mas vou correr o
risco. Vai que o vinho a deixou calminha além de safada.
Todos estão se recolhendo, depois de se entupirem de pizza.
Donatello está trancado com uma Hanna muito bêbada e puta da vida. Dylan
carregou a futura esposa para o quarto, enquanto Belle está cuidando a Luna.
Luz e mamãe foram dormir a alguns minutos e meus filhos estão no quarto,
prontos para dormir. Antes de enfrentar a fera, vou dar boa noite para eles.
Encontro Júlio deitado no chão, lendo uma história para as meninas.
— Ei turminha! Não está na hora de vocês dormirem?
— Que susto Usão! Meu colação até topesso, quédo! — Luna é a
primeira a reclamar.
— Já estou terminando a história, depois elas vão para a cama. A
Belle já veio avisar que estava na hora de dormir. — Júlio diz rapidamente.
— Ok. E você Júlio, nada de ficar até tarde na televisão e nem se
entupir de doces. Sua mãe deixou o pote na mesa da cozinha. E antes que
vocês duas reclamem, tem doces para vocês também, mas só vão comer
amanhã já que comeram vários hoje.
Dou um beijo na minha ursinha e na fadinha, e bagunça os cabelos do
Júlio. Só então crio coragem para enfrentar a minha fera. Entro no quarto e
ouço o barulho do chuveiro e olhando ao redor, posso perceber que ela está
para lá de bêbada. Yza odeia bagunça, principalmente no quarto, se eu
esqueço uma toalha em cima da cama, ela fala uma vinda inteira. Pego suas
roupas do chão e coloco em cima da poltrona no canto do quarto, e é aonde
eu deixo as minhas também antes de me juntar a ela no banho.
Entro no banheiro e percebo a garrafa de vinho vazia no canto do
boxe, e minha menina embaixo do chuveiro com o rosto voltado para o alto.
Entro no boxe e a abraço por trás, colando meu corpo contra o seu.
— Hum Ursão... Acho que tem alguém animado por me ver. — Ela
diz rebolando de encontro ao meu pau.
Safada!
Sem que eu possa aprofundar meus carinhos, ela se vira e cai de
joelhos. Suas mãos automaticamente seguram meu membro duro e pulsante,
fazendo movimentos para cima para baixo e sibilo por entre os dentes,
gemendo baixinho. Mas quando ela passa a língua por todo o meu
comprimento, eu quase enlouqueço. Ela faz tudo lentamente, sem desviar
seus olhos dos meus e eu tenho que confessar, é a porra da cena mais erótica
que eu já vi! Sem me deixar respirar profundamente, sua boca gulosa me
engole de uma vez, me sugando como se estivesse ávida pelo meu gosto.
Sinto meu pau bater no fundo da sua garganta e a safada faz aquele barulho
de engasgo que me enlouquece. Ela entra em uma sincronia perfeita, desce,
sobe, suga e lambe.
Yza sabe como me enlouquecer e em poucos minutos de chupada, já
estou pronto para gozar na sua boca. Suas mãos escorregam do meu membro
e vão diretamente para os meus testículos. Ela os acaricia delicadamente, mas
sem deixar de fazer um pouco de pressão. Eu curvo minha cabeça para trás e
tento contar até dez, para poder me controlar. Mas é impossível quando ela
rodeia a cabeça do meu pau com sua língua quente e pecaminosa e acabo
gozando em sua boca gostosa. Ela engole cada gota do meu esperma, sem ao
menos deixar uma gota escapar. Depois ela lambe todo o meu comprimento
até se sentir satisfeita com a sua limpeza.
— Agora que seu pau está limpo, basta terminar seu banho Gael
D'Ávila. — Ela diz alegre e me deixa sozinho no chuveiro.
Que porra que aconteceu aqui!?
Termino meu banho rapidamente, enrolo uma toalha ao redor da
minha cintura e vou atrás da minha mulher. Yza está deitada de bruços na
cama. completamente nua. Sua bunda perfeitamente redonda virada para
cima é a coisa mais perfeita que existe! Seus braços estão cruzados e seu
queixo apoiado neles, seus pés também estão cruzados em uma pose
relaxada. Eu me sento na beirada da cama e deixo minha mão percorrer sua
perna até alcançar a sua bunda. Sem resistir massageio e aperto ela e ouço
minha Sweet suspirar. Antes que eu possa percorrer suas costas a safada pula
e se ajoelha na cama virando seu rosto em minha direção. Seus seios
redondos e perfeitos me observam, como se chamassem minha boca para
brincar com eles. Ela me olha com carinha de sapeca e suas mãos sobem pelo
seu tronco e seguram seus seios, brincando com seus mamilos.
Uma onda de ciúmes sobe pelo meu corpo. Isso é errado, esses seios
são meus, só eu posso tocá-los e acariciá-los.
— Você quer brincar Ursão? Quer roçar sua barba neles? Quer
coloca-los em sua boca quente? Quer chupar e morder eles? Huuum Gael,
quando você brinca com eles a minha boceta fica tão molhada. — Ela diz
com a voz rouca carregada de desejo. Suas mãos descem por sua barriga até
alcançar sua pequena e doce boceta. — Olha, só de imaginar sua boca em
mim já estou molhada. Sente meu gosto, vê como estou encharcada por você.
Yza traz seus dedos até minha boca para que eu prove seu sabor. Seu
gosto supera qualquer doce, qualquer bolo que eu goste. Seu gosto é o meu
preferido no mundo todo. Eu avanço para cima dela, mas ela tem outra coisa
em mente, pulando da cama ela fica em pé me olhando do outro lado da
cama.
— Sweet!
— O que foi ursão, está nervoso?
— Para de graça! Vem aqui agora!
— E ai temos um urso raivoso! Quer meu corpo Gael? Quer me foder
com força? Quer meter esse seu glorioso pau na minha boceta? Quer me fazer
gemer seu nome a noite inteira? Me diz Gael!
Essa mulher está possuída! Não sei o que está acontecendo. Eu
desisto de entender essa menina e me jogo na cama, bufando de raiva. Tampo
meus olhos com o braço, dando tempo a ela para fugir. Porque quando eu
pega-la, não sobrará nada para contar história. Ela me provocou e mesmo que
tenha me dado um dos melhores boquetes, eu ainda estou sedento por ela.
A cama se mexe conforme ela sobe nela. Seus dedos espertos soltam a
minha toalha e meu membro salta duro em toda sua glória. Ela monta as
minhas coxas e sua mão macia segura meu membro, acariciando lentamente.
Eu seguro um gemido e ela solta uma risadinha. Yza encaixa meu membro
em sua entrada e vai descendo lentamente, me torturando com a sua lentidão.
Mas sua paciência dura pouco e ela senta com tudo e gememos altos. Ela
começa a se movimentar e aos poucos aumenta suas investidas. Sem
consegui me segurar, levo minhas mãos para os seus seios e os aperto com
brutalidade, e puxo seus mamilos fazendo com que ela grite um pouco mais
alto. Eu me sento trazendo seus copo para mim e agarrando seus cabelos em
meu punho, eu a beijo brutalmente. Nossas respirações estão ofegantes,
nossos corpos agora tem uma leve camada de suor. Eu seguro sua cintura e a
ajudo a aumentar seus movimentos, ela sobe e quando desce roça seu
pequeno clitóris em mim. Eu a encontro no meio de suas investidas e entro
nela com força. Levo meu polegar em sua boca e ela chupa faminta, como se
fosse meu pau. Quando ele está devidamente molhado, eu o levo até seu
pequeno broto e acaricio fazendo ela gemer gostoso em meu ouvido.
Giro nossos corpos e agora ela se encontra embaixo de mim. Eu a
fodo com força, do jeitinho que ela gosta. Minha boca vai diretamente para os
seus seios e minha língua passa a torturar seus mamilos rígidos. Sua pequena
boceta começa a me apertar, avisando que a minha menina está quase
gozando. O único som que quebra o silencio do quarto, são das nossas
respirações e dos nossos corpos batendo um contra o outro. Mordo seu
mamilo e esse é o estopim para que ela alcance o orgasmo. Yza quebra
embaixo de mim chamando meu nome e com mais algumas investidas eu
gozo dentro dela. Sua doce boceta ordenha cada gota do meu orgasmo, como
se quisesse cada parte de mim dentro dela.
Caímos ofegantes na cama, banhados de suor. Aos poucos nossas
respirações vão se normalizando, até que possamos falar alguma coisa.
— Quem é Zia e o que ela é para você? — Ela pergunta séria.
E ai está o motivo da sua loucura.
— Ela é uma promotora que está trabalhando no caso do Júlio. Eu a
defendi em uma causa quando era advogado, ela foi abusada, espancada,
estuprada pelo próprio marido. Ela estava grávida, quase ganhando neném
quando o ex-marido a agrediu, fazendo com que o bebê nascesse morto.
Depois que ganhei a causa, ela me procurou dizendo que queria ser advogada
também. Eu a guiei, mostrei o que ela tinha que fazer e nos tornamos amigos.
— Sei...
— Ela é apenas uma amiga. Sei que o que ela fez hoje foi
imperdoável e eu já conversei com ela.
— Ela tem um escritório no seu prédio?
— Tem... Yza, eu já resolvi isso. Mostrei para ela que a Maria é
minha, que ela é nossa. Não sei o que está acontecendo com a Zia, ela nunca
agiu assim antes.
— Não me interessa se você já conversou com ela Gael. Ela magoou
a minha filha e se não bastasse isso, ela quer o que é meu. E eu quero ser uma
puta de beira de estrada, se eu deixar por isso mesmo. Ninguém Gael,
ninguém mexe com o que é meu. Você diz que é possessivo, que eu sou sua,
então isso também me dá o direito de defender o que é meu. Posso ser nova,
mas eu cuido do que me pertence! — Ela diz e levanta da cama e se tranca no
banheiro.
Nada de bom pode vir desse encontro. Zia não se intimida facilmente
e minha Sweet é louca. Uma resposta errada da Zia e eu estarei tirando o rabo
da minha mulher da delegacia.
O que eu faço!?

Nosso dia foi corrido e cheio de surpresa. Minha prima Felipa


apareceu vestida de noiva e completamente louca, surtada da Silva. Disse que
iria se casar com o meu irmão, me chamou para ter o dia da noiva com ela.
Como se eu não tivesse dado uma surra nela a alguns meses atrás. Foi preciso
chamar a ambulância do sanatório, e minha tia Luz e meu irmão Don foram
cuidar dos papeladas.
O restante do dia foi tranquilo. Gael me provocando desde que
acordou, mas eu o ignoro não querendo falar com ele.
O grande dia chegou, o casamento do meu irmão com a sua baby.
Katrisca estava linda, seu vestido incrível. A fadinha nem preciso falar,
estava em estado de êxtase, pois iria se casar com o vidinha dela. O momento
alto do casamento, foi quando meu irmão se declarou para a fadinha dela e
disse que ela seria sua filha sempre. Acho que não teve uma pessoa que não
se emocionou. Até mesmo o meu ursão derramou algumas lágrimas. A festa
estava linda, a primeira dança deles foi incrível. Mas o ápice foi o senhor
Castro, ele junto com o Donatello, conseguiram que o meu irmão adotasse a
Luna. Agora ela era Luna Ornellas Reed, filha de Katrisca Ornellas e Dylan
Reed. Dizer que meu irmão ficou feliz é um eufemismo, Dylan está no céu e
eu também. Porque a felicidade do meu irmão é a minha também.
Agora estou dançando com o meu homem, tentei fazer um cu doce
básico, mas ele só faltou me jogar por cima dos seus ombros e me arrastar
para a pista de dança.
— Gostou do casamento Sweet?
— Sim, tudo estão tão perfeito. A decoração incrível. Tudo básico e
poucas pessoas. Eu amei.
Ele sorri para mim, um sorriso que não consigo identificar. Ele me
agarra e me gira conforme a música, depois me abraça apertado e leva minhas
mãos para as minhas costas. Eu rio da sua loucura. Dançamos mais um pouco
e sinto alguma coisa percorrer o meu dedo. Gael não deixa que eu solte
minhas mãos e com um movimento rápido, me gira me fazendo gargalhar. Eu
esqueço sobre a coisa do dedo e quando ele me puxa para os seus braços,
minhas mãos vão diretamente para o seu ombro. Demora vários minutos até
que eu me dê conta do porquê do seu sorriso largo. Em meu dedo encontra-se
um anel com uma pedra enorme, rodeado de outras pedras menores. Eu olho
para o anel por vários e vários segundos, tentando lembrar como ele foi parar
lá. E só depois me lembro que senti algo tocando meu dedo.
Eu olho para Gael completamente extasiada.
Ele não fez isso! Ou será que fez!?
— O... O que!? Como!?
— Eu amo você Sweet, não consigo mais viver minha vida sem você.
Esse anel diz tudo o que não posso colocar para fora em palavras. Ele diz que
você me pertence, que somos um só. Se você quiser um casamento grande,
acho melhor você começar a organizar amanhã mesmo, já que você tem no
máximo até março para se casar comigo. Ou eu te arrastarei para o cartório
mais próximo!
— Você está me informando que vamos nos casar? Aonde está o
romantismo Brasil? A surpresa, jantar romântico, champanhe? Não aceito!
Quero ser pedida em casamento Gael D'Ávila, quero romance seguido por
um jantar fabuloso e depois uma noite regado se sexo. Nada menos que isso.
— Você está dizendo que não vai se casar comigo? É isso? — Ele
pergunta bravo.
— Não! É lógico que me casarei com você, mas quero romance e não
ser informada que vou casar!
— Entendi... Mas o anel fica em seu dedo. Estamos noivos, já até pedi
para o seu pai.
Esse homem não tem jeito. Andamos até minha mãe e eu mostro o
meu anel para ela, que me abraça apertado com lágrimas nos olhos. Estamos
conversando sobre casamento, arranjos. Hanna se aproxima de nós e fica
empolgada quando mostro o meu anel para ela. Estamos perdidos em nossa
conversa, quando a Luna passa correndo com tudo. Seu rosto é puro pavor e
logo em seguida Dylan corre para fora da tenda, sendo seguido do Don e
Gael vai logo atrás.
Tudo aconteceu rápido demais, Diego e Sarah, pai e avó da Luna,
apareceram e foi um pandemônio dos infernos. Foi tudo muito rápido, ele
sequestrou o pai, o senhor Castro e fugiu de carro. A polícia chegou, Katrisca
ficou nervosa, Dylan estava surtado. Um dia que era para ser de
comemoração, se tornou um pesadelo. Eu sou um ser humano de bom
coração, faço doações, me preocupo com o próximo, mas se tem uma coisa
que me tira do sério é ver minha família sobre ameaça!
Sarah Castro ajudou aquele filho da puta duas vezes, e juro por tudo o
que é mais sagrado que será a última. A mulher é louca, mas eu sou ainda
mais. Nem mesmo apanhando da minha mãe ela ficou calada, Sarah
continuou ameaçando a todos, inclusive meu irmão. E foi aonde perdi a
minha mente! Eu bati tanto nela, que com certeza a mente dela voltou para o
lugar.
Douglas além de ser baleado pelo próprio filho, ainda sofreu um
acidente sério e está na UTI. A lua de mel foi adiada até que ele se recupere.
Graças a Deus, aquele infeliz está morto, quebrou o pescoço e foi fazer
companhia pro capeta!
Já foi tarde desgraça!
Já que não teve Lua de mel e a festa foi interrompida, ficamos
somente nós na fazenda. Comida e bebida a vontade, Lila, Hanna e eu nos
acabamos no champanhe. É engraçado como os homens estão nos olhando,
tudo com cara de assustados e a desconfiança grita a quilômetros de
distância.
Donatello está olhando para Hanna, como se ela fosse matar ele. Já
Gael, me olha desconfiado, tentando descobrir o que se passa na minha
mente. Mas deixa ele quebrar a cabeça!
Passamos o final de semana na fazenda, voltamos para casa na
segunda à tarde. Eu já bolei o meu plano e liguei para marcar uma consulta
com a tal de Zia. Gael nem imagina, mas darei o meu recado para a sonsa.
Estão vendo como sou boazinha? Eu sou tão boa que vou deixar um recado
para ela. É... Realmente estou amadurecendo, mas... Não garanto nada!
Terça-feira chegou e eu mais que depressa tomo banho e invento que
tenho uma reunião. Gael também tem que trabalhar mais tarde, então vai
deixar a nossa menina na casa do Dylan. Minha roupa para o encontro está no
meu carro, mas saio de casa com uma jardineira jeans e tênis. Meu Urso
revoltado reclamou por achar que estou mostrando muito as pernas, mas
deixo ele falando sozinho e saio correndo. Paro na casa da minha sogrinha e
entro correndo feito uma louca.
— Bom dia sogrinha, desculpa aparecer aqui assim, toda louca e
esbaforida. Preciso usar seu banheiro por dois minutos.
— Bom dia meu amor, a casa é sua.
Corro para o quarto de hóspede e me troco. Coloco um vestido
marrom, tipo um café com leite só que puxado para o dourado. Sandálias alta
da cor bege, faço uma make básica e estou pronta.
Estou muito mulher de negócios!
— Uau minha filha! Você está magnífica. — Minha sogra diz
surpresa.
— Estou com cara de mulherão? Estou arrasando?
— Está perfeita meu amor, mas me diz. Para onde vai toda elegante?
— Uma reunião de negócios, no caso o negócio é meu! Não poderia
me vestir em casa, ou o seu filho teria trancafiado se soubesse das minhas
intenções.
— Yza...
— O que? Você achou mesmo que euzinha, louca de pedra, iria
deixar aquela mulher em paz? Mas não se preocupe Marta, é só uma conversa
tipo Marisa. De mulher para mulher!
— Eu sei como você está se sentindo, não gostei das atitudes dela.
Mas tome cuidado, não vá fazer nenhuma loucura e se prejudicar. Ou acabar
prejudicando o Gael, pois tenho certeza que se isso acontecer você vai ficar
arrasada.
— Pode deixar Martinha, sou louca, mas nem tanto. Quer dizer... Sou
um tanto também, mas sei me controlar. O que não posso deixar é que ela
ache que está lidando com idiota. Ela vai aprontar Marta, e se ela fizer isso eu
mato ela. E não estou falando no sentido figurado. Se ela prejudicar a minha
filha ou o meu filho por despeito, o fim dela será caixão e vela preta. Agora
deixem-me ir, ou chegar atrasada.
Me despeço da minha sogra e vou em direção ao fórum. Chego
faltando dez minutos para o meu encontro com ela, assim que apresento o
meu documento a secretária dela me encaminha para sua sala. Mas antes dou
de cara com o Maurício, que me olha desconfiado, mas não diz nada. Ele me
dá um sorrisinho safado, pisca um olho e entra em outra sala.
Entro na sala da tal Zia, lugar muito bem decorado, mas
completamente frio. A sala do Gael é a cara dele e agora tem várias fotos da
nossa família espalhada pela sua mesa. A sala da Zia é fria, não tem nada
pessoal, nada que mostre a mulher que ela é. Aliás, essa sala diz muito sobre
ela, fria e calculista.
Ela está atrasada! Que falta de profissionalismo Brasil. Vinte minutos
depois ela entra correndo e para assim que me vê. Eu arrumo minha posição e
a olho confiante.
— Desculpa o atraso senhorita... — Ela diz me olhando de cima para
baixo.
— Senhorita Reed querida. Futuro senhora D'Ávila.
— O que!? Quem é você? — Ela pergunta abismada
— Você não sabe quem sou eu!? Minha cara, não me subestime ou
você terá uma surpresa. Mas vamos lá, vamos jogar o seu joguinho. — Eu
digo e me levanto e aliso uma dobra inexistente no meu vestido e a olho
séria. — Eu me chamo Yza Reed, mas não se apegue muito a esse
sobrenome, já que estarei mudando futuramente. Já que acabei de ficar noiva,
acho que você deve conhecê-lo. Gael D'Ávila, conhece? Olha que anel lindo
ele me deu, ficamos noivos nesse final de semana. Minha mãe e minha sogra
estão no céu! — Falo e faço questão de mostrar o anel que ele me deu.
Chupa vaca!
Ela acha que me engana, mas duas podem jogar esse jogo. Mas
somente uma sairá vencedora, e eu minhas caras, odeio perder!
A cara de choque dela é impagável! O ódio que brilha em seus olhos,
mostra que a minha notícia a pegou desprevenida.
A filha da puta é gata, isso eu tenho que concordar. Ela é muito mais a
cara do Gael do que eu, com a minha cara de menininha e meu jeito
explosivo, mas... Se fosse para ele querer uma coisa diferente ele estaria com
ela e não comigo. Eu sei que a minha notícia a desestabilizou, mas ela logo se
recupera e me olha de cima com o seu nariz arrebitado.
— Escuta aqui... — Ela tenta dizer, mas eu mais que depressa a corto.
— Não querida, quem tem que escutar aqui é você! Eu sei tudo o que
foi falado no outro dia na sala do Gael, sei também o modo com que tratou a
minha filha. E só vim deixar avisado que ela é minha, assim como o Gael é
meu. Você pode ter enganado a todos, com essa história de mocinha indefesa
e melhor amiga. Mas a mim você não engana! Não estou fazendo pouco caso
pelo que você passou, ao contrário, te admiro muito por ter lutado contra o
monstro que te machucou. Não sei um terço pelo que você passou e para ser
sincera, nem quero saber.
— Olha aqui...
— Eu ainda não terminei! Você, logo você que passou por tudo o que
passou, desdenhou dos sentimentos da minha filha. Ridicularizou o fato dela
ter estado nas ruas, você a chamou de menininha de rua! Você, uma mulher
de o que? Trinta e cinco, quarenta anos? Uma mulher que viveu sobre
constantes abusos, e ainda sim fez chacota com um fato de extrema
importância? Minha filha viveu sim nas ruas e como você deve saber, pois
está com o caso do meu filho em mãos, sabe que ela fugiu para se proteger de
ser estuprada. Foi parar nas ruas porque foi o único jeito que uma menina de
seis anos achou, para poder fugir de um futuro de prostituição. Você deve ter
lido que o irmão dela, foi constantemente abusado pelo padrasto. Tudo para
manter a irmã a salvo! Você sabia que a menininha de rua passou fome? Que
a menininha de rua tem constantes pesadelos, que acorda a noite chorando e
gritando? Que ela ouviu barbaridades dos homens imundos que a
compraram? Mas isso não te importa, não é mesmo?
— Yza, não é? Sinto muito por ter me expressado errado, não deveria
ter usado nomes tão pejorativos para uma menina tão nova. Mas eu não te
devo satisfações das minhas atitudes. Não te conheço, não sei quem você é, e
nem o porquê do Gael estar tão ligado a você. Aliás eu até tenho uma ideia,
homem gosta do que é fácil, e olhando para você é como ver uma placa de
neon dizendo isso. "Comida grátis é só se servir." Mas tenho que reconhecer,
você é esperta. Em vez do famoso golpe da barriga, você atacou o ponto
fraco do Gael, usou uma criança abusada para amarrá-lo a você. — Zia diz
debochada e isso me irrita ainda mais.
— Não querida, eu não precisei usar do golpe da barriga, nem muito
menos usar uma criança. Acho que você deve estar se olhando no espelho,
não sou eu que uso desculpas para mantê-lo ao meu lado. Sobre ser fácil,
confessa que você queria estar no meu lugar, confessa que queria ter um
homem daquele em sua vida e em sua cama. Mas isso, infelizmente não vai
acontecer, sabe porquê? Porque ele te vê como uma irmã, mesmo você
querendo dar para ele. E ainda aparece euzinha no seu caminho, que chato
não é!? Eu vim aqui para deixar um recado, não mexa com o que é meu, não
tente nada contra os meus filhos Zia ou você vai conhecer quem eu sou
realmente.
— Você está tentando me botar medo? Uma criança como você!? —
Ela diz rindo.
— Tenho que concordar com você, Zia. Eu realmente sou criança,
mas não pelas minhas atitudes. E sim por mamar até hoje! — Digo
debochada. — Sabe o que é chupar aquele homem? Sabe o que é aquele
homem em cima do seu corpo, usando aquele espetáculo de pau para te
foder? Aaaah, desculpa! Você não sabe e se depender de mim, nunca saberá.
Bem, eu já te avisei Zia, fique longe do meu homem e dos meus filhos.
— Você é vulgar, não sei o que o Gael viu em você. Na certa deve ter
sofrido uma lavagem cerebral, mas nada que um bom choque não resolva.
Não conte vitória antes do tempo fedelha, eu estou no jogo e nunca perco. E
nem adianta usar a menininha de rua para tentar manter o Gael com você,
isso logo vai mudar. Não se esqueça que o caso do garoto está nas minhas
mãos. — Ela diz irônica e eu vejo vermelho. Eu juro que vim aqui somente
para falar, me segurei ao máximo, mas agora cansei!
Não sei dizer como, mas eu a tenho contra a parede presa com meu
braço em seu pescoço. Seu olhar assustado demonstra que ela nunca
imaginária tal reação de mim. Se ela não deixar meus filhos em paz, eu
acabarei com a raça dela. Me aproximo do seu ouvido, meu braço
pressionando ainda mais seu pescoço. Ela até tenta se soltar, mas eu sei o que
estou fazendo e tenho a noção da minha força. Ela realmente não me
conhece, ou jamais tentaria esse jogo de ameaça contra mim.
— Não me subestime Zia, eu só tenho cara de menina. Se você chegar
perto dos meus filhos, se você se quer encostar em um fio de cabelo deles,
você vai desejar voltar a ter o seu ex-marido de volta. Porque o que ele fez
com você, não chegará aos pés do que eu farei! Você não me conhece, mas
vou te dar uma dica. Jamais, e eu quero dizer isso, jamais me ameace ou
ameace meus filhos. Você não vai gostar do que vou fazer com você! E te
garanto que você não me quer como inimiga, e muito menos ter o Gael como
seu inimigo. A única diferença entre Gael e eu, é que ele tem consciência e eu
não. Não me importo se você é juíza, promotora ou o caralho a quatro. Eu te
destruo Zia e ainda durmo feliz. — Falo em seu ouvido e me Afasto.
Seu rosto está branco, seus olhos assustados, mas ela logo se recupera
e faz uma burrice. Ela levanta a mão para me bater.
Jogada errada!
Seguro sua mão e a empurro para trás. Ela se desequilibra, mas logo
se recupera.
— Eu vou acabar com você! Vou tirar essas crianças de você e
colocá-las em um abrigo. Vou detonar a sua vida, vou começar pelas crianças
e depois tirarei o Gael de você. Você não é nada, não tem poder de nada.
Você só uma menininha fácil que se vende por alguns reais.
Sem me controlar, meto um tapa na cara dela. Ela balança, mas eu a
seguro pelos cabelos e a pressiono com o rosto contra a parede.
— Para uma mulher que se julga inteligente, você está demonstrando
ser burra para caralho! Pesquise pela família Reed, pesquise para saber com
quem você mexeu. Agora é questão de honra, Zia. Eu vou acabar com você e
quando eu terminar, te garanto que não vai estar bonito. Eu não me importo
quando os ataques são contra a minha pessoa, na realidade, eu cago e ando
para isso. Mas você ameaçou os meus filhos, e sinto te informar, mas foi a
pior coisa que você fez. Quando eu acabar com você, no máximo que você
vai conseguir é ser advogada de porta de cadeia. Vou fazer da sua vida um
inferno, você vai desejar nunca ter atravessado o meu caminho. Eu não
prometo e nem ameaço em vão e você vai descobrir isso. — Termino de falar
e bato sua cabeça na parede.
O que? Eu falei que eu sou louca e ela procurou por isso.
Quando ela se recupera e vem para cima de mim, Gael, Maurício e a
mulher que conheci na balada, Joyce, entram na sala.
— Que porra está acontecendo aqui!? — Gael pergunta com sua voz
potente.
— Essa louca entrou na minha sala, me bateu e me ameaçou. Essa é a
mulher que você quer ao seu lado Gael? O que será que a tia Marta vai achar,
quando eu contar sobre a agressiva da sua namorada? — Zia diz petulante.
Gael olha para mim e eu olho para ele e levanto a sobrancelha
debochada.
— O que você veio fazer aqui Sweet? — Ele pergunta sério.
— Eu vim ter um momento Marisa, de mulher para mulher. Vim para
falar para essa vadia, deixar os meus filhos em paz. Mas ela parece que não
ouviu direito e ainda veio me ameaçar, você sabe que não funciono bem
sendo ameaçada, Gael. Na realidade ela não só ameaçou a mim, mas aos
meus filhos também. Ela ter um tesão encubado por você é uma coisa, não
aceito, mas relevo porque você é gostoso para caralho. Mas ameaçar duas
crianças inocentes? Ai ela comprou briga com o capeta! — Falo tremendo de
ódio e posso ouvir a risadinha da Joyce e do Maurício.
Ele me olha seriamente e volta o seu olhar para Zia, que estava
sentada na sua cadeira olhando para nós com um meio sorriso no rosto e um
olhar triunfante, mas que logo se apaga quando o meu urso mira seu olhar
nela.
— O que!? Não me diga que você está seriamente acreditando nessa
menina, Gael! — Zia diz fingindo estar ofendida.
— Querida... Você está na profissão errada. A globo estaria fazendo
um bom uso dos seus dotes como atriz. Vamos lá, nos diga o que eu falei!
Depois falo a minha versão. — Agora a debochada sou eu.
Ela mexeu com quem não devia! Essa vadia achou mesmo que eu
viria aqui despreparada? Coitada dela.
— Ela entrou na minha sala, completamente alterada, gritando
comigo para que eu me mantenha afastada de você. Ameaçou acabar com a
minha carreira, disse que sua família e rica e influente. Eu tentei falar que
essas atitudes prejudicariam as crianças, mas ela não ligou. Agora me diz
Gael, olha a louca que você está colocando perto daquelas crianças. Essa
garota tem que ser internada, eu jamais deixarei que aquelas crianças fiquem
perto dela. Você quer a guarda delas? Então acho melhor você ficar longe
dessa desequilibrada.
Jesus! Essa mulher é louca. Ela deve ter um sério distúrbio de caráter.
Da para ver que o que ela sente pelo Gael não é amor, nem mesmo um
carinho de amigos. Parece mais que ela quer usá-lo, não sei dizer ao certo,
mas não existe um gostar nessa história. Em nenhum momento ela olhou para
o Gael, você não vê o brilho de quem está apaixonado.
— Eu não acredito em você, Zia. Essa mulher que você acabou de
descrever, não é a minha mulher. Você vai me dizer a verdade ou prefere
jogar anos de amizade fora? Eu conheço a minha mulher, ela pode ser louca,
ter um gênio do cão, mas ela não partiria para cima de você sem motivos.
Qual vai ser, vai falar o que realmente houve aqui!? —Gael diz bravo.
— Eu não acredito! Você está duvidando de mim? Você me conhece
a anos Gael, sabe que eu odeio violência, você sabe tudo o que vivi, por tudo
o que lutei. Eu jamais prejudicaria ninguém, mas ela eu farei questão de ver
presa atrás das grades. — A louca diz e ainda me ameaça.
Ai não Brasil!
Ando até sua mesa, onde deixei meu celular quando levantei.
Desbloqueio a tela e paro a gravação. Salvo no celular porque não sou idiota,
e só depois reproduzo tudo o que foi dito. Falei merda para caralho, mas não
me arrependo de nada, pois tudo o que falei foi a mais pura verdade. Ela tenta
pegar o celular das minhas mãos, mas eu afasto rapidamente. Aqui é treinada
porra!
— Eu a quero fora do processo do Júlio e eu terei isso, nem que eu
tenha que trazer o Papa aqui! Ela não tem ética nenhuma e isso está provado
nesse áudio. Posso responder por agressão, foda-se. Mas ela vai perder a
porra do cargo, por que eu estou indo na OAB e farei uma denúncia contra
ela. Falarei com o Otávio e com o Roberto, já que eles são os responsáveis
pelo processo. Como ela disse para você, que eu a ameacei com o dinheiro da
minha família, então é isso que vou fazer. Eu moverei céu e terra, mas essa
filha da puta está fora. E Zia? Você provocou o demônio, eu te avisei! —
Falo irritada e olho para seu rosto, que está mais branco que papel.
Vou em direção ao sofá, pego a minha bolsa e saio da sala dessa
mocoronga. Ela mexeu com quem não devia, vou acabar com a carreira dela.
Posso responder por agressão e ameaça, estou pouco me fodendo. Tenho um
puta advogado na família e ele não deixaria a irmãzinha dele dormir na
cadeia. Vou andando pelo corredor e mexo no celular até achar o número do
Donatello e quando encontro ligo diretamente pra ele.
— Fala furacão, não trabalha mais não? — Ele pergunta e ri.
— Quarenta minutos estarei ai, limpe sua agenda porque a conversa
vai ser longa.
— O que você aprontou?
— Até agora nada, mas posso ser presa por agressão e talvez um
assassinato. Vai me ajudar ou não?
— Tenho uma reunião em vinte minutos, mas depois do almoço sou
todo seu. — Ele diz sério, ciente que estou falando a verdade.
— Ok, te vejo daqui apouco.
Gael me chama, mas eu finjo que não escuto e continuo andando até
que dois braços me rodeiam e me levam para uma sala. Passo por dona
Marina que nos olha assustada. Maurício vem logo atrás rindo do meu
sufoco.
— Meritíssimo, o senhor tem alguém na sua sala. — Ela tenta dizer,
mas Gael não escuta.
Ele entra na sala e por pouco não bate à porta na cara do Maurício.
Sem cuidado nenhum, ele me joga no sofá derrubando minha bolsa e meu
celular no caminho e me encara com as mãos na cintura e um olhar raivoso.
Ursão possesso? Adorooooo.
— Que merda você veio fazer aqui, Yza Reed!? Sem piadinhas
porque estou sem paciência, porra! — Gael praticamente grita.
Ai minhas caras, meu gênio do cão aparece e eu digo que as coisas
ficarão feias.
— Quem você acha que é caralho!? Eu não sou uma das putinhas que
você estava acostumado a comer por ai, muito menos saco de batatas para
você jogar aonde quiser. E por último e não menos importante, vá se foder!
— Grito na sua cara, pouco me fodendo que temos plateia. Ele quer brigar?
Então é briga que ele vai ter.
— O que!? — Dessa vez ele grita.
— Você não é surdo Gael D'Ávila! Vai falar assim com as suas negas,
porque comigo com certeza não vai. Ela me provocou, ela me ameaçou e eu
não tenho sangue de barata. Eu vim só dar um aviso, estava plena e fina, meu
temperamento estava tranquilo. Mas ela me provocou! Ela ameaçou meus
filhos e ninguém vai fazer isso e sair ileso. Se você está com dó, foda-se você
e ela. Essa vadia mexeu com a mulher errada, quando eu terminar com ela,
ela vai estar advogando na porta de alguma penitenciaria chinfrim no cu do
judas. — Falo ofegante e tremendo de ódio.
Ele vai ficar do lado dela? Mesmo ouvindo a gravação? Pois bem, ele
que fique com ela.
— Você ao menos está se escutando Yza? Não é gritando e
ameaçando, que você vai conseguir alguma coisa. Não era nem para você ter
vindo aqui hoje! Eu iria resolver as coisas, agora tenho um puta de um
problema nas mãos e ainda tenho que salvar seu rabo por ter agredido um
funcionário público porra! Sério Yza, você passou dos limites. Cismou que
ela quer alguma coisa comigo! Você está imaginando coisas aonde não tem!
— Eu sempre vou passar dos limites, quando o assunto forem os meus
filhos senhor Juiz. Mas não preciso que você salve o meu rabo, aliás nem te
pedi isso. Eu cuido muito bem de mim e resolvo meus próprios problemas
sozinha. Não te pedi nada, nem mesmo uma bala de cinco centavos. Eu sei
me virar. Quer ficar ao lado dela? Faça bom proveito, assim ela terá alguém
para catar o resto dela quando eu terminar.
— Escuta...
— Escuta você! Se ouça você! Eu não te devo porra nenhuma, muito
menos para aquela vadia mal comida. Eu vim aqui hoje pelos meus filhos e
até mesmo por você, mas isso foi no início da conversa. Depois não teve nada
a ver com você meritíssimo. Nunca briguei por homem e não será agora,
homem tem de monte por ai é só eu estalar meus dedos. Eu estou lutando
pelos meus filhos e somente por eles. Quer ficar ao lado daquela mulher, da
mulher que ameaçou os MEUS FILHOS? Então fique, mas pode ter certeza
que não serei misericordiosa. Nem com ela e muito menos com você. Eu te
disse uma vez, não mexa com quem eu amo ou me terá como uma inimiga. E
eu serei implacável, não fique no meu caminho Vossa Excelência ou não
sobrará nada de você para contar história.
— Yza, escuta. Você está nervosa, quando se acalmar vocês podem
conversar. Nesse momento, na hora da raiva podemos falar coisas que
possamos nos arrepender. —Maurício tenta intervir na nossa discussão.
— Não tenho nada para acalmar Maurício, mas obrigado pela
intenção. Eu estou indo embora e Gael? Mais tarde pego as minhas coisas na
sua casa, a partir de hoje você está livre do meu rabo problemático. — Falo
tirando o anel que ele me deu e deixo em cima da mesinha de centro e agarro
minha bolsa. — Não me procure e se quiser ver as crianças, ligue para a
minha mãe e marque um dia. Vou conversar com o Donatello e ver sobre
essas coisas de guarda compartilhada e a adoção das crianças. Qualquer coisa
que queira dizer em relação aos meus filhos, trate diretamente com o meu
irmão.
Caminho até a porta e saio de cabeça erguida.
Posso está destruída por dentro, mas não irei demonstrar. O que eu
falei é a mais pura verdade. Não serei piedosa, vou destruir aquela mulher e
quem estiver junto dela, mesmo se esse alguém for o Gael.
Passarei como um rolo compressor!
Não acordei cedo para ver uma merda dessas!
Yza saiu cedo, correndo sobre uma reunião de negócios e eu fiquei
encarregado de levar a Maria para a casa do Dylan e deixar o Júlio na
construtora. Conclusão, os lugares são completamente o oposto um do outro.
Maria e Júlio já estavam arrumados e quando estávamos saindo da garagem,
avisto o Dylan estacionando.
— Ei povo! Aproveitei que fui buscar um pão doce para a Katrisca, e
vim buscar a Maria. Assim te poupo a viagem. Katrisca está com desejo
desse pão doce, mas não qualquer um, não, isso seria fácil demais. Ela queria
da padaria aqui perto! — Ele diz rindo.
— Porra! Me poupou a viagem! — Mal termino de falar e uma
mãozinha aparece estendida por cima do meu ombro. Tiro uma nota de dez
reais e entrego para ela.
— Mais uma papai, você falou uma palavra muito feia. — Maria diz,
ainda com a mão estendida.
Saco mais dez reais e entrego para ela, sobre as risadas de Dylan e
Júlio.
— Vamos futura milionária, vamos até a padaria e você pode escolher
o que quiser para o café da manhã. — Dylan diz abrindo a porta para Maria
descer.
Assim que nos despedimos, vou em direção a construtora. Júlio está
com o semblante tranquilo, quase em paz. É bom vê-lo relaxado, parece
mesmo um garotinho, sem todo aquele peso que carregava.
— Está tudo ai? Lápis, caderno? Pegou o dinheiro para almoçar?
— Sim para o material e não para o dinheiro. Otávio nunca deixa eu
pagar o meu almoço, então não tem necessidade de pegar o dinheiro.
— Eu sei, mas gosto que você tenha dinheiro com você, caso
aconteça algum imprevisto.
— Tudo bem, mas eu tenho dinheiro na mochila. Como disse, o
Otávio não me deixa pagar nada.
Chego rápido a construtora e Roberto já está na porta esperando por
ele. Vou em direção ao trabalho, mas antes passo na lanchonete e pego uns
Pães de canela e um café puro e vou em direção ao escritório. Assim que
sento na minha cadeira, dona Marina entra com sua agenda sendo seguida por
Maurício e Joyce.
— Gael, antes da Marina passar os seus compromisso devo dizer que
você tem um problemão nas mãos. — Maurício diz se jogando no sofá.
— O que foi dessa vez!?
— Encontrei com uma Yza vestida para matar, entrando na sala da
Zia. Sua carinha de sapeca não me enganou, ela vai aprontar e feio viu. —
Ele diz rindo.
Puta que pariu! Só me faltava essa, eu deveria saber que ela não
deixaria quieto o que a Zia fez com a Maria.
— Marina, segura as pontas ai. Vou tentar parar a segunda guerra
mundial.
Saio correndo até o andar da Zia e mal cheguei perto da porta e ouço
vozes altas discutindo. Invado a sala e vejo a Zia com a mão levantada para
bater na minha Sweet! Zia tem uma macha vermelha no rosto, uma mão
certinha está desenhada ali e ainda tem uma marca na testa. Perguntei o que
estava acontecendo e a Zia é a primeira a falar. Mas devo dizer que não
acredito em nada do que ela diz.
Olho para a minha mulher e pergunto o que ela estava fazendo ali.
Yza com sua cara de pau, diz o que realmente aconteceu, mas Zia em sua
mente fantasiosa começa a vomitar um monte de coisas. Coisas essas que não
condiz com o que minha mulher é. Yza pode ter o pavio curto, ser estourada,
mas nunca usou o dinheiro e pouco menos a influência dos Reed. Começa
uma batalha entre as duas, troca de farpas até que a minha Sweet mostra um
áudio. Não precisei escutar tudo, para saber que a Zia ultrapassou todos os
limites. Ela não ameaçou apenas a minha mulher, mas também aos meus
filhos.
Zia tenta jogar a carta de mulher abusada, não que eu não me
compadeça da sua história de vida. Mas já estou cansado dela sempre falar
isso, como se dizer tudo o que passou iria abonar tudo o que ela aprontou
aqui. Yza se irrita, pois mesmo mentindo, Zia ainda ameaça os meus filhos e
de mandar a Yza para a cadeia.
Minha mulher se revolta e exige que a Zia saia do caso do Júlio. E
não só isso, mas também ameaça destruir a carreira da Zia, mesmo correndo
o risco de ser presa. E como se nada tivesse acontecido, ela pega a bolsa e o
celular e sai da sala. Eu fico alguns segundos olhando para a porta, pensando
em tudo o que foi dito aqui.
— Eu não sei o que está acontecendo com você, mas essa não é a Zia
que eu conheço. Minha mulher pode ter todos os defeitos do mundo, mas
mentirosa eu sei que ela não é. Agora eu vou atrás da minha mulher e depois
vamos conversar sobre o que aconteceu. Mas fique avisada, eu quero que
você saia do caso do meu filho ainda hoje! — Falo com raiva e vou atrás da
minha Sweet.
Corro atrás do meu furacão, chamo seu nome, mas ela simplesmente
ignora. Não vejo outra alternativa a não ser pega-la no colo e a levo em
direção a minha sala, Yza esbraveja, xinga, mas não me importo. Dona
Marina até tenta falar comigo, mas eu me finjo de surdo e entro na minha sala
e sem um pingo de paciência, eu a jogo no sofá.
Eu não acredito que ela agrediu uma promotora! Mesmo a Zia,
estando completamente errada, ela ainda é um promotora e funcionária
pública. Yza com toda sua inconsequência, passou dos limites. Mesmo
estando certa em defender nossos filhos, ela passou dos limites. As
consequências disso podem ser gravíssimas e não será tão fácil assim livrá-la
disso. De uma coisa esse confrontou serviu, mostrou o caráter da Zia. Uma
mulher defensora da lei, uma promotora de renome, ser capaz de uma merda
dessas? Prejudicar duas crianças pelo que? Despeito, ciúmes?
Nossa discursão tomou uma proporção gigantesca, ela nem se deu
conta que não estamos sozinhos. Mas em defesa, nem eu mesmo me dei conta
disso. Ela está achando que estou ao lado da Zia, como se eu fosse capaz
disso. Eu estou apenas preocupado do que a Zia é capaz de fazer contra ela.
Yza em seu rompante de raiva, tira o anel que eu dei a ela ontem e coloca na
mesinha de centro. Ela ainda vomita que, para ver meus filhos, tenho que
ligar para a minha sogra ou entrar em contato com o Donatello. Sei que ela
está com raiva, e entendo que na hora do nervoso falamos e fazemos coisas
que não queremos. Mas tratar o nosso relacionamento assim, como se não
valesse nada, para mim é demais. Sou louco por essa mulher, me deitaria no
chão para ela passar por cima, mas tudo tem limites.
— Você não vai atrás dela!? — Maurício pergunta surpreso.
— Se eu for vai dar merda. A Yza nervosa é uma merda, e eu também
não estou no meu melhor humor. Ela tem um gênio difícil e eu não fico atrás,
então prefiro esperar que ela se acalme. E depois darei uma surra naquela
bunda petulante.
— Ok, ok, muita informação aqui. Alguém vai me dizer o que está
acontecendo? -Josafá se pronuncia pela primeira vez, desde que entramos na
minha sala.
Então eu conto o que aconteceu no outro dia, entre Zia e eu e conto o
que aconteceu agora apouco na sala da Zia. Falo da discussão que eu
presenciei e sobre a gravação da briga das duas.
— Isso é grave Gael. Aonde está essa gravação? — Ele pergunta.
— No celular daquela descompensada da minha mu... — Paro de
falar, quando ouço o telefone da Yza tocar. Eu sei que é o dela, pois esse
toque maluco foi a Maria quem escolheu. Vou até o sofá e encontro o bendito
celular entre as almofadas. Atendo a ligação do Donatello.
— Fala Don.
— Ei Gael, a Yza está por ai? Ela me ligou a alguns minutos, mas eu
fiquei preocupado. Aconteceu alguma coisa? — Donatello pergunta.
— Houve uma discussão entre sua irmã e uma promotora colega
minha, teve agressão e uma gravação da conversa entre as duas. Ela saiu
daqui revoltada, largou o anel de noivado na minha mesa e disse que amanhã
manda alguém buscar as coisas dela lá em casa. Ah, aliás se eu quiser falar
sobre as crianças tenho que falar com você.
— Puta que pariu! Será que nem casada, essa menina vai me dar
sossego!? O quanto essa promotora está machucada? Eu juro Gael, vou
amarrar essa garota em uma camisa de força. Ela ficou louca!? Funcionária
pública porra!
— Foi o que pensei, Donatello. Mas ela não me deixou falar, tirou as
próprias conclusão e foi embora. Eu juro Don, quando eu colocar as mãos
nela, ela vai ficar um mês sem sentar.
— Não sinto inveja de você meu amigo. Meu pai acabou de chegar,
vou explicar para ele o que aconteceu. Se puder mande essa gravação para o
meu celular, será de extrema ajuda já que a maluca deixou o celular dela ai.
— Ok. Qualquer coisa você me liga.
Nos despedimos e eu desbloqueio o celular dela e envio a gravação
para ele. Em seguida me sento na minha cadeira e coloco a gravação para que
Josefa escute. Eu não tinha conseguido escutar tudo, e o que eu ouço me faz
sentir nojo da mulher que eu achava que era minha amiga. Ficamos vinte
minutos ouvindo toda a conversa, até mesmo as ameaças que a Sweet fez a
Zia. O que mais me deixou enojado, foi ela ter ameaçado meus filhos.
Josefa e Maurício escutam tudo no mais absoluto silêncio. A cara do
Josefa não é nada boa, a do Maurício também não fica atrás.
— Isso é grave! Eu não posso acreditar que a Zia foi capaz de uma
nojeira dessas, ela está usando o poder que tem para chantagear a sua mulher.
Foi essa a impressão que eu tive. Isso é inadmissível Gael, não tiro a razão da
sua mulher. O que a Zia fez foi grave. — Josefa diz indignado.
— Concordo com você papai. Isso é inadmissível, prejudicar duas
crianças por causa de um ciúmes idiota é ridículo. Eu estou do lado da Yza.
Zia está ficando louca, eu tentei conversar com ela, mas nada entra na cabeça
dela. Aliás ela disse que iria atrás de você, Gael. — Joyce entra na sala e dá a
sua opinião.
— Ciúmes? Mas eu nunca tive nada com ela, nem se quer um beijo.
Nunca dei a impressão que queria algo com ela a não ser a amizade. Não sei
de onde ela tirou isso, ela nunca me tratou assim, nunca deu a entender que
queria algo comigo.
Se fosse para ela tentar algo, ela tinha feito isso antes. A anos somos
amigos, saímos juntos, viajamos com amigos, fomos a festas e jantares e
nunca teve nada entre nós.
— Eu também nunca vi nada além de amizade da parte dela. —
Maurício diz.
Uma discussão começa na sala da Marina, e uma Zia vermelha entra
na minha sala. Marina até tentou impedir, Mas Zia a empurrou.
— Nós precisamos conversar Gael! — Ela entra dizendo e só então vê
que não estamos sozinhos. — Meritíssimo! É... Bom dia, desculpa atrapalhar
a conversa de vocês, mas é um caso de extrema importância.
— Que bom que chegou promotora. Gostaria mesmo de conversar
com você, quer me explicar que merda está acontecendo? — Josafá pergunta.
— Não sei do que o senhor está falando. — Ela diz sem graça.
— Não sabe? Estou falando sobre essa gravação, sobre você usar o
seu poder como promotora para chantagear a mulher do Gael. Chantagear
não, ameaçar! Aonde foi parar a sua ética Zia? Como você teve a capacidade
de fazer uma coisa dessas? E antes que você possa dizer que é mentira, eu
ouvi a gravação. — Ele diz olhando diretamente para ela.
Sem ter como rebater os fatos, ela abaixa a cabeça e cora.
— Eu juro que não estou entendendo essa sua atitude, Zia. Sempre
fomos amigos, nunca te passei algo além da minha amizade. Você ameaçou
não só a minha mulher, como aos meus filhos também. Duas crianças que
sofreram vários tipos de abusos, principalmente o menino. Você, logo você
que passou por abusos graves, fazer tão pouco do que essas crianças
passaram!? Dizer que estou decepcionado nem descreve o que estou sentindo
nesse momento. Eu estou enojado, Zia. Eu olho para você e sinto nojo, como
a minha mulher disse antes, ela vai pagar por ter te agredido. Eu mesmo
cuidarei para que ela pague por isso, mas em contrapartida, farei questão de
apresentar uma denúncia junto a comissão da OAB. Não tenho o poder de te
tirar do cargo, mas posso e vou te denunciar por prática indevida, por uso do
poder e o que mais eles acharem necessário. A partir de hoje, todos os seus
casos que tenha ligação direta e indiretamente comigo, estarei passando para
outra pessoa.
Ela me olha completamente branca, seus olhos se enchem de lágrimas
e de onde eu estou, posso ver nitidamente que suas mãos estão tremendo. Se
fosse dias antes, eu estaria com pena, mas agora? Agora estou satisfeito por
vê-la assim.
— Me ouça pelo amor de Deus! Eu não sei o que está acontecendo
comigo, nunca estive desse jeito antes. Não tenho e não sinto nada por você,
eu estou errada e concordo com tudo o que disse. Não precisa fazer nada com
a sua mulher, não prestarei queixa de nada. Eu no lugar dela teria feito a
mesma coisa, ou até pior. Vou pedir a minha exoneração, e você pode e deve
seguir com a denúncia junto a comissão da OAB. Você é um homem incrível,
de um caráter ímpar, me perdoe por ter te decepcionado. Não sei o que me
deu, tem muita coisa acontecendo na minha vida e eu não estou sabendo
lidar. Só... Só me perdoe. Eu vou passar o caso dos Valverdes para o
Maurício se ele aceitar. — Zia diz completamente destruída.
É normal não me condoer por ela? Não sentir se quer pena? Pois é
assim que estou, não sinto nada. Ela simplesmente está colhendo o que
plantou.
Zia pede licença e vai embora. Nós ficamos olhando para a porta e a
Joyce é a primeira a falar.
— Não estou defendendo ela, mas estou com pena do jeito que ela
saiu daqui. Realmente a vida dela está uma bagunça e enquanto ela não se
aceitar, não resolver os problemas em sua cabeça, ela não está apta para mais
nada. Por experiência própria eu posso dizer, já me vi na mesma situação e
fiz muita merda até chegar aqui. Não faça nada agora Gael, se acalme e
acalme sua mulher. Conversem sem um voar no pescoço do outro, e decidam
juntos o que deve ser feito. De um tempo para Zia, logo ela colocará a mente
no lugar e vai te procurar. — Joyce diz como se soubesse do que está
acontecendo com a Zia.
— Eu sei que tínhamos muita coisa para conversar, mas nesse
momento não tenho cabeça para mais nada. Vamos marcar para amanhã?
— Tudo bem Gael, super entendemos. Vá atrás daquela sua onça
brava, se posso dizer alguma coisa é que você está fodido meu caro amigo.
— Josafá diz rindo.
— Você não viu nada bode velho! A mulher é um fenômeno a ser
reconhecido. Essa mulher tem um gênio do cão! — Maurício diz rindo.
— É papai, eu mesma presenciei a Yza em pleno vigor. E posso dizer
que ela é foda! —Joyce diz levantando.
Me despeço dos meus amigos, peço para dona Marina cancelar
qualquer compromisso e vou atrás da minha mulher.
Não estou correndo atrás dela, mas irei dizer o que penso. Não será
fácil para ela, não vou facilitar em nada a sua vida. Ela vai ter que levar o que
temos a sério, não dá para viver na corda bamba toda vez que brigamos. Ou
ela amadurece ou não vejo esse relacionamento indo a diante.
Chego ao shopping em vinte minutos. Subo para o andar onde ficam
os escritórios e vou até a recepção onde encontro a Hanna no telefone, espero
alguns minutos até que ela desligue.
— Ei Gael! Veio atrás do seu furacão? — Ela pergunta sorrindo.
— Como você adivinhou? Ela ainda está na sala do Don?
— Está sim. Pode entrar, só está ela, o Don e o Will. Eu ouvi alguns
gritos do sogrão, mas nem fui louca de ver o que era. Yza testa até um santo e
para ter tirado o Will do sério, é sinal que a coisa foi feia. — Hanna fofoca.
— Será que agredir uma promotora, conta como coisa feia!? —
Pergunto e imediatamente Hanna fica branca e com os olhos arregalados. —
Vou lá, mas se você ouvir mais alguns gritos pode ir lá ver. Com certeza
estarei dando uma surra naquela bunda maluca da sua amiga. — Falo e ela
cai na gargalhada.
Vou em direção a sala de Donatello e posso ouvir a voz brava do meu
sogro. Sem bater na porta, já vou logo entrando e a minha Sweet está
vermelha de raiva ou vergonha e os olhos cheios de lágrimas. Sem falar com
ninguém, vou em sua direção e a pego em meus braços e vou me sentar na
primeira cadeira que acho. Coloco ela de bruços no meu colo e dou o
primeiro tapa, e só para constar foi um tapa bem forte e nada com segundas
intenções. Ela agiu como uma criança, então vai ser tratada como tal!
— Você está louco!? O que acha que está fazendo? — Ela pergunta
irritada tentando levantar do meu colo, mas eu a prendo entre as minhas
pernas e continuo batendo em sua bunda.
Will e Donatello me olham espantados, mas logo vejo um grande
sorriso em seus rostos.
— O que eu estou fazendo? Estou ensinando uma lição para uma
menina mimada, que acha que o mundo gira ao redor do seu dedo mindinho.
Você agiu como uma criança, então vai ser tratada como tal!
— Papai! O senhor não vai fazer nada!? Donatello! — Ela grita
indignada.
— Não vou fazer nada princesa. Ele está fazendo o que deveria ter
feito anos atrás, Deus sabe quantas vezes tive vontade de fazer a mesma
coisa, mas sempre desistia quando você piscava esses olhinhos encantadores.
— Will diz rindo.
Eu perco as contas de quantos tapas eu desferi em sua bunda gostosa.
Aposto que essa safada está molhada dos tapas que está levando, mas
diferente das outras vezes, essa não tem conotação sexual. Isso é mais como
castigo.
Ela quer ser infantil? Então a tratarei como tal.
Quero uma mulher ao meu lado e não uma criança, que bate pé
quando as coisas não saem do jeito que ela quer. A Yza é um puta mulherão
quando quer, mas muito infantil quando lhe convém. Eu sei da sua
capacidade, eu amo todas as facetas que ela tem, mas tem momento para
tudo, até mesmo para suas infantilidades.
Apanhar na bunda é o auge da humilhação! E ficar molhada, então
nem se fala.
Eu sei que ao tirar a aliança do meu dedo, foi um ato de infantilidade.
Mas na hora da raiva eu me torno cega, para mim, ele estava ao lado daquela
infeliz. Nunca senti tanto ódio de uma pessoa, como estou sentindo da Zia.
Uma mulher que passou por um monte de merda, deveria se condoer pela
situação das minhas crianças e não usá-las para se aproximar do Gael.
No caminho até aqui, pude me calmar e ver que fui infantil. Não em
relação a Zia, mas sim em relação a ele. Mas na hora da raiva não
enxergamos nada, e além do anel, ainda falei das crianças. Sei que tenho
muito pelo que me desculpar, mas agora, apanhando feito uma menina de
cinco anos, minha raiva está tomando proporções épicas. Meu pai e Donatello
só sabem rir da minha desgraça, já até perdi as contas de quantos tapas ele me
deu. Mas o que posso dizer é que esse homem está possuído, não é um
tapinha leve não, é tapa forte, minha bunda está queimando e tenho certeza
que ficarei dias sem sentar direito.
— Chega! — Grito e ele para na hora.
Sua respiração é ofegante, como se ele tivesse corrido uma maratona.
Seu olhar é de uma pessoa com raiva, seu corpo todo está tenso. Levanto
rapidamente do seu colo e vou para o outro lado da sala.
— Você está completamente louco! Aonde já se viu, uma mulher de
vinte e cinco anos nas costas, apanhar na bunda feito uma criança de cinco
anos!?
— Uma mulher de vinte e cinco anos nas costas, apanha quando suas
atitudes são de uma menina de cinco anos. Quer ser tratada como uma
mulher? Então começa a agir como tal, Yza Reed. Sua atitude foi infantil,
descabida e sem noção. Eu não estava defendendo a Zia, nem se quer pensei
sobre isso. Minha preocupação era com o seu rabo louco e inconsequente!
Você tem noção da merda que você fez? Ela é uma promotora caralho! Ela é
uma funcionária pública. Sabe quantos nos de prisão você pode pegar? — Ele
diz cada palavra com raiva.
— Ela tentou me agredir primeiro! Ela ameaçou os meus filhos, me
desculpa meritíssimo, se eu não pensei em mim mesma. Se tem alguém
errada nessa história, esse alguém é a sua amiguinha. Não vou negar que o
que me levou a ir vê-la, foi o ciúmes, mas também para dar o aviso para que
ela fique longe dos meus filhos. E ela me provou que eu estava certa, ela não
tem caráter, não tem profissionalismo. Ela ameaçou tirar as crianças de mim,
tudo para que ela fique com o caminho livre para você. E você ainda acha que
eu estou errada? Gael, se eu quisesse realmente machucar aquela mulher, não
teria santo que me tirasse de cima dela, nem mesmo você seria capaz. A essa
hora, ela já estaria morta!
— Ela pode me querer, mas a partir do momento que eu sou seu, nada
mais importa. O que me deixou com raiva, não foi a briga ou você ter me
envergonhado na frente dos meus amigos de trabalho ou que pensei em como
o seus atos afetarão a minha carreira. O que me irritou foi que, você com o
seu gênio do caralho, simplesmente tirou a aliança e me dispensou como se
eu não fosse nada! Já é a segunda vez que você joga o que temos fora, como
se fosse roupa usada. Eu sou um homem vivido Yza, já passei por coisas para
caralho e quero uma mulher do meu lado e não uma menina mimada. — Ele
diz sério.
— Eu sei que ambos estão nervosos, a situação não é favorável para
nenhum dos dois. Mas acho que resolver as coisas de cabeça quente, não vai
levar a lugar algum. — Meu pai diz, tentando apaziguar a situação.
— O que você quer dizer com isso, Gael? — Pergunto. O medo corre
em minhas veias, gelando cada gota do meu sangue.
— Quer dizer que, ou você tira um tempo para pensar no que
realmente quer. Ou não dará certo, Yza. Não quero que você mude, ao
contrário, eu me apaixonei por você sendo desse jeito. Mas você tem que
saber o momento que deve agir por impulso. Você é um mulherão da porra,
corajosa, valente, dona de si e que sabe o que quer e dona de um coração
lindo. Mas tem a sua infantilidade, eu até gosto dela, mas tem momento para
tudo. Eu não gosto quando em um acesso de birra, você jogue fora tudo o que
temos vivido até aqui. Não gosto quando você usa os nossos filhos, me
impedindo de conviver com eles. Fazendo isso, você mostra que o que sente
por mim é mínimo, comparado ao que sinto por você. Minha vida gira em
torno de você, desde que nos vimos pela primeira vez. Estou cansado de tudo
com você é agir na justiça, marcar hora para ver os nossos filhos. Porque é
isso que eles são, NOSSOS FILHOS. Não seu ou meu, mas sim nossos e você
está sendo egoísta quando pensa só em você. — Ele desabafa tudo o que
estava entalado.
Cada maldita palavra que sai da sua boca, bate feito um tijolo dentro
de mim. Eu sei que minha atitude iria magoá-lo, mas não imaginei que seria
tanto. Eu não tenho palavras para rebater o que ele contestou, acho que se eu
abrir a minha boca, cairei no choro. Eu amo esse homem, sou louca, insana
por ele e sei dos seus sentimentos por mim. Mas bateu o medo. Medo de não
ser o suficiente, medo por ele estar sendo impulsivo. Eu sou uma menina
mimada, sempre fui, mas a Zia? Ela é um puta mulherão, mal caráter, mas
ainda sim um mulherão. Ela é mais velha que eu, tem uma carreira
consolidada, é da mesma idade que ele. Não sei... Me sinto perdida.
— Olha... Eu não vou sair de casa, não vou me afastar dos meus
filhos e não vou me afastar de você. No máximo que posso fazer é mudar de
quarto, mas viveremos embaixo do mesmo teto. No momento o que importa
não é você ou eu, e sim as crianças. Júlio está passando por uma transição
difícil, está se abrindo mais, se permitindo ser criança, está mais
comunicativo e não quero que isso mude. Também tem a Maria que está
acostumada a ter nós dois em casa, e não quero que ela regrida em tudo o que
ela já alcançou. Vou te dar o seu tempo Yza, não vou me intrometer na sua
vida. Quero que você pense se é isso, se é nós dois juntos, o que você quer.
Eu mereço uma mulher inteira Yza, mereço ser feliz e viver sem medo de
uma próxima briga. Eu amo você feito um louco, mas não adianta amar
sozinho. Não pense que é fácil dizer tudo isso, te garanto que está doendo
mais em mim que em você e se realmente for para construir um casamento
juntos, preciso saber se posso contar com você. Quero uma parceira para vida
e não somente na cama. — Ele diz e sem se despedir, vai embora e eu fico
olhando para porta, sentindo uma dor enorme dentro de mim.
Não sou capaz de falar nada, só de sentir. Sinto uma dor que me
corrói, sinto o ar se esvaindo de mim, sinto que pela primeira vez na vida, a
minha impulsividade está me destruindo. Dois braços me rodeiam me
abraçando apertado, mas não sinto o acalanto a segurança que sempre senti
antes.
— O que foi que eu fiz pai? — Pergunto baixinho.
— Você agiu por impulso e está colhendo as consequências, princesa.
Vocês foram muito rápido, não tiveram tempo de se conhecerem realmente.
Mas eu apoio tudo o que ele disse filha. Tem certas ocasiões que você se
mostra uma mulher incrível, como no trabalho e com as crianças, mas em
outros você é imatura e age como uma criança mimada. Gael foi primeiro
homem por quem você realmente se apaixonou, seu primeiro amor e é normal
agir assim. Mas eu sempre te disse que temos que pensar antes de agir. Gael é
um homem incrível, de uma caráter fora de série. Mesmo vivendo por tudo o
que viveu, ele escolheu ser um homem diferente do que o pai foi. Ele nunca
ligou pela diferença de idade entre vocês, ele sempre te tratou como mulher.
A mulher dele. — Meu pai diz carinhoso.
— O que você fez princesa, foi difícil de ele engolir. Não digo por ter
defendido seus filhos, mas por ter feito pouco caso dos sentimentos dele por
você e ter agredido aquela mulher, sem se importar com as consequências. O
homem é louco por você, sem nem nos conhecer, ele peitou o papai por você.
Enfrentou o Dylan e eu, tudo porque você estava chorando. Ele se jogou de
cabeça no amor que sente por você e só quer ter esse sentimento retribuído.
Ele não quer que você mude, mas sim que pense antes de agir. Pelo que eu
pude ver, ele não liga para a carreira dele ser afetada, mas ele se importa com
o que possa vir a acontecer com você. São coisas graves, Yza. E mesmo que
você tenha a tal gravação, ainda corre o risco de se prejudicar. — Donatello
diz sério.
— Você não viu ela, Don. Ela é tudo o que eu não sou. Ela é linda,
tem uma carreira incrível, ela pode passar horas conversando com ele, porque
os dois tem a carreira em comum. Eu? Eu sou só uma menina mimada, que
tem um gênio difícil e uma agressividade a flor da pele. Um dia ele vai
enxergar isso, e quando isso acontecer ficarei destruída.
— Você não é a minha irmã! Onde está aquela garota insuportável,
que luta pelo que quer? Que enfrenta uma sala cheia de homens
preconceituosos e os coloca em seus devidos lugares? Você é uma mulher
incrível furacão, honesta, íntegra, trabalhadora e dona de uma inteligência
sem fim. Você não é uma mulher medrosa, então vai levantar a cabeça e lutar
pelo seu homem. Se o Gael quisesse a Zia, ele já teria ficado com ela a anos.
Então para de cu doce, para de dar uma de vítima, porque essa não é você. —
Don fala bravo.
Ele tem razão. Eu nunca fui de ter medo e muito menos me
menosprezar. Eu sou foda naquilo que faço, e nunca fui de baixar a cabeça
para ninguém. Tudo o que tenho que fazer e começar a pensar antes de agir.
Será que ele vai me perdoar?
Será que ainda tenho chances, de lutar por ele? De provar que eu sou
a mulher que ele precisa?

O que estou fazendo da minha vida!?


De uma hora para outra, a minha vida deu um giro de trezentos e
sessenta e cinco graus. Me sinto perdida, sem saber qual o caminho seguir.
Estou no meio de um redemoinho de destruição e estou arrastando todos ao
meu redor. Não me sinto como eu mesma, estou tendo atitudes que não
condiz com a pessoa que eu sou. Na pessoa que eu me transformei, depois do
pesadelo no qual vivi.
Eu passei pelo inferno e mesmo assim, sai viva. Chamuscada, com
cicatrizes no corpo e na alma, porém viva. Perdi uma parte de mim, da qual
jamais terei de volta e é uma dor que sempre e para sempre irei sentir. Eu
lutei... Pena que foi tarde demais. Ainda tenho pesadelos constantes que só
reforçam ainda mais a culpa que eu carrego. Se eu fechar meus olhos, ainda
posso ver o seu corpinho gordinho, todo sujo de sangue. Posso ver seus
cabelos lambidos e Sebosos, por conta da água do parto. Também posso
ouvir as palavras da médica "Sinto muito, mas ele nasceu sem vida". Essas
palavras me perseguem, dia após dia. Foi por ele que eu criei coragem, foi
por ele que lutei e consegui com que meu ex-marido pegasse a maior
condenação possível. Ele só perdeu a liberdade, mas eu? Eu perdi a melhor
parte de mim.
Eu prometi a mim mesma, enquanto enterrava a pessoa mais
importante da minha vida, que iria ser uma mulher diferente. Que lutaria para
colocar, pessoas como o meu ex-marido atrás das grades. E foi o que eu fiz.
Eu procurei pelo Gael, que na época foi meu advogado de defesa. Pedi ajuda,
disse que queria mudar de vida, e ele me estendeu a mão. Me ajudou a entrar
na faculdade, me ajudou a arrumar um estágio, ele esteve na minha formatura
como um pai orgulhoso do filho. Me levou e esperou eu fazer a prova da
OAB, me levou para comemorar a pontuação máxima. Estudei ainda mais
para ser promotora, embarquei na causa do Gael de cabeça e tudo. Ele sabia
tudo sobre mim, assim como eu sabia de tudo o que aconteceu no seu
passado. Ele é o irmão que nunca tive, e olha a merda que eu fiz!?
Apunhalei a única pessoa que sempre esteve do meu lado, tudo
porque me encontro perdida.
— Você está satisfeita com a destruição que causou? Tudo isso
porque, Zia? Por medo? Sim, porque por amor não é, você nunca pensou no
Gael como homem. Me diz o que te levou a agir assim! — Ela... A causadora
de me sentir assim. Joyce foi a única que não saiu da sala.
— Eu quero que você me deixe sozinha, Joyce. Não te devo nada,
muito menos satisfação.
— Você está se afundando, Zia. Está se transformando em uma
pessoa que você não é! Olha tudo o que você fez. Você ameaçou duas
crianças, além da mulher do seu amigo. Isso não é ciúmes, como a Yza acha
que é. Você está tentando agarrar uma boia, para te salvar de se afogar na
verdade. — Joyce diz séria.
— Sai daqui! Me deixa em paz! Sai, sai, sai!
— Eu vou sair. Mas presta bem atenção no que vou falar. Acorda para
vida Zia, isso não é o fim do mundo. Você não deve satisfação da sua vida
pessoal para ninguém, mas isso que você está fazendo? Isso está machucando
a pessoa mais importante da sua vida, a única pessoa que sempre esteve do
seu lado. E tudo isso porque você é uma medrosa de merda! — Ela diz e sai
batendo a porta.
Assim que me vejo sozinha, deixo minhas lágrimas caírem. Eu me
sinto suja, por tudo o que fiz e falei. Me sinto desprezível, por magoar e
decepcionar a única pessoa que esteve ao meu lado. Eu não amo o Gael,
nunca tive segundas intenções por ele. Para mim, ele é um irmão querido, até
mesmo um pai que sempre esteve ali para me dar conselhos. Eu não sei o que
aconteceu comigo, eu fiquei feliz quando ele me disse que conheceu alguém.
Gael era muito sozinho, vivia para o serviço e para lutar contra o monstro em
sua cabeça.
Quando enfim me livrei do meu ex-marido, Gael foi o primeiro quem
me ajudou. Depois de formada, ele me ajudou a me reinventar, a ver que o
mundo era mais do que eu sabia. Me apresentou pessoas novas, me
incentivou a sair com outros homens. Mas eu estava fechada para balanço,
estava e estou quebrada de inúmeras maneiras e não me via tendo um
relacionamento com ninguém. O medo ainda era uma constante em minha
vida, nada poderia curar as cicatrizes que eu carrego comigo. Até ela... Eu
conheci a Joyce em um barzinho que fui com o Gael, o Maurício e sua
esposa. Passamos a noite toda na maior conversa, jamais imaginei que ela era
lésbica e que tinha interesse em mim. Depois dessa noite, sempre nos
encontramos para conversar. Saímos para jantar fora, ou até mesmo uma
pizza em casa. E foi em um desses encontros, que percebi a maneira que ela
me olhava. Confesso que fiquei com medo, mas também senti um frenesi,
uma excitação diferente de tudo o que já senti na minha vida. Ela despertou
um lado meu que pensei ter morrido junto com meu filho. Aquela sensação
de me sentir bonita, sexy, sensual. Ela me olhava com vontade, com desejo e
isso despertou algo em mim. Às vezes achava que estava ficando louca, que
estava vendo coisas aonde não existia. Eu nunca tinha sentido desejo por uma
mulher antes, então achei que era coisa da minha cabeça, pura carência. Até
que em uma noite... Bebemos demais, eu a convidei para jantar em casa. Fiz
uma massa caseira regada de um bom vinho, passamos horas bebendo e
conversando. Nossas ideias fluíam, falávamos sobre tudo e sobre nada ao
mesmo tempo. Não sei como aconteceu, ou quem deu o primeiro passo, só
sei que eu me perdi em seus beijos, me achei em seus braços, aceitei seus
carinhos e eles foram como um bálsamo em minha alma tão castigada.
Passamos a noite juntas, ela amou cada parte do meu corpo e me fez sentir
coisas que nunca tinha sentido antes, me fez sentir desejada, amada, inteira e
isso me assustou na manhã seguinte. Eu nunca tinha sentindo nada disso
antes, nem mesmo com o meu ex-marido, pelo qual era loucamente
apaixonada no início.
O medo do novo me fez fugir dela. Me afastei, ignorei suas
mensagens e ligações. Confesso que não era só o medo do novo, mas também
o medo do que os outros iriam pensar. Ela me mandava mensagens, flores,
acampava na frente do meu prédio. Brigamos feio, pois eu não me via sendo
lésbica, não me via namorando outra mulher e não aceitava que estava
sentindo coisas além da amizade. Para mim, o que aconteceu foi uma noite de
bebedeira onde fiz de tudo para aplacar a sensação de vazio. Tipo Vegas, o
que acontece em Vegas fica em Vegas. Joyce não aceitou isso, me chamou de
medrosa e preconceituosa. Ela foi embora e nunca mais me procurou,
passaram-se meses até que eu a vi novamente. Ela estava vindo para estagiar
com o Gael ou o Mauricio, não procurei saber muito.
Nesses meses que ficamos afastadas, eu pensei muito nela. Não tinha
um único dia em que ela não estivesse em minha mente, mas o medo e a
vergonha não me deixaram procurá-la. Também não sabia o que falar, ou o
que fazer. Me sinto perdida, sem ter para onde ir. E acho que por isso me
apeguei no fato do Gael estar tão mudado. O medo da atração que senti pela
Joyce, me fez mentalizar um relacionamento com o Gael e o fato dele está tão
empenhado em construir uma família, me desestabilizou. Ele era a minha
única esperança de me senti normal novamente, de me sentir eu mesma.
E por esse medo idiota, magoei uma pessoa, não qualquer pessoa, mas
a mais importante da minha vida. Eu meti os pés pelas mãos e tudo por medo
de assumir o que estou sentindo. Falei e fiz coisas absurdas, eu jamais
prejudicaria aquelas crianças, eu jamais deveria ter ido para cima daquela
menina. Mesmo sendo tão nova, ela tinha a certeza do que estava fazendo.
Estava lutando pelo homem dela e pelas crianças dela. Mesmo tão nova, ela
sabia o que fazer e como fazer. Já eu? Eu me escondi por medo, por vergonha
do que os outros iriam achar, quando nada disso importava. Ninguém tem
nada a ver com a minha vida, ninguém me conhece ou sabe pelo que eu
passei. Então não cabe a ninguém me julgar ou opinar com o que eu faço da
minha vida. Durante anos achei que estava morta por dentro, e foi ela, foi a
Joyce, quem me despertou para vida. Com ela me senti inteira novamente.
Agora tenho que arrumar essa bagunça que eu mesma fiz, tenho que
pedir perdão para o Gael e também para a mulher dele. Não será fácil, aquela
garota é osso duro de roer e tem um mão pesada para cacete.
Depois...
Depois eu vou dar um jeito na minha vida e pela primeira vez, vou
fazer o que eu quero!
Eu estou perdido! Me sinto andando em meio a um labirinto, tentando
em vão encontrar a saída, mas a cada curva que faço dou com a cara na
parede.
Perdi completamente o senso do ridículo, ao tratar a Yza como uma
criança birrenta. Eu, que tanto falei sobre sua infantilidade, fui mais criança
do que ela! Não tenho justificativa para o que fiz, não tenho como me
desculpar e isso está me corroendo por dentro. Não interessa o que minha
mãe, Will ou até mesmo Donatello falem que não foi para machucá-la.
Mesmo assim foi e é errado! Eu vi tudo o que minha mãe passou, vi o que um
tapa pode causar a uma pessoa. Vivi em meio a violência doméstica e mesmo
assim fui capaz de um ato tão vil e que vai contra tudo o que sou. Na hora
não vi nada na minha frente, tudo o que passava na minha cabeça era o fato
dela ter se colocado em perigo. Eu sei que o que a Zia fez foi errado, sei que
ela foi totalmente sem ética e em nenhum momento fiquei ao lado dela ou
aplaudi suas atitudes. Mas existem batalhas que nem sempre o certo é usar a
força, a Yza tinha a faca e o queijo nas mãos para foder com a Zia, mas
perdeu a razão e o controle avançando em cima dela.
Zia... Jamais imaginei ter tamanhas decepção com uma pessoa, como
tive com ela. Eu a considerava uma amiga, mais como uma irmã mesmo. Vi
tudo o que ela viveu, presenciei toda a dor e o sofrimento que a violência
doméstica fez na vida dela. Ela não só estava sozinha, mas perdeu o filho que
ela tanto sonhou. O ex-marido dela não matou só o próprio filho, matou a
essência da mulher, matou o sonho de ser mãe e arrancou qualquer
possibilidade dela realizar esse sonho. O foda é que a família dele sabia de
tudo e mesmo assim preferiram fechar os olhos, se fizeram de cegos até que
fosse tarde demais. Ela viveu no inferno, mas isso não justifica tais atos.
Joyce falou que ela estava perdida, mas também não justifica querer
prejudicar duas pessoas inocentes.
Yza e eu não estamos nos falando direito, apenas o essencial sobre as
crianças. Minha ursinha sabe que alguma coisa está errada, Júlio também
sente. Não é que eu seja orgulhoso ou dono da razão, mas ainda não consegui
criar coragem para me desculpar. O que fiz foi imperdoável e sei que pode
gerar consequências sérias. Yza só está em casa ainda, porque temos as
crianças. Acho que não sentei para conversar com ela, porque o medo me
paralisa.
Eu não tinha nenhuma perspectiva de um relacionamento amoroso,
não tinha planos de me envolver emocionalmente. Saía sim, tinha meus
casos, mas eles eram só isso. Um caso. Mas a partir do momento que a olhei
pela primeira vez, eu sabia que ela era minha outra metade. Tudo em mim
gritava para que eu a pegasse para mim, que possuísse cada centímetro do seu
corpo, que a fizesse me querer e ansiar por mim. Nossa química foi perfeita,
foi intensa demais e eu sabia dentro de mim que ela era a única mulher da
minha vida. Não me importei com a diferença de idade entre nós, tudo o que
me importava era tê-la para mim. Nosso relacionamento não engatinhou
como muitos por ai, não, ele correu léguas e léguas de distância. Quando
estávamos nos acostumando em sermos um par, logo nos descobrimos pais e
como nada entre nós é calmo, nos vimos envolvidos pela nossa menina linda.
Então meu medo é justificável. Por causa de uma idiotice, posso
perder a mulher da minha vida, posso perder a família que nem sabia que
queria, mas que completamente, loucamente apaixonado. Não tem sido fácil,
Yza não tem facilitado em nada a minha vida. Ela me conhece, sabe que
estou me afastando por medo e me testa constantemente. Se estamos na
cozinha, ela não perde a chance de me atentar. Ela esfrega seu corpo no meu,
usa roupas provocantes, vai me olhar enquanto malho, dando-me olhares
gulosos e isso tem me deixado insano. Sinto falta de sentir seu corpo ao meu,
sinto falto do seu cheiro, do seu toque. Sinto falta de dormir com ela em meus
braços, falta dos seus beijos, de ouvir seus gemidos. Saudades de me perder
em seu corpo e me achar nos seus suspiros.
Eu estou deitado na sala assistindo o noticiário. Júlio foi dormir na
casa do Otávio, minha ursinha já está dormindo a algum tempo e a Yza está
no nosso quarto trabalhando. E esse era o lugar onde gostaria de estar agora;
deitado ao seu lado, a olhando trabalhar toda concentrada. Estou perdido em
pensamentos, tentando decidir se chegou a hora de conversar ou não, quando
ouço um grito vindo do quarto da Maria. Meu coração bate enlouquecido e
dou um pulo do sofá, correndo para ela com medo que alguém possa estar
fazendo mal a ela.
— Não! — Maria grita mais uma vez.
Quando entro em seu quarto, ela está sentada no meio da cama,
segurando seu urso de pelúcia favorito chamado Gael. Seu rosto banhado de
lágrimas e o medo estampado em seu rosto, deixa meu coração apertado. Eu e
sento ao seu lado e a puxo para o meu colo.
— Foi só um sonho, ursinha. Não precisa ter medo.
— Eles vieram me buscar! — Ela diz chorando copiosamente,
agarrada em meu pescoço.
— Ninguém virá te buscar filha, eu não deixarei nada de ruim
acontecer com você.
— Promete? Posso dormir com você? Quero leite quentinho com o
mel da vovó. — Ela fala, sua voz saindo abafada.
— Lógico que pode, meu amor. Eu juro pela minha vida que ninguém
jamais vai tirá-la de mim e nem da sua mãe. Vamos na cozinha, vou fazer
uma caneca gigante de leite com mel para você. Acho até que vou tomar um
pouco também.
Com ela em meus braços, vou para a cozinha preparar o leite
calmante que minha mãe fazia para mim. Tenho que fazer tudo com uma mão
só, já que lá se negou a sair dos meus braços. Esquento o leite, adoço com
mel e entrego a caneca dela e pego a minha. Eu a levo para a sala e coloco
um desenho para assistirmos. Maria toma todo o seu leite e depois encosta
em meu peito, seus olhos vão ficando pesados e eu faço carinho em seus
cabelos até que ela realmente adormece.
Está na cara que a minha briga com a Yza, está afetando a minha
menina. Seu medo é nítido, e já começou a bagunçar seu emocional. Espero
mais alguns minutos e quando vejo que ela realmente adormeceu, colocou-a
deitada no sofá e vou para a cozinha lavar as canecas. Quando volto, não me
surpreendo ao ver a minha Sweet sentada ao lado da nossa menina. Fico
parado na porta estático, sem saber o que devo fazer, mas Yza toma a decisão
em suas mãos.
— Acho que não tem mais como fugir de uma conversa Gael. Essa
merda já foi longe demais e já está afetando os nossos filhos. — Ela diz séria,
mas sem olhar em minha direção.
— Eu sei... Só não consigo decidir por onde começar. — Falo
sentando na poltrona perto de onde elas estão. — Eu errei ao agir daquele
jeito. Falei tanto sobre suas atitudes serem infantis, e provei que não sou
diferente. Eu me envergonho de ter te tratado daquele jeito, eu sou seu
marido e não seu pai. Não deveria ter gritado com você, não deveria ter
batido, mesmo que a minha intenção não fosse machucar. Eu me vi irritado
pelas suas atitudes, por você ter feito pouco caso do nosso relacionamento, e
quis pagar na mesma moeda e isso foi tão errado.
— Gael...
— Não, Yza. Deixe-me falar. Eu mais que ninguém sei o que um tapa
faz, eu vivi em meio a violência doméstica. Tudo começou com gritos, depois
um tapa, que foi se transformando em surras, membros quebrados. Eu
abomino qualquer tipo de violência e o que eu fiz, vai contra tudo o que eu
sou, tudo o que eu prego. Eu me sinto um lixo por ter feito o que fiz, minha
atitude só diz o quanto eu sou parecido com ele. — Desabafo toda a angústia
que senti.
Yza respira fundo e sorri, enquanto mexe nos cabelos da Maria.
— Porque será que eu sabia que isso estava te corroendo? — Ela diz
sorrindo melancolicamente. — Você é tão previsível, Gael! Você gostou de
bater na minha bunda, ou gostou de gritar comigo?
— Não! Lógico que não. Que pergunta é essa?
— Ai está a sua resposta. Você não é parecido em nada com o seu pai.
Nenhum osso desse seu corpo gostoso, parece com ele. Você, mesmo
sabendo que não me machucou, está se sentindo um bosta. Seu pai não, seu
pai tinha prazer em machucar a sua mãe e você. — Ela me olha seria
enquanto fala. — Foi errado? Foi, mas em sua defesa, eu posso testar a
paciência de um santo. Você não quis me machucar, você jamais seria capaz
de fazer isso. Você me tratou do mesmo jeito que te tratei, fui infantil e você
agiu no impulso punindo uma criança. Fiquei com raiva? Fiquei, mas depois
conversando com o meu pai eu pude entender a merda que eu fiz.
— Nada justifica a minha atitude, Yza. Eu deveria ter esfriado a
cabeça, deveria ter me acalmado. Mas quando se trata de você, quando se
trata do que temos, me torno irracional. Me magoou tudo o que você disse,
magoou você ter duvidado do meu amor por você e pelos nossos filhos.
Fiquei puto por você ter levado o que temos, como se não fosse nada. Você
tirou o anel com tanta facilidade, como se não se importasse com os meus
sentimentos, com o amor que sinto por você. Como se fosse fácil se desfazer
de tudo o que viemos construindo ao longo desses meses.
— Depois de conversar com o meu pai e com o Don, pude entender o
que minha atitude lhe causou. Depois do que você disse no escritório, eu
pude enxergar o quão errada eu estava. Mas em minha defesa, eu não penso
muito antes de agir. Para mim, você estava do lado da Zia e contra mim. Eu
tenho um gênio do cão, sou impulsiva, e quando provocada não enxergo em
quem desconto minha raiva. Donatello me fez ver, que você não estava do
lado dela e sim preocupado com o que poderia acontecer comigo. Mas para
ser sincera, eu já tinha descoberto isso assim que entrei no carro. Acho que
nessa história não cabe um certo e outro errado, Gael. Ambos erramos, eu
com a minha atitude egoísta e você por ter estourando.
— Eu me apaixonei por você, justamente por ser maluca. Amo a
mulher que você é, amo que você possa ser uma menina bagunceira em uma
hora, e um mulherão toda decidida em outra. Não quero que você mude,
Sweet. Amo você do jeito que é, maluca, encrenqueira, uma leoa, uma mãe
maravilhosa. Não sinto vergonha de quem você é ou de como age, mas me
preocupo quando se torna inconsequente e se coloca em risco. Você estava
protegendo os nossos filhos, você ouviu muita merda vindo de uma pessoa
que eu considerava como minha amiga. Não tenho como condenar sua atitude
e nunca irei fazer isso, a não ser que você se coloque em risco como você fez.
Existem guerras que não são vencidas usando a força física, e sim usando a
cabeça, bolando estratégias. Lógico que em situações como a que aconteceu,
a razão some e tomamos atitudes impensadas.
— Confesso que ali minha razão foi para o espaço, tudo o que via era
uma mulher amarga capaz de tudo, até mesmo prejudicar duas crianças para
obter o que queria. Eu vi vermelho Gael, não fui ali brigar por você. No
início até foi, mas quando ela citou as crianças fiquei fora de mim. Ali era
uma mãe brigando pelos filhos. Eu entendi que tenho que mudar, não quero
que você sinta vergonha em me ter ao seu lado. Você disse que quer uma
mulher ao seu lado, e eu sou essa mulher! Você quer uma pessoa que lute por
você e ao seu lado, que não quer uma menina que vá abandonar o barco. E eu
sou essa mulher Gael. Ninguém vai amar você como eu amo, ninguém ira
protegê-lo como eu irei. — Ela diz decidida, com os olhos brilhando de
lagrimas não derramada.
— Não Sweet! — Falo me levantando e me ajoelhando na sua frente a
ela. — Não quero que você mude meu amor. Me perdoe se o que falei te
magoou tanto assim, que fez você duvidar de quem é. Eu amo você do seu
jeitinho, sei que somos intensos, passionais, mas é isso que eu amo entre nós.
Tudo o que peço é que você pense antes de agir. Se fosse outra pessoa, a essa
hora estaríamos chorando pela perda dos nossos filhos. Vocês são tudo o que
tenho de mais precioso no mundo. Você me fez ter sonhos que jamais sonhei
em ter. Me deu um lar, quando tudo o que tinha era uma casa vazia. Eu
jamais pensei em ter uma família e você me deu isso. A única pessoa que
quero ao meu lado é você, Yza Reed. Você foi feita para mim, para ser
minha. Odeio brigar com você, odeio me afastar de você.
— Eu amo tanto você Ursão, tanto que me falta palavras para
descrever o que sinto. Sou impulsiva, meto os pés pelas mãos, tenho um
gênio do caralho, mas nunca duvide do meu amor por você. Você diz que se
tornou um homem melhor depois de mim, mas quem mudou fui eu. Eu era só
uma menina inconsequente, que vivia de balada e cachaça. Você me
transformou nessa mulher que está aqui diante de você, sou feliz por tudo o
que estamos construindo. Feliz pela família que estamos formando, feliz por
amar um homem como você. — Ela diz me abraçando.
Como eu senti falta disso, meu Deus! Essa mulher é minha sanidade,
minha paz espiritual, meu ponto de equilíbrio. Sem ela, eu era apenas uma
casca do homem que sou hoje. Era vazio, sozinho, infeliz. Só depois dela que
descobrir o que era viver realmente.
— Me perdoa, Sweet?
— Perdoo. E você, me perdoa? Nós dois fomos errados.
— Perdoo. Sinto tanto sua falta meu amor. Falta do seu cheiro, do seu
toque, dos seus carinhos.
— Tudo por ser teimoso! Isso poderia ter se resolvido, se você tivesse
aceitado conversar logo no primeiro dia. Eu sabia que você estava se
condenando, se comparando ao canalha do seu pai. Gael, você não tem nada
dele, nada. Você é um homem incrível, maravilhoso. Um pouco rabugento,
mas todos os ursos são, não é mesmo? Vamos dormir? Não dormi bem esses
dias todos, a cama fica enorme sem você. Vamos esquecer essa merda que
aconteceu?
— Vamos! Amo você minha Sweet.
Ela me beija rapidamente e se levanta do meu colo. Só então pude ver
o quanto ela está abatida, ela também perdeu um pouco de peso. Yza pega o
urso da Maria, enquanto pego a minha ursinha nos braços e a levo para o
nosso quarto. Deito minha menina na cama e vejo a Yza deitar ao seu lado.
Vou até a sala e desligo a televisão e apago as luzes e vou me deitar com as
minhas meninas.
Me deito ao lado da minha mulher, colocando um braço embaixo da
sua cabeça enquanto o outro abraça ela e a Maria. Escondo meu rosto em seu
pescoço tragando seu cheiro que tanto me acalma. Depois de dias me sinto
completo! Sentir seu corpo colado ao meu, sentir seu cheiro, seu calor, tudo
nela me faz sentir inteiro. Ela é minha outra metade, minha alma gêmea.
Estou quase pegando no sono quando ela me chama.
— Ursão?
— Hum...
— Hoje nós vamos dormir. Mas amanhã? Amanhã você será meu.
Tenho planos incríveis para você, e não pense que será simples. Você se
comportou muito mal, me deixando sozinha por dias a fio. Estou carente Gael
e já aviso que um dia apenas será pouco! —Ela diz diabolicamente, roçando
sua bunda perfeita em mim.
Porra!
Estou quase cancelando minha agenda, só para ficar à mercê de suas
vontades. O que estou falando? Vou cancelar e pronto! Ainda estou de férias
e preciso ficar em casa descansando.
Amo as facetas da minha mulher. Uma hora uma menina, outra hora
amorosa, mas na cama? Na cama ela é tudo o que um homem precisa.
Desinibida, envolvente, safada. Ela me enlouquece em cada aspecto da nossa
relação, principalmente na cama. Yza sabe o que quer e não tem vergonha de
pegar o que deseja.
— Isso envolve o que? Só para eu saber mesmo.
— Envolve muito suor, orgasmos incríveis e muita resistência. Eu até
fiz umas comprinhas no sexshop! Está preparado Ursão?
Falta quantas horas para o dia seguinte?
Puta que pariu!
Mas ela que não se engane, não é apenas ela que está carente. Eu
também estou, e pelo jeito nenhum de nós dois sairá inteiro dessa
reconciliação.
A conexão entre Gael e eu, é incrível, forte e intensa demais.
Eu sabia que ele estava se culpando, se comparando com o pai. Não
vou dizer que o que ele fez foi certo, porque não foi, mas eu fui errada
também. É incrível como o ser humano amadurece do dia para a noite, no
meu caso foi durante os doze dias que ficamos afastados. Eu pude ponderar
todas as minhas atitudes, enxerguei que por mais que meu gênio difícil
apareça quando o assunto é a minha família, eu posso acabar me
prejudicando e prejudicando a todos que eu amo. Não sou mais uma
menininha sozinha, agora eu tenho filhos, um quase marido e tenho que
pensar neles antes de fazer as merdas que eu faço.
Donatello conversou muito comigo, me mostrou que agora não é
somente eu e sim a família que construir. Tudo o que faço pode refletir nele,
seja para o bem ou o mal. Essa briga com a Zia, poderia acarretar
consequências graves, eu poderia perder as crianças e prejudicar o Gael. Eu
sei que para ele, nós somos muito mais importante que sua carreira e é por
isso que estou decidida a mudar as minhas atitudes. O trabalho do Gael é
importante para muita gente, ele defende tantos casos e tantas pessoas e seria
injusto ele largar tudo por causa das minhas atitudes. Meu pai me fez ver que
tenho que amadurecer, pelo bem do meu relacionamento e pelo meu próprio
bem. O que fiz, agredir uma promotora pública, não só prejudicaria a mim
como a carreira do Gael.
Depois de muitos anos, de muita farra, me sinto completa e só pude
me sentir assim depois que o Gael entrou na minha vida. Tenho tudo o que eu
jamais sonhei em ter, nunca me vi como mãe ou como esposa, mas quando
aconteceu eu só me encaixei. Foi como se eu tivesse sido feita para isso, feita
para eles. Esses dozes dias que se passaram, me fizeram repensar em muita
coisa. Me fez analisar não só a mim, mas a Gael também. Nossa ligação
sempre foi forte, ele me conhece tão bem e eu o conheço como a palma da
minha mão.
Na conversa que tivemos no escritório do meu irmão doeu, pois me vi
perdendo o único homem que realmente amei. Havia tanto pesar em suas
palavras, como se ao dizê-la causasse algum tipo de dor a ele. Não sei, talvez
ele achou que eu escolheria viver sem ele. Passei doze dias sem dormir
direito, doze dias sentindo sua falta, mesmo que tenhamos vivido na mesma
casa, ainda assim senti sua falta. Dormimos em quartos separados, as crianças
perceberam que tinha algo errado. Minha ursinha foi a que mais sentiu e isso
causou pesadelos horríveis e medo, muito medo de ser abandonada.
Foi logo após o pesadelos da Maria, que resolvi dar um basta na nossa
situação. Do jeito que estávamos não dava mais para ficar, nossos problemas
estava afetando nossos filhos. Então conversamos, na realidade ele desabafou
tudo o que esteve guardado todos esses dias. Eu sabia que ele estava se
culpando, se comparando ao monstro do pai, e eu juro que o Gael não tem um
osso maldoso dentro dele. Ele morreria antes de me machucar, antes de
machucar as crianças. Depois de doze dias, eu pude realmente dormir
sossegada. Dormir nos braços dele é a melhor coisa do mundo, seus braços
me trazem tanta segurança, tanto conforto, tanto amor. A grandeza dos seus
sentimentos por mim, extravasam qualquer coisa que já vi na vida até mesmo
o amor dos meus pais. Eu sempre sonhei em ter um amor como o deles, mas
o que eu tenho agora é ainda melhor e maior do que tudo o que já sonhei em
ter.
Fiz uma promessa para ele na noite passada, e vou cumprir cada uma
delas, começando por uma noite regada de muito sexo e suor!
O que? Foram doze dias sem sentir suas mãos em meu corpo, sem
sentir seus beijos, seus carinhos. Sentir seu corpo pressionando o meu. Hoje
mato toda a saudades que eu senti!
Gael saiu para trabalhar cedo, ele até tentou cancelar, mas tinha
algumas reuniões que não poderia faltar. Ele saiu de casa em um mal humor
imenso, tenho até dó de quem atravessar seu caminho. Júlio irá dormir na
casa do Otávio novamente, ele é o seu Roberto e a tia Luz vão viajar para a
praia. Marta ficará com a Maria, vão ter uma noite de meninas.
Eu já tenho tudo planejado nos mínimos detalhes. Já encomendei um
jantar, coloquei um vinho delicioso para gelar, já até reservei a sobremesa
que vou buscar na delicatessen que Gael é cliente. Vou ao salão me preparar
para a noite, unhas, cabelos, depilação, até massagem. Tudo para enlouquecer
o meu urso possessivo.
Marta passa logo depois do almoço e pega a minha ursinha, que
estava mais que animada para cair na farra com a avó. Minha mãe anda tendo
uns surtos por causa disso, diz que a Maria prefere mais a Marta do que ela.
Ciúme bobo, porque a Maria é louca pela minha mãe também, lógico que é,
minha mãe a deixa fazer tudo o que quer! Até meu pai entrou nas loucuras da
minha amada mãe, vive brigando com o Roberto por causa do Júlio. Todos os
dias ele vai na construtora ver o Júlio estudando, graças a Deus que o Roberto
e o Otávio são tranquilos.
Saio do salão me sentindo nova em folha, fiz algumas luzes no
cabelo, minhas unhas bem cuidadas, minha pele macia depois da massagem e
dos óleos. Passo na delicatessen para pegar a sobremesa e vou direto para
casa. Tenho que correr com tudo, já que daqui apouco meu digníssimo juiz
estará chegando. Coloco a mesa, preparo o balde com gelo. Corro para o meu
quarto e visto uma lingerie de renda preta, que tenho certeza que não vai
durar quando meu ursão colocar as mãos. Ouço o carro estacionando e corro
para a varanda somente de calcinha e sutiã. Hoje ele vai pagar por ter ficado
doze dias sem encostar um dedo em mim.
— Sweet! Já cheguei, onde você está? — Gael já entra gritando por
mim.
— Vá tomar um banho e me encontre na sala de jantar! — Grito para
ele.
— Quero só um cheiro, trabalhei o dia todo pensando em você Yza.
— Você terá a noite toda para sentir meu cheiro, Ursão. Anda logo ou
a comida vai esfriar.
— Não ligo! Quero comer você. Mas farei o que me pediu. — Ouço
ele subindo as escadas e corro para a cozinha e desligo o forno.
Pedi uma como da italiana que ele adora, canelone recheado com
ricota e ervas finas. Pego o vinho na geladeira e coloco no balde de gelo.
Coloco uma música suave para tocar e saio para varanda novamente. Várias
ideias passam pela minha cabeça... Não sei por onde começar, não sei deixo
ele comer o jantar ou se viro a comida dele. Acho melhor manter o fogo em
banho-maria!
Antecipação...
Imagina quando ele colocar as mão em mim... Vai estar louco e vai
me possuir na primeira superfície dura que ele encontrar. Talvez a parede, ou
a mesa, também tem o balcão e o sofá e...
— Puta que pariu! Esquece o jantar Sweet, vou querer a sobremesa
antes. — Ele diz com sua voz rouca carregada de desejo e eu me viro para
encontrá-lo parado na porta da varanda.
Gael veste apenas uma bermuda de moletom, que marca todo o seu
membro que agora se encontra duro, seus cabelos molhados do banho. Seus
olhos devoram cada pedacinho do meu corpo. Posso vê-lo respirar fundo
enquanto me observa, ele segura no batente da porta de vidro e os nós dos
seus dedos estão brancos tamanha a força que ele está usando.
Se eu tinha alguma dúvida sobre obter uma foda louca, elas foram
embora somente de olhar para ele.

Estou parecendo um urso raivoso!


Tentei de tudo o que é jeito cancelar meus compromissos de hoje, mas
tive uma audiência de suma importância e que não poderia cancelar. Também
tive duas reuniões, uma sobre o caso do padrasto do Júlio e outra com uma
assistente social que irá a minha casa para averiguar o ambiente que as
crianças estão vivendo. Isso só está sendo feito assim, porque Josafá está por
detrás. A guarda já é garantida, a visita é mera formalidade.
— Não precisa se preocupar, Gael. A visita é apenas uma
formalidade, logo em seguida os papéis da adoção serão entregues a você. —
Josafá diz.
— Isso quer dizer que eles serão meus definitivamente? Não quero
contar para eles e depois acontecer alguma coisa que me tire eles.
— Fique tranquilo, Gael. Os papéis são legítimos, apenas estou
antecipando as coisas. O ideal seria se você fosse casado, mas tenho a certeza
que você pretende fazer isso mais para a frente. — Ele diz sério.
— Por mim já estaria casado faz tempo!
— Hum... Entendo, mas você tem que saber que sem um vínculo com
a sua namorada, as crianças serão adotadas apenas por você. — Ele solta a
bomba.
— Não! Quero o nome dos dois na certidão, Josafá. Yza e eu
queremos adotar eles, ela ficaria destruída.
— Então trate de fazê-la concordar em casar homem! Posso até
conseguir a licença. —Ele diz sorrindo.
— Então arrume, assim essa mulher para de evitar. Tudo para ela é
que eu estou correndo e blábláblá. Se eu pudesse me casava e ela só ficaria
sabendo depois!
Sério, não sei que diabos essa mulher tanto evita casar. Já estamos
casados desde que nos reencontramos, não dormimos sozinhos em nossas
casas um dia. Até nesse afastamento que tivemos, estávamos sobre o mesmo
teto. Sou louco por ela e ela por mim, esse afastamento me fodeu mais do que
eu gostaria.
Josafá se despede e eu fico mais uma vez sozinho em minha sala.
Volto a minha atenção aos processos a minha frente e meu celular toca logo
em seguida.
— D'Ávila!
— Hum... Gael? — Júlio diz timidamente.
— Ei garoto! Tudo bem?
— Sim. É que... Você sabe que vou para a praia com o Roberto, não
é? — Ele pergunta receoso.
— Sei sim.
— Eu esqueci de falar para Yza que não tenho roupa de banho, acho
que ela também nem lembrou. Será que você poderia me levar para comprar?
— Júlio pede.
E aqui nós temos um progresso!
Júlio odeia pedir as coisas, acha que é muito abuso. Acho que depois
da sua crise ele entendeu que nós sempre estaremos aqui para ele. Júlio está
mais aberto, mais leve, conversa mais.
— Claro! Eu já iria sair para almoçar. Vou passar ai na construtora e
nós podemos ir no shopping.
— Tudo bem, vou te esperar.
Nos despedimos e eu pego as minhas coisas e vou buscá-lo. Pego ele
na construtora e vamos até o shopping, onde eu o ajudo a escolher bermudas
leves, óculos de sol, boné, algumas regatas e um chinelo. Ele se recusou a
usar sunga, e o atendente e eu caímos na risada. Almoçamos juntos e depois
passamos na farmácia para comprar um protetor e o levo para a construtora
novamente. Ajudo Júlio a levar as sacolas para dentro e aproveito para dar
uma palavrinha com Roberto.
— Ei Gael, confesso que estava esperando a visita da menina Reed.
Aquela ali é pior que galinha quando o assunto são os pintinhos. — Roberto
diz rindo.
— Ela é fogo, mas confia no senhor com o menino dela.
— Eu adoro esse menino, ele é como se fosse um filho mais novo.
Quando ele disse que nunca tinha ido na praia, eu já logo pensei nesse
passeio. — Roberto diz animado.
— Nem ele e nem a Maria. Esses meses foram turbulentos e
acabamos até esquecendo de levá-los. Já tínhamos até programado, mas
aconteceram tantas coisas.
— Eu entendo.
— Eu gostaria de te dar algum dinheiro para ajudar nas despesas do
Júlio, se depender dele, ele não toma uma água para não ter que pedir.
— Não precisa Gael, eu cobrirei todos os gastos. Como eu te disse,
gosto do garoto como um filho mais novo. Ele é uma boa companhia e nos
damos super bem. — Roberto diz sorrindo.
— Tudo bem, mas qualquer coisa é só ligar e eu transfiro. Comprei
algumas roupas e protetor solar, acho que a mochila dele está na sua casa.
— Não se preocupe homem, seu filho será bem cuidado.
— Ok.
Me despeço dele e vou embora, encontrando Júlio e Otávio
conversando na recepção.
— Boa tarde, Gael. — Otávio me cumprimenta.
— Ei Tavinho, tudo bem? E a Lila?
— Estamos bem, obrigado por perguntar. — Ele diz sorrindo.
— Que bom. Bem, Júlio eu já vou indo. Ainda tenho algumas coisas
para fazer antes de ir para casa. Não esquece de levar o celular e qualquer
coisa me ligue e vou te buscar, Ok?
— Vou levar sim. — Ele diz envergonhado, já que sempre esquece o
celular.
Me despeço dele e volto para o fórum. Tenho mais uma audiência, e
essa demorou mais do que o previsto. Quando saí do fórum já eram mais de
cinco horas. Demorou, mas sai satisfeito, a promotoria foi incrível e a criança
em questão foi a maior beneficiária. Agora a linda garotinha iria viver com a
tia que vai cuidar dela como merece. Eu gostaria que toda as crianças que
aparecem nos casos, tivessem parentes dispostos a cuidarem delas. Mas nem
sempre é assim, algumas acabam indo para abrigos ou orfanatos, que acabam
sendo melhores que as próprias casas.
Assim que saio, vou correndo para a casa, ansioso para ver a minha
Sweet. Não vejo a hora de colocar as minhas mãos nela, não só as mãos, mas
tudo! Doze dias sem tocar naquele corpo enlouquecedor, sem provar o seu
gosto, sem ouvir seus gemidos. Mal estaciono o carro na garagem, e saio
feito doido atrás dela. Ela grita de algum lugar para que eu tome um banho,
no início reclamo, mas acabo fazendo o que ela pede. Tomo um banho
rápido, lavo o cabelo correndo, mal me seco e já estou vestindo a bermuda.
Estou faminto por ela! Saio procurando pela minha mulher, só para encontrar
a tentação em pessoa na varanda que leva para o quintal.
A diabinha está vestida comum conjunto de lingerie matador e um
salto alto, que deixa suas pernas ainda mais torneada. Fico duro
instantaneamente só de olhar para ela. A filha da puta sabe o que me causa, e
faz charme segurando os cabelos para o alto. Ela está com uma maquiagem
leve, seus cabelos estão um pouco mais claros, suas unhas estão pintadas de
uma cor escura.
A tentação em pessoa!
— Puta que pariu! Esquece o jantar Sweet, vou querer a sobremesa
antes. — Falo me apoiando na porta para não voar em cima dela feito um
louco e rasgando toda a produção que ela fez.
Ela ri baixinho, e me olha da cabeça aos pés mordendo os lábios em
seguida.
— Estou vendo que tem um presente grande para mim. — Ela sorri ao
dizer isso. — Nossa está calor ou é impressão minha?
— Se você não parar de me olhar assim, tenho certeza que você vai
sentir ainda mais calor!
Ela sorri e rodopia para que eu possa olhar cada detalhe do seu
conjunto sexy de lingerie. Ela para virada para mim e coloca uma mão na
cintura e a outra em seus cabelos, fazendo com que seus seios fiquem ainda
mais empinados. Minha boca se enche de água, já sentindo o gosto deles. Ela
anda em minha direção sensualmente, fazendo seus quadris requebrarem a
cada passo dado.
— Preparei um jantar todo especial para nós, encomendei aquele
canelone que você gosta e uma sobremesa deliciosa. Vamos comer? — Ela
diz e sem esperar uma resposta ela entra dentro de casa.
Eu respiro fundo e a sigo para dentro, aceitando tudo o que ela quer,
Yza teve um trabalhão para organizar tudo. Mas um homem aguenta até certo
ponto, quando se trata de ser provocado. Eu a encontro inclinada sobre a
mesa, deixando sua bunda deliciosa virada em minha direção. E foi nesse
momento que minha paciência acabou, sem enxergar o que estou fazendo eu
a pego no braços e jogo tudo o que está na mesa para o lado e a coloco
sentada. Algumas coisas acabam caindo no chão, ouço vidros se quebrando,
mas pouco me importo.
— Gael! — Ela grita indignada.
— Aprenda uma coisa, Sweet. Não se provoca um homem faminto!
— Falo e beijo sua boca com uma certa brutalidade.
Nós dois gememos quando nossos lábios se encontraram. O beijo não
é delicado, não é cuidadoso ou cauteloso. É intenso, faminto, voraz. Minha
mão circundam seu pescoço, fazendo com que ela fique quieta, me deixando
dominá-la. Eu me sento em uma cadeira, e meus braços agarram sua cintura,
trazendo seu corpo para o meu colo. Minha mão vai diretamente para a sua
bunda, deslizando por debaixo da sua calcinha e tocando sua boceta, sentindo
o quanto ela está quente e molhada para mim.
Gemo alto ao senti-la necessitada por mim, paro o beijo de repente e
sussurro em seu ouvido, fazendo com que ela aperte suas pernas ao meu
redor e roçando sua boceta em meu membro rígido.
— Tão molhada, tão pronta para mim. Você me quer dentro de você,
Sweet? Você me quer fodendo essa sua boceta sedenta pelo meu pau? —
Pergunto em seu ouvido e ela geme alto e me empurra.
Seu corpo escorrega até ficar ajoelhada entre minhas pernas. Yza tira
minha bermuda, me deixando nu e ansiosamente segura meu membro em
suas mãos, acariciando para cima e para baixo. Eu fecho meus olhos, jogando
minha cabeça para trás, apreciando a sensação gostosa que e acomete.
— Oh, porra! — Eu gemo baixinho, quando sua boca rodeia meu pau.
Sua língua quente e úmida circula a cabeça bulbosa do meu membro e
minhas mãos vão para os seus cabelos macio e sedoso e seguro apertado
enquanto meto para dentro. Sinto meu pau batendo no fundo de sua garganta,
mas ela não faz qualquer som. Apenas volta a chupar meu comprimento,
dizendo-me que ela quer que eu goze em sua boca. Eu não quero gozar em
sua boca, então eu a levanto pelos braços e a coloco deitada na mesa. Mais
que depressa minhas mãos arrancam sua calcinha com um puxão,
transformando-a em farrapos.
Com meus lábios, cubro sua doce boceta e dou-lhe uma longa
lambida. Seu sabor faz com que eu salive, precisando de mais. Trago meu
rosto mais para baixo, roçando os lábios de sua buceta com meu nariz,
necessitando do cheiro dela em mim. Querendo sua marca em mim. Minha
língua mergulha em sua entrada, provando o sabor que tanto me enlouquece.
— Gael! Por favor, preciso de você. Preciso senti-lo dentro de mim.
— Ela choramingar.
— Ainda não Sweet. Quero e preciso que goze na minha boca! Me dá
o que é meu.
Eu coloco minha boca em sua buceta novamente e, desta vez chupo
seu clitóris ao mesmo tempo em que minha língua o acaricia. Ela segura meu
cabelo com força e deixa escapar um grito enquanto seu corpo tenciona e ela
me dá o que eu quero. Sua boceta deixa vazar seus doces fluidos e eu observo
sua buceta pulsar com a força de seu orgasmo. Ela se remexe perdida em seu
clímax e sua buceta se aperta como se estivesse procurando algo para agarrar
e eu estou mais do que pronto para lhe dar
algo para preenchê-la.
— Não consigo mais esperar, preciso estar dentro de você! — Falo e
posicionou meu membro em sua entrada e arremeto com força, fazendo seu
corpo pular e ela gritar bem alto.
Me movo para o sutiã e o rasgo, assim como eu fiz com a sua
calcinha. Eu levo minha boca aos seios dela e chupo seus mamilos, mordendo
com um pouco mais de força a fazendo gritar. Quando ela começa a gemer e
revirar os quadris, lentamente arrasto meu pau para fora e em seguida volto
dando-lhe impulsos mais duros e longos. Ela aperta meus braços com força e
impulsiona seu corpo para cima, indo de encontro as minhas arremetidas.
— É tão bom. Mais forte por favor! — Ela geme no meu pescoço.
Eu agarro sua coxa macia e bato nela com alguns impulsos duros que
a fazem gritar em voz alta. Eu já estou pronto para gozar, mas eu quero que
esse momento perfeito dure, então eu saio dela. Repetindo todo o processo e
ela deixa escapar alguns gemidos de agonia. Eu saio do seu corpo novamente
e viro o seu corpo, deixando-a com seu peito grudado na mesa e sua bunda
empinada. Entro em seu corpo novamente, e puxo seu cabelo até que seu
corpo fique arqueado. Eu a fodo sem dó, entro e saio brutalmente do seus
corpo, meus movimentos se tornam errático, nossas respirações ofegantes e
nossos corpos molhados de suor. Sua boceta me aperta, mostrando
claramente que ela está pronta para gozar. Com uma mão seguro seu cabelo e
com a outra acaricio seu clitóris e com alguns movimentos e ela goza
gritando meu nome.
Sinto sua boceta me apertar ainda mais, mas não deixo de brincar com
o seu clitóris, querendo que ela me dê mais um orgasmo.
— Não aguento mais! — Ela me implora para parar e eu continuo
metendo com força e ela acompanha meus movimentos, desmentindo suas
palavras de segundos atrás.
— Mais um, Sweet! — Peço e desço um tapa forte em sua bunda.
Sinto um arrepio passar por minha espinha, minhas bolas se apertam
querendo gozar em sua boceta apertada. Minhas pernas tremem, minha
respiração está ofegante, meus batimentos cardíacos estão acelerados, como
se meu coração fosse explodir. Com mais alguns movimentos, ela goza e eu
me entrego ao clímax, enchendo sua boceta com meu esperma. Caio em cima
dela, completamente drenado e a diabinha fica apertando meu pau dentro
dela, como se quisesse sugar cada gota da minha porra. Respiramos com
dificuldade, e eu me jogo na cadeira completamente saciado.
— Uau! Dessa vez foi a foda, puta que pariu. —Yza diz ofegante.
Eu apenas sorrio, sem forças para falar nada. Apenas fico olhando
para sua bunda, vendo minha porra escorrer por entre suas pernas. Eu me
inclino para frente e capturo meu esperma com o dedo e volto a colocar
dentro dela onde é o lugar dele.
— Dez minutinhos para descansar e depois quero mais! — Ela diz
rindo.
É... Essa mulher está indo me matar essa noite. E eu morrerei feliz!
Sabe quando você acha que tudo está se encaminhando para o final
feliz?
Pois é, eu achava que estava acontecendo isso. Meu irmão Dylan está
casado com a sua baby e meu sobrinha já, já está aqui. Eu fiz as pazes com o
meu ursão e minhas crias estão indo de vento em polpa. Meu Irmão Don
estava se encaminhando para o seu tão sonhado momento, vai casar, sua
noiva e minha amiga estava grávida. Tudo estava indo para ter um final
perfeito, mas nada na minha família é fácil. Hanna perdeu o bebê e quase
morreu por culpa da desgraçada da Katherine!
A desgraçada pagou aos médicos que atenderam a Hanna, para não
falarem que era uma gravidez ectópica e com isso quase a perdemos. Estava
tudo tão perfeito, eles estava felizes e fazendo planos lindos. Os pais da
Hanna vieram morar com eles por um tempo, não apenas pela gravidez, mas
também porque a Katherine se aproximou da Cidoca, mãe da Hanna. Meu
irmão ficou destruído com a possibilidade de quase ter perdido a mulher que
ama. Todos nós ficamos.
Assim que ela recebeu alta do seu repouso imposto pelo médico, eles
tiraram uns dias de férias e foram viajar. Esses dias de repouso foram cruéis,
Hanna se afastou de todo mundo, só vivia trancada e chorando. Todos nós
tentamos fazer com que ela se animasse, mas ninguém conseguia. Então uma
menina linda, uma não, duas meninas lindas, conseguiram o que ninguém
mais conseguiu. Luna e Maria devolveram o sorriso da Hanna, e a fizeram
sair do quarto.
Voltando a atenção para mim, voltei a trabalhar em tempo integral e a
Maria estava ficando com a Katrisca ou com a Marta, já que só vai para a
escola no início do ano. Voltei logo depois da visita da assistente social. Gael
me tranquilizou que eram meras formalidades, a assistente conversou
primeiro com a Maria e depois com o Júlio. Nós não ficamos presentes na
hora da conversa. A assistente olhou a casa inteira, olhou o quarto das
crianças e até o nosso. Perguntou para nós como era a dinâmica em casa e a
rotina da Maria e do Júlio. Depois de tudo isso, dias depois Gael me entregou
uns papeis para assinar. Eram os requerimentos da guarda definitiva e a
mudança de sobrenome das crianças. Agora eles se chamam Maria Júlia
D'Ávila Reed e Júlio César D'Ávila Reed!
Nomes de realeza meu amor.
Júlio prestou vestibular e estamos ansiosos para o resultado, que sairá
daqui a um mês e meio mais ou menos. Parecia final de copa do mundo,
todos ansiosos e animados por ele. Eu é lógico, fiquei na porta da faculdade o
dia todo. Meus pais, Roberto, Otávio, Lila, meu irmão e sua família estavam
em casa. Eu comi todas as minhas unhas, se eu pudesse tinha tomado umas
biritas para me acalmar, mas o meu digníssimo namorido não deixou. Foram
dias turbulentos até chegar ao dia do vestibular. Quando o Júlio decidiu o que
queria fazer, tivemos que voltar a escola onde ele terminou o ensino e foi
aplicado outra prova de aptidão, para ver se ele estava apto para a faculdade
ou se precisava voltar para a escola. Feito isso, foi preciso uma ordem
judicial para que ele pudesse fazer a faculdade. Deu um pouquinho de dor de
cabeça, mas graças a Deus tudo deu certo.
Tem sido dias caóticos, mas tirando o fato das merdas acontecerem,
não mudaria em nada. Meus filhos estão bem, Maria e Júlio estão fazendo
acompanhamento psicológicos e estão melhorando a cada dia mais. Acho que
o fato deles saberem que são nossos filhos, aplacou a angustia que eles
sentiam. Maria não tem mais pesadelos e o Júlio ainda os tem, mas tem sido
menos frequente. Júlio está mais comunicativo, mais aberto, pede conselhos.
Maria nem preciso falar! Parece que florescendo, está desabrochando e se
tornando uma linda menina. Ela é centrada, inteligente, calma, mas de vez em
quando apronta suas peraltices deixando Gael Maluco.
Júlio foi cedo para a construtora, alguma coisa relacionada a um
projeto que ele está ajudando Otávio a fazer. Eu acabo de deixar a Maria na
casa da minha sogra e estou a caminho do shopping. Temos um projeto
grande para finalizar essa semana, então estou tendo que ficar marcando em
cima todos os dias. Assim que chego, vou diretamente para a minha sala
pegar as minhas coisas e encontro um enorme buquê de rosas, mas deixo para
dar uma atenção depois e vou para a sala de reuniões onde todos estão me
aguardando.
Minha equipe já está a todo vapor, é até engraçado a forma que eles se
dividem à mesa. Ângela, Suellen e Antônia de um lado, com suas coisas
organizadas e seus lápis com pompons. E do outro estão, André, Pique e
Flávio de um lado e Danilo na cabeceira da mesa e Ronaldo na outra, no meu
lugar.
— Bom dia cambada! Prontos para mais um dia desgastante? —
Pergunto jogando minha prancheta e bolsa em cima da mesa.
Ronaldo rapidamente levanta para eu me sentar e puxa uma cadeira
para o meu lado.
— Sabe aquele problema que encontramos? Olha isso e me diz sua
opinião, eu já mostrei para os outros, mas preciso da sua aprovação. —
Ronaldo diz sério e me entrega um tablete.
— Ok, deixe-me ver. — Falo e pego o tablete da sua mão e vou
passando os arquivos e fotos. — Eu gostei, realmente gostei Ronaldo. Mas só
há uma coisinha, esqueceu do que o cliente pediu? Nada muito ousado ou
apelativo.
— Eu falei a mesma coisa, Yza. Mas o Ronaldo não gostou muito,
então fiquei quieta. — Antônia diz fazendo uma careta.
— Mas se ele quer chamar a atenção, tem que ser uma coisa mais
sensual, mais chamativa. — Ronaldo retruca irritado.
— Como eu disse, eu gostei muito. A ideia super fecha com o
produto, mas o que acha de ao invés de usar essa modelo que já é batida para
caralho, colocarmos uma outra? Tem como ser sensual, ser sexy, sem ser
apelativo. Estamos falando de um perfume de fragrância suave e que foi
criado para a esposa do cliente.
— Eu me esqueci desse pequeno detalhe! Vou procurar uma outra
modelo. Tem alguma coisa mais para mudar? — Ronaldo pergunta mais
tranquilo.
— Não meu caro amigo, de resto está perfeito. Agora você Ângela, o
que tem para mim?
Minha manhã foi assim, aprovando projetos, mudando algumas coisas
e escolhendo modelos. Essa conta é um dos meus maiores clientes! Ele mexe
com tudo, moda, perfumaria, artigos esportivos, a merda toda para falar bem
a verdade. Nós já tínhamos três projetos antes dele jogar a bomba do
perfume, mas nós já conhecemos os seus gostos então tiramos de letra.
— Yza, seu marido na linha um. — Ana aparece na porta e me
informa.
— Obrigado meu amor! E os meninos, como estão?
— Dando trabalho como sempre! — Ela diz rindo. — Já providenciei
café e um lanchinho para vocês.
Caminho até o telefone e atendo o meu digníssimo juiz.
— Diga razão da minha libido!?
— Meu Jesus! Estou no viva voz, e não estou sozinho. Será que nem
ao telefone você atende como uma pessoa certa da cabeça? — Ele diz e posso
ouvir os risos.
— Desculpa meritíssimo, ao que devo a honra de sua ilustre ligação?
— Mande ele ir a merda Yza! — Ouço o grito do Maurício.
— Cala a boca idiota! — Gael esbraveja. — Escuta Sweet, eu fiquei
de levar o Júlio naquela livraria que inaugurou semana passada. Mas
aconteceu um imprevisto e não vou conseguir fazer isso, ele estava ansioso a
semana inteira porque chegou uma edição inédita dos mangás dele e são
poucas tiragens. Você pode ir? O Otávio está fora, o Roberto tem um cliente
no horário.
— Eu levo! Estou louca para ir lá, e porque eu não sabia disso hem?
Vocês agora tem segredinhos? Já não basta roubar a minha filha, agora o meu
filho também!?
— Deixa de ser boba, estávamos falando sobre quadrinho e ele soltou
da livraria. Se tem alguém querendo roubar o seu filho, esse alguém se chama
Otávio Valverde! — Gael diz todo ciumento.
— Há que horas? Deixa, vou ligar para ele. Beijos ursão. — Solto seu
apelido. Maurício começa a zoar ele. Eu desligo antes do urso rugir.
Ana entra na sala empurrando um carrinho com as garrafas de cafés, e
Piquê corre para ajudá-la. Noto uma certa troca de olhares e minha secretaria
ficando vermelha.
Hum... Sinto cheiro de romance.
Antes que Mariana saia eu a chamo, lembrando das rosas em minha
sala.
— Ana, sabe quem foi que deixou aquelas rosas na minha sala?
— Não Yza, quando eu cheguei já estavam na sua mesa. — Ela diz
sem graça.
Assim que ela sai, todos pegam um sanduiche e voltamos a trabalhar.
Envio uma mensagem para o Júlio e ele me informa o horário e diz que o
Roberto vai deixar ele na porta, já que é caminho para a reunião com o
cliente. Combino tudo com ele e olho as horas, tenho mais três horas antes de
sair. Caio no trabalho de cabeça, parando para dar uma opinião quando
pedem.
— Yza, o cliente não gostou de nenhuma das nossas modelos. Mandei
praticamente o casting inteiro, mas ele não aprovou nenhuma. Ele quer uma
mulher Plus Size diferenciada, não gostou de nenhuma que mandei para ele.
— Suellen solta aborrecida.
— Ele sempre encrenca! Jesus, vou ligar para ele. — Falo pegando
meu celular. — Ele está cada dia mais criterioso, qualquer dia vou surtar com
ele.
— Yza Reed, porque eu não me surpreendo por sua ligação? — Ele
atende rindo.
— Walfredo, você está dificultando o meu trabalho! Onde está a
Suze, ela sabe disso?
— Pergunte a ela, você está no viva voz. — Ele diz rindo e ouço a
mulher dele brigando com o infeliz.
— Suze meu amor, o que está errado? Mandamos as melhores
modelos Plus que trabalhamos.
— Oi minha linda, dessa vez a culpa não é do Wal e sim minha. As
meninas são lindas, mas nenhuma me chamou a atenção. Quero algo
diferenciado, uma beleza jamais vista, entende? Um olhar misterioso, um
corpo enlouquecedor, um porte de rainha poderosa. — Suze solta e uma ideia
começa a formar na minha cabeça.
— Eu acho que tenho a pessoa ideal, que se enquadra nos seus
quesitos. Mas ela não é modelo, então vou ter que suar para convencê-la.
Mandarei a foto no seu e-mail em alguns minutos e você me diz se gostou.
— Eu sabia que você me entenderia! Se você me der o que eu quero,
prometo te dar um bônus magnífico! — Ela diz rindo.
— O que!? Bônus? Não sei disso não, vamos conversar primeiro.
— Deixa de ser pão duro Walfredo Sampaio! Já vou logo falando que
quero muitos brindes. — Falo rindo e desligo.
Vou na minha galeria e escolho uma foto da Lila e envio para Suze.
Eu sei que se ela aceitar estarei fodida para conversar a minha amiga.
Nem cinco minutos se passaram, quando Suze me liga eufórica.
— Quem é esse monumento pelo amor de Deus!? Me diz que ela é
modelo! Yza essa mulher é linda, se não for modelo eu mesmo vou
convencê-la a ser. — Suze só falta gritar ao telefone.
— Ela não é meu amor, ela é estilista de vestidos de noiva. Mas
concordo com você, Lila é um monumento.
— Você acha que consegue convencê-la? Eu pago o que for, mas
preciso dela. — Ela diz enfática.
— Vou falar com ela e te dou um retorno. — Aviso e me despeço.
Vou para o lado da Suellen e vejo o projeto para a campanha. É uma
linha nova e primavera verão e tenho certeza que a Lila vai adorar.
— Su, continua o projeto e eu falarei com a pessoa escolhida. Assim
que eu tiver o ok, nós marcamos o estúdio e o fotógrafo.
— Tomara que você consiga. — Ela diz sorridente.
Antônia chega na sala toda saltitante e alegre. Essa garota é muito
doidinha, toda feliz, parece que nada a deixa triste.
— Yza meu amor, passei em frente a sua sala e babei naquele buquê
maravilhoso. Um dia terei um homem apaixonado assim. — Ela diz com um
olhar sonhador.
— Verdade, o buquê é lindo. Quando eu cheguei já estava na sua sala.
Seu marido deve te amar muito. — Flávio diz sério.
— Porque vocês acham que foi o marido da Yza? Pode ser um
admirador secreto, ela sempre recebeu flores bem antes de casar. — Danilo
diz sério.
— Vamos voltar ao trabalho e deixar minha vida em paz! Flávio e
Danilo, o que vocês tem pronto? Walfredo vira na quinta-feira para aprovar
esse projeto.
Rapidamente eles mudam de assunto, e eu fico ainda mais ansiosa
para saber quem mandou. Meia hora antes do compromisso com o Júlio, vou
até a minha sala e admiro as flores. Vejo que tem um cartão em meio a elas e
pego, admirando a letra cursiva linda que diz meu nome. Sorrio enquanto
abro, pensando que foi o meu ursão quem mandou. O papel é preto fosco e as
letras escrito em tinta vermelha brilhante.
As badaladas da meia-noite.
O relógio da igreja está dando as doze badaladas...
Monstros serão libertos...
Medos descobertos...
O relógio da igreja está dando as doze badaladas...
Sangue será derramado...
E o resto lastimado...
O relógio da igreja está dando as doze badaladas.
Badaladas de uma noite de terror...
Que enfim será seu torpor...
As doze badaladas...
Deixo o papel cair no chão quando o medo me bate. Essas merdas
voltaram novamente, faziam meses que não recebia essas merdas mórbidas.
Sinto um calafrio percorrer meu corpo, uma sensação de estar sendo vigiada.
Olho para porta, mas não tem ninguém. Saio no corredor e ele se encontra
vazio. Tenho certeza que alguém estava me observando!
Pego as flores e jogo no lixo, pego o papel e o envelope e jogo dentro
da minha bolsa. Hoje vou falar com o Gael à respeito disso. Me recuso a ficar
com medo, e se for uma simples brincadeira? Ah, mas se for isso, eu vou
descobrir quem é! E juro que essa pessoa vai se arrepender. Mas se não for,
ele que lute e reze para eu não colocar as minhas mãos nele, ou a morte será
certa.
Saio em disparada para o meu carro, e vou o caminho inteiro ouvindo
a porra do mantra que o psicólogo me aconselhou ouvir, quando eu estivesse
para surtar. Devo dizer que não adiantou de porra nenhuma, meus nervos
estão à flor da pele. Vou treinando a minha respiração, respirando fundo e
soltando lentamente. Vinte minutos depois chego na rua da livraria, e fico
procurando vaga para estacionar. Para a minha sorte um carro está saindo e
eu manobro para estacionar. A vaga fica na esquina da livraria e do meu carro
já posso ver o meu menino me esperando. Júlio está vestido de bermuda
jeans, tênis preto, camisa azul escura, sua inseparável mochila e seus fones de
ouvido. Sorrio ao vê-lo tão calmo me esperando.
Saio do carro e pego a minha bolsa, aciono o alarme e vou
caminhando em direção a livrarias onde ele está do outro lado da rua me
esperando. Enquanto olho para ele, coloco minha mão na bolsa para pegar o
celular e tirar uma foto. Quando paro em sua direção, ele levanta o rosto e
sorri quando me vê. Olho para os dois lados da rua antes de atravessar e tudo
está tranquilo, tiro a minha atenção dele e olho para a minha bolsa quando
não consigo tirar o celular. Continuo atravessando distraída, quando ouço o
barulho de pneus cantando. Levanto meu rosto e um carro preto em alta
velocidade está muito próximo de mim. Olho para o Júlio e vejo o terror
estampado em seus olhos, quando ele descobre a mesma coisa que eu.
Que abatida será inevitável.
Júlio tenta correr em minha direção, mas tudo acontece em câmera
lenta. Eu tento correr, mas minhas pernas se tornam pesadas, então eu grito.
— NÃO, JÚLIO! — Grito apavorada antes do carro me atingir.
O impacto é muito forte, me arremessando a alguns metros do chão.
Eu caio com um baque forte no chão me fazendo perder o fôlego, o barulho
do meu corpo batendo no chão é alto, e posso sentir alguma coisa se partindo
em meu corpo. Tudo ao meu redor se silencia, só consigo ouvir meu coração
batendo. O carro freia bruscamente um pouco mais à frente e um papel voar
pela janela. Tudo começa a ficar embaçado, minha visão começa a escurecer
quando eu escuto os gritos desesperados do meu filho.
— Não! Mãe! Socorro, alguém me ajuda. — Júlio grita se ajoelhando
ao meu lado. — Mãe! Por favor fala comigo. Mãe não fecha os olhos, já
estão chamando a ambulância.
Ele coloca seu rosto em cima do meu, e começa a falar, mas eu escuto
bem de longe, como se fosse um sussurro bem baixinho.
— Mãe, por favor, por favor não dorme. Não me deixa, por favor
mãe!
Eu o ouço bem baixinho. Quero sorrir diante dessas palavras, mas a
dor é forte demais e meus olhos se recusam a ficar abertos. Mas antes de
apagar, eu escuto alguém falando com ele.
— Calma garoto, eu vou te ajudar!
Quero gritar para que o Júlio fuja o mais rápido possível, por que eu
sei que não serei capaz de socorre-lo se algo ruim acontecer novamente. Eu
tento falar, mas o cansaço me impede e o breu me engole, impossibilitando-
me de falar alguma coisa.

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