Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nº Matrícula: 131387024
Data: Dezembro/2014
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
Escola de Direito do Rio de Janeiro - FGV DIREITO RIO
FGV Law Program
LL.M em Direito Tributário
E aprovado pela Coordenação Acadêmica do curso de LL.M em Direito Tributário, foi aceito
como requisito parcial para a obtenção do certificado do curso de pós-graduação, nível de
especialização, do FGV Law Program da DIREITO RIO.
Data:
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4
5. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 29
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................30
4
1. INTRODUÇÃO
A proteção social no Brasil conta com um arcabouço normativo apto a resolver, se não
todos, ao menos os mais graves problemas sociais. A Constituição Federal de 1988, ao
romper os laços com a concepção liberal nascida sob o signo da Revolução Industrial, lançou
as bases de um amplo sistema protetivo que tem por fundamento o primado do trabalho, e
como objetivo o bem-estar e a justiça sociais1.
Como coloca Ibrahim (2013, p. 5), com a nova ordem constitucional:
A segurança jurídica, que era frequentemente limitada à acepção formal,
com a previsibilidade e certeza do direito, passa também a englobar a
garantia de direitos sociais mínimos. Daí a transição da segurança jurídica
típica dos Estados Liberais para a segurança social, ou seguridade social,
característica do Estado Providência.
No capítulo destinado à ordem social foi inserido, pelo Poder Constituinte, o conceito
de seguridade social, que compreende um sistema de proteção integral, abrangendo saúde e
assistência social, para os quais não é necessária a contribuição dos beneficiários; e um
sistema clássico de previdência social, em que as prestações sujeitam-se à contribuição
compulsória dos segurados. Estruturada para proporcionar a todos medidas de proteção,
houve a necessidade de buscar fontes suficientes para financiar esse magnífico desafio.
Dessa forma, coube ao empregador, além dos tributos incidentes sobre a receita ou o
faturamento, e o lucro, as contribuições sobre a folha de salários.
Ocorre que, ao definir a base de cálculo das contribuições sobre a folha de salários,
surgiram dúvidas quanto à incidência em relação a diversas verbas. Tal fato gerou uma tensão
permanente, que persiste até hoje, entre o Fisco, que busca ampliar a base imponível, e o
contribuinte, que tenta excluir da base de cálculo determinadas rubricas que, no seu
entendimento, não seriam tributáveis.
Considerando somente as contribuições mencionadas no parágrafo anterior,
conhecidas como contribuição previdenciária patronal e RAT2, a soma das alíquotas pode
alcançar o percentual de 26%3 sobre a remuneração paga aos funcionários. A pesada carga
1
Constituição Federal, art. 193: A ordem social tem por base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-
estar e a justiça sociais. (BRASIL, 1998)
2
Embora seja usualmente referida como RAT, trata-se de uma simplificação da sigla GILRAT que significa
Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa Decorrente dos Riscos do Ambiente de Trabalho.
3
A alíquota da contribuição previdenciária patronal é de 20%, e a alíquota do RAT pode alcançar 6%,
considerando sua alíquota máxima de 3% multiplicada pelo Fator Acidentário de Prevenção (FAP) que pode
chegar a dois pontos.
5
tributária sobre a folha de salários demonstra a importância prática de apontar, com precisão,
quais são as parcelas da remuneração alcançáveis pela regra de imposição.
No entanto, a discussão acerca da incidência das contribuições previdenciárias
patronais tem se mostrado pouco concludente, gerando insegurança para as empresas,
diminuição da margem de lucro e, por muitas vezes, o próprio insucesso dos
empreendimentos.
Em várias ocasiões, a análise da incidência leva a conclusões pouco práticas, cuja
aplicação não responde de forma efetiva aos casos concretos. A afirmação corriqueira de que
há incidência sempre que os valores são destinados a retribuir o trabalho não resolve, por
exemplo, o problema do salário-maternidade. O salário-maternidade é pago pela empresa à
empregada, e ressarcido pela Previdência Social. Não há, no período de percepção, efetiva
prestação de serviço. Considerando a assertiva, não poderia haver incidência de contribuição
previdenciária sobre estes valores. No entanto, no REsp nº 1.230.957, em sede de recurso
repetitivo, o STJ julgou haver a incidência das contribuições previdenciárias.
Logo, o exame da incidência não pode levar em consideração um único fator, sob pena
de resultar numa análise parcial e equivocada. Deve, assim, levar em consideração um maior
número de fundamentos a serem considerados em relação a cada uma das rubricas que
compõem a folha de salários.
Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo apontar os fatores a serem
considerados na análise das contribuições previdenciárias patronais incidentes sobre a folha
de pagamentos e aplicá-los a um grupo de rubricas.
Dessa forma, serão analisadas neste trabalho as seguintes verbas: adicional de horas
extras, adicional de insalubridade, adicional de periculosidade, adicional noturno, adicional
por tempo de serviço, auxílio-doença, auxílio-creche, aviso prévio indenizado, décimo
6
terceiro salário, descanso semanal remunerado, férias gozadas, 1/3 de férias, licença-
paternidade e salário-maternidade.
Para atingir o objetivo traçado, o presente trabalho está dividido em quatro partes. Na
primeira serão descritas as principais características do modelo de previdência social
brasileiro e seus mecanismos de financiamento. A segunda tem por finalidade descrever os
principais fundamentos jurídicos para a incidência das contribuições previdenciárias. De
posse das características e fundamentos descritos nos capítulos anteriores, será analisada, na
terceira parte, a incidência das contribuições previdenciárias sobre as verbas selecionadas. Por
último, a conclusão contém um breve resumo do que foi apresentado e os resultados inferidos
pelo autor.
7
4
Constituição Federal, art.196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e o acesso universal igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
5
Constituição Federal, art. 203: A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social...
6
Constituição Federal, art. 201: A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória...
8
7
Constituição Federal, art. 201 § 2º: Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição terá valor mensal
inferior ao salário mínimo.
8
Constituição Federal, art. 201 § 4º: É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter
permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.
9
Para os dependentes, tanto a pensão por morte, quanto o auxílio-reclusão têm por
objetivo substituir os rendimentos do segurado.
Previu o art. 195 que a Seguridade Social seria financiada por toda a sociedade, de
forma indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos dos entes políticos (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios), e de forma direta pelas contribuições sociais dos
empregadores, dos trabalhadores e demais segurados da Previdência Social, sobre a receita
dos concursos de prognósticos, e do importador de bens e serviços do exterior.
Essa massa de recursos deveria sustentar a Seguridade Social em suas duas vertentes, a
assistencialista (saúde e assistência social) e a previdenciária.
Caso a receita dessas contribuições não seja suficiente para arcar com os benefícios de
prestação continuada do RGPS, como vem acontecendo, a União é a responsável por cobrir os
déficits, nos termos do parágrafo único, art. 16 da Lei nº 8.212/19919.
A contribuição do trabalhador e dos demais segurados, prevista no inciso II, art. 195
da lei magna, é disciplinada na Lei nº 8.212/1991. Para empregados, empregados domésticos
e trabalhadores avulsos (art. 20) é aplicada uma alíquota progressiva não cumulativa (8%, 9%
e 11%) de acordo com a faixa em que estiver situado o seu salário de contribuição, que é a
base de cálculo utilizada. Há um limite para a contribuição do empregado que hoje não pode
9
A União é responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando
decorrentes do pagamento de benefícios de prestação continuada da Previdência Social, na forma da Lei
Orçamentária Anual.
11
ser superior a R$ 482,93, produto da aplicação da alíquota de 11% sobre o atual teto do
salário de contribuição que é de R$ 4.390,24.
O segurado especial contribui sobre a receita bruta da venda de sua produção (rural ou
piscícola), do produto obtido na venda da produção obtida em função de contrato de parceria
ou meação de parte de imóvel rural, da venda de artigos de artesanato, de receita oriunda de
atividades turísticas e de entretenimento, do valor de mercado da produção dada em
pagamento ou troca por outra mercadoria e da receita de atividade artística, na proporção de
2%, mais 0,1% para o financiamento das prestações por acidente de trabalho (inc. I e II, e §
10, incs. I a V, todos do art. 25). Pode o segurado especial contribuir de forma facultativa
como contribuinte individual, em virtude da previsão contida no § 1º do art. 25, para obter um
benefício superior ao salário mínimo – visto que usualmente seus benefícios são fixados nesse
valor – e postular o direito à aposentadoria por tempo de contribuição.
Os empregadores, nos termos da letra “a”, inc. I, do art. 195 da Constituição Federal,
devem contribuir sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho, pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhes preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício.
Em relação aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços, deve a
empresa pagar 20% sobre o valor da remuneração paga ou creditada, conforme o inc. III.
10
RE nº 595.838.
13
11
Art. 195, inc. I, letra “a”.
15
Ocorre que o fato gerador não restou suficientemente claro, nesse sentido argumenta
Martinez (2010, p. 429):
3.2 Da habitualidade
Conforme já mencionado, a Constituição Federal (art. 201, § 11) prevê que os ganhos
habituais, a qualquer título, incorporam-se ao salário para efeito de contribuição
previdenciária e consequente repercussão em benefícios. Já a Lei nº 8.212/1991 define como
componente da base de cálculo os ganhos habituais sob a forma de utilidades.
A expressa referência legal nos aponta mais um fator a ser considerado.
Como observa Ibrahim (2013, p. 282), pode-se ter a impressão de que o legislador
ordinário excluiu da incidência os ganhos habituais em dinheiro, restringindo-a somente aos
ganhos habituais in natura, “todavia, tal conclusão é equivocada, pois a habitualidade do
pagamento em pecúnia, de pronto, transforma-o em salário, sendo despicienda a sua menção
expressa”. Não há lógica em tributar ganhos habituais sob a forma de utilidades e não o fazer
quando pagos em pecúnia.
Desse modo, qualquer pagamento habitual, seja em dinheiro ou in natura sofre a
incidência da contribuição previdenciária. Isto é, o pagamento habitual, incorpora-se à
remuneração do empregado, pois passa a compor os recursos disponíveis para a sua
subsistência, subentende-se, na habitualidade, que os recursos são pagos em virtude do
serviço prestado.
18
Ocorre que não existe dispositivo legal definindo a frequência apta a gerar
habitualidade. O habitual não é necessariamente mensal como o salário. Pode ser bimestral,
semestral, anual ou ainda ser pago em intervalos desiguais. O cerne da questão é a certeza de
que o pagamento se repetirá num dado intervalo de tempo.
Nesse sentido Cardoso e Rodrigues (2012, p. 13):
Consta do art. 28 da Lei nº 8.212/1991 (item 7, letra “e”, § 9º) que não fazem parte do
salário de contribuição as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais e os abonos
expressamente desvinculados do salário. Ganhos eventuais decorrem de casos fortuitos, onde
inexiste previsibilidade de ocorrência, estando a averiguação da eventualidade relacionada à
previsibilidade do pagamento e não à frequência com que é realizado (FREIRE, 2014, p. 102-
104).
Assim, não se deve buscar identidade entre os pares “habitual-não eventual” ou “não
habitual-eventual”. Não há simetria entre os conceitos. É a imprevisibilidade da verba, e não a
ausência de uma frequência, que retira do campo de incidência os desembolsos eventuais.
3.3 Da substitutividade
12
AgRg no AI nº 1.420.247.
21
13
Código Civil, artigo 927.
14
AgRg no RE nº 389.903, AgRg no AI nº 727.958 e AgRg no RE nº 545.317.
15
REsp nº 1.358.281.
16
Artigo 189 c/c artigo 192 da CLT.
17
Artigo 193 da CLT.
22
18
AgRg no REsp nº 1.476.604, AgRg no REsp nº 1.474.581, AgRg no REsp nº 1.473.523 e AgRg no AI nº
1.330.045.
19
AgRg no REsp nº 1.476.604, AgRg no REsp nº 1.474.581, AgRg no REsp nº 1.473.523, AgRg no AI nº
1.330.045 e AgRg no REsp nº 957.719.
23
4.5 Auxílio-doença
20
Acórdão nº 2301-01.694, 2ª Seção, 1ª Turma da 3º Câmara, sessão de 20.10.2010.
21
REsp nº 1.208.512, AgRg nos ED no REsp nº 1.098.218 e AgRg no REsp nº1.030.955.
24
22
AgRg no AI nº 767.064, AgRg no AI nº 780.674 e AgRg no RE nº 612.800.
23
REsp nº 951.623, REsp nº 941.755 e REsp nº 886.954.
24
REsp nº 1.230.957.
25
25
REsp nº 973.436, AgRg no REsp nº 953.610, REsp nº 816.829, AgRg no REsp nº 1.220.119 e REsp nº
1.221.665.
26
STJ, Súmula nº 310: O Auxílio-creche não integra o salário-de-contribuição.
26
27
AgRg no RE nº 395.613, AgRg no RE nº 372.484 e AgRg no RE nº. 40.721.
28
STF, Súmula nº 688: É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13º salário.
29
REsp nº 375.055, REsp nº 358.903 e REsp nº 336.182.
30
Art. 201, § 11.
31
AgRg no REsp nº 1.480.162, AgRg no REsp nº 1.475.078 e REsp nº 1.444.203.
27
32
AgRg no AI nº 712.880, AgRg no RE nº 389.903, AgRg no AI nº 727.958 e AgRg no RE nº 545.317.
33
AgRg no REsp nº 1.042.319 e REsp nº 1.322.945.
28
5. CONCLUSÃO
34
INCRA, SENAI, SESI, SENAC, SESC, SEBRAE, DPC, Fundo Aeroviário, SENAR, SEST, SENAT e
SESCOOP.
30
BIBLIOGRAFIA
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro (coord.). Contribuições para a Seguridade Social. São
Paulo: Quartier Latin, 2007.
FALCÃO, Amilcar de Araújo. Fato gerador da obrigação tributária. 7. ed. São Paulo:
Noeses, 2013.
FILIPPO, Luciano Gomes; PETROCCHI, Rafael Capanema. Compilação das verbas ditas de
natureza indenizatória –não incidência de contribuição previdenciária. In: Revista tributária
e de finanças públicas, São Paulo, n. 113, p. 243-258, Nov-Dez. 2013.
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 18. ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2013.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr,
2010.
RGPS: Regime Geral de Previdência Social tem déficit de 51,3 bilhões em 2013. 2013.
Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/noticias/regime-geral-de-previdencia-social-
tem-deficit-de-513-bilhoes-em-2013>. Acesso em: 17 nov. 2014.