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RETROSPECTIVA 2012

10 FATOS MAIS MARCANTES DA


CULTURA INFORMACIONAL

ENTREVISTAS

Lidia Silva de Freitas


Por Chico de Paula

OPINIÃO

Liberte o bibliotecário que habita


em você
Por Agulha3al

A literatura aplicada à vida


Por Cláudio Rodrigues

ARTIGOS

Suicidaram Aaron Swartz


Por Moreno Barros

Tudo velho de novo 1


Por Rodolfo Targino

Foto por Guga Pimentel


A N O 3 – N. 1 - J A N. 2 0 1 3 – I S S N: 2 2 3 8 – 3 3 3 6

S U M Á R I O EXPEDIENTE
ARTIGOS
3 Eventos acadêmicos, por Luciana Rodrigues
Chico de Paula
EDITOR CHEFE

5 Matemática, este ser imortal, por Andreia Moura

7 Emilia Sandrinelli
Tudo velho de novo, por Rodolfo Targino EDITORA EXECUTIVA

10 Suicidaram Aaron Swartz, por Moreno Barros


Hanna Gledyz
EDITORA DE CRIAÇÃO

REPORTAGENS
27 Retrospectiva 2012, por Corpo Editorial Rodolfo Targino
EDITOR ADJUNTO

33 Colecionismo e paixão, por Thiago Cirne


REVISORES:

Isis Brum
36 Quando falar é perigoso, por Chico de Paula
Vanessa Souza

ENTREVISTA COLABORADORES FIXOS:

Thiago Cirne
40 Lidia Silva de Freitas, por Chico de Paula
Adriano da Silva

COLUNISTAS:
OPINIÃO
Anthony Lessa - Agulha
COLUNA DO AGULHA3AL Cássia Furtado
43 Liberte o bibliotecário que habita em você Claudio Rodrigues
COLUNA DO JONATHAS CARVALHO Janda Montenegro
Mediação da informação na Biblioteca Escolar
46 Jonathas Carvalho
Rony Laeber
COLUNA DA SORAIA MAGALHÃES
49 E os novos prefeitos tomam posse Soraia Magalhães
COLUNA DO CLAUDIO RODRIGUES
53 A literatura aplicada à vida
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

COLUNA DA JANDA MONTENGRO Luciana Pereira Rodrigues


55 “As MAIS” de Patrícia Barboza
Andreia Moura
COLUNA DO RONY LAEBER Moreno Barros
56 O mundo não acabou

W WRevista
W . B I Biblioo
B L I O O- .2I N F O
EVENTOS ACADÊMICOS
AS DIFERENÇAS ENTRE OS SEMINÁRIOS E OS ENCONTROS DE BIBLIOTECONOMIA
por Luciana Rodrigues

Ao ingressar na universidade, somos incentivados a Encontros de Estudantes de Biblioteconomia


participar de eventos acadêmicos com o intuito de Documentação, Ciência da Informação e Gestão da
estimular o aprendizado e o crescimento profissional. Informação (XXXV ENEBD/UFMG - 15 a 21 junho de
Tamanha é a importância da participação nestes eventos 2012 e XIII EREBD SeCo / UFF - 15 a 18 de novembro
que foi recentemente determinado que os alunos do de 2012) e um Seminário Nacional de Bibliotecas
curso de graduação em Biblioteconomia e Universitárias (XVII SNBU Gramado – 16 a 21 de
Documentação da Universidade Federal Fluminense setembro de 2012). Nos encontros de estudantes, fui
(UFF) tenham que comprovar, em horas, as suas avaliadora de trabalhos acadêmicos e, no SNBU, fui
participações, ao final do curso, nos respectivos eventos. autora de um trabalho.

Desde que me formei venho tentando participar de As características de cada evento


alguns eventos. Confesso que nem sempre a vontade de
ir é realizada. Conciliar disponibilidade de tempo É engraçado perceber como eventos da mesma área
(institucional e pessoal) e recursos financeiros com acabam atraindo um público diferente. Nos encontros de
eventos interessantes, que ora acontecem em lugares estudantes, como o próprio nome sugere, praticamente
distantes no Brasil e que ora coincidem nas datas, é uma apenas estudantes frequentam. Quanto aos acadêmicos,
tarefa que deve ser bem programada. propriamente ditos, professores, pesquisadores, entre
outros, só participam na hora de proferirem uma
Este ano tive a oportunidade de participar de três palestra e, muito raramente, vão prestigiar a
grandes eventos da área de Biblioteconomia: dois de apresentação de outros trabalhos. Quanto aos
nível nacional e um de nível regional, sendo dois profissionais, a baixa procura desta categoria é grande.

Revista Biblioo - 3
Com essas minhas participações pude notar que poucos
participaram. Inclusive muitos alunos se surpreendiam Outra diferença é com relação ao apoio e aos
quando sabiam que eu era bibliotecária formada, patrocinadores. Nota-se que eventos como o SNBU
especialista e que estava ali como profissional. Alguns (não apenas este último) são caracterizados por uma
alunos não compreendiam muito bem a minha grande infraestrutura, com recursos técnicos e
participação num evento como aquele. Outros, tecnológicos e patrocinadores. Diferente dos Encontros
inclusive, relataram que sentiam falta da presença de de Estudantes que encontram pouco apoio, o que os
acadêmicos e de profissionais nos eventos de estudantes tornam bem mais simples e com problemas até mesmo
de Biblioteconomia. de infraestrutura.

No SNBU, um evento voltado para profissionais, a Realmente eu não entendo o porquê das diferenças
presença de estudantes também é rara. Aumenta a expostas entre os universos dos eventos de profissionais
presença de estudantes quando o bibliotecário está e de estudantes. Em breve, estes estudantes serão
fazendo mestrado ou outra pós-graduação, pois assim profissionais e talvez, alguns deles possam ter a
ele é profissional e também estudante ao mesmo tempo. possibilidade que eu tive de ir a um SNBU e nunca mais
voltarão a um Encontro de Estudantes. Mas por que
Diferenças e semelhanças tanta separação entre estes dois universos? A troca de
informação só acontece (e quando acontece) na
O que há de comum entre os eventos de estudantes e os universidade e nos estágios? Eu só sei que como
de profissionais é a variedade na pesquisa acadêmica na profissional aprendi e passei informação. Foi uma
área da Biblioteconomia que é inter-trans- experiência gratificante a participação no XXXV
multidisciplinar com outras áreas, como: ENEBD/UFMG, XIII EREBD SeCo / UFF e XVII
Administração, Arquivologia, Ciência da Informação, SNBU Gramado.
Ciência da Comunicação e Ciência da Computação. Há
muita pesquisa de relevância e com projetos bem Penso que a troca de informação entre pares independe
interessantes. Mas até mesmo o foco de algumas de ser estudante ou profissional. Finalizo a minha
pesquisas difere também. Enquanto no SNBU os reflexão com uma citação da poetisa brasileira, Cora
trabalhos estão voltados para projetos que deram certo Coralina (1889-1995): “Feliz aquele que transfere o que
nas instituições, nos encontros de estudantes tomamos sabe e aprende o que ensina”
ciência da realidade das bibliotecas públicas e também
das universitárias, e de como em algumas regiões estão
bem mais servidas de recursos humanos, financeiros e
tecnológicos do que outras. É triste notar como as LUCIANA PEREIRA
desigualdades sociais são grandes, sendo um grande RODRIGUES é
desafio para os bibliotecários atuarem em certas regiões bibliotecária.
e em alguns tipos de bibliotecas.

Revista Biblioo - 4
A MATEMÁTICA,
ESTE SER IMORTAL
DOS PRIMÓRDIOS À ATUALIDADE, UM CAMINHO DE CONTRIBUIÇÕES
por Andreia da Silva Moura

A mais odiada das matérias é sem dúvida a maior


injustiçada no mundo em que vivemos, pois sem ela Os Sumérios (antigos habitantes da Suméria,
nada existiria, não conseguiríamos nem mesmo nos considerada a civilização mais antiga da
comunicar. Durante a sua longa história, que vai do humanidade) deram sua contribuição através das
tempo das cavernas até os dias atuais, muito das suas tábuas de multiplicação para o começo das
invenções e melhorias do mundo devem-se a ela, construções. Os Mesopotâmicos (habitantes da
que sem reclamar, continua fazendo do mundo um antiga Mesopotâmia, berço da civilização) criaram
lugar mais cômodo para se viver. um meio de transmitir as informações matemáticas
para gerações futuras através da escrita em materiais
Quando o homem da caverna queria saber o quanto resistentes. Com isto, a Matemática ganhou força e
tinha caçado usava uma pedra para cada caça começou a se espalhar pelo mundo através de
armazenando-as em uma bolsa feita de pele de diversas culturas unindo povos com sua
couro. Estava aí nascendo o raciocínio matemático universalidade. Afinal, em qualquer cultura, dois
do homem. A Matemática nascia sem que a mais dois tem o mesmo resultado.
nomeassem. Com o aparecimento da agricultura, o
homem deixou de ser nômade e surgiu a necessidade A Matemática alcança a maturidade
da divisão de terras e comércio e da linguagem
universal que os fariam se comunicar. Era a A lógica matemática foi acalentada pelos filósofos
Matemática ganhando identidade. gregos que a desvincularam do divino e do

Revista Biblioo - 5
sobrenatural. Enfim, a natureza foi interpretada e imortal, pois tempo e espaço nunca mais seriam os
observada com os olhos da razão. Iniciava-se o mesmos.
Método. A Matemática saía da infância pelas mãos
de Aristóteles e da Escolástica. O método da Quando ela teve este entendimento de si própria, a
observação propagou-se por longo tempo, mas a vida passou a evoluir a passos largos através dos
Matemática continuava a crescer e na sua transportes por terra e por ar e até por outros
adolescência o homem passou a querer saber o satélites e planetas, através da comunicação que
"como?", ao invés do "por quê?". Saindo de cena a estreitou o mundo e outras contribuições
especulação e entrando a experimentação, era a vez tecnológicas que a fez ser hoje a maior entre todas as
Dela ser conduzida por Leonardo Da Vinci e seu grandezas deste nosso pequeno mundo chamado
homem Vitruviano, entre outras contribuições para Terra.
Anatomia, Engenharia e a Arte. O homem descobria
através da Matemática como a natureza agia por
suas regras, nascendo sua primeira filha: a Física. Para uma maior compreensão do tema,
leia:
A Matemática ganhou tal força e importância que
não cabia mais neste mundo: Nicolau Copérnico e o DANTAS, Regina.Continuação método científico. 26

Heliocentrismo introduziram a ideia de que a Terra nov. 2012.29 slides color.

fazia parte de algo maior. Era a Matemática DANTAS, Regina. Continuação método científico.

chegando a idade adulta conduzida por Keppler e as 03 dez.2012.42 slides color.

órbitas elípticas; Galileu Galilei e a Revolução


Científica e Descartes que fez o parto de mais uma
filha: a Geometria Analítica, que se juntara a outras ANDREIA DA SILVA MOURA

irmãs como a Álgebra e a Geometria sendo a maior tem 42 anos e é aluna do

representante do Racionalismo que usava a 8º período do curso de


Biblioteconomia e Gestão em Unidade
Matemática como instrumento, criando o método da
de Informação da Universidade
dúvida chamado Método Científico, onde a
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
observação e interpretação são legitimadas pela
Publicou trabalhos nos 6º, 7º e 8º
demonstração. A Matemática continuou a crescer e a
Congresso de Extensão UFRJ nos
amadurecer no seu processo evolutivo em
respectivos anos, 2009, 2010 e 2011
companhia de Newton e sua lei da gravidade;
e Jornada de Iniciação Científica
Darwin e a evolução das espécies e com Einstein e a
UFRJ 2012.
Teoria da Relatividade Ela descobriu que seria

Revista Biblioo - 6
TUDO VELHO DE NOVO
AUMENTO DE PASSAGENS, ENCHENTES E PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
por Rodolfo Targino

Com a chegada de mais um ano novo é comum


surgirem novos sonhos e promessas para serem A maneira mais fácil de esconder os grandes
realizados em 2013. Em busca de cumprir o que foi culpados em momentos como esses é ocultar os
prometido, vale apelar para a roupa branca, amarela, crimes cometidos ou então desviar a atenção dos
vermelha, rosa, para o pé direito ou então se espelhar fatos. No caso das enchentes que atingiram o Rio de
em uma celebridade ou algum herói para satisfazer o Janeiro, mais especificamente a baixada fluminense,
ego. Talvez toda essa superstição não seja suficiente a culpa está sendo colocada na quantidade de chuva
para afastar as continuidades que insistem em nos que caiu sobre a região e nos moradores de encostas
assolar na alvorada dos últimos anos. e de beira de rios que são rotulados como
“irresponsáveis” por residir em áreas de risco. Na
Mais um ano se inicia e parece que é tudo velho de verdade é o que sobra para eles, e nesse caso são
novo. Assim como em anos anteriores, mais uma vitimas que sofrem com a carência de políticas
enchente causa transtornos, mortes e deixa vários públicas consistentes de moradia e de prevenção
desabrigados. O Big Brother Brasil chega a sua contra chuvas.
décima terceira edição, a passagem do transporte
público ficou mais cara, mais uma vez, o José
Genoíno, condenado no caso do mensalão, volta a As contradições
ter cargo político e uma vereadora desaparece depois
da posse. Parece roteiro de filme de terror, mas nesse O município de Duque de Caxias está entre os
caso é a realidade nua e crua. quinze municípios mais ricos do país, com um

Revista Biblioo - 7
Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 25,7 bilhões, Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) afirmou que
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e “as prefeituras se equiparam melhor com as Defesas
Estatística (IBGE), mas parece que toda essa Civis e com os sistemas de alertas e sirenes, mas
economia não trás benefícios e avanços para a nosso atraso é anterior, no que diz respeito ao
região. Basta consultar os indicadores sociais ou o planejamento das cidades, ao planejamento urbano”.
índice de desenvolvimento humano (IDH) para
comprovar que essa riqueza não está sendo Para Elson Antonio do Nascimento, professor do
socializada. Um dos municípios mais ricos do Departamento de Engenharia Civil da Universidade
estado, figura como uma das maiores mazelas Federal Fluminense (UFF), remover as pessoas que
sociais. Uma verdadeira contradição. moram em áreas consideradas de risco pode ser
Vitor Abdala, repórter da Agência Brasil, aponta inviável devido aos altos custos. Elson defende que
estudo realizado pela Organização não as áreas ocupadas devem receber obras de
governamental Trata Brasil que “coloca Duque de infraestrutura como escoamento das águas e
Caxias entre os dez municípios do país com mais de contenção de encostas.
300 mil habitantes com os piores índices de coleta e
tratamento de esgoto – assim como outros três
vizinhos da Baixada: Nova Iguaçu, São João de As trocas de favores e o
Meriti e Belford Roxo”. esquecimento

A gestão do ex-prefeito Zito reflete a forma como as No primeiro dia do ano os prefeitos e vereadores
autoridades lidam com essa riqueza: fraudes na área eleitos são empossados. Uma data bem sugestiva
da saúde, descaso com a educação etc. De fato não para cerimônia de posse, já que grande parte da
tem como levar a sério um prefeito que não população está curando a ressaca e nem lembra mais
consegue nem realizar a limpeza pública, já que o em quem votou nas últimas eleições. Essa
município ficou sem coleta de lixo durante três sonolência de início de ano é o ambiente ideal para
meses devido à falta de pagamento da empresa os pseudopolíticos pagarem os investidores e
responsável pela coleta. Montanhas de lixo se empresários que financiaram as campanhas. Não é à
acumularam pelas ruas. Cinquenta mil toneladas de toa que logo nos primeiros dias de janeiro os
detritos abandonados nas ruas, entupindo saídas de reajustes nas passagens dos coletivos são anunciados
esgotos e deixando um ambiente favorável às na sutileza e sem questionamentos acatamos as
enchentes. tarifas mais caras aliadas a uma rede de transportes
de péssima qualidade.
Em entrevista a BBC Brasil, Marcelo Motta, O povo brasileiro antes de tudo é um forte.
geógrafo e professor da Pontifícia Universidade Recupera-se de suas tragédias com garra e com um

Revista Biblioo - 8
sorriso estampado no rosto. Daqui a pouco tudo cai roupas e nas promessas juradas na queima de fogos
no esquecimento e a vida volta ao normal, ninguém do réveillon de Copacabana.
mais se lembra dos mortos no deslizamento de
Angra dos Reis, das vítimas do morro do Bumba em
Niterói, dos desaparecidos da região Serrana e da Cortar o tempo
incapacidade do poder público em adotar políticas
de prevenção contra essas catástrofes. Como de Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
costume, depois da tragédia anunciada, os governos a que se deu o nome de ano,
estadual e federal anunciam um pacote de foi um indivíduo genial.
investimentos na recuperação das áreas atingidas;
milhões são destinados, mas são poucas as ações Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
concretas. limite da exaustão.

Desde 2010 as obras de recuperação da região Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
Serrana ainda não foram concluídas; as moradias e entregar os pontos.
para os que ficaram desabrigados com o Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
desmoronamento do morro do Bumba ainda não vez, com outro número e outra vontade de acreditar
estão terminadas, e parte das verbas e mantimentos que daqui pra diante vai ser diferente.
destinados aos desabrigados de Petrópolis foram
desviados e nem chegaram a quem de fato (Carlos Drummond de Andrade)
necessitava. Pelo andar da carruagem, a tragédia da
baixada fluminense também será esquecida. Em
breve os heróis do Pedro Bial vão ocupar lugar de
destaque na programação da tevê, o próximo
paredão será a principal capa dos jornais e vamos
afogar as mágoas no clima de carnaval e nas bundas
das rainhas de bateria.

Mas depois que a banda passar cantando coisas de


amor, tudo vai voltar ao seu lugar e o povo vai se
RODOLFO TARGINO (CHE) é
despedir da folia e voltar a sua dor. O ano finalmente
Editor Adjunto da biblioo.
será iniciado e a esperança que 2013 venha com
novos rumos talvez fique somente nas cores das

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SUICIDARAM
AARON SWARTZ
AARON SWARTZ, LIBERDADE DE INFORMAÇÃO, MANIFESTO GUERRILHA ACESSO LIVRE E
A RESPONSABILIDADE DOS BIBLIOTECÁRIOS
por Moreno Barros

Fiquei sabendo do suicídio de Aaron Swartz na ser incrementado por qualquer pessoa que se
manhã de domingo. considerasse um especialista em qualquer assunto,
em qualquer campo. Isso aconteceu alguns meses
Aaron era um prodígio da programação e célebre antes da Wikipedia ser formalmente lançada.
ativista de tudo relacionado ao conhecimento livre.
Eu vinha acompanhando as suas façanhas mais de Em 2006, aos 19 anos, Aaron arquitetou e codificou
perto desde que foi acusado de roubar 4 milhões de o OpenLibrary.org, projeto que prevê uma página
artigos cientícos da JSTOR, empresa que em web para todos os livros do mundo. Todos. Em todas
determinado momento, esbarrava em meus estudos as línguas. Como usuário do sistema, ele ajudou a
sobre os quatro cavaleiros do apocalipse da colocar centenas de livros sob domínio público no
publicação acadêmica com fins lucrativos. site, que estavam de alguma forma inacessíveis ao
grande público.
Os bibliotecários brasileiros podem não saber, mas
Aaron tomou partido de algumas coisas que fariam Em 2008, ele começou a bater de frente com a
Ranganathan ter orgulho. OCLC e denunciar a maneira como a entidade
gerenciava os dados das bibliotecas nos Estados
Em 2000, quando ele tinha 13 anos, foi finalista de Unidos. A OCLC que inicialmente operava como
um prêmio para inovação. Seu projeto era criar um um serviço catalográfico cooperativo sem fins
site que serviria como uma compilação do lucrativos, continuou a cobrar das bibliotecas
conhecimento humano, dividido em categorias como membros valores galopantes, mesmo depois que os
uma enciclopédia. Estaria aberto para que pudesse custos de operação tivessem reduzido com o avanço

Revista Biblioo - 10
da tecnologia. Além disso, orquestrou uma alteração Graças a essa iniciativa milhões de documentos de
em seus termos de uso para garantir o monopólio domínio público têm sido utilizados por milhares de
sobre o gerenciamento dos registros. A OCLC até pessoas de graça, incluindo pesquisadores que
hoje possui uma política restritiva em relação à jamais poderiam pagar as altas taxas para obter
utilização dos dados das bibliotecas, o que contribui acesso (uma espécie de lei de Acesso à Informação
para o fato de os registros bibliográficos não brasileira ou americana, que funciona na prática).
aparecem como poderiam nos resultados de busca no
Google (coisa que eu já tratei, no âmbito Finalmente, em 2011, ele plugou um laptop em um
brasileiro, aqui). sistema de cabeamento do MIT (Massachusetts
Institute of Technology) e o utilizou para baixar
Em outra ação individual, aos 23 anos, ele ajudou a milhões de artigos acadêmicos da biblioteca
criar o plugin RECAP para oferecer acesso público digitalJSTOR. Nunca ficou provado se a intenção de
gratuito a documentos judiciais do governo Aaron era realmente disseminar todos os artigos
americano que estão sob domínio público. Os publicamente, exatamente como foi feito com o
tribunais federais de lá usam um sistema de depósito PACER.
eletrônico chamado PACER (Public Access to Court
Electronic Records). Tudo é acessível ao público, Além dessas e outras coisas, Aaron ajudou a criar o
mas a uma taxa de 10 centavos por página. O padrão RSS, que alterou o modo como o conteúdo
dinheiro excede em muito os custos de era distribuido na web; foi um dos primeiros
funcionamento do sistema, de forma que os tribunais arquitetos do Creative Commons; ajudou a emplacar
estão claramente violando a lei federal ao desviar os protestos contra o SOPA/PIPA; foi um dos
essas taxas para cobrir suas outras despesas. Aaron criadores do site Reddit; e fundou o Demand
acreditava que estes documentos de domínio público Progress, organização especializada em petições
deveriam ser genuinamente públicos. Por isso, ele contra a censura na Internet.
tomou o passo corajoso de espalhar (seeding) este
sistema, indo em uma biblioteca pública aprovada Por muitos anos eu fui um fiel refém do Google
para o uso do PACER (a Circuit Court of Appeals Reader, que funciona sobre a base do padrão RSS. É
Library em Chicago), para baixar o que era de provavél que mesmo sem saber, você tenha usado ou
domínio público e, em seguida, fazer o upload de 20 se beneficado de algo em que Aaron tenha
milhões de documentos, que inicialmente foram trabalhado.
oferecidos ao site public.resource.org. Com o Mas se Aaron dedicou sua vida à causa da liberdade
desenvolvimento do RECAP, cerca de 800 mil de informação, no melhor espírito bibliotecário, ela
documentos estão hoje disponíveis no Internet pode, no final, tê-lo traído. No momento do seu
Archive. suicídio, Aaron estava enfrentando acusações
criminais federais de invasão de computadores.

Revista Biblioo - 11
Sua guerrilha com o PACER foi inteiramente legal, Todo o propósito de ir até o MIT e usar sua rede era
mas o download dos artigos da JSTOR se tornou um para evitar que os downloads fossem associados a
sério problema. Aaron estava enfrentando acusações ele próprio. Caso contrário, Aaron poderia ter
federais por ter hackeado a JSTOR e se fosse acessado JSTOR em Harvard, onde ele tinha vínculo
condenado, teria de encarar 35 anos de prisão. institucional. Ele sabia que não estava autorizado a
baixar nada perto do número de artigos que queria e
Nos 18 meses de negociações, Aaron não estava que as pessoas tentariam detê-lo.
disposto a aceitar a acusação de criminoso, e por
essa razão ele estava prestes a enfrentar um Depois de repetidamente mudar seu endereço MAC
julgamento de milhões de dólares em abril – o seu para contornar as barreiras erguidas pelos
dinheiro tinha acabado, mas foi incapaz de apelar administradores de rede do MIT para parar a sua
abertamente ao mundo, para a ajuda financeira que atividade na rede local, ele entrou em um armário de
precisava para financiar sua defesa. E assim, tão fiação e escondeu o seu computador entre os
triste, errado e equivocado como seu suicídio foi, eu equipamentos em uma tentativa de continuar usando
entendo (LESSIG) como a perspectiva dessa luta, o serviço JSTOR sem autorização. Ele estava
indefesa, fez com que este menino brilhante mas preocupado que alguém fosse encontrar o seu
problemático, decidisse acabar com tudo. computador e fosse descoberto, de modo que cobriu
o rosto com o capacete da bicicleta para não ser
Aaron Swartz tinha 26 anos. identificado por uma câmera apontada para a porta
do armário. Isso aconteceu entre os dias 4 e 6 de
janeiro de 2011. (TYPHA)

No momento das ações de Aaron, o site JSTOR


permitia um número ilimitado de downloads por
qualquer pessoa enquadrada em uma determinada
classificação na rede do MIT. A aplicação da JSTOR
omitia até mesmo os controles mais básicos para
evitar o que eles poderiam considerar
Invadindo o MIT comportamento abusivo, como CAPTCHAs
desencadeados em múltiplos downloads, exigência
Inicialmente, pensava-se que Aaron tinha utilizado de contas específicas para downloads em massa, ou
uma das bibliotecas do MIT, assim como havia feito até mesmo a possibilidade de aparecer uma caixa
com PACER, para rodar o programa que fez o pop-up e avisar ao usuário sobre uma repetição de
download dos artigos da JSTOR. Na verdade, ele download.
invadiu uma área restrita do MIT. Aaron não “hackeou” a JSTOR para todas as
definições razoáveis de “hack”. Aaron escreveu um

Revista Biblioo - 12
punhado de scripts básicos em python que primeiro com Shireen Barday, ele baixou e analisou 441.170
descobriram as URLs de artigos de periódicos e artigos de revisão jurídica para determinar a origem
então usou cURL para solicitá-las. Aaron não do seu financiamento, os resultados foram
utilizou qualquer parâmetro de adulteração, nem publicados na Revista de Direito de
quebrou um CAPTCHA sequer, ou fez qualquer Stanford (Stanford Law Review). A partir de 2010-
coisa mais complicada do que rodar uma linha de 11, ele pesquisou estes temas como bolsista do
comando básica que baixa um arquivo, da mesma Centro de Ética de Harvard.” (KOTTKE)
forma como o botão direito do mouse e “Salvar
como” faria. (STAMOS) Swartz nunca distribuiu qualquer destes artigos
baixados. Ele nunca teve a intenção de lucrar um
De acordo com aqueles que o conheceram, Swartz único centavo com isso e não conseguiu mesmo, de
acreditava que era errado cobrar o valor estipulado qualquer forma. Ele tinha todo o direito de baixar os
para o acesso a esses documentos, muitos dos quais artigos como um usuário autorizado da JSTOR; na
foram produzidos por acadêmicos de graça, e em pior das hipóteses, ele pretendia violar os “termos de
alguns casos com o financiamento do governo. serviço” da empresa, tornando os artigos disponíveis
(INGRAM) Mas não ficou provado se a intenção de para o público. Uma vez preso, ele devolveu todas as
Aaron era realmente disseminar todos os artigos cópias de tudo o que havia baixado e prometeu não
publicamente, simplesmente porque isso não usá-las. JSTOR disse aos promotores federais que
aconteceu – ainda que tenha feito exercício desse não tinha qualquer intenção de vê-lo processado,
tipo anteriormente, com a liberação dos documentos embora o MIT tenha permanecido ambíguo sobre
públicos no caso PACER. suas intenções. (GREENWALD)

Um palpite mais preciso quanto ao que Swartz MIT admitiu que ele era um “convidado” e o acordo
queria com os artigos da JSTOR: analisar os de licença de acesso incluía “convidados”. Ele tinha
documentos como parte de seu trabalho em curso o direito de acesso manual, mas automatizou o
sobre “a influência corruptora do dinheiro nas processo, porque essa era sua natureza. Ele
instituições” … e não para liberar informação isenta automatiza tudo. (SYMBOLSET)
de direito autorais oferecidas por um gatekeeper
ineficiente, como os dados no PACER. O crime que ele foi acusado, devidamente colocado,
foi de “automatizar o acesso à informação que ele
Em determinado momento, sua página pessoal legalmente só era autorizado acessar manualmente”.
continha a descrição: “Ele é o autor de diversos
artigos sobre uma variedade de tópicos,
especialmente a influência corruptora do dinheiro Aaron criminoso
em instituições sem fins lucrativos, incluindo, a
mídia, a política e a opinião pública. Em parceria

Revista Biblioo - 13
Aaron Swartz foi indiciado pelo governo dos EUA. Justiça o odiava por seu ativismo e desobediência
Foi acusado do download de muitos artigos de civil em série. (GUARDIAN)
revistas acadêmicas a partir da web. O governo alega
que o download desses artigos é, na verdade, crime Se a JSTOR disse que não se importava, então por
de hacking e deve ser punido com pena de prisão. que os federais?

Pessoas ligadas à Aaron não podiam acreditar que O MIT provavelmente só se preocupou porque, se
aquilo pudesse fazer qualquer sentido. Era como eles disessem que não, os vendedores de bases de
prender alguém por ter pegado emprestado muitos dados iriam suspender as bibliotecas das assinaturas
livros da biblioteca. Ainda mais estranho era que a – que os pesquisadores, professores e alunos
suposta vítima, JSTOR, tinha retirado todas as precisam para o trabalho vital de pesquisa. Eles
reivindicações contra Aaron, explicando que eles provavelmente não poderiam apoiar ativamente
não sofreram nenhuma perda ou dano, e pediu ao Aaron. (NERAD)
governo para não processa-lo. (DEMAND
PROGRESS) Bom senso diz que você não pode prender alguém
por três décadas por download de artigos científicos.
James Jacobs, bibliotecário de documentos Mas o que podia piorar, piorou.
governamentais da Universidade de Stanford,
também denunciou a detenção: “a acusação de A punição oferecida foi de até 50 anos de prisão
Aaron enfraquece a pesquisa acadêmica e os federal – mais do que os americanos dão por
princípios democráticos”, disse Jacobs. “É incrível homicídio múltiplo – e o custo de defesa seria, de
que o governo tente prender alguém por acordo com o Ministério Público, de cerca de US $
supostamente pesquisar artigos em uma biblioteca.” 1,5 milhão, que a família não possuia.
(ATLANTIC)
Eles iriam empobrecer sua família e jogá-lo em uma
Mesmo que todas as alegações da acusação fossem prisão federal do estilo “arrombe meu cú” para o
verdadeiras, o único crime real cometido por Swartz resto de sua vida por acessar informação que ele
foi invasão de propriedade simples, pelo qual as estava legalmente autorizado a utilizar, mas tendo
pessoas são punidas, no máximo, com 30 dias de feito de modo errado. (SYMBOLSET)
prisão e uma multa de 100 dólares.
Ninguém sabe ao certo por que os promotores Ele se suicidou para salvar sua família do custo de
federais decidiram perseguir Swartz de maneira tão defendê-lo quando ficou claro que a defesa iria
vingativa, como se ele tivesse cometido algum crime empobrece-lo e não iria salvá-lo. Ele salvou o futuro
grave que merecesse muitos anos na prisão e ruína de sua família quando se tornou claro que seu futuro
financeira. Alguns teorizam que o Departamento de estava perdido. (SYMBOLSET)

Revista Biblioo - 14
Aaron se enforcou em seu apartamento no Brooklin,
no dia 10 de janeiro de 2013.

Jstor

JSTOR acusou certo dano incidental ao seu sistema


e usuários do MIT, visto que os downloads de Aaron
causaram a queda de vários servidores. Chame isso
(presumivelmente) de um DDoS acidental. Assim, o Dezenove anos depois, JSTOR digitaliza e distribui
acesso de um número considerável de usuários foi mais de 1.400 periódicos, principalmente para
degradado seriamente. Além disso, a estimativa de universidades e bibliotecas. As revistas são divididas
prejuízo de várias pessoas-horas tentando rastrear e em diferentes “coleções” (“Arts & Sciences VIII”,
solucionar o problema. por exemplo, dispõe de 140 títulos, incluindo uma
série rara de revistas de arte dos séculos 19 e 20). O
Representantes da empresa falavam que a parte mais preço para o acesso a estas coleções varia muito, em
triste de tudo é que Aaron poderia ter conseguido função da dimensão, natureza e localização do
muitos, a maioria, dos documentos em questão – assinante. O acesso é livre para qualquer instituição
bastava apenas pedir – com o argumento chave de sem fins lucrativos no continente Africano, por
que a JSTOR não é dona dos artigos, apenas oferece exemplo, e em um número de países em
um serviço de busca e recuperação. Na época, desenvolvimento em outras partes do mundo. Nos
JSTOR já havia feito arranjos com acadêmicos para EUA, no entanto, pode custar a uma faculdade mais
downloads de grande volume ou transferências de de U$ 50.000 para o acesso de alto nível; se você
documentos. ensina ou estuda em uma instituição participante,
você pode ler gratuitamente todo o material que a
JSTOR (de Journal Storage) é uma organização sem sua instituição subscreve. (BUSTILLOS)
fins lucrativos fundada em 1994 pela Andrew W.
Mellon Foundation com o objetivo de digitalizar e JSTOR oferece um serviço de indexação, busca e
distribuir revistas acadêmicas online. O projeto foi recuperação para uma ampla variedade de
idealizado na Universidade de Michigan, com um documentos históricos e acadêmicos. Alguns deles
subsídio inicial de U$ 700.000 para hardware e são de domínio público. Alguns estão com direitos
software, além de um extra de U$ 1,2 milhão para autorais, e são disponibilizados para os usuários
pagar a digitalização de apenas “10 revistas centrais JSTOR por meio de acordo com os proprietários dos
em história e economia” (hardware, escanemento e direitos autorais. (Você paga a JSTOR, JSTOR paga
desenvolvimento de software eram o proprietário dos direitos autorais). Alguns são o
astronomicamente caros naqueles dias.)

Revista Biblioo - 15
resultado de pesquisa financiada pelo contribuinte estável e permanente e que não sai barato.
(tanto nos EUA como em outros países). Finalmente, quanto mais tráfego você tiver, mais
custa manter o acesso rápido e ininterrupto ao
As leis em torno disso são complicadas, mas vamos servidor. No caso do JSTOR eles estão lidando com
a parte simples. Se um artigo é de domínio público muitos milhões de visitas todos os meses, e não
ou é coberto por leis que exigem a divulgação livre podem cometer erros.
(que se aplica a muitos projetos de pesquisa
financiados publicamente nos EUA), então você, ou Então JSTOR é um cara legal? Talvez não, mas
Aaron, ou alguém, são perfeitamente livres para certamente seria bom se eles tornassem seus
baixá-los da JSTOR e publicá-los em qualquer lugar. materiais de domínio público disponíveis para o
Sim, você tem que pagar a JSTOR – uma vez – público em geral. Mas se você é um bibliotecário
porque está pagando pelo serviço – não pelo acadêmico, JSTOR, uma organização sem fins
conteúdo. Se você quiser então distribuir o conteúdo, lucrativos, provavelmente não está fazendo seu
você pode. sangue ferver como as editoras com fins lucrativos,
Alguns editores cobram dos usuários de fora do como a NPG (Nature) e Reed Elsevier (The Lancet).
sistema de assinatura institucional uma taxa por Outra coisa a considerar é que os escritores
artigo para o acesso ao material na íntegra, uma acadêmicos são pagos através de salários e
prática que tem irritado muitas pessoas, dado que subsídios, não são pagos (não diretamente, pelo
muito desse material é de domínio público, e o menos) para a publicação de seu trabalho. Todo o
direito da editora de bloquear o acesso a tal material sistema de compensação para conteúdo acadêmico é
parece, portanto, questionável. muito diferente de publicação comercial. Quando
você pagar por um artigo JSTOR online, nenhum
Muitas pessoas parecem acreditar que não custa dinheiro vai para o autor, ele vai para o editor.
nada para tornar documentos disponíveis online, mas (BUSTILLOS)
isso absolutamente não é verdade. Sim, você pode
digitalizar uma revista acadêmica e colocá-la online,
mas se você quer oferecer disponibilidade, Custo do conhecimento
confiabilidade permanente, custa uma enorme
quantidade de dinheiro só para manter a entropia JSTOR não é culpada pelo suicídio de Aaron.
acontecendo. Além disso, você tem que indexar o JSTOR não tem fins lucrativos. Os indícios são que
material para torná-lo pesquisável, o que não é um Aaron escolheu JSTOR por conta do tipo de
trabalho pequeno. Para tudo tem que ser feito conteúdo disponibilizado pela base. Poderia ter sido
backups. Quando um disco rígido frita, quando os qualquer outra grande base de dados, com ou sem
servidores ou software de banco de dados se tornam fins lucrativos. Jamais saberemos se a intenção era
obsoletos ou quebram, quando um novo anti-vírus é simplesmente distribuir os arquivos baixados (como
necessário, tudo isso requer uma infra-estrutura em um grande torrent, como de fato foi feito

Revista Biblioo - 16
posteriormente por terceiros com os arquivos da de acadêmicos insatisfeitos com o fato de o trabalho
Royal Society em “homenagem” ao processo de produzido por eles e seus pares, financiado em
Aaron) ou se ele estava fazendo apenas um gigante grande parte pelos contribuintes (por meio de
levantamento bibliográfico e a maneira mais rápida e recursos públicos, editais de fomento, bolsas de
simples de fazer isso era hackear o sistema e baixar pesquisa e orçamentos das universidades e
o grande volume de artigos de uma só vez. instituições de pesquisa), permanecer acessível
somente mediante pagamento avulso ou contratos de
Aaron foi um pioneiro nos novos métodos de assinaturas junto às editoras responsáveis pela
pesquisa acadêmica utilizando coleta de dados e publicação desses trabalhos. Um duplo pagamento
análise em grande escala. Ele já possuia uma vasta por parte dos contribuintes: na comissão da pesquisa
experiência em baixar e analisar enormes conjuntos e no acesso aos resultados.
de dados e nesse processo ele ajudou a reforçar
nosso entendimento sobre quem controla o acesso ao O Brasil gasta em torno de R$120 milhões anuais
conhecimento – desde corrigir suposições errôneas para garantir que 326 instituições do país acessem
sobre quem na verdade é a maioria dos autores dos mais de 31 mil revistas científicas por meio do
verbetes na Wikipédia até levantar alarmes sobre a Portal de Periódicos da Capes, modelo de consórcio
influência empresarial indevida na concessão de de bibliotecas único no mundo, inteiramente
bolsas acadêmicas. Até onde se sabe, Aaron estava financiado pelo governo nacional. É importante
estudando a influência corruptora do dinheiro em ressaltar que o Portal de Periódicos da Capes foi
uma ampla variedade de instituições, incluindo criado justamente sob a perspectiva de que seria
universidades e o governo, quando começaram seus demasiadamente caro atualizar os acervos com a
problemas com a JSTOR. (YEO, JACOBS) compra de periódicos impressos para cada uma das
universidades do sistema superior de ensino federal.
Aaron personifica o compromisso apaixonado dessa Obviamente o valor investido nesses contratos é
geração mais jovem em relação ao governo aberto, o muito inferior ao que seria necessário para dotar as
acesso universal e gratuito ao conhecimento, e uma instituições individualmente, com o mesmo acervo
sociedade civil informada. (SANDERS) Sobretudo, de periódicos, mas a premissa desses investimentos
é muito difícil dissociar o caso, que culminou no e ponto primordial do debate da Primavera
suicídio de Aaron, com as reinvindiações do Acadêmica é consensual: o preço das assinaturas de
movimento do acesso livre e a manutenção de um periódicos científicos cresceu ao ponto de se tornar
sistema de publicação acadêmica que está insustentável para as instituições de pesquisa e
claramente equivocado. universidades. Outrossim, as universidades públicas
devem oferecer informação gratuitamente – assim
Em um artigo anterior, eu indiquei que as intensas como o financiamento público deve gerar bens
críticas sob quais os grandes editores comerciais de públicos.
periódicos científicos estão nos últimos meses parte

Revista Biblioo - 17
Sempre que alguém não vinculado a instituições depois, elas vendem de volta para as universidades
associadas ao consórcio do Portal de Periódicos da cobrando um valor para que outros acadêmicos
Capes tenta acessar um artigo de periódico online, o possam ler o material. Os “criadores” não recebem
acesso ao resumo do texto é geralmente livre. Sem nenhuma compensação e na verdade pagam para ter
esse vínculo, a leitura de um único artigo na íntegra seu trabalho publicado.
publicado por um dos periódicos da JSTOR custa
aproximadamente 25 dólares (JSTOR oferece a Os periódicos são em sua maioria vendidos de volta
chance de criação de uma conta e a liberação de 3 para bibliotecas e universidades, as mesmas pessoas
artigos na íntegra a cada 14 dias, gratuitamente). que criaram o conteúdo. Até a década de 1960 os
Elsevier custa 31,50 dólares (aproximadamente 65 periódicos foram publicados em sua maioria por
reais). A Springer cobra 34,95 dólares organizações sem fins lucrativos. Desde então o
(aproximadamente 72 reais) e Wiley-Blackwell, 42 setor privado assumiu. E com ele vieram preços
dólares (aproximadamente 87 reais). À guisa de altamente inflacionados.
exemplo, uma recente licença de acesso aos artigos e
periódicos eletrônicos do publicador, às instituições Graças a concentração da indústria, os editores agora
usuárias do Portal de Periódicos da CAPES, foi se safam vendendo “pacotes”. Três editoras
obtida por meio de contrato de licitação ao valor de controlam mais de 42% do mercado. Isso significa
132.221 reais pela assinatura de 14 títulos de que, a biblioteca e a universidade não podem
periódicos vinculados à American Physiological escolher quais revistas comprar. Elas têm que
Society. comprar pacotes de assinatura agrupados, como na
TV a cabo. (GLINSKY)
Pergunte a si mesmo, que valor a JSTOR e outras
editoras agregam que valha 30 dólares por artigo na Sem contar que é simplesmente impossível
era moderna de distribuição digital? (BRADOR) conseguir uma assinatura individual com a JSTOR e
principais editoras científicas. (ESTÉS)
O fato é que a maioria dos “criadores” da
propriedade intelectual oferecida pelas bases de Recapitulando:
dados deseja compartilhar seu trabalho com o 1) Os impostos que você paga financiam pesquisas.
público de forma gratuita, mas por causa de um 2) Os impostos que você paga são utilizados para
sistema profundamente quebrado, não pode. pagar as taxas de publicação (geralmente na ordem
Acadêmicos e cientistas fazem pesquisa que é em de algumas centenas de reais) para editores
larga escala paga pelo contribuinte por meio de acadêmicos com fins lucrativos.
erário público. Os pesquisadores são então forçados 3) Os impostos que você paga são utilizados para
a normalmente ”pagar “ editoras para publicar seu comprar de volta a pesquisa que você pagou para ter
trabalho, cedendo seus direitos autorais para eles início, normalmente sob preços e taxas exorbitantes
(trabalho que eles não pagaram, nem criaram) e oferecidos pelas editoras

Revista Biblioo - 18
4) Os criadores da propriedade intelectual (pesquisa) um computador protegido, e causar danos de forma
não são financeiramente compensado em nenhuma imprudente a um computador protegido. Os
maneira. Muito menos os revisores que fazem a promotores no caso disseram que Aaron agiu com a
maior parte do trabalho de “publicação” desses intenção de tornar os artigos da JSTOR disponíveis
artigos em sites de compartilhamento de arquivos P2P. Eles
pressionaram, mesmo depois de a JSTOR dizer que
Parece um sistema inteiramente equivocado. Era não estava interessada em prosseguir com acusações
contra isso que Aaron Swartz estava lutando. São criminais.
pontos que muitos acadêmicos e bibliotecários têm
levantado há vários anos, aparentemente com Swartz se entregou às autoridades, não se declarou
relativo sucesso, mas saldo econômico pouco culpado de todas as acusações, e foi libertado sob
positivo. Não restam dúvidas que o movimento de fiança de 100 mil dólares. Em setembro de 2012, os
open access se ampliou nos últimos anos, mas as promotores norte-americanos aumentaram o número
assinaturas de periódicos continuam necessárias e de acusações contra Swartz de quatro para treze,
extremamente altas. Esse é um sistem onde você com uma eventual sanção de dezenas de anos de
paga pela mesma coisa três vezes, e o criador não prisão e 1 milhão de dólares em multas. O caso
recebe qualquer benefício financeiro. ainda estava pendente quando Swartz cometeu
suicídio em janeiro de 2013. (WIKIPEDIA)

Lei Do ponto de vista da acusação este não era um crime


sem vítimas. Aaron invadiu um serviço e capturou
No final de 2010 e início de 2011, Aaron Swartz informações, que a JSTOR cobra 5 dígitos para
utilizou a rede de dados do MIT para baixar em acessar, com a intenção de distribuí-lo em uma rede
massa uma parte substancial da coleção de milhões de compartilhamento de arquivos e, assim, destruir o
de artigos de periódicos acadêmicos oferecidos pela valor comercial dessa informação. Se você ler a
biblioteca eletrônica JSTOR. Quando o ataque foi acusação, parece mostrar que Aaron fez isso com a
descoberto, JSTOR bloqueou o download, intenção de destruir o valor comercial da
identificou Aaron, e em vez de perseguir acusações informação, porque ele se opõe a comercialização
civis ou criminais contra ele, em junho de 2011 desse tipo de informação. A acusação do promotor é
chegou a um acordo em que ele devolveu os dados que Aaron deliberadamente decidiu prejudicar uma
baixados. organização, visto que era incompatível com a sua
própria ideologia. (TPTACEK)
No mês seguinte, no entanto, as autoridades federais Neste ponto, não é a JSTOR que quer este caso
denunciaram Aaron com vários crimes relacionados julgado, mas apenas os agentes do governo. E eles
à roubo de dados, incluindo fraude eletrônica, fraude estão apenas passando as moções. Os promotores
de computador, obtenção ilegal de informações de precisam de convicções, promoções e mídia para ter

Revista Biblioo - 19
sucesso em seus trabalhos (JOHNSON). Bem
parecido com os pesquisadores que precisam Silva Meira publicou um post após a notícia do
publicar em revistas Qualis e com alto fator de suicídio, explicando que o poder dos estados,
impacto para garantir cargos e salários. segundo charlie nesson, fundador do berkman
center, deve ser limitado, proibindo penas e
É possível também ouvir Aaron repetindo, recompensas que sejam tão severas e opressivas ao
seguidamente, que o propósito é liberar a pesquisa ponto de serem totalmente desproporcionais à ofensa
acadêmica. Difícil crer, mas trata-se muito mais de e obviamente sem razão de ser. Não seria este o caso
um manifesto pelo open access do que um clamor do processo contra Swartz? Acusações que não
pela falência da JSTOR. (TATUSKE) tinham o aval de quem tinha direito sobre as cópias
dos artigos, a JSTOR?
Lawrence Lessig, que trabalhou com Swartz no
Creative Commons e outros projetos, escreveu um Em suma, Aaron Swartz não era o incansável super-
postdizendo que o que seu jovem amigo fez com a hacker descrito na acusação do Governo e relatórios
JSTOR era errado – embora o princípio possa ser forenses, e suas ações não representaram um perigo
razoável – mas que o caso do governo contra ele era real para JSTOR, MIT ou ao público. Ele era um
repreensível e exagerado ao extremo. Vamos jovem inteligente que encontrou uma brecha que lhe
lembrar: o governo dos EUA foi atrás de Aaron permitia baixar um monte de documentos
Swartz, com tudo o que tinham, para prende-lo por rapidamente.
35 anos por ter baixado artigos de periódicos.
(CARMODY) Se eu (STAMOS) tivesse tomado a posição como o
planejado e fosse questionado pelo Ministério
Vergonha é não nos impressionarmos com o grito Público se as ações de Aaron foram “erradas”, eu
vindo da esmagadora maioria dos homens negros e provavelmente teria respondido que o que Aaron fez
pobres que estão apodrecendo nas cadeias do Brasil seria melhor descrito como “imprudente”. Da
e do mundo por delitos menores (KIM). Aaron fez o mesma forma que é imprudente escrever um cheque
download de milhões de trabalhos acadêmicos. Isso no supermercado, enquanto uma dúzia de pessoas
é roubo? Se sim, é de alguma forma “errado?” fazem fila atrás de você ou pegar emprestado todos
(BOUIE) Não me parece que estamos lidando aqui os livro na biblioteca necessários para um trabalho
com um criminoso. da disciplina de história. É imprudente baixar muitos
O suicidío de Aaron não é simplesmente uma arquivos em uma rede wifi compartilhada ou rastrear
tragédia pessoal. É o produto de um sistema de o Wikipedia muito rapidamente, mas nenhuma
justiça criminal repleto de intimidação e dessas ações deve assombrar uma pessoa jovem com
procuradoria exagerada. As decisões tomadas pelos a possibilidade de uma sentença de 35 anos de
funcionários da Procuradoria do Massachusetts e do cadeia.
MIT contribuíram para sua morte. (FAMÍLIA)

Revista Biblioo - 20
A defesa legal de Aaron pode até parece ser “mas no
meu sistema moral isso foi uma coisa boa”. (LISSA) Roubar é fácil de entender no mundo analógico.
Mas um dos princípios básicos da justiça é o Pego um livro da livraria sem pagar. A loja não tem
conceito de proporcionalidade (ou seja, a punição mais o livro – eu tenho. A livraria não pode mais
deve ser proporcional ao crime). É por isso que nós vendê-lo. Se eu destruir o livro, ele deixa de existir.
não cortamos fora as mãos das pessoas por furto, Se eu mudar de idéia, eu posso devolver o livro de
pelo menos não nos Estados Unidos, pelo menos não volta pra prateleira.
ainda. (SPAREPART)
O conceito atual, amplamente sustentado, do roubo
O governo usou as mesmas leis destinadas a ladrões digital é que se trata de uma forma de violação de
de bancos digitais para ir atrás de Aaron. Isso porque direitos autorais. Você pode ter ouvido falar do caso
as leis existentes não reconhecem a distinção entre Tenenbaum, onde um garoto de faculdade baixou 30
dois tipos de crimes informáticos: crimes dolosos músicas de sites de compartilhamento de arquivo e
cometidos com fins lucrativos, tais como o roubo em foi obrigado a pagar 675.000 dólares em prejuízos
larga escala de dados bancários ou segredos de direitos autorais, em vez de U$ 30, o custo dessas
corporativos e casos em que os hackers invadem músicas no iTunes. Roube 30 músicas, levando pra
sistemas para provar sua habilidade ou espalhar casa um CD de uma Saraiva ou Livraria Cultura, e
informações que eles acham que devem estar você terá 30 reais de danos criminais. Baixe 30
disponíveis para o público. (USATODAY) músicas, e você é um infrator de direitos autorais. A
este ritmo, o iPhone no seu bolso está carregando R$
Tem sido amplamente afirmado que Swartz 100 milhões em mercadorias roubadas.
pretendia distribuir ao público o material da JSTOR
que ele baixou, por exemplo, postando o lote em um Este modelo de direitos autorais não faz sentido.
site de compartilhamento como o Pirate Bay. E não
é de admirar que as pessoas estão dizendo isso, Nem o modelo de roubo analógico, nem o modelo
porque é o que a acusação do governo alega de direitos autorais nos ajudar a entender o caso de
diretamente. Entretanto, a acusação não fornece um Aaron Swartz. O governo federal acusou Swartz de
fragmento de evidência para apoiar estas alegações. utilizar a rede do MIT para download de mais de 4
A procuradora Carmem Ortiz, responsável por milhões de artigos da JSTOR. O que Swartz
sustentar a pena de 35 anos a Aaron, disse: “Roubar supostamente roubou? Swartz não “roubou” os
é roubar, seja usando um comando de computador dados – JSTOR ainda tem seus dados. Cada artigo
ou um pé de cabra, seja pegando documentos, dados permanece pacificamente nos servidores da JSTOR.
ou dólares. É igualmente prejudicial para a vítima, Será que Swartz infringiu direitos autorais? Muitos
independente de você ter roubado ou doado”. Mas dos artigos são de domínio público, tanto que a
então qual exatamente é o roubo aqui? acusação nem mesmo o acusou de violação de
(BUSTILLOS) direitos autorais. E a intenção de violar direitos de

Revista Biblioo - 21
autor não é um crime nos EUA, é pré-crime. Mas
isso não significa que Aaron não tirou nada da
JSTOR. Liberdade de informação

O que Aaron supostamente tirou da JSTOR foi o Quando o governo federal americano foi atrás dele –
controle. O controle sobre a distribuição de arquivos e o MIT timidamente jogou junto – não estavam
infinitamente reproduzíveis. Controle que foi tratando-o como uma pessoa que pode ou não ter
cuidadosamente negociado e estabelecido por feito algo estúpido. Ele foi um exemplo. E a razão
acordos de licenciamento complexos com editoras e pela qual lançaram a espada da lei em cima dele não
universidades. Controle que vale muito dinheiro. era para ensinar-lhe uma lição, mas para estabelecer
(Uma parte desse valor é certamente justificada. A uma mensagem para toda a comunidade hacker de
informação quer ser livre, mas custa dinheiro Cambridge de que eles estão entregues à própria
transformar papel em arquivos digitais. Custa sorte. Era uma ameaça que não tinha nada a ver com
dinheiro hospedar os arquivos, torná-los justiça e tudo a ver com uma batalha mais ampla
pesquisáveis e manter os servidores funcionando. sobre o poder sistêmico. Nos últimos anos, os
Embora a JSTOR seja sem fins lucrativos, alguns hackers têm desafiado o status quo e posto em causa
editores certamente procuram um lucro. Se os preços a legitimidade de inúmeras ações políticas.
da JSTOR para artigos individuais e taxas de
assinatura institucional garantem o retornar de um Seus meios podem ter sido questionáveis, mas as
justo – ou exorbitante – lucro para as editoras, eu suas intenções foram valentes. A ideia de uma
vou deixar vocês decidirem). Mas os serviços da democracia é sempre questionar os usos e abusos de
JSTOR dependem da manutenção do controle sobre poder, a fim de evitar que a tirania surja. Ao longo
a distribuição de seus arquivos. dos últimos anos, temos visto hackers demonizados
como anti-democráticos, embora muitos deles se
Cada vez que um aluno faz o download de um artigo vêem como combatentes contemporâneos da
da JSTOR, ela aceita o risco de que o estudante liberdade. E quem está no poder usou Aaron,
poderá transmitir o arquivo para um amigo, um distorcendo seu projeto de libertação da informação
colega de classe ou imprimir uma cópia. Aaron como uma história de hackers viciosos cujos atos
supostamente elevou esse risco ao nível da extinção, terroristas pretendem destruir a democracia.
antes da JSTOR resolver sua disputa com ele. Mas
não vamos entender nada se encolhermos os ombros Muitas das bandeiras que Aaron levantava – a
e dizer “roubar é roubar.” O download de liberdade de acesso ao conhecimento, acesso aberto
documentos que permanecem em servidores da à informação, bem como a utilização de
JSTOR e que são legalmente de domínio público programação para tornar o mundo melhor – são
não é o mesmo que usar um pé de cabra para fugir valores fundamentais da comunidade geek [e da
com as jóias de uma família. (PHILLIPS) comunidade bibliotecária]. Se queremos alcançar os

Revista Biblioo - 22
valores e objetivos que são essenciais para as nossas Esta é a repugnante injustiça que está por trás da
comunidades, eu (DANAH BOYD) não acho que morte de Aaron Swartz. Um Departamento de
nós vamos fazer a diferença através da criação de Justiça que faz uma paródia da palavra “justiça”,
mais mártires que podem ser usados como exemplo onde o Estado de Direito tornou-se uma piada, onde
em uma guerra cultural. Precisamos buscar uma os maiores criminosos de nossos dias vestem terno e
abordagem de mudança que não resulta em pessoas gravata e estão absolutamente acima de qualquer
brilhantes sendo tomadas como exemplos para que suspeita, enquanto os mais pobres recebem
possam ser atormentado pelo poder. acusações implacáveis, de tolerância zero, para o
menor das delinquências.

Informação é poder Aaron foi amaldiçoado com a capacidade de abrir


sua mente larga o suficiente para ver o mundo em
Em seu manifesto da guerrilha do acesso livre, toda a sua feia injustiça e realidade. Seu idealismo,
Aaron disse concordar que informação é poder. E paixão e honestidade o fizeram dizer a verdade sobre
como todo poder, sempre tem alguém querendo o poder, e por isso ele foi esmagado Existem apenas
mantê-lo só para si. dois crimes que são punidos nesse país agora: ser
Aaron, Manning, Assange, Kyriakoy, Ocuppy, todos pobre ou desafiar os poderosos. (ANDREASMA)
perseguidos, processados, alguns torturados. Por
quê? Por falar a verdade sobre o poder, por revelar Ao pensar sobre o que aconteceu com Aaron,
corrupção, crimes de guerra. Por liberar precisamos reconhecer que não foi apenas o exagero
informações. do Ministério Público que o matou. Isso é muito
fácil, porque isso implica que apenas uma maçã é
Enquanto isso, Yoo, Addington, Libby, Cheney, podre. Nós sabemos que isso não é verdade. O que o
Rumsfeld, Gonzales saem por aí assinando matou foi a corrupção. A corrupção não é apenas
lançamentos de livros e dando palestras sobre pessoas que lucram traindo o interesse público. É
segurança nacional. Os assassinos, torturadores e também sobre pessoas que estão sendo punidas por
apologistas da tortura são celebrados. Os defender o interesse público. Em nossas instituições
denunciantes esmagados. de poder, quando você faz a coisa certa e desafia o
poder abusivo, você acaba destruindo uma
Blankfein, Greenberg, Pandit, Mozilo, Geithner, perspectiva de trabalho, uma oportunidade
viajam por aí dando palestras sobre responsabilidade econômica, uma ligação política ou social, ou uma
fiscal, em vez de apodrecer na prisão por fraude, oportunidade para a mídia. Ou se você é realmente
roubo, peculato, suborno, corrupção e vários perigoso e subversivo de forma brilhante, como
conspirações criminosas. Aaron, você está falido e destruído. Há uma razão
para que os agitadores sejam eliminados.

Revista Biblioo - 23
Enquanto o que aconteceu naquele dia foi privadas. Aqueles com acesso a esses recursos
tecnicamente sobre a internet, deve ser lembrado, e – estudantes, bibliotecários, cientistas – a vocês
Aaron deve ser lembrado, no contexto da justiça foi dado um privilégio. Vocês começam a se
social. Aquele dia foi sobre uma chamada para um alimentar nesse banquete de conhecimento,
mundo diferente, não apenas proteger a nossa enquanto o resto do mundo está bloqueado. Mas
capacidade de acesso a sites e artigos científicos da vocês não precisam – na verdade, moralmente,
web. E devemos lembrar estes valores subjacentes. não podem – manter este privilégio para vocês
Isso ajudaria as pessoas a compreender que a justiça mesmos. Vocês têm um dever de compartilhar
pode ser extremamente cara, e que nós arriscamos isso com o mundo. E vocês têm que negociar
muito quando permitimos que aqueles que fazem a senhas com colegas, preencher pedidos de
coisa certa sejam punidos. De alguma forma, download para amigos. (AARON SWARTZ)
precisamos reconstruir uma cultura que respeite as
pessoas como Aaron e se afaste da ganância e da Os bibliotecários deveriam se preocupar com o
propina que ele odiava. acesso livre, como profissionais e cidadãos,
porque fazem parte da engrenagem de um
Aaron foi impulsionado por um desejo de justiça, e sistema de publicação científica que se mostra
não apenas por liberdade de informação. (MATT inadequado. Devem também assumir as
STOLLER) implicações éticas pelo fato de alimentarem
uma relação direta com editores acadêmicos
que possuem interesses muito mais comerciais
A responsabilidade dos do que científicos.
bibliotecários
Acabamos de receber a notícia de que o CNPq
Uma das razão para os federais irem atrás de cortou sua fatia de financiamento ao Scielo, e
Aaron é que ele era, assim como nós que isso compromete o desempenho do portal.
bibliotecários devemos ser, um defensor Se o Scielo, que seria o supra sumo da
apaixonado da Internet livre e do acesso aberto. informação livre, com todos seus periódicos
Ele foi bastante franco sobre o acesso aberto disponíveis livremente, não é sustentável, ao
em particular, publicado em 2008 no seu contrário das editoras que não pagam nada pela
“Manifesto da Guerrilha Open Access”, que produção, mas cobram pelo acesso ao conteúdo,
traz uma direta convocação aos bibliotecários: então alguma coisa está seriamente errada na
publicação científica. (voltaram atrás, CNPq vai
A herança inteira do mundo científico e continuar apoiando o Scielo, mas a sensação de
cultural, publicada ao longo dos séculos em insustentabilidade ficou no ar)
livros e revistas, é cada vez mais digitalizada e
trancada por um punhado de corporações

Revista Biblioo - 24
Bibliotecários precisam trabalhar juntos de contribuir com a liberdade de informação de
editores, revisores, pesquisadores, diversas formas. Gostaria de sugerir algumas
financiadores e leitores para criar um processo coisas:
de disseminação do conhecimento e consumo
de informação, com uma atitude direcionada Leiam e compartilhem o Guerrilla Open Access
para maximizar o impacto produzido pelos
Manifesto, do Aaron Swartz
resultados de pesquisa financiada com recursos
públicos, em particular as publicações em
Conheçam, assinem e divulguem a petição
periódicos científicos.
contra as práticas comerciais da
Elsevier:thecostofknowledge.com
Nada disso é novidade para muitos
bibliotecários. Mas é preciso cada vez mais
articular ações para garantir que o futuro da Acompanhem a tramitação da Lei Azeredo e se
publicação científica seja o de liberdade de manifeste contrario à qualquer indicação contra
informação plena. a liberdade de informação
Vamos precisar propor e encarar reformas nas
leis de direitos autorais e a longo prazo, vamos Faça valer nossos impostos e divulgue o quanto
precisar de uma nova teoria da informação. puder o Portal Capes, oferecendo treinamentos
Uma teoria que melhor identifica e equilibra os e suporte, para garantir que as assinaturas das
direitos concorrentes à propriedade e à revistas se justifiquem
democracia, em um mundo em que mais bens e
serviços são digitais. A tecnologia libertou a
Não hesite em auxiliar pessoas que precisam
informação, o conhecimento é poder, e mais
de artigos que não estão disponíveis por meio
cedo do que você pensa, a Biblioteca Nacional
do Portal Capes
vai caber no seu Dropbox. Queremos prender o
conhecimento humano atrás de barreiras
bizantinas negociadas pelas grandes Participe e contribuia com o intercâmbio de

instituições? Aaron Swartz disse que não. [O artigos científicos. Sempre que precisar de um
que você enquanto bibliotecário diria?] artigo, utilize as redes sociais para compartilhar
(PHILLIPS) a referência bibliográfica. Provavelmente algum
colega bibliotecário possui acesso digital ou
físico à esse material, reduzindo a burocracia e
Como podemos contribuir tempo despendido nos métodos tradicionais de
comutação bibliográfica
É o que fazemos há milênios, mas ainda há Encare a Lei de Acesso à Informação como uma
muito a fazer. Os bibliotecários podem oportunidade de oferecer e garantir a

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transparência pública entre as instituições do rendimento, mas para grupos locais, sem fins
Estado lucrativos, organizações comunitárias, museus,
galerias, bibliotecas. Mostre os benefícios do
Trabalhe em pról de periódicos de acesso livre OA para a comunidade não-acadêmica em torno
(SUBER) da universidade.

Explique os benefícios e auxilie os Se você além de bibliotecário é também um


pesquisadores da sua instituição a publicar em autor, considere:
veículos de acesso livre
Crie um repositório de acesso aberto na sua Só submeter artigos para publicação em
instituição periódicos de acesso livre

Incentive e auxilie os membros da sua Não prestar nenhum trabalho para revistas que
instituição a depositar seus artigos de pesquisa não sejam de acesso aberto. Isso inclui revisão,
no arquivo institucional indexação, normalização, etc.
Considere publicar um periódicos open-access, Abrace outras alterações na publicação
editado pelos pesquisadores da sua instituição científica, como a publicação pré-print, que
Considere rejeitar contratos ou cancelar permitem o compartilhamento mais rápido dos
assinaturas de revistas que não conseguem artigos.
justificar seus preços elevados, e emita uma
declaração pública explicando o porquê

Ajude as revistas OA lançados na sua


instituição a se tornarem conhecidas por outras
bibliotecas, serviços de indexação, potenciais
financiadores, autores e leitores

Inclua revistas OA no catálogo da biblioteca MORENO BARROS é


bibliotecário do Centro de
Ofereça assegurar a preservação de longo prazo Tecnologia da UFRJ. Graduado
de algum material de acesso livre pela UFF, mestre em Ciência
da Informação pelo IBICT e
Realize a digitalização, acesso e projetos de doutorando em História das Ciências na UFRJ.
preservação, não só para pesquisadores de alto

Revista Biblioo - 26
RETROSPECTIVA
2012
10 FATOS DE CULTURA INFORMACIONAL
QUE MARCARAM 2012

por Thiago Cirne

Revista Biblioo - 27
RIO - Entre avanços e retrocessos o ano de 2012 se foi deixando para traz uma série de
novidades que dizem respeito à cultura da informação. Algumas dessas novidades foram
abordadas pela Revista Biblioo ao longo do ano e outras simplesmente passaram
batidas. Para relembrar estes acontecimentos, listamos alguns destes fatos que
consideramos mais importantes para a Cultura Informacional:

Criação da ABRAINFO

Associação Brasileira dos Profissionais da Informação (ABRAINFO) tornou-se


realidade no mês de outubro. Ela é o resultado dos esforços de um grupo de
profissionais empenhados em apoiar ações e atividades que venham a promover o
trabalho dos profissionais da informação.
Para maiores informações e acesso ao estatuto da ABRAINFO, que está disponível no
site: www.abrainfo.com.br

Inundação da BN e Manifesto dos servidores

Uma Inundação atingiu cerca de 800 exemplares de jornais e coleções encadernadas no


mês de maio de 2012. Devido a problemas no ar condicionado, o alagamento afetou o
armazém onde ficam os originais de jornais e revistas.

Além do desastre, as manifestações dos funcionários da Biblioteca Nacional em agosto


de 2012, trouxe à tona diversos problemas estruturais e de conservação física do prédio
da Biblioteca. Durante o ato, os funcionários levaram um bolo com velas para frente da
Biblioteca Nacional e leram um manifesto revelando as condições dos andares do prédio
e do excesso de peso exercido sobre a estrutura.

Movimento Abre Biblioteca

O Movimento criado em abril de 2012 ganhou visibilidade nacional e internacional


através de ferramentas da Internet como sites, blogs e fanpages, divulgando as

Revista Biblioo - 28
reivindicações em prol da reabertura da Biblioteca Pública de Manaus, fechada a cinco
anos para reformas. Tendo como uma de suas organizadoras a bibliotecária Soraia
Magalhães, o Movimento conseguiu sensibilizar e ser atendido pelo poder público,
chegando a ser recebido pelo governador do Amazonas, Omar Aziz, que garantiu a
reabertura da biblioteca até o dia 15 de janeiro de 2013. Mas pelo andar da carruagem,
esse prazo não será cumprido.

A mobilização e as lutas levantadas pelo Movimento Abre Biblioteca repercutiram


principalmente na classe bibliotecária, trazendo um novo olhar e novas perspectivas
para as bibliotecas públicas. A dedicação e o exemplo de todos os envolvidos nesse
movimento demonstram a importância das reivindicações coletivas e do papel social
dos profissionais de Biblioteconomia.

Ministério da Cultura tem uma nova comandante

Em setembro Marta Suplicy assumiu o comando do Ministério da Cultura (MinC) no


lugar de Ana Holanda que vinha sofrendo uma série de críticas, sobretudo do setor
artístico. Um dos problemas mais sensíveis relacionados ao MinC é o que diz respeito à
cobrança de direitos autorais feitos pelo Ecad, escritório responsável pela arrecadação
destes valores no Brasil. Para tentar superar o problema, Marta anunciou que trabalhará
para a criação de um órgão fiscalizador independente.

No final de setembro ela veio ao Rio para cumprir agenda oficial e na ocasião anunciou
R$ 70 milhões em investimentos na Biblioteca Nacional. A verba deverá ser usada nas
obras de engenharia e restauração no prédio sede, no Centro, e no anexo, na Zona
Portuária, onde será implantada a futura Hemeroteca Brasileira.

Como é de conhecimento geral, o prédio da BN já vem passando há algum tempo por


vários problemas, como curtos-circuitos, inundações e má conservação. A Revista
Biblioo esteve presente na ocasião da visita e participou da entrevista coletiva.
Perguntada sobre os esforços que o ministério iria empreender para zerar o número de
municípios sem bibliotecas, a ministra se saiu com esta: "Olha, tem um plano aqui com
começo, meio e fim, mas eu preferia não me pronunciar a respeito disso ainda".

Revista Biblioo - 29
Mobilização contra a demolição de Escola Frienderich e do
Museu do Índio

As obras de modernização do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, visando


adequar as exigências da Federação Internacional de Futebol (FIFA) para a Copa do
Mundo de 2014, estão trazendo transtornos para a sociedade carioca e para os indígenas
locais. A possível demolição da Escola Municipal Frienderich e do Museu do Índio
localizados no entorno do estádio geraram protestos e mobilizações nas ruas e nas redes
sociais. Índios, alunos, pais de alunos e professores se uniram em protestos pelas ruas
do Rio contra a demolição desses espaços e exigiram que os vereadores cariocas
votassem a favor do tombamento da escola municipal e do Museu do Índio.

A Escola fica ao lado do ginásio esportivo Maracanãzinho e é apontada pelo Índice de


Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB) como a quarta melhor da cidade e a
décima do país. Até agora tanto o governo do estado, Sérgio Cabral, como o prefeito,
Eduardo Paes, não explicaram para onde vão os mais de 350 estudantes e professores da
escola. O Museu, localizado ao lado do Maracanã, foi criado pelo antropólogo Darcy
Ribeiro em 1953. Nos últimos seis anos passaram a viver no local cerca de 60 índios e
17 tribos. A última reforma no prédio foi na década de 70. O descaso e abandono do
poder público com a história e memória do povo indígena é gritante.

Chegada da Amazon no Brasil

A Amazon, empresa de comércio eletrônico, iniciou suas atividades no Brasil no dia 1º


de setembro de 2012. A meta da empresa é vender 6 milhões de itens até 2013 em sua
loja online.

Um centro de distribuição de mercadorias foi preparado para a cidade de São Paulo, em


sua primeira fase no Brasil. A Amazon vai priorizar a venda de produtos como CDs,
DVDs, Blu-rays, jogos de vídeo game, livros e softwares. Os móveis e televisores LCD
serão disponibilizados somente na segunda fase de acordo com a demanda e os
resultados de vendas obtidos.

Revista Biblioo - 30
Brasil fica em penúltimo lugar no ranking da Educação

Em pesquisa encomendada à consultoria britância Economis Intelligence Unit (EIU)


pela Pearson Internacional, o Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking global de
educação que comparou 40 países, sendo analisados fatores como: notas de testes,
qualidade de professores, dentre outros.

O ranking divulgado mede os resultados de testes internacionais aplicados em alunos do


5º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Países como a Finlândia e Coreia do Sul estão no
topo do ranking. O Brasil só conseguiu ficar à frente da Indonésia.

Fonte: Pearson/EIU

Primeiro mestrado profissional em Biblioteconomia

O Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia (PPGB) da Universidade Federal


do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) lançou o primeiro edital para o Mestrado
Profissional em Biblioteconomia em janeiro de 2012.

A seleção visou o preenchimento de doze vagas, com duas linhas de pesquisa:


“Biblioteconomia, Cultura e Sociedade” e “Organização e Representação do
Conhecimento”. O Mestrado é vinculado ao Centro de Ciências Humanas e Sociais da

Revista Biblioo - 31
UNIRIO, com vista ao aprimoramento e desenvolvimento da formação dos profissionais
em Biblioteconomia.

Aprovação do curso de Bacharelado em Biblioteconomia


modalidade EAD

No dia 29 de outubro de 2012 foi assinado pela presidente do CFB, Nêmora Rodrigues
e pelo professor Jorge Almeida Guimarães, presidente da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), uma parceria para a
implantação do curso de Biblioteconomia à distância no Brasil.

Países da Ásia e Europa, assim como os Estados Unidos, México, Canadá, Venezuela,
Argentina, Costa Rica e Cuba. O curso brasileiro será oferecido via internet e seu
material didático e de apoio será desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). A previsão de início da primeira turma do curso é março de 2013.

Projeto de Requalificação de Bibliotecas Comunitárias

O projeto de extensão Requalificação de Bibliotecas Comunitárias, da Universidade


Federal de Pernambuco (UFPE), com a coordenação da professora do Departamento de
Ciência da Informação da UFPE, Edilene Silva, desenvolve atividades junto às
bibliotecas comunitárias Poço da Panela e Amigos da Leitura.

Com contações de histórias, animações, organização dos acervos, entre outros, o projeto
procura fornecer apoio para as bibliotecas comunitárias trazendo o conhecimento da
Biblioteconomia, como a reorganização dos acervos, catalogação, classificação,
mediações de leitura e toda a dinâmica de uma biblioteca.

Revista Biblioo - 32
COLECIONISMO
E PAIXÃO
GAMES, CDS, HISTORIAS EM QUADRINHOS,
LINGERIE. COLECIONADORES MOSTRAM PAIXÃO
NA GUARDA DE SUAS “PRECIOSIDADES”
por Thiago Cirne

Revista Biblioo - 33
RIO - O que move a paixão pelo colecionismo? Durante séculos o homem tem
guardado com zelo os mais variados itens que lhe remetam a alguma lembrança ou
gosto. Existem aqueles com alto poder aquisitivo, com suas telas milionárias,
armazenadas a sete chaves. Há ainda as inigualáveis esculturas que, de tão valiosas,
mesmo com muitos anos de trabalho não poderiam ser adquiridas.

Paixão adolescente

Conhecido internacionalmente, José Mindlin cultivou a paixão por livros desde os 13


anos de idade. Acumulou cerca de 40 mil obras, muitas delas raras. A vida de dedicação
aos livros lhe rendeu o título de membro da Academia Brasileira de Letras, em 2006.
Sua biblioteca foi eleita a maior (particular) do Brasil.

Recentemente um fã do vídeo game Super Nintendo, febre nos anos 90, colocou à venda
em um site de leilões sua “biblioteca de jogos” pelo valor de US$ 25 mil (cerca de R$
50 mil reais). Com o valor, ele pretendia adquirir a coleção de cartuchos para Super
Nintendo lançados na Europa e no Japão, segundo o site Techtudo. Porém, formar uma
coleção pode ser algo bem democrático, pouco custoso e simbólico.

Alan Muniz, vocalista da banda de rock Ágona, coleciona palhetas de guitarras


adquiridas nos shows, CDs, HQs e materiais de divulgação do seu próprio grupo, como
cartazes e flyers. Para Alan, “a maioria das coisas que são guardadas têm um valor
sentimental”. O cantor de Metal explica ainda que alguns itens representam a
comprovação de um fato: “as palhetas servem como ‘prova’ de que estive no show de
outra banda e participei”.

A sensação de possuir algo físico também é lembrada: “quanto aos HQs e CDs, digo
que gosto de ter o suporte físico”. Perguntado sobre a quantidade de objetos, Alan diz:
“Ainda não contabilizei (risos), mas acho que CDs são uns 300; palhetas tenho umas 10
que eu peguei pessoalmente e HQs são uns 150 entre edições correntes e de luxo; da
banda são cerca de 50 itens entre cartazes, credenciais, etc.”.

Revista Biblioo - 34
HQ: paixão que encanta gerações
Imagem: Divulgação

Vale colecionar de tudo?

A pesquisadora e jornalista Agnes Lutterbach tem um gosto curioso. Ela possui uma
coleção de lingerie e brincos. “Lingerie eu coleciono há pelo menos uns oito anos. São
mais de 200, que eu me lembre. Comecei a colecionar por gostar de me ver vestida com
elas e isso me motivou a querer cada vez mais. Os brincos, desde criança. Sempre gostei
daquelas pecinhas penduradas nas minhas orelhas... Sair sem brincos é como sair nua”.

A experiência de ser um colecionador pode ser uma boa opção para quem deseja
ocupar-se com um hobby ou até mesmo desenvolver algo mais profissional. Seja de
uma forma ou de outra, vale a aventura. Que tal começar a sua?

THIAGO CIRNE é graduado em Biblioteconomia pela Universidade


Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Pós graduando em
Jornalismo Cultural pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), bibliotecário do Centro de Estudos Jurídicos da
Procuradoria Geral do Estado (PGE-RJ), atua em Acervos de Memória e Coleções
Especiais.

Revista Biblioo - 35
QUANDO
FALAR É
PERIGOSO*
por Chico de Paula

Revista Biblioo - 36
RIO - Quando há alguns anos a Anistia Internacional divulgou um relatório apontando o
Brasil como um dos países mais perigosos para o exercício jornalístico, a grande
imprensa se alvoroçou considerando tal afirmação absurda. Entretanto, tal indignação
não encontra acolhida na realidade da prática destes profissionais. Cada vez mais se
torna perigoso falar o que se pensa.

O Relatório 2011 da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) mostra que naquele
ano foram registrados 60 casos de violência contra estes profissionais em todo o
território nacional. Destes, 24 são casos de agressões físicas e verbais, 10 ameaças, 3
atentados, 3 casos de detenção e tortura, 6 assassinatos e 7 de censura e processos
judiciais.

Em relação a este último item, posso dar um depoimento pessoal, uma vez que estou
neste momento sofrendo um processo disciplinar por parte do Conselho Regional de
Biblioteconomia da sétima região (CRB7), tendo em vista minha atividade como editor-
chefe da Revista Biblioo: Cultura Informacional. No dia 21 de dezembro fui
surpreendido com uma Citação na qual se fazia constar faltas disciplinares que por mim
teriam sido praticadas no exercício regular de minhas atribuições como bibliotecário.

A primeira seria a veiculação, em duas ocasiões, de matérias de cunho depreciativo a


profissão e a órgãos e entidades de classe, por meio da publicação de uma charge na
qual um dos personagens se referia à cobrança da anuidade como sendo um assalto e um
editorial no qual eu teria dispensado tratamento injurioso ao CRB e a outras entidades
de classe.

Minhas alegações

Em minhas alegações iniciais por conta de minha defesa prévia, fiz constar que o
Processo faz referência a minha conduta como editor-chefe da Revista Biblioo como
sendo uma conduta típica de bibliotecário, sendo, entretanto, que a função de editor não
caracteriza nem de longe uma atividade bibliotecária. O máximo que se pode atribuir à
atividade de editor de um periódico é a função jornalística, a qual assumo, estando,
portanto, afastada a competência, seja dos Conselhos Regionais ou do Conselho Federal
de Biblioteconomia.

Aleguei ainda que sendo ou não as matérias citadas no Processo disciplinar como sendo
um exercício jornalístico ou biblioteconômico, teria de se reconhecer que as opiniões
manifestadas tanto pela charge, quanto pelo editorial, estão absolutamente dentro dos

Revista Biblioo - 37
parâmetros de livre manifestação de pensamento, como bem me garante a Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988, nos termos que transcrevo abaixo:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e a
propriedade, nos termos seguintes:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
Art. 220 A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e
artística.

Assim como costa da própria Citação, o Processo teria sido motivado por uma denúncia,
a qual o CRB não poderia deixar de averiguar sob risco de contrariar a própria
determinação legal. Até ai tudo bem. O que me surpreende é o fato de que em meses
anteriores ao recebimento da tal Citação, membros desta Autarquia terem se
manifestado em público em relação a essa questão, afirmando em eventos da área de
Biblioteconomia que uma charge criticando a cobrança da anuidade havia sido
publicada por uma Revista (sem citar o nome da publicação), o que poderia gerar
processos contra os publicadores. A Revista Biblioo foi a única a fazer tal publicação.

Tal atitude pode indicar uma determinação de alguns membros desta entidade de mover
processos contra os editores da Revista Biblioo, o que acabou se confirmando quando
tomei conhecimento do Processo que estou sofrendo, levando por terra a afirmação de
que só agiram motivados pela denúncia a qual não poderiam ignorar por determinação
legal.

Aproveito o ensejo para esclarecer que a Revista Biblioo é uma publicação consolidada
na área da Cultura Informacional (estando se encaminhando para a sua 16º edição), com
especial atenção para a Biblioteconomia e as bibliotecas, sendo a publicização e a
divulgação da profissão uma de suas funções. Num país considerado avesso à leitura,
qualquer iniciativa que procure engrandecer as bibliotecas e seus profissionais deveria
ser sempre estimulada e não perseguida.

Revista Biblioo - 38
Outro atentado à liberdade de expressão

Talvez este seja um momento oportuno para solidarizar com o cartunista Carlos Latuff
que foi apontado por uma entidade israelita (Centro de Defesa dos Direitos Humanos
Simón Wiesenthal, sediada em Los Angeles), como sendo uma das dez pessoas ou
organizações consideradas mais antissemitas. Para ilustrar sua posição no seu relatório,
a entidade utilizou charge (mais uma vez ela!) de Latuff que mostra o primeiro-ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, torcendo um cadáver palestino para obter votos
eleitorais.

O que me chamou mais atenção neste caso é o fato da lista ter sido publicada por uma
entidade de "defesa dos direitos humanos", como se estes direitos dissessem respeito a
apenas aos israelenses, empurrando os palestinos para a penumbra do descaso e da
violência que, a propósito, estes se obrigam a viver todos os dias. Ai incluída a
violência simbólica da mídia hegemônica, que insiste em negar a sua (dos palestinos)
luta pelo reconhecimento se sua soberania.

Assim como se tem observado, os direitos humanos se dividem basicamente em duas


vertentes na atualidade: uma de cunho emancipatório (utilizado pelos movimentos
sociais mais progressistas) e uma de cunho imperialista, que é o que parece ser a linha
da referida entidade que acusou Latuff. A exemplo do cartunista, não me surpreendo (ou
pelo menos não deveria) com tais casos, pois isso que se convencionou chamar de
democracia é na verdade uma grande farsa, um arremedo de liberdade, uma "festa pobre
que o homens armaram para [nos] convencer". Vide o que tem acontecido com quem
ousa falar.

Certamente estas minhas palavras repercutirão mais que o necessário. Procurarei estar
pronto quando os desafios chegarem, quando as onças vierem tentar me abocanhar.
Para uma melhor compreensão, veja a charge e leia o editorial.

*O título deste artigo foi inspirado num relatório da Anistia Internacional que denuncia
as restrições à liberdade de expressão em Ruanda.
** Artigo replicado do periódico online Observatório da Imprensa, para ver o original,
clique aqui.

CHICO DE PAULA é editor-chefe da Revista Biblioo.

Revista Biblioo - 39
LIDIA SILVA DE FREITAS
"ME ENCANTAVAM TAMBÉM A S QUESTÕES POLÍTICAS, ECONÔMICA E SOCIAIS"
RIO - Lídia Silva de Freitas profere visões pouco aceitas entre alguns profissionais da
informação, mas que nem por isso deixam de ter o seu valor. Os motivos podem vir de
sua formação acadêmica ou mesmo de sua visão ideológica, sobremaneira alinhada ao
pensamento marxista. Suas grandes preocupações recaem sobre temas que vão dos
lugares de memória à (in)visibilidade do bibliotecário. A propósito, foi sobre este
último tema que a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) tratou no
décimo terceiro Encontro dos Estudantes de Biblioteconomia, Gestão e Ciência da
Informação. "Se ficarmos buscando a atual invisibilidade social e tratando de uma
maneira muito individualizada, acabamos não pegando o que acho fulcral, que é o nosso
lugar nas políticas de memórias", disse ela. Nesta entrevista, Lídia fala um pouco de
suas pesquisas, de suas experiências na área de documentação e de seu encanto pelas
questões políticas, econômicas e sociais.

Chico de Paula: A senhora poderia falar um pouco parabéns pela Revista. Minha trajetória começa na
da sua trajetória acadêmica? graduação de Ciências Sociais que cursei na
Lídia Silva de Freitas: É um prazer conversar com Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ].
a Revista Biblioo. Fiquei surpresa que ela exista há Comecei a trabalhar com documentação no estágio
tantos números e eu ainda não conhecia. Mas que fiz no Museu do Índio com documentação

Revista Biblioo - 40
arquivística do antigo Serviço de Proteção ao Índio demolição do Museu do Índio próximo ao
[SPI]. Depois de cinco anos fui para o Centro de Maracanã?
Documentação do Cadernos de Terceiro Mundo, L. F.: Comecei a estagiar naquele prédio. O que
onde tinha uma documentação sobre os países do acho impressionante é, primeiro, deixar chegar do
terceiro mundo absolutamente inédita no Brasil. O jeito que ficou. O abandono já era uma preparação
mais significativo foi trabalhar com documentação para isso. Uma variável que não colocam no jornal
muito sensível. Eram documentações que garantiam e não é à toa, é que aquele prédio foi criado pelo
o direito à terra ao índio, questões culturais... Então Marechal Rondon para ser o Museu do Índio. Então
cada dia era um de nós que sonhava com o Centro só por isso ele já tinha que ser tombado. A trajetória
de Documentação pegando fogo. Quando comecei histórica daquele acervo e a política indigenista,
a trabalhar no Cadernos de Terceiro Mundo, além aquele prédio foi construído para isso. É
de estar tratando uma documentação bastante impressionante como os jornais focam somente na
importante, tinha uma documentação específica questão arquitetônica, na localização e não fala na
com discussão política sobre o papel da informação trajetória histórica do prédio.
na sociedade nos dias de hoje e disputas
internacionais sobre informação. Ao mesmo tempo C. P.: E as políticas públicas em relação a questão
em que me encantava trabalhar com documentação, indígena, elas têm sido observadas pelo governo ou
me encantava também as questões políticas, existe um descaso em relação a isso?
econômicas e sociais que envolviam aquele L. F.: Um descaso completo. A não demarcação
trabalho com a documentação e com a informação das terras a não ser quando se torna um escândalo,
em geral. É engraçado que dois anos depois de isso é uma das decepções desse governo. A questão
terminar a graduação eu voltei para fazer o agrária como um todo, além da questão indígena
mestrado na primeira turma do mestrado de estão em um ritmo que não se esperaria para esse
Ciências Sociais da UFRJ. Estava muito insatisfeita governo. É mais uma decepção sobre isso. Agora na
porque ninguém queria trabalhar questões do meu nossa área acho muito interessante a discussão
interesse, que era exatamente documentação e quando trabalham com bibliotecas de populações de
informação. Quando soube que existia o mestrado oralidade, que é a discussão de constituição de
do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e acervo, de formas. Até que ponto é uma violência
Tecnologia (IBICT), larguei o mestrado de Ciências simbólica ou não à educação comum, a forma como
Sociais e fui fazer em Ciência da Informação é feito nos grupamentos indígenas. Acho muito
porque estava me interessando e me apaixonei até importante, inclusive algumas listas que, de vez em
hoje. Dou aula na Universidade Federal Fluminense quando, levantam questões sobre qual é o trabalho
[UFF] para essa área há vinte anos e trabalhei treze do bibliotecário entre os índios. Não tive tempo de
anos como documentalista. me aprofundar como gostaria, mas já visualizei
algumas discussões interessantes.
C. P.: Uma das coisas que mais sensibilizou a
senhora na trajetória acadêmica foi a questão do C. P.: Agora falando especificamente do assunto
índio. Como a senhora tem visto a possibilidade de que a senhora proferiu na palestra aqui na UFF
por conta do Encontro Regional dos Estudantes de

Revista Biblioo - 41
Biblioteconomia, Documentação e Ciência da ou informação empresarial, sem jamais ter passado
Informação (EREBD). Quais as informações e por uma ampliação real da base dessa memória que
aspectos importantes a senhora destacaria a trabalhamos e não é á toa. O vizinho não vai saber
respeito do trabalho que apresentou? mesmo e não é para saber.
L. F.: Se ficarmos buscando a atual invisibilidade
social e tratando de uma maneira muito C. P.: E as instituições? Sobretudo as
individualizada, acabamos não pegando o que acho universidades, elas têm formado os profissionais
fulcral, que é o nosso lugar nas políticas de com uma visão mais crítica ou isso ainda é muito
memórias, tanto para quem nos emprega, quanto deficiente?
para os usuários ou especialmente os não usuários, L. F.: Eu temo que ainda não esteja com uma visão
aquele que a cultura dele não está ali, sua memória crítica. Um ou outro pesquisador, um ou outro
não está ali. Então é esse lugar nas políticas de professor, que é muito claro no Brasil quem são eles
memória que explica essa invisibilidade. Acredito e louvo muito essas iniciativas. Mas o discurso
que não tem solução pela via individual ou de uma dominante... A minha análise do doutorado e as
mudança de comportamento. Faço aquela pesquisas que eu sigo sobre os discursos que
provocação horrorosa: “como ele é dinâmico, nem dominam nossa área efetivamente são os discursos
parece bibliotecário!”. Ou o marketing profissional, do apagamento da cultura em geral e o discurso que
que realmente as profissões - que está muito claro a não acho que vai somar para nossa visibilidade.
sua função social - não precisam de nenhum Acho que vamos acabar ficando com o colarinho
marketing profissional, todo mundo está vendo. Se cada vez mais azul.
nós trabalhássemos também com memória da C. P.: Qual a importância dos estudantes terem
população, com a cultura popular além das outras tomado a iniciativa de discutir essa questão?
que já trabalhamos, não haveria dúvida de qual L. F.: Achei ótimo. Fico superemocionada. Acho
seria a função social desse profissional. uma homenagem incrível. Os estudantes e alunos
nem fazem ideia do diploma que recebi com esse
C. P.: Essa iniciativa de cunho mais individual não convite. Inclusive acho que esse encontro deveria
é a solução. Então qual seria a solução? ter sido mais apoiado pela UFF, porque são os
L. F.: Essa análise política de qual é o lugar nas estudantes que podem fazer uma reflexão mais
políticas de memória desse profissional. Acho que é independente e levantar questões que não estão
uma reflexão sobre a sua técnica: estar a serviço do cristalizadas. Eu fico muito emocionada.
que? Que outros graus de liberdade decisória ele
poderia ter? E que política de memória é essa que
ele está trabalhando? Que saímos refletidamente do
monopólio da cultura erudita, para agora a cultura

CHICO DE PAULA é editor-chefe da Revista Biblioo.

Revista Biblioo - 42
COLUNA DO
AGULHA implementar e gerenciar sistemas de informação,
além de preservar os suportes (mídias) para que
resistam ao tempo e ao uso.
Agulha3al é um boneco de retalhos. Costurado por
sinestesia de leituras, vivências, olhares, toques e Contudo, a maioria das pessoas (bibliotecários ou
distração. Tão distraído que esquece de pessoas não) agem de uma forma improdutiva no seu dia a
que foi apresentado ontem... esquece objetos,
dia, esquecem de anotar tarefas, perdem tempo
lugares, e na maioria das vezes até como deve agir
procurando objetos, gastando tempo precioso
corretamente... A maior contradição é ser Anthony
buscando dados no computador. Procurar música
Lessa, e ainda atende pelo apelido de José
em uma playlist é uma agonia, tudo reflexo da falta
Antonio, Zé e Toinho.
de organização.

LIBERTE O BIBLIOTECÁRIO Sua vida é como uma imensa biblioteca e para a

QUE HABITA EM VOCÊ informação estar disponível no momento que você


a pesquisa, seja na mente ou nos seus arquivos (hd)
A MAIORIA DAS PESSOAS (BIBLIOTECÁRIOS OU NÃO)
externos, dependerá em grande parte de como você
AGE DE UMA FORMA IMPRODUTIVA NO SEU DIA A DIA, processa e cataloga essa mesma informação em
TUDO REFLEXO DA FALTA DE ORGANIZAÇÃO seus diversos suportes.

Feliz 2013! Como anda sua vida? Espero que nesse


Sobre a desorganização
ano você consiga alcançar algumas das suas metas.
Esse artigo é voltado para quem é desorganizado e
As principais causas da desorganização são:
está ou não ligado ao mundo biblioteconômico.
Espero que, ao final dele, o(a) bibliotecário(a) que
 O “gene da bagunça” pode ser herdado por
habita em você possa sorrir agradecido.
quem viveu entre gente desorganizada, em um
ambiente desarrumado e desestruturado ou sem
O bibliotecário é um profissional que trabalha
rotinas.
como um administrador de dados, que também
processa e dissemina a informação. Além de
 Autoimagem. Exemplo: quem é
catalogar e guardar as informações, ele orienta sua
perfeccionista espera ter a condição perfeita para se
busca e seleção. Cabe-lhe analisar, sintetizar e
organizar e tende a adiar ou evitar continuamente
organizar livros, revistas, documentos, fotos,
tarefas que considere mais desafiadoras (na maioria
filmes e vídeos. É de sua responsabilidade planejar,
das vezes, o indivíduo não tem consciência de que

Revista Biblioo - 43
o comportamento é resultado das crenças a respeito Organizando a rotina e sendo mais
de si mesmo). produtivo

 Procrastinação simplesmente. Aqui listo 10 passos fundamentais para a boa


organização do seu tempo, das suas coisas e da sua
Existe um nível tolerável de bagunça: quando essa vida em geral.
não atrapalha a realização de suas metas, a dar
conta dos afazeres do dia a dia (em casa, na escola, 1) Planejar e revisar sempre
no trabalho e no lazer) e a se relacionar com o Uma hora de planejamento pode economizar até 8
outro, quando não atrapalha a vida das pessoas horas de trabalho. Criar o hábito de planejar, saber
com quem convive. o que está fazendo agora, para onde deve ir e
revisar o progresso faz toda a diferença.
Convenhamos: um pouco de bagunça não faz mal a
ninguém. Essa, aliás, é a opinião de pesquisadores 2) Tenha uma agenda organizada
que defendem que uma certa desorganização faz Anote todas as tarefas, compromissos e lembretes
mesmo parte da vida. Mas o fato é que um mínimo na agenda, que deve ser o mais importante
de organização em casa e no trabalho é essencial instrumento de trabalho. Mantenha a agenda
para um cotidiano sem muitos tropeços. sempre a seu lado todo o tempo. De preferência,
utilize um smartphone, um dos mais eficientes
Os benefícios vão muito além de uma mesa de recursos para a organização pessoal. É importante
trabalho apresentável ou uma casa com tudo em também planejar a semana na agenda e depois
seu devido lugar. Mais organização é o mesmo que fazer revisões diárias. Isso vai ajudar a diminuir o
mais tranquilidade, mais tempo, menos estresse, stress e melhorar a performance no trabalho.
menos transtornos em geral, mais credibilidade. E
até mais dinheiro garante. Se nada disso convencer 3) Mantenha um arquivo organizado
os bagunceiros a tomar jeito, a organização Encontrar dados, anotações, papéis e documentos
também ajuda a tornar os relacionamentos mais fácil e rapidamente é fundamental para quem não
civilizados e prazerosos. Afinal, são poucos os que quer perder tempo e dinheiro. Crie um sistema que
topam conviver com quem não se incomoda com o funcione bem pra você, com categorias claras e
caos. objetivas.

4) Mantenha seu espaço de trabalho organizado


Procure manter sua mesa, gavetas, arquivos e
armários limpos e organizados. Entenda que a

Revista Biblioo - 44
bagunça é um grande ladrão de tempo. produtividade. Se você não encontra suas coisas,
pode ser porque não tem um espaço limpo e
5) Mantenha seu computador organizado organizado para trabalhar, ou você está estressado
Organize sua caixa de entrada de e-mails e procure com a bagunça e isso pode detonar sua
mantê-la sempre vazia. Tenha seu desktop limpo, produtividade. Programe um dia (ou horários em
seus arquivos corretamente nomeados e suas pastas dias específicos) na sua agenda para organizar sua
bem categorizadas. Manter o computador mesa e suas coisas. O investimento vai valer a
organizado pode garantir uma grande economia de pena.
tempo e aumentar a produtividade.
9) Use a tecnologia a seu favor
6) Não tente ser um faz tudo Defina que tecnologias são necessárias para o bom
Não tenha o hábito de fazer várias coisas ao andamento do seu trabalho. Algumas podem ser
mesmo tempo. Isso diminui a eficiência na obrigatórias, como um bom computador de mesa
realização das tarefas. É importante manter o foco ou notebook e conexão básica de Internet. Outras
e a concentração em uma tarefa de cada vez para podem ser desejáveis, como uma conexão banda
ganhar qualidade e produtividade. Se puder delegar larga de alta velocidade e um smartphone
algumas tarefas, delegue. adequado, pois podem melhorar a sua
produtividade. Tudo vai depender do tipo de
7) Defina prazos e alarmes atividade.
Há várias formas de utilizarmos prazos e alarmes
para nos ajudarem a lembrar das coisas ou a não 10) Organize-se para trabalhar em casa
perdermos compromissos. Se você tem tendência a Quando você trabalha em casa, na maioria das
iniciar projetos, mas se distrai com facilidade, vezes seu maior desafio em manter-se organizado e
alarmes podem ser uma grande ajuda. Quando gerenciando seu tempo é convencer a todos ao
começar um projeto ou tarefa, defina um tempo e redor de que você está trabalhando. Uma posição
coloque um alarme, por exemplo, para 25 minutos. firme é essencial. Não tente assumir seu papel de
Se o alarme tocar e você ainda estiver trabalhando pai ou mãe e de profissional ao mesmo tempo.
no projeto, ótimo! Se não está, o alarme vai te Tenha o material necessário para desenvolver seu
ajudar a lembrar que deve voltar para a tarefa. trabalho e o armazene estrategicamente em sua
Mantenha a configuração do temporizador a cada mesa ou em um armário próximo, de forma a
15 minutos até que você termine o trabalho. facilitar a sua vida e economizar o seu tempo.

8) Acabe com a bagunça


A desordem é uma das principais barreiras de

Revista Biblioo - 45
COLUNA DO
JONATHAS CARVALHO
MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO NA
BIBLIOTECA ESCOLAR
PERSPECTIVAS IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS Jonathas Carvalho é professor do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do
Partilho da ideia de ser a mediação um dos temas Ceará - Campus Cariri. Mestre em Ciência da
mais instigantes, transversais e produtivos no Informação pela UFPB. Doutorando em Ciência

âmbito da pesquisa e da prática profissional na da Informação pela UFBA. Atua nos seguintes
segmentos: epistemologia e pesquisa em
Ciência da Informação e Biblioteconomia.
Biblioteconomia e Ciência da Informação;
mediação e estudos de usuários da informação;
Entendo que a mediação da informação aplicada
bibliotecas escolares, comunitárias e públicas;
em qualquer centro de informação se justifica por
fundamentos sociais, políticos, éticos e
dois fatores fundamentais: o primeiro é a
profissionais aplicadas a Biblioteconomia.
apropriação da informação que é inerente ao
processo de produção/disseminação da informação, Os estudos quantitativos, embora padeçam de
e o segundo é a conotação de interferência que é muitas críticas, ainda são razoavelmente utilizados
inerente aos procedimentos de como a informação em pesquisas e práticas profissionais, visando
será destinada ao usuário. saber sobre o uso (ou a freqüência de uso) do
acervo (ou parte dele) de um centro de informação,
Considero que, entre os diversos centros de assim como sobre a facilidade do uso do acervo e
informação, a mediação da informação pode e deve ainda sobre a possibilidade de planejamento das
ser amplamente pensada e aplicada no âmbito da ações e serviços do centro de informação.
biblioteca escolar. A mediação da informação na
biblioteca escolar possui múltiplas vertentes em Já os estudos qualitativos se inserem em uma
seu contexto de aplicação, especialmente em perspectiva marcadamente voltada para o
caráter técnico e pedagógico. paradigma cognitivo que busca conceber
estratégias para satisfação das necessidades de
Desse modo, como subsídio teórico-bibliográfico, informação. É a partir da década de 1980 que os
a reflexão de Almeida Júnior (2009) é salutar para estudos qualitativos se destacam a partir da criação
pensar a mediação da informação quando a divide de metodologias, tais como:
em implícita - ocorre nos espaços dos
equipamentos informacionais em que as ações são - modelo de informação com valor agregado de
desenvolvidas sem a presença física e imediata dos Taylor: os processos de seleção, análise e
julgamento podem transformar um dado em

Revista Biblioo - 46
informação útil. Essa informação poderá ser
empregada para esclarecer, informar e contribuir Contudo, um dos desafios mais relevantes dos
em relação ao crescimento pessoal, cultural e afetar estudos de usuários da informação é desenvolver a
as decisões e ações pessoais do usuário de um perspectiva do paradigma social da Ciência da
sistema de informação; Informação, visando constituir novas perspectivas
para o acesso, uso e apropriação da informação.
- Sense Making de Brenda Dervin: se ocupa da Acredito que o grande fundamento dos estudos de
necessidade de fazer sentido sobre determinadas usuários da informação está centrado na autonomia
ações e práticas da vida a partir de práticas dos usuários entendendo essa autonomia a partir de
cognitivas de interpretação dos problemas, um usuário consciente de suas perspectivas e de
estratégias para solução de problemas e construção uma prática que estimule o usuário de forma
de conhecimentos e como reiniciar as dialógica e não prime por um construto arbitrário,
possibilidades para solução de novos problemas; impositivo e negociador, já que é o usuário o
elemento ontológico que vai estabelecer a
- Modelo de Kuhlthau: observação do processo da informação quando de sua apropriação.
busca da informação prevê etapas como o início Desse modo, apresento algumas atribuições dos
(acontece quando o usuário sente a falta de uma estudos de usuários da informação, visando pensá-
informação para a solução de um problema), los no âmbito do paradigma social:
seleção (o usuário seleciona a informação mais
relevante para resolver seu problema, nesta fase os a) o estudo de usuário deve incentivar ao usuário
sentimentos de incerteza e otimismo são comuns), da informação escolhas em diversos contextos do
exploração (estratégias para lidar com as incertezas uso da informação (acervo e serviços oferecidos,
e os problemas enfrentados) e formulação (os assim como as formas/suportes de utilização);
sentimentos de incerteza diminuem e a
compreensão aumenta, ficando mais clara a b) o estudo de usuário não precisa ser
resposta para questão inicial). necessariamente formal (questionário, entrevista,
grupo focal, técnica de Delfos, técnica do incidente
Em suma, diante das categorias apresentadas é crítico, entre outras), mas deve primar pelo diálogo
possível definir algumas finalidades dos estudos de constante com os usuários, assim como pela
usuários: identificação de necessidades de observação das atitudes dos usuários;
informação; avaliação dos serviços de informação;
planejamento das ações e serviços do centro de c) o estudo de usuários deve ter como um dos
informação; satisfação dos usuários da informação; pontos centrais a preocupação em trabalhar
avaliação e uso do acervo. assuntos do cotidiano dos usuários, visando afirmar

Revista Biblioo - 47
o centro de informação como instrumento do dia-a- assistência legal, juizados, tribunais, prisões,
dia do usuário. Em outras palavras, os estudos de serviço de assistência gratuita, projetos públicos,
usuários no contexto do paradigma social serviços públicos de pagamento como gás, luz,
apresentam uma tarefa árdua na transformação de água, telefone, etc., sindicatos, como tirar
não-usuários/usuários potenciais (parecem ser a documentos de identidade, CPF, título de eleitor e
maioria na realidade brasileira) em usuários outros, segurança, telefones úteis como bombeiros,
efetivos; emergências, polícia, imprensa local); Trabalho
(agências de emprego e estágios, oportunidades de
d) como complemento do ponto anterior, é empregos, cursos e eventos de qualificação
pertinente observar que o centro de informação tem profissional, etc.), além de outros assuntos
funções muito relevantes de acesso à informação, referentes à realidade cotidiana dos usuários.
especialmente que contemplam o incentivo a
construção do conhecimento. Todavia, essas Finalmente, observo que os estudos de usuários da
funções parecem ser muito estanques, de modo que informação demandam com urgência um novo
há a necessidade do desenvolvimento de estratégias olhar voltado para a transformação social dando
para atrair o usuário, assim como não autonomia para o usuário da informação
necessariamente os serviços oferecidos se adéquam definir/decidir aquilo que considerar pertinente,
as necessidades dos usuários. Desse modo, o centro pois os estudos de usuários da informação no
de informação precisa desenvolver atividades que âmbito do paradigma social buscam transfigurar o
façam parte do cotidiano do usuário, atraindo-o e centro de informação em múltiplos contextos,
estabelecendo diálogos e construções coletivas e espaços e suportes a fim de que esteja inserido no
plurais, como questões de saúde (informações cotidiano geral dos usuários e não apenas seja um
sobre saúde pública, higiene, prevenção de espaço formal em que os usuários visitem por
doenças, exercícios físicos, além de informações formalidade, exigência ou atividade turística. Sem
sobre hospitais públicos, particulares, postos de dúvidas, a dinâmica do paradigma social é o
saúde, ambulâncias, farmácia popular, farmácias grande desafio dos centros de informação, sendo os
particulares, laboratórios, SUS, clínicas, unidades estudos de usuários um grande instrumento para
sanitárias, academias populares, academias enfrentamento e construção de sentidos desse
particulares, etc.); Cultura e lazer (agenda cultural, desafio.
calendário de eventos, cinemas, teatros, museus,
centros e espaços culturais, salas de exposições,
galerias de arte, estádios, órgãos ligados ao
esporte); utilidade pública (assistência social ao
menor, à mulher, ao idoso e etc., associações,

Revista Biblioo - 48
COLUNA DA Informação – ABRAINFO, postado pela
SORAIA MAGALHÃES bibliotecária Cristiane Kelly Fernandes que, em
tom de desabafo, apontava sua decepção diante das
Soraia Magalhães nasceu em Manaus, Amazonas. providências da nova secretária de educação do
Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia. município de Conde, na Paraíba, que optou por
ceder o espaço reservado à biblioteca, para atender
Participa do Núcleo de Estudos e Pesquisas das
as necessidades da guarda municipal, sob a
Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB). É
alegação de que segurança era mais importante que
Bibliotecária voluntária do Instituto Ler para
educação.
Crescer e editora do Blog Caçadores de
Bibliotecas. O incidente é horroroso, mas torná-lo público pode
nos levar a refletir a situação de instabilidade por
que passam as bibliotecas públicas brasileiras,
E OS NOVOS PREFEITOS TOMAM especialmente nesse momento de mudanças

POSSE quando gestores pouco qualificados passam a olhar


esses ambientes como espaços sem representação
COMO FAZÊ-LOS ENTENDER A IMPORTÂNCIA DAS
para o desenvolvimento das cidades.
BIBLIOTECAS PÚBLICAS NOS MUNICÍPIOS
BRASILEIROS?

Em quase todo o Brasil tomaram posse no dia 1 de


janeiro de 2013 os novos representantes eleitos
para administrar os 5.565 municípios do país. Digo
em “quase todas” por conta dos casos em que os
candidatos não assumiram em virtude de questões
legais. Em outros termos: ficha suja.

Sendo ano novo (momento em que sonhos recebem Fachada da Biblioteca Nhamundá – AM
reforços) e em vista da renovação dos gestores,
creio que seja momento mais que propício para Outro aspecto que contribuiu para que optasse por
iniciar um trabalho efetivo no tocante a gerar essa temática decorreu da pesquisa que venho
informações sobre a importância das bibliotecas, realizando nos municípios do Amazonas (no ano
especialmente as públicas e o seu efetivo papel no de 2012 visitei 22 municípios), onde pude
plano de desenvolvimento das cidades. entrevistar gestores de diferentes níveis de
escolaridades e, em muitos casos, perceber que a
Minha inquietação sobre o tema foi motivada pela maioria desconhece o que vem a ser uma biblioteca
ocorrência de uma informação publicada no dia 3 pública (não fazendo distinção entre pública e
de janeiro de 2013, no Facebook, no grupo da escolar) e concebendo como tal, espaços que se
Associação Brasileira de Profissionais de restringem a depósitos de livros.

Revista Biblioo - 49
O bom é que existem pessoas que não se calam
Então, diante do exposto, pergunto primeiramente, diante de irregularidades e foi o que aconteceu com
a quem devemos recorrer quando da incidência de a bibliotecária Cristiane Kelly que, após conseguir
bibliotecas em situação de risco? Além disso, um edifício mais adequado para a biblioteca
penso que devemos iniciar uma discussão visando pública de sua cidade e ao saber da inviabilidade
buscar parâmetros que evidenciem a instituição de utilização do espaço, não se conformou e
biblioteca pública como espaço de democracia e indagou por meio das redes sociais, onde estariam
ambiente propício ao exercício de cidadania nos os CRBs, Associações de Profissionais, Biblioteca
meios de comunicação de massa. Uma grande Nacional, MEC, MinC etc. para que pudessem
campanha nacional mostrando o que consiste de ajudá-la diante da situação.
fato uma biblioteca pública seria interessante. É
importante que busquemos uma saída para que a Creio que dos órgãos listados por Cristiane, o
instituição biblioteca pública passe a ser vista, organismo mais adequado a recorrer seria a
reivindicada e querida como instituição Biblioteca Nacional, nesse caso, mais
fundamental e necessária no ambiente das cidades. especificamente o Sistema Nacional de Bibliotecas
Públicas – SNBP que, criado desde 1992, tem
como objetivo principal o fortalecimento
das Bibliotecas Públicas do país.

O SNBP, no ano de 2012, imprimiu esforços no


sentido de fortalecer o cadastro nacional de
bibliotecas em todo o território nacional, contudo,
dada às dimensões geográficas o Sistema ainda não
apresenta dados consistentes e em se tratando do
norte do país, deixa muito a desejar. O cadastro é
Biblioteca Pública de Nhamundá – AM feito por meio de tecnologia à distância...

Outros setores que atuam em parceria com o SNBP


Bibliotecas públicas em situação e poderiam contribuir na promoção das bibliotecas
de risco, a quem recorrer? públicas nos municípios seriam as Coordenações
Estaduais de Bibliotecas Públicas, presentes em
Somos cientes de que existem inúmeras bibliotecas todos os estados. Não sei como atuam, mas aqui no
públicas no país em condições desfavoráveis, Amazonas gostaria muito de ver um relatório das
algumas inclusive em reformas intermináveis, ações realizadas por essa regional no decorrer do
como a Biblioteca Pública Estadual do Amazonas, ano de 2012. Será que estes são encaminhados ao
fechada desde 2007 para reforma. Apesar disso, SNBP?
não sabemos a quem recorrer numa instância maior Quanto à pergunta de partida, ou seja, a quem
para buscar solução para o problema. recorrer em casos de irregularidades, creio que, de
forma emergencial às redes sociais que mais

Revista Biblioo - 50
rapidamente apontam apoio moral diante das ou seja 99% das cidades brasileiras, tem pelo
barbaridades empreendidas e ao colocar em xeque menos uma biblioteca pública (municipal, estadual
o posicionamento dos gestores, oferecem ou comunitária)”.
condições para que a situação seja minimizada ou
até mesmo resolvida. O problema é que muitas dessas bibliotecas
funcionam em espaços inadequados, com acervos
defasados e sem oferecer serviços que atraiam a
Bibliotecas públicas no Brasil... atenção de usuários, tendo em vista que até
Como estão? serviços de empréstimos de livros domiciliares (em
alguns casos) são inexistentes. Nestas
A segunda edição do livro Biblioteca Pública: circunstâncias, as bibliotecas são observadas não
princípios e diretrizes, publicado em 2010 pela só pelos gestores, mas até mesmo pelos cidadãos
Fundação Biblioteca Nacional, apontou que o como espaços desnecessários.
Brasil possuía naquele período 5.187 bibliotecas
públicas, em sua maioria dirigida por leigos. A Sendo assim, é fácil constatar que a imagem da
informação era proveniente da primeira grande biblioteca pública no Brasil (salvo algumas
pesquisa sobre as bibliotecas públicas no país, exceções), continua marcada como espaço para
realizada em 2009 pela Fundação Getúlio Vargas, guarda de livros em ambiente dedicado as práticas
que apontou como resultado que “em 4.905 de leituras silenciosas e em muitos casos com
municípios foram realizadas visitas in loco para a pessoas sem qualificação para tratar com o público
investigação sobre a existência e condições de ou oferecer serviços que vão além do empréstimo
funcionamento de BPMs. Os 660 municípios de livros. Essa imagem inviabiliza a atenção dos
restantes, identificados sem bibliotecas em 2007 e gestores para as necessidades reais que uma
2008 e que foram atendidos pelo Sistema Nacional biblioteca pública deva possuir, com investimentos
de Bibliotecas Públicas e o Programa Mais Cultura que vão muito além de uma acanhada sala com
com a instalação de BPM, foram pesquisados por alguns volumes.
meio de contato telefônico”.
Por esse motivo são muito mais valorizadas pela
Infelizmente essa pesquisa deixou praticamente de população as construções de praças ou centros de
fora a região norte. Além disso, uma avaliação que convivências ou até mesmo arenas reservadas para
mede a instituição biblioteca pública por meio de a realização de shows... Muitas pessoas
contato telefônico gera pouca credibilidade nos desconhecem a existência de bibliotecas públicas
resultados. dinâmicas e atraentes, creio mesmo que muitos dos
próprios prefeitos jamais entraram em alguma
O Brasil possui um Plano Nacional de Cultura assim...
(PNC) com uma série de metas a serem alcançadas
em todo território nacional até 2020. A edição do No plano legal, tramita em caráter conclusivo, o
Plano de Metas produzido pelo Ministério da Projeto de Lei 3727/12, que inclui entre os
Cultura apontou em 2012 que “hoje 5.510 cidades, princípios do ensino, previstos na Lei de Diretrizes

Revista Biblioo - 51
e Bases da Educação Nacional (9.394/96), a julgar aqueles que não sabem o que fazer e
presença de pelo menos uma biblioteca pública em criarmos oportunidades para a aproximação sobre o
cada município brasileiro. assunto?

A lei quando promulgada poderá gerar garantia de Proponho uma grande campanha, utilizando para
existência para as bibliotecas. Contudo, na visão isso inclusive ações que estão dando certo em
geral da maioria, criar bibliotecas é disponibilizar outras cidades brasileiras, com slogans do tipo
espaço para guardar livros e pronto. Mais do que “Minha cidade tem biblioteca e a sua?”
espaços físicos e livros, as bibliotecas públicas
precisam de pessoas e serviços.

Penso que é preciso iniciar um trabalho visual em


nível nacional em prol das bibliotecas públicas,
esclarecendo suas potencialidades e os ganhos que
uma sociedade pode obter com seus recursos. Uma
campanha com adesão dos CRBs, Associações de
Profissionais da Informação, Biblioteca Nacional,
MEC, MinC, bibliotecários, artistas, historiadores,
amantes dos livros e das bibliotecas. Um exemplo a ser seguindo: Biblioteca de Manguinhos – RJ

O importante é começarmos algo que evidencie o


tema. Brasileiro gosta muito de seguir ações que
estão dando certo, que estão na moda. Então não
seria lindo se pudéssemos influenciar prefeitos a
criar boas bibliotecas ou estruturar melhor às já
existentes? Assim, com bibliotecas ativas, esses
espaços se tornariam elos tão fortes que em casos
de decisões arbitrárias, todos se mobilizariam em
prol de sua existência.

Mais informações nos links abaixo:


Biblioteca Pública de Niterói – RJ
Primeiro Censo Nacional de Bibliotecas Públicas
Acredito que os novos gestores (talvez boa parte Municipais.
desses), tenham o desejo de oferecer o melhor para Projeto de Lei 3727/12
as suas cidades. Muitos, porém, desconhecem o As Metas do Plano Nacional de Cultura
sentido ideal de uma biblioteca pública. Até
mesmo nós bibliotecários, aprendemos isso
somente quando sentamos nos bancos das
universidades. Então não seria hora de pararmos de

Revista Biblioo - 52
No conto do Machado, uma agulha, orgulhosa de sua
COLUNA DA função (porém nada humilde), começa a criticar um
CLÁUDIO RODRIGUES carretel de linha, dizendo que a linha está cheia de si,
toda enrolada, achando que é alguma coisa. Começam a
Cláudio Rodrigues é maranhense e mora no Rio
brigar, a discutir, a medir forças. A agulha se acha mais
de Janeiro. Mestre e doutor em Teoria Literária,
importante do que a linha, que chama a companheira de
dá aulas para a EJA; escreveu os livros Um rei que
orgulhosa. A linha diz que cose os vestidos, e a agulha
virou lenda (2009), Cirandeira do Menino-Deus
argumenta, dizendo que a outra só faz isso porque o
(2009), e O encontro do Corvo inglês com o
caminho foi aberto por ela antes. Eis que a costureira
Urubu brasileiro na terra do sol inclemente (2012),
interrompe a briga quando pega as duas e se põe a
geralmente colocados na prateleira dos
trabalhar. No final da história, a agulha arrogante volta
infantojuvenis, mas voltados para o leitor de todas
para a caixinha de costura e é a linha quem vai para o
as idades.
baile no vestido da baronesa.

A LITERATURA APLICADA À VIDA


Superação, garra, luta: aprendamos
SOBRE AGULHA, LINHA E CERTO SAPATINHO DE
com esses exemplos
CRISTAL

No início de mais um ano, quero refletir a partir de dois Esse apólogo parece muito com aquela turma de
símbolos que escolhi para presentear uma turma que me formandas, todas mulheres, todas sofridas, todas
escolheu para paraninfo da conclusão do Ensino Médio esperançosas, todas cheias de desejos. A palavra que elas
na escola Sagrado Coração de Maria, Copacabana, onde escolheram para tema de sua formatura foi “superação”.
sou professor de Português e Literatura na EJA. E têm razão, pois superaram muitas coisas. Deixaram de
agir como a agulha e a linha quando perceberam que
Minha reflexão, é óbvio, parte daquilo que sei fazer, que somente juntas podiam ser capazes de ir ao baile.
é dar aulas. Pensei em conduzir os presentes numa aula Perceberam que não adianta pensar como a agulha, que
de literatura. Então lembrei de dois textos. O primeiro foi fura o pano e vai na frente; nem como a linha, que une os
escrito por Machado de Assis e se chama “Um apólogo”. pedaços do tecido. É preciso trabalhar em conjunto para
A expressão “fazer apologia” é geralmente utilizada de que o vestido fique pronto e lindo. Para que percebessem
forma negativa. Fazer apologia significa engrandecer, que a união é que faz a força, foi preciso ouvir broncas de
valorizar uma atitude, seja ela boa ou ruim; e apólogo muita gente que naquela noite as aplaudiam, em especial,
consiste num tipo de texto cujos personagens são objetos os professores. Depois de terem superado essas
e têm características humanas: falam, pensam, brigam, desavenças e permitido que nós conhecêssemos sua vida,
choram, aprendem... No final, o apólogo apresenta uma o sofrimento, as dificuldades, os problemas por que
moral, uma lição. passaram, foi mais fácil aceitar nossas palavras.

Revista Biblioo - 53
E pedi àquelas mulheres que, onde estivessem, depois que a BBC de Londres passou a divulgar seus
dignificassem o ensino que nós lhes pudemos oferecer. textos. Em outubro, a menina foi baleada num atentado,
Pedi que levassem também nossas angústias, nossas junto com outras duas crianças. E hoje está na Inglaterra
esperanças, nossas alegrias e nossas tristezas e fossem para recuperação.
arautos disso. Pedi que dissessem à sociedade que nós, os Assim como essa menina, que só quer estudar, a muitas
professores, precisamos ser mais valorizados, precisamos de nossas alunas foi negado esse direito no tempo
ser tratados como profissionais, porque ser professor é propício. Mas elas não desistiram. Superaram as
uma profissão, não é sacerdócio, não é vocação, não é dificuldades e hoje estão prontas para o baile da baronesa
uma doação gratuita. É uma profissão! Se muitas vezes do conto de Machado de Assis. Como símbolo disso,
somos pais e mães para nossos alunos, se às vezes desse momento, dei-lhes dois presentes: um carretel de
agimos como psicólogos ou médicos, ou sacerdotes, é linha com uma agulha presa e um sapatinho de cristal.
porque temos certeza da lacuna que há na sociedade. Aí, Do carretel e da agulha já falei (uma referência ao texto
nós tentamos preencher. Lembrei que, como do Machado); o sapatinho de cristal lembra outro texto: a
profissionais, também erramos, nos alteramos, nos gata borralheira, ou melhor, a Cinderela, que, por
impregnamos de incertezas. Porque não podemos encanto, ganha roupa e sapatos para ir ao baile no palácio
separar o humano que há em nós e que nos cumula de sendo vista pelo príncipe, que se apaixona e casa-se com
fragilidades. Como nossos alunos, também tentamos o ela, tirando-lhe do sofrimento imposto pela madrasta.
tempo todo nos superar.
Mas lembrei que essa história de príncipe encantado já
Aquela turma que se formou em dezembro foi a última era, uma vez que a mulher atual não precisa do homem
da Educação de Jovens e Adultos formada apenas por para ser. E aquele sapatinho de cristal simbolizava isso, a
mulheres naquela escola. A partir de 2012, depois de 35 autonomia que a mulher deve ter para vencer, sem a
anos do curso, passamos a receber homens neste ilusão de que a felicidade só virá quando encontrarem
segmento. Um avanço, sem dúvida, na inclusão, que é o sua cara-metade. Ilusão porque cada ser é pleno, não é
que como a EJA deve ser. uma banda, uma metade, e, portanto, a felicidade não
virá somente por causa do outro, da união com o outro.
O estudo certamente mostra que homens e mulheres
Uma justa homenagem devem ser autônomos. O resto é conto de fadas.

As formandas escolheram o nome MALALA


YOUSAFZAI como símbolo de sua força. Malala,
aquela menina paquistanesa que enfrentou o regime Um abraço novamente às minhas
talibã que havia fechado escolas no país e impedido que alunas (agora ex-alunas) e um
mulheres pudessem voltar à escola. Malala continuou excelente 2013 aos leitores da
estudando escondida, enquanto publicava num blog Biblioo.
protestos contra seu regime, que alcançou notoriedade

Revista Biblioo - 54
COLUNA DA
JANDA MONTENEGRO
abordar alguns temas delicados para a juventude, muitos
dos quais protagonizados pela personagem Susana, que
Janda Montenegro é carioca e trabalha como joga no time de vôlei da escola e cuja mãe não é muito a
coordenadora numa empresa de traduções. favor de que ela siga por este caminho. Ela então tem
Formada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em que lidar com a angústia de ter uma ambição e querer
produção editorial, é produtora, idealizadora e aproveitar uma grande oportunidade, mas, para tal, ter
que enfrentar os pais para conquistar seu merecido
mediadora do projeto "Nós, Autores" em parceira
prêmio.
com a Saraiva e autora dos livros "Antes do 174"
(ed. Íbis Libris, 2010), "O Incrível Mundo do Tudo começa com uma proposta de uma professora, que
Senhor da Chuva" (ed. Vermelho Marinho, 2011) sugere que durante as férias as jovens escrevam um
e do conto "Outras onomatopeias", publicado na livro, de modo a registrar
coletânea "Geração Subzero" (ed. Record, 2012).
todas as lembranças do verão; as meninas, então,
Em 2011 foi indicada ao prêmio Codex de Ouro
decidem dividir o ano para que cada uma escreva sobre
na categoria Melhor Autora.
três meses. É assim que conhecemos cada uma delas e
como, a seu modo, elas ajudam a completar o grupo.
“AS MAIS” DE PATRÍCIA BARBOZA Um livro suave como leitura e prático enquanto
UM LIVRO SUAVE COMO LEITURA E PRÁTICO ferramenta para sala de aula, uma vez que os temas
ENQUANTO FERRAMENTA PARA SALA DE AULA abordados na série (dramas típicos das adolescentes) são
situações cada vez mais recorrentes na atual geração e,
Em época de férias escolares, uma das melhores opções por isso, podem e devem ser trabalhados pelos
para entreter a garotada é encontrar boas leituras que professores, com a finalidade de estreitar o vínculo entre
façam com que os jovens se divirtam mesmo sem sair de professor e aluno e, assim, diminuir as possíveis sequelas
casa. Sucesso entre as jovens adolescentes, este primeiro que uma adolescência mal resolvida possa deixar em
volume da série AS MAIS (que não ia ser série, mas que uma futura jovem adulta.
passou a ser justamente por causa do sucesso) apresenta
as quatro inseparáveis melhores amigas que formam o A série ainda contará com mais quatro volumes, cada um
grupo com as iniciais de cada uma: Maria Rita, ou Mari dos quais sendo narrados por uma das jovens
(a atrapalhada e engraçada), Ana Paula (a intelectual e protagonistas. Atualmente no mercado, já é possível
mais madura), Ingrid (a fofa e romântica) e Susana (a encontrar o volume 2, “AS MAIS 2: Eu me mordo de
atleta e esportiva). ciúmes”, narrado pela Mari, e o volume 3 já tem previsão
de lançamento para abril de 2013.
Com linguagem típica da idade, Patrícia Barboza conta
as aventuras e desventuras desse grupinho que todas nós
Título: As Mais
tivemos na época de escola e faz com que leitoras de
Autor: Patrícia Barboza
todas as idades se identifiquem com aqueles momentos
pelos quais todas nós passamos – desde a gamação no Editora: Verus Editora

gatinho da cadeira ao lado até a conquista de sonhos ISBN: 9788576861768

impossíveis. Para além do puro entretenimento, qualquer Ano: 2012

adulto perceberá a delicadeza e consciência da autora em Páginas: 193

Revista Biblioo - 55
COLUNA DO
E O MUNDO NÃO ACABOU! RONY LAEBER
ISSO QUER DIZER QUE PODEREMOS
NUTRIR MUITAS ESPERANÇAS AINDA
Ronny Laeber , 28 anos, formado em letras, com
O ano está começando outra vez: o mundo não escritor, mediador de leitura.
acabou como previram os Maias, o réveillon já
passou e o carnaval vem aí... Ou seja, a vida segue!
Assim, o resto já virou notícia de jornal em algum lugar
Novos projetos, planos, emprego novo e outras coisas nesse mundo e nas revistas com certeza já estão
de nosso desejo vão embalando nosso ego enquanto estampadas o inverso das nossas caras incrédulas, dos
este evento não tem previsão alguma de acontecer. nossos negados dessa vida.
Continuamos, então, a nossa jornada para o bem.
Para o meu, para o seu, para o nosso bem. Por isso, Quero dizer que se nada acabou como estava previsto...
hoje, tenho o imenso prazer de escrever para você Bem, isso quer dizer que poderemos nutrir muitas
mais um dos meus artigos cotidianos e, apesar de esperanças ainda, cultivá-las hoje, agora e, ainda por
uma ou outra baboseira qualquer, me sinto melhor de cima, estar por aí em meio aos ventos, tentando respirar e
estar aqui te recebendo de braços abertos já que tudo sobreviver com o oxigênio que já me falta porque muitas
não está perdido. dessas árvores foram derrubadas ao longo do tempo
(muitas delas eu mesmo plantei e vou continuar
Quero dizer que, o céu ainda é o limite para nós e que plantando), assim como as flores, que de bom grado
o futuro, acredite, é uma caixa de presentes e nos enfeitam a vida aqui nesse mundo de cinzas e já sem
reserva as surpresas que hão de vir nesses próximos cores que não tá nada fácil.
300 e lá vai fumaça de dias por aí. O sonho outrora
adormecido ainda está lá, aceso, no lugar dele. O Entretanto, eu sei que nós fizemos a nossa parte até aqui,
nosso sol irá nos iluminar por uns bilhões de anos que cada qual do seu jeito contribuiu para a vida se tornar
ainda e, até lá, podemos acreditar sim que a vida é única e especial. Por isso, sei que devo somente
feita desses mesmos sonhos. agradecer exclusivamente ao meu anjo de cada dia por
está sempre por perto e me proteger. Por este anjo ser tão
E porque não? Sonhos que são como árvores, belas presente, ser uma árvore, o sol, uma revista, uma canção,
árvores que se renovam a cada estação, como a bela uma banda, uma flor, as cores, as estações, o céu, um
canção que diz: "Que seja pra sempre enquanto durar/ presente, o futuro, uma caixa de surpresas, a vida, o
Porque eu sei que é amor..." oxigênio e tudo que ele consegue ser na minha vida. Só
tenho que dizer que o melhor da vida é viver e que se for
Podemos dar razão ao que se diz por que se de fato intenso, vai ser melhor ainda e que você não perde por
for o amor, e se eu sei que é amor, porque então viver também. Viva! Ame! E coma, beba, pense, ouça.
deverei limitá-lo? O amor está livre, vem e volta Deixe a vida te mostrar o que de bom trouxe pra você
quando bem quer e, se volta, é porque também nos agora por que tudo está apenas começando...
quer.
Fico por aqui e te vejo na próxima...

Revista Biblioo - 56
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