ANDRESSA FÉLIX
Copyright © 2020 ANDRESSA FÉLIX
Capa: E.S DESIGN
Diagramação: Thainá Brandão – Monte Casillas Design Editorial
Revisão: Monte Casillas Design Editorial
1. Romance Contemporâneo
2. Literatura Brasileira
Edição digital. Criado no Brasil.
1ª edição / 2020.
Esta obra segue as Regras ao Novo Acordo Ortográfico
REGISTRADA E PATENTEADA NO REGISTRO DE OBRAS
________________________
Todos os direitos reservados
Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são
produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610./98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Nunca imaginei viver um amor tão forte e tão intenso. Não fui como
as outras meninas que sonhavam com o senhor perfeito, uma casa grande
com cercas brancas e crianças correndo pela casa. Se posso dizer uma coisa, é
que na realidade abominava tudo o que era relacionado a isso, nunca tive
nada contra o amor, só achava que não era para mim. Mas ele surgiu na
minha vida de repente, virando meu mundo maluco de pernas para o ar e
acendendo em mim uma vontade louca de pertencer a alguém, mas não
qualquer um.
Não, eu tinha que ser dele, somente dele.
Agora imagina você; um homem lindo, enorme, completamente sério,
com cara de mau e todo tatuado. Imaginou? Então adicione um temperamento
forte, multiplica a possessividade e o ciúmes e você chegará na metade do
que é esse homem.
Gael é completamente diferente de mim! Eu amo a liberdade, fui
criada para ser independente e nunca, jamais, levar desaforo para casa. Amo
sair, amo me divertir, fazer amizades e ele é completamente ao contrário de
mim. Deus é engraçado, não é? Ele mandou um homem no meu caminho e
me deu uma missão; Ou eu o enlouqueço ou mato esse Urso do coração.
Ursos tem problemas cardíacos? Não sei, acho melhor pesquisar!
Quer a prova de que esse homem vai ficar maluco por minha causa?
Então presta atenção!
— Você não acha que esse shorts mostra muita coisa não? É
praticamente uma calcinha, como aquelas que você usa com vestido! — Ele
diz indignado.
— Me poupe, Gael! Estamos no verão, vamos para a fazenda dos
meus pais e você quer que eu vista o que? Uma burca?
Ele resmunga, resmunga, mas sabe que não adianta discutir por que
vai perder e feio. Se ele me irritar muito, eu saio é de biquíni!
Estamos aprendendo como lidar um com o outro, Gael aprendeu que
quanto mais ele discute comigo, mais eu pirraço. Eu tive uma boa escola
quando o assunto são homens possessivos, meu pai e meus dois irmãos foram
verdadeiros pé-no-saco enquanto eu crescia, mas também não posso dizer que
nunca me vinguei deles, aprendi com a mestre que vingança é um prato que
se come frio, mas eu como sou ousada prefiro ele pelando mesmo!
Se você quer uma história de romance água com açúcar, sinto te
informar que esse não é o que você procura. Agora se quiser emoção,
apertem os cintos porque aqui a turbulência é constante!
Quando chego em casa já passa das dez da manhã. Arranco minhas
roupas e vou para o chuveiro. Cada parte do meu corpo tem marcas da noite
maravilhosa que passei com o desconhecido. Meu corpo todo está sensível
me fazendo lembrar de tudo o que fiz.
Meu corpo foi usado e abusado deliciosamente e eu não fiquei atrás.
Me perdi em cada pedacinho do corpo daquele homem, me perdi em meio as
sensações que ele me proporcionou. Nunca nenhum homem me fez tão
consciente do meu corpo quanto ele fez. Ele me tocou em lugares que eu
sequer imaginava existir, ele me fez ansiar por mais e mais.
O desconhecido de nome Gael me tocou como se já me conhecesse há
anos, ele venerou meu corpo a noite inteira. Isso mesmo, ele venerou, não foi
a transa aleatória onde duas pessoas se encontram para desafogar seus
estresses. Eu até pensei que seria, mas não, ele me provou ao contrário. Ao
mesmo tempo em que ele estava desesperado por mim, eu estava por ele.
Apesar do sexo ter sido bruto muitas vezes, também tinha um toque de
carinho. Do mesmo jeito que ele me fodia com força, ele fazia amor comigo e
isso me desestabilizou de uma maneira inexplicável. Passamos a noite toda
transando, tendo apenas alguns poucos intervalos para tomar um banho ou
comer alguma coisa. Era como se fossemos um imã, bastava apenas um
simples toque e já estávamos um nos braços do outro. A conexão entre nós
foi tão intensa que quando acordei não tive coragem para permanecer lá.
Estava confusa com tudo o que ele despertou em mim, eu simplesmente
deixei um bilhete e fugi sem ao menos me despedir.
E sabe o que é mais fodido? Eu não sei o sobrenome dele!
O quão idiota eu sou?
Saio do chuveiro, me seco e coloco uma camisola e vou direto para a
cama. Mas quem disse que consigo dormir? Toda vez que fecho os olhos,
aquele homem me vem à mente. Ele é alto, corpo trincado, músculos nos
lugares certos, todo tatuado! E um espetáculo na cama, ele me pegou de tudo
o que foi jeito. Só de lembrar já sinto meu corpo esquentar. Acabo
adormecendo pensando no homem tatuado.
Quando acordo já passam das três horas da tarde. Faço minha higiene
e vou para a cozinha, mas quando abro a geladeira não tem cacete nenhum
para comer! Visto um roupão e vou para o apartamento da Hanna. Esse final
de semana ela não vai ver os pais, Dylan tem um jantar de negócios e ela
como sua secretaria vai acompanhando.
Hanna mora um andar abaixo do meu, Bato na porta fazendo nosso
toque.
— Por que você não usa a sua chave princesinha? — Ela pergunta
abrindo a porta.
— Esqueci bicha! Me diga que você tem alguma coisa para comer?
Minha geladeira está vazia, viada! Vou para casa dos meus pais mais tarde,
vamos?
— Fica para outro dia Yza, não tenho estômago para ver seu irmão.
Hanna e meu irmão se amam, mas por uma cagada monumental de
Donatello, ambos estão sofrendo, eu cumpri o que prometi para ele no
começo. Dei uns bons socos nele e uma joelhada em suas partes íntimas,
assim ele não poderia usar com a estranha da namorada dele.
— Hanna, vocês tem que conversar meu amor. Não acha que já
sofreram demais? Ele também sofre Hanna Montana, eu sei por que o vi
definhar a cada vez que ele te via. Ele errou? Errou feio, mas ele ama você.
Tem alguma coisa acontecendo só que ninguém me diz o que é! Hoje irei
descobrir e tenho quase certeza que aquela lambisgoia anêmica, tem alguma
coisa haver.
— Yza são quase quatro anos afastados, foram quatro anos que me
ferraram bonito. Impossível... Eu estou pensando em voltar para casa. — Ela
diz seria.
— Não aceito! Dylan também não irá aceitar. Não faça nada que vá se
arrepender depois.
— Vamos mudar de assunto! Como foi a festa ontem?
— As mesmas pessoas, os mesmos papinhos, os mesmos babacas
quando bebem, mas...
— Mas o que!? — Hanna pergunta curiosa.
— Conheci um homem! Mas homem mesmo! Alto, grande parecendo
um armário, todo tatuado, com cara de mau. A voz rouca, a pegada bruta
sabe? Um carinha bêbado veio querer tirar uma casquinha, mas antes que eu
pudesse fazer alguma coisa, o Gael apareceu e colocou o moleque para correr
dizendo que eu era dele! Na hora minha calcinha deixou de existir. O homem
é uma loucura de tão possessivo, me disse cada coisa.
— E você, a rainha da independência gostou? Não acredito! — Hanna
diz rindo.
— Viada! O homem é uma loucura, toda aquela possessividade
despertou algo em mim. Não consigo parar de pensar nele um só momento.
— E quando você vai encontrá-lo novamente?
— Nunca? Eu fiquei tão mexida, que fugi. Só sei o primeiro nome
dele, e só disse o meu primeiro nome a ele. Fui burra? Eu fui! Agora esse
homem não sai da minha cabeça, e o pior? Não lembro como voltar para o
apartamento dele.
— Eu não acredito! Você não pegou nem o número dele?
— Estou falando que eu sou burra, viada!
Continuamos conversando. Eu preparo um lanche e Hanna me
acompanha.
Conversamos sobre a sua mãe, e me parte o coração ver minha amiga
assim. Deve ser foda você saber que a pessoa que você mais ama na vida,
pode morrer a qualquer momento. Eu não me vejo sendo forte assim e me
encho de orgulho da minha amiga. Ela é forte e perseverante, sempre de bom
humor e palavras amigas.
Eu as vezes tento me colocar no lugar dela, e tenho absoluta certeza
que não teria um terço da garra e força de vontade dela. Minha família é o
que tenho de mais sagrado na vida, meu pai e meus irmãos são tudo para
mim. Mas minha mãe? Minha mãe é meu alicerce, minha inspiração. Se
alguma coisa acontecesse com ela, que não sei o que seria de mim.
Quando Dylan se isolou de todos, eu senti demais. Ele é meu irmão
mais velho, um dos meus heróis, sempre me paparicou e me defendeu.
Também é o mais ciumentos dos irmãos, passei um dobrado com ele. Mas
aos poucos eu o vi se isolar, a alegria que sempre brilhava em seus olhos foi
se apagando, ele meio que entrou em um depressão. Vivia triste, nada o
animava. Ele viajou para fora do Brasil e só voltou quando o Don estava
dando trabalho. Meu pai ficou doente e teve que se afastar dos negócios e
Dylan que tomou a frente de tudo.
Mas a tristeza deu lugar a felicidade, desde que Katrisca e Luna
entraram de repente em sua vida. Eu vi meu irmão voltar a ser o que era
antes, feliz, alegre. Luna... Ela é uma criança maravilhosa, feliz, um
verdadeiro encanto e dona de uma pureza sem igual. Ela diz coisas que tocam
nossa alma e nos faz pensar que Deus realmente existe. Ela afirma com tanta
certeza que sonhou com o meu irmão, que já o conhecia e eu estou
começando a acreditar que existe sim outras vidas. Eu até tenho lido sobre
isso, e cada vez mais começo a acreditar em vidas passadas. Se realmente for
verdade, se existe outras vidas, o amor deles veio de lá.
Não é amor malicioso, doentio, com segundas intenções. Até porque a
Luna é um bebê! O amor dos dois é puro, sincero, é uma pureza imensa.
Amor de pai e filha, amor esse que estava predestinado a acontecer. O
encontro deles foi incrível, uma ligação instantânea aconteceu entre eles.
Katrisca e Luna, tem uma história triste de maus tratos, Katrisca sofreu
inúmeras agressões do pai da fadinha. Fadinha... Um apelido perfeito para
ela, pois ela trouxe consigo tanta paz, tanta alegria para a minha família. O
encontro dela com Donatello foi incrível, minha mãe me contou como foi nos
mínimos detalhes.
Mamãe! Logo de cara assumiu o papel de avó, e uma vovó muito
babona diga-se de passagem. Meu pai então nem se fala, coitada da Katrisca!
Ele vai estragar a menina de um jeito, que ela será uma Yza versão 2.0 só que
melhorada.
Me despeço da Hanna e volto para o meu apartamento. Tomo um
banho demorado, lavo meus cabelos, passo um óleo corporal. Eu sou muito
vaidosa, em meu banheiro tenho inúmeros tipos de creme, desde para corpo
até para as mãos, é um cuidado que aprendi a ter com a minha mãe. Amo
maquiagem e não saio de casa sem pelo menos um lápis e um batom.
Me arrumo, agarro as chaves do meu carro e vou para a casa dos meus
pais. Mas a imagem do Gael não sai da minha cabeça.
Sextou porra!
Semana infernal essa que eu passei. Deus me livre, pensei que era
mês de Agosto credo! Foi uma paulada atrás da outra, problemas com meu
irmão Donatello, reuniões estressantes. Nada me tira mais do sério, do que
lidar com gente idiota e machista.
Hoje tem uma balada show e Lila, Hanna e eu estamos indo.
Hoje eu estou pro crime, e ninguém me segura. Vou tomar todas que
eu tenho direito, e mais algumas. Já se passaram mais de uma semana, e até
agora não conseguir achar meu boy magia tatuado.
Chego em casa e corro direto para o banheiro, deixo a banheira encher
e vou preparar uma bebida. Logo a Lila chega e a bagunça está formada.
Lila é a melhor amiga da minha cunhada Katrisca, ela acabou de
mudar para cidade. Pensa em uma mulher porra louca? É a Lila! Ela é
completamente sem filtro, super alto astral, gostosa pra caralho! Véi, o corpo
dessa mulher é um escândalo, e os olhos? Puta que me pariu na esquina! Olho
de gato siamês.
Ela é linda, um mulherão da porra, a bunda dela é uma afronta a nós
relês mortais de bumbum MP (murcho e pequeno) eu achava a minha bunda
maneira, mas a dela é um esculacho!
Faço a batida de Skol bits, limão e leite condensado. Uma delícia!
Sirvo uma taça enorme, por que sou chique e vou para o meu banho de
banheira. Assim que entro na água quentinha, sinto meu corpo relaxar do
estresse da semana inteira. Fecho meus olhos, e acabo cochilando só para
sonhar com o Gael. Lembro cada detalhe do seu rosto, do gosto da boca dele,
a sensação de ter suas mãos em meu corpo, da barba roçando entre as minhas
pernas. Acabo levantando assustada, quando escuto a campainha tocar. Visto
um roupão e saio correndo pelo apartamento, quase me estabacando no chão.
— Viada, quase que você me mata! Senti minha alma sair do corpo e
voltar.
— O que você estava aprontando Yza Reed? Estava brincado de DJ?
— Lila fala rindo.
Ela entra e se joga no sofá.
— Bicha seja "menas" viada! Se eu não consigo chegar perto de outra
piroca, você acha mesmo que eu conseguiria tocar uma siririca? Esse homem
me estragou porra! — Falo, me jogando no outro sofá.
— Ai que conversa saudável! — Hanna diz, entrando no meu
apartamento.
— Chegou a santa, cheia de teia de aranha! — Falo gargalhando.
— Yza Reed, me respeita! — Hanna diz rindo.
— Você bebeu princesinha? — Lila pergunta.
— Porra, sim! Depois da semana de merda, eu precisava relaxar. Fiz
uma batida de Skol bits, e tomei uma taça. Se sirvam meninas, está na
geladeira.
— Queria ver a cara dos meninos Reed, quando souberem que você
tem a bebida do capeta em casa. — Lila diz indo em direção a cozinha.
— Meu amor, ninguém manda em mim! Se você olhar na prateleira
de baixo da geladeira, vai encontrar uma garrafa de Jurupinga e uma de
absinto!
Eu não devo nada pra ninguém, bebo mesmo, bebo com o meu
dinheiro, trabalho é pra isso Brasil!
— Você comeu alguma coisa hoje, Yza? — Hanna pergunta séria.
— Não. — Fala fazendo bico. — Comi um sanduíche de peito de
frango na hora do almoço Hanna. Hoje o dia foi foda!
— Vou pedir uma pizza.
Ficamos conversando, bebendo e comendo até dar a hora do crime.
Começamos a nos arrumar era umas dez e meia da noite, todas já estavam
meio altas até mesmo a Hanna que não é de beber. Vai ver é todo o cerco que
meu irmão vem fazendo nela, tadinha! Nem vai saber o que a atingiu.
Quando estamos todas prontas, sirvo uma dose de Jurupinga para cada
uma.
— A noite maravilhosa que nos aguarda! — Faço um brinde.
— Vamos brindar a isso! — Lila diz virando a bebida.
— A noite! — Hanna imita a Lila.
— Hora do crime, onze e quarenta e cinco da noite! Sextou, porra! —
Grito muito louca.
Pedimos um Uber, e em meia hora estamos chegando na balada.
Entramos ao som de Anitta, entro no clima e saio rebolando porta adentro.
Vem na maldade, com vontade
Chega encosta em mim
Hoje eu quero e você sabe
Que eu gosto assim.
Na hora da paradinha, paro e rebolo até o chão.
Estamos um arraso, Hanna é a mais comportada de nós três. Ela veste
um shorts jeans preto cintura alta, um top todo trançado nas costas e um salto
lindo nos pés. Lila, gostosa da minha vidinha, está com um vestido salmão
colado no corpo, mostrando suas curvas maravilhosa e um salto foda-me de
quatro. E eu? Eu meu amor, estou vestida pra causar nessa merda! Meu
vestido é todo furadinho e transparente, ele vem com um shorts curto tipo
cueca boxe, e a parte de cima é grudada no corpo, e tem um decote até o meio
da minha barriga.
Ele é vinho, e os meus salto preto verniz. Hoje eu acordei na intenção
de destruir! Isso é, se esse maldito homem sair da minha cabeça!
Vamos direto para o bar, abastecer o tanque de álcool. Depois nos
jogamos na pista. Hanna é a mais contida, mas está bem soltinha. Já eu e a
Lila, rebolamos até o chão.
Fazia tempo que eu não me divertia tanto! Vários homens chegam na
gente, mas dispensamos todos, mas sempre tem uns que são insistentes. Dois
colegas meus do trabalho chegam, e um se encanta pela Lila, ela dança de
frente para ele enquanto suga com o seu canudo a bebida do copo dele.
Lila é louca!
Tem uma hora que começa a tocar umas músicas nada a ver, e
aproveitamos e vamos ao banheiro. Uma fila do inferno, mas todas
conseguem se refrescar. Voltamos para encontrar os meninos no bar, e a Lila
acaba esbarrando em um conhecido meu.
— Ei! Não olha por onde anda não? — Otávio diz sério.
— Desculpa princeso, esqueceram de colocar a faixa real dizendo
"proibido encostar, vossa alteza no recinto". Não quer que encostem em você,
vai para área VIP meu bem! — Lila desbanca a marra do Otavio Valverde.
Os amigos dele começam a vaiar e Otávio fica todo sem graça, mas
acaba rindo também. Os meninos que estavam com a gente, acabam fazendo
amizade com os amigos do Otávio e ficamos de boa curtindo a noite.
Lila pede uma rodada de tequila, e eu vejo que amanhã estarei fodida
na ressaca. Bebemos, e vira uma bagunça só por que começa uma disputa
com os meninos e tenho certeza que a minha noite vai fechar com chave de
ouro.
Pura diversão!
Otávio se aproxima da Lila, e cochicha alguma coisa em seu ouvido.
Lila espera ele sair de canto, e me olha com cara de safada e minutos depois
sai atrás.
Lila e Otávio? Não creio!
As únicas mulheres da roda, são a Hanna e eu, e somos tratadas como
divas pelos meninos. De repente sinto minha pele se arrepiar, como no dia da
festa, olho em volta pensando que irei encontrar meu boy magia. Mas vejo
vários rostos menos o dele!
Um bom tempo depois, Lila volta sorrindo e se acomoda do meu lado.
Logo depois Otávio também chega e fica ao lado dos amigos.
— Bicha! A senhora é lacradora hein!
— Viada, o homem é um espetáculo! Que pegada da porra, estou até
agora de pernas bambas. — Ela fala rindo.
— Ele é um gato mesmo, e essa covinha? Mas ele tem uma cara de
cafajeste! — Hanna diz rindo.
— Hanna meu bem, quem gosta de mocinho é leitora de romance! Eu
gosto é dos vilões, do lobo mau. Essa carinha dele de cafajeste ficaria linda
no meio das minhas pernas, se é que você me entende! — Lila diz, e gargalha
com a cara de espanto que a Hanna faz.
— Hanna, Hanna, os meninos maus são os que mais nos dão historias
pra contar.
— Vocês são duas perdidas! — Ela diz rindo.
De repente uma morena com cara de nojenta se aproxima dos
meninos, e eles fazem uma festa. Ela cumprimentar todos com beijinho no
rosto.
— Eita que isso é mulher de verdade! — Otávio solta a pérola.
A menina ri e o beija na boca.
E o cara de pau retribui o beijo! Que filho da puta, putanheiro do
caralho!
Olho para Lila, e ela está branca.
— Você quer ir embora gostosa? — Pergunto.
— Por causa desse babaca? Nunca na vida! Ei moço! Serve quatro
doses de tequila, por favor.
E o garçom serve, Hanna dispensa a bebida, e eu e a Lila viramos
duas doses cada uma. Começa a tocar músicas antigas e a Lila dá um show
dançando sozinha. De repente aparece um moreno, tipo dois metros de altura
e tira a Lila pra dançar. E ela vai toda se querendo pra cima do moreno, eu
olho de rabo de olho em direção do Otávio e vejo ele com os olhos pregados
no casal dançando.
A música que está tocando é Sean Paul e Sacha, Black Music. E eles
dançam como se fosse um só corpo, eles estão na mesma sintonia, parecem
dois corpos se amando. É um verdadeiro espetáculo, como se eles estivessem
transando, sei lá.
— Puta que pariu! Isso é sexy para caralho. Imagina essa morena
rebolando assim entre quatro paredes!? — Um dos meninos fala.
E ele tem toda razão, a dança dos dois e sexy pra cacete! Eles pararam
a balada, todos param para olhar os dois dançando.
— Ele está bem se aproveitando dela, isso sim! Se ninguém vai fazer
nada, faço eu! — Otávio diz, e começa a ir em direção a Lila.
— Você vai ficar onde você estava seu babaca! Vai lá com aquele fim
de feira, e deixa a minha amiga em paz! — Eu falo com raiva.
— Fim de feira? Do que você está falando... Oh porra! Não acredito
nisso.
— Você é um Otário! Deixa a minha amiga em paz. — De repente
escutamos gritos e quando olho para trás os dois estão num super beijo da
porra.
Eu olho para cara do Tavinho e vejo ele olhando com ódio para os
dois.
— Perdeu trouxa! A fila andou...
Volto para o lado da Hanna e ela está rindo muito da cara do Otávio.
— Ele se fodeu! — Hanna diz sem fôlego de tanto rir.
— Parou a cachaça pra você, Hanna banana! — Falo rindo.
Voltamos a dançar e minutos depois, Lila chega ao nosso lado.
— Bicha, sei que já falei isso. Mas tu é destruidora Mona!
— O beijo desse homem! Ele me deu o número dele, e pegou o meu!
— Lila, me ensina a dançar assim? — Hanna pede.
— Viada, essa dança lacrou! Onde você aprendeu?
— Eu fazia dança quando era mais nova. Ajudava a manter o peso
que eu perdia. Mas eu ensino sim, é muito gostos. Vocês já ouviram falar de
Kizomba?
— Não. O que é isso?
— É um estilo de dança. Amanhã eu mostro para vocês e se gostarem,
tem um Studio de dança perto do shopping, que dá aulas de Kizomba. Eu vou
lá segunda feira.
— Eu também vou!
— Ei, podemos conversar? — Otávio pergunta, segurando o braço da
Lila.
— Me desculpe, princeso, mas eu não sou mulher de verdade. Melhor
você ir com a sua amiguinha bom prato.
— Deixa eu me explicar! Não é nada dis...
— Está perdendo seu tempo, querido. Se você não se apressar, vai
perder o lanchinho da madrugada. — Lila diz e sai andando em direção ao
banheiro.
— Não foi isso o que eu quis dizer! Ela não vai deixar eu me explicar
né?
— Com toda certeza não! — Falo rindo. — Acho que já deu por hoje
né? Vamos atrás da Lila e ir para casa.
A noite já deu tudo o que tinha que dar. Me divertir horrores, mal
sinto as minhas pernas. Sinto minha pele se arrepiar novamente, olho em
volta, mas nada de encontrar o meu boy tatuado!
Ódio de mim, porra!
Encontramos com a Lila e vamos embora. Pegamos um táxi em frente
a choperia, e vamos todas pro meu apartamento.
Tomo um banho e caio morta na cama. Mas antes de adormecer,
ainda penso a sensação que eu senti quando estava na balada.
Não é coisa da minha cabeça! Tenho certeza que é a mesma sensação,
que eu tive na festa. Quando Gael me olhava.
Onde que deve estar você Gael?
E é pensando nele que adormeço...
Como todos os dias desde que ficamos juntos.
Ela é tão parecida com "ela."
Mesma alegria, mesma jovialidade, mesma ânsia de viver. Tão
mulher, mas ao mesmo tempo tão menina.
Eu a quero para mim.
Eu a quebrarei de inúmeras maneiras diferentes. Eu arrancarei seu
brilho, destruirei sua felicidade, não irei parar até que eu veja seu último
suspiro abandonar seu corpo delgado.
Ela é tão parecida com "ela."
Eu a vigio a um longo tempo... E tudo o que quero é senti-la grudada
a mim, para só depois arrancar seu último suspiro.
Ela nem imagina, mas tenho toda a sua vida traçada. Ela se tornou
uma obsessão, uma coceira em minha pele. Nada me dá mais prazer do que
ver o medo no olhar das minha vítimas, de ver a alegria se esvair do seu
olhar. De ver o brilho dos seus olhos, perder a intensidade até se tornarem
opacos, sem vida.
Eu a sigo desde seus dezenove anos, ela é independente, não se
submete a ninguém, sempre com seu nariz empinado, como se fosse superior
a todos. Ela despertou a sede de sangue em mim novamente, e ela será a
única a aplacar esse vício
Eu a odeio...
Eu a quero pra mim...
É só então irei destruí-la.
Ela sorri para mim, me toca, bebe do meu copo, e mal sabe todas as
coisas feias que pretendo fazer com ela.
Quero sentir seu corpo junto ao meu, quero saber o que é estar
dentro dela, saber como são seus gemidos de prazer, sentir sua doce boceta
me agarrar fortemente, senti-la pulsar ao redor do meu pau.
Toda vez que estamos juntos, me sinto o homem mais poderoso,
invencível mesmo sem tocá-la intimamente. Mas ela não me enxerga, não me
nota, e isso me deixa cada vez mais louco. Já me imaginei várias vezes
transando com ela, e na hora do seu clímax eu aperto seu pescoço
fortemente, vendo ela se debater em busca de ar. Vejo o medo chegar aos
seus olhos, sabendo que sua morte está à espreita só esperando seu último
suspiro. Eu sei que ela sai com vários tipo de homem, e isso me causa um
ódio sem tamanho. Imaginar outro homem tocando o que me pertence, me
deixa insano, com sede de sangue. E é então que vou a caça, da minha
próxima vítima.
Ela é uma vadia suja, igual "ela" era.
Suas atitudes são tão parecidas, como assim é a sua aparência. Elas
são iguais, vadias, sujas, que só pensam no prazer carnal.
Elas são culpadas por eu ser assim! Eu as odeio tanto...
Gosto de ter o poder em minhas mãos, quando estou com a minha
caça me sinto um deus! No meu quarto eu sou o Deus, eu decido a hora das
suas mortes e como será sua morte. Eu amo a adrenalina que me domina na
hora de dar o meu veredito. Eu gosto das que lutam para sobreviver, que
imploram por suas vidas. Gosto das ariscas, daquelas que me desafiam, que
gritam, elas me chamam de louco, de psicopata.
Como se isso fosse uma ofensa para mim! Mal sabem elas que isso é
o mais puro elogio. Eu fico duro quando elas lutam, a luta em si é o que mais
me excita na realidade.
Me excita ver como eu irei quebrá-las, de como elas passarão de
raivosas para sem vida. Eu as torturo ao ponto delas clamarem pela morte. E
é isso que irei fazer com ela, eu a quebrarei!
Yza Reed é o meu sonho de morte! Mas antes eu irei torturá-la até ela
gritar por clemência! Eu posso ouvir seus gritos na minha imaginação, posso
imaginá-la lutando pela sua vida. Eu venho mandando dicas ao longo desses
anos todos, mas ela leva na brincadeira. Ela acha que alguém está
brincando com ela, mas pensando por esse lado é mais como uma
brincadeira.
Gato e o rato, onde eu a persigo e ela foge, mas uma hora o gato
consegue capturar a sua presa e esse é o momento de êxtase para o gato,
onde ele brinca com sua presa, a torturando, a fazendo de brinquedo e é isso
que a Yza Reed será. Meu brinquedo!
Yza Reed...
Seu fim será lindo...
Tenho sede de sangue, e só será saciado com o sangue dela. Ela não
imagina o perigo que a rodeia, ela tanto não sabe que já me convidou para a
sua casa. Eu estive no seu quarto, me deliciando em sua cama onde deixei
minha marca gozando em seus lençóis, em suas calcinhas. E ela nem
imagina isso!
Até nisso ela é igual a "outra dela!" Inocente, crédula, vê bondade e
amizade em tudo.
Eu as odeio do fundo da alma que não possuo mais. Por causa delas
que todas pagam. Mas não é qualquer uma, não saio matando
aleatoriamente. Não meus caros!
A mulher escolhida tem que ter a mesma aparência, morena, cabelos
compridos, ar de inocência. Geralmente escolho as que se atiram em mim, eu
as levo para o meu canto e faço com elas o que eu quero. Eu me divirto com
sua corpo, me delicio no que as vagabundas querem me dar e só então eu
dou a sentença final. E é aonde começa a diversão verdadeira.
Volto a minha atenção para o meu objeto de desejo. Ela fala, fala,
fala, e eu só consigo imaginar essa voz me implorando por sua vida. Yza
Reed é luz, e eu serei o único a apagá-la. Ela olha para mim e
sorri. Ninguém nunca desconfiaria de mim, para eles sou um nobre rapaz,
mas eles não imaginam a podridão que habita em mim.
Eu serei o único a arrancar essa felicidade!
Você será minha Yza Reed, e eu te destruirei como fiz com "elas."
Síndrome do Mal
Autor: Dark Angel
Acho que Deus está de graça com a minha família! Por que não é
possível, é um coisa atrás da outra com intervalos mínimos.
Já não bastava a piranha da Felipa, agora a porra de um sequestro.
Minha prima teve o que merecia, agora essa Sarah? Essa vai ter o que é dela.
Já tem uma hora que o Gael levou as meninas e minha mãe para a fazenda, e
eu, a Lila e o Otávio estamos ligando para os hotéis em busca da Sarah e do
Diego. Dizer que fiquei surpresa quando eu vi o Otávio e a Lila juntos é
eufemismo. Desde que as coisas desandaram, os dois tem agido como cão e
gato. As brigas são engraçadas, porque está na cara que os dois se gostam e
querem esconder isso. E é o que eu vejo agora, ele todo preocupado com ela,
a tratando com carinho. Lila está muito abalada com o que está acontecendo,
Katrisca é mais que uma amiga para ela, é como uma irmã.
Dylan chega arrasado, é de partir o coração vê-lo assim. Katrisca e a
Luna mudaram a vida do meu irmão, e ele é louco por elas. Me destrói não
poder fazer nada para ajuda-lo, mas estamos fazendo o possível para tentar
achar aquela vadia da Sarah Castro. Eu até tento ser forte, mas ver meu irmão
tão devastado me faz entrar em desespero e Gael que me consola.
Já amanheceu e nada de obter notícias, eu escuto os gritos do meu
irmão e sem conseguir me conter corro até ele. Dylan está de joelhos no
quintal, e eu o abraço apertado pedido para ele ficar calmo. São quase oito
horas da manhã, e a cada hora que passa o medo que alguma coisa tenha
acontecido com a minha cunhada e o bebê, é grande. Mas por ironia do
destino, quem consegue localizar a Katrisca é o pai do Diego.
Donatello chega correndo para dar a notícia, e todos nós
comemoramos. Um pouco do desespero some da fisionomia do meu irmão, e
uma animação aparece no lugar.
Tudo vai dar certo, Katrisca e o bebê estarão bem e aquela vaca e o
psicopata do filho dela vão ter o que merece.
Todos começam a se mexer para ir buscar a Katrisca. Gael liga para
os seus amigos da polícia e passa o lugar aonde Sarah e Diego estão. Eu só
pego o meu celular e já estou pronta para ir com eles.
— Vamos buscar a sua mulher Dylan. Já chamei a polícia, eles vão
nos encontrar na porta do hotel e a Yza vai ficar aqui e nos esperar. — Gael
diz.
— O QUE!? MAS...
— Vai ficar e pronto!
— Gael D'Ávila! Abaixa a bola que você aqui não manda em nada
não meu filho! Eu vou e pronto.
— Você vai ficar aqui sim! Vai ligar para a sua mãe, vai ver como as
meninas estão e vai atualizar ela do que está acontecendo. Não sabemos do
que esse louco é capaz, e você indo junto, não vamos poder nos concentrar
em fazer o que deve ser feito. Fui claro Yza Reed? — Gael fala sério.
Puta que pariu! Eu nunca o vi desse jeito, tá, lógico que ele é
autoritário, mas eu nunca o vi assim!
Eu estou muito fodida porra!
Depois de horas de terror, escuto uma gargalhada alta. Quando olho,
vejo meu pai dobrado de tanto rir. Eu olho séria para ele, não achando
nenhuma graça.
— Graças a Deus essa responsabilidade não é mais minha! — Meu
pai diz rindo.
— Pai!
— Nada a declarar princesa. Vamos, vamos buscar a minha nora. —
Ele se encaminha para a porta e meus irmãos vão atrás.
Gael para a minha frente e eu levanto meu rosto para olhá-lo, e o
fuzilo com os olhos.
— Você pode ficar brava o quanto quiser, que eu pouco me importo.
A situação é grave, não sabemos o que nos espera e eu sei que se você for
junto vai querer fazer merda. Não posso lidar com o seu temperamento louco
agora Sweet, preciso concentrar no seu irmão para que ele não faça nenhuma
merda. — Diz Gael.
— Não se acostume a fazer isso Gael D'Ávila. Você não vai mandar
em mim, nem aqui, nem na casa do caralho. Eu só vou ficar, por que meu
irmão precisa de toda a atenção e não por que você mandou!
— Eu vou fazer isso sempre que eu achar necessário, sempre que
você estiver em perigo. Então aceita que dói menos, não é assim que você
fala?
Antes que eu possa responder, ele me beija e sai correndo assim que a
buzina toca.
Idiota arrogante!
Otávio ri e Lila o acompanha.
— Cara! Se esse homem já é assim, imagina quando ele começar a
topar com os seus antigos contatinhos Yza? Acho que ele será capaz de te
trancar em casa. — Otávio diz rindo.
— Pelo amor de Deus Otávio! Para de jogar praga para minha vida.
Você não tem noção do que é esse homem não. Ele é ciumento, possessivo,
ele surtou sobre meu shorts hoje. Quem dirá se encontrar algum caso antigo.
— Princesa, uma hora isso vai acontecer. — Lila diz rindo.
— Eu estou muito fodida, não estou? Jesus amado! Porque senhor?
Por que eu fui tão piriguete? Esse passado de biscate, vai me morde na bunda
tão forte, mas tão forte que vou ficar sem sentar por meses.
Viadas eu aprontei horrores, sai desde o delegado até o dono da
chimboquinha. E os caras da faculdade? E os amigos dos meus irmãos? E se
eu já sai com algum conhecido do Gael?
Minha nossa senhora protetora dos ursos raivosos, me proteja de toda
a raiva e surtos de ciúmes do Gael.
Esse homem vai me manter em cárcere privado! Eu sinto isso no
fundo da minha alma de ex-biscate.
Estou muito fodida da vida toda!
Minha mãe! É isso, preciso conversar com a minha mãe.
As coisas ficaram intensas por uns dias, mas graças a Deus a Katrisca
e o meu sobrinho estão bem.
Aquele desgraçado bateu nela ao ponto da Kat ter descolamento de
placenta. Foi um susto, mas ela já teve alta e está passando uns dias na
fazenda. Ela tem que ficar de repouso absoluto, e lá tem gente para cuidar da
Luna e ficar de olho na Katrisca enquanto meu irmão trabalha.
Eu, Gael e Maria, entramos em uma rotina legal. Estamos ambos de
férias, então a atenção está voltada totalmente para ela. Hoje nós fomos ver
escolas para ela, como ela nunca estudou antes terá que começar do zero.
Gael e eu reparamos que ela sabe falar bem, reconhece letras, lê algumas
coisas, mas sempre desiste esfregando os olhos. Eu tenho uma amiga que é
pedagoga e comentei sobre isso com ela, que indicou um oftalmo e pediu
para que eu a levasse no seu escritório para dar uma avaliação. Lúcia é
psicopedagoga, ama crianças e tenho certeza que poderá ajudar a minha
menina.
— Mamãe?
— Oi meu amor.
— Por que eu tenho que ir na escola? Eu já disse que eu sou burra,
meu irmão tentou me ensinar a ler, mas eu não consigo fazer isso. — Maria
diz toda triste.
— Meu amor, você não é burra! Como você pode achar isso? Você
vai para a escola e vai aprender tudo, e se tiver dificuldade nós iremos te
ajudar.
— Não sei... E se as pessoas rirem de mim, por que eu não consigo
aprender?
— Então você me conta e eu vou conversar com essas pessoas!
— Conversar com quem Sweet!? — Gael pergunta entrando na sala.
— Conversar com as pessoas que rirem da minha filha na escola!
Ele sorri e balança a cabeça. Eu sei, eu sei, sou um caso perdido!
Lógico que não irei bater nos filhos dos outros, mas irei conversar e mostrar
que não se pode rir das limitações das pessoas.
— E porque as pessoas iriam rir da sua filha Yza? — Ele pergunta
sentando ao meu lado.
Maria rapidamente vai para o colo do pai. Eu a tenho só para mim
quando ele sai, mas é ele chegar em casa ela esquece que tem mãe.
— Por que eu sou burra papai.
— Burra? Por que você acha que é burra ursinha? Eu jurava que você
era uma menina! Aonde você escondeu a orelha de burra e o rabinho? —
Gael diz fazendo Maria rir.
— Ursão bobinho! Eu sou burra, por que não aprendo as coisas. O
Júlio tentou, mas as letras ficam dançando na minha frente.
— Escuta ursinha, você não é burra. Eu não quero ouvir você falar
isso novamente ok? Você pode ter alguma dificuldade, mas isso não te torna
burra meu amor. Só terá um pouquinho mas de trabalho para aprender, mas
eu e sua mãe iremos te ajudar sempre.
— Tudo bem, não falarei mais isso.
— Bom, agora que eu fui jogada de canto feito um trapo velho, irei no
salão fazer as unhas, levaria você menina ingrata, mas agora o Ursão está em
casa você não vai querer ir.
— Mamãe...
— Eu sei, eu sei, mas não tem problema não. O Júlio vai preferir
euzinha por que sou muito legal.
— Mas você é legal mamãe, eu vou no salão com você tá? — Ela diz,
mas posso ver a indecisão em seus olhinhos.
— Eu estou brincando meu amor, pode ficar com o seu pai. Mostra
aquela revista de decoração para ele e diz as coisas que você escolheu. Mais
tarde sua vovó Marta virá te buscar.
— Sim! Hoje é dia de namorar com o Ursão, e eu vou ficar com a
minha vó. Vamos fazer festa do pijama e o tio vidinha vai trazer a neném!
— Dia de namorar? — Gael pergunta.
— Sim. Roberta me ligou e perguntou se queríamos nos reunir com
eles no barzinho, a maioria dos seus amigos vão. Convidei a Hanna e o Don
para ir também. — Falo e Gael fica olhando para mim surpreso.
— Roberta te ligou?
— Sim, por que? Gael eu sou mãe, mas não estou morta não. É só um
barzinho, música ao vivo, umas biritas. Eu conheço o bar e é super top.
— É papai, tem que namorar! Eu quero um irmãozinho também,
então você tem que namorar a mamãe. Eu quero uma irmã, pode ser?
Agora quem olha surpresa sou eu! De onde saiu essa história de
irmão? Só Jesus na causa, aposto que tem dedo da Luna e da minha mãe
nessa história.
— Pedindo desse jeitinho ursinha, eu super topo namorar a sua mãe.
— Gael diz sorrindo diabolicamente para mim.
— Eu... Eu... Eu já estou indo! Daqui a uma hora eu volto. — Pego
minha bolsa e saio correndo.
Gente é sério, vocês me imaginam grávida? Eu sou doida, nem o
psiquiatra conseguiu me consertar! Eu sei que eu sou mãe da Maria, mas ela
não cresceu na minha barriga, ela não saiu pela minha priquita. Vocês já
viram o tamanho do Gael? Aposto que ele nasceu grande e cabeçudo! Não
obrigado, tenho amor a minha priquita. Já pensou sentir alguém mexendo
dentro de mim? Vai parecer aquele filme, MIB homens de preto. Quando o
Alien mexe na barriga do cara querendo sair!
Obrigado mais eu passo!
NÃO TENHO MENTALIDADE!
Entro dentro do carro e saio acelerando, em direção ao salão.
Faço minhas unhas, aproveito e dou um trato no cabelo e quando
termino, compro um modelito arrasador. Temos que separar as coisas, sou
mãe agora, mas isso não pode ser meu único foco. Sou nova, estou
praticamente casada com um boy muito gostoso, e tenho que dar conta do
recado. Logico que com uma criança em casa, dificulta um pouco, mesmo a
Maria tendo o quarto dela, ela ainda tem pesadelos. E quando isso acontece
ela vem para a nossa cama, então não tem como dormir um pouco mais à
vontade depois de um sexo gostoso.
Mas eu não reclamo, pois amo essa menina. Até por que, eu e Gael
vivemos inventando algo para poder aplacar a vontade louca que temos um
pelo outro. Eu adoro provocá-lo, principalmente quando ele não está em casa.
Mando mensagens picantes, fotos provocantes, conto uma fantasia, até
comprei umas fantasias eróticas. Sei que parecemos nos conhecer desde
sempre, tamanha a intensidade que temos. Mas somos novos, nosso
relacionamento está apenas engatinhando, mesmo que tenhamos dado um
pulo imenso.
Eu sou nova demais, e tenho que saber da conta de um homem como
o meu. Não posso deixar que o nosso relacionamento caia na rotina. Graças a
Deus eu tenho minha mãe e a minha sogra, as duas me entendem e sabem que
precisamos ter momentos nossos. Sair só nós dois, nos encontrarmos com os
amigos, sair para dançar, ir a um motelzinho. Tudo isso para não cairmos na
rotina. Minha mãe mesmo disse isso, que não posso deixar de cuidar do meu
relacionamento por causa dos filhos. Tenho que manter a chama acesa, e olha
que fogo eu tenho de sobra!
Quando chego em casa, Marta já está lá para pegar a Maria. Mas
como sempre, ela está fazendo as vontades do ursinho dela.
— Boa tarde família! Martinha, minha sogra linda. O que você está
fazendo com a barriga colada no fogão?
— Oi minha linda, eu estou fazendo bolinho de chuva com banana. O
ursinho disse que estava com vontade. — Ela diz toda feliz.
Eu não ligo que ela mime o Gael, só acho injusto que ela tenha que ir
para a cozinha. Ela vem nos visitar e o que o Gael faz? Pede alguma comida
diferente, ou um doce!
Muito neném da mamãe.
— Marta, já falei para você mandar seu filho se lascar, quando ele
pedir que você vá para a cozinha.
— Ela é minha mãe! O que é que tem, se ela fizer bolinhos de chuva?
— Ele pergunta sem entender.
Obtuso!
— Por que meritíssimo, toda vez que a sua mãe vem nos visitar você
pede algum coisa. Às vezes ela só quer conversar, passar um tempo com o
filho ou com a neta, mas não! Ela mal entra em casa e você já sai pedindo as
coisas, as vezes nem pergunta como ela está.
— Yza... — Marta tenta me calar.
— Não Marta! Sei que você ama mimar seu filho, e acho lindo porque
a minha mãe é igualzinha. Mas custa ele te mimar um pouco? Custa Gael?
Ele me olha surpreso e até mesmo envergonhado.
— Eu não sabia que fazia isso. Eu estou acostumado a pedir as coisas
para a minha mãe. Desculpa mamãe, a Yza falou a verdade, eu nem perguntei
como estão as coisas na loja e já fui pedindo para a senhora ir pra a cozinha.
— Ele diz arrependido.
— O papai está de castigo? — Maria pergunta.
— Não sei meu amor, o que você acha? Ele deve ficar de castigo? —
Pergunto rindo.
— Eu acho que sim. Assim sobra mais bolinhos para mim, ele come
tudo! Eu como um e ele come três, muito guloso esse Ursão. — Maria diz
rindo.
Todos acabamos rindo com ela, e a clima muda na cozinha.
— Como está indo a loja Marta? Semana passada reparei que chegou
bastante peças novas.
— Chegou mesmo, tenho um vendedor que roda o mundo inteiro e
sempre traz coisas novas para mim. Ele trouxe uma caixa de lenços de seda,
um mais lindo que o outro. —Marta diz animada.
— Quantos anos tem esse vendedor mamãe? — Gael ciumento ataca
novamente.
Esse meu ursão não tem jeito mesmo viu! De tudo o que a mãe falou,
ele só reparou no vendedor. Às vezes eu me pergunto se esse homem é
normal.
E a noite eu tenho a certeza.
Ele não é normal!
Ouvir a minha Sweet chamar a minha atenção, me fez entender que
algumas atitudes em relação à minha mãe estavam erradas.
Mas para me justificar, sempre foi minha mãe e eu. Sempre foi um
pelo outro, e ela sempre me mimou demais. Acho que para aplacar um pouco
da culpa que ela acha que tem, mas eu não a culpo de nada. Mesmo morando
em casas diferentes, ela sempre vinha me fazer agrados e meus doces
favoritos. Ela cozinhava as refeições e deixa congelada, fazia bolos e doces
para deixar na geladeira para a semana. Mesmo eu treinando, tomando meus
shakes de proteínas e fazendo dieta, ela sempre cozinhou para mim. Então
isso virou meio que um vício. Só que a Yza está certa, minha mãe nem tinha
atravessado a porta direito e eu já fui pedindo para ela fazer bolinho de
chuva.
Fiquei extremamente envergonhado de não ter perguntado sobre a
loja, ou se tinha acontecido alguma coisa diferente com ela. Mas eu prometo
me policiar sobre isso, e passar a cuidar mais da minha mãe.
Minha mãe e a Maria já foram embora, minha Sweet está se
arrumando e eu estou terminando de lavar a louça. Quando deixo tudo limpo,
vou em direção ao quarto e fico paralisado na porta. Minha mulher é a
encarnação do pecado puta que pariu. Ela está apenas com uma calcinha
branca, se é que se pode chamar aquilo de calcinha. O pequeno pano não
cobre nada, e está perdido no meio da sua bunda gostosa. Seus seios lindos
estão livres, e eu chego deixo cair uma baba quando vejo ela passar o
hidratante sobre eles. Ela se abaixa para passar o creme nas pernas, e eu tenho
a melhor visão do mundo; sua pequena boceta me chama, implorando pelos
meus carinhos. Não quero mais sair, a única coisa que eu quero é entrar nela
e esquecer o mundo!
Eu caminho em sua direção, mas ela logo foge para o outro lado da
cama.
— Você fez isso de propósito?
— Quem eu!? Jamais meu amor, fiz de caso pensado mesmo.
Imagine como você vai estar no final da noite. Duro e louco para me pegar
com força! — Ela diz sorrindo.
Safada!
— Não preciso imaginar nada! Eu já estou duro e vou te pegar com
força, mas tanta força, que amanhã você não vai ne conseguir sair da cama.
Não iremos mais para lugar nenhum! — Digo e ela ri para mim.
— Não senhor. Nós iremos sair sim, vamos aproveitar a companhia
dos nossos amigos. E então, só mais tarde você me pegará com força. Uma
foda bruta, sem carinho, sem melação. Quero um sexo cru e bruto com tudo o
que eu tenho direito! Agora vai tomar um banho, de preferência frio.
Essa mulher ainda me mata.
Mas se ela quer esperar, tudo bem. Só não me responsabilizo pelos
meus atos mais tarde. Tomo um banho rápido, escolho um jeans e uma
camiseta, calço um tênis, passo um gel no cabelo e um pouco de perfume. E
já estou pronto. Vou atrás dela e a encontro na sala, mexendo na sua bolsa.
— Já está pronto meu amor?
— Já, só estou esperando você terminar de se vestir. — Respondo e
ela ri.
— Eu já estou pronta ursão! Vamos?
— Falta a parte de cima, não? Ou você vai sair de sutiã?
— Me poupe Gael! Isso é um top, um muito lindo por sinal.
— Não gosto! Mostra muita coisa que só eu posso ver.
— Que pena para você, pois eu gosto muito. Vamos?
— Não vai levar nem uma jaqueta? —Tento fazê-la mudar de ideia,
mas é tudo em vão.
— Tchau Gael! — Ela diz e sai do apartamento.
Estou sentindo que minha noite vai ser uma merda!
Entramos no carro e ela me diz o endereço do tal bar. O mesmo bar
no qual ela bateu na prima dela.
Maravilha!
Ela vai conversando com a Hanna por mensagem, enquanto fala
comigo sobre coisas aleatórias. Ela diz que a Roberta e o Maurício já estão
nos esperando, e que alguns conhecidos já chegaram. Assim que estaciono o
carro, vejo Donatello chegando com a Hanna. Entramos todos juntos, e
vamos em direção ao restante do pessoal.
— Yza, Yza, já se cansou desse urso raivoso? Estou à disposição
hem, aproveita que a Roberta não é ciumenta. — Maurício diz
cumprimentando minha Sweet.
— Sinto muito Maurício, mas estou presa na vara desse homem. —
Ela diz rindo e todos ao redor riem também.
Dos dois não sei quem é pior, Mauricio por falar merda, ou a Yza por
responder no mesmo nível.
Comprimento a todos, e me surpreendo por ver a filha mais velha do
Josafá entre nós. Joyce é uma morena linda, e super auto astral. Está
terminando o último ano da faculdade de direito.
— Ei Gael! Quanto tempo, e sua mãe como está? — Joyce pergunta
me abraçando.
— Ei menina! Você que anda sumida, não vai mais visitar os amigos.
Minha mãe está bem, dá uma passadinha na loja ou na casa dela. Ela vai amar
ver você, mas já logo aviso que ela vai ficar toda chorosa por ver a moça
linda que você se tornou!
Eu me lembro quando ela era mais novinha, e vivia correndo pelos
corredores do fórum. Ela seguia o pai para cima e para baixo, ela
praticamente cresceu entre nós. Acho que o fato dela ter escolhido o direito,
tem muito a ver com isso e também pela sua irmãzinha.
— Moça linda? Interessante. — Yza diz me fuzilando com os olhos.
Acabei me esquecendo de apresentá-la a Yza, e só agora que notei
que o grupinho que ela estava ficou silencioso.
— Sweet... Essa é a Joyce, filha do Juiz que nos ajudou na custódia da
Maria. Ela praticamente cresceu dentro do fórum, ela deve ter a mesma idade
que a sua.
— Hum... Interessante. Prazer Joyce, Yza Reed. Mulher do Gael. —
Yza diz séria e estende a mão para Joyce.
Joyce olha para mim, depois para a Yza e aperta a mão da minha
Ciumentinha, puxando ela para um abraço.
— Prazer meu bem. Mas comigo você não precisa se preocupar, acho
que se alguém tem que ter cuidado comigo, esse alguém é o Gael, pois adoro
a mesma fruta que ele. —Joyce diz e acaba caindo na gargalhada ao ver a
Yza de boca aberta.
— É sério? — Yza pergunta olhando para mim.
— Muito sério Sweet. Joyce é lésbica, tipo muito mesmo. Então não
fique perto dela, ou acabarei tendo a minha mulher roubada de mim!
— Imagina Gael! Mulher de amigo meu, para mim é homem. Mas
Yza, se quiser matar a curiosidade estamos ai viu. — Joyce diz piscando para
Yza.
— Primeiro a Roberta, agora a Yza. Limites para que né Joyce! Vou
ligar para o seu pai. —Mauricio diz sério, mas posso ver que é só para encher
o saco da menina.
— Não tenho culpa se sua mulher está insatisfeita com você mau-
mau. Mas pode ligar para o meu pai, já até sei o que ele vai responder.
"Minha filha é foda". Agora deixarei vocês e vou curtir com o pessoal da
faculdade.
Ela se despede de todos e vai para a rodinha de amigos, que não está
muito longe da gente. A noite passa tranquila, Yza, Hanna e Roberta entram
em uma conversa descontraída. E eu, Don, Maurício e outros amigos falamos
sobre processos. O normal quando vários advogados se reúnem.
Mesmo distraído com a conversa, meus olhos sempre estão na Yza.
Ela e as meninas estão bebendo e dançando descontraídas. Eu puxo a minha
Sweet para os meus braços, e a acompanho na dança um pouquinho.
— Quer alguma coisa? — Pergunto ao seu ouvido e ela para me
provocar, rebola roçando sua bunda em mim.
— Quero alguma coisa bem gelada!
— Tipo o que? Refrigerante, uma cerveja, outra bebida igual à que
você estava bebendo?
— Se eu pudesse escolher, seria a sua boca e gelo. Mas como não
posso, pode ser uma cerveja bem gelada. — Ela diz sorrindo.
— Safada! Me aguarde até chegarmos em casa viu!
— Promessas, promessas, promessas.
Eu agarro seus cabelos em meus punhos e a beijo intensamente. Os
meninos começam a vaiar e nós acabamos rindo.
— Já volto! Meninas, querem cerveja também? — Pergunto e todas
respondem que sim.
Vou em direção ao bar e faço o meu pedido.
— Você está com a Yza Reed? — O barman pergunta.
— Sim, porquê?
— Nada não. Mas aqui vai um conselho de quem já passou por isso.
Aproveita bastante, ela logo vai cansar e partir pra outro. — Ele diz
debochado.
O que!? Que merda é essa?
— Eu sou o marido dela cara! — Falo puto da vida.
— Não é o que parece. — Ele diz me entregando as cervejas e
apontado para trás de mim.
Eu olho na direção que ele aponta. E vejo tudo vermelho.
Isso só pode ser pegadinha caralho!
Yza está conversando com um homem, e ele está segurando sua
cintura enquanto fala algo que a faz gargalhar. Eu não vejo nada no meu
caminho, enquanto vou na direção dos dois.
— Que porra é essa, Yza Reed!? — Grito furioso.
Mas nem perco o meu tempo esperando a resposta, já afasto os dois e
meto um murro na cara do filho da puta! O cara bambeia e vem para cima de
mim e eu acerto outro murro na cara dele. Yza grita, Don e Maurício tentam
me segurar enquanto os outros levam o idiota para longe de mim.
— Você é louco!? — Ela pergunta brava.
— Eu que tenho que te fazer essa pergunta, porra! Você é louca?
Deixar outro homem tocar o que é meu!? — Grito e Don vem para o meu
lado.
— Calma Gael... —Ele tenta dizer.
— Calma porra nenhuma Donatello. Ela sabe muito bem como eu
sou, ela sabe que odeio que outro homem a toque e mesmo assim estava toda
sorrisos para o filho da puta! E eu ainda sou obrigado a ouvir do garçom, que
eu tenho que aproveitar, pois logo ela partiria para outro e detalhe! É um
conselho de quem já passou por isso! NÃO FODE PORRA!
— Gael você está nervoso cara, vamos lá fora pegar um ar e se
acalmar. — Maurício pede.
Eu nem respondo e saio andando em direção a saída. Caminho de um
lado para o outro, respiro fundo para não fazer uma merda. Nunca senti isso
antes, nunca passei por nada parecido antes. Esse ciúmes queima, corrói por
dentro e eu só consigo ver tudo vermelho.
— Você vai me deixar explicar Gael? —Yza diz de longe.
— Não! Isso não tem explicação. Você veio toda territorial quando a
Joyce veio me cumprimentar, e só sossegou quando ela disse que gostava de
mulher.
— Tem explicação sim! E você vai me ouvir. — Ela grita vermelha
de raiva e tenta se aproximar de mim.
Eu me afasto a cada passo que ela da. Eu nunca senti tanta raiva
assim, e agora tenho medo de ser mais parecido com o meu pai do que apenas
a aparência. Vejo Donatello segurando a irmã, e me sinto um pouco mais
aliviado. Eu iria me odiar se na raiva, acabasse machucando ela. Isso é tudo
novo para mim, e eu preciso me acalmar, preciso analisar tudo isso que estou
sentindo e sei que se ficar perto dela não irei conseguir. Pego as chaves do
carro e caminho na direção dele.
— Gael! Aonde você vai!? — Ela pergunta e posso ouvir seus passos
vindo na minha direção.
— Don, faz um favor para mim? Leva a sua irmã para casa. — Peço e
entro no meu carro.
— Abre essa merda Gael! Não é assim que se resolve as coisas,
vamos conversar ursão. — Ela diz e posso ouvir o medo na sua voz.
Eu abaixo o vidro e olho para o seu rosto e vejo as lágrimas caindo.
— Vai para casa Sweet. Se conversarmos do jeito que eu estou, te
garanto que não vai ser legal. Deixa eu me acalmar e depois conversamos ok?
— Não! Vamos conversar agora Gael.
— Don...
— Vamos princesa. O Gael está certo, ele está nervoso e você
também. Nada bom sairá se vocês conversarem agora. Faz o que ele está
pedindo. — Donatello diz e a afasta do carro.
Eu dou partida e saio do estacionando.
Preciso me acalmar.
Não quero ser alguém como ele.
Você já é! — A voz do meu pai ecoa na minha cabeça.
Fico olhando o carro se afastar, tentando entender tudo o que
aconteceu. Em um minuto estávamos bem, fazendo planos para o final da
noite e no outro tudo desanda, e sou deixada para trás!
— Ei princesinha, não fica assim. Vamos para casa, deixe a poeira
abaixar e só então vocês poderão se resolver. — Meu irmão diz chateado.
— Você entendeu o que aconteceu Don? Por que vou ser sincera, eu
não entendi porra nenhuma!
— Eu sabia que uma hora isso iria acontecer Maninha. Gael é
possessivo demais e foi assim desde o início, você se lembra quando ele
chegou na sua casa quando estávamos conversando? O jeito que ele enfrentou
o papai, só porque você estava chorando?
— Lembro.
— Eu não estou dizendo que o que ele sente é errado. Quem sou eu,
faço a mesma coisa com a Joy. Mas o Gael é muito mais intenso, ele vai
atropelar quem estiver no seu caminho se isso for te manter segura. O cara é
um poço de ciúmes e ver outro homem tocando você, e ainda depois que o
Galdino falou para ele, é compreensivo essa raiva toda.
— Galdino? O que ele tem a ver com isso? — Pergunto curiosa.
Eu sai algumas vezes com o Galdino a alguns anos atrás, mas tudo
terminou de boa. Ele passou a ser um amigo muito querido.
— Eu não sei de tudo, mas pelo que o Gael falou o garçom falou para
ele que logo você o trocaria. E que o conselho dele era que, o Gael
aproveitasse enquanto era tempo. E o garçom era o Galdino, Yza.
NÃO POSSO ACREDITAR QUE ISSO ESTA ACONTECENDO!
Nem respondo o meu irmão, me viro e vou direto para o bar aonde o
idiota está. Assim que me vê, Galdino abre um sorriso que logo some quando
o agarro pelo colarinho.
Eu apoio meus pés no apoio do banco de madeira e me inclino sobre o
balcão, e o puxo pelo colarinho.
— Que merda você falou para ele!? — Grito em seu rosto e o vejo
engolir em seco.
— Falei a verdade ué. É sempre a mesma coisa Yza, você sai com o
cara, enreda ele na sua teia e quando o cara está todo apaixonado você o
dispensa. — Galdino diz amargurado.
— Você é a porra do maior idiota da face da terra! O fato de não ter
me apaixonado por você, não quer dizer que não possa acontecer com outro
homem. Eu nunca te prometi nada Galdino, o que tivemos foi um lance que
ambos fomos recompensados. Por que quando é um homem que age sem
compromisso, ele é o tal e quando é uma mulher ela é a bruxa que ilude o
homem? Não fode porra!
— Mas eu estou mentindo? O que eu falei para ele é mentira Yza? O
cara só faltava babar em cima de você, te olhava com adoração, só quis evitar
que ele se iluda. — Ele diz sorrindo.
Minha vontade é de matar esse filho da puta! Mas tenho, coisa melhor
pra fazer.
— Sabe a diferença daquele homem? — Pergunto e ele diz que não.
— A diferença é que ele me tem completamente Gaudino. De corpo, alma,
coração e loucura. Eu amo aquele homem, e essa é a diferença bebê. E você
viu isso e quis atrapalhar, tudo porque você é um recalcado e mal perdedor.
Que feio Galdino, inveja para mulher já é feio imagina para um homem.
Largo sua camisa e sorrio para ele. Quando viro minhas costas para ir
embora, eu o ouço.
— Putinha do caralho! — Ele diz baixinho.
Aaaah minhas amigas, paciência tem limites e a minha se esgotou.
Volto com tudo e o agarro pela camisa novamente, tanto ele quanto eu irmão
ficam sem reação.
— Sabe qual é o seu problema Galdino? É que você não sabe lidar
com uma mulher forte, decidida e que sabe o que quer. Eu sou puta mesmo,
puta com orgulho e sabe por que? Por que essa puta aqui não se deixou iludir
por um babaca feito você, que essa puta aqui tem o direito de fazer o que
quiser e não sou obrigada a me contentar com uma foda meia boca. Se ser
independente, decidida, e que sabe o que quer e como quer, me faz ser uma
puta, então eu sou a maior puta que Campinas já viu! Só que essa putinha
aqui tem dono, e graças a Deus não é você! — Falo na sua cara e sem resistir,
deixo um soco no seu nariz que começa a sangrar rapidamente.
Me viro para ir embora e vejo meu irmão sorrindo de orelha a orelha,
Hanna vem me abraçar.
— Vamos princesinha, vamos para casa. — Ela diz me levando para
fora.
— Você pode me deixar na casa do Gael, Don?
— Acho melhor não Yza. Ele pediu para levar você embora, e é o que
eu vou fazer. —Don diz decidido.
— Desculpa irmão, mas você não tem que achar nada! A vida é
minha, o homem é meu e eu que decido. Na realidade, me leva para casa.
Hanna você ainda tem as chaves do meu apartamento? O Gael levou minha
bolsa.
— Tenho sim.
— Então partiu My House!
E Don nos leva de cara feia. Pego minhas chaves com a Hanna e vou
para minha casa. Tomo um banho, visto apenas um vestido Levinho, pego as
chaves da casa do ursão e vou atrás dele.
Se ele pensa que vai se livrar de mim, está muito enganado. Vou
mostrar para ele com quantos paus se faz uma canoa. Ele não pode me deixar
de fora, não pode sair e me largar como se eu não fosse porra nenhuma. Se
antes eu estava com medo, agora eu estou puta da vida.
Vou provar que eu posso lidar com todos as Facetas de Gael D'Ávila.
Na realidade estou até excitada... Gael insano me deixa louca, mais do que já
sou!
Mal paro o carro e já estou entrando dentro da casa dele, no caminho
várias caixas enfeitam o lugar. Tudo coisas que compramos para decorar os
quartos e dar um toque especial nos outros cômodos. Olho no quarto e vejo as
roupas que ele vestia mais cedo, jogada no chão. Volto para a sala e vou em
direção a cozinha, até que um som me chama a atenção. Vou seguindo a
música até chegar a academia, um rock pesado explode das caixas de som e
eu vejo meu homem detonando o saco de areia.
Puta que pariu, ele está realmente com raiva, a cada murro que ele dá
no saco o mesmo voa longe. Eu me encosto no batente da porta e fico
olhando ele se matar de tanto treinar.
Ele está com raiva do que o Galdino falou e junta o fato dele ver um
homem me abraçando, pronto temos um urso raivoso. Mas não é nada do que
ele está pensando! Tá, tinha sim um homem me tocando, mas ele era o meu
amigo muito, muito gay. Ele tinha acabado de chegar de do Japão e quando
me viu, veio logo me contar que estava noivo. Eu gargalhei alto quando ele
me disse que era mentira que todo japonês tinha pau pequeno.
Mas o Gael me deixou explicar? NÃO! Beleza que ele é ciumento,
possessivo, controlador, mas ai duvidar de mim, duvidar do que sinto por ele?
A isso não! Isso é o que mais me deixou brava, porque ele duvidou sim. A
partir do momento que ele achou que deixaria alguém me tocar com segundas
intenções.
Agora ele vai ter que aguentar o terror que eu vou botar!
Dou meia volta, e vou para o quarto dele e começo a pegar tudo o que
é meu. Roupas, sapatos, cremes, tudo o que eu vejo coloco dentro de um saco
preto de lixo que peguei na cozinha. É infantil? É, mas foda-se.
Ele não pode sair duvidando de mim, dos meus sentimentos e muito
menos do meu caráter. Eu tenho um passado? Tenho e ele vai ter que
aprender a lidar com isso. Eu era sozinha, solteira e namorei geral da cidade,
mas veja bem, eu era SOLTEIRA! Nunca senti o que eu sinto pelo Gael,
nunca deixei ninguém se aproximar de mim como ele fez. Meu pai sempre
disse que eu saberia quando o homem certo aparecesse, e que ele seria o
único para mim. Que ele causaria um maremoto dentro de mim, e foi o que
aconteceu assim que eu coloquei os olhos no Gael.
Eu sou ciumenta, não vou negar. Fui sim toda territorial para cima
dele, quando a Joyce apareceu. Mas eu deixei que ele explicasse e me
apresentasse, não é porque ela era lésbica que eu deixei passar. Mas sim por
que ele me apresentou como mulher dele, então não tem porque eu me sentir
insegura.
Levo todas as minhas coisas para o carro, agarro as chaves do carro
dele e pego minha bolsa e meu celular. Fico alguns minutos tentando me
calmar, respiro fundo várias vezes e só então vou enfrentar a fera.
Agora ou vai ou racha Brasil!
Ele vai ver que eu não sou um objeto, que ele descarta quando quer.
Ele saberá que toda ação tem uma reação, e quando se trata de mim a reação
vem com força!
Entro na academia e vou direto para o som e desligo, chamando sua
atenção para mim automaticamente.
— Yza eu te pedi... — Ele tenta falar, mas o corto imediatamente.
— Eu sei o que você pediu meritíssimo, e eu não vim aqui me
humilhar para você. Eu entendi, e vim aqui somente para te entregar as suas
chaves. Depois mandarei as suas coisas, e pedirei para alguém pegar as
minhas chaves.
— O que!? — Ele pergunta assustado.
Esse homem é a porra de um monumento ambulante! Ele é todo cheio
de músculos, tatuagens, um sorriso matador. Mas o que mais me chama a
atenção são os seus olhos penetrantes, eles dizem tantas coisas.
— Sobre a Maria, enquanto a guarda dela não sair você poderá vê-la
quando quiser, mas terá que avisar antes e eu pedirei a alguém para levá-la na
casa da sua mãe.
— Que merda você está falando!? Eu não estou bem para aturar as
suas gracinhas Yza.
— E no que depender de mim, você nunca vai precisar aturar mais
nada da minha pessoa. Para um bom entendedor, um pingo é letra. E eu meu
caro, sou muito inteligente. Mas já disse tudo o que eu queria falar, aqui esta
as suas chaves e amanhã pedirei para alguém trazer suas coisas. — Falo
decidida e saio da academia e vou para o meu carro.
Assim que abro a porta do meu carro, Gael aparece na porta
enlouquecido.
— Volta aqui e venha conversar como uma adulta! Não é fugindo que
você vai conseguir resolver as coisas. — Ele diz bravo e vem em minha
direção.
— Essas palavras vindo de você é uma grande hipocrisia, você não
acha caro juiz? Você me julgando por que estou indo embora, só te torna um
hipócrita de merda Gael! Eu só estou te retribuindo a consideração, quando
você me largou no estacionamento do bar como uma qualquer. — Falo
sentindo a raiva se apoderar de mim.
— Você não entende! Eu precisei fazer isso porra. — Ele grita
puxando os cabelos.
— Agora não importa, também não quero saber Gael. Até mais. —
Entro no carro e vou direto para o meu apartamento.
— Seu Fran, não deixe ninguém subir para o meu apartamento ok? O
Gael não está mais autorizado a ir para o meu apartamento, fui clara? —
Aviso ao porteiro.
— Tudo bem menina. — Ele responde todo educado.
Entro em casa e vou direto para o chuveiro. Todo um banho
demorado, me seco e visto o pijama. Apago as luzes e tranco a porta do meu
quarto, sei que o Gael irá dar um jeito de passar pelo porteiro. Mas no meu
quarto ele só entra se arrombar a porta.
Por incrível que pareça eu adormeço rapidamente. Acordo horas
depois, meu quarto parcialmente escuro com alguns raios de sol, que estão
saindo por detrás das cortinas. Levanto e vou para o banheiro, faço minha
higiene, tomo um banho rápido, visto um roupão e vou paro o quarto escolher
uma roupa e depois vou buscar a minha filha. Mas paraliso assim que coloco
meus pés no quarto.
Gael está sentado na poltrona e olhando em minha direção.
Eu olho para a porta e só então vejo que está encostada.
— Como você entrou aqui?
— Eu tenho as chaves Sweet, esqueceu? — Ele diz balançado as
chaves para mim.
— Isso eu sei gênio, eu quero dizer o que você está fazendo no meu
quarto?
— Nosso quarto Sweet. — Ele diz sério e reviro meus olhos.
— O que você quer Gael? Já falei tudo o que eu queria, então por
gentileza vá embora. Eu vou me arrumar e buscar a minha filha na casa da
avó dela.
— Nossa filha Yza, nossa filha! Você falou o que queria, então agora
é a minha vez.
— Minha, sua, que seja! Tenho que buscar ela. E por que eu escutaria
você? Acabou Gael, acabou no momento que você me largou naquele
estacionamento. — Falo séria e vou para o closet pegar uma roupa.
Segundos depois sinto seu corpo colado ao meu, sua respiração em
meu ouvido. Minha pele se arrepia, meus batimentos aceleram, minha
respiração se torna ofegante e ele nem se quer me tocou. É essa a reação que
ele desperta em mim, é isso que me enlouquece, porque ele não precisa me
tocar para me transformar em uma poça de excitação. Basta ele estar no
mesmo ambiente.
Suas mãos entram em ação e eu me torno inútil, deixo ele fazer o que
quiser de mim. Não protesto, não reclamo, só anseio por ele. Eu sabia que ele
viria atrás, o que temos é muito forte para acabar por conta de um ciúmes
louco. Sei que ele deve ter um bom motivo para ter me deixado, e aposto
minhas pregas que foi por causa da raiva. Meu Ursão... Tão previsível!
Ele solta o nó do meu roupão e toca minha barriga, subindo para os
meus seios até meu ombro. Tirando o roupão do meu corpo. Seu punho
agarram o meu cabelo fortemente, inclinando minha cabeça para trás, em
direção a sua boca. Nem preciso falar que já estou encharcada, por que
somente a presença dele já me excita.
— Sabe quando o que nós temos irá acabar? — Ele pergunta beijando
meu pescoço. — Nunca, nem mesmo se eu morrer Sweet. Você é minha e
sempre vai ser! E não será um briga boba que mudará isso.
Eu estou muda, como diz meu irmão contra fatos não há argumentos.
Eu sou dele.
Enquanto ele beija e morde meu pescoço, sua mão desce para a minha
boceta brincando com o meu clitóris. É impossível conter a minha reação,
quando ele belisca meu clitóris me fazendo gritar em êxtase. Ele gira meu
corpo e o levanta, e me pressiona contra a porta do closet e ataca minha boca.
Ele me beija com fome, com raiva, como se quisesse me devorar. Ele me
coloca de volta em meus pés e se agacha na minha frente. Gael levanta minha
perna e a coloca apoiada em seu ombro.
— Eu vou te lembrar o porquê você é minha! Primeiro com a minha
boca, depois com o meu pau. Eu vou te foder com força e depois vou amar
cada pedacinho de você Yza Reed.
Ele passeia sua língua por toda a minha boceta necessitada e suga
meu clitóris
duro, usando seus dentes. A dor é intensa, mas um dor suportável e que
acende algo dentro de mim, algo nunca antes sentido. A dor se transformou
em prazer quando ele alivia o doce desconforto com a sua língua quente.
— Huuumm, porra Gael preciso de você dentro de mim! — Imploro
necessitada.
— Isso é o que pretendo fazer Sweet, mas primeiro quero que você
goze na minha boca. — Ele diz gemendo gostoso na minha intimidade.
Gael encaixa dois dedos dentro de mim, deslizando profundamente
me fazendo ofegar alto, enquanto continua me chupando. Eu estou na borda
do precipício, arrepios passam pela minha espinha, minhas pernas tremem,
minha barriga se contrai tamanha a intensidade que estou sentindo. Eu agarro
seus cabelos e me esfrego descaradamente, em busca do meu orgasmo.
Nenhuma das minhas transas aleatórias se compara a essa, nenhum homem
tem tanto poder sobre mim, como esse homem ajoelhado na minha frente.
Nenhum homem me fez sentir o que só ele é capaz de fazer. Ele me faz
querer mais e mais, me tornou gananciosa pelo seus toques, pelo prazer que
só ele me dá.
— Sua buceta é tão doce, tão gostosa. Goza pra mim Sweet, agora! —
Ele manda e suga seu clitóris ao mesmo tempo que me fode rapidamente com
seus dedos e eu explodo gritando seu nome.
Esse foi um dos orgasmos mais forte que já tive. Meu corpo
convulsiona e Gael me segura em seus braços quando eu desmorono. Ele me
carrega para a cama e me deita delicadamente e se afasta e eu passo a ser
expectadora, assistindo esse monumento tirar a roupa. Cada pedaço desse
homem grita pecado, cada pedacinho me enche de luxúria.
Ele é gostoso e todo meu!
Ele sobe na cama, me olhando seriamente enquanto se encaixa entre
as minhas pernas. Ele segura seu membro duro, acariciando para cima e para
baixo deixando escapar uma gota do seu desejo por mim. Ele aproxima seu
membro, alisando minha boceta de cima a baixo, me deixando cada vez mais
sedenta por ele. Sem que eu possa me preparar, ele entra com tudo dentro de
mim arrancando um grito de dor e desejo.
— Minha! — Ele ruge.
Gael está descontrolado e me fode fortemente, pouco ligando se está
me machucando ou não. Mas isso não importa agora, eu gosto dele assim;
louco, descontrolado, perdido em mim e por mim. Sem se segurar, sem me
tratar como se eu pudesse quebrar a qualquer momento. Nossas transas
sempre foram intensas, mas essa? Essa é crua, cheia de significado. Ele não
se segura, me aperta com força, me morde e chupa deixando minha pele com
a sua marca. Mostrando realmente a quem eu pertenço. A ele! Eu sou dele.
Precisamos conversar, isso eu tenho toda certeza. Mas essa conversa
pode esperar. Ele precisa firmar sua posse por mim, mas não é só ele que tem
algo a reivindicar. Eu também tenho!
E ele logo saberá disso!
Nada no mundo me deu mais medo do que ela dizendo que acabou,
que mandaria as minhas coisas por alguém.
Um frio gelado correu por toda a minha espinha, um medo tão forte
me bateu que eu não sei explicar. Eu só senti isso uma vez na vida e foi
quando eu encontrei minha mãe em uma poça de sangue, praticamente morta.
Essa menina é o meu mundo inteiro, e em tão pouco tempo ela ganhou um
significado imenso na minha vida. Ela mexe com cada nervo em meu corpo,
ela tem o poder em suas mãos de me levar ao chão. Minha vida não fazia
sentido antes dela. Eu tinha a minha mãe, minha carreira e alguns poucos
amigos, mas nada além da minha carreira fazia sentido. Sabe quando você
olha para algo e tem a certeza que foi feito para você?
Foi assim que me senti quando eu a vi ela primeira vez. Ela tem tudo
de mim, tanto sentimentos bons como; amor, carinho, dedicação. As também
desperta o pior em mim como; ciúmes, controle, possessividade. Ela me
enlouquece com o seu jeitinho de menina travessa, e me tem de joelhos
quando ela assume seu lado mulher decidida como agora.
Ei sei que ela está certa de estar com raiva. Eu jamais, em hipótese
alguma, deveria tê-la deixado para trás. Um relacionamento é baseado em
confiança e eu me deixei levar, por um babaca que não conseguiu conquistar
a sua atenção. Eu sei que ela tem um passado, assim como eu também tenho
o meu, mas juntou tudo de uma vez só. Juntei o que o garçom falou e o que
eu vi diante de mim, isso mexeu com um monstro dentro de mim. Monstro
esse que só ela é capaz de acordar. Eu nunca, em toda a minha vida, senti
ciúmes de nada. Tinha meus casos, mas isso se baseava em um quarto de
hotel, aonde eu e a minha parceira no momento ganhávamos o que
queríamos. Prazer. Mas quando saia dali era cada um para o seu canto.
Essa vontade de ter uma família, casa, filhos, casamento, eu só passei
a ter depois que ela entrou na minha vida. É intenso demais o meu sentimento
por ela, mas também causa um medo enorme em mim. É inacreditável o
tamanho do poder que ela tem sobre mim, basta apenas um sorriso e eu iria
até o céu, só para ver um sorriso seu novamente. Não há absolutamente nada
que eu não faça por ela e para ela. Yza é literalmente meu ponto fraco, pois
eu sei que sem ela eu não conseguirei existir.
Entende o medo que eu senti?
Eu me afastei, deixei-a no estacionamento por medo de machucá-la.
Eu nunca senti essa raiva antes, onde eu via tudo vermelho, um ciúmes que e
corroía por dentro me deixando doente. Meu pai era assim, e eu nunca quero
fazer o que ele fazia. Na minha cabeça meu maior medo estava se
concretizando, onde eu fui atingido por uma raiva que estava me cegando. E
se eu a machucasse? E se eu não conseguisse me parar e acabasse atingindo a
ela? Eu iria me tornar o meu pai, onde ele tudo desconfiava da minha mãe e a
agredia constantemente.
Mas ela não me deixou pensar, ela simplesmente explodiu na minha
cara, dizendo que estava indo embora. E foi onde eu realmente enxerguei que
eu jamais a machucaria, que só a simples ideia me deixava doente. Ela foi
feita para ser minha, como eu sou dela.
Eu corri, corri para tentar remediar o que eu mesmo causei, entrei no
meu quarto e vi que ela tinha pegado todas as suas coisas.
Ela realmente estava falando sério, sobre me deixar!
Tomei um banho rápido e fui atrás da minha mulher, mas você achou
que ela iria facilitar a minha vida? Ledo engano minhas caras, fui barrado
assim que entrei na portaria. Foi preciso ligar para o meu cunhado em plena
madrugada e pedir para ele autorizar a minha subida. Entrei no seu
apartamento com a minha chaves, eu achando que estava tudo certo e então a
porta do quarto estava trancada. Minha primeira reação foi arrombar a porta
com um chute, mas depois percebi que tudo estava silencioso demais e ela
estava dormindo. Então minha segunda opção foi tentar abrir a porta de um
jeito mais delicado. Demorou um pouco, mas conseguir arrancar o miolo da
porta, ela vai xingar para caralho, mas no amor e na guerra vale tudo.
Entro no quarto e a vejo adormecida na cama, como se nada estivesse
acontecendo. Tenho duas opções; eu a acordo e encho sua bunda de tapas, só
por ela ter pensado em me deixar ou espero a linda ter seu sono da beleza e
quando ela acordar eu foder pra fora da sua mente a ideia de merda de me
deixar. Escolho a segunda opção e me sento na poltrona no canto do quarto.
Tomei meu tempo olhando ela dormir e pensando em tudo o que
vivemos desde do começo. Nossa química foi instantânea desde a primeira
vez que nos vimos. A paixão à primeira vista se transformou em amor forte,
que veio ser coroado com a chegada da nossa menina. Desde que ficamos
juntos não tive mais nenhum pesadelo, muito menos crises de ansiedade.
Continuo o mesmo homem de sempre, porém um pouco mais humano. Antes
minha vida era voltada somente para o trabalho, agora ela é voltada para as
minhas meninas. Por volta das seis horas da manhã ela despertou, e nem se
deu conta que eu estava no quarto. Ela tomou seu banho e só quando voltou
para o quarto, que ela me viu realmente. Meio que discutimos, e ela mais uma
vez fala sobre o fim. E isso me enlouquece, fui para cima dela feito um trator
e provei por A mais B, que ela era e sempre seria minha.
Não me segurei, não tive cuidado na hora do sexo. Quis e fiz com que
ela visse que nós fomos feitos um para o outro. Marquei cada pedacinho do
seu corpo, descontei todo o meu medo de perdê-la em seu corpo. Foi uma
foda bruta, mas cheia de significado. Teve um momento que eu não sabia
aonde eu começava e ela terminava. Ela também não ficou atrás e provou que
ela também me possuía, cada parte da minha pele tem uma marca dela, eu
ouso até dizer que existe resquício de pele minha embaixo das suas unhas.
Ela me torturou, me negou, me enlouqueceu e mostrou que eu era
inteiramente dela.
Caímos exaustos na cama, mas se eu pensava que ela iria facilitar
alguma coisa, me enganei redondamente. Logo ela levantou e foi para o
banheiro, escuto o barulho do chuveiro e vou atrás dela, mas a porta do
banheiro estava trancada. Eu encosto minha testa na porta e peço para ela
abrir.
— Sweet, abre a porta meu amor.
— Não! Você já teve o que veio buscar, então pode ir embora. — Ela
grita decidida.
Eu não retruco e vou até o banheiro do quarto de hospede e tomo um
banho rápido. Quando eu volto para o quarto a vejo se trocando.
— Podemos conversar agora?
— Conversar o que Gael? Sobre como você desconfiou de mim? Ou
sobre como você me deixou sozinha naquele estacionamento?
— Me perdoa Sweet, eu fiquei cego quando vi aquele cara com as
mãos em você e não ajudou muito o que aquele filho da puta falou. Fui
errado por ter ti deixado para trás, mas você precisa entender que foi para o
seu bem!
— Eu não preciso entender nada Gael. O que eu entendi é que você
não confia em mim, e que ao menor sinal de problema sua reação foi me
deixar. E se meu irmão não estivesse lá? Sim, porque você foi embora sem ao
menos se preocupar se eu tinha a merda da minha bolsa ou como eu entraria
em casa.
— M e desculpa, ok? Eu fui errado, mas estava com medo. Medo de
te machucar na hora da raiva, medo de me tornar igual ao meu pai!
— Igual ao seu pai? Mas ele batia na sua... Ah merda! Me diz que
você não pensou isso Gael D'Ávila! Você nunca me machucaria, nem se
estivesse no auge da sua raiva. Você odeia violência Gael, como pode pensar
isso? Você luta a favor de mulheres abusadas e jamais faria isso comigo.
— Mas na hora da raiva eu não pensei nisso Yza. Eu nunca senti tanta
raiva na minha vida, eu poderia matar aquele homem que estava te tocando.
Eu nunca fui esse homem, nunca fui ciumento com nada, nem ninguém. Mas
eu o mataria sorrindo. E eu tive medo de bater em você, entende? Não de
propósito, mas sei lá, talvez se você se metesse no meio ou tentasse me
segurar. Eu estava cego Yza e quando isso passou na minha cabeça, me bateu
um medo do caralho de ser igual a ele, de fazer o mesmo que ele fazia com a
minha mãe. — Falo me sentando na beirada da cama, e apoio meu cotovelos
nas minhas coxas e tampo o eu rosto.
Ela suspira alto e vem para o meu lado. Ela afasta meus braços e
levanta meu rosto, me fazendo olhar seu rosto. Ela se acomoda no meu colo e
faz um carinho em meus cabelos.
— Fecha os olhos Gael. — Ela pede e eu fecho meus olhos. — Agora
me imagine machucada.
— Não!
— Só imagina Gael. Agora me diz o que você sente ao me ver
machucada.
— Me dói Sweet. Dói tanto, nunca quero ver você machucada. Eu
morreria antes disso acontecer, você é tão perfeitinha, tão linda e não merece
sentir nenhuma dor.
— Ai está a sua resposta meu amor. Você jamais me machucaria,
porque isso doeria mil vezes em você. Você não é igual ao desgraçado do seu
pai, ele sentia prazer em machucar a sua mãe. Você não, você luta com todas
as suas forças para salvar mulheres que passam pelo que sua mãe passou.
Você é um homem bom, dentro de você não existe sentimentos ruins. — Ela
diz baixinho.
Eu a agarro apertado e escondo meu rosto em seu pescoço, sentindo o
seu cheiro que é a única coisa no mundo que tem o poder de me acalmar.
— Me perdoa? Eu amo você demais Sweet, amo como nunca amei
nada na minha vida. Esse sentimento é forte e intenso, é tudo novo para mim
até mesmo o ciúmes.
— Eu te perdoo Gael, mas temos que conversar.
— Eu aceito qualquer exigência desde que você esqueça essa ideia de
me abandonar.
— Gael eu nasci e cresci aqui, eu viajei para muitos lugares, estudei
muito e fiz muitos amigos. Tanto homens quanto mulheres, principalmente
homens. Quando você me conheceu, eu não era virgem, então isso é sinal que
eu tive uma vida sexual antes de você. Você vai topar com vários casos
antigos meus pela cidade, e eu não irei ignorá-los porque você é ciumento.
Lógico que não falo com todos, muitos já são casados e outros nem moram
aqui. Eu nunca disse que fui santa, só pelo meu gênio você já pode ter ideia
de tudo o que eu aprontei. Mas eu nunca me entreguei a ninguém, do jeito
que me entreguei a você. Eu nunca senti por outro, nem ao menos a metade
ou um terço do que sinto por você. Eu nunca amei ninguém além da minha
família, como eu amo você. E é nisso que você tem que confiar, é no que
temos e no que estamos construindo que você tem que acreditar e não em um
homem invejoso como o Galdino. É em mim, sua mulher, que você tem que
confiar. Relacionamento é isso Gael, confiança acima de tudo. Nós somos
intensos, somos possessivos, somos cimentos, por que nos amamos demais.
Mas o amor sem confiança não serve de nada. Eu também sei que você teve
alguns casos no passado, eu surtarei? Com certeza sim! Mas eu confio em
você e o que temos juntos. Vamos brigar? Porra, vamos e muito, mas sempre
vamos conversar e nos entender. Não existe isso de dar um tempo, de você
me deixar sozinha ou visse e versa. Somos adultos e iremos resolver os
problemas como tais.
Porra! Olha o show de maturidade que ela está me dando. Uma
menina muito mais nova que eu, de quase vinte e cinco anos nas costas. Mas
tudo o que ela acaba de dizer é a mais pura verdade, um casamento sem
confiança não vale de nada.
— Eu prometo que jamais te deixarei sozinha novamente. Prometo
controlar o meu ciúmes, mas não prometo nada muito imediato. Desculpa por
dar ouvidos para aquele idiota, sei que você teve uma vida antes de mim, só
não gosto de ver outro homem tocar o que é meu.
— Sobre isso... O homem que você viu me abraçando, era apenas um
amigo. Um amigo muito gay por sinal que tinha acabado de chegar do Japão,
e ele estava me contando que tinha achado um homem e que estava noivo.
Ele até me contou que o que dizem sobre Japonês ter o pinto pequeno era
mito. Mas independente dele ser gay ou não, isso não te dá o direito de bater
nele. Você tem que entender que eu me respeito e respeito o que temos,
jamais faltaria com respeito com você Gael e foi isso que mais e machucou.
Sua falta de confiança e mim e no meu caráter, se eu quisesse ficar com
outros homens eu jamais estaria com você. Posso ser qualquer coisa, mas mal
caráter não é um delas.
Gay! O filho da puta era gay! Eu não sei em quem eu quero bater
mais, se é no tal do Galdino ou e mim mesmo.
— Me desculpa Sweet. Prometo que desconfiar de você nem se quer
passou pela minha cabeça. Eu fiquei com raiva por vê-lo tocando o que era
meu. Me perdoa princesa? —Falo beijando suas mãos e é então que eu vejo
que está vermelha e machucada. — O que aconteceu com a sua mão? Fui eu
quem fez isso?
— Não Gael, não foi você. Isso não é nada demais.
— Me diz! — Peço autoritário e ela rola os olhos.
— Mandão! Eu posso ter acertado o nariz de alguém por querer,
depois que ele me chamou de putinha.
E olha a raiva dando as caras novamente.
— Quem te chamou disso?
— O Gaudino, mas eu já resolvi isso do meu jeito. Eu saia com ele
anos atrás, mas nunca foi sério. Eu era doida, vivia nas baladas e beijava
meio mundo. E ele foi um dos caras que eu ficava na época, mas não deu
certo e ficamos só na amizade. Eu jamais imaginei que ele fosse capaz de
falar as merdas que ele falou. Homem é foda! Quando eles pegam geral, são
considerados os reis. Mas nós mulheres quando agimos iguais, somos
consideradas putas e que gostamos de iludir os coitadinhos. Se você pode
ficar com quem quiser, porque eu não posso? Direitos iguais bebê e eu fiz uso
desses direitos, mas ele levou a recusa de namoro para o coração, fazer o que.
— Eu prometo controlar o meu ciúmes e o meu temperamento, mas se
eu ver esse cara na minha frente vou acabar com ele.
— Ursão nervoso!
— Sou. Estamos bem? — Pergunto beijando seu lábios.
— Bem nós estamos, mas isso não quer dizer que não terá punição.
— Eu aceito, desde que não seja nada sério. Agora podemos dormir
um pouco? Tudo o que eu quero e dormir agarrado em você, depois vamos na
minha mãe buscar a ursinha. O seu irmão vai trazer a fadinha maia tarde?
— Sim, no final da tarde. Katrisca tem uns exames para fazer a
tardezinha, e ele a deixará aqui antes de ir. Deita um pouco, só vou tomar um
copo de suco. — Ela diz e vai para a cozinha.
Eu me acomodo melhor na cama, ligo o ar-condicionado deixando o
quarto bem gelado. Dez minutos depois ela volta e sorri quando sente o ar
frio. Eu amo dormir assim, porque ela se enrosca em mim bem gostoso.
Ela corre direto para a cama e se aconchega em meus braços. Eu puxo
o coberto para cima da gente e respiro aliviado.
— Sweet?
— Hum...
— Você iria realmente deixar?
— Nunca, foi só um terrorismo mesmo. Mas não pense que não serei
capaz Gael, experiente fazer algo parecido com o que você fez e nunca mais
você tocará em mim. Só nos falaremos através de advogados a respeito da
Maria. — Ela diz seria.
Eu olho para ela, certo que iria ver um sorriso brincalhão. Mas me
fodi legal, pois ela estava com os olhos fechados e a testa franzida.
É Gael... Você acabou de receber uma ameaça meu caro. Penso
comigo mesmo.
Eu a beijo na testa e aproximo mais nossos corpos.
— Eu amo você, Sweet.
— Também amo você, Ursão.
E agarrado a minha mulher, caio no sono profundo. Não sem antes
pensar no encontro que terei com o tal Galdino.
Ele que me aguarde.
Acharam mesmo que eu tinha sumido? Ah, eu estou aqui, só na
espreita de uma oportunidade.
Qual foi a minha surpresa, quando eu vi Yza Reed entrando no bar
acompanhada daquele armário tatuado? Eu imaginava que ela estava
brincado de casinha, mas pelo visto a brincadeira cansou e ela resolveu voltar
a sua vidinha de balada.
Fiquei observando todos os seus passos a noite inteira, a espera de um
descuido apenas. A adrenalina corre em minhas veias, meu corpo se arrepia
com a possibilidade de pegá-la embaixo do nariz desse idiota tatuado. Vejo o
exato momento em que ele se afasta dela e caminha em minha direção, ele
para ao meu lado e pede uma bebida para o garçom. Bastou que ele virasse as
costas, para que outro homem se aproximasse dela. Escuto tudo o que o
garçom diz a ele, posso ouvir em sua voz um toque de sarcasmo e amargura.
Na certa ele foi um dos brinquedos nas mãos da Yza Reed. O tatuado, que eu
descobri se chamar Gael D'Ávila, fica enfurecido com as palavras do garçom
e quando ele olha na direção da Yza fica enlouquecido. O homem chegou a
tremer de raiva, e foi para cima feito um boi louco.
Houve um tumulto, socos proferidos, gritos e então levaram o rapaz
agredido embora. Vejo o casal discutindo e ele saindo do bar, sendo seguido
por ela.
Acho que a minha chance realmente chegou!
Vou atrás como quem não quer nada, louco para colher em meus
braços uma Yza destruída. Pagaria de bom moço, daria meus ombros para ela
chorar e só então eu a teria para mim e arrancaria seu último suspiro. Mas as
chance estava contra mim! O irmão dela estava ao seu lado.
Droga!
PORQUE ESSE DONATELLO TINHA QUE TER FICADO!?
Eu achei que ele já tinha ido embora! Desgraçado, tinha que
atrapalhar os meus planos. Essa seria a oportunidade perfeita para atacar. Ela
estaria sozinha e vulnerável, a presa perfeita. Mas, mais uma vez meus planos
foram interrompidos, isso está começando a me irritar porra! Estou ficando
sem paciência.
Volto para o bar cheio de ódio dentro de mim. Peço um uísque puro e
fico remoendo tudo o que aconteceu. Uma garota chama a minha atenção,
cabelos compridos, pele queimada se sol e o sorriso idêntico ao da minha
"Ela". Se passaram anos e mesmo assim não consigo pronunciar seu nome. O
único sorriso que achei idêntico ao dela, foi o da Yza Reed e agora o dessa
garota. Pego o meu copo e me aproximo dela e assim que ela me vê abre um
sorriso lindo. Eu quase esqueço do meu objetivo, tamanha a confusão que se
instalou na minha mente. Mas logo meu foco volta e começo a tecer a minha
teia.
Se "Ela" não pode mais mostrar o seu sorriso, ninguém mais pode!
— Seu sorriso é lindo.
— Obrigado. — Ela responde sorrindo e isso me enfurece ainda mais.
— Qual é o seu nome?
— Lethy. Lethy Oliveira e o seu? — Ela pergunta.
— Lethy do sorriso lindo tem namorado? Será que eu estou sendo
abusado em estar aqui, falando com você? — Pergunto, tirando o foco de
mim.
Ela nega e ri, me faz lembrar ainda mais dela. A alegria, os olhos
brilhando de prazer, as bochechas coradas. Mas isso não durará por muito
tempo, logo seu brilho no olhar será apagado, seu rosto perdera a cor e eu
verei a vida escoando do seu corpo, assim como foi com "ela".
Conversamos uma boa parte da noite, e a minha ansiedade foi
aumentando gradativamente conforme as horas iam passando. Dançamos
juntos algumas músicas, fui um verdadeiro cavalheiro. Quando ela diz que
tem que ir embora, eu me disponho a levá-la para casa. Seus amigos estão
muito bêbados, ela estava em alguma comemoração e eu aposto que ninguém
se lembrará de nada amanhã!
O crime perfeito.
Ela caminha para o meu carro em meio aos tropeços e eu a ajudo a se
firmar em seus pés. Eu a acomodo no banco e coloco o sinto de segurança
nela, depois dou a volta e sento ao volante.
— Uma pena que você queira ir embora, esperava ficar um pouco
sozinho com você. —Falo todo galante.
— Eu ainda não fui embora, então você pode fazer o que quiser
comigo. Tenho certeza que irei adorar cada segundo. — Ela diz contente.
— Eu não tenho tanta certeza. — Falo baixinho.
— Não entendi o que você falou. — Ela diz confusa.
— Eu disse que eu também irei adorar ficar com você. Vamos para a
minha casa?
— Tudo bem, mas tenho que entrar no serviço as onze da manhã.
— Não se preocupe com o horário meu bem, você nunca mais terá
que fazer isso depois de hoje.
— Uau... Quer dizer que você tomará conta de mim?
— Eu tomarei, e cuidarei de cada pedacinho de você.
Depois de quarenta minutos agonizantes, chegamos ao meu
matadouro. Uma casa afastada de qualquer civilização, rodeada por terras.
— Nossa! Você mora em uma fazenda? Eu amei. Você cria o que?
Cavalos?
— É herança de família, vamos entrar?
— Vamos.
Ela quase caí do carro e eu mais uma vez a ajudo. Assim que
entramos a louca me ataca, arrancando a minha camisa e eu a deixo pensar
que vamos transar. Ela tira a saia e abre sua camisa e cai sentada no sofá.
— Estou um pouco bêbada! — Ela sorri.
— Eu cuidarei de você. Mas pode me responder uma coisa? — Eu
falo caminhando até a cozinha.
— Claro. — Ela responde vindo atrás de mim.
Eu vou para a área de serviço e abro uma porta que me leva a um
cômodo escuro, que tem todo um isolamento acústico. Assim que eu abro a
porta, sinto seu corpo colar nas minhas costas, suas mãos vão de encontro ao
zíper da minha calça. Eu me viro bruscamente e a pressiono contra a parede,
segurando seu pescoço.
— Quão alto você é capaz de gritar Lethy? — Falo roucamente em
seu ouvido.
— Muito, posso gritar muito alto.
Então eu seguro pelo cabelo com força e a guio para dentro do quarto.
Assim que eu acendo a luz seu sorriso safado some, dando lugar ao medo.
Isso!
É assim que eu gosto, posso sentir o gosto do seu pavor na ponta da
língua. O gosto mais saboroso que existe no mundo, é doce e ao mesmo
tempo cítrico. Minha boca chega a salivar.
— Que lugar é esse? Olha eu mudei se ideia, quero ir para casa. —
Ela diz amedrontada tentando se soltar do meu aperto.
— Muito tarde para isso Lethy, veja bem... Não posso deixá-la ir. —
Eu a empurro para o meio do quarto e volto para trancar a porta.
Ela vem para cima de mim, tentando impedir que eu a tranque na sala.
Eu gosto das que lutam, das garotas bravas, corajosas. Nada me dá mais
prazer do que quebrá-las.
— Seu louco! Me tira daqui! Seu doente! Socorro! Alguém me ajude,
socorro! — Ela grita me fazendo sorrir.
— Pode gritar a vontade minha querida Lethy, ninguém pode te ouvir.
Agora seja uma boa menina e caminhe na direção daquela mesa.
O quarto é amplo e totalmente isolado, então ela pode gritar o quanto
quiser que ninguém a ouvirá. O piso é todo branco, para realçar o sangue
quando cair no chão. A mesa é toda feita se alumínio, com vários furos em
todo o seu comprimento para poder escoar o sangue. Tipo aquela mesas de
frigorífico, onde colocam o boi para poder cortar. Inclusive eu comprei
diretamente de um, eu só adaptei com os apetrechos que eu precisava. Em
cada ponta da mesa existe uma algema e braçadeiras, para manter a minha
presa no lugar. Também tem correntes vindas do teto, para uma brincadeira
mais diferenciada. E um painel cheio de fotos "dela" e da Yza. Na realidade
as quatro paredes são revestidas com fotos das duas.
— Você é um doente!
— Cala a boca e faz o que eu mandei! — Eu grito fazendo ela pular
se susto.
— Olha cara, me deixa ir embora. Eu prometo não falar nada para
ninguém, eu até vou embora da cidade. Mas por favor não me mata! — Ela
implora chorando.
— Tire a roupa e faça o que eu mandei! Você deveria ter pensado
antes de aceitar carona de um estranho. Você não merece viver, não merece!
"ELA" não pode viver, então você também não pode!
— Quem é ela? Eu... Eu... Por favor, me deixa ir embora!
— Ela era a única coisa na boa no meu mundo, mas ela morreu. Então
se ela morreu, você também vai! Seu sorriso... Seu sorriso é igual ao dela,
mas ela não pode mais sorrir para mim. Então você também não vai!
Eu caminho em sua direção, e a pequena idiota tenta correr. Mas eu a
agarro pelos cabelos e a arrasto até a mesa. Eu rasgo a blusa do seu corpo, a
deixando só de calcinha e sutiã. Ela grita alto, e pede por clemência fazendo
meu sangue correr ainda mais rápido em minhas veias.
O medo que vem dela, só alimenta ainda mais a minha sede por
poder. O medo e o pavor que elas sentem alimentam meu ego. Cada grito,
cada palavra de clamor, cada pedido de socorro, faz com que eu me sinta
poderoso, me sinto o rei. EU ME SINTO UM DEUS!
Por que eu tenho o poder em minhas mãos, sua vida depende de mim.
Lethy tenta me parar, arranha meu rosto me fazendo perder a cabeça.
Eu acerto sua mandíbula com um soco e ela cai desacordada no chão. Droga!
Vai atrasar toda a diversão. Eu a pego nos braços e a deito na mesa,
prendendo as algemas em seus pulsos e tornozelos. Depois é a vez das
braçadeira, uma abaixo do seu peito, outra na altura da sua barriga e a terceira
em suas coxas. Agora ela está aonde eu queria. A minha mercê!
Assoviando o tema de A pantera cor de rosa, vou até o balcão e sirvo
de uma dose de uísque.
A música passa a tocar na minha mente e eu vou dançando e fazendo
passinhos, enquanto preparo meu material de tortura. Tesoura, alicate,
martelo, uma serra, sugadores dentários, afastadores labiais, álcool e o meu
preferido... Bisturi. Com a minha bandeja preparada, caminho para acordar
minha bela adormecida Lethy.
— Acorda! Está na hora da diversão minha querida! —Falo jogando
água na cara dela.
Você deve estar se perguntando se eu sempre agi assim com as
minhas vítimas, não é? E a minha resposta é; nem sempre. Às vezes quero
acabar rápido e outras vezes não. Como agora. Eu quero levar o meu tempo
com ela, gostei que ela tentou me enfrentar, ouso até dizer que isso me
excitou. Eu gosto quando elas lutam, isso me dá prazer, eu fico ainda mais
eufórico.
Ela vai abrindo os olhos, meio desorientada. Tenta se levantar e não
consegue, é então que a realidade bate e Lethy começa a entrar em pânico.
— Ela acordou! Sua mãe nunca te ensinou, que é falta de educação
adormecer em um encontro? Aposto que ela ficaria muito triste!
— Seu louco! Você é um lunático, um psicopata! Me solta agora! —
Ela grita, mas posso ver que está cheia se medo.
Aproximo a bandeja se mim, e escolho a tesoura. Volto minha
atenção para ela, que olha cheia se pavor para a tesoura em minha mãos.
— Sabe Lethy... Eu gosto de mulheres corajosas como você, das que
lutam contra o inevitável. — Falo cortando o seu sutiã.
Seus seios aparecem gloriosos, com uma marca se biquíni, mamilos
rosa escuro.
— Se vai me matar, então me mata logo! — Ela grita cheia de atitude.
— E aonde estaria a graça disso? E o meu prazer? Não, não, não. Não
será assim tão rápido, primeiro você fará o que me prometeu.
Pego o separador labial e em meio a luta eu consigo encaixar em sua
boca. Em seguida pego o alicate e me aproximo de sua boca, mas antes passo
a última braçadeira em sua cabeça. E encaixo o alicate no primeiro dente que
consigo, começo a puxar, puxar e sou brindado com o seu grito agonizante.
Quando arranco seu dente, sua boca se enche de sangue e eu uso o sugador.
Embebedo um algodão com álcool e coloco no buraco onde estava o dente.
Seus gritos ficam ainda mais alto, o que me enche ainda maia de
prazer.
— Bem, bem, bem, você se saiu perfeitamente bem. Agora vamos
fazer sua promessa valer a pena! Quero seus gritos Lethy. — Falo pegando o
bisturi.
E ela cumpriu o que prometeu!
Gritou, gritou, e gritou.
Ela aguentou tudo corajosamente, devo dizer que até me sinto
orgulhoso dela. A muito tempo não me sentia tão bem e não sentia tanto
prazer.
Eu a quebrei e Lethy nunca mais irá sorrir, assim como "Ela".
A próxima será você Yza Reed.
Eu estou adorando ter uma mamãe. Eu ganhei uma família muito
grande, com muitos tios e tias, um vovô e duas vovós, e uma priminha linda
que mais parece um anjinho de tão loirinha que é.
Eu gosto da minha mãe, ela é bem maluquinha mais cuida muito bem
de mim. Faz as melhores comidas do mundo, mas eu gosto mais dos doces
que ela faz. Ela brinca de boneca comigo, dança pela casa, faz bagunça e me
conta histórias na hora de dormir. Agora eu tenho uma cama cheirosa para
dormir, muitas roupas lindas e várias bonecas para brincar. Tenho até uma
cozinha de brinquedos e a minha mãe brinca comigo e faz comidinha. Eu
amo a minha mãe nova, mas o meu amor maior é o meu pai ursão.
Ele é tão lindo!
Meu pai é grandão, tem um monte de tatuagens e uma cara de homem
mau, mas ele é muito bonzinho e tem o sorriso mais lindo do mundo inteiro.
Ele nunca me olha feio, nunca briga comigo ou fala alto. Ele dança comigo
no colo, brinca de boneca assiste filme, faz a melhor pipoca do mundo inteiro
e diz que sou a ursinha dele para sempre e sempre. Mas eu amo ele desde o
primeiro dia que o vi. Ele prometeu sempre cuidar de mim e me proteger de
todos os monstros do mundo, e eu acredito nele. E ele sempre me deixa
dormir no seu colo quando eu tenho pesadelos.
Eu só sinto muito a falta do meu irmão. Queria tanto que ele estivesse
aqui, aposto que ele iria amar a nossa mamãe nova. Ela é maluquinha e gosta
de inventar histórias igual a ele.
— Ursinha, você já arrumou a suas coisas? Daqui apouco seu tio
estará aqui. — Meu papai ursão pergunta.
— Já sim papai. Podemos ir no rio amanhã? E andar de cavalo
também?
Na casa do meu vovô Will tem muitos bichos, e também tem cavalo.
Meu pai adora andar de cavalo e dar comida para as galinhas, a Luna adora
correr atrás delas e o meu tio vidinha fica louco. Minha tia baby está dodói,
um homem muito mal queria roubar ela do meu tio, mas ele não deixou!
Porque tem que existir tantos homens maus? Meu ursão não é ruim,
nem meu tio vidinha e nem meu tio Don. O vovô Will é tão bonzinho, ele vai
me dar um cavalo de presente. Mas eu trocaria todos os presentes que eu
ganhei só para ter meu irmão de volta.
— No rio só se estiver sol, e temos que ver direitinho, mas acho que
podemos sim andar a cavalo. O que você tem ursinha? Porque está triste? —
Ele pergunta sentando ao meu lado.
— Queria meu irmão ursão, ele está demorando a vida toda para
aparecer né?
— Não chora ursinha, acaba comigo todas as vezes que isso acontece.
Nós vamos achar ele, está demorando um pouco mais do que eu imaginava.
Vamos, dá um sorriso para mim, não gosto de ver esses olhinhos tão tristes.
Nem meu pai e nem a minha mãe gostam de me ver chorando. Minha
mãe fica muito triste quando eu choro, ela acaba chorando junto e meu pai
tem que dar colo para nós duas. Mas a saudade do meu irmão é muito grande,
e as vezes dói tanto. Eu pedi para a neném conversar com o amigão dela, e
pedir para ele trazer o meu irmão de volta.
— Papai porque o amigão da neném não pode ser meu amigo
também? Eu fiz alguma coisa feia? Se ele fosse meu amigo, eu poderia pedir
para ele trazer meu irmão de volta né?
— Aaaah meu Amorzinho, você acaba comigo assim! Ele é seu
amigo também, não é porque você não pode conversar com ele igual a Luna
faz, que ele não é seu amigo. Ele cuida de todos nós, até mesmo daqueles que
não merecem. E você minha ursinha é uma menina linda e bondosa, tem um
coração lindo.
— Não fica triste Ursão, não gosto quando você fica assim. Eu já
estou bem, está vendo? —-Mostro um sorriso para ele.
— Ursinha! Seu tio Don e a Hanna estão aqui, você já está pronta? —
Minha mãe grita do corredor.
— Já estou pronta mamãe!
Hoje eu e a neném vamos passear com o tio anjinho e a tia Hanna.
Vamos no cinema e depois no parquinho, meu tio vidinha vai encontrar a
gente lá no shopping. Amanhã eu vou pra fazenda, minha mãe e o meu pai
vão ter que ir trabalhar e eu vou ficar com a vovó Belle.
— Vamos ursinha, aproveita bem o passeio e se divirta. Mais tarde
nos vamos jantar na casa da vovó Marta, ela fez até pudim!
Meu pai adora pudim e eu também, por isso ela vive fazendo doces
toda vez que vamos lá.
Ele me pega no colo e me abraça apertado.
— Eu amo você papai, obrigado por sempre cuidar de mim.
— Você não tem noção do tamanho do meu amor por você menina,
eu posso não ser amigo do amigão da Luna, mas ele deve me conhecer e me
deu o melhor presente do mundo todo. Você minha ursinha. Eu também amo
você pequena, agora pare de me fazer chorar e vai se divertir. — Ele diz e me
coloca no chão.
Eu corro até a porta e depois eu volto a olhar para ele.
— Ursão?
— Oi ursinha.
— A neném me disse que sempre que o tio vidinha namora com a tia
baby, ela fica boazinha e deixa a Luna fazer as coisas.
— Essa menina é uma fofoqueira! O que, que tem isso pequena?
— Você poderia namorar um pipinho a mamãe, assim ela deixaria eu
ter um cachorrinho.
— Vou fazer isso, mas se ela não deixar eu vou te levar para escolher
um assim mesmo. Mas tem que me prometer que não vai mais chorar, OK?
— Muito Ok da vida toda! — Falo rindo.
— Você está ficando muito com aquela menina tagarela. Está falando
igual ela! Aiaiai, não gosto disso não. — Meu pai fala imitando a neném.
Vou pedir para ela conversar com o seu amigo de novo, quem sabe
ele não diz aonde meu mano está.
É muito bom ter um pai e uma mãe. E eu não ganhei só isso, ganhei
avós, tios, tias, e uma priminha que é o meu neném. Tudo está perfeito na
minha vida, mas para ficar completo só falta o meu irmão. Sinto tanta
saudade dele, das suas histórias, dos doces que ele me trazia, dos seus
carinhos. Ele é o melhor irmão do mundo, e sinto muita a falta dele. Mas meu
papai ursão falou que vai encontrar o meu irmão, e eu acredito nele.
Eu tenho um papai bem grandão e uma mamãe Maluquinha. Eles me
amam demais, e fazem tudo para me ver feliz. Não gosto de ver a minha mãe
triste, e ela fica muito triste quando eu acordo chorando, ela até chora junto
comigo e o meu pai pega nós duas no colo até pararmos de chorar.
Eu também gosto do tio vidinha, ele é muito engraçado. Diz que eu e
a neném vamos ser freiras e da igreja. Minha tia baby ri das loucuras dele, e a
vó Belle também. Mas depois do meu pai e da minha mãe, a minha pessoa
preferida nessa família louca é a neném. Ela é tão fofinha, que dá vontade de
ficar abraçando ela o dia todo! Ela é muito sapeca e arteira, corre o dia todo
atrás da Tiana, e eu corro atrás delas para a neném não cair e se machucar. E
ela fala muito, e engraçado por que ela não consegue falar o "R" direito e
acaba trocando o "R" pelo "L". É engraçado, mas eu sempre ensino ela. Eu
não sei ler direito, mas o meu irmão me ensinou a falar tudo direitinho. Júlio
é muito inteligente, e eu queria ser igual ele.
— Malia?
— Oi neném.
— Você já foi na plaia?
— Se fala Praia neném, com "R". — Falo rindo.
— Foi o que eu disse ué, plaia! Eu vou pedi pala o meu papai leva
nós duas na plaia do calibe, que a água é azul igual os olhos do meu vidinha.
Ai nós vamos nadar na água e faze castelo de aleia. Muito legal não é?
— Eu nunca fui na praia, deve ser legal né? Neném você tem que
pentear o cabelo da sua boneca para baixo, assim óh. — Mostro para ela
como ela tem que pentear.
Eu penteio o cabelo da minha boneca que a minha mamãe princesa
me deu. Agora eu tenho um monte de bonecas, brinquedos, roupas novas,
tenho até maquiagem. Mas o papai ursão não gosta, disse que bebês não usam
maquiagem e que a minha mãe é doidinha.
Escuto a risadinha da neném e olho para ela para ver o que ela
aprontou dessa vez. Ela está com a mãozinha na boca e olhando para a fora
da nossa casinha.
E é quando eu o vejo. Eu solto a escova e esfrego os meus olhos, acho
que estou dormindo e sonhando com o meu irmão. Sinto até vontade de
chorar.
Quando abro os olhos novamente ele ainda está no mesmo lugar. E eu
largo tudo e corro para ele, me jogo da casinha e ele me segura apertado.
— Você está aqui! — Falo, abraçando ele bem apertado, querendo
que ele nunca mais me deixe.
Eu estava feliz com a minha nova família, eu os amo muito. Mas
sentia falta do meu irmão, sempre foi ele quem cuidou de mim, quem me
protegeu.
— Xiu... Não chora menininha! Você está tão grande e bonita. — Ele
fala, mas também está chorando.
Sempre foi nós dois contra o mundo. Ele dizia que eu era as mocinhas
valentes das suas histórias, dos seus desenhos.
— Eu senti tanto sua falta! Meu coração tinha um vazio sem você.
Promete que nunca mais vai me deixar?
— Nunca mais menininha, eu também senti tanta a sua falta. Doía
tanto não saber onde você estava.
Ele senta no chão e me coloca sentada em seu colo, sem deixar de me
abraçar.
— Eu procurei você! Eu andei, andei, andei, mas não conseguia te
achar. Aonde você estava Júlio?
Faço carinho no seu rosto e seco as lágrimas que caem do seus olhos.
Mas nós dois não conseguimos parar de chorar, mesmo sorrindo de felicidade
por estarmos juntos, as lágrimas ainda cismam em cair.
— Eu também te procurei Maria, eu fiquei quase louco quando vi que
você não estava no nosso esconderijo. Eu entrei em desespero! Porque você
saiu do nosso esconderijo?
— O homem mau me achou. Ele me bateu Júlio, doeu muito mesmo.
Ele me vendeu para dois homens maus, e quando eles me levaram embora eu
fugi! Eu corri um montão, bem rápido igual a Valente corria no cavalo dela,
eu fui muito corajosa né? Eles iam fazer maldade comigo Júlio, eles eram
muito feios e fedidos!
— Você foi muito corajosa menininha! Mas agora você está segura,
ele não pode mais nos machucar. O homem mau foi preso, e nunca mais vai
machucar você. Agora levante, deixe-me ver como você cresceu!
Nos levantamos do chão e ele me olha e sorri. Ele me gira em seus
braços me fazendo gargalhar de felicidade. Quando paro de girar vejo a
minha neném me olhando.
— Venha conhecer a minha neném Júlio! Olha como ela é linda. —
Falo puxando meu irmão pelo braço. — Essa é a minha neném Luna. Neném
esse é meu maninho Júlio, ele não é lindo?
— Sua neném? — Meu irmão pergunta sorrindo.
— É sim! Sou muitão neném da minha Malia. Você é uma coisinha
não é? Ficou sumido pala sempe, e demolou um montão da vida toda pala
apalece, e a minha Malia ficava tiste. E quiança não pode ficar tiste, o meu
papai quem disse e ele sabe de tudo. Eu não vou biga com você não, poque o
papai do céu falou que não pode. Maisi se você sumi de novo eu vou biga,
aiaiai.
— Sua Maria? Papai do céu?
— É! Ela é muito minha, poque eu que achei ela ué. O papai do céu
que me disse pala eu achar ela. Eu sei que você não quedita no papai do céu,
mas ele existe e eu vou fala pala todo o sempe dele, até você quedita!
— Ela é linda não é? Muito sapeca essa neném, o meu papai ursão
chama ela de faladeira. Por que ela fala muito e não para nunca!
— Pai? Mas você não tem pai menininha.
Eu olho para o meu irmão séria. Eu agora tenho pai sim, e uma
mamãe maluquinha!
— Ela tem um papai sim, e ele é o meu pincipe rabiscado! E a minha
tia pincesa é a mamãe dela. Eu hem, esse maninho não sabe de nada, tudo
fica peguntando né Malia? Vem, eu vou te mosta a mamãe dela!
Eu puxo meu irmão pelo braço e vou atrás da neném. Mas nem
precisamos ir longe, por todos estão na varanda. Minha mamãe ta chorando e
meu papai ursão está abraçando ela. Todo mundo está chorando, mas eu não
sei o que aconteceu.
— Poque tá todo mundo cholando? Aiaiai, é pala fica muito feliz de
excelência! O imão da minha Malia apaleceu, ele é bem bonito, mas ele é
muito sem obséquio viu! Todo sem estutula da vida toda!
— Luna! — A tia baby briga com a neném.
— Não briga não tia baby, ela é neném!
E todos riem, secando as lágrimas.
Eu puxo o meu irmão até aonde meu pai está.
— Júlio, esse é o meu papai ursão e essa é a minha mamãe princesa
maluquinha. Eu que escolhi eles, agora eles são meus pais. Você viu o meu
irmão mamãe? Eu disse que ele era bonito né?
— Sim meu amor, seu irmão é muito bonito. — Minha mãe diz
sorrindo.
— Você não se importa dela chamar você de mãe? — Meu irmão
pergunta.
— Não Júlio, não me importo. Ela é minha filhinha, minha
princesinha. — Minha mãe fala me abraçando.
— Nem olha para mim garoto. Você mesmo disse que iria me ajudar
a cuidar dessas duas maluquinhas! Agora não pode fugir. — Meu pai diz
rindo.
— Papai ursão! Eu não sou maluquinha. — Eu protesto e levanto os
braços para ele me pegar no colo.
— Você não é... Ainda! Mas a sua mãe é muito maluquinha, e vai te
deixar maluquinha também. Mas eu e o seu irmão vamos tomar conta de
vocês duas.
Eu desço do colo do meu pai e apresento o meu irmão para todos. A
família toda fica feliz por ele ter aparecido, minha vovó Belle chama a todos
para almoçar e meu irmão fica com vergonha.
— Júlio?
— Oi menininha.
— Agora nós temos uma família. Eles gostam da gente, e não vão nos
machucar. Não precisa ficar mais com medo ok? O nosso papai ursão não vai
deixar que nada nos machuque. Por que se ele é meu pai e ela é minha mãe,
eles são seus também. Por que nós somos irmãos!
— O que você quiser menininha. Agora vamos, você tem que comer.
Nós nos sentamos a mesa, e Júlio senta ao meu lado e Luna senta ao
lado dele. Minha mãe coloca comida nos nossos pratos, e Júlio corta a minha
carne em pedacinhos, igual ele fazia antes.
— Ei! — Luna cutuca o meu irmão.
— Oi loirinha.
— Eu sou sua pima, então você tem que cuida de mim também. Tem
que cuida de mim e da minha Malia sabia? Poque você é gande, ok? Tem
que ser muito ok da vida toda, né Malia?
— Isso! Muito ok da vida toda. — Eu falo rindo.
— Entendido loirinha. Vou cuidar de vocês duas, e vocês tem que me
obedecer por que eu sou o mais velho!
— Ai não quedito! Ele é muitão poxessivo, maisi um nessa vida
Malia! Não tenho estutula maisi não, meu papai, meu anjinho, meu vovô,
meu pincipe rabiscado, agola o pimo gande! Tá bom Galoto gande, agola
cota a minha carninha igual à da minha Malia.
— Luna! Deixa de ser obtusa, deixa que o seu pai corta a sua carne.
— A tia baby briga com a Luna, mas todos estão rindo.
— NÃO QUELO! O Júlio é meu pimo não é? —Meu pai responde
que sim e sorri para ela. — Então ele é minha família não é? — Novamente
todos dizem que sim. — E família cuida um do outo, então ele vai cota a
minha caninha poque ele é minha família e vai cuida de mim ponto obigado
de nada! Maisi dona mamãe, o que é obtusa?
Todos riem, até mesmo o meu irmão ri. Seu sorriso é tão lindo, acho
que ele deveria sorrir mais.
— Obtuso quer dizer quando uma pessoa é rude, sem tato. Entendeu
loirinha? — Meu irmão responde para Luna.
— Então quando o meu papai biga comigo, ele é um obtuso? — Luna
pergunta.
— Mais ou menos isso!
— Viu papai! Não pode biga não, tem que deixa eu e a minha Malia
namola quando a gente for gande, né Malia? Poque o papai biga e fica
muitão obtuso da vida toda.
— O que!? De onde saiu essa história de namorado? Pode soltando
sua fadinha faladeira. — Meu pai pergunta sério.
— Esse Usão é muito obtuso também viu!
— Pergunta para sua mulher, de onde a minha fadinha tirou essa
história! E aproveita e pergunta também, sobre viajar para a Itália! Essa...
Essa desvirtuada! — Meu tio vidinha fala revoltado.
Todos começam a rir, quando meu pai pergunta as coisas para minha
mãe. Começa uma briga engraçada entre eles, e todos riem.
— É sempre assim? — Júlio pergunta baixinho.
— Sempre! Mas é muito divertido, tem sempre muito amor!
Ele sorri e volta a cortar a carne para Luna.
— Júlio?
— Oi menininha.
— Eu amo você muito. E estou muito feliz por que você voltou.
— Eu também amo você minha Maria. Nunca mais sairei do seu lado.
— Você promete?
— Com a minha vida princesa Valente.
Agora a minha felicidade está completa.
Tenho uma família nova que me ama.
Tenho um pai e uma mãe.
E o meu irmão está aqui comigo!
Não preciso de mais nada nessa vida.
Talvez, só talvez, eu possa pedir para a neném falar com o papai do
céu, para ele me dar um irmãozinho bebê.
Não! Uma irmãzinha é melhor.
Quando eu for dormir, vou pedir para a neném falar com o amigo
fofoqueiro dela.
Não sei expressar o que senti quando vi o Júlio pela primeira vez, e
nem dizer o quão devastada me senti quando vi o imenso vazio em seu olhar.
Como se alguma coisa tivesse sido arrancada dele, como se faltasse algo vital
dentro dele.
Eu não quis saber se minha reação o assustaria, não quis saber da
burocracia que o Otávio e o Roberto tiveram que tratar. Só queria levar o meu
menino de volta para sua irmã, levá-lo para casa onde eu poderia cuidar e dar
o amor que ele precisa e merece. Quando mostrei as fotos da Maria para ele,
pude ver a dimensão do amor que ele sente por ela, seu choro sofrido, sua
dor, poderia ser sentido por todos que estavam na sala. Eu pude ver o
tamanho do carinho e da gratidão que ele sente por Otávio e vi a amizade e a
confiança que o Júlio sente por eles. Serei eternamente grata por eles terem
acudido e cuidado de um menino que sequer conheciam. Hoje em dia isso é
tão difícil, ver uma pessoa se condoendo pelo problema próximo, foi e é uma
atitude linda a que eles tiveram. E me peguei pensando por todo o caminho
até a fazenda, se Otávio que nunca o tinha visto se condoeu pelo Júlio,
porque seus vizinhos e conhecidos não fizeram o mesmo? Porque não
procurar a polícia? Porque não denunciar?
Eu pude assistir o reencontro de duas pessoas que se amavam, e não
poupei uma lágrima e acho que nem conseguiria essa proeza. Foi lindo, foi
emocionante o reencontro dos dois irmãos. Maria parecia que estava no céu,
ela chorava e ria enquanto abraçava e beijava o irmão. Júlio sorria lindamente
para a irmã e a admirava, olhando extasiado para ela. O vazio que existia no
seus olhos, foi um pouco preenchido quando ele a abraçou novamente. Afinal
ela sempre foi dele, ele quem cuidou, quem amou e quem a protegeu a vida
inteira. Mas agora ele poderá ser um adolescente normal, não precisará mais
se preocupar com a segurança dela, pois eu e Gael iremos proteger os dois de
tudo e qualquer coisa.
Almoçamos todos juntos e pude ver mais um pouquinho do Júlio. Ver
como ele era delicado com a irmã e paciente com a Luna, isso são
características de um bom menino. Depois do almoço, Katrisca e minha mãe
levaram as meninas para o quintal e Gael, Don, Dylan, meu pai, eu e o Júlio
fomos para o escritório. Gael e Donatello precisavam saber sobre algumas
coisas, para poderem dar entrada nos papéis o mais rápido possível. Gael
também queria explicar para o Júlio sobre o padrasto que estava preso. Todos
nos acomodamos no escritório, eu me sentei ao lado do Júlio e o Gael sentou
em uma cadeira de frente para nós. Meu pai e os meus irmãos sentaram no
sofá próximo a nós, para ouvir tudo o que seria falado ali.
Mas nada na vida me preparou para o baque que eu tomaria.
— Júlio, eu quero que saiba que aqui você está seguro. Que nunca
iremos te machucar ou machucar a Maria, nós agora somos a sua família e
cuidaremos de você, assim como estamos fazendo com a sua irmã. — Gael
começa a falar.
— Se vocês mantiverem a minha irmã segura, eu aceitarei qualquer
coisa. Me submeterei ao que vocês quiserem, apenas mantenha a minha irmã
segura. — Júlio diz baixinho.
— Aqui você não precisará se submeter a nada, não precisará aceitar
nada de ruim. Porque nós cuidamos e zelamos pelo que é nosso, e vocês dois
são importantes para nós. Não vamos amar e cuidar somente da Maria, Júlio.
Mas de você também. A partir de hoje você tem uma família, não posso pedir
que você confie inteiramente em nós, até porque é difícil confiar logo de
primeira. Mas nós iremos conquistar a sua confiança e mostraremos para
você que somos pessoas boas. — Dylan diz sério.
— Júlio... Precisamos que você nos conte um pouco da sua vida. Que
nos diga o que aconteceu com vocês. A Maria não soube falar direito, nós a
encontramos vagando nas ruas, com fome, com sede e machucada. Ela só nos
disse que estava fugindo dos homens maus e que estava procurando por você.
— Gael diz.
— Tudo bem... Eu morava com a minha mãe, foi somente eu e ela por
um bom tempo. Ela bebia e saia muito, mas sempre me deixava com uma
vizinha. Um dia ela começou a trazer vários homens para dentro de casa, eu
tinha mais ou menos uns sete anos quando isso começou. Eram muitos
homens, todo dia um diferente, eu lembro que tinha muita bebida e drogas,
muitas drogas. Um desses homens começou a ficar mais tempo e todos os
outros sumiram, tinha comida em fartura na mesa, roupas boas e até gibis
para mim. Esse homem... O meu padrasto, ele tinha muita paciência comigo,
me tratava bem até demais. Só quando ele começou a me tocar que eu
comecei a entender e também a vizinha que tomava conta de mim me
explicou. — Ele para de falar e olha para todos na sala, posso vê-lo corando
com vergonha.
— Continue. — Don pede.
— Eu comecei a me afastar sempre que ele me tocava, muitas vezes
eu estava assistindo televisão e ele sentava ao meu lado e colocava a mão
dentro da minha bermuda. Minha mãe muitas vezes presenciou, mas nunca
fez nada. As brigas começaram, ele batia nela e chegou até mesmo ir embora
de casa. Os homens voltaram a frequentar a casa novamente, e ela me
colocava para servir bebidas a eles e alguns me tocavam também. Eu odiava
tudo aquilo! Quando eu completei nove anos, ela disse que estava grávida, o
meu padrasto voltou pra casa e o inferno começou novamente. Eu me
trancava e só saia do quarto quando ele não estava, passei a tomar banho uma
vez por dia e só quando ele saia de casa. Eu o peguei uma vez no banheiro
enquanto eu tomava banho e me assustei. As brigas continuavam, ouvia
gritos de que a Maria não era filha dele e que ele jogaria ela fora assim que
nascesse. — Ele para de falar e vejo suas mãos tremendo e as seguro nas
minhas fortemente.
Eu não sei dizer como me sinto ouvindo ele dizer essas coisas. Mas
uma coisa é certa, a raiva que eu sinto só está aumentando. O rosto do meu
pai está branco, Dylan está olhando para o teto e Donatello está petrificado no
lugar, sem esboçar nenhuma reação. Gael está segurando os braços da cadeira
com tanta força, que os nós dos seus dedos estão brancos.
— A Maria nasceu, e fui eu quem deu esse nome a ela. Ela era a coisa
mais perfeita que eu tinha visto, gordinha e tão Rosinha que dava vontade de
morder. Minha mãe cuidou dela por vários dias, mas depois deixou de mão
por causa das reclamações do meu padrasto. Então eu que cuidei dela, dava
banho, fazia mamadeira, cantava para ela dormir, contava histórias e a levava
para brincar na rua. Acho que a Maria tinha dois anos quando a minha mãe
morreu, não me recordo direito. Eu pensei que a gente iria embora, sei lá, um
orfanato talvez. Mas não, nós ficamos com aquele monstro. Ele não
comprava mais o leite da Maria e nem fralda, a senhora que cuidava de mim
que me ajudou a fazer a Maria usar o banheiro. Eu entregava jornal para o
senhor da banca e ele me dava alguns trocados, eu levava o cachorro da
vizinha para passear e ela também me dava um dinheiro. E com isso eu
comprava algumas coisas pra Maria, frutas, bolachas, Danone. Eu e ela íamos
na igreja e lá nós ganhávamos roupas e sapatos. Um dia ele encurralou a
Maria na sala, eu estava fazendo macarrão para ela jantar... Quando eu fui
buscá-la, ela estava sentada no colo dele com a mão dentro do seus shorts. Eu
enlouqueci! Não podia deixar que ele fizesse mal a ela, eu ameacei ligar para
a polícia e ele correu de casa e ficou fora por três dias. Minha irmã tinha três
anos! Um bebê, como ele pode pensar em uma coisa dessas? Ele nunca
deixou de me molestar, mas eu vivia mais na rua que dentro de casa. Eu ia
para a escola e a vizinha que tomava conta da Maria. Um dia ele chegou
bêbado em casa, a Maria estava doente e eu precisava de dinheiro para
comprar o remédio para febre. Eu não tinha, eu comprei as coisinhas dela,
não tinha para quem pedir, eu já tinha pedido para as vizinhas e ninguém
poderia me emprestar. Então pedi para ele. Ele me deu, mas ele tinha uma
condição. — Ele para de falar.
Meu coração parou de bater por míseros segundos e voltou a bater
como se estivesse uma escola de samba dentro do meu peito. Eu sei que
depois que eu ouvir o que ele tem para falar, jamais serei a mesma. Meus
olhos se enchem de lágrimas, e eu respiro fundo para segurá-las no lugar.
— Ele disse que me daria o dinheiro e que nunca tocaria na minha
irmã, mas que para isso eu precisava fazer alguns favores para ele. Se eu não
aceitasse, ele iria tocar a minha irmã e faria ela sua putinha mirim, foram
essas as palavras que ele usou. Eu não tinha o que fazer! Eu aceitei, eu
precisava do remédio! Não poderia deixar ele tocar a minha irmã! Não podia,
não podia, não podia! — Ele gritava e chorava, Donatello correu para a
lixeira e esvaziou o estomago. Meu pai e Dylan estavam pálidos e Gael
arrancou os braços da cadeira. — Eu comprei os remédios, ele me deu
bastante dinheiro e disse para comprar tudo o que a minha irmã precisava. Ele
fez compras para dentro de casa, até algumas roupas ele comprou para ela.
Depois de dois dias ele veio me cobrar o favor... Ele me fez... Ele me fez
tocar seu pinto, me fez colocar na boca, ele batia na minha cara e quando eu
não deixava ele me dava uma surra. Ele me fez ficar pelado na frente dele, se
eu fechar os olhos eu posso sentir suas mãos e sua boca no meu corpo, eu
sonho todos os dias com o que ele fez comigo. Ele se esfregava em mim,
fazia-me sentar no seu colo, em cima do seu pinto. Eu ainda ouço os seus
gemidos na minha cabeça! EU OUÇO E SINTO TODOS OS DIAS! E EU
AGUENTEI ISSO DURANTE ANOS, EU TIVE QUE CHUPAR O SEU
PINTO TODOS OS DIAS E NÃO SÓ DELE, MAS DE ALGUNS AMIGOS
DELE TAMBÉM!
Ele até tenta correr até a lixeira, mas acaba vomitando tudo no chão.
Ele chora como se alguém o estivesse torturando.
— Vocês tem noção do quanto eu sou sujo? Não existe água no
mundo que limpe a minha sujeira. Eu tentei viu, usei todos os produtos de
limpeza que eu achei na minha frente, mas nada consegue arrancar essa
sujeira de mim. Se eu fosse vocês, nem me deixaria chegar perto, para não se
contaminarem com a minha podridão. Mas eu não me arrependo do que fiz,
sinto vergonha, sinto nojo, mas não me arrependo. Eu fiz isso para cuidar da
minha irmã, eu mal podia olhar para ela sem querer vomitar. Quando ela
vinha me abraçar ou me pedia colo, me matava por dentro por que tinha
medo de contaminar ela. Não existe nada no mundo que eu não faça pela
minha irmã, ela é o único pedaço puro em mim, porque o resto é lixo, é sujo e
podre. Eu vou entender se vocês não quiserem que eu fique, ninguém em sã
consciência iria querer algo tão podre por perto.
Eu não aguento, peço licença e saio correndo do escritório. Não existe
nada inteiro dentro de mim, tudo foi quebrado por cada palavra que ele disse.
Sinto um desespero, uma falta de ar, um ódio enorme. Minhas pernas
tremem, meu corpo inteiro treme. Não consigo respirar, é como se alguém
estivesse impedindo os meus pulmões de trabalharem, como se alguma coisa
estivesse me esmagando.
Eu entro com tudo na cozinha, completamente transtornada, nem me
dou conta de quem está aqui. Eu abro e fecho as gavetas dos armários, sem
saber o que estou procurando. Meu desespero é imenso, ouço as palavras do
Júlio na minha cabeça se repetindo constantemente. EU SOU SUJO, EU SOU
PODRE, EU SOU UM LIXO. Isso está me enlouquecendo! Minhas pernas
falham e eu me sento no chão segurando meus joelhos e deixo o choro sair.
— Yza! O que foi filha? — Ouço a voz da minha mãe perguntando e
sinto seus braços me puxando para o seu colo.
— Dói mãe... Dói demais!
Minha mãe tenta me entregar um copo com água, mas minhas mãos
estão tremendo tanto que acabo derramando mais do que tomando. Eu não
consigo para de chorar, a cada vez que lembro das suas palavras é como se
alguém cravasse uma faca em mim e torcesse. Minha mãe me balança de um
lado para o outro, e pede baixinho em meu ouvido para que eu me acalme.
Diz que tudo vai acabar bem, mas é impossível isso, impossível esquecer
cada palavra.
— Mãe... Mãe ele foi... Óh meu Deus! Ele foi molestado durante anos
mãe! Quem faz isso com um criança? Pelo amor de Deus, dói imaginar por
tudo o que esse menino passou para proteger a irmã. Tem noção do quão
devastado ele é? Do quão sujo ele se sente? Eu quero matar esse homem!
Quero desenterrar aquela desgraçada e matá-la novamente! Não consigo
imaginar isso mãe... Ele carregará essa marca para o resto da vida. Mãe? Se
eu for presa, você cuida deles pra mim? Eu vou matar esse homem, estou
falando sério!
Tudo o que consigo imaginar é matar esse homem, é fazer com que
ele sinta o que o meu menino está sentindo. Eu quero arrancar cada parte do
seu corpo, quero machucá-lo até ouvir seus gritos pedindo por misericórdia e
nem mesmo assim eu iria parar. Ele pagará pelo que fez, de um jeito ou de
outro eu irei fazê-lo pagar ou eu não me chamo Yza Reed!
Ouço o choro das meninas, mas não consigo sair do colo da minha
mãe. Eu preciso dela, preciso do seu colo, preciso da sua força. Ela é meu
maior exemplo, e eu serei uma mãe igual a ela, eu cuidarei dos meus filhos
igual ela cuidou de mim e dos meus irmãos. Eu passarei por cima de tudo e
de todos para manter os meus filhos seguros, se para isso eu preciso matar, é
o que eu farei.
Eu escuto passos, mas não sou capaz de olhar para descobrir quem é.
De repente eu escuto um estrondo e olho assustada só para ver o meu ursão.
Ele acabou de deixar um buraco na parede, o piso cai no chão e ele me olha.
Seus olhos é um mar de devastidão, há tanta dor, tanto sofrimento que sinto o
meu peito se apertar.
— Sweet... — Gael diz com sua voz rouca de emoção.
— Dói Gael... Nunca senti essa dor antes. Eu vou matá-lo, vou
arrancar seu pau e fazê-lo engolir, vou arrancar suas mãos e picotar tudo. Ele
vai pagar por tudo o que ele fez com o meu menino. — Eu falo chorando.
Gael me pega no colo e me abraça apertado, deixando que eu chore
toda a dor que eu estou sentindo.
— Xiu... Acabou meu amor. Acabou! Eu prometo que esse monstro
vai pagar por tudo o que ele fez. — Ele diz baixinho, chorando também.
Ele senta na cadeira comigo em seus braços, e vai falando coisas
baixinho em meus ouvido, dizendo que agora as crianças estão protegidas e
que iremos cuidar e amar o Júlio. Que tudo o que ele precisa é do nosso
amor. Aos poucos eu vou me acalmando. Me sinto esgotada e acabo
adormecendo.
Eu olho para a porta, por onde a Yza passou correndo. Eu sabia que
ela não iria me querer por perto, é muita podridão que eu carrego dentro de
mim. Eu estou feliz que a minha Maria tenha tanta gente que a ame, e eu sei
que ela ficará segura.
— Gael... Você pode ligar para o Tavinho vim me buscar? Obrigado
por ter me deixado ver a minha irmã, obrigado a todos vocês por cuidarem
dela. Sei que é pedir muito, mas eu gostaria de vê-la de vez em quando.
Todos eles e olham sem entender, mas eu sei que por dentro eles estão
aliviados que eu tirei de suas mãos essa decisão. Eu não preciso de mais
nada, desde que a minha irmã esteja segura. Só isso me conforta, o resto... Eu
irei sobreviver. Não preciso de nada mais, só da minha irmã feliz, isso já é o
bastante.
— Te buscar? — Dylan pergunta.
— Sim, eu ficarei com ele e com o seu Roberto.
— Você não está indo a lugar nenhum Júlio. Você está aonde
pertence, aqui é seu lar, nós somos a sua família e cuidaremos de você.
Família é isso, nós cuidamos uns dos outros. — O senhor Willians diz sério.
— Você ouviu tudo o que eu acabei de dizer? Eu não posso ficar aqui,
não posso ficar com vocês. Vocês demonstraram ser pessoas de bem, eu não
posso contaminar vocês com a minha sujeira. Pensando bem, agora que a
minha irmã está sendo bem cuidada, eu nem preciso mais viver.
Quantas vezes eu já não pensei nisso? Foram várias e várias vezes,
mas nunca fiz porque não poderia deixar a minha menina sozinha. Agora ela
está bem amparada, tem um pai e uma mãe, tem tios, tias e até avós. Ela
estará bem cuidada, não precisa mais de mim.
Ouço o barulho da cadeira caindo e olho assustado. Duas mãos me
levantam do chão com tudo, e eu encaro um Gael muito bravo. Mesmo ele
estando com raiva, eu não sinto medo dele. Todos os que estão aqui, eu não
sinto medo deles, não sei dizer o porquê. Só sei que eles não irão me
machucar, nem mesmo o Gael que me olha com raiva.
— Você nunca mais irá repetir isso, está me ouvindo? Você não é
podre, você não é sujo, e você não é um lixo, porra! Você é um sobrevivente,
um guerreiro que fez de tudo para salvar a irmã. Você será um homem
maravilhoso, você será incrível e eu terei a honra de ver tudo isso acontecer.
Você não está indo a lugar nenhum Júlio, você é meu assim como a sua irmã
é minha. Logo você estará carregando o meu sobrenome, e tudo o que te
aconteceu ficara no passado. Eu te ajudarei, a Yza vai te ajudar, todos dessa
família estarão ao seu lado a cada passo que você der, a cada degrau que você
subir. Você me entendeu? — Gael diz sério e me abraça forte.
E eu me deixo ser abraçado pela primeira vez na vida, sem sentir
medo, sem sentir receio, só aceito o abraço. É como se algo dentro de mim
estivesse se colando, tudo o que eu sonhei um dia pode vir a se tornar
realidade. Eu sempre quis uma família que me amasse, que me protegesse,
que cuidasse de mim. Eu sempre cuidei da Maria e não me arrependo, mas
sempre quis que alguém cuidasse de mim também. Cansa ser forte todos os
dias, cansa ser sozinho, cansa não me sentir amado. Eu choro por tudo o que
perdi um dia, e por tudo o que estou ganhando também. São poucas as vezes
que alguém ganha uma segunda chance de viver, e essa chance está sendo
dada a mim por esse homem que mal conheço.
— Aqui é o seu lugar Júlio, nós iremos passar por tudo e todos os
problemas juntos. Você será um grande homem e nos encherá de orgulho,
isso eu tenho certeza. — O senhor Willians diz ao meu lado.
Todos estão sorrindo para mim, vejo determinação em seus olhos e
em suas palavras. Cada um deles me abraça forte e eu aceito todo o carinho
que eles estão demonstrando.
— A Yza...
— Minha filha precisa de um tempo dela, não porque ela acha ou
concorda com o que você pensa de si mesmo. Mas sim por ela ser intensa e
explosiva, aposto que ela está sofrendo por você e bolando um jeito de matar
o seu padrasto. Minha filha parece ser uma menina calma e maluquinha, e ela
até é, desde que ninguém machuque quem ela ama. E ela já amava você sem
ter te conhecido, agora então. Você terá que ter paciência com ela, Yza vai te
deixar maluco, mas vai compensar, por todo amor que ela vai te dar. —
Willians diz rindo.
— Ele é um homem perigoso, eu não quero que ela se machuque.
— Ele pode ser perigoso Júlio, mas eu sou muito mais. Aquela
mulher é o ar que eu respiro, e nada e nem ninguém vai machucar o que é
meu. Ela é minha, assim como você e sua irmã são meus e eu protejo a minha
família. Quando eu acabar com aquele homem, ele vai desejar nunca ter
colocado as mãos em você. — Gael diz sério.
— Gael, acho melhor você ir cuidar da minha irmã, deixa que nós
cuidaremos do Júlio. As meninas estão no quintal brincando, nós iremos fazer
companhia para elas. Minha irmã precisa de você. — Donatello diz sério e
Gael sai apressado.
— Eu vou pegar as coisas para limpar o chão. — Dylan avisa.
— Eu posso fazer isso. — Falo envergonhado.
— Eu sei que você pode, mas não quer dizer que precise. Você vai
aprender que nós cuidamos um dos outros, eu tenho a suas costas e você terá
as minhas. Isso que é uma família, mas você vai aprender. — Dylan diz
sorrindo.
Nós vamos para fora, as meninas estão deitadas na casinha da arvore.
E eu vejo a Lila sentada em uma almofada grande no quintal, me aproximo
dela e vejo seus olhos vermelhos.
— Está tudo bem Lila?
— Ei meu nerd preferido! Estou sim meu bem, só com um pouco
cansada. Tomei um antialérgico e estou morrendo de sono.
— Eu estou quase terminando o seu desenho. Quando eu sai da
construtora, fiquei triste por que não iria mais te ver e não ia conseguir
entregar o seu desenho.
— O destino nos prega cada peça rapazinho. Mas me diz, como você
está se sentindo? — Ela pergunta e bate ao seu lado para eu me sentar.
— Aliviado por ter finalmente encontrado a minha Maria. Mas estou
sobrecarregado sobre o restante. É difícil de acreditar que tudo o que eu mais
quis e desejei um dia, está se tornando realidade. Eu sempre quis uma família
Lila, sempre quis ser amado e que tivesse alguém que cuidasse de mim. E de
uma hora para outra eu caio de paraquedas no meio de uma. É tudo meio que
confuso.
— É normal você se sentir assim meu amor, mas saiba que não existe
família melhor do que essa para você cair de paraquedas. Eles são malucos,
bagunceiros, mas são as pessoas mais incríveis que eu já conheci. Você terá a
mim, o Otavio e o Beto ao seu lado, nós estaremos sempre aqui por você. —
Ela diz sorrindo.
Eu sempre gostei da Lila. Ela é maluca, ri alto e deixa o Tavinho
maluco. A comida dela é super gostosa, e ela sempre me tratou com muito
carinho.
— Você sabe que o Tavinho fica doido quando você chama o pai dele
de Beto, não sabe?
— Otávio é um idiota Júlio, não de atenção para as merdas que ela
fala.
— Ele é um idiota, mas você gosta dele, assim como ele gosta de
você. O Beto não vê a hora de vocês pararem de brigar e dar um netinho para
ele.
— O Beto também é um idiota! Um velho idiota.
Eu me sento ao seu lado e fico olhando as crianças brincarem. Minha
Maria me sorri, um sorriso lindo, o melhor e maior sorriso do mundo. Não
importa o que aconteceu ou o que aconteça daqui para frente, o importante é
que ela sempre tenha esse sorriso no rosto.
Os problemas?
Esses ficam para depois.
A minha Maria sempre virá em primeiro lugar.
Mais de um mês desde que achamos o Júlio, e as coisas estão indo na
medida do possível. Não está sendo fácil a adaptação dele em casa. Quer
dizer, até está, mas como se fosse meio maquiado.
Ele conversa poucas coisas, vai para a construtora trabalhar com o
Otávio e ter as aulas com o professor particular, que o Otávio e o senhor
Roberto insistem em pagar, mesmo eu querendo fazer isso. Por causa do Júlio
a minha amizade com eles está se solidificando a cada dia. Júlio é um menino
incrível, bondoso, generoso, super educado e carinhoso. Ele é um menino
muito inteligente, e em uma conversa com o professor, ele me disse que o
menino é um gênio.
Tanto a Yza quanto eu, estamos tentando deixá-lo a vontade. Mas eu
acho que a ficha dele ainda não caiu, porque ele age como se fosse o único e
responsável pela Maria. Ele acorda cedo, prepara o café dela, coloca ela para
tomar banho. Não falamos nada porque queremos que ele veja que não está
mais sozinho, mas eu não sei até quando consigo segurar a minha Sweet.
Seus pesadelos são constantes e isso me fode todas as vezes, eu o ouço
acordar chorando, ouço ele vomitando e andando pela casa toda madrugada.
Em uma conversa com a minha mulher, concordamos em procurar um
psicólogo para ele urgentemente. As únicas vezes que ele não acorda
chorando é quando a minha menina cisma de dormir com ele.
A união e o amor que eles sentem um pelo outro é de uma magnitude
infinita. Maria sabe quando o irmão não está bem, acho que é por isso que ela
o deixa tratá-la como bebê. Eu tenho certeza que ele não nos contou tudo, ele
sente vergonha de ter feito o que fez. Na realidade o que ele foi obrigado a
fazer para manter a irmã segura. Ele acha isso um ato vergonhoso, já eu acho
isso um ato de grandiosidade. Ele não mediu esforços para manter a irmã
segura, mesmo custando perder toda a sua inocência. Vamos ter muito
trabalho para fazê-lo entender, para fazê-lo esquecer a culpa e o nojo que ele
se alto impôs.
Volto a prestar atenção no processo que estou estudando, para debater
a melhor forma de fechar o cerco dessa quadrilha. Depois do almoço tenho
um encontro com Josafá e Maurício para debater sobre esse caso. Juro que
podem se passar anos e eu nunca deixarei de sentir nojo de pessoas como
essas. O caso é pior do que eu pensava, não são pessoas que lidam apenas
com drogas e sim sequestro e contrabando de mulheres e crianças. Eles as
drogam e as vendem como prostitutas. A humanidade a cada dia está mais
podre, e isso me enoja de tantas maneiras que é impossível manter alguma
coisa no estômago. Eu ainda estou de férias, mas abri a exceção para esse
caso, mesmo não sabendo de tudo até que um nome me chama a atenção.
Rapidamente Interfono para a minha secretária.
— Pois não Gael. — Ela atende.
— Meu bem, você pode me trazer aquele processo que a Zia me
mandou? Preciso conferir uns nomes.
Em segundos ela entra em minha sala, trazendo a pasta, uma xícara de
café e um lanche.
— Aqui menino, trouxe um lanche porque sei que você não comeu
nada desde que chegou horas atrás. — Ela diz carinhosamente.
— Obrigado, o que seria de mim sem a senhora?
— Estaria desnutrido! — Ela diz rindo e vai embora.
Abro o arquivo do caso do Júlio e vou direto para o nome do padrasto
dele e bingo! O infeliz estava metido na sujeira do caso do Josafá. Filho da
puta! Agora eu sei aonde a minha ursinha estaria se não tivesse fugido, esse
filho da puta tinha vendido ela em troca das dívidas de drogas que ele tinha.
Pego meu celular e ligo diretamente para o número do Josafá.
— Gael?
— Josafá, boa tarde. Estava analisando o arquivo que você me trouxe,
e um nome me chamou a atenção. Ramiro Gomes, você conhece?
— Ele era um dos homens de confiança do chefão, mas se envolveu
com coisa pesada e foi afastado. Porque a curiosidade? — Ele diz
rapidamente.
— Ele era o padrasto dos meus filhos, ele vendeu minha menina para
outros homens e a sorte foi que ela fugiu ou só Deus sabe o que aconteceria.
— Filhos? Você conseguiu achar o menino? — Ele pergunta surpreso.
— Sim, acabei esquecendo de falar com você. Estamos nos adaptando
a situação, ele passou por muita merda Josafá. Foi abusado durante anos para
manter a irmã longe desse verme. Você não tem noção do que esse menino
passou! O que o meu pai fez comigo, não é um terço do que ele sofreu.
Não consigo parar de pensar em suas palavras, todas as noites quando
eu fecho os olhos ouço ele se menosprezando. Imagens dançam na minha
mente, e insuportável saber que um menino tão maravilhoso como ele passou
por isso. E eu não sou o único que fiquei assim, minha Sweet também. Quase
todas as noites ela acorda chorando, e agora em vez de uma eu tenho duas
meninas para acalentar. Embora os pesadelos da minha ursinha tenham
diminuído.
— Gael, sei que uma coisa dessas abala todos da família. Eu sei o que
você está passando, é difícil demais, mas você precisa ser forte meu amigo.
Por você e por sua família. Agora que eu sei que encontraram o menino, vou
correr com os papéis da adoção definitiva. Vou precisar mandar uma
assistente social para visitar vocês e conversar com as crianças, isso é só um
procedimento necessário. Vou te enviar o contato da psicóloga que cuidou da
minha Joyce e da minha esposa. Ela é ótima e cuida de casos de crianças que
sofreram abusos.
— Como você conseguiu lidar com isso? A Joyce foi uma menina
maravilhosa, é uma mulher incrível e quem não sabe da história jamais
imaginaria que ela passou por todo aquele pesadelo.
— Para ser sincero meu amigo, eu nunca consegui, na realidade eu
passei a fingir muito bem. Eu precisei ser forte, tanto pela Joyce quanto pela
Glória, não tinha nada no mundo que fizesse minha mulher desistir da minha
menina. Se for para ser verdadeiro, a Glória foi meu alicerce, minha âncora,
não sei se eu teria passado por tudo sem ela ao meu lado. Até hoje quando
vou dormir eu tenho pesadelos, eu vejo minha menina toda machucada,
desnutridas e suja. Ainda posso ver o pavor e o horror e seus olhos, graças a
Deus e a psicóloga, a Joyce seguiu em frente.
— Obrigado meu amigo, me manda o número que marcarei uma
consulta. Minha mulher também está muito mexida, mal consegue dormir.
Acho que todos nós precisaremos de psicólogo. A Yza está por um fio,
acredita que até ir na cadeia, ela quer ir?
Acabamos rindo, mas morro de medo que aquela maluca faça isso.
— Está ai uma mulher de força. Estou curioso para conhecer a sua
mulher. Vamos marcar alguma coisa, um almoço ou jantar. Glória vai ficar
feliz de vê-lo formando sua família.
—- Vou falar com a Yza e te mando uma resposta. Aproveito e levo
dona Marta junto, assim ela e a Glória fofocam.
Nos despedimos e volto a me concentrar no processo. Envio uma
mensagem para o Maurício e aviso o que descobrir. Mas meia hora lendo e eu
resolvo levar as coisas para casa e mais tarde terminar, quero ver como as
minhas meninas estão. Me despeço da minha secretária e quando já estou no
estacionamento, ouço a Zia gritar meu nome.
— Ei estranho! Estava indo falar com você, acredita que o advogado
de defesa daquele caso que estou trabalhando, o dos Valverde. Veio acusar os
meus clientes de mandarem bater no infeliz que foi preso? — Ela solta
revoltada.
— O quê?
E ela me conta que o advogado de defesa do filho da puta, acusou o
Otávio e o Roberto de serem mandantes de quase matarem o infeliz na
cadeia. O cara agora se encontra na UTI, e sendo escoltado por policiais para
que não fuja do lugar. Zia está possessa, mas não mais que eu! Eu não sei
explicar e nem dizer o porquê, eu só sei que tem dedo da minha Sweet nisso.
E eu juro que vou acabar tendo um infarto.
Essa mulher será a causa da minha morte!
— Mas deixa pra lá, queria só desabafar a raiva mesmo. Mas me diz,
vamos jantar juntos hoje? Faz tempo que não passamos um tempo juntos,
nem sei mais o que acontece com você. E o senhor ainda tem que me explicar
sobre o que aconteceu aquele dia. — Ela diz sorrindo.
— Eu até que gostaria de conversar com você Zia, mas minha mulher
está me esperando na casa da minha mãe. Mas que tal um almoço, amanhã
está sossegado só tenho que assinar algumas coisa e revisar um caso. Minha
mulher vai para um chá de lingerie da cunhada, então vou trabalhar um
pouco.
Katrisca e Dylan casam esse final de semana, então as mulheres estão
fazendo um chá, já que uma despedida de solteira está fora de cogitação.
— Mulher!? Não sabia que as coisas estavam nesse ponto, logo você
que é tão na sua. Todo excluso, sem deixar ninguém se aproximar. — Ela diz
séria.
— As coisas mudam minha querida. Mas falaremos mais amanhã,
agora eu realmente tenho que ir. — Me despeço dela e saio do
estacionamento.
Estranhei as palavras da Zia, somos amigos a muito tempo e nunca a
vi falar assim. Eu já tinha comentado com ela que tinha encontrado a mulher
da minha vida, então porque esse espanto?
Yza me manda uma mensagem e pede para que eu busque o Júlio na
construtora, já que ela está enrolada com a Lila na preparação do chá. Mudo
meu destino e vou buscar o meu garoto, assim consigo passar um tempo com
ele. Assim que estaciono, ele e Otávio saem e ficam me olhando curiosos.
— Ei garoto! Yza pediu para que viesse buscá-lo, está atolada nos
preparativos da festa da sua tia Katrisca. — Falo saindo do carro para
cumprimentar Otávio.
— Ei Gael, muito trabalho tentando condenar os malvados? — Otávio
me cumprimentar.
— Estou tentando. Como foi a aula Júlio?
— Foi boa, o professor já quer marcar uma prova. Mas não sei se
estou preparado. — Ele diz em uma mistura de receio e empolgação.
— Tudo no seu tempo garoto. Não precisa correr, você ainda é novo e
tem tempo para se decidir.
— Sério? Você não vai ficar chateado com isso? Eu pensei...
— Eu falei para você pirralho! Mas não acredita em mim. — Otávio
diz rindo.
— Vamos para casa, no caminho você me diz o que pensou. Que tal
se a gente parar naquela doceria, e pegasse um daqueles bolos que gostamos?
Assim nós teremos tempo de comer antes da ursinha chegar e acabar com
tudo.
Nesse tempo que passamos juntos, descobrimos algo em comum. Os
doces. Júlio é uma formiguinha assim como eu quando se trata de doces, mas
sempre perdemos quando a Maria está por perto. Ela nos olha com aqueles
olhinhos de cachorro abandonado, quando estamos comendo o último pedaço
e acabamos cedendo e entregando a ela.
— Acho legal, mas não adianta muito né? Sempre acabamos
pensando nela e não comemos. — Ele diz sorrindo levemente.
— Então acho que podemos comer uma fatia ou duas de bolo,
enquanto esperamos a moça embrulhar o bolo. — Falo e acabo rindo com o
olhar esperançoso que ele me dá. — Vamos lá garoto, vamos matar a nossa
lombriga. Otávio, te vemos no casamento? Vamos amanhã para fazenda, o
Dylan quer uma ajuda com as tendas.
— Eu vou sim, fiquei de ajudar também então nos vemos amanhã.
Vamos para o carro e seguimos a caminho da doceria. O lugar é uma
fábrica dos sonhos, eu viveria lá dentro se pudesse. O cheiro dos bolos, dos
doces incríveis é uma tentação. Tanto que a minha Sweet ficou com ciúmes
da atendente que já me conhece pelo nome, mas em minha defesa eu vou lá
todos os dias a anos.
Assim que chegamos, nos sentamos em uma mesa e fazemos nossos
pedidos. Eu escolho uma fatia generosa de bolo de chocolate com brigadeiro
belga e o Júlio pede uma fatia do bolo com recheio de Rafaello. Eu já peço
para ela separar um bolo inteiro de três amores, que é de chocolate branco,
brigadeiro belga e ninho com morango. O bolo é uma bomba calórica, mas
não ligo porque as minhas meninas adoram e eu sempre posso fazer
exercícios a mais. Assim que a garçonete entrega os nossos pedidos, olho
encantado a apreciação do Júlio quando dá a primeira mordida. Ele chega a
suspirar alto me fazendo rir. Esse é sempre o nosso momento, onde
esquecemos de tudo e dividimos o nosso amor por bolos.
— Agora me diga no que você pensou, Júlio.
— Eu pensei que você e a Yza ficariam chateados por eu não querer
fazer a prova. Não me sinto preparado ainda, não que eu não queira. Não é
isso, é só que eu não estou preparado para ir para a faculdade. — Ele diz sem
me olhar.
— Entendi... Você sabe o que quer fazer? Que faculdade quer cursar?
Eu acho que sei qual é a sua dúvida. Ele é tão fácil de ler, pelo menos
para mim. Júlio é extremamente leal para com as pessoas que o rodeiam, e eu
tenho a absoluta certeza que ele está inseguro com medo de magoar alguém
com a sua escolha.
— Não sei... Direito, é isso que eu quero fazer. — Ele diz sério, mas
não sinto confiança em suas palavras.
— Por que você quer fazer Direito?
— Eu quero me tornar Juiz, assim como você! Quero poder ajudar
crianças como a Maria, a loirinha e eu.
Eu falei!
— Porque será que eu não sinto tanta certeza nisso?
— Não sei do que você está falando. — Ele diz rapidamente e enche a
boca de bolo.
— Escuta Júlio. Você ama desenhar, você adora ajudar o Otávio a
projetar casas e edifícios, você gosta até de ajudar a projetar o paisagismo.
Então por favor, me explica como cursar Direito entrou na sua cabecinha
inteligente. — Falo calmamente.
— Porque você é um juiz! Eu quero ser igual a você, quero poder
ajudar as crianças que sofreram como eu. Quero ser importante, assim como
você. Quero que você não se arrependa de me adotar, se eu for um Juiz você
se sentirá orgulhoso. — Ele diz baixinho que quase não consigo escutar.
Júlio é tão previsível!
— Eu sentirei orgulho de você, independente do que você quiser
estudar Júlio. Eu tenho muito orgulho de ter você como meu filho, e se você
decidir não querer fazer faculdade, ainda sim eu me sentirei orgulhoso de
você. Você não precisa desistir do que gosta para agradar ninguém, nem
mesmo eu ou a Yza. Nós queremos que você seja feliz, que faça o que gosta e
ama. Se você for um desenhista, um pintor, um arquiteto, até mesmo se você
for um faxineiro, eu ainda me orgulharia de você. E quem te disse que se
você não for juiz, não poderá ajudar crianças como você? Lógico que você
pode! Você pode ser voluntário em um abrigo, em um orfanato, em um lar de
idosos. Basta querer e gostar de fazer o bem.
— Você não vai ficar chateado? E a Yza? — Ele pergunta surpreso.
— Nós ficaremos chateados se você não seguir os seus sonhos. Eu sei
que você passou por muita coisa ruim, sei que não confia em muitas pessoas,
mas saiba que eu sempre estarei aqui para o que precisar. Mesmo que seja
para roubar o seu bolo! — Falo pegando uma garfada do seu Rafaello e uma
coisa incrível acontece.
Ele ri! Pela primeira vez Júlio ri de verdade e com vontade. Não um
riso qualquer, mas um riso que alcança os olhos. Rapidamente pego meu
celular e registro esse momento e envio para a minha Sweet.
— Nada mais justo do que eu roubar o seu também! — Ele diz alegre
e rouba o meu bolo.
E isso o que quero pra ele. Essa alegria e felicidade. Quero que ele
seja uma criança e tenha e faça tudo o que ele quiser e o que deixá-lo feliz.
Quando chegamos em casa, ele vai para o seu quarto e eu vou tomar
um banho. Depois vou para a cozinha preparar o jantar para as minhas
meninas. Dez minutos depois Júlio aparece e se senta na bancada.
— O que você quer para o jantar? — Pergunto enquanto olho a
geladeira tentando decidir o que fazer.
— A Maria tinha pedido macarrão com salsicha. — Ele diz sorrindo
já sabendo a minha reação.
— Ela ainda não enjoo disso, não é? Eu não sei você, mas eu não
aguento ver macarrão na minha frente.
— Então somos dois! — Ele ri alto. — Talvez um bife e batata frita?
Posso fazer o macarrão para ela e a Yza, essas duas amam isso.
— Então mãos ao trabalho!
E juntos começamos a fazer o jantar. Yza me manda uma mensagem,
dizendo que chegaria em vinte minutos.
— Júlio, eu falei com o Juiz amigo meu e ele vai adiantar a papelada
da adoção. Ele vai mandar uma assistente social para olhar a casa e conversar
com você e a Maria.
— Ela pode nos tirar de vocês? — Ele pergunta e sinto o medo em
suas palavras.
Eu deixo a faca que estava usando em cima da pia e olho para ele.
— Ninguém, Júlio! E eu quero dizer isso: ninguém vai tirá-los de
mim, eu compro briga com o diabo se for preciso, mas isso não vai acontecer.
Você pode não nos chamar de pai e mãe, mas é isso que somos para você. Eu
sou seu pai e a Yza, mesmo sendo maluca é a sua mãe. Vocês são nossos
filhos e ponto final. Você entendeu?
— Eu entendi.
— Bom. Agora vai lá fora ajudar a sua mãe a trazer aquelas
tranqueiras para dentro. Ela já estacionou e daqui apouco começa a gritar.
— URSÃO! — Yza grita da garagem assim que termino de falar.
Júlio me olha e ri, mas vai ajudar a minha Sweet.
Aos poucos ele começou a entender o que queremos e está aceitando
que somos a sua família.
Deixo minhas duas meninas dormirem e vou para o meu escritório.
Maria pediu para dormir com a gente, estava animada com o casamento e não
vê a hora da tia baby se vestir de noiva e ela poder se vestir como princesa.
São as mínimas coisas que a encantam, ela se contenta com tão pouco
que me deixa sempre emocionado. Ouvi-la me chamar de pai é a melhor
coisa do meu dia todo, ela vem se sentar no meu colo e me contar tudo o que
aconteceu no dia dela. Se eu estou em casa ela vira meu chicletinho, e a
minha Sweet fica doida. Então ela se pendura no Júlio e passa horas e horas
desenhando com ele.
Vou para a sala, pego minha pasta e tiro os arquivos que tenho que
estudar. Hoje estou sem sono e nem toda a conversa das minhas meninas me
fizeram adormecer. Não sei, sinto o meu peito apertado, uma dorzinha
inexplicável, uma inquietação imensa. Sento na mesa de jantar deixo os
arquivos e vou pegar uma cerveja para relaxar.
Esse caso é imenso e se o Maurício conseguir com que os homens que
estão presos falem, vamos fechar o cerco em uma das maiores quadrilhas do
estado de São Paulo. Elas trabalham com tudo, desde drogas, armas, até
tráfico humano. Eles tem prostíbulos por todos os cantos do Brasil,
principalmente no interior da terra da garoa. O que me mata é que eles usam
as crianças, e que tem gente que tem prazer com isso. Tanta mulher que se
prontifica a dar de graça, até mesmo existem aquelas que gostam da profissão
mais antiga do mundo. Então porque eles usam crianças? Porque tirar a
inocência delas? Porque maltratar? O que me fode é que existem mães e pais
que vendem os próprios filhos para esses vermes. No arquivo que o Josafá
me mandou, tem seis nomes de mulheres que venderam as próprias filhas e
será nelas que vou mandar o Maurício apertar.
Estou perdido em meio ao processo, quando escuto um grito
estridente que me arrepia inteiro.
Júlio!
Corro para o quarto dele e quando abro a porta o cheiro do medo e
terror me abate. Júlio está lutando com as cobertas ainda meio adormecido.
Sua pele brilha de suor e sua camisa está completamente molhada. Ele
consegue se soltar antes que eu me aproxime e posso ver a cama molhada de
xixi.
— Júlio. — Chamo seu nome baixinho e ele me olha como um animal
ferido, antes de se abaixar e vomitar tudo em sua volta. — Porra!
Corro para o seu lado e o puxo para os meus braços, tentando ajudá-lo
de alguma forma. Ele tenta lutar contra o meu abraço, mas eu o aperto ainda
mais e é quando ele quebra se entregando a um choro alto e convulsivo.
— Você não pode me querer, vocês não podem. Eu sou sujo, não
existe nada em mim que seja puro ou bom. Me deixe ir por favor. Eu vou...
Eu vou sumir, vou acabar com essa sujeira em mim. Não posso contaminar
vocês. — Ele diz entre soluços.
— Xiu... Nada mais vai machucar você filho. Ninguém mais vai tocar
em você, acabou...
Eu acabo quebrando em meio a tanto desespero. É muita coisa para
um menino tão grande suportar. Ele precisa de ajuda ou eu tenho certeza que
ele fará alguma merda.
Fico sentado no chão com ele em meus braços, deixo que ele bote
para fora tudo o que está fazendo mal a ele. Pela primeira vez ele me deixa
abraçá-lo sem reserva alguma, e eu faço carinho em seus cabelos, assim como
faço com a minha ursinha quando ela tem pesadelos. Os dois são minhas
crianças, meus filhos e o carinho pelos dois são iguais. Assim que ele vai se
acalmando eu levanto com ele em meus braços e o levo para o banheiro.
Tento colocá-lo no chão, mas ele se agarra em mim como se eu fosse seu
bote salvador. Ele nesse momento não tem dezesseis anos e sim seis, eu o
trato como um menininho que precisa ser cuidado. Ligo o chuveiro e entro
com ele embaixo dos jatos de água morna, eu o ajudo a tirar a camiseta suja
de vomito e jogo no canto do boxe. A princípio fico com medo do meu gesto
se tornar um gatilho, mas Deus é minha testemunha que tudo o que quero é
cuidar dele, assim como a vagabunda da mãe dele deveria ter feito. Respiro
aliviado quando ele não reage como eu pensava, e me deixa cuidar dele.
Eu estico meu braço e agarro a esponja e o sabonete para que ele
possa tomar banho. Adiciono o sabonete na esponja e entrego em sua mão,
enquanto eu pego o shampoo e derramo em seus cabelos. Fazemos uma
parceria no banho, enquanto ele esfrega seus braços e peito, eu lavo os seus
cabelos. Mas aonde ele é áspero eu sou delicado, não falo nada sobre a forma
que ele esfrega a esponja em seu corpo, deixando marcas vermelhas em sua
pele muito branca. Sei que isso é o jeito que ele tem para se sentir limpo.
Quando a espuma acaba, ele estende a esponja para que eu coloque mais
sabonete. E em nenhum minuto deixa de chorar.
— Não esfregue com tanta força filho ou vai machucar a sua pele.
Você não precisa se machucar Júlio, não precisa tirar sangue para saber que
está limpo. — Falo baixinho e ele só acena a cabeça e passar a esfregar com
menos ímpeto.
Eu enxaguo o shampoo dos seus cabelos, e depois o coloco sentado
no chão.
— Você termina seu banho que eu vou pegar uma roupa para você,
ok? Não esfregue com força para não machucar, eu já volto com a toalha e
suas roupas. — Ele ainda não diz nada, só balança a cabeça perdido em seu
ritual de limpeza.
Saio do boxe e pego uma toalha para mim. No quarto tiro a minha
bermuda e me enrolo na toalha, arranco os lençóis, capa dos travesseiros e o
edredom e vou em direção a lavanderia. Aproveito e puxo outra bermuda do
varal e visto. Quando volto para o quarto, vejo a minha menina sentada no
chão em frente a porta do quarto do Júlio, assim que me vê chegando levanta
seu rosto minha direção e vejo as lágrimas caindo. Ela pula e corre para os
meus braços e sobe no meu colo, praticamente me escalando.
— Xiu meu amor, agora não é a hora de entrar em desespero. Ele
precisa que eu cuide dele nesse momento, quero que você vá para o quarto e
tente dormir. Sei que é difícil fazer isso, mas agora ele precisa de mim. Você
pode fazer isso meu amor, por mim? —Peço delicadamente, sabendo o
quanto ela também está sofrendo.
Ela me abraça forte e me dá um beijo no rosto e vai para o nosso
quarto. Eu encosto minha testa na parede e respiro fundo, para me manter no
controle. Ele precisa de mim, precisa que eu seja forte para ele e é o que
serei. Entro no quarto no exato momento em que o chuveiro é desligado,
então eu pego uma cueca em sua gaveta, junto com uma calca de pijama e
uma camiseta. Puxo uma toalha limpa do guarda roupa e vou para o banheiro.
Deixo tudo em cima do balcão, dando uma olhada rápida para ele e volto para
o quarto. Abro a janela para deixar entrar um ar, pego o colchão e levo para a
garagem, onde amanhã o jogarei fora. Não quero que ele se sinta
envergonhado, amanhã comprarei um novo. Vou para a área de serviço e
pego um balde com água, pano de chão e o desinfetante e volto para o quarto.
Ele ainda está no banheiro e eu aproveito para limpar tudo, antes que ele
possa sair. Faço duas viagens até a lavanderia quando ele sai do banheiro.
— Não precisava fazer isso, eu iria limpar. — Diz ele envergonhado.
— Então que bom que eu fiz, não é? Assim você não tem trabalho.
Vamos, vamos para sala e assistir um programa daqueles de reforma que
você tanto gosta. — Falo, passando o braço por cima do seu ombro e o
levando para a sala.
Eu ligo a TV e deixo ele sentado no sofá, vou até a cozinha e preparo
um leite quente com mel. Todas as vezes que tinha um pesadelo, minha mãe
fazia esse leite para mim. Até hoje, quando eu não estou bem
psicologicamente ou chateado com algum caso, minha mãe o faz para mim.
Coloco em duas canecas e volto para a sala. Me sento ao seu lado e entrego
uma das canecas para ele.
— Aqui, beba com calma que vai te relaxar. Minha mãe sempre fazia
para mim quando eu tinha pesadelos. — Falo enquanto ele toma o primeiro
gole.
— É gostoso. Tinha muitos? Quero dizer, os pesadelos? — Ele
pergunta baixinho.
O olho seriamente, ponderando se devo ou não contar a minha
história para ele. Até que eu decido me abrir.
— Muito, confesso que até hoje eu os tenho. Não com tanta
frequência desde que a Yza e sua irmã entraram na minha vida. Meu pai era
um homem totalmente abusivo, Júlio. Ele batia diariamente na minha mãe e
em mim. A maioria das tatuagens que eu tenho, foram feitas para esconder as
marcas que ele me deixou. Ele nunca abusou de mim sexualmente, mas sim
abusos físicos e mentais.
Não preciso decorrer cada detalhe do que foi feito a mim e a minha
mãe, basta ele saber que também sofri.
— Era?
— Sim. Graças a Deus ele morreu! Mas eu sofri até quase meus
dezoito anos. Ele morreu no dia em que quase matou a minha mãe. Ele bateu
tanto nela, que quando eu a vi pensei que estava morta. Eu tenho inúmeros
pesadelos daquele dia, e quando minha mãe estava sendo operada eu recebi a
notícia de sua morte. E sabe o que eu senti?
— O que?
— Me senti em paz. Pela primeira vez na vida, me senti tranquilo,
aliviado.
— Você acha que um dia eu poderei me sentir assim? Que sentirei
paz?
— Eu acredito. E estaremos com você lado a lado. Lutaremos com
você em busca dessa paz. Todos nós, Yza, eu, seus tios e tias, suas avós e seu
avô, Otávio e Roberto. Todos nós estaremos juntos nessa empreitada.
— Eu... Eu me sinto vazio, como se faltasse um pedaço de mim. A
cada pesadelo que tenho, é como se a vida fosse se esvaindo de mim aos
poucos. Me sinto em um mar de lixo, sabe aquele documentário que
assistimos um dia desses? Onde aparecia um monte de lixo no mar? Eu me
sinto assim, boiando em meio a tanto lixo, sendo parte daquela sujeira. Não
sei se um dia irei me recuperar ou superar isso, estou tão cansado Gael, tão
sem vida.
Porra se não é uma das piores coisas a se ouvir de um menino tão
novo.
— Eu sei que o que você passou foi ruim e que deixou uma sequela
enorme em você. Um acontecimento desse porte, tem a tendência de nos
marcar para o resto da vida. Eu sei porque me senti assim por muito tempo e
sabe o que me fez mudar isso? Encontrar a minha Sweet. Minha vida só
voltou a fazer sentido, depois que eu a encontrei. Ela é maluca, me deixa
louco todos os dias, é mais carteira que a Maria e a Luna juntas, mas eu não
me importo. Porque ela é a razão de eu ter voltado a viver. E isso vai
acontecer com você, mas enquanto isso não acontece, você vai seguindo sua
vida. Vai estudar, vai trabalhar, e quando você menos esperar a sua vida vai
voltar a fazer sentido.
— Você acredita nisso? — Ele pergunta com os olhos banhados de
esperança.
— Eu tenho fé e você também terá. Nós somos aquilo que queremos e
não o que acham de nós. Posso te pedir um favor?
— Até dez!
— Quero que você faça um acompanhamento psicológico. Tenho o
numero de uma psicóloga, que trabalha com pessoas que sofreram abusos.
Quero que você se dê a oportunidade de seguir em frente, de procurar ajuda.
Eu ainda estarei ao seu lado, não custa nada ter uma ajudinha a mais, não é?
Ele me olha por um bom tempo antes de acenar que sim. Eu até
respiro aliviado depois da sua afirmação. Ficamos assistindo televisão até que
vejo seus olhos ficando pesados de sono. Eu pego a caneca vazia da sua mão,
acomodo seu corpo no sofá e ele adormece de vez. Vou até o quarto de
hospede e pego um travesseiro e um cobertor para ele. Depois que o cubro,
me sento no sofá ao lado e fico vendo seu peito subir e descer em um sono
tranquilo.
Fico pensando em tudo o que ele falou, das coisas que ele me contou
em meio ao seu choro desesperado. Acho que ninguém sairia inteiro depois
de ouvir suas confissões de puro terror, e eu não fui diferente. Acho que uma
parte de mim se quebrou naquele momento, e eu tenho a certeza que jamais
conseguirei colar de volta. A meta da minha vida será fazer esse garoto voltar
a viver, a se sentir digno. Ou não me chamo Gael D’Ávila!