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O artigo científico de Pedro Guimarães “O Processo de Reabilitação dos Mercados Municipais em

Lisboa à Luz da Gentrificação Comercial” revelou que as intervenções apoiadas na contrapartida da


concessão de espaço dos mercados a cadeias de supermercados (como as realizadas em Alcântara e
Forno do Tijolo) ou a gestores de conglomerados de espaços de restauração (ex: Mercado da Ribeira
e Campo de Ourique) tiveram na sua generalidade repercussões negativas no retalho alimentar que
tradicionalmente ocupava estes mercados, quer pela concorrência directa dos novos ocupantes quer
pela reformulação do espaço que levou a situações de deslocalização, diminuição ou até mesmo
extinção do espaço que os comerciantes mais antigos tinham disponível. Aponta ainda
responsabilidades aos promotores públicos por deixarem os mercados ao abandono durante
décadas, vindo este desinvestimento acompanhado de um discurso que apresenta como única
solução a renovação da oferta comercial existente, sustentando assim as parcerias com grupos
privados e subvertendo o uso e função dos mercados municipais.
O Mercado de Benfica, apesar de os comerciantes legitimamente apontarem quebras no seu
negócio, é dos que apresenta mais vitalidade em Lisboa, fruto da qualidade e variedade da sua
oferta e também das boas acessibilidades de que está dotado, atraindo clientela de vários pontos da
cidade e até de concelhos vizinhos. Como já noticiado no Freguês, prepara-se uma reabilitação do
Mercado de Benfica para 2022. Saudando-se a renovação e modernização de toda a estrutura e seus
equipamentos que peca por tardia, o projecto anunciado faz antever um processo de gourmetização
do mercado, onde não falta a cultura da esplanada, trazendo não uma reabilitação mas uma
sobreposição de um tecido comercial por outro bem diferente do que caracteriza actualmente o
mercado. Menos se aceita, quer pela óptica dos clientes do mercado quer pela óptica de quem mora
na zona, a retirada de estacionamento e anunciados constrangimentos das vias adjacentes.
Desconhecendo o caderno de encargos, não se justifica nem se vê a pertinência dos 7 milhões de
euros anunciados para este investimento.

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