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A RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A Recuperação Judicial (RJ) revela-se um mecanismo que, em tese, auxiliaria


empresas e empreendimentos que se encontrem em dificuldades financeiras a
superarem a crise, com especial preocupação para a manutenção da fonte
produtora, a preservação da empresa e de sua função social, bem como a
garantia dos interesses dos credores. É precisamente esse o conceito
estabelecido no art. 47 da Lei nº 11.101, de 2005:

É difícil de ser entendida pelo leigo; complicada de ser utilizada na prática;


arriscada de ser adotada; benéfica ou injusta para determinados credores;
incoerente na comparação de algumas disposições que se anulam; e
extremamente ingrata para ser aplicada e interpretada de forma equânime e
socialmente eficaz por parte do Judiciário.

Sua complexidade, aliada às graves deficiências da máquina judiciária,


contribui de forma decisiva para que se duvide de que venha a atingir a
finalidade a que se propôs. Mas, como temos lei, não adianta fazermos críticas
e/ou questionamentos filosóficos de cunho acadêmico que, quando muito,
podem gerar ainda mais dúvidas e controvérsias.

Sem ter a pretensão de esgotar o tema, nem apresentar estudo completo sobre
a lei, ou comentários sobre todos os dispositivos – função que cabe aos
doutrinadores e aos juristas que a tanto já se dedicaram – passaremos a
alinhar objetivamente apenas alguns aspectos que consideramos relevantes
aos que lidam com direito empresarial e que, por razões (ou ossos) do ofício,
estão sujeitos a tratar da matéria, sob as mais diversas posições: como
consultores, como advogados de devedores ou como advogados de credores.

ADVERTÊNCIA PRELIMINAR:

A Recuperação Judicial é uma medida de elevado grau de risco, devendo sua


adoção ser precedida de criteriosa avaliação. Não se imagine que seja uma
solução para todos os casos nem um remédio que cure todas as doenças.
A despeito dos princípios fixados no citado artigo 47 – de certa forma
consubstanciando norma programática travestida em preceitos filosóficos -, a
verdade é que a Lei não pode ser tida como a panacéia, de sorte que a
primeira recomendação a ser seguida é a de que, para ingressar com uma RJ,
haverá que se ter pleno conhecimento da estruturação legal e das dificuldades
que podem ser enfrentadas.

REQUISITOS FORMAIS DO PEDIDO:

Alguns requisitos básicos para a formulação do Pedido têm de ser atendidos,


dentre os quais:

a)Exercício regular da atividade por mais de 2 anos;

b)Não ser falido ou, se já o foi, ter havido a extinção das responsabilidades;

c)Não ter, há menos de 8 anos, obtido concessão de recuperação judicial;

d)Não ter sido condenado (inclusive como administrador ou sócio controlador)


por crime previsto na lei falimentar

PROCESSAMENTO

da ação, "estando em termos o pedido", adotando uma série de providências,


dentre as quais a indicação de um Administrador Judicial (cuja remuneração
pode alcançar até 5% dos débitos) para, em princípio, colaborar com os
Administradores na gestão da empresa.

A partir daí, existem dois prazos essenciais a serem observados: a) o primeiro,


improrrogável, de 180 dias, durante o qual ficarão suspensas as execuções
movidas contra a empresa (podendo continuar aquelas intentadas também
contra seus sócios e administradores, desde que tenham sido coobrigados e
garantidores da operação); b) o segundo, de 60 dias, para que a empresa
apresente à Assembléia de Credores o seu Plano de Recuperação.
DÉBITOS (CRÉDITOS) SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Em tese, a lei dá a entender que ficam sujeitos à RJ todos os débitos


existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

No entanto - e aí reside um dos percalços para se ingressar com a RJ -,


existem vários créditos (débitos da empresa) que não estão sujeitos à RJ,
dentre os quais vale relacionar:

a)Os créditos com garantia fiduciária de bens móveis ou imóveis, e os


representados por arrendamento mercantil;

b)Os relativos a imóvel compromissado à venda em incorporações imobiliárias;

c)Os decorrentes de financiamento/empréstimo com reserva de domínio;

d)Os que são objeto de ações que demandem quantia ilíquida;

e)As execuções fiscais;

f)Os relativos a contratos de câmbio para exportação;

g)Os créditos tributários;

h)As obrigações assumidas no âmbito das câmaras de compensação e


liquidação financeira

Algumas observações a respeito:


Como já disse o Prof. Manoel Justino Bezerra Filho, as exceções acima
indicadas, constantes do § 3º do artigo 49 da Lei, constituem "o ponto que mais
diretamente contribuiu para que a Lei deixasse de ser conhecida como "lei de
recuperação de empresas" e passasse a ser conhecida como "lei de
recuperação do crédito bancário" ou "crédito financeiro", ao estabelecer que
tais bens não são atingidos pelos efeitos da recuperação judicial".

Ainda que de natureza quirografária (aqueles que não dispõem de garantias


reais), poderão não ser objeto de pagamento através da RJ os créditos em
relação aos quais existam coobrigados, fiadores e obrigados de regresso. Os
respectivos credores – ainda que se sujeitem aos efeitos da recuperação –
podem, nos vencimentos das correspondentes obrigações (e não antes) exigir
o pagamento do garantidor, ingressando, se for o caso, com a ação de
execução. Nesse caso, esses credores simplesmente têm a faculdade de não
entrar na RJ e cobrar o seu crédito diretamente desses coobrigados.

Quanto aos contratos de adiantamento de câmbio (conhecidos como ACCs),


parece inquestionável que, mesmo os vencidos, não estão sujeitos à RJ, com
base no que dispõe o § 4º do artigo 49, que remete ao artigo 86, II, da Lei,
dispositivo este que fala da "importância entregue ao devedor em moeda
corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para
exportação", na forma do art. 75, §§ 3º e 4º da Lei nr. 4.728/76, que, a seu
turno, tratam, de forma genérica, dos contratos de câmbio. Esse débito,
portanto, poderá ser exigido em procedimento autônomo pelo Credor, não lhe
assistindo, todavia, o benefício de pedir a restituição do valor objeto do
adiantamento, o que se aplica, no entanto, em caso de falência. Por último:
nada impede que esses créditos sejam incluídos no Plano, desde que haja
anuência, por certo improvável, dos credores.

As obrigações anteriores à RJ continuarão com suas condições inalteradas,


salvo se ficar estabelecido de modo diverso no plano de recuperação judicial.

Para que fiquem excluídos dos efeitos da recuperação judicial o credor


fiduciário, o arrendador mercantil e o negociante de imóvel (como vendedor,
compromitente vendedor ou titular de reserva de domínio), em seus respectivos
contratos deverá ficar estipulada cláusula de irrevogabilidade ou de
irretratabilidade do negócio jurídico.
O PLANO DE RECUPERAÇÃO

A lei elenca diversas modalidades de operações, negócios e soluções que


podem constar do Plano, para apresentação aos Credores. A situação de cada
empresa é que determinará o que fazer. Mas não se pode esquecer uma regra
básica: há que ser apresentado um Plano que realmente seja viável de
cumprimento e, sobretudo, que atenda aos interesses dos Credores. A Lei não
prevê reduções dos créditos e nem tampouco estabelece critérios rígidos em
relação às modalidades de amortizações. Há que se atentar para a
inviabilidade de se propor condições que privilegiem determinados credores
que estejam integrando determinada classe. Não sendo exequível o Plano, ou
não atendendo aos interesses dos credores, estes poderão rejeitá-lo,
acarretando obrigatoriamente pelo juiz a decretação da falência do devedor.

PLANO DE RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL


 
A recuperação extrajudicial está descrita na Lei de Falências entre os Artigos
161 e 167 e tem as seguintes características:
 
a) O devedor para pleitear a recuperação extrajudicial, deverá atender os
requisitos descritos no Artigo 48 da Lei de Falências.
 
b) O plano de recuperação extrajudicial não contemplará os créditos tributários,
trabalhistas e os decorrentes de acidente de trabalho
 
c) As obrigações não contempladas no plano de recuperação extrajudicial,
deverão ser cumpridas fielmente pelo devedor, uma vez que não  estarão
suspensas pelo plano, podendo inclusive tais credores pedirem a falência do
devedor.
 
d) O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se
tiver pendente pedido de recuperação judicial, ou tiver obtido recuperação
judicial, ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há mais
de 2 (dois) anos
 
e) após a distribuição do pedido, os credores não poderão desistir do pedido,
salvo se os demais credores autorizarem.
 
f) Para o devedor requerer o plano de recuperação extrajudicial, que obriga a
todos os credores por ele abrangidos, deverá ter a anuência de credores que
representem mais de 3/5 (sessenta por cento) de todos os créditos de cada
categoria (geral, especial, quirografários, etc)
 
g) A sentença que homologa o plano de recuperação extrajudicial tem força
executiva nos termos do C.P.C.
 
Aspectos processuais do pedido de recuperação extrajudicial.
 
Após a distribuição do pedido, o processo é concluso ao juiz, para deliberação,
entretanto, a petição inicialdeve conter os seguintes documentos:
 
a) Exposição da situação patrimonial do devedor
 
b) Demonstração contábeis do último exercício e uma especialmente levantada
para o pedido. Exemplo : Balanço de 2.005 mais os meses de janeiro à outubro
de 2.006 (mês anterior)
 
c) O comprovante que os subscritores (quem assina) dos credores tem poderes
para novar, transigir, dar e receber quitação em nome dos mesmos (contrato
social, ou procuração por instrumento público)
 
d) Relação nominal completa de todos os credores sujeitos aos efeitos do
plano, indicando : endereço atualizado, a natureza, a classificação e o valor
corrigido de cada obrigação.
 
Juntamente com a petição inicial, o devedor deve apresentar seu plano para
homologação, e estando em ordem os documentos, o juiz mandará publicar em
edital em órgão oficial e em jornais de grande circulação a distribuição do
pedido.
 
O devedor tem obrigação legal de informar por carta todos os credores sujeitos
ao plano de distribuição do pedido.
 
O edital marcará o prazo de 30 (trinta) dias para os credores impugnarem o
plano, entretanto, as razões para a impugnação são restritas como as que
seguem:
 
a) Não preenchimento do percentual mínimo de 3/5 dos créditos relacionados
no plano.
 
b) Prática de qualquer ato descrito no Inciso III do Artigo 94 da Lei de Falências
e do Artigo 130 da mesma Lei.
 
c) Descumprimento de qualquer outra exigência legal.
 
Caso algum credor apresente impugnação ao plano, o juiz abrirá vista ao
devedor no prazo de 05 (cinco ) dias para se manifestar acerca da impugnação
 
Em seguida o juiz proferirá a sentença homologando o pedido, ou julgando
improcedente, que não acarretará a falência do devedor, podendo esta
inclusive, se sanear os impedimentos que deram causa à improcedência
requerer novamente a homologação do pedido.
 
Da sentença cabe apelação sem efeito suspensivo nos termos do C.P.C.
 
Eventualmente o plano de recuperação extrajudicial, pode prever a alienação
de unidades produtivas do devedor ou de suas filiais, neste caso a alienação
obedecerá aos requisitos do Artigo 142 da Lei de Falências (Alienação,
propostas fechadas, e pregão)
 
A homologação ou pedido de recuperação extrajudicial não impede que o
devedor formule outros acordos privados com seus credores.
 

Recuperação Judicial Recuperação Judicial – Recuperação Judicial –


Plano especial Plano extrajudicial
Credores: Credores: Credores:
Todos Quirografários Todos , menos :
tributários, trabalhistas e
acidentes do trabalho
Quem aprova o plano Quem aprova o plano Quem aprova o plano
Credores (tácita ou Juiz Juiz
expressa)
Prazo Prazo Prazo
02 anos 03 anos Livre (não tem prazo)
Requisitos Requisitos Requisitos
Artigos 48 e 51 – L.F. Artigos 48 e 51 – L.F. Artigo 51 –L.F. no que
couber
Requerimento Requerimento Requerimento
Concessão Concessão Homologação

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