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5902/2179-460X14657
Ciência e Natura, Santa Maria v.37 n.3, 2015, Set.- Dez. p. 898 – 909
Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM
ISSN impressa: 0100-8307 ISSN on-line: 2179-460X
Resumo
O presente artigo é fruto de uma parte da dissertação de mestrado, onde procuramos fazer uma abordagem simples de alguns
teoremas clássicos da Geometria Euclidiana Plana e torná-los mais conhecidos, pois embora tenham um grande papel na resolução
de muitos problemas geométricos, estão de certa forma esquecidos tanto no ensino básico quanto no ensino de graduação. No
intuito de resgatar tais teoremas, desenvolvendo assim habilidades em Geometria, exploramos os seguintes teoremas: Menelaus,
Ceva, Ptolomeu, Hiparco,Desargues, Feuerbach. Para as demonstrações destes teoremas, fizemos o uso de alguns resultados da
Geometria Plana e da Geometria Inversiva. Acreditamos que tanto o enfoque da realização desse trabalho, com a utilização da
Geometria Inversiva, por exemplo, como os teoremas clássicos, que utilizamos simplesmente métodos elementares da Geometria
Sintética, pode servir para a melhoria do ensino-aprendizagem de Geometria Euclidiana Plana e possivelmente servir de elemento
motivador para alunos e professores que busquem aprimorar seus conhecimentos em Geometria nos seus diversos desdobramentos.
Palavras-chave: Ensino -Aprendizagem, Geometria Euclidiana, Teoremas Clássicos.
Abstract
This article is based on a part of the dissertation, where we try a simple approach of some classical theorems of Euclidean geometry
Plana and make them better known, because although they have a great role in solving many geometrical problems, they are
somehow forgotten both in primary and in undergraduate education. In order to redeem such theorems, therefore developing the
people skills in Geometry, we explored the following Theorems:Menelaus, Ceva, Ptolemy, Hipparchus, Desargues, and Feuerbach.
For the proofs of the mentioned theorems, we use some results of Plane Geometry and Inversive Geometry. We believe that both
approach the making of this work, with the use of Inversive Geometry, for instance, as the classical theorems which we used only
elementary methods of Synthetic Geometry, can serve to improve the teaching and learning of Euclidean Plane Geometry and
possibly serve as the motivating element for students and teachers seeking to improve their knowledge in Geometry in its various
ramifications.
Keywords: Teaching-Learning, Euclidean Geometry, Classical Theorems.
←→ ← →
Figura 3: LM ∩ AC = { N }.
BL CM AN
· · =1
LC MA N B
AN BL CM
Mas por hipótese, · · = 1, o que implica
NB LC MA
AN AN
= . Mas isso só ocorre se, e somente se, N =
N B NB
N.
Figura 6: Teorema de Ptolomeu.
Demonstração. Sejam AB = a, BC = b, CD = c, DA =
Observação 2.2. O Teorema de Ceva também pode ser apre- d, AC = p e BD = q. Mostraremos que p · q = a · c +
sentado como b · d.
Seja P um ponto sobre BD tal que B AP = C AD.
) sen(C BM
sen( B AL )
) sen( ACN = P DA
· · =1 Como ACB (ângulo inscrito na circunferência
sen( L AC ) sen( BCN
) sen( A BM ) de mesmo arco AB), temos que ∆APD ∼ ∆ABC, daí
chamada forma Trigonométrica do Teorema de Ceva.
PD d
= =⇒ PD · p = b · d (10)
2.2 Teorema de Ptolomeu e o Teorema de b p
Hiparco Analogamente os ∆APB e ∆ADC são semelhantes,
Neste tópico, apresentamos dois importantes teoremas o que implica
produzidos no período Alexandrino: O Teorema de Hiparco
e o Teorema de Ptolomeu. BP a
Hiparco (180 - 125 a.C.), matemático e astrônomo, = =⇒ BP · p = a · c (11)
c p
nasceu na cidade egípicia de Nicéia. É considerado o
fundador da Trigonometria, pois na segunda metade Somando (10) e (11) temos
do século II a.C., fez um tratado em doze livros que se
BD =q
ocupa da construção do que deve ter sido a primeira
tabela trigonométrica, uma tábua de doze cordas. Evi- p( PD + BP) = a · c + b · d =⇒ p · q = a · c + b · d
dentemente fez esta tabela para usá-la em sua astrono-
mia.
902 Freitas e Oliveira: Alguns Teoremas Clássicos da Geometria Sintética e Aplicações
5 Autores: Título curto do artigo
B1 C1
= AP (12)
sen A
Pela Lei dos Senos aplicado no triângulo ABC, temos
= BC
sen A (13)
2R
onde R é o raio do círculo circunscrito ao ∆ABC.
De (12) e (13) vem que
BC · AP
B1 C1 =
2R
Como os quadriláteros BA1 PC1 e CPB1 A1 também
Figura 8: Teorema de Hiparco.
são inscritíveis, temos de modo análogo
AC · BP AB · CP
A1 C1 = e A1 B1 = Observemos que a área de ABCD é equivalente à
2R 2R
Pela Desigualdade Triangular, temos no triângulo soma de dois triângulos com um lado comum AC ou
A1 B1 C1 que BD, o que nos perminte escrever S( ABC) + S( DAC) =
AB · CP BC · AP S( ABD) + S(CBD) .
A1 B1 + B1 C1 > A1 C1 =⇒ + >
2R 2R 2 Reta que passa pelos pés das três perpendiculares traçadas a partir
AC · BP
de um ponto P sobre um círculo cincunscrito a um triângulo.
2R
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p( a · b + c · d) = q( a · d + b · c)
Figura 9: Circunferência dos nove pontos.
2.3 Teorema de Feuerbach
Iniciemos este tópico falando, brevemente, de Leonhard
de um triângulo ABC qualquer, ou seja, ela intersecta
Euler, matemático que produziu cerca de 886 trabalhos
a circunferência inscrita e às três circunferências ex-
em diversas áreas da Matemática, tais como Cálculo,
inscrita 3 ao triângulo ABC.
Geometria e Grafos. Além disso, também ficou famoso
Para demonstrarmos esse teorema, faremos o uso da
por seus trabalhos em Mecânica, Óptica e Astronomia.
Geometria Inversiva. Essa Geometria foi desenvolvida no
Vários resultados na Geometria levam o seu nome; neste
século XIX por Jacob Steiner e permitiu a solução de
artigo apresentaremos dois deles sem demonstrá-lo: a
problemas que até então estavam sem solução ou com
Reta de Euler e a Circunferência dos nove pontos.
soluções complicadíssimas, se resolvidos pela Geome-
Teorema 2.6. (Reta de Euler) Em um triângulo, o ortocentro tria Euclidiana. Faremos um breve resumo, mostrando
(H), o baricentro (G) e o circuncentro (O) estão alinhados. alguns de seus principais resultados.
Além disso, o baricentro divide o segmento cujas extremidades
são o circuncentro e o ortocentro, na razão 1:2. Definição 2.2. (Conjugados harmônicos) Seja um segmento
de reta AB. Dizemos que dois pontos M e N, pertencentes à
O próximo teorema atribuído a Euler, conhecido ←→
reta AB, são conjugados harmônicos de AB se
como Circunferência dos nove pontos, é considerada a
primeira circunferência famosa depois da era grega.
MA NA
Euler sabia algumas de suas propriedades, mas foi o = .
MB NB
matemático francês Poncelet que publicou, em 1821, um
artigo demonstrando que para todo triângulo é possível Como existe apenas um ponto que divide interior-
encontrar uma circunferência passando pelos pontos mé- mente o segmento AB em uma dada razão, concluímos
dios dos lados, os pés das alturas e os pontos médios dos que apenas um deles, M ou N, está entre os pontos A
segmentos que unem os vértices do triângulo ao ortocentro. e B.
Teorema 2.7. (Circunferência dos nove pontos) Seja ABC um
Definição 2.3. (Inverso de um ponto) Seja S = C(O,r) um
triângulo de circuncentro O e ortocentro H. Então os pontos
círculo de centro O e raio r. Dado um ponto P, diferente de
médios dos lados, os pés das alturas e os pontos médios dos −→
O, o ponto P na semi-reta OP tal que OP · OP = r2 é dito
segmentos que ligam H aos vértices estão em uma circunfe-
o inverso de P em relação a S.
rência cujo centro é o ponto médio do segmento OH e cujo raio
é a metade do raio da circunferência circunscrita ao triângulo
ABC.
Falamos que Euler tinha provado algumas pro-
priedades da Circunferência dos nove pontos. Na ver-
dade, Euler provou que passa uma mesma circunferência
sobre os vértices dos triângulos medial, que é o triângulo
formado unindo os pontos médios do triângulo, e órtico
de um triângulo ABC. Mais tarde, este trabalho foi re-
descoberto por Karl Feuerbach, Matemático alemão do
século XIX, que acrescentou uma propriedade notável,
que induziu muitos autores a chamar a Circunferência
Figura 10: Inverso de um ponto.
dos nove pontos de Circunferência de Feuerbach.
Feuerbach comprovou que a Circunferência dos nove 3 É uma circunferência externa ao triângulo, tangente a um de seus
pontos intersecta as quatro circunferências tritangentes lados e às extensões dos outros dois.
904 Freitas e Oliveira: Alguns Teoremas Clássicos da Geometria Sintética e Aplicações
7 Autores: Título curto do artigo
OP · OP = OH 2 = r2
Figura 11: Circunferências ortogonais.
Como consequência direta do teorema acima temos
←
→ o sequinte corolário:
Seja M o pé da perpendicular traçada de Q à reta OP,
conforme figura acima. Do triângulo retângulo OQM Corolário 1. Uma circunferência K = C(Q,k) é invariante
vem que em relação a uma circunferência de inversão S = C(O,r) se, e
somente se, K é ortogonal a S.
OQ2 = OM2 + QM2 (15) Teorema 2.9. Os pontos P e P são inversos em relação a S
= C(O,r) se, e somente se, P e P são conjugados harmônicos
Por outro lado, OM = OP + P M. Elevando ambos em relação ao diâmetro AB determinado pela intersecção da
←
→
os membros desta equação ao quadrado, temos reta OP com a circunferência S.
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= BOA,
e como B OA concluímos que os triângulos
AOB e A’OB’ são semelhantes.
Logo A B O é reto, o que nos mostra que B pertence
a uma circunferência K = (Q, OQ) que tem o segmento
A O como diâmetro.
Decorre imediatamente que:
Figura 12: P e P são conjugados harmônicos.
Corolário 2. Se s é uma reta tangente a circunferência K =
(Q, OQ) no ponto O, então s é paralela a s.
Demonstração. Considerando a Figura 12, temos
Teorema 2.11. (Inversão de reta: Parte II) Seja S = C(O,R).
A inversa em relação a S de uma reta s que passa por O, é
P B = OP − r PA = r + OP
e a própria reta s, ou seja, uma reta é invariante quando esta
P A = OP + r PB = r − OP
passa pelo centro de inversão.
então
Demonstração. Se P = O é um ponto da reta s,
P A OP + r PA r + OP −→
= e = então, o inverso P de P pertence à semirreta OP, logo,
PB
OP − r PB r − OP
como P e O pertencem à s, então, P ∈ s. Portanto
Assim, s = Inv(s).
P A PA OP + r r + OP
= ⇔ =
PB
PB OP − r
r − OP
⇔ (OP + r ) · (r − OP) = Teorema 2.12. (Inversão de circunferência) Seja S = C(O,r).
(OP − r ) · (OP + r ) A inversão em relação a S de uma circunferência K = C(Q,k)
⇔ OP · OP = r2 que passa por O é uma reta.
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9 Autores: Título curto do artigo
Observação 2.5. Considerando S a circunferência de inver- importantes para a demonstração do teorema supraci-
são, mostra-se que a inversa de uma circunferência que não tado. As demonstrações podem ser vistas em Freitas,
passa por O é uma circunferência que, também, não passa por 2013.
O.
Lema 2.2. Sejam M, N e P os pontos médio dos lados de
P
Lema 2.1. Se dois pontos P e pertencem, respectivamente, um triângulo ABC, Ω a sua Circunferência dos nove pontos,
às curvas inversas C e C’, então as tangentes a essas curvas s uma reta tangente as circunferências inscrita e ex-inscrita a
←→ este triângulo e, r uma reta tangente a Ω por M. Então r é
em P e P formam ângulos iguais com a reta PP .
paralela a s.
Teorema 2.13. Se duas curvas C1 e C2 formam um ângulo
α em um ponto de interseção P, as suas inversas C1 e C2 ,
na mesma inversão, formarão um ângulo α em um ponto de
interseção P , inverso de P.
Figura 17: r s.
Figura 15: α = α .
Figura 16: Inversão preserva tangência. Lema 2.5. Os pontos X e Y, projeções ortogonais de I e I ,
←
→
respectivamente, sobre a reta BC, são conjugados harmônicos
Antes de demonstrarmos o Teorema de Feuerbach em relação ao segmento cuja extremidade são as projeções
vamos enunciar, sem demostrá-los, alguns resultados ortogonais dos pontos A e K.
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Figura 24: N é o ponto de Nagel.
O enunciado do Exemplo 1 é conhecido como Teo-
rema de Gerard Desargues (1591 - 1661). Desarques foi
matemático e engenheiro francês, precursor da Geome- p − c, analogamente temos que BZb = CYb = p −
tria Projetiva. Sua principal obra foi sobre as propriedades a e AZb = CXb = p − b. Logo
imutáveis dos círculo, publicada em 1639. AZb BXb CYb p−b p−c p−a
· · = · · =1
Exemplo 2. (Ponto de Gergonne) Sejam AB, AC e BC BZb CXb AYb p−a p−b p−c
os lados de um triângulo ABC, e λ um círculo in- Portanto, pelo Teorema de Ceva, as cevianas AXb , BYb eCZb
scrito no triângulo ABC (incírculo). Se { X }= BC ∩ são concorrentes em um único ponto.
λ, {Y } = AC ∩ λ e { Z } = AB ∩ λ, então as cevianas
AX, BY e CZ são concorrentes em um único ponto.
Referências
BARBOSA, J. (1994). Geometria Euclidiana Plana. So-
ciedade Brasileira de Matemática.
BASTOS, R. (2007). Notas sobre o ensino de Geometria:
Transformações Geométricas. Revista da APM, Lisboa.