Você está na página 1de 104

Teoria da medida


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

1
Sumário

2
Capı́tulo 1

Teoria da medida

Esse texto ainda não se encontra na sua versão final, sendo, por enquanto, cons-
tituı́do apenas de anotações informais, não tendo sido ainda revisado, então leia com
cuidado e atenção a possı́veis erros, Sugestões para melhoria do texto, correções da
parte matemática ou gramatical eu agradeceria que fossem enviadas para meu Email
rodrigo.uff.math@gmail.com.

1.1 Notações
Dizemos que uma sequência de funções (fn ) é crescente se, fn (x) ≤ fn+1 (x) ∀ x ∈ A
domı́nio da função. Dizemos que é estritamente crescente quando fn (x) < fn+1 (x) ∀ x ∈
A, de modo similar para decrescente e estritamente decrescente, denotando por fn ↓ f
se fn → f e fn é decrescente, podemos denotar também como fn ↘ f. Em geral se é
crescente ou decrescente a convergência é dita monótona e podemos denotar como
fn →m f.
Usamos a notação fn ↑ f para dizer que a sequência de funções (fn ) é crescente e
fn → f, neste caso podemos denotar também por fn ↗ f.

1.2 Medidas

m Definição 1 (Função de conjunto). Seja B um conjunto e A ⊂ 2B , 2B

3
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 4

o conjunto das partes de B, que também é simbolizado por P(B). Uma função
µ : A → M, onde M é um conjunto qualquer é chamada de função de conjunto.
Iremos considerar neste texto funções de conjunto da forma µ : A → (−∞, ∞].

m Definição 2 (Função de conjunto finitamente aditiva e σ-aditiva). Uma



n
função de conjunto µ é finitamenta aditiva se A = Ak é união disjunta, então
k=1


n
µ(A) = µ(Ak ),
k=1

µ transforma a união finita disjunta em soma finita. µ é σ- aditiva (lê-se sigma




aditiva) se A = Ak é união disjunta, então
k=1



µ(A) = µ(Ak ),
k=1

µ transforma a união infinita disjunta em soma infinita.


m
m Definição 3 (Medida finitamente aditiva). Seja S = Sk união disjunta.
k=1
Uma função µ definida num semi-anel que satisfaz

1. µ(∅) = 0,

m
2. µ(S) = µ(Sk ), é dita finitamente aditiva.
k=1
Geralmente iremos considerar que a função µ leva elementos do semi-anel
no conjunto (−∞, ∞] ou [0, ∞] , porém podemos considerar também levando
elementos em C ou em um espaço vetorial V . Uma medida finitamente
aditiva satisfaz a propriedade


m ∑
m
µ( Sk ) = µ(Sk )
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 5

ela transforma a união disjunta em soma.

Z Exemplo 1. Dado Ω qualquer, f : Ω → R e o anel S = {A ⊂ Ω | A finito},


o somatório de f é uma medida finitamente aditiva, µf : S → R. Definindo

µf (A) = f(k), temos
k∈A ∑
µf (∅) = f(k) = 0
k∈∅


m
se S = St , união disjunta então
t=1

∑ ∑
m ∑ ∑
m
µf (S) = f(k) = f(k) = µ(St ).

k∈ mt=1 St
t=1 k∈St t=1

Se temos uma medida finitamente aditiva µf definida em um anel S = {A ⊂


Ω | A finito} com µf ({a}) = f(a) então µf é um somatório.

m Definição 4 (Medida positiva). Uma medida é positiva quando vale 0 ≤


µ(S) ≤ ∞ para qualquer S ∈ A.
Iremos considerar em geral medidas positivas.



m Definição 5 (Medida σ - aditiva). Seja S = Sk , união disjunta. Dizemos
k=1
que µ uma medida é σ-aditiva (lê-se sigma aditiva) quando


∞ ∑

µ(s) = µ( Sk ) = µ(Sk ),
k=1 k=1

isto é, a função transforma a união infinita disjunta em uma série. Nesse caso
também podemos dizer que ela é enumeravelmente aditiva.
Se não definı́ssemos µ(∅) = 0 porém considerássemos a propriedade de adição
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 6

enumerável terı́amos que


∞ ∑

µ( ∅) = µ(∅) = µ(∅)
k=1 k=1

daı́ terı́amos duas possibilidades µ(∅) = 0 ou µ(∅) = ∞ (caso µ seja positiva), se


fosse a segunda isto implicaria


∞ ∑

µ(A ∪ ∅) = µ(A) = µ(A) + µ(∅)
k=1 k=1

portanto A um elemento qualquer também teria medida infinita, o que não que-
remos, portanto temos uma outra justificativa para µ(∅) = 0.
Chamaremos em geral de medida uma medida σ- aditiva.

z Observação 1. Podemos definir medida σ-aditiva e finitamente aditiva da


mesma maneira que foi feito nas duas definições anteriores sobre semi-álgebras,
anéis, álgebras , σ- anéis e σ-álgebras.

m Definição 6 (Espaço de medida). Uma terna (Ω, Σ, µ) em que Ω é um


conjunto, Σ uma σ-álgebra contida em P(Ω) e µ uma medida sobre Σ é chamada
espaço de medida.
Podemos considerar a definição com Σ sendo σ- anel, mas quando o conside-
rarmos iremos citar explicitamente.

m Definição 7 (Espaço mensurável). O par (Ω, Σ) é chamado de espaço men-


surável.

m Definição 8 (Espaço de probabilidade). Um espaço de medida (Ω, Σ, µ) onde


µ(Ω) = 1 é chamado de espaço de probabilidade. Neste caso µ é chamada de
medida de probabilidade . Σ neste caso também é chamado de σ-campo .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 7

$ Corolário 1. Toda medida σ- aditiva é finitamente aditiva, basta completar



n
uma união finita com conjuntos vazios, dado A = Ak podemos escrever A =
k=1


Ak , tomando Ak = ∅ para k > n, daı́
k=1


∞ ∑
∞ ∑
n ∑

µ( Ak ) = µ(Ak ) = µ(Ak ) + µ(Ak ) =
k=1 k=1 k=1 k=n+1
| {z }
0


n ∪
n
µ(Ak ) = µ( Ak ).
k=1 k=1

m Definição 9 (Medida de Borel). Uma medida de Borel é toda medida definida


numa σ-álgebra de Borel.

1.2.1 Soma de medidas é uma medida

b Propriedade 1. Seja (Ω, A) espaço mensurável com (µk )n1 medidas sobre A.
Se (ak )n1 ∈ [0, ∞] então

n
µ= a k µk
k=1

é uma medida.

ê Demonstração.

1.

n
µ(∅) = ak µk (∅) = 0.
k=1



2. Sejam (Ak ) conjunto disjuntos , B = Ak então
k=1


n ∑
n ∑

µ(B) = ak µk (B) = ak µk (Aj ) =
k=1 k=1 j=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 8


∞ ∑
n ∑

= ak µk (Aj ) = µ(Aj )
j=1 k=1 j=1

então a medida µ transforma união disjunta em série.

3. Sendo B ⊂ A, então

n
µ(B) = a µk (B) ≥ 0.
| k {z }
k=1 ≥0

m Definição 10 (2X ). Seja X um conjunto, definimos 2X como a famı́lia das


partes de X, que também pode ser denotado por P(X).

1.2.2 Medidas σ-finita e finita

m Definição 11 (Medidas σ-finita e finita.). • Seja (Ω, A, µ) um espaço de


medida tal que ∀ B ∈ A, temos



B⊂ Ak
k=1

com µ(Ak ) < ∞ ∀ k. Nessas condições µ é chamada σ-finita.

• Se µ(B) < ∞ ∀ B ∈ A então µ é dita finita. Em especial Ω ∈ A, µ(Ω) < ∞


implica que µ é medida finita.
Estamos considerando o caso de medida positiva, caso fosse µ assumindo
valores em [−∞, ∞], usarı́amos quase a mesma definição, trocando µ(Ak ) por
|µ(Ak )|.

m Definição 12 (Massa total de uma medida). Seja (Ω, A, µ) um espaço de


medida

1.2.3 Medida de Dirac


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 9

Z Exemplo 2 (Medida de Dirac). A medida de Dirac em um ponto a ∈ X é a


medida δa definida como 
 1 se a ∈ B
δa (B) =
 0 se a ∈
/B
Que de fato é uma medida pois

1. Se B = ∅ temos δa (B) = 0 .

2. δa (B) ≥ 0 logo é positiva.




3. Suponha que temos uma união disjunta Ak , se a pertence a um dos
k=1
conjuntos, pertence a apenas um deles, pois a união é disjunta, então existe
At tal que a ∈ At e não pertence aos outros conjuntos, logo

∞ ∑

µ( Ak ) = 1 = µ(Ak ) + µ(At ) = 1.
| {z }
k=1 k=1,k̸=t
| {z } =1
0

Se a não pertence a cada Ak então os dois lados possuem soma zero, logo
são iguais .

A medida de Dirac está definida sobre todos conjuntos. Se a ∈


/ A temos que
δa (A) = 0, caso δa (A) = 0 deve valer que a ∈
/ a, pois caso contrário (a ∈ A)
terı́amos δa (A) = 1.

Z Exemplo 3. A medida de Dirac em um ponto é uma medida de probabilidade


.

Z Exemplo 4. Seja µ : P(R) → [0, ∞].


1. Se µ(E) = 0 se E é finito e µ(E) = ∞ caso contrário, então tal função não é
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 10

medida, pois não vale a σ-aditividade. Seja Ak = {k}


∞ ∑

µ( Ak ) = ∞ ̸= µ(A ) .
| {z k}
k=1 k=1 0

2. Se µ(E) = 0 se E é enumerável e µ(E) = ∞ caso contrário, então tal função


é medida, pois µ(∅) = 0, pois o vazio é enumerável. Além disso dada uma
sequência (Ak ) de conjuntos disjuntos, se cada Ak é enumerável, temos que



µ( Ak ) = 0,
k=1

pois a união enumerável de conjuntos enumeráveis é enumerável e também


∑∞
vale µ(Ak ) = 0, então temos a igualdade. Se pelo menos um Aj é não
| {z }
k=1 =0
enumerável, também é não enumerável a união então



µ( Ak ) = ∞,
k=1


∞ ∑

e também vale µ(Ak ) =≥ µ(Aj )∞, logo µ(Ak ) = ∞ e portanto fica
k=1 k=1
provada a σ-aditividade.

3. Se µ(E) = 0 se E é vazio e µ(E) = ∞ caso contrário, então tal função é


medida, pois µ(∅) = 0. Além disso dada uma sequência (Ak ) de conjuntos
disjuntos, se cada Ak é vazio, temos que


∞ ∑

µ( Ak ) = µ(∅) = 0 = µ(A ) .
| {z k}
k=1 k=0 0

Caso algum Aj não seja vazio


∞ ∑

µ( Ak ) = ∞ = µ(Ak ) ≥ µ(Aj ) = ∞.
k=1 k=0

Então temos uma medida.

1.2.4 Medida de contagem


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 11

Z Exemplo 5 (Medida de contagem). Seja X um conjunto, a medida de conta-


gem µ em P(X) é definida com

 número de elementos do conjunto caso ele seja finito
µ(A)
 ∞ caso contrário

1. Se B = ∅ temos µ(B) = 0, o vazio possui zero elementos .

2. µ(B) ≥ 0 logo é positiva.




3. Suponha que temos uma união disjunta Ak , se esse conjunto união é
k=1
finito, temos que deve existir apenas um número finito de conjuntos não
vazios, pois se fossem infinitos conjuntos não-vazios disjuntos, a união seria
∪∞ ∪
n
um conjunto infnito, por isso existe n natural tal que Ak = Ak , por
k=1 k=1
propriedade de contagem de conjuntos finitos disjuntos temos que o número
de elementos da união disjunta é a soma do número de elemento de cada
conjunto

∞ ∪
n ∑
n
µ( Ak ) = µ( Ak ) = µ(Ak )
k=1 k=1 k=1



Suponha agora que Ak seja um conjunto infinito. Se cada Ak é finito, não
k=1
podemos ter apenas um número finito deles contendo elementos, pois se não

∞ ∪

a união seria finita, então µ(Ak ) = ∞ e µ( Ak ) também . Se um dos
k=1 k=1


Ak é infinito, também vale µ(Ak ) = ∞ e temos a igualdade.
k=1

A medida de contagem está definida para todos os conjuntos e o único conjunto


com medida nula é o vazio pois todo outro conjunto possui pelo menos um
elemento.

m Definição 13 (Medida pontual). (Analisar para ver se está certo). Seja


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 12

h : A → [0, ∞] uma função qualquer. Dado E ⊂ A, definimos



µh (E) := h(x),
x∈E

onde
∑ ∑
h(x) := sup{ h(x) : I ⊂ E é finito }.
x∈E x∈I

Usamos aqui também a definição de soma vazia h(x) = 0, ∀ função h.
x∈∅

b Propriedade 2. A medida pontual realmente é uma medida.

ê Demonstração.

m Definição 14 (Densidade assintótica ). Considere (N, P(N), d∗ ) definimos a


densidade assintótica do conjunto A nos naturais como

1
d∗ (A) = lim sup |A ∩ In |,
n→∞ n

onde In = {1, · · · , n}, onde |A| simboliza o número de elementos de A, que define
a medida de contagem. (Considere também os naturais começando do número 1.

b Propriedade 3. 1. d∗ (∅) = 0.

2. d∗ é finitamente subaditiva.

3. Se A ⊂ B então d∗ (B) ≥ d∗ (A).

4. d∗ (N) = 1.

5. d∗ não é σ-aditiva.

6. d∗ não é finitamente aditiva.

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 13

0
1 z }| {
1. µ(∅) = lim sup |∅ ∩ In | = 0 e por definição o valor obtido por µ é sempre não
n→∞ n
negativo.

m
2. µ é finitamente subaditiva. Considere Ak , onde a sequência de conjuntos
k=1
(Ak ) é disjunta. Usando propriedades de conjuntos e que a medida de contagem
é σ-aditiva, temos que

m ∪
m ∑
m
|( Ak ) ∩ In | = | (Ak ∩ In )| = |Ak ∩ In |,
k=1 k=1 k=1

1
multiplicando por , segue
n
1 ∪ ∑ 1
m m
|( Ak ) ∩ In | = |Ak ∩ In |,
n k=1
n k=1

usando agora a subaditividade do lim sup segue que

1 ∪ ∑
m m
1
lim sup |( Ak ) ∩ In | ≤ lim sup |Ak ∩ In |.
n k=1
n k=1

Isto prova que



m ∑
m

d( Ak ) ≤ d∗ (Ak ).
k=1 k=1

3. Se A ⊂ B então A ∩ In ⊂ B ∩ In daı́
1 1
|A ∩ In | ≤ |A ∩ In | ⇒ |A ∩ In | ≤ |A ∩ In |,
n n
e tomando o lim sup segue finalmente que d∗ (A) ≤ d∗ (B).

4. |N ∩ In | = |In | = n, logo dividindo por n resulta na constante 1 que converge


para 1 na aplicação do lim sup.

5. Seja A um subconjunto unitário de N, então d∗ (A) = 0, pois para n suficiente-


mente grande (maior que o elemento de A), temos que

|A ∩ In | = 1,

portanto dividindo por n e tomando o limite, segue que o limite é zero e daı́


também o lim sup . N é enumerável, daı́ pode ser escrito como N = Ak , onde
k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 14

Ak = {k}, é uma decomposição disjunta, vale que



∞ ∑

d∗ ( Ak ) = 1 ̸= d∗ (Ak ) = 0.
k=1 k=1

Portanto d não é σ-aditiva.

6. Seja A o conjunto dos naturais que possui quantidade ı́mpar de dı́gitos na base
2 (por exemplo (111)2 ) e B o conjunto dos naturais que possui quantidade par
de dı́gitos na base 2 (por exemplo 11). Vamos arranjar uma subsequência de
1 2 1
elementos de xn = |A∩In |, que converge para , e o mesmo para yn = |B∩In |
n 3 n
e disso se segue que d∗ não é finitamente aditiva.

Para quantidade ı́mpar de dı́gitos:

• Com 1 dı́gito temos o termo 20 .



1
2
• Com 3 dı́gitos temos os elementos da forma 2 + ak 2k , onde ak = 0 ou
k=0
1, logo temos 2.2 elementos.
• Continuando o esquema com 2m + 1 dı́gitos temos elementos da forma
2∑
m−1
22m + ak 2k (quando cada ak = 1 temos o último número da contagem),
k=0
logo temos 22m elementos.

Somamos os termos obtemos (o valor a seguir é |A ∩ In | para n = 22m+1 − 1, o


que deduzimos adiante)

m
4m+1 − 1
22k = .
3
k=0
2∑
m−1 ∑
2m
O número de elementos é de 1 até o número 22m + 2k = 2k = 22m+1 −1 = n,
k=0 k=0
tal n será nosso ı́ndice da subsequência.

Logo temos o termo da subsequência


4m+1 − 1 4m+1 − 1
xn = = ,
3(22m+1 − 1) 3(2.4m − 1)
colocando 4m em evidência e aplicando o limite, temos
4m 4 − 41m 4 2
lim m 1
= = .
m→∞ 4 3(2 − m ) 3.2 3
4

2
Então d∗ (A) ≥ . Agora faremos o mesmo para d∗ (B).
3
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 15

• Com 2 dı́gitos temos o termos 21 + a0 20 , com a0 = 0 e a1 = 1, logo dois


termos.

2
3
• Com 4 dı́gitos temos os elementos da forma 2 + ak 2k , onde ak = 0 ou
k=0
1, logo temos 23 elementos.
• Continuando o esquema com 2(m + 1) dı́gitos temos elementos da forma

2m
2m+1
2 + ak 2k (quando cada ak = 1 temos o último número da contagem),
k=0
logo temos 22m+1 elementos.

Somamos os termos obtemos (o valor a seguir é |B ∩ In | para n = 22m+1 − 1, o


que deduzimos adiante)

m
2(4m+1 − 1)
2k+1
2 = .
3
k=0


2m 2∑
m+1
2m+1 k
Contamos o número de elementos de 1 até o número 2 + 2 = 2k =
k=0 k=0
2m+2
2 − 1 = n, tal n será nosso ı́ndice da subsequência.
Logo temos o termo da subsequência, colocando 4m em evidência e aplicando
o limite
2(4m+1 − 1) 4m 2(4 − 41m ) 2
xn = = 1
→ .
3(4.4m − 1) 4m 3(4 − 4m ) 3
2 2 2 4
Então d∗ (B) ≥ . Temos d∗ (A) + d∗ (B) ≥ + = > 1 = d∗ (A ∪ B).
3 3 3 3
Então não temos a propriedade de aditividade finita e daı́ d∗ não é medida.

b Propriedade 4. P é o conjunto dos números primos, então vale

d∗ (P) = 0.

ê Demonstração. Pelo teorema dos números primos, tem-se que


π(x) ln(x)
lim = 1,
x→∞ x
logo
π(x) ln(x) 1 π(x) ln(x) π(x)
lim . lim = 1.0 = 0 = lim = lim ,
x→∞ x x→∞ ln(x) x→∞ x ln(x) x→∞ x

onde π(x) é a função densidade dos números primos, que conta quantos números
primos p, satisfazem p ≤ x.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 16

b Propriedade 5. Dado k ∈ N seja kN o conjunto dos números naturais


múltiplos de k.
Vale que

1.
1
d∗ (kN) = .
k

ê Demonstração. Consideramos s subsequências, com s variando de 0 até k− 1,


|kN{1, · · · , kn + s}| n n 1 1
xkn+s = = = s → .
2n + 1 kn + s nk+ n
k
1
Por propriedade de sequências, segue que o limite existe sendo , logo o lim sup é o
k
mesmo valor.

$ Corolário 2. Vale que


1
• d∗ (2N) = .
2
1
• d( 3N) = .
3

1.2.5 A1 ⊂ A2 ⇒ µ(A1 ) ≤ µ(A2 ) e µ(A2 \ A1 ) = µ(A2 ) − µ(A1 )

b Propriedade 6 (Monotonicidade e diferença). Seja (Ω, A, µ) um espaço de


medida.

• Se A1 ⊂ A2 então µ(A1 ) ≤ µ(A2 ).

• Além disso, se µ(A2 ) < ∞ então µ(A2 \ A1 ) = µ(A2 ) − µ(A1 ). A medida


transforma diferença de conjuntos na diferença das medidas.

ê Demonstração.

• Temos que A2 = (A2 \ A1 ) ∪ A1 é união disjunta, então

µ(A2 ) = µ(A2 \ A1 ) + µ(A1 )


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 17

se µ(A2 ) = ∞ então a desigualdade µ(A1 ) ≤ µ(A2 ) vale, caso contrário

µ(A1 ) ≤ µ(A2 \ A1 ) +µ(A1 ) = µ(A2 ) < ∞


| {z }
≥0

• Da mesma relação anterior segue que µ(A2 ) − µ(A1 ) = µ(A2 \ A1 ).

A propriedade A ⊂ B implica µ(A) ≤ µ(B) também vale para A, B em a(S) e µ


medida sobre S.

b Propriedade 7. Vale que

µ(A ∪ B) + µ(A ∩ B) = µ(A) + µ(B).

ê Demonstração. Temos que A ∪ B = (A \ B) ∪ B união disjunta logo

µ(A ∪ B) = µ(A \ B) + µ(B)

somamos de cada lado µ(A ∩ B) e que A = (A \ B) ∪ (A ∩ B) união disjunta, logo


µ(A) = µ(A \ B) + µ(A ∩ B), por isso ao somar de cada lado µ(A ∩ B), tem-se
µ(A)
z }| {
µ(A ∪ B) + µ(A ∩ B) = [µ(A \ B) + µ(A ∩ B)] +µ(B) = µ(A) + µ(B),

como querı́amos mostrar.


∪ ∞

1.2.6 Subaditividade da medida µ( Ak ) ≤ µ(Ak ) .
k=1 k=1

b Propriedade 8 (Subaditividade). Se cada Ak pertence a um espaço de medida


( ou a(S) ), vale que


n ∑
n
µ( Ak ) ≤ µ(Ak ).
k=1 k=1

ê Demonstração.[1] Vamos provar por indução sobre n.


Temos que
A1 ∪ A2 = A1 ∪ (A2 \ A1 )
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 18

aplicando a medida tem-se

µ(A1 ∪ A2 ) = µ(A1 ) + µ(A2 \ A1 ) ≤ µ(A1 ) + µ(A2 )

pois A2 \ A1 ⊂ A2 . Agora por indução

∪1
n+ ∪
n ∑
n ∑
n+1
µ( Ak ) ≤ µ( Ak ) + µ(An+1 ) ≤ µ(Ak ) + µ(An+1 ) = µ(Ak )
k=1 k=1 k=1 k=1

como querı́amos demonstrar.


∪1
k−
ê Demonstração.[2-Caso enumerável] Tomamos Bk = Ak \ Aj , logo temos
j=1


∞ ∪

Ak = Bk
k=1 k=1

sendo a segunda disjunta, aplicando µ tem-se



∞ ∪
∞ ∪

µ( Ak ) = µ(Bk ) ≤ µ(Ak )
k=1 k=1 k=1

onde usamos Bk ⊂ Ak na última passagem e monotonicidade da medida.

b Propriedade 9. Seja µ uma medida sobre um semi-anel S então


∞ ∑

A⊂ Ak ⇒ µ(A) ≤ µ(Ak ), A, Ak ∈ S.
k=1 k=1

ê Demonstração. Escrevemos

∞ ∪
∞ ∪1
k−
Ak = Ak \ Aj
k=1 k=1 j=1

∪1
k−
onde a segunda é união disjunta. Ak \ Aj é elemento do anel gerador por S que é
j=1
união finita de elementos do semi-anel S, como já mostramos, então

∪1
k− ∪
Tk
Ak \ Aj = Bk,j , Bk,j ∈ S
j=1 j=1


∞ ∪
Tk ∪
∞ ∪
Tk
A=A∩ Bk,j = [Bk,j ∩ A]
k=1 j=1 k=1 j=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 19

união disjunta, logo


∞ ∑
tk ∑
∞ ∑
tk
µ(A) = µ(Bk,j ∩ A) ≤ µ(Bk,j ) ≤ µ(A)
k=1 j=1 k=1 j=1

pois
∪1
k−
An ⊃ An \ Bk,j
j=1

onde o último é união disjunta, logo aplicando a medida tem-se


k−1
µ(An ) ≥ µ(Bk,j )
j=1

que usamos na última passagem para provar



µ(A) ≤ µ(Ak ).
k=1

b Propriedade 10. Dada uma sequência (Cn ), ∈ S , existe uma sequência


(Cn′ ) ∈ S tal que

∞ ∪

Ck = Ck′
k=1 k=1,d
e

∞ ∑

µ(Ck′ ) ≤ µ(Ck ).
k=1 k=1

ê Demonstração.
Escrevemos

∞ ∪
∞ ∪1
k−
Ck = Ck \ Cj (1)
k=1 k=1,d j=1

∪1
k−
Ck \ Cj pertence ao anel gerado por S e daı́ pode ser escrito como união disjunta
j=1
de elementos de tal semi-anel
∪1
k− ∪
tk
Ck \ Cj = B(j, k)
j=1 j=1,d

onde B(j, k) ∈ S, substituindo em (1) temos


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 20


∞ ∪
∞ ∪
tk
Ck = B(j, k)
k=1 k=1,d j=1,d


tk
como B(j, k) ⊂ Ck temos
j=1,d


tk
µ(Ck ) ≥ µ(B(j, k))
j=1

tomando sua soma tem-se



∞ ∑
∞ ∑
tk ∑
∞ ∪
tk
µ(Ck ) ≥ µ(B(j, k)) = µ( B(j, k))
k=1 k=1 j=1 k=1 j=1,d
| {z }
Ck′

como querı́amos provar.

1.2.7 Conjunto de medida nula e conjunto negligenciável

m Definição 15 (Conjunto de medida nula). Seja (Ω, Σ, µ) um espaço de


medida, dizemos que B ∈ Σ possui medida nula se µ(B) = 0.

m Definição 16 (Conjunto negligenciável). Dizemos que E ⊂ Ω é µ-negligenciável,


ou apenas negligenciável caso esteja clara a medida µ da qual estamos tratando,
se existe B ∈ Σ tal que E ⊂ B e µ(B) = 0. Conjuntos negligenciáveis, são conjuntos
contidos em conjuntos de medida nula.
Uma outra definição possı́vel e que não iremos adotar aqui é a de que A ⊂ Ω
possui medida nula se existe E ⊂ Σ tal que A ⊂ E e µ(E) = 0.
Nesse caso um conjunto de medida nula não precisa ser mensurável, precisa
apenas ser subconjunto de um conjunto mensurável de medida nula. Nesta última
definição os conjuntos negligenciáveis são os conjuntos de medida nula, porém
não vamos seguir tal definição, pois consideramos a inicial mais natural.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 21

$ Corolário 3. Todo conjunto de medida nula B é negligenciável , pois está


contido em si mesmo ( que possui medida nula) .

$ Corolário 4. • Segue da σ-subaditividade de µ que a união enumerável de


conjuntos de medida nula é um conjunto de medida nula, pois


∞ ∑

µ( Bk ) ≤ µ(Bk ) = 0.
k=1 k=1



• Se (Ak ) é uma sequência de conjuntos negligênciáveis então Ak é ne-
k=1
gligênciável, pois para cada Ak existe Bk tal que Ak ⊂ Bk , onde cada Bk
possui medida nula, daı́

∞ ∪

Ak ⊂ Bk ,
k=1 k=1



e pelo item anterior Bk possui medida nula.
k=1

m Definição 17 (Espaço de medida completo). Um espaço de medida em que


todos os conjuntos negligenciáveis são mensuráveis é dito ser completo.

$ Corolário 5. Caso um conjunto negligenciável E seja mensurável ele possui


medida nula, pois existe B de medida nula tal que E ⊂ B e daı́ por subaditividade
tem-se
µ(E) ≤ µ(B) = 0.

m Definição 18 (Propriedade para quase todo ponto). Seja (Ω, σ, µ) espaço de


medida, dizemos que P(x) vale para quase todo ponto x ∈ Ω se {x ∈ Ω | P(x) é falso}
é negligenciável, onde P(x) é uma proposição que depende de x.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 22

Também são usadas as expressões, quase sempre (almost everywhere, a.e),


almost surely (a.s), presque partout (p.p).

1.2.8 Se µ(E∆F) = 0 então µ(E) = µ(F) = µ(E ∩ F).

b Propriedade 11. Sejam E e F subconjuntos de X e a diferença simétrica


E∆F = (E ∩ Fc ) ∪ (Ec ∩ F). Suponha que E e F são mensuráveis para alguma medida
µ e que µ(E∆F) = 0 então µ(E) = µ(F) = µ(E ∩ F).

ê Demonstração.
Usamos que E = (E ∩ F) ∪ (Fc ∩ E) é união disjunta de maneira semelhante para F,
como (E ∩ Fc ) ∪ (Ec ∩ F) é união disjunta temos

µ(E ∩ Fc ) + µ(Ec ∩ F) = µ(E∆F)

pois medida é finitamente aditiva, como medida assume valor não negativo, tem-se

µ(E ∩ Fc ) = µ(Ec ∩ F) = 0.

Aplicando µ em E = (E ∩ F) ∪ (Fc ∩ E) e usando a união disjunta segue

µ(E) = µ(E ∩ F) + µ(Fc ∩ E)


| {z }
0

de maneira semelhante para F = (F ∩ E) ∪ (Ec ∩ F),

µ(F) = µ(F ∩ E) + µ(Ec ∩ F) = µ(F ∩ E),


| {z }
0

daı́ tem-se que


µ(E) = µ(F) = µ(E ∩ F).

b Propriedade 12. A relação ∼ definida por A ∼ B ⇔ µ(A∆B) = 0 é uma


relação de equivalência.

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 23

Figura 1.1: legenda

1. A ∼ A pois µ(A∆A) = (A ∩ Ac ) ∪ (Ac ∩ A) = ∅ que possui medida nula.

2. Se A ∼ B então B ∼ A, pois µ(A∆B) = µ(B∆A) = 0.

3. Se A ∼ B e B ∼ C então A ∼ C.

Vamos mostrar que µ(A∆C) = 0. Por µ(AδB) = 0 segue que

µ(A ∩ Bc ∩ Cc ) = µ(C ∩ A ∩ Bc ) = µ(B ∩ Ac ∩ Cc ) = µ(C ∩ B ∩ Ac ) = 0.

Da mesma maneira, por µ(B∆C) = 0 segue que

µ(C ∩ A ∩ Bc ) = µ(C ∩ Bc ∩ Ac ) = µ(A ∩ B ∩ Cc ) = 0.

Porém
µ(A∆C) = µ(Ac ∩ C) + µ(A ∩ Cc ),
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 24

mas temos

Ac ∩ C = (C ∩ Bc ∩ Ac ) ∪ (C ∩ B ∩ Ac ) e A ∩ Cc = (A ∩ Bc ∩ Cc ) ∪ (A ∩ B ∩ Cc ),

sendo que , cada um desses conjuntos possui medida nula , assim vale µ(A∆C) =
0 como querı́amos provar.

b Propriedade 13. Se A, B ∈ Σ definimos d(A, B) =:= µ(A∆B). d define uma


métrica no espaço A/ ∼ de relações de equivalência .

ê Demonstração.

1. d(A, A) = 0 pois µ(A∆A) = 0. Também vale que d(A, B) ≥ 0 pois a medida é


positiva e se d(A, B) = 0, A e B estão identificados pela relação de equivalência
.

2. d(A, B) = d(B, A) pois µ(A∆B) = µ(B∆A).

3. Vale também a desigualdade triangular pois

µ(A∆B) + µ(B∆C) =
1 4
z }| { z }| {
= [µ(A ∩ Bc ∩ Cc ) +µ(C ∩ A ∩ Bc ) + µ(B ∩ Ac ∩ Cc ) + µ(C ∩ B ∩ Ac )]+
3 2
z }| { z }| {
+[µ(C ∩ A ∩ B ) + µ(C ∩ Bc ∩ Ac ) + µ(A ∩ B ∩ Cc ) +µ(B ∩ Ac ∩ Cc )] ≥
c

1 2 3 4
z }| { z }| { z }| { z }| {
≥ µ(A ∩ Bc ∩ Cc ) + µ(A ∩ B ∩ Cc ) + µ(C ∩ Bc ∩ Ac ) + µ(C ∩ B ∩ Ac ) .

Os termos que aparecem no segundo membro também aparecem no primeiro e


todos são positivos, então vale a desigualdade triangular.

m Definição 19 (Sequência crescente de conjuntos). Uma sequência (Ak ) de


conjuntos é dita crescente se Ak ⊂ Ak+1 . Denotaremos sequências desse tipo por
An ↑, escrevemos
An ↑ A
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 25

se An ↑ e


A= Ak .
k=1

Definimos também A0 = ∅.

m Definição 20 (Sequência decrescente de conjuntos). Uma sequência (Ak ) de


conjuntos é dita crescente se Ak ⊃ Ak+1 . Denotaremos sequências desse tipo por
An ↓, escrevemos
An ↓ A

se An ↓ e


A= Ak .
k=1

1.3 Medidas regulares

m Definição 21 (Medida regular). Sejam Ω ⊂ Rn ou em geral , Ω um espaço


topológico , a um anel em P(Ω), µ : a → [0, ∞] uma medida finitamente aditiva .
Dizemos que µ é regular se ∀ A ∈ a temos que

1. µ(A) = sup{µ(K), K ⊂ a, K compacto, K ⊂ A}.

2. µ(A) = inf {µ(U), U ⊂ a, U aberto, A ⊂ U}.

Em palavras

1. Todo elemento A do semi-anel tem medida dada pelo supremo das medidas
dos compactos que estão contidos em A e também

2. dada pelo ı́nfimo das medidas dos abertos que contém A.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 26

Figura 1.2: Elemento A do semi-anel a, K um compacto contido nele e U um aberto


o contendo.

b Propriedade 14. Se µ : S → [0, ∞] é regular então µ é σ- aditiva.

ê Demonstração.

∞ ∪
m
Seja A ∈ S com A = Ak , Ak ∈ S, temos que Ak ⊂ A logo tem-se
k=1 k=1


m ∑
m
µ( Ak ) = µ(Ak ) ≤ µ(A), ∀ m ∈ N,
k=1 k=1

então no limite a desigualdade se mantém portanto




Ak ≤ µ(A).
k=1



Seja K ⊂ A um compacto, vamos mostrar que µ(K) ≤ Ak , o que permite provar
k=1
o teorema pois
µ(A) = sup{µ(K), K compacto, K ⊂ A},


como o supremo é a menor das cotas superiores e temos µ(K) ≤ Ak , logo é uma
k=1
cota superior, segue que

∞ ∑

µ(A) ≤ Ak ≤ µ(A) ⇒ Ak = µ(A),
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 27

vamos provar então a propriedade para compactos.



∞ ∑∞
Se Ak = ∞ junto de Ak ≤ µ(A) tem-se µ(A) = ∞ logo temos a igualdade.
k=1 k=1


Vamos supor então que Ak < ∞. Dado ε > 0 existe Uk ∈ S aberto, com Ak ⊂ Ak
k=1
ε
e µ(Uk ) < µ(Ak ) + k , além disso
2

∞ ∪

K⊂A= Ak =⊂ Uk .
k=1 k=1



Temos uma cobertura de K por meio de abertos Uk , por definição de conjunto
k=1
compacto, existe uma subcobertura finita que cobre K, logo existe n ∈ N tal que

n
K⊂ Uk ,
k=1

por aditividade finita aplicando a medida tem-se



n ∑
n
ε
µ(K) ≤ µ(Uk ) < [µ(Ak ) + ]≤
2k
k=1 k=1



ε ∑ ∞
[µ(Ak ) + ] = [µ(Ak )] + ε
2k
k=1 k=1
∑∞
1
onde usamos o resultado da série = 1.
2k
k=1


Então temos que µ(K) < [µ(Ak )] + ε para ε > 0 arbitrário, não pode valer então
k=1

∞ ∑

µ(K) > [µ(Ak )] e portanto vale µ(K) ≤ [µ(Ak )] como querı́amos provar.
k=1 k=1

b Propriedade 15. A medida µ : S → [0, ∞] onde S é a coleção de intervalos


limitados de R é regular.

ê Demonstração. Se I ∈ {(a, b), (a, b], [a, b], [a, b)},

1.
2 1 1
µ(I) = b − a = lim(b − a +
) = lim µ(a − , b + ).
n n n
1 1
Aqui temos conjuntos abertos (a − , b + ) contendo o intervalo I.
n n
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 28

2.
2 1 1
µ(I) = b − a = lim(b − a − ) = lim µ[a + , b − ].
n n n
Aqui temos compactos contidos em I .

Se a = b então µ(I) = 0 = µ(∅)

1.4 Completamento de medida

b Propriedade 16. Sejam (X, A, µ) um espaço de medida,

• Seja N a coleção de conjuntos negligenciáveis, isto é, que são subconjuntos


de conjuntos de medida nula

N = {N ⊂ X, N ⊂ M para algum M ∈ A tal que µ(M) = 0}.

• Definimos A como conjunto que consiste da união de um elemento da σ-


álgebra A com um conjunto negligenciável.

A = {A ′ ∪ N ′ , A ′ ∈ A, N ′ ∈ N}.

• Definimos a função de conjuntos µ ′ sobre A, µ ′ : A → [0, ∞] com

µ ′ (A ′ ∪ N ′ ) = µ(A ′ ),

para todo A ′ ∪ N ′ ∈ A.

Nessas condições (X, A, µ ′ ) é um espaço de medida completo .

ê Demonstração. Observe inicialmente que, como ∅ ∈ A, temos

µ ′ (N) = µ ′ (∅ ∪ N) = µ(∅) = 0.

Então, os conjuntos negligenciáveis possuem medida nula com respeito à µ ′ .


Vamos mostrar que A é uma σ-álgebra , µ ′ é função de conjunto σ-aditiva.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 29

1. A é uma σ-álgebra. A e N são fechados por uniões enumeráveis, A por definição


de álgebra e N pois se (Nk )∞
1 ∈ N cada um dos elementos está contido em um

Mk de medida nula, daı́ vale



∞ ∪

Nk ⊂ Mk ,
k=1 k=1

que possui medida nula por subaditividade, como já provamos. Por isso A é


fechado por união enumerável. Dada Ck uma sequência em A, então do fato
k=1
que Ck ∈ A, existe Ak ∈ A e Nk ∈ N, tais que Ck = Ak ∪ Nk . Portanto,

∞ ∪
∞ ∪
∞ ∪

Ck = [Ak ∪ Nk ] = [Ak ] ∪ [Nk ] .
k=1 k=1
| {z } | {z }
k=1 k=1
∈A ∈N

2. É fechado por complementar. Sejam A ′ ∪ N ′ ∈ A, B ∈ A ∩ N e N ′ ⊂ B, tal B


existe pois N ′ é negligenciável, logo existe B com N ′ ⊂ B, B ∈ A e B ∈ N, pois
B é negligenciável. Podemos escrever

X \ (A ′ ∪ N ′ ) = X \ (A ′ ∪ B) ∪ [B \ (A ′ ∪ N ′ )],
| {z } | {z }
∈A ∈N

a última identidade é interessante desenhar, tomamos o complementar de (A ′ ∪


B) que retira mais do que desejamos, por isso temos que adicionar o termo
[B \ (A ′ ∪ N ′ ) na união. Além disso [B \ (A ′ ∪ N ′ )] é subconjunto de A ∩ N, logo
de N e por isso é negligenciável.

3. ∅ ∈ A pois ∅ ∈ A e ∅ ∈ N. Com isso concluı́mos que A é uma σ-álgebra.

• µ ′ está bem definida . Se A1 ∪ N1 = A2 ∪ N2 com A1 , A2 ∈ A , N1 , N2 ∈ N vamos


mostrar que

µ ′ (A1 ∪ N1 ) = µ ′ (A2 ∪ N2 ), isto é , µ(A1 ) = µ(A2 ).

Temos que
A1 ⊂ A1 ∪ N1 = A2 ∪ N2 ⊃ A2 ,

logo temos que A1 \ A2 ⊂ N2 e A2 \ A1 ⊂ N1 , logo ambos conjuntos são de


medida nula, temos que

A1 = (A1 ∩ A2 ) ∪ (A1 \ A2 ) ⇒ µ(A1 ) = µ(A1 ∩ A2 ),


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 30

da mesma forma

A2 = (A1 ∩ A2 ) ∪ (A2 \ A1 ) ⇒ µ(A2 ) = µ(A1 ∩ A2 ),

disso segue que µ(A1 ) = µ(A2 ) como querı́amos provar.

Agora vamos mostrar que µ ′ é uma medida. Considere uma sequência disjunta
de conjuntos Ak′ = Ak ∪ Nk ∈ A, temos que


∞ ∪
∞ ∪

µ ′( [Ak ∪ Nk ]) = µ ′ ( [Ak ] ∪ [Nk ]) =
k=1 k=1
| {z }
k=1
∈N

a segunda parte marcada acima é negligenciável, logo ficamos com


∞ ∑
∞ ∑

= µ( Ak ) = µ(Ak ) = µ ′ (Ak ∪ Nk )
k=1 k=1 k=1

portanto µ é σ-aditiva . E com isso conluı́mos por fim que (X, A, µ ′ ) é uma σ-álgebra

completa, isto é, possui todos conjuntos µ ′ -negligenciáveis como conjuntos de medida
nula.

1.5 Medida exterior

m Definição 22 (Medida exterior). θ : 2X → [0, ∞], onde 2X é a famı́lia de


subconjuntos de X é uma medida exterior se

• θ(∅) = 0.

• Se E ⊂ F ⊂ X então θ(E) ≤ θ(F).



∞ ∑

θ( Ak ) ≤ θ(Ak ),
k=1 k=1

isto é, é enumeravelmente subaditiva.

1.5.1 Exemplo de medida exterior que não é medida.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 31

Z Exemplo 6. Seja X um conjunto qualquer não vazio, θ : P(X) → [0, ∞]


definida com


 0, se A é enumerável
θ(A) =
 1 caso contrário
θ é uma medida exterior, mas não é medida.

• θ(∅) = 0. Pois o vazio é enumerável .

• Sejam E ⊂ F ⊂ X . Se F é enumerável então E é enumerável e vale θ(E) =


0 ≤ θ(F) = 0. Se F é não enumerável então também vale pois θ(E) ≤ θ(F) = 1
|{z}
∈{0,1}



∞ ∑

θ( Ak ) ≤ θ(Ak ),
| {z
k=1
} k=1

∈{0,1}



isto é, é enumeravelmente subaditiva. Se Ak é não enumerável, algum dos
k=1
Ak é não enumerável e daı́ θ(Ak ) = 1 por isso o segundo lado da expressão
é maior ou igual que 1 . Se cada Ak é enumerável vale a igualdade, ambos
lados sendo nulos.

Tal função não é medida pois tome uma união enumerável com exatamente
apenas A1 e A2 não enumeráveis então


∞ ∑

θ( Ak ) = 1, θ(Ak ) = 2
k=1 k=1

portanto são diferentes.

Z Exemplo 7. Seja X um conjunto qualquer não vazio, θ : P(X) → [0, ∞]


definida com
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 32


 0, se A é enumerável
v(A) =
 ∞ caso contrário

v é uma medida exterior .

• v(∅) = 0. Pois o vazio é enumerável .

• Sejam E ⊂ F ⊂ X . Se F é enumerável então E é enumerável e vale v(E) = 0 ≤


v(F) = 0. Se F é não enumerável então também vale pois v(E) ≤ θ(F) = ∞
|{z}
∈{0,∞}



∞ ∑

v( Ak ) ≤ v(Ak ),
| k={z
1
} k=1

∈{0,∞}

se cada Ak é enumerável, vale a igualdade, ambos lados valendo 0.

Neste caso v é medida, se cada Ak é enumerável, disjunto, então


∞ ∑

v( Ak ) = 0 = v(Ak ) = 0,
k=1 k=1

se pelo menos um é não enumerável, temos que


∞ ∑

v( Ak ) = ∞ = v(Ak ) = ∞.
k=1 k=1

b Propriedade 17. Uma medida σ-aditiva é uma medida exterior.

ê Demonstração.

• Já sabemos que vale µ(∅) = 0.

• Se E ⊂ F, podemos escrever F = E ∪ Ec que é união disjunta, temos

µ(F) = µ(E) + µ(Ec ) ≥ µ(E)

como querı́amos demonstrar.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 33

∪1
n−
• Dados (Ak )∞
1 conjuntos, definimos B1 = A1 , B2 = A2 \ A1 , · · · , Bn = An \ ( Ak )
k=1
temos que

∞ ∪

Bk = Ak
k=1 k=1

∞ ∑
∞ ∪

µ( Bk ) = µ(Bk ) = µ( Ak )
k=1 k=1 k=1
Temos que mostrar que

∞ ∑

µ(Bk ) ≤ µ(Ak )
k=1 k=1

Tem-se que Bk ⊂ Ak ⇒ µ(Bk ) ≤ µ(Ak )∀ k daı́ tomamos a soma de ambos lados,


o que implica

∞ ∑

µ(Bk ) ≤ µ(Ak )
k=1 k=1

e daı́

∞ ∑

µ( Ak ) ≤ µ(Ak ).
k=1 k=1

m Definição 23 (Retângulo fechado). Um retângulo fechado em Rn é um


conjunto de pontos da forma


n
[a1 , b1 ] × [a2 , b2 ] × · · · × [an , bn ] = [ak , bk ]
k=1,c

produto cartesiano de intervalos fechados de R.

m Definição 24 (Medida de um retângulo ). Definimos a medida de um


retângulo como

n ∏
n
µ( [ak , bk ]) = (bk − ak )
k=1,c k=1

m Definição 25 (Famı́lia de retângulos). Seja X = Rn , S a famı́lia de retângulos


fechados. S não é uma σ álgebra, pois união de retângulos fechados pode não ser
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 34

um retângulo.

m Definição 26. Seja S um semi-anel, µ uma medida sobre S, definimos



F = {A ⊂ Ω, A ⊂ Ak , para alguma sequência (Ak ), Ak ∈ S ∀ k}.
k=1

Perceba que nessa definição A é subconjunto de Ω ele pode não necessaria-


mente pertencer ao semi-anel S, mas ele deve possuir uma cobertura por elementos
do semi-anel.

1.5.2 Medida exterior de Lebesgue

m Definição 27 (Medida exterior de Lebesgue.). Considerando a notação da


definição anterior.
Definimos µ∗ : F → [0, ∞] com

∑∞ ∪


µ (E) = inf { µ(Ak ), E ⊂ Ak , Ak ∈ S ∀ k}.
k=1 k=1

Em especial podemos tomar essa definição com Ω = Rn , S famı́lia de retângulos


em Rn , µ∗ fica definida em subconjuntos de Rn , µ∗ (E) é o ı́nfimo da soma das me-
didas dos retângulos que cobrem E. Lembrando que já temos medida de retângulos
definida.
µ∗ também pode ser chamada de Medida exterior induzida por µ sobre F.

1.5.3 Medida de Lebesgue nula

m Definição 28 (Medida de Lebesgue nula). E possui medida de Lebesgue nula


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 35

se ∀ ε > 0 existe (Ak ) ∈ S tal que



E⊂ Ak
k=1



e µ(Ak ) ≤ ε.
k=1

$ Corolário 6. Considere as notações da definição anterior. Se E possui medida


de Lebesgue nula então µ∗ (E) = 0,, pois temos


∞ ∪
∞ ∑


µ (E) = inf { µ(Bk ), E ⊂ Bk } ≤ µ(Ak ) ≤ ε.
k=1 k=1 k=1




Se µ (E) = 0, dado ε > 0 então existe (Ak ) cobertura de E, tal que µ(Ak ) ≤
k=1


ε, caso contrário para toda cobertura (Bk ) terı́amos µ(Bk ) > ε, daı́ o ı́nfimo
k=1
não poderia ser nulo, pois seria ≥ ε.

m Definição 29 (Classe de conjuntos hereditária). Uma classe P de conjuntos


é hereditária se B ⊂ A e A ⊂ P então B ⊂ P.

b Propriedade 18. F é um σ- anel hereditário.

ê Demonstração. Se B ⊂ A e A ∈ F então B ∈ F, pois A possui cobertura


por meio de elementos de S então B também possui. Por isso a classe F também é
fechada por diferenças pois A1 \ A2 ⊂ A1 , se A1 , A2 ∈ F, portanto A1 ∈ F.


Seja uma sequência (Ak ) em F, então para cada k, temos Ak ⊂ Sk,j com cada
j=1
Sk,j ∈ S daı́ temos

∞ ∪
∞ ∪

Ak ⊂ Sk,j
k=1 k=1 j=1

que é união enumerável de elementos de S. Portanto o conjunto é fechado por união


enumerável e por diferença, além de ter a propriedade hereditária.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 36

F é um σ-anel hereditário .

1.5.4 Geração de medidas exteriores

b Propriedade 19. Generalizamos um pouco a medida exterior similar a


medida exterior de Lebesgue. Sejam C ⊂ P(X) e ρ : C → [0, ∞] tais que ∅, X ∈ C ,
ρ(∅) = 0. Para A ⊂ X definimos


∞ ∪


µ (A) = inf { ρ(Ck ) | {Ck } ⊂ C e A ⊂ Ck }
k=1 k=1

então µ∗ é uma medida exterior .

ê Demonstração. µ∗ é uma definição que faz sentido, pois dado A ⊂ X, temos


X ∈ C pela definição de C, logo podemos tomar uma cobertura de A apenas com o
elemento X de C e o conjunto


∞ ∪

{ ρ(Ck ) | {Ck } ⊂ C e A ⊂ Ck },
k=1 k=1

não é vazio pois temos ρ(X) no conjunto . O resto da demonstração apresentamos na


propriedade a seguir, que vale tanto para medida exterior de Lebesgue quanto essa
que acabamos de definir .

b Propriedade 20. µ∗ a medida exterior de Lebesgue é uma medida exterior.


(Porém não é uma medida em geral).

ê Demonstração.

• Vale que µ∗ (∅) = 0 pois podemos cobrir o vazio com conjuntos vazios que
possuem sempre medida 0, o ı́nfimo do conjunto é 0 .

• Dados A, B ∈ F com A ⊂ B então µ∗ (A) ≤ µ∗ (B). µ∗ (A) é cota inferior para o


conjunto
∑∞ ∪

{ µ(Bk ), B ⊂ Bk , Bk ∈ S ∀ k}
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 37


∞ ∑


pois A ⊂ B ⊂ Bk para qualquer cobertura de B logo µ (A) ≤ µ(Bk ) como
k=1 k=1
µ∗ (B) é o ı́nfimo, maior cota superior do conjunto acima, então

µ∗ (A) ≤ µ∗ (B).

• Vale que µ∗ assume valores em [0, ∞], pois ∀ A ∈ F temos ∅ ⊂ A e daı́ das
duas propriedades anteriores, segue que µ∗ (A) ≥ µ∗ (∅) = 0.

∞ ∑


• Vamos mostrar que vale µ ( Ak ) ≤ µ∗ (Ak ) ∀ Ak ∈ F. Se µ∗ (Ak ) = ∞ para
k=1 k=1
algum k, então o lado direito é infinito e portanto vale a desigualdade Suponha
então que µ∗ (An ) < ∞ para todo n. Vamos mostrar que para todo ε > 0, tem-se


∞ ∑

µ∗ ( Ak ) ≤ µ∗ (Ak ) + ε.
k=1 k=1

Seja ε > 0, por definição de µ∗ , ∀ n existe (Sn,j )j∈N com Sn,j ∈ S ∀ j tal que



An ⊂ Sn,j
j=1



ε
e µ∗ (An ) ≤ µ(Sn,j ) ≤ µ∗ (An )+ , por propriedade de aproximação do ı́nfimo,
2n
j=1
logo

∞ ∪
∞ ∪

Ak ⊂ Sk,j ,
k=1 k=1 j=1

usando a definição de µ tem-se


∞ ∑
∞ ∑
∞ ∑

ε

µ( Ak ) ≤ µ(S(k, j)) ≤ [µ∗ (Ak ) + ]=
2k
k=1 k=1 j=1 k=1

∑∞
=[ µ∗ (Ak )] + ε
k=1

como querı́amos demonstrar. Como ε > 0 pode ser tomado arbitrariamente



∞ ∑

pequeno então µ∗ ( Ak ) ≤ µ∗ (Ak ).
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 38

Z Exemplo 8. Para a medida de Lebesgue é simples ver que µ ([a, b)) ≤ b − a,


pois temos a cobertura trivial [a, b) ⊂ [a, b), daı́

µ∗ ([a, b)) ≤ µ[a, b) = b − a,

por propriedade do ı́nfimo.

1.5.5 Se A ∈ S então µ∗ (A) = µ(A).

b Propriedade 21. Se A ∈ S então µ∗ (A) = µ(A). Portanto µ∗ é uma extensão


de µ.

ê Demonstração. Como A é cobertura de A por elementos de S, temos que



µ (A) ≤ µ(A), por ser ı́nfimo do conjunto das coberturas. Dada uma cobertura

∞ ∪∞
qualquer Ak de A, com cada Ak ∈ S, temos A ⊂ Ak
k=1 k=1


∞ ∑

µ(A) ≤ µ( Ak ) ≤ µ(Ak )
k=1 k=1

portanto µ(A) é uma cota inferior para o conjunto das coberturas, por isso µ(A) ≤
µ∗ (A) pois a última é a maior cota inferior, das duas desigualdades tem-se a igual-
dade µ∗ (A) = µ(A).

1.5.6 Conjuntos µ∗ -mensuráveis

m Definição 30 (Conjunto mensurável à Lebesgue). M ∈ F é dito µ∗ -mensurável


se ∀ A ∈ F, temos
µ∗ (A) = µ∗ (A ∩ M) + µ∗ (A ∩ Mc ).

Denotamos por Λ = {m ∈ F | M é mensurável} a classe dos conjuntos µ∗ -


mensuráveis de S.
Lembramos que F é o conjunto cujos elementos são subconjuntos A ⊂ Ω (Ω
um conjunto base dado), tal que A pode ser coberto por uma união enumerável
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 39

de elementos de um semi-anel S. S e Ω são dados a priori.

Z Exemplo 9. Dada a medida exterior θ (E) = 0 se E é enumerável e θ (E) = 1


∗ ∗

caso contrário em X um conjunto não enumerável, então todo conjunto M ⊂ X


enumerável é θ∗ -mensurável , pois, se A é enumerável vale que

θ∗ (A) = 0,

porém A ∩ M e A ∩ Mc são enumeráveis, por serem subconjuntos de conjuntos


enumeráveis, logo

θ∗ (A ∩ M) + θ∗ (A ∩ Mc ) = 0 + 0 = 0,

agora se A é não enumerável, temos que A = (A ∩ M) ∪ (A ∩ Mc ) união disjunta,


(A ∩ M) é enumerável, por isso (A ∩ Mc ) não pode ser enumerável, pois se não A
seria união de enumeráveis e portanto enumerável, portanto

θ∗ (A) = 1,

θ∗ (A ∩ M) + θ∗ (A ∩ Mc ) = 0 + 1 = 1,
| {z } | {z }
0 1

logo vale que M enumerável é θ -mensurável .
Agora se M é não enumerável, ele pode ser não mensurável, tome por exemplo
M = (−1, 1), Mc = (−∞, −1] ∪ [1, ∞) e A = (−2, 2), segue que A ∩ M = (−1, 1) é
não enumerável e (A ∩ Mc ) = (−2, −1] ∪ [1, 2) também é não enumerável, portanto

θ∗ (A) = 1,

θ∗ (A ∩ M) + θ∗ (A ∩ Mc ) = 1 + 1 = 2,
| {z } | {z }
1 1

portanto não é θ mensurável em geral.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 40

Z Exemplo 10. Dada a medida exterior v(E) = 0 se E é enumerável e v(E) = ∞


caso contrário em X um conjunto não enumerável, então todo conjunto M ⊂ X é
v-mensurável .
Se A é enumerável vale que
v(A) = 0,

porém A ∩ M e A ∩ Mc são enumeráveis, por serem subconjuntos de conjuntos


enumeráveis, logo
v(A ∩ M) + v(A ∩ Mc ) = 0 + 0 = 0,

agora se A é não enumerável, temos que A = (A ∩ M) ∪ (A ∩ Mc ) união disjunta,


(A ∩ M) é não-enumerável ou (A ∩ Mc ) é não enumerável , os dois não podem ser
enumeráveis, pois se não A seria união de enumeráveis e portanto enumerável,
logo

v(A) = ∞,

v(A ∩ M) + v(A ∩ Mc ) = ∞,

logo vale que M é v-mensurável .

$ Corolário 7. Se M é mensurável então Mc é mensurável com respeito a µ∗


pois pela primeira condição vale ∀ A ∈ F tque

µ∗ (A) = µ∗ (A ∩ M) + µ∗ (A ∩ Mc ),

a identidade é simétrica em relação a troca de M por Mc pois (Mc )c = M.

$ Corolário 8. Para mostrar que um conjunto M ∈ F é mensurável, basta


mostrar que
µ∗ (A) ≥ µ∗ (A ∩ M) + µ∗ (A ∩ Mc ), ∀ A ∈ F
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 41

pois a outra desigualdade segue do fato de µ∗ ser medida exterior, pois A =


(A ∩ M) ∪ (A ∩ Mc ) logo por subaditividade da medida exterior tem-se

µ∗ (A) ≤ µ∗ (A ∩ M) + µ∗ (A ∩ Mc ).

Z Exemplo 11. Seja µ ∗


a medida de contagem, então todos os subconjuntos
de X são µ∗ -mensuráveis.

µ∗ (A) ≥ µ∗ (A ∩ M) + µ∗ (A ∩ Mc )

Se A é infinito a desigualdade vale, como A = (A ∩ M) ∪ (A ∩ Mc ), ambos (A ∩ M)


e (A ∩ Mc ) são mensuráveis disjuntos, então vale que

µ∗ (A) = µ∗ (A ∩ M) + µ∗ (A ∩ Mc ).

$ Corolário 9. Para toda µ∗ , ∅ e X são µ∗ mensuráveis, pois


0 X
z }| { z}|{
µ∗ (A) ≥ µ∗ (A ∩ ∅) +µ∗ (A ∗
| {z ∅ }) = µ (A)
∩ c
| {z }
0 A

então vale a igualdade, para qualquer A.

Z Exemplo 12. Seja X um conjunto não vazio, defina µ ∗


tal que µ∗ (E) = 0
caso E é vazio e µ∗ (E) = 1 caso contrário e E ⊂ X. Neste caso X e ∅ são os únicos
conjuntos µ∗ -mensuráveis. Se M ̸= ∅, X e M fosse µ∗ -mensurável deveria valer
em especial que
Mc
1
z }| { z }| {
∗ ∗ ∗
| {z } | ∩
µ (X) = µ (X {zM}) + µ
|
(X ∩ MC ) = 2
{z }
=1 M 1

o que é falso.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 42

b Propriedade 22. Sejam M1 , M2 ∈ Λ então M1 ∪ M2 ∈ Λ.

ê Demonstração. Se µ∗ (A) = ∞ nada precisamos mostrar, se µ∗ (A) < ∞,


temos

µ∗ (A) = µ∗ (A ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ) =

= µ∗ (A ∩ M1 ∩ M2 ) + µ∗ (A ∩ M1 ∩ Mc2 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ∩ M2 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ∩ Mc2 ) .


| {z } | {z }
µ∗ (A∩M1 ) µ∗ (A∩Mc1 )

Como M1 ∪ M2 = (M1 ∩ M2 ) ∪ (M1 ∩ Mc2 ) ∪ (M2 ∩ Mc1 ) segue da subaditividade que

µ∗ (A ∩ M1 ∩ M2 ) + µ∗ (A ∩ M1 ∩ Mc2 ) + µ∗ (A ∩ M2 ∩ Mc1 ) ≥ µ∗ (A ∩ M1 ∪ M2 )

por isso
(M1 ∪M2 )c
z }| {
µ∗ (A) ≥ µ∗ (A ∩ M1 ∪ M2 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ∩ Mc2 ),

portanto M1 ∪ M2 ∈ Λ.


n
$ Corolário 10. Por indução segue que se (Ak )n1 ∈ Λ então Ak ∈ Λ.
k=1

$ Corolário 11. Λ é álgebra pois é fechado por uniões finitas, complementar e


o vazio pertence a ele.

1.5.7 µ∗ (A ∩ (M1 ∪ M2 )) = µ∗ (A ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ M2 ).

b Propriedade 23. Se M1 , M2 ∈ Λ disjuntos, então

µ∗ (A ∩ (M1 ∪ M2 )) = µ∗ (A ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ M2 ).

ê Demonstração. Temos que

µ∗ (A) = µ∗ (A ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ∩ M2 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ∩ Mc2 ),


| {z }
µ(A∩Mc1 )
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 43

onde a parte destacada usamos a mensurabilidade de Mc1 , substituindo A por A ∩


(M1 ∪ M2 ) e usando
A ∩ (M1 ∪ M2 ) ∩ M1 = A ∩ M1
A ∩ (M1 ∪ M2 ) ∩ Mc1 ∩ M2 = A ∩ M2
| {z }
M2

A ∩ (M1 ∪ M2 ) ∩ Mc1 ∩ Mc2 = ∅


estamos usando que M1 e M2 são disjuntos, utilizando essas identidades na igualdade
anterior temos

µ∗ (A ∩ (M1 ∪ M2 )) = µ∗ (A ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ M2 ).

$ Corolário 12. Por indução, temos que se (M1 , · · · , Mn ) é uma sequência de


elementos disjuntos µ∗ -mensuráveis e A ⊂ X, então


n ∑
n

µ (A ∩ Mk ) = µ∗ (A ∩ Mk )
k=1 k=1


∪ ∞


1.5.8 µ ([ Mk ] ∩ E) = µ∗ (Mk ∩ E).
k=1 k=1

b Propriedade 24. Se (Mk ) é uma sequência de elementos disjuntos µ∗ -


mensuráveis e A ⊂ X então


∞ ∑


µ ([ Mk ] ∩ E) = µ∗ (Mk ∩ E).
k=1 k=1

ê Demonstração. Sabemos que



∞ ∪
n ∑
n
∗ ∗
µ ([ Mk ] ∩ E) ≥ µ ( Mk ∩ E) = µ∗ (Mk ∩ E),
k=1 k=1 k=1


n ∪

pois [ Mk ] ∩ E ⊂ [ Mk ] ∩ E daı́ temos
k=1 k=1


∞ ∑

µ∗ ( Mk ∩ E) ≥ µ∗ (Mk ∩ E)
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 44

no limite. Como µ∗ é medida exterior vale a desigualdade


∞ ∑


µ( Mk ∩ E) ≤ µ∗ (Mk ∩ E)
k=1 k=1

com as duas últimas desigualdades temos a igualdade


∞ ∑

µ∗ ( Mk ∩ E) = µ∗ (Mk ∩ E).
k=1 k=1

1.5.9 µ∗ |Λ é finitamente aditiva.

b Propriedade 25. µ∗ |Λ é finitamente aditiva. Se M1 , M2 ∈ Λ disjuntos então

µ∗ (M1 ∪ M2 ) = µ∗ (M1 ) + µ∗ (M2 ).

O caso para n conjuntos segue por indução .

ê Demonstração.[1]

µ∗ (M1 ∪ M2 ) = µ∗ ((M1 ∪ M2 ) ∩ M1 ) + µ∗ ((M1 ∪ M2 ) ∩ Mc1 ) = µ∗ (M1 ) + µ∗ (M2 ).

Logo µ∗ é finitamente aditiva.


ê Demonstração.[2]
Substituı́mos A por M1 ∪ M2 na identidade

µ∗ (A ∩ (M1 ∪ M2 )) = µ∗ (A ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ M2 )

que provamos na proposição anterior, usando que

(M1 ∪ M2 ) ∩ (M1 ∪ M2 ) = M1 ∪ M2

(M1 ∪ M2 ) ∩ M1 = M1

(M1 ∪ M2 ) ∩ M2 = M2

segue
µ∗ (M1 ∪ M2 ) = µ∗ (M1 ) + µ∗ (M2 ).
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 45

b Propriedade 26. Se M1 , M2 ∈ Λ então M1 \ M2 ∈ Λ.

ê Demonstração. Por termos M1 \ M2 = (M1 ∪ M2 ) \ M2 basta considerar o


caso de M2 ⊂ M1 (porque?). Temos as identidades:

1.
µ∗ (A ∩ (M1 \ M2 )) = µ∗ (A ∩ M1 ∩ Mc2 )

pois M1 \ M2 = M1 ∩ Mc2 disso também segue que (M1 \ M2 )c = Mc1 ∪ M2 , que


usaremos a seguir.

2.
µ∗ (A ∩ (M1 \ M2 )c ) = µ∗ (A ∩ [Mc1 ∪ M2 ]) ≤

agora usando subaditividade

µ∗ (A ∩ M2 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ) = µ∗ (A ∩ M2 ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 )
| {z }
M2

a parte marcada segue pois M2 ⊂ M1 .

Somando as expressões (1) e (2) segue que

µ∗ (A ∩ (M1 \ M2 )) + µ∗ (A ∩ (M1 \ M2 )c ) ≤

µ∗ (A ∩ M1 ∩ Mc2 ) + µ∗ (A ∩ M2 ∩ M1 ) + µ∗ (A ∩ Mc1 ) =

usando que (M1 ∩ Mc2 ) ∪ (M1 ∩ M2 ) = M1 , segue por aditividade finita que

= µ∗ (A ∩ Mc1 ) + µ∗ (A ∩ M1 ) = µ∗ (A)

portanto temos

µ∗ (A ∩ (M1 \ M2 )) + µ∗ (A ∩ (M1 \ M2 )c ) ≤ µ∗ (A)

e a igualdade segue , como querı́amos demonstrar.

$ Corolário 13. Λ é anel, pois união finita de elementos na classe estão na


classe e diferença de dois conjuntos na classe também .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 46

b Propriedade 27. Se µ∗ (M) = 0 , M ∈ F então M ∈ Λ.

ê Demonstração. Por subaditividade temos que

µ∗ (A ∩ M) ≤ µ∗ (M) = 0

e µ∗ (A ∩ Mc ) ≤ µ∗ (A) logo

µ∗ (A ∩ M) +µ∗ (A ∩ Mc ) ≤ µ∗ (A)
| {z }
0

de onde segue a igualdade µ∗ (A∩M)+µ∗ (A∩Mc ) = µ∗ (A), portanto M é mensurável.

b Propriedade 28. Se (Ak ) ∈ Λ, dois-a-dois disjuntos, então



Ak ∈ Λ,
k=1

isto é, Λ é σ- anel.

ê Demonstração. Se A1 , A2 ∈ Λ disjuntos, então

µ∗ (E ∩ (A1 ∪ A2 )) = µ∗ (E ∩ A1 ) + µ∗ (E ∩ A2 ), ∀ E ⊂ X.


n ∪

Agora denotando Bn = Ak e B = Ak , temos que
k=1 k=1

Bn \An =Bn−1
z }| {
µ∗ (E ∩ Bn ) = µ∗ (E ∩ Bn ∩ An ) + µ∗ (E ∩ Bn ∩ Acn ) = µ∗ (E ∩ An ) + µ∗ (E ∩ Bn ∩ Acn ) =

= µ∗ (E ∩ An ) + µ∗ (E ∩ Bn−1 ).

Por indução ou soma telescópica, obtemos que


n

µ (E ∩ Bn ) = µ∗ (E ∩ Ak ),
k=1

como Bn ∈ Λ, segue que


n
∗ ∗ ∗ ∗
µ (E) = µ (E ∩ Bn ) + µ (E ∩ Bcn ) ≥ µ (E ∩ B ) +
c
µ∗ (E ∩ Ak )
k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 47

usamos a monotonicidade de µ∗ com Bc ⊂ Bcn pela monotonicidade de µ∗ fazendo


n → ∞ segue que


µ∗ (E) ≥ µ∗ (E ∩ Bc ) + µ∗ (E ∩ Ak ) ≥ µ∗ (E ∩ Bc ) + µ∗ (E ∩ B) ≥ µ∗ (E)
k=1



onde usamos a definição por ı́nfimo na desigualdade µ∗ (E ∩ Ak ) ≥ µ∗ (E ∩ B).
k=1
Logo B ∈ Λ.

$ Corolário 14. Λ é σ-álgebra em X.

$ Corolário 15. µ∗ é σ-aditiva, na propriedade anterior provamos que




µ∗ (E) ≥ µ∗ (E ∩ Bc ) + µ∗ (E ∩ Ak ) ≥ µ∗ (E ∩ Bc ) + µ∗ (E ∩ B) ≥ µ∗ (E),
k=1



tomando E = B = Ak união disjunta de elementos de Λ, tem-se
k=1




µ (B) ≥ µ∗ (B
| ∩

{zA}k ) ≥ µ (B),
k=1 Ak


∞ ∑


logo µ ( Ak ) = µ∗ (Ak ) é µ∗ é σ-aditiva.
k=1 k=1

1.5.10 Pré-medida

m Definição 31 (Pré-medida). Se A0 ⊂ P(X) é uma álgebra em X, então a


função µ0 : A0 → [0, ∞] é dita uma pré-medida, desde que

1. µ0 (∅) = 0.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 48



2. Se {Ak }k∈N ⊂ A0 , coleção disjunta, tal que Ak ∈ A0 , então
k=1


∞ ∑

µ0 ( Ak ) = µ0 (Ak ),
k=1 k=1

isto é, vale a σ-aditividade.

O que falta para uma pré-medida ser uma medida é que a pré-medida não é
necessariamente definida numa σ-álgebra.

b Propriedade 29. Sejam µ0 uma pré-medida sobre uma álgebra A0 ⊂ P(X) ,


µ∗ a medida exterior definida por


∞ ∪


µ (E) = inf { µ0 (Ak ) | {Ak } ⊂ A0 e E ⊂ Ak }
k=1 k=1
então valem

1. µ∗ (A) = µ0 (A) ∀ A ∈ A0 .

2. Todo conjunto A ∈ A0 é µ∗ -mensurável .

ê Demonstração.

1. A prova segue o mesmo esquema da que fizemos para medida de Lebesgue.

2. Fixe A ∈ A0 . Para todo E ⊂ X e ε > 0, podemos escolher uma sequência


∪∪
∞ ∑

{Bj }j∈N ⊂ A0 tal que E ⊂ Bj e µ0 (Bj ) ≤ µ∗ (E)+ε. Segue das propriedades
j=1 j=1
de µ∗ que


∞ ∪

∗ ∗ ∗ ∗
µ (E ∩ A) + µ (E ∩ A ) ≤ µ ( Bj ∩ A) + µ ( Bj ∩ Ac ) ≤
c

j=1 j=1

por monotonicidade e agora por σ-subaditividade que


∞ ∑


≤ µ (Bj ∩ A) + µ∗ (Bj ∩ Ac ) ≤
j=1 j=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 49


∞ ∑
∞ ∑

≤ µ0 (Bj ∩ A) + µ0 (Bj ∩ A ) ≤
c
µ0 (Bj ) ≤ µ∗ (E) + ε.
j=1 j=1 j=1

Como ε > 0 arbitrário , µ∗ (E ∩ A) + µ∗ (E ∩ Ac ) = µ∗ (E)∀ E ⊂ X, portanto ,


A ∈ A0 é µ∗ -mensurável .

m Definição 32. Seja u = {B ⊂ Rn | µ∗ (B ∩ E) + µ∗ (Bc ∩ E) = µ∗ (E) ∀ E ⊂ Rn }.

b Propriedade 30. µ∗ |u é uma medida.

1. u é uma σ álgebra.

2. µ∗ |u é enumeravelmente aditiva.

ê Demonstração.

1. • Rn ∈ U pois µ∗ (Rn ∩ E) + µ∗ (∅ ∩ E) = µ∗ (E).

• Se B ∈ u então Bc ∈ u pela simetria da definição.





• Queremos mostrar que se (Bk )1 ∈ u então Bk ∈ u.
k=1
∪1
n−
Tomando a construção B1′ = B1 , B2′ = B2 \ B1 , · · · , Bn′ = Bn \ ( Bk ), temos
k=1

∞ ∪

Bk = Bk′ , logo podemos supor substituindo Bj por Bj′ que Bj ∩ Bk = ∅
k=1 k=1
se j ̸= k, vamos provar primeiramente que


n ∑
n
µ∗ (( Bk ) ∩ E) = µ∗ (Bk ∩ E).
| {z }
k=1 k=1
Dn

Vamos provar tal propriedade por indução sobre n, para n = 1 ela é


verdadeira. Suponha validade para n, vamos provar para n + 1. Usamos a
propriedade que define µ∗ ,

µ∗ (Dn ∩ [Dn+1 ∩ E]) + µ∗ (Dcn ∩ [Dn+1 ∩ E]) = µ∗ (Dn+1 ∩ E) =


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 50

usamos agora que Dn ⊂ Dn+1 logo a interseção dos dois é Dn , além disso

n ∩n ∪n
Dn = ( Bk ) = (Bk ) tomando a interseção com Bn+1 ∪ (Bk ) resulta
c c c

k=1 k=1 k=1


em Bn+1 , então continuando usando tais observações


n ∑
n+1
∗ ∗ ∗ ∗
= µ (Dn ∩ E) + µ (Bn+1 ∩ E) = µ (Bk ∩ E) + µ (Bn+1 ∩ E) = µ∗ (Bk ∩ E)
k=1 k=1

logo provamos por indução a propriedade.


Sabemos que

∞ ∪
n ∑
n
∗ ∗
µ( Bk ∩ E) ≥ µ ( Bk ∩ E) = µ∗ (Bk ∩ E)
k=1 k=1 k=1

daı́ temos

∞ ∑


µ( Bk ∩ E) ≥ µ∗ (Bk ∩ E)
k=1 k=1

no limite. Como µ é medida exterior vale a desigualdade

∞ ∑


µ( Bk ∩ E) ≤ µ∗ (Bk ∩ E)
k=1 k=1

com as duas últimas desigualdades temos a igualdade



∞ ∑


µ( Bk ∩ E) = µ∗ (Bk ∩ E).
k=1 k=1

Logo provamos que µ∗ é enumeravelmente aditiva. Falta a demonstração


de que a união enumerável de elementos no conjunto ainda está no con-
junto para completar a demonstração
Vamos mostrar agora que para uma quantidade finita de conjuntos (Bk )n1
em u então sua união está em u. Bastando mostrar para dois conjuntos.
Vamos usar que B2 ∪ Bc1 ∩ B2 = Bc1 que vale pois B1 e B2 são disjuntos (para
se convencer disso, desenhe um diagrama), então vamos a demonstração

µ∗ ((B1 ∪B2 )∩E)+µ∗ ((B1 ∪B2 )c ∩E) = µ∗ (B1 ∩E)+µ∗ (B2 ∩E)+µ∗ ((B1 )c ∩(B2 )c ∩E) =

= µ∗ (B1 ∩ E) + µ∗ (B2 ∪ (B1 )c ∩ (B2 )c ∩E) =


| {z }
Bc1

= µ∗ (B1 ∩ E) + µ∗ (Bc1 ∩ E) = µ∗ (E).


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 51

Para o caso de mais conjuntos aplicamos indução.




Definimos D∞ = Bk , temos que mostrar que
k=1

µ∗ (E) = µ∗ (D∞ ∩ E) + µ∗ (Dc∞ ∩ E)

onde cada Bk ∈ u. Sabemos que

µ∗ (E) = µ∗ (Dn ∩ E) + µ∗ (Dcn ∩ E) =


n
= µ∗ (Bk ∩ E) + µ∗ (Dcn ∩ E) ≥
k=1

agora usamos que Dn ⊂ D∞ implica Dc∞ ⊂ Dcn , para concluir que a ex-
pressão anterior majora


n
µ∗ (Bk ∩ E) + µ∗ (Dc∞ ∩ E),
k=1


n

isto é, µ (E) ≥ µ∗ (Bk ∩ E) + µ∗ (Dc∞ ∩ E), tomando n → ∞ temos
k=1




µ (E) ≥ µ∗ (Bk ∩ E) + µ∗ (Dc∞ ∩ E)
k=1




vale também que µ (E) ≤ µ∗ (Bk ∩ E) + µ∗ (Dc∞ ∩ E) por ser subaditiva,
k=1
então temos a igualdade e provamos o que querı́amos.

b Propriedade 31. Vale que A ⊂ u, u∗ (B) = u(B) ∀ B ∈ A, isto é, a medida


de um retângulo µ(B) coincide com µ∗ (B).

ê Demonstração. Primeiro vamos mostrar que um retângulo pertence à u.


Temos que µ∗ (B) ≤ µ(B) pela definição de µ∗ , pois

∑∞ ∪


µ (B) = inf { µ(Ak ), (Ak ) ∈ A, B ⊂ Ak }
k=1 k=1

como B é uma cobertura para B (por B ser retângulo), então pertence ao conjunto do
qual estamos tomando o ı́nfimo para definir µ∗ (B), por isso µ∗ (B) ≤ µ(B).
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 52

Sejam E ⊂ Rn , E arbitrário, B ∈ A, (Ak ) cobertura de E tal que



µ(Ak ) ≤ µ∗ (E) + ε
k=1

que pode ser tomado desse modo pois µ∗ (E) é ı́nfimo.


Temos que

∞ ∪

µ∗ (B ∩ E) + µ∗ (Bc ∩ E) ≤ µ∗ (B ∩ Ak ) + µ∗ (Bc ∩ Ak ) ≤
k=1 k=1




acima usamos que µ é monótona e o fato de Ak ser cobertura de E, usando
k=1
enumerabilidade subaditiva tem-se

∞ ∑


≤ µ (B ∩ Ak ) + µ∗ (Bc ∩ Ak ) ≤
k=1 k=1

B ∩ Ak e Bc ∩ Ak são retângulos por serem interseção de retângulos, então podemos


usar a primeira desigualdade µ∗ ≤ µ para retângulos, de onde obtemos

∞ ∑∞ ∑
∞ ∑

≤ µ(B∩Ak )+ µ(B ∩Ak ) =
c
µ((B∩Ak )∪(B ∩Ak )) =
c
µ(Ak ) ≤ µ∗ (E)+ε, ∀ ε > 0 ⇒
k=1 k=1 k=1 k=1

µ∗ (B ∩ E) + µ∗ (Bc ∩ E) ≤ µ∗ (E)

a outra desigualdade µ∗ (B ∩ E) + µ∗ (Bc ∩ E) ≥ µ∗ (E) saı́ da monotonia da medida.


Com as duas desigualdades, temos

µ∗ (B ∩ E) + µ∗ (Bc ∩ E) = µ∗ (E)

então B ∈ u.
Falta mostrar que µ(B) = µ∗ (B). Iremos provar a desigualdade µ(B) ≤ µ∗ (B), seja



(Ak )1 , cada Ak ∈ A, uma cobertura de B, isto é, B ⊂ Ak
k=1


∞ ∑
∞ ∑

µ(B) = µ( B ∩ Ak ) ≤ µ(B ∩ Ak ) ≤ µ(Ak )
k=1 k=1 k=1

portanto µ(B) é uma cota inferior para o conjunto das coberturas de B como µ∗ (B)
é a maior cota inferior, segue
µ(B) ≤ µ∗ (B)

como valem as duas desigualdades então vale a igualdade µ∗ (B) = µ(B).


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 53

$ Corolário 16. µ∗ é uma medida que coincide com µ em retângulos



n ∏
n
µ∗ ( [ak , bk ]) = (bk − ak ).
k=1,c k=1

Podemos escrever uma bola aberta em Rn como produto cartesiano de interva-


los abertos de R


n ∪

1 1 1 1
B= (ak , bk ) = [a1 + , b1 − ] · · · [an + , bn − ]
k=1,c k=1
k k k k

sabemos que

µ∗ (B) ≤ µ∗ ([a1 , b1 ] · · · [an , bn ]) = (b1 − a1 ) · · · (bn − an )

1 1 1 1
µ∗ ([a1 + , b1 − ] · · · [an + , bn − ]) ≤ µ∗ (B)
k k k k
2 2
(b1 − a1 − ) · · · (bn − an − ) ≤ µ∗ (B)
k k
tomando k → ∞ segue que µ∗ (B) ≥ (b1 − a1 ) · · · (bn − an ) da outra desigualdade
segue a igualdade.
Todo aberto de Rn é união enumerável de retângulos abertos. Então sabemos
medir todo aberto de Rn .

m Definição 33 (Medida de Lebesgue). Definimos m = µ∗ , e a chamamos de


medida de Lebesgue .

b Propriedade 32. A medida de Lebesgue é invariante por translação, isto é,

µ∗ (E) = µ∗ (E + x)

onde E + x = {x + y, y ∈ E}.

ê Demonstração. A medida de Lebesgue é invariante por translação pois a


medida de retângulos é invariante por translação , logo aplicando o ı́nfimo temos o
mesmo resultado.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 54

b Propriedade 33. Seja a medida de Lebesgue na reta, fixemos [a, b], ε > 0,
ε < b − a então

1. Existe aberto A tal que 0 < m(A) < ε. A denso em [a, b].

2. Definindo Ax = A ∪ (a, x), x ∈ [a, b] então f : [a, b] → R com f(x) = m(Ax ) é


contı́nua.

3. Existe U aberto denso em [a, b] tal que m(U) = ε.

ê Demonstração.

1. Seja (an ) uma sequência de termos positivos com




ε
ak < ε, an =
2n+1
k=1

ε
por aplicação de série geométrica a série acima converge para
.
2
Seja agora (xn ) uma enumeração dos racionais no intervalo [a, b], definimos


ak ak
A= ((xk − , x + ) ∩ [a, b])
2 2
k=1

que é um aberto de [a, b] por ser união de abertos, além disso é denso em [a, b]
pois contém todos os racionais em tal conjunto, temos ainda por medida ser
monótona que


m(A) ≤ ak < ε
k=1

como querı́amos demonstrar.

2. Seja y > x
Ay = A ∪ (a, x) ∪ [x, y)

logo temos
m(Ax ) ≤ m(Ay ) =≤ m(Ax ) + y − x

daı́
0 ≤ m(Ay ) − m(Ax ) ≤ y − x ⇒ |m(Ay ) − m(Ax )| ≤ |y − x|

portanto a função é uniformemente contı́nua , em especial, contı́nua.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 55

3. Como existe A tal que m(A) < ε e m([a, b]) = b − a = m(Ab ) ≥ ε pela
continuidade da função f acima, existe x tal que m(Ax ) = ε por continuidade.

b Propriedade 34. Vale que µ ̸= 2R .


n

ê Demonstração. Definimos uma relação de equivalência, da seguinte maneira


x, y ∈ R, x ∼ y se x − y ∈ Q.
Seja H um conjunto que contém um elemento de cada classe de equivalência do
intervalo [0, 1], vamos mostrar que H ̸= u.
Seja x ∈ [0, 1), Hx = {h + x, h ∈ H, h + x ≤ 1} ∪ {h + x − 1, h ∈ H, h + x > 1} = H + x.

1.5.11 µ∗ |Λ é medida completa.

b Propriedade 35. Se B ∈ u, m(B) = 0, C ⊂ B ⇒ C ∈ u.

ê Demonstração. Lembramos que

µ = {B ⊂ Rn | µ∗ (B ∩ E) + µ∗ (Bc ∩ E) = µ∗ (E)}.

Seja então µ∗ (B) = 0, C ⊂ B, a medida exterior é monótona

µ∗ (B) = 0 ⇒ µ∗ (B ∩ E) = 0 ⇒ µ∗ (C ∩ E) = 0

vale que
µ∗ (B ∩ E) +µ∗ (Bc ∩ E) = µ∗ (E)
| {z }
0
queremos provar que
µ∗ (C ∩ E) +µ∗ (Cc ∩ E) = µ∗ (E)
| {z }
0

porém já sabemos que µ (C ∩E) ≥ µ∗ (E). Como C ⊂ B então Bc ⊂ Cc ⇒ µ∗ (Bc ∩ E) ≤


∗ c
| {z }
µ∗ (E)
∗ ∗
µ (C ∩ E) logo temos as duas desigualdades e por isso vale a igualdade µ (E) =
c

µ∗ (Cc ∩ E) e C ∈ u.
Com as várias propriedades que provamos, temos o Teorema de Carathéodory .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 56

⋆ Teorema 1 (Teorema de Carathéodory). Sendo µ∗ uma medida exterior sobre


um conjunto X, então a coleção Λ de conjuntos µ∗ -mensuráveis de X é uma
σ-álgebra sobre X, e a restrição de µ∗ à Λ é uma medida completa.

A teoria geral de medida exterior apresenta um método fundamental, com o qual


se pode obter medidas incluindo a importante medida de Lebesgue. Para a medida
de Lebesgue temos os seguintes passos:

1. Definimos a medide de um tipo de intervalo: µ( (a, b) ), µ( [a, b) ), ou


µ( (a, b] ) como b − a.

2. Dado um conjunto A ⊂ R qualquer, definimos a medida exterior µ∗ (A) como o


ı́nfimo da soma das medidas de intervalos que cobrem A.

3. A medida exterior µ∗ (A) não possui a propriedade de ser σ-aditiva em P(R),


para isso é necessário reduzir seu domı́nio para um menor Λ ⊂ P(R) onde µ∗
será σ-aditiva.

Em resumo para outras medidas exteriores ou pré-medidas, o método de Ca-


rathéodory consiste em:

1. Usamos um medida exterior ou pré-medida µ∗ em P(A), exigindo menos do que


da medida, apenas que

∞ ∑

∗ ∗ ∗ ∗
µ (∅) = 0, E ⊂ F ∈ Σ ⇒ µ (E) ≤ µ (F), µ ( Ak ) = µ(Ak ).
k=1 k=1

2. E nos próximos passos procedemos como na medida de Lebesgue, para obter


uma medida µ por meio da medida exterior µ∗ restrita a conjuntos mensuráveis.

1.5.12 Teorema de extensão de Carathéodory

⋆ Teorema 2 (Teorema de extensão de Carathéodory). 1. Sejam A0 ⊂ P(X)


uma álgebra e µ0 uma pré-medida sobre A0 , então µ uma medida em σ(A0 )
com µ = µ∗ |σ(A0 ) .

2. Se µ ′ é outra medida sobre σ(A0 ) que estende µ0 , então µ ′ (E) ≤ µ(E) ∀ E ∈


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 57

σ(A0 ), com igualdade se µ(E) < ∞.

3. Se µ0 é σ-finita, então µ é a única extensão de µ0 para uma medida em


σ(A0 ).
ê Demonstração.

1. Segue do Teorema de Carathéodory e de propriedades que já provamos, visto


que a σ-álgebra dos conjuntos µ∗ -mensuráveis inclui A0 e portanto inclui σ(A0 ).


2. Se E ∈ σ(A0 ) e {Aj }j∈N ⊂ A0 é uma sequência tal que E ⊂ Aj , então
J=1


∞ ∑

µ ′ (E) ≤ µ ′ (Ak ) = µ0 (Aj ),
k=1 k=1

pois µ ′ estende µ0 em σ(A0 ) . Logo pela definição de µ = µ∗ |σ(A0 ) tem-se que

µ ′ (E) ≤ µ(E),

por definição de µ∗ como ı́nfimo (maior cota inferior).


∪∞
Além disso, observe que se A = Aj , temos que
j=1


∞ ∪
n ∪
n
′ ′ ′
µ (A) = µ ( Aj ) = lim µ ( Aj ) = lim µ0 ( Aj ) = µ(A),
n→∞ n→∞
j=1 j=1 j=1

para todo ε > 0, podemos escolher (Ak ) de maneira que µ(A) < µ(E) + ε . Se
µ(E) < ∞, µ(A \ E) < ε, o que implica que

µ(E) ≤ µ(A) = µ ′ (A) = µ ′ (E) + µ ′ (A \ E) ≤ µ ′ (E) + µ(A \ E) < µ ′ (E) + ε

portanto µ(E) = µ ′ (E) pois ε > 0 é arbitrário .




3. Como µ0 é σ-finita, temos que X = Aj com µ0 (Aj ) < ∞ . Podemos assumir
j=1
que a coleção {Aj } é de termos disjuntos, então ∀ E ∈ σ(A0 ),

∞ ∑
∞ ∑

µ(E) = µ( E ∩ Aj ) = µ(E ∩ Aj ) = µ ′ (E ∩ Aj ) = µ ′ (E),
j=1 j=1 j=1

como E ∩ Aj ⊂ Aj então µ(E ∩ Aj ) ≤ µ(Aj ) < ∞ , pois µ(E ∩ Aj ) < ∞, ∀ j ∈ N,


portanto µ = µ ′ .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 58

1.5.13 Convergência monótona para conjuntos

b Propriedade 36 (Continuidade inferior). Sejam A1 ⊂ A2 ⊂ A3 ⊂ · · · ⊂ An ⊂


· · · , Aj ∈ U ∀ j, isto é, uma sequência crescente de conjuntos, então temos que


µ( Ak ) = lim µ(An ).
k=1

Em sı́mbolos se An ↑ A então µ(A) = lim µ(An ).

ê Demonstração.

• Caso algum dos Aj tenha medida infinita, então



∞ = µ(Aj ) = µ( Aj ) = ∞.
k=1

E para n suficientemente grande, teremos µ(An ) = ∞, pois Aj ⊂ An e daı́

∞ = µ(Aj ) ≤ µ(An ) = ∞,

pois a sequência é crescente. Nesse caso então vai valer a identidade. Faremos
agora o caso onde a medida de cada Ak é finita.

Definimos A0 = ∅, B1 = A1 , B2 = A2 \ A1 , B3 = A3 \ A2 , em geral Bn = An \ An−1 ,


disso temos

∞ ∪

Bk = Ak ,
k=1 k=1
por ser enumeravelmente aditiva temos

∞ ∑

µ( Bk ) = µ(Bk ),
k=1 k=1


n ∑
n ∑
n ∑
n
µ( Bk ) = µ(Bk ) = µ(Ak \ Ak−1 ) = ∆µ(Ak−1 ) = µ(An ) − µ(A0 ) = µ(An )
| {z }
k=1 k=1 k=1 k=1 0


n
(faça um desenho para se convencer que Bk ) = An ) logo a identidade que querı́amos
k=1
segue de tomarmos o limite, por definição de séries.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 59

$ Corolário 17. Tal resultado garante de outra maneira que medida de retângulo
fechado e aberto são iguais, pois,



1 1 1 1 2
µ([a, b]) = µ( [a + , b − ]) = lim[a + , b − ] = lim(b − a − ) = b − a.
k=1
k k n n n

b Propriedade 37 (Continuidade superior). Se A1 ⊃ A2 ⊃ · · · ⊃ An ⊃ · · · , Aj ∈


U ∀ j, isto é, temos uma sequência decrescente de conjuntos então


µ( Ak ) = lim µ(An )
k=1

onde estamos tomando também µ(A1 ) < ∞.


Neste caso estamos dizendo que se An ↓ A então µ(A) = lim µ(An ) com a
condição que µ(A1 ) < ∞.

ê Demonstração.

• Tomamos Cn = A1 \ An = Acn , vale que C1 ⊂ C2 ⊂ C3 ⊂ · · · ⊂ Cn ⊂ · · · , por


resultado anterior temos que



µ( Ck ) = lim µ(Cn ) = lim(µ(A1 ) − µ(An )) = µ(A1 ) − lim µ(An ).
k=1

• Temos também que



∞ ∪
∞ ∩

Ck = (Ak )c = ( Ak )c .
k=1 k=1 k=1


∞ ∩
∞ ∩
∞ ∩

Usando que A1 = (Ak ) ∪ (
c
Ak ) = (A1 \ ( Ak )) ∪ ( Ak ) e as expressões
k=1 k=1 k=1 k=1
anteriores, obtemos que


∞ ∩
∞ ∩

µ(A1 ) = µ(( c
Ak ) ) + µ( Ak ) = µ(A1 ) − lim µ(An ) + µ( Ak ) ⇒
k=1 k=1 k=1



lim µ(An ) = µ( Ak ).
k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 60



Perceba que estamos manipulando apenas números reais pois Ak ⊂ A1 logo
k=1


µ( Ak ) ≤ µ(A1 ) < ∞.
k=1

Z Exemplo 13. No resultado anterior é essencial ter que inf µ(E ) < ∞, pois
j∈N
j

caso contrário temos o seguinte contra-exemplo. Tome A = N e seja a medida de


contagem em A. Defina En = {k ∈ N, k ≥ n} = {n, n + 1, n + 2, · · · }, temos que
µ(En ) = ∞ ∀ n ∈ N, En+1 ⊂ En , ∀ n, mas

∞ ∩

Ek = ∅, µ( Ek ) = µ(∅) = 0,
k=1 k=1

logo a identidade do teorema anterior não vale, isto é,



0 = µ( Ek ) ̸= lim µ(En ) = ∞.
k=1

1.5.14 Continuidade no vazio

1.5.15 Classificação de medida σ-aditiva.

m Definição 34 (Continuidade no vazio.). Uma medida finitamente aditiva µ


é contı́nua no vazio se dada uma sequência decrescente de conjuntos (Ek ) de Σ
com


Ek = ∅, então lim µ(En ) = 0.
n
k=1

b Propriedade 38. Seja µ uma medida finitamente aditiva, então µ é σ aditiva


⇔ é contı́nua no vazio.

ê Demonstração. Seja sequência decrescente de conjuntos (Ek ) de σ tal que




Ek = ∅.
k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 61

⇒).
Já sabemos que se µ é σ-aditiva então



µ( Ek ) = lim µ(En ),
n
k=1



como Ek = ∅, segue que da igualdade anterior que lim µ(En ) = 0, logo temos
n
k=1
continuidade no vazio.
⇐). Suponha que temos continuidade no vazio, vamos mostrar que µ é σ-aditiva.
Seja (Ak ) uma sequência de conjuntos disjuntos, devemos mostrar que µ é finitamente
aditiva então é σ-aditiva, isto é, devemos mostrar que


∞ ∑

µ( Ak ) = µ(Ak ).
k=1 k=1


n ∪

Seja a sequência (xn ), com xn = µ(Ak ) − µ( Ak ), devemos mostrar que tal
k=1 k=1
sequência tende a zero. Temos usando a aditividade finita e propriedade da diferença
de medidas que


n ∪
∞ ∪
n ∪
∞ ∪
n ∪

xn = µ(Ak ) − µ( Ak ) = µ( Ak ) − µ( Ak ) = µ([ Ak ] \ [ Ak ]) =
k=1 k=1 k=1 k=1 k=1 k=1



= µ( Ak ).
k=n+1



Seja En = Ak , temos que a sequência é decrescente, En+1 ⊂ En , pois
k=n+1


∞ ∪

Ak ⊂ Ak ,
k=n+2 k=n+1

além disso


Ek = ∅,
k=1

pois, suponha por absurdo que exista x na interseção, então x ∈ En , ∀ n ∈ N. Mas



∞ ∪

como En = Ak então x ∈ Aj para algum j, mas x ∈ Ej = Ak , logo x ∈ As para
k=n+1 k=j+1
algum s > j, o que não pode acontecer pois os conjuntos tomados Ak são disjuntos
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 62

portanto a interseção desejada é vazia. Logo, estamos na condição da continuidade


no vazio, de onde segue que


∞ ∑
n ∪

lim µ( Ak ) = 0 = lim µ(Ak ) − µ( Ak ),
k=n+1 k=1 k=1

como querı́amos provar

Z Exemplo 14. Na propriedade anterior colocamos a condição de que µ(A ) < 1

∞ para provar o teorema, vejamos agora que ela é necessária . Sejam µ medida de
contagem em N e Ak = {n ∈ N, n ≥ k}, temos que µ(Ak ) = ∞ ∀ k ∈ N, Ak ⊃ Ak+1 ,


Ak = ∅, logo
k=1


µ( Ak ) = 0 < lim µ(Ak ).
k=1

1.5.16 Limite inferior, superior e limite de sequência de con-

juntos

m Definição 35 (Limite superior de sequência de conjuntos). Seja (Ak ) uma


sequência de conjuntos dada, definimos
∞ ∪
∩ ∞
Asup = lim sup An = Ak .
n=1 k=n

b Propriedade 39. Vale que

Asup = {x, ∀ n0 ∈ N, ∃n > n0 | x ∈ An }.

ê Demonstração.
A condição ∀ n0 ∈ N, ∃n > n0 | x ∈ An significa que existe uma infinidades de
ı́ndices n tais que x ∈ An .
Denotando o conjunto B = {x, ∀ n0 ∈ N, ∃n > n0 | x ∈ An }, vamos mostrar a
igualdade B = Asup .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 63



• B ⊂ Asup . Dado x ∈ B, então x ∈ Ak ∀ n0 , pois existe n > n0 tal que x ∈ An ,
k=n0
e portanto x também está na interseção desse tipo de conjunto, logo

∞ ∪

x ∈ Asup = Ak .
n=1 k=n

• Suponha por absurdo que x ∈ Asup mas não seja elemento de B, então x ∈ An
apenas para uma quantidade finita de ı́ndı́ces, existindo um n0 natural tal que
x∈
/ An para n > n0 , daı́


x∈
/ ,
k=n0 +1

e daı́ não pode ser elemento da interseção desse tipo de conjunto.

m Definição 36 (Limite inferior de sequência de conjuntos). Seja (Ak ) uma


sequência de conjuntos dada, definimos
∞ ∩
∪ ∞
Ainf = lim inf An = Ak .
n=1 k=n

b Propriedade 40. Vale que

Ainf = {x | ∃n0 ∈ N, | x ∈ An , ∀ n ≥ n0 }.

ê Demonstração.
Denotando o conjunto B = {x | ∃n0 ∈ N, | x ∈ An , ∀ n ≥ n0 }, vamos mostrar que
B = Ainf .


• B ⊂ Ainf . Se a ∈ B então existe n0 ∈ N tal que, x ∈ An ∀ n ≥ n0 , daı́ x ∈ Ak
k=n0
e daı́

∞ ∩

x∈ Ak .
n=1 k=n

• Agora a outra inclusão Ainf ⊂ B. Suponha que


C
z }|n {

∞ ∩∞
x∈ Ak ,
n=1 k=n
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 64



então x é elemento de algum conjunto Cn0 = daı́ x ∈ Ak ∀ k ≥ n0 , e daı́
k=n0
x ∈ B como querı́amos demonstrar.

m Definição 37 (Limite de uma sequência de conjuntos). Seja (Ak ) uma


sequência de conjuntos dada, se

lim inf An = lim sup An = A

então denotamos A = lim An , A é chamado de conjunto limite da sequência de


conjuntos (An ).

1.5.17 Lema de Fatou para conjuntos µ(lim inf An ) ≤ lim inf µ(An ).

b Propriedade 41 (Lema de Fatou para conjuntos). Para toda (Ak ), Ak ∈ Σ∀ k


então

1. µ(lim inf An ) ≤ lim inf µ(An ).

2. Se para algum n0


µ( Ak ) < ∞
k=n0

então
lim sup µ(An ) ≤ µ(lim sup An ).

ê Demonstração.

1. Pela definição temos que



∞ ∩

lim inf An = Ak = A.
| {z }
n=1 k=n
Bn

(Bn ) é uma sequência crescente pois



∞ ∩

Bn = Ak ⊂ Ak = Bn+1
k=n k=n+1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 65

então aplicando resultado que já provamos para união de sequência crescente
temos

∞ ∩

µ(lim inf An ) = lim µ( Ak ) = lim inf µ( Ak ) ≤ lim inf µ(An )
k=n k=n


∞ ∩

essa última desigualdade segue de que Ak ⊂ An , daı́ µ(An ) ≥ µ( Ak ) e
k=n k=n


daı́ segue a desigualdade para lim inf, lim inf µ( Ak ) ≤ lim inf µ(An ).
k=n

2. Queremos provar que lim sup µ(An ) ≤ µ(lim sup An ), temos por definição que

∞ ∪

lim sup An = Ak
| {z }
n=1 k=n
Bn

e tem-se ainda

∞ ∪

Bn = Ak ⊃ Ak = Bn+1
k=n k=n+1

então temos uma sequência decrescente de conjuntos (Bn ) , por resultado que
já provamos tem-se que


lim µ(Bn ) = µ( Bk ) =
k=1


µ(lim sup An ) = lim sup µ(Bn ) = lim sup µ( Ak ) ≥ lim sup µ(An )
k=n

∞ ∪

essa última desigualdade segue de que An ⊂ Ak então µ( Ak ) ≥ µ(An ) e
k=n k=n
daı́


lim sup µ( Ak ) ≥ lim sup µ(An )
k=n
e com isso terminamos a prova.

$ Corolário 18 (Teorema da convergência dominada para conjuntos). Se lim An =




A, An , A ∈ Σ e Ak ⊂ F com µ(F) < ∞ então
k=1

c = µ(lim inf An ) ≤ lim inf µ(An ) ≤ lim sup µ(An ) ≤ µ(lim sup An ) = c,
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 66

logo lim µ(An ) = µ(A).



∞ ∪

A condição Ak ⊂ F com µ(F) < ∞ garante que µ( Ak ) ≤ µ(F) < ∞ e daı́
k=1 k=1
temos essa desigualdade lim sup µ(An ) ≤ µ(lim sup An ).

b Propriedade 42. Seja (Ω, Σ, µ) um espaço de medida. (En ) uma sequência


de elementos de Σ que converge para E no seguinte sentido: Para cada x ∈ Ω
temos lim IEn (x) =: IE (x). Onde I é a função indicadora, tal que IA (x) = 1 se x ∈ A
n
e 0 caso contrário. Nessas condições temos que

1. E ∈ Σ.

2. Se existe F ∈ Σ com µ(F) < ∞ tal que En ⊂ F ∀ n ∈ N, então

lim µ(En ) = µ(E).


n

ê Demonstração.

1. Vamos mostrar que E = Esup o conjuntos dos x ∈ Ω tais que x ∈ En para n


suficientemente grande.

Se x ∈ En para n suficientemente grande, então IEn (x) = 1 é constante para


algum n ≥ n0 , daı́ lim IEn (x) = 1 = IE (x), portanto x ∈ E. Da mesma forma se
n
x ∈ E então, existe n1 natural tal que para n > n1 , temos
1
|IEn (x) − IE (x) | < ,
| {z } 2
1

portanto IEn (x) = 1 com n > n1 .

Por isso temos que (∞ )



∞ ∪
E= Ak ,
k=1 k=1
é elemento de Σ por ser unição enumerável e interseção de elementos de Σ.


2. Seja Fn = (Ek ∆E), (Ek ∆E) = (Ek \ E) ∪ (E \ Ek ). Vale que µ(F1 ) < ∞, pois
k=n
Ek ∆E ⊂ Ek ∪ E ⊂ F ∪ E = F, logo
(∞ )

∞ ∪
(Ek ∆E) ⊂ F ⇒ µ(F1 ) = µ (Ek ∆E) < µ(F) < ∞.
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 67

Logo estamos nas condições de aplicação do teorema de medida da interseção


de conjuntos decrescentes.

Temos que

∞ ∪

Fn+1 = (Ek ∆E) ⊂ Fn = (Ek ∆E),
k=n+1 k=n
por isso temos uma sequência decrescente de conjuntos e temos
(∞ ∞ )

∞ ∩∪
lim µ(Fn ) = µ( Fk ) = µ (Ej \ E) ∪ (E \ Ek ) = 0,
k=1 k=1 j=k

pois E = Ek para k grande o suficiente logo a interseção se torna vazia e


portanto também a medida. Temos também que

0 ≤ µ(En ) − µ(E) = µ(En \ E) ≤ µ(En ∆En ) ≤ µ(Fn ) → 0.

De onde segue que


lim µ(En ) = µ(E).



1.5.18 Lema de Borel-Cantelli - Se µ(Ak ) < ∞ então µ(lim sup An ) =
k=1
0.


b Propriedade 43 (Lema de Borel-Cantelli). Se µ(Ak ) < ∞ então
k=1

µ(lim sup An ) = 0.

ê Demonstração. ∞ ∪
∩ ∞
Temos que lim sup An = Ak , como Bn é decrescente e
| {z }
n=1 k=n
Bn


∞ ∑

µ( Ak ) ≤ µ(Ak ) < ∞.
k=1 k=1

Usamos agora o resultado que já mostramos, que se Bn ↓ A, µ(Bn ) < ∞ então
µ(A) = lim µ(Bn ). Com A = lim sup An

∞ ∑

µ(lim sup An ) = lim µ( Ak ) ≤ lim µ(Ak ) = 0,
k=n k=n


∞ ∑

pois µ(Ak ) < ∞ e daı́ pelo critério de Cauchy o limite lim µ(Ak ) é nulo.
k=1 k=n
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 68

b Propriedade 44. Se (Ω, Σ, P) é um espaço de probabilidade, An → A implica


P(An ) → P(A). Valendo também em um espaço em que todas medidas sejam
finitas.

ê Demonstração. Temos que

P(lim inf An ) ≤ lim inf P(An ) ≤ lim sup P(An ) ≤ P(lim sup An )

se An → A então lim inf An = lim sup An e as desigualdades acima se transformam


em igualdade, o que implica a igualdade.

⋆ Teorema 3 (Teorema de Luzin). Se f : [a, b] → R é Borel-mensurável, dado


ε > 0, existe um compacto E ⊂ [a, b] tal que f|E é contı́nua e µ(Ec ) < ε, ou de
forma equivalente µ(E) < b − a − ε.

ê Demonstração.

1.6 Extensões de medidas


b Propriedade 45. Seja µ uma medida finitamente aditiva sobre S, semi-anel,
então existe uma única medida µ finitamente aditiva sobre o anel gerado por S,
que é uma extensão de µ.


n
ê Demonstração. Definimos µ para todo A = Ck , Ck ∈ S(união disjunta) no
k=1
anel gerado por S com

n
µ(A) = µ(Ak )
k=1

temos que mostrar que a medida está bem definida, isto é, não depende da maneira
∪n ∪
m
que escrevemos um conjunto como união disjunta. Se Ck = Bj (união disjunta)
k=1 j=1
com Ck , Bj ∈ S, podemos escrever


m ∪
m
Ck = Bj ∩ Ck = (Bj ∩ Ck )
j=1 j=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 69

logo aplicando a medida



m
µ(Ck ) = µ(Bj ∩ Ck ).
j=1


n
Tomamos agora a medida sobre Ck e usamos a observação anterior
k=1


n ∑
n ∑
m ∑
m ∑
n
µ(Ck ) = µ(Bj ∩ Ck ) = µ(Bj ∩ Ck ) =
k=1 k=1 j=1 j=1 k=1


m
µ(Bj )
j=1


n ∪
m
por simetria então Ck e Bj possuem a mesma medida e a extensão de µ está
k=1 j=1
bem definida.
µ é finitamente aditiva no anel gerado por A e única (Provar) .

1.7 Medidas de Borel em R.

m Definição 38 (Medida de Borel em R.). Considere a reta real R , com


sua topologia usual. Denotamos por B(R) a σ-álgebra de Borel em R. Qualquer
medida µ definida na σ-álgebra de borel em R é uma medida de Borel em R .

m Definição 39 (Famı́lia elementar de conjuntos). Uma famı́lia elementar em


um conjunto X é uma coleção F de X tal que

1. ∅ ∈ F

2. Se A e B em F, então A ∩ B ∈ F.

3. Se A ∈ F então Ac é uma união disjunta de membros de F. Essa última


condição difere da definição de semi-anel pois não pede que a união seja
finita.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 70

Além disso todo semi-anel é uma famı́lia elementar de conjuntos.

b Propriedade 46. Se F é uma famı́lia elementar, então a coleção de todas


uniões finitas de elementos disjuntos de F é uma álgebra .

ê Demonstração.

Z Exemplo 15. A coleção A 0 de todas as uniões finitas de elementos disjuntos


de F ( coleção de h-intervalos) é uma álgebra. Além disso, tem-se que σ(F) =
σ(A0 ) = B(R).

m Definição 40 (Comprimento de um h-intervalo). Lembramos a definição de


comprimento de um intervalo .
O comprimento de um h-intervalo é definido por

l(a, b] = b − a, ∀ (a, b] ∈ F.

m Definição 41. Se f : R → R é uma função crescente, então f possui limite à


direita e à esquerda . f(a+ ) := lim+ f(x) = inf f(x), f(a− ) := lim− f(x) = sup f(x).
x→a x>a x→a x<a
Além disso,
f(∞) := sup f(x) e f(−∞) = inf f(x),
x∈R x∈R

existem possivelmente em {±∞}. Se f(a) = f(a+ ) ∀ a ∈ R dizemos que f é contı́nua


pela direita, de maneira similar pela esquerda.

b Propriedade 47. Seja f : R → R uma função crescente e contı́nua pela


direita . Dados h-intervalos (aj , bj ] disjuntos definimos
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 71


n ∑
n
µ0 ( (aj , bj ]) = f(bj ) − f(aj ),
j=1 j=1

µ0 (∅) = 0.

Nessas condições µ0 é uma pré-medida na álgebra A0 de todas as uniões finitas


de elementos disjuntos de F, classe de h-intervalos.

ê Demonstração.

$ Corolário 19. Se f : R → R é uma função crescente e contı́nua pela direita


então existe uma única medida µf em B(x) tal que

µf (a, b] = f(b) − f(a),

com a, b ∈ R, reta estendida . Tal resultado segue do teorema de extensão de


Carathéodory .

1.7.1 Medida de Lebesgue -Stieltjes

m Definição 42 (Medida de Lebesgue -Stieltjes ). (Analisar com mais calma


depois)
Seja g : R → R crescente, contı́nua pela direita, isto é,

1. g(c) = lim+ g(c + h).


h→0

2. Se x ≤ y, então g(x) ≤ g(y).

Como g é crescente, existem os limites lim g(x), lim g(x), podendo ser eventu-
x→∞ x→−∞
almente −∞ ou +∞.

• Definimos
µg ( (a, b] ) = g(b) − g(a),
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 72

caso a ou b não sejam finitos, definimos g(a) ou g(b) pelo limite correspon-
dente.

• Definimos µg na álgebra F de uniões disjuntas de conjuntos semi-abertos


Ik = (ak , bk ], com

n ∑
n
µg ( Ik ) = µg (Ik ).
k=1 k=1

Dessa forma µg define uma medida σ-finita na álgebra F e daı́ possui uma
única extensão, que denoraremos também por µg , na álgebra de todos con-
juntos de Borel de R.

• Tal extensão é chamada de medida de Borel-Stieltjes gerada por g

• µg possui uma única extensão para uma σ-álgebra completa que contém os
conjuntos de Borel, tal extensão é chamada de medida de Lebesgue-Stieltjes
gerada por g.

• Se g(x) = x temos a medida de Lebesgue.

De outra maneira (Isso que temos que analisar). Dado A ⊂ R, definimos


∞ ∪

µ∗g (A) ={ µg (Ik ) (Ik ) é uma sequência de intervalos Ik = (ak , bk ] tal que A ⊂ µg (Ik )}.
k=0 k=0

• A medida µg gerada pelo método de Carathéodory partindo da medida exte-


rior µ∗g é a medidade de Lebesgue-Stieltjes associada a g.

b Propriedade 48. µ∗g é uma medida exterior em R.

ê Demonstração.

b Propriedade 49. Para ⊂ M vale que


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 73

∑∞ ∪

µ(E) = inf { µ(aj , bj ) | E ⊂ (aj , bj )}.
j=1 j=1

ê Demonstração.

1.7.2 Regularidade da medida de Lebesgue -Stieltjes

⋆ Teorema 4 (Regularidade da medida de Lebesgue -Stieltjes ). Para E ∈ M,


tem-se

1. µ(E) = inf {µ(U) | U é aberto e E ⊂ U} é o ı́nfimo da medida dos abertos que


cobrem E .

2. µ(E) = sup{µ(K) | K é compacto e K ⊂ E} é o supremo da medida dos com-


pactos contidos em E .

ê Demonstração. A monotonicidade de µ implica que

µ(E) ≤ inf {µ(U) | U é aberto e E ⊂ U},

pois de E ⊂ U segue que µ(E) ≤ µ(U). Da mesma forma

µ(E) ≥ sup{µ(K) | K é compacto e K ⊂ E},

pois K ⊂ E .


1. Dado ε > 0, existe {Ij }j∈N coleção de intervalos abertos tal que E ⊂ Ij e por
j=1
propriedade de ı́nfimo tem-se


µ(Ij ) ≤ µ(E) + ε.
j=1



Seja U = Ij , logo U é aberto, E ⊂ U e
j=1



µ(U) ≤ µ(Ij ) ≤ µ(E) + ε,
j=1

então µ(E) é o ı́nfı́mo, pois qualquer outro valor maior que µ(E) não é cota
inferior pela desigualdade anterior, dado que ε > 0 é arbitrário .
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 74

2. Primeiro suponha que E é limitado . Se E = E , E é um compacto, por ser


limitado e fechado na reta, e a proposição segue, o supremo é alcançado por
um compacto .

Agora se E não é fechado, o item (1) diz que existe um aberto U tal que E ⊂ U
, daı́ E \ E ⊂ U e

µ(U) ≤ µ(E \ E) + ε.

Seja K = E \ U, então K é fechado , por ser fechado menos aberto , K = E ∩ Uc


é união de fechados. Temos U ⊂ E e não possui pontos de E \ E que são pontos
de acumulação , logo K ⊂ E e portanto K é limitado, sendo limitado e fechado
K é compacto. Note que

E ⊂ K ∪ U = E \ U ∪ U,

logo
µ(E) ≤ mu(K) + µ(U),

além disso, E ⊂ E ⇒ µ(E) ⇒ µ(E) = µ(E) + µ(E \ E) portanto

µ(E) = µ(E) − µ(E \ E) ≤ µ(K) + µ(U) − µ(E \ E) ≤

≤ µ(K) + µ(E \ E) + ε − µ(E \ E) = µ(K) + ε,

logo µ(E) ≤ µ(K) + ε. Com ε arbitrário segue a igualdade.

Vamos agora supor que E não é limitado . Seja Ej = E ∩ (j, j + 1] ∈ M, usando


agumento anterior, dado ε > 0 existem compactos Kj ⊂ Ej com
ε
µ(Kj ) ≥ µ(Ej ) − .
4.2|j|

n
Seja Hn = Kj , então Hn é compacto e Hn ⊂ E . Como Kj ⊂ (j, j + 1], temos
j=−n
que


n ∑
n ∑
n
ε ∪n
µ(Hn ) = µ( Kj ) = µ(Kj ) ≥ µ(Ej ) − ≥ µ ( Ej Ej ) − ε,
4.2|j|
j=−n k=−n j=−n j=−n
| {z }
Bn
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 75


n
como ( = Bn , Bn+1 ⊃ Bn , a convergência monotóna para conjuntos implica
j=−n


que µ( Bk ) = lim µ(Bn ), temos que
k=1


n
µ(E) = lim µ( Ej ),
−n

portanto , lim µ(Hn ) ≥ µ(E) − ε, logo o resultado segue .

1.7.3 Equivalências para Conjuntos Lebesgue Mensuráveis

⋆ Teorema 5. Se E ⊂ R, as seguintes afirmações são equivalentes .

1. E ∈ M .

2. E = U \ N1 . Onde U é conjunto Gσ e µ(N1 ) = 0.

3. E = K ∪ N2 onde K é conjunto Fδ e µ(N2 ) = 0.

ê Demonstração. Como µ é uma medida completa, (2) e (3) implicam (1).


Vamos supor inicialmente E limitado, logo com medida finita.
Suponha que E ⊂ M, pelo teorema de regularidade de medida, para todo j ∈ N,
existem abertos Uj que contém E e compactos Kj contidos em E tais que
1 1
µ(Uj ) − ≤ µ(E) ≤ µ(Kj ) + .
2j 2j


• 1) ⇒ 2). Sejam U = Uj um conjunto Gδ , interseção enumerável de abertos e
k=1


K= Kj um conjunto Fσ ,união enumerável de fechados , tais que
j=1

K ⊂ E ⊂ U,

logo
µ(K) ≤ µ(E) ≤ µ(U),

agora note que U ⊂ Uj ∀ j ∈ N, o que implica


1 1
µ(U) − j
≤ µ(Uj ) − j ≤ µ(E),
2 2
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 76

portanto µ(U) = µ(E). Como E ⊂ U e µ(U) = µ(E), podemos tomar N1 = U \ E


logo N1 é mensurável e de E = U \ E aplicando a medida segue que µ(E) =
µ(U) − µ(N1 ) = µ(E) portanto µ(N1 ) = 0.

• 1) ⇒ 3). Além disso , Kj ⊂ K ∀ j ∈ N, de µ(Kj ) ≤ µ(K), ∀ j segue que

1
µ(E) ≤ µ(K) + , ∀ j ⇒ µ(E) = µ(K).
2j
Como K ⊂ E, podemos escrever N2 = E \ K aplicando e medida tem-se µ(N2 ) =
µ(E) − µ(K) = 0 portanto E = K ∪ N2 , com N2 de medida nula.


• Se E não é limitado, escrevemos E = Ej , Ej ∈ M e µ(Ej ) < ∞ ∀ j ∈ N Daı́
j=1
cada Ek = Uk′ \ Nk′ = Kk′ ∪ Nk′′ e aplicamos a união .

1.8 Mais sobre medida de Lebesgue


Revisamos em especial as seguintes definições, casos particulares de algumas que
já apresentamos:

m Definição 43 (Medida exterior de Lebesgue). Seja F a coleção de h-intervalos


e l(a, b] = b − a o comprimento de um intervalo (a, b]. A medida exterior de
Lebesgue de A ⊂ R é dada por

∑∞ ∪


λ (A) = inf { l(ak , bk ], A ⊂ (ak , bk ]}.
| {z }
k=1 =bk −ak k=1

m Definição 44 (Conjunto Lebesgue mensurável).

λ∗ (E) = λ∗ (E ∩ A) + λ∗ (E ∩ Ac ), ∀ E ⊂ R.

Denotaremos por L(R) a famı́lia de conjuntos Lebesgue mensuráveis em R.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 77

1.8.1 Todo conjunto de Borel em R é Lebesgue mensurável.

⋆ Teorema 6 (Todo conjunto de Borel em R é Lebesgue mensurável.). Dado um


conjunto de Borel B em R, então B é Lebesgue mensurável.

ê Demonstração.

$ Corolário 20. O resultado anterior implica que são conjuntos mensuráveis a


Lebesgue:

1. Todos conjuntos abertos, fechados.

2. Intervalos.

3. Conjuntos enumeráveis.

4. Conjuntos construı́dos partindo de intervalos e tomando união, interseção,


complementar.

z Observação 2. • Existe conjunto que não é Borel mas é Lebesgue men-


surável. Logo B(M) (Borel mensuráveis) é subconjunto próprio de L(M) (Le-
besgue mensuráveis).

• Existem subconjuntos de R que não são mensuráveis à Lebesgue. Por exemplo


o conjunto de Vitali.

m Definição 45 (Medida de Lebesgue). A restrição de λ∗ a L(R) é uma medida


completa chamada de medida de Lebesgue em R e a denotaremos por λ.

b Propriedade 50. Sejam E ⊂ R, s ∈ R,

E + s = {x + s, x ∈ E},

s.E = {s.x | x ∈ E}.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 78

Se E ⊂ L(R) então E + s ⊂ L(R) e sE ⊂ L(R), ∀ s ∈ R e além disso

λ(E + s) = λ(E), λ(sE) = |s|λ(E).


ê Demonstra ção.

∞ ∪

Se E ⊂ (ak , bk ) então E+s ⊂ (ak +s, bk +s), pois, seja y ∈ E+s então y = x+s
k=1 k=1
para algum x ∈ E, como x ∈ E, existe (ak , bk ) tal que x ∈ (ak , bk ), isto é, ak ≤ x ≤ bk
, adicionado s segue ak + s ≤ x + s ≤ bk + s portanto x + s ∈ (ak + s, bk + s) e daı́ como


y = x + s foi um elemento arbitrário de E + s, segue que E + s ⊂ (ak + s, bk + s).
k=1
Temos que
∑∞ ∪

λ∗ (E + s) = inf { (bk + s − ak − s) | E + s ⊂ (ak + s, bk + s)} =
| {z }
k=1 bk −ak k=1


∞ ∪

= inf { (bk − ak ) | E ⊂ (ak , bk )} = λ∗ (E).
k=1 k=1


∞ ∪

Primeiro seja r > 0 Se E ⊂ (ak , bk ) ⇒ rE ⊂ (rak , rbk ), seja y ∈ rE então
k=1 k=1
y = rx, x ∈ (ak , bk ) , isto é, ak < x < bk e daı́ rak < rx < rbk , rx ∈ (rak , rbk )


portanto rE ⊂ (rak , rbk ), disso
k=1


∞ ∪
∞ ∑
∞ ∪

λ(rE) = inf { rbk − rak , rE ⊂ (rbk , rak )} = r inf { bk − ak , rE ⊂ (rbk , rak )} =
k=1 k=1 k=1 k=1


∞ ∪

= r inf { (bk − ak ) | E ⊂ (ak , bk )} = rλ(E).
k=1 k=1


∞ ∪

Seja r < 0 Se E ⊂ (ak , bk ) ⇒ rE ⊂ (rbk , rak ), seja y ∈ rE então y = rx,
k=1 k=1
x ∈ (ak , bk ) , isto é, ak < x < bk e daı́ rbk < rx < rak , rx ∈ (rbk , rak ) portanto


rE ⊂ (rbk , rak ), disso
k=1


∞ ∪
∞ ∑
∞ ∪

λ(rE) = inf { rak −rbk , rE ⊂ (rbk , rak )} = inf {−r bk −bak , rE ⊂ (rbk , rak )} =
k=1 k=1 k=1 k=1


∞ ∪

= −r inf { bk − ak , rE ⊂ (rbk , rak )} =
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 79


∞ ∪

= −r inf { (bk − ak ) | E ⊂ (ak , bk )} = −rλ(E).
k=1 k=1

Portanto dado |r| ̸= 0 , juntando os dois casos acima, tem-se que

λ(rE) = rλ(E).

Vamos provar que se E ∈ L(R) então E + y ∈ L(R).


Primeiro vamos provar duas identidades .

(E + y)c = Ec + y.

Seguindo as equivalências

z ∈ (E + y)c ⇔ z ̸= x + y, x ∈ E ⇔

z−y=x∈
/ E ⇔ z − y = x ∈ Ec ⇔ z = x + y, x ∈ Ec ⇔ z ∈ Ec + y.

A segunda identidade : [(A − y) ∩ E] + y = A ∩ (E + y)

z ∈ [(A − y) ∩ E] + y ⇔ z = (za − y) + y = ze + y
| {z }
=za ∈A

z ∈ A ∩ (E + y) ⇔ z = za′ = ze′ + y

então os elementos dos dois tipos de conjunto assumem a mesma forma . Agora
provamos a mensurabilidade ,vamos usar também o fato que provamos da invariância
por translações, isto é, λ(A + y) = λ(A), então vamos lá,

λ(A) = λ(A − y) = λ((A − y ∩ E)) + λ((A − y) ∩ Ec ) =

aqui tomamos A ⊂ R qualquer e usamos que E ∈ L(R) e invariância por translação,


usando novamente invariância por translação

= λ((A − y ∩ E) + y) + λ((A − y) ∩ Ec + y) =

usando agora que [(A − y) ∩ E] + y = A ∩ (E + y),

= λ((A − y ∩ (E + y)) + λ((A − y) ∩ (Ec + y)) =

e finalmente que (E + y)c = Ec + y no segundo membro segue

= λ((A − y ∩ (E + y)) + λ((A − y) ∩ (E + y)c ) = λ(A)∀ A ⊂ R,


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 80

por isso (E + y) ∈ L(R) .


Agora para mostrar que rE ∈ L(R) . Vamos mostrar duas identidades, primeiro

(rE)c = r(Ec ).

z z
z ∈ (rE)c ⇔ z ̸= r.x, x ∈ E ⇔ ̸= x ∈ E ⇔ = x ∈ Ec ⇔
r r
z = r.x, x ∈ E ⇔ z ∈ r.(E ).
c c

A segunda identidade,
1
r( A) ∩ E = A ∩ (rE),
r

1 za
z ∈ r( A) ⇔ z = r( ) = rze ,
r r
z ∈ A ∩ (rE) ⇔ z = za′ = rze ,
logo os elementos dos dois conjuntos são da mesma forma. Agora provamos a
mensurabilidade, usando o que já provamos λ(rA) = |r|λ(A)

A A A
λ(A) = |r|λ( ) = |r|(λ( ∩ E) + λ( ∩ Ec )) =
r r r
A A
= (λ(r[ ∩ E]) + λ(r[ ∩ Ec )]) = (λ(A ∩ [rE]) + λ(A ∩ rEc )) =
r r
usando finalmente que (rE) = r(Ec ), segue o que desejamos
c

= (λ(A ∩ [rE]) + λ(A ∩ [rE]c )) = λ(A),

então rE é mensurável .
Segue das duas propriedades que sendo E mensurável, então rE + s também é
mensurável.

1.8.2 Unicidade da medida de Lebesgue

⋆ Teorema 7 (Unicidade da medida de Lebesgue). A medida de Lebesgue, λ, é


a única medida em R, tal que satisfaz todas as condições à seguir

1. É completa.

2. É invariante por translação, isto é, λ(A + x) = λ(A), ∀ x ∈ R.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 81

3. λ é definida na σ-álgebra gerada por intervalos de R.

4. λ([0, 1]) = 1.

ê Demonstração.

Z Exemplo 16 (Conjuntos de medida de Lebesgue nula). Todo conjunto enu-


merável de R possui medida nula . Se x ∈ R , então {x} é um conjunto fechado e
portanto Lebesgue mensurável . Além disso

1 1
λ({x}) = lim λ(x − , x] = lim x − (x − ) = 0.
n n
Aqui temos uma interseção enumerável de conjuntos onde o primeiro possui
1
medida finita Ak = (x − , x] , logo a medida da interseção é o limite da medida
k
∩∞
do termo geral , pois temos uma sequência decrescente e Ak = {x}, aplicamos
k=1
teorema de convergência monótona.


Seja E = {xk } (que é um conjunto enumerável), então ,
k=1



λ(E) ≤ λ({xk )} = 0,
k=1

em particular temos que λ(Q) = 0 , pois Q é enumerável .

1.8.3 Se E é aberto não vazio, então λ(E) > 0.

1.8.4 Se K é compato, então λ(K) < ∞.

b Propriedade 51. Se E é aberto não vazio, então λ(E) > 0.

ê Demonstração.
Seja x ∈ ε, então existe r > 0 tal que B(x, r) ⊂ E, daı́ por propriedade de medida,
temos que
λ(E) ≥ λ(B(x, r)) > 0.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 82

b Propriedade 52. Se K é compato, então λ(K) < ∞.

ê Demonstração. Em Rn , compactos são limitados e fechados. Por isso Kc é


aberto, portanto K é elemento da σ-álgebra de Borel.
Como K é limitado, então existe M > 0 real tal que ∀ x ∈ K tem-se

|x| ≤ M.

Portanto K ⊂ B(0, M), daı́ segue que

λ(K) ≤ λ(B(0, M)) < ∞.

b Propriedade 53. Seja f : [a, b] → R e A ⊂ [a, b] um conjunto com medida


nula de Lebesgue. Se f é uma função Hölder então f(A) também possui medida
de Lebesgue nula.
Lembramos que f é Hölder, se existe L, tal que

|f(x) − f(y)| ≤ L|x − y|p , ∀ x, y ∈ [a, b], p ≥ 0.

ê Demonstração.
ak + bk
Aqui estamos denotando B(xk , rk ) = (ak , bk ), onde xk = é o centro e o
2
raio é
bk − ak
rk = .
2
Logo
(bk − ak )
λ(B(xk , rk )) = λ((ak , bk )) = bk − ak = 2 = 2rk .
2
• Como f é Hölder, vale que

f(B(xk , rk )) ⊂ B(f(xk ), L(rk )p ).

Pois, se x ∈ B(xk , rk ) segue que |x − xk | ≤ rk , daı́

|f(x) − f(xk )| ≤ L|x − xk |p ≤ L(rk )p ,

por isso f(x) ∈ B(f(xk ), Lrk ).


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 83



De A ⊂ B(xk , rk ), segue que
k=1


∞ ∪
∞ ∪

f(A) ⊂ f( B(xk , rk )) = f(B(xk , rk )) = B(f(xk ), L(rk )p ).
k=1 k=1 k=1

• Se p ≥ 1, vale que (∞ )p

∞ ∑
(rpk ) ≤ rk .
k=1 k=1
Seja a função f : [0, ∞) → [0, ∞) com f(x) = (x + b)p − xp − bp , b ≥ 0. Temos
que f(0) = bp − bp = 0. Além disso a função é crescente pois

f ′ (x) = p(x + b)p−1 − pxp−1 ≥ 0 ⇔ p(x + b)p−1 ≥ pxp−1 ,

essa última vale com p − 1 ≥ 0. Logo temos que (r1 + r2 )p ≥ rp1 + rp2 , o caso geral
para n valores provamos por indução.

( n )p

n ∑
(rpk ) ≤ rk ,
k=1 k=1
a desigualdade vale para n = 1, suponha que seja válida para m < n + 1, então
ela também vai valer para n + 1, pois

(r1 + [r2 + · · · rn+1 ])p ≥ rp1 + [r2 + · · · rn+1 ]p ≥ rp1 + rp2 + · · · rpn+1 ,
| {z }
ntermos

como querı́amos provar.


( )p

n ∑
n ∑
n
Dado que ( rk ) converge, então também converge ( rk ) e daı́ ( (rpk ))
k=1 k=1 k=1
converge por ser uma sequência crescente, limitada superiormente. Da desi-
gualdade ( n )p

n ∑
(rpk ) ≤ rk ,
k=1 k=1
aplicando limite de ambos lados segue que
( ∞ )p
∑∞ ∑
(rpk ) ≤ rk .
k=1 k=1

Uma observação é que a desigualdade (r1 + r2 )p ≥ rp1 + rp2 , pode não valer, tome
1 1
por exemplo r1 = r2 = e p = , logo
2 2
1 1 1 1 1 2 √
(r1 + r2 )p = ( + ) 2 = 1 < √ + √ = √ = 2 = 1, 4 · · · .
2 2 2 2 2
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 84

• Se p ≥ 1, temos que (∞ )p

∞ ∑
(rpk ) ≤ rk ,
k=1 k=1


∞ ( ε ) p1
por isso basta tomar uma cobertura de A tal que rk ≤ , daı́ segue
2L
k=1
que

(∞ )p

∞ ∑ ε
(rpk ) ≤ rk ≤ ⇒
2L
k=1 k=1



2L(rpk ) < ve.
| {z }
k=1
λ(B(f(xk ),L(rk )p ))

1.8.5 Equivalência nas Definições de Medida de Lebesgue

b Propriedade 54. Se a medida de Lebesgue de um intervalo [a, b) é definida


como µ([a, b)) = b − a, então µ({x}) = 0 ∀ x ∈ R e daı́

µ([a, b]) = µ((a, b)) = µ((a, b]) = b − a.

ê Demonstração.

1
• Um conjunto unitário é mensurável a Lebesgue, pois dado Ak = [x, x + ), tal
k
conjunto é mensurável ∀ k ∈ N.

Também é mensurável a união enumerável


∞ ∩

Ack == ( Ak )c ,
k=1 k=1

e daı́ também o complementar de tal conjunto que é



Ak = {x},
k=1

pois x está nessa interseção e nenhum outro valor menor ou maior que x. A
sequência (Ak ) é decrescente, isto é, vale Ak+1 ⊂ Ak , pois
1 1
[x, x + ) ⊂ [x, x + ),
k+1 k
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 85

1 1
que segue de x + < x + . Logo pelo teorema da convergência monótona
k+1 k
para conjuntos, segue que a medida da interseção ( que resulta em {x}) é o
1
limite da medida de An = [x, x + ), portanto
n
1 1
µ({x}) = lim µ([x, x + )) = lim(x + − x) = 0.
n n

• [a, b] é mensurável, pois é união dos mensuráveis [a, b) ∪ {b} e sua medida é
dada pela soma

µ([a, b]) = µ([a, b) ∪ {b}) = µ([a, b)) + µ({b}) = b − a.


| {z }
0

• (a, b) é mensurável, pois é a diferença de mensuráveis [a, b) \ {a}, e sua medida


é dada por

µ([a, b)) = µ({a} ∪ (a, b)) = µ({a}) +µ((a, b)) = b − a.


| {z }
=0

• (a, b] é mensurável, pois é a união de mensuráveis (a, b) ∪ {b}, sua medida é


dada por

µ((a, b]) = µ((a, b) ∪ {b}) = µ((a, b)) + µ({b}) = b − a.


| {z }
=0

1.8.6 Conjunto de Cantor

Ck 2 Ck
m Definição 46 (Conjunto de Cantor). Seja C0 = [0, 1], Ck+1 =
3
∪( + ), k ∈
3 3
Ck x
N. Onde = { | x ∈ Ck } e a translação
3 3
2 2
+ Ck = { + x | x ∈ Ck }.
3 3

Definimos o conjunto de Cantor C como a interseção



C= Ck .
k=0
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 86

b Propriedade 55. O conjunto de Cantor possui medida de Lebesgue nula.

ê Demonstração. Temos que Ck é uma sequência decrescente de conjuntos de


medida finita.

• Vale que Ck ⊂ [0, 1] ∀ k, o que provaremos por indução. Temos que C0 ⊂ [0, 1].
Supondo que Ck ⊂ [0, 1], temos que
Ck 2 Ck
Ck+1 = ∪( + ) ⊂ [0, 1].
3
|{z} | 3 {z 3 }
⊂[0, 31 ] ⊂[ 32 ,1]

Ck 1 2 Ck 2
• Como cada Ck ⊂ [0, 1], então ⊂ [0, ] e + ⊂ [ , 1] e são conjuntos
3 3 3 3 3
disjuntos.
( )k
2
• Vale que λ(Ck ) = , ∀ k ∈ N. Provaremos por indução. Para k = 0 vale
3
pois
( )0
2
C0 = [0, 1] ⇒ λ(C0 ) = 1 = .
3
( )k
2
Suponha que λ(Ck ) = , então vamos provar que
3
( )k+1
2
λ(Ck+1 ) = .
3

Ck 2 Ck
Usando a recorrência Ck+1 = ∪( + ), aplicando a medida, tem-se que
3 3 3
( )k ( )k+1
Ck 2 Ck 2 2 2 2
λ(Ck+1 ) = λ( ) + λ( + ) = λ(Ck ) = = .
3 3 3 3 3 3 3

• Usamos que λ(sE) = |s|λ(E), λ(s + E) = λ(E), onde E ⊂ R e s ∈ R.

• Temos que ( )n
2
λ(C) = lim λ(Cn ) = lim = 0.
3

1.8.7 Primeiro princı́pio de Littlewood


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 87

⋆ Teorema 8 (Primeiro princı́pio de Littlewood). Sejam E ⊂ R conjunto men-


surável a Lebesgue com medida finita λ(E) < ∞, ε > 0 dado, então existe uma
união finita F de intervalos abertos tais que

λ(E∆F) < ε.

ê Demonstração. Pela definição de medida exterior de Lebesgue, existe uma




sequência de intervalos abertos (Ik ) tal que, E ⊂ Ik e
k=1



ε
λ(E) ≤ (bk − ak ) < λ(E) + ,
2
k=1


n
pois λ(E) é o mı́nimo, a maior cota inferior . Seja F = Ik , então
k=1


∞ ∑

ε
λ(F \ E) ≤ λ( Ik \ E) ≤ [ λ(Ik )] − λ(E) < ,
2
k=1 k=1

aqui usamos o fato de λ(E) < ∞ para poder transformar a diferença de conjuntos na
diferença das medidas, usamos também a subaditividade, temos ainda que


∞ ∪
∞ ∑

ε
λ(E \ F) ≤ λ( Ik \ F) = λ( Ik ) ≤ λ(Ik ) < ,
2
k=1 k=n+1 k=n+1


n ∪
∞ ∪
∞ ∪
n ∪

onde usamos que F = Ik e daı́ Ik \ F = Ik \ Ik = Ik , somando as duas
k=1 k=1 k=1 k=1 k=n+1
expressões obtidas temos que
ε ε
λ(E∆F) = λ(E \ F) + λ(F \ E) < + = ε.
2 2
Tal resultado diz informalmente que Λ(E) w µ(E ∩ F), pois

E = (E ∩ F) ∪ (E∆F) ⇒ µ(E) = µ(E ∩ F) + µ(E∆F) ⇒

µ(E) − µ(E ∩ F) = µ(E∆F) < ε.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 88

b Propriedade 56. Seja F ⊂ [a, b] mensurável com λ(F) > 0, então para todo
ε > 0 existe um intervalo aberto I tal que λ(F ∩ I) > (1 − ε)λ(I).

ê Demonstração. Suponha por absurdo que existe ε > 0 tal que para cada
intervalo aberto I, tem-se
λ(F ∩ I) ≤ (1 − ε)λ(I),

por definição da medida de Lebesgue existe uma famı́lia de intervalos abertos (Jk )n1
(aqui usamos que F ⊂ [a, b], logo pode ser coberto por quantidade finita de intervalos)

n
tal que F ⊂ Jk e
k=1

n
λ(F) ≤ λ(Jk ) << λ(F) + ελ(F) = (1 + ε)λ(F),
k=1

por propriedade do ı́nfimo, logo



n ∑
n
λ(F) = λ(F ∩ Jk ) ≤ λ(F ∩ Jk ) ≤
|∪ {z }
k=1 k=1
n
k=1 (Jk ∩F)


n
≤ (1 − ε)λ(Jk ) ≤ (1 − ε)(1 + ε)λ(F) = (1 − ε2 )λ(F),
k=1

logo λ(F) ≤ (1−ε )λ(F) ⇒ 0 ≤ −ε2 λ(F) o que implicaria λ(F) ≤ 0 o que contraria nossa
2

suposição de que λ(F) > 0. Portanto dado ε > 0 existe I tal que λ(F ∩ I) > (1 − ε)λ(I).

b Propriedade 57. Seja E ⊂ R mensurável , λ(E) > 0 então ∀ ε > 0 existe um


α
z }| {
intervalo aberto I tal que λ(F ∩ I) > (1 − ε)λ(I), aqui retiramos a restrição de E ser
limitado como na propriedade anterior. No caso como ε > 0 então α = 1 − ε < 1.

ê Demonstração. Fixe ε > 0 . Para cada n ∈ N denotamos Fn = E ∩ [n, n + 1),




então µ(E) = λ(Fk ), como λ(E) > 0 existe algum n ∈ N tal que λ(Fn ) > 0, pelo
k=−∞
resultado anterior , existe um intervalo aberto I tal que

λ(Fn ∩ I) > (1 − ε)λ(I),

então
λ(E ∩ I) ≥ λ(Fn ∩ I) > (1 − ε)λ(I).
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 89

b Propriedade 58. Seja λ(E) > 0 , então o conjunto E − E = {x − y | x, y ∈ E}


contém um intervalo aberto centrado em 0 .

ê Demonstração.
3
Da propriedade anterior tomamos α = , então temos um intervalo aberto tal
4
3 −1 1
que λ(E ∩ I) > λ(I). Tomamos x ∈ ( λ(I), λ(I)) e os conjuntos
4 2 2
A = E ∩ I e B = (E ∩ I) + x,

temos que λ(A) = λ(B), pois λé invariante por translação . Suponha que A ∩ B = ∅
então

3 3
λ(A ∪ B) = 2λ(A) > 2. λ(I) = λ(I),
4 2
porém A ∪ B ⊂ I ∪ (I + x), pois A = E ∩ I ⊂ I e B = (E ∩ I) + x ⊂ I + x. Como
−1 1
x ∈ ( λ(I), λ(I)) então a medida de I ∪ (I + x) é no máximo a medida de I mais a
2 2
1 3
metade dessa medida , λ(I ∪ (I + x)) ≤ λ(I) + λ(I) = λ(I). Por isso temos
2 2
3 3
λ(I) < λ(A ∪ B) ≤ λ(I ∪ (I + x)) = λ(I),
2 2
o que é absurdo, então A ∩ B não é vazio . Seja y ∈ A ∩ B, isto é, y ∈ (E ∩ I) + x e
y ∈ (E∩I), por isso y = z+x para algum z ∈ E∩I então x = y−z ∈ E−E com x tomado
−1 1 −1 1
arbitrário no intervalo ( λ(I), λ(I)) segue então a inclusão de ( λ(I), λ(I)) em
2 2 2 2
E − E.

1.8.8 Subconjunto com interior vazio e medida positiva- Irraci-

onais

Z Exemplo 17. Seja por exemplo o intervalo [0, b] temos que [0, b] ∩ Q é
Lebesgue mensurável, pois os racionais são conjunto de Borel, logo Lebesgue-
mensuráveis, temos que [0, b] ∩ Q ∪ [0, b] ∩ (R \ Q) é união disjunta e (R \ Q)
também mensurável, por ser complementar do mensurável Q, portanto aplicando
a medida e usando que racionais possuem medida nula, segue que
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 90

λ([0, b]) = b = λ([0, b] ∩ Q) +λ([0, b] ∩ (R \ Q) ) = λ([0, b] ∩ (R \ Q) ) = b.


| {z }
0

Então os irracionais em [0, b] possuem medida de Lebesgue b e tal conjunto


[0, b] ∩ (R \ Q) possui interior vazio, não contém intervalo, pois todo intervalo
contém racionais . Além disso [0, b] ∩ (R \ Q) é não enumerável, pois [a, b] é
não enumerável e [0, b] ∩ Q é enumerável , se o outro conjunto fosse então [a, b]
também seria.

1.9 Medida com Sinal-Cargas

m Definição 47 (Medida com sinal). Dados um par (X, Σ), conjunto X munido
de uma σ-álgebra Σ, uma função λ : Σ → R é chamada de medida com sinal (ou
carga), se

• λ(∅) = 0.

• λ é σ-aditiva.

• A diferença aqui para uma medida é que λ pode assumir valores negativos
pois sua imagem está em R.

b Propriedade 59. Se λ é uma carga e (En ) ∈ Σ é uma sequência disjunta de


elementos, então a série


λ(Ek )
k=1

é incondicionalmente convergente.

ê Demonstração.
Vale que

∞ ∑

λ( Ek ) = λ(Ek ),
k=1 k=1
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 91

sendo f : N → N uma bijeção, então também vale


∞ ∑

λ( Ef(k) ) = λ(Ef(k) ),
k=1 k=1



que por sua vez é igual a λ( Ek ) pois a união não depende da ordem com que se
k=1
toma seus termos.

b Propriedade 60. Se λ é uma carga, então definindo

µ(E) = sup{λ(A), A ⊂ E, A ∈ Σ},

então µ é uma medida.

ê Demonstração.

• µ(∅) = sup{λ(A), A ⊂ ∅, A ∈ Σ}, daı́ A = ∅ e λ(∅) = 0, logo µ(∅) = 0.

• Para mostrar a σ-aditividade, primeiro vamos mostrar que se A ⊂ B então


µ(A) ≤ µ(B). Tomamos E ⊂ A ⊂ B, E ∈ Σ, então λ(E) ≤ µ(B), como µ(A) é a
menor das cotas superiores dessa forma, segue que µ(A) ≤ µ(B). Segue também
que µ(A) ≥ 0, ∀ A ∈ Σ pois ∅ ⊂ A.


Seja Ak uma sequência disjunta de Σ, vamos mostrar que
k=1


∞ ∑

µ( Ak ) = µ(Ak ).
k=1 k=1

Se µ(Ak ) = ∞ para algum k então



∞ = µ(Ak ) ≤ µ( Ak )
k=1

daı́ temos a igualdade



∞ ∑

µ( Ak ) = µ(Ak ),
k=1 k=1

onde usamos também que cada Ak tem medida positiva.


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 92

Suponha agora que cada µ(Ak ) < ∞. Seja ε > 0 dado arbitrário, escolha
Ek ⊂ Ak , onde Ek ⊂ Σ, tal que
ε
µ(Ak ) ≤ λ(Ek ) + ,
2k
tal sequência (Ek ) pode ser tomada por propriedade do supremo, além disso ela
é disjunta pois Ek ⊂ Ak e (Ak ) é sequência disjunta. pela σ-aditividade de λ
segue que


∞ ∑
∞ ∑

ε ∑∞
λ( Ek ) = λ(Ek ) ≥ (µ(Ak ) − k ) ≥ [ µ(Ak )] − ε.
2
k=1 k=1 k=1 k=1

Logo de

∞ ∪
∞ ∑

µ( Ak ) ≥ λ( Ek ) ≥ [ µ(Ak )] − ε,
k=1 k=1 k=1

segue daı́ que



∞ ∪

µ(Ak ) ≤ µ( Ak ).
k=1 k=1



Agora iremos provar a outra desigualdade. Tome E ⊂ Ak , como λ é σ-aditiva,
k=1
segue que


∞ ∪
∞ ∑

λ(E) = λ(E ∩ Ak ) = λ( [Ak ∩ E]) = λ(Ak ∩ E),
k=1 k=1 k=1

como λ(E ∩ Ak ) ≤ µ(Ak ) concluı́mos que



λ(E) < µ(Ak ).
k=1


∞ ∪

Daı́ µ(Ak ) é uma cota superior, como µ( Ak ) é a menor das cotas superi-
k=1 k=1
ores, segue que

∞ ∑

µ( Ak ) ≤ µ(Ak ),
k=1 k=1

da desigualdade no outro sentido, segue que temos a igualdade, logo µ é σ-


aditiva, como querı́amos provar.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 93

m Definição 48 (Conjuntos positivos, negativos e nulo). Considere λ uma carga


em Σ, os termos a seguir são relativos a carga λ e os conjuntos citado sempre de
Σ.

1. P é dito positivo se ∀ E ∈ Σ temos

λ(P ∩ E) ≥ 0.

2. N é dito negativo se ∀ E ∈ Σ temos

λ(N ∩ E) ≤ 0.

3. M é dito nulose ∀ E ∈ Σ temos

λ(M ∩ E) = 0.

$ Corolário 21. Se P é positivo e N é negativo, então valem:

• λ(P) ≥ 0, pois λ(P ∩ E) ≥ 0 ∀ E ∈ Σ, em especial tomando E = P, temos

λ(P ∩ P) = λ(P) ≥ 0.

• λ(N) ≤ 0, pois λ(N ∩ E) ≤ 0 ∀ E ∈ Σ, em especial tomando E = N, temos

λ(N ∩ N) = λ(N) ≤ 0.

b Propriedade 61. Se P2 ⊂ P1 e P1 é positivo, então P2 também é positivo. O


mesmo vale para conjuntos negativos.

ê Demonstração. Sendo E qualquer em Σ, devemos mostrar que

λ(P2 ∩ E) ≥ 0.

Temos que P1 ∩ P2 = P2 , daı́ P1 ∩ (P2 ∩ E) = P2 ∩ E, segue do fato eu P1 é positivo


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 94

que
λ(P1 ∩ (P2 ∩ E)) = λ(P2 ∩ E) ≥ 0,

portanto P2 é positivo.

b Propriedade 62. Considere N, E ∈ Σ. N é negativo ⇔ ∀ E ⊂ N temos


λ(E) ≤ 0. Resultado similar vale para Conjuntos positivos.

ê Demonstração. ⇒) Fizemos no resultado anterior.


⇐). Para um P arbitrário tome E = N∩P logo N∩P = E ⊂ N e temos λ(N∩P) ≤ 0,
portanto N é negativo.

$ Corolário 22. Negando o resultado anterio, temos que N não é negativo ⇔


exise E ⊂ N tal que λ(E) > 0.

b Propriedade 63. A união de dois conjuntos positivos é um conjunto positivo.

ê Demonstração. Podemos escrever a unição disjunta

P1 ∪ P2 = (P1 \ P2 ) ∪ (P1 ∩ P2 ) ∪ (P2 \ P1 ),

tomando a interseção com E, temos

λ([P1 ∪ P2 ] ∩ E) = λ[(P1 \ P2 ) ∩ E] + λ[(P1 ∩ P2 ) ∩ E] + λ[(P2 \ P1 ) ∩ E] ≥ 0,


| {z } | {z } | {z }
≥0 ≥0 ≥0

pois um subconjunto de um positivo é positivo, portanto P1 \ P2 , P2 \ P1 e P1 ∩ P2 , são


positivos.

m Definição 49 (Variação positiva, negativa e total de uma carga). Seja λ uma


carga fixada.

1. Definimos a variação positiva de λ, como

λ+ (A) = sup{λ(B) : B ⊂ A, B ∈ Σ}
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 95

2. A variação negativa de λ, como

λ− = (−λ)+ : Σ → [0, ∞].

3. A variação total de λ, como

|λ| = λ+ + λ− : Σ → [0, ∞].

1.9.1 Decomposição de Hahn

⋆ Teorema 9 (Decomposição de Hahn). Se λ é uma medida com sinal, então


existem P, N ∈ Σ tais que


P ∪ N = Σ, P ∩ N = ∅.

• λ restrita a P é positiva.

• λ restrita a N é negativa.

• A decomposição é única a menos de um conjunto de medida nula.

• λ = λ+ − λ− com λ+ e λ− medidas sem sinal.

ê Demonstração.
A classe Pc de todos conjuntos positivos é não vazia pois deve conter ∅ pelo menos.
Seja α = sup{λ(A), A ∈ Pc }. Seja (Bn ) uma sequência em Pc tal que lim λ(Bn ) = α.
∪n
Como a união de dois conjuntos positivos é positivo, definimos An = Bk , logo
k=1


(Ak ) é uma sequência positiva e crescente. Definimos P = Ak .
k=1

• P é positivo, pois

∞ ∪

λ(E ∩ P) = λ(E ∩ Ak ) = λ( [E ∩ Ak ]) = lim λ(E ∩ An ) ≥ 0.
k=1 k=1

Daı́
α = lim λ(An ) = λ(P) < ∞, pois λ(P) < ∞.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 96

• Vamos mostrar agora que o conjunto N = A \ P é negativo.

Suponha por absurdo que N = A \ P não é negativo, então existe E ⊂ N tal que
λ(E) > 0. O conjunto E não pode ser positivo, pois se não P ∪ E também será
positivo, com
λ(P ∪ E) = λ(P) + λ(E) > α.
|{z} |{z}
α >0
Logo E contém conjuntos com carga negativa. Seja n1 o menor número natural tal
que E contém um conjunto E1 ∈ Σ tal que
−1
λ(E1 ) ≤ .
n1
Porém, E \ E1 não pode ser um conjunto positivo, pois se não P1 = P ∪ (E \ E1 ) seria
positivo com λ(P1 ) > α. Logo E \ E1 contém conjuntos com carga negativa. Seja n2 o
−1
menor número natural tal que E\E1 contenha um conjunto E2 ∈ Σ tal que λ(E2 ) ≤ .
n2
Repetindo o argumento para E \ (E1 ∪ E2 ) e assim por diante, obtemos uma sequência
1
disjunta (Ek ) de conjuntos de A, tais que λ(Ek ) ≤ .
nk


• Seja F = λ(Ek ).
k=1

Temos que

∞ ∑∞
1
λ(F) = λ(Ek ) ≤ − ≤ 0.
k=1 k=1
n k

1
Logo a série converge e portanto → 0. Se G ⊂ E \ F é mensurável com λ(G) < 0,
nk
−1
então λ(G) < , para k suficientemente grande, contradizendo o fato que nk é
nk − 1
∪∞
o menor número natural tal que E \ ( Ek ) contém um conjunto com carga menor
k=1
−1
que . Logo todo conjunto mensurável G de E \ F deve ter λ(G) ≥ 0, portanto E \ F
nk
é positivo para λ. Como λ(E \ F) = λ(E) − λ(F) > 0, daı́ P ∪ (E \ F) é positivo com
carga maior que α, contradição com N = A \ P não ser negativo. Logo N = A \ P é
negativo para λ e a decomposição de A foi obtida.

m Definição 50 (Carga Absolutamente contı́nua). Uma carga λ é absoluta-


mente contı́nua com respeito a uma carga µ, caso a variação total de λ, |λ| é
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 97

absolutamente contı́nua com relação a |µ|.

1.9.2 Caracterização de λ << µ.

b Propriedade 64. Sejam λ e µ medidas finitas em Σ. Então, λ << µ ⇔ ∀ ε > 0


existe δε > 0 tal que E ∈ Σ e µ(E) < δ implicam que λ(E) < ε.

ê Demonstração.
⇐). Temos que mostrar que µ(E) = 0 implica λ(E) = 0. ∀ ε > 0 existe δ > 0 tal
que µ(E) = 0 < δ (podemos tomar qualquer δ > 0 já que µ(E) = 0) implica λ(E) < ε,
como ε > 0 é arbitrário segue que λ(E) = 0.
⇒) Provaremos a contrapositiva, lembre que p ⇒ q é equivalente a ∼ q ⇒∼ q.
Então, negando a condição dada, temos que mostrar que não vale λ não é abso-
lutamente contı́nua em relação a µ, isto é, obter E tal que µ(E) = 0 e não vale
λ(E) = 0.
1
Suponha que exista ε > 0 e conjuntos En ∈ Σ com µ(En ) < n e λ(En ) ≥ ε. Seja
2


Fn = , então
k=n

∞ ∑∞
1
µ(Fn ) ≤ µ(Ek ) ≤ = 2−n+1 .
2k
k=n k=n

Além disso, λ(Fn ) ≥ λ(En ) ≥ ε. (Fn ) é uma sequência decrescente de conjuntos


mensuráveis, então


µ( Fk ) = lim µ(Fk ) = 0.
k=1



λ( Fk )) = lim λ(Fk ) ≥ ε.
k=1

Logo λ não é absolutamente contı́nua com respeito a µ, como querı́amos provar.

1.10 Aproximação de Conjuntos Mensuráveis

1.10.1 Aproximação por conjuntos abertos


Estamos tratando aqui da medida de Lebesgue a restrição de m∗ a medida exterior
a conjuntos mensuráveis estamos denotando por m.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 98

b Propriedade 65. Dados A ⊂ Rp e ε > 0, então existe um conjunto aberto


G ⊂ Rp tal que


A ⊂ G, m(G) ≤ m∗ (A) + ε.

• Se A ⊂ Rp então existe um Gδ , que denotaremos por H, tal que A ⊂ H e


m∗ (A) = m(H).

ê Demonstração. Faremos o caso real.

• Podemos assumir que m∗ (A) < ∞, pois caso contrário podemos tomar G = R.


Dado ε > 0, existe (Ik )k∈N , onde Ik = [ak , bk ), tal que A ⊂ Ik e m∗ (A) ≤
k=0


ε ε ∪∞

m(Ik ) < m (A) + . Tomando Jk = (ak − k+2 , bk ), G = Jk . G é aberto,
2 2
k=0 k=0

∞ ∪

A⊂ Ik ⊂ Jk .
k=0 k=0


∞ ∑∞ ∑

ε
m(G) = m( Jk ) ≤ m(Jk ) = (bk − ak + k+2 ) =
2
k=0 k=0 k=0


ε ∑
∞ ∑∞
ε ( ε) ε

= [m(Ik ) + k+2
]= m(Ik ) + ≤ m (A) + + =
2 2k+2 2 2
k=0 k=0 k=0
= m (A) + ε ⇒ m(G) ≤ m∗ (A) + ε.

Como querı́amos provar.


1
• Dado n ∈ N, existe Gn aberto com A ⊂ Gn e m(Gn ) < m∗ (A) + . Tome
n

∞ ∩

H= Gk , A ⊂ Gk := H ⊂ Gk , ∀ k, daı́
k=1 k=1

1
m∗ (A) ≤ m∗ (H) ≤ m∗ (Gn ) < m∗ (A) + ,
n
tomando n → ∞ segue que

m∗ (A) ≤ m(H) ≤ m∗ (A),

logo temos que m∗ (A) = m(H). Lembre que m∗ (H) = m(H), pois H pertence a
σ−álgebra de borel por ser interseção enumerável de elementos dessa σ-álgebra.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 99

⋆ Teorema 10. E ⊂ Rp é mensurável a Lebesgue ⇔ para cada ε > 0 existe um


aberto G tal que E ⊂ G e m∗ (G \ E) < ε.

ê Demonstração. ⇒). Assumindo que E é mensurável e m(E) < ∞. Pelo


resultado anterior sabemos que existe um aberto G, tal que E ⊂ G e

m(G) < m(E) + ε.

Como E é mensurável e E ⊂ G temos que

m(G) = m(G ∩ E}) + m(G \ E) = m(E) + m(G \ E).


| {z
E

Como m(G) < ∞ temos que

m(G \ E) = m(G) − m(E) < ε.

Agora o outro caso. Se m(G) = ∞. Seja E1 = E ∩ {x : ||x|| ≤ 1} e para n ≥ 2, seja

En = {x : ||x|| ∈ (n − 1, n) }.
ε
Para cada n natural, seja Gn um aberto com En ⊂ Gn e m(Gn \ En ) < n . Se
2

∞ ∪

tomamos G = Gk , então G é aberto, E ⊂ G, E = Ek , temos que
k=1 k=1


∞ ∪
∞ ∪

G\E=[ Gk ] \ [ Ek ] ⊂ [Gk \ Ek ],
k=1 k=1 k=1

logo por subaditividade, temos que



∞ ∑∞
ε
m(G \ E) ≤ m(Gk \ Ek ) < = ε.
2k
k=1 k=1

O que termina a demonstração.


⇐). Suponha que para cada n ∈ N, exista um conjunto aberto Gn com E ⊂ Gn , tal
1 ∩∞
que m Gn \ E) < . Defina H =
(
Gk , então H é um Gδ , logo é mensurável. Como
n k=1
H ⊂ Gn , temos que H \ E ⊂ Gn \ E, logo
1
0 ≤ m∗ (H \ E) ≤ m∗ (Gn \ E) < , ∀ n ∈ N.
n
Portanto m∗ (H \ E) = 0 e daı́ Z = H \ E é mensurável logo E = H \ Z por ser
diferença de mensuráveis.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 100

• Usamos que vale


∪ ∪ ∪
[ Gk ] \ [ Fk ] ⊂ (Gk \ Fk ) .
| k∈L
{z k∈L
} |
k∈L
{z }
A B

Seja x ∈ A então x ∈ Gj para algum j e x ∈
/ Fk , portanto x ∈
/ Fk , ∀ k ∈ L em

k∈L
especial x ∈
/ Fj ,, daı́ x ∈ Gj \ Fj e portanto x ∈ (Ek \ Fk ).
k∈L
A igualdade não vale em geral pois,

[ {1} ∪ {2} ] \ [ {2} ∪ {1} ] = ∅,


|{z} |{z} |{z} |{z}
G1 G2 F1 F2

se a identidade fosse válida, terı́amos

[G1 ∪ G2 ] \ [F1 ∪ F2 ] = [G1 \ F1 ] ∪ [G2 \ F2 ] = [{1} \ {2}] ∪ [{2} \ {1}] = {1, 2} ̸= ∅.

b Propriedade 66. E é Lebesgue mensurável ⇔ existe H ∈ Gδ tal que E ⊂ H


com m∗ (H \ E) = 0.

ê Demonstração.
⇐). Se vale m∗ (H \ E) = 0 para H um Gδ então Z = H \ E é mensurável. Como H
é mensurável (interseção enumerável de abertos) segue que E = H \ Z é mensurável.
⇒). Pelo resultado anterior, se E é Lebesgue mensurável existe Gn aberto tal que
1 ∩∞

E ⊂ Gn e m (Gn \ E) < , tomando H = Gk , temos que E ⊂ H, e H é um Gδ . Além
n k=1
disso
1
H \ E ⊂ Gn \ E ⇒ m∗ (H \ E) ≤ m∗ (Gn \ E) ≤ ,
n
1
isto é, m∗ (H \ E) ≤ . Tomando n → ∞, segue que m∗ (H \ E) = 0.
n

1.10.2 d(A, B) > 0 ⇒ m∗ (A ∪ B) = µ∗ (A) + µ∗ (B).

b Propriedade 67. Sejam A e B conjuntos tais que d(A, B) = inf {|a − b|, a ∈
A, b ∈ B} > 0. Então vale que

m∗ (A ∪ B) = µ∗ (A) + µ∗ (B).
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 101

Perceba que A ou B não precisam ser mensuráveis aqui, para mensuráveis a


propriedade já foi demonstrada.
ê Demonstração. Por subaditividade da medida exterior, já temos que m∗ (A ∪
B) ≤ m∗ (A) + m∗ (B). Basta provar então a outra desigualdade m∗ (A ∪ B) ≥ m∗ (A) +
m∗ (B), o que acontece trivialmente se m∗ (A∪B) = ∞. Suponha então que m∗ (A∪B) <
∞. Sejam δ = d(A, B) > 0, ε > 0 arbitrário e (In ) cobertura de A ∪ B, tal que


l(Ik ) ≤ m∗ (A ∪ B) + ε.
k=1

Onde l(Ik ) é a medida de Lebesgue do bloco retangular. Podemos assumir que cada
bloco Ik possio diâmetro menor que δ (se não o dividimos em blocos menores). Neste
caso nenhum bloco In pode conter pontos em ambos A e B. Podemos dividir (In ) em
três classes disjuntas

1. (Ik )k∈A1 que contém pontos de A.

2. (Ik )k∈A2 que contém pontos de B.

3. (Ik )k∈A3 que não contém pontos de A nem de B. Sendo A1 ∪ A2 ∪ A3 = N e os


conjuntos disjuntos dois a dois.

Logo temos que


∑ ∑
m∗ (A) ≤ l(Ik ), m∗ (B) ≤ l(Ik ).
k∈A1 k∈A2
De onde segue que
∑ ∑ ∑ ∑

∗ ∗
m (A) + m (B) ≤ l(Ik ) + l(Ik ) + l(Ik ) = l(Ik ) ≤ m∗ (A ∪ B) + ε.
k∈A1 k∈A2 k∈A3 k=1

Logo
m∗ (A) + m∗ (B) ≤ m∗ (A ∪ B) + ε,

e como ε > 0 é arbitrário, segue que

m∗ (A) + m∗ (B) ≤ m∗ (A ∪ B),

como querı́amos demonstrar.

1.11 Medida Exterior de Hausdorff


CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 102

m Definição 51. Sejam (A, d) um espaço métrico. ∀ U ⊂ A seja diam(U) o


diâmetro de U, isto é,

diam(U) = sup{d(x, y), x, y ∈ U}, diam(∅) = 0.

Seja S ⊂ A e δ > 0 um número real, definimos


∞ ∪

Hdδ =∈ { (diamUk ) : S ⊂
d
Uk , diam(Uk ) < δ},
k=1 k=1

isto é, o ı́nfimo sobre coberturas contáveis de S por conjuntos Uk ⊂ A satisfazendo


diam(Uk ) < δ.

b Propriedade 68. Hdδ (S) é decrescente em δ.

ê Demonstração. Se δ1 ≥ δ2 então Hdδ1 (S) ≤ Hdδ2 (S). Pois como diam(Uk ) <
δ1 , no cálculo de Hdδ1 , e essa condição é menos restritiva que diam(Uk ) < δ2 , por
∑∞
isso temos mais coleções de coberturas e daı́ o ı́nfimo das somas (diamUk )d é
k=1
possivelmente menor.

$ Corolário 23. O limite lim− Hdδ (S) existe, podendo ser possivelmente infinito.
δ→0

m Definição 52 (Medida exterior de Hausdorf de dimensão d). Definimos

Hd (S) = sup Hdδ (S) = lim Hdδ (S).


δ>0 δ→0

b Propriedade 69. Hd (S) é uma medida exterior.

ê Demonstração.
CAPÍTULO 1. TEORIA DA MEDIDA 103

$ Corolário 24. A restrição de Hd (S) ao σ-campo de conjuntos mensuráveis a


Caratheodory é uma medida chamada de medida de Hausdorff d-dimensional em
S.

b Propriedade 70. Todos os conjuntos de Borel de X são Hd -mensuráveis.

ê Demonstração.

m Definição 53 (Dimensão de Hausdorff). Definimos a dimensão de Hausdorff


de um conjunto S de um espaço métrico por

dimHauss (S) = inf {d ≥ 0 : Hd (S) = 0} = sup({d ≥ 0 : Hd (S) = ∞} ∪ {0}).

Adotamos também que inf ∅ = 0.

Você também pode gostar