Você está na página 1de 4

Universidade de Brası́lia

Departamento de Matemática

Cálculo 1
Limite trigonométrico fundamental

Neste texto vamos nos concentrar em calcular o limite


sen(θ)
lim . (1)
θ→0 θ
O limite acima apareceu em um texto anterior, quando querı́amos determinar o perı́metro
de um cı́rculo. Naquela oportunidade fizemos a tabela

θ = 1 θ = 0, 5 θ = 0, 1 θ = 0, 01
sen(θ)/θ 0,84147 0,95885 0,99833 0,99998

e deixamos nossa intuição livre para concluir que o limite era igual a 1. Queremos agora
usar o Teorema do Confronto para confirmar a nossa intuição.
O primeiro passo é verificar as seguinte igualdades

lim sen(θ) = 0, lim cos(θ) = 1. (2)


θ→0 θ→0

Deixaremos para você a verificação da primeira delas (veja a tarefa ao final do texto). Para
p
a segunda, vamos lembrar que sen2 θ + cos2 (θ) = 1, de modo que cos(θ) = ± 1 − sen2 (θ).
Se θ ∈ (−π/2, π/2), então cos(θ) é positivo. Assim, para tais ângulos, vale
p
cos(θ) = 1 − sen2 (θ).

Como limθ→0 sen(θ) = 0, obtemos


p q √
lim cos(θ) = lim 1 − sen2 (θ) = lim(1 − sen2 (θ)) = 1 − 02 = 1.
θ→0 θ→0 θ→0

Vamos agora calcular o limite em (??) com a ajuda da


figura ao lado.
T
Observe que o triângulo retângulo OAB está contido A

no setor circular determinado pelo ângulo θ, que por sua


vez está contido no triângulo retângulo OT B. Deste modo, θ
temos que O B

área(∆OAB) < área(setor circular) < área(∆OT B).

1
A altura do primeiro triângulo é exatamente sen(θ) e a sua base tem a mesma medida do
raio do cı́rculo, ou seja, mede 1. Assim, a primeira área acima vale sen(θ)/2. Para o outro
triângulo temos altura igual a tan(θ) e mesma base, de modo que

sen(θ) tan(θ)
< área(setor circular) < .
2 2
Pode-se mostrar que a área do setor é proporcional ao ângulo central θ. Quando este
ângulo vale 2π, a área é total é π, pois o cı́rculo tem raio igual a 1. Deste modo, se denotarmos
por Aθ a área do setor circular, temos que
π 2π
= ,
Aθ θ
ou ainda Aθ = θ/2.
Concluı́mos então que
sen(θ) θ tan(θ)
< < .
2 2 2
Lembre agora que, se 0 < x < y, então (1/x) > (1/y). Assim, segue da expressão acima que
2 2 2
< < .
tan(θ) θ sen(θ)

Multiplicando todos os termos por sen(θ)/2 > 0, concluı́mos que

sen(θ)
cos(θ) < < 1,
θ
para todo θ ∈ (0, π/2). Passando a expressão acima ao limite, usando (??) e o Teorema do
Confronto concluı́mos que
sen(θ)
lim+ = 1.
θ→0 θ
Para o cálculo do limite pela esquerda, vamos lembrar que a função seno é ı́mpar e usar
a mudança de variáveis β = −θ para obter

sen(θ) sen(−β) − sen(β) sen(β)


lim− = lim+ = lim+ = lim+ = 1.
θ→0 θ β→0 −β β→0 −β β→0 β
Como os dois limites laterais existem e são iguais a um, concluı́mos que

sen(θ)
lim = 1,
θ→0 θ
conforme esperávamos.
O limite acima é conhecido como Limite Trigonométrico Fundamental. Ele possui várias
aplicações. Apresentamos duas delas nos exemplos a seguir.

2
Exemplo 1. Vamos determinar a reta tangente ao gráfico da função cos(θ) no ponto P =
(0, cos(0)). Para isto, vamos primeiro lembrar que a inclinação da reta tangente ao gráfico
da função f (x) no ponto (a, f (a)) é dada pelo limite

f (x) − f (a)
lim .
x→a x−a
Fazendo f (θ) = cos(θ) e a = 0, somos levados a considerar

cos(θ) − cos(0) cos(θ) − 1


lim = lim .
θ→0 θ−0 θ→0 θ
Observe que, no limite acima, numerador e denominador se aproximam de zero. Para elimi-
nar a indeterminação, vamos multiplicar ambos pelo conjugado do numerador:

cos(θ) − 1 (cos(θ) − 1) (cos(θ) + 1) cos2 (θ) − 1 sen2 (θ)


= = =− ,
θ θ (cos(θ) + 1) θ(cos(θ) + 1) θ(cos(θ) + 1)

em que usamos a relação sen2 (θ) + cos2 (θ) = 1 na última igualdade. Assim,
 
cos(θ) − 1 sen(θ) sen(θ) 0
lim = lim −1 · · = (−1) · 1 · = 0.
θ→0 θ θ→0 θ (cos(θ) + 1) 1+1

Portanto, a reta tangente tem inclinação nula. Uma


vez que ela passa pelo ponto (0, cos(0)) = (0, 1), con-
cluı́mos que ela é exatamente a reta horizontal y = 1,
conforme ilustra a figura ao lado. 

Exemplo 2. Vamos calcular o limite

sen(5x)
lim .
x→0 x
Embora sejamos tentados a afirmar que ele vale 1, note que o numerador da fração é sen(5x),
e não sen(x). Para poder usar (??) vamos fazer a mudança y = 5x e observar que, quando
x → 0, temos que y → 0. Deste modo, podemos escrever

sen(5x) sen(5x) sen(5x) sen(y)


lim = lim 5 · = 5 · lim = 5 · lim = 5 · 1 = 5.
x→0 x x→0 5x x→0 5x y→0 y
Note que o limite trigonométrico fundamental foi utilizado na penúltima igualdade. 

3
Tarefa
Nesta tarefa vamos mostrar que

lim sen(θ) = 0, A
θ→0

utilizando a a figura ao lado.


θ

1. Lembrando que sen(θ) = AC, argumente como no O C B

texto para verificar que, se θ ∈ (0, π/2), então


0 < sen(θ) < θ.

2. Use o Teorema do Confronto para mostrar que lim+ sen(θ) = 0.


θ→0

3. Lembrando que o seno é uma função ı́mpar, calcule o limite pela esquerda.

4. Use os dois itens acima para concluir que lim sen(θ) = 0.


θ→0

Você também pode gostar