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INTRODUÇÃO
A gestão do lixo é hoje um dos principais desafios ambientais e sanitários enfrentados pela
sociedade moderna. O crescimento rápido das populações e a intensificação da produção e do
consumo, dois fenômenos que foram observados nas últimas décadas, tiveram como uma de
suas conseqüências a geração de quantidades cada vez maiores de lixo, junto com a
multiplicação dos custos econômicos requeridos para a sua disposição e tratamento. Estes
custos chegam a ser tão elevados que em muitos casos as autoridades responsáveis não
conseguem assegurar uma gestão adequada, segura e ecológica dos resíduos. Como resultado
inevitável, a má gestão do lixo provoca a contaminação do meio ambiente e a degradação das
condições sanitárias, tanto na cidade como no campo. Por outro lado, a situação ainda se vê
agravada por uma falta fragrante de sensibilisação e educação da população em relação com as
questões ambientais e os impactos adversos do lixo. Sendo assim, os próprios moradores, tendo
em vistas seus maus hábitos, alimentam a degradação da sua qualidade de vida ao invés de
procurar melhorá-la. Frente a esta situação dificil e pouco racional, impõe-se a necessidade de
encontrar novas formas de enfrentar o desafio do lixo, que sejam baseadas na educação e na
participação popular e, que reflitam um maior compromisso com a proteção do meio ambiente e
da qualidade de vida.
A compostagem, uma atividade cuja origem remonta a tempos antigos ( já se praticava na China
antiga, há mais de mil anos atrás ), aparece hoje como uma opção com grande potencial para
contribuir à resolução do problema do lixo. Encaixando-se com perfeição na filosofia
contemporanea dos 3Rs ( reduzir, reutilizar e reciclar ), a compostagem permite a reciclagem de
uma parcela dos resíduos sólidos particularmente problemática: a matéria orgânica. De fato, hoje
no Brasil se estima que mais da metade ( aproximadamente 60% em peso ) do lixo gerado pelos
domicílios urbanos é de natureza orgânica e compostáveis ( CEMPRE; 2000 ). A compostagem
pode ser praticada através de técnicas bastante simples, acessíveis para a população em geral e
abrir espaço para a participação popular e o tratamento “na origem” dos resíduos.
Paradoxalmente, esta atividade recebe ainda pouca consideração no meio técnico-acadêmico e
sobretudo, junto aos órgãos municipais de limpeza e empresas privadas e, sendo assim, os
projetos de compostagem ainda são excassos no país. De acordo com os dados levantados pelo
CEMPRE, somente 1,5% do lixo urbano orgânico e “compostáveis” gerado no Brasil era, no ano
1
1999, reciclado através da compostagem ( CEMPRE; 2000 ). Por outra parte, os programas que
procuram envolver a população na realização da compostagem são praticamente inexistentes.
A luz destas considerações, o presente guia prático tem por objetivo animar e facilitar as
iniciativas locais e participativas de compostagem. O seu enfoque se concentra nas atividades
de pequena escala, realizadas de forma artesanal e decentralizada, como em unidades de
compostagem caseiras, nos lugares de trabalho ou em espaços comunitários. Sugerimos que
este enfoque domiciliar e comunitário da compostagem mereça maior consideração e em muitos
casos seja priorizado, sempre que as condições existentes o permitam. De fato, como o
veremos, a compostagem de pequena escala apresenta várias vantajens, tanto práticas, quanto
econômicas e sociais.
Na consulta deste guia prático, o leitor vai encontrar explicações sobre os conceitos básicos da
compostagem, assim como as orientações praticas necessárias para iniciar e operar unidades
de compostagem em pequena escala e de baixo custo. Também são apresentados
direcionamentos para a construção da sua propria caixa de compostagem. Enfim, o guia prático
conclui com a apresentação de algumas dicas sobre as formas de uso possíveis para o
composto final. Esperamos que este documento seja util para os interessados como fonte de
consulta nas suas atividades de compostagem e possa facilitar a multiplicação de initiativas
locais de valorisação dos “resíduos-recursos” orgânicos.
1. ENTENDER A COMPOSTAGEM E OS SEUS MOTIVOS
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Figura 1.1: Ciclo continuo da matéria entre os resíduos orgânicos, o
composto e o solo
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As técnicas de compostagem são simples. Consistem em amontoar os resíduos orgânicos e
manter uma atenção contínua em alguns fatores “chaves” que exercem influência no processo, a
exemplo da aeração ( renovação do ar ) da massa de resíduos, a umidade e a temperatura. O
objetivo é manter sempre as condições ótimas para o desenvolvimento dos microrganismos!
A compostagem traz beneficios tão práticos quanto ambientais e econômicos. Veja os seguintes:
a) Você obtem seu próprio composto: fazer compostagem permite um abastecimento grátis de
fertilizante natural e condicionador de solo para melhorar a produtividade das hortas e
plantas. O composto produzido pode ser utilizado por você e sua família, ser doado a terceiros,
como seus vizinhos e amigos, ou a grupos que trabalhem com jardins e hortas comunitários, por
exemplo, ou até pode ser posto à venda se a sua qualidade for bem controlada e respeite as
regulamentações existentes.
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Quadro ( Box ) 1.2
Benefícios do composto para o solo
O composto é um fertilizante orgânico. Ele possui muitos nutrientes e
minerais ( provenientes da decomposição da matéria orgânica ) essenciais
para o desenvolvimento das plantas, particularmente macronutrientes
como o Nitrogênio ( N ), o Fósforo ( P ), o Potássio ( K ) e o Cálcio ( Ca ). As
características físicas do composto fazem com que os nutrientes sejam
liberados aos poucos, o que dá um efeito nutritivo prolongado bem
coordenado com a capacidade de absorção das raízes das plantas. Isto é
uma vantagem sobre os fertilizantes químicos ( agrotóxicos ) vendidos no
mercado com os quais se dá uma perda maior, já que as raízes não
conseguem absorver as grandes quantidades aplicadas de uma vez. Os
fertilizantes químicos em excesso escoam com as águas e são levados até
corpos de água, como lagoas e rios, onde provocam uma forte poluição (
DUPLESSI; 1996 ).
c) Você ajuda a preservar a natureza: usar composto como fertilizante natural reduz a
necessidade de aplicar fertilizantes químicos e sintéticos que, muitas vezes, acabam
contaminando o meio ambiente. Além disso, fazendo compostagem, você contribui para reduzir
os problemas ambientais associados com o lixo. Como ja vimos, os resíduos orgânicos
representam hoje, nas cidades brasileiras, uma proporção importante do lixo domestico ( mais do
que 60% ). Reaproveitar estes resíduos através da compostagem permite reduzir as quantidades
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de lixo encaminhadas para lixões e aterros e, a diminuir a poluição do solo, das águas e do ar,
freqüentes nestes lugares ( veja o quadro 1.3 ). A compostagem permite transformar esses
resíduos num recurso útil e ecologicamente valioso, evitando impactos ambientais negativos.
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Quadro ( Box ) 1.3
Impactos ambientais nos lixões e aterros
Pode ser um reflexo comum pensar que os resíduos orgânicos não causam
problemas maiores nos lixões e aterros, visto que eles se decompõem naturalmente
e que em pouco tempo desaparecerão. Infelizmente, na realidade não é assim. Pelo
contrário, os resíduos orgânicos são particularmente problemáticos e são
responsáveis por uma grande parte da contaminação das águas e do ar que
acontece nestes lugares. A biodecomposição das matérias orgânicas ocorre nos
lixões e aterros de uma forma muito lenta devido às condições anaeróbicas ( falta
de oxigênio ) e à alta compactação dos resíduos. Em tais condições, a degradação
dos resíduos orgânicos provoca a liberação de vários produtos com alto potencial
de contaminação. Uma parte dos resíduos orgânicos transforma-se em gás,
chamado de biogás ( principalmente metano e dióxido de carbono ) os quais são
emanados no ar. O preocupante é que este biogás possui um alto poder de poluição
da atmosfera, contribui ao chamado efeito estufa e pode tornar-se explosivo em
alguns casos. Os resíduos orgânicos contribuem também para a contaminação das
águas pelo chorume. O chorume, ou lixiviado, é um liquido escuro, ácido e mal
cheiroso produzido pela água que escorre através da massa de lixo. Esta água
recolhe os produtos contaminantes liberados pelos resíduos orgânicos e pode
chegar aos rios, lagoas e águas subterrâneas, contaminando-os (DUPLESSIE, 2002).
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facilmente através de projetos descentralizados e participativos do que em projetos centralizados
operando em locais afastados da população.
Considerando estas vantagens que possui a compostagem domiciliar e comunitária com relação
à compostagem centralizada, propomos, através deste guia prático, que a elaboração de
estratégias para a implantação e multiplicação de unidades de compostagem participativas e de
pequenas dimensões, sem abrir mão da qualidade do processo e do composto final, pode ser,
em muitos casos, uma opção mais equilibrada e sustentavel tanto ecologicamente como social e
economicamente.
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2.1 O grande trabalho dos “microbichinhos”
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controlar melhor o processo. Um bom indicador para verificar a evolução do processo é a
temperatura. Com efeito, a temperatura dentro das pilhas de compostagem experimenta
variações importantes ao largo do processo. A que se deve isto? A temperatura depende
diretamente da atividade dos microrganismos. Quanto maior a colônia de microrganismos e mais
intensa a sua atividade, maior é a temperatura! Assim, medir a temperatura das pilhas de
compostagem permite reconhecer que tipos de microrganismos estão atuando, qual a
intensidade do seu trabalho, e em que etapa se encontra o processo. Para fazê-lo, basta usar
um termômetro comum amarrado a um pedaço de madeira que deve ser posto dentro da massa
de compostagem por 3 a 5 minutos.
Utilizando a temperatura como refêrencia, três principais etapas podem ser observadas na
evolução da compostagem ( DICKSON e KOZLOWSKI; 1991 ): 1 ) a fase de aquecimento; 2 ) a
fase de biodegradação ativa; 3 ) a fase de maturação.
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composto. Contudo, é importante não deixar o calor subir além de 65C, pois temperaturas
maiores podem matar muitos microrganismos inofensivos e ainda úteis no processo
( DUPLESSIE; 1996). A temperatura deve então ser mantida entre 45C e 65C durante toda
esta fase, a qual pode durar vários meses ( em média de 2 a 3 meses ). Algumas dicas para o
controle da temperatura serão dadas no tópico 3.2.5.
1
Figura 2.1: Gráfico ilustrando a evolução do processo de compostagem através das três
fases, de acordo com as temperaturas registradas
3. ASPECTOS OPERACIONAIS
Nesta parte do guia, você vai encontrar as informações básicas necessárias para operar uma
unidade de compostagem e controlar o processo de biodegradação dos resíduos
orgânicos, de acordo com o metodo proposto para as atividades de pequena escala.
1
Trabalhar com caixas de compostagem apresenta grandes vantajens. Elas dão um aspeto mais
ordenado ao processo, facilitam a mantenção de temperaturas maiores na pilha de
compostagem, ajudam a conter cheiros, e protegem o material do vento, das intemperies e dos
animais domésticos ( TYNES (1); 2003 ). Assim, este metodo é ideal para a compostagem de
pequena escala realisada a proximidade dos domicilios.
3.2 Os fatores “chaves” que afetam o processo e que você deve controlar
Tentemos agora entender melhor cada um destes fatores “chaves” e respectivas regras:
3.2.1 A aeração
Os resíduos orgânicos amontoados para compostar devem ser aerados. Aerar significa ventilar,
ou seja, facilitar a circulação de ar dentro da massa de compostagem para que os
microrganismos decompositores sejam expostos ao oxigênio, um dos principais componentes do
ar. Os microrganismos precisam deste oxigênio para respirar e intensificar o seu trabalho. Sem
uma boa aeração, o processo de compostagem é demorado e acontece a formação de gases
mal cheirosos ( cheiro de enxofre, parecido com ovo podre ) ( RYNK; 1992 ). Daí a primeira regra
para o sucesso da compostagem: assegurar uma aeração freqüente da massa de compostagem.
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A forma mais eficaz e simples de fazer a aeração é de revirar a pilha de compostagem. Isto
significa remexer o material, revolvendo-o com uma pá, forquilha, ou um pau ( cabo de vassoura,
p. ex. ). Ao trabalhar com caixas de compostagem, o reviramento se faz efetuando movimentos
circulares.
Uma ficha pode ser preparada e posta à vista no local de compostagem para ajudar no controle
da freqüência de reviramento. A tabela 3.1 propõe um exemplo de tal ficha.
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DIAS DE REVIRAMENTO DA COMPOSTAGEM
O reviramento deverá ser efetuado nos dias indicados com “X”.
Semana Domingo 2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira Sábado
de:
01 a 07 X X X
08 a 14 X X
15 a 21 X X
22 a 28 X X X
29 a 04 X X
Continuar o ciclo de reviramento até o final da fase de biodegradação ativa ( indicada por uma
queda da temperatura abaixo de 45C ). Nenhum reviramento será preciso na fase de
maturação.
Para ter êxito nas suas atividades de compostagem, você deve saber diferenciar duas categorias
de materias orgânicas, divididas de acordo com o seu teor em carbono e em nitrogênio. As
matérias ricas em carbono, também chamadas matérias secas, são aquelas mais rígidas como
as folhas secas, os bagaços e capins secos. As matérias ricas em nitrogênio, ou matérias
úmidas, são aquelas matérias orgânicas mais frescas e moles que se decompõem rápido como,
por exemplo, os restos de comida, as frutas e os legumes, o capim verde e os restos de plantas
frescas ( DUPLESSIE; 2002 ). A tabela 3.2 apresenta uma lista mais detalhada dos tipos de
resíduos para cada categoria.
1
O equilíbrio ótimo entre matérias ricas em carbono e matérias ricas em nitrogênio se expressa
muitas vezes assim: Carbono / Nitrogênio ( C/N ) = 30 / 1. Na prática, essa proporção pode
facilmente ser mantida se para cada parte de matérias úmidas se agrega de uma a duas partes
de matérias secas ( CULLEN e JONHSON;1992 ). Daí a segunda regra para o “mestre
compostador”: procurar sempre manter um bom equilíbrio entre matérias secas e úmidas.
1
Matérias orgânicas boas para compostagem
3.2.3 A umidade
A presença de água é essencial à sobrevivência dos nossos microrganismos. Uma falta de
umidade atrasa a sua atividade e pode até parar o processo de biodegradação da matéria
1
( RCO; 2001 ). Por outro lado, umidade demais também pode atrapalhar o processo. Água em
excesso dificulta a circulação do ar na massa de compostagem, criando-se assim condições
anaeróbicas ( carência de oxigênio ). A falta de oxigênio, como já vimos, atrasa a o processo de
biodecomposição e provoca a formação de gases mal cheirosos. Isto explica a terceira regra da
compostagem: manter nas pilhas de compostagem um grau de umidade constante e próximo a
55%.
Para manter uma umidade ótima na sua pilha de compostagem, você precisa ir agregando
pequenas quantidades de água com freqüencia, como aos tres dias, por exemplo, junto com o
reviramento da pilha. Uma verificação da umidade deve se fazer pelo menos uma vez por
semana. Para fazê-lo, basta pegar uma pequena porção do material na mão, protegida por luva
ou simplesmente uma sacola de plástico, e apertá-la. Um material que contém uma umidade
adequada ficara feito uma bolinha. Se a bolinha esmigalhar-se, quer dizer que é seco demais. Se
a água pinga entre os dedos, a pilha é úmido demais ( DUPLESSIE; 2002 ). É importante,
porém, pegar uma amostra que seja representativa da umidade de todas as partes da massa,
preferencialmente no centro da pilha.
Em caso de a massa de compostagem estiver seca demais, basta agregar um pouco de água
para reéquilibrar. Cuidado para não regar excessivamente! O material não deve ficar ensopado.
Mexer a massa enquanto ou logo após colocar água é importante para que a umidade seja bem
distribuída. Caso a água usada para regar venha diretamente da torneira, é melhor deixá-la
descansar durante 24 horas para permitir a volatilização da carga de desinfetantes que contém
as águas das redes de abastecimento urbano ( habitualmente compostos de cloro ). Estes
poderiam reduzir a atividade dos microrganismos se for incorporada diretamente à pilha de
compostagem ( DUPLESSIE; 2002 ). Águas de cozimento podem prestar, sempre que não levar
carne ou gordura, pois os nutrientes e vitaminas que contêm enriquecerão o composto final. Em
alguns casos, a falta de umidade deve-se a um desequilíbrio entre as matérias secas e úmidas
que se juntam nas pilhas de compostagem. Nestes casos, a relação entre estes dois tipos de
matérias deve ser equilibrada.
E se a massa de compostagem estiver úmida demais? Neste caso, a pilha deve ser mexida para
facilitar a evaporação e mais material seco, como folhas secas por exemplo, deve ser agregado
até estabelecer de novo o equilíbrio adequado. Assim, reduzir a umidade requer bem mais
trabalho do que aumentá-la e, por isso, melhor é prevenir que esta situação ocorra evitanto de
regar excessivamente, protegendo sempre as pilhas da chuva e assegurando-se que cada
quantidade de matérias úmidas ( ricas em nitrogênio ) seja compensada por uma quantidade
suficiente de matérias secas ( ricas em carbono ).
1
3.2.4 O tamanho das materias
Para facilitar o trabalho dos microrganismos e acelerar o processo de biodecomposição, é
melhor reduzir os resíduos orgânicos a pequenos pedaços antes de coloca-los na pilha de
compostagem. Isto aumenta a superfície disponível aos microrganismos para atacar estes
resíduos ( McDOWELL e CLARK; 1998 ). É mais uma regra: reduzir o tamanho das matérias.
O tamanho ideal das matérias é de 3 a 5 cm. Uma redução excessiva ( tamanhos menores do
que 3 cm ) pode atrapalhar o processo, já que facilitaria a compactação da massa de
compostagem e, assim, dificultaria a circulação de ar dentro da pilha ( McDOWELL, C.F. e
CLARK, T.; 1998 ). As condições anaeróbicas então criadas demorariam o processo, além de
provocar a emanação de cheiros desagradáveis.
3.2.5 A temperatura
Como ja vimos no punto 2.2, a temperatura dentro da pilha experimenta importantes variações
ao longo do processo de compostagem e pode ser medida, com um termômetro comum, para
verificar a evolução do mesmo. A temperatura indica a intensidade da atividade dos
microrganismos e, consequentemente, do processo ( MINNICH e HUNT; 1979 ).
Temperaturas altas são desejáveis dentro da pilha. Elas indicam que o processo está bem
iniciado e que a tranformação da matéria orgânica em composto se faz com maior intensidade.
Temperaturas altas também permitem a eliminação de elementos patogênicos que poderiam ser
encontrados na massa de compostagem, a destruição de sementes que iriam brotar no
composto final, e evitar a aglomeração de insetos indesejáveis. Assim, uma quinta regra para o
bom desenvolvimento do processo é a seguinte: temperaturas altas dentro da massa de
compostagem devem ser mantidas.
Para as pilhas com um volume de um metro cúbico ou mais, as temperaturas ótimas a serem
atingidas e mantidas se encontram na faixa de 45C a 65C. Como foi mencionado no ponto
2.2, estas temperaturas correspondem a fase de biodegradação ativa e devem ser mantidas
1
durante a maior parte do processo, até a massa entrar na fase de maturação. Quanto às pilhas
menores, a sua temperatura tende a se manter na faixa de 30C a 45C. ( DICKSON e
KOZLOWSKI; 1991 ). As temperaturas ótimas serão atingidas naturalmente nos processos
adequadamente controlados.
Você observa que a temperatura na sua pilha se mantem abaixo destes valores ótimos? É
porque algum erro está acontecendo no processo, o qual torna mais lenta a atividade dos
microrganismos decompositores. Seguramente, um ou mais dos fatores “chaves” que afetam o
processo de biodegradação ( areação, umidade, tipos e tamanho das materias juntadas ) está
desequilibrado. Identifique a fonte do problema e aplique as medidas necessarias para reajustar
o processo.
Temperaturas excessivas, além dos 65C, são indesejáveis e devem ser evitadas. Estas
poderiam ressultar na eliminação de microrganismos úteis no processo ( MINNICH e HUNT;
1979 ). Caso você observar temperaturas além de 65C na sua pilha de compostagem, uma
forma simples de reduzi-la é mexer ( revirar ) a pilha. Ventilando assim a pilha, você provoca
uma rápida queda da temperatura.
A temperatura no centro da pilha de compostagem deve ser medida com frequencia, idealmente
a diarios ( McDOWELL e CLARK; 1998 ). Esta é uma operação de grande importancia pois é a
melhor forma em que você possa monitorear o processo de compostagem, verificar se o
conjunto de fatores “chaves” que afetam o processo estão bem controlados e, em fim, intervir
rapidamente em caso de qualquer desequilibrio.
3.2.6 O índice pH
Em termos químicos, toda matéria pode ser neutra, ácida ou alcalina. As laranjas, limões e o
outros cítricos são, por exemplo, frutas ácidas, enquanto o leite e bicarbonato do sodio são
matérias alcalinas. O parâmetro mais utilizado para medir a acidez e a alcalinidade é o chamado
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índice pH. A medida deste parâmetro é expressa numa escala de “0” a “14”, na qual “7” é o
ponto neutro ( a matéria não é nem ácida nem alcalina ), os graus abaixo de “7” indicam acidez,
e os acima de “7” sinalizam alcalinidade ( DUPLESSIE; 2002 ).
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Na compostagem, a medição do índice pH pode ser útil para verificar a evolução do processo.
As variações experimentadas por este parâmetro indicam em que fase ( aquecimento,
biodegradação ativa ou maturação ) se encontra o processo. O índice pH pode ser medido mas
não precisa ser controlado, pois são os próprios microrganismos que tomam conta da sua
regulação ( McDOWELL, C.F. e CLARK, T.; 1998 ). Neste sentido, é um parâmetro “auto-
regulado” e a sua medição é opcional. Esta se faz em laboratórios ou com aparelhos portáteis e
soluções indicadoras encontrados nas lojas especializadas em equipamentos para análises.
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Figura 3.2: A evolução do pH desde o inicio do processo até obter o composto final.
Fase 1 ( azul ): aquecimento; fase 2 ( vermelho ): biodegradação ativa; fase 3 ( verde ):
maturação
É difícil prever com certeza o tempo que vai ser preciso para obter o composto final. Este tempo
depende muito da composição das matérias que se "compostam" e, sobre tudo, da atenção
prestada durante todo o processo. Realizando um controle adequado dos fatores “chaves” ja
descritos ( a areação, a umidade, o equilibrio entre materias secas e úmidas, o tamanho das
matérias, a temperatura e o tamanho da pilha ), você permite que o processo seja bastante
acelerado ( TINOCO PEREIRA; 1996 ).
A tabela 3.3 indica o tempo normalmente necessario para a realização de cada uma das
principais fases ( aquecimento, biodegradação ativa e maturação ) do processo de
compostagem.
3.4 Peneiramento:
A peneiramento consiste em passar o composto já quase pronto através de uma malha fina
para limpar e soltá-lo. Esta operação permite remover as matérias ainda não totalmente
degradadas ( sementes grossas e pedaços de madeira e ramos, por exemplo, os quais demoram
mais em se decompor ) como também os elementos inertes ( pedaços de plásticos, vidros e
metais ) que poderiam ser colocados por descuido na pilha de compostagem. Por tanto, é uma
operação importante para assegurar a qualidade do composto final. O material orgânico grosso
detido pela peneira deve ser retornado para um nova pilha de compostagem onde completa a
2
sua degradação. A peneira pode ser fabricada com peças de madeira e uma malha de 1 por 1
centímetro ( RCO; 2001 ).
1ª fase: Aquecimento Uma vez que a massa atinge um volume adequado, entre 12 horas e
dois dias.
Usar um composto não totalmente estabilizado e maturado pode causar danos para a plantação
( DUPLESSIE; 2002 ). Por isso, é importante saber reconhecer quando o composto está
maturado e pronto para ser usado. Lembre que o composto maturado: possui uma cor marrom
escuro; emana um cheiro agradável de terra; não contem material orgânico que ainda seja
reconhecível; e tem uma temperatura ( no centro da pilha ) igual à do ambiente.
Uma forma fácil de tirar qualquer dúvida é a prova da sacola de plástico. Consiste em colocar
aproximadamente 1 quilo de composto numa sacolinha transparente, fechar e deixá-la num lugar
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com sombra e a temperatura ambiente. Se após 24 horas a sacolinha tem transpirado muito e
gotinhas d’água têm-se formado contra o plástico é porque continua o trabalho dos
microrganismos. O composto ainda não se encontra completamente maturado e deve seguir
processando antes de ser usado.
Enquanto não for controlada, a degradação da matéria orgânica pode provocar serios impactos
adversos como a emanação de maus cheiros, a aglomeração de animais e insetos indesejáveis,
e a produção de chorume ( lixiviados ), que são líquidos altamente poluentes. No processo de
compostagem, no entanto, o controle efetuado permite que estes impactos negativos sejam
evitados. O surgimento de algum destes problemas é, por tanto, um indício de que erros são
cometidos na operação da compostagem ( McDOWELL e CLARK; 1998 ). Medidas simples
permitem evitar esses problemas ou corrigi-los rapidamente quando surgirem. Essas medidas
devem se aplicar com muita disciplina, pois descuidar desses problemas poderia resultar em
riscos ambientais e sanitários, além de provocar uma certa indisposição junto à vizinhança. As
principais medidas para prevenir os problemas de cheiros, bichos e líquidos lixiviados se
apresentam a seguir. Consulte a tabela apresentada no Anexo 1 para mais informações sobre as
dificuldades possíveis e as medidas de correção correspondentes.
2
Evite compostar as matérias desaconselhadas como carnes, laticinios, gorduras,
estercos e excrementos;
Assegure-se que a sua caixa de compostagem disponha de uma tampa, e que esta seja
bem hermética;
Mantenha uma boa mistura de material úmido e material seco. Um excesso de material
úmido resultará na emanação de gases nitrogenados mal cheirosos ( p.ex. : amoníaco ).
Cobra sempre os novos depositos de materiais úmidos com material seco ou até com
terra;
Caso a sua pilha de compostagem não alcançe altas temperaturas ( além de 45C ), seja
porque não atinge um tamanho suficiente ou para qualquer outro motivo, é importante que você
considere o seguinte:
2
As temperaturas baixas não garantem a destrução das sementes, as quais podem
sobreviver ao processo e brotar no composto final. Assim, evite colocar sementes de
frutas, verduras e plantas caso o seu processo de compostagem tiver dificuldade em
atinjir e manter temperaturas além dos 45C ( McDOWELL e CLARK; 1998 );
A caixa de compostagem deve ser localizada num solo nivelado e bem drenado ( solto e
capaz de absorver os líquidos que poderiam escorrer através da massa de
compostagem );
O solo deve ser picado e soltado antes de amontoar os resíduos orgânicos para facilitar
a areação da base das pilhas. Uma alternativa é cobrir o solo com uma delgada camada
de pedras pequenas soltas antes de colocar os resíduos;
2
A caixa de compostagem deve ser localizada a uma distância de, no mínimo, cinco
metros das hortas, jardins, sementeiras ou outros lugares similares para evitar que estes
sejam afetados caso alguma praga for atraida pela pilha de compostagem, como lesmas
por exemplo;
A sua caixa de compostagem deve possuir uma tampa. Esta é importante para proteger
a massa de compostagem da chuva e, assim, evitar excessos de umidade.
Figura 5.1: A retirada do composto pela base com uma caixa de compostagem simples
elaborada com tábuas de madeira
2
É importante observar que, com este tipo de caixas, as novas quantidades de resíduos
orgânicos depositadas diariamente são juntadas com matérias que já levam algum tempo dentro
da caixa e que, por tanto, se encontram num estado mais ou menos avançado no processo de
compostagem. A evolução da pilha se faz então de forma heterogênea, com matérias num
estado de biodegradação maior na base da pilha, e resíduos ainda frescos nas camadas
superiores. Assim, o composto aparece primeiro nas camadas inferiores e por isso deve ser
retirado pela base da pilha, sem ser misturado com os materiais “novos” das camadas
superiores. Daí a importância de ter um lado fácil de abrir ou desmontar para permitir a retirada
pela base da pilha. A figura 5.1 ilustra esta operação.
O momento ideal para retirar o material da base da pilha é assim que o mesmo entre na fase de
maturação, ou seja, como vimos no tópico 2.2, a partir do momento em que o material possui
uma cor e uma aparência de terra escura, sem que possam ser reconhecidas as matérias
orgânicas que o compõem, e uma temperatura baixo os 45C. Após retirado da caixa, o material
deve ser peneirado e colocado para maturação numa pilha a parte, fora da caixa de
compostagem ( DUPLESSIE; 2002 ).
Um modelo simples é de três unidades, como ilustrado pela figura 5.3, em que a matéria
orgânica se amontoa num primeiro compartimento até que este fique cheio. Uma segunda pilha
pode então ser iniciada num segundo compartimento enquanto o material do primeiro
compartimento vai-se “compostando”. Realiza-se assim uma rotação contínua entre os
2
compartimentos. O terceiro compartimento pode prestar para guardar o material seco ( p. ex.:
folhas secas ) utilizado para cobrir cada novo depósito de material úmido. O número adequado
de compartimentos depende das quantidades de matérias orgânicas para compostar. O controle
adequado dos fatores “chaves” que afetam o processo, como foi descrito no tópico 3.2, deve ser
efetuado em todos os compartimentos.
Sendo a madeira uma forma de matéria orgânica, as tábuas usadas para as paredes da caixa de
compostagem terminarão por se decompor com o tempo e tendrão que ser substituidas. Madeira
pintada, pressada ou quimicamente tradada não deve ser utilisada, pois pode conter niveis
tóxicos de metais pesados que poderiam ser liberados no composto ( TYNES; 2003 ). De igual
forma, se for utilisar algum material de plástico para elaborar a sua caixa, assegure-se que este
material não represente nenhum perigo para a qualidade e seguridade do composto final.
2
6. COMO USAR O COMPOSTO
Ajuda a manter estável a temperatura dentro do solo, sem grandes variações entre o dia
e a noite, o que é favorável para o desenvolvimento das plantas;
Solta os solos compactados, facilitando assim o crescimento das raízes;
Oferece uma proteção contra a erosão e a degradação dos solos;
Reduz a incidência de doenças nas plantas e plantios retornando para o solo os
antibióticos naturais contidos nas frutas, hortaliças e outros resíduos orgânicos;
Protege as sementes, mudas e plantas contra os elementos patogênicos como os
esporos e alguns fungos;
Melhora a estabilidade química ( pH ) do solo.
Um composto maturado presta para quase todas as plantas e pode ser utilizado sem correr risco
tantos nas hortas e sementeiras como no plantio de mudas e arbustos, em torno de árvores
adultas ou para fortalecer o gramado. É excelente também para a preparação de terra para
plantas ornamentais e de interior. O composto age quase imediatamente uma vez no solo e o
efeito fertilizante será ao máximo a partir de três semanas logo da aplicação ( DUPLESSIE; 2002
). Assim, os resultados positivos poderão ser percebidos já na primeira experiência! A seguir,
apresentamos algumas dicas com respeito à aplicação do composto ( DUPLESSIE; 2002,
MINNICH e HUNT; 1979):
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A aplicação freqüente de pequenas doses é preferível à aplicação de grandes
quantidades de uma vez. Fazendo assim, se minimizam as perdas de nutrientes que
poderiam acontecer por causa do escoamento das águas de chuva;
Uma forma de utilizar o composto é de espalhá-lo pela superfície do solo e misturar logo
com a camada superficial do solo ( até 10 cm de profundo ) com um ciscador ou outra
ferramenta disponível. Para as hortas e sementeiras, espalhar de 3 a 4 cm de
composto na primeira aplicação. Depois de cada colheita ou no mínimo uma vez por
ano, espalhar de 1 a 2 cm de composto, incorporando-o à camada superficial da terra;
Uma terra ótima para as sementes e mudas pode ser preparado com uma terceira parte
de composto e duas partes de terra. Para flores e vasos de plantas adultas, uma parte
de composto para três partes de terra é suficiente;
Para o transplante de mudas e árvores, encher o buraco com uma parte de composto
e duas partes de terra. Recomenda-se também utilizar composto para manter fertilizado
um círculo ao redor da planta de cinco vezes o diâmetro do tronco máximo que será
atingido por ela;
O composto pode ser usado para proteger as feridas de árvores que poderiam
provocar infecções e doenças, pois os microrganismos que ele possui podem eliminar
muitos elementos patogênicos. Cobrir a área da ferida com 2 cm de composto bem
úmido, usando uma atadura, permite reduzir os riscos de infecções enquanto a planta se
regenera;
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uniforme de ao máximo 1 cm. É preferível cortar o gramado bem raso antes de aplicar o
composto. Regar após aplicação, facilita a incorporação do composto no solo. Espere o
final da tarde ou à noite para regar, reduzindo assim as perdas de umidade por
evaporação;
Para obter um chá de composto, encher uma sacola de tecido com uma boa
quantidade de composto. Amarrar a sacola e coloca-la dentro de um balde cheio de
água durante uma noite toda. O chá resultante é rico em elementos nutritivos e pode ser
usado para regar as plantas.