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AVALIAÇÃO FILOSOFIA DA RELIGIÃO – 2010/2

Leia com atenção o texto a seguir e transcreva o solicitado.

“Do ponto de vista político e social, Deus e a religião se fundamentam unicamente na


maldade dos homens ou das situações e condições humanas. Dado que a virtude nem sempre é
recompensada nem é feliz, dado que existe tanta contradição, tanto mal e tanta miséria na vida
humana, por isso deve haver um céu, um Deus. Pois bem, a maior miséria dos homens provém dos
próprios homens. A necessidade e existência de Deus se apóiam, portanto, unicamente na falta de
justiça, amor e sabedoria humanos; Deus é o que os homens não são para si mesmos (pelo menos,
nem todos ou nem sempre), porém devem e podem ser”. (FEUERBACH, VII, p. 410).

Extrair a tese (afirmação central do texto):

Argumentos usados para sustentar tal tese:

Comentário pessoal:
Escolha um texto dentre os seguintes. Leia-o com atenção. Explique-o: indique a afirmação central e os
argumentos do autor. Analise-o a partir de outras leituras suas e manifeste seu posicionamento.

1 “O argumento que sustento, respondeu Demea, é o habitual. Tudo o que existe tem de ter uma causa ou
razão da sua existência, uma vez que é absolutamente impossível que uma coisa se produza a si própria ou
seja a causa da sua própria existência. Portanto, ao remontarmos dos efeitos às causas temos de percorrer
uma sucessão infinita, sem absolutamente nenhuma causa próxima, ou temos de, por fim, recorrer a uma
causa última que exista necessariamente. Ora, pode-se provar como se segue que a primeira suposição é
absurda: na cadeia ou sucessão infinita de causas e efeitos, cada efeito singular é determinado a existir pelo
poder e pela eficácia da causa que imediatamente o precedeu; mas a cadeia ou sucessão eterna completa,
tomada em conjunto, não é determinada ou causada por nada e, no entanto, é evidente que requer tanto uma
causa ou razão quanto qualquer objecto particular que comece a existir no tempo. Continua a ser razoável
perguntar por que existe esta sucessão particular de causas desde a eternidade e não qualquer outra ou
absolutamente nenhuma. Se não há um ser necessariamente existente, qualquer suposição que possa ser
forjada é igualmente possível; e que nada tenha existido desde a eternidade não é um absurdo maior do que a
existência desta sucessão de causas que constitui o universo. O que foi então que determinou que algo
existisse em vez do nada e que conferiu a uma possibilidade particular a existência, excluindo as restantes?
Pressupõe-se que não existem causas externas. O acaso é uma palavra sem significado. Foi o nada? Mas
isso nunca pode produzir coisa alguma. Temos, portanto, de recorrer a um ser necessariamente existente, que
traga em si mesmo a razão da sua existência e que não se pode supor não existir sem uma contradição
explícita. Existe consequentemente um tal Ser, isto é, existe uma Deidade”. (HUME, D. Diálogos sobre a
Religião Natural, Lisboa: Edições 70, 2005, p. 92)

2 “Um dos argumentos a favor da existência de Deus usado com mais frequência é o Argumento do
Desígnio, por vezes também conhecido como Argumento Teleológico (da palavra grega “telos”, que
significa finalidade). Este argumento afirma que, se observarmos a natureza, não podemos deixar de notar
como tudo é apropriado à função que desempenha: tudo mostra sinais de ter sido concebido. Isto
demonstraria a existência de um Criador. Se, por exemplo, examinarmos o olho humano, verificaremos que
toda as suas ínfimas partes se adaptam entre si e que cada parte está judiciosamente adaptada àquilo para que
aparentemente foi feita: ver”. (WARBURTON, Nigel, Philsophy. The basics, 3. ed., London: Rotledge, 1999,
p.12; trad. port. Lisboa: Gradiva, 1998, p. 32).

3 “O que acabamos de dizer é tão verdadeiro que nem é possível sequer pensar que Deus não existe. Com
efeito, pode-se pensar na existência de um ser que não admite ser pensado como não existente. Ora, aquilo
que não pode ser pensado como não existente, sem dúvida, é maior que aquilo que pode ser pensado como
não existente. Por isso, “o ser do qual não é possível pensar nada maior”, se se admitisse ser pensado como
não existente, ele mesmo, que é “o ser do qual não se pode pensar nada maior”, não seria “o ser do qual não
é possível pensar nada maior”, o que é ilógico. Existe, portanto, verdadeiramente “o ser do qual não é
possível pensar nada maior”; e existe de tal forma, que nem sequer é admitido pensá-lo como não existente.
E esse ser, ó Senhor, nosso Deus, és tu. Assim, tu existes, ó Senhor, meu Deus, e de tal forma existes que
nem é possível pensar-te não existente. E com razão. Se a mente humana conseguisse conceber algo maior
que tu, a criatura elevar-se-ia acima do Criador e formularia um juízo acerca do Criador. Coisa extremamente
absurda. E, enquanto tudo, excluindo a ti, pode ser pensado como não existente, tu és o único, ao contrário,
que existes realmente, entre todas as coisas, e em sumo grau. Então, por que o insipiente disse em seu
coração: “Não existe Deus”, quando é tão evidente, à razão humana, que tu existes com maior certeza que
todas as coisas? Justamente porque ele é insensato e carente de raciocínio”. (ANSELMO, Proslógio, cap. III.
In: Os Pensadores. São Paulo: Abril cultural, 1973)

4 “O coração objetiviza e substantiviza em forma de liberdade absoluta e divina, de onipotência, seu desejo e
sua ânsia de libertar-se de todos os limites e fronteiras próprias. Na onipotência divina se desafoga o desejo
oprimido; é aqui onde o coração angustiado exala seus suspiros; é aqui onde se liberta de seus próprios
limites; aqui se separa daquilo de que está privado no mundo; aqui o homem se dá a si mesmo o que quisera
ter, o que lamenta não ter; aqui converte seus desejos nas leis, nos poderes vitoriosos do mundo. Deus é nele
a visão ou o sentimento de libertação dos limites da realidade. Deus tudo pode; nada é impossível para ele,
sua vontade é a única lei” (L. FEUERBACH).

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5 “Meu propósito é demonstrar que é ilusória a contraposição do divino ao humano; isto é, que tal
contraposição não é senão a contraposição entre a essência humana e o indivíduo e que, portanto, o objeto e
o conteúdo da religião cristã é meramente humano. A religião, pelo menos a cristã, é a relação do homem
consigo mesmo ou – mais exatamente – com a sua essência, porém a relação com a sua essência [se realiza]
como se fosse uma essência distinta. A essência divina não é senão a essência humana, ou melhor, não é
senão a essência do homem separada dos limites do homem individual, isto é, real ou corporal, e objetivada,
ou seja, considerada e venerada como outra essência distinta [da humana] e com subsistência própria; todas
as qualidades da essência divina são, portanto, qualidades da essência humana”. (FEUERBACH, Obras
completas, VI, p. 17).

6 “O conceito cristão de Deus – Deus como Deus dos enfermos – é um dos conceitos de Deus mais corruptos
a que se chegou na terra; talvez represente inclusive o nível mais baixo na evolução descendente do tipo dos
deuses. Deus, degenerado a ser a contradição da vida, ao invés de ser sua transfiguração e seu eterno sim!
Em Deus, declarada a hostilidade à vida, à natureza, à vontade de vida! Deus, fórmula de toda calúnia do
«aqui», de toda mentira do «além»! Em Deus, divinizado o nada, canonizada a vontade de nada!…”. (F.
NIETZSCHE, O Anticristo).

7 "Não ouviram falar daquele louco que, à luz clara da manhã, acendeu uma lanterna, correu pela praça do
mercado e se pôs a gritar incessantemente: «Eu procuro Deus! Eu procuro Deus!». Estando reunidos na praça
muitos daqueles que, precisamente, não acreditavam em Deus, o homem provocou grande hilaridade. «Será
que se perdeu?» dizia um. «Será que se enganou no caminho, como se fosse uma criança?» perguntava outro.
«Ou estará escondido?» «Terá medo de nós?» «Terá embarcado?» «Terá partido para sempre?», assim
exclamavam e riam todos ao mesmo tempo. O louco saltou para o meio deles e trespassou-os com o olhar:
“Onde está Deus?”, gritou ele, “digo-vos! Matámo-lo – vós e eu! Somos todos os seus assassinos! Mas como
foi que fizemos isso? Como fomos capazes de esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja com que apagámos o
horizonte inteiro? Que fizemos, ao desamarrarmos esta terra do seu sol? Para onde irá agora a terra? Para
onde nos levará o seu movimento? Para longe de todos os sóis? Não nos teremos precipitado numa queda
sem fim? Uma queda para trás, para o lado, para a frente, para toda a parte? Haverá ainda um em cima e um
em baixo? Ou não erraremos através de um nada infinito? Não sentimos já o sopro do vazio? Não está mais
frio? Não é sempre noite sem descanso e cada vez mais noite? Não teremos que acender as lanternas desta
manhãzinha? Não ouviremos nada além do ruído dos coveiros que enterraram Deus?” (NIETZSCHE, A
Gaia Ciência, § 125)

8 “Ouve minha súplica Tu, Deus que não existes, e em teu nada recolhe minhas queixas. Tu que aos pobres
homens nunca deixas sem consolo aparente. Não resistes à nossa súplica e vistes nosso apelo. Quando Tu de
minha mente mais te distancias, mais recordo os plácidos conselhos com os quais minha ama adoçou-me
noites tristes. Quão grande és, meu Deus! És tão grande que não és senão Idéia; por muito que se expanda, a
realidade é sempre insuficiente para abarcar-te. Eu sofro às tuas custas, Deus não existente, pois se Tu
existisses, também eu existiria realmente.” (M. UNAMUNO, A oração do ateu).

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