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OCORRÊNCIA DE PRAGAS E INIMIGOS NATURAIS AO LONGO DO CICLO DA

CULTURA DE SOJA TRANSGÊNICA

Bruno Henrique Sardinha de Souza


Biólogo, FEIS/UNESP. Email: souzabhs@gmail.com

A soja [Glycine max (L.) Merril] é uma leguminosa rica em proteínas e lipídios, originada da
China e cultivada no Oriente há mais de 5 mil anos. No Brasil, a espécie foi estabelecida a
partir de 1960, e hoje é um dos vegetais de maior interesse no país, que se destaca como
segundo maior produtor, consumidor e exportador mundial, cuja produção é estimada em 58
milhões de toneladas em mais de 21 milhões de hectares plantados na safra de 2008/2009.

Soja transgênica

A principal soja transgênica produzida e comercializada atualmente é a soja “Roundup


Ready”, comumente conhecida como soja RR. Ela contém um gene que a protege dos efeitos
adversos causados pelo herbicida Glyphosate, o que permite a aplicação deste produto durante
toda a fase de desenvolvimento vegetativo da soja, causando dano apenas nas plantas
daninhas associadas à cultura. Dentre as cultivares de soja transgênicas disponíveis no
mercado, a BRS Favorita RR, lançada pela Embrapa em 2005, possui alto potencial
produtivo, é resistente ao cranco da haste, à mancha olho-de-rã, à pústula bacteriana, ao oídio,
ao vírus do mosaico comum da soja e ao nematóide de galhas, porém é suscetível ao
nematóide de cisto. Devido à necessidade de se conhecer mais sobre a ocorrência e
composição de insetos pragas e inimigos naturais ao longo do desenvolvimento fenológico da
cultivar de soja transgênica BRS Favorita RR, um experimento foi conduzido na Fazenda de
Ensino, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – FEPE/UNESP,
localizada no município de Selvíria-MS, entre as coordenadas geográficas 51º 22’ W e 20º
22’ S, altitude de 335 m, precipitação média anual de 1300 mm, umidade relativa do ar entre
70 e 80 % e temperatura média anual de 23, 5 ºC. Para semeadura, realizada em 04/01/07,
utilizou-se uma área total de 2450 m2 com espaçamento de 0,5 m entre linhas e densidade de
15 plantas/m. Para adubação utilizou-se a fórmula NPK (4-30-10) aplicado no sulco, na dose
de 200 kg/ha. Não foi realizado nenhum tratamento com inseticidas na área. As amostragens
foram feitas pelo método do pano, semanalmente, iniciadas 15 dias após a emergência das
plantas. Cada batida de pano foi equivalente a 2 metros lineares de plantas, sendo o
procedimento realizado em 30 pontos escolhidos ao acaso na área, totalizando 60 m lineares
de plantas amostradas.

Principais pragas

A cultura de soja transgênica BRS Favorita RR é atacada por várias espécies de pragas,
destacando-se as lagartas, vaquinhas e percevejos. Dentre as lagartas, a lagarta da soja
Anticarsia gemmatalis e a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda ocorreram durante todo
o período de amostragem. Verificou-se maior incidência de A. gemmatalis entre o período de
36 a 69 dias após emergência das plantas, com maior população aos 55 dias, durante a
primeira semana de março, com 25 indivíduos/60 metros lineares de plantas. Já S. frugiperda,
apesar de presente em todas as amostragens, 4 indivíduos/60 metros lineares representou sua
maior densidade populacional. A lagarta falsa medideira Pseudoplusia includens foi
observada dos 29 aos 69 dias após a emergência das plantas, durante os meses de fevereiro e
março, não ocorrendo nas demais amostragens (Figura 1).
Figura 1. Ocorrência sazonal de Anticarsia gemmatalis, Spodoptera frugiperda e Pseudoplusia includens em
cultura de soja transgênica, cultivar BRS Favorita RR. Selvíria-MS, 2007.

As vaquinhas das espécies Cerotoma sp., Diabrotica speciosa e Megacelis sp. infestaram a
cultura entre os 29 e 90 dias após sua emergência. Os espécimes do gênero Cerotoma
apresentaram crescimento populacional a partir dos 29 dias após a emergência das plantas,
atingindo maior densidade populacional aos 90 dias, com 25 indivíduos/60 metros lineares. D.
speciosa apresentou um baixo crescimento populacional, não ultrapassando os 6
indivíduos/60 metros lineares ocorridos aos 90 dias após a emergência, enquanto Megacelis
sp. ocorreu de forma irregular durante o período de amostragens com população sempre
inferior a 5 indivíduos/60 metros lineares de plantas (Figura 2).

Figura 2. Ocorrência sazonal de Cerotoma sp., Diabrotica speciosa e Megacelis sp. em cultura de soja
transgênica, cultivar BRS Favorita RR. Selvíria-MS, 2007.
Durante as amostragens também foram contados e identificados na soja os percevejos
fitófagos Nezara viridula, Edessa meditabunda, Euschistus heros e Piezodorus guildinii.
Entre estes, o percevejo asa-preta E. meditabunda e o percevejo-marrom E. heros foram os
mais prevalentes, com maiores populações entre os 69 e 90 dias após a emergência das
plantas, período correspondente à formação das vagens, enchimento dos grãos e maturação
fisiológica. O percevejo verde N. viridula atingiu maior população dos 62 aos 83 dias após
emergência, enquanto o percevejo pequeno P. guildinii apresentou maior densidade
populacional aos 76 dias (Figura 3).

Figura 3. Ocorrência sazonal de Edessa meditabunda, Euschistos heros, Nezara viridula e Piezodorus guildinii
em cultura de soja transgênica, cultivar BRS Favorita RR. Selvíria-MS, 2007.

Inimigos naturais

Predadores entomófagos foram coletados na maioria das amostragens, diferindo em suas


densidades populacionais e períodos de maiores incidências. Formigas do gênero Solenopsis,
conhecidas como lava-pés, e espécies de aranhas foram as espécies mais abundantes. As
formigas lava-pés apresentaram maiores populações dos 15 aos 48 dias após emergência das
plantas. As aranhas ocorreram em todas as amostragens, com maior densidade populacional a
partir dos 48 dias da emergência. Espécies predadoras de menor importância para a cultura da
soja foram coletadas em todas as amostragens, destacando-se as espécies Doru lineare
(Forficulidae), Cycloneda sanguinea (Coccinellidae), Lebia concina (Carabidae) e Geocoris
sp. (Anthocoridae). A tesourinha D. lineare prevaleceu dos 22 a 36 e dos 69 a 90 dias após a
emergência, sendo coletados até 20 espécimes/60 metros lineares. A joaninha C. sanguinea
ocorreu de forma muito variável no período de 15 a 41 dias após a emergência, sendo
coletados um número máximo de 10 indivíduos/60 metros lineares. Já o besouro L. concina
foi encontrado entre os 36 e 60 dias da emergência das plantas, atingindo densidade
populacional máxima de 3 espécimes/60 metros lineares, enquanto os percevejos predadores
do gênero Geocoris foram observados dos 15 aos 90 dias da emergência, com maiores
populações aos 15, 83 e 90 dias, atingindo densidade populacional máxima de 4 indivíduos/60
metros lineares (Figura 4).
Figura 4. Ocorrência sazonal de Solenopsis sp., aranhas, Doru lineare, Cycloneda sanguinea, Lebia concina e
Geocoris sp. em cultura de soja transgênica, cultivar BRS Favorita RR. Selvíria-MS, 2007.

De maneira geral, dentre as lagartas que atacam a cultura de soja transgênica, cultivar BRS
Favorita RR, Anticarsia gemmatalis foi a mais abundante, atingindo maior população entre os
36 e 90 após a emergência das plantas. Das vaquinhas pragas da soja, Cerotoma sp. foi
observada em maior número dos 62 aos 90 dias da emergência, enquanto entre os percevejos,
Edessa meditabunda foi a espécie mais abundante, com maior população dos 69 aos 90 dias
após emergência das plantas. Por fim, as formigas do gênero Solenopsis e as aranhas foram os
predadores entomófagos que ocorreram em maior densidade durante todo o desenvolvimento
da cultura.

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