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FAÇA O SEU PRÓPRIO COMPOSTO ORGÂNICO

Guia prático para atividades de compostagem no domicílio e na comunidade


ASPAN/ACTION RE-BUTS, 2003

INTRODUÇÃO

A gestão do lixo é hoje um dos principais desafios ambientais e sanitários enfrentados pela
sociedade moderna. O crescimento rápido das populações e a intensificação da produção e do
consumo, dois fenômenos que foram observados nas últimas décadas, tiveram como uma de
suas conseqüências a geração de quantidades cada vez maiores de lixo, junto com a
multiplicação dos custos econômicos requeridos para a sua disposição e tratamento. Estes
custos chegam a ser tão elevados que em muitos casos as autoridades responsáveis não
conseguem assegurar uma gestão adequada, segura e ecológica dos resíduos. Como resultado
inevitável, a má gestão do lixo provoca a contaminação do meio ambiente e a degradação das
condições sanitárias, tanto na cidade como no campo. Por outro lado, a situação ainda se vê
agravada por uma falta fragrante de sensibilisação e educação da população em relação com as
questões ambientais e os impactos adversos do lixo. Sendo assim, os próprios moradores, tendo
em vistas seus maus hábitos, alimentam a degradação da sua qualidade de vida ao invés de
procurar melhorá-la. Frente a esta situação dificil e pouco racional, impõe-se a necessidade de
encontrar novas formas de enfrentar o desafio do lixo, que sejam baseadas na educação e na
participação popular e, que reflitam um maior compromisso com a proteção do meio ambiente e
da qualidade de vida.

A compostagem, uma atividade cuja origem remonta a tempos antigos ( já se praticava na China
antiga, há mais de mil anos atrás ), aparece hoje como uma opção com grande potencial para
contribuir à resolução do problema do lixo. Encaixando-se com perfeição na filosofia
contemporanea dos 3Rs ( reduzir, reutilizar e reciclar ), a compostagem permite a reciclagem de
uma parcela dos resíduos sólidos particularmente problemática: a matéria orgânica. De fato, hoje
no Brasil se estima que mais da metade ( aproximadamente 60% em peso ) do lixo gerado pelos
domicílios urbanos é de natureza orgânica e compostáveis ( CEMPRE; 2000 ). A compostagem
pode ser praticada através de técnicas bastante simples, acessíveis para a população em geral e
abrir espaço para a participação popular e o tratamento “na origem” dos resíduos.
Paradoxalmente, esta atividade recebe ainda pouca consideração no meio técnico-acadêmico e
sobretudo, junto aos órgãos municipais de limpeza e empresas privadas e, sendo assim, os
projetos de compostagem ainda são excassos no país. De acordo com os dados levantados pelo
CEMPRE, somente 1,5% do lixo urbano orgânico e “compostáveis” gerado no Brasil era, no ano

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1999, reciclado através da compostagem ( CEMPRE; 2000 ). Por outra parte, os programas que
procuram envolver a população na realização da compostagem são praticamente inexistentes.

A luz destas considerações, o presente guia prático tem por objetivo animar e facilitar as
iniciativas locais e participativas de compostagem. O seu enfoque se concentra nas atividades
de pequena escala, realizadas de forma artesanal e decentralizada, como em unidades de
compostagem caseiras, nos lugares de trabalho ou em espaços comunitários. Sugerimos que
este enfoque domiciliar e comunitário da compostagem mereça maior consideração e em muitos
casos seja priorizado, sempre que as condições existentes o permitam. De fato, como o
veremos, a compostagem de pequena escala apresenta várias vantajens, tanto práticas, quanto
econômicas e sociais.

Na consulta deste guia prático, o leitor vai encontrar explicações sobre os conceitos básicos da
compostagem, assim como as orientações praticas necessárias para iniciar e operar unidades
de compostagem em pequena escala e de baixo custo. Também são apresentados
direcionamentos para a construção da sua propria caixa de compostagem. Enfim, o guia prático
conclui com a apresentação de algumas dicas sobre as formas de uso possíveis para o
composto final. Esperamos que este documento seja util para os interessados como fonte de
consulta nas suas atividades de compostagem e possa facilitar a multiplicação de initiativas
locais de valorisação dos “resíduos-recursos” orgânicos.
1. ENTENDER A COMPOSTAGEM E OS SEUS MOTIVOS

1.1 O que é a compostagem?

A compostagem é uma forma de reaproveitar o lixo orgânico, transformando-o num fertilizante


natural, chamado de composto. O lixo orgânico é constituído por aqueles resíduos putrescíveis
como restos de comida, cascas de frutas e hortaliças, restos de plantas, podas de jardins e de
quintais e folhas secas. O produto final da compostagem, o composto, resulta numa terra escura,
rica em minerais, nutrientes e em húmus que pode ser agregada ao solo para melhorar sua
produtividade e fortalecer as plantas. Assim, compostar é uma forma de reciclar o lixo orgânico,
transformando-o num importante recurso!

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Figura 1.1: Ciclo continuo da matéria entre os resíduos orgânicos, o
composto e o solo

A transformação dos resíduos orgânicos em composto de qualidade é possivel através do


controle do processo natural de biodegradação aeróbica da matéria orgânica. Isto significa que
os resíduos orgânicos são degradados por milhares de microrganismos aeróbios ( organismos
vivos microscópicos que precisam de oxigênio para sobreviver ) que naturalmente aparecem na
massa de resíduos orgânicos para se nutrir dela. Estes microrganismos transformam a materia
orgânica até deixá-la num estado mineral e estabilizado que é o composto. Exercer um controle
adequado do processo é preciso para acelerar a atividade dos microrganismos e para evitar as
inconveniências que poderiam resultar de uma decomposição incontrolada dos resíduos
orgânicos como, por exemplo, a emanação de maus cheiros e a aglomeração de insetos e
animais indesejáveis.

Quadro ( Box ) 1.1


O que exatamente se entende por resíduos orgânicos?
A matéria orgânica pode ser definida como todo composto de carbono
suscetível de biodegradação. É a matéria que constitui os seres vivos, como
os animais e as plantas. Por isso, todo produto animal ou vegetal é orgânico,
com grande teor de carbono e nitrogênio, e iniciará um processo de
degradação natural após o término do seu ciclo de vida. O mesmo acontece
aos objetos fabricados pelos humanos a partir de produtos animais ou
vegetais, como o papel e papelão ( feitos da celulose contida nas árvores ), os
tecidos naturais ( de algodão, de linho, etc. ) e os produtos alimentícios
transformados ( o macarrão e o pão, por exemplo ), que também são
orgânicos e começarão a se decompor, uma vez jogados fora. Este fenômeno
de degradação natural, relativamente rápido, permite diferenciar os resíduos
orgânicos dos resíduos inorgânicos como os metais, vidros e plásticos.

No entanto, para a compostagem em pequena escala ( domiciliar e


comunitária ), somente os resíduos orgânicos provenientes de produtos
vegetais deverão ser utilizados. Os resíduos de origem animal, como os
produtos lácteos ( leite, queijo, etc. ), os ovos, os excrementos e os corpos
mortos devem ser evitados, apesar de também constituir formas de matéria
orgânica. Mais detalhes sobre os tipos de resíduos orgânicos “compostáveis”
serão vistos através da leitura deste guia prático.

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As técnicas de compostagem são simples. Consistem em amontoar os resíduos orgânicos e
manter uma atenção contínua em alguns fatores “chaves” que exercem influência no processo, a
exemplo da aeração ( renovação do ar ) da massa de resíduos, a umidade e a temperatura. O
objetivo é manter sempre as condições ótimas para o desenvolvimento dos microrganismos!

1.2 Por que fazer compostagem?

A compostagem traz beneficios tão práticos quanto ambientais e econômicos. Veja os seguintes:

a) Você obtem seu próprio composto: fazer compostagem permite um abastecimento grátis de
fertilizante natural e condicionador de solo para melhorar a produtividade das hortas e
plantas. O composto produzido pode ser utilizado por você e sua família, ser doado a terceiros,
como seus vizinhos e amigos, ou a grupos que trabalhem com jardins e hortas comunitários, por
exemplo, ou até pode ser posto à venda se a sua qualidade for bem controlada e respeite as
regulamentações existentes.

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Quadro ( Box ) 1.2
Benefícios do composto para o solo
O composto é um fertilizante orgânico. Ele possui muitos nutrientes e
minerais ( provenientes da decomposição da matéria orgânica ) essenciais
para o desenvolvimento das plantas, particularmente macronutrientes
como o Nitrogênio ( N ), o Fósforo ( P ), o Potássio ( K ) e o Cálcio ( Ca ). As
características físicas do composto fazem com que os nutrientes sejam
liberados aos poucos, o que dá um efeito nutritivo prolongado bem
coordenado com a capacidade de absorção das raízes das plantas. Isto é
uma vantagem sobre os fertilizantes químicos ( agrotóxicos ) vendidos no
mercado com os quais se dá uma perda maior, já que as raízes não
conseguem absorver as grandes quantidades aplicadas de uma vez. Os
fertilizantes químicos em excesso escoam com as águas e são levados até
corpos de água, como lagoas e rios, onde provocam uma forte poluição (
DUPLESSI; 1996 ).

O composto também tem propriedades de condicionador do solo. Aplicar


composto em solos pobres ajuda a regularizar a estrutura da terra e
otimizar a sua produtividade. A aplicação de composto melhora a
capacidade de retenção da umidade e dos nutrientes nos solos arenosos,
por exemplo, e facilita a aeração e drenagem em solos argilosos e
compactados, criando assim condições ótimas para o crescimento das
raízes ( MINNICH e HUNT; 1979 ). O resultado final é um melhor
desenvolvimento das frutas, hortaliças e plantas.
b) Você reduz os custos associados ao manejo do lixo urbano: a compostagem permite reduzir
os custos assumidos pelas prefeituras para os serviços de coleta e de disposição final do lixo.
Hoje no Brasil se estima que cada tonelada de lixo coletada e transportada até aterros e lixões
varia entre R$ 20.00 e R$ 70.00 ( EMLURB; 1998 ). Os custos associados à compostagem são
muitos menores, podendo contribuir para a diminuição das despesas municipais com a gestão
do lixo (TINOCO PEREIRA; 1996 ). Assim, a redução dos recursos financeiros absorvidos pela
atual gestão do lixo pode significar a liberação de mais recursos para outras necessidades dos
municípios.

c) Você ajuda a preservar a natureza: usar composto como fertilizante natural reduz a
necessidade de aplicar fertilizantes químicos e sintéticos que, muitas vezes, acabam
contaminando o meio ambiente. Além disso, fazendo compostagem, você contribui para reduzir
os problemas ambientais associados com o lixo. Como ja vimos, os resíduos orgânicos
representam hoje, nas cidades brasileiras, uma proporção importante do lixo domestico ( mais do
que 60% ). Reaproveitar estes resíduos através da compostagem permite reduzir as quantidades

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de lixo encaminhadas para lixões e aterros e, a diminuir a poluição do solo, das águas e do ar,
freqüentes nestes lugares ( veja o quadro 1.3 ). A compostagem permite transformar esses
resíduos num recurso útil e ecologicamente valioso, evitando impactos ambientais negativos.

1.3 Por que um enfoque domiciliar e comunitário para a compostagem?

As atividades de compostagem podem ser desenvolvidas em distintas escalas. Nas escalas


menores, a compostagem acontece de forma artesanal e descentralizada, como na sua casa, no
seu trabalho, no seu condomínio, ou, ainda, no seu bairro. A compostagem de grande escala
acontece de forma centralizada, operada, por exemplo, no âmbito dos municípios, e conta com
tecnologias mais sofisticadas para poder tratar quantidades maiores de resíduos orgânicos.
Cada escala apresenta vantagens próprias e a escolha da

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Quadro ( Box ) 1.3
Impactos ambientais nos lixões e aterros
Pode ser um reflexo comum pensar que os resíduos orgânicos não causam
problemas maiores nos lixões e aterros, visto que eles se decompõem naturalmente
e que em pouco tempo desaparecerão. Infelizmente, na realidade não é assim. Pelo
contrário, os resíduos orgânicos são particularmente problemáticos e são
responsáveis por uma grande parte da contaminação das águas e do ar que
acontece nestes lugares. A biodecomposição das matérias orgânicas ocorre nos
lixões e aterros de uma forma muito lenta devido às condições anaeróbicas ( falta
de oxigênio ) e à alta compactação dos resíduos. Em tais condições, a degradação
dos resíduos orgânicos provoca a liberação de vários produtos com alto potencial
de contaminação. Uma parte dos resíduos orgânicos transforma-se em gás,
chamado de biogás ( principalmente metano e dióxido de carbono ) os quais são
emanados no ar. O preocupante é que este biogás possui um alto poder de poluição
da atmosfera, contribui ao chamado efeito estufa e pode tornar-se explosivo em
alguns casos. Os resíduos orgânicos contribuem também para a contaminação das
águas pelo chorume. O chorume, ou lixiviado, é um liquido escuro, ácido e mal
cheiroso produzido pela água que escorre através da massa de lixo. Esta água
recolhe os produtos contaminantes liberados pelos resíduos orgânicos e pode
chegar aos rios, lagoas e águas subterrâneas, contaminando-os (DUPLESSIE, 2002).

mais adequada deve considerar as condições específicas de cada situação. No entanto, o


enfoque deste guia pratico se centra nas atividades descentralizadas e de pequena escala, pois
este tipo de compostagem apresenta várias vantagens de ordem econômica, social e prática,
das quais destacamos as seguintes:

a) A compostagem em pequena escala é menos onerosa: as unidades pequenas podem ser


operadas manualmente, sem necessidade de tecnologia mecanizada e de altos custos, e com
despesas de operação muitos menores. A descentralização das unidades permite que o
tratamento dos resíduos se faça na vizinhança dos locais em que os mesmos são gerados,
evitando assim deslocamentos inúteis e onerosos dos mesmos.

b) A compostagem em pequena escala tem maior potencial educativo e participativo: as


iniciativas de compostagem deveriam servir para sensibilizar o povo sobre os problemas
econômicos, sociais e ambientais associados ao lixo e oferecer a cada um a oportunidade de
participar ativamente no melhoramento do seu entorno. Estes objetivos serão alcançados mais

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facilmente através de projetos descentralizados e participativos do que em projetos centralizados
operando em locais afastados da população.

c) A compostagem em pequena escala favorece uma maior autonomia e durabilidade dos


projetos: varias experiências no país de projetos centralizados de compostagem não tiveram,
infelizmente, sucesso nem continuação logo de mudanças nas conjunturas políticas e nas
prioridades das autoridades. De fato, os projetos centralizados aparecem, muitas vezes, difíceis
de sustentar na medida em que não chegam a ser apropriados e defendidos pela própria
população, alias, nem discutidos. Acreditamos que os projetos descentralizados, e que devem
ser apoiados pelo Poder Público, abrem mais espaço para a participação popular, e que isto
favorece a adoção dos projetos pelas comunidades e assegura uma maior autonomia e
durabilidade dos mesmos.

Considerando estas vantagens que possui a compostagem domiciliar e comunitária com relação
à compostagem centralizada, propomos, através deste guia prático, que a elaboração de
estratégias para a implantação e multiplicação de unidades de compostagem participativas e de
pequenas dimensões, sem abrir mão da qualidade do processo e do composto final, pode ser,
em muitos casos, uma opção mais equilibrada e sustentavel tanto ecologicamente como social e
economicamente.

2. A COMPOSTAGEM: UM PROCESSO DE BIODEGRADAÇÃO

Milhões de microrganismos vivos e invisiveis serão os seus principais parceiros na realização da


compostagem! Nesta segunda parte do guia apresentamos informações básicas sobre o papel
destes microrganismos, assim como sobre as formas de verificar a evolução do processo de
compostagem e de reconhecer as suas principais etapas.

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2.1 O grande trabalho dos “microbichinhos”

A compostagem consiste num tratamento biológico da matéria orgânica. Quer dizer, a


transformação dos resíduos orgânicos ( sobras de comida, de podas, folhas secas, etc. ) em
composto é realizada pela atividade de milhões de microrganismos vivos decompositores que
aparecem naturalmente para colonizar as pilhas de matéria orgânica e se nutrir dela. Estes
microrganismos são bactérias, fungos e actinomicetes tão pequenos que somente podem ser
vistos com microscópios. Não se assuste, eles são inofensivos! Eles absorvem, digerem e
transformam a matéria orgânica à sua disposição até que a mesma fique totalmente
mineralizada ( MINNICH e HUNT; 1979 ). Neste processo, os nutrientes e minerais contidos na
matéria orgânica são liberados e ficam disponíveis para alimentar as raízes das plantas. Isto
explica a propriedade de fertilizante do composto. Outros organismos maiores e visíveis também
participam deste processo de degradação da materia orgânica, como as minhocas e os
centopéias. Porque é realisado pelo trabalho de organismos vivos, este processo é chamado de
biodegradação.

Quadro ( Box ) 2.1.1


Os microrganismos respiram?
Pois é, os “microbichinhos” uteis no processo de compostagem
precisam do oxigênio contido no ar para trabalhar. Eles são aeróbios.
Existe também outra categoria de microrganismos, os anaeróbios,
que são ativos em ausencia de oxigênio. Na compostagem, porém, os
anaeróbios não são desejáveis pois eles atrasam o processo e
provocam a emanação de gases mau cheirosos.

2.2 A evolução do processo de biodegradação

A compostagem é um processo “progressivo”, no sentido de que os resíduos orgânicos juntados


para compostar passarão por uma seqüência de etapas, ou fases, necessárias para a sua
transformação em composto. Saber reconhecer essas etapas é importante para entender e

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controlar melhor o processo. Um bom indicador para verificar a evolução do processo é a
temperatura. Com efeito, a temperatura dentro das pilhas de compostagem experimenta
variações importantes ao largo do processo. A que se deve isto? A temperatura depende
diretamente da atividade dos microrganismos. Quanto maior a colônia de microrganismos e mais
intensa a sua atividade, maior é a temperatura! Assim, medir a temperatura das pilhas de
compostagem permite reconhecer que tipos de microrganismos estão atuando, qual a
intensidade do seu trabalho, e em que etapa se encontra o processo. Para fazê-lo, basta usar
um termômetro comum amarrado a um pedaço de madeira que deve ser posto dentro da massa
de compostagem por 3 a 5 minutos.

Utilizando a temperatura como refêrencia, três principais etapas podem ser observadas na
evolução da compostagem ( DICKSON e KOZLOWSKI; 1991 ): 1 ) a fase de aquecimento; 2 ) a
fase de biodegradação ativa; 3 ) a fase de maturação.

2.2.1 Fase de aquecimento: A partir do inicio até a temperatura atingir 45C


No inicio, quando você começa a formar a sua pilha de compostagem amontoando os resíduos
orgânicos, a atividade de biodegradação é lenta e a temperatura é baixa. Aos poucos, mais
microrganismos vêm colonizando a pilha e isto provoca uma subida progressiva da temperatura
até alcançar 45C ( 45 graus Celsius ). Esta primeira etapa é conhecida como fase de
aquecimento. O tempo preciso para a pilha completar esta fase vai depender dos tipos de
resíduos orgânicos juntados e, sobre tudo, do tamanho da pilha. As pilhas de volumes
insufisientes podem ter dificuldade em ver a sua temperatura subir. O tamanho ótimo para atingir
e manter temperaturas altas é uma pilha de pelo menos 1m x 1m x 1m ( 1m 3 – um metro
cúbico ). A partir do momento em que uma pilha chega a ter um tamanho suficiente, a
temperatura não deveria demorar mais do que dois dias para alcançar os 45C. Os
microrganismos que atuam nesta fase são os psicrofílicos ( ativos baixo 20C ) e os
mesofílicos ( ativos entre 20C e 45C ) ( DUPLESSIE; 1996 ).

2.2.2 Fase de biodegradação ativa: temperaturas além de 45C


Atingir 45C é um sinal de que o processo está bem levantado. A partir daí, o trabalho dos
microrganismos se intensifica e a temperatura pode seguir subindo. Nos processos com grandes
quantidades de resíduos orgânicos, a temperatura pode alcançar até os 80C. Esta é a
segunda etapa, conhecida como fase de biodegradação ativa. Predominam então os
microrganismos termofílicos, os quais precisam de temperaturas altas para se desenvolver
( DUPLESSIE; 1996 ). O calor gerado nesta fase permite a destruição das sementes e a
eliminação dos elementos patogênicos, ou seja, vetores de doenças e larvas de insetos que os
resíduos poderiam conter. Assim, é esta etapa que garante a seguridade higiênica e sanitária do

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composto. Contudo, é importante não deixar o calor subir além de 65C, pois temperaturas
maiores podem matar muitos microrganismos inofensivos e ainda úteis no processo
( DUPLESSIE; 1996). A temperatura deve então ser mantida entre 45C e 65C durante toda
esta fase, a qual pode durar vários meses ( em média de 2 a 3 meses ). Algumas dicas para o
controle da temperatura serão dadas no tópico 3.2.5.

2.2.3 Fase de maturação ou cura


Chegando ao final da fase de biodegradação ativa, os elementos que alimentam os
microrganismos tornam-se mais escassos e, em conseqüência disso, a intensidade da atividade
microbiológica diminui junto com a temperatura, a qual desce para ficar na faixa de 30C a
45C. A massa de compostagem entra então na fase de maturação, também chamada de cura
( DICKSON e KOZLOWSKI; 1991 ).

Nesta altura, os resíduos na massa de compostagem já não são reconhecíveis e têm a


aparência de uma terra escura. É no periodo de maturação que se finaliza a estabilização do
composto, através de um processo chamado de nitrificação. Neste processo, elementos
nitrogenados agressivos contidos na massa de compostagem, como a amônia, passam a ser
transformados em nutrientes inofensivos, como os nitratos, que enriquecem o composto. Assim,
a maturação é uma fase indispensável na produção de um composto de qualidade e não deve
ser negligenciada. O uso de um composto não devidamente maturado poderá ocasionar vários
efeitos nocivos ao plantio. Dentre eles, se podem citar: a liberação de amônia no solo, a qual
pode danificar as raízes das culturas; e, a produção de toxinas que inibem a germinação de
sementes e o crescimento das plantas ( INFOAGRO; 2002 ).

O período de maturação pode durar de um a dois meses e termina quando a temperatura no


centro da pilha de compostagem chega a ser igual à do ambiente (TINOCO PEREIRA; 1996 ).
Obtém-se então o composto final, pronto para ser utilisado. Existem métodos simples para se
assegurar que o composto já esteja devidamente maturado, como, por exemplo, a prova da
sacola de plástico, explicada a continuação na leitura deste guia.

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Figura 2.1: Gráfico ilustrando a evolução do processo de compostagem através das três
fases, de acordo com as temperaturas registradas

2.2.4 Observações para pilhas pequenas: uma evolução um pouco diferente


Na compostagem de pequena escala, particularmente a compostagem caseira, pode acontecer
que a evolução do processo seja um pouco diferente à que foi aqui apresentada. Isto acontece
quando as quantidades de lixo orgânico acumuladas são pequenas demais para permitir uma
forte subida da temperatura. Caso você trabalhe com pilhas pequenas ( de um volume menor a 1
metro cúbico ), você observará que a temperatura tende a se manter numa faixa entre 30C e
45C e que a pilha mal consegue entrar na fase de biodegradação ativa. Isto não quer dizer que
o processo de compostagem não acontece, pois um composto bom também pode ser produzido
com pilhas pequenas. No entanto, temperaturas abaixo dos 45C implicam que o processo se
torna mais lento e que você precisa se armar de maior paciencia na espera do composto final!
Outras consideracões importantes em relação com as pilhas pequenas serão abordadas através
da leitura deste guia prático.

3. ASPECTOS OPERACIONAIS

Nesta parte do guia, você vai encontrar as informações básicas necessárias para operar uma
unidade de compostagem e controlar o processo de biodegradação dos resíduos
orgânicos, de acordo com o metodo proposto para as atividades de pequena escala.

3.1 Juntar os resíduos orgânicos em caixas de compostagem

Uma primeira etapa no processo da compostagem é de juntar, numa pilha, os resíduos


orgânicos para compostar. O método aqui proposto se centra no uso de uma caixa de
compostagem onde juntar estes resíduos. As caixas de compostagem são recipientes simples
de construir e podem ser elaboradas a partir de diversos materiais. Consulte o tópico 5 para mais
informações sobre os distintos modelos e as suas técnicas de elaboração.

1
Trabalhar com caixas de compostagem apresenta grandes vantajens. Elas dão um aspeto mais
ordenado ao processo, facilitam a mantenção de temperaturas maiores na pilha de
compostagem, ajudam a conter cheiros, e protegem o material do vento, das intemperies e dos
animais domésticos ( TYNES (1); 2003 ). Assim, este metodo é ideal para a compostagem de
pequena escala realisada a proximidade dos domicilios.

3.2 Os fatores “chaves” que afetam o processo e que você deve controlar

Como ja dissemos, a compostagem é um processo microbiológico, ou seja, que aproveita o


trabalho de um “exército” de microrganismos. Isto implica que o seu sucesso depende de alguns
fatores “chaves” que exercem uma influência sobre a atividade dos microrganismos. Estes
fatores, que explicaremos a continuação neste guia, são: a aeração; a umidade; os tipos de
resíduos orgânicos juntados; o tamanho das materias; a temperatura da pilha; e, o pH
( DUPLESSIE; 1996 ). O que você precisa fazer é então de assegurar que estes fatores sejam
controlados e mantidos em condições ótimas para o bom desenvolvimento dos seus parceiros,
os microrganismos. Destacam-se cinco regras principais que devem ser respeitadas, e a arte da
compostagem exitosa é de saber cumprir com essas regras e manter o equilíbrio adequado
dentro das pilhas. Estas regras são as seguintes:

 Assegurar uma aeração freqüente da pilha de compostagem;


 Sempre manter um bom equilíbrio entre matérias “secas” e “úmidas”;
 Manter uma umidade adequada na pilha;
 Reduzir o tamanho das matérias antes de agregá-las à pilha de compostagem;
Manter temperaturas altas dentro da pilha.

Tentemos agora entender melhor cada um destes fatores “chaves” e respectivas regras:

3.2.1 A aeração
Os resíduos orgânicos amontoados para compostar devem ser aerados. Aerar significa ventilar,
ou seja, facilitar a circulação de ar dentro da massa de compostagem para que os
microrganismos decompositores sejam expostos ao oxigênio, um dos principais componentes do
ar. Os microrganismos precisam deste oxigênio para respirar e intensificar o seu trabalho. Sem
uma boa aeração, o processo de compostagem é demorado e acontece a formação de gases
mal cheirosos ( cheiro de enxofre, parecido com ovo podre ) ( RYNK; 1992 ). Daí a primeira regra
para o sucesso da compostagem: assegurar uma aeração freqüente da massa de compostagem.

1
A forma mais eficaz e simples de fazer a aeração é de revirar a pilha de compostagem. Isto
significa remexer o material, revolvendo-o com uma pá, forquilha, ou um pau ( cabo de vassoura,
p. ex. ). Ao trabalhar com caixas de compostagem, o reviramento se faz efetuando movimentos
circulares.

Além de permitir a aeração da pilha e, consequentemente, a revitalisação dos microrganismos, o


reviramento também cumpre outras funções importantes como: o controle da temperatura
( revirar provoca uma momentânea queda da temperatura e evita que a mesma ultrapasse o
limite recomendável de 65C ); assegurar a homogeneização da pilha e a boa distribuição da
umidade e dos microrganismos; e, efetuar um controle sanitário, uma vez que as temperaturas
atingidas nas margens das pilhas não são suficientemente altas para eliminar os elementos
patogênicos. Para que isso aconteça, as matérias das camadas superficiais devem ser
transpassadas ao centro da pilha onde estarão expostas a temperaturas maiores ( DUPLESSIE;
1996 ).

Uma ficha pode ser preparada e posta à vista no local de compostagem para ajudar no controle
da freqüência de reviramento. A tabela 3.1 propõe um exemplo de tal ficha.

Tabela 3.1: Ficha de controle do ciclo de reviramento da pilha de compostagem para o

período de um mês ( adaptada de TINOCO PEREIRA; 1996 )

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DIAS DE REVIRAMENTO DA COMPOSTAGEM
O reviramento deverá ser efetuado nos dias indicados com “X”.
Semana Domingo 2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira Sábado
de:
01 a 07 X X X
08 a 14 X X
15 a 21 X X
22 a 28 X X X
29 a 04 X X
Continuar o ciclo de reviramento até o final da fase de biodegradação ativa ( indicada por uma
queda da temperatura abaixo de 45C ). Nenhum reviramento será preciso na fase de
maturação.

3.2.2 Os tipos de matérias compostáveis e a relação carbono / nitrógeno ( C / N )


Quanto mais variadas são as matérias orgânicas juntadas para compostar, maior vai resultar a
qualidade e a riqueza do composto final! Normalmente, o lixo orgânico doméstico ( produzido
nos domicilios ) possui tudo o que é preciso para dar um bom composto ( DUPLESSIE; 2002 ).

Para ter êxito nas suas atividades de compostagem, você deve saber diferenciar duas categorias
de materias orgânicas, divididas de acordo com o seu teor em carbono e em nitrogênio. As
matérias ricas em carbono, também chamadas matérias secas, são aquelas mais rígidas como
as folhas secas, os bagaços e capins secos. As matérias ricas em nitrogênio, ou matérias
úmidas, são aquelas matérias orgânicas mais frescas e moles que se decompõem rápido como,
por exemplo, os restos de comida, as frutas e os legumes, o capim verde e os restos de plantas
frescas ( DUPLESSIE; 2002 ). A tabela 3.2 apresenta uma lista mais detalhada dos tipos de
resíduos para cada categoria.

Para fazer um bom trabalho, os microrganismos responsáveis pelo processo de transformação


da matéria orgânica em composto precisam de um certo equilíbrio entre as matérias ricas em
nitrogênio e às ricas em carbono. Deve-se sempre procurar manter esse equilíbrio, pois uma
razão excessiva de matérias ricas em nitrogênio causa a emanação de gases mal cheirosos
( p.ex.: amoníaco ). Neste caso, a solução é agregar mais material rico em carbono para
compensar. Por outro lado, um excesso de matérias ricas em carbono atrasa o processo
(TINOCO PEREIRA; 1996 ).

1
O equilíbrio ótimo entre matérias ricas em carbono e matérias ricas em nitrogênio se expressa
muitas vezes assim: Carbono / Nitrogênio ( C/N ) = 30 / 1. Na prática, essa proporção pode
facilmente ser mantida se para cada parte de matérias úmidas se agrega de uma a duas partes
de matérias secas ( CULLEN e JONHSON;1992 ). Daí a segunda regra para o “mestre
compostador”: procurar sempre manter um bom equilíbrio entre matérias secas e úmidas.

Quadro ( Box ) 3.1


Encontrar o equilíbrio ótimo entre material úmido e seco
Encontrar o equilíbrio certo entre as quantidades de resíduos úmidos e os
quantidades de resíduos secos pode ser uma das tarefas mais árduas no
controle do processo de compostagem. Uma forma simples de encontrar
a razão ótima entre estes dois tipos de materiais é de iniciar a pilha com
um excesso voluntário de material seco. A partir daí, se vai agregando os
resíduos orgânicos úmidos produzidos diariamente, tomando o cuidado
de mistura-los e afunda-los bem dentro do material seco, até que a
emanação de um leve cheiro amoniacal possa ser percebida. Quando isso
suceder, significa que a pilha acaba de passar a uma situação de excesso
de matérias úmidas e que a razão ótima será obtida com um pouquinho
Tabela 3.2
mais de material : Lista de materiais compostáveis e não-compostáveis
seco.

1
Matérias orgânicas boas para compostagem

Matérias Ricas em Nitrogênio Matérias Ricas em Carbono


( matérias verdes ou úmidas ) ( matérias marrons, ou secas)
- Restos de comidas em geral ( a exceção - Palha seca, capim seco
de carne, laticinios, e outras matérias - Folhas secas de plantas e árvores
desaconselhadas ) - Serragem de madeira / pó de serra
- Restos e cascas de frutas e hortaliças - Pedaços de casca de arvores
- Cereais ( todos os tipos: trigo, arroz, - Resíduos secos de plantas e flores
aveia) - Pedaços de papel e papelão
- Sobras de pão e macarrão - Filtros de café e chá
- Resíduos frescos de plantas e flores - Tecidos naturais (lã, algodão, couro, etc. )
- Cabelos e pelos de animais
- Cascas de ovos
- Folhas, grama verde e capim fresco
- Resíduos de café e chá

Matérias que devem ser usadas com moderação


- Gramado
( Tende a se compactar. Usar muito pode gerar condições anaeróbicas e mau
cheiro. É rico em nitrogênio quando fresco, e rico em carbono quando seco )
- Serragem de madeira / pó de serra
( Tende a se compactar e criar condições anaeróbicas )
- Cinzas de madeira
( São alcalinas e usar muito pode demorar o processo )

Matérias que não se deve compostar


- Gorduras e óleos
( Demoram o processo, emitem odores e atraem insetos indesejáveis )
- Leite, queijo, iogurte e outros produtos lácteos
( Atraem animais, bichos e insetos nocivos )
- Estercos e excrementos de animais ou humanos
( Contêm elementos patogênicos que podem resistir ao processo de compostagem )
- Carne, ossos, peixe
( Emitem odores e atraem animais e insetos indesejáveis )
- Plantas indesejáveis ( ervas-daninhas ) em fase de germinação
( As sementes podem resistir ao processo e germinar no composto )
- Plantas doentes
( Não se deve correr o risco de contaminar o composto com elementos daninhos
para os plantios )
- Cinzas de carvão
( Contamina o composto com elementos tóxicos )
- Matérias que tenham sido expostas a praguicidas ou a outros produtos perigosos ( a
madeira tratada, por exemplo )
- Matérias inorgânicas: plásticos, vidros, metais, etc.
( Não são biodegradáveis )

3.2.3 A umidade
A presença de água é essencial à sobrevivência dos nossos microrganismos. Uma falta de
umidade atrasa a sua atividade e pode até parar o processo de biodegradação da matéria

1
( RCO; 2001 ). Por outro lado, umidade demais também pode atrapalhar o processo. Água em
excesso dificulta a circulação do ar na massa de compostagem, criando-se assim condições
anaeróbicas ( carência de oxigênio ). A falta de oxigênio, como já vimos, atrasa a o processo de
biodecomposição e provoca a formação de gases mal cheirosos. Isto explica a terceira regra da
compostagem: manter nas pilhas de compostagem um grau de umidade constante e próximo a
55%.

Para manter uma umidade ótima na sua pilha de compostagem, você precisa ir agregando
pequenas quantidades de água com freqüencia, como aos tres dias, por exemplo, junto com o
reviramento da pilha. Uma verificação da umidade deve se fazer pelo menos uma vez por
semana. Para fazê-lo, basta pegar uma pequena porção do material na mão, protegida por luva
ou simplesmente uma sacola de plástico, e apertá-la. Um material que contém uma umidade
adequada ficara feito uma bolinha. Se a bolinha esmigalhar-se, quer dizer que é seco demais. Se
a água pinga entre os dedos, a pilha é úmido demais ( DUPLESSIE; 2002 ). É importante,
porém, pegar uma amostra que seja representativa da umidade de todas as partes da massa,
preferencialmente no centro da pilha.

Em caso de a massa de compostagem estiver seca demais, basta agregar um pouco de água
para reéquilibrar. Cuidado para não regar excessivamente! O material não deve ficar ensopado.
Mexer a massa enquanto ou logo após colocar água é importante para que a umidade seja bem
distribuída. Caso a água usada para regar venha diretamente da torneira, é melhor deixá-la
descansar durante 24 horas para permitir a volatilização da carga de desinfetantes que contém
as águas das redes de abastecimento urbano ( habitualmente compostos de cloro ). Estes
poderiam reduzir a atividade dos microrganismos se for incorporada diretamente à pilha de
compostagem ( DUPLESSIE; 2002 ). Águas de cozimento podem prestar, sempre que não levar
carne ou gordura, pois os nutrientes e vitaminas que contêm enriquecerão o composto final. Em
alguns casos, a falta de umidade deve-se a um desequilíbrio entre as matérias secas e úmidas
que se juntam nas pilhas de compostagem. Nestes casos, a relação entre estes dois tipos de
matérias deve ser equilibrada.

E se a massa de compostagem estiver úmida demais? Neste caso, a pilha deve ser mexida para
facilitar a evaporação e mais material seco, como folhas secas por exemplo, deve ser agregado
até estabelecer de novo o equilíbrio adequado. Assim, reduzir a umidade requer bem mais
trabalho do que aumentá-la e, por isso, melhor é prevenir que esta situação ocorra evitanto de
regar excessivamente, protegendo sempre as pilhas da chuva e assegurando-se que cada
quantidade de matérias úmidas ( ricas em nitrogênio ) seja compensada por uma quantidade
suficiente de matérias secas ( ricas em carbono ).

1
3.2.4 O tamanho das materias
Para facilitar o trabalho dos microrganismos e acelerar o processo de biodecomposição, é
melhor reduzir os resíduos orgânicos a pequenos pedaços antes de coloca-los na pilha de
compostagem. Isto aumenta a superfície disponível aos microrganismos para atacar estes
resíduos ( McDOWELL e CLARK; 1998 ). É mais uma regra: reduzir o tamanho das matérias.

Os resíduos de cozinha ( restos de comida, cascas de frutas e legumes, p. ex. ) podem


facilmente ser cortados em pedaços antes de ser levados até a pilha de compostagem. Para os
resíduos mais duros, como ramos, bagaço de cana e outras matérias fibrosas, dispor de uma
trituradora mecânica pode facilitar este trabalho de redução do tamanho. Formas manuais de
redução das matérias também podem ser encontradas.

O tamanho ideal das matérias é de 3 a 5 cm. Uma redução excessiva ( tamanhos menores do
que 3 cm ) pode atrapalhar o processo, já que facilitaria a compactação da massa de
compostagem e, assim, dificultaria a circulação de ar dentro da pilha ( McDOWELL, C.F. e
CLARK, T.; 1998 ). As condições anaeróbicas então criadas demorariam o processo, além de
provocar a emanação de cheiros desagradáveis.

3.2.5 A temperatura
Como ja vimos no punto 2.2, a temperatura dentro da pilha experimenta importantes variações
ao longo do processo de compostagem e pode ser medida, com um termômetro comum, para
verificar a evolução do mesmo. A temperatura indica a intensidade da atividade dos
microrganismos e, consequentemente, do processo ( MINNICH e HUNT; 1979 ).

Temperaturas altas são desejáveis dentro da pilha. Elas indicam que o processo está bem
iniciado e que a tranformação da matéria orgânica em composto se faz com maior intensidade.
Temperaturas altas também permitem a eliminação de elementos patogênicos que poderiam ser
encontrados na massa de compostagem, a destruição de sementes que iriam brotar no
composto final, e evitar a aglomeração de insetos indesejáveis. Assim, uma quinta regra para o
bom desenvolvimento do processo é a seguinte: temperaturas altas dentro da massa de
compostagem devem ser mantidas.

Para as pilhas com um volume de um metro cúbico ou mais, as temperaturas ótimas a serem
atingidas e mantidas se encontram na faixa de 45C a 65C. Como foi mencionado no ponto
2.2, estas temperaturas correspondem a fase de biodegradação ativa e devem ser mantidas

1
durante a maior parte do processo, até a massa entrar na fase de maturação. Quanto às pilhas
menores, a sua temperatura tende a se manter na faixa de 30C a 45C. ( DICKSON e
KOZLOWSKI; 1991 ). As temperaturas ótimas serão atingidas naturalmente nos processos
adequadamente controlados.

Você observa que a temperatura na sua pilha se mantem abaixo destes valores ótimos? É
porque algum erro está acontecendo no processo, o qual torna mais lenta a atividade dos
microrganismos decompositores. Seguramente, um ou mais dos fatores “chaves” que afetam o
processo de biodegradação ( areação, umidade, tipos e tamanho das materias juntadas ) está
desequilibrado. Identifique a fonte do problema e aplique as medidas necessarias para reajustar
o processo.

Temperaturas excessivas, além dos 65C, são indesejáveis e devem ser evitadas. Estas
poderiam ressultar na eliminação de microrganismos úteis no processo ( MINNICH e HUNT;
1979 ). Caso você observar temperaturas além de 65C na sua pilha de compostagem, uma
forma simples de reduzi-la é mexer ( revirar ) a pilha. Ventilando assim a pilha, você provoca
uma rápida queda da temperatura.

A temperatura no centro da pilha de compostagem deve ser medida com frequencia, idealmente
a diarios ( McDOWELL e CLARK; 1998 ). Esta é uma operação de grande importancia pois é a
melhor forma em que você possa monitorear o processo de compostagem, verificar se o
conjunto de fatores “chaves” que afetam o processo estão bem controlados e, em fim, intervir
rapidamente em caso de qualquer desequilibrio.

3.2.6 O índice pH
Em termos químicos, toda matéria pode ser neutra, ácida ou alcalina. As laranjas, limões e o
outros cítricos são, por exemplo, frutas ácidas, enquanto o leite e bicarbonato do sodio são
matérias alcalinas. O parâmetro mais utilizado para medir a acidez e a alcalinidade é o chamado

2
índice pH. A medida deste parâmetro é expressa numa escala de “0” a “14”, na qual “7” é o
ponto neutro ( a matéria não é nem ácida nem alcalina ), os graus abaixo de “7” indicam acidez,
e os acima de “7” sinalizam alcalinidade ( DUPLESSIE; 2002 ).

Mais ácido Neutro Mais alcalino

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Figura 3.1: A escala do índice pH

Na compostagem, a medição do índice pH pode ser útil para verificar a evolução do processo.
As variações experimentadas por este parâmetro indicam em que fase ( aquecimento,
biodegradação ativa ou maturação ) se encontra o processo. O índice pH pode ser medido mas
não precisa ser controlado, pois são os próprios microrganismos que tomam conta da sua
regulação ( McDOWELL, C.F. e CLARK, T.; 1998 ). Neste sentido, é um parâmetro “auto-
regulado” e a sua medição é opcional. Esta se faz em laboratórios ou com aparelhos portáteis e
soluções indicadoras encontrados nas lojas especializadas em equipamentos para análises.

Vejamos aqui a evolução do pH ao longo do processo de compostagem: no inicio, as pilhas de


resíduos orgânicos juntados para fazer composto possuem, de uma forma geral, um pH
levemente ácido ( menor do que “7” ). Com o levantamento do processo de biodegradação, o
índice pH começa a experimentar uma queda, podendo chegar até “4,5”, em conseqüência da
produção de ácidos orgânicos pelos microrganismos. Esta fase ácida ( com baixos valores de pH
) indica que o processo se encontra ainda na fase de aquecimento. Ao entrar na fase de
biodegradação ativa, os microrganismos termofilicos iniciam a degradação dos ácidos orgânicos
e o pH volta a subir para ultrapassar o ponto neutro ( “7” ) e tornar-se alcalino. O índice pH se
manterá nesse valor durante a maior parte do processo até se iniciar a fase de maturação e a
temperatura ficar abaixo dos 45C. Nesta última fase, se observa uma leve queda do pH até
este se estabilizar perto do ponto neutro ( “7” ). O composto final madurado e pronto para uso
indica um pH perto de “7” e, em muitos casos, levemente alcalinos ( maior do que “7” )
( DUPLESSIE; 2002 ). A figura 3.2 ilustra a evolução do pH desde o inicio do processo até obter
o composto final.

2
Figura 3.2: A evolução do pH desde o inicio do processo até obter o composto final.
Fase 1 ( azul ): aquecimento; fase 2 ( vermelho ): biodegradação ativa; fase 3 ( verde ):
maturação

3.3 Quanto tempo demora o processo de compostagem?

É difícil prever com certeza o tempo que vai ser preciso para obter o composto final. Este tempo
depende muito da composição das matérias que se "compostam" e, sobre tudo, da atenção
prestada durante todo o processo. Realizando um controle adequado dos fatores “chaves” ja
descritos ( a areação, a umidade, o equilibrio entre materias secas e úmidas, o tamanho das
matérias, a temperatura e o tamanho da pilha ), você permite que o processo seja bastante
acelerado ( TINOCO PEREIRA; 1996 ).

A tabela 3.3 indica o tempo normalmente necessario para a realização de cada uma das
principais fases ( aquecimento, biodegradação ativa e maturação ) do processo de
compostagem.

3.4 Peneiramento:

A peneiramento consiste em passar o composto já quase pronto através de uma malha fina
para limpar e soltá-lo. Esta operação permite remover as matérias ainda não totalmente
degradadas ( sementes grossas e pedaços de madeira e ramos, por exemplo, os quais demoram
mais em se decompor ) como também os elementos inertes ( pedaços de plásticos, vidros e
metais ) que poderiam ser colocados por descuido na pilha de compostagem. Por tanto, é uma
operação importante para assegurar a qualidade do composto final. O material orgânico grosso
detido pela peneira deve ser retornado para um nova pilha de compostagem onde completa a

2
sua degradação. A peneira pode ser fabricada com peças de madeira e uma malha de 1 por 1
centímetro ( RCO; 2001 ).

Tabela 3.3: O tempo aproximativo preciso para a conclusão de cada fase no


processo de compostagem
Fase do processo Tempo preciso para a fase se completar

1ª fase: Aquecimento Uma vez que a massa atinge um volume adequado, entre 12 horas e
dois dias.

2ª fase: Biodegradação De dois a varios meses, dependendo da atenção prestada e do


ativa controle adequado dos fatores “chaves”.

3ª fase: Maturação Entre 40 e 50 dias.

Um pouco mais de 3 meses nos processos bem controlados.


Tempo total preciso
Além de 5 meses nos processos mais lentos e sem o controle
adequado dos fatores chaves.

O momento ideal para realizar a peneiramento é chegando no final do precesso, quando as


matérias orgânicas já alcançaram um aspecto de terra e vão entrando na fase de maturação.
Uma vez peneirado, o composto pode ser amontoado à parte e deixado o tempo necessario para
completar esta última fase ( TINOCO PEREIRA; 1996 ).

3.5 Como saber se o composto está pronto para usar?

Usar um composto não totalmente estabilizado e maturado pode causar danos para a plantação
( DUPLESSIE; 2002 ). Por isso, é importante saber reconhecer quando o composto está
maturado e pronto para ser usado. Lembre que o composto maturado: possui uma cor marrom
escuro; emana um cheiro agradável de terra; não contem material orgânico que ainda seja
reconhecível; e tem uma temperatura ( no centro da pilha ) igual à do ambiente.

Uma forma fácil de tirar qualquer dúvida é a prova da sacola de plástico. Consiste em colocar
aproximadamente 1 quilo de composto numa sacolinha transparente, fechar e deixá-la num lugar

2
com sombra e a temperatura ambiente. Se após 24 horas a sacolinha tem transpirado muito e
gotinhas d’água têm-se formado contra o plástico é porque continua o trabalho dos
microrganismos. O composto ainda não se encontra completamente maturado e deve seguir
processando antes de ser usado.

Quadro ( Box ) 3.2


Quanto composto vai dar?
A sua pilha de compostagem aparece não crecer apesar de depositar
novas quantidades de resíduos orgânicos diariamente? No fique
sorpreso! Na compostagem ocorre uma redução importante do volume
das matérias orgânicas. Isto se deve a transformação pelos
microrganismos de parte do material em gases ( dióxidos de carbono )
que se volatilizam no ar e também a evaporação da água contida nessas
matérias. Estima-se que de três partes de matérias orgânicas colocadas
para compostagem, uma parte só termina como composto. Assim, o
tamanho da pilha de compostagem irá diminuindo significativamente na
medida em que o material for se degradando (RINK; 1992 ).

4 COMO EVITAR OS PROBLEMAS? SABER PREVER E CORRIGIR OS IMPACTOS


ADVERSOS

Enquanto não for controlada, a degradação da matéria orgânica pode provocar serios impactos
adversos como a emanação de maus cheiros, a aglomeração de animais e insetos indesejáveis,
e a produção de chorume ( lixiviados ), que são líquidos altamente poluentes. No processo de
compostagem, no entanto, o controle efetuado permite que estes impactos negativos sejam
evitados. O surgimento de algum destes problemas é, por tanto, um indício de que erros são
cometidos na operação da compostagem ( McDOWELL e CLARK; 1998 ). Medidas simples
permitem evitar esses problemas ou corrigi-los rapidamente quando surgirem. Essas medidas
devem se aplicar com muita disciplina, pois descuidar desses problemas poderia resultar em
riscos ambientais e sanitários, além de provocar uma certa indisposição junto à vizinhança. As
principais medidas para prevenir os problemas de cheiros, bichos e líquidos lixiviados se
apresentam a seguir. Consulte a tabela apresentada no Anexo 1 para mais informações sobre as
dificuldades possíveis e as medidas de correção correspondentes.

Para evitar problemas de cheiros, de animais e insetos indesejáveis, ou de líquidos lixiviados:

2
 Evite compostar as matérias desaconselhadas como carnes, laticinios, gorduras,
estercos e excrementos;

 Assegure-se que a sua caixa de compostagem disponha de uma tampa, e que esta seja
bem hermética;

 Mantenha uma boa mistura de material úmido e material seco. Um excesso de material
úmido resultará na emanação de gases nitrogenados mal cheirosos ( p.ex. : amoníaco ).
Cobra sempre os novos depositos de materiais úmidos com material seco ou até com
terra;

 Mantenha a massa de compostagem bem ventilada. Revire a pilha regularmente para


não deixar criar condições anaeróbicas. Uma falta de oxigênio na pilha resulta na
emanação de cheiros de enxofre, parecidos com os de ovos podres;

 Mantenha uma umidade adequada na pilha. O excesso de umidade cria condições


anaeróbicas e cheiros de enxofre;

 Efetue uma manutenção e limpeza freqüente do local;

 A saída de líquidos contaminados e mal cheirosos ( chorume, ou lixiviados ) acontece


somente se a massa de compostagem for exposta a um excesso de água. Para evitá-lo,
assegure-se de cobrir bem as pilhas enquanto chover.

4.1 Notas para os processos de baixa temperatura:

Caso a sua pilha de compostagem não alcançe altas temperaturas ( além de 45C ), seja
porque não atinge um tamanho suficiente ou para qualquer outro motivo, é importante que você
considere o seguinte:

2
 As temperaturas baixas não garantem a destrução das sementes, as quais podem
sobreviver ao processo e brotar no composto final. Assim, evite colocar sementes de
frutas, verduras e plantas caso o seu processo de compostagem tiver dificuldade em
atinjir e manter temperaturas além dos 45C ( McDOWELL e CLARK; 1998 );

 As altas temperaturas atingidas nas pilhas de compostagem afastam os insetos


indesejáveis como as baratas, formigas e lesmas. Ao trabalhar com pilhas pequenas e
com temperaturas menores, o risco de aglomeração destes bichos é maior. Porém,
cobrir sempre os novos depósitos de restos de comida com uma boa camada de
material seco permite evitar esta situação indesejada ( ACTION RE-BUTS; 2001 ).

5 CONSIDERAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DA SUA CAIXA DE COMPOSTAGEM

Apresentamos aqui mais informações sobre os distintos modelos de caixas de compostagem


possiveis, a sua elaboração e operação. Qualquer seja o modelo que você escolha, os
seguintes aspectos devem ser considerados antes de começar a juntar as materias
orgânicas:

 A caixa de compostagem deve ser localizada num solo nivelado e bem drenado ( solto e
capaz de absorver os líquidos que poderiam escorrer através da massa de
compostagem );

 Sempre se deve procurar manter as pilhas de compostagem em contato direto com o


solo para facilitar a chegada dos microrganismos decompositores. Assim, a caixa de
compostagem não deve possuir plataforma de fundo e deve ser colocada num espaço
não pavimentado. Para os processos em que não se dá este contato com o solo, se
recomenda agregar uma pá de terra preta dentro da caixa;

 O solo deve ser picado e soltado antes de amontoar os resíduos orgânicos para facilitar
a areação da base das pilhas. Uma alternativa é cobrir o solo com uma delgada camada
de pedras pequenas soltas antes de colocar os resíduos;

 É preferível localizar a caixa de compostagem num lugar parcialmente sombreado ( para


reduzir as perdas de umidade por evaporação ) e bem ventilado;

2
 A caixa de compostagem deve ser localizada a uma distância de, no mínimo, cinco
metros das hortas, jardins, sementeiras ou outros lugares similares para evitar que estes
sejam afetados caso alguma praga for atraida pela pilha de compostagem, como lesmas
por exemplo;

 A sua caixa de compostagem deve possuir uma tampa. Esta é importante para proteger
a massa de compostagem da chuva e, assim, evitar excessos de umidade.

5.1 Os modelos de caixa de compostagem

No Brasil, é ainda dificil achar modelos prefabricados de caixas de compostagem no mercado.


No entanto, existem vários tipos de caixas que podem ser construídas facilmente e sem grandes
despesas. Estas podem possuir um só ou varios compartimentos, e podem ser elaboradas a
partir de materiais muito variados. Veja aqui alguns dos modelos mais freqüentes:

5.1.1 Caixas de compostagem de um compartimento só


São recipientes cúbicos ou rectângulares que podem ser construídos com paredes de madeira,
tijolos ou malha de aço. A figura 5.1 ilustra um exemplo de modelo elaborado com tábuas de
madeira. As dimensões adequadas são de, pelo menos, 1m x 1m x 1m ( 1m3 – um metro cúbico
). É importante que um lado da caixa seja fácil de abrir ou desmontar para facilitar o reviramento
e a retirada do composto final. Espaços entre as tábuas ou tijolos são necessários para permitir
a entrada de ar.

Figura 5.1: A retirada do composto pela base com uma caixa de compostagem simples
elaborada com tábuas de madeira

2
É importante observar que, com este tipo de caixas, as novas quantidades de resíduos
orgânicos depositadas diariamente são juntadas com matérias que já levam algum tempo dentro
da caixa e que, por tanto, se encontram num estado mais ou menos avançado no processo de
compostagem. A evolução da pilha se faz então de forma heterogênea, com matérias num
estado de biodegradação maior na base da pilha, e resíduos ainda frescos nas camadas
superiores. Assim, o composto aparece primeiro nas camadas inferiores e por isso deve ser
retirado pela base da pilha, sem ser misturado com os materiais “novos” das camadas
superiores. Daí a importância de ter um lado fácil de abrir ou desmontar para permitir a retirada
pela base da pilha. A figura 5.1 ilustra esta operação.

O momento ideal para retirar o material da base da pilha é assim que o mesmo entre na fase de
maturação, ou seja, como vimos no tópico 2.2, a partir do momento em que o material possui
uma cor e uma aparência de terra escura, sem que possam ser reconhecidas as matérias
orgânicas que o compõem, e uma temperatura baixo os 45C. Após retirado da caixa, o material
deve ser peneirado e colocado para maturação numa pilha a parte, fora da caixa de
compostagem ( DUPLESSIE; 2002 ).

Quadro ( Box ) 5.1


Caixas de paletas de madeira
Uma forma fácil de construir uma caixa de compostagem é com aquelas
paletas de madeira muitas vezes utilisadas para o transporte e
armanezamento das mercadorias. Estas podem ser juntadas nos lados
com cordas ou fitas de plástico para formar um cúbico de mais ou
menos 1m3. Na maioria dos casos, estas paletas são disponiveis de
graça em armazéns e galpões comerciais, supermercados e lojas de
materiais de construção ( TYNES; 2003 ).

5.1.2 Caixas de compostagem com varios compartimentos


São modelos que possuem dois ou mais compartimentos de pelo menos 1m x 1m x 1m ( um
metro cúbico ) cada um, sendo assim capazes de receber quantidades maiores de resíduos
orgânicos.

Um modelo simples é de três unidades, como ilustrado pela figura 5.3, em que a matéria
orgânica se amontoa num primeiro compartimento até que este fique cheio. Uma segunda pilha
pode então ser iniciada num segundo compartimento enquanto o material do primeiro
compartimento vai-se “compostando”. Realiza-se assim uma rotação contínua entre os

2
compartimentos. O terceiro compartimento pode prestar para guardar o material seco ( p. ex.:
folhas secas ) utilizado para cobrir cada novo depósito de material úmido. O número adequado
de compartimentos depende das quantidades de matérias orgânicas para compostar. O controle
adequado dos fatores “chaves” que afetam o processo, como foi descrito no tópico 3.2, deve ser
efetuado em todos os compartimentos.

Figura 5.3: Caixa de compostagem de três compartimentos elaborada com tábuas de


madeira

5.1.3 Caixas com tuneis


Este é um modelo muito simples de construir. Podem ser usados tuneis de metal ou de plástico,
nos quais serão colocados os resíduos orgânicos. É importante furar o tunel nos lados em vários
pontos ( buracos de 1 cm de diâmetro ) para permitir a aeração da massa de compostagem, e
retirar a plataforma do fundo para que a pilha seja em contato direto com o solo. Você pode
trabalhar com um tunel só ou elaborar um sistema rotativo, parecido aos modelos de varios
compartimentos, com dois ou mais tuneis. Ao trabalhar com um tunel só, uma porta deve ser
desenhada no pé do tunel para permitir a retirada do material pronto para maturação das
camadas inferiores da pilha.

5.1.4 Notas sobre os materiais usados na construção de caixas de compostagem


Tábuas de madeira, tijolos, tuneis de plástico ou de metal são exemplos da diversidade de
materiais que podem ser usados para a construção da sua caixa de compostagem. Antes de
comprar, veja se você ja não possui algum material que possa ser reaproveitado!

Sendo a madeira uma forma de matéria orgânica, as tábuas usadas para as paredes da caixa de
compostagem terminarão por se decompor com o tempo e tendrão que ser substituidas. Madeira
pintada, pressada ou quimicamente tradada não deve ser utilisada, pois pode conter niveis
tóxicos de metais pesados que poderiam ser liberados no composto ( TYNES; 2003 ). De igual
forma, se for utilisar algum material de plástico para elaborar a sua caixa, assegure-se que este
material não represente nenhum perigo para a qualidade e seguridade do composto final.

2
6. COMO USAR O COMPOSTO

A aplicação de composto melhora a produtividade e a saúde dos solos. Como resultado, as


plantas que crescem num solo com composto têm um rendimento maior. O composto atua da
mesma vez como um fertilizante natural e como um agente regulador para a estrutura, a
drenagem e a aeração da terra ( INFOAGRO; 2002 ). Outros efeitos positivos da aplicação de
composto são os seguintes:

 Ajuda a manter estável a temperatura dentro do solo, sem grandes variações entre o dia
e a noite, o que é favorável para o desenvolvimento das plantas;
 Solta os solos compactados, facilitando assim o crescimento das raízes;
 Oferece uma proteção contra a erosão e a degradação dos solos;
 Reduz a incidência de doenças nas plantas e plantios retornando para o solo os
antibióticos naturais contidos nas frutas, hortaliças e outros resíduos orgânicos;
 Protege as sementes, mudas e plantas contra os elementos patogênicos como os
esporos e alguns fungos;
 Melhora a estabilidade química ( pH ) do solo.

Um composto maturado presta para quase todas as plantas e pode ser utilizado sem correr risco
tantos nas hortas e sementeiras como no plantio de mudas e arbustos, em torno de árvores
adultas ou para fortalecer o gramado. É excelente também para a preparação de terra para
plantas ornamentais e de interior. O composto age quase imediatamente uma vez no solo e o
efeito fertilizante será ao máximo a partir de três semanas logo da aplicação ( DUPLESSIE; 2002
). Assim, os resultados positivos poderão ser percebidos já na primeira experiência! A seguir,
apresentamos algumas dicas com respeito à aplicação do composto ( DUPLESSIE; 2002,
MINNICH e HUNT; 1979):

3
 A aplicação freqüente de pequenas doses é preferível à aplicação de grandes
quantidades de uma vez. Fazendo assim, se minimizam as perdas de nutrientes que
poderiam acontecer por causa do escoamento das águas de chuva;

 Uma forma de utilizar o composto é de espalhá-lo pela superfície do solo e misturar logo
com a camada superficial do solo ( até 10 cm de profundo ) com um ciscador ou outra
ferramenta disponível. Para as hortas e sementeiras, espalhar de 3 a 4 cm de
composto na primeira aplicação. Depois de cada colheita ou no mínimo uma vez por
ano, espalhar de 1 a 2 cm de composto, incorporando-o à camada superficial da terra;

 Uma terra ótima para as sementes e mudas pode ser preparado com uma terceira parte
de composto e duas partes de terra. Para flores e vasos de plantas adultas, uma parte
de composto para três partes de terra é suficiente;

 Para acelerar o crescimento de arbustos e árvores, espalhar o composto no solo em


torno da planta ( desde uma distância de 15 cm do tronco até cobrir uma área igual ao
largo da ramificação – a copa - da árvore ) numa camada de até 5 cm;

 Para o transplante de mudas e árvores, encher o buraco com uma parte de composto
e duas partes de terra. Recomenda-se também utilizar composto para manter fertilizado
um círculo ao redor da planta de cinco vezes o diâmetro do tronco máximo que será
atingido por ela;

 O composto pode ser usado para proteger as feridas de árvores que poderiam
provocar infecções e doenças, pois os microrganismos que ele possui podem eliminar
muitos elementos patogênicos. Cobrir a área da ferida com 2 cm de composto bem
úmido, usando uma atadura, permite reduzir os riscos de infecções enquanto a planta se
regenera;

 Para fortalecer o gramado, deve-se primeiro aerar levemente com um “ciscador” a


superfície sobre a qual o composto será aplicado. Espalhar o composto em uma camada

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uniforme de ao máximo 1 cm. É preferível cortar o gramado bem raso antes de aplicar o
composto. Regar após aplicação, facilita a incorporação do composto no solo. Espere o
final da tarde ou à noite para regar, reduzindo assim as perdas de umidade por
evaporação;

 Para obter um chá de composto, encher uma sacola de tecido com uma boa
quantidade de composto. Amarrar a sacola e coloca-la dentro de um balde cheio de
água durante uma noite toda. O chá resultante é rico em elementos nutritivos e pode ser
usado para regar as plantas.

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