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Monografia O Segredo Da Flor de Ouro
Monografia O Segredo Da Flor de Ouro
Richard Wilhelm
Richard Wilhelm
Esta monografia, embora não pretenda atingir a forma e a constituição de uma resenha,
segundo sua acepção clássica, ela se aproxima bastante disto. Afinal, não se trata, aqui de um
´resumo crítico´ de determinada obra, conforme reza os parâmetros da resenha. No entanto,
como tal permite, tecemos comentários ao longo deste trabalho, bem como emitimos opiniões
e realizamos julgamentos de valor, além de realizarmos comparações com outras obras de
áreas afins, seguidas das devidas avaliações.
Neste sentido, foram estudadas duas obras principais. “O Segredo da Flor de Ouro”
(Tai I Gin Hua Dsung Dschï), texto clássico chinês em uma edição específica que conta com
comentários de Carl Gustav Jung e Richard Wilhelm e “Wisheng Shenglixue mingzhi –
Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta” de Zhao Bichen, com tradução e introdução de
Catherine Despeux na versão para o castelhano de Francisco F. Villalba.
Um outro texto clássico – Hui Ming Ging ou o ´livro da Consciência e da Vida` foi
bastante utilizado nas pesquisas e citado no decorrer do trabalho.
Mais uma vez não se pretendeu fechar questão. Antes, porém, abrir horizontes para o
pensamento, a cultura e a informações futuras.
Na trajetória, não nos esquecemos de questões didáticas relacionadas ao objetivo
proposto, de tal sorte que foram apresentados alguns conceitos básicos da cultura e medicina
chinesas, de forma menos aprofundada, é certo – não por desmerecimento dos temas e sim
para não corrermos riscos de perda no foco prático, ou mesmo da finalidade desta monografia.
Destarte, realizado tal alerta, tratamos de conceitos como Tao, dualidade primordial,
Tchi ou Qi, além de apresentarmos considerações, não menos importantes, sobre energias e
seu ´engendramento` no homem.
Na segunda, adentramos nossos estudos explicando porque nossa preferência por Jung,
citamos seus estudos e práticas clinicas relacionadas às pesquisas sobre alquimia e seus
reflexos psicológicos nas fases da busca do Elixir da Longa Vida, segundo o modo ocidental
de pensar.
Demos um salto para o oriente e fizemos referência, com maior ênfase aos textos
clássicos propriamente ditos, de como eles indicam as aplicações e recomendações rumo à
obtenção do ´Elixir da Longa Vida`, ou o caminho para a longevidade mediante fórmulas e
exercícios apresentados pela chamada alquimia interior, segundo a concepção chinesa.
Palavras Chaves:
Medicina Tradicional Chinesa – MTC, Acupuntura, O Segredo da Flor de Ouro, Alquimia Ocidental,
Alquimia Chinesa, Alquimia Interior, Medicina Taoísta, Meditação, Entidades Viscerais.
Sumário
Introdução ....................................................................................................... xx
Primeira Parte
Segunda Parte
Referências Bibliográficas............................................................................... xx
Introdução
Antes de tudo, é preciso destacar que tais contatos se deram em diversos momentos
históricos e de variedade muito grande de formas. Muitas delas, de maneira absolutamente
específica e individual, como foram os casos de alguns renomados sinólogos, sem contar a
experiência própria de G. Soulié de Morrant que, literalmente, mergulhou na cultura chinesa
de modo a apreender os cânones mais profundos da Medicina Tradicional Chinesa – MTC e
da Acupuntura para transformar-se, posteriormente, em seu introdutor às mentes da
civilização ocidental.
– Como foi este impacto para nós, diante de uma cultura milenarmente mais evoluída?
Como este contato modificou – e ainda está modificando – sua prática clínica mediante a
aplicação da Acupuntura, por exemplo? Como foram as primeiras relações entre ´o estado da
alma` dos ocidentais com este mesmo estado dos orientais e vice-versa?
1
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984.
O texto original Tai I Gin Hua Dsung Dschï provém de um circulo esotérico da China cujo teor foi transmitido
Oriente implicou em um conhecimento de uma civilização milenar, “edificada organicamente
sobre instintos primitivos, a qual nada tem a ver com a moralidade brutal dos germanos
bárbaros, recentemente civilizados que somos (referindo-se aos europeus). Por isso, os
chineses não têm tendência à repressão violenta dos instintos, que envenena nossa
espiritualidade, imprimindo-lhe um exagero histérico”2, escreve Jung3.
Uma repressão, como veremos no decorrer desta monografia, capaz de causar uma
ferida na psique que necessitará ainda de algum tempo antes de fechar-se totalmente.
Note-se, entretanto, que esta é apenas uma das premissas básicas, o ponto de partida
desta monografia que tem a presunção de analisar um outro tópico importante da filosofia
chinesa que, em seus ditames mais profundos, relaciona-se à alquimia antiga, por exemplo, e
sua possível importância na prática clinica do profissional acupunturista.
– Existem conceitos, até mesmo pontos de acupuntura que devem ser levados em
conta na hora de se aplicar uma agulha em tratamento de patologias comuns que podem
atingir o amplo conceito da alquimia? – Como a alquimia prevê a unificação de consciência e
vida? – Como se deve atentar aos pontos específicos, durante a anamnese, de modo a escolher
a melhor terapêutica, segundo tais princípios?
De fato, estas foram as primeiras perguntas surgidas ao se pensar sobre o tema desta
monografia e que se somaram a muitas outras relativas a tal proposta. Principalmente se
levarmos em conta a possibilidade de um corpo teórico – tão vasto e profundo quanto o da
Medicina Tradicional Chinesa – MTC, que conta com registros há pelo menos cinco mil anos
– que visa inclusive tratar de patologias consideradas contemporâneas e modernas de estudos
e relatos bem mais recentes. – Haveriam patologias tão similares na época antiga? – Como o
conhecimento filosófico pode auxiliar nesta prática clínica?
Estas são algumas das questões que procuraremos responder e também propor para
uma reflexão conjunta ao longo deste trabalho.
oralmente durante muito tempo. Mais tarde também por intermédio de manuscritos. A primeira publicação data
da época de Kiën-Lung (século XVIII), e em 1920 este texto foi reimpresso em Pequim, aparecendo numa edição
de 1000 exemplares, junto com o Hui Ming Ging.
2
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 60.
3
Carl Gustav Jung, ilustre médico suíço nasceu em 1875. No principio de sua carreira dedicou-se à psiquiatria e
à compreensão da psique humana. Contemporâneo de Freud, Jung foi considerado um de seus discípulos
favoritos. Porém com o tempo, diferenciou-se, pois acabou discordando e ampliando alguns de seus conceitos
principalmente no tocante ao desenvolvimento da sexualidade e seus distúrbios. Jung não satisfeito foi além.
Observando os sonhos de seus pacientes, mitos das mais diversas culturas e religiões, Jung constatou a existência
de uma estrutura psíquica comum a toda humanidade. A isto chamou de Inconsciente Coletivo.
Primeira Parte
Capítulo I
Ponto de Partida.
Contato ou Choque?
É fato que foram – e ainda são – muitas as dificuldades, segundo a ótica do mundo
ocidental, para que se possa entender o âmago dos conceitos filosóficos – e, por conseguinte,
da própria Medicina Tradicional Chinesa –MTC em toda a sua magnitude.
Vamos aqui nos ater às dificuldades de interpretação dos textos orientais segundo o
´ponto de partida`, a inicial de um texto e da defesa das idéias, algo semanticamente diferente
do que estamos acostumados a lidar.
Portanto, enquanto o oriental inicia sua explanação pela parte mais importante, nós,
ocidentais, damos inúmeros volteios até atingir o clímax do texto, ou apontar a conclusão de
todo o raciocínio teórico anteriormente apresentado.
Entre outros tantos exemplos, neste sentido, podemos citar duas frases inicias do texto
denominado Hui Ming Ging4:
Uma outra:
A tradução do chinês para o português, como se vê, indica uma série de palavras que
podem sugerir grande profundidade e magnitude teórica e filosófica. Lembremos de um
detalhe importante, já dito acima e que convém repetir. Não há única tradução para os
ideogramas, principalmente aos temas filosóficos, aos ligados à cosmogênese e no tocante à
Medicina Tradicional Chinesa – MTC.
Por conta disso, muitos autores traduzem Tao por ´caminho` ou ´providência`. Alguns
jesuítas o adaptaram para `Deus´ e Richard Wilhelm, por seu lado, traduz o termo Tao por
´sentido`.
4
Essência (sing) e consciência (hui) – Hui Ming Ging, texto citado no livro O Segredo da Flor de Ouro – Um
Livro de Vida Chinês – C.G.Jung e R.Wilhelm, Editora Vozes, 2ª. Edição, Petrópolis, 1984, tradução de Dora
Ferreira da Silva e Maria Luíza Appy, página 36. Na página 83 desta mesma obra, Richard Wilhelm escreve que
o Hui Ming Ging, ou livro da Consciência e da Vida, foi editado por Liu Hua Yang, em 1794. Natural de Hukou,
província de Kiangsi, Liu Yang tornou-se posteriormente monge no Claustro da Dupla Flor de Loto (Shuang
Liën Si) na província de Anhui. A tradução foi baseada numa nova edição, que alguém, sob o pseudônimo de
Hui Dschen Dsï (aquele que se tornou consciente da Verdade), imprimiu juntamente com o Segredo da Flor de
Ouro, numa tiragem de mil exemplares em 1921.
5
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 36.
Diante disso, comprova-se, mais uma vez, que a tradução pode variar muito, segundo
o tradutor, sua filosofia, experiência de vida, raciocínio, formação didática e orientação
filosófica etc. Vale lembrar que, no caminho da tradução, também se pode utilizar a amplitude
do raciocínio analógico – que, aliás, vai muito além das simples comparações como as
utilizamos no decorrer do aprendizado nas escolas acadêmicas ocidentais –, de modo a
ampliarmos os conceitos inerentes ao nosso objeto de estudo.
Desta forma, para o conceito de ´cabeça`, por exemplo, pode-se fazer analogias com o
termo consciência, da mesma forma que com ´caminhar` para, juntando-se os dois símbolos,
ser traduzido como ´caminho consciente`. Ainda recorrendo-se à analogia, Tao também pode
ser livremente traduzido como a ´luz do céu`6, uma vez que a essência e a vida estão contidas
na luz proveniente do céu.
Como se vê, mais uma vez, ficam patentes as diferenças entre as culturas do Oriente e
do Ocidente, bem como de sua escrita e interpretação simbólica.
6
id. ibid., página 36.
7
Eflúvio – sm – Fluido sutil que emana dos corpos; emanação; perfume, aroma fragrância. Dicionários da
Língua Portuguesa – Soares Amora – 6ª. Edição – Editora Saraiva – Evitar a efluxão refere-se à proteção da
unidade da consciência contra a fragmentação provocada pelo inconsciente.
8
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 37.
Segundo Carl Gustav Jung, na obra citada, estes versos contém uma indicação
alquímica, já que indica um método, ou mesmo caminho para a geração do ´corpo
diamantino`, que estudaremos a seguir:
Como escrevemos para o homem ocidental – e concordamos com Jung quando ele
ressalta a seriedade de se ter a concordância entre os estados psíquicos e o simbolismo do
Oriente e do Ocidente –, tais analogias abrem um extenso caminho que nos conduz “às
câmaras interiores do espírito oriental, caminho que não pede sacrifício de nossa própria
maneira de ser. Isto sim, seria uma ameaça de desenraizamento”, escreve Jung10.
Destarte, referindo-se aos que não sabem onde estão as verdadeiras fontes da força
secreta, diz Gu De: “As pessoas mundanas perderam as raízes e se atêm às copas das
árvores”.11
Neste ponto é possível destacar que estas analogias não são, nem um telescópio, nem
um microscópio intelectuais capazes de abrir uma perspectiva indiferente, pelo fato de nada
representarem de fundamental. Ao contrário, trata-se de um caminho que indica certo
sofrimento na busca e na luta comum a todos os povos civilizados; “trata-se da tremenda
experiência da natureza de tornar-se consciente, outorgada à humanidade, e que une as
culturas mais distantes numa tarefa comum”.12
Assim, com bastante propriedade, Jung, na obra citada, explica que o homem europeu,
“um germânico recém-civilizado” (uma vez que há apenas mil anos vivia ainda sob os
9
id. ibid., página 37.
10
id. ibid., página 36
11
id. ibid., página 62
12
id. ibid., página 66
ditames do politeísmo), invadiu o Oriente, em especial a China, defrontando-se com uma
civilização, em diversos aspectos, milenarmente mais evoluída.
Entre outras análises possíveis, o psiquiatra e psicanalista destaca que, justamente, sob
o ponto de vista psíquico e espiritual reside o aspecto e o ponto de vista onde esta invasão
física teve um, talvez entre os mais caros, preço. Afinal, por conta desta tentativa de
colonização e exploração, o homem branco – ocidental e europeu – precisou assimilar uma
cultura – e também um valor espiritual – de maneira muito mais intensa do que ele pudesse,
talvez, estar preparado. Faltou-lhe, então, estrutura.
Neste sentido, para Jung, o homem oriental chinês, por intermédio de seu modo de
vida muito mais natural, sempre conviveu de maneira muito mais harmônica com seus
próprios instintos. Enquanto o europeu, sobretudo depois deste contato – e conhecimento –
precisou reprimir estes instintos, a duras penas, diga-se. Instintos que foram guardados
´embaixo do tapete` sem, no entanto, perderem a sua força original. Afinal, ainda que no
inconsciente – colocado aqui como se lata de descarte fosse – eles continuaram vivos e fortes.
Diante disso, este tópico mostra que o contato realizado entre tais civilizações causou
uma repressão dos instintos, uma ferida, do homem ocidental que ainda deverá levar muito
tempo para ser curada. O psiquiatra e psicólogo faz uma interessante analogia do homem
branco europeu com Amfortas, o rei pescador ferido na virilha pela lança de Longinus – a
mesma que feriu o Cristo. Os anjos confiaram e concederam a honra da guarda dos sagrados
objetos (a lança e o cálice que recolheu o sangue do Justo) para Tituriel, pai de Amfortas, de
quem a lança foi mais tarde surrupiada por Klingsor, o cavalheiro que fazia oposição à
comunidade dos santos guerreiros de Monte Salvat (Monte Saúde). Sua oposição advinha pelo
fato dele não ser admitido na Ordem dos Santos Cavalheiros.
13
id. ibid., página 66
Klingsor, então rouba a lança de Amfortas e o fere na virilha que, em se tratando de
figuras mitológicas, representa a própria humanidade agrilhoada ao sexo. Só depois de
Parsifal ter percorrido todos os arcanos maiores por duas vezes – na primeira vez ele deixa de
fazer a pergunta redentora ao se defrontar com o Graal – nosso cavalheiro tolo-inocente-herói,
na segunda oportunidade, consegue realizar a pergunta e libertar todo o reino da magia de
Klingsor.
Só depois disso ele consegue curar a ferida de Amfortas tocando-a com a lança.
Interessante simbologia e analogia já que apenas, e tão somente, o objeto que feriu será capaz
de curar.
Mas esta é uma outra história que, sem dúvida, mereceria esforços para a redação de
outra monografia, assunto que, no entanto, foge muito de nossos objetivos aqui traçados.
Podemos também destacar que, se por um lado, o homem branco europeu invadiu
fisicamente a China, ele foi invadido interiormente por uma cultura milenarmente superior à
sua, o que lhe valeu a ferida do rei Amfortas, segundo Jung, e que agora se encontra em uma
busca incessante para tornar-se consciente do processo de cura de maneira ampla do
inconsciente de todo o mundo ocidental.
“Há pouco mais de mil anos caímos de um politeísmo cru numa religião oriental,
altamente desenvolvida, que impeliu o espírito imaginativo de semibárbaros a alturas que
não correspondem ao seu desenvolvimento espiritual. Para manter de um modo ou de outro
essa altura, era inevitável que a esfera do instinto tivesse que ser duramente reprimida.
Dessa forma, a prática religiosa e a moralidade assumiram um caráter decididamente brutal,
para não dizer maligno.
Em um outro trecho, em sua conclusão sobre este assunto, Jung reconhece que “a
invasão européia do Oriente foi um ato de violência em grande escala e nos legou - ´noblesse
oblige`- a obrigação de compreender o espírito do Oriente. Isto é talvez mais importante para
nós do que parecemos pressentir”.15
14
id. ibid., página 60.
15
id. ibid., página 69.
Capítulo II
Como dito, em seu âmago, o conhecimento tradicional chinês traz em seus símbolos –
e linguagem próprios – muito conteúdo a que nossas mentes ocidentais ainda não estão
acostumadas, até por questões semânticas e culturais, a discernir e entender.
Como se sabe, todo símbolo abrange além dos objetos palpáveis e visíveis e o que eles
podem significar, o que implica em sentidos ocultos em uma só expressão. Por isso é que a
sua interpretação permite riqueza variada de uma gama de significados que podem implicar
em uma série de associações que não podem ser reduzidas, simplesmente, e definidas em
única direção ou sentido. Aliás, definição, em última análise, significa colocar um fim. E o
símbolo caminha justamente em sentido contrário, ou seja, amplia significados. Em outras
palavras, a interpretação do símbolo depende de quem o interpreta, em qual contexto e em
qual momento se localiza, local, história, cultura, níveis de informação etc.
Polaridade em tudo
Ainda que de certa forma bastante popularizada – e até mesmo banalizada nos últimos
tempos por determinados meios e mídias – a filosofia do Yin e do Yang – as duas energias
opostas, mas complementares – o fato é que se trata, ainda, de uma teoria de difícil
compreensão em toda a sua abrangência e utilizando-se apenas a nossa habitual e linear forma
de raciocínio ocidental.
O Tao, em sua forma originária, como explica Wilhelm – que o traduz como ´sentido
do mundo` - consiste “em uma cabeça, que deve ser interpretada como ´começo`, e em um
sinal para ´ir` (ou andar), precisamente em seu duplo significado que implica também o de
´trilho`: além disso, ainda um sinal para ´deter-se` que desaparece na grafia posterior... O
pensamento subjacente é o de que ele, mesmo sendo imóvel, transmite todos os movimentos
outorgando-lhes a lei. Os caminhos do céu são aqueles através dos quais os astros se
movimentam; o caminho do homem é a via pelo qual ele deve andar”.16
“O sentido não tem nome, nem forma. É o ser uno, o espírito originário e único. Ser e
vida não podem ser vistos, estão contidos na luz do céu. A luz do céu não pode ser vista, está
contida nos dois olhos. Hoje serei vosso guia e revelar-vos-ei o Segredo da Flor de Ouro do
Grande Uno”.17
No entanto, há muito ainda para se marchar diante da necessidade de se ter uma visão
poética do universo capaz de nos permitir adentrar ao hermetismo da linguagem chinesa. Tal,
fato, acreditamos, possibilita chamar a Acupuntura até de Arte Terapêutica – uma arte/ciência,
com absoluta praticidade, indicada para o tratamento de diversos males, inclusive de origem
psíquica, mas unindo a visão da natureza, do cosmos e do homem, em único organismo que é,
a um só tempo, fisiológico e anímico – portanto psíquico – e também espiritual.
16
id. ibid., página 92.
17
id. ibid., página 97.
capaz de reconstruir a imagem inteira. Karl Pribam, neurocientista norte-
americano, faz interessante associação analógica do holograma com os
estudos de imagens do cérebro, o que explica que não se pode determinar uma
região exata para a memória, já que a mesma pode estar espalhada por
diferentes regiões do cérebro e que, ao se reconstituir, seria possível
reconstituir o todo. O símbolo funciona como um holograma ao evocar
imagens diversas para reconstituir o todo original, levando em conta pólos
opostos e conceitos diversos.18
Seguindo esta linha de raciocínio, então, pode-se afirmar que o homem representa
simbolicamente todo o universo e a natureza. Ainda que cada parte representada (pessoa) seja
única e individual, a soma delas é sempre diferente do total inicial, acrescida das
características – e experiências, diríamos, principalmente pelas vivências individuais – que
irão auxiliar, sobremaneira, na interpretação dos fatos e da própria vida na história de um
indivíduo. Segundo Soares Amora, em seu Dicionário da Língua Portuguesa, o termo
indivíduo quer dizer: indiviso; o que não se pode dividir. Portanto, o indivíduo,
analogicamente, é a parte única que não se pode mais dividir.
Além disso, pode-se também traçar um paralelo analítico (e analógico como dito
acima) com Pathos, enquanto emoção, sensações e sentimentos; e Logos, enquanto raciocínio
lógico e pensamentos. A patologia, então, pode ser encarada como um termo que merece ser
analisado sob a ótica do desequilíbrio entre Pathos e Logos, a emoção e o pensamento,
responsáveis pela vida anímica nesses dois campos de consciência do indivíduo.
18
CAMPIGLIA, Helena, Psique e Medicina Tradicional Chinesa - MTC, Ed. Rocca, São Paulo, 2004. A autora é
médica acupunturista e pós-graduada em Psicologia Analítica.
Capítulo III
mas complementares
O Yin é feminino, passivo, interno, sombra, mal, obscuro, terra, útero, inconsciente,
analogicamente relacionado a Eros, emoção. Já o Yang é masculino, ativo, externo, vida, luz,
bem, claro, céu, o falo, o consciente, relacionado a Logos, portanto, a razão. Nem um nem
outro tem conceito ou valor de bem ou mal no sentido de avaliação moral ou estética, é
preciso ressaltar. Ambos são pólos geradores do Universo que, aliás, não existiria um sem o
outro, seu oposto-complementar.
E é justamente deste conflito – amistoso, é preciso dizer – gerado por estes opostos é
que surge a fonte da vida e toda a sua diversidade. Vida e construção ou doença, morte e
destruição. É assim que os chineses propõem a resolução dos conflitos mediante uma análise
das enormes possibilidades criativas do relacionamento de ambos os pólos.
19
– O Livro do Imperador Amarelo - Tradução dos 34 capítulos do Huang Ti Nei Ching Su Wen, Editora
Terceiro Milênio.
Notável no símbolo do Tao ou do Tai Chi (acima), é que não há apenas e tão somente
a presença da polaridade, mas encerra-se também a idéia de que um pólo está contido no
outro, em seu oposto. Além disso, o símbolo do Yin e Yang dá uma clara idéia de movimento
e transformação, portanto, não se trata de algo estático, conforme, aliás, explica o I Ching, o
Livro das Mutações. No estágio máximo do Yin, (extremidade inferior), há a semente do
Yang, e no ponto máximo do Yang (extremidade superior), está a semente do Yin.
Ainda em se tratando do Tao, Wilhelm explica que do Tai Gi (símbolo acima) surgem
os princípios da realidade, o pólo luminoso (yang) e o pólo obscuro ou sombrio (yin). “Os
círculos estudiosos europeus pensaram primeiramente em relações sexuais. No entanto, os
sinais se referem aos fenômenos da natureza. Yin é sombra, portanto o lado norte de uma
montanha e o lado sul de um rio (uma vez que o sol durante o dia ocupa tal posição e faz com
que a montanha vista do sul pareça escura). Yang mostra em sua forma originária pálpebras
pestanejando e é – em relação ao sinal yin – o lado sul da montanha e o lado norte do rio”.20
Entretanto, deve-se destacar que Yin e Yang são só atuantes no domínio do fenômeno
e têm sua origem comum no Uno, sem dualidade, onde Yang é o principio ativo
condicionante e Yin o princípio passivo e condicionado. “Menos abstratos do que Yin e Yang
são os conceitos do criativo e do receptivo que procedem do Livro das Mutações. Eles são
simbolizados pelo Céu e pela Terra. Mediante a união de ambos e através da ação das forças
originárias duais dentro dessa cena (segundo a lei originária uma do Tao) se originam as
´dez mil coisas`, isto é, o mundo exterior”.21
20
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 92
21
id. ibid., página 92.
Capítulo IV
Assim é, por exemplo, com Chen, termo que representa a palavra espírito e os sopros
universais. O sopro enquanto energia celeste, sopro divino, força transformadora, força vital
que engendra cada órgão do ser humano, segundo as suas especificidades.
Um outro conceito, que ainda pode ser destacado para auxiliar a explicar esta ampla
linha de raciocínio, é o do Tchi, ou Qi, que penetra todas as funções do ser vivo e é
responsável pela formação e transformação de toda a vida. Segundo preconiza a Medicina
Tradicional Chinesa – MTC, os padrões de funcionamento do corpo devem ser interpretados
segundo um agrupamento realizado em torno dos cinco elementos – Água, Madeira, Fogo,
Terra e Metal.
É a partir das inter-relações dos cinco elementos e de seus princípios é que resulta a
compreensão das determinações das etiologias das doenças, síndromes e também a
formulação de diagnósticos, bem próprios, diga-se, segundo explica a Medicina Tradicional
Chinesa – MTC.
Além dos cinco elementos, a Medicina Tradicional Chinesa – MTC leva em conta e
trabalha com oito princípios:
Yin
Yang
Profundo
Superficial
Deficiente (Vazio)
Plenitude (Excesso)
Frio
Calor
Capítulo V
Oposição – um se opõe a outro, entretanto por intermédio de uma visão que visa o seu
próprio complemento – masculino e feminino, terra e céu, lua e sol, quietude e
movimento, calor e frio etc. – complementado pelo princípio da interdependência.
Interdependência – um não vive sem o outro. Não há dia sem noite, nem sombra
sem luz etc.
Exemplo. Fogueira – fogo é yang, mas a lenha é yin. Um aumenta, o outro diminui.
Patologias Modernas
Há cinco mil anos não havia na China microscópios para detectar vírus e bactérias. No
entanto, se falava em energias perversas. Elas podem ser o vento, calor, frio, umidade ou
secura. De acordo com os cinco elementos, Água, Madeira, Fogo, Terra e Metal que, por sua
vez, também agrupam uma série de determinadas doenças.
Fogo
Direção: multidirecional
Ideograma: Huo
Dinâmica: explosão
Órgão: Coração
Estação: Verão
Emoção: Alegria
Madeira
Ideograma: Mu
Órgão: Fígado
Estação: Primavera
Abertura: olhos
Emoção: Raiva
Metal
Direção: retorno
Ideograma: Jin
Órgão: Pulmão
Estação: Outono
Abertura: nariz
Emoção: Tristeza
Fatores de adoecimento: cigarro, poluição, falta de líquidos, ambientes secos, luto, pesar,
perdas importantes
Água
Imagem: regeneração
Ideograma: Shui
Dinâmica: descida
Órgão: Rins
Víscera: B - Bexiga
Estação: Inverno
Clima: Frio
Vitalidade e ancestralidade
Abertura: ouvidos
Terra
Direção: multidirecional
Ideograma: Tu
Víscera: E - Estômago
Estação: Verão
Antes porém, é preciso explicar e entender que há os ciclos naturais de geração: água
gera madeira, que gera fogo, que gera a terra, que gera o metal, que gera a água.
Assim, temos:
A água irriga a planta (madeira), que alimenta o fogo, que queima a madeira e deposita
as cinzas – que alimenta a terra – que gera em seu interior os metais e também a água que
brota da pedra e das fontes minerais.
Desta forma, a água controla o fogo, que controla o metal, que controla a madeira, que
controla a terra, que controla a água.
Simbolicamente temos:
A água apaga o fogo, o fogo forja o metal, o metal corta a madeira, a madeira tira da
terra seus nutrientes para crescer e a terra absorve a água.
Aspectos importantes
do número três
Simbolicamente podemos dizer que as energias celestes são captadas pela respiração,
enquanto as telúricas pelos alimentos.
E claro está que esta é apenas uma visão simplista deste posicionamento filosófico e
prático como se verá adiante. Muito embora, nem todos autores estudados em nosso curso de
especialização em ciências clássicas chinesas estabelecem essa leituras paralela, conforme é o
caso de René Guénon, como destaca em sua obra A Grande Tríade. Ali o autor alerta,
sobretudo, as diferenças existentes entre ternário e a trindade cristã. “Antes de abordar o
estudo da Tríade extremo-oriental, convém pôr-se, cuidadosamente em guarda contra as
confusões e as falsas assimilações que circulam em geral no Ocidente e que provêm,
sobretudo, de se querer achar, em seja qual for o ternário tradicional, um equivalente mais
ou menos exato da Trindade cristã. Esse erro não é apenas de teólogos, que seriam ao menos
perdoáveis por querer reduzir tudo a seu ponto de vista especial...22”
Embora, mais a frente, e na mesma obra, o próprio Guénon reconheça que é possível
estabelecer comparações, desde que “dois ternários pertencentes a formas tradicionais
distintas é a possibilidade de estabelecer entre eles, de maneira válida, uma correspondência
temo a termo; noutras palavras, é preciso que seus termos estejam entre si, realmente, uma
relação equivalente ou similar”.23
22
GUÉNON, René, A Grande Tríade, Editora Pensamento – Tradução de Daniel Camarinha da Silva, página 13.
23
id. ibid., página 14.
Capítulo IX
Para a física quântica, o átomo e os seus componentes ora são partículas sólidas, ora
são ondas. Portanto, não há uma representação única e estanque, pois sua natureza é a própria
transformação, o movimento. Pode-se, em nossa opinião, estabelecer uma certa analogia com
o Yin e Yang, sobretudo se avaliarmos sob o ponto de vista de sombra e luz, matéria e
espírito. A matéria equivaleria, nesta leitura, à partícula (Yin) e o espírito à onda (Yang).
Isto porque, seguindo na linha psicológica, para os chineses, o Tchi é aquilo que
movimenta o homem em direção ao mundo, no entanto, é mais do que simplesmente a libido,
conforme o conceito freudiano do termo. O Tchi, segundo os chineses, molda o homem e
pode torná-lo mais ou menos neurótico. Pode tanto libertar, quanto prender.
Assim, o Tchi proporciona também a formação da estrutura psíquica, por ser o homem
o resultado das “impressões energéticas” ao longo da vida, como o amor, a atenção, o vazio, a
falta de contato, a contenção da criatividade etc.
Capítulo X
A Medicina Tradicional Chinesa – MTC aponta para duas direções para explicar os
fatores de adoecimento: um interno e outro externo.
Entre as causas externas podem ocorrer aquelas tanto por deficiência do sistema de
defesa (imunológico) ou por causa de um indivíduo sofrer muitas agressões do ambiente em
que vive. Elas não são excludentes e podem, inclusive, ser concomitantes.
É por isso que há tipos de doentes que têm apenas doenças mentais e outros, somente
doenças físicas, uma abordagem, no entanto, que deve ser cuidados para não cindir, uma vez
mais, corpo e mente, dois aspectos de um mesmo organismo que não podem ser divididos, ou
separados.
Outro fato importante levado em conta pelos chineses é que o equilíbrio entre Yin e Yang,
entre o indivíduo e o meio não é estático, mas dinâmico como a própria natureza. No processo
de adoecimento leva-se em conta:
• Redução da energia vital e do Tchi correto quando o corpo não possui resistência
adequada para defender-se.
• Alimentação.
• Estado mental.
Por isso, a importância de identificar cada doença em cada pessoa examinando cada
paciente como único, com sua história, que exige exame físico, de língua, pulso etc. No livro
O Físico, o autor, Noah Gordon, traça a história romanceada da medicina. No texto, cita
Avicena – que alguns julgam como figura lendária, outros, entretanto, admitem e apostam que
ele de fato existiu. O importante nesta monografia e destacar uma frase que li no livro de
Gordon e que me marcou muito, então de autoria de Avicena, o ´Príncipe dos Médicos`
dirigida aos estudantes de medicina: “Os pulsos não mentem jamais”, disse ele.
Uma frase de efeito, curta, objetiva e absolutamente correta. Afinal, um paciente pode
dissimular um sentimento, uma emoção, ocultar ou tentar esconder um sintoma do terapeuta,
disfarçar um sinal do médico, do analista etc. No entanto, quando se apalpam os pulsos, as
batidas revelam até mesmo o indizível, o escondido, o oculto, e permite um diagnóstico
próprio da Medicina Chinesa e especialmente para a Acupuntura.
Para se medir o pulso, com os três dedos – indicador, médio e anular – de ambas mãos
– o médico/terapeuta/acupunturista ´mede` uma série de órgãos, avaliando se estão,
basicamente, excitados ou enfraquecidos. O Acupunturista mais experiente é capaz de avaliar
mais detalhes em cada um desses estágios. No entanto, para não sairmos do foco dessa
questão, é importante citar os órgãos avaliados numa tomada de pulso que antecede a
aplicação das agulhas.
Bexiga e Rim
Referem-se às emoções, fato que faz parte integral da vida humana. Quando muito
intensas, ou porque permanecem por longo período, podem tornar-se fatores de adoecimento,
uma vez que podem gerar desarmonia nos órgãos e vísceras. Assim como as desarmonias nos
órgãos e vísceras também geram emoções alteradas e distorções da realidade. Assim, um afeta
o outro, assim como o Yin afeta o Yang e vice-versa. As principais emoções estudadas na
MTC são: alegria, raiva, tristeza, pesar, preocupação, medo e choque.
Há uma gama variada que a MTC leva em conta como alimentação, ocupação,
excessos em geral, de trabalho, de exercícios físicos, de relações sexuais, sem contar os
traumas e epidemias.
Capítulo XI
Entidades Viscerais
24
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 94
viscerais. O Shen individual é o que a pessoa recebe no céu anterior (antes da
concepção).
destrutivo e autopunição
O Hun também está ligado com a agressividade e o olho é a sua expressão. Assim, o
olhar do paciente deve ser analisado pelo médico/terapeuta para avaliar este importante item
durante a anamnese inicial e em todas as demais sessões de tratamento.
A entidade visceral Yi está ligada com a intenção e a ideação, sugestão, opinião, idéias
e pensamentos. Relacionada ao meridiano Baço-Pâncreas, esta função dá lucidez ao
pensamento e à consciência. É a compreensão, o julgamento e pode proporcionar a sabedoria.
Não à toa, representa o centro.
25
CAMPIGLIA, Helena, Psique e Medicina Tradicional Chinesa - MTC, Ed. Rocca, São Paulo, 2004
ligadas a essa função que guarda as imagens, ideais e as intenções. Inspiração e criatividade,
pensamentos e a capacidade de decorar – memória – estão relacionadas ao Yi.
Zhi pode ser traduzido como a força de vontade ou a capacidade de realização. Gera o
movimento do Tao, portanto é a base do funcionamento do Shen. Aloja-se nos Rins, órgão
responsável pela energia ancestral, também chamada de “bateria do corpo”. Pode-se, entre
outras maneiras, avaliar como está a função de um indivíduo, analisando sua capacidade de
realizar projetos e de concretizar idéias.
Shen – o Espírito
Assim, o Shen é responsável pela mente e por suas funções como vigília, percepção,
alerta, julgamento, interpretação, associações, memória, inteligência cognição, capacidade
exploratória, domínio dos impulsos, sono, insighths, juízo, humor, conhecimento, assimilação
de experiências, criatividade, armazenamento e uso das informações, autoconhecimento e
evolução.
Pulmão – Po
Baço – Yi
Rim – Zhi
Fígado – Hun
Coração – Shen
Jung, colega e co-autor junto com Wilhelm do livro O Segredo da Flor de Ouro,
acredita ser adequada esta tradução uma vez que o caractere hun é composto do sinal ´nuvens`
associado ao sinal ´demônio`. Portanto, ´demônio das nuvens`, é um princípio, o sopro da
alma que pertence ao Yang, portanto masculino. “Após a morte, hun se eleva e se torna Shen,
´espírito ou deus que se expande e manifesta`”27, diz Jung.
26
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 94
27
Página 52
28
Id. Ibidem
A anima, pelo contrário, é ´a força do pesado e turvo`, presa ao coração corporal,
carnal. “Suas atuações (efeitos) são os ´desejos carnais e os ímpetos de cólera`”29, escreve
Jung.
Aqui se pode recorrer a uma outra diferença fundamental entre as culturas oriental e
ocidental na concepção filosófica e religiosa entre ambas civilizações (conforme assunto
tratado em capítulos anteriores) que é a doutrina yoga chinesa a qual rejeita os conteúdos da
fantasia, assim como nós, ocidentais. Porém, por motivos diferentes.
29
Id. Ibidem
30
Idem, Página 56
Capítulo XIV
O Porque de Jung
Fátima Brazão
Alquimia procede da palavra árabe Kimyâ (pedra filosofal). Em grego Khyméia – quer
dizer mistura de vários líquidos. Podemos destacar, entretanto, que a palavra ´curar`
significava, originalmente, ´serviço a Deus`, portanto, a cura ocorria num contexto sagrado.
Na Grécia, os pais da alquimia foram os filósofos pré-socráticos tais como Empedócles,
Thales de Mileto, Zénon de Eléa, Heráclito, Demócrito, Zózimo de Panápolis.
Brazão lembra que Jung observou a existência de uma meta, uma direção, uma
finalidade na psique em direção ao Self. “A esse processo ele designou de Individuação, que
significa tornar-se uno”. Em linguagem chinesa, podemos recorrer ao caminho de retorno ao
Tao. Esta é uma das razões porque damos especial ênfase ao que Jung falava por ser o
médico, psiquiatra e psicanalista ocidental que mais se aproximou dos estudos relativos à
Alquimia oriental e ocidental.
31
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
“Cedo percebi que a psicologia analítica coincidia de modo bastante singular com a
alquimia... Foi, com efeito, uma descoberta marcante: eu encontrara a contraparte histórica
da minha psicologia do inconsciente. A possibilidade de comparação com a alquimia, bem
como a cadeia intelectual ininterrupta que remontava ao Gnosticismo, davam-lhe
substância... todo o procedimento alquímico pode muito bem representar o processo de
individuação num indivíduo particular, embora com a diferença não desprovida de
importância de que nenhum indivíduo particular abarca a riqueza e o alcance do simbolismo
alquímico”32.
32
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
Capítulo XV
O processo clássico do trabalho dos alquimistas era criar uma substância transcendente
e miraculosa conhecida como o ´Elixir da Longa Vida`, percorrer o caminho da busca da
Pedra Filosofal. O procedimento, em primeiro lugar, era tentar descobrir qual o material
adequado, a chamada Prima Matéria, depois submetê-la, em seguida, a uma série de
operações que a transformariam em pedra filosofal.
Quando nos referimos aos estados mitológicos, que tratam da evolução da consciência,
cada um deles tem uma referência aos quatro elementos e com a própria operação alquímica.
Solutio – a da água;
Coagulatio – a da terra;
Sublimatio – a do ar.
Calcinatio
São simbolizados por intermédio de três níveis de Fogo na alquimia ocidental: o Lobo,
o Leão e o Rei.
“Jung demonstrou que o fogo simboliza a libido, nesse sentido o lobo representa o
desejo e os instintos; o Leão é o impulso egocêntrico objetivo e o Rei é a consciência
objetiva”33.
Solutio
“Dissolve então sol e lua em nossa água solvente, que é familiar e amigável, cuja
natureza mais se aproxima deles, como se fosse um útero, uma mãe, uma matriz, o princípio e
o fim de sua vida. E esta é a própria razão pela qual eles são melhorados ou corrigidos nesta
água, porque o semelhante se rejubila no semelhante...
Assim, convém te unires aos consangüíneos ou aos de tua espécie... E como sol e lua
têm sua origem nesta água, sua mãe, é necessário, portanto, que nela voltem a entrar, isto é ,
no útero de sua mãe, para que possam ser regenerados ou nascer de novo, e com mais saúde,
mais nobreza e mais força.”( Secret Book of Artephius)34
33
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
34
Idem.
que o velho princípio dirigente, que passou pela solutio, pede para voltar a ser coagulado
numa nova forma e com uma certa quantidade de energia à sua disposição.
De certa forma, o batismo tem o antigo significado da provação pela água. Significa
uma conversão total, na morte da velha vida e o renascimento de uma outra pessoa na
comunidade de crentes religiosos.
No batismo cristão, o indivíduo é unido com Cristo; quer dizer, vincula-se o ego com
o Si-Mesmo.
Já Jung, diz: A análise e a interpretação dos sonhos confronta o ponto de vista da consciência
com as declarações do inconsciente, com o que lhe amplia o horizonte limitado. Esse
afrouxamento de atitudes rígidas e restritas corresponde à solução de elementos pela aqua
permanens”35.
35
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
Para o professor Henrique José de Souza, ilustre conhecedor das ciências de todas as
Idades, diz em um de seus escritos que não são os remédios que curam, mas o magnetismo
que se estabelece entre o médico e o paciente36.
Coagulatio
“Pesada e permanente, tem forma e posição fixa. Não desaparece no ar por meio da
volatilização, nem se adapta facilmente à forma de qualquer recipiente, ao contrário da
água. Psicologicamente, tornar-se terra significa concretizar-se numa forma localizada
particular - isto é, tornar-se algo ligado a um ego”37.
Fátima Brazão, em seu trabalho, explica que nos mitos este processo aparece na
imagem pela ação (mergulho, batedura, movimento em espiral). “O Turba Philosophorum dá
a seguinte receita: Toma o mercúrio, coagula-o no corpo de Magnésio, no chumbo ou no
Enxofre que não queima etc.”
36
Id. Ibidem
37
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
2. O Chumbo é pesado, sombrio e incômodo. É associado ao planeta Saturno, carrega as
qualidades de depressão, melancolia e da limitação. Assim sendo, o transcendente
deve vincular-se com a pesada realidade e com a limitação das particularidades
pessoais. Isso ocorre quando o indivíduo assume responsabilidade pessoal pelas suas
fantasias. É diferente da idéia pensada e a falada.
3. O Enxofre tem sua cor amarelada e seu caráter inflamável o associa ao sol. Por outro
lado, seus vapores têm mal cheiro e escurecem a maioria dos metais, é representado
como uma característica do inferno. Jung em Mysterum Coniunctionis, sintetiza o
enxofre:
Sublimatio
Desta forma, “o termo “sublimação” vem do latim sublimis, que significa “elevado”.
A terra se transforma em ar; um corpo fixo se volatiliza; aquilo que é inferior torna-se algo
superior. Todas as imagens referentes ao movimento para cima, escadas, degraus,
elevadores, alpinismo, montanhas, voar, e assim por diante- pertencem a esse simbolismo.
Em termos psicológicos isso corresponde a uma forma de lidar com um problema
concreto”38. Por isso é que nas imagens da alquimia a sublimatio aparece como aquilo que sai
da terra e é transportado para o céu.
Mortificatio
Segundo Jung, a opus alquímica tem três estágios: nigredo, albedo e rubedo: o
enegrecimento, o branqueamento e o avermelhamento. A nigredo, ou escurecimento, pertence
à operação denominada de mortificatio. Significa, literalmente, “matar”, sendo pertinente,
portanto, à experiência da morte. É a mais negativa operação da alquimia. Está vinculada ao
negrume, à derrota, à tortura, à mutilação, ao apodrecimento. Todavia, estas imagens
sombrias com freqüência levam a imagens de crescimento e ressurreição.
Separatio
38
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
39
Idem.
Aliás, o primeiro ato da criação é, portanto, a separação do casal divino, Pai Céu e
Mãe Terra, que os afasta o bastante para que seja criado um espaço para o resto da criação. Na
tradição chinesa, do Tao surgem o Yin e o Yang. Em termos psicológicos, o resultado da
separatio pela divisão em dois é a consciência dos contrários.
A criação por intermédio da separatio também é descrita como divisão em quatro (os
quatro elementos). O motivo desta divisão corresponde, em termos psicológicos, à aplicação
das quatro funções do ego. “São elas: a sensação que nos dias quais são os fatos; o
pensamento, que determina os conceitos gerais em que os fatos podem ser situados, o
sentimento, que nos diz se gostamos ou não dos fatos; à intuição, que sugere a possível
origem dos fatos, aquilo para onde podem levar e os vínculos que podem ter com outros fatos
e apresenta possibilidades, e não certezas”41.
Ainda sob o ponto de vista psicológico, Brazão lembra que as características ligadas à
separatio são: Logos-Cortador, espadas, facas, lâminas bem afiadas. O Logos é o grande
agente de separatio, aquele que traz a consciência e exerce poder sobre a natureza – interior e
exterior – graças à sua capacidade de dividir, nomear e categorizar. Ao separar os opostos, o
Logos traz clareza; mas, ao torná-lo visível, evidencia também o conflito. No texto do
Evangelho, podemos encontrar : “Eu não vim trazer a paz, mas uma espada...” Jesus: “Talvez
os homens pensem que eu vim para trazer paz à terra. Eles não sabem que eu vim para
trazer discórdia...” Um processo de separatio pode ser anunciado pelo aumento do conflito e
do antagonismo num relacionamento antes amigável. Isso será provável, em especial, se o
relacionamento for o de identificação inconsciente.
40
Id., herdem
41
Id., herdem
matéria, alma do corpo. Isto representa, sob o ponto de vista psicológico, à retirada de uma
projeção, normalmente seguida pela mortificatio.
Coniunctio
Descreve-se a Pedra Filosofal como: “uma pedra que tem o poder de amolecer todos
os corpos duros e de endurecer todos os corpos moles”, a pedra com Sapientia Dei que diz de
42
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
si mesma: “Eu sou a mediadora dos elementos, que faz um concordar com o outro; aquilo
que é quente torno frio, e vice-versa, aquilo que é seco torno úmido e vice versa, o duro em
mole. Sou o final e o meu amado é o começo. Sou toda a obra, e toda a ciência oculta-se em
mim”43.
Não poderíamos encerrar esta parte da monografia sem citar um dos textos
considerados entre os mais sagrados da alquimia, conhecido como ´A Tábua da Esmeralda` de
Hermes, o Trimegistro, o três vezes grande, escrita em latim, embora em 1923 fora descoberta
também uma versão na língua árabe.
43
Id. Ibidem
44
Jung, Memories, Dreams, Reflections, p. 353s
1 – Verdadeiro, sem enganos, certo e digníssimo de crédito.
2 – Aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, e aquilo que está em cima é
igual àquilo que está embaixo, para realizar os milagres de uma só coisa.
3 – E, assim como todas as coisas se originaram de uma só, pela mediação dessa coisa, assim
também todas as coisas vieram dessa coisa, por meio da adaptação.
4 – Seu pai é o sol; sua mãe, a lua; o vento a carregou em seu ventre, sua ama é a terra.
7 – Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade.
8 – Ela ascende da terra para o céu, e desce outra vez para a terra, e recebe o poder do que
está em cima e do que está embaixo. E, assim, terás a glória de todo o mundo. Desse modo,
toda a treva fugirá de ti.
9 – Eis o forte poder da força absoluta; porque ela vence toda coisa sutil e penetra todo
sólido.
12 – E assim sou chamado Hermes Trismegistus, tendo as três partes da filosofia de todo o
mundo.
Nos textos sobre fisiologia taoísta de alquimia interior, estudados no decorrer de nosso
curso de especialização em Ciências Clássicas Chinesas, sobretudo no Weisheng Shenglixue
mingzhi 45 aparecem as palavras campo de cinábrio46 e os meridianos curiosos, meridianos
singulares ou, como melhor chamamos, vasos maravilhosos. Estes termos aparecem segundo
uma interpretação do corpo humano e de seu funcionamento, segundo uma forma taoísta de
encará-lo.
Este mesmo texto cita o Shuowen, fazendo referência à lembrança de que o cinábrio
(dan), representa um poço, um agujero (agulheiro ou buraco) que contém uma pedra,
garantindo e lembrando que o cinábrio é muito abundante no sul da China, realizando,
entretanto, importante ressalva. “Os campos de cinábrio não são, pois, nem depósitos e nem
lugares ordinários, e sim campos onde se transformam certos materiais segundo a alquimia
interior”.48
E, muito embora o texto original chinês não dê nenhuma precisão onde se localizam os
campos de cinábrio, conta que a respiração penetra desde o fundo da cabana (choupana) no
campo de cinábrio, onde a essência e o alimento são mantidos na busca da longevidade.
45
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – traducción Del
chino al francês, introducción y notas de Catherine Despeux – versión al castellano de Francisco F. Villalba –
Miraguano Ediciones.
46
Optamos em manter a palavra Cinábrio uma vez que na língua portuguesa há: Zinabre - sm Azinhavre.
Azinhavre – sm – Substância verde que se forma nos objetos de cobre expostos ao ar ou umidade, conforme
Dicionário da Língua Portuguesa – Soares Amora – Editora Saraiva.
47
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 19.
48
id. ibid., página 19.
Apenas por volta dos séculos III e IV é que aparecem três campos de cinábrio.
A saber:
• O superior, na cabeça.
“Raros são os textos que dão outras precisões sobre sua localização. Se pode citar um
texto das Seis Dinastias, de Laozi zhongking (Yunji qiqian), que o descreve da seguinte
maneira: ´O campo de cinábrio (inferior) é a raiz do homem. É onde se acumula a essência e
a energia espiritual. É o lugar da origem dos cinco alentos, o palácio do embrião. É onde se
acumula a essência do homem e a menstruação da mulher. Preside o nascimento e é a porta
da união do Yin e do Yang, e se situa a três polegadas abaixo do umbigo”.49
• É vermelho no centro.
49
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 20.
• Mede quatro polegadas e tem como modelo o céu, a terra e o homem.
No entanto, segundo Zhao Bichen no texto que ora estudamos, ocorre uma leitura que
acima confunde o cinábrio inferior com o útero e com o sexo. “Pelo que se refere às cores,
sua distribuição não corresponde com a repartição corrente das cores no espaço conforme se
segue: amarelo no centro, vermelho no sul, negro no norte, branco no oeste e verde no
leste”51.
Ainda segundo Zhao Bichen, na alquimia interior os campos de cinábrio são lugares
de transformação da essência, dos sopros e da energia espiritual. São três regiões do corpo
onde se concentram três etapas do trabalho psicofisiológico.
Conforme o Tratado dos Três Campos e os Três Cinábrios52, “a energia espiritual que
nasce no seio do sopro 53 , se situa no cinábrio superior; o sopro que nasce do seio da
essência, se situa no cinábrio mediano; e a união da água e o sopro verdadeiro forma a
essência que se situa no cinábrio inferior. No campo superior é a morada da energia
espiritual, no campo mediano o palácio dos sopros e no campo inferior é a região da
essência”54.
50
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 20.
51
id. ibid., página 20.
52
Xiuzhen shishu, compliacion de los Song, número 263 – página 6b.
53
sm 1 hálito, bafo, alento. 2 vigor. 3 esforço. 4 fig ânimo. Do espanhol aliento pode-se traduzir para o souffle,
em francês – sopro, conforme utilizamos a tradução nesta monografia.
54
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 20.
55
Dacheng jiejing, escrito por Liu Huayang no século XVIII
corresponde às gônadas. É onde está encerrada a essência e é o lugar onde se recolhe o
remédio. Também está situado a esquerda do Mingtang e a direita da Morada do Arcano56”.
Segundo Zhao Bichen, os textos de alquimia interior não fazem mais do que descrever
a circulação dos sopros internos pelos vasos maravilhosos de uma maneira mais ou menos
velada, citando o Nanjing – O Livro das 81 Dificuldades que tem três capítulos sobre os oitos
meridianos curiosos, extraordinários ou, como preferimos chamar, de vasos maravilhosos.
“Li Shizhen, célebre médico da dinastia dos Ming, retoma o exposto no Nanjing e
ressalta que o essencial para um médico conhecer bem o papel destes oito meridianos, com o
fim de não buscar vagamente a causa de uma enfermidade, e que um taoísta, graças a estes
meridianos, irá assegurar o bom funcionamento do forno e da caldeira”57.
Ainda segundo este mesmo texto, para os taoístas, os oito meridianos curiosos
desempenham um papel diferente na circulação da energia ancestral já que postulam que estes
meridianos estão bloqueados nos homens comuns que, entretanto, podem funcionar
plenamente por intermédio de exercícios e esforços que estimulariam o seu funcionamento.
56
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 21.
57
id. ibid., página 21.
Capítulo XVII
“Todo transtorno de energia que não pode ser ´absorvido` pela ´pequena circulação`
e seu mecanismo regulador, irá buscar drenar em algum Vaso Maravilhoso”58.
Além disso, eles não precisam de pontos próprios, já que estes pontos mestres fazem
parte de outros meridianos conforme o caso.
58
Acupuntura – Teoría y Práctica – La Antigua Terapêutica China al Alcance Del Medico Practitco – David
Sussmann – Décima Terceira Edicion – Editorial Kier – Los Vasos Maravilhosos – Página 271.
Os quatro Vasos Maravilhosos Yang:
O Vaso Maravilhosos Jenn-Mo e Tou-Mo são distintos não bilaterais como os demais
e relacionam-se com a pequena circulação. Os demais se relacionam e se agrupam em pares:
Primeiro Par
1. Tchrong-Mo – BP 4
2. Inn Oe – CS 6
Segundo Par
1. Tae Mo – VB 41
2. Iang-Oe – TR 5
Terceiro Par
1. Tou-Mo – ID 3
2. Iang-Tsia-Mo – B 62
Quarto Par
1. Jenn-Po – P 7
2. Inn-Tsiao-Mo – R 6
Abaixo citamos algumas indicações60 destes Vasos Maravilhosos, sem entrarmos nos
trajetos já que isto iria demandar muitas explicações que fogem do escopo principal desta
monografia.
Assim temos:
2 – Inn-Oe – CS 6 (Nei-koann)
59
Acupuntura – Teoría y Práctica – David Sussmann – Décima Terceira Edicion – Editorial Kier – Página 273.
60
Conforme indicações de David Sussmann, em sua obra, Acupuntura – Teoría y Práctica – La Antigua
Terapêutica China al Alcance Del Medico Practitco.
3 – Tae-Mo – VB 41 (Linn-tsri)
4 – Yang-Oe – TR 5 (Oae-koann)
Indicações: Dores nas articulações dos membros, frio nos joelhos, mal estar nos braços
e pernas, enxaquecas, lombalgias e dores na coluna vertebral, no pescoço, cabeça e nas órbitas
dos olhos. Calor e paralisia dos membros. Suores noturnos, dores oculares, prurido
generalizado, dermatites, acnes, otites, sangramento do nariz, excesso de menstruação.
Indicações: Contração da coluna vertebral, edema nos maléolos, cefaléia com dor nos
olhos, dificuldades para estender ou flexionar os membros, abscesso na mama, zumbido nos
ouvidos, dores articulares, edemas. Afecções paralíticas nos membros, congestão cerebral,
hemorragia cerebral, afasia.
O significado literal de Gin Dan é esfera de ouro, a pílula de ouro, ou o Elixir da Vida,
a Flor de Ouro, que se obtém por intermédio das transformações da consciência espiritual que,
por sua vez, dependem do coração. E, muito embora, seja exata, tal magia é secreta, é fluida e
exige extrema inteligência e lucidez, bem como aprofundamento e tranqüilidade. “As pessoas
desprovidas dessa extrema inteligência e compreensão não encontram o caminho da
utilização, ao passo que as pessoas desprovidas do extremo aprofundamento e tranqüilidade
não conseguem estabilizá-lo”.61
Assim como existem céu e terra, também existem dois corações. O coração de carne,
embaixo, tem a forma de um grande pêssego e é encoberto pelas ´asas` do pulmão. É
sustentado pelo fígado e servido pelas vísceras. Depende do mundo exterior. Já o coração
celeste, que reside na cabeça não deve comover-se. “Se isto ocorresse, não seria bom.
Quando as pessoas comuns morrem, ele se comove, mas isso não é bom. Evidentemente, é
muito melhor que a luz já se tenha firmado num corpo-espírito e que sua força vital penetre
pouco a pouco os impulsos e movimentos. Mas este é um segredo silenciado há milênios”.62
61
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 99.
62
id. ibid., página 100.
63
id. ibid., página 101.
Para explicar melhor este assunto Wilhelm estabelece algumas comparações
importantes e muito úteis aos profissionais da Acupuntura:
Desta forma poderemos fazer interessante analogia com todas as funções Yin.
Dissemos a pouco que o coração terrestre é como um grande pêssego apoiado no Fígado e
tem como asas os Pulmões.
64
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 101.
justamente ser e vida, e quando nisso se reconhece o real, aí
está a força originária. E é justamente isto o grande sentido”.65
65
Long Yen – Suramgama-sutra budista. JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de
Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 99.
Capítulo XIX
Em sua prática clínica e em suas pesquisas, Jung pôde comprovar que as fantasias
desenhadas pelos seus pacientes podem aparecer em símbolos que pertencem ao tipo
´mandala`. “Mandala significa circulo e praticamente circulo mágico. Os mandalas não se
difundiram somente através do Oriente, mas também são encontrados entre nós. A Idade
Média e em especial a baixa Idade Média é rica de mandalas cristãos”.68, escreve Jung.
Nestes mandalas é importante ressaltar que o ponto central também pode ser
representado por Jesus Cristo rodeado pelos quatro evangelistas nos pontos cardeais. Entre os
egípcios também Hórus e seus quatro filhos foram representados da mesma forma e o centro
mostra o local do ´olho filosófico`, ou ´espelho da sabedoria` conforme algumas tradições.
Precisamos ainda ressaltar que diversas tradições, a chinesa inclusive, leva em conta no seu
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 37
67
id. ibid., página 38
68
id. ibid., página 38
processo de cosmogênese os quatro pontos cardeais com um quinto ponto no centro, que
depois se desloca acima e à direita, representando a Terra.
Jung, na obra citada, afirma que a Flor de Ouro é um símbolo mandálico, também
encontrado em uma série de desenhos de seus pacientes. Trata-se de um ´ornamento
geometricamente ordenado` como uma flor irrompendo do fundo da obscuridade em luz
colorida e incandescente. Tais desenhos exprimem o nascimento da flor de ouro, pois,
segundo o Hui Ming Ging, a vesícula germinal` é o ´castelo de cor amarela`, o ´coração
celeste`, ´os terraços da vitalidade`, ´o campo de uma polegada da casa de um pé`, ´a sala
purpúrea da cidade de jade`, ´a passagem escura`, ´o espaço do céu primeiro`, ou também
chamado de ´o castelo do dragão no fundo do mar`.
No princípio, quando tudo ainda é informe e ligado ao um, tudo jaz no fundo do mar,
na escuridão do inconsciente. Uma só unidade, inseparavelmente misturada como a semente
do fogo no forno da purificação. A partir deste fundo é que surge o fogo que sobe e penetra a
semente, incubando-o para que uma grande flor de outro nasça e cresça da vesícula germinal.
69
id. ibid., página 40
Diz Jung. “Esta simbólica refere-se a uma espécie de processo alquímico de
purificação e de enobrecimento; a escuridão gera a luz e a partir do ´chumbo da região da
água` cresce o ouro nobre; o inconsciente torna-se consciente, mediante um processo de vida
e crescimento. Desse modo se processa a unificação de consciência e vida”.70
70
id. ibid., página 39
71
Hui Ming Ging, obra citada.
72
id. ibid., página 40
Ainda sob o ponto de vista psicológico, podemos lembrar do movimento da roda do
sol, que quando começa a girar se vivifica, e a partir daí inicia o seu caminho. “O Tao começa
a atuar e assume a direção. A ação converte-se em não-ação; tudo o que é periférico é
subordinado à ordem que provém do centro”, lembra Jung73.
76
id. ibid., páginas 58 a 60.
Capítulo XX
O Caminho da Meditação
Citando o Hui Ming Ging, Wilhelm lembra que a obra trata de instruções budistas e
taoístas de meditação como parte de um pressuposto fundamental das duas esferas anímicas
que surgem a partir do nascimento: consciente e inconsciente, separadas uma da outra.
“Se a mudança for bem sucedida isto significa o fim da ´participation mystique`,
surge, então, uma personalidade que só sofrerá nos andares inferiores, uma vez que nos
andares superiores estará singularmente desapegada, tanto dos acontecimentos penosos,
quanto dos felizes”, diz Jung78. O advento e nascimento dessa personalidade superior é o que
tem em mira nosso texto ao falar do ´fruto sagrado`, do ´corpo diamantino`, ou de qualquer
outra espécie de corpo incorruptível.
77
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 83.
78
Idem, Página 38.
Aliás, a ilustração que consta da capa do O Segredo da Flor de Ouro mostra um sábio
em contemplação e de sua cabeça sai chamas e delas surgem cinco formas humanas que, por
sua vez, se dividem em vinte e cinco formas menores.
Diz uma advertência do Hui Ming Ging: “As formas que se configuram através do
fogo do espírito são formas e cores vazias. A luz da essência brilha de volta ao originário,
que é o verdadeiro”, 79 referindo-se à quarta etapa da meditação quando deve ocorrer as
rememorações das encarnações anteriores, conforme esquema que se segue:
Concentração da luz
Segundo o livro O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï), a prática da
ioga chinesa permite a libertação dos grilhões do mundo exterior ilusório, aliás, objetivo de
diversas seitas que surgiram na China em diversos momentos históricos, sobretudo os de
penúria econômica. No entanto, o mais alto grau desta atitude meditativa é tender ao nirvana
budista “ou então prepara a possibilidade de continuação da vida depois da morte, não com
decomposição no decaído mundo das sombras, mas como espírito consciente; é isto que
79
Hui Ming Ging, citado na página 46 da edição consultada de O Segredo da Flor de Ouro.
propõe o presente texto, conectando o princípio espiritual do homem com forças psicogênicas
correspondentes”80, escreve Wilhelm.
Segundo ele, com este processo pode-se fortalecer o processo vital obtendo
rejuvenescimento e normalização energética de modo a superar a morte. Esta passa ser um
processo harmônico e natural da conclusão da vida. “O corpo terrestre será, então,
abandonado pelo princípio espiritual (apto a prosseguir uma vida independente no corpo
espiritual (criado por seu sistema energético), tal como ocorre com a cigarra ao abandonar
sua casca seca”81, escreve Wilhelm.
Na época Tang – no decorrer do século VIII – a tradição oral fala do Elixir de Ouro da
Vida (Gin Dan Giau), fundada pelo adepto taoísta Lü Yen (Lü Dung Bin), considerado como
um dois oito imortais em “uma época que todas as religiões autóctones e estrangeiras eram
toleradas e praticadas”82, até a última perseguição movida pelo governo manchú em 1891
quando mais de 15.000 de seus adeptos foram cruelmente massacrados.
Na busca histórica, Wilhelm cita Guan Yin Hi, o Mestre Yin Hi do Desfiladeiro que,
segundo a lenda, foi para ele que Lao Tse escreveu o Tao Te King, onde é possível encontrar
uma série dos ensinamentos místicos, ocultos e esotéricos.
“Na época Han, o taoísmo degenerava cada vez mais em práticas mágicas externas;
os mágicos da corte, de procedência taoísta, procuravam obter a pílula de ouro (a pedra
filosofal) por meios alquímicos, que produzisse ouro a partir de metais vis, conferindo ao
homem a imortalidade física” 83. Além disso, as designações alquímicas começaram a tomar
força e também passaram a representar símbolos de processos psicológicos e se aproximar dos
pensamentos originais de Lao Tse.
“Numa página é descrito com detalhes o cultivo da ´Flor de Ouro`, e em outra são
introduzidos pensamentos nitidamente budistas, que deslocam a meta com toda a evidência
para a obtenção do nirvana através do repúdio do mundo”84, escreve Wilhelm, admitindo que
80
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 86.
81
Idem, Página 86.
82
Idem Página 87.
83
Idem, página 88.
84
Idem página 88.
algumas seções foram suprimidas da edição utilizada para esta monografia, embora nas
primeiras fases é que se trata o trabalho do renascimento interior através do movimento
circular da luz e a geração da semente divina.
85
Idem página 89
86
Richard Wilhelm, O Segredo da Flor de Ouro, página 95
No entanto, ressalta Willhelm, quando se consegue durante a vida iniciar um
movimento ´reversivo` e ascendente das forças vitais, quando a anima é dominada pelo
animus, ocorre uma espécie de libertação das coisas exteriores que passam a ser reconhecidas,
mas não cobiçadas, com o conseqüente rompimento da ilusão.
Em um outro trecho, Wilhelm escreve: “Eterna é apenas a Flor de Ouro, que brota da
libertação interior de todos os envolvimentos com as coisas. O homem que alcança este
estágio ultrapassa seu eu. Não se limita mais à mônada, mas penetra no circula da dualidade
polar de todos os fenômenos e retorna ao Uno, isento de dualidade: o Tao”.88 Além disso,
Wilhelm assinala a diferença entre o budismo e o taoísmo. No primeiro há retorno ao nirvana,
quando ocorre uma extinção total do eu, que é apenas ´ilusório`, assim como o mundo é
ilusório.
87
Richard Wilhelm, O Segredo da Flor de Ouro, página 95
88
id. ibid., página 96
89
id. ibid., página 96
Capítulo XXI
Zhao Bichen, que pertencia à escola Wu Liu, estabelece três etapas para o trabalho
psicofisiológico da Alquimia Interior efetuadas em cada um dos três campos de cinábrio90.
Parte do campo inferior, onde se sublima a essência para transformá-la em sopro, no campo
médio, onde o sopro, ou alento se transforma em energia espiritual, e o campo de cinábrio
superior, onde se volta a vacuidade (lian jing hua qi, lian qi hua shen, lian shen huan xu).
São três fenômenos que podem ser observados durante a realização destas três etapas,
segundo aponta Zhao Bichen.
“Os três tesouros do corpo são a essência, o sopro e a energia espiritual. A intuição
clara e perspicaz é a energia espiritual; aquela que penetra todas as partes e se move em
círculos é o alimento; os humores e os líquidos que embebem o corpo é a essência. Se queres
distingui-los segundo sua função, a energia espiritual controla e governa, o sopro preside a
aplicação das ordens, a essência preside a transformação e a geração. Cada um tem uma
função específica e segue as ordens do chefe. Se queres distingui-los desde o ponto de vista
de sua utilização, a essência pode transformar o sopro, o sopro pode transformar a energia
90
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 35.
espiritual. Ali onde chega a energia espiritual, chega o sopro. Ali onde chega o sopro, chega
a essência”.91
A Essência
No Neijing, obra médica dos Han, o jing tem as vezes o sentido de essência seminal, e
as vezes o sentido de quintessência dos órgãos, ou as vezes o sentido de gérmen da vida. Diz
o Lingshu. “No começo, durante a concepção, o primeiro que se forma é a essência; uma vez
formada a essência aparecem o cérebro e a medula”, conta no Wisheng Shenglixue mingzhi -
Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen.
O Sopro
No Shuowen, o sopro ou alento refere-se aos vapores que ascendem. Há quatro grafias
diferentes, cada uma com seu próprio significado. Na primeira, encontra-se o vapor com o
fogo embaixo. Na segunda, antiga da época da dinastia Son, é o sopro do céu anterior em
oposição ao sopro do céu posterior. Na terceira, escreve-se apenas o ideograma relacionado a
vapor e, por último, a mais corrente é o vapor embaixo do elemento arroz, ou seja,
transformação do sopro por intermédio da nutrição física e do alimento.
91
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 36.
92
id. ibid., página 37.
transformações, a respiração, o rápido e o que ascende (sobe), e o que volta, o que se
dispersa, o que abre e o que brilha é a luz. O fogo pode oculta a sombra e conter a forma”.93
A Energia Espiritual
“O Sheng é a divindade celeste de onde surgem as dez mil coisas”, diz o Shuowen. Já
no I Ching, o livro das Mutações, se define assim: “Quando o Yin e Yang são insondáveis, se
fala de Sheng”. No Nijing está escrito o seguinte: “Oh Sheng, inaudível e invisível, quando o
coração se abre a ti, não mais pensamento, a intuição cognitiva nos faz compreender de
pronto que tu és inexpressável”.94 E dá continuidade a essa explicação lembrando que, em
alquimia interior, o Sheng é o embrião imortal que se fabrica no corpo, deve ser sempre
Yang, já que se subsiste um pouco de Yin, se converteria como presa dos demônios (gui)95”,
em uma clara alusão de que Sheng – espírito, encontra-se no céu e se contrapõe aos demônios,
espíritos da terra.
93
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 38.
94
id. ibid., página 38.
95
id. ibid., página 38.
Capítulo XXII
Sublimação da Essência
Segundo o Tratado de Alquimia e Medicina Taoísta, de Zhao Bichen, para que esta
essência retorne ao cérebro cita-se práticas antigas e que foram muito utilizadas durante a
dinastia Han. É fato que alguns autores de textos sobre a alquimia interior recomendavam
utilizar a energia sexual – quando aparece durante a meditação – ou ´nas práticas de
dormitório`, como dizem os textos clássicos. Nas práticas sexuais, mesmo nas horas de
máxima excitação, recomendava-se ao homem não chegar ao clímax e ejacular. É fato
também que alguns autores afirmaram que ´cabalgar` (cavalgar, montar) as mulheres seria
uma técnica herética e recomendavam não pensar nas práticas sexuais. Outros não
estabelecem um paralelo entre jing (a essência) e o esperma. ... “deve-se atuar no momento
em que ocorre a ereção e se põe em movimento a energia sexual, momento em que os textos
taoístas chamam de ´período Del Zi vivo`(huozishi)97.
Isto se diz porque, segundo alguns taoístas, a ereção não está apenas ligada à atividade
sexual e sim às boas condições da função vital e demonstra que esta energia circula bem e em
quantidade suficiente, lembrando que ela pode ocorrer com bebês dormindo, por exemplo,
que nada têm a ver com a busca do sexo. Recomenda-se aproveitar este momento de fluxo de
energia pra se trabalhar mediante a pequena revolução celeste e cultivar o Tao.
Segundo Zhilun98, “apenas o sopro que está profundamente enterrado pode inverter a
essência e transformá-la em sopro do céu anterior, quando a essência não pode sair e deve-
se fazê-la subir e estabelecer a circulação circular nos canais de função e de controle
mediante um trabalho mental e respiração rítmica. Isto é a pequena revolução celeste”.
96
Wu Liu xianzong quanji, página 53.
97
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 39.
98
Zhilun, capítulo 8, em Wu Liu xianxong quanxi, página 206, citado em Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado
de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 39.
Pequena revolução celeste
“Para estabelecer a comunicação circular deve-se unir os canais abaixo e acima; por
baixo pressionando o canal da uretra e por cima colocando a ponta da língua no palato. O
circulo dos canais de controle e de função estão divididos em doze pontos segundo a jornada
de vinte e quatro horas – 12 horas chinesas – que correspondem aos intervalos de tempo e
respiração....
99
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 43.
As doze seções são designadas conforme o período cíclico e são denominados: Zi,
Chou, Yin, Mão, Chen, Si, Wy, Wei, Shen, Yu, Xu e Hai que designam também os intervalos
de tempo das respirações. Diz o Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia e
Medicina Taoísta que o sopro verdadeiro do círculo formado pelos canais de função e de
controle devem ser estimulados e acompanhados pela respiração externa – chamada de fogo
militar – oposta ao fogo civil – que é o pensamento criador.
A respiração deve seguir um ritmo preciso de acordo com as seções dos canais
atravessados pelo fluxo da essência invertida. “No começo da inspiração a essência invertida
(quer dizer, o sopro verdadeiro), recorre ao ponto Zi do canal de controle, depois sobre ao
ponto Chou, ao mesmo tempo em que se conta nove inspirando. Sem parar de inspirar, se
conta de novo nove, enquanto que a essência invertida passa por Yin, depois passa por Mão
ao mesmo tempo que se retém a inspiração. Se inspira de novo enquanto se conta duas vezes
nove quando a essência passa por Chen, depois por Si e deve ter chegado ao limite da
inspiração quando a essência chega a Wu”100. Para baixo deve-se seguir de maneira análoga.
Se expira contando duas vezes seis quando a essência recorre os pontos Wei e Shen, se marca
uma pausa durante Yu, depois se continua a expiração e se conta durante Xu e Hai.
“Depois de cem dias desta prática, efetuada em cada ereção, a essência se transforma
continuamente em sopro, e já não se observa perda nenhuma da essência seminal. Então se
100
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 43.
recupera o estado de indistinção do embrião, estado marcado pela indiferença dos órgãos
dos sentidos e, portanto, da percepção.
Segundo Nan Huaijin, a continuidade desta prática se constitui uma estimulação das
funções hormonais, se observa uma retração do sexo, assim como uma ascensão a partir do
campo do cinábrio inferior de uma força que se une a uma outra força proveniente do
estômago, e um intercâmbio de ambas forças como base da segunda etapa”101.
101
id. ibid., página 43.
Capítulo XXIII
Sublimação do Sopro
Noção de embrião
102
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 44.
103
id. ibid., página 44.
desenvolvimento é descrito como pérola-embrião que deve ser aquecida e alimentada. “No
começo, o caos, no seio do Vazio e do Não-Ser se encontra o sopro luminoso que, uma vez
chegado ao seu apogeu, engendra a umidade, a qual, quando chega a seu apogeu, se
transforma em bruma e em rocio (não sei a tradução)”104.
Diz o Nei King, capítulo 20. “Aqueles que buscam a imortalidade devem respirar o
sopro original... Convém controlar a essência e alimentar a matriz para regenerar o corpo
físico. Se conservar o embrião e se detiver a essência, se pode viver muito tempo”.105
Embrião do Sopro e
Respiração Embrionária
104
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 48.
105
id. ibid., página 48.
106
id. ibid., página 49.
Capítulo XXIV
2. Os cinco sopros rendem homenagem à origem. Os cinco sopros das cinco vísceras ou
dos cinco elementos cujas interpretações podem variar de autor para autor nos textos
clássicos chineses. O sopro original da unidade se divide e engendra os princípios
primários: Yin e Yang. Estes se dividem nas cinco direções e se o corpo está imóvel, a
essência é reforçada e a água retorna a sua origem, sendo que o sopro é reforçado com
o fogo retornando à sua origem. Acalmado o mundo, todas as coisas voltam ao seu
princípio.
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 52.
108
Chuan dao ji, citado em Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao
Bichen – página 52.
3. Amamentar a criatura durante três anos. Uma frase que nos leva à análise ao plano
mais alto dos sentidos e do conhecimento apenas discursivo. Há inclusive uma
advertência neste sentido. ´Muitos perigos acercam o adepto neste estado`, dizem os
textos clássicos chineses. O embrião tende a sair pela porta do céu, acima da cabeça.
Além disso, o recém nascido não é forte o suficiente para voltar e a ´energia espiritual
Yin` deve ser alimentada durante três anos no campo de cinábrio superior. “Neste
período deve-se conseguir transformar a energia espiritual Yin em energia espiritual
Yang. Não há que se pensar que o recém nascido se encontra no campo de cinábrio
superior. É apenas necessário que esta entidade ilumine o campo de cinábrio e se
funda com a Grande Vacuidade: este é o começo da criança”.109 Neste momento, os
referidos textos ressaltam o cuidado que o adepto deve ter já que há uma total
transformação da energia Yin em Yangshen, ou o espírito Yang, o espírito da luz. “A
aparição de um grande número de demônios para atacar o Yang é um dos múltiplos
perigos desta etapa sobre o que insiste Wu Chongxu. Se recordarmos que os demônios
pertencem ao mundo Yin da terra, seu ataque pode interpretar-se como uma última
defesa do Yin antes de seu desaparecimento completo”.110 Uma destas armadilhas é a
das ilusões, com o surgimento de fenômenos luminosos ou de visões de belas
mulheres tocando instrumentos delicados e com todo tipo de coisas agradáveis de
modo a fazer com que o adepto desista de sua busca e intento de iluminar-se.
4. Meditar defronte ao muro por nove anos. Nesta etapa, a energia espiritual – o Shen –
sublima-se e cristaliza-se. Se trata aqui da contemplação surgida de uma grande
concentração que conduz à fusão na vacuidade.... A expressão ´meditar nove anos
defronte a um muro` refere-se a lenda na qual Bodhidharma, primeiro patriarca na
China do Budismo Zen, meditou por nove anos frente a um muro evitando um só
momento de sonolência.
109
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 54.
110
id. ibid., página 55.
Capítulo XXV
Com muita propriedade, Zhao Bichen coloca em questão da importância das secreções
humorais do corpo como saliva, lágrimas, mucosidades, sêmen etc. com o fato de elas estarem
ligadas à fascinação que exercem sobre os taoístas.
Segundo esta concepção taoísta, a primeira troca energética ocorre quanto os gametas
do pai se unem aos da mãe para juntos formarem um novo alento, um novo sopro que dará
origem ao embrião propriamente dito. A segunda troca ocorrer quando o embrião de dez
meses (nove meses de gestação) respira o sopro da vida e quanto o espírito assume sua
própria natureza e se está preparado para vir ao mundo (nascer). A terceira troca, depois de
sua evolução e que vai até 16 anos, quando sua essência e sopro alcançam seu apogeu. “A
primeira passagem é a sublimação da essência e sua transformação em sopro. A segunda
passagem é a sublimação do sopro e sua transformação em energia espiritual, e a terceira
passagem é a sublimação da energia espiritual e seu retorno a Vacuidade”112.
111
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 57.
112
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 57.
A imortalidade, ou melhor, a longevidade é uma das metas destas práticas, mas não é a
única: os problemas essenciais da vida recebem uma solução original. No curso das três
etapas do trabalho alquímico, o taoísta aprende a suprimir seu desejo sexual que turva a paz
interior de um indivíduo e melhora sua saúde e talvez chega a adquirir a longevidade.
E, por último na terceira etapa, a necessidade de dormir diminui. Estes fenômenos vão
acompanhado por um aumento da temperatura interna; as roupas perdem assim sua
importância. O ideal taoísta é poder ter uma vida frugal, com abrigo das necessidades
fisiológicas mais elementares como sono, alimento e sexualidade.
113
Fulcanelli, Lãs moradas filsofofales, vol II – página 32 - Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia
y Medicina Taoísta – página 59.
Capítulo XXVI
Conclusão final:
É certo que nem todos pacientes estão prontos, ou desejam chegar a uma solução
original de voltar à infância, voltar à mãe, chegar à origem e, portanto, a imortalidade, ao Tao,
a vacuidade original. No entanto, a questão que se propõe nesta monografia é exatamente esta.
E se houver um paciente que busca no acupunturista/terapeuta suas iniciações nos mistérios
possíveis? Pode-se auxiliá-lo ? Quais conceitos que deveremos levar em conta na hora de se
aplicar uma agulha?
Wu – VG 20 (Pae-Roe)
Zi – VC 1 (Roe-Inn)
Yu – VG 7 (Tchong-Su)
Mao – VC 12 (Tchong-Koann)
Chen – VC 17 (Trann-Tchong)
Sintomas: Sem força espiritual, preocupação com o passado, descuido com o futuro.
Demasiadas idéias e preocupações, Amnésia, perda de objeto, face vermelha e sensação de
congestão depois de ingerir vinho.
Indicado para estados de excitação, depressão, epilepsia, insônia, medo, falta de concentração,
histeria, neurastenia, cefaléia, anemia cerebral, hemiplegia e afasia. Obstrução nasal,
sangramento pelo nariz, hipoacusia, gazes e rinites. Hemorróidas, prolapso retal e palpitações.
Sintomas: debilidade geral, afecções Yin. Hemorróidas, prurido anal, retenção de urina
e distúrbios menstruais.
Yu – VG 7 (Tchong-Su)
Sintomas: Transtornos energéticos por excesso ou por carência. Tosse, asma, dispnéia,
dores no peito, angina, vômitos, espasmos no esôfago, lactação insuficiente, infecção nas
mamas.
*
Acreditamos, firmemente, que a Acupuntura como método terapêutico praticado com
constância, leva os indivíduos e os pacientes a retornarem, objetivamente, aos seus próprios
princípios, fato que permite a possibilidade do desenvolvimento das etapas da alquimia
interior como preconizavam os chineses antigos.
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua
Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984.
CAMPIGLIA, Helena, Psique e Medicina Tradicional Chinesa - MTC, Ed. Rocca, São Paulo,
2004.
Antes de tudo, é preciso destacar que tais contatos se deram em diversos momentos
históricos e de variedade muito grande de formas. Muitas delas, de maneira absolutamente
específica e individual, como foram os casos de alguns renomados sinólogos, sem contar a
experiência própria de G. Soulié de Morrant que, literalmente, mergulhou na cultura chinesa
de modo a apreender os cânones mais profundos da Medicina Tradicional Chinesa – MTC e
da Acupuntura para transformar-se, posteriormente, em seu introdutor às mentes da
civilização ocidental.
– Como foi este impacto para nós, diante de uma cultura milenarmente mais evoluída?
Como este contato modificou – e ainda está modificando – sua prática clínica mediante a
aplicação da Acupuntura, por exemplo? Como foram as primeiras relações entre ´o estado da
alma` dos ocidentais com este mesmo estado dos orientais e vice-versa?
114
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984.
O texto original Tai I Gin Hua Dsung Dschï provém de um circulo esotérico da China cujo teor foi transmitido
Oriente implicou em um conhecimento de uma civilização milenar, “edificada organicamente
sobre instintos primitivos, a qual nada tem a ver com a moralidade brutal dos germanos
bárbaros, recentemente civilizados que somos (referindo-se aos europeus). Por isso, os
chineses não têm tendência à repressão violenta dos instintos, que envenena nossa
espiritualidade, imprimindo-lhe um exagero histérico”115, escreve Jung116.
Uma repressão, como veremos no decorrer desta monografia, capaz de causar uma
ferida na psique que necessitará ainda de algum tempo antes de fechar-se totalmente.
Note-se, entretanto, que esta é apenas uma das premissas básicas, o ponto de partida
desta monografia que tem a presunção de analisar um outro tópico importante da filosofia
chinesa que, em seus ditames mais profundos, relaciona-se à alquimia antiga, por exemplo, e
sua possível importância na prática clinica do profissional acupunturista.
– Existem conceitos, até mesmo pontos de acupuntura que devem ser levados em
conta na hora de se aplicar uma agulha em tratamento de patologias comuns que podem
atingir o amplo conceito da alquimia? – Como a alquimia prevê a unificação de consciência e
vida? – Como se deve atentar aos pontos específicos, durante a anamnese, de modo a escolher
a melhor terapêutica, segundo tais princípios?
De fato, estas foram as primeiras perguntas surgidas ao se pensar sobre o tema desta
monografia e que se somaram a muitas outras relativas a tal proposta. Principalmente se
levarmos em conta a possibilidade de um corpo teórico – tão vasto e profundo quanto o da
Medicina Tradicional Chinesa – MTC, que conta com registros há pelo menos cinco mil anos
– que visa inclusive tratar de patologias consideradas contemporâneas e modernas de estudos
e relatos bem mais recentes. – Haveriam patologias tão similares na época antiga? – Como o
conhecimento filosófico pode auxiliar nesta prática clínica?
Estas são algumas das questões que procuraremos responder e também propor para
uma reflexão conjunta ao longo deste trabalho.
oralmente durante muito tempo. Mais tarde também por intermédio de manuscritos. A primeira publicação data
da época de Kiën-Lung (século XVIII), e em 1920 este texto foi reimpresso em Pequim, aparecendo numa edição
de 1000 exemplares, junto com o Hui Ming Ging.
115
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 60.
116
Carl Gustav Jung, ilustre médico suíço nasceu em 1875. No principio de sua carreira dedicou-se à psiquiatria
e à compreensão da psique humana. Contemporâneo de Freud, Jung foi considerado um de seus discípulos
favoritos. Porém com o tempo, diferenciou-se, pois acabou discordando e ampliando alguns de seus conceitos
principalmente no tocante ao desenvolvimento da sexualidade e seus distúrbios. Jung não satisfeito foi além.
Observando os sonhos de seus pacientes, mitos das mais diversas culturas e religiões, Jung constatou a existência
de uma estrutura psíquica comum a toda humanidade. A isto chamou de Inconsciente Coletivo.
Capítulo I
Ponto de Partida.
Contato ou Choque?
É fato que foram – e ainda são – muitas as dificuldades, segundo a ótica do mundo
ocidental, para que se possa entender o âmago dos conceitos filosóficos – e, por conseguinte,
da própria Medicina Tradicional Chinesa –MTC em toda a sua magnitude.
Vamos aqui nos ater às dificuldades de interpretação dos textos orientais segundo o
´ponto de partida`, a inicial de um texto e da defesa das idéias, algo semanticamente diferente
do que estamos acostumados a lidar.
Portanto, enquanto o oriental inicia sua explanação pela parte mais importante, nós,
ocidentais, damos inúmeros volteios até atingir o clímax do texto, ou apontar a conclusão de
todo o raciocínio teórico anteriormente apresentado.
Entre outros tantos exemplos, neste sentido, podemos citar duas frases inicias do texto
denominado Hui Ming Ging117:
Uma outra:
A tradução do chinês para o português, como se vê, indica uma série de palavras que
podem sugerir grande profundidade e magnitude teórica e filosófica. Lembremos de um
detalhe importante, já dito acima e que convém repetir. Não há única tradução para os
ideogramas, principalmente aos temas filosóficos, aos ligados à cosmogênese e no tocante à
Medicina Tradicional Chinesa – MTC.
Por conta disso, muitos autores traduzem Tao por ´caminho` ou ´providência`. Alguns
jesuítas o adaptaram para `Deus´ e Richard Wilhelm, por seu lado, traduz o termo Tao por
´sentido`.
117
Essência (sing) e consciência (hui) – Hui Ming Ging, texto citado no livro O Segredo da Flor de Ouro – Um
Livro de Vida Chinês – C.G.Jung e R.Wilhelm, Editora Vozes, 2ª. Edição, Petrópolis, 1984, tradução de Dora
Ferreira da Silva e Maria Luíza Appy, página 36. Na página 83 desta mesma obra, Richard Wilhelm escreve que
o Hui Ming Ging, ou livro da Consciência e da Vida, foi editado por Liu Hua Yang, em 1794. Natural de Hukou,
província de Kiangsi, Liu Yang tornou-se posteriormente monge no Claustro da Dupla Flor de Loto (Shuang
Liën Si) na província de Anhui. A tradução foi baseada numa nova edição, que alguém, sob o pseudônimo de
Hui Dschen Dsï (aquele que se tornou consciente da Verdade), imprimiu juntamente com o Segredo da Flor de
Ouro, numa tiragem de mil exemplares em 1921.
118
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 36.
Diante disso, comprova-se, mais uma vez, que a tradução pode variar muito, segundo
o tradutor, sua filosofia, experiência de vida, raciocínio, formação didática e orientação
filosófica etc. Vale lembrar que, no caminho da tradução, também se pode utilizar a amplitude
do raciocínio analógico – que, aliás, vai muito além das simples comparações como as
utilizamos no decorrer do aprendizado nas escolas acadêmicas ocidentais –, de modo a
ampliarmos os conceitos inerentes ao nosso objeto de estudo.
Desta forma, para o conceito de ´cabeça`, por exemplo, pode-se fazer analogias com o
termo consciência, da mesma forma que com ´caminhar` para, juntando-se os dois símbolos,
ser traduzido como ´caminho consciente`. Ainda recorrendo-se à analogia, Tao também pode
ser livremente traduzido como a ´luz do céu` 119 , uma vez que a essência e a vida estão
contidas na luz proveniente do céu.
Como se vê, mais uma vez, ficam patentes as diferenças entre as culturas do Oriente e
do Ocidente, bem como de sua escrita e interpretação simbólica.
119
id. ibid., página 36.
120
Eflúvio – sm – Fluido sutil que emana dos corpos; emanação; perfume, aroma fragrância. Dicionários da
Língua Portuguesa – Soares Amora – 6ª. Edição – Editora Saraiva – Evitar a efluxão refere-se à proteção da
unidade da consciência contra a fragmentação provocada pelo inconsciente.
121
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 37.
Segundo Carl Gustav Jung, na obra citada, estes versos contém uma indicação
alquímica, já que indica um método, ou mesmo caminho para a geração do ´corpo
diamantino`, que estudaremos a seguir:
Como escrevemos para o homem ocidental – e concordamos com Jung quando ele
ressalta a seriedade de se ter a concordância entre os estados psíquicos e o simbolismo do
Oriente e do Ocidente –, tais analogias abrem um extenso caminho que nos conduz “às
câmaras interiores do espírito oriental, caminho que não pede sacrifício de nossa própria
maneira de ser. Isto sim, seria uma ameaça de desenraizamento”, escreve Jung123.
Destarte, referindo-se aos que não sabem onde estão as verdadeiras fontes da força
secreta, diz Gu De: “As pessoas mundanas perderam as raízes e se atêm às copas das
árvores”.124
Neste ponto é possível destacar que estas analogias não são, nem um telescópio, nem
um microscópio intelectuais capazes de abrir uma perspectiva indiferente, pelo fato de nada
representarem de fundamental. Ao contrário, trata-se de um caminho que indica certo
sofrimento na busca e na luta comum a todos os povos civilizados; “trata-se da tremenda
experiência da natureza de tornar-se consciente, outorgada à humanidade, e que une as
culturas mais distantes numa tarefa comum”.125
Assim, com bastante propriedade, Jung, na obra citada, explica que o homem europeu,
“um germânico recém-civilizado” (uma vez que há apenas mil anos vivia ainda sob os
122
id. ibid., página 37.
123
id. ibid., página 36
124
id. ibid., página 62
125
id. ibid., página 66
ditames do politeísmo), invadiu o Oriente, em especial a China, defrontando-se com uma
civilização, em diversos aspectos, milenarmente mais evoluída.
Entre outras análises possíveis, o psiquiatra e psicanalista destaca que, justamente, sob
o ponto de vista psíquico e espiritual reside o aspecto e o ponto de vista onde esta invasão
física teve um, talvez entre os mais caros, preço. Afinal, por conta desta tentativa de
colonização e exploração, o homem branco – ocidental e europeu – precisou assimilar uma
cultura – e também um valor espiritual – de maneira muito mais intensa do que ele pudesse,
talvez, estar preparado. Faltou-lhe, então, estrutura.
Neste sentido, para Jung, o homem oriental chinês, por intermédio de seu modo de
vida muito mais natural, sempre conviveu de maneira muito mais harmônica com seus
próprios instintos. Enquanto o europeu, sobretudo depois deste contato – e conhecimento –
precisou reprimir estes instintos, a duras penas, diga-se. Instintos que foram guardados
´embaixo do tapete` sem, no entanto, perderem a sua força original. Afinal, ainda que no
inconsciente – colocado aqui como se lata de descarte fosse – eles continuaram vivos e fortes.
Diante disso, este tópico mostra que o contato realizado entre tais civilizações causou
uma repressão dos instintos, uma ferida, do homem ocidental que ainda deverá levar muito
tempo para ser curada. O psiquiatra e psicólogo faz uma interessante analogia do homem
branco europeu com Amfortas, o rei pescador ferido na virilha pela lança de Longinus – a
mesma que feriu o Cristo. Os anjos confiaram e concederam a honra da guarda dos sagrados
objetos (a lança e o cálice que recolheu o sangue do Justo) para Tituriel, pai de Amfortas, de
quem a lança foi mais tarde surrupiada por Klingsor, o cavalheiro que fazia oposição à
comunidade dos santos guerreiros de Monte Salvat (Monte Saúde). Sua oposição advinha pelo
fato dele não ser admitido na Ordem dos Santos Cavalheiros.
126
id. ibid., página 66
Klingsor, então rouba a lança de Amfortas e o fere na virilha que, em se tratando de
figuras mitológicas, representa a própria humanidade agrilhoada ao sexo. Só depois de
Parsifal ter percorrido todos os arcanos maiores por duas vezes – na primeira vez ele deixa de
fazer a pergunta redentora ao se defrontar com o Graal – nosso cavalheiro tolo-inocente-herói,
na segunda oportunidade, consegue realizar a pergunta e libertar todo o reino da magia de
Klingsor.
Só depois disso ele consegue curar a ferida de Amfortas tocando-a com a lança.
Interessante simbologia e analogia já que apenas, e tão somente, o objeto que feriu será capaz
de curar.
Mas esta é uma outra história que, sem dúvida, mereceria esforços para a redação de
outra monografia, assunto que, no entanto, foge muito de nossos objetivos aqui traçados.
Podemos também destacar que, se por um lado, o homem branco europeu invadiu
fisicamente a China, ele foi invadido interiormente por uma cultura milenarmente superior à
sua, o que lhe valeu a ferida do rei Amfortas, segundo Jung, e que agora se encontra em uma
busca incessante para tornar-se consciente do processo de cura de maneira ampla do
inconsciente de todo o mundo ocidental.
“Há pouco mais de mil anos caímos de um politeísmo cru numa religião oriental,
altamente desenvolvida, que impeliu o espírito imaginativo de semibárbaros a alturas que
não correspondem ao seu desenvolvimento espiritual. Para manter de um modo ou de outro
essa altura, era inevitável que a esfera do instinto tivesse que ser duramente reprimida.
Dessa forma, a prática religiosa e a moralidade assumiram um caráter decididamente brutal,
para não dizer maligno.
Em um outro trecho, em sua conclusão sobre este assunto, Jung reconhece que “a
invasão européia do Oriente foi um ato de violência em grande escala e nos legou - ´noblesse
oblige`- a obrigação de compreender o espírito do Oriente. Isto é talvez mais importante para
nós do que parecemos pressentir”.128
127
id. ibid., página 60.
128
id. ibid., página 69.
Capítulo II
Como dito, em seu âmago, o conhecimento tradicional chinês traz em seus símbolos –
e linguagem próprios – muito conteúdo a que nossas mentes ocidentais ainda não estão
acostumadas, até por questões semânticas e culturais, a discernir e entender.
Como se sabe, todo símbolo abrange além dos objetos palpáveis e visíveis e o que eles
podem significar, o que implica em sentidos ocultos em uma só expressão. Por isso é que a
sua interpretação permite riqueza variada de uma gama de significados que podem implicar
em uma série de associações que não podem ser reduzidas, simplesmente, e definidas em
única direção ou sentido. Aliás, definição, em última análise, significa colocar um fim. E o
símbolo caminha justamente em sentido contrário, ou seja, amplia significados. Em outras
palavras, a interpretação do símbolo depende de quem o interpreta, em qual contexto e em
qual momento se localiza, local, história, cultura, níveis de informação etc.
Polaridade em tudo
Ainda que de certa forma bastante popularizada – e até mesmo banalizada nos últimos
tempos por determinados meios e mídias – a filosofia do Yin e do Yang – as duas energias
opostas, mas complementares – o fato é que se trata, ainda, de uma teoria de difícil
compreensão em toda a sua abrangência e utilizando-se apenas a nossa habitual e linear forma
de raciocínio ocidental.
O Tao, em sua forma originária, como explica Wilhelm – que o traduz como ´sentido
do mundo` - consiste “em uma cabeça, que deve ser interpretada como ´começo`, e em um
sinal para ´ir` (ou andar), precisamente em seu duplo significado que implica também o de
´trilho`: além disso, ainda um sinal para ´deter-se` que desaparece na grafia posterior... O
pensamento subjacente é o de que ele, mesmo sendo imóvel, transmite todos os movimentos
outorgando-lhes a lei. Os caminhos do céu são aqueles através dos quais os astros se
movimentam; o caminho do homem é a via pelo qual ele deve andar”.129
“O sentido não tem nome, nem forma. É o ser uno, o espírito originário e único. Ser e
vida não podem ser vistos, estão contidos na luz do céu. A luz do céu não pode ser vista, está
contida nos dois olhos. Hoje serei vosso guia e revelar-vos-ei o Segredo da Flor de Ouro do
Grande Uno”.130
No entanto, há muito ainda para se marchar diante da necessidade de se ter uma visão
poética do universo capaz de nos permitir adentrar ao hermetismo da linguagem chinesa. Tal,
fato, acreditamos, possibilita chamar a Acupuntura até de Arte Terapêutica – uma arte/ciência,
com absoluta praticidade, indicada para o tratamento de diversos males, inclusive de origem
psíquica, mas unindo a visão da natureza, do cosmos e do homem, em único organismo que é,
a um só tempo, fisiológico e anímico – portanto psíquico – e também espiritual.
129
id. ibid., página 92.
130
id. ibid., página 97.
capaz de reconstruir a imagem inteira. Karl Pribam, neurocientista norte-
americano, faz interessante associação analógica do holograma com os
estudos de imagens do cérebro, o que explica que não se pode determinar uma
região exata para a memória, já que a mesma pode estar espalhada por
diferentes regiões do cérebro e que, ao se reconstituir, seria possível
reconstituir o todo. O símbolo funciona como um holograma ao evocar
imagens diversas para reconstituir o todo original, levando em conta pólos
opostos e conceitos diversos.131
Seguindo esta linha de raciocínio, então, pode-se afirmar que o homem representa
simbolicamente todo o universo e a natureza. Ainda que cada parte representada (pessoa) seja
única e individual, a soma delas é sempre diferente do total inicial, acrescida das
características – e experiências, diríamos, principalmente pelas vivências individuais – que
irão auxiliar, sobremaneira, na interpretação dos fatos e da própria vida na história de um
indivíduo. Segundo Soares Amora, em seu Dicionário da Língua Portuguesa, o termo
indivíduo quer dizer: indiviso; o que não se pode dividir. Portanto, o indivíduo,
analogicamente, é a parte única que não se pode mais dividir.
Além disso, pode-se também traçar um paralelo analítico (e analógico como dito
acima) com Pathos, enquanto emoção, sensações e sentimentos; e Logos, enquanto raciocínio
lógico e pensamentos. A patologia, então, pode ser encarada como um termo que merece ser
analisado sob a ótica do desequilíbrio entre Pathos e Logos, a emoção e o pensamento,
responsáveis pela vida anímica nesses dois campos de consciência do indivíduo.
131
CAMPIGLIA, Helena, Psique e Medicina Tradicional Chinesa - MTC, Ed. Rocca, São Paulo, 2004. A autora
é médica acupunturista e pós-graduada em Psicologia Analítica.
Capítulo III
mas complementares
O Yin é feminino, passivo, interno, sombra, mal, obscuro, terra, útero, inconsciente,
analogicamente relacionado a Eros, emoção. Já o Yang é masculino, ativo, externo, vida, luz,
bem, claro, céu, o falo, o consciente, relacionado a Logos, portanto, a razão. Nem um nem
outro tem conceito ou valor de bem ou mal no sentido de avaliação moral ou estética, é
preciso ressaltar. Ambos são pólos geradores do Universo que, aliás, não existiria um sem o
outro, seu oposto-complementar.
E é justamente deste conflito – amistoso, é preciso dizer – gerado por estes opostos é
que surge a fonte da vida e toda a sua diversidade. Vida e construção ou doença, morte e
destruição. É assim que os chineses propõem a resolução dos conflitos mediante uma análise
das enormes possibilidades criativas do relacionamento de ambos os pólos.
132
– O Livro do Imperador Amarelo - Tradução dos 34 capítulos do Huang Ti Nei Ching Su Wen, Editora
Terceiro Milênio.
Notável no símbolo do Tao ou do Tai Chi (acima), é que não há apenas e tão somente
a presença da polaridade, mas encerra-se também a idéia de que um pólo está contido no
outro, em seu oposto. Além disso, o símbolo do Yin e Yang dá uma clara idéia de movimento
e transformação, portanto, não se trata de algo estático, conforme, aliás, explica o I Ching, o
Livro das Mutações. No estágio máximo do Yin, (extremidade inferior), há a semente do
Yang, e no ponto máximo do Yang (extremidade superior), está a semente do Yin.
Ainda em se tratando do Tao, Wilhelm explica que do Tai Gi (símbolo acima) surgem
os princípios da realidade, o pólo luminoso (yang) e o pólo obscuro ou sombrio (yin). “Os
círculos estudiosos europeus pensaram primeiramente em relações sexuais. No entanto, os
sinais se referem aos fenômenos da natureza. Yin é sombra, portanto o lado norte de uma
montanha e o lado sul de um rio (uma vez que o sol durante o dia ocupa tal posição e faz com
que a montanha vista do sul pareça escura). Yang mostra em sua forma originária pálpebras
pestanejando e é – em relação ao sinal yin – o lado sul da montanha e o lado norte do rio”.133
Entretanto, deve-se destacar que Yin e Yang são só atuantes no domínio do fenômeno
e têm sua origem comum no Uno, sem dualidade, onde Yang é o principio ativo
condicionante e Yin o princípio passivo e condicionado. “Menos abstratos do que Yin e Yang
são os conceitos do criativo e do receptivo que procedem do Livro das Mutações. Eles são
simbolizados pelo Céu e pela Terra. Mediante a união de ambos e através da ação das forças
originárias duais dentro dessa cena (segundo a lei originária uma do Tao) se originam as
´dez mil coisas`, isto é, o mundo exterior”.134
133
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 92
134
id. ibid., página 92.
Capítulo IV
Assim é, por exemplo, com Chen, termo que representa a palavra espírito e os sopros
universais. O sopro enquanto energia celeste, sopro divino, força transformadora, força vital
que engendra cada órgão do ser humano, segundo as suas especificidades.
Um outro conceito, que ainda pode ser destacado para auxiliar a explicar esta ampla
linha de raciocínio, é o do Tchi, ou Qi, que penetra todas as funções do ser vivo e é
responsável pela formação e transformação de toda a vida. Segundo preconiza a Medicina
Tradicional Chinesa – MTC, os padrões de funcionamento do corpo devem ser interpretados
segundo um agrupamento realizado em torno dos cinco elementos – Água, Madeira, Fogo,
Terra e Metal.
É a partir das inter-relações dos cinco elementos e de seus princípios é que resulta a
compreensão das determinações das etiologias das doenças, síndromes e também a
formulação de diagnósticos, bem próprios, diga-se, segundo explica a Medicina Tradicional
Chinesa – MTC.
Além dos cinco elementos, a Medicina Tradicional Chinesa – MTC leva em conta e
trabalha com oito princípios:
Yin
Yang
Profundo
Superficial
Deficiente (Vazio)
Plenitude (Excesso)
Frio
Calor
Capítulo V
Oposição – um se opõe a outro, entretanto por intermédio de uma visão que visa o seu
próprio complemento – masculino e feminino, terra e céu, lua e sol, quietude e
movimento, calor e frio etc. – complementado pelo princípio da interdependência.
Interdependência – um não vive sem o outro. Não há dia sem noite, nem sombra
sem luz etc.
Exemplo. Fogueira – fogo é yang, mas a lenha é yin. Um aumenta, o outro diminui.
Patologias Modernas
Há cinco mil anos não havia na China microscópios para detectar vírus e bactérias. No
entanto, se falava em energias perversas. Elas podem ser o vento, calor, frio, umidade ou
secura. De acordo com os cinco elementos, Água, Madeira, Fogo, Terra e Metal que, por sua
vez, também agrupam uma série de determinadas doenças.
Fogo
Direção: multidirecional
Ideograma: Huo
Dinâmica: explosão
Órgão: Coração
Estação: Verão
Emoção: Alegria
Madeira
Ideograma: Mu
Órgão: Fígado
Estação: Primavera
Abertura: olhos
Emoção: Raiva
Metal
Direção: retorno
Ideograma: Jin
Órgão: Pulmão
Estação: Outono
Abertura: nariz
Emoção: Tristeza
Fatores de adoecimento: cigarro, poluição, falta de líquidos, ambientes secos, luto, pesar,
perdas importantes
Água
Imagem: regeneração
Ideograma: Shui
Dinâmica: descida
Órgão: Rins
Víscera: B - Bexiga
Estação: Inverno
Clima: Frio
Vitalidade e ancestralidade
Abertura: ouvidos
Terra
Direção: multidirecional
Ideograma: Tu
Víscera: E - Estômago
Estação: Verão
Antes porém, é preciso explicar e entender que há os ciclos naturais de geração: água
gera madeira, que gera fogo, que gera a terra, que gera o metal, que gera a água.
Assim, temos:
A água irriga a planta (madeira), que alimenta o fogo, que queima a madeira e deposita
as cinzas – que alimenta a terra – que gera em seu interior os metais e também a água que
brota da pedra e das fontes minerais.
Desta forma, a água controla o fogo, que controla o metal, que controla a madeira, que
controla a terra, que controla a água.
Simbolicamente temos:
A água apaga o fogo, o fogo forja o metal, o metal corta a madeira, a madeira tira da
terra seus nutrientes para crescer e a terra absorve a água.
Aspectos importantes
do número três
Simbolicamente podemos dizer que as energias celestes são captadas pela respiração,
enquanto as telúricas pelos alimentos.
E claro está que esta é apenas uma visão simplista deste posicionamento filosófico e
prático como se verá adiante. Muito embora, nem todos autores estudados em nosso curso de
especialização em ciências clássicas chinesas estabelecem essa leituras paralela, conforme é o
caso de René Guénon, como destaca em sua obra A Grande Tríade. Ali o autor alerta,
sobretudo, as diferenças existentes entre ternário e a trindade cristã. “Antes de abordar o
estudo da Tríade extremo-oriental, convém pôr-se, cuidadosamente em guarda contra as
confusões e as falsas assimilações que circulam em geral no Ocidente e que provêm,
sobretudo, de se querer achar, em seja qual for o ternário tradicional, um equivalente mais
ou menos exato da Trindade cristã. Esse erro não é apenas de teólogos, que seriam ao menos
perdoáveis por querer reduzir tudo a seu ponto de vista especial...135”
Embora, mais a frente, e na mesma obra, o próprio Guénon reconheça que é possível
estabelecer comparações, desde que “dois ternários pertencentes a formas tradicionais
distintas é a possibilidade de estabelecer entre eles, de maneira válida, uma correspondência
temo a termo; noutras palavras, é preciso que seus termos estejam entre si, realmente, uma
relação equivalente ou similar”.136
135
GUÉNON, René, A Grande Tríade, Editora Pensamento – Tradução de Daniel Camarinha da Silva, página 13.
136
id. ibid., página 14.
Capítulo IX
Para a física quântica, o átomo e os seus componentes ora são partículas sólidas, ora
são ondas. Portanto, não há uma representação única e estanque, pois sua natureza é a própria
transformação, o movimento. Pode-se, em nossa opinião, estabelecer uma certa analogia com
o Yin e Yang, sobretudo se avaliarmos sob o ponto de vista de sombra e luz, matéria e
espírito. A matéria equivaleria, nesta leitura, à partícula (Yin) e o espírito à onda (Yang).
Isto porque, seguindo na linha psicológica, para os chineses, o Tchi é aquilo que
movimenta o homem em direção ao mundo, no entanto, é mais do que simplesmente a libido,
conforme o conceito freudiano do termo. O Tchi, segundo os chineses, molda o homem e
pode torná-lo mais ou menos neurótico. Pode tanto libertar, quanto prender.
Assim, o Tchi proporciona também a formação da estrutura psíquica, por ser o homem
o resultado das “impressões energéticas” ao longo da vida, como o amor, a atenção, o vazio, a
falta de contato, a contenção da criatividade etc.
Capítulo X
A Medicina Tradicional Chinesa – MTC aponta para duas direções para explicar os
fatores de adoecimento: um interno e outro externo.
Entre as causas externas podem ocorrer aquelas tanto por deficiência do sistema de
defesa (imunológico) ou por causa de um indivíduo sofrer muitas agressões do ambiente em
que vive. Elas não são excludentes e podem, inclusive, ser concomitantes.
É por isso que há tipos de doentes que têm apenas doenças mentais e outros, somente
doenças físicas, uma abordagem, no entanto, que deve ser cuidados para não cindir, uma vez
mais, corpo e mente, dois aspectos de um mesmo organismo que não podem ser divididos, ou
separados.
Outro fato importante levado em conta pelos chineses é que o equilíbrio entre Yin e Yang,
entre o indivíduo e o meio não é estático, mas dinâmico como a própria natureza. No processo
de adoecimento leva-se em conta:
• Redução da energia vital e do Tchi correto quando o corpo não possui resistência
adequada para defender-se.
• Alimentação.
• Estado mental.
Por isso, a importância de identificar cada doença em cada pessoa examinando cada
paciente como único, com sua história, que exige exame físico, de língua, pulso etc. No livro
O Físico, o autor, Noah Gordon, traça a história romanceada da medicina. No texto, cita
Avicena – que alguns julgam como figura lendária, outros, entretanto, admitem e apostam que
ele de fato existiu. O importante nesta monografia e destacar uma frase que li no livro de
Gordon e que me marcou muito, então de autoria de Avicena, o ´Príncipe dos Médicos`
dirigida aos estudantes de medicina: “Os pulsos não mentem jamais”, disse ele.
Uma frase de efeito, curta, objetiva e absolutamente correta. Afinal, um paciente pode
dissimular um sentimento, uma emoção, ocultar ou tentar esconder um sintoma do terapeuta,
disfarçar um sinal do médico, do analista etc. No entanto, quando se apalpam os pulsos, as
batidas revelam até mesmo o indizível, o escondido, o oculto, e permite um diagnóstico
próprio da Medicina Chinesa e especialmente para a Acupuntura.
Para se medir o pulso, com os três dedos – indicador, médio e anular – de ambas mãos
– o médico/terapeuta/acupunturista ´mede` uma série de órgãos, avaliando se estão,
basicamente, excitados ou enfraquecidos. O Acupunturista mais experiente é capaz de avaliar
mais detalhes em cada um desses estágios. No entanto, para não sairmos do foco dessa
questão, é importante citar os órgãos avaliados numa tomada de pulso que antecede a
aplicação das agulhas.
Bexiga e Rim
Referem-se às emoções, fato que faz parte integral da vida humana. Quando muito
intensas, ou porque permanecem por longo período, podem tornar-se fatores de adoecimento,
uma vez que podem gerar desarmonia nos órgãos e vísceras. Assim como as desarmonias nos
órgãos e vísceras também geram emoções alteradas e distorções da realidade. Assim, um afeta
o outro, assim como o Yin afeta o Yang e vice-versa. As principais emoções estudadas na
MTC são: alegria, raiva, tristeza, pesar, preocupação, medo e choque.
Há uma gama variada que a MTC leva em conta como alimentação, ocupação,
excessos em geral, de trabalho, de exercícios físicos, de relações sexuais, sem contar os
traumas e epidemias.
Capítulo XI
Entidades Viscerais
137
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 94
viscerais. O Shen individual é o que a pessoa recebe no céu anterior (antes da
concepção).
destrutivo e autopunição
O Hun também está ligado com a agressividade e o olho é a sua expressão. Assim, o
olhar do paciente deve ser analisado pelo médico/terapeuta para avaliar este importante item
durante a anamnese inicial e em todas as demais sessões de tratamento.
A entidade visceral Yi está ligada com a intenção e a ideação, sugestão, opinião, idéias
e pensamentos. Relacionada ao meridiano Baço-Pâncreas, esta função dá lucidez ao
pensamento e à consciência. É a compreensão, o julgamento e pode proporcionar a sabedoria.
Não à toa, representa o centro.
138
CAMPIGLIA, Helena, Psique e Medicina Tradicional Chinesa - MTC, Ed. Rocca, São Paulo, 2004
ligadas a essa função que guarda as imagens, ideais e as intenções. Inspiração e criatividade,
pensamentos e a capacidade de decorar – memória – estão relacionadas ao Yi.
Zhi pode ser traduzido como a força de vontade ou a capacidade de realização. Gera o
movimento do Tao, portanto é a base do funcionamento do Shen. Aloja-se nos Rins, órgão
responsável pela energia ancestral, também chamada de “bateria do corpo”. Pode-se, entre
outras maneiras, avaliar como está a função de um indivíduo, analisando sua capacidade de
realizar projetos e de concretizar idéias.
Shen – o Espírito
Assim, o Shen é responsável pela mente e por suas funções como vigília, percepção,
alerta, julgamento, interpretação, associações, memória, inteligência cognição, capacidade
exploratória, domínio dos impulsos, sono, insighths, juízo, humor, conhecimento, assimilação
de experiências, criatividade, armazenamento e uso das informações, autoconhecimento e
evolução.
Pulmão – Po
Baço – Yi
Rim – Zhi
Fígado – Hun
Coração – Shen
Jung, colega e co-autor junto com Wilhelm do livro O Segredo da Flor de Ouro,
acredita ser adequada esta tradução uma vez que o caractere hun é composto do sinal ´nuvens`
associado ao sinal ´demônio`. Portanto, ´demônio das nuvens`, é um princípio, o sopro da
alma que pertence ao Yang, portanto masculino. “Após a morte, hun se eleva e se torna Shen,
´espírito ou deus que se expande e manifesta`”140, diz Jung.
139
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 94
140
Página 52
141
Id. Ibidem
A anima, pelo contrário, é ´a força do pesado e turvo`, presa ao coração corporal,
carnal. “Suas atuações (efeitos) são os ´desejos carnais e os ímpetos de cólera`”142, escreve
Jung.
Aqui se pode recorrer a uma outra diferença fundamental entre as culturas oriental e
ocidental na concepção filosófica e religiosa entre ambas civilizações (conforme assunto
tratado em capítulos anteriores) que é a doutrina yoga chinesa a qual rejeita os conteúdos da
fantasia, assim como nós, ocidentais. Porém, por motivos diferentes.
142
Id. Ibidem
143
Idem, Página 56
Capítulo XIV
O Porque de Jung
Fátima Brazão
Alquimia procede da palavra árabe Kimyâ (pedra filosofal). Em grego Khyméia – quer
dizer mistura de vários líquidos. Podemos destacar, entretanto, que a palavra ´curar`
significava, originalmente, ´serviço a Deus`, portanto, a cura ocorria num contexto sagrado.
Na Grécia, os pais da alquimia foram os filósofos pré-socráticos tais como Empedócles,
Thales de Mileto, Zénon de Eléa, Heráclito, Demócrito, Zózimo de Panápolis.
Brazão lembra que Jung observou a existência de uma meta, uma direção, uma
finalidade na psique em direção ao Self. “A esse processo ele designou de Individuação, que
significa tornar-se uno”. Em linguagem chinesa, podemos recorrer ao caminho de retorno ao
Tao. Esta é uma das razões porque damos especial ênfase ao que Jung falava por ser o
médico, psiquiatra e psicanalista ocidental que mais se aproximou dos estudos relativos à
Alquimia oriental e ocidental.
144
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
“Cedo percebi que a psicologia analítica coincidia de modo bastante singular com a
alquimia... Foi, com efeito, uma descoberta marcante: eu encontrara a contraparte histórica
da minha psicologia do inconsciente. A possibilidade de comparação com a alquimia, bem
como a cadeia intelectual ininterrupta que remontava ao Gnosticismo, davam-lhe
substância... todo o procedimento alquímico pode muito bem representar o processo de
individuação num indivíduo particular, embora com a diferença não desprovida de
importância de que nenhum indivíduo particular abarca a riqueza e o alcance do simbolismo
alquímico”145.
145
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
Capítulo XV
O processo clássico do trabalho dos alquimistas era criar uma substância transcendente
e miraculosa conhecida como o ´Elixir da Longa Vida`, percorrer o caminho da busca da
Pedra Filosofal. O procedimento, em primeiro lugar, era tentar descobrir qual o material
adequado, a chamada Prima Matéria, depois submetê-la, em seguida, a uma série de
operações que a transformariam em pedra filosofal.
Quando nos referimos aos estados mitológicos, que tratam da evolução da consciência,
cada um deles tem uma referência aos quatro elementos e com a própria operação alquímica.
Solutio – a da água;
Coagulatio – a da terra;
Sublimatio – a do ar.
Calcinatio
São simbolizados por intermédio de três níveis de Fogo na alquimia ocidental: o Lobo,
o Leão e o Rei.
“Jung demonstrou que o fogo simboliza a libido, nesse sentido o lobo representa o
desejo e os instintos; o Leão é o impulso egocêntrico objetivo e o Rei é a consciência
objetiva”146.
Solutio
“Dissolve então sol e lua em nossa água solvente, que é familiar e amigável, cuja
natureza mais se aproxima deles, como se fosse um útero, uma mãe, uma matriz, o princípio e
o fim de sua vida. E esta é a própria razão pela qual eles são melhorados ou corrigidos nesta
água, porque o semelhante se rejubila no semelhante...
Assim, convém te unires aos consangüíneos ou aos de tua espécie... E como sol e lua
têm sua origem nesta água, sua mãe, é necessário, portanto, que nela voltem a entrar, isto é ,
no útero de sua mãe, para que possam ser regenerados ou nascer de novo, e com mais saúde,
mais nobreza e mais força.”( Secret Book of Artephius)147
146
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
147
Idem.
que o velho princípio dirigente, que passou pela solutio, pede para voltar a ser coagulado
numa nova forma e com uma certa quantidade de energia à sua disposição.
De certa forma, o batismo tem o antigo significado da provação pela água. Significa
uma conversão total, na morte da velha vida e o renascimento de uma outra pessoa na
comunidade de crentes religiosos.
No batismo cristão, o indivíduo é unido com Cristo; quer dizer, vincula-se o ego com
o Si-Mesmo.
Já Jung, diz: A análise e a interpretação dos sonhos confronta o ponto de vista da consciência
com as declarações do inconsciente, com o que lhe amplia o horizonte limitado. Esse
afrouxamento de atitudes rígidas e restritas corresponde à solução de elementos pela aqua
permanens”148.
148
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
Para o professor Henrique José de Souza, ilustre conhecedor das ciências de todas as
Idades, diz em um de seus escritos que não são os remédios que curam, mas o magnetismo
que se estabelece entre o médico e o paciente149.
Coagulatio
“Pesada e permanente, tem forma e posição fixa. Não desaparece no ar por meio da
volatilização, nem se adapta facilmente à forma de qualquer recipiente, ao contrário da
água. Psicologicamente, tornar-se terra significa concretizar-se numa forma localizada
particular - isto é, tornar-se algo ligado a um ego”150.
Fátima Brazão, em seu trabalho, explica que nos mitos este processo aparece na
imagem pela ação (mergulho, batedura, movimento em espiral). “O Turba Philosophorum dá
a seguinte receita: Toma o mercúrio, coagula-o no corpo de Magnésio, no chumbo ou no
Enxofre que não queima etc.”
149
Id. Ibidem
150
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
5. O Chumbo é pesado, sombrio e incômodo. É associado ao planeta Saturno, carrega as
qualidades de depressão, melancolia e da limitação. Assim sendo, o transcendente
deve vincular-se com a pesada realidade e com a limitação das particularidades
pessoais. Isso ocorre quando o indivíduo assume responsabilidade pessoal pelas suas
fantasias. É diferente da idéia pensada e a falada.
6. O Enxofre tem sua cor amarelada e seu caráter inflamável o associa ao sol. Por outro
lado, seus vapores têm mal cheiro e escurecem a maioria dos metais, é representado
como uma característica do inferno. Jung em Mysterum Coniunctionis, sintetiza o
enxofre:
Sublimatio
Desta forma, “o termo “sublimação” vem do latim sublimis, que significa “elevado”.
A terra se transforma em ar; um corpo fixo se volatiliza; aquilo que é inferior torna-se algo
superior. Todas as imagens referentes ao movimento para cima, escadas, degraus,
elevadores, alpinismo, montanhas, voar, e assim por diante- pertencem a esse simbolismo.
Em termos psicológicos isso corresponde a uma forma de lidar com um problema
concreto”151. Por isso é que nas imagens da alquimia a sublimatio aparece como aquilo que
sai da terra e é transportado para o céu.
Mortificatio
Segundo Jung, a opus alquímica tem três estágios: nigredo, albedo e rubedo: o
enegrecimento, o branqueamento e o avermelhamento. A nigredo, ou escurecimento, pertence
à operação denominada de mortificatio. Significa, literalmente, “matar”, sendo pertinente,
portanto, à experiência da morte. É a mais negativa operação da alquimia. Está vinculada ao
negrume, à derrota, à tortura, à mutilação, ao apodrecimento. Todavia, estas imagens
sombrias com freqüência levam a imagens de crescimento e ressurreição.
Separatio
151
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
152
Idem.
Aliás, o primeiro ato da criação é, portanto, a separação do casal divino, Pai Céu e
Mãe Terra, que os afasta o bastante para que seja criado um espaço para o resto da criação. Na
tradição chinesa, do Tao surgem o Yin e o Yang. Em termos psicológicos, o resultado da
separatio pela divisão em dois é a consciência dos contrários.
A criação por intermédio da separatio também é descrita como divisão em quatro (os
quatro elementos). O motivo desta divisão corresponde, em termos psicológicos, à aplicação
das quatro funções do ego. “São elas: a sensação que nos dias quais são os fatos; o
pensamento, que determina os conceitos gerais em que os fatos podem ser situados, o
sentimento, que nos diz se gostamos ou não dos fatos; à intuição, que sugere a possível
origem dos fatos, aquilo para onde podem levar e os vínculos que podem ter com outros fatos
e apresenta possibilidades, e não certezas”154.
Ainda sob o ponto de vista psicológico, Brazão lembra que as características ligadas à
separatio são: Logos-Cortador, espadas, facas, lâminas bem afiadas. O Logos é o grande
agente de separatio, aquele que traz a consciência e exerce poder sobre a natureza – interior e
exterior – graças à sua capacidade de dividir, nomear e categorizar. Ao separar os opostos, o
Logos traz clareza; mas, ao torná-lo visível, evidencia também o conflito. No texto do
Evangelho, podemos encontrar : “Eu não vim trazer a paz, mas uma espada...” Jesus: “Talvez
os homens pensem que eu vim para trazer paz à terra. Eles não sabem que eu vim para
trazer discórdia...” Um processo de separatio pode ser anunciado pelo aumento do conflito e
do antagonismo num relacionamento antes amigável. Isso será provável, em especial, se o
relacionamento for o de identificação inconsciente.
153
Id., herdem
154
Id., herdem
matéria, alma do corpo. Isto representa, sob o ponto de vista psicológico, à retirada de uma
projeção, normalmente seguida pela mortificatio.
Coniunctio
Descreve-se a Pedra Filosofal como: “uma pedra que tem o poder de amolecer todos
os corpos duros e de endurecer todos os corpos moles”, a pedra com Sapientia Dei que diz de
155
BRAZÃO, Fátima, psicóloga clinica junguiana em seu trabalho acadêmico Alquimia – Um processo de
transformação da Alma.
si mesma: “Eu sou a mediadora dos elementos, que faz um concordar com o outro; aquilo
que é quente torno frio, e vice-versa, aquilo que é seco torno úmido e vice versa, o duro em
mole. Sou o final e o meu amado é o começo. Sou toda a obra, e toda a ciência oculta-se em
mim”156.
Não poderíamos encerrar esta parte da monografia sem citar um dos textos
considerados entre os mais sagrados da alquimia, conhecido como ´A Tábua da Esmeralda` de
Hermes, o Trimegistro, o três vezes grande, escrita em latim, embora em 1923 fora descoberta
também uma versão na língua árabe.
156
Id. Ibidem
157
Jung, Memories, Dreams, Reflections, p. 353s
1 – Verdadeiro, sem enganos, certo e digníssimo de crédito.
2 – Aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, e aquilo que está em cima é
igual àquilo que está embaixo, para realizar os milagres de uma só coisa.
3 – E, assim como todas as coisas se originaram de uma só, pela mediação dessa coisa, assim
também todas as coisas vieram dessa coisa, por meio da adaptação.
4 – Seu pai é o sol; sua mãe, a lua; o vento a carregou em seu ventre, sua ama é a terra.
7 – Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade.
8 – Ela ascende da terra para o céu, e desce outra vez para a terra, e recebe o poder do que
está em cima e do que está embaixo. E, assim, terás a glória de todo o mundo. Desse modo,
toda a treva fugirá de ti.
9 – Eis o forte poder da força absoluta; porque ela vence toda coisa sutil e penetra todo
sólido.
12 – E assim sou chamado Hermes Trismegistus, tendo as três partes da filosofia de todo o
mundo.
Nos textos sobre fisiologia taoísta de alquimia interior, estudados no decorrer de nosso
curso de especialização em Ciências Clássicas Chinesas, sobretudo no Weisheng Shenglixue
mingzhi 158 aparecem as palavras campo de cinábrio159 e os meridianos curiosos, meridianos
singulares ou, como melhor chamamos, vasos maravilhosos. Estes termos aparecem segundo
uma interpretação do corpo humano e de seu funcionamento, segundo uma forma taoísta de
encará-lo.
Este mesmo texto cita o Shuowen, fazendo referência à lembrança de que o cinábrio
(dan), representa um poço, um agujero (agulheiro ou buraco) que contém uma pedra,
garantindo e lembrando que o cinábrio é muito abundante no sul da China, realizando,
entretanto, importante ressalva. “Os campos de cinábrio não são, pois, nem depósitos e nem
lugares ordinários, e sim campos onde se transformam certos materiais segundo a alquimia
interior”.161
E, muito embora o texto original chinês não dê nenhuma precisão onde se localizam os
campos de cinábrio, conta que a respiração penetra desde o fundo da cabana (choupana) no
campo de cinábrio, onde a essência e o alimento são mantidos na busca da longevidade.
158
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – traducción Del
chino al francês, introducción y notas de Catherine Despeux – versión al castellano de Francisco F. Villalba –
Miraguano Ediciones.
159
Optamos em manter a palavra Cinábrio uma vez que na língua portuguesa há: Zinabre - sm Azinhavre.
Azinhavre – sm – Substância verde que se forma nos objetos de cobre expostos ao ar ou umidade, conforme
Dicionário da Língua Portuguesa – Soares Amora – Editora Saraiva.
160
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 19.
161
id. ibid., página 19.
Apenas por volta dos séculos III e IV é que aparecem três campos de cinábrio.
A saber:
• O superior, na cabeça.
“Raros são os textos que dão outras precisões sobre sua localização. Se pode citar um
texto das Seis Dinastias, de Laozi zhongking (Yunji qiqian), que o descreve da seguinte
maneira: ´O campo de cinábrio (inferior) é a raiz do homem. É onde se acumula a essência e
a energia espiritual. É o lugar da origem dos cinco alentos, o palácio do embrião. É onde se
acumula a essência do homem e a menstruação da mulher. Preside o nascimento e é a porta
da união do Yin e do Yang, e se situa a três polegadas abaixo do umbigo”.162
• É vermelho no centro.
162
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 20.
• Mede quatro polegadas e tem como modelo o céu, a terra e o homem.
No entanto, segundo Zhao Bichen no texto que ora estudamos, ocorre uma leitura que
acima confunde o cinábrio inferior com o útero e com o sexo. “Pelo que se refere às cores,
sua distribuição não corresponde com a repartição corrente das cores no espaço conforme se
segue: amarelo no centro, vermelho no sul, negro no norte, branco no oeste e verde no
leste”164.
Ainda segundo Zhao Bichen, na alquimia interior os campos de cinábrio são lugares
de transformação da essência, dos sopros e da energia espiritual. São três regiões do corpo
onde se concentram três etapas do trabalho psicofisiológico.
163
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 20.
164
id. ibid., página 20.
165
Xiuzhen shishu, compliacion de los Song, número 263 – página 6b.
166
sm 1 hálito, bafo, alento. 2 vigor. 3 esforço. 4 fig ânimo. Do espanhol aliento pode-se traduzir para o souffle,
em francês – sopro, conforme utilizamos a tradução nesta monografia.
167
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 20.
168
Dacheng jiejing, escrito por Liu Huayang no século XVIII
corresponde às gônadas. É onde está encerrada a essência e é o lugar onde se recolhe o
remédio. Também está situado a esquerda do Mingtang e a direita da Morada do Arcano169”.
Segundo Zhao Bichen, os textos de alquimia interior não fazem mais do que descrever
a circulação dos sopros internos pelos vasos maravilhosos de uma maneira mais ou menos
velada, citando o Nanjing – O Livro das 81 Dificuldades que tem três capítulos sobre os oitos
meridianos curiosos, extraordinários ou, como preferimos chamar, de vasos maravilhosos.
“Li Shizhen, célebre médico da dinastia dos Ming, retoma o exposto no Nanjing e
ressalta que o essencial para um médico conhecer bem o papel destes oito meridianos, com o
fim de não buscar vagamente a causa de uma enfermidade, e que um taoísta, graças a estes
meridianos, irá assegurar o bom funcionamento do forno e da caldeira”170.
Ainda segundo este mesmo texto, para os taoístas, os oito meridianos curiosos
desempenham um papel diferente na circulação da energia ancestral já que postulam que estes
meridianos estão bloqueados nos homens comuns que, entretanto, podem funcionar
plenamente por intermédio de exercícios e esforços que estimulariam o seu funcionamento.
169
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta – Zhao Bichen – página 21.
170
id. ibid., página 21.
Capítulo XVII
“Todo transtorno de energia que não pode ser ´absorvido` pela ´pequena circulação`
e seu mecanismo regulador, irá buscar drenar em algum Vaso Maravilhoso”171.
Além disso, eles não precisam de pontos próprios, já que estes pontos mestres fazem
parte de outros meridianos conforme o caso.
171
Acupuntura – Teoría y Práctica – La Antigua Terapêutica China al Alcance Del Medico Practitco – David
Sussmann – Décima Terceira Edicion – Editorial Kier – Los Vasos Maravilhosos – Página 271.
Os quatro Vasos Maravilhosos Yang:
O Vaso Maravilhosos Jenn-Mo e Tou-Mo são distintos não bilaterais como os demais
e relacionam-se com a pequena circulação. Os demais se relacionam e se agrupam em pares:
Primeiro Par
3. Tchrong-Mo – BP 4
4. Inn Oe – CS 6
Segundo Par
3. Tae Mo – VB 41
4. Iang-Oe – TR 5
Terceiro Par
3. Tou-Mo – ID 3
4. Iang-Tsia-Mo – B 62
Quarto Par
3. Jenn-Po – P 7
4. Inn-Tsiao-Mo – R 6
Abaixo citamos algumas indicações173 destes Vasos Maravilhosos, sem entrarmos nos
trajetos já que isto iria demandar muitas explicações que fogem do escopo principal desta
monografia.
Assim temos:
2 – Inn-Oe – CS 6 (Nei-koann)
172
Acupuntura – Teoría y Práctica – David Sussmann – Décima Terceira Edicion – Editorial Kier – Página 273.
173
Conforme indicações de David Sussmann, em sua obra, Acupuntura – Teoría y Práctica – La Antigua
Terapêutica China al Alcance Del Medico Practitco.
3 – Tae-Mo – VB 41 (Linn-tsri)
4 – Yang-Oe – TR 5 (Oae-koann)
Indicações: Dores nas articulações dos membros, frio nos joelhos, mal estar nos braços
e pernas, enxaquecas, lombalgias e dores na coluna vertebral, no pescoço, cabeça e nas órbitas
dos olhos. Calor e paralisia dos membros. Suores noturnos, dores oculares, prurido
generalizado, dermatites, acnes, otites, sangramento do nariz, excesso de menstruação.
Indicações: Contração da coluna vertebral, edema nos maléolos, cefaléia com dor nos
olhos, dificuldades para estender ou flexionar os membros, abscesso na mama, zumbido nos
ouvidos, dores articulares, edemas. Afecções paralíticas nos membros, congestão cerebral,
hemorragia cerebral, afasia.
O significado literal de Gin Dan é esfera de ouro, a pílula de ouro, ou o Elixir da Vida,
a Flor de Ouro, que se obtém por intermédio das transformações da consciência espiritual que,
por sua vez, dependem do coração. E, muito embora, seja exata, tal magia é secreta, é fluida e
exige extrema inteligência e lucidez, bem como aprofundamento e tranqüilidade. “As pessoas
desprovidas dessa extrema inteligência e compreensão não encontram o caminho da
utilização, ao passo que as pessoas desprovidas do extremo aprofundamento e tranqüilidade
não conseguem estabilizá-lo”.174
Assim como existem céu e terra, também existem dois corações. O coração de carne,
embaixo, tem a forma de um grande pêssego e é encoberto pelas ´asas` do pulmão. É
sustentado pelo fígado e servido pelas vísceras. Depende do mundo exterior. Já o coração
celeste, que reside na cabeça não deve comover-se. “Se isto ocorresse, não seria bom.
Quando as pessoas comuns morrem, ele se comove, mas isso não é bom. Evidentemente, é
muito melhor que a luz já se tenha firmado num corpo-espírito e que sua força vital penetre
pouco a pouco os impulsos e movimentos. Mas este é um segredo silenciado há milênios”.175
174
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 99.
175
id. ibid., página 100.
176
id. ibid., página 101.
Para explicar melhor este assunto Wilhelm estabelece algumas comparações
importantes e muito úteis aos profissionais da Acupuntura:
Desta forma poderemos fazer interessante analogia com todas as funções Yin.
Dissemos a pouco que o coração terrestre é como um grande pêssego apoiado no Fígado e
tem como asas os Pulmões.
177
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro, (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 101.
justamente ser e vida, e quando nisso se reconhece o real, aí
está a força originária. E é justamente isto o grande sentido”.178
178
Long Yen – Suramgama-sutra budista. JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de
Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 99.
Capítulo XIX
Em sua prática clínica e em suas pesquisas, Jung pôde comprovar que as fantasias
desenhadas pelos seus pacientes podem aparecer em símbolos que pertencem ao tipo
´mandala`. “Mandala significa circulo e praticamente circulo mágico. Os mandalas não se
difundiram somente através do Oriente, mas também são encontrados entre nós. A Idade
Média e em especial a baixa Idade Média é rica de mandalas cristãos”.181, escreve Jung.
Nestes mandalas é importante ressaltar que o ponto central também pode ser
representado por Jesus Cristo rodeado pelos quatro evangelistas nos pontos cardeais. Entre os
egípcios também Hórus e seus quatro filhos foram representados da mesma forma e o centro
mostra o local do ´olho filosófico`, ou ´espelho da sabedoria` conforme algumas tradições.
Precisamos ainda ressaltar que diversas tradições, a chinesa inclusive, leva em conta no seu
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 37
180
id. ibid., página 38
181
id. ibid., página 38
processo de cosmogênese os quatro pontos cardeais com um quinto ponto no centro, que
depois se desloca acima e à direita, representando a Terra.
Jung, na obra citada, afirma que a Flor de Ouro é um símbolo mandálico, também
encontrado em uma série de desenhos de seus pacientes. Trata-se de um ´ornamento
geometricamente ordenado` como uma flor irrompendo do fundo da obscuridade em luz
colorida e incandescente. Tais desenhos exprimem o nascimento da flor de ouro, pois,
segundo o Hui Ming Ging, a vesícula germinal` é o ´castelo de cor amarela`, o ´coração
celeste`, ´os terraços da vitalidade`, ´o campo de uma polegada da casa de um pé`, ´a sala
purpúrea da cidade de jade`, ´a passagem escura`, ´o espaço do céu primeiro`, ou também
chamado de ´o castelo do dragão no fundo do mar`.
No princípio, quando tudo ainda é informe e ligado ao um, tudo jaz no fundo do mar,
na escuridão do inconsciente. Uma só unidade, inseparavelmente misturada como a semente
do fogo no forno da purificação. A partir deste fundo é que surge o fogo que sobe e penetra a
semente, incubando-o para que uma grande flor de outro nasça e cresça da vesícula germinal.
182
id. ibid., página 40
Diz Jung. “Esta simbólica refere-se a uma espécie de processo alquímico de
purificação e de enobrecimento; a escuridão gera a luz e a partir do ´chumbo da região da
água` cresce o ouro nobre; o inconsciente torna-se consciente, mediante um processo de vida
e crescimento. Desse modo se processa a unificação de consciência e vida”.183
183
id. ibid., página 39
184
Hui Ming Ging, obra citada.
185
id. ibid., página 40
Ainda sob o ponto de vista psicológico, podemos lembrar do movimento da roda do
sol, que quando começa a girar se vivifica, e a partir daí inicia o seu caminho. “O Tao começa
a atuar e assume a direção. A ação converte-se em não-ação; tudo o que é periférico é
subordinado à ordem que provém do centro”, lembra Jung186.
189
id. ibid., páginas 58 a 60.
Capítulo XX
O Caminho da Meditação
Citando o Hui Ming Ging, Wilhelm lembra que a obra trata de instruções budistas e
taoístas de meditação como parte de um pressuposto fundamental das duas esferas anímicas
que surgem a partir do nascimento: consciente e inconsciente, separadas uma da outra.
“Se a mudança for bem sucedida isto significa o fim da ´participation mystique`,
surge, então, uma personalidade que só sofrerá nos andares inferiores, uma vez que nos
andares superiores estará singularmente desapegada, tanto dos acontecimentos penosos,
quanto dos felizes”, diz Jung191. O advento e nascimento dessa personalidade superior é o que
tem em mira nosso texto ao falar do ´fruto sagrado`, do ´corpo diamantino`, ou de qualquer
outra espécie de corpo incorruptível.
190
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora
Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984. Página 83.
191
Idem, Página 38.
Aliás, a ilustração que consta da capa do O Segredo da Flor de Ouro mostra um sábio
em contemplação e de sua cabeça sai chamas e delas surgem cinco formas humanas que, por
sua vez, se dividem em vinte e cinco formas menores.
Diz uma advertência do Hui Ming Ging: “As formas que se configuram através do
fogo do espírito são formas e cores vazias. A luz da essência brilha de volta ao originário,
que é o verdadeiro”, 192 referindo-se à quarta etapa da meditação quando deve ocorrer as
rememorações das encarnações anteriores, conforme esquema que se segue:
Concentração da luz
Segundo o livro O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï), a prática da
ioga chinesa permite a libertação dos grilhões do mundo exterior ilusório, aliás, objetivo de
diversas seitas que surgiram na China em diversos momentos históricos, sobretudo os de
penúria econômica. No entanto, o mais alto grau desta atitude meditativa é tender ao nirvana
budista “ou então prepara a possibilidade de continuação da vida depois da morte, não com
decomposição no decaído mundo das sombras, mas como espírito consciente; é isto que
192
Hui Ming Ging, citado na página 46 da edição consultada de O Segredo da Flor de Ouro.
propõe o presente texto, conectando o princípio espiritual do homem com forças psicogênicas
correspondentes”193, escreve Wilhelm.
Segundo ele, com este processo pode-se fortalecer o processo vital obtendo
rejuvenescimento e normalização energética de modo a superar a morte. Esta passa ser um
processo harmônico e natural da conclusão da vida. “O corpo terrestre será, então,
abandonado pelo princípio espiritual (apto a prosseguir uma vida independente no corpo
espiritual (criado por seu sistema energético), tal como ocorre com a cigarra ao abandonar
sua casca seca”194, escreve Wilhelm.
Na época Tang – no decorrer do século VIII – a tradição oral fala do Elixir de Ouro da
Vida (Gin Dan Giau), fundada pelo adepto taoísta Lü Yen (Lü Dung Bin), considerado como
um dois oito imortais em “uma época que todas as religiões autóctones e estrangeiras eram
toleradas e praticadas”195, até a última perseguição movida pelo governo manchú em 1891
quando mais de 15.000 de seus adeptos foram cruelmente massacrados.
Na busca histórica, Wilhelm cita Guan Yin Hi, o Mestre Yin Hi do Desfiladeiro que,
segundo a lenda, foi para ele que Lao Tse escreveu o Tao Te King, onde é possível encontrar
uma série dos ensinamentos místicos, ocultos e esotéricos.
“Na época Han, o taoísmo degenerava cada vez mais em práticas mágicas externas;
os mágicos da corte, de procedência taoísta, procuravam obter a pílula de ouro (a pedra
filosofal) por meios alquímicos, que produzisse ouro a partir de metais vis, conferindo ao
homem a imortalidade física” 196. Além disso, as designações alquímicas começaram a tomar
força e também passaram a representar símbolos de processos psicológicos e se aproximar dos
pensamentos originais de Lao Tse.
“Numa página é descrito com detalhes o cultivo da ´Flor de Ouro`, e em outra são
introduzidos pensamentos nitidamente budistas, que deslocam a meta com toda a evidência
para a obtenção do nirvana através do repúdio do mundo”197, escreve Wilhelm, admitindo
193
WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição,
Petrópolis. 1984. Página 86.
194
Idem, Página 86.
195
Idem Página 87.
196
Idem, página 88.
197
Idem página 88.
que algumas seções foram suprimidas da edição utilizada para esta monografia, embora nas
primeiras fases é que se trata o trabalho do renascimento interior através do movimento
circular da luz e a geração da semente divina.
198
Idem página 89
199
Richard Wilhelm, O Segredo da Flor de Ouro, página 95
No entanto, ressalta Willhelm, quando se consegue durante a vida iniciar um
movimento ´reversivo` e ascendente das forças vitais, quando a anima é dominada pelo
animus, ocorre uma espécie de libertação das coisas exteriores que passam a ser reconhecidas,
mas não cobiçadas, com o conseqüente rompimento da ilusão.
Em um outro trecho, Wilhelm escreve: “Eterna é apenas a Flor de Ouro, que brota da
libertação interior de todos os envolvimentos com as coisas. O homem que alcança este
estágio ultrapassa seu eu. Não se limita mais à mônada, mas penetra no circula da dualidade
polar de todos os fenômenos e retorna ao Uno, isento de dualidade: o Tao”.201 Além disso,
Wilhelm assinala a diferença entre o budismo e o taoísmo. No primeiro há retorno ao nirvana,
quando ocorre uma extinção total do eu, que é apenas ´ilusório`, assim como o mundo é
ilusório.
200
Richard Wilhelm, O Segredo da Flor de Ouro, página 95
201
id. ibid., página 96
202
id. ibid., página 96
Capítulo XXI
Zhao Bichen, que pertencia à escola Wu Liu, estabelece três etapas para o trabalho
psicofisiológico da Alquimia Interior efetuadas em cada um dos três campos de cinábrio203.
Parte do campo inferior, onde se sublima a essência para transformá-la em sopro, no campo
médio, onde o sopro, ou alento se transforma em energia espiritual, e o campo de cinábrio
superior, onde se volta a vacuidade (lian jing hua qi, lian qi hua shen, lian shen huan xu).
São três fenômenos que podem ser observados durante a realização destas três etapas,
segundo aponta Zhao Bichen.
“Os três tesouros do corpo são a essência, o sopro e a energia espiritual. A intuição
clara e perspicaz é a energia espiritual; aquela que penetra todas as partes e se move em
círculos é o alimento; os humores e os líquidos que embebem o corpo é a essência. Se queres
distingui-los segundo sua função, a energia espiritual controla e governa, o sopro preside a
aplicação das ordens, a essência preside a transformação e a geração. Cada um tem uma
função específica e segue as ordens do chefe. Se queres distingui-los desde o ponto de vista
de sua utilização, a essência pode transformar o sopro, o sopro pode transformar a energia
203
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 35.
espiritual. Ali onde chega a energia espiritual, chega o sopro. Ali onde chega o sopro, chega
a essência”.204
A Essência
No Neijing, obra médica dos Han, o jing tem as vezes o sentido de essência seminal, e
as vezes o sentido de quintessência dos órgãos, ou as vezes o sentido de gérmen da vida. Diz
o Lingshu. “No começo, durante a concepção, o primeiro que se forma é a essência; uma vez
formada a essência aparecem o cérebro e a medula”, conta no Wisheng Shenglixue mingzhi -
Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen.
O Sopro
No Shuowen, o sopro ou alento refere-se aos vapores que ascendem. Há quatro grafias
diferentes, cada uma com seu próprio significado. Na primeira, encontra-se o vapor com o
fogo embaixo. Na segunda, antiga da época da dinastia Son, é o sopro do céu anterior em
oposição ao sopro do céu posterior. Na terceira, escreve-se apenas o ideograma relacionado a
vapor e, por último, a mais corrente é o vapor embaixo do elemento arroz, ou seja,
transformação do sopro por intermédio da nutrição física e do alimento.
204
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 36.
205
id. ibid., página 37.
transformações, a respiração, o rápido e o que ascende (sobe), e o que volta, o que se
dispersa, o que abre e o que brilha é a luz. O fogo pode oculta a sombra e conter a forma”.206
A Energia Espiritual
“O Sheng é a divindade celeste de onde surgem as dez mil coisas”, diz o Shuowen. Já
no I Ching, o livro das Mutações, se define assim: “Quando o Yin e Yang são insondáveis, se
fala de Sheng”. No Nijing está escrito o seguinte: “Oh Sheng, inaudível e invisível, quando o
coração se abre a ti, não mais pensamento, a intuição cognitiva nos faz compreender de
pronto que tu és inexpressável”.207 E dá continuidade a essa explicação lembrando que, em
alquimia interior, o Sheng é o embrião imortal que se fabrica no corpo, deve ser sempre
Yang, já que se subsiste um pouco de Yin, se converteria como presa dos demônios (gui)208”,
em uma clara alusão de que Sheng – espírito, encontra-se no céu e se contrapõe aos demônios,
espíritos da terra.
206
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 38.
207
id. ibid., página 38.
208
id. ibid., página 38.
Capítulo XXII
Sublimação da Essência
Segundo o Tratado de Alquimia e Medicina Taoísta, de Zhao Bichen, para que esta
essência retorne ao cérebro cita-se práticas antigas e que foram muito utilizadas durante a
dinastia Han. É fato que alguns autores de textos sobre a alquimia interior recomendavam
utilizar a energia sexual – quando aparece durante a meditação – ou ´nas práticas de
dormitório`, como dizem os textos clássicos. Nas práticas sexuais, mesmo nas horas de
máxima excitação, recomendava-se ao homem não chegar ao clímax e ejacular. É fato
também que alguns autores afirmaram que ´cabalgar` (cavalgar, montar) as mulheres seria
uma técnica herética e recomendavam não pensar nas práticas sexuais. Outros não
estabelecem um paralelo entre jing (a essência) e o esperma. ... “deve-se atuar no momento
em que ocorre a ereção e se põe em movimento a energia sexual, momento em que os textos
taoístas chamam de ´período Del Zi vivo`(huozishi)210.
Isto se diz porque, segundo alguns taoístas, a ereção não está apenas ligada à atividade
sexual e sim às boas condições da função vital e demonstra que esta energia circula bem e em
quantidade suficiente, lembrando que ela pode ocorrer com bebês dormindo, por exemplo,
que nada têm a ver com a busca do sexo. Recomenda-se aproveitar este momento de fluxo de
energia pra se trabalhar mediante a pequena revolução celeste e cultivar o Tao.
Segundo Zhilun211, “apenas o sopro que está profundamente enterrado pode inverter
a essência e transformá-la em sopro do céu anterior, quando a essência não pode sair e deve-
se fazê-la subir e estabelecer a circulação circular nos canais de função e de controle
mediante um trabalho mental e respiração rítmica. Isto é a pequena revolução celeste”.
209
Wu Liu xianzong quanji, página 53.
210
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 39.
211
Zhilun, capítulo 8, em Wu Liu xianxong quanxi, página 206, citado em Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado
de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 39.
Pequena revolução celeste
“Para estabelecer a comunicação circular deve-se unir os canais abaixo e acima; por
baixo pressionando o canal da uretra e por cima colocando a ponta da língua no palato. O
circulo dos canais de controle e de função estão divididos em doze pontos segundo a jornada
de vinte e quatro horas – 12 horas chinesas – que correspondem aos intervalos de tempo e
respiração....
212
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen - página 43.
As doze seções são designadas conforme o período cíclico e são denominados: Zi,
Chou, Yin, Mão, Chen, Si, Wy, Wei, Shen, Yu, Xu e Hai que designam também os intervalos
de tempo das respirações. Diz o Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia e
Medicina Taoísta que o sopro verdadeiro do círculo formado pelos canais de função e de
controle devem ser estimulados e acompanhados pela respiração externa – chamada de fogo
militar – oposta ao fogo civil – que é o pensamento criador.
A respiração deve seguir um ritmo preciso de acordo com as seções dos canais
atravessados pelo fluxo da essência invertida. “No começo da inspiração a essência invertida
(quer dizer, o sopro verdadeiro), recorre ao ponto Zi do canal de controle, depois sobre ao
ponto Chou, ao mesmo tempo em que se conta nove inspirando. Sem parar de inspirar, se
conta de novo nove, enquanto que a essência invertida passa por Yin, depois passa por Mão
ao mesmo tempo que se retém a inspiração. Se inspira de novo enquanto se conta duas vezes
nove quando a essência passa por Chen, depois por Si e deve ter chegado ao limite da
inspiração quando a essência chega a Wu”213. Para baixo deve-se seguir de maneira análoga.
Se expira contando duas vezes seis quando a essência recorre os pontos Wei e Shen, se marca
uma pausa durante Yu, depois se continua a expiração e se conta durante Xu e Hai.
“Depois de cem dias desta prática, efetuada em cada ereção, a essência se transforma
continuamente em sopro, e já não se observa perda nenhuma da essência seminal. Então se
213
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 43.
recupera o estado de indistinção do embrião, estado marcado pela indiferença dos órgãos
dos sentidos e, portanto, da percepção.
Segundo Nan Huaijin, a continuidade desta prática se constitui uma estimulação das
funções hormonais, se observa uma retração do sexo, assim como uma ascensão a partir do
campo do cinábrio inferior de uma força que se une a uma outra força proveniente do
estômago, e um intercâmbio de ambas forças como base da segunda etapa”214.
214
id. ibid., página 43.
Capítulo XXIII
Sublimação do Sopro
Noção de embrião
215
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 44.
216
id. ibid., página 44.
desenvolvimento é descrito como pérola-embrião que deve ser aquecida e alimentada. “No
começo, o caos, no seio do Vazio e do Não-Ser se encontra o sopro luminoso que, uma vez
chegado ao seu apogeu, engendra a umidade, a qual, quando chega a seu apogeu, se
transforma em bruma e em rocio (não sei a tradução)”217.
Diz o Nei King, capítulo 20. “Aqueles que buscam a imortalidade devem respirar o
sopro original... Convém controlar a essência e alimentar a matriz para regenerar o corpo
físico. Se conservar o embrião e se detiver a essência, se pode viver muito tempo”.218
Embrião do Sopro e
Respiração Embrionária
217
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 48.
218
id. ibid., página 48.
219
id. ibid., página 49.
Capítulo XXIV
6. Os cinco sopros rendem homenagem à origem. Os cinco sopros das cinco vísceras ou
dos cinco elementos cujas interpretações podem variar de autor para autor nos textos
clássicos chineses. O sopro original da unidade se divide e engendra os princípios
primários: Yin e Yang. Estes se dividem nas cinco direções e se o corpo está imóvel, a
essência é reforçada e a água retorna a sua origem, sendo que o sopro é reforçado com
o fogo retornando à sua origem. Acalmado o mundo, todas as coisas voltam ao seu
princípio.
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 52.
221
Chuan dao ji, citado em Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao
Bichen – página 52.
7. Amamentar a criatura durante três anos. Uma frase que nos leva à análise ao plano
mais alto dos sentidos e do conhecimento apenas discursivo. Há inclusive uma
advertência neste sentido. ´Muitos perigos acercam o adepto neste estado`, dizem os
textos clássicos chineses. O embrião tende a sair pela porta do céu, acima da cabeça.
Além disso, o recém nascido não é forte o suficiente para voltar e a ´energia espiritual
Yin` deve ser alimentada durante três anos no campo de cinábrio superior. “Neste
período deve-se conseguir transformar a energia espiritual Yin em energia espiritual
Yang. Não há que se pensar que o recém nascido se encontra no campo de cinábrio
superior. É apenas necessário que esta entidade ilumine o campo de cinábrio e se
funda com a Grande Vacuidade: este é o começo da criança”.222 Neste momento, os
referidos textos ressaltam o cuidado que o adepto deve ter já que há uma total
transformação da energia Yin em Yangshen, ou o espírito Yang, o espírito da luz. “A
aparição de um grande número de demônios para atacar o Yang é um dos múltiplos
perigos desta etapa sobre o que insiste Wu Chongxu. Se recordarmos que os demônios
pertencem ao mundo Yin da terra, seu ataque pode interpretar-se como uma última
defesa do Yin antes de seu desaparecimento completo”.223 Uma destas armadilhas é a
das ilusões, com o surgimento de fenômenos luminosos ou de visões de belas
mulheres tocando instrumentos delicados e com todo tipo de coisas agradáveis de
modo a fazer com que o adepto desista de sua busca e intento de iluminar-se.
8. Meditar defronte ao muro por nove anos. Nesta etapa, a energia espiritual – o Shen –
sublima-se e cristaliza-se. Se trata aqui da contemplação surgida de uma grande
concentração que conduz à fusão na vacuidade.... A expressão ´meditar nove anos
defronte a um muro` refere-se a lenda na qual Bodhidharma, primeiro patriarca na
China do Budismo Zen, meditou por nove anos frente a um muro evitando um só
momento de sonolência.
222
Wisheng Shenglixue mingzhi - Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 54.
223
id. ibid., página 55.
Capítulo XXV
Com muita propriedade, Zhao Bichen coloca em questão da importância das secreções
humorais do corpo como saliva, lágrimas, mucosidades, sêmen etc. com o fato de elas estarem
ligadas à fascinação que exercem sobre os taoístas.
Segundo esta concepção taoísta, a primeira troca energética ocorre quanto os gametas
do pai se unem aos da mãe para juntos formarem um novo alento, um novo sopro que dará
origem ao embrião propriamente dito. A segunda troca ocorrer quando o embrião de dez
meses (nove meses de gestação) respira o sopro da vida e quanto o espírito assume sua
própria natureza e se está preparado para vir ao mundo (nascer). A terceira troca, depois de
sua evolução e que vai até 16 anos, quando sua essência e sopro alcançam seu apogeu. “A
primeira passagem é a sublimação da essência e sua transformação em sopro. A segunda
passagem é a sublimação do sopro e sua transformação em energia espiritual, e a terceira
passagem é a sublimação da energia espiritual e seu retorno a Vacuidade”225.
224
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 57.
225
Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia y Medicina Taoísta - Zhao Bichen – página 57.
A imortalidade, ou melhor, a longevidade é uma das metas destas práticas, mas não é a
única: os problemas essenciais da vida recebem uma solução original. No curso das três
etapas do trabalho alquímico, o taoísta aprende a suprimir seu desejo sexual que turva a paz
interior de um indivíduo e melhora sua saúde e talvez chega a adquirir a longevidade.
E, por último na terceira etapa, a necessidade de dormir diminui. Estes fenômenos vão
acompanhado por um aumento da temperatura interna; as roupas perdem assim sua
importância. O ideal taoísta é poder ter uma vida frugal, com abrigo das necessidades
fisiológicas mais elementares como sono, alimento e sexualidade.
226
Fulcanelli, Lãs moradas filsofofales, vol II – página 32 - Wisheng Shenglixue mingzhi – Tratado de Alquimia
y Medicina Taoísta – página 59.
Capítulo XXVI
Conclusão final:
É certo que nem todos pacientes estão prontos, ou desejam chegar a uma solução
original de voltar à infância, voltar à mãe, chegar à origem e, portanto, a imortalidade, ao Tao,
a vacuidade original. No entanto, a questão que se propõe nesta monografia é exatamente esta.
E se houver um paciente que busca no acupunturista/terapeuta suas iniciações nos mistérios
possíveis? Pode-se auxiliá-lo ? Quais conceitos que deveremos levar em conta na hora de se
aplicar uma agulha?
Wu – VG 20 (Pae-Roe)
Zi – VC 1 (Roe-Inn)
Yu – VG 7 (Tchong-Su)
Mao – VC 12 (Tchong-Koann)
Chen – VC 17 (Trann-Tchong)
Sintomas: Sem força espiritual, preocupação com o passado, descuido com o futuro.
Demasiadas idéias e preocupações, Amnésia, perda de objeto, face vermelha e sensação de
congestão depois de ingerir vinho.
Indicado para estados de excitação, depressão, epilepsia, insônia, medo, falta de concentração,
histeria, neurastenia, cefaléia, anemia cerebral, hemiplegia e afasia. Obstrução nasal,
sangramento pelo nariz, hipoacusia, gazes e rinites. Hemorróidas, prolapso retal e palpitações.
Sintomas: debilidade geral, afecções Yin. Hemorróidas, prurido anal, retenção de urina
e distúrbios menstruais.
Yu – VG 7 (Tchong-Su)
Sintomas: Transtornos energéticos por excesso ou por carência. Tosse, asma, dispnéia,
dores no peito, angina, vômitos, espasmos no esôfago, lactação insuficiente, infecção nas
mamas.
*
Acreditamos, firmemente, que a Acupuntura como método terapêutico praticado com
constância, leva os indivíduos e os pacientes a retornarem, objetivamente, aos seus próprios
princípios, fato que permite a possibilidade do desenvolvimento das etapas da alquimia
interior como preconizavam os chineses antigos.
JUNG, Carl Gustav e WILHELM, Richard, O Segredo da Flor de Ouro (Tai I Gin Hua
Dsung Dschï) Editora Vozes; 2ª. Edição, Petrópolis. 1984.
CAMPIGLIA, Helena, Psique e Medicina Tradicional Chinesa - MTC, Ed. Rocca, São Paulo,
2004.