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Ano 17 - N.º 4
out./nov./dez./2014
Agricultura
Agricultura
Familiar
Agricultura
Editorial
Familiar: garantia
Não deixe de nos escrever, por carta ou e-mail 42 PPAIS – Programa gera benefícios econômicos e sociais para agricultores paulistas
Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural
44
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
Familiar: setor
produção agropecuária. O Estado
de São Paulo possui ainda 267 as- VB – As maiores conquistas foram RCA – Outro desafio está dire-
sentamentos e 21.800 agricultores a consolidação de uma cesta de cionado ao acesso dos produto-
assentados. Apesar de uma parti- políticas para o fortalecimento da res rurais ao mercado. É preciso
o desenvolvimento ra familiar em São Paulo tem uma nesta safra 2014/2015. A criação da exigidas por algumas políticas
importante participação no abas- Agência Nacional de Assistência públicas. Considera que os agri-
tecimento interno em segmentos Técnica e Extensão Rural (Anater), cultores familiares estão prepa-
rural paulista e
como dos hortifrútis e de culturas que terá a função de consolidar um rados para a adequada escala de
como a do feijão e da mandioca. sistema nacional de assistência téc- produção, para atender satisfa-
brasileiro
"
RCA – Quais os avan-
ços percebidos des- VB – A escala da
de o último Censo A agricultura familiar tem contribuído produção pode e
deve ser dada tam-
(2006)? A produção e muito com o desenvolvimento sustentável bém pela organiza-
a variedade da agri-
Valter Bianchini – Secretário da Por Roberta Lage – Jornalista – Centro de Comunicação Rural
cultura familiar au-
do rural paulista e brasileiro, ao manter a ção da produção em
grupos, associações
Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do (Cecor/CATI) – roberta.lage@cati.sp.gov.br
mentaram nos últi- nossa segurança alimentar, preservar nossa
Ministério de Desenvolvimento Agrário mos anos? e principalmente
cultura e agrobiodiversidade e ao oferecer junto às cooperati-
gab.saf@mda.gov.br
oportunidades de emprego e renda em todos vas. Sobre as regras,
é preciso também
VB – Não temos da- os negócios da agricultura, gerando ao longo
"
Agrônomo, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, em 1973, espe- que estas normas
dos estatísticos sobre
cialista em Políticas Públicas na Agricultura pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
a participação da agri-
de toda a cadeia mais de R$ 350 bilhões em se adequem à reali-
doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex- um PIB de aproximadamente R$ 1 trilhão. dade das pequenas
cultura familiar no au-
tensionista rural do Instituto Emater Paraná desde 1976, Valter Bianchini é, desde 2012, secretário agroindústrias fami-
mento da produção na
nacional de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), cargo que já liares. Os serviços de
agropecuária brasileira. Os dados No Estado de São Paulo, a parceria
ocupou de 2003 a 2007. Foi secretário de Agricultura do Estado do Paraná, de 2007 a 2010, e con- inspeção no Brasil e no Estado de
indiretos evidenciam avanços. O com a Coordenadoria de Assistên-
tribuiu com instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação São Paulo, assim como os da maio-
uso de crédito rural do Programa cia Técnica Integral (CATI) e nos
e a Agricultura (FAO). ria dos estados brasileiros, exigem
Nacional da Agricultura Familiar outros estados com as Empresas
procedimentos que privilegiam as
(Pronaf ) cresceu de R$ 2,3 bilhões de Assistência Técnica e Extensão
Nesta entrevista, Bianchini reforça a relevância da agricultura familiar para o equilíbrio da segu- agroindústrias de grande porte.
em 2002/2003 para R$ 22,1 bilhões Rural (Ematers) será fundamental
rança alimentar, para a geração de emprego e renda e para a preservação da agrobiodiversidade; Uma política como a do Suasa que
em 2013/2014. Este crescimento foi para o fortalecimento da Assistên-
e defende que ainda há desafios a serem superados como o fortalecimento do cooperativismo, o poderia resolver parte destes pro-
maior em investimentos na linha cia Técnica e Extensão Rural (Ater).
investimento na juventude rural e o aprimoramento de políticas públicas. blemas, até agora não se viabilizou.
Pronaf Mais Alimentos, que já finan- A Anater contará com um orça-
ciou de 2008 para cá mais de 100 mento de R$ 1 bilhão. A criação de
RCA – Qual a importância e o ros, leite e derivados, feijão e man- tos rurais da agricultura familiar e mil tratores. O incremento do crédi- políticas como o PAA em 2003, o RCA – Existe algum balanço/
grande diferencial da agricultura dioca, entre outros. aproximadamente 1,5 bilhão de to; da pesquisa, assistência técnica SEAF em 2004, o PGPAF em 2007 estudo que mostre o que repre-
familiar no Brasil? trabalhadores rurais em regime de e extensão rural; da criação de no- sentam as políticas públicas na
e a obrigatoriedade de compras da diminuição do êxodo rural e na
RCA – Quais países se destacam economia familiar. Na América La- vas políticas como o Programa de
agricultura familiar no PNAE são al- melhor qualidade de vida dos
VB – A agricultura familiar no Bra- na agricultura familiar e por tina e no Caribe são 17 milhões de Aquisição de Alimentos (PAA), Pro-
gumas das conquistas da agricultu- produtores rurais?
sil representa cerca de 85% do nú- quais motivos? estabelecimentos e 70 milhões de grama Nacional de Alimentação Es-
mero de estabelecimentos rurais, trabalhadores. colar (PNAE), Seguro da Agricultura ra familiar na última década. Entre
ou seja, 4.300.000; 85% da força de VB – A agricultura familiar é impor- Familiar (SEAF), Preços de Garantia os desafios, podemos destacar a VB – Este conjunto de políticas
trabalho ocupada na agricultura; 12 tante na maior parte dos países do RCA – Qual a representatividade dos Produtos da Agricultura Fami- necessidade de fortalecimento do públicas, em consonância com po-
milhões de trabalhadores em regi- mundo, por atributos como a res- da agricultura familiar na econo- liar (PGPAF) entre outros, além dos cooperativismo, da regularização líticas sociais de transferência de
me de economia familiar; responde ponsabilidade pelo equilíbrio da mia paulista? bons preços dos produtos agríco- das terras, de uma política de forta- renda, como o Bolsa Família; da
por 37% do Produto Interno Bruto segurança alimentar interna, pela las nos últimos anos, provocaram lecimento da juventude rural com Seguridade; e de políticas sociais
(PIB) da agropecuária no agronegó- geração e manutenção de postos VB – O Estado de São Paulo tinha, um incremento no uso de tecno- mais oportunidades de educação como o Luz para Todos, Minha Casa
cio mesmo ocupando apenas 25% de trabalho, pela preservação da segundo os dados do Instituto Bra- logia que certamente aumentou a no campo, da universalização da Minha Vida, PAC mobilidade rural;
da área agricultável. Responde pela agrobiodiversidade e da cultura sileiro de Geografia e Estatística produtividade e a participação da internet em todo o território rural, internet e educação no campo;
segurança alimentar interna em do meio rural de um país. São mais (IBGE) em 2006, 227.600 estabe- agricultura familiar no PIB agrope- da simplificação nos registros da apoio à Reforma Agrária; Crédito
produtos como os hortifrutigranjei- de 500 milhões de estabelecimen- lecimentos rurais. Destes, 150.900 cuário. agricultura familiar (Sistema Unifi- Fundiário e Regularização Fundi-
8 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀9
Agricultura Familiar
lio (PNAD) apontam o aumento da tas estão relacionadas a consolidar Abelardo Gonçalves Pinto – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI) – abelardo@cati.sp.gov.br
e na União. Quanto mais qualificada
renda familiar, a redução da pobre- a Anater para o fortalecimento do for esta organização, melhor será a
A
za rural, o crescimento da classe Sistema Brasileiro de Ater e de sua política. Um programa como o Pro- Organização das Nações Unidas
média no campo e a redução no plena articulação com o Sistema (ONU) proclamou 2014 como o Ano
naf deve boa parte de seu êxito a
êxodo rural. Nacional de Pesquisa Agropecuá- Internacional da Agricultura Familiar,
uma forte participação das princi-
ria; implantar, em parceria com o em reconhecimento à importante contribui-
RCA – São feitas algumas críticas estado e o município, um Sistema pais organizações dos agricultores
familiares. ção que a agricultura familiar proporciona para
de que as políticas públicas são Único de Inspeção Agropecuária a segurança alimentar e a redução da pobreza
muito focadas para o crédito e (Suasa) que regulamente e forta- no mundo. A produção de alimentos, seja nos
não para os sistemas de produ- leça as pequenas e médias agroin- RCA – Como avalia os trabalhos
países desenvolvidos ou naqueles em desen-
ção. Como esclarecer esta ideia? dústrias; adequar os Planos Safras de assistência técnica e extensão
volvimento, é predominantemente feita por
da Agricultura Familiar às realida- rural no Estado de São Paulo? agricultores familiares.
VB – Neste ano avançamos na agro- des dos estados; fortalecer o coo-
ecologia para um crédito do Pronaf perativismo da agricultura familiar; VB – Temos tido avanços importan- Com essa proclamação, a intenção da ONU
por sistema de produção. Ativida- consolidar Planos de Desenvolvi- tes na CATI a partir de ações como o é despertar a consciência dos gestores públi-
des como o custeio pecuário e de mento Territorial que propiciem Programa Estadual de Microbacias cos para a necessidade da criação de políticas
algumas culturas permanentes, uma atuação mais sistêmica das Hidrográficas e o Projeto de Desen- que favoreçam a produção agrícola em unida-
já permitem um crédito mais sis- políticas públicas nos três níveis de des familiares e promovam o fortalecimento
volvimento Rural Sustentável – Mi-
têmico. Temos que adequar um governo. Estes são alguns dos de- das organizações rurais, além de buscar des-
crobacias II – Acesso ao Mercado e pertar a consciência da sociedade civil para a
sistema de controle para o Seguro safios.
de outras estruturas como a Funda- importância deste estratégico setor.
da Produção da operação junto ao
banco, além de ampliar o apoio da RCA – O volume de recursos do ção Instituto de Terras do Estado de
São Paulo (Itesp), de programas de Fortalecer a agricultura familiar significa
Ater. Concordo que este é o cami- Plano Safra da Agricultura Fami- promover o crescimento com recursos locais,
nho para uma adequação melhor liar saltou de R$ 22,1 bilhões, em extensão universitária e da partici-
valorizando as organizações de agricultores e
N
familiares, na própria unidade familiar. Uma terceira
de por 40% da produção total (FAO, 2014). o que consiste o trabalho de extensão ru-
estratégia é a mudança da base tecnológica, buscan-
É um segmento estratégico para o País, sendo o do menor dependência de insumos externos, como é ral? No que ele difere da assistência técni-
principal produtor de alimentos básicos para a popu- o caso das práticas agroecológicas. ca e qual a sua ligação com o conjunto de
lação brasileira. Destaca-se também por gerar empre- produtores que hoje são chamados de familiares, mas
O papel do Estado é fundamental na implantação
go para 12,3 milhões de pessoas no meio rural, o que no passado receberam denominações menos afirma-
de políticas de fortalecimento da agricultura familiar,
representa 74,4% das ocupações totais da agropecu- tivas, como pequeno produtor ou produtor de baixa
seja para a diversificação das atividades econômicas
ária (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de renda?
das famílias; para a criação de políticas de compras
Assistência Técnica e Extensão Rural - Asbraer, 2014).
governamentais ou para apoiar transformações na De uma maneira geral, podemos dizer que a prin-
Sérgio Schneider, professor da Universidade base tecnológica de produção. cipal diferença entre a assistência técnica e a exten-
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e estudioso
No caso brasileiro, Schneider lista três gerações de são rural situa-se no objetivo que norteia o trabalho e
do tema, aponta três grandes segmentos para a agri-
políticas públicas que buscaram o fortalecimento da na forma como ele é conduzido. Quando o produtor
cultura familiar brasileira. O primeiro - denominado
agricultura familiar, a partir de 1998: chama um técnico para que identifique a praga que
agricultura familiar empresarial - seria aquele mais ca-
pitalizado e já inserido nas cadeias de produção agrí- • Políticas de crédito rural exclusivas para a agricultu- está devorando sua lavoura e recomende a melhor
cola e de exportação. O segundo – agricultura familiar ra familiar e de criação de assentamentos de reforma forma de controle, está buscando e recebendo uma
camponesa – pratica uma agricultura que está fora agrária; assistência técnica que visa responder a um problema
das cadeias produtivas e de exportação, sendo sua • Políticas de segurança alimentar e de erradicação da pontual e temporário. É assim que operam os inúme-
produção voltada para o autoabastecimento e para pobreza; ros técnicos que trabalham em empresas de insumos,
os mercados locais e regionais. O terceiro segmento – • Políticas de fortalecimento dos serviços de extensão no comércio agropecuário e nas firmas de assistên-
outros rurais – abarca os sem-terra, minifundistas etc. rural e de criação de mercados institucionais para os
cia técnica no meio rural. Já o trabalho extensionista
Esses três segmentos, conjuntamente, representam produtos da agricultura familiar.
envolve um processo educativo de longo prazo e de
84% dos cinco milhões de estabelecimentos agrope- No Estado de São Paulo, estima-se em cerca de 150 múltiplas dimensões. Seu objetivo final é o desenvol-
cuários do Brasil. mil o número de unidades familiares de produção.
vimento integral da propriedade, da família ou mes-
Esses agricultores familiares estão organizados em
A descapitalização e o baixo poder de barganha mo de uma região, ou seja, envolve todos os aspectos
aproximadamente 1.200 organizações (associações e
nas operações de compra e venda no mercado, além e atores de uma dada realidade rural.
cooperativas). A extensão rural paulista trabalhou essa
de dificuldades no acesso às políticas públicas e à ter-
terceira geração de políticas públicas nas duas últimas
ra, tornam imperioso o desenvolvimento de estraté-
décadas, com o Programa Estadual de Microbacias
gias de sobrevivência.
Hidrográficas e o Projeto de Desenvolvimento
Rural Sustentável - Microbacias II - Acesso ao
Roberta Lage – Cecor/CATI
U
novos mecanismos para diversificar a produção dos
ma das principais missões da sível, potencializando o trabalho do Estado.
O
avanço de um conjunto de políticas pú- O atual momento, portanto, impõe novos desa-
cia da agricultura familiar para a econo- blicas nos últimos anos contribuiu para a fios no campo da comercialização e aquisição de ali-
mia do Estado, o governo de São Paulo, inclusão social de milhares de brasileiros, mentos pelos canais de compras públicas. Em parte,
por iniciativa da Fundação Instituto de por meio do acesso aos direitos básicos; à garantia e à o aprimoramento e qualificação dos instrumentos
Terras do Estado de São Paulo (Itesp), elevação da renda, via geração de 21 milhões de em- existentes no PAA pretendem fazer frente a esse de-
órgão vinculado à Secretaria de Justiça pregos; aos ganhos reais do salário mínimo (71,5%); e, safio, por outra parte, a formação e qualificação das
e Defesa da Cidadania, juntamen- no meio rural, o reconhecimento social da agricultura organizações da agricultura familiar por agentes de
te com a Secretaria da Agricultura e familiar. Aos programas de garantia da comercializa- Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), com foco
Abastecimento, via Coordenadoria de ção de produtos da agricultura familiar, se aliaram os em mercados, tem se caracterizado como outra fren-
Assistência Técnica Integral (CATI), vis- de garantia da renda agrícola, de seguro climático, de te importante de trabalho adotada pelo Ministério do
lumbrou uma ação capaz de impulsio- acesso ao crédito, de assistência técnica, de acesso à Desenvolvimento Agrário, daí a importância da parce-
nar e ampliar o acesso desse segmento água para consumo e produção na perspectiva de su- ria com os órgãos estaduais de Ater; no caso específi-
Banco de Imagens Fundação Itesp
a tais recursos orçamentários. peração da fome e na garantia da segurança alimentar co de São Paulo, com a Coordenadoria de Assistência
nas regiões mais pobres do País. A melhoria em indi- Técnica Integral (CATI) e também com a Fundação
Assim, nasceu o Programa Paulista
cadores econômicos e sociais resultou no reconheci- Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp).
da Agricultura de Interesse Social
(PPAIS), criado pela Lei n.º 14.591, de 14 mento recente do Relatório de Insegurança Alimentar Os próximos anos seguirão sendo de aprendizado
de outubro de 2011, regulamentado no Mundo (Food and Agriculture Organization – e trabalho no sentido de adequar o PAA ao ambiente
pelo Decreto n.º 57.755, publicado em FAO/2014) e demonstraram que houve acerto na es- e às demandas atuais por acesso ao mercado e garan-
A
24 de janeiro de 2012, tornando São tratégia do governo brasileiro de combate à fome e a tia de renda por um lado, e a demanda por beneficiá-
partir dos trabalhos de Assistência Técnica e desnutrição nos últimos anos. De acordo com a FAO,
Paulo o primeiro Estado da Federação a desenvolver rios consumidores e unidades recebedoras por outro,
Extensão Rural (Ater) foi possível identificar entre 2002 e 2013, caiu em 82% a população de brasi-
um programa de compra direta de, no mínimo, 30% reconhecendo que os desafios colocados hoje para o
com clareza que a comercialização e o aces- leiros em situação de subalimentação.
dos recursos orçamentários em gêneros alimentícios programa são distintos daqueles de 2003 e impõem
so ao mercado dos produtos advindos dos agriculto-
da agricultura familiar via Chamadas Públicas, e tam- O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) con- outra ordem de iniciativas. Tendo essa avaliação em
res familiares representavam um grande gargalo. Era
bém o único Estado que, por meio da Secretaria da tribuiu para esse importante resultado ao garantir mente, desafios como qualificar cada vez mais a rede
preciso criar políticas públicas para fomentar e impul-
Fazenda, possui instrumentos de monitoramento e oportunidades de mercado para grupos mais vulne- de entidades consumidoras e a participação e am-
sionar esse segmento. Estas políticas deveriam con-
controle. ráveis, ampliando a produção de alimentos básicos, pliação dos equipamentos públicos como estruturas
templar e propor alternativas nos seguintes temas:
consolidando mecanismos de garantia de preços jus- recebedoras das doações é fundamental. Da mesma
proteção frente às ações do mercado e às flutuações Desde a sua implantação, o PPAIS já publicou mais
tos, fortalecendo sistemas locais de mercado, fomen- maneira, estimular que governos estaduais e muni-
do preço; garantia de subsídios; informação sobre de 350 Chamadas Públicas, operacionalizou cerca de
tando redes de produtores, assim como estimulando cipais criem legislações, a exemplo do PAA Compra
melhor planejamento da produção e, principalmente, 1.500 contratos e acessou mais de R$ 3 milhões em
a economia local. Institucional, ampliando recursos para a aquisição
quanto às formas de comercialização. A ação conjunta recursos orçamentários, são números expressivos e
local de agricultores familiares, apresenta-se como
de tais aspectos daria ao agricultor familiar a seguran- tendem a crescer ainda mais em 2015. Os agriculto- O novo cenário de superação da pobreza e redu- grande desafio para o próximo período.
ça em relação à produção e venda de seus produtos. res familiares interessados deverão comparecer nos ção drástica da fome e da insegurança alimentar exi-
U
m grande passo para a promoção da agricul- O agricultor familiar pode participar da Chamada
tura familiar está relacionado ao Programa Pública individualmente ou por intermédio de suas a busca de soluções dos problemas e
"
tura familiar, uma vez que adquire alimentos para a
agricultura familiar em 2012 foi de R$ 1 bilhão, sendo Promover o desenvolvimento rural sustentá- ticas públicas, reconhecendo a importância do plane-
alimentação escolar, porém, foi em 2009, com a Lei
efetivamente aplicados R$ 310 milhões, representan- vel, por meio de programas e ações partici- jamento para o fortalecimento da agricultura munici-
n.º 11.947, que se criou um elo institucional entre a
do 31% do total dos recursos disponibilizados. Dos pativas com o envolvimento da comunidade, pal, regional e estadual. O diagnóstico participativo
alimentação escolar e a agricultura familiar local ou
1.668 municípios da região Sudeste, 910 realizaram de entidades parceiras e de todos os segmentos dos propicia a identificação de gargalos e potencialidades
regional. Com a Lei n.º 11.947, no mínimo 30% dos
compras de produtos da agricultura familiar para o negócios agrícolas" é a missão da Coordenadoria de que permitem aumentar a competitividade da agri-
recursos financeiros, repassados pelo Fundo Nacional
PNAE, porém, em alguns municípios essa compra Assistência Técnica Integral (CATI), que a desenvolve cultura familiar por meio de diretrizes e estratégias
de Desenvolvimento da Educação (FNDE), aos esta-
ainda não atinge o mínimo de 30% enquanto outros com o objetivo de fortalecer principalmente o seg- para alcançar a sustentabilidade.
dos e municípios, para a compra de alimentos desti-
chegam até mesmo a ultrapassar. A adesão depende mento da agricultura familiar, incentivando formas
nados ao PNAE, deverão ser utilizados para a aquisi- Com base nesses planos, programas e projetos são
de vários fatores, entre eles, o trabalho desenvolvido associativas de produtores (formais ou informais) e
ção de gêneros alimentícios oriundos da agricultura implementados nos municípios e regiões, com ações
pelas Casas da Agricultura, da CATI, junto aos agricul- fomentando as associações e cooperativas existentes.
familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas de orientação, capacitação e incentivo quanto à me-
tores familiares e suas organizações.
organizações. O fato de estar presente em quase todo o Estado lhoria da produção (produtividade, qualidade dos
O PNAE, pela Lei n.º 11.947/2009, busca garantia à de São Paulo (está em 594 dos 645 municípios pau- produtos e agregação de valor), como no acesso aos
segurança alimentar e nutricional para crianças, com listas) faz de suas Casas da Agricultura a porta de en- mercados (aquisição de insumos e comercialização da
vistas a ofertar alimentos mais saudáveis e frescos, va- trada da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, produção) e investimentos em novas atividades, com
lorizando os hábitos alimentares locais, uma vez que facilitando a implementação de projetos e ações a diversificação da produção.
a participação de agricultores familiares, enquanto que contribuam para a sustentabilidade econômica,
Estimular a adoção de tecnologias de manejo e
fornecedores de alimentos às escolas, pode contribuir social e ambiental, coordenados pelos 40 Escritórios
conservação dos recursos naturais e de produção,
para esse processo, além de fortalecê-los. de Desenvolvimento Rural (Regionais CATI) com
recuperação de áreas degradadas e a diversificação
o apoio da Divisão de Extensão Rural (Dextru), do
O PNAE tem como órgão gestor o Ministério da das atividades agrícolas na busca da sustentabilidade
Departamento de Comunicação e Treinamento (DCT),
Educação, com a coordenação e os recursos do FNDE. das propriedades rurais, são ferramentas dos seguin-
do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes
A aquisição direta de gêneros alimentícios da agricul- tes programas e projetos que estão sendo desen-
(DSMM) e do Centro de Informações Agropecuárias
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
tura familiar ocorre por Chamadas Públicas, que são volvidos pela CATI: Boas Práticas Agropecuárias nas
(Ciagro).
meios de aquisição de produtos em substituição à cadeias produtivas da aquicultura, bovinocultura de
licitação, tornando-se um instrumento mais objetivo Para cumprir com sua missão, a CATI tem incenti- leite e corte, cafeicultura, fruticultura, grãos, hevei-
para a implementação da Lei, proporcionando um vado a adoção de um modelo de desenvolvimento cultura e olericultura; CATI Leite; Integração Lavoura-
contato inicial de forma legal entre os agricultores fa- rural com ações de cunho educativo que ampliam a Pecuária; Plantio Direto na Palha; Recuperação de
miliares e as prefeituras. participação dos diversos segmentos envolvidos para Áreas Degradadas; Educação Sanitária; Projeto de
20 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀21
O
(Pronaf ), com recursos para custeio e investimentos, da de sementes e mudas), atividades metodológicas
conceito de agricultura familiar está ligado Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista
e do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista grupais (cursos, demonstração de métodos e resulta-
dos, excursões, dias de campo, palestras e reuniões à gestão e à produção agropecuária pelos (Feap)
(Feap), com recursos para investimentos. Há também
técnicas) e massais (comunicação escrita, falada etc.). integrantes de uma família, numa certa O Estado de São Paulo também mostra uma gran-
a emissão da Declaração de Conformidade Ambiental
Todas essas atividades são realizadas no sentido de quantidade de terra. O poder público tem percebido a de preocupação em alavancar o desenvolvimento do
da Agropecuária (DCAA), que é uma ferramenta que
promover: importância do produtor chamado de “familiar” para a produtor familiar paulista por meio de programas de
permite viabilizar o crédito rural, sejam linhas de po-
realidade da agricultura brasileira, demonstrando esta financiamento. O Fundo de Expansão do Agronegócio
líticas públicas de incentivo à agricultura familiar ou • divulgação e incentivo ao público – difusão de tec-
preocupação por meio de muitas oportunidades – Paulista (Feap) é o instrumento que disponibiliza di-
outras. Ainda como uma ação importante para o es- nologias sustentáveis, integração, cumprimento de
reconhecidas como políticas públicas – direcionadas ao
tabelecimento de políticas públicas se insere a reali- legislação e diversas informações agropecuárias; versas linhas de crédito, as quais são divulgadas pelos
planejamento, financiamento, proteção da produção e
zação do Levantamento Censitário das Unidades de • capacitação técnica – divulgação de tecnologias órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento,
também comercialização dos produtos agrícolas.
Produção Agropecuária (LUPA), Levantamentos de sustentáveis, dos pontos de vista econômico, social e especialmente as Casas da Agricultura e os Escritórios
Safra e de Preços, ambos realizados em parceria com ambiental, mais adequadas aos produtores envolvi- As políticas públicas voltadas ao apoio do agricultor Regionais da CATI.
o Instituto de Economia Agrícola (IEA) pertencente dos nos diversos programas e projetos, por meio de com perfil familiar costumam ser bastante vantajosas,
à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios orientação, capacitação e execução técnica; podendo, por exemplo: possibilitar a proteção da De maneira semelhante ao Pronaf, para acesso
(Apta), e análises de projetos do Fundo Estadual de • avaliação de resultados – acompanhamento periódi- produção agrícola (por meio de seguro agrícola, aos recursos do Feap o produtor também deve pro-
Recursos Hídricos (Fehidro). co das ações desenvolvidas nos programas, com o ob- subvenção de seu prêmio e políticas de proteção de curar os técnicos das Casas da Agricultura, a fim de
jetivo de avaliar a consistência dos resultados obtidos, preços); facilitar o acesso a canais de comercialização verificar seu enquadramento e assim poder receber a
Como instrumento de melhoria da renda das orga-
garantindo seu encaminhamento; (por meio de programas de compras governamentais); Declaração de Aptidão ao Feap (DAF). Após essa eta-
nizações rurais e dos agricultores, a CATI desenvolve
• difusão de resultados – caracterizado por ações que oferecer oportunidades interessantes de financiamento pa, os técnicos da CATI irão elaborar gratuitamente
ações para o acesso às políticas públicas que incen-
permitem ao público envolvido nos programas e pro- da produção – em outras palavras, crédito rural. uma proposta de crédito que seja compatível com
tivam a comercialização da produção da agricultura
jetos e ao público externo, tomar conhecimento dos Em relação a esse último, as principais vantagens a produção agropecuária, para ser encaminhada ao
familiar como o Programa de Aquisição de Alimentos
resultados obtidos; encontradas entre as linhas de crédito disponíveis para agente financeiro.
(PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento
• acompanhamento técnico administrativo – os produtores conceituados como familiares estão juros
(Conab); o Programa Nacional de Alimentação Escolar As oportunidades de financiamento concentram-
ações de supervisão, acompanhamento, controle, a baixos e longos prazos para se pagar o empréstimo.
(PNAE), do Plano Nacional de Alimentação Escolar; e -se em três grandes programas do Feap: linhas de cré-
o Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social avaliação e desempenho nos diversos programas e O reconhecimento formal, pelo governo, dos
projetos. dito convencionais (entre as quais o Feap Aguapeí-
(PPAIS). Como grande incentivadora do acesso das produtores com o perfil “familiar” se dá pela análise de
Peixe, que abrange produtores rurais pertencentes
organizações rurais a essas políticas, a CATI auxilia na Para a implantação de sistemas verdadeiramente alguns fatores, tais como a quantidade de empregados
elaboração do projeto, planejamento da produção e contratados para trabalhar junto com a família, os aos 57 municípios paulistas que compõem a Bacia
sustentáveis e para que haja fortalecimento da agri- Hidrográfica Aguapeí-Peixe); Programa Pró-Trator,
da logística e na orientação para a qualidade dos pro- cultura familiar precisam ser desenvolvidas ações po- rendimentos provenientes da exploração da terra e a
dutos. proporção entre eles e a renda fora da propriedade. Programa Pró-Implemento e Integra SP (para recupe-
sitivas de cunho educativo, que envolvam os setores
Esses fatores podem ser mais ou menos restritivos, ração de áreas degradadas). As linhas convencionais
produtivos na busca de soluções
dos problemas. Além disso, devem dependendo da política pública que os considera, seja financiam os sistemas de produção a juros de 3% ao
ser viabilizadas estratégias que esti- em âmbito federal, estadual ou municipal. ano (que cai para 2,25% se não houver inadimplên-
mulem a organização rural, a quali- cia), com prazos de pagamento que variam de cinco
Programas de financiamento têm alavancado a
ficação das organizações e a mobili- agricultura familiar. Na esfera estadual tem-se o Fundo de
até 12 anos, dependendo das características defini-
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI
zação da comunidade. Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), vide box. Na das em cada linha e das necessidades do empreen-
federal, existe o Programa Nacional de Fortalecimento dimento. Esse financiamento pode ser acessado para
A CATI entende que desenvolver
da Agricultura Familiar (Pronaf ), que para ser acessado, diversas culturas e empreendimentos, tais como:
ações em parceria com a pesquisa e
a defesa agropecuária, priorizando primeiro o produtor deve procurar os técnicos das Casas agricultura em ambiente protegido, agricultura or-
a família rural, é o caminho para o da Agricultura da CATI ou outros agentes habilitados gânica, apicultura, avicultura de corte, fruticultura,
desenvolvimento rural sustentável, a emitir Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Esses pecuária de leite, ovinocultura, apoio a pequenas
com a melhoria de renda e o padrão técnicos irão fazer uma análise de enquadramento, agroindústrias, pesca artesanal, piscicultura, cafeicul-
de qualidade de vida dos produto- levantando junto ao produtor as informações e critérios tura, pupunha, bubalinocultura, entre outras.
res, por meio de uma maior eficiên- que o caracterizem de fato como “agricultor familiar”.
Já os Programas Pró-Trator e Pró-Implemento pos-
cia econômica, com adequações ne- Após essa análise e eventuais visitas à propriedade
sibilitam o financiamento, por meio de outras linhas
cessárias ao manejo das atividades. rural explorada, os técnicos podem finalmente emitir
Entretanto, esse desenvolvimento o documento, que possibilita caminhar para o passo de crédito além das convencionais, de tratores e im-
será incompleto se não for levada seguinte: a elaboração de uma proposta de crédito plementos novos a juro zero. O empréstimo pode ser
em consideração a preservação do vinculada ao planejamento da produção agropecuária, amortizado em até seis anos, com carência de até três
Dia de Campo sobre Projeto CATI Leite
meio ambiente, a qual sempre foi a qual, inclusive, pode ser realizada pelos próprios anos, sendo que os juros são pagos pelo governo do
objetivo da instituição. técnicos da CATI, que são aptos para isto. Estado de São Paulo.
22 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀23
A seguir algumas linhas de crédito oferecidas por meio do Pronaf. Microbacias II: portas abertas para a
LINHA DE CRÉDITO
Pronaf
Custeio Tradicional
PÚBLICO
Agricultor familiar com
renda bruta anual de até
FINALIDADE
Atividades agropecuárias, flores-
tais e pesqueiras.
Seja em relação ao Feap ou ao
Pronaf, o valor financiável varia em agricultura familiar acessar o mercado
função das características de cada
R$ 360 mil. linha de crédito, assim como da
Pronaf Agricultor familiar com Atividades agropecuárias, flores- Cláudio Antônio Baptistella – Diretor da CATI Regional Araçatuba –baptistella@cati.sp.gov.br
proposta de financiamento e da
Mais Alimentos renda bruta anual de até tais e pesqueiras. capacidade de pagamento do pro-
R$ 360 mil. ponente. Para saber mais detalhes,
Pronaf Produtores familiares, Atividades que agreguem renda procure a Casa da Agricultura da
Agroindústria empreendimento familiar à produção e aos serviços desen- CATI.
rural – pessoa jurídica, volvidos pelos beneficiários do
cooperativas singulares e Pronaf.
centrais e associações. Mais informações:
Pronaf Floresta Todos os agricultores Implantação de projetos de www.cati.sp.gov.br
familiares beneficiários do sistemas agroflorestais, explora-
Pronaf. ção extrativista ecologicamente
sustentável, plano de manejo e
manejo florestal.
Pronaf Mulher Mulheres agricultoras, Investimento para atividades
independentemente do agropecuárias, turismo rural,
estado civil. artesanato e outras atividades no
meio rural, que sejam de interes-
se da mulher agricultora.
Pronaf Jovem Filhos de agricultores fami- Investimento para atividades
liares, maiores de 16 anos e agropecuárias, turismo rural,
com até 29 anos. artesanato e outras atividades no
meio rural.
Arquivo CA de Pirajuí
Pronaf Custeio Produtores(as) familiares, Custeio do beneficiamento, da
Agroindústrias empreendimento familiar industrialização e da comerciali-
Aquisição de colheitadeira de café pela Associação de Produtores Rurais da
Familiares e de rural – pessoa jurídica, zação da produção. Microbacia Hidrográfica do Rio Dourado de Pirajuí.
Comercialização cooperativas e associações
O
que desejam beneficiar ou
Estado de São Paulo vem desenvolvendo social da atividade rural. São beneficiários diretos do
industrializar a produção.
um conjunto de políticas públicas voltadas Projeto, as associações e cooperativas de produtores
Pronaf Agricultores familiares Integralização de cota-parte; apli- ao fortalecimento da agricultura paulista, rurais e comunidades tradicionais de povos indígenas
Cota-Parte filiados a cooperativas de cação em Custeio, Investimento e
em especial para os pequenos e médios produtores, e quilombolas envolvidos em atividades tipicamente
produção com os crité- capital de giro.
tendo em vista o reconhecimento da importância rurais agrícolas e não agrícolas. O Projeto tem como
rios: 60% deles com DAP;
patrimônio líquido mínimo
fundamental da agricultura familiar para o Estado, em meta beneficiar diretamente 22.000 famílias de agri-
de R$ 25 mil; 1 ano de termos de geração de emprego e receitas, e está em- cultores familiares integrantes de 300 organizações
funcionamento. preendendo esforços especiais para que as atividades de produtores rurais e grupos tradicionais de indíge-
Pronaf “B” Agricultores familiares com Investimento para atividades
agrícolas sejam potencialmente mais rentáveis e ga- nas e quilombolas.
renda bruta anual de até agropecuárias e não agropecu- rantam maiores e mais consistentes fluxos de renda.
É possível afirmar que o Projeto Microbacias II re-
R$ 20 mil. árias Um bom exemplo é o Projeto de Desenvolvimento presenta uma das mais importantes ações desenvol-
Pronaf Agricultores familiares Investimento para implantação Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso ao Mercado, vidas pelo governo estadual para o fortalecimento da
Agroecologia dos sistemas de produção agroe- do governo do Estado de São Paulo desenvolvido com agricultura familiar paulista. Trata-se de um projeto
cológicos e/ou orgânicos ousado e inovador na medida em que se propõe a
recursos próprios e também provenientes de Acordo
Pronaf ECO Agricultores familiares Miniusinas de biocombustíveis; de Empréstimo com o Banco Mundial. Executado apoiar associações e cooperativas de produtores ru-
Sustentabilidade geração de energia, tecnologias rais, para que obtenham uma participação mais efe-
Lilian Cerveira – Cecor/CATI
Adamantina
domínio e outros) e informais, capaz de gerar
mais renda a partir da atividade rural e, prin-
cipalmente, de reduzir o êxodo rural da popu- Casa da Agricultura de
lação mais jovem, permitindo que passem a
participar do processo de gestão desses novos Políticas públicas incentivam a produção, a comercialização e garantem segurança alimentar
empreendimentos com suas famílias, criando
a perspectiva de que seja um bom negócio ser Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br
agricultor e garantindo a sucessão da atividade
agropecuária dentro da família.
“
A união faz a força”. Ditado mais que sacramen-
É fato que se os pequenos e médios produ- tado, em Adamantina, município de pouco mais
tores têm muita dificuldade de se viabilizarem de 30 mil habitantes, ganhou novos ares na jun-
de forma isolada no ambiente competitivo den- ção de pilares que estão transformando o cenário agro-
to fértil que demandará novas políticas visando forta- possam ter renda e se manter no campo, pois temos tadual, que visa à aquisição de alimentos da agricul-
Ampliação do Laticínio da Associação
lecer a agricultura familiar, as quais serão favorecidas grande tradição agropecuária na região, que já foi uma tura familiar por instituições públicas. “Este programa
dos Produtores de Leite do Município de pelo ambiente construído pelo Projeto, resultando, grande produtora de café, amendoim e algodão, mas prevê que 30% dos recursos da Prefeitura destinados
Adamantina e Região. portanto, num ciclo virtuoso que beneficiará toda a sofreu com o êxodo rural na época de crise dessas cul- à alimentação sejam investidos na agricultura familiar”,
sociedade. turas”, informa o prefeito Ivo F. dos Santos Junior. esclarece o agrônomo, acrescentando: “a importân-
26 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀27
cia das políticas públicas para o município podem ser dia. O apoio da leite aumentasse consideravelmente. Verificamos que Mas para o casal, a maior satisfação é ver que os
percebidas pelos números: em 2014 foram aplicados CATI tem sido de- as crianças estão consumindo cada dia mais vegetais, filhos José Carlos, 26, e Fernando, 24, apesar de for-
diretamente na agricultura familiar cerca de R$ 2,5 mi- cisivo desde então, o que se reflete na saúde. Com apoio de nossa nutri- mados, escolheram continuar na atividade agrícola e
lhões advindos do PAA, do Pnae e do Pmais”. Parte do pois além de apoio cionista temos realizado um trabalho com as famílias, investir seus conhecimentos na propriedade. “Com a
sucesso dos programas se deve a organização de um para estruturação, para que os bons hábitos adquiridos pelas crianças, renda melhorando temos a garantia de poder viver da-
a entregar polpa de frutas na me- Alimentos do produtor direto para a nutrição de rural. “Há alguns anos tínhamos apenas café e milho e pois tem nos garanti-
renda escolar de Adamantina, crianças não estava dando para sobreviver. Eu morria de medo do uma renda certa, a
mas temos buscado novos mer- Na Instituição Solidária Carlos Pegoraro, que aten- de ter que morar na cidade, pois esse sítio vem desde qual podemos inves-
cados. Em breve, iremos implan- de 260 crianças de o meu bisavô. O técnico da Casa da Agricultura nos in- tir na propriedade”,
tar uma unidade de hortaliças 0 a 15 anos com centivou a mudar de atividade e participar do PAA por conta o casal, que faz
minimamente processadas, na atividades extracur- meio da associação. Foi uma grande mudança”, comen- questão de repassar
qual serão investidos mais de R$ riculares, o horário ta Waldomiro Ferreira Marques. os conceitos apren-
1 milhão, o que facilitará o trabalho das funcionárias do almoço é uma didos, abrindo a pro-
da merenda escolar e abrirará novos horizontes de co- festa. Crianças que Com uma produção que vem aumentando, tendo priedade para a rea-
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
mercialização. Construiremos um barracão, comprare- ficam em regime como carro-chefe a goiaba, a família teve um incre- lização de palestras e
mos equipamentos, câmara fria e um caminhão, com de creche e outras mento de renda e melhoria na qualidade de vida. “Eu Dias de Campo.
recursos do Projeto Microbacias II”, explica Antonio que alternam perí- nem acredito onde chegamos, parece um sonho. Nossa
Manzano de Oliveira, presidente da APPRAR, destacan- odos com a escola vida melhorou muito. Minha única ressalva é que eu Valdinéia, que na
do: “A CATI tem sido fundamental em todo o processo formal, se revezam gostaria de ter 40 anos para continuar trabalhando e escala de trabalho da
de desenvolvimento. no refeitório, onde a aproveitando essas coisas boas”, fala dona Fátima, de propriedade é a res-
refeição ganhou cores e sabores novos. No berçário, a 62 anos, contabilizando, com o esposo Waldomiro, as ponsável pela entrega das mercadorias, ainda acres-
Na pecuária leiteira, também foram conquistados alimentação com “procedência e RG” contribui para a conquistas que incluem reforma na casa, construção centa: “Costumamos dizer que não comercializamos
grandes avanços, a partir do fortalecimento do asso- nutrição saudável na primeira infância. “Há pouco mais de um barracão, aquisição de um trator e implemen- só verduras e frutas, mas amor agregado. É um prazer
ciativismo e da inclusão nas compras institucionais. de dois anos, fomos incluídos no Projeto de Doação tos, bem como de mais uma área, onde foi colocado conversar com as pessoas no mercado e ver como es-
“Fundamos a associação em 2003 e o laticínio em Simultânea da Prefeitura, realizado por meio do PAA. um pequeno rebanho de gado de corte. “É para fazer peram o nosso produto. Tenho muito orgulho de dizer
2005; começamos com processamento de 300 litros/ Isso fez com que a nossa oferta de frutas, verduras e uma poupança”, contam sorridentes. que somos produtores rurais”.
28 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀29
Sementes e mudas para a agricultura familiar: Mudas para a agricultura familiar e a extensão rural
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por procura inicial de uma muda de qualidade pelo agri-
João Paulo Teixeira Whitaker - Diretor do Centro de Produção de Sementes do Departamento de Sementes Mudas e Matrizes
meio da CATI, realiza um amplo trabalho de extensão cultor desencadeia toda uma sistemática de ações são
(DSMM/CATI) - cps_ex@cati.sp.gov.br
rural e assistência técnica aos agricultores familiares do inúmeros, e, para citar apenas dois, destacam-se os
Estado de São Paulo e um dos instrumentos que con- realizados com organizações de produtores, como a
N
ão é recente a fato de serem de poliniza- tribui para realização desse trabalho é a produção de Associação Brasileira dos Produtores de Anonáceas e
preocupação ção aberta, ou seja, diferen- mudas realizada nos Núcleos de Produção de Mudas a Associação Paulista dos Produtores de Caqui, com as
mundial pela temente das híbridas, pos- da instituição. A muda é um insumo básico e sobre ela quais a Secretaria de Agricultura, por meio dos Núcleos
produção de alimentos suem maior diversidade recai a responsabilidade de sustentar um futuro po- de Produção de Mudas da CATI, participou ativamente
que possa atender nos- genética e maior rusticida- mar sadio e produtivo. No entanto, para atingir o nível de suas fundações e hoje verifica que elas se tornaram
so planeta, o qual soma de, têm alta capacidade de de uma produção sustentável, deve ser repassado aos grandes responsáveis pelo Produto Interno Bruto (PIB)
hoje mais de 6,8 bilhões enfrentar pragas, doenças
agricultores o conhecimento sobre vários fatores para o da fruticultura temperada do Estado de São Paulo.
de habitantes. Todos os e situações adversas de
dias, são 200 mil novas seca, ou de solos mal corri- bom andamento do plantio, tais como a adoção de prá-
As mudas disponibilizadas pela CATI são produzidas
Lilian Cerveira – Cecor/CATI
pessoas que chegam à gidos, o que garante ampla ticas conservacionistas de água e solo; o preparo inicial
com as mais modernas tecnologias e um exemplo é a
mesa para se alimentar, adaptação a diversas con- com atenção à escolha da melhor cultivar; o manejo das
produção de mudas de ameixa, única no Brasil, a qual
além disso, há suas ne- dições de solo e clima. mudas com nutrição equilibrada; a realização de podas
desde as plantas fornecedoras de material de propaga-
cessidades por energia, de produção e adoção de ações ligadas às Boas Práticas
Além disso, as semen- ção, passando pela produção de porta-enxertos, até a
vestuário, água, terra e Agrícolas da propriedade.
tes colhidas dos campos, muda finalizada, permanece em ambiente protegido
outros recursos naturais.
descendentes do tipo va- Os extensionistas da CATI, ao longo de anos de tra- com tela antiafídeo e piso concretado, garantindo ao
Segundo a Organização das Nações Unidas para a
riedade, podem ser guardadas e semeadas na safra balho, perceberam que o momento no qual o agricul- fruticultor familiar uma muda livre da Xylella fastidiosa
Agricultura e Alimentação (FAO), para que um terço
seguinte, se forem tomadas algumas precauções de tor procura a instituição para aquisição de mudas e Wells et al, causadora de escaldadura e fungos de solo.
a mais da população atual tenha alimentos no ano de
isolamento e armazenamento, pois as característi- sementes é um período ideal para identificar as suas
2050, a produção agrícola deverá aumentar em 70%, Outro exemplo é a muda de atemoia, que após anos
cas serão mantidas na próxima geração, garantindo necessidades. Ao se propor e realizar visita técnica à sua
por isso, a agricultura moderna deverá ser capaz de de exaustivos estudos de porta-enxertos e de adapta-
o sucesso da lavoura subsequente. Dessa forma, as
suprir essa demanda, de forma a aumentar a produti- propriedade para orientação do cultivo das mudas ad-
sementes do tipo variedade são as mais recomenda- ção das melhores cultivares para o Estado, culminou em
vidade de maneira sustentável, ou seja, preservando o quiridas, iniciava-se então o processo de orientação das
das para o sucesso da agricultura familiar, pois têm um sistema produtivo o qual a iniciativa privada ado-
meio ambiente. Portanto, somente com a introdução Boas Práticas Agrícolas daquela propriedade e identifi-
custo menor, que aliado aos menores gastos com tou como padrão de produção. Apesar do maior custo
de novas tecnologias a agricultura poderá garantir a cava-se também a comunidade onde aquela proprieda-
defensivos agrícolas, geram ótimos lucros para os agregado à produção da muda, o valor de comércio é o
segurança alimentar da população. de estava inserida e começava um trabalho coletivo por
agricultores. mesmo de uma muda comum encontrada no mercado,
A FAO celebra em 2014 o “Ano Internacional da meio de dias de campo.
Um exemplo de sucesso é o caso das sementes de isso com o objetivo de não repassar custos ao agricultor
Agricultura Familiar”, com o objetivo da inclusão dos
milho do tipo variedade, não transgênicas, que a CATI São inúmeros os exemplos desse trabalho de familiar, principal usuário das mudas produzidas pela
pequenos e médios produtores na discussão em tor-
produz e comercializa com enorme adaptabilidade às Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em que a Secretaria de Agricultura.
no do aumento da produção de alimentos no País e
mais diversas condições de solo e clima, além da alta
no mundo. A agricultura familiar é responsável pela A Fundação Itesp, o Instituto Nacional de Colonização
produtividade. São mais de 12 variedades de milho
produção de 70% dos alimentos que vão à mesa do e Reforma Agrária (Incra) e a Fundação Nacional do
lançadas pela CATI nos últimos anos, como o milho
brasileiro, mas, conforme dados da Confederação Índio (Funai), que também atuam como agentes de
branco, o milho pipoca e a primeira semente orgânica
Nacional da Agricultura, apenas 11% dos agricultores Ater junto aos agricultores familiares quilombolas e in-
de milho existente no Brasil, o “AL Avaré”. O agricultor
familiares têm acesso regular a insumos tecnológicos,
orgânico de milho agora tem acesso a uma semente dígenas, também utilizam, em ampla escala, as mudas
entre os principais destacam-se as sementes e mudas,
de alta qualidade que atende aos requisitos legais do produzidas pela CATI, por conta do custo de aquisição,
e é por isso que os projetos de pesquisa e extensão
sistema de produção orgânica, tecnologia de precei- da confiança e da credibilidade na qualidade e no prazo
rural devem voltar seus esforços para suprir essa de-
tos sustentáveis que promovem a biodiversidade na de entrega.
manda.
lavoura.
Dessa forma, a produção de mudas e sementes,
Sementes variedades produzidas pela CATI Além do milho, também já foram lançadas pela como insumos básicos nos quais devem estar embuti-
A CATI, por meio de seu Departamento de CATI sementes de outras espécies: feijão, girassol,
guandu, mamona, nabo forrageiro, painço, setária itá- das tecnologias que garantam qualidade genética, sani-
Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), cumpre com dade e padrão, são instrumentos utilizados com suces-
suas atribuições ao oferecer continuamente novas lica, sorgo e sorgo vassoura. O portfólio inclui ainda
sementes de arroz, aveia, cevada, trigo e triticale. so pela Secretaria de Agricultura na realização de seu
tecnologias, embutidas em sementes de diversas
espécies alimentícias e energéticas, cada vez mais trabalho de Ater.
As sementes do tipo variedade têm sido uma das
Arquivo DSMM/CATI
produtivas e tolerantes às adversidades. As varieda- tecnologias mais eficientes e duradouras na conquis-
des desenvolvidas pelo DSMM não são híbridas nem ta da produtividade e sustentabilidade das lavouras Os endereços dos Núcleos de Produção de Mudas e
transgênicas, sendo obtidas por métodos tradicionais dos agricultores familiares, pois promovem bons re- dos de Produção de Sementes estão disponíveis no
de melhoramento e contínua seleção genética. Pelo tornos econômicos e ambientais. site: www.cati.sp.gov.br
30 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀31
H
á 20 anos, instituições como a Food and estabelecimentos. A região de maior concentração é o
Agriculture Organization (FAO) das Nações Nordeste (37,48% e 89,13%, respectivamente) e a de me- Regina Aparecida Leite de Camargo – Professora da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) – Faculdade de Ciências
Unidas, e a International Food Policy and nor é o Centro-Oeste (9,07% e 68,52%). A região Sudeste Agrárias e Veterinárias (FCAV) – Campus de Jaboticabal – regina@fcav.unesp.br
Research Institution (IFPRI), já enfatizavam que o proble- assume o quarto lugar com 23,58% e 75,92, sendo São Maristela Simões do Carmo – Professora da FCAV – Unesp – Campus de Botucatu – stella@fcav.unesp.br
ma da fome no mundo não estava relacionado à produ- Paulo o Estado com menor porcentagem (15,01% e
ção disponível, mas ao problema de distribuição, causa- 66,35%). Estudo feito para avaliar a importância econô-
do, principalmente, pela lógica econômica, socialmente mica da atividade primária e do agronegócio familiar, no
injusta. A preocupação com os efeitos sociais levaram final da década passada, demonstrou que São Paulo é, Sustentabilidade e desen-
estas e outras instituições, como o Banco Mundial, a bus- em geral, o segundo Estado em importância, embora volvimento podem parecer
car formas de fomentar políticas que tivessem como foco perca dois postos em relação à renda gerada na própria conceitos antagônicos se o
a questão social do desenvolvimento. A Via Campesina, agricultura. primeiro for pensado em ter-
representação mundial dos movimentos de agricultores mos de algo que permanece
Uma característica importante de São Paulo é o seu
familiares, declarou ser direito e dever de cada comuni- imutável ao longo do tempo
grau de urbanização. Em 2010, segundo os dados do
dade produzir seus próprios alimentos, e definiu a pro- e o segundo como implicando
Censo Demográfico, 84,35% da população brasileira re-
dução e distribuição de alimentos como parte inegociá- mudança ou, ainda, como a
sidia em área urbana contra 95,88% em São Paulo. No
vel da soberania de um povo. É neste contexto e sinergia
mesmo ano, estavam em São Paulo 20,40% das cidades retirada de todo invólucro que
que se desenvolvem, internacionalmente e no País, as
brasileiras com mais de 50 mil habitantes. Isto se traduz pode estar restringindo o cres-
políticas de agricultura familiar e segurança alimentar,
em mercado local para os agricultores familiares que vi- cimento. Segundo a Comissão
enfocando a importância de circuitos curtos, tanto para
vem próximos às cidades e, também, a possibilidade de Mundial sobre Meio Ambiente
a renda do agricultor como para melhoria nas condições
se desenvolver programas de agricultura para comple- e Desenvolvimento (CMMAD),
de distribuição e abastecimento.
mentação de renda, geração de emprego, ampliação da o desenvolvimento sustentá-
Associa-se a agricultura familiar a uma unidade de disponibilidade de alimento barato e melhoria nas con-
vel deve estar alicerçado em
produção agropecuária onde a família é dona dos meios dições de segurança alimentar. A produção para o mer-
de produção e do seu próprio trabalho. As decisões são cado local garante produtos frescos e saudáveis ao con- três eixos inter-relacionados:
U
bilidade e o aprender tecnológico. O ambiente social e
que caracteriza o Estado, expulsa a produção agríco- ma das lembranças que guardamos da in- damentais do desenvolvimento e da agricultura sus-
econômico em que se insere define a sua possibilidade
la e, se o agricultor for apoiado como um prestador de fância passada no sítio dos nossos avós é tentáveis e a prática de grande parte dos produtores
de resistir ao modo diferente de vida da sociedade mais
serviços ecossistêmicos na sua transição agroecológica a de ter sempre alguma fruta para colher familiares.
ampla, por isto é fundamental que sua reprodução ma-
e na multifuncionalidade da agricultura, prestará não
terial esteja inserida na vida em comunidade. do pé. Frutas que nosso avô gostava de enfileirar na Sustentabilidade econômica e agricultura familiar
somente o serviço de produção de alimento, mas con-
Para determinar a quem deve chegar os benefícios tribuirá com: qualidade do ar; microclima; proteção dos varanda, prontas para o consumo da família ou para
A produção familiar deve gerar renda para as famí-
da política, critérios mensuráveis são definidos. Assim, mananciais; preservação das áreas de risco; paisagem e presentear as muitas visitas.
lias e para a sociedade, ou seja, a produção deve abas-
a Lei Federal n.º 11.326/2006, alterada pela Lei n.º visitação; preservação de equipamentos turísticos e de Para falar da ligação entre agricultura familiar e tecer a família e gerar excedentes. Segundo o Censo
12.512/2011, e o Decreto n.º 6.040/2007 definem os pos- lazer; manutenção do museu vivo da cultura e recupera- produção sustentável é necessário retomar algumas Agropecuário de 2006, a agricultura familiar respon-
síveis beneficiários da política. Para cada política especí- ção da fertilidade do solo.
das características constituintes dessa categoria de de por cerca de 38% do Valor Bruto da Produção
fica: crédito, implantação de assentamento etc., critérios
Um programa estadual de agricultura familiar e se- produtores e entender como esses fatores criam a Agropecuária, embora ocupe apenas 24,3% da área
mais restritivos são definidos, refletindo a prioridade
gurança alimentar precisa considerar as experiências base para esta e outras discussões correlatas, como, agrícola total. Com certeza existem muitos produtores
dada ao segmento da agricultura familiar que se quer
que os municípios já vêm desenvolvendo, em termos de por exemplo, a da multifuncionalidade da agricultura. familiares que dependem de outras fontes de renda
atender.
fortalecimento dos mercados locais e de fomento à pro- O tripé formado pelo trabalho familiar, posse ou aces- para sobreviver, mas uma grande parcela vive da ren-
Utilizando a definição legal como filtro nos dados do dução dentro das cidades. Terá como efeito promover
so aos meios de produção e consumo é, na sociologia da gerada pela produção. A agricultura familiar está
Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro melhor distribuição de renda; inserção social; criação
de Geografia e Estatística (IBGE), pode-se quantificar de emprego digno de baixo custo; redução da violência; rural, parte da caracterização da produção familiar. É presente em praticamente todas as cadeias produti-
sua importância no País. Assim , com base nos dados de fortalecimento da estrutura familiar; saúde, pelo efeito na indissociabilidade entre trabalho e consumo que vas e se destaca naquelas que visam à produção de
2006, podemos dizer que a agricultura familiar no Brasil terapêutico da reintegração homem e natureza; e segu- encontramos a justificativa e o alicerce para a geral- gêneros alimentícios para o mercado interno, como é
ocupa 24,32% da área agrícola e representa 84,40% dos rança alimentar, com melhores padrões nutricionais. mente diversificada produção familiar. o caso da mandioca, do feijão, do leite e de suínos.
32 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀33
E
interconhecimento, marcadas por relações de paren- a comercialização localizada criam as condições para m 2000, uma nova maneira de trabalhar a
tesco e vizinhança, Além disso, a agricultura familiar é o desenvolvimento de uma agricultura ambiental- agricultura familiar passou a ser desenvolvida
a grande empregadora no meio rural, responsável por mente sustentável, mas que necessita de programas pela CATI, órgão responsável pela extensão
quase 75% dos empregos no campo. de políticas públicas de fácil acesso e estruturados rural no Estado de São Paulo. Foi quando teve início
A associação entre agricultura familiar e meio para esse fim. o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas
ambiente com o objetivo de reunir as comunidades para que
A maior parte dos produtores orgânicos e agroe- decisões sobre como atuar de forma sustentável e
Esta relação guarda as contradições inerentes à so- cológicos atualmente no Brasil é de base familiar. A associativa em torno de uma área geográfica deli-
brevivência de um segmento que foi historicamente produção agroecológica ou em processo de transi- mitada por microbacias fossem tomadas de maneira
relegado ao segundo plano, frente ao apoio destina- ção agroecológica está presente nos assentamentos participativa. Essa atuação dos técnicos das Casas da
do ao monocultivo exportador. Fazem parte dos que- rurais, nas comunidades quilombolas e entre os pro- Agricultura e Regionais CATI fortaleceu o associativis-
sitos da agricultura sustentável a biodiversidade, a dutores familiares em geral. A comercialização dessa mo, novos grupos foram formados em torno de obje-
integração entre produção vegetal e animal, a conser- produção em feiras municipais e outros pontos de tivos comuns, compras foram realizadas em conjunto,
vação dos recursos naturais, o cuidado com o solo e a venda do comércio local reforça os desejáveis circui- equipamentos foram compartilhados por famílias de
eficiência energética na produção e no transporte das agricultores familiares, poços artesianos comunitários
tos curtos de comercialização, diminuindo o desper-
mercadorias. Pesquisas de campo em comunidades levaram água onde faltava, técnicas de conservação
dício e os gastos com transporte. do solo foram disseminadas, nascentes foram prote-
quilombolas encontraram variedades de sementes e
Para o florescimento e a expansão de uma agri- gidas pela recuperação de matas ciliares, enfim, todo
mudas que são passadas de geração para geração há
cultura verdadeiramente sustentável, precisamos apoio foi dado para que os agricultores familiares pu-
mais de 200 anos. Pela interdependência entre produ- dessem produzir e se manter na atividade com sus-
ção e consumo, que caracteriza a produção familiar, superar o produtivismo e o imediatismo presentes
na denominada agricultura moderna, para recuperar tentabilidade econômica, social, cultural e ambiental.
mesmo nas propriedades mais tecnificadas e espe-
cializadas, é comum a existência de pelo menos um plenamente a noção de agricultura como a arte de “Na verdade, o que a CATI sempre fez foi trabalhar
pomar e uma horta no entorno da casa, principalmen- cultivar os campos, apoiada por uma sociedade que com prioridade para a agricultura familiar, dando su-
entende que a produção de alimentos não pode ser porte às principais cadeias produtivas do Estado de
te quando a família mora na propriedade. Por outro
saudável sem respeitar o ambiente e as pessoas que São Paulo e ainda hoje é o que fazemos. A novidade
lado, a escassez de recursos – naturais e financeiros –, ficou por conta da atuação participativa e do compro-
o tamanho diminuto de grande parte dos estabeleci- participam dessa produção. Por isso, é primordial que,
ao tratarmos da ecologização da agricultura, também metimento dos atores, com envolvimento de comu-
mentos familiares, a falta de informações e a herança nidade, prefeituras, conselhos municipais e regionais
da modernização forçada há apenas algumas décadas recuperemos a “condição camponesa” como referen-
de desenvolvimento rural e dos técnicos”, argumenta
podem levar a uma exploração excessiva do solo e a cial de análise da sustentabilidade da agricultura e do o coordenador da CATI, José Carlos Rossetti, que está
consequente diminuição de sua fertilidade. rural contemporâneo brasileiro. a frente da instituição há 10 anos, somando dois perí-
rural não é mais visto apenas como local de atividade que facilitassem aos agricultores familiares conquistar cooperativas formalizadas há mais de um ano. A par-
agrícola, também dele espera-se a produção de bens novos nichos de mercado ou produzir com mais qua- tir de 2011 foram realizadas cinco Chamadas Públicas
como a paisagem, o meio ambiente preservado, os lidade visando novos mercados, ou ainda, que se tor- envolvendo várias Iniciativas de Negócio voltadas ao
serviços ecossistêmicos, as tradições culturais e assim nassem a estar aptos a atender as demandas criadas mercado. Até dezembro de 2014, a CATI aprovou 218
por diante. E é o produtor familiar, herdeiro de tradi- por políticas públicas de compra de alimentos, como Propostas de Iniciativa de Negócio, dessas 152 estão
34 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀35
H
um novo e promissor mercado o qual oferece retorno
dução e houve, também, a melhoria da infraestrutura á 30 anos, Esmeraldo Pereira de Souza aca- Wagner Dantas da Silva, engenheiro agrônomo da CA,
certo e, com isso, os agricultores familiares passaram
das Casas da Agricultura e Regionais CATI envolvidas. lentava o sonho de voltar às raízes rurais Esmeraldo Pereira de Sousa, produtor rural, e Carlos
a produzir mais e melhor para atender, de forma pro-
Em 2014 foram 24 municípios conveniados que pude- em Mariápolis, município de pouco mais de Alberto dos Santos, agente de apoio da CA: crédito
fissionalizada, estes e outros mercados, como feiras e
ram contar com a readequação de estradas, com re- quatro mil habitantes, localizado no Oeste Paulista, na rural transformou a vida de famílias em Mariápolis.
comércio local, com o excedente da produção.
passe de R$ 7,4 milhões e as prefeituras fecharam com região do Aguapeí-Peixe. O casal Aparecida e Devanir
“Por meio do Microbacias II, as associações e coo- mais 10% de contrapartida. Dessa forma, da produção Sinciarelli atuou como arrendatário por 25 anos, mas
perativas de produtores rurais estão viabilizando ne- à logística de entrega dos produtos, todo um círculo sempre com o desejo de comprar um pedaço de terra
gócios sustentáveis, com acesso a mercados com os se fechou garantindo a comercialização da produção. que pudesse chamar de seu e cultivar com toda a di-
quais não conseguiam comercializar, seja por falta de versidade, característica da agricultura familiar. O que
Este é o maior ganho da agricultura familiar pa-
informação, recursos financeiros ou de planejamento. os três têm em comum? Conseguiram realizar seus so-
trocinado pelo Projeto Microbacias II – Acesso ao
O Projeto tem permitido que todos esses gargalos se-
O
po, o produtor conseguiu fazer economias e adquiriu, cas públicas e melhorar a comercialização, entre ou- arroz com feijão durante anos foi a base com as dificuldades e participam efetivamente para
dos irmãos, as terras deixadas pelo pai e comprar mais tras coisas”, diz dona Cida, com a confirmação de seu da alimentação brasileira, porém, nos úl- encontrar soluções juntamente com os rizicultores. A
uma pequena área, o que hoje garante 23 hectares Devanir, que chegou do campo, onde estava colhen- timos tempos, essa alimentação vem sen- maioria trabalha em sistema familiar e, para reduzir os
para a agropecuária. “Trabalhei muito na cidade e gra- do pimentas. do incrementada com legumes, verduras, ovos, leite impactos da cultura que tem alto custo de produção,
ças a Deus pude fazer uma poupança, mas sempre tive
Com o aumento da profissionalização da produção e carne em maiores quantidades. O Estado de São foi formada, há 30 anos, a Cooperativa dos Produtores
o sonho de voltar. Quando saí, eram tempos difícieis.
e da renda, o filho do casal, que nasceu no sítio, mas Paulo produz toda essa diversificada, nutritiva e sa- de Arroz do Vale do Paraíba (Coopavalpa), hoje com 70
Não tínhamos apoio, nem crédito e técnicos para nos
passou um período trabalhando na cidade, assumiu borosa alimentação e os grandes responsáveis são os cooperados. Já foram mais de 200, quem ficou na ati-
transmitir conhecimento. O que me trouxe de volta
o trabalho com os pais, e da área rural não pretende agricultores familiares. Isso acontece no Brasil todo e, vidade comprou novas áreas, arrendou de outros, au-
foi o incentivo das pessoas, principalmente dos técni-
sair jamais. “Aqui temos qualidade de vida. O trabalho em São Paulo, soma-se o fato de o Estado ser o maior mentou a produtividade. “Guaratinguetá tem a maior
cos da CATI”, relata o produtor, contando que em seu
é grande, mas os resultados nos enche de orgulho”. consumidor de produtos, dos básicos aos diferencia- produtividade do Estado, chegando a 10 toneladas de
retorno (em 2013), acessou o Feap Aguapeí-Peixe e o
Para o futuro, a família pretende continuar na lida ru- dos. Para que o agricultor familiar tenha apoio e assis- arroz por hectare”, conta Vinicius Nascimento, porém,
Pronaf, por meio dos quais, respectivamente, investiu
ral. “Para nós, o trabalho de agricultor familiar é como tência nestas ações, tem sido fundamental a atuação todo o arroz produzido no Vale do Paraíba não aten-
na pecuária de corte – aquisição de matrizes, novilhas,
uma missão. Saber que das nossas mãos saem alimen- dos órgãos governamentais de pesquisa (Agência de à demanda do maior mercado consumidor do País,
construção de currais e cerca, e na aquisição de um
tos que chegam à mesa das pessoas e nas escolas é Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta, res- o Estado de São Paulo, que ainda precisa comprar ar-
veículo utilitário. “Trabalho com engorda e tudo o que
maravilhoso. Eu amo a terra e tudo que dela vem”, fala ponsável pelos institutos de pesquisa) e extensão (via roz de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, os dois
entra de recurso, reinvisto na propriedade. Desde que
emocionada dona Cida, que temporariamente está Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI maiores produtores brasileiros.
voltei, a pouco mais de um ano, até a saúde melhorou.
afastada do trabalho no campo, por conta de um pro- e Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo
Hoje temos perspectivas no campo, com o fácil acesso Nos estados sulistas, a pesquisa trabalha desen-
blema de saúde, mas com os olhos atentos nos ho- – Itesp). Essas ações, somadas às políticas públicas de
ao crédito e ao conhecimento. Os técnicos são uma volvendo cultivares cada vez mais produtivos. Quem
mens da casa para que tudo seja feito com o cuidado compra de alimentos, vêm impulsionando as cadeias
mão estendida para a gente, sempre nos animando fala sobre isso com propriedade é o diretor do Núcleo
de sempre. produtivas e dando oportunidade de o agricultor fa-
e incentivando, e também direcionando para o me- de Produção de Sementes (NPS) de Taubaté, Glênio
miliar ter acesso aos vários canais de comercialização.
lhor caminho. O trabalhando árduo, mas vale a pena e Wilson de Campos: “órgãos como a Embrapa (Empresa
agora dá para sobreviver bem na área rural.” Nas terras baixas do Vale do Paraíba o cultivo do ar- Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e Epagri (Empresa
Sítio Santa Margarida roz tem atravessado gerações. Os primeiros imigrantes de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
chegaram há mais de 100 anos. Algumas dessas famí- Catarina) não são concorrentes, mas parceiros. Coube
Logo na entrada da propriedade da família lias, como os austríacos Kodel, já estão na quinta gera- à CATI desenvolver trabalhos de Zoneamento Agrícola
Sinciarelli, somos recebidos por um rapaz sorridente, ção, são agricultores que labutam no arrozal encharca- de Risco Climático, que regularizaram os materiais uti-
Eduardo, e sua mãe Aparecida, que nos envolve em do pelas águas do Ribeirão Piagui, afluente do Paraíba lizados pelos produtores, possibilitando o uso de crédi-
forte abraço, demonstrando a hospitalidade caracte- do Sul. “Este é o último polder em funcionamento no to e seguro rural. E coube ao NPS de Taubaté, unidade
rística dos moradores do meio rural. A casa aconche- Vale, um sistema de represa, diques e canais de irriga- do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da
gante e o suco gelado de goiaba (colhida diretamente ção”, explica o engenheiro agrônomo da CATI Regional CATI, testar e reproduzir as sementes mais adaptadas
do pomar) é um convite para deixar o calor de quase Guaratinguetá, Vinícius Sampaio do Nascimento. “Não às condições paulistas. Hoje, temos sementes Epagri
40 graus do lado de fora.
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
se trata de várzea, a terra é alagada artificialmente. O 109 à disposição do produtor. “Sempre acreditei que
Ao redor da mesa, dona Cida, como é conheci- sistema foi uma maneira de aperfeiçoar as condições as sementes produzidas pelo Estado, com baixo cus-
da, nos relata a história de superação da família. Na das terras com aptidão para a rizicultura”, complemen- to para o produtor, são uma ferramenta de extensão
área de poucos hectares, os produtores cultivam fru- ta Jovino Paulo Ferreira Neto, diretor da CATI Regional rural”, afirma o técnico. Glênio convive com os produ-
tas, tendo a goiaba como carro-chefe, pimenta, têm Guaratinguetá. tores da região há mais de 30 anos, tendo atuado tam-
criação de suínos e uma pequena granja. “Depois As CATI Regionais instaladas no Vale do Paraíba, bém à frente de Casas da Agricultura e Regionais, e nas
de anos como arrendatários, viemos trabalhar aqui. Família Sinciarelli: "ser agricultor familiar é uma missão" duas últimas décadas na direção do NPS de Taubaté.
como Guaratinguetá e Pindamonhangaba, convivem
38 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀39
No caso do arroz, houve uma mudança de foco. O com o Projeto Microbacias II, vamos eliminar a tercei-
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que antes rização no beneficiamento e negociar os preços pa-
desenvolvia novas cultivares, passou a investir no mer- gos ao produtor; por enquanto estamos ganhando na
cado de arroz especial, como o arroz preto e varieda- quantidade e tendo nossa marca Raízes da Terra reco-
des específicas para o preparo de risotos. A ideia era nhecida”, explica José Aparecido Ramos, Zezinho, re-
oferecer alternativas de renda e, para isso, os pesquisa- lações públicas da Coopava. O cultivo de feijão é uma
dores do IAC contataram um reconhecido chef do se- atividade de risco por ser uma cultura de ciclo curto,
tor de gastronomia para atuar em parceria. Hoje, exis- 90 dias no máximo, isso traz vantagens, pelo retorno
tem no Vale do Paraíba 14 produtores de arroz especial mais rápido, e desvantagens, como a possibilidade de
produzindo para uma mesma empresa que tem marca perda de todo um ciclo, é a opinião do casal Sérgio e
reconhecida e respeitada por grandes chefs. “Mesmo Cleide Almeida que optaram pelo “carioca bola cheia,
o arroz comum se igualou em qualidade às melhores um grão bem clarinho e que dá bom caldo”. O casal
Ribeirão Grande: política pública como Para Márcio Ferreira, presidente da Cooperativa
dos Produtores Rurais de Ribeirão Grande, o progra-
ma é uma “via de mão dupla”, pois as transformações
adora o sítio e agora pode ter esperanças de continu-
ar trabalhando aqui e ter uma vida melhor”.
O casal Flávio e Maria Conceição de Souza pro-
instrumento de transformação social também acontecem no campo. “Com o PAA o pro-
dutor tem um recurso a mais para investir na pro-
priedade e, consequentemente, na sua qualidade de
duz cebola, pepino, feijões de corda e carioquinha,
bem como frutas em uma área de 1,5 hectare. Desde
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – cleusa@cati.sp.gov.br 2008, eles entregam no PAA e também no Programa
vida. Muitos conseguiram reformar sua casa, adquirir
Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, e estão con-
veículos, investir em lazer, planos de saúde, entre ou-
seguindo sobreviver da atividade agrícola. “Antes des-
tras coisas. Com as notas das entregas dos produtos
“
Ser agricultor familiar é gratificante; é sagra- ceu a partir da organização dos produtores, o que fa- ses programas, passávamos por muitas dificuldades.
via cooperativa, alguns também estão conseguindo
do. É ter uma missão, por saber que das nos- voreceu a participação deles nas políticas públicas de A Cooperativa estava parada e até pensei em desistir
comprovar de forma mais fácil o trabalho rural, visan-
sas mãos são semeados alimentos para as pes- compras institucionais, principalmente o Programa do sítio. Quando formamos o grupo do PAA, tivemos
do à aposentadoria”.
soas. Nasci na roça e aqui é o meu paraíso. Semear, de Aquisição de Alimentos (PAA), que trouxe mais se- que entregar os produtos por outra cooperativa da
Histórias de superação região. Com o crescimento das entregas, a melhoria
colher embalar, entregar... é um orgulho ser mulher gurança para as famílias envolvidas, que agora con-
e produtora rural”. Esses são fragmentos de entrevis- tam com uma renda garantida. Hoje, alguns produto- O casal Benedito e Maria das Dores Mendes tem da renda e o apoio da técnica da CA, conseguimos re-
tas de agricultores familiares, que trazem no rosto e res também comercializam em feiras, mercados e até uma história familiar com a agricultura que já está na estruturar a nossa cooperativa e nos unir mais, o que
nas mãos as marcas do trabalho árduo e, na boca, o na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de terceira geração. Há cerca de 10 anos, uma equipe de com certeza fará com que a gente cresça, pois sozinho
sorriso de quem está em paz, podendo sobreviver da São Paulo (Ceagesp), na capital. É um ganho e tanto, comunicação da CATI visitou a propriedade de cerca e sem as políticas públicas é muito difícil para o pro-
sua profissão, descansando na grandiosidade de seu para pessoas que até pouco tempo, precisavam ou de 4 hectares, para fazer uma matéria sobre a insta- dutor familiar se manter na atividade”.
trabalho, responsável por levar alimentos à mesa das viam seus filhos deixar a propriedade e ir em busca de lação de fossas sépticas e constatou o grande traba- No Sítio Tapera do Souto, Arlindo Rodrigues e
pessoas. trabalho na cidade”, conta emocionada Raquel, rela- lho dos produtores, mas o pouco retorno financeiro, Adriana Maria Rodrigues de Oliveira cultivam toma-
tando que atualmente o grupo do PAA conta com 59 que fez com que cinco dos seis filhos fossem trabalhar te, vagem, milho, acelga, couve-flor e com muito
Os depoimentos foram colhidos (e vivenciados) na cidade. Nesse retorno em 2014, encontramos um
produtores, que entregam mais de 40 itens, totalizan- trabalho e dedicação conduzem as culturas em uma
em Ribeirão Grande, município de oito mil habitantes, casal feliz com o avanço conquistado e o filho Lucas,
do cerca de 15 toneladas de alimentos por mês. “Nas área de cerca de 9 hectares, comercializando no PAA
encravado entre montanhas e rodeado por porções de apenas 17 anos, empenhado na lida diária do sítio,
primeiras reuniões de divulgação do PAA em 2008, tí- e também na Ceagesp. “Muitos produtores da região
remanescentes da Mata Atlântica. Com uma popula- que tem como principais atividades fruticultura e ole-
midos, eles pouco falavam. Hoje, é preciso organizar, que vendem na Ceagesp, atuam como mão de obra
ção essencialmente rural, tem na agricultura sua base ricultura. “É uma alegria poder viver do nosso trabalho
caso contrário, falam todos ao mesmo tempo. É grati- para os donos de box, que investem adubo e semente,
econômica. Apesar disso, a atividade dos produtores, e saber que ele contribui para que as pessoas tenham
ficante ver o brilho nos olhos, a segurança; ver que o e determinam o preço que será pago. Nós investimos
dos quais mais de 90% familiares, durante muitos alimentos saudáveis. Nascemos na roça e aqui é o nos-
valor pessoal foi resgatado junto com o da produção”. nossos recursos e fazemos o nosso preço. A comercia-
anos foi considerada de subsistência. De acordo com so paraíso, e agora com uma renda melhor e a garan-
Em Ribeirão Grande, o PAA além de instrumento lização com o PAA é pequena, mas a renda garantida
Raquel Regina Scudeller Silva, extensionista da Casa tia de que podemos viver do nosso trabalho é ainda
de transformação social para os produtores, “mate- para investir na propriedade”, comenta Flávio, sendo
da Agricultura, ligada à CATI Regional Itapetininga mais gratificante. Mas nada seria possível se não tivés-
rializou” o conceito de solidariedade. Semanalmente complementado pela sobrinha: “tenho duas filhas
e conduzida pelo Departamento de Agropecuária e semos nos unido e tido a direção da técnica Raquel,
forma-se uma verdadeira “Rede do Bem”, entre produ- adolescentes, por isso, também uso uma parte dessa
Meio Ambiente do município, os frutos de hoje advêm que além de passar conhecimentos técnicos, sempre
tores, funcionários da Prefeitura, da CA e voluntários renda para comprar coisas para elas, que ficam muito
de um trabalho intenso de extensão rural e disposição nos incentivou a nos organizarmos e participar das
da Pastoral da Criança. “Os produtores colhem e em- felizes”, conta rindo, Adriana.
dos produtores. “Há 15 anos, quando começamos o políticas públicas”, conta os produtores que com o
trabalho com os agricultores, pensávamos em como balam os produtos, a Prefeitura cede um caminhão e aumento e garantia da renda advinda do PAA (o que No sítio Pedroso, três mulheres trabalham ardua-
viabilizar tecnicamente áreas tão pequenas, que, em funcionários para a coleta nas propriedades, bem era muito difícil de se conseguir vendendo para inter- mente no plantio de rabanete, brócolis, cheiro-ver-
média, variam de um a cinco hectares. No início dos como um galpão, onde é feito o acondicionamento e mediários) construíram um barracão para a separação de, milho, abóbora, entre outras olerícolas. Maria de
anos 2000, com o apoio da Prefeitura Municipal e a a separação dos alimentos, que são entregues por vo- das produtos que são comercializados na feira local e Fátima Ferreira, 44 anos, Rosa Maria Ferreira, 50 anos,
implementação do Programa Estadual de Microbacias luntários da Pastoral da Criança a entidades sociais e no PAA, adquiriram um veículo com crédito rural para e Geni Senciatti Ferreira, 70 anos, abrem um amplo
Hidrográficas, executado pela CATI, realizamos ações 350 famílias cadastradas pela Secretaria de Promoção o trabalho diário. Também adquiriram um veículo de sorriso debaixo de um sol de mais de 30 graus, para
ligadas ao saneamento básico, à organização rural, à Social. “Nos emociona ver as famílias chegando por passeio, afinal de contas, como diz dona Maria “a gen- falar sobre ser agricultor familiar. “Trabalhar na terra é
viabilização de crédito rural e intesificamos as ações volta de quatro horas da manhã e saindo felizes com te também precisa de lazer, né?”, reformaram a casa e um presente, é um trabalho duro, mas quando a gen-
de extensão rural. Muitos produtores começaram a uma feirinha de produtos saudáveis”, conta Raquel. adquiriram eletrodomésticos. “A vida melhorou muito te vê o fruto que nasce como um filho, só podemos
visualizar possibilidades de crescimento e se dispuse- e é uma satisfação ver que o nosso filho mais novo dizer: temos orgulho de ser mulher e produtora rural”.
ram a participar ativamente do processo. A autoesti-
ma começou a ser resgatada”.
Fotos : Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
E
rais vão se complementan- Augusto, de três anos e sete meses. “São todos saudá-
m vigor há 60 anos, o Programa Nacional rante não só qualidade de vida no campo e nas esco- do e interligando, e a CATI veis e mesmo em casa passaram a comer verduras e
de Alimentação Escolar passou, em 2009, las, esse dinheiro passa a circular pelo município e mo- tem exercido um papel legumes, antes só consumidos na escola. Melhorou a
por uma importante reformulação que vem vimentar a economia local, o agricultor ganha mais, o fundamental nessa inter- alimentação da família toda”.
beneficiando não apenas as comércio vende mais, isso sem mediação”, afirma o diretor
crianças, mas uma importante falar nos benefícios indiretos na Na outra ponta, estão os produtores familiares que
da CATI Regional Barretos,
também são pais e recebem de seus filhos o retorno
de outro o agricultor tem a ga- PNAE. A demanda por vagas tro lado, o extensionista intensificou o diálogo com a as políticas públicas de compra de alimentos.
rantia da venda, sabendo de nas creches e escolas munici- nutricionista Vanessa Giselle Lopes Ribeiro, responsá-
pais e estaduais é 100% aten- Essas mudanças foram comprovadas em trabalho
antemão o valor que será pago vel técnica pela alimentação escolar de Barretos para
dida, segundo a Secretaria de de conclusão de curso (TCC) de João Paulo Galvão
por seus produtos. Há, ainda, a adequação de cardápio e planejamento da produção
Educação. São mais de 80 pro- Travassos Souza, da Universidade Estadual Paulista
possibilidade de comercializar no campo. “O importante é que estamos resgatando
dutores familiares cadastrados (Unesp/Jaboticabal), que demonstra os avanços eco-
o excedente da produção para e introduzindo alimentos diferenciados na alimenta-
via Cooperativa dos Pequenos nômicos dos agricultores familiares de Botucatu em
quitandas, supermercados, fei- ção das crianças e os produtores têm respondido com
função do PNAE. Segundo o TCC, 86% dos agriculto-
ras livres e outras políticas públicas de aquisição de Produtores de Barretos e Região, que fornecem sete a oferta desses produtos, antes era difícil gastar 30%
res familiares de Barretos entrevistados declararam
alimentos por órgãos governamentais, o que muitos toneladas de legumes, oito de frutas, como abacaxi, em compras de agricultores familiares, hoje é fácil.
ter obtido aumento de renda; para 27% o aumento foi
vêm fazendo. mamão, melancia, laranja, banana, além de 500kg de A demanda tem sido grande e depois que voltamos
de 20 a 50% e para 9% mais de 50% . Além disso, é no-
folhosas por semana, que se somam ao leite e suco a utilizar merendeiras e preparar a alimentação na
Barretos, município de pouco mais de 100 mil tada uma maior qualidade e diversidade de produtos,
de laranja (mil litros/dia) produzidos via agricultura própria escola, contratamos mais duas nutricionistas
habitantes, localizado no interior do Estado de São novos canais de comercialização, mais qualidade de
familiar. Além desse volume, os doces da merenda para auxiliar no trabalho, os cardápios são preparados
Paulo, começou a se preparar já em 2009 para aplicar vida e união entre os produtores. Barretos é um exem-
são fornecidos pela Associação de Empresários Rurais mensalmente, paralelamente orientamos as meren-
a legislação. Hoje, passados quatro anos e vencida a plo, mas esse mesmo comportamento vem se repe-
de Três Barras, também formada por agricultores deiras, damos treinamento, com tudo isso, o consumo
resistência dos primeiros tempos quando os produto- tindo em vários municípios do Estado de São Paulo e
familiares. de alimentos aumentou”, relata Vanessa.
res desconfiavam das garantias de comercialização, o beneficiam não apenas os agricultores familiares, mas
percentual ultrapassa o exigido. “Ambos tiveram que Ênio Melo Rodrigues, presidente da Cooperativa, e “Hoje não sobra nada nos pratos, as crianças co- toda a população paulista.
João Flávio Teixeira, presidente da Associação, contam mem até jiló”, afirma Suhaila Daher Calil, diretora res-
econômicos e sociais para agricultores paulistas Lavínia, municípios da região de Araçatuba. No ano
de 2014, foram entregues 117 toneladas de produ-
tos. E em 2015 já há contratos para atender também a
rede escolar de Araçatuba.
Graça D’Auria – Jornalista – Centro de Comunicação Rural (Cecor/CATI) – gdauria@cati.sp.gov.br
“A parceria entre CATI e a Fundação Itesp (Instituto
de Terras do Estado de São Paulo) foi fundamental
Foi também devido a um trabalho da Fundação e atender os contratos, mas vivemos em comunida-
Itesp que o Quilombo do Jaó, em Itapeva, tornou-se de, se eu ganho, quero que todas também possam
a primeira comunidade quilombola do Estado de São ganhar, afinal é o nosso futuro, o futuro dos nossos fi-
Paulo a entregar alimentos para o PPAIS, bem como lhos”. Assim ela vai longe, começou a trabalhar na hor-
graças ao sonho, ao trabalho árduo, à determinação ta porque não tinha como deixar as crianças sozinhas
de uma mulher, Márcia Aparecida Martins, filha do e ir para a cidade, agora ela sabe que pode mais do
Sr. Hilário, líder comunitário, falecido há pouco mais que isso e até os homens já sabem disso e passaram a
L
de dois anos. Márcia se informou sobre as possibilida- ajudar na horta das mulheres.
ançado em 2012 pelo governo do Estado de da em 2009, firmar-se como importante produtora de des de aumentar a renda e quando viu “que ali tinha
São Paulo, o Programa Paulista da Agricultura alimentos e geradora de renda. Para melhor comer- Marli Correia de Assumpção, auxiliar de gestão da
dinheiro” chamou Fundação Itesp, e o técnico Fabiano Gomes estão sem-
de Interesse Social (PPAIS) tem se firmado e cializar a produção dos seus 107 associados, a AUAB algumas mulheres
se destacado entre as políticas públicas de compra apresentou, também, uma Proposta de Iniciativa pre visitando a comunidade. Carolina Fabro Zoccal,
da comunidade e supervisora do Grupo Técnico de Campo (GTC) de
de alimentos da agricultura familiar para atender cre- de Negócios ao Projeto Microbacias II – Acesso ao propôs a elas im-
ches, escolas, hospitais, universidades e penitenci- Mercado, gerido pela CATI, para a compra de um ca- Itapeva, também vai ao campo para ouvir os anseios
plantarem uma e conhecer as raízes profundamente comunitárias do
árias. Em 2014, o teto de R$ 12 mil/ano por unidade minhão baú e caixas plásticas para transporte de pro- horta para produ-
familiar foi alterado para R$ 22 mil/ano, permitindo dutos como verduras, legumes e frutas para a região. Jaó. “Antes de tudo é preciso resgatar os valores, elevar
zir repolhos, be- a autoestima dessas mulheres guerreiras, corajosas do
uma garantia maior de renda aos participantes: assen- O prefeito Adriano Marcelo Bonilha, que já vinha as- terrabas e outras
tados, quilombolas e produtores familiares. Esse fato sistindo os avanços econômicos com reflexos no mu- Jaó”, diz Márcia, afrodescendente também, que divide
olerícolas listadas com elas as histórias de preconceitos ainda existentes
demonstra que o interesse também vem aumentan- nicípio essencialmente agrícola, acreditou tanto na nas Chamadas
do, assim como a diversidade de produtos ofertados. capacidade da AUAB que bancou a contrapartida de e as formas de combater esse crime. “Muitas vezes as
Públicas de 2014 pessoas preferem comprar verduras nas barracas de
O PPAIS veio somar às políticas já implementadas 30% (R$ 63 mil), recurso que normalmente é rateado para entrega de brancos, ainda somos discriminadas por sermos do
pelo governo federal e tornou São Paulo o primeiro entre os associados. “O município vive da agricultura, alimentos em uma quilombo”, conta Márcia. O que a população preci-
Estado da Federação a criar projeto próprio, contem- temos três associações de produtores rurais e assen- penitenciária e um sa saber é que esses alimentos são produzidos com
plando a agricultura familiar paulista. O Estado gas- tados, e nos últimos tempos as famílias estavam dei- centro de deten- toda a qualidade, “são alimentos naturais, não usamos
ta cerca de R$ 100 milhões por ano em compras de xando suas roças e vindo para a cidade, onde não há ção provisória da
agrotóxicos, nossas crianças comem direto na roça”,
gênero alimentício, e o mais sensato era reverter essa emprego para todos. Agora, eles não só retornaram região, via PPAIS.
conta Márcia. Ao produzir para o PPAIS, e ter garantia
verba em favor da população. ao campo, mas estão produzindo mais e melhor e, Márcia tornou- de comercialização, sempre há alguma sobra possível
Lilian Cerveira – Cecor/CATI
ainda, têm capacidade para aumentar essa produção se, assim, a primei- de ser vendida na Feira do Produtor de Itapeva e a po-
Em Brejo Alegre, município de pouco mais de
três mil habitantes, situado em uma área com di- e a área de atuação e o caminhão permitirá escoar os ra quilombola a pulação pode ter certeza de estar consumindo produ-
versos complexos penitenciários, o PPAIS tornou- produtos”, afirmou o prefeito. honrar o contrato, tos de qualidade, produzidos por quem tem não ape-
se um exemplo e permitiu à Associação União dos A Associação comercializa alimentos para o este primeiro feito nas sonhos, mas transforma a realidade de toda uma
Assentamentos de Brejo Alegre e Birigui (AUAB), cria- Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em via Associação dos comunidade.
46 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀47
C
amponês, pequeno agricultor. Até o final da voltado à industrialização. Esse novo modelo reser- • Década de 1950 - o trabalho com os produtores era cer no campo, mas saber que somos úteis e que conti-
década de 1980, assim eram denominados vou ao grande número de produtores com pequena realizado pela rede de Casas da Lavoura (atuais Casas nuamos o trabalho começado pelos nossos pais, com
os agricultores que atuavam, basicamente, produção, algumas funções claramente determinadas, da Agricultura). A assistência técnica era basicamen- a esperança de que seja continuado pelos nossos fi-
na produção de alimentos. O termo agricultura fami- tais como produzir alimentos, a preços baixos, para as te de cunho individualizado, enfocando os produtos lhos e netos”. Esse é o relato de José Pedroso, 62 anos,
liar, consolidado da década de 1990, ganhou amplitu- cidades, bem como produzir matérias-primas agrícolas agropecuários. que nasceu no Bairro Ferreira dos Matos, em Ribeirão
de nos meios acadêmicos, nas políticas de governo e para o setor industrial”, explica ele, salientando que, a Grande, “em uma casa de parede de barro e cobertura
nos movimentos sociais, abrangendo um grupo social partir daí, o papel tanto social quanto econômico des- • Década de 1960 – prestação de assistência técnica de sapé”, como ele descreve, em uma família de oito
heterogêneo, que cultiva a terra, com mão de obra es- ses produtores foi o de pilar da nova política. aos produtores e educativa às famílias, por meio da or- irmãos, cuja mais velha, de quase 80 anos, ainda cami-
sencialmente familiar, obtendo renda exclusiva da pro- ganização dos Clubes de Economia Doméstica, Clubes nha 3km para “trabalhar na roça”.
Nesse período, o mosaico desses produtores foi Juvenis Rurais e Comitês de Lavradores; programa de
priedade rural. Até a década de 1950, a comunidade local vivia de
unificado sob o conceito de camponês. “Essa época foi crédito rural orientado e supervisionado; multiplicação
Desde então, vem ocorrendo um processo de reco- marcada por lutas do nascente operariado brasileiro e distribuição de sementes selecionadas de hortaliças; culturas comercializadas diretamente com as indús-
nhecimento e de criação de instituições de apoio a esse e pela organização dos trabalhadores no campo, com ações de conservação de solo; estudos de racionali- trias, como algodão e da suinocultura, por isso não
modelo de agricultura, por parte do governo federal. isso ocorre a politização do termo camponês”, relata zação da produção, transporte, armazenamento, con- contavam muito com assistência da Casa da Lavoura.
“Houve um resgate do conceito clássico do camponês, Ivamney, comentando que, após o golpe militar de servação e distribuição de produtos perecíveis; bem “Mas sempre plantamos arroz, feijão, milho. Com as
baseado no trabalho, na família e produção. O termo 1964, os movimentos organizados no campo foram como incremento da produção mista nas pequenas doenças que entraram na cultura do algodão, a que-
'pequeno' deixou de ser utilizado, pois ele não definia desarticulados. “Na lógica do modelo de desenvolvi- propriedades etc. da dos preços e a influência das colônias japonesas e
mais o grupo: pequeno em área, em renda? Os movi- mento adotado para o campo, voltado à modernização italianas que se instalaram aqui, nossos cultivos muda-
mentos sociais internalizaram o novo conceito de agri- tecnológica dos produtos agrícolas de exportação (a • Década de 1970 - A Secretaria tira o foco da “pres- ram para olerícolas e frutas, o que fez aumentar a ne-
cultura familiar e começam a pedir políticas próprias. O chamada Revolução Verde), os produtores brasileiros tação de serviços” e passa a direcionar-se ao trabalho cessidade de apoio técnico”, conta o sr. José, afirmando
Estado também assume o conceito, com orientação da passam a ser classificados quanto ao tamanho de suas educacional integral, com inclusão dos produtores no que na década de 1970 tudo era muito burocrático.
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e áreas e produção, os camponeses passam então a ser desenvolvimento das propostas e execuções. Nesse “Para nós, pequenos, era difícil conseguir crédito e
Agricultura (FAO). Nesse contexto, as políticas de cré- tratados como pequenos produtores”. período, os trabalhos eram desenvolvidos em grande nos desenvolvermos. Nós tivemos sorte de ter um téc-
dito também mudam, pois antes as exigências eram parte por ações e programas de fomento como Pró-Fei- nico comprometido na Casa da Agricultura de Capão
as mesmas para os grandes proprietários e os familia- O papel da Secretaria de Agricultura e o trabalho jão, Proagro (seguro rural), Pró-Várzea etc. Foram man- Bonito (município do qual Ribeirão Grande foi emanci-
res”, explica Sônia Bergamasco, professora titular da de Assistência Técnica e Extensão Rural tidos os trabalhos educacionais com as famílias. Para pado em 1993). Além de orientação, ele nos ajudava a
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)”, desta- Com as mudanças ocorridas a partir da década de ampliar o alcance das informações, a CATI utiliza inten- participar de programas do governo. Em 1975, planta-
cando que nos últimos 20 anos foram criadas políticas 1930, coube aos estados fortalecer a produção de ali- samente meios de comunicação diversos: rádio (levava mos 50 mil pés de tomate com um financiamento que
públicas que impulsionaram o setor, como o Programa mentos. Nesse contexto, a Secretaria de Agricultura ao ar o programa Atualidades Agrícolas, por uma rede conseguimos com orientação dele, veio uma geada
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e Abastecimento de São Paulo teve um papel rele- de emissoras regionais), implementou o primeiro pro- e perdemos tudo. Nossa sorte foi que ele nos apoiou
(Pronaf, 1996 – vide Box), as políticas públicas de com- vante. “A CATI foi criada em 1967, mas os trabalhos grama da TV brasileira voltado ao meio rural (também para fazer um seguro pelo Programa de Garantia da
pras institucionais como o Programa de Aquisição da Secretaria com os pequenos produtores, que são Atualidades Agrícolas; cuja primeira transmissão acon- Atividade Agropecuária (Proagro), o que era muito di-
de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação quem mais precisam, são mais antigos. Antes, ela atu- teceu em 1973, pela retransmissora da Globo de Bauru; fícil de um pequeno conseguir naqueles dias. Outro
Escolar (federais); e o Programa Paulista da Agricultura ava com suas unidades de treinamento, comunicação, materiais gráficos diversos, carros com equipamentos ponto no qual a CATI nos ajudou muito foi com a pro-
de Interesse Social, para minimizar os gargalos da co- sementes e mudas, conservação do solo, mecanização audiovisuais; revista e jornal. dução de sementes variedades, o que reduz o custo,
mercialização da produção familiar. “Outros pontos agrícola, entre outras, prestando assistência técnica; pois elas podem ser mul-
importantes foram a promulgação da Lei n.º 11.326, difundindo tecnologia de plantio e manejo de culturas • Década de 1980 – As ações foram realizadas prin- tiplicadas, não sendo pos-
de 2006, que define quem é o agricultor familiar e o diversas; realizando capacitação profissional etc. Com a cipalmente por meio de programas de qualificação e sível fazer o mesmo com a
que precisa para o seu desenvolvimento; e a imple- CATI, adotou novas metodologias de trabalho, que fo- formação, visando levar conhecimentos e novas tecno- híbrida. Esse é um trabalho
mentação da Política Nacional de Assistência Técnica e ram ampliadas na década de 1990: saímos da assistên- essencial para a agricultura
logias de forma massal aos agricultores. Com a rede-
Extensão Rural, que contribui para a garantir de acesso cia técnica para a extensão rural. A partir daí, as ações familiar”, ressalta o produ-
mocratização do País, no que competia à agricultura,
ao conhecimento para esse segmento”. passaram a ser realizadas efetivamente com a partici- tor que, após crises, viu o
em São Paulo foram estabelecidos como instrumentos
pação dos produtores”, comenta José Carlos Rossetti, contingente de agricultores
de orientação dos trabalhos os Planos Agrícolas Muni-
Um pouco de história anterior à década de 1990 diminuir no Bairro mas, com
coordenador da CATI, destacando que nos anos 2000 a cipais, caracterizados pela interiorização das ações do
as políticas estabelecidas
Para se chegar a tal patamar de reconhecimento instituição ampliou ainda mais o apoio aos agricultores Estado com foco na organização e participação social.
diretamente para o setor, as
como setor importante nos âmbitos social e econômi- familiares, com a execução do Programa Estadual de Nesse período, a CATI implementa o Telecurso Rural,
Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas: transformação social, Pronaf: divisor de águas no incentivo ao desenvolvimento da agricultura familiar
econômica e ambiental na realidade de agricultores familiares paulistas Murilo Flores – Secretário de Estado do Planejamento de Santa Catarina – na época da criação do Pronaf, era secretário Nacional de
Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e depois gerente do Programa
Cleusa Pinheiro – Cecor/CATI
Arquivo Pessoal
Final dos anos de 1990, prenúncio da efervescência mica. Fatores importantes foram o fortalecimento dos ciais em sua elaboração e nas ne- inclusão da possibilidade da proprie-
do novo milênio. Agir localmente, pensando globalmen- Conselhos Municipais e Regionais de Desenvolvimento gociações anuais que possibilitaram dade dispor de até dois empregados
te, passou a ser o norte das ações em todas as esferas. Rural e o avanço nas relações entre os poderes públicos a evolução do Programa; inicial- permanentes.
Nesse contexto, a CATI assumiu o desafio de executar, estadual e municipal. mente, apenas a da Confederação
no âmbito da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, A Contag, por sua vez, olhava com
Nacional dos Trabalhadores na No período de início de criação
o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas. Em Na área ambiental, o Projeto Aprendendo com a mais interesse para a linha de crédito
Agricultura (Contag); depois de ou- do Pronaf, a extensão rural vivia uma
conformidade com a nova filosofia de trabalho da ins- Natureza, realizado em parceria com a Secretaria da rural do Pronaf, deixando de lado os
tras como a Federação Nacional dos profunda crise. A extinção, em 1990,
tituição, expressa em sua missão de promover o desen- Educação, envolveu milhares de alunos da educação Trabalhadores na Agricultura Familiar debates sobre outros aspectos que
infantil e a formação de grupos de educação ambien- buscavam caracterizar o programa da Empresa Brasileira de Assistência
volvimento sustentável, o Programa de Microbacias, (Fetraf ), o Movimento dos Pequenos
tal. Também foi instituído um projeto de mapeamento como uma ação de desenvolvimen- Técnica e Extensão Rural (Embrater)
cujo final aconteceu em 2008, tornou-se ao longo de sua Agricultores (MPA), o Movimento
agroambiental; fomentado o Sistema de Plantio Direto to rural, num sentido mais amplo. A retirou do governo federal as forças
execução um divisor de águas, transformando a meto- dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
na Palha, que de 35 mil hectares em 1999 passaram para argumentação era de que os agricul- política e financeira para coordenar
dologia de trabalho dos extensionistas da CATI e mol- e, principalmente, a Confederação
um milhão no final do Programa; feito reflorestamento tores familiares queriam ser tratados as ações estaduais. O surgimento do
dando um novo perfil de produtor rural: organizado, das Cooperativas de Reforma Agrária
de Matas Ciliares e Áreas de Preservação Permanente, como o agronegócio e não deveriam Pronaf com todas as suas linhas, in-
consciente e ativo no processo de mudança da história (Concrab). Já não se aceitava o uso
com a doação de cerca de 4,2 milhões de mudas; bem ser apoiados por uma política assis- cluindo a atividade de extensão rural,
da agropecuária paulista. do conceito de 'pequeno produtor'
como recuperação de áreas degradadas, com a integra- tencialista. O crédito rural, portanto, deu uma sobrevida a essa atividade,
O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas porque ensejava a ideia de algo pe- resgatando diversos de seus papéis e
ção de práticas conservacionistas. Um grande destaque queno e, portanto, de pouca signifi- foi sempre o tema central do Pronaf,
foi executado com recursos do governo do estado e do foi a adequação de estradas rurais, por meio da qual fo- do próprio sentido de coordenação
cação, além de incluir todo tipo de por uma imposição dos movimen-
Banco Mundial, com objetivo principal de promover o ram executados serviços nos trechos críticos em 1.633 nacional.
perfil de pequena propriedade. tos sociais. No entanto, as estruturas
desenvolvimento sustentável em São Paulo, por meio quilômetros, beneficiando diretamente mais de 25 mil institucionais ligados ao crédito rural Além da contribuição para a ofer-
da ampliação das oportunidades de ocupação, melhoria produtores Nesse período, fim da década de (agentes financeiros) não tinham tra- ta de diversos tipos de produtos, fei-
dos níveis de renda, maior produtividade geral das uni- 1990, o conceito de agricultura fami-
No âmbito da organização rural centenas de asso- dição de atendimento ao conjunto ta pelo produtor de mais baixa renda
dades de produção, redução dos custos e reorientação liar - como um modelo de produção
ciações e/ou cooperativas foram fortalecidas ou cria- das diversas categorias desse seg- do semiárido nordestino até aque-
técnico-agronômica, visando ao aumento do bem-estar diferenciada, onde a família é basica-
das. Também foi criada a Federação das Associações mento, o que implicou num embate les integrados à forte agroindústria
das populações rurais - seja pela implantação de siste- mente a mão de obra da proprieda-
das Microbacias Hidrográficas do Estado de São Paulo entre os agricultores e suas represen- do oeste catarinense, a agricultura
mas de produção agropecuária que garantam a susten- de, e que exige sistemas de produção
(Famhesp). tações contra os agentes financeiros. familiar promove até hoje, uma di-
tabilidade, seja pela recuperação das áreas degradadas e específicos e uma lógica de gestão nâmica de ocupação dos espaços
de preservação permanente -, bem como à melhoria na Ao concluir um ciclo de ações do Programa de especial - começava a ser difundido Como era de se esperar, nos es- rurais brasileiros que permitem a
qualidade e quantidade das águas, com plena participa- Microbacias constatou-se que todos ganharam e apren- no Brasil. Na época, poucos estudos tados onde a agricultura familiar era adoção de estratégias adequadas e
ção e envolvimento dos beneficiários (produtores per- deram. A CATI, pela incorporação de uma nova metodo- permitiam uma análise desse novo mais estruturada, capitalizada e com diferenciadas de desenvolvimento.
tencentes às microbacias selecionadas) e da sociedade. logia de trabalho relacionada não mais apenas às ques- segmento, pois o conceito ainda não uma boa assistência técnica, a linha É importante frisar que os agriculto-
A partir do diagnóstico socioeconômico e ambiental tões produtivas, mas também às causas sociais e am- permeava a maioria das análises, e de crédito do programa deslanchou, res familiares constituem um impor-
da microbacia, a comunidade, juntamente com o técni- bientais. A comunidade, que teve uma participação que os dados oficiais também não con- com destaque para o Rio Grande do tante grupo socioeconômico, o qual
co executor, identificou as áreas críticas em relação à de- deixou de ser diretriz impressa em livros, para se tornar tinham essa estratificação. O estudo Sul, seguido por Santa Catarina e cumpre diversos papéis na estrutura
gradação dos recursos naturais. Porém, além de atingir realidade durante os diagnósticos participativos. O pro- que serviu de base, com dados es- Paraná. Mas, aos poucos, outros esta- social brasileira e, por isso, o Pronaf
o objetivo geral, o trabalho do Programa de Microbacias dutor, que deixou de ser espectador, para se ver como timativos, para os primeiros passos dos começaram a ter crescimento no segue sendo um importante progra-
foi decisivo na solução de problemas de outras áreas, integrante e responsável pela identificação e busca de do Pronaf foi uma publicação da financiamento, nas Regiões Sudeste ma de desenvolvimento rural, passa-
identificados pela comunidade da microbacia, valendo soluções para seus problemas. Organização das Nações Unidas para e Nordeste. dos quase 20 anos de seu início.”
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