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O Quinteto de Sopros
parte 1 Sérgio Azra Barrenechea
O
quinteto de sopros é, hoje em dia, uma combinação período clássico quanto o aparecimento do quarteto de cor-
instrumental padrão com um vasto repertório. A instru- das. Compositores deste período, desde os menos conheci-
mentação atual deste gênero camerístico consiste de flau- dos, como Jean Neubauer, até compositores consagrados,
ta, oboé, clarineta, fagote e trompa. Sua importância como Haydn e Mozart, escreveram extensivamente para
para a família dos instrumentos de sopro, juntamente com o este gênero camerístico. O legado deixado pelos compo-
quinteto de metais, pode ser considerada equivalente a do sitores de Harmoniemusik é um repertório imenso de obras
quarteto de cordas para a família dos instrumentos de cor- para várias combinações de instrumentos de sopro.
das friccionadas. Esta formação apareceu primeiramente no A formação mais comum desse gênero é a do octeto,
período clássico como um desenvolvimento dos conjuntos com um grande número de obras escritas por vários com-
de instrumentos de sopro, chamados de Harmonien, que positores, que consiste de dois oboés, dois clarinetes, dois
eram grupos musicais muito comuns na Europa no período1 . fagotes e duas trompas. A grande atração que este tipo
A consolidação deste gênero de música instrumental reflete de música exercia sobre os compositores era a grande
não somente as mudanças ocorridas no estilo de composi- disponibilidade de diferentes cores instrumentais e a cres-
ção musical, como também o desenvolvimento na constru- cente demanda popular por grupos deste tipo. Não é de
ção dos instrumentos de sopro da época. se admirar que grupos musicais deste tipo eram usual-
mente mantidos pela aristocracia.
Harmoniemusik
A função principal dos Harmonien, a única fonte de en-
A existência de conjuntos de instrumentos de sopro pode tretenimento musical para alguns, era a de prover música
ser detectada desde o período renascentista, quando os con- incidental para jantares e eventos sociais, mas estes grupos
juntos de famílias de instrumentos, conhecidos como con- também se apresentavam em concertos públicos e particu-
sorts, eram o principal meio para a música instrumental da lares, onde ocasionalmente acompanhavam um solista 5 .
época. Pode-se destacar conjuntos de flautas (doce e traver- Nas décadas de 1770 e 1780, algumas cortes, como a
so), do ancestral do oboé (o shawm), e dos ancestrais dos de Viena e a de Öttingen-Wallerstein, empregavam músi-
instrumentos de metais (cornetts, sackbuts e serpentões). cos profissionais de primeira linha nos seus Harmonien. O
É interessante observar que, durante o período barro- repertório era técnica e musicalmente bem avançado. Al-
co, não foram escritas obras musicais destinadas exclusi- guns octetos, como o de Viena, existiam “principalmente
vamente para grupos de sopros. Todavia, no começo do para apresentar concertos, e não serviam a nenhum pro-
século XVIII, o interesse por grupos de instrumentos de so- pósito funcional, militar ou de entretenimento” 6 .
pro reaparece, quando bandas de oboés e trompas foram Nesta atmosfera fértil, outras formações camerísticas,
utilizadas na Europa central, tornando-se uma tradição muito como o quinteto de sopros, tiveram a chance de se de-
difundida por volta de 17602 . Estas pequenas bandas de senvolver como uma nova possibilidade de combinação
sopros, freqüentemente grupos militares, ficaram conheci- instrumental para a música de câmara. Comparando o
das mais tarde como Harmoniemusik ou somente Harmo- quinteto de sopros com a combinação instrumental da
nie 3 . O tamanho da Harmonie podia variar “de um par de Harmoniemusik, pode-se observar que as grandes dife-
instrumentos, normalmente trompas ou clarinetes, até 13 renças são a utilização da flauta, que não era comumen-
instrumentos (12 instrumentos de sopro e contrabaixo)”4 . te usada pelos Harmonien, e a combinação dos instru-
Nesses conjuntos, os instrumentos de sopro eram freqüen- mentos em solo em vez de pares. A utilização dos instru-
temente organizados em pares, assim como nos naipes da mentos de sopro como solistas representava um novo tra-
orquestra do período. Nos Harmonien deste período, era tamento estético, já presente na escrita orquestral da épo-
bem comum existirem três ou quatro grupos de instrumen- ca. Este procedimento parece ser um reflexo do desen-
tos: os naipes de trompas e fagotes sempre presentes, acres- volvimento na construção destes instrumentos, que, com
cidos de oboés ou clarinetes, ou de ambos. o acréscimo das primeiras chaves cromáticas adicionais
O surgimento do gênero Harmoniemusik foi tão im- nos instrumentos de madeira, possibilitou uma maior agi-
portante para a consolidação do estilo composicional do lidade e afinação mais precisa.
revista 15
A primeira evidência em direção ao estabelecimento buída aos instrumentos de sopro. Moeck afirma que “a
do quinteto de sopros apareceu na corte de Öttingen- música para sopros em geral estava atingindo um status
Wallerstein. Sua Hofkapelle era intensamente ativa no mais alto, e com a formação do Conservatório de Paris em
gênero Harmoniemusik e possuía um dos melhores octe- 1795, o palco estava armado para a criação e aceitação
tos de sopros do período. dos quintetos de Reicha”12 .
O octeto da corte de Öttingen-Wallerstein parece ter Há indícios que não somente o ambiente parisiense
sido importante durante este período por várias razões. estava receptivo a este novo gênero de câmara, como atesta
Primeiro, por causa da utilização de flautas no octeto, um outro quinteto para madeiras de Georg Lickl (1769-
segundo, porque seus compositores estavam principalmen- 1843) publicado em 1807, compatível com a instrumenta-
te interessados em escrever música especificamente para ção do quinteto de Rosetti. Esta obra é datada de um perí-
o octeto, e por último, porque o formato tipo divertimen- odo quando Lickl estava empregado em Viena. Além des-
to em vários movimentos, tão popular em outros lugares, te quinteto de Lickl, não existe evidência de outras obras
não é freqüentemente visto em Wallerstein 7 . escritas para esta combinação fora de Paris até a composi-
Compositores pioneiros e conexão Parisiense ção dos quintetos de Danzi na década de 1820.
O Quinteto de Sopros
parte 2
Nesta edição, a 2a parte da Dica Técnica
iniciada na revista Weril 151
Sérgio Azra Barrenechea
Partituras para quinteto de sopros CDs de música para quinteto ricas, muitas faixas são mono, com in-
Arnold, Malcolm / Three Shanties - de sopros tegrantes da Philadelphia Orchestra
Warner Brothers Publications, Inc. Título: The Original Philadelphia Woo- das décadas de 50 e 60.”
Barber, Samuel / Summer Music, op. dwind Quintet - French
Título: Visiones Panamericanas / Mexi-
31- G. Schirmer, Inc. Selo: Boston Records
co City Woodwind Quintet
Berio, Luciano / Opus Number Zoo Repertório: La cheminee du roi Rene,
Selo:Urtext
- Universal Edition Publications, Inc. Op. 205Darius Milhaud, Pieces breves
Repertório: “De memórias” Tania Leon,
D’Rivera Paquito / Aires Tropicales - (3) for Wind Quintet Jacques Ibert, Sex-
“Mambo” Eugenio Toussaint, “Puzz-
Havana-New York Music Company tet for Piano, Flute, Oboe, Clarinet, Bas-
le-tocas” Gabriela Ortiz, “Essays” Ro-
soon and Horn Francis Poulenc, Diver-
berto Sierra, “The Colors of the Wind”
Repertório Brasileiro tissement for Oboe, Clarinet and Bas-
Richard Felciano, “Danza de meliodia”
(obras editadas) soon Jean Francaix, Pastorale de Noel
Arturo Marquez, “Wapango” Paquito
BRANDÃO, JOSÉ VIEIRA (b.1911) Andre Jolivet
D’Rivera
Divertimento nº 1 - RioArte, 1995. Músicos: Cole, Robert [flute] (Flute), De
Conjunto: Mexico City Wind Quintet
FICARELLI, MARIO (b.1937) Nove- Lancie, John (Oboe), Gigliotti, Anthony
Comentário: “CD com repertório recen-
lo: 3 movimentos (1971) - Novas (Clarinet), Jones, Mason (French Horn),
te e interpretação de primeira linha.”
Metas, 1981. Schoenbach, Sol (Bassoon), Kincaid, Wi-
VILLA-LOBOS, HEITOR (1887-1959) lliam (Flute), Poulenc, Francis (Piano), CD do Quinteto Villa-Lobos
Quintetto en forme de choros Panitz, Murray (Flute), Garfield, Bernard Título: Fronteiras Quinteto Villa-Lobos
(1928) - Max Eschig, [c1953] H. (Bassoon), Costello, Marilyn (Harp) Selo: Kuarup
Nome do Conjunto: Philadelphia Woo- Comentário: “O CD traz o grupo numa
dwind Quintet atuação ‘crossover’ entre o erudito e o
Comentário: “CD com gravações histó- popular.”
10 09/2003