Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bocc Diniz Fotografia
Bocc Diniz Fotografia
Índice Resumo
1 Introdução 2 O presente estudo é uma análise da imagem
2 Objetivos 3 fotográfica sob o olhar da antropologia vi-
3 Revisão Bibliográfica 3 sual, de forma que a mesma não seja en-
4 Metodologia 6 tendida apenas como mero documento ou
5 Resultados e Discussão 7 uma referência exata do real nela represen-
6 Conclusão 10 tado, mas seja concebida e analisada como
7 Referências 10 um instrumento de construção social. Para
∗ tal, foram levantados conhecimentos teóri-
Acadêmica do Curso de Artes Visuais Ű Multi-
mídia da UNOPAR Ű Universidade Norte do Paraná. cos a partir de autores que abordam a fo-
Endereço: Av. Juscelino Kubtscheck, 1429. CEP: tografia como uma construção social e que
86020-000. Londrina Ű Paraná. Fone (43) 324- analisam o campo de visualidade das ima-
4874; (43) 9122-8260. E-mail: lgdiniz@uol.com.br. gens. Com base nesse referencial teórico,
Aluna de iniciação científica com o Subprojeto inti-
buscou-se subsídios para embasar uma re-
tulado "Formas de ver: A imagem fotográfica como
contrução social e cultural", vinculado ao projeto de flexão crítica sobre a imagem e o campo
pesquisa ŞNo Campo da Visualidade: Criação e Man- de visualidade, foco deste estudo. A partir
ifestação ImagéticaŤ, sob orientação da Prof. Adriana das reflexões levantadas no campo teórico,
Imbriani Marchi Veiga. buscou-se responder as seguintes questões:
†
Mestre em Ciências Sociais Ű UEL; Especial-
Por que, geralmente, a fotografia é conce-
ista em Fotografia Ű UEL; Graduada em Artes Vi-
suais/Licenciatura Ű UEL; Docente do Curso de bida como realidade? É possível aceitar-se a
Artes VisuaisŰMultimídia Ű UNOPAR; Responsável hipótese de que o observador é intérprete das
pelo projeto de pesquisa: ŞNo Campo da Visual- imagens que o rodeiam? A imagem fotográ-
idade: Criação e Manifestação ImagéticaŤ Ű UN- fica pode ser entendida como construção so-
OPAR. Endereço: Rua Conrado Sheller, 81 Ű Pq.
Sella. CEP: 86192-430 Ű Cambé - Paraná. Fone:
cial e cultural? Para enriquecer a discussão
(43) 3035-3320; (43) 9965-1598. E-mail: adri- acerca dessas questões, foram realizadas im-
marchiveiga@hotmail.com. agens fotográficas da favela Marízia, situada
no município de Londrina – PR, as quais
2 Livia Gabriela dos Santos Diniz, Adriana Imbriani Marchi Veiga
www.bocc.ubi.pt
Formas de Ver 3
www.bocc.ubi.pt
4 Livia Gabriela dos Santos Diniz, Adriana Imbriani Marchi Veiga
www.bocc.ubi.pt
Formas de Ver 5
mais quanto à existência. O autor acredita são conferidas, a fotografia consegue trazer,
num ”real no estado passado”, como se fosse para o tempo presente, fragmentos do pas-
possível, por mágica, reter o real passado. sado como representação verídica de uma re-
Segundo o autor, alidade, de modo que o leitor os aceite sem
questionamentos e sem qualquer tipo de ex-
O referente da foto não é o mesmo que planação ou provas de sua verdade.
o dos outros sistemas de representação. Como exemplo da influência da im-
Chamo de referente fotográfico não a agem na (re)construção de realidade, Glauce
coisa facultativamente real a que me Rocha de Oliveira, em sua tese de mestrado
remete uma imagem ou um signo, mas a (2002), defende a ”imagem como con-
coisa necessariamente real que foi colo- strução” e faz comparações entre fotografias
cada diante da objetiva, sem a qual não de duas notícias publicadas em jornais reno-
haveria fotografia. A pintura pode simu- mados, sobre um mesmo acontecimento,
lar a realidade sem tê-la visto (imitações). porém, de jornalistas / fotógrafos distintos.
Na foto jamais posso negar que a coisa Observou-se que um mesmo fato pode tomar
esteve lá. Há dupla posição conjunta: proporções diversas, devido às diferentes
de realidade e de passado (BARTHES, formas de captura da imagem e à maneira
1984, p. 115). como é apresentado.
Assim, o ângulo em que a imagem foi cap-
A fotografia tem um caráter de teste- tada e as inúmeras possibilidades que se ap-
munha da história, dos fatos sociais, e, com resentam ao fotógrafo no momento da cap-
base nisso, Simonetta Persichetti considera tura desta, levam o leitor a fazer uma inter-
que, ao ”fotografar” busca-se a compreensão pretação influenciada pelo fotógrafo, a qual,
desses eventos históricos, ou seja, procura-se nem sempre condiz com a realidade dos fatos
ou de uma situação. Glauce traz a questão da
condição natural do ser humano de aceitar o
[...] transformar a consciência do ser hu- que lhe é proposto, acreditando na fotografia
mano através das emoções que as im- como base do real, ao afirmar que:
agens nos provocam [...]. A fotografia
pede uma abordagem crítica para que Nessa crença ou postura de olhos de
possa ser compreendida, levando à re- ler, nós não nos questionamos sobre as
flexão e a uma possível transformação bases do que tomamos por real. Pelo
de percepção. (PERSICHETTI, 1997, p. contrário, aceitamos o modelo de reali-
11). dade preexistente a nós, a qual, herdamos
no momento de nosso nascimento dentro
A imagem fotográfica, diferentemente de de nossa cultura e reproduzimos até hoje.
uma imagem pintada (produzida para retratar (OLIVEIRA, 2002. P. 53, 54).
uma realidade exposta) ou de um texto nar-
rativo (como os jornalísticos), adquiriu a Observa-se que os diversos olhares para
função de retratar a realidade com grande uma mesma direção podem ser distintos
propriedade. Devido às atribuições que lhe quanto às suas percepções. Cada um
www.bocc.ubi.pt
6 Livia Gabriela dos Santos Diniz, Adriana Imbriani Marchi Veiga
dos envolvidos (seja o sujeito de pesquisa, a nossa tendência é aceitar essas sig-
ou o pesquisador, ou ainda o observador- nificações quase que como expressões
interprete) tem uma percepção que se rela- espontâneas das imagens. Às vezes pode
ciona à sua realidade subjetiva, entendendo- ocorrer que o espectador alcance um rela-
se que o conhecimento interno é influenciado cionamento mais rico com essas ima-
pelo externo, como bem analisa o antropól- gens, subvertendo o filme, isto é, escaap-
ogo Gilberto Velho ndo às significações, especificações, se-
leções etc., que criam a locução e a mon-
Assim, seja a interação, a sociedade ou a tagem. Tal olhar, que os mecanismos de
cultura, a subjetividade - interno – é pro- significações do filme rejeitam, ou não
duzida, condicionada, fabricada pelo ex- destacam, poderá ser valorizados por um
terno. O indivíduo ou o self, dependendo espectador, por cima da construção do
da vertente, é essencialmente social. Ou filme, poderá encontrar outras leituras,
como representação ou como conteúdo, ou mesmo entrar no campo ambiguidade
o interno so pode ser explicado pelo ex- da imagem. (BERNARDET, 2003, P.
terno. Dependendo da teoria, a ênfase 249).
pode ser colocada na ideologia individ-
ualista, no desempenho de papeis , na di- A fotografia, assim, pode despertar no ob-
visão social do trabalho etc. (VELHO, servador aquilo que ele crê, não sendo, desse
2006, p. 21). modo, referência a uma única verdade preex-
istente, como ressalta Oliveira (2002). Neste
Assim, levanta-se a questão da ambigu- contexto, é necessário que se questione o
idade das imagens fotográficas, em relação que se vê em uma imagem e que se recon-
ao esforço de cada um dos envolvidos em heça que a interpretação realizada vem sem-
interpretar o campo visível sob seus aspec- pre carregada da subjetividade, que é fruto
tos críticos. Neste sentido, pode ocorrer que do meio sócio-cultural em que se está in-
um pequeno detalhe na imagem fotográfica serido.
desperte mais atenção do leitor do que, ex-
atamente, a ideia proposta pelo fotógrafo,
quando a produziu. 4 Metodologia
Jean Claude Bernandet, crítico cine- Para o desenvolvimento deste estudo foi re-
matográfico, fez um apontamento, em seu alizada uma pesquisa bibliográfica, tendo
livro ”Cineastas e imagens do povo”, sobre como base diferentes autores que versam
essa questão de espectadores que aceitam a sobre fotografia, fotoetnografia, antropolo-
informação tal como ela é, enquanto outros, gia social e campo da visualidade, para a
valorizam outros aspectos, fugindo do tema construção do referencial teórico. Assim,
central proposto pelo locutor. O autor afirma buscou-se a discussão proposta acerca da fo-
que: tografia e do campo de visualidade, bem
Há como que temor, por parte da locução, como, a prática fotográfica desenvolvida na
que se estabeleça ente o espectador e as pesquisa de campo.
imagens uma relação não prevista. E
www.bocc.ubi.pt
Formas de Ver 7
Juntamente com o referencial teórico, são Em alguns casos, pode ocorrer que nem
apresentadas algumas imagens fotográficas mesmo o pesquisador tenha pensado em uma
que foram capturadas na Vila Marízia, lo- determinada interpretação sugerida por um
calizada no munícipio de Londrina. Para observador a partir de uma dimensão mais
que se retratasse a realidade do cotidiano expandida do campo de visualidade. Assim,
dos seus moradores, buscou-se fragmentos por estar inserido num determinado con-
que evidenciassem a particularidade viven- texto, o pesquisador pode não perceber um
ciada alí, no momento exato das ações, ”detalhe” que é notado pelos observadores, o
sem qualquer interferência do pesquisador. qual pode sobrepujar-se à ideia inicial, à in-
Desta forma, apresentando o cotidiano real tenção do autor. A imagem, neste caso, passa
desses moradores, propõem-se desenvolver a ser considerada a partir de outras leituras,
a percepção visual dos leitores / intérpretes, muitas vezes, mais intensas e reflexivas do
explorando-se o campo da visualidade e que aquela proposta pelo fotógrafo.
destacando as diversas formas de se ver. Entende-se, desta forma, que as imagens
não representam exatamente aquilo que se
vê, e que seus sentidos e funções dependem,
5 Resultados e Discussão
exclusivamente, da interpretação e do olhar
Pode-se observar que a imagem fotográfica do leitor, que, por sua vez, carrega suas práti-
tem o poder de retratar a realidade e, por este cas culturais e sociais, que são constante-
motivo, acaba por convencer o receptor de mente reconstruídas.
que ela é legítima e assim, quase nunca é É com base na antropologia, ciência que
questionada em relação à sua autenticidade. auxilia o homem a conhecer-se a si mesmo e
A fotoetnografia, além de propiciar o estudo a sua própria história, que se buscou levantar
do homem inserido em sua realidade, busca apontamentos sobre a realidade ”fragmen-
instigar a percepção visual e reflexão acerca tada” da fotografia que, ao ser produzida,
dessa realidade, auxiliando, desse modo, a já embute o olhar crítico e influenciador do
construção sócio-cultural. pesquisador, e que, por manter um alto poder
Apesar dos mal-entendidos no que diz re- de convicção, geralmente, é aceita, pelo es-
speito às interpretações de imagem e ações, pectador, como cópia fiel da realidade, sem
entende-se que jamais será possível linear que este faça qualquer questionamento sobre
os conhecimentos culturais e sociais que a sua autenticidade.
cada indivíduo apresenta ou utiliza-los com a Reconhece-se, assim, a fotografia como
mesmo desígnio. O pesquisador pode inter- um instrumento eficaz para o desenvolvi-
pretar uma realidade e retirar dalí um frag- mento da percepção visual e capaz de levar
mento que condiz com as suas expectivas, o ser humano a uma reflexão de vida, aux-
as quais são influenciadas por suas práticas iliando, contudo, na construção social e cul-
sociais e culturais. Todavia, o receptor tam- tural, pois a imagem fotográfica, por usa ve-
bém está embebido numa realidade subje- racidade, pode propiciar a transformação da
tiva, influenciada por seus conhecimentos e consciência humana devido às reflexões e às
limitações, a qual nem sempre está aquém emoções que provoca.
do que lhe é proposto.
www.bocc.ubi.pt
8 Livia Gabriela dos Santos Diniz, Adriana Imbriani Marchi Veiga
www.bocc.ubi.pt
Formas de Ver 9
www.bocc.ubi.pt
10 Livia Gabriela dos Santos Diniz, Adriana Imbriani Marchi Veiga
www.bocc.ubi.pt