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Casa da ISSN 0100-6541

Ano 17 - N.º 4
out./nov./dez./2014

Agricultura

Agricultura
Familiar
Agricultura

Editorial
Familiar: garantia

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


de renda, emprego e
segurança alimentar
Um encontro de gerações. Familiares trabalhando rural. O foco saiu da produção e foi para o produtor,
juntos no campo. Agricultores que produzem e admi- que agora participa efetivamente das transformações
nistram a propriedade. Produção diversificada. Essas no meio rural. Para tanto, estabelecemos uma integra-
são algumas das características da agricultura familiar, ção de ações desde a base, com recuperação de áre-
setor que foi escolhido pela Organização das Nações as degradadas, passando pela priorização de cadeias
Governador do Estado Unidas (ONU) como temática central para 2014 – Ano produtivas com incentivo à adoção das Boas Práticas
Geraldo Alckmin Internacional da Agricultura Familiar. Agropecuárias, culminando com projetos de geração
No Brasil, são mais de quatro milhões de famílias – de renda e emprego.
Secretária de Agricultura e Abastecimento
entre agricultores, pescadores, ribeirinhos, extrativis- Ao escolher esse tema para fechar as edições da
Mônika Bergamaschi
tas, quilombolas e indígenas – produzindo e gerando Revista Casa da Agricultura em 2014, fizemos a opção
renda. No País, 84,4% dos estabelecimentos rurais per- pela valorização desse segmento tão importante para
Secretário-Adjunto
tencem à agricultura familiar, segmento que emprega a economia paulista, que abrange 66% dos estabeleci-
Alberto José Macedo quase 75% da mão de obra do setor agropecuário; pes- mentos rurais, responde por 15% do valor da produção
soas que trabalham para garantir alimentos saudáveis e agropecuária, 36% da mão de obra ocupada e pela pro-
Chefe de Gabinete de qualidade na mesa dos brasileiros. O setor é tão im- dução de alimentos básicos como leite, frutas, hortali-
Silvio Manginelli portante, que responde por 70% da produção nacional ças, feijão etc.
de alimentos e por 10% do Produto Interno Bruto (PIB).
Coordenador/Assistência Técnica Integral Privilegiamos artigos e reportagens que demons-
José Carlos Rossetti
As mudanças climáticas e o aumento da população tram o impacto das políticas públicas disponíveis para
mundial impõem desafios aos atuais modelos agrope- o setor, nas áreas de compras institucionais, como o
cuários. Nesse contexto, a agricultura familiar ganha Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento
força – sobretudo como um importante meio para re- (PPAIS), o Programa Nacional de Alimentação Escolar
Ypujucan Caramuru Pinto
duzir a pobreza, garantir a segurança alimentar e pro- (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos
duzir água, pois as nascentes se encontram no campo (PAA); e de crédito rural pelo Fundo de Expansão do
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes e cuidar do meio ambiente é uma ação intrínseca de
Edson Luiz Coutinho
Agronegócio Paulista, o Feap, e o Programa Nacional de
sobrevivência para os agricultores familiares e consci- Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf.
ência de sua responsabilidade para com toda a huma-
nidade. Também apresentamos ações empregadas para ex-
pansão da agricultura familiar, que foram intensificadas
Desde antes de o conceito agricultura familiar ser com a realização do Programa Estadual de Microbacias
estabelecido na década de 1990, quando a referên- Hidrográficas, o qual promoveu grandes avanços na
cia a esses produtores era feita por termos como pe- organização rural do segmento e, a partir de 2010,
quenos ou camponeses, a Secretaria de Agricultura e com a execução do Projeto de Desenvolvimento Rural
Abastecimento, por meio da CATI e também dos insti- Sustentável, o Microbacias II – Acesso ao Mercado, que
tutos de pesquisa, já colocava em prática ações e pro- tem possibilitado avanços significativos diante do de-
jetos visando ao desenvolvimento do setor, os quais na safio atual da produção familiar: a comercialização.
área de extensão rural eram direcionados para o au-
mento de produtividade, incluindo a conservação do Por meio desta edição e como órgão público de
solo; na área social, as ações tinham cunho educacional extensão rural de São Paulo, reafirmamos nosso com-
para todos os integrantes das famílias rurais. No setor promisso com a construção do conhecimento de forma
de pesquisas, estudos geraram tecnologia para o de- participativa junto aos produtores e as políticas pú-
senvolvimento de atividades importantes para o seg- blicas que permitam a sua permanência na atividade
mento, como mandioca, feijão, arroz, olerícolas, frutas; agropecuária, com sustentabilidade econômica, social
bem como pecuária de leite e corte, além da avicultura. e ambiental, e melhoria na qualidade de vida.
Nas últimas décadas, a CATI passou por uma reestru-
turação na sua metodologia de trabalho, agora voltada Boa leitura!
à extensão rural, com o objetivo de estimular o desen- José Carlos Rossetti
volvimento com ganho de qualidade de vida no meio Coordenador da CATI
Expediente Sumário
Edição e Publicação - Cecor/CATI
4 Entrevista
7 Agricultura Familiar - Panorama Atual e Desafios
9 Extensão Rural e Agricultura Familiar: parceria para alavancar o desenvolvimento rural
Departamento de Comunicação e Treinamento – DCT sustentável
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto 12 Políticas de Assistência Técnica e Extensão Rural da Fundação Itesp para a agricultura
Centro de Comunicação Rural - Cecor familiar
Diretora: Roberta Lage
Editora responsável: Jorn. Roberta Lage (MTB 43.382-SP) 14 PPAIS – Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social
Coeditora: Jorn. Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP)
15 Contribuição do PAA na superação da fome e no fortalecimento da agricultura familiar
Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP), 16 O Programa Nacional de Alimentação Escolar e o fortalecimento da agricultura
Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ), Juliana Montoya (MTB 31.733-SP), familiar
Roberta Lage (MTB 43.382-SP).
17 Ações da CATI para o fortalecimento da Agricultura Familiar
19 Crédito rural para o agricultor familiar

Supervisão técnica dos textos: Engenheiro Agrônomo Abelardo
Gonçalves Pinto – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) 21 Microbacias II: portas abertas para a agricultura familiar acessar o mercado
Fotos da capa: Banco de Imagens CATI
Designer gráfica: Lilian Cerveira 23 Casa da Agricultura de Adamantina
Distribuição: Centro de Comunicação Rural – Cecor
Impressão e acabamento: Gráfica Paulo Sergio Alvarenga
26 Sementes e mudas para a agricultura familiar: uma questão de segurança alimentar
Fragoso/Presidente Prudente (SP)
28 Agricultura familiar e segurança alimentar
29 Produção familiar e sustentabilidade da agricultura
Os artigos técnicos são de inteira responsabilidade dos autores.
É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. 31 Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado garantido aos agricultores familiares
A reprodução total depende de autorização expressa da CATI.
33 Crédito Rural: linhas de financiamento têm transformado a realidade de agricultores
familiares em Mariápolis
35 Arroz e feijão: quem resiste a essa mistura nutritiva tipicamente brasileira?
Assista aos vídeos das reportagens na versão virtual da
Revista Casa da Agricultura no site
www.cati.sp.gov.br
38 Ribeirão Grande: política pública como instrumento de transformação social
40 PNAE: como as políticas públicas podem mudar a qualidade de vida de centenas de
famílias

Não deixe de nos escrever, por carta ou e-mail 42 PPAIS – Programa gera benefícios econômicos e sociais para agricultores paulistas
Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural
44
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

Av. Brasil, 2.340 – CEP 13070-178 – C.P. 960 – CEP 13012-970


Agricultura Familiar: um pouco de história e o trabalho da Secretaria de Agricultura
Campinas, SP – Tel.: (19) 3743-3870
cecor@cati.sp.gov.br
48 Aconteceu
www.cati.sp.gov.br
6 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬7

Entrevista Agricultura eram familiares, 66% do universo,


que respondiam por 36% do pesso-
al ocupado e por 14% do valor da
RCA – Quais as principais con-
quistas, entraves e os maiores
desafios da agricultura familiar?
cado de Atenção à Sanidade Agro-
pecuária - Suasa) e de uma política
de qualidade de vida no meio rural.

Familiar: setor
produção agropecuária. O Estado
de São Paulo possui ainda 267 as- VB – As maiores conquistas foram RCA – Outro desafio está dire-
sentamentos e 21.800 agricultores a consolidação de uma cesta de cionado ao acesso dos produto-
assentados. Apesar de uma parti- políticas para o fortalecimento da res rurais ao mercado. É preciso

fundamental para cipação menor no Valor Bruto da


Produção Agropecuária e na ocu-
pação da mão de obra, a agricultu-
agricultura familiar em todo o Bra-
sil. Entre elas, destacamos o cresci-
mento do Pronaf - R$ 24,1 bilhões
que os agricultores familiares
tenham volume de produção e se
adequem a determinadas regras

o desenvolvimento ra familiar em São Paulo tem uma nesta safra 2014/2015. A criação da exigidas por algumas políticas
importante participação no abas- Agência Nacional de Assistência públicas. Considera que os agri-
tecimento interno em segmentos Técnica e Extensão Rural (Anater), cultores familiares estão prepa-

rural paulista e
como dos hortifrútis e de culturas que terá a função de consolidar um rados para a adequada escala de
como a do feijão e da mandioca. sistema nacional de assistência téc- produção, para atender satisfa-

Andrea Farias / MDA


nica e extensão rural em todo o País. toriamente o mercado?

brasileiro
"
RCA – Quais os avan-
ços percebidos des- VB – A escala da
de o último Censo A agricultura familiar tem contribuído produção pode e
deve ser dada tam-
(2006)? A produção e muito com o desenvolvimento sustentável bém pela organiza-
a variedade da agri-
Valter Bianchini – Secretário da Por Roberta Lage – Jornalista – Centro de Comunicação Rural
cultura familiar au-
do rural paulista e brasileiro, ao manter a ção da produção em
grupos, associações
Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do (Cecor/CATI) – roberta.lage@cati.sp.gov.br
mentaram nos últi- nossa segurança alimentar, preservar nossa
Ministério de Desenvolvimento Agrário mos anos? e principalmente
cultura e agrobiodiversidade e ao oferecer junto às cooperati-
gab.saf@mda.gov.br
oportunidades de emprego e renda em todos vas. Sobre as regras,
é preciso também
VB – Não temos da- os negócios da agricultura, gerando ao longo

"
Agrônomo, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, em 1973, espe- que estas normas
dos estatísticos sobre
cialista em Políticas Públicas na Agricultura pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
a participação da agri-
de toda a cadeia mais de R$ 350 bilhões em se adequem à reali-
doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex- um PIB de aproximadamente R$ 1 trilhão. dade das pequenas
cultura familiar no au-
tensionista rural do Instituto Emater Paraná desde 1976, Valter Bianchini é, desde 2012, secretário agroindústrias fami-
mento da produção na
nacional de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), cargo que já liares. Os serviços de
agropecuária brasileira. Os dados No Estado de São Paulo, a parceria
ocupou de 2003 a 2007. Foi secretário de Agricultura do Estado do Paraná, de 2007 a 2010, e con- inspeção no Brasil e no Estado de
indiretos evidenciam avanços. O com a Coordenadoria de Assistên-
tribuiu com instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação São Paulo, assim como os da maio-
uso de crédito rural do Programa cia Técnica Integral (CATI) e nos
e a Agricultura (FAO). ria dos estados brasileiros, exigem
Nacional da Agricultura Familiar outros estados com as Empresas
procedimentos que privilegiam as
(Pronaf ) cresceu de R$ 2,3 bilhões de Assistência Técnica e Extensão
Nesta entrevista, Bianchini reforça a relevância da agricultura familiar para o equilíbrio da segu- agroindústrias de grande porte.
em 2002/2003 para R$ 22,1 bilhões Rural (Ematers) será fundamental
rança alimentar, para a geração de emprego e renda e para a preservação da agrobiodiversidade; Uma política como a do Suasa que
em 2013/2014. Este crescimento foi para o fortalecimento da Assistên-
e defende que ainda há desafios a serem superados como o fortalecimento do cooperativismo, o poderia resolver parte destes pro-
maior em investimentos na linha cia Técnica e Extensão Rural (Ater).
investimento na juventude rural e o aprimoramento de políticas públicas. blemas, até agora não se viabilizou.
Pronaf Mais Alimentos, que já finan- A Anater contará com um orça-
ciou de 2008 para cá mais de 100 mento de R$ 1 bilhão. A criação de
RCA – Qual a importância e o ros, leite e derivados, feijão e man- tos rurais da agricultura familiar e mil tratores. O incremento do crédi- políticas como o PAA em 2003, o RCA – Existe algum balanço/
grande diferencial da agricultura dioca, entre outros. aproximadamente 1,5 bilhão de to; da pesquisa, assistência técnica SEAF em 2004, o PGPAF em 2007 estudo que mostre o que repre-
familiar no Brasil? trabalhadores rurais em regime de e extensão rural; da criação de no- sentam as políticas públicas na
e a obrigatoriedade de compras da diminuição do êxodo rural e na
RCA – Quais países se destacam economia familiar. Na América La- vas políticas como o Programa de
agricultura familiar no PNAE são al- melhor qualidade de vida dos
VB – A agricultura familiar no Bra- na agricultura familiar e por tina e no Caribe são 17 milhões de Aquisição de Alimentos (PAA), Pro-
gumas das conquistas da agricultu- produtores rurais?
sil representa cerca de 85% do nú- quais motivos? estabelecimentos e 70 milhões de grama Nacional de Alimentação Es-
mero de estabelecimentos rurais, trabalhadores. colar (PNAE), Seguro da Agricultura ra familiar na última década. Entre
ou seja, 4.300.000; 85% da força de VB – A agricultura familiar é impor- Familiar (SEAF), Preços de Garantia os desafios, podemos destacar a VB – Este conjunto de políticas
trabalho ocupada na agricultura; 12 tante na maior parte dos países do RCA – Qual a representatividade dos Produtos da Agricultura Fami- necessidade de fortalecimento do públicas, em consonância com po-
milhões de trabalhadores em regi- mundo, por atributos como a res- da agricultura familiar na econo- liar (PGPAF) entre outros, além dos cooperativismo, da regularização líticas sociais de transferência de
me de economia familiar; responde ponsabilidade pelo equilíbrio da mia paulista? bons preços dos produtos agríco- das terras, de uma política de forta- renda, como o Bolsa Família; da
por 37% do Produto Interno Bruto segurança alimentar interna, pela las nos últimos anos, provocaram lecimento da juventude rural com Seguridade; e de políticas sociais
(PIB) da agropecuária no agronegó- geração e manutenção de postos VB – O Estado de São Paulo tinha, um incremento no uso de tecno- mais oportunidades de educação como o Luz para Todos, Minha Casa
cio mesmo ocupando apenas 25% de trabalho, pela preservação da segundo os dados do Instituto Bra- logia que certamente aumentou a no campo, da universalização da Minha Vida, PAC mobilidade rural;
da área agricultável. Responde pela agrobiodiversidade e da cultura sileiro de Geografia e Estatística produtividade e a participação da internet em todo o território rural, internet e educação no campo;
segurança alimentar interna em do meio rural de um país. São mais (IBGE) em 2006, 227.600 estabe- agricultura familiar no PIB agrope- da simplificação nos registros da apoio à Reforma Agrária; Crédito
produtos como os hortifrutigranjei- de 500 milhões de estabelecimen- lecimentos rurais. Destes, 150.900 cuário. agricultura familiar (Sistema Unifi- Fundiário e Regularização Fundi-
8 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬9

Panorama Atual e Desafios


ária; entre outros, tem impactado VB – Teremos, com certeza, um As diferentes formas de organiza-
positivamente na diminuição do aprimoramento das atuais políticas ção fortalecem o capital social no
êxodo rural. Dados da Pesquisa com a necessidade da geração de âmbito dos Conselhos na microba-
Nacional por Amostra de Domicí- outras. Algumas das ações previs- cia, no município, território, estado

Agricultura Familiar
lio (PNAD) apontam o aumento da tas estão relacionadas a consolidar Abelardo Gonçalves Pinto – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – abelardo@cati.sp.gov.br
e na União. Quanto mais qualificada
renda familiar, a redução da pobre- a Anater para o fortalecimento do for esta organização, melhor será a

A
za rural, o crescimento da classe Sistema Brasileiro de Ater e de sua política. Um programa como o Pro- Organização das Nações Unidas
média no campo e a redução no plena articulação com o Sistema (ONU) proclamou 2014 como o Ano
naf deve boa parte de seu êxito a
êxodo rural. Nacional de Pesquisa Agropecuá- Internacional da Agricultura Familiar,
uma forte participação das princi-
ria; implantar, em parceria com o em reconhecimento à importante contribui-
RCA – São feitas algumas críticas estado e o município, um Sistema pais organizações dos agricultores
familiares. ção que a agricultura familiar proporciona para
de que as políticas públicas são Único de Inspeção Agropecuária a segurança alimentar e a redução da pobreza
muito focadas para o crédito e (Suasa) que regulamente e forta- no mundo. A produção de alimentos, seja nos
não para os sistemas de produ- leça as pequenas e médias agroin- RCA – Como avalia os trabalhos
países desenvolvidos ou naqueles em desen-
ção. Como esclarecer esta ideia? dústrias; adequar os Planos Safras de assistência técnica e extensão
volvimento, é predominantemente feita por
da Agricultura Familiar às realida- rural no Estado de São Paulo? agricultores familiares.
VB – Neste ano avançamos na agro- des dos estados; fortalecer o coo-
ecologia para um crédito do Pronaf perativismo da agricultura familiar; VB – Temos tido avanços importan- Com essa proclamação, a intenção da ONU
por sistema de produção. Ativida- consolidar Planos de Desenvolvi- tes na CATI a partir de ações como o é despertar a consciência dos gestores públi-
des como o custeio pecuário e de mento Territorial que propiciem Programa Estadual de Microbacias cos para a necessidade da criação de políticas
algumas culturas permanentes, uma atuação mais sistêmica das Hidrográficas e o Projeto de Desen- que favoreçam a produção agrícola em unida-
já permitem um crédito mais sis- políticas públicas nos três níveis de des familiares e promovam o fortalecimento
volvimento Rural Sustentável – Mi-
têmico. Temos que adequar um governo. Estes são alguns dos de- das organizações rurais, além de buscar des-
crobacias II – Acesso ao Mercado e pertar a consciência da sociedade civil para a
sistema de controle para o Seguro safios.
de outras estruturas como a Funda- importância deste estratégico setor.
da Produção da operação junto ao
banco, além de ampliar o apoio da RCA – O volume de recursos do ção Instituto de Terras do Estado de
São Paulo (Itesp), de programas de Fortalecer a agricultura familiar significa
Ater. Concordo que este é o cami- Plano Safra da Agricultura Fami- promover o crescimento com recursos locais,
nho para uma adequação melhor liar saltou de R$ 22,1 bilhões, em extensão universitária e da partici-
valorizando as organizações de agricultores e

Roberta Lage – Cecor/CATI


do crédito do Pronaf à realidade do 2013/2014, para R$ 24,1 bilhões pação de organizações não gover-
dinamizando a economia local. A proteção dos
agricultor. para a safra 2014/2015. A que se namentais. Atualmente, o Instituto
recursos naturais é mais eficaz quando reali-
deve este aumento? Nacional de Colonização e Reforma zada por pessoas que vivem e trabalham nas
RCA – Como é feito o controle das Agrária (Incra) em São Paulo prati-
verbas destinadas ao PNAE, PAA comunidades rurais e que, por isso, são mais
VB – Bom momento da agricultura, camente universalizou a Ater nos comprometidas com a sua conservação.
e PPAIS? Quais os investimentos mais investimentos da agricultura assentamentos rurais e a Secretaria
de cada programa que são desti- familiar, baixo nível de inadimplên- A situação da agricultura familiar na • Desigualdade na posse da terra: nas Américas do
nados à agricultura familiar? da Agricultura Familiar (SAF), do
cia e apoio governamental. MDA, tem um conjunto de parce- América Latina é bastante paradoxal: é a gran- Norte e Central a agricultura familiar detém 83% das
de responsável pela produção de alimentos terras agrícolas, 68% na Europa, 85% na Ásia, 62% na
VB – O PAA é colocado em sua to- rias com estas instituições. Ainda
RCA – De que forma a organiza- básicos e geração de empregos no campo e, África e apenas 18% na América do Sul (FAO, 2014);
talidade, em torno de R$ 1 bilhão. temos muito que avançar nessa
ção rural contribui para o avanço ao mesmo tempo, é o endereço mais comum • Deficiências na gestão das unidades produtivas e
O PNAE tem um orçamento de R$ política. da pobreza e da miséria. Segundo informe da
da agricultura familiar? nas organizações de produtores;
3,2 bilhões anuais e a obrigatorie- Comissão Econômica para a América Latina e • Dificuldades de acesso ao mercado;
dade da aplicação de pelo menos RCA – Deixe uma mensagem aos o Caribe (Cepal), da Organização das Nações • Baixo acesso às políticas públicas existentes;
um terço deste orçamento nas VB – Podemos falar da organização agricultores familiares. Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), • Precariedade dos serviços de extensão rural.
compras da agricultura familiar. Os rural em nível de entidades de clas- em 2010 a pobreza incidia sobre 52% da po-
sistemas de controle são feitos nos se, como os sindicatos e suas fede- No Brasil, é relativamente recente - cerca de duas
VB – Neste Ano Internacional da pulação rural da América Latina. É uma complexa décadas - a inclusão da agricultura familiar na agenda
respectivos ministérios, em conse- rações, ou ainda dos movimentos Agricultura Familiar, nossos agrade- realidade rural, a começar pela riqueza étnica. Os agri-
lhos interministeriais, pelos órgãos que têm tido uma importância no governamental do desenvolvimento rural, com a cria-
cimentos a esta importante catego- cultores familiares latino-americanos são mestiços de ção de políticas públicas específicas para o setor, ten-
de controle e em processos partici- arranjo institucional que fortalece ria que muito tem contribuído com europeus com indígenas ou com descendentes de
pativos com organizações da socie- uma ação conjunta entre governo do como marco o lançamento, em 1996, da linha de
o desenvolvimento sustentável do escravos africanos; indígenas e populações remanes- crédito rural do Programa Nacional de Fortalecimento
dade civil, como as Coordenadorias e sociedade na implantação, reade- centes de quilombos.
quação e consolidação destas polí- rural paulista e brasileiro, manten- da Agricultura Familiar (Pronaf ).
de Assistência Social (Coseas) e o
Conselho Nacional de Desenvolvi- ticas. Uma ação coletiva que quali- do a nossa segurança alimentar, Não obstante a forte presença no campo e a capa- A Lei da Agricultura Familiar, de 2006, definiu al-
mento Rural Sustentável (Condraf ) fica uma política pública como um preservando nossa cultura e agro- cidade de gerar riquezas, após dois séculos de capi- guns parâmetros econômicos para o acesso a essas
em Brasília; e dos respectivos con- bem comum. biodiversidade e dando oportu- talismo, mais de meio século de extensão rural e de políticas públicas. Fazer parte dessa categoria social
selhos nacionais e nos estados. Outra forma de organização rural nidades de emprego e renda em avanços contínuos da ciência, as populações rurais la- significa ser portador de algumas características, en-
são as cooperativas fundamentais todos os negócios da agricultura, tino-americanas ainda não conquistaram a capacida- tre as quais a utilização de mão de obra predominan-
RCA – Estão sendo planejados para fortalecer a agregação de va- gerando ao longo de toda a cadeia de de autogestão e continuam apresentando baixos temente familiar em suas atividades econômicas e ter
outros programas/políticas para lor e comercialização dos produtos mais de R$ 350 bilhões em um PIB níveis de desenvolvimento socioeconômico. Vários a renda familiar oriunda majoritariamente de seu pró-
a agricultura familiar? da agricultura familiar. de aproximadamente R$ 1 trilhão. fatores explicam essa situação: prio estabelecimento ou empreendimento. Também
10 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬11

Extensão Rural e Agricultura


compõem a agricultura familiar os indígenas, quilom- A diversificação agrícola e não agrícola das ativida-
bolas, ribeirinhos, extrativistas e pescadores artesa- des e ocupações da família rural, como os serviços de
nais. pesque-pague e o turismo rural, por exemplo, é uma

Familiar: parceria para alavancar


das estratégias que possibilitam o ingresso de recur-
A diversidade e a complexidade da agricultura fa-
sos complementares e que vem se mostrando como
miliar brasileira se expressam na enorme variabilida-
um caminho promissor para a construção de uma
de de sistemas de produção, situação fundiária, grau
nova forma de desenvolvimento rural. A esta com-
de capitalização e de inserção no mercado, valores
culturais e estratégias de reprodução social.
O Censo Agropecuário 2006, do Instituto Brasileiro
binação de trabalho agrícola e não agrícola, que sig-
nifica o desenvolvimento de mais de uma atividade o desenvolvimento rural sustentável
econômica, denomina-se pluriatividade.
de Geografia e Estatística (IBGE), apontou a existência
Outra importante estratégia para a agricultura fa- Regina Aparecida Leite de Camargo – Professora-adjunta do Departamento de Economia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e
de 4,3 milhões de estabelecimentos familiares (84,4%
miliar é a busca de novos mercados para seus produ- Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp – campus Jaboticabal) – reginacamargomg@gmail.com
do País), dos quais 50% estão no Nordeste. A agricul-
tos, seja in natura ou processados em agroindústrias
tura familiar ocupa menos de 25% das terras e respon-

N
familiares, na própria unidade familiar. Uma terceira
de por 40% da produção total (FAO, 2014). o que consiste o trabalho de extensão ru-
estratégia é a mudança da base tecnológica, buscan-
É um segmento estratégico para o País, sendo o do menor dependência de insumos externos, como é ral? No que ele difere da assistência técni-
principal produtor de alimentos básicos para a popu- o caso das práticas agroecológicas. ca e qual a sua ligação com o conjunto de
lação brasileira. Destaca-se também por gerar empre- produtores que hoje são chamados de familiares, mas
O papel do Estado é fundamental na implantação
go para 12,3 milhões de pessoas no meio rural, o que no passado receberam denominações menos afirma-
de políticas de fortalecimento da agricultura familiar,
representa 74,4% das ocupações totais da agropecu- tivas, como pequeno produtor ou produtor de baixa
seja para a diversificação das atividades econômicas
ária (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de renda?
das famílias; para a criação de políticas de compras
Assistência Técnica e Extensão Rural - Asbraer, 2014).
governamentais ou para apoiar transformações na De uma maneira geral, podemos dizer que a prin-
Sérgio Schneider, professor da Universidade base tecnológica de produção. cipal diferença entre a assistência técnica e a exten-
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e estudioso
No caso brasileiro, Schneider lista três gerações de são rural situa-se no objetivo que norteia o trabalho e
do tema, aponta três grandes segmentos para a agri-
políticas públicas que buscaram o fortalecimento da na forma como ele é conduzido. Quando o produtor
cultura familiar brasileira. O primeiro - denominado
agricultura familiar, a partir de 1998: chama um técnico para que identifique a praga que
agricultura familiar empresarial - seria aquele mais ca-
pitalizado e já inserido nas cadeias de produção agrí- • Políticas de crédito rural exclusivas para a agricultu- está devorando sua lavoura e recomende a melhor
cola e de exportação. O segundo – agricultura familiar ra familiar e de criação de assentamentos de reforma forma de controle, está buscando e recebendo uma
camponesa – pratica uma agricultura que está fora agrária; assistência técnica que visa responder a um problema
das cadeias produtivas e de exportação, sendo sua • Políticas de segurança alimentar e de erradicação da pontual e temporário. É assim que operam os inúme-
produção voltada para o autoabastecimento e para pobreza; ros técnicos que trabalham em empresas de insumos,
os mercados locais e regionais. O terceiro segmento – • Políticas de fortalecimento dos serviços de extensão no comércio agropecuário e nas firmas de assistên-
outros rurais – abarca os sem-terra, minifundistas etc. rural e de criação de mercados institucionais para os
cia técnica no meio rural. Já o trabalho extensionista
Esses três segmentos, conjuntamente, representam produtos da agricultura familiar.
envolve um processo educativo de longo prazo e de
84% dos cinco milhões de estabelecimentos agrope- No Estado de São Paulo, estima-se em cerca de 150 múltiplas dimensões. Seu objetivo final é o desenvol-
cuários do Brasil. mil o número de unidades familiares de produção.
vimento integral da propriedade, da família ou mes-
Esses agricultores familiares estão organizados em
A descapitalização e o baixo poder de barganha mo de uma região, ou seja, envolve todos os aspectos
aproximadamente 1.200 organizações (associações e
nas operações de compra e venda no mercado, além e atores de uma dada realidade rural.
cooperativas). A extensão rural paulista trabalhou essa
de dificuldades no acesso às políticas públicas e à ter-
terceira geração de políticas públicas nas duas últimas
ra, tornam imperioso o desenvolvimento de estraté-
décadas, com o Programa Estadual de Microbacias
gias de sobrevivência.
Hidrográficas e o Projeto de Desenvolvimento
Rural Sustentável - Microbacias II - Acesso ao
Roberta Lage – Cecor/CATI

Mercado. O primeiro valorizou a organização


rural, a participação e a restauração e conser-
vação ambiental. O segundo está sendo uma
importante estratégia de inclusão dos agricul-
tores familiares nos mercados dos setores pri-
vado e governamental.
O desafio maior é a integração de todos os
atores – agricultores e suas organizações; con-
Lilian Cerveira – Cecor/CATI

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


selhos municipais e estaduais de agricultura;
governos federal, estadual e municipal; orga-
nizações não governamentais – mediados por
um serviço público de extensão rural bem es-
truturado.
12 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬13

ca. O modelo implantado serviu de as grandes armas do governo para quebrar o


base para a extensão rural de qua- tradicionalismo dos agricultores e integrá-los
se toda a América Latina, que con- a um modelo de agricultura altamente depen-
tou com o auxílio da International dente de máquinas e insumos químicos. Uma
Association for Economic and Social parte dos agricultores familiares conseguiu
Development (AIA), criada nos EUA adotar com êxito o modelo. Muitos não conse-
em 1939. guiram pagar as dívidas contraídas e acabaram
perdendo seu bem mais precioso: a terra. Outra
A simpática e atrapalhada família grande parte foi simplesmente esquecida pelo
de caipiras norte-americanos repre- serviço de Ater, relegada novamente ao segun-
sentava uma visão do homem do

Graça D'Auria – Cecor/CATI


do plano, em face da maior adaptabilidade dos
campo – simples, sem os conheci- médios e grandes produtores ao modelo pro-
mentos do mundo moderno urba- posto.
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

no, desconfiado e ao mesmo tem-


po engraçado e esperto. No Brasil, Na década de 1980, a crise econômica se
o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, abateu sobre o País e a política de “apertar o
e o personagem adaptado por cinto”, imposta pelo Fundo Monetário Internacional Nos anos de 1990 também começaram a ser for-
Mazzaropi retratam um sujeito que (FMI) e pelo Banco Mundial, afetou diretamente o fi- muladas as diretrizes da nova Política Nacional de
usa mais da esperteza do que do nanciamento da agricultura e suas instituições. Em Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), forma-
trabalho para superar a condição de miséria em que 1990, o governo federal extinguiu a Embrater e trans- lizada na “Lei da Ater”, aprovada em 11 de janeiro de
O termo extensão pode ser entendido de várias feriu para os estados a responsabilidade dos serviços
maneiras: “O escritório tem três metros de extensão”; vive. É para esse agricultor pobre, o qual cultiva sua 2010, que preconiza a exclusividade do acesso a um
pouca terra da mesma forma que o pai e o avô, que de Ater. Estados com forte tradição de agricultura fa- serviço público e gratuito de Ater, de qualidade e em
“Ninguém sabe a extensão da catástrofe”; “Precisamos miliar, como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, con-
de um fio de extensão” ou “Pedro é agrônomo e traba- se volta nosso primeiro serviço de extensão rural pro- quantidade suficiente aos agricultores familiares.
priamente dito, praticado pela Associação de Crédito seguiram manter um bom serviço de extensão rural,
lha com extensão”. Nas ciências agrárias a forma mais mas em outros os produtores que não podiam pagar Apesar de todas as dificuldades de implantação,
simples de definir o trabalho de extensão seria como e Assistência Rural (Acar), que buscava a melhoria
por assistência técnica tiveram novamente que contar entre elas a falta de tradição e de técnicos treinados
a “ação de estender conhecimentos e técnicas”. Visto das condições econômicas e sociais da vida rural e
apenas com os conhecimentos tradicionais para con- para atuação dentro das linhas propostas, a Pnater
dessa forma, ele pressupõe que numa extremidade operava com 50% de recursos e técnicos da AIA. Esse
tinuar no campo. avança ao retomar o protagonismo da agricultura
se encontra um profissional que detém esses conhe- serviço tinha um caráter fortemente humanista, que
familiar para os serviços de Ater, o enfoque dialético,
cimentos e na outra alguém que necessita deles. Mas buscava melhorar as condições da família rural como A crise financeira e de identidade em que mergu- humanista e construtivista como base para o traba-
o grande educador Paulo Freire, já na década de 1960, um todo. Os agricultores familiares eram seu principal lhou o serviço de Ater nos anos de 1980 começou a lho extensionista e a descentralização do acesso aos
alertava que o trabalho de extensão só consegue público-alvo. arrefecer em meados da década de 1990, com o sur- recursos e prestação de Ater, ampliando a participa-
atingir plenamente seu objetivo educacional quando Mas a filosofia humanista de trabalho muda a par- gimento do Programa Nacional de Fortalecimento ção de organizações não governamentais. Em 2014,
envolve um verdadeiro processo comunicativo entre tir da década de 1960, quando o serviço de extensão da Agricultura Familiar (Pronaf ), que contribuiu para foi criada a Agência Nacional de Assistência Técnica e
técnicos e agricultores, de forma que um não seja vis- rural adquire um caráter mais difusionista. A agricul- amenizar a crise, já que coube aos escritórios esta- Extensão Rural (Anater), com o objetivo de acelerar a
to como detentor de todo conhecimento e o outro tura brasileira precisava se modernizar para manter duais de Ater a emissão da Declaração de Aptidão ao transferência das tecnologias geradas pelas institui-
como um copo vazio que precisa ser preenchido com baixo o custo da cesta básica, gerar divisas para o País Pronaf (DAP), documento comprobatório da condi- ções de pesquisa, principalmente a Empresa Brasileira
as informações que o técnico julgar necessárias. Para e liberar mão de obra para a indústria. Passaram a ser ção de agricultor familiar e a elaboração dos projetos de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para os agricul-
Freire, o processo de aprendizagem deve ser mútuo, privilegiadas as iniciativas de impacto em curto pra- que são financiados pelo Programa. O Pronaf acabou tores assistidos pelo serviço de Ater.
calcado na ação e na reflexão, para resultar numa prá- zo, com potencial para promover a adoção do pacote trazendo mais recursos e legitimidade para os escritó-
rios de Ater. Além do Pronaf, os agricultores familiares contam
xis transformadora, ou seja, a extensão envolve ações tecnológico da chamada Revolução Verde – aduba-
hoje com programas de políticas públicas como
capazes de mudar a realidade dentro de uma visão ção química, sementes melhoradas e mecanização
o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


crítica de todos os elementos que a condicionam. agrícola. Ou seja, a política de desenvolvimento rural
o Programa Nacional de Alimentação Escolar
Quem alguma vez assistiu a um episódio do se- assume então um viés claramente produtivista.
(PNAE) e o Programa Paulista da Agricultura de
riado norte-americano “Família Buscapé” conhe- Para acelerar o processo de modernização da agri- Interesse Social (PPAIS). Esses programas reco-
ceu a primeira fonte inspiradora de nosso serviço cultura brasileira, o governo militar criou, em 1974, a nhecem a importância da agricultura familiar e
de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater). Em Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão abrem para os produtores familiares a possibi-
1914, foi criado nos Estados Unidos (EUA) o Serviço Rural (Embrater), o Sistema Brasileiro de Assistência lidade de vender seus produtos em mercados
Cooperativo de Extensão Rural, que tinha como ob- Técnica e Extensão Rural (Sibrater) e as estaduais institucionais. Mas demandam uma produção
jetivo levar à população rural americana, ausente dos Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural de qualidade e constante, para a qual é funda-
colégios agrícolas, conhecimentos práticos sobre agri- (Emater). No Estado de São Paulo, a Ater ficou sem- mental a existência de um bom serviço de as-
cultura, pecuária e economia doméstica, incentivan- pre a cargo da Coordenadoria de Assistência Técnica sistência técnica e uma extensão rural compro-
do a adoção de novos hábitos e atitudes no desenvol- Integral (CATI), criada em 1967. O crédito rural sub- metida com o desenvolvimento permanente e
vimento das atividades produtivas e na vida domésti- sidiado e o poder persuasivo do técnico rural eram sustentável da agricultura familiar.
14 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬15

Políticas de Assistência Técnica e Sousa Arruda, e pelo diretor-executivo da Fundação


Itesp, Marco Pilla. Em 2012, o governador Geraldo
Alckmin sancionou o Decreto n.º 57.939 que criou o
cial para se desenvolver ainda mais, tanto produtiva
quanto economicamente.

Extensão Rural da Fundação Itesp para a Ciga.


A proposta do Ciga-SP é encontrar, dentro do pró-
Atualmente, a maior parte da renda das famílias
assentadas provém do leite e dos seus derivados. São
produzidos por ano cerca de 42 milhões de litros. O
agricultura familiar prio governo, secretarias, autarquias e demais entida-
des que possuam alguma interface com o trabalho
Pontal se consolidou como uma importante bacia
leiteira do Estado, mas, para garantir mais renda aos
desenvolvido pela Fundação Itesp – seja em assenta- agricultores familiares assentados, a Fundação Itesp
Marco Pilla – Diretor-executivo da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) – mapsouza@sp.gov.br mentos, comunidades quilombolas ou de regulariza- tem debatido com assentados, prefeitos, secretários
Claudemir Peres – Diretor de Políticas de Desenvolvimento da Fundação Itesp – coliveira@sp.gov.br ção fundiária – e, assim, alavancar e integrar as ações de Agricultura e órgãos ligados às políticas do campo
realizadas, de forma rápida e com o menor custo pos-

U
novos mecanismos para diversificar a produção dos
ma das principais missões da sível, potencializando o trabalho do Estado.

Augusto Melo Fajardo – Fundação Itesp


alimentos. Investir em setores como horticultura e fru-
Fundação Instituto de Terras Desde que foi criado, o Ciga-SP alcançou inúmeras ticultura, além de ser economicamente rentável, po-
do Estado de São Paulo (Itesp) conquistas, entre elas a implementação PPAIS. Para derá atrair novas indústrias de processamento, como
é levar cidadania aos assentamentos e facilitar a mobilidade das famílias, o transporte esco- é o caso dos laticínios instalados na região.
às comunidades remanescentes de qui- lar de alunos e o escoamento da produção agrícola, as
lombos por meio da Assistência Técnica estradas internas de assentamentos e comunidades As propostas levantadas pela Fundação Itesp
e Extensão Rural (Ater). quilombolas foram recuperadas. Nos assentamentos em debates, reuniões e outros eventos promovidos
também foram perfurados poços artesianos que for- pela instituição serão encaminhadas ao governador
As ações de Ater contemplam a assis-
necem água para consumo humano. As obras conta- Geraldo Alckmin, como sugestões para a formulação
tência técnica direta para produção, co-
mercialização, inclusão social e recupe- ram com recursos disponibilizados pelo governo de de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do
ração e educação ambiental. As ativida- São Paulo, por meio das secretarias de Agricultura e Pontal do Paranapanema. Este é um exemplo de que
des são desenvolvidas por equipes mul- Abastecimento e Saneamento e Recursos Hídricos. ações participativas geram resultados e os tais ten-
tidisciplinares, que incluem agrônomos, dem a perdurar e mudar não apenas a vida das famí-
Além disso, a Secretaria de Esporte, Lazer e
veterinários, assistentes sociais, técnicos lias envolvidas, mas de toda a sociedade.
Juventude forneceu kits com materiais esportivos e a
agrícolas, entre outros. Secretaria da Cultura doou kits-cinema. Após o rece-

Augusto Melo Fajardo – Fundação Itesp


A Fundação Itesp presta os serviços bimento dos kits-cinema, o Grupo Técnico de Campo
de assistência técnica para quase sete (GTC) da Fundação Itesp de Presidente Venceslau ino-
mil famílias que vivem em 136 assentamentos esta- vou e promoveu, em outubro de 2014, o 1.º Circuito
Em outubro de 2011, a Fundação Itesp lançou uma Cinema – Espaço Rural e Cultural em cinco assenta-
duais. Além disso, em 2012, foi assinado o contrato cartilha para explicar como funciona a GAD. O mate-
com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) mentos do Pontal do Paranapanema, levando diver-
rial, ilustrado e de fácil entendimento, aborda as qua- são e cultura aos assentamentos que aprovaram a
para prestação de Ater em 17 assentamentos federais tro etapas necessárias para organizar as atividades de
na região do Pontal do Paranapanema, onde mais de iniciativa.
Ater: o diagnóstico da realidade da comunidade; o
1.400 famílias são beneficiadas. Outras 1,4 mil, que planejamento das ações; a elaboração e a execução A parceria com as secretarias de estado contribuiu
vivem em 31 comunidades quilombolas reconhe- de um Plano Operativo Anual para cada comunidade; para mudar a realidade social e econômica de milha-
cidas, também contam com a assistência técnica da e a avaliação dos resultados. res de famílias e, graças ao apoio do governo de São
Fundação Itesp.
A GAD adota o conceito do “aprender a aprender”, Paulo, que investiu nos últimos quatro anos R$ 26,5
No que diz respeito ao apoio à comercialização, milhões na agricultura familiar, R$ 11 milhões só na
ou seja, é essencial o entrosamento e a troca de co-
os agricultores familiares de 27 assentamentos fede- região do Pontal, as famílias assentadas obtiveram um
rais recebem orientações dos servidores da Fundação nhecimentos entre os técnicos extensionistas e os
agricultores. As atividades planejadas pela GAD são salto na qualidade de vida.
Itesp para a venda de alimentos ao governo de São
Paulo, por meio do Programa Paulista da Agricultura registradas em uma plataforma on-line, o Sistema A Caderneta de Campo – levantamento da produ-
de Interesse Social (PPAIS). Informativo de Acompanhamento de Ater (Sisgad). ção dos assentados assistidos pelo Itesp – referente
Desenvolvida pela Assessoria Técnica de Informática à safra 2011/2012 apontou que o valor bruto da pro-
Para pôr em prática a Lei n.º 12.188/2010, que (ATI) da Fundação Itesp, a ferramenta é alimentada
instituiu a Política Nacional de Assistência Técnica e dução foi de R$ 188 milhões, contribuindo para ge-
pelo extensionista com informações sobre a execução rar uma renda mensal de 2,58 salários mínimos/mês
Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma das ações nas comunidades. O trabalho contempla di-
Agrária (Pnater), a Fundação Itesp implantou o pro- por família em todo o Estado (R$ 1.783,49/mês para
versas áreas, como cursos, dias de campo, visita aos
grama Gestão de Ater para o Desenvolvimento (GAD), o salário vigente na época, R$ 690). É a melhor média
lotes, entre outros.
que padronizou a metodologia do serviço de exten- conquistada pelos agricultores familiares assentados
Além da GAD, outra importante política pública no Brasil.
são rural das comunidades assistidas.
voltada para o desenvolvimento do público assistido é
A metodologia da GAD é participativa, tanto no o Conselho Intersecretarial Gestor de Assentamentos Os agricultores assentados do Pontal obtiveram
planejamento das atividades quanto na execução, do Estado de São Paulo (Ciga-SP), que tem como ob- em média 1,99 salário mínimo/mês por família (R$
no monitoramento e na avaliação. Todas as ações são jetivo implantar ações em benefício das comunidades 1.374,96/mês, para o salário mínimo vigente na época,
voltadas ao desenvolvimento sustentável das comu- assistidas. O Conselho foi idealizado pela atual secre- R$ 690), mas esta região do Estado, a qual concentra
nidades. tária da Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloisa de hoje o maior número de assentamentos, tem poten-
16 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬17

PPAIS – Programa Paulista da Contribuição do PAA na superação da fome


e no fortalecimento da agricultura familiar
Agricultura de Interesse Social Ígor Teixeira – Analista técnico de Políticas Sociais e coordenador de Apoio à Comercialização do Departamento de Geração de Renda e Agregação
de Valor, da Secretaria de Agricultura Familiar, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (DGRAV/SAF/MDA) – igor.teixeira@mda.gov.br
Marco Aurélio Pilla Souza – Diretor-Executivo, Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) – mapsouza@sp.gov.br Fabiana Mauro – Jornalista, consultora do PNUD na Secretaria de Agricultura Familiar (SAF/MDA) – fabiana.mauro@consultor.mda.gov.br
Renata Vieira de Miranda Cunha – Gerente de Produção e Renda, Fundação Itesp – rvcunha@itesp.sp.gov.br

O
avanço de um conjunto de políticas pú- O atual momento, portanto, impõe novos desa-
cia da agricultura familiar para a econo- blicas nos últimos anos contribuiu para a fios no campo da comercialização e aquisição de ali-
mia do Estado, o governo de São Paulo, inclusão social de milhares de brasileiros, mentos pelos canais de compras públicas. Em parte,
por iniciativa da Fundação Instituto de por meio do acesso aos direitos básicos; à garantia e à o aprimoramento e qualificação dos instrumentos
Terras do Estado de São Paulo (Itesp), elevação da renda, via geração de 21 milhões de em- existentes no PAA pretendem fazer frente a esse de-
órgão vinculado à Secretaria de Justiça pregos; aos ganhos reais do salário mínimo (71,5%); e, safio, por outra parte, a formação e qualificação das
e Defesa da Cidadania, juntamen- no meio rural, o reconhecimento social da agricultura organizações da agricultura familiar por agentes de
te com a Secretaria da Agricultura e familiar. Aos programas de garantia da comercializa- Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), com foco
Abastecimento, via Coordenadoria de ção de produtos da agricultura familiar, se aliaram os em mercados, tem se caracterizado como outra fren-
Assistência Técnica Integral (CATI), vis- de garantia da renda agrícola, de seguro climático, de te importante de trabalho adotada pelo Ministério do
lumbrou uma ação capaz de impulsio- acesso ao crédito, de assistência técnica, de acesso à Desenvolvimento Agrário, daí a importância da parce-
nar e ampliar o acesso desse segmento água para consumo e produção na perspectiva de su- ria com os órgãos estaduais de Ater; no caso específi-
Banco de Imagens Fundação Itesp

a tais recursos orçamentários. peração da fome e na garantia da segurança alimentar co de São Paulo, com a Coordenadoria de Assistência
nas regiões mais pobres do País. A melhoria em indi- Técnica Integral (CATI) e também com a Fundação
Assim, nasceu o Programa Paulista
cadores econômicos e sociais resultou no reconheci- Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp).
da Agricultura de Interesse Social
(PPAIS), criado pela Lei n.º 14.591, de 14 mento recente do Relatório de Insegurança Alimentar Os próximos anos seguirão sendo de aprendizado
de outubro de 2011, regulamentado no Mundo (Food and Agriculture Organization – e trabalho no sentido de adequar o PAA ao ambiente
pelo Decreto n.º 57.755, publicado em FAO/2014) e demonstraram que houve acerto na es- e às demandas atuais por acesso ao mercado e garan-

A
24 de janeiro de 2012, tornando São tratégia do governo brasileiro de combate à fome e a tia de renda por um lado, e a demanda por beneficiá-
partir dos trabalhos de Assistência Técnica e desnutrição nos últimos anos. De acordo com a FAO,
Paulo o primeiro Estado da Federação a desenvolver rios consumidores e unidades recebedoras por outro,
Extensão Rural (Ater) foi possível identificar entre 2002 e 2013, caiu em 82% a população de brasi-
um programa de compra direta de, no mínimo, 30% reconhecendo que os desafios colocados hoje para o
com clareza que a comercialização e o aces- leiros em situação de subalimentação.
dos recursos orçamentários em gêneros alimentícios programa são distintos daqueles de 2003 e impõem
so ao mercado dos produtos advindos dos agriculto-
da agricultura familiar via Chamadas Públicas, e tam- O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) con- outra ordem de iniciativas. Tendo essa avaliação em
res familiares representavam um grande gargalo. Era
bém o único Estado que, por meio da Secretaria da tribuiu para esse importante resultado ao garantir mente, desafios como qualificar cada vez mais a rede
preciso criar políticas públicas para fomentar e impul-
Fazenda, possui instrumentos de monitoramento e oportunidades de mercado para grupos mais vulne- de entidades consumidoras e a participação e am-
sionar esse segmento. Estas políticas deveriam con-
controle. ráveis, ampliando a produção de alimentos básicos, pliação dos equipamentos públicos como estruturas
templar e propor alternativas nos seguintes temas:
consolidando mecanismos de garantia de preços jus- recebedoras das doações é fundamental. Da mesma
proteção frente às ações do mercado e às flutuações Desde a sua implantação, o PPAIS já publicou mais
tos, fortalecendo sistemas locais de mercado, fomen- maneira, estimular que governos estaduais e muni-
do preço; garantia de subsídios; informação sobre de 350 Chamadas Públicas, operacionalizou cerca de
tando redes de produtores, assim como estimulando cipais criem legislações, a exemplo do PAA Compra
melhor planejamento da produção e, principalmente, 1.500 contratos e acessou mais de R$ 3 milhões em
a economia local. Institucional, ampliando recursos para a aquisição
quanto às formas de comercialização. A ação conjunta recursos orçamentários, são números expressivos e
local de agricultores familiares, apresenta-se como
de tais aspectos daria ao agricultor familiar a seguran- tendem a crescer ainda mais em 2015. Os agriculto- O novo cenário de superação da pobreza e redu- grande desafio para o próximo período.
ça em relação à produção e venda de seus produtos. res familiares interessados deverão comparecer nos ção drástica da fome e da insegurança alimentar exi-

Banco de Imagens – Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)


Face a este diagnóstico, era imprescindível reforçar escritórios do Itesp (assentados e quilombolas) e da ge o aperfeiçoamento e a adaptação do Programa
as políticas públicas institucionais iniciadas pelo go- CATI (agricultores familiares tradicionais e indígenas) aos novos desafios. A consolidação desse importante
verno federal, como o Programa de Aquisição de para solicitar a Declaração de Conformidade ao PPAIS canal de comercialização vai além da qualificação de
Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação (DCONP), documento que os habilita ao Programa e à seus instrumentos normativos, pois reside em quali-
Escolar (PNAE), para compra direta da produção da verba de até R$ 22 mil/ano por unidade familiar. ficar e reconhecer a rede de consumidores cada vez
agricultura familiar. Os mercados institucionais constituem políticas mais inseridos e identificados pela assistência social
Cerca de 70% dos alimentos consumidos pela po- completas de segurança alimentar e também repre- local, o compartilhamento de responsabilidades com
pulação brasileira são oriundos da agricultura familiar, sentam importante papel na formação da renda dos gestores locais na execução, acompanhamento e mo-
sendo que no Estado de São Paulo há, aproximadamen- agricultores familiares, proporcionando alimentos nitoramento do programa, bem como a melhoria dos
te, 150 mil famílias. Por outro lado, o governo paulista saudáveis do campo para a sociedade, e fortalecem sistemas de execução, acompanhamento e prestação
gasta cerca de R$ 100 milhões por ano na aquisição a agricultura familiar, promovendo justiça social e de contas das propostas dos agricultores familiares,
de gêneros alimentícios. Reconhecendo a importân- econômica. suas cooperativas e associações.
18 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬19

O Programa Nacional de Alimentação Escolar Ações da CATI para o


e o fortalecimento da agricultura familiar
Vanilde F. de Souza-Esquerdo – Engenheira agrônoma, professora doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) – Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) – vanilde.esquerdo@fca.unicamp.br
fortalecimento da Agricultura Familiar
Sonia M. P. P. Bergamasco – Engenheira agrônoma, professora titular da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) –Unicamp Vera Lúcia Palla – Diretora da CATI Regional Jaboticabal – edr.jaboticabal@cati.sp.gov.br
sonia@feagri.unicamp.br

U
m grande passo para a promoção da agricul- O agricultor familiar pode participar da Chamada
tura familiar está relacionado ao Programa Pública individualmente ou por intermédio de suas a busca de soluções dos problemas e

Roberta Lage – Cecor/CATI


Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). organizações como associações e cooperativas, de- que atendam às expectativas socioeco-
Datado de 1954, o PNAE é o mais antigo programa so- pois de obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf nômicas e ambientais. Vem realizando
cial do governo federal direcionado para a educação, (DAP), física ou jurídica. A partir de 2012, o limite má- projetos e ações com resultados que
sendo também o maior programa de alimentação ximo de venda dos produtos da agricultura familiar melhoram a qualidade de vida de mi-
brasileiro. passou a ser de R$ 20 mil por DAP/ano. Em 2013, foi lhares de famílias rurais, beneficiando
lançada a Resolução n.° 26, apontando novas regras, indiretamente toda a sociedade, sem
De acordo com autores do artigo “O programa de impor pacotes tecnológicos e utilizando
que determinam, entre outras normas, o aumento do
alimentação escolar no Estado de Mato Grosso: da metodologias participativas, para que
valor mínimo para que o agricultor familiar tenha o
centralização à descentralização”, M. A. S. Spinelli e as tecnologias estejam adequadas à re-
direito de participar do Programa via DAP física. Essa
A. M. Canesqui, em 1994, com a descentralização dos alidade e aos anseios dos agricultores e
Resolução apontou novidades também em relação à
serviços de compra dos gêneros alimentícios para as suas famílias.
formação dos preços dos produtos oriundos da agri-
escolas, a gestão da alimentação escolar pelos muni-
cultura familiar, podendo incluir despesas com logís- Com o Plano Municipal e Regional
cípios permitiu a elaboração e o planejamento dos
tica, embalagens e outros encargos que possam vir de Desenvolvimento Rural Sustentável,
cardápios de acordo com os hábitos alimentares das
a ter. elaborado com a comunidade, de forma
comunidades e a maior participação da sociedade
civil, por meio do Conselho de Alimentação Escolar Estima-se que a Lei n.º 11.947/2009 possa benefi- participativa, e atualizado a cada quatro
(CAE) no seu gerenciamento. ciar cerca de 250 mil famílias de agricultores familia- anos, busca garantir o trabalho integra-
res em todo o País. De acordo com o FNDE, o valor do com as principais cadeias produtivas
Historicamente, o PNAE sempre apoiou a agricul- e o acesso dos produtores rurais às polí-
repassado para a compra de gêneros alimentícios da

"
tura familiar, uma vez que adquire alimentos para a
agricultura familiar em 2012 foi de R$ 1 bilhão, sendo Promover o desenvolvimento rural sustentá- ticas públicas, reconhecendo a importância do plane-
alimentação escolar, porém, foi em 2009, com a Lei
efetivamente aplicados R$ 310 milhões, representan- vel, por meio de programas e ações partici- jamento para o fortalecimento da agricultura munici-
n.º 11.947, que se criou um elo institucional entre a
do 31% do total dos recursos disponibilizados. Dos pativas com o envolvimento da comunidade, pal, regional e estadual. O diagnóstico participativo
alimentação escolar e a agricultura familiar local ou
1.668 municípios da região Sudeste, 910 realizaram de entidades parceiras e de todos os segmentos dos propicia a identificação de gargalos e potencialidades
regional. Com a Lei n.º 11.947, no mínimo 30% dos
compras de produtos da agricultura familiar para o negócios agrícolas" é a missão da Coordenadoria de que permitem aumentar a competitividade da agri-
recursos financeiros, repassados pelo Fundo Nacional
PNAE, porém, em alguns municípios essa compra Assistência Técnica Integral (CATI), que a desenvolve cultura familiar por meio de diretrizes e estratégias
de Desenvolvimento da Educação (FNDE), aos esta-
ainda não atinge o mínimo de 30% enquanto outros com o objetivo de fortalecer principalmente o seg- para alcançar a sustentabilidade.
dos e municípios, para a compra de alimentos desti-
chegam até mesmo a ultrapassar. A adesão depende mento da agricultura familiar, incentivando formas
nados ao PNAE, deverão ser utilizados para a aquisi- Com base nesses planos, programas e projetos são
de vários fatores, entre eles, o trabalho desenvolvido associativas de produtores (formais ou informais) e
ção de gêneros alimentícios oriundos da agricultura implementados nos municípios e regiões, com ações
pelas Casas da Agricultura, da CATI, junto aos agricul- fomentando as associações e cooperativas existentes.
familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas de orientação, capacitação e incentivo quanto à me-
tores familiares e suas organizações.
organizações. O fato de estar presente em quase todo o Estado lhoria da produção (produtividade, qualidade dos
O PNAE, pela Lei n.º 11.947/2009, busca garantia à de São Paulo (está em 594 dos 645 municípios pau- produtos e agregação de valor), como no acesso aos
segurança alimentar e nutricional para crianças, com listas) faz de suas Casas da Agricultura a porta de en- mercados (aquisição de insumos e comercialização da
vistas a ofertar alimentos mais saudáveis e frescos, va- trada da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, produção) e investimentos em novas atividades, com
lorizando os hábitos alimentares locais, uma vez que facilitando a implementação de projetos e ações a diversificação da produção.
a participação de agricultores familiares, enquanto que contribuam para a sustentabilidade econômica,
Estimular a adoção de tecnologias de manejo e
fornecedores de alimentos às escolas, pode contribuir social e ambiental, coordenados pelos 40 Escritórios
conservação dos recursos naturais e de produção,
para esse processo, além de fortalecê-los. de Desenvolvimento Rural (Regionais CATI) com
recuperação de áreas degradadas e a diversificação
o apoio da Divisão de Extensão Rural (Dextru), do
O PNAE tem como órgão gestor o Ministério da das atividades agrícolas na busca da sustentabilidade
Departamento de Comunicação e Treinamento (DCT),
Educação, com a coordenação e os recursos do FNDE. das propriedades rurais, são ferramentas dos seguin-
do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes
A aquisição direta de gêneros alimentícios da agricul- tes programas e projetos que estão sendo desen-
(DSMM) e do Centro de Informações Agropecuárias
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

tura familiar ocorre por Chamadas Públicas, que são volvidos pela CATI: Boas Práticas Agropecuárias nas
(Ciagro).
meios de aquisição de produtos em substituição à cadeias produtivas da aquicultura, bovinocultura de
licitação, tornando-se um instrumento mais objetivo Para cumprir com sua missão, a CATI tem incenti- leite e corte, cafeicultura, fruticultura, grãos, hevei-
para a implementação da Lei, proporcionando um vado a adoção de um modelo de desenvolvimento cultura e olericultura; CATI Leite; Integração Lavoura-
contato inicial de forma legal entre os agricultores fa- rural com ações de cunho educativo que ampliam a Pecuária; Plantio Direto na Palha; Recuperação de
miliares e as prefeituras. participação dos diversos segmentos envolvidos para Áreas Degradadas; Educação Sanitária; Projeto de
20 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬21

Crédito rural para o agricultor familiar


Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II – Atuação de Ater
Acesso ao Mercado. A CATI realiza assistência técnica e extensão rural
Para a implantação desses projetos e programas, (Ater) por meio de atividades metodológicas indivi-
são desenvolvidas ações para facilitar o acesso ao cré- duais (consultas, visitas de trabalho, visitas de orienta-
ção técnica, prestação de serviços, emissão de laudos, Alexandre Mendes de Pinho – Engenheiro Agrônomo da Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – almendes@cati.sp.gov.br
dito rural pelos produtores, por meio do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar declarações, projetos técnicos, levantamentos e ven-

O
(Pronaf ), com recursos para custeio e investimentos, da de sementes e mudas), atividades metodológicas
conceito de agricultura familiar está ligado Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista
e do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista grupais (cursos, demonstração de métodos e resulta-
dos, excursões, dias de campo, palestras e reuniões à gestão e à produção agropecuária pelos (Feap)
(Feap), com recursos para investimentos. Há também
técnicas) e massais (comunicação escrita, falada etc.). integrantes de uma família, numa certa O Estado de São Paulo também mostra uma gran-
a emissão da Declaração de Conformidade Ambiental
Todas essas atividades são realizadas no sentido de quantidade de terra. O poder público tem percebido a de preocupação em alavancar o desenvolvimento do
da Agropecuária (DCAA), que é uma ferramenta que
promover: importância do produtor chamado de “familiar” para a produtor familiar paulista por meio de programas de
permite viabilizar o crédito rural, sejam linhas de po-
realidade da agricultura brasileira, demonstrando esta financiamento. O Fundo de Expansão do Agronegócio
líticas públicas de incentivo à agricultura familiar ou • divulgação e incentivo ao público – difusão de tec-
preocupação por meio de muitas oportunidades – Paulista (Feap) é o instrumento que disponibiliza di-
outras. Ainda como uma ação importante para o es- nologias sustentáveis, integração, cumprimento de
reconhecidas como políticas públicas – direcionadas ao
tabelecimento de políticas públicas se insere a reali- legislação e diversas informações agropecuárias; versas linhas de crédito, as quais são divulgadas pelos
planejamento, financiamento, proteção da produção e
zação do Levantamento Censitário das Unidades de • capacitação técnica – divulgação de tecnologias órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento,
também comercialização dos produtos agrícolas.
Produção Agropecuária (LUPA), Levantamentos de sustentáveis, dos pontos de vista econômico, social e especialmente as Casas da Agricultura e os Escritórios
Safra e de Preços, ambos realizados em parceria com ambiental, mais adequadas aos produtores envolvi- As políticas públicas voltadas ao apoio do agricultor Regionais da CATI.
o Instituto de Economia Agrícola (IEA) pertencente dos nos diversos programas e projetos, por meio de com perfil familiar costumam ser bastante vantajosas,
à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios orientação, capacitação e execução técnica; podendo, por exemplo: possibilitar a proteção da De maneira semelhante ao Pronaf, para acesso
(Apta), e análises de projetos do Fundo Estadual de • avaliação de resultados – acompanhamento periódi- produção agrícola (por meio de seguro agrícola, aos recursos do Feap o produtor também deve pro-
Recursos Hídricos (Fehidro). co das ações desenvolvidas nos programas, com o ob- subvenção de seu prêmio e políticas de proteção de curar os técnicos das Casas da Agricultura, a fim de
jetivo de avaliar a consistência dos resultados obtidos, preços); facilitar o acesso a canais de comercialização verificar seu enquadramento e assim poder receber a
Como instrumento de melhoria da renda das orga-
garantindo seu encaminhamento; (por meio de programas de compras governamentais); Declaração de Aptidão ao Feap (DAF). Após essa eta-
nizações rurais e dos agricultores, a CATI desenvolve
• difusão de resultados – caracterizado por ações que oferecer oportunidades interessantes de financiamento pa, os técnicos da CATI irão elaborar gratuitamente
ações para o acesso às políticas públicas que incen-
permitem ao público envolvido nos programas e pro- da produção – em outras palavras, crédito rural. uma proposta de crédito que seja compatível com
tivam a comercialização da produção da agricultura
jetos e ao público externo, tomar conhecimento dos Em relação a esse último, as principais vantagens a produção agropecuária, para ser encaminhada ao
familiar como o Programa de Aquisição de Alimentos
resultados obtidos; encontradas entre as linhas de crédito disponíveis para agente financeiro.
(PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento
• acompanhamento técnico administrativo – os produtores conceituados como familiares estão juros
(Conab); o Programa Nacional de Alimentação Escolar As oportunidades de financiamento concentram-
ações de supervisão, acompanhamento, controle, a baixos e longos prazos para se pagar o empréstimo.
(PNAE), do Plano Nacional de Alimentação Escolar; e -se em três grandes programas do Feap: linhas de cré-
o Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social avaliação e desempenho nos diversos programas e O reconhecimento formal, pelo governo, dos
projetos. dito convencionais (entre as quais o Feap Aguapeí-
(PPAIS). Como grande incentivadora do acesso das produtores com o perfil “familiar” se dá pela análise de
Peixe, que abrange produtores rurais pertencentes
organizações rurais a essas políticas, a CATI auxilia na Para a implantação de sistemas verdadeiramente alguns fatores, tais como a quantidade de empregados
elaboração do projeto, planejamento da produção e contratados para trabalhar junto com a família, os aos 57 municípios paulistas que compõem a Bacia
sustentáveis e para que haja fortalecimento da agri- Hidrográfica Aguapeí-Peixe); Programa Pró-Trator,
da logística e na orientação para a qualidade dos pro- cultura familiar precisam ser desenvolvidas ações po- rendimentos provenientes da exploração da terra e a
dutos. proporção entre eles e a renda fora da propriedade. Programa Pró-Implemento e Integra SP (para recupe-
sitivas de cunho educativo, que envolvam os setores
Esses fatores podem ser mais ou menos restritivos, ração de áreas degradadas). As linhas convencionais
produtivos na busca de soluções
dos problemas. Além disso, devem dependendo da política pública que os considera, seja financiam os sistemas de produção a juros de 3% ao
ser viabilizadas estratégias que esti- em âmbito federal, estadual ou municipal. ano (que cai para 2,25% se não houver inadimplên-
mulem a organização rural, a quali- cia), com prazos de pagamento que variam de cinco
Programas de financiamento têm alavancado a
ficação das organizações e a mobili- agricultura familiar. Na esfera estadual tem-se o Fundo de
até 12 anos, dependendo das características defini-
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

zação da comunidade. Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), vide box. Na das em cada linha e das necessidades do empreen-
federal, existe o Programa Nacional de Fortalecimento dimento. Esse financiamento pode ser acessado para
A CATI entende que desenvolver
da Agricultura Familiar (Pronaf ), que para ser acessado, diversas culturas e empreendimentos, tais como:
ações em parceria com a pesquisa e
a defesa agropecuária, priorizando primeiro o produtor deve procurar os técnicos das Casas agricultura em ambiente protegido, agricultura or-
a família rural, é o caminho para o da Agricultura da CATI ou outros agentes habilitados gânica, apicultura, avicultura de corte, fruticultura,
desenvolvimento rural sustentável, a emitir Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Esses pecuária de leite, ovinocultura, apoio a pequenas
com a melhoria de renda e o padrão técnicos irão fazer uma análise de enquadramento, agroindústrias, pesca artesanal, piscicultura, cafeicul-
de qualidade de vida dos produto- levantando junto ao produtor as informações e critérios tura, pupunha, bubalinocultura, entre outras.
res, por meio de uma maior eficiên- que o caracterizem de fato como “agricultor familiar”.
Já os Programas Pró-Trator e Pró-Implemento pos-
cia econômica, com adequações ne- Após essa análise e eventuais visitas à propriedade
sibilitam o financiamento, por meio de outras linhas
cessárias ao manejo das atividades. rural explorada, os técnicos podem finalmente emitir
Entretanto, esse desenvolvimento o documento, que possibilita caminhar para o passo de crédito além das convencionais, de tratores e im-
será incompleto se não for levada seguinte: a elaboração de uma proposta de crédito plementos novos a juro zero. O empréstimo pode ser
em consideração a preservação do vinculada ao planejamento da produção agropecuária, amortizado em até seis anos, com carência de até três
Dia de Campo sobre Projeto CATI Leite
meio ambiente, a qual sempre foi a qual, inclusive, pode ser realizada pelos próprios anos, sendo que os juros são pagos pelo governo do
objetivo da instituição. técnicos da CATI, que são aptos para isto. Estado de São Paulo.
22 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬23

A seguir algumas linhas de crédito oferecidas por meio do Pronaf. Microbacias II: portas abertas para a
LINHA DE CRÉDITO
Pronaf
Custeio Tradicional
PÚBLICO
Agricultor familiar com
renda bruta anual de até
FINALIDADE
Atividades agropecuárias, flores-
tais e pesqueiras.
Seja em relação ao Feap ou ao
Pronaf, o valor financiável varia em agricultura familiar acessar o mercado
função das características de cada
R$ 360 mil. linha de crédito, assim como da
Pronaf Agricultor familiar com Atividades agropecuárias, flores- Cláudio Antônio Baptistella – Diretor da CATI Regional Araçatuba –baptistella@cati.sp.gov.br
proposta de financiamento e da
Mais Alimentos renda bruta anual de até tais e pesqueiras. capacidade de pagamento do pro-
R$ 360 mil. ponente. Para saber mais detalhes,
Pronaf Produtores familiares, Atividades que agreguem renda procure a Casa da Agricultura da
Agroindústria empreendimento familiar à produção e aos serviços desen- CATI.
rural – pessoa jurídica, volvidos pelos beneficiários do
cooperativas singulares e Pronaf.
centrais e associações. Mais informações:
Pronaf Floresta Todos os agricultores Implantação de projetos de www.cati.sp.gov.br
familiares beneficiários do sistemas agroflorestais, explora-
Pronaf. ção extrativista ecologicamente
sustentável, plano de manejo e
manejo florestal.
Pronaf Mulher Mulheres agricultoras, Investimento para atividades
independentemente do agropecuárias, turismo rural,
estado civil. artesanato e outras atividades no
meio rural, que sejam de interes-
se da mulher agricultora.
Pronaf Jovem Filhos de agricultores fami- Investimento para atividades
liares, maiores de 16 anos e agropecuárias, turismo rural,
com até 29 anos. artesanato e outras atividades no
meio rural.

Arquivo CA de Pirajuí
Pronaf Custeio Produtores(as) familiares, Custeio do beneficiamento, da
Agroindústrias empreendimento familiar industrialização e da comerciali-
Aquisição de colheitadeira de café pela Associação de Produtores Rurais da
Familiares e de rural – pessoa jurídica, zação da produção. Microbacia Hidrográfica do Rio Dourado de Pirajuí.
Comercialização cooperativas e associações

O
que desejam beneficiar ou
Estado de São Paulo vem desenvolvendo social da atividade rural. São beneficiários diretos do
industrializar a produção.
um conjunto de políticas públicas voltadas Projeto, as associações e cooperativas de produtores
Pronaf Agricultores familiares Integralização de cota-parte; apli- ao fortalecimento da agricultura paulista, rurais e comunidades tradicionais de povos indígenas
Cota-Parte filiados a cooperativas de cação em Custeio, Investimento e
em especial para os pequenos e médios produtores, e quilombolas envolvidos em atividades tipicamente
produção com os crité- capital de giro.
tendo em vista o reconhecimento da importância rurais agrícolas e não agrícolas. O Projeto tem como
rios: 60% deles com DAP;
patrimônio líquido mínimo
fundamental da agricultura familiar para o Estado, em meta beneficiar diretamente 22.000 famílias de agri-
de R$ 25 mil; 1 ano de termos de geração de emprego e receitas, e está em- cultores familiares integrantes de 300 organizações
funcionamento. preendendo esforços especiais para que as atividades de produtores rurais e grupos tradicionais de indíge-
Pronaf “B” Agricultores familiares com Investimento para atividades
agrícolas sejam potencialmente mais rentáveis e ga- nas e quilombolas.
renda bruta anual de até agropecuárias e não agropecu- rantam maiores e mais consistentes fluxos de renda.
É possível afirmar que o Projeto Microbacias II re-
R$ 20 mil. árias Um bom exemplo é o Projeto de Desenvolvimento presenta uma das mais importantes ações desenvol-
Pronaf Agricultores familiares Investimento para implantação Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso ao Mercado, vidas pelo governo estadual para o fortalecimento da
Agroecologia dos sistemas de produção agroe- do governo do Estado de São Paulo desenvolvido com agricultura familiar paulista. Trata-se de um projeto
cológicos e/ou orgânicos ousado e inovador na medida em que se propõe a
recursos próprios e também provenientes de Acordo
Pronaf ECO Agricultores familiares Miniusinas de biocombustíveis; de Empréstimo com o Banco Mundial. Executado apoiar associações e cooperativas de produtores ru-
Sustentabilidade geração de energia, tecnologias rais, para que obtenham uma participação mais efe-
Lilian Cerveira – Cecor/CATI

pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por


Ambiental ambientais; armazenamento tiva junto ao mercado, na busca de melhor renda e
hídrico; hidroenergia silvicultura;
meio da CATI, e coexecutado pela Secretaria do Meio
Ambiente, tem por objetivo aumentar a competitivi- condições de vida para suas famílias.
conservação, correção e
recuperação de solos. dade da agricultura familiar do Estado de São Paulo, O Projeto busca consolidar um novo perfil de agri-
favorecendo o acesso ao mercado e contribuindo si- cultor familiar empresarial, não isoladamente, mas
Fonte: www.mda.gov.br
multaneamente para a sustentabilidade ambiental e com grupos formais (associação, cooperativa, con-
24 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬25

Adamantina
domínio e outros) e informais, capaz de gerar
mais renda a partir da atividade rural e, prin-
cipalmente, de reduzir o êxodo rural da popu- Casa da Agricultura de
lação mais jovem, permitindo que passem a
participar do processo de gestão desses novos Políticas públicas incentivam a produção, a comercialização e garantem segurança alimentar
empreendimentos com suas famílias, criando
a perspectiva de que seja um bom negócio ser Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
agricultor e garantindo a sucessão da atividade
agropecuária dentro da família.


A união faz a força”. Ditado mais que sacramen-
É fato que se os pequenos e médios produ- tado, em Adamantina, município de pouco mais
tores têm muita dificuldade de se viabilizarem de 30 mil habitantes, ganhou novos ares na jun-
de forma isolada no ambiente competitivo den- ção de pilares que estão transformando o cenário agro-

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


tro da porteira, maiores ainda são as suas difi- pecuário: extensão rural, organização rural e políticas
culdades para acessar o mercado consumidor, públicas. Há cinco anos, os produtores, a maioria fami-
cada vez mais exigente. Portanto, o fortaleci- liar, se uniram em associações para fortalecer as cadeias Maurício Konrad,
produtivas e conter o êxodo rural na cidade, que nas- Geraldo César da
mento das associações e cooperativas de pro- Silva e Marlene

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


dutores rurais é igualmente fundamental para ceu com a expansão da colonização do Oeste Paulista
Rodrigues Pardo:
o acesso e a participação desse mercado, seja iniciada pela Companhia de Agricultura, Imigração e dedicação e
por garantir escala de produção, propiciando Colonização na década de 1930 e se expandiu na estei- compromisso
com os produtores integrantes das iniciativas de ne-
ra dos corredores abertos pela Companhia Paulista de fazem a diferença
o atendimento em quantidade e regularidade de for- gócio, e apoio técnico e financeiro a esses produtores; Estrada de Ferro para escoar a produção cafeeira, que no trabalho da
necimento, maiores possibilidades de agregação de e no acesso ao mercado, com o apoio às organizações dominava a região. equipe da CA.
valor ao produto, decorrente de classificação, padro- de produtores rurais na identificação de oportunida-
nização e processamento e na obtenção de custos de des de negócio, na elaboração de propostas de inicia- No centro dessas mudanças, a Casa da Agricultura
(CA) de Adamantina, pertencente à CATI Regional Após a crise vivida e a mudança de culturas, nos
produção competitivos. tivas de negócio (planos de negócio), visando agregar
Dracena e fundada na década de 1960, foi um instru- últimos anos, houve um grande incremento na pro-
O Projeto Microbacias II atua diretamente nesses valor à produção e acesso ao mercado e no apoio fi- mento de difusão de conhecimento e tecnologias, dução agrícola e no desenvolvimento dos produto-
dois ambientes: no processo de produção agropecu- nanceiro para cobrir parte dos investimentos necessá- bem como agente facilitador para o acesso dos produ- res, com melhorias significativas na renda e qualidade
ária, com a realização do diagnóstico e planejamento rios para a implantação do negócio proposto. tores às políticas públicas. Segundo Maurício Konrad, de vida. Informações da CA demonstram que o fator
pelas equipes das Casas da Agricultura, em conjunto Vale destacar que o Plano de Negócio, que para engenheiro agrônomo responsável pela Unidade, que principal para essa transformação foi o acesso às polí-
conta ainda com dois dedicados funcionários na área ticas de compras institucionais. “Esses programas têm
muitas dessas organizações é algo novo, tem contri-
administrativa, Marlene Rodrigues Pardo, agente de dado o suporte necessário para que os produtores
buído para valorizar o planejamento e, consequen- consigam melhorar a renda diversificando a produ-
apoio agropecuário, e Geraldo César da Silva, oficial de
temente, a profissionalização na tomada de decisão ção, bem como têm fortalecido o associativismo, por
apoio agropecuário, o objetivo da equipe é possibili-
quanto aos investimentos a serem feitos. tar um ambiente em que o produtor se sinta acolhido. meio da Associação Passiflora de Produtores Rurais
E pensando na sustentabilidade dessas organiza- “Nosso desejo é que ele veja a CA como local de apoio de Adamantina e Região (APPRAR) e a Associação dos
ções e dos seus negócios, avaliamos que igual ou mais e obtenção de conhecimento. Entendemos que nosso Produtores de Leite do Município de Adamantina e
amplo papel de facilitador do acesso às políticas públi- Região (Aplemar). Ambas participam ativamente do
importante que apoiá-las até a implantação das suas
cas e de difusor de conhecimento para o produtor saiba Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que, além
Iniciativas de Negócio, é acompanhá-las na etapa de de garantir renda para os associados possibilita ao
o que cultivar, adotando Boas Práticas Agropecuárias.
operação desses empreendimentos, com o objetivo Banco Municipal de Alimentos distribuir toneladas de
Além do trabalho direto com os produtores, temos
de diagnosticar eventuais dificuldades, especialmen- buscamos fortalecer as organizações rurais”. alimentos, frescos e saudáveis, para entidades assisten-
te relacionadas ao processo de gestão e, dessa forma, ciais”, explica Maurício, informando que as duas tam-
poder contribuir para seu aprimoramento e do seu Em Adamantina, a agropecuária é a base da econo- bém participam do Programa Nacional de Alimentação
negócio. mia, com dois tipos de atividades: a empresarial, com Escolar (Pnae), por meio do qual a prefeitura adquire
predomínio da cana-de-açúcar, e a agricultura familiar bebida láctea, queijos e leite da Aplemar, bem como
Certamente a sustentabilidade da atividade que está voltada para as pecuárias de leite e corte, fru- frutas e legumes da Associação Passiflora.
agropecuária nas pequenas e médias propriedades ticultura e olericultura. “A produção agrícola familiar
passa pela organização dos produtores e o Projeto é uma das bases da economia, ao lado dos empregos Além dos programas federais, para incentivar ain-
gerados pela Usina estabelecida aqui, a qual absorve da mais a agricultura familiar, Adamantina instituiu o
Microbacias II, ao mesmo tempo em que contribui di-
grande parte da produção de cana-de-açúcar. Nesse Programa Municipal de Agricultura de Interesse Social,
retamente para o fortalecimento dessas organizações, o Pmais, baseado no Programa Paulista da Agricultura
contexto, temos empreendido esforços para alavan-
está contribuindo para a criação de um contexto mui- car o desenvolvimento rural, para que os produtores de Interesse Social (PPAIS) instituído pelo governo es-
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

to fértil que demandará novas políticas visando forta- possam ter renda e se manter no campo, pois temos tadual, que visa à aquisição de alimentos da agricul-
Ampliação do Laticínio da Associação
lecer a agricultura familiar, as quais serão favorecidas grande tradição agropecuária na região, que já foi uma tura familiar por instituições públicas. “Este programa
dos Produtores de Leite do Município de pelo ambiente construído pelo Projeto, resultando, grande produtora de café, amendoim e algodão, mas prevê que 30% dos recursos da Prefeitura destinados
Adamantina e Região. portanto, num ciclo virtuoso que beneficiará toda a sofreu com o êxodo rural na época de crise dessas cul- à alimentação sejam investidos na agricultura familiar”,
sociedade. turas”, informa o prefeito Ivo F. dos Santos Junior. esclarece o agrônomo, acrescentando: “a importân-
26 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬27

cia das políticas públicas para o município podem ser dia. O apoio da leite aumentasse consideravelmente. Verificamos que Mas para o casal, a maior satisfação é ver que os
percebidas pelos números: em 2014 foram aplicados CATI tem sido de- as crianças estão consumindo cada dia mais vegetais, filhos José Carlos, 26, e Fernando, 24, apesar de for-
diretamente na agricultura familiar cerca de R$ 2,5 mi- cisivo desde então, o que se reflete na saúde. Com apoio de nossa nutri- mados, escolheram continuar na atividade agrícola e
lhões advindos do PAA, do Pnae e do Pmais”. Parte do pois além de apoio cionista temos realizado um trabalho com as famílias, investir seus conhecimentos na propriedade. “Com a
sucesso dos programas se deve a organização de um para estruturação, para que os bons hábitos adquiridos pelas crianças, renda melhorando temos a garantia de poder viver da-

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


calendário da produção familiar, que classifica os 53 fez um intenso tra- possam ser mantidos em casa, inclusive pelos adultos”, quilo que gostamos e dar continuidade a essa que é
itens disponibilizados ao longo do ano, para que haja balho técnico com explica Maria Neide Mantovani, diretora da Instituição. uma das profissões mais gratificantes do mundo”.
o melhor aproveitamento dos produtos de cada época. os produtores, por Sítio São Francisco
Segundo o presidente da APPRAR, Antonio meio do CATI Leite, Exemplos de produtores que participam das Nascido na área rural, o produtor José Gildomar
Manzano de Oliveira, as políticas públicas foram um projeto que resul- compras públicas Ziviani Testa, precisou se mudar para a cidade e de
divisor de águas para a associação. “Nosso quadro de tou em melhoria profissão, após um período de crise na atividade agrí-
associados era pequeno, não tínhamos sede e dificul- na qualidade e na cola. Há alguns anos, visualizando as mudanças que
quantidade de leite ofertado. Temos relato de pessoas Sítio Santa Maria
dades para desenvolver as atividades. Quando os téc- estavam ocorrendo na atividade agrícola local, tomou
que produziam 20 litros/dia e hoje passam de 100, após uma decisão: deixar o aluguel, reformar a casa no sítio
nicos da CA falaram do PAA, entendemos que era um
a adoção da metodologia”, ressalta Valmir Alcântara iniciado pelo avô e onde moram os seus pais e inves-
possibilidade de alavancar a associação que foi criada
Franco, diretor do laticínio e membro da diretoria tir na horticultura. “Muitos acharam loucura, dizendo:
em 2004, por um grupo de produtores de maracujá
da Aplemar, informando que atualmente a entidade “vai virar verdureira?”, conta bem-humorada a esposa
(por isso o nome passiflora) que buscavam melhorar a
tem um quadro de 45 associados; processa 3.500 li- Valdinéia, que trabalhava com decoração e não tinha
atividade. No começo foi difícil, os produtores não acre-
tros de leite/dia, dos quais 23 mil são pasteurizados e raízes no campo.
ditavam muito e com poucos recursos não tínhamos
o restante utilizado na fabricação de queijos e bebida
como divulgar de casa em casa; até que um técnico Passados quatro anos, a aposta se mostrou mais que
láctea, sob a marca leite Jóia, que por ser cadastrado
da CATI teve a ideia de ligar para cada um, solicitando acertada. Em uma área de dois hectares eles cultivam
no Sistema de Inspeção Municipal pode ser comercia-
que fossem até a CA verificar pendências. Com medo com tecnologia hortaliças, acerola e limão e comercia-
lizada no município. “Estamos trabalhando para obter
de algum problema, eles iam correndo, momento em lizam em mercados da região e no PAA. “Ganhamos em
o selo do Sistema de Inspeção Federal e, assim, ampliar
que eram informados sobre o programa”, conta bem qualidade de vida e renda. Procuramos a CATI e bus-
a nossa comercialização que hoje realizada de forma
-humorado o sr. Antonio. A partir daí, o cenário mudou direta na associação, em mercados, no PAA e no Pnae”. camos o máximo de informação, no que fomos muito
muito. Atualmente, são 330 associados (a maioria veio bem-atendidos e assessorados. Onde implantamos a
pelos bons resultados do PAA); a associação tem um Valmir, que também é produtor, salienta que no horta era um pasto e tínhamos dificuldade para acre-

Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI


gestor profissional; o projeto de processo de desenvolvimento da associação, as políti- ditar que poderia ser
2013 do PAA alcançou o patamar cas públicas tiveram. “Tanto no Pnae quanto no PAA, transformado, mas
de R$ 1 milhão e a entrega de 700 o valor pago é melhor que o de mercado, além de ser Família Marques: melhoria na renda O cuidado com a qualidade da produção
e qualidade de vida garantem a
com as orientações
toneladas; novos investimentos um recurso garantido. Hoje, a renda advinda desses demonstra amor à terra e à segurança
permanência da nova geração na técnicas hoje colhe- alimentar no Sítio São Francisco dos
foram feitos na área industrial da programas representa, 25% da receita da associação, mos inúmeras caixas
propriedade. produtores José Gildomar e Valdinéia Testa.
associação, para ampliar o setor mas foi uma alavanca para o crescimento”, informan- de alimentos. O in-
de processamento de polpa de do que, com a aprovação da Proposta de Negócio pelo

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


Na propriedade de 12 hectares, a família Marques centivo do técnico
frutas, que já tem marca: BioBem, Microbacias II, obtiveram R$ 700 mil que foram investi- para nos associar e
dos em ampliação e adequação do prédio, o que possi- cultiva frutas e pimenta dedo de moça. A casa avaran-
lembrando biodiversidade e dada adornada com cadeiras convidativas ao descan- participar do PAA foi
bem-estar. “Em 2013 começamos bilitou o aumento da produção. um divisor de águas,
so, mostra que ali têm pessoas que adoram a moradia
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

a entregar polpa de frutas na me- Alimentos do produtor direto para a nutrição de rural. “Há alguns anos tínhamos apenas café e milho e pois tem nos garanti-
renda escolar de Adamantina, crianças não estava dando para sobreviver. Eu morria de medo do uma renda certa, a
mas temos buscado novos mer- Na Instituição Solidária Carlos Pegoraro, que aten- de ter que morar na cidade, pois esse sítio vem desde qual podemos inves-
cados. Em breve, iremos implan- de 260 crianças de o meu bisavô. O técnico da Casa da Agricultura nos in- tir na propriedade”,
tar uma unidade de hortaliças 0 a 15 anos com centivou a mudar de atividade e participar do PAA por conta o casal, que faz
minimamente processadas, na atividades extracur- meio da associação. Foi uma grande mudança”, comen- questão de repassar
qual serão investidos mais de R$ riculares, o horário ta Waldomiro Ferreira Marques. os conceitos apren-
1 milhão, o que facilitará o trabalho das funcionárias do almoço é uma didos, abrindo a pro-
da merenda escolar e abrirará novos horizontes de co- festa. Crianças que Com uma produção que vem aumentando, tendo priedade para a rea-
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

mercialização. Construiremos um barracão, comprare- ficam em regime como carro-chefe a goiaba, a família teve um incre- lização de palestras e
mos equipamentos, câmara fria e um caminhão, com de creche e outras mento de renda e melhoria na qualidade de vida. “Eu Dias de Campo.
recursos do Projeto Microbacias II”, explica Antonio que alternam perí- nem acredito onde chegamos, parece um sonho. Nossa
Manzano de Oliveira, presidente da APPRAR, destacan- odos com a escola vida melhorou muito. Minha única ressalva é que eu Valdinéia, que na
do: “A CATI tem sido fundamental em todo o processo formal, se revezam gostaria de ter 40 anos para continuar trabalhando e escala de trabalho da
de desenvolvimento. no refeitório, onde a aproveitando essas coisas boas”, fala dona Fátima, de propriedade é a res-
refeição ganhou cores e sabores novos. No berçário, a 62 anos, contabilizando, com o esposo Waldomiro, as ponsável pela entrega das mercadorias, ainda acres-
Na pecuária leiteira, também foram conquistados alimentação com “procedência e RG” contribui para a conquistas que incluem reforma na casa, construção centa: “Costumamos dizer que não comercializamos
grandes avanços, a partir do fortalecimento do asso- nutrição saudável na primeira infância. “Há pouco mais de um barracão, aquisição de um trator e implemen- só verduras e frutas, mas amor agregado. É um prazer
ciativismo e da inclusão nas compras institucionais. de dois anos, fomos incluídos no Projeto de Doação tos, bem como de mais uma área, onde foi colocado conversar com as pessoas no mercado e ver como es-
“Fundamos a associação em 2003 e o laticínio em Simultânea da Prefeitura, realizado por meio do PAA. um pequeno rebanho de gado de corte. “É para fazer peram o nosso produto. Tenho muito orgulho de dizer
2005; começamos com processamento de 300 litros/ Isso fez com que a nossa oferta de frutas, verduras e uma poupança”, contam sorridentes. que somos produtores rurais”.
28 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬29

Sementes e mudas para a agricultura familiar: Mudas para a agricultura familiar e a extensão rural

uma questão de segurança alimentar


Emannuel Afonso de Souza Moraes – Diretor do Centro de Produção de Mudas (CPM/DSMM/CATI) – emannuel.moraes@cati.sp.gov.br

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por procura inicial de uma muda de qualidade pelo agri-
João Paulo Teixeira Whitaker - Diretor do Centro de Produção de Sementes do Departamento de Sementes Mudas e Matrizes
meio da CATI, realiza um amplo trabalho de extensão cultor desencadeia toda uma sistemática de ações são
(DSMM/CATI) - cps_ex@cati.sp.gov.br
rural e assistência técnica aos agricultores familiares do inúmeros, e, para citar apenas dois, destacam-se os
Estado de São Paulo e um dos instrumentos que con- realizados com organizações de produtores, como a

N
ão é recente a fato de serem de poliniza- tribui para realização desse trabalho é a produção de Associação Brasileira dos Produtores de Anonáceas e
preocupação ção aberta, ou seja, diferen- mudas realizada nos Núcleos de Produção de Mudas a Associação Paulista dos Produtores de Caqui, com as
mundial pela temente das híbridas, pos- da instituição. A muda é um insumo básico e sobre ela quais a Secretaria de Agricultura, por meio dos Núcleos
produção de alimentos suem maior diversidade recai a responsabilidade de sustentar um futuro po- de Produção de Mudas da CATI, participou ativamente
que possa atender nos- genética e maior rusticida- mar sadio e produtivo. No entanto, para atingir o nível de suas fundações e hoje verifica que elas se tornaram
so planeta, o qual soma de, têm alta capacidade de de uma produção sustentável, deve ser repassado aos grandes responsáveis pelo Produto Interno Bruto (PIB)
hoje mais de 6,8 bilhões enfrentar pragas, doenças
agricultores o conhecimento sobre vários fatores para o da fruticultura temperada do Estado de São Paulo.
de habitantes. Todos os e situações adversas de
dias, são 200 mil novas seca, ou de solos mal corri- bom andamento do plantio, tais como a adoção de prá-
As mudas disponibilizadas pela CATI são produzidas
Lilian Cerveira – Cecor/CATI

pessoas que chegam à gidos, o que garante ampla ticas conservacionistas de água e solo; o preparo inicial
com as mais modernas tecnologias e um exemplo é a
mesa para se alimentar, adaptação a diversas con- com atenção à escolha da melhor cultivar; o manejo das
produção de mudas de ameixa, única no Brasil, a qual
além disso, há suas ne- dições de solo e clima. mudas com nutrição equilibrada; a realização de podas
desde as plantas fornecedoras de material de propaga-
cessidades por energia, de produção e adoção de ações ligadas às Boas Práticas
Além disso, as semen- ção, passando pela produção de porta-enxertos, até a
vestuário, água, terra e Agrícolas da propriedade.
tes colhidas dos campos, muda finalizada, permanece em ambiente protegido
outros recursos naturais.
descendentes do tipo va- Os extensionistas da CATI, ao longo de anos de tra- com tela antiafídeo e piso concretado, garantindo ao
Segundo a Organização das Nações Unidas para a
riedade, podem ser guardadas e semeadas na safra balho, perceberam que o momento no qual o agricul- fruticultor familiar uma muda livre da Xylella fastidiosa
Agricultura e Alimentação (FAO), para que um terço
seguinte, se forem tomadas algumas precauções de tor procura a instituição para aquisição de mudas e Wells et al, causadora de escaldadura e fungos de solo.
a mais da população atual tenha alimentos no ano de
isolamento e armazenamento, pois as característi- sementes é um período ideal para identificar as suas
2050, a produção agrícola deverá aumentar em 70%, Outro exemplo é a muda de atemoia, que após anos
cas serão mantidas na próxima geração, garantindo necessidades. Ao se propor e realizar visita técnica à sua
por isso, a agricultura moderna deverá ser capaz de de exaustivos estudos de porta-enxertos e de adapta-
o sucesso da lavoura subsequente. Dessa forma, as
suprir essa demanda, de forma a aumentar a produti- propriedade para orientação do cultivo das mudas ad-
sementes do tipo variedade são as mais recomenda- ção das melhores cultivares para o Estado, culminou em
vidade de maneira sustentável, ou seja, preservando o quiridas, iniciava-se então o processo de orientação das
das para o sucesso da agricultura familiar, pois têm um sistema produtivo o qual a iniciativa privada ado-
meio ambiente. Portanto, somente com a introdução Boas Práticas Agrícolas daquela propriedade e identifi-
custo menor, que aliado aos menores gastos com tou como padrão de produção. Apesar do maior custo
de novas tecnologias a agricultura poderá garantir a cava-se também a comunidade onde aquela proprieda-
defensivos agrícolas, geram ótimos lucros para os agregado à produção da muda, o valor de comércio é o
segurança alimentar da população. de estava inserida e começava um trabalho coletivo por
agricultores. mesmo de uma muda comum encontrada no mercado,
A FAO celebra em 2014 o “Ano Internacional da meio de dias de campo.
Um exemplo de sucesso é o caso das sementes de isso com o objetivo de não repassar custos ao agricultor
Agricultura Familiar”, com o objetivo da inclusão dos
milho do tipo variedade, não transgênicas, que a CATI São inúmeros os exemplos desse trabalho de familiar, principal usuário das mudas produzidas pela
pequenos e médios produtores na discussão em tor-
produz e comercializa com enorme adaptabilidade às Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em que a Secretaria de Agricultura.
no do aumento da produção de alimentos no País e
mais diversas condições de solo e clima, além da alta
no mundo. A agricultura familiar é responsável pela A Fundação Itesp, o Instituto Nacional de Colonização
produtividade. São mais de 12 variedades de milho
produção de 70% dos alimentos que vão à mesa do e Reforma Agrária (Incra) e a Fundação Nacional do
lançadas pela CATI nos últimos anos, como o milho
brasileiro, mas, conforme dados da Confederação Índio (Funai), que também atuam como agentes de
branco, o milho pipoca e a primeira semente orgânica
Nacional da Agricultura, apenas 11% dos agricultores Ater junto aos agricultores familiares quilombolas e in-
de milho existente no Brasil, o “AL Avaré”. O agricultor
familiares têm acesso regular a insumos tecnológicos,
orgânico de milho agora tem acesso a uma semente dígenas, também utilizam, em ampla escala, as mudas
entre os principais destacam-se as sementes e mudas,
de alta qualidade que atende aos requisitos legais do produzidas pela CATI, por conta do custo de aquisição,
e é por isso que os projetos de pesquisa e extensão
sistema de produção orgânica, tecnologia de precei- da confiança e da credibilidade na qualidade e no prazo
rural devem voltar seus esforços para suprir essa de-
tos sustentáveis que promovem a biodiversidade na de entrega.
manda.
lavoura.
Dessa forma, a produção de mudas e sementes,
Sementes variedades produzidas pela CATI Além do milho, também já foram lançadas pela como insumos básicos nos quais devem estar embuti-
A CATI, por meio de seu Departamento de CATI sementes de outras espécies: feijão, girassol,
guandu, mamona, nabo forrageiro, painço, setária itá- das tecnologias que garantam qualidade genética, sani-
Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), cumpre com dade e padrão, são instrumentos utilizados com suces-
suas atribuições ao oferecer continuamente novas lica, sorgo e sorgo vassoura. O portfólio inclui ainda
sementes de arroz, aveia, cevada, trigo e triticale. so pela Secretaria de Agricultura na realização de seu
tecnologias, embutidas em sementes de diversas
espécies alimentícias e energéticas, cada vez mais trabalho de Ater.
As sementes do tipo variedade têm sido uma das

Arquivo DSMM/CATI
produtivas e tolerantes às adversidades. As varieda- tecnologias mais eficientes e duradouras na conquis-
des desenvolvidas pelo DSMM não são híbridas nem ta da produtividade e sustentabilidade das lavouras Os endereços dos Núcleos de Produção de Mudas e
transgênicas, sendo obtidas por métodos tradicionais dos agricultores familiares, pois promovem bons re- dos de Produção de Sementes estão disponíveis no
de melhoramento e contínua seleção genética. Pelo tornos econômicos e ambientais. site: www.cati.sp.gov.br
30 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬31

Agricultura familiar e segurança alimentar Produção familiar e


sustentabilidade da agricultura
Yara Maria Chagas de Carvalho – Pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios (Apta) – yacarvalho@iea.sp.gov.br

H
á 20 anos, instituições como a Food and estabelecimentos. A região de maior concentração é o
Agriculture Organization (FAO) das Nações Nordeste (37,48% e 89,13%, respectivamente) e a de me- Regina Aparecida Leite de Camargo – Professora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) – Faculdade de Ciências
Unidas, e a International Food Policy and nor é o Centro-Oeste (9,07% e 68,52%). A região Sudeste Agrárias e Veterinárias (FCAV) – Campus de Jaboticabal – regina@fcav.unesp.br
Research Institution (IFPRI), já enfatizavam que o proble- assume o quarto lugar com 23,58% e 75,92, sendo São Maristela Simões do Carmo – Professora da FCAV – Unesp – Campus de Botucatu – stella@fcav.unesp.br
ma da fome no mundo não estava relacionado à produ- Paulo o Estado com menor porcentagem (15,01% e
ção disponível, mas ao problema de distribuição, causa- 66,35%). Estudo feito para avaliar a importância econô-
do, principalmente, pela lógica econômica, socialmente mica da atividade primária e do agronegócio familiar, no
injusta. A preocupação com os efeitos sociais levaram final da década passada, demonstrou que São Paulo é, Sustentabilidade e desen-
estas e outras instituições, como o Banco Mundial, a bus- em geral, o segundo Estado em importância, embora volvimento podem parecer
car formas de fomentar políticas que tivessem como foco perca dois postos em relação à renda gerada na própria conceitos antagônicos se o
a questão social do desenvolvimento. A Via Campesina, agricultura. primeiro for pensado em ter-
representação mundial dos movimentos de agricultores mos de algo que permanece
Uma característica importante de São Paulo é o seu
familiares, declarou ser direito e dever de cada comuni- imutável ao longo do tempo
grau de urbanização. Em 2010, segundo os dados do
dade produzir seus próprios alimentos, e definiu a pro- e o segundo como implicando
Censo Demográfico, 84,35% da população brasileira re-
dução e distribuição de alimentos como parte inegociá- mudança ou, ainda, como a
sidia em área urbana contra 95,88% em São Paulo. No
vel da soberania de um povo. É neste contexto e sinergia
mesmo ano, estavam em São Paulo 20,40% das cidades retirada de todo invólucro que
que se desenvolvem, internacionalmente e no País, as
brasileiras com mais de 50 mil habitantes. Isto se traduz pode estar restringindo o cres-
políticas de agricultura familiar e segurança alimentar,
em mercado local para os agricultores familiares que vi- cimento. Segundo a Comissão
enfocando a importância de circuitos curtos, tanto para
vem próximos às cidades e, também, a possibilidade de Mundial sobre Meio Ambiente
a renda do agricultor como para melhoria nas condições
se desenvolver programas de agricultura para comple- e Desenvolvimento (CMMAD),
de distribuição e abastecimento.
mentação de renda, geração de emprego, ampliação da o desenvolvimento sustentá-
Associa-se a agricultura familiar a uma unidade de disponibilidade de alimento barato e melhoria nas con-
vel deve estar alicerçado em
produção agropecuária onde a família é dona dos meios dições de segurança alimentar. A produção para o mer-
de produção e do seu próprio trabalho. As decisões são cado local garante produtos frescos e saudáveis ao con- três eixos inter-relacionados:

Regina Aparecida Leite de Camargo


baseadas no bem-estar da família e o trabalho é organi- sumidor; reduz o uso e o custo energético e monetário econômico, social e ambiental.
zado pensando coletivamente, dentro e fora da unidade do transporte; valoriza a economia de escopo (diversifi- Como a agricultura familiar
produtora. Pode existir flexibilidade entre a produção cação de produtos) e não de escala, e a cultura alimentar pode proporcionar a junção
para consumo e a orientada para a venda. Procura limi- local e os produtos do ecossistema. de desenvolvimento e susten-
tar a compra dos meios de produção, produzindo-os di-
A agricultura urbana pode trazer, também, importan- tabilidade? A seguir, traçamos
retamente. Busca formas variadas e vantajosas de inser-
tes benefícios ambientais, mais especificamente com a um paralelo entre o que são
ção parcial no mercado. Utiliza o planejamento, a conta-
prática da agroecologia. A urbanização desordenada considerados aspectos fun-

U
bilidade e o aprender tecnológico. O ambiente social e
que caracteriza o Estado, expulsa a produção agríco- ma das lembranças que guardamos da in- damentais do desenvolvimento e da agricultura sus-
econômico em que se insere define a sua possibilidade
la e, se o agricultor for apoiado como um prestador de fância passada no sítio dos nossos avós é tentáveis e a prática de grande parte dos produtores
de resistir ao modo diferente de vida da sociedade mais
serviços ecossistêmicos na sua transição agroecológica a de ter sempre alguma fruta para colher familiares.
ampla, por isto é fundamental que sua reprodução ma-
e na multifuncionalidade da agricultura, prestará não
terial esteja inserida na vida em comunidade. do pé. Frutas que nosso avô gostava de enfileirar na Sustentabilidade econômica e agricultura familiar
somente o serviço de produção de alimento, mas con-
Para determinar a quem deve chegar os benefícios tribuirá com: qualidade do ar; microclima; proteção dos varanda, prontas para o consumo da família ou para
A produção familiar deve gerar renda para as famí-
da política, critérios mensuráveis são definidos. Assim, mananciais; preservação das áreas de risco; paisagem e presentear as muitas visitas.
lias e para a sociedade, ou seja, a produção deve abas-
a Lei Federal n.º 11.326/2006, alterada pela Lei n.º visitação; preservação de equipamentos turísticos e de Para falar da ligação entre agricultura familiar e tecer a família e gerar excedentes. Segundo o Censo
12.512/2011, e o Decreto n.º 6.040/2007 definem os pos- lazer; manutenção do museu vivo da cultura e recupera- produção sustentável é necessário retomar algumas Agropecuário de 2006, a agricultura familiar respon-
síveis beneficiários da política. Para cada política especí- ção da fertilidade do solo.
das características constituintes dessa categoria de de por cerca de 38% do Valor Bruto da Produção
fica: crédito, implantação de assentamento etc., critérios
Um programa estadual de agricultura familiar e se- produtores e entender como esses fatores criam a Agropecuária, embora ocupe apenas 24,3% da área
mais restritivos são definidos, refletindo a prioridade
gurança alimentar precisa considerar as experiências base para esta e outras discussões correlatas, como, agrícola total. Com certeza existem muitos produtores
dada ao segmento da agricultura familiar que se quer
que os municípios já vêm desenvolvendo, em termos de por exemplo, a da multifuncionalidade da agricultura. familiares que dependem de outras fontes de renda
atender.
fortalecimento dos mercados locais e de fomento à pro- O tripé formado pelo trabalho familiar, posse ou aces- para sobreviver, mas uma grande parcela vive da ren-
Utilizando a definição legal como filtro nos dados do dução dentro das cidades. Terá como efeito promover
so aos meios de produção e consumo é, na sociologia da gerada pela produção. A agricultura familiar está
Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro melhor distribuição de renda; inserção social; criação
de Geografia e Estatística (IBGE), pode-se quantificar de emprego digno de baixo custo; redução da violência; rural, parte da caracterização da produção familiar. É presente em praticamente todas as cadeias produti-
sua importância no País. Assim , com base nos dados de fortalecimento da estrutura familiar; saúde, pelo efeito na indissociabilidade entre trabalho e consumo que vas e se destaca naquelas que visam à produção de
2006, podemos dizer que a agricultura familiar no Brasil terapêutico da reintegração homem e natureza; e segu- encontramos a justificativa e o alicerce para a geral- gêneros alimentícios para o mercado interno, como é
ocupa 24,32% da área agrícola e representa 84,40% dos rança alimentar, com melhores padrões nutricionais. mente diversificada produção familiar. o caso da mandioca, do feijão, do leite e de suínos.
32 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬33

O aspecto social da agricultura familiar


Acreditamos ser possível afirmar que municípios
ções camponesas, quem melhor está equipado para
exercer esse papel, pois, além dos argumentos já ci- Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado
tados, ele geralmente vive e zela pelo ambiente local,
garantido aos agricultores familiares
que contam com grande contingente de produtores
familiares, via de regra possuem uma zona rural ha- participa ativamente de suas atividades sociais e mo-
bitada e mantenedora de tradições, com as festas co- vimenta a economia da região.
munitárias, de solidariedade e de caráter religioso em Apesar da grande diversidade encontrada entre os Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br
comemorações de santos padroeiros. Bairros e comu- produtores familiares, a associação comum entre pro-
nidades rurais podem ser vistos como sociedades de dução vegetal e animal, o trabalho em menor escala e

E
interconhecimento, marcadas por relações de paren- a comercialização localizada criam as condições para m 2000, uma nova maneira de trabalhar a
tesco e vizinhança, Além disso, a agricultura familiar é o desenvolvimento de uma agricultura ambiental- agricultura familiar passou a ser desenvolvida
a grande empregadora no meio rural, responsável por mente sustentável, mas que necessita de programas pela CATI, órgão responsável pela extensão
quase 75% dos empregos no campo. de políticas públicas de fácil acesso e estruturados rural no Estado de São Paulo. Foi quando teve início
A associação entre agricultura familiar e meio para esse fim. o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas
ambiente com o objetivo de reunir as comunidades para que
A maior parte dos produtores orgânicos e agroe- decisões sobre como atuar de forma sustentável e
Esta relação guarda as contradições inerentes à so- cológicos atualmente no Brasil é de base familiar. A associativa em torno de uma área geográfica deli-
brevivência de um segmento que foi historicamente produção agroecológica ou em processo de transi- mitada por microbacias fossem tomadas de maneira
relegado ao segundo plano, frente ao apoio destina- ção agroecológica está presente nos assentamentos participativa. Essa atuação dos técnicos das Casas da
do ao monocultivo exportador. Fazem parte dos que- rurais, nas comunidades quilombolas e entre os pro- Agricultura e Regionais CATI fortaleceu o associativis-
sitos da agricultura sustentável a biodiversidade, a dutores familiares em geral. A comercialização dessa mo, novos grupos foram formados em torno de obje-
integração entre produção vegetal e animal, a conser- produção em feiras municipais e outros pontos de tivos comuns, compras foram realizadas em conjunto,
vação dos recursos naturais, o cuidado com o solo e a venda do comércio local reforça os desejáveis circui- equipamentos foram compartilhados por famílias de
eficiência energética na produção e no transporte das agricultores familiares, poços artesianos comunitários
tos curtos de comercialização, diminuindo o desper-
mercadorias. Pesquisas de campo em comunidades levaram água onde faltava, técnicas de conservação
dício e os gastos com transporte. do solo foram disseminadas, nascentes foram prote-
quilombolas encontraram variedades de sementes e
Para o florescimento e a expansão de uma agri- gidas pela recuperação de matas ciliares, enfim, todo
mudas que são passadas de geração para geração há
cultura verdadeiramente sustentável, precisamos apoio foi dado para que os agricultores familiares pu-
mais de 200 anos. Pela interdependência entre produ- dessem produzir e se manter na atividade com sus-
ção e consumo, que caracteriza a produção familiar, superar o produtivismo e o imediatismo presentes
na denominada agricultura moderna, para recuperar tentabilidade econômica, social, cultural e ambiental.
mesmo nas propriedades mais tecnificadas e espe-
cializadas, é comum a existência de pelo menos um plenamente a noção de agricultura como a arte de “Na verdade, o que a CATI sempre fez foi trabalhar
pomar e uma horta no entorno da casa, principalmen- cultivar os campos, apoiada por uma sociedade que com prioridade para a agricultura familiar, dando su-
entende que a produção de alimentos não pode ser porte às principais cadeias produtivas do Estado de
te quando a família mora na propriedade. Por outro
saudável sem respeitar o ambiente e as pessoas que São Paulo e ainda hoje é o que fazemos. A novidade
lado, a escassez de recursos – naturais e financeiros –, ficou por conta da atuação participativa e do compro-
o tamanho diminuto de grande parte dos estabeleci- participam dessa produção. Por isso, é primordial que,
ao tratarmos da ecologização da agricultura, também metimento dos atores, com envolvimento de comu-
mentos familiares, a falta de informações e a herança nidade, prefeituras, conselhos municipais e regionais
da modernização forçada há apenas algumas décadas recuperemos a “condição camponesa” como referen-
de desenvolvimento rural e dos técnicos”, argumenta
podem levar a uma exploração excessiva do solo e a cial de análise da sustentabilidade da agricultura e do o coordenador da CATI, José Carlos Rossetti, que está
consequente diminuição de sua fertilidade. rural contemporâneo brasileiro. a frente da instituição há 10 anos, somando dois perí-

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


odos, mas que em três décadas como extensionista já
Na Europa, a Política Agrícola Comum (PAC) expli- passou por Casas da Agricultura e Regionais antes de
ca a manutenção de agricultores que, seja pelo tama- assumir a coordenação.
nho diminuto da exploração ou por sua localização
nas áreas mais remotas ou, ainda, pelo mesmo pelo O Microbacias II – Acesso ao Mercado foi mais um
tipo de atividade que exercem, não teriam razão de passo na direção de tornar os agricultores familiares
competitivos no mercado. Com o apoio oferecido às
existir em termos da produção agrícola, amparada as criadas pelo Programa Paulista da Agricultura de
principais cadeias produtivas e a disseminação das
pelo argumento da multifuncionalidade da agricultu- Interesse Social (PPAIS), Programa de Aquisição de
Boas Práticas Agropecuárias, por meio de capacita-
ra. Em linhas gerais, podemos dizer que o discurso da ções e dias de campo, o Microbacias II chegou com a Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação
multifuncionalidade da agricultura representa a par- Escolar (PNAE).
oferta de subsídio de até 70%, via Banco Mundial e te-
te que cabe aos agricultores familiares nas chamadas souro do Estado, para que associações e cooperativas A participação no Microbacias II é por meio de
“novas ruralidades”. Ou seja, da mesma forma que o apresentassem Propostas de Iniciativa de Negócios Chamadas Públicas e podem participar associações e
Roberta Lage – Cecor/CATI

rural não é mais visto apenas como local de atividade que facilitassem aos agricultores familiares conquistar cooperativas formalizadas há mais de um ano. A par-
agrícola, também dele espera-se a produção de bens novos nichos de mercado ou produzir com mais qua- tir de 2011 foram realizadas cinco Chamadas Públicas
como a paisagem, o meio ambiente preservado, os lidade visando novos mercados, ou ainda, que se tor- envolvendo várias Iniciativas de Negócio voltadas ao
serviços ecossistêmicos, as tradições culturais e assim nassem a estar aptos a atender as demandas criadas mercado. Até dezembro de 2014, a CATI aprovou 218
por diante. E é o produtor familiar, herdeiro de tradi- por políticas públicas de compra de alimentos, como Propostas de Iniciativa de Negócio, dessas 152 estão
34 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬35

Crédito Rural: linhas de financiamento


em andamento, em 121 municípios paulistas (alguns des tradicionais que também têm um perfil de uma
tiveram mais de uma Proposta aprovada). São proje- agricultura feita por famílias, caso dos assentamentos
tos nas áreas de olericultura, fruticultura, leite, cafei- e comunidades quilombolas e indígenas. Para aten-
cultura, mel, mandioca, citricultura, grãos entre ou- der esse público, foi indispensável a parceria com a
tros. Os relatórios mostram a diversidade de ativida-
des e produtos oriundos da agricultura familiar pau-
Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo e
com a Fundação Nacional do Índio.
têm transformado a realidade de agricultores
lista, porém, notadamente a olericultura, a fruticultura
e produção de leite demandaram maior número de
Propostas. Sem dúvida alguma, estas Propostas de
Além das Propostas de Iniciativa de Negócio em si,
os municípios que tiveram associações e cooperativas
familiares em Mariápolis
com Propostas aprovadas também podem usufruir
Negócios foram impulsionadas pelas citadas políticas
de outros benefícios como a readequação de trechos Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
públicas de compra de alimentos que deram origem a
críticos de estradas rurais para melhor escoar a pro-

H
um novo e promissor mercado o qual oferece retorno
dução e houve, também, a melhoria da infraestrutura á 30 anos, Esmeraldo Pereira de Souza aca- Wagner Dantas da Silva, engenheiro agrônomo da CA,
certo e, com isso, os agricultores familiares passaram
das Casas da Agricultura e Regionais CATI envolvidas. lentava o sonho de voltar às raízes rurais Esmeraldo Pereira de Sousa, produtor rural, e Carlos
a produzir mais e melhor para atender, de forma pro-
Em 2014 foram 24 municípios conveniados que pude- em Mariápolis, município de pouco mais de Alberto dos Santos, agente de apoio da CA: crédito
fissionalizada, estes e outros mercados, como feiras e
ram contar com a readequação de estradas, com re- quatro mil habitantes, localizado no Oeste Paulista, na rural transformou a vida de famílias em Mariápolis.
comércio local, com o excedente da produção.
passe de R$ 7,4 milhões e as prefeituras fecharam com região do Aguapeí-Peixe. O casal Aparecida e Devanir
“Por meio do Microbacias II, as associações e coo- mais 10% de contrapartida. Dessa forma, da produção Sinciarelli atuou como arrendatário por 25 anos, mas
perativas de produtores rurais estão viabilizando ne- à logística de entrega dos produtos, todo um círculo sempre com o desejo de comprar um pedaço de terra
gócios sustentáveis, com acesso a mercados com os se fechou garantindo a comercialização da produção. que pudesse chamar de seu e cultivar com toda a di-
quais não conseguiam comercializar, seja por falta de versidade, característica da agricultura familiar. O que
Este é o maior ganho da agricultura familiar pa-
informação, recursos financeiros ou de planejamento. os três têm em comum? Conseguiram realizar seus so-
trocinado pelo Projeto Microbacias II – Acesso ao
O Projeto tem permitido que todos esses gargalos se-

Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI


Mercado: poder atuar e competir em melhores condi- nhos, com muito trabalho, dedicação e crédito rural.
jam superados, proporcionando, a essas mais de 200
ções naquele que é o maior mercado consumidor do Há alguns anos, o governo do Estado instituiu en-
organizações apoiadas, a oportunidade de empreen-
País, o Estado de São Paulo. tre as linhas de financiamento do Fundo de Expansão
derem coletivamente negócios inova-
dores e de forma planejada. As asso- do Agronegócio Paulista, o Feap, uma específica para
ciações e cooperativas estão se forta- a região do Aguapeí-Peixe, área que abrange municí-
lecendo e abrindo novas perspectivas pios da região oeste, ao longo do curso d’água. Por
para a agricultura familiar paulista, meio dela, os produtores, principalmente os familia- mentadas durante a execução do Programa Estadual
com geração de emprego e renda, res, podem obter crédito para investir em qualquer de Microbacias Hidrográficas. Com isso, verificamos o
estímulo ao desenvolvimento local área da propriedade. Com essa disponibilidade de que deveria ser mudado ou não na propriedade”, ob-
e regional e, talvez o ponto mais im- crédito, os técnicos da Casa da Agricultura (CA) visua- serva Wagner, informando que o Programa Nacional
portante, criando organizações par- lizaram a oportunidade de aliar desenvolvimento ru- de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf )
ticipativas, proativas e sustentáveis”, ral com mais qualidade de vida para os produtores lo- também foi muito acessado. “Por meio dele, os produ-
ressalta o gerente técnico do Projeto cais, responsáveis pela base da economia municipal. tores adquiriram veículos utilitários e equipamentos”.
Microbacias II, engenheiro agrônomo “Entendemos o crédito como um agente de desen-

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


volvimento econômico e social e uma política agríco- Além do crédito rural, a difusão de conhecimen-
João Brunelli Junior. to e novas tecnologias tem sido instrumento de de-
la que fornece recursos necessários ao suprimento de
Fazendo um balanço geral, na capital do produtor, para que ele exerça o seu ofício senvolvimento local, nas 600 Unidades de Produção
primeira Chamada Pública, em se- em condições adequadas, que permitam a sua per- Agropecuária, cujas principais atividades são fruticul-
tembro de 2012, foram aprovadas 33 manência na área rural. Um dos créditos que resultou tura, olericultura e bovinoculturas de corte e leite. “Em
Propostas de Iniciativa de Negócios; em grande desenvolvimento para o município foi o 2013 fizemos um ciclo de palestras, com o objetivo de
36 na segunda Chamada, em junho Feap Aguapeí-Peixe. Com três anos de carência e mais divulgar políticas públicas para o setor, como as de
de 2013; 35 na terceira, em novem- quatro para pagamento, taxa de juro inferior a 3% ao compras institucionais que têm trazido segurança e
bro de 2013; 52 na quarta, em agosto ano e valores de até R$ 200 mil, essa linha tem pos- incentivado o crescimento da produção local de ali-
de 2014, e na quinta foram apresen- sibilitado aos produtores condições para gerir o seu mentos. Buscamos, também, levar aos produtores as
tadas 71 Propostas, com previsão de aprovação de negócio”, explica Wagner Dantas da Silva, engenheiro novidades técnicas e os melhores caminhos para sua
66 até dezembro de 2014. Trata-se de um número agrônomo responsável pela Casa da Agricultura, per- inserção no mercado”, ressalta Wagner, destacando
crescente à medida que o Projeto Microbacias vai tencente à CATI Regional Dracena. que, para realizar o trabalho conta com uma equipe
sendo divulgado pelos próprios agricultores fami- dedicada, formada por um agente de apoio agrope-
liares e as organizações de produtores que ainda Em Mariápolis, 110 produtores acessaram essa li- cuário, Carlos Alberto dos Santos, e um auxiliar de
não atingiram o limite de apoio de R$ 800 mil por nha nos últimos três anos, movimentando mais de R$ apoio agropecuário, Laérdio Botan, que trabalham
entidade, voltam a apresentar nova Proposta que 2,7 milhões, que trouxeram benefícios diretos para as na CA há mais de 30 anos “e conhecem todo mundo”.
complemente a anterior ou que atenda nova cadeia famílias e indiretos para a economia local. “Para que Outro ponto incentivado pelo técnico é a organização
o crédito fosse liberado de acordo com o potencial e
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

produtiva dentro da mesma organização. rural.


a necessidade de cada família, fizemos um trabalho
Nesta segunda fase, o Projeto Microbacias es- conjunto de análise da sua realidade, por meio da re- Segundo o agrônomo, ver que as famílias rurais
tendeu sua atuação para beneficiar não apenas os alização de Projetos Integrais de Propriedade (PIPs) têm cada dia mais qualidade de vida e renda para se
agricultores familiares, mas também as comunida- e diagnósticos participativos, metodologias imple- manter na atividade, fomenta o trabalho de extensão.
36 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬37

Arroz e feijão: quem resiste a essa mistura


“O objetivo do nosso trabalho é, e sempre será, o pro- Olhávamos a área e sonhávamos com o dia que terí-
dutor rural; temos como lema, que ele não pode sair amos a nossa. Com muito esforço e trabalho fizemos
da CA sem resposta. Como extensionistas, o nosso pa- uma pequena poupança e com apoio dos técnicos
pel é de facilitador do desenvolvimento. Na área de adquirimos um pequeno trator pelo Pronaf. Há alguns
crédito temos colocado isso em prática: facilitamos o
acesso às linhas de forma responsável, para eles cres-
anos, surgiu a oportunidade de compra dessa área.
Vendemos o trator e investimos tudo. Como no local
nutritiva tipicamente brasileira?
çam e tenham autonomia, não ficando dependentes só havia pastagem degradada e nem cerca tinha, con- Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br
do crédito para sempre”, avalia Wagner. versamos com o técnico que fez um planejamento do
Sítio Santa Rosa local com a gente. Ele nos falou do crédito do Feap, fez
o projeto e obtivemos os recursos”.
Logo na entrada do sítio Santa Rosa, do produtor
Esmeraldo, o esmero da paisagem chama atenção. A Hoje o que se vê no sítio é uma área bem cuidada,
área foi toda cercada, o derredor da casa tem um cui- cuja produção é comercializada na região, na meren-
dado especial com diversas árvores, mas o centro das da escolar e também na Companhia de Entrepostos

Lilian Cerveira – Cecor/CATI

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


atenções é mesmo a pastagem que, mesmo em uma Gerais de São Paulo (Ceagesp). Os produtores são
atípica época de seca, cresce verde. muito organizados e participam da associação de
Mariápolis e também de uma no município vizinho,
Depois de anos trabalhando em Campinas, para Adamantina. “Ninguém consegue trabalhar e se man-
onde se mudou na década de 1980 em um êxodo ru- ter no sozinho no mercado. Você pode até produzir
ral que levou muitas famílias da região a deixar o cam- bem, mas a organização ajuda para acessar as políti-

O
po, o produtor conseguiu fazer economias e adquiriu, cas públicas e melhorar a comercialização, entre ou- arroz com feijão durante anos foi a base com as dificuldades e participam efetivamente para
dos irmãos, as terras deixadas pelo pai e comprar mais tras coisas”, diz dona Cida, com a confirmação de seu da alimentação brasileira, porém, nos úl- encontrar soluções juntamente com os rizicultores. A
uma pequena área, o que hoje garante 23 hectares Devanir, que chegou do campo, onde estava colhen- timos tempos, essa alimentação vem sen- maioria trabalha em sistema familiar e, para reduzir os
para a agropecuária. “Trabalhei muito na cidade e gra- do pimentas. do incrementada com legumes, verduras, ovos, leite impactos da cultura que tem alto custo de produção,
ças a Deus pude fazer uma poupança, mas sempre tive
Com o aumento da profissionalização da produção e carne em maiores quantidades. O Estado de São foi formada, há 30 anos, a Cooperativa dos Produtores
o sonho de voltar. Quando saí, eram tempos difícieis.
e da renda, o filho do casal, que nasceu no sítio, mas Paulo produz toda essa diversificada, nutritiva e sa- de Arroz do Vale do Paraíba (Coopavalpa), hoje com 70
Não tínhamos apoio, nem crédito e técnicos para nos
passou um período trabalhando na cidade, assumiu borosa alimentação e os grandes responsáveis são os cooperados. Já foram mais de 200, quem ficou na ati-
transmitir conhecimento. O que me trouxe de volta
o trabalho com os pais, e da área rural não pretende agricultores familiares. Isso acontece no Brasil todo e, vidade comprou novas áreas, arrendou de outros, au-
foi o incentivo das pessoas, principalmente dos técni-
sair jamais. “Aqui temos qualidade de vida. O trabalho em São Paulo, soma-se o fato de o Estado ser o maior mentou a produtividade. “Guaratinguetá tem a maior
cos da CATI”, relata o produtor, contando que em seu
é grande, mas os resultados nos enche de orgulho”. consumidor de produtos, dos básicos aos diferencia- produtividade do Estado, chegando a 10 toneladas de
retorno (em 2013), acessou o Feap Aguapeí-Peixe e o
Para o futuro, a família pretende continuar na lida ru- dos. Para que o agricultor familiar tenha apoio e assis- arroz por hectare”, conta Vinicius Nascimento, porém,
Pronaf, por meio dos quais, respectivamente, investiu
ral. “Para nós, o trabalho de agricultor familiar é como tência nestas ações, tem sido fundamental a atuação todo o arroz produzido no Vale do Paraíba não aten-
na pecuária de corte – aquisição de matrizes, novilhas,
uma missão. Saber que das nossas mãos saem alimen- dos órgãos governamentais de pesquisa (Agência de à demanda do maior mercado consumidor do País,
construção de currais e cerca, e na aquisição de um
tos que chegam à mesa das pessoas e nas escolas é Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta, res- o Estado de São Paulo, que ainda precisa comprar ar-
veículo utilitário. “Trabalho com engorda e tudo o que
maravilhoso. Eu amo a terra e tudo que dela vem”, fala ponsável pelos institutos de pesquisa) e extensão (via roz de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, os dois
entra de recurso, reinvisto na propriedade. Desde que
emocionada dona Cida, que temporariamente está Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI maiores produtores brasileiros.
voltei, a pouco mais de um ano, até a saúde melhorou.
afastada do trabalho no campo, por conta de um pro- e Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo
Hoje temos perspectivas no campo, com o fácil acesso Nos estados sulistas, a pesquisa trabalha desen-
blema de saúde, mas com os olhos atentos nos ho- – Itesp). Essas ações, somadas às políticas públicas de
ao crédito e ao conhecimento. Os técnicos são uma volvendo cultivares cada vez mais produtivos. Quem
mens da casa para que tudo seja feito com o cuidado compra de alimentos, vêm impulsionando as cadeias
mão estendida para a gente, sempre nos animando fala sobre isso com propriedade é o diretor do Núcleo
de sempre. produtivas e dando oportunidade de o agricultor fa-
e incentivando, e também direcionando para o me- de Produção de Sementes (NPS) de Taubaté, Glênio
miliar ter acesso aos vários canais de comercialização.
lhor caminho. O trabalhando árduo, mas vale a pena e Wilson de Campos: “órgãos como a Embrapa (Empresa
agora dá para sobreviver bem na área rural.” Nas terras baixas do Vale do Paraíba o cultivo do ar- Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Epagri (Empresa
Sítio Santa Margarida roz tem atravessado gerações. Os primeiros imigrantes de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
chegaram há mais de 100 anos. Algumas dessas famí- Catarina) não são concorrentes, mas parceiros. Coube
Logo na entrada da propriedade da família lias, como os austríacos Kodel, já estão na quinta gera- à CATI desenvolver trabalhos de Zoneamento Agrícola
Sinciarelli, somos recebidos por um rapaz sorridente, ção, são agricultores que labutam no arrozal encharca- de Risco Climático, que regularizaram os materiais uti-
Eduardo, e sua mãe Aparecida, que nos envolve em do pelas águas do Ribeirão Piagui, afluente do Paraíba lizados pelos produtores, possibilitando o uso de crédi-
forte abraço, demonstrando a hospitalidade caracte- do Sul. “Este é o último polder em funcionamento no to e seguro rural. E coube ao NPS de Taubaté, unidade
rística dos moradores do meio rural. A casa aconche- Vale, um sistema de represa, diques e canais de irriga- do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da
gante e o suco gelado de goiaba (colhida diretamente ção”, explica o engenheiro agrônomo da CATI Regional CATI, testar e reproduzir as sementes mais adaptadas
do pomar) é um convite para deixar o calor de quase Guaratinguetá, Vinícius Sampaio do Nascimento. “Não às condições paulistas. Hoje, temos sementes Epagri
40 graus do lado de fora.
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

se trata de várzea, a terra é alagada artificialmente. O 109 à disposição do produtor. “Sempre acreditei que
Ao redor da mesa, dona Cida, como é conheci- sistema foi uma maneira de aperfeiçoar as condições as sementes produzidas pelo Estado, com baixo cus-
da, nos relata a história de superação da família. Na das terras com aptidão para a rizicultura”, complemen- to para o produtor, são uma ferramenta de extensão
área de poucos hectares, os produtores cultivam fru- ta Jovino Paulo Ferreira Neto, diretor da CATI Regional rural”, afirma o técnico. Glênio convive com os produ-
tas, tendo a goiaba como carro-chefe, pimenta, têm Guaratinguetá. tores da região há mais de 30 anos, tendo atuado tam-
criação de suínos e uma pequena granja. “Depois As CATI Regionais instaladas no Vale do Paraíba, bém à frente de Casas da Agricultura e Regionais, e nas
de anos como arrendatários, viemos trabalhar aqui. Família Sinciarelli: "ser agricultor familiar é uma missão" duas últimas décadas na direção do NPS de Taubaté.
como Guaratinguetá e Pindamonhangaba, convivem
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No caso do arroz, houve uma mudança de foco. O com o Projeto Microbacias II, vamos eliminar a tercei-
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que antes rização no beneficiamento e negociar os preços pa-
desenvolvia novas cultivares, passou a investir no mer- gos ao produtor; por enquanto estamos ganhando na
cado de arroz especial, como o arroz preto e varieda- quantidade e tendo nossa marca Raízes da Terra reco-
des específicas para o preparo de risotos. A ideia era nhecida”, explica José Aparecido Ramos, Zezinho, re-
oferecer alternativas de renda e, para isso, os pesquisa- lações públicas da Coopava. O cultivo de feijão é uma
dores do IAC contataram um reconhecido chef do se- atividade de risco por ser uma cultura de ciclo curto,
tor de gastronomia para atuar em parceria. Hoje, exis- 90 dias no máximo, isso traz vantagens, pelo retorno
tem no Vale do Paraíba 14 produtores de arroz especial mais rápido, e desvantagens, como a possibilidade de
produzindo para uma mesma empresa que tem marca perda de todo um ciclo, é a opinião do casal Sérgio e
reconhecida e respeitada por grandes chefs. “Mesmo Cleide Almeida que optaram pelo “carioca bola cheia,
o arroz comum se igualou em qualidade às melhores um grão bem clarinho e que dá bom caldo”. O casal

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


marcas de empresas sulistas que têm procurado arroz cultiva e vende de forma individual embora sejam as-
na região”, ressalta Glênio. sentados da Pirituba – Área 1 e cooperados da Coapri
e só reclamam da falta de opções “Variedades de fei-
De toda forma, o preferido pelos rizicultores é o ar-
jão, como “jalo”, “cariocão”, “rosinha” e até o “feijão de
roz agulhinha tipo 1, de maior consumo no País e com
corda” são considerados antigos e muito difíceis de

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


mercado certo. Este é o caso da família Kodel, o patriar-
produtores passaram a ter as mesmas chances dos encontrar, mas eu tenho saudade destes sabores”, diz
ca Francisco Kodel, que dá nome à estrada municipal
grandes na negociação. Sérgio Almeida.
que corta a Colônia do Piagui, chegou ao Brasil em
1893, era ferramenteiro, mas tornaram-se rizicultores. Com o prato cheio de arroz, os produtores paulistas
Rodolfo Kodel e os filhos costumam passar os finais e também estão voltando a cultivar feijão. Os primeiros a
inícios de ano em cima de colheitadeiras. São 90ha de aderirem aos novos plantios em maior escala foram os
plantio, 12ha próprios, outros 21ha do pai, o restante Família Kodel: quinta geração de agricultores familiares
agricultores familiares dos assentamentos da Fazenda
é arrendado, deixando a margem de lucro pequena Pirituba, um dos mais antigos do Estado de São
para a família. Quase ao lado, ficam os 9ha do primo alternativas para o arroz de sequeiro. “Estamos incenti- Paulo, localizado em Itapeva. O Projeto Microbacias
Wilson Diego Kodel, que destinou 5ha para plantio de vando o cultivo do arroz de sequeiro, à exemplo do Rio II – Acesso ao Mercado veio auxiliar via uma Proposta
arroz e 2,5ha para jiló, berinjela, abobrinha, quiabo, Grande do Sul”, diz Vinicius. O diretor da CATI, Jovino de Iniciativa de Negócio de mais de 1 milhão de reais,
vagem, que repassa para os feirantes locais; a horta Paulo, concorda que a escassez de água afeta os rizi-

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


envolvendo 52 associados. Como o teto de subsídio
acaba financiando o arroz que leva seis meses para ser cultores do Vale. “Temos 1.800ha de cultivo na Colônia do governo do Estado, somado ao do Banco Mundial
colhido, mas é indispensável na economia da família. do Piagui e a água atende a metade dessa área”. Para é de R$ 800 mil, os produtores da Cooperativa de
auxiliar os agricultores familiares da Coopavalpa, Produção Agropecuária Vó Aparecida (Copava) do
além de alternativas, a CATI levou ao grupo o Projeto Assentamento Pirituba 2 – Gleba 3, estão requerendo
Microbacias II – Acesso ao Mercado e 17 produtores, um financiamento junto ao Fundo de Expansão do
sendo 12 familiares, apresentaram uma Proposta de Agronegócio Paulista (Feap) para a construção de dois Aranha da Coapri e Zezinho da Coopava se uniram para fornecer
Iniciativa de Negócio. A instalação do Laboratório silos para armazenagem de 80 mil sacos de grãos de feijão para a merenda escolar.
Móvel de Análise de Qualidade de Sementes e Grãos feijão, compra de secador, máquina de pré-limpeza,
de Arroz foi aprovada e, inaugurado em novembro embaladora, balança rodoviária e, ao lado, uma fábrica A CATI comercializa sementes de feijão e o Núcleo
de 2014, está rodan- de ração para aproveitamento dos resíduos. de Produção que mais se destaca é o de Fernandópolis,

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


do as propriedades. que tem à disposição dos produtores as cultivares
Lilian Cerveira – Cecor/CATI

Wilson Kodel: "está faltando A Coopava foi a primeira cooperativa de assentados


O responsável téc- família na gricultura familiar." Pérola e BRS-Estilo, ambas da Embrapa e multiplicadas
nico pela unidade a fornecer feijão beneficiado ao Programa Paulista da pelo Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes
móvel é o engenhei- Agricultura de Interesse Social (PPAIS) e também para da CATI. Produtores de Cardoso, Orlândia e Paulo de
ro agrônomo da o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Faria, municípios paulistas conhecidos pela produção
Cooperativa, Rodrigo Em 2014, foram entregues 5,4 toneladas de feijão via de feijão de sequeiro, dão preferência a estas, já adap-
Oliveira Manckel PPAIS e 220ha já estão plantados para atender aos tadas à região, mas mais recentemente o Instituto
Amadei: “sem o novos contratos para 2015, como o já firmado com a Agronômico lançou as variedades IAC-Milênio e IAC-
“Tem dinheiro e trabalho empregados nestas terras e, Prefeitura de São Paulo para a merenda escolar. “Serão
apesar de eu ser o menor da turma (de rizicultores), Laboratório, os pro- Imperador. O importante é que em São Paulo o arroz
dutores ficavam na 520 toneladas, 260 para cada Cooperativa (a Coopava com feijão, as
procuro ter qualidade. É difícil porque está faltando fa- tem parceria com a Cooperativa dos Assentados da
mão das beneficia- olerícolas diver-
mília na agricultura familiar, os jovens já não querem Reforma Agrária e Pequenos Produtores de Itapeva e
doras e tinham que sas, as carnes,
ficar no campo”, diz preocupado com a próxima gera- Região (Coapri) para atender à demanda) e também
aceitar o preço im- frutas, o leite e
ção dos Kodel. temos outro contrato para entregar feijão preto para a
posto por elas, agora derivados, tudo
O arroz pré-germinado apresenta maior problema eles têm certeza da Prefeitura de Guarulhos”, conta o presidente da Coapri, que é produzido
em relação aos fungos, como a bruzone, acentua o des- qualidade dos grãos Sebastião Aranha. A demanda aumentou de cinco principalmente
gaste das máquinas na operação de plantio, exige in- e do valor que pode anos para cá devido aos programas governamentais pela agricultu-
vestimento alto em maquinários e, somado a isso, uma ser pago, com isso de compra de alimentos. Com isso, o investimento ra familiar, têm
quantidade de água que já não está disponível, existe chegam a lucrar de 8 precisa ser maior, assim como a produção e a qualida- mercado. Faça
uma preocupação dos técnicos da CATI em apresentar a 15%”, os pequenos de. “Transformamos áreas de soja em áreas de feijão e, seu prato!
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Ribeirão Grande: política pública como Para Márcio Ferreira, presidente da Cooperativa
dos Produtores Rurais de Ribeirão Grande, o progra-
ma é uma “via de mão dupla”, pois as transformações
adora o sítio e agora pode ter esperanças de continu-
ar trabalhando aqui e ter uma vida melhor”.
O casal Flávio e Maria Conceição de Souza pro-
instrumento de transformação social também acontecem no campo. “Com o PAA o pro-
dutor tem um recurso a mais para investir na pro-
priedade e, consequentemente, na sua qualidade de
duz cebola, pepino, feijões de corda e carioquinha,
bem como frutas em uma área de 1,5 hectare. Desde
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br 2008, eles entregam no PAA e também no Programa
vida. Muitos conseguiram reformar sua casa, adquirir
Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, e estão con-
veículos, investir em lazer, planos de saúde, entre ou-
seguindo sobreviver da atividade agrícola. “Antes des-
tras coisas. Com as notas das entregas dos produtos


Ser agricultor familiar é gratificante; é sagra- ceu a partir da organização dos produtores, o que fa- ses programas, passávamos por muitas dificuldades.
via cooperativa, alguns também estão conseguindo
do. É ter uma missão, por saber que das nos- voreceu a participação deles nas políticas públicas de A Cooperativa estava parada e até pensei em desistir
comprovar de forma mais fácil o trabalho rural, visan-
sas mãos são semeados alimentos para as pes- compras institucionais, principalmente o Programa do sítio. Quando formamos o grupo do PAA, tivemos
do à aposentadoria”.
soas. Nasci na roça e aqui é o meu paraíso. Semear, de Aquisição de Alimentos (PAA), que trouxe mais se- que entregar os produtos por outra cooperativa da
Histórias de superação região. Com o crescimento das entregas, a melhoria
colher embalar, entregar... é um orgulho ser mulher gurança para as famílias envolvidas, que agora con-
e produtora rural”. Esses são fragmentos de entrevis- tam com uma renda garantida. Hoje, alguns produto- O casal Benedito e Maria das Dores Mendes tem da renda e o apoio da técnica da CA, conseguimos re-
tas de agricultores familiares, que trazem no rosto e res também comercializam em feiras, mercados e até uma história familiar com a agricultura que já está na estruturar a nossa cooperativa e nos unir mais, o que
nas mãos as marcas do trabalho árduo e, na boca, o na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de terceira geração. Há cerca de 10 anos, uma equipe de com certeza fará com que a gente cresça, pois sozinho
sorriso de quem está em paz, podendo sobreviver da São Paulo (Ceagesp), na capital. É um ganho e tanto, comunicação da CATI visitou a propriedade de cerca e sem as políticas públicas é muito difícil para o pro-
sua profissão, descansando na grandiosidade de seu para pessoas que até pouco tempo, precisavam ou de 4 hectares, para fazer uma matéria sobre a insta- dutor familiar se manter na atividade”.
trabalho, responsável por levar alimentos à mesa das viam seus filhos deixar a propriedade e ir em busca de lação de fossas sépticas e constatou o grande traba- No Sítio Tapera do Souto, Arlindo Rodrigues e
pessoas. trabalho na cidade”, conta emocionada Raquel, rela- lho dos produtores, mas o pouco retorno financeiro, Adriana Maria Rodrigues de Oliveira cultivam toma-
tando que atualmente o grupo do PAA conta com 59 que fez com que cinco dos seis filhos fossem trabalhar te, vagem, milho, acelga, couve-flor e com muito
Os depoimentos foram colhidos (e vivenciados) na cidade. Nesse retorno em 2014, encontramos um
produtores, que entregam mais de 40 itens, totalizan- trabalho e dedicação conduzem as culturas em uma
em Ribeirão Grande, município de oito mil habitantes, casal feliz com o avanço conquistado e o filho Lucas,
do cerca de 15 toneladas de alimentos por mês. “Nas área de cerca de 9 hectares, comercializando no PAA
encravado entre montanhas e rodeado por porções de apenas 17 anos, empenhado na lida diária do sítio,
primeiras reuniões de divulgação do PAA em 2008, tí- e também na Ceagesp. “Muitos produtores da região
remanescentes da Mata Atlântica. Com uma popula- que tem como principais atividades fruticultura e ole-
midos, eles pouco falavam. Hoje, é preciso organizar, que vendem na Ceagesp, atuam como mão de obra
ção essencialmente rural, tem na agricultura sua base ricultura. “É uma alegria poder viver do nosso trabalho
caso contrário, falam todos ao mesmo tempo. É grati- para os donos de box, que investem adubo e semente,
econômica. Apesar disso, a atividade dos produtores, e saber que ele contribui para que as pessoas tenham
ficante ver o brilho nos olhos, a segurança; ver que o e determinam o preço que será pago. Nós investimos
dos quais mais de 90% familiares, durante muitos alimentos saudáveis. Nascemos na roça e aqui é o nos-
valor pessoal foi resgatado junto com o da produção”. nossos recursos e fazemos o nosso preço. A comercia-
anos foi considerada de subsistência. De acordo com so paraíso, e agora com uma renda melhor e a garan-
Em Ribeirão Grande, o PAA além de instrumento lização com o PAA é pequena, mas a renda garantida
Raquel Regina Scudeller Silva, extensionista da Casa tia de que podemos viver do nosso trabalho é ainda
de transformação social para os produtores, “mate- para investir na propriedade”, comenta Flávio, sendo
da Agricultura, ligada à CATI Regional Itapetininga mais gratificante. Mas nada seria possível se não tivés-
rializou” o conceito de solidariedade. Semanalmente complementado pela sobrinha: “tenho duas filhas
e conduzida pelo Departamento de Agropecuária e semos nos unido e tido a direção da técnica Raquel,
forma-se uma verdadeira “Rede do Bem”, entre produ- adolescentes, por isso, também uso uma parte dessa
Meio Ambiente do município, os frutos de hoje advêm que além de passar conhecimentos técnicos, sempre
tores, funcionários da Prefeitura, da CA e voluntários renda para comprar coisas para elas, que ficam muito
de um trabalho intenso de extensão rural e disposição nos incentivou a nos organizarmos e participar das
da Pastoral da Criança. “Os produtores colhem e em- felizes”, conta rindo, Adriana.
dos produtores. “Há 15 anos, quando começamos o políticas públicas”, conta os produtores que com o
trabalho com os agricultores, pensávamos em como balam os produtos, a Prefeitura cede um caminhão e aumento e garantia da renda advinda do PAA (o que No sítio Pedroso, três mulheres trabalham ardua-
viabilizar tecnicamente áreas tão pequenas, que, em funcionários para a coleta nas propriedades, bem era muito difícil de se conseguir vendendo para inter- mente no plantio de rabanete, brócolis, cheiro-ver-
média, variam de um a cinco hectares. No início dos como um galpão, onde é feito o acondicionamento e mediários) construíram um barracão para a separação de, milho, abóbora, entre outras olerícolas. Maria de
anos 2000, com o apoio da Prefeitura Municipal e a a separação dos alimentos, que são entregues por vo- das produtos que são comercializados na feira local e Fátima Ferreira, 44 anos, Rosa Maria Ferreira, 50 anos,
implementação do Programa Estadual de Microbacias luntários da Pastoral da Criança a entidades sociais e no PAA, adquiriram um veículo com crédito rural para e Geni Senciatti Ferreira, 70 anos, abrem um amplo
Hidrográficas, executado pela CATI, realizamos ações 350 famílias cadastradas pela Secretaria de Promoção o trabalho diário. Também adquiriram um veículo de sorriso debaixo de um sol de mais de 30 graus, para
ligadas ao saneamento básico, à organização rural, à Social. “Nos emociona ver as famílias chegando por passeio, afinal de contas, como diz dona Maria “a gen- falar sobre ser agricultor familiar. “Trabalhar na terra é
viabilização de crédito rural e intesificamos as ações volta de quatro horas da manhã e saindo felizes com te também precisa de lazer, né?”, reformaram a casa e um presente, é um trabalho duro, mas quando a gen-
de extensão rural. Muitos produtores começaram a uma feirinha de produtos saudáveis”, conta Raquel. adquiriram eletrodomésticos. “A vida melhorou muito te vê o fruto que nasce como um filho, só podemos
visualizar possibilidades de crescimento e se dispuse- e é uma satisfação ver que o nosso filho mais novo dizer: temos orgulho de ser mulher e produtora rural”.
ram a participar ativamente do processo. A autoesti-
ma começou a ser resgatada”.
Fotos : Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

Atualmente, os frutos aparecem com o fortaleci-


mento da cooperativa que está em fase final de acaba-
mento de sua sede, possibilita compras conjuntas de
insumos e, entre outras ações, irá construir uma estufa
de mudas de várias espécies para garantir qualidade
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

aos produtores, além é claro de viabilizar a entrega


dos produtos para as políticas públicas; no incremen-
to de volume e qualidade da produção, que abrange
principalmente olerícolas e frutas diversas; bem como A extensionista Raquel Scudeller (com lenço rosa) comemora com Arlindo Rodrigues e Adriana Oliveira (1), Maria de Fátima, Geni e Rosa Ferreira(2),
na melhoria da comercialização. “A mudança aconte- os produtores o fortalecimento da cooperativa. Família Mendes (3), Flávio e Maria Conceição de Souza (4) – (esq. p/ dir.)
42 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬43

PNAE: como as políticas públicas podem mudar a


para a compra de um ca- anos e têm visto nas atuais mudanças uma grande
minhão baú climatizado, melhoria na alimentação das crianças. “Elas raspam o
com capacidade para seis prato, comem com prazer”, esse também é o depoi-
toneladas, pelo Projeto mento recorrente de mães como Viviane Cristina de
qualidade de vida de centenas de famílias Microbacias II – Acesso ao Souza, mãe de Francisco Augusto, de cinco anos; de
Mercado. “Os Programas e Thaís Mendes, mãe de Isabella, de dois anos e cinco
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br Projetos estaduais e fede- meses; e também de Cleomar Pinto, mãe de Mateus

E
rais vão se complementan- Augusto, de três anos e sete meses. “São todos saudá-
m vigor há 60 anos, o Programa Nacional rante não só qualidade de vida no campo e nas esco- do e interligando, e a CATI veis e mesmo em casa passaram a comer verduras e
de Alimentação Escolar passou, em 2009, las, esse dinheiro passa a circular pelo município e mo- tem exercido um papel legumes, antes só consumidos na escola. Melhorou a
por uma importante reformulação que vem vimentar a economia local, o agricultor ganha mais, o fundamental nessa inter- alimentação da família toda”.
beneficiando não apenas as comércio vende mais, isso sem mediação”, afirma o diretor
crianças, mas uma importante falar nos benefícios indiretos na Na outra ponta, estão os produtores familiares que
da CATI Regional Barretos,
também são pais e recebem de seus filhos o retorno

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


parcela da população brasileira: saúde das crianças, que ficam Cláudio Antero Machado.
os agricultores familiares. A Lei melhor nutridas, e no maior positivo do trabalho realizado no campo. Gislaine, de
n.° 11.947 (ver artigo na página rendimento escolar. Além dis- “Em Barretos temos cer- seis anos, e Giovana, de 13 anos, ficam orgulhosas de
16) determina que no mínimo so, elas ainda repassam os bons ca de 1.400 propriedades dizer aos colegas que estão comendo legumes produ-
30% do valor repassado aos es- hábitos alimentares aos pais”, em 157 mil hectares de zidos pelo pai, o agricultor familiar Lázaro Frederico
tados e municípios pelo Fundo defende o secretário de edu- área rural, onde 82% dos Contini, que também entrega manga, atemoia, laranja,
Nacional de Desenvolvimento cação de Barretos, Aparecido habitantes são agricultores dependendo da época do ano. Já os produtores Júlio
da Educação (FNDE) seja gasto Donizete Alves Cipriano. familiares”, relata Cláudio Machado. O trabalho com César e Ana Lúcia Fávio, no final de 2014, preparavam
em compra de produtos oriun- estes agricultores, para que passassem a usufruir do o terreno para plantar o tomate a ser colhido em fe-
No município, são 25 Centros PNAE, começou com os encontros realizados pelo res- vereiro e 2015. Serão 40 mil quilos a serem entregues
dos da agricultura familiar.
Municipais de Educação Infantil ponsável pela Casa da Agricultura local, engenheiro para a merenda escolar. Em 2014, o contrato era para
Os municípios que estão apli-
na área urbana e um na área ru- agrônomo Rolando Salomão Carvalho Custódio do entregar mandioca e, assim, vão fazendo um rodízio.
cando a legislação já sentem
ral, até o final do ano serão inau- Nascimento. Durante vários encontros com produto- “Agora é possível pensar em investimento porque a
os reflexos positivos na socie-
gurados mais dois; outras 22 res rurais, Rolando divulgou e discutiu as novas possi- venda é garantida pelo Programa”, ressalta Ana Lúcia,
dade. Por um lado existem os
escolas de ensino fundamental bilidades deste e de outros Programas, as vantagens entusiasmada com a atividade rural e com a mudança
benefícios nutricionais, como
e mais onze escolas estaduais, da diversificação da produção, a viabilidade de outras na qualidade de vida. A casa nova no Sítio Perímetro
oferta de alimentos mais fres-
somando 20 mil alunos, se be- rendas alternativas. “Comprar 30% da agricultura fa- está quase pronta e eles nunca faltam a nenhuma reu-
cos e saudáveis e resgate de
hábitos de consumo regionais, neficiam das novas regras do miliar parece fácil, difícil é integrar as ações”. Por ou- nião promovida pela Casa da Agricultura, para discutir
Graça D'Auria – Cecor/CATI

de outro o agricultor tem a ga- PNAE. A demanda por vagas tro lado, o extensionista intensificou o diálogo com a as políticas públicas de compra de alimentos.
rantia da venda, sabendo de nas creches e escolas munici- nutricionista Vanessa Giselle Lopes Ribeiro, responsá-
pais e estaduais é 100% aten- Essas mudanças foram comprovadas em trabalho
antemão o valor que será pago vel técnica pela alimentação escolar de Barretos para
dida, segundo a Secretaria de de conclusão de curso (TCC) de João Paulo Galvão
por seus produtos. Há, ainda, a adequação de cardápio e planejamento da produção
Educação. São mais de 80 pro- Travassos Souza, da Universidade Estadual Paulista
possibilidade de comercializar no campo. “O importante é que estamos resgatando
dutores familiares cadastrados (Unesp/Jaboticabal), que demonstra os avanços eco-
o excedente da produção para e introduzindo alimentos diferenciados na alimenta-
via Cooperativa dos Pequenos nômicos dos agricultores familiares de Botucatu em
quitandas, supermercados, fei- ção das crianças e os produtores têm respondido com
função do PNAE. Segundo o TCC, 86% dos agriculto-
ras livres e outras políticas públicas de aquisição de Produtores de Barretos e Região, que fornecem sete a oferta desses produtos, antes era difícil gastar 30%
res familiares de Barretos entrevistados declararam
alimentos por órgãos governamentais, o que muitos toneladas de legumes, oito de frutas, como abacaxi, em compras de agricultores familiares, hoje é fácil.
ter obtido aumento de renda; para 27% o aumento foi
vêm fazendo. mamão, melancia, laranja, banana, além de 500kg de A demanda tem sido grande e depois que voltamos
de 20 a 50% e para 9% mais de 50% . Além disso, é no-
folhosas por semana, que se somam ao leite e suco a utilizar merendeiras e preparar a alimentação na
Barretos, município de pouco mais de 100 mil tada uma maior qualidade e diversidade de produtos,
de laranja (mil litros/dia) produzidos via agricultura própria escola, contratamos mais duas nutricionistas
habitantes, localizado no interior do Estado de São novos canais de comercialização, mais qualidade de
familiar. Além desse volume, os doces da merenda para auxiliar no trabalho, os cardápios são preparados
Paulo, começou a se preparar já em 2009 para aplicar vida e união entre os produtores. Barretos é um exem-
são fornecidos pela Associação de Empresários Rurais mensalmente, paralelamente orientamos as meren-
a legislação. Hoje, passados quatro anos e vencida a plo, mas esse mesmo comportamento vem se repe-
de Três Barras, também formada por agricultores deiras, damos treinamento, com tudo isso, o consumo
resistência dos primeiros tempos quando os produto- tindo em vários municípios do Estado de São Paulo e
familiares. de alimentos aumentou”, relata Vanessa.
res desconfiavam das garantias de comercialização, o beneficiam não apenas os agricultores familiares, mas
percentual ultrapassa o exigido. “Ambos tiveram que Ênio Melo Rodrigues, presidente da Cooperativa, e “Hoje não sobra nada nos pratos, as crianças co- toda a população paulista.
João Flávio Teixeira, presidente da Associação, contam mem até jiló”, afirma Suhaila Daher Calil, diretora res-

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


se organizar, prefeitura e produtores, acertado isso
e com o apoio da Casa da Agricultura local, estamos que a compra de alimentos da agricultura familiar não ponsável pelo Cemei “Fernanda Teixeira de Almeida”,
aplicando 40% da verba em produtos da agricultura só conteve o êxodo rural, mas trouxe de volta os filhos que com 60 funcionárias atende 309 crianças de
familiar e queremos aumentar esse valor adquirindo dos produtores que estavam trabalhando no comér- quatro meses a cinco anos em período integral. É a
mais produtos”, afirma o secretário. Membro da União cio e na indústria e produtores que já haviam desisti- maior creche de Barretos. Quem comanda a cozinha
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação do de produzir. “Tem sido uma revolução no campo, é a merendeira Marinilva Alonso, que garante: "sou
(Undime), entidade que trata, entre outros assuntos, aumentaram o número de produtores associados, daqui e conheço quem produz, o alimento que chega
da merenda escolar, Cipriano enumera as razões para a diversidade e a qualidade dos produtos”, diz Ênio é de qualidade e por isso não tem desperdício, tudo
defender um percentual de compra ainda maior de Rodrigues. Por causa do PNAE, a Cooperativa apre- é aproveitado”. Palavra de quem entende do assunto,
produtos da agricultura familiar local. “O Programa ga- sentou e teve aprovada uma Proposta de Negócio merendeira e diretora trabalham juntas há quase 30
44 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬45

PPAIS – Programa gera benefícios


Brejo Alegre e Araçatuba e para o Programa Paulista
da Agricultura de Interesse Social (PPAIS) para oito pe-
nitenciárias de Andradina, Mirandópolis, Valparaíso,

econômicos e sociais para agricultores paulistas Lavínia, municípios da região de Araçatuba. No ano
de 2014, foram entregues 117 toneladas de produ-
tos. E em 2015 já há contratos para atender também a
rede escolar de Araçatuba.
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br
“A parceria entre CATI e a Fundação Itesp (Instituto
de Terras do Estado de São Paulo) foi fundamental

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


para atender aos anseios dos assentados que vivem
na região e que passaram a ter um mercado maior.
A aquisição do caminhão permitirá que os produ-
tores e assentados e aumentem o raio de atuação”,
afirmam José Luiz dos Santos Junqueira, técnico de
desenvolvimento agropecuário da Fundação Itesp, Produtores Rurais da Comunidade do Jaó que, por in-
lotado na regional de Promissão, e o engenheiro termédio do presidente Antonio Aparecido de Lima, o
agrônomo Marcos Junqueiora, responsável pela Casa Cido, deu todo apoio ao grupo. Outras foram chegan-
da Agricultura de Brejo Alegre. Ambos vêm acompa- do e agora as 28 mulheres que aderiram ao Projeto
nhando os progressos proporcionados pelo PPAIS e querem mais: montar a sua própria associação que já
concordam que o Programa está só iniciando, mas tem até nome, Associação das Mulheres Produtoras
oferece um enorme potencial de renda para as famí- do Jaó. E Márcia começa de novo: “eu tenho um outro
lias de agricultores familiares. Berto Alves, presiden- sonho, que é plantar bananeiras no entorno das hor-
te da AUAB, assina embaixo: “capacidade de produzir tas, ter mais a oferecer e quero aprender mais, visitar
nós temos, faltava o incentivo das políticas públicas outros lugares, ver o que estão fazendo e trazer para a
do governo que garantem a compra. É retorno certo!”. comunidade. Eu até poderia tocar uma horta sozinha
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

Foi também devido a um trabalho da Fundação e atender os contratos, mas vivemos em comunida-
Itesp que o Quilombo do Jaó, em Itapeva, tornou-se de, se eu ganho, quero que todas também possam
a primeira comunidade quilombola do Estado de São ganhar, afinal é o nosso futuro, o futuro dos nossos fi-
Paulo a entregar alimentos para o PPAIS, bem como lhos”. Assim ela vai longe, começou a trabalhar na hor-
graças ao sonho, ao trabalho árduo, à determinação ta porque não tinha como deixar as crianças sozinhas
de uma mulher, Márcia Aparecida Martins, filha do e ir para a cidade, agora ela sabe que pode mais do
Sr. Hilário, líder comunitário, falecido há pouco mais que isso e até os homens já sabem disso e passaram a

L
de dois anos. Márcia se informou sobre as possibilida- ajudar na horta das mulheres.
ançado em 2012 pelo governo do Estado de da em 2009, firmar-se como importante produtora de des de aumentar a renda e quando viu “que ali tinha
São Paulo, o Programa Paulista da Agricultura alimentos e geradora de renda. Para melhor comer- Marli Correia de Assumpção, auxiliar de gestão da
dinheiro” chamou Fundação Itesp, e o técnico Fabiano Gomes estão sem-
de Interesse Social (PPAIS) tem se firmado e cializar a produção dos seus 107 associados, a AUAB algumas mulheres
se destacado entre as políticas públicas de compra apresentou, também, uma Proposta de Iniciativa pre visitando a comunidade. Carolina Fabro Zoccal,
da comunidade e supervisora do Grupo Técnico de Campo (GTC) de
de alimentos da agricultura familiar para atender cre- de Negócios ao Projeto Microbacias II – Acesso ao propôs a elas im-
ches, escolas, hospitais, universidades e penitenci- Mercado, gerido pela CATI, para a compra de um ca- Itapeva, também vai ao campo para ouvir os anseios
plantarem uma e conhecer as raízes profundamente comunitárias do
árias. Em 2014, o teto de R$ 12 mil/ano por unidade minhão baú e caixas plásticas para transporte de pro- horta para produ-
familiar foi alterado para R$ 22 mil/ano, permitindo dutos como verduras, legumes e frutas para a região. Jaó. “Antes de tudo é preciso resgatar os valores, elevar
zir repolhos, be- a autoestima dessas mulheres guerreiras, corajosas do
uma garantia maior de renda aos participantes: assen- O prefeito Adriano Marcelo Bonilha, que já vinha as- terrabas e outras
tados, quilombolas e produtores familiares. Esse fato sistindo os avanços econômicos com reflexos no mu- Jaó”, diz Márcia, afrodescendente também, que divide
olerícolas listadas com elas as histórias de preconceitos ainda existentes
demonstra que o interesse também vem aumentan- nicípio essencialmente agrícola, acreditou tanto na nas Chamadas
do, assim como a diversidade de produtos ofertados. capacidade da AUAB que bancou a contrapartida de e as formas de combater esse crime. “Muitas vezes as
Públicas de 2014 pessoas preferem comprar verduras nas barracas de
O PPAIS veio somar às políticas já implementadas 30% (R$ 63 mil), recurso que normalmente é rateado para entrega de brancos, ainda somos discriminadas por sermos do
pelo governo federal e tornou São Paulo o primeiro entre os associados. “O município vive da agricultura, alimentos em uma quilombo”, conta Márcia. O que a população preci-
Estado da Federação a criar projeto próprio, contem- temos três associações de produtores rurais e assen- penitenciária e um sa saber é que esses alimentos são produzidos com
plando a agricultura familiar paulista. O Estado gas- tados, e nos últimos tempos as famílias estavam dei- centro de deten- toda a qualidade, “são alimentos naturais, não usamos
ta cerca de R$ 100 milhões por ano em compras de xando suas roças e vindo para a cidade, onde não há ção provisória da
agrotóxicos, nossas crianças comem direto na roça”,
gênero alimentício, e o mais sensato era reverter essa emprego para todos. Agora, eles não só retornaram região, via PPAIS.
conta Márcia. Ao produzir para o PPAIS, e ter garantia
verba em favor da população. ao campo, mas estão produzindo mais e melhor e, Márcia tornou- de comercialização, sempre há alguma sobra possível
Lilian Cerveira – Cecor/CATI

ainda, têm capacidade para aumentar essa produção se, assim, a primei- de ser vendida na Feira do Produtor de Itapeva e a po-
Em Brejo Alegre, município de pouco mais de
três mil habitantes, situado em uma área com di- e a área de atuação e o caminhão permitirá escoar os ra quilombola a pulação pode ter certeza de estar consumindo produ-
versos complexos penitenciários, o PPAIS tornou- produtos”, afirmou o prefeito. honrar o contrato, tos de qualidade, produzidos por quem tem não ape-
se um exemplo e permitiu à Associação União dos A Associação comercializa alimentos para o este primeiro feito nas sonhos, mas transforma a realidade de toda uma
Assentamentos de Brejo Alegre e Birigui (AUAB), cria- Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em via Associação dos comunidade.
46 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬47

Agricultura Familiar: um pouco de história


por esses grupos (Fundação Itesp e Funai); priorização Família Pedroso: agricultura como símbolo de
de cadeias produtivas; execução de políticas públicas dignidade e união
de compras institucionais e de crédito rural, por meio “A agricultura familiar é a maneira de nos manter-
do Pronaf e do Fundo de Expansão do Agronegócio
e o trabalho da Secretaria de Agricultura
mos unidos em volta do trabalho e da mesa. Colher
Paulista (Feap). os primeiros frutos e compartilhá-los com a família,
sabendo que eles também chegam à escola dos meus
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br Algumas ações anteriores à década de 1990 netos e de tantas outras pequenas vidas, é motivo de
alegria. Não é só o dinheiro que faz a gente permane-

C
amponês, pequeno agricultor. Até o final da voltado à industrialização. Esse novo modelo reser- • Década de 1950 - o trabalho com os produtores era cer no campo, mas saber que somos úteis e que conti-
década de 1980, assim eram denominados vou ao grande número de produtores com pequena realizado pela rede de Casas da Lavoura (atuais Casas nuamos o trabalho começado pelos nossos pais, com
os agricultores que atuavam, basicamente, produção, algumas funções claramente determinadas, da Agricultura). A assistência técnica era basicamen- a esperança de que seja continuado pelos nossos fi-
na produção de alimentos. O termo agricultura fami- tais como produzir alimentos, a preços baixos, para as te de cunho individualizado, enfocando os produtos lhos e netos”. Esse é o relato de José Pedroso, 62 anos,
liar, consolidado da década de 1990, ganhou amplitu- cidades, bem como produzir matérias-primas agrícolas agropecuários. que nasceu no Bairro Ferreira dos Matos, em Ribeirão
de nos meios acadêmicos, nas políticas de governo e para o setor industrial”, explica ele, salientando que, a Grande, “em uma casa de parede de barro e cobertura
nos movimentos sociais, abrangendo um grupo social partir daí, o papel tanto social quanto econômico des- • Década de 1960 – prestação de assistência técnica de sapé”, como ele descreve, em uma família de oito
heterogêneo, que cultiva a terra, com mão de obra es- ses produtores foi o de pilar da nova política. aos produtores e educativa às famílias, por meio da or- irmãos, cuja mais velha, de quase 80 anos, ainda cami-
sencialmente familiar, obtendo renda exclusiva da pro- ganização dos Clubes de Economia Doméstica, Clubes nha 3km para “trabalhar na roça”.
Nesse período, o mosaico desses produtores foi Juvenis Rurais e Comitês de Lavradores; programa de
priedade rural. Até a década de 1950, a comunidade local vivia de
unificado sob o conceito de camponês. “Essa época foi crédito rural orientado e supervisionado; multiplicação
Desde então, vem ocorrendo um processo de reco- marcada por lutas do nascente operariado brasileiro e distribuição de sementes selecionadas de hortaliças; culturas comercializadas diretamente com as indús-
nhecimento e de criação de instituições de apoio a esse e pela organização dos trabalhadores no campo, com ações de conservação de solo; estudos de racionali- trias, como algodão e da suinocultura, por isso não
modelo de agricultura, por parte do governo federal. isso ocorre a politização do termo camponês”, relata zação da produção, transporte, armazenamento, con- contavam muito com assistência da Casa da Lavoura.
“Houve um resgate do conceito clássico do camponês, Ivamney, comentando que, após o golpe militar de servação e distribuição de produtos perecíveis; bem “Mas sempre plantamos arroz, feijão, milho. Com as
baseado no trabalho, na família e produção. O termo 1964, os movimentos organizados no campo foram como incremento da produção mista nas pequenas doenças que entraram na cultura do algodão, a que-
'pequeno' deixou de ser utilizado, pois ele não definia desarticulados. “Na lógica do modelo de desenvolvi- propriedades etc. da dos preços e a influência das colônias japonesas e
mais o grupo: pequeno em área, em renda? Os movi- mento adotado para o campo, voltado à modernização italianas que se instalaram aqui, nossos cultivos muda-
mentos sociais internalizaram o novo conceito de agri- tecnológica dos produtos agrícolas de exportação (a • Década de 1970 - A Secretaria tira o foco da “pres- ram para olerícolas e frutas, o que fez aumentar a ne-
cultura familiar e começam a pedir políticas próprias. O chamada Revolução Verde), os produtores brasileiros tação de serviços” e passa a direcionar-se ao trabalho cessidade de apoio técnico”, conta o sr. José, afirmando
Estado também assume o conceito, com orientação da passam a ser classificados quanto ao tamanho de suas educacional integral, com inclusão dos produtores no que na década de 1970 tudo era muito burocrático.
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e áreas e produção, os camponeses passam então a ser desenvolvimento das propostas e execuções. Nesse “Para nós, pequenos, era difícil conseguir crédito e
Agricultura (FAO). Nesse contexto, as políticas de cré- tratados como pequenos produtores”. período, os trabalhos eram desenvolvidos em grande nos desenvolvermos. Nós tivemos sorte de ter um téc-
dito também mudam, pois antes as exigências eram parte por ações e programas de fomento como Pró-Fei- nico comprometido na Casa da Agricultura de Capão
as mesmas para os grandes proprietários e os familia- O papel da Secretaria de Agricultura e o trabalho jão, Proagro (seguro rural), Pró-Várzea etc. Foram man- Bonito (município do qual Ribeirão Grande foi emanci-
res”, explica Sônia Bergamasco, professora titular da de Assistência Técnica e Extensão Rural tidos os trabalhos educacionais com as famílias. Para pado em 1993). Além de orientação, ele nos ajudava a
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)”, desta- Com as mudanças ocorridas a partir da década de ampliar o alcance das informações, a CATI utiliza inten- participar de programas do governo. Em 1975, planta-
cando que nos últimos 20 anos foram criadas políticas 1930, coube aos estados fortalecer a produção de ali- samente meios de comunicação diversos: rádio (levava mos 50 mil pés de tomate com um financiamento que
públicas que impulsionaram o setor, como o Programa mentos. Nesse contexto, a Secretaria de Agricultura ao ar o programa Atualidades Agrícolas, por uma rede conseguimos com orientação dele, veio uma geada
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e Abastecimento de São Paulo teve um papel rele- de emissoras regionais), implementou o primeiro pro- e perdemos tudo. Nossa sorte foi que ele nos apoiou
(Pronaf, 1996 – vide Box), as políticas públicas de com- vante. “A CATI foi criada em 1967, mas os trabalhos grama da TV brasileira voltado ao meio rural (também para fazer um seguro pelo Programa de Garantia da
pras institucionais como o Programa de Aquisição da Secretaria com os pequenos produtores, que são Atualidades Agrícolas; cuja primeira transmissão acon- Atividade Agropecuária (Proagro), o que era muito di-
de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação quem mais precisam, são mais antigos. Antes, ela atu- teceu em 1973, pela retransmissora da Globo de Bauru; fícil de um pequeno conseguir naqueles dias. Outro
Escolar (federais); e o Programa Paulista da Agricultura ava com suas unidades de treinamento, comunicação, materiais gráficos diversos, carros com equipamentos ponto no qual a CATI nos ajudou muito foi com a pro-
de Interesse Social, para minimizar os gargalos da co- sementes e mudas, conservação do solo, mecanização audiovisuais; revista e jornal. dução de sementes variedades, o que reduz o custo,
mercialização da produção familiar. “Outros pontos agrícola, entre outras, prestando assistência técnica; pois elas podem ser mul-
importantes foram a promulgação da Lei n.º 11.326, difundindo tecnologia de plantio e manejo de culturas • Década de 1980 – As ações foram realizadas prin- tiplicadas, não sendo pos-
de 2006, que define quem é o agricultor familiar e o diversas; realizando capacitação profissional etc. Com a cipalmente por meio de programas de qualificação e sível fazer o mesmo com a
que precisa para o seu desenvolvimento; e a imple- CATI, adotou novas metodologias de trabalho, que fo- formação, visando levar conhecimentos e novas tecno- híbrida. Esse é um trabalho
mentação da Política Nacional de Assistência Técnica e ram ampliadas na década de 1990: saímos da assistên- essencial para a agricultura
logias de forma massal aos agricultores. Com a rede-
Extensão Rural, que contribui para a garantir de acesso cia técnica para a extensão rural. A partir daí, as ações familiar”, ressalta o produ-
mocratização do País, no que competia à agricultura,
ao conhecimento para esse segmento”. passaram a ser realizadas efetivamente com a partici- tor que, após crises, viu o
em São Paulo foram estabelecidos como instrumentos
pação dos produtores”, comenta José Carlos Rossetti, contingente de agricultores
de orientação dos trabalhos os Planos Agrícolas Muni-
Um pouco de história anterior à década de 1990 diminuir no Bairro mas, com
coordenador da CATI, destacando que nos anos 2000 a cipais, caracterizados pela interiorização das ações do
as políticas estabelecidas
Para se chegar a tal patamar de reconhecimento instituição ampliou ainda mais o apoio aos agricultores Estado com foco na organização e participação social.
diretamente para o setor, as
como setor importante nos âmbitos social e econômi- familiares, com a execução do Programa Estadual de Nesse período, a CATI implementa o Telecurso Rural,

Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI


quais têm influenciado em
co, um longo caminho foi percorrido. Ivamney Augusto Microbacias Hidrográficas (até 2008) e do Projeto de transmitido pela TV Cultura, em uma parceria com a
um dos principais gargalos
Lima, extensionista da Divisão de Extensão Rural da Desenvolvimento Rural Sustentável - Microbacias II - Fundação Padre Anchieta e faz um projeto-piloto de (a comercialização), voltou
CATI, estuda o assunto e faz um relato de fragmentos Acesso ao Mercado (em andamento); incentivo às Boas tele-escola, usando o material didático do programa a ter esperança de que os
históricos que ajudam a compor o cenário anterior. "Na Práticas Agropecuárias; inclusão dos povos tradicionais em reuniões com os agricultores nos municípios. Nessa netos manterão a tradição
década de 1930 entra em crise o modelo agroexpor- – indígenas e quilombolas, bem como assentados, em década surge o programa Globo Rural, que teve como e permanecerão no campo.
tador, o que impôs um novo paradigma econômico projetos desenvolvidos com os órgãos responsáveis base o Atualidades Agrícolas da CATI.
48 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬49

Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas: transformação social, Pronaf: divisor de águas no incentivo ao desenvolvimento da agricultura familiar
econômica e ambiental na realidade de agricultores familiares paulistas Murilo Flores – Secretário de Estado do Planejamento de Santa Catarina – na época da criação do Pronaf, era secretário Nacional de
Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e depois gerente do Programa
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

destacar os ligados à segurança, saúde, energia elétrica


e comunicação, o que contribuiu muito com a elevação
da autoestima dos beneficiários. “O Programa Nacional de a Alimentação e Agricultura (FAO) e
Fortalecimento da Agricultura do Instituto Nacional de Colonização
Resultados diretos do Programa de Microbacias Familiar (Pronaf ) surgiu como uma e Reforma Agrária (Incra), denomi-
O total investido em ações, visando ao desenvolvi- linha de crédito rural, instituída pelo nada 'Diretrizes de política agrária e
mento rural sustentável, foi de R$ 159,5 milhões do qual Banco Central, visando ao atendi- desenvolvimento sustentável'. Nesse
R$ 135,5 milhões foram apoiados pelo Programa e R$ mento dos agricultores familiares cenário, iniciou-se a construção do
24 milhões investidos pelos agricultores. Práticas inte- na safra 1995-1996. Como progra- programa, tomando por base uma
gradas de manejo e conservação dos recursos naturais ma de desenvolvimento rural, ele definição de agricultor familiar apre-
foram promovidas e planejadas de forma participativa foi formalizado em 1996, por meio sentada pela Contag e assumida pela
em 970 microbacias, envolvendo 69.997 produtores em de decreto. Sua criação teve parti- coordenação do programa. No en-
514 municípios, abrangendo uma extensão aproximada cularidades muito significativas, que tanto, a Confederação Nacional da
de 3.310.312 hectares. têm garantido sua continuidade há Agricultura (CNA), a quem muitos
Organização rural foi um dos focos principais do Programa de Microbacias
No entanto, os resultados do Programa também po- muitos anos e diversos governos, agricultores familiares eram filiados
dem ser medidos pela transformação ocorrida no âmbi- sendo a mais importante, a intensa (por força de uma legislação do pe-
to rural, nas áreas produtiva, ambiental, social e econô- participação dos movimentos so- ríodo de governo militar), exigiu a

Arquivo Pessoal
Final dos anos de 1990, prenúncio da efervescência mica. Fatores importantes foram o fortalecimento dos ciais em sua elaboração e nas ne- inclusão da possibilidade da proprie-
do novo milênio. Agir localmente, pensando globalmen- Conselhos Municipais e Regionais de Desenvolvimento gociações anuais que possibilitaram dade dispor de até dois empregados
te, passou a ser o norte das ações em todas as esferas. Rural e o avanço nas relações entre os poderes públicos a evolução do Programa; inicial- permanentes.
Nesse contexto, a CATI assumiu o desafio de executar, estadual e municipal. mente, apenas a da Confederação
no âmbito da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, A Contag, por sua vez, olhava com
Nacional dos Trabalhadores na No período de início de criação
o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas. Em Na área ambiental, o Projeto Aprendendo com a mais interesse para a linha de crédito
Agricultura (Contag); depois de ou- do Pronaf, a extensão rural vivia uma
conformidade com a nova filosofia de trabalho da ins- Natureza, realizado em parceria com a Secretaria da rural do Pronaf, deixando de lado os
tras como a Federação Nacional dos profunda crise. A extinção, em 1990,
tituição, expressa em sua missão de promover o desen- Educação, envolveu milhares de alunos da educação Trabalhadores na Agricultura Familiar debates sobre outros aspectos que
infantil e a formação de grupos de educação ambien- buscavam caracterizar o programa da Empresa Brasileira de Assistência
volvimento sustentável, o Programa de Microbacias, (Fetraf ), o Movimento dos Pequenos
tal. Também foi instituído um projeto de mapeamento como uma ação de desenvolvimen- Técnica e Extensão Rural (Embrater)
cujo final aconteceu em 2008, tornou-se ao longo de sua Agricultores (MPA), o Movimento
agroambiental; fomentado o Sistema de Plantio Direto to rural, num sentido mais amplo. A retirou do governo federal as forças
execução um divisor de águas, transformando a meto- dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
na Palha, que de 35 mil hectares em 1999 passaram para argumentação era de que os agricul- política e financeira para coordenar
dologia de trabalho dos extensionistas da CATI e mol- e, principalmente, a Confederação
um milhão no final do Programa; feito reflorestamento tores familiares queriam ser tratados as ações estaduais. O surgimento do
dando um novo perfil de produtor rural: organizado, das Cooperativas de Reforma Agrária
de Matas Ciliares e Áreas de Preservação Permanente, como o agronegócio e não deveriam Pronaf com todas as suas linhas, in-
consciente e ativo no processo de mudança da história (Concrab). Já não se aceitava o uso
com a doação de cerca de 4,2 milhões de mudas; bem ser apoiados por uma política assis- cluindo a atividade de extensão rural,
da agropecuária paulista. do conceito de 'pequeno produtor'
como recuperação de áreas degradadas, com a integra- tencialista. O crédito rural, portanto, deu uma sobrevida a essa atividade,
O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas porque ensejava a ideia de algo pe- resgatando diversos de seus papéis e
ção de práticas conservacionistas. Um grande destaque queno e, portanto, de pouca signifi- foi sempre o tema central do Pronaf,
foi executado com recursos do governo do estado e do foi a adequação de estradas rurais, por meio da qual fo- do próprio sentido de coordenação
cação, além de incluir todo tipo de por uma imposição dos movimen-
Banco Mundial, com objetivo principal de promover o ram executados serviços nos trechos críticos em 1.633 nacional.
perfil de pequena propriedade. tos sociais. No entanto, as estruturas
desenvolvimento sustentável em São Paulo, por meio quilômetros, beneficiando diretamente mais de 25 mil institucionais ligados ao crédito rural Além da contribuição para a ofer-
da ampliação das oportunidades de ocupação, melhoria produtores Nesse período, fim da década de (agentes financeiros) não tinham tra- ta de diversos tipos de produtos, fei-
dos níveis de renda, maior produtividade geral das uni- 1990, o conceito de agricultura fami-
No âmbito da organização rural centenas de asso- dição de atendimento ao conjunto ta pelo produtor de mais baixa renda
dades de produção, redução dos custos e reorientação liar - como um modelo de produção
ciações e/ou cooperativas foram fortalecidas ou cria- das diversas categorias desse seg- do semiárido nordestino até aque-
técnico-agronômica, visando ao aumento do bem-estar diferenciada, onde a família é basica-
das. Também foi criada a Federação das Associações mento, o que implicou num embate les integrados à forte agroindústria
das populações rurais - seja pela implantação de siste- mente a mão de obra da proprieda-
das Microbacias Hidrográficas do Estado de São Paulo entre os agricultores e suas represen- do oeste catarinense, a agricultura
mas de produção agropecuária que garantam a susten- de, e que exige sistemas de produção
(Famhesp). tações contra os agentes financeiros. familiar promove até hoje, uma di-
tabilidade, seja pela recuperação das áreas degradadas e específicos e uma lógica de gestão nâmica de ocupação dos espaços
de preservação permanente -, bem como à melhoria na Ao concluir um ciclo de ações do Programa de especial - começava a ser difundido Como era de se esperar, nos es- rurais brasileiros que permitem a
qualidade e quantidade das águas, com plena participa- Microbacias constatou-se que todos ganharam e apren- no Brasil. Na época, poucos estudos tados onde a agricultura familiar era adoção de estratégias adequadas e
ção e envolvimento dos beneficiários (produtores per- deram. A CATI, pela incorporação de uma nova metodo- permitiam uma análise desse novo mais estruturada, capitalizada e com diferenciadas de desenvolvimento.
tencentes às microbacias selecionadas) e da sociedade. logia de trabalho relacionada não mais apenas às ques- segmento, pois o conceito ainda não uma boa assistência técnica, a linha É importante frisar que os agriculto-
A partir do diagnóstico socioeconômico e ambiental tões produtivas, mas também às causas sociais e am- permeava a maioria das análises, e de crédito do programa deslanchou, res familiares constituem um impor-
da microbacia, a comunidade, juntamente com o técni- bientais. A comunidade, que teve uma participação que os dados oficiais também não con- com destaque para o Rio Grande do tante grupo socioeconômico, o qual
co executor, identificou as áreas críticas em relação à de- deixou de ser diretriz impressa em livros, para se tornar tinham essa estratificação. O estudo Sul, seguido por Santa Catarina e cumpre diversos papéis na estrutura
gradação dos recursos naturais. Porém, além de atingir realidade durante os diagnósticos participativos. O pro- que serviu de base, com dados es- Paraná. Mas, aos poucos, outros esta- social brasileira e, por isso, o Pronaf
o objetivo geral, o trabalho do Programa de Microbacias dutor, que deixou de ser espectador, para se ver como timativos, para os primeiros passos dos começaram a ter crescimento no segue sendo um importante progra-
foi decisivo na solução de problemas de outras áreas, integrante e responsável pela identificação e busca de do Pronaf foi uma publicação da financiamento, nas Regiões Sudeste ma de desenvolvimento rural, passa-
identificados pela comunidade da microbacia, valendo soluções para seus problemas. Organização das Nações Unidas para e Nordeste. dos quase 20 anos de seu início.”
50 ‫ ׀‬Casa da Agricultura

Aconteceu se positiva do evento. “O Fórum ofe-


receu uma oportunidade para que
Paulino Hashimoto, gerente de
agronegócio do Banco do Brasil, ava-
Fórum Consultivo do Projeto os produtores conhecessem projetos liou a parceria com a CATI e a reali-
Microbacias II – Acesso ao de regiões diferentes das suas. Mas, zação dos Encontros. “É importante o
Mercado é realizado com o fundamentalmente, foi um espaço produtor saber que tudo o que está
objetivo de apresentar os avanços aberto para ouvir diretamente deles relacionado à produção pode ser fi-
conquistados e conhecer as quais as suas experiências e onde nanciado. Há alguns anos, era mais
dificuldades de produtores em eles estão vendo os ganhos das orga- trabalhoso, principalmente para os
todo o Estado nizações e as dificuldades. Foi muito pequenos produtores atenderem às
bom ver que está dando certo”. exigências para obtenção de crédito,
CATI e Banco do Brasil pois eram necessários grandes pro-
realizam Encontros sobre jetos e extensa documentação. Hoje,
muita coisa mudou. Nesse sentido, a
Crédito Rural
parceria com a CATI tem sido exce-
A CATI e o Banco do Brasil lente, pois os produtores têm toda
realizaram, de 27 de outu- orientação na Casa da Agricultura e,
bro a 14 de novembro, uma em casos como o do Feap, a elabo-
série de eventos intitulados
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI

ração do projeto sem nenhum custo.


“Encontros com Produtores A resposta dos produtores foi muito
do Plano Safra 2014/2015”, boa, pois muitos ainda tinham como
que reuniram cerca de duas paradigma apenas que o crédito era
mil pessoas em todo o Estado, burocrático e de difícil acesso”.
envolvendo as 40 Regionais
da CATI. O objetivo foi demo- CATI comemora 47 anos
No dia 30 de outubro foi realizado, cratizar as informações e facilitar o Com uma programação voltada
na Estância Turística de São Pedro, acesso dos produtores rurais ao cré- aos funcionários, a CATI comemorou
o Fórum Consultivo do Projeto de dito rural do Fundo de Expansão do na penúltima semana de novembro
Desenvolvimento Rural Sustentável – Agronegócio Paulista (Feap), às li- seus 47 anos. Palestras motivacionais
o Microbacias II – Acesso ao Mercado. nhas de subvenção de programas im- e sobre assuntos interessantes para o
O objetivo foi promover uma avalia- plementados pelo governo estadual desenvolvimento profissional e pes-
ção das ações realizadas desde 2011 e às linhas do Programa Nacional soal dos servidores levaram os parti-
e ouvir dos produtores e parceiros de Fortalecimento da Agricultura cipantes a uma reflexão.
sugestões para a continuidade do Familiar (Pronaf ). A segurança no trânsito foi um
Projeto. dos temas apresentados, visto que
“Nos últimos anos, as linhas exis-
Mais de 400 pessoas, entre pro- tentes mudaram muito e outras fo- muitos servidores da instituição via-
dutores, lideranças rurais, técnicos ram criadas; e isso precisava ser bem jam pelas estradas paulistas em vi-
das Secretarias de Agricultura e esclarecido para os produtores. O sitas a propriedades. Outro assunto
Abastecimento e do Meio Ambiente crédito tem que ser visto como apoio abordado por um especialista em
(executores do Projeto), representan- para o produtor produzir mais e me- comportamento organizacional foi
tes de entidades públicas e privadas lhor, e ganhar dinheiro. A intenção a motivação e a adequada atuação
ligadas ao agronegócio, bem como desses eventos não é resolver todos nos órgãos públicos. Para encerrar,
autoridades das esferas municipal e os problemas do sistema financeiro, uma palestra sobre “frutas e saúde”
estadual, participaram do evento. mas estabelecer um canal de diálo- apresentou uma extensa coleção de
go. Nossa rede de extensionistas está frutas que, além dos benefícios co-
Representantes de organizações
capacitada para orientar os produto- nhecidos por sua composição, com
rurais que participam do Projeto
res e tirar as dúvidas e a parceria com vitaminas, minerais e outros, têm
Microbacias II fizeram uma apresen-
o Banco do Brasil é fundamental”, amplo poder terapêutico.
tação de seus projetos e citaram difi-
culdades, aprendizados, expectativas ressaltou José Carlos Rossetti, coor- Os participantes também con-
e sugeriram melhorias. Após as ex- denador da CATI. feriram uma intervenção teatral do
posições, houve uma plenária Grupo Lume, da Universidade
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI

onde produtores, sociedade Estadual de Campinas


e representantes do governo (Unicamp).
puderam debater assuntos re-
lacionados ao Projeto.
As reportagens, na íntegra,
Presente no evento, Diego podem ser lidas no site da CATI
Arias, gerente de projetos do www.cati.sp.gov.br
Banco Mundial, fez uma análi-

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