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OBSERVAÇÕES SOBRE AS ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS

DA SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS E A INSTRUÇÃO


NORMATIVA 04/93 DO TST

Neste tópico, pretendemos fazer uma breve análise sobre os


procedimentos adotados pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas
Gerais, sob o ponto de vista das exigências estabelecidas pelo legislador e,
principalmente, de acordo com aquelas regras impostas pelo Poder Judiciário
Trabalhista para o eventual exercício do poder normativo da Justiça do Trabalho.

O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais teve seu


reconhecimento como entidade sindical de 1º grau em 14 de agosto de 1942, então
com denominação de Sindicato dos Professores de Ensino Secundário de Belo
Horizonte.

Em 20 de dezembro de 1950 teve sua base territorial estendida a todo o


Estado de Minas Gerais, à exceção do Município de Juiz de Fora, passando a
denominar-se Sindicato dos Professores do Ensino Secundário de Minas Gerais.

Possui a atual denominação desde 14 de julho de 1970, sendo que a


Portaria Ministerial n.º 485, de 1963, criou a categoria profissional “professores”
(diferenciada), estendendo sua representação a todos os professores,
independentemente do nível de ensino ministrado pelo docente.

Desde 1980, após vitória em pleito eleitoral, tem sua direção efetivamente
vinculada aos interesses da categoria que representa.

Vivenciou momentos de grandes mobilizações da categoria na segunda


metade da década de 1980, com seguidas greves, que atingiram a ampla maioria
de seus integrantes, obtendo conquistas importantes, assim como diversas outras
categorias profissionais à época.

Dentre as conquistas obtidas nesse período, merece destaque o direito à


percepção do denominado “adicional por atividades extraclasse”, da ordem de 20%
do salário mensal do docente, visando a remuneração do tempo despendido pelo
professor com elaboração de aulas, produção e correção de provas, dentre outras
atividades vinculadas à docência, posto que a ampla maioria dos professores é
contratada por horas-aula, isto é, sua remuneração é vinculada ao número de aulas
ministradas por semana, não computando o tempo despendido com as atividades
descritas.

A categoria econômica, até 1994 era representada por apenas um


sindicato, com base territorial em toda Minas Gerais: Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais. Seu desmembramento implicou, além
de sua manutenção com base territorial reduzida, na criação de outros cinco
sindicatos: Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais – Região
Sudeste; Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro; Sindicato
dos Estabelecimentos de Ensino de Poços de Caldas; Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino do Triângulo Mineiro e Sindicato dos Estabelecimentos
de Ensino de Idiomas de Minas Gerais.

No ano de 1995 foi firmada convenção coletiva de trabalho assinada pelo


Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (SINPRO/MG) e os demais
sindicatos econômicos, com exceção do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino
de Poços de Caldas e Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Idiomas do
Estado de Minas Gerais.

A partir de 1996 foram firmadas convenções com cada um dos sindicatos


econômicos, todas elas baseadas na convenção firmada anteriormente. As datas-
base originais (1º de fevereiro – para professores de educação infantil, ensinos
fundamental, médio, superior e posterior e supletivo regular – e 1º de março – pré-
vestibular, supletivo e cursos livres) foram mantidas.

Assim, em razão de sua história e dimensão política, aliadas ao


reconhecimento de sua atuação em prol da categoria, bem como pelo grande
número de associados – cerca de 25.000 – e extensa base territorial, utilizaremos
as campanhas salariais do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais
para estudarmos a prática do poder normativo da Justiça do Trabalho.

A apresentação dos procedimentos necessários à instauração da


instância coletiva nos permitirá traçar uma análise crítica das orientações
jurisprudenciais da SDC do TST, um dos objetivos deste trabalho.

Não seria incorreto afirmar que dificilmente – para não dizer nunca – um
sindicato profissional terá sucesso na Justiça do Trabalho se buscar suas
reivindicações apenas nos dispositivos consolidados. Na verdade, o dissídio coletivo
não será sequer conhecido.
Isto porque, não obstante a moderna doutrina processualista venha
defendendo a maior efetividade do processo, como forma de assegurar a
efetividade da norma, através da simplificação de procedimentos e do que se pode
chamar de de-formalização dos ritos e simplificação das formas, caminho oposto
tem o trilhado o processo de dissídio coletivo.

Sendo ato de representação da categoria firmar acordos e convenções


coletivas de trabalho, ou mesmo instaurar dissídio coletivo, a legitimação das
entidades sindicais, especialmente as profissionais, é fator essencial para tanto. E,
já neste aspecto, as orientações jurisprudenciais da SDC/TST se fazem presentes.

A legitimação da entidade sindical é conferida através da manifestação


da categoria representada. Tal manifestação se dá através de assembléia geral da
categoria.

Primeiramente, hão de ser observados no estatuto da entidade sindical


quais os procedimentos para a convocação da assembléia, no que diz respeito ao
prazo mínimo de antecedência entre a publicação do edital de convocação e a data
de sua realização e lapso temporal entre a 1ª e a 2ª convocações.

Também encontraremos nos estatutos, pelo menos em sua grande


maioria, que o edital de convocação será publicado em jornal de grande circulação
ou no Diário Oficial do Estado. Porém, embora assim esteja estabelecido nos
estatutos da entidade, já se fazem notar as orientações jurisprudenciais da
SDC/TST. Neste aspecto, a Orientação Jurisprudencial n.º 28, assim redigida:

28. Edital de convocação da AGT. Publicação. Base territorial. Validade. O


edital de convocação para AGT deve ser publicado em jornal que circule em
cada um dos municípios componentes da base territorial.

O TST entende como “jornal que circule em cada um dos municípios” os


denominados jornais de ampla circulação, aqueles vendidos em bancas de jornais,
não se prestando para tanto a publicação de editais em órgão oficial. Este
entendimento é predominante, embora, em razão da ampla base territorial do
Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (852 municípios), já se tenha
admitido a publicação em órgão oficial do Estado. Mas é exceção.

A questão da validade da publicação de editais no órgão oficial do


Estado, para convocação das assembléias para aprovação da pauta de
reivindicações dos representados pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais,
foi decidida pelo TST, em razão de agravo regimental interposto contra decisão
monocrática que extinguiu o Dissídio Coletivo n.º TRT/DC 08/99, tendo como
suscitado o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro.

Interposto recurso ordinário contra a sentença normativa TRT/DC 08/99,


pelo sindicato profissional, o Min. Relator, Vantuil Abdala, monocraticamente o
extinguiu, por desrespeito à orientação jurisprudencial n.º 28 da SDC do TST.

Interposto agravo regimental (TST-AG-RODC 645.063/2000.4) pelo


sindicato obreiro, foi proferida a seguinte decisão:

Tipo: AG-RODC Número: 645063 Ano: 2000


ACÓRDÃO
Agravo regimental provido para determinar o prosseguimento do recurso
ordinário na forma da fundamentação do voto.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental em
Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo nº TST-AG-RODC -645.063 /
2000.4, em que é Agravante SINDICATO DOS PROFESSORES DO
ESTADO DE MINAS GERAIS e Agravado SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DO NORDESTE MINEIRO .
Interpõe o sindicato-obreiro agravo regimental (fls. 776/781) contra a
decisão que, com fulcro no art. 557 do CPC, extinguiu seu processo na
forma do art. 267, incisos IV e VI, do CPC. Aduz que foi ofendido o princípio
do devido processo legal (art. 5º, LV, da Constituição Federal), na medida
em que não lhe foi dada oportunidade de sanar as irregularidades argüidas
pela v. decisão ora inquinada. Sustenta que as exigências: da constatação,
na ata da Assembléia, do número de presentes à Assembléia Geral da
categoria e da publicação do edital de convocação das Assembléias ter de
se dar em jornal de grande circulação, não estão inseridas dentre aquelas
dispostas na Instrução Normativa nº 04 deste TST, que regula e disciplina o
processo de dissídio coletivo. Alega que não concorda que tenha ocorrido
descumprimento das regras legais para instauração da instância. Requer
seja modificada a v. decisão ora impugnada, dando seguimento ao
processo para que o recurso impetrado seja julgado pelo órgão competente.
É o relatório.
VOTO
Trata-se de agravo regimental interposto pelo Sindicato dos Professores do
Estado de Minas Gerais contra o r. despacho proferido em recurso ordinário
em dissídio coletivo em que foi decretada a extinção do processo por
ausência de cumprimento de requisitos para a instauração do dissídio
coletivo, conforme a jurisprudência desta Eg. Corte Superior. Os dois
fundamentos adotados no r. despacho para decretar a extinção do processo
foram:
- segundo a ata, havia um número de participantes na assembléia e a lista
de presença acusava outro número; e
- a comunicação da assembléia havia sido feita somente pelo Diário Oficial,
e não por meio de um jornal de grande circulação, conforme determina a
Orientação Jurisprudencial nº 28 desta Eg. SDC.
No agravo regimental ora interposto, ficou comprovado que as pessoas que
assinavam a lista eram, efetivamente, associadas do sindicato, de forma
que, mesmo com o número que se conseguiu fazer a prova - algumas das
assinaturas eram ilegíveis - verificou-se que havia mais de um terço de
associados presentes às Assembléias.
Outro aspecto trazido nas razões de agravo regimental que entendo ter
razão a agravante, é quanto a publicação do edital da Assembléia ter sido
feita somente no Diário Oficial do Estado. Conforme salientado pelo
agravante, assim foi feito porque embora se trate de um sindicato estadual,
o dissídio coletivo ajuizado pelo sindicato-obreiro se referia também a uma
base do nordeste mineiro, composta por pequenas cidades onde, em boa
parte delas, não existe um jornal local e, muitas vezes, sequer recebe ou há
pessoas que assinam o jornal da Capital, o qual inúmeras vezes chega no
dia seguinte a essas cidades ou com dois ou três dias de atraso. Mas o
Diário Oficial, com certeza, circula em todas essas cidades, de maneira que
isso faz a diferença no presente caso. Ora a publicação do edital de
convocação ter sido feita no Diário Oficial se justifica, na medida em que, na
realidade este era o único jornal de circulação na maioria dessas cidades
que compõem a base territorial do sindicato-suscitante.
Assim sendo, ultrapassados os óbices impostos pelo r. despacho que
julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, dou provimento ao
agravo regimental para determinar o prosseguimento do recurso ordinário,
nos termos da fundamentação supra.
É o meu voto.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Seção Especializada em Dissídios Coletivos do
Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, dar provimento ao agravo
regimental para determinar o prosseguimento do recurso ordinário, nos
termos da fundamentação do voto do Exmº Ministro Relator.
Brasília, 28 de junho de 2001.
ALMIR PAZZIANOTTO PINTO
Presidente
VANTUIL ABDALA
Relator
(Publicado no D.O.U. de 08/02/02)

No mais das vezes, argumenta a máxima Corte Trabalhista que ao


trabalhador não é dado o hábito de ler jornais oficiais. No entanto, desconsidera que
a ninguém é dado o direito de alegar ignorância da lei para eximir-se de seu
cumprimento, sendo certo que qualquer dispositivo legal é publicado (ou seja, dele é
dado conhecimento) no órgão oficial pertinente. Além disso, há que ser
acrescentado o desrespeito às normas estatutárias que regem a matéria, o que, no
nosso entendimento, ofende o princípio da liberdade sindical.

A ementa a seguir transcrita demonstra esse entendimento:

EMENTA: EDITAL DE CONVOCAÇÃO – PUBLICAÇÃO APENAS NO


DIÁRIO OFICIAL. Não tem validade à título de convocação para
assembléia da categoria, a publicação no Diário Oficial devido a dificuldade
de acesso dos associados ao órgão de publicação oficial (TST – RODC –
400349/97 – DJ 03.04.98 unânime [publicado apenas no diário oficial do
Estado de São Paulo])
E mais. Aqueles que militam na área trabalhista, especialmente a coletiva,
têm absoluta consciência de que a efetiva convocação se dá pelos meios de
comunicação já consolidados pela prática sindical, ou seja, carros de som,
boletins da entidade sindical, até mesmo por convocações de rádio. Deste
modo, embora sob o manto de maior democratização do processo de
convocação, permitindo, supostamente, maior acesso ao chamamento da
entidade sindical profissional, estamos diante de uma exigência não prevista
em lei, e que, como dissemos, ofende o princípio da liberdade sindical, ao
desconsiderar as determinações estatutárias quanto a esta matéria.

Da ordem do dia (pauta dos trabalhos) deverão constar expressamente


dois itens: aprovação da pauta de reivindicações e concessão de poderes à diretoria
da entidade para negociação coletiva e para acordo judicial (autorização para
instauração de dissídio coletivo, caso frustradas as negociações) – item VII, alínea c
da Instrução Normativa n.º 04, de 8 de junho de 1993, do TST.

Passo seguinte é a realização da assembléia geral da categoria, ou


melhor, das assembléias. Isto em razão do que estabelece a Orientação
Jurisprudencial n.º 14 da SDC/TST, assim redigida:

14. Sindicato. Base territorial excedente de um município. Obrigatoriedade


da realização de múltiplas assembléias. Se a base territorial do sindicato
representativo da categoria abrange mais de um município, a realização de
assembléia deliberativa em apenas um deles inviabiliza a manifestação de
vontade da totalidade dos trabalhadores envolvidos na controvérsia, pelo
que conduz á insuficiência de quorum deliberativo, exceto quando
particularizado o conflito.

Mais uma vez, ainda sob o manto de suposta democracia, vemos o TST
impor nova obrigação, também não prevista em lei, a teor do que estabelece o art.
612 da CLT.
Esta obrigação, em casos como o do SINPRO/MG, em razão de sua
extensa base territorial, implica toda uma grande operação de logística, pois são
realizadas mais de 50 assembléias em todo o Estado a cada campanha salarial.
Tarefa hercúlea, como definida pela eminente relatora da sentença normativa
TRT/DC 05/01 (SINPRO/MG x SINEPE/MG), Dra. Emília Facchini.

A validade das assembléias está condicionada à obtenção de quorum


determinado. Mais uma vez, ocorridos debates e discussões, a SDC/TST optou pelo
quorum mais elevado: aquele previsto no art. 612 da CLT, deliberação esta
estabelecida pela Orientação Jurisprudencial n.º 13, assim redigida:
13. Legitimação da entidade sindical. Assembléia deliberativa. Quorum de
validade. Art. 612 da CLT. Mesmo após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, subordina-se a validade da assembléia de trabalhadores
que legitima a atuação da entidade sindical respectiva em favor de seus
interesses à observância do quorum estabelecido no art. 612 da CLT.

O debate sobre a questão do quorum deliberativo das assembléias não é


recente, sendo certo que a própria Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST traz
em seu bojo a contradição à época existente, pois no item VI, b, afirma o quorum
estatutário, ao passo que no item VII, c, afirma o quorum legal.

A opção pelo quorum previsto pelo art. 612 da CLT, em que pesem
opiniões divergentes, é mais uma forma de impedir ou, no mínimo, dificultar o
acesso dos sindicatos ao poder normativo da Justiça do Trabalho.

Sabem aqueles que militam na atividade sindical, que a aprovação da


pauta de reivindicações é o primeiro passo de uma campanha salarial. É comum
que a mobilização de maior número de membros da categoria profissional vá se
formando com o processo de negociação, com os informes sobre seu andamento,
as respostas da representação econômica negando algum pleito, pretendendo a
retirada de conquistas já asseguradas em instrumentos anteriores.

É um processo crescente e dinâmico. Daí, exigir-se que estejam


presentes em assembléia para aprovação da pauta de reivindicações 2/3 dos
associados, em 1ª , ou 1/3, em 2ª convocação (caso de convenção, em se tratando
de acordo a referência é o número de interessados), logo no primeiro passo da
campanha, não guarda sintonia com a própria dinâmica do procedimento.

Não estamos defendendo que a pauta seja aprovada por reduzido


número de associados ou interessados. Porém, encontraremos em dispositivos
legais estabelecimento de validade de assembléia com número bem inferior. Como
exemplo podemos citar o art. 859 da CLT, específico no tocante à instauração da
instância. Ele dispõe que
a representação dos sindicatos para instauração da instância fica
subordinada à aprovação de assembléia, da qual participem os associados
interessados na solução do dissídio coletivo, em primeira convocação, por
maioria de 2/3 (dois terços) dos mesmos, ou, em segunda convocação, por
2/3 dos presentes.

Podemos citar, ainda, a Lei n.º 7783/89 – a Lei de Greve – que confere
aos estatutos da entidade sindical a deliberação sobre o quorum de validade de
assembléia que decide pela suspensão coletiva das atividades laborais.

A esse respeito cabe a transcrição dos ensinamentos de Freitas (2001, p.


109):

um novo elemento de interesse para o exame da matéria surgiu, contudo,


com a Lei 7783, de 28.6.89, cujo ART. 4º estabelece que, ‘caberá à
entidade sindical correspondente convocar, na forma de seu estatuto,
assembléia-geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará
sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços’ e no § 1º, que, ‘O
estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação
e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da
greve’.
Como a lei 7.783 é de JULHO/89, não deve ser ignorada quanto à
prevalência do Estatuto no tocante ao quorum das assembléias-gerais. Os
ARTS. 612 e 859 da CLT são anteriores à Constituição de 1988. Este dado
é importantíssimo, tendo em vista que a referida Constituição, como já
ressaltado, rompeu com o clima de intervencionismo estatal na vida sindical.
O ART. 4º e seu § 1º, da Lei 7.783, constituem, portanto, as únicas
disposições legais relativas a quorum das assembléias sindicais que se
podem qualificar como consentâneas com a nova ordem vigente a partir de
5 de outubro de 1988.

Se bem andou o legislador pátrio, no que tange conferir às entidades


sindicais, por seus estatutos, a faculdade de prever livremente o quorum para
aprovação da pauta de reivindicações da categoria e para decidir sobre a
deflagração ou cessação de movimento grevista, em sentido oposto caminhou o
“legislador” judicial.

Desta forma, não nos parece que a única preocupação motivadora da


Seção de Dissídios Coletivos do TST tenha sido a maior participação de
trabalhadores ao decidir sobre pauta de reivindicações da categoria quando optou
(o mesmo verbo é utilizado por Freitas (2001, p. 108) ao comentar a Orientação
Jurisprudencial n.º 13 da SDC do TST) pelo quorum do art. 612 da CLT. Temos a
nítida impressão de que a opção foi permeada também, ou principalmente, pela
intenção de dificultar o conhecimento dos dissídios coletivos, extinguindo-os por
ilegitimidade ativa ad causam. Como conseqüência, a categoria profissional ficava
ao desabrigo de instrumento coletivo de trabalho.

O Tribunal Regional do Trabalho, por sua Seção de Dissídios Coletivos,


em sua maioria, tem entendido que o quorum assemblear deve ser aquele
estabelecido pelos estatutos sociais da entidade profissional.

Por isso, rejeitou a preliminar eriçada pelo Sindicato dos


Estabelecimentos de Ensino de Minas Gerais – Região Sudeste, nos autos do
dissídio coletivo TRT/DC 06/01, no qual foi suscitante o Sindicato dos Professores
de Juiz de Fora. Interposto recurso ordinário pelo sindicato econômico, distribuído
no TST ao E. Juiz Convocado Georgenor de Sousa Franco Filho, foi por ele,
monocraticamente, extinta a instância, por ofensa à Orientação Jurisprudencial n.º
13 da SDC/TST.

Interposto agravo regimental pelo sindicato obreiro, a ele foi negado


provimento, como se vê da decisão a seguir transcrita:

Tipo: AG-RODC Número: 5558 Ano: 2002


PROC. Nº TST-AG-RODC-5558/2002-900-03-00.9
ACÓRDÃO
AGRAVO. DISSÍDIO COLETIVO. ASSEMBLÉIA GERAL. QUORUM DE
INSTALAÇÃO. ART. 612 DA CLT.
1. O sindicato apenas representa os trabalhadores, verdadeiros titulares
dos interesses reivindicados. Assim, para ingressar em juízo, deve obter a
respectiva autorização, que se dá por meio de assembléia geral, observado
o quorum legal de instalação, verdadeiro indicativo de que a deliberação
representa, efetivamente, a vontade da categoria (art. 612 da CLT). Não se
admite desconsiderá-lo em prol de quorum estatutário inferior, sob pena de
conferir-se aos dirigentes de plantão poderes intransferíveis da categoria,
em afronta ao princípio da representatividade sindical.
2. Agravo a que se nega provimento.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental em
Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo nº TST-AG-RODC-5558/2002-900-
03-00.9, em que é Agravante SINDICATO DOS PROFESSORES DE JUIZ
DE FORA SINPRO/JF e é Agravado SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DE MINAS GERAIS REGIÃO
SUDESTE SINEPE/SUDESTE .
SINDICATO DOS PROFESSORES DE JUIZ DE FORA SINPRO/JF
interpõe agravo contra a r. decisão monocrática de fls. 1.090/1.092, que
deu provimento ao recurso ordinário interposto pelo SINDICATO DOS
ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DE MINAS GERAIS REGIÃO
SUDESTE SINEPE/SUDESTE, para julgar extinto o dissídio coletivo sem
exame do mérito (fls. 1.153/1.160).
Fundou-se a r. decisão agravada na Orientação Jurisprudencial nº 13 da
Eg. Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, que
considera indispensável a observância ao quorum de instalação da
assembléia deliberativa, tal qual estabelecido no art. 612 da CLT, para a
sua validade.
Alega, todavia, o Agravante violação aos arts. 8º, caput, incisos I, III e VI,
da Constituição da República e 859 da CLT, porquanto, em suma, bastaria
a observância ao quorum estatutário, ainda que inferior ao legal, mesmo
porque, afirma, neste sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que os
sindicatos NÃO PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO DA CATEGORIA para
representá-la, processualmente ( sic, fl. 1.156).
É o relatório.
1. CONHECIMENTO
Satisfeitos os pressupostos legais de admissibilidade, conheço do agravo.
2. MÉRITO DO AGRAVO
O Agravante alega que a exigência de quorum para deliberação de
assembléias sindicais é afronta ao princípio da liberdade e autonomia da
organização sindical e arremata: o despacho, ao não admitir o quorum
estatutário para a instauração de instância para o dissídio viola o direito do
sindicato de representar os interesses coletivos da categoria, jurídica e
administrativamente (fl. 1.156). Argumenta, ainda, que a Lei é clara no
sentido de que o quorum para a instauração de instância em dissídio
coletivo é o do art. 859 da CLT (fl. 1.157). Em decorrência, como visto,
aponta violação aos arts. 8º, caput, incisos I, III e VI, da Constituição da
República e 859 da CLT. Não assiste razão ao Agravante.
Conforme consignado no v. acórdão embargado, o sindicato apenas
representa a categoria, verdadeira titular dos interesses reivindicados. E,
ao contrário do que afirma o Agravante, não há orientação contrária
proferida pelo Excelso Supremo Tribunal Federal.
Assim, para ingressar em juízo, o sindicato deve obter a respectiva
autorização, que se dá por meio da assembléia geral. Trata-se de
verdadeira condição da ação, na medida em que somente após a realização
da assembléia é que o sindicato encontra-se devidamente legitimado a
instaurar o dissídio coletivo.
Ora, a autorização concedida ao sindicato em assembléia geral tem sua
eficácia subordinada à observância de requisitos previamente
estabelecidos, dentre os quais sobressai, por sua importância, o quorum
tanto o de instalação a que se refere o art. 612 da CLT, quanto o de
deliberação, do art. 859 da CLT , que é o verdadeiro indicativo de que a
deliberação representa, efetivamente, a vontade da categoria.
Portanto, não se admite que o quorum legal de instalação da assembléia
geral seja desconsiderado em prol de quorum estatutário inferior, sob pena
de conferir-se aos dirigentes de plantão poderes intransferíveis da categoria
em afronta ao princípio da representatividade sindical.
Daí afirmar-se que a decisão que exige o quorum previsto no art. 612 da
CLT não viola os arts. 8º, caput, incisos I, III e VI, da Carta da República e
859 da CLT.
Na espécie, o Agravante não demonstrou que o Estatuto do Sindicato
profissional Suscitante preveria quorum de instalação da assembléia geral
em número inferior ao quorum legal. No mesmo sentido, a análise da Seção
II do Capítulo III do referido Estatuto confirma que, de fato, não há norma
estatutária a contrariar as disposições do art. 612 da CLT.
Assim, considerando que dos 3.280 associados, somente 995 são
empregados de escolas particulares e, portanto, diretamente interessados
(fls. 141 do Protesto Judicial, em apenso), o quorum exigido para instalação
da assembléia geral deliberativa é de 331 professores associados.
Todavia, não se alcançou o quorum legal, malgrado realizadas sete
assembléias sucessivas em quatro meses, nas quais se discutiram
propostas de negociação coletiva: 24 presentes na AGE de 1º/12/2001 (fls.
118/154); 105 na AGE de 09/12/2001 (fls. 186/238); 125 na AGE de
15/02/2001 (fls. 251/308); 148 na AGE de 21/02/2001 (fls. 320/379); 55 na
AGE de 07/03/2001 (fls. 401/442); 42 na AGE de 09/03/2001 (fls. 454/492)
e 66 na AGE de 16/03/2001 (fls. 501/554).
Note-se, igualmente, que os respectivos editais convocaram todos os
professores, sindicalizados e não sindicalizados e que muitos dos
presentes em uma das assembléias compareceram às demais. Portanto,
ainda que a r. decisão agravada contrarie os interesses do Sindicato
profissional Agravante, revela-se uníssona à legislação aplicável à espécie,
não merecendo reforma.
Nesse sentido, a jurisprudência esposada pela Eg. Seção de Dissídios
Coletivos do TST e sedimentada na Orientação Jurisprudencial nº 13:
13. LEGITIMAÇÃO DA ENTIDADE SINDICAL. ASSEMBLÉIA
DELIBERATIVA. QUORUM DE VALIDADE. ART. 612 DA CLT.
Mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, subordina-se
a validade da assembléia de trabalhadores que legitima a atuação da
entidade sindical respectiva em favor de seus interesses à observância do
quorum estabelecido no art. 612 da CLT.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Seção Especializada em Dissídios Coletivos do
Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, negar provimento ao
Agravo Regimental.
Brasília, 12 de setembro de 2002.
GEORGENOR DE SOUSA FRANCO FILHO
Juiz Convocado
(Publicado no D.O.U. de 11.10.02)

Cabe ainda uma observação. A orientação jurisprudencial n.º 13 da SDC


do TST é dirigida aos sindicatos dos trabalhadores, como forma de verificar a real
vontade da categoria profissional. Pergunta-se: por que não se exige o mesmo das
entidades econômicas, para conhecimento e reconhecimento da real vontade das
empresas por elas representados?

Não se exige idêntico procedimento, com idêntico rigor para validade,


quando se examina a contraproposta patronal.

Como reconhecer, então, que a negativa a determinado pleito ou a


pretensão de inclusão de determinado dispositivo no instrumento coletivo em
desfavor dos trabalhadores é realmente a vontade da categoria econômica? Dois
pesos e duas medidas? Onde fica a igualdade de tratamento que deve ser
dispensada às partes litigantes? Não temos resposta a tais questionamentos.

O quorum para instalação da assembléia deve ser comprovado através


de lista de presença, na qual deve constar, em caso de negociação visando celebrar
convenção coletiva de trabalho, o número da matrícula sindical dos trabalhadores
sindicalizados presentes (item VII, d, da Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST
– cópia autenticada do livro ou das listas de presença dos associados participantes
da assembléia deliberativa, ou outros documentos hábeis à comprovação de sua
representatividade). Deverá, ainda, ser apresentada a indicação do total de
associados à entidade sindical profissional, como preconizado na Orientação
Jurisprudencial n.º 21 da SDC/TST (Legitimidade ad causam do sindicato. Ausência
de registros do total de associados da entidade sindical. Insuficiência de quorum
[art. 612 da CLT]), em caso de necessidade de instauração da instância judicial.

Das atas das assembléias deverá constar, em sua integralidade, a pauta


de reivindicações aprovadas, como estabelece a Orientação Jurisprudencial n.º 8 da
SDC/TST, assim redigida:

8. Dissídio Coletivo. Pauta reivindicatória não registrada em ata. Causa de


extinção. A ata da assembléia de trabalhadores que legitima a atuação da
entidade sindical respectiva em favor de seus interesses deve registrar,
obrigatoriamente, a pauta reivindicatória, produto da vontade expressa da
categoria.

As orientações jurisprudenciais da SDC/TST são relativamente recentes e


são fruto, é sabido, de consolidação jurisprudencial. Nas questões apresentadas, é
de fácil constatação a opção pela situação que impõe maiores dificuldades às
entidades sindicais obreiras. Com base nestas orientações, ou mesmo nas decisões
anteriores, diversos dissídios coletivos foram extintos, sem julgamento do mérito,
com prejuízos incalculáveis aos trabalhadores, em clara leitura da opção do TST por
evitar ao máximo o julgamento destes, evitando exercer o poder normativo que lhe
confere a Constituição da República (art. 114, § 2º).

É importante destacar, ainda, que as orientações em comento seguem a


mesma linha de raciocínio que entende como recepcionados diversos dispositivos
consolidados, pela atual Constituição, muito embora consagrado o princípio da
liberdade sindical e, com ele, a não interferência ou intervenção do poder público
sobre as entidades sindicais. A este respeito merece destaque o entendimento de
que o art. 522 da CLT foi recepcionado pela atual Carta Política, embora se trate de
típico dispositivo intervencionista (Orientação Jurisprudencial n.º 266 da SDI – 1 do
TST).
Cumpridas as formalidades expostas, elaborada a pauta de
reivindicações, deve ser ela enviada à respectiva representação econômica para
início das tratativas, mediante comprovante de recebimento.

A demora por parte da representação econômica para designação de


reunião de início das negociações permite à entidade sindical obreira solicitar
reunião perante a Delegacia Regional do Trabalho, na forma do previsto pelo art.
616 da CLT:
Os sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e
as empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando
provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva.
§ 1º- Verificando-se a recusa à negociação coletiva, cabe aos Sindicatos ou
empresas interessadas dar ciência do fato, conforme o caso, ao
Departamento Nacional do Trabalho [atualmente Secretaria de Emprego e
Salário] ou aos órgãos regionais do Ministério do Trabalho, para
convocação compulsória dos Sindicatos ou empresas recalcitrantes.
§ 2º- No caso de persistir a recusa à negociação coletiva, pelo
desatendimento às convocações feitas pelo Departamento Nacional do
Trabalho [atualmente Secretaria de Emprego e Salário] ou órgãos regionais
do Ministério do Trabalho, ou se malograr a negociação entabulada, é
facultada aos Sindicatos ou empresas interessadas, a instauração de
dissídio coletivo [...].

Eventual não comparecimento da representação econômica impõe a


solicitação de nova reunião, posto que apenas uma tentativa não configurará a
recusa patronal à negociação, como se depreende da redação da Orientação
Jurisprudencial n.º 24 da SDC/TST, vazada nos seguintes termos: “24. Negociação
prévia insuficiente. Realização de mesa redonda perante a DRT. Art. 114, § 2º, da
CF/88. Violação”.

Comparecendo a representação econômica, ou tendo tomado as partes a


iniciativa de reunião direta, independentemente de provocação da Delegacia
Regional do Trabalho, dá-se início à fase de negociação coletiva.

Das reuniões diretas ou perante a DRT, quando e se necessárias, deve


ser lavrada respectiva ata que demonstrará a existência de processo negocial,
sendo documento também indispensável para a propositura de dissídio coletivo, em
caso de impasse, ou mesmo para formulação de protesto judicial de Garantia de
Data-Base.

O protesto judicial, admitido com a edição da Instrução Normativa n.º 04


de 1993 do TST, foi uma inovação salutar, pois permite maior lapso temporal para
as negociações, evitando a instauração da instância apenas no o fito de impedir a
perda da data-base.

Os itens II e III da referida instrução normativa que regulam o


procedimento têm a seguinte redação:
II– Na impossibilidade real de encerramento da negociação coletiva em
curso antes do termo a que se refere o art. 616, § 3º, da CLT, a entidade
interessada poderá formular protesto judicial em petição escrita dirigida ao
Presidente do Tribunal do Trabalho, a fim de preservar a data-base da
categoria.
III– Deferida a medida prevista no item anterior, a representação será
ajuizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da intimação, sob
pena de perda da eficácia do protesto.

Deste modo, caso não haja por parte da representação patronal a


garantia de data-base, mas não se recusando a prosseguir o processo de
negociação coletiva, é possível formular protesto judicial junto ao Presidente do
Tribunal Regional do Trabalho, demonstrando, por exemplo, a designação de
reunião direta ou perante a Delegacia Regional do Trabalho para data posterior à
data-base da categoria profissional.

O requerimento de protesto judicial deverá estar instruído com toda a


documentação necessária a comprovar a legitimação da entidade obreira para
negociar (edital(is) de convocação, ata(s) da(s) assembléia(s), listas de presença,
informação sobre o número de associados à entidade sindical), comprovante de
entrega da pauta de reivindicações à representação econômica, além das atas das
reuniões diretas ou perante a Delegacia Regional do Trabalho e, em especial, a
comprovação de designação de reunião direta ou perante a DRT para data posterior
à data-base. Além da documentação anteriormente mencionada, deve ser juntada
procuração firmada pelo presidente da entidade sindical, ata de posse da diretoria, o
estatuto social do sindicato e seu registro perante o Ministério do Trabalho, se
criado após a Constituição de 1988, ou carta sindical, caso já existente em 4 de
outubro de 1988, assim como cópia do instrumento normativo revisando, seja ele
autônomo ou heterônomo.

A não apresentação de quaisquer dos documentos relacionados implicará


na concessão de prazo de 10 dias para regularização da representação (emenda),
sob pena de indeferimento da petição inicial e conseqüente perda da data-base.

Não custa lembrar que a data-base é o termo inicial de vigência dos


instrumentos normativos coletivos, autônomos ou heterônomos. É a referência para,
por exemplo, a determinação do índice de reajuste salarial com base na variação
inflacionária. Garantida a data-base, tem a categoria profissional a segurança de
que independentemente da data de publicação da sentença normativa, o reajuste
salarial que vier a ser deferido retroagirá a ela, assim como a vigência de todas as
demais cláusulas e condições deferidas no julgamento da instância.

Dito isso, as conseqüências da perda da data-base podem ser


calculadas. A vigência da sentença normativa não mais a ela retroagirá, cabendo
aos magistrados decidir sobre seu termo inicial, que poderá ser a data da
instauração da instância ou mesmo de seu julgamento. Deste modo, entre o término
de vigência do instrumento revisando e o termo de início de vigência da sentença
normativa, a categoria profissional não contará com nenhuma norma coletiva a
regular sua respectiva relação de emprego, a não ser, por óbvio, a legislação
mínima de proteção ao trabalho. Adicionais de remuneração constante do
instrumento revisando, como aqueles referentes ao tempo de serviço, não poderão
ser exigidos, por exemplo, segundo aqueles que entendem não se incorporarem ao
contrato de trabalho individual as vantagens estabelecidas em instrumentos
normativos, sejam eles autônomos ou heterônomos1.

A perda da data-base não traz conseqüências apenas aos trabalhadores.


As próprias empresas abrangidas pelo instrumento também podem sofrer
transtornos com este fato, pois sua programação salarial fica comprometida, além
da insatisfação que terá de conviver por parte de seus empregados que podem ter
reduzidas suas respectivas remunerações.

Note-se que não estamos defendendo o instituto da data-base, pois,


como vimos anteriormente, ela foi criada com o intuito de inibir um processo de
negociação mais permanente. No entanto, ela faz parte da “regra do jogo” e,
enquanto profissionais do direito, devemos adotar as medidas necessárias à
preservação dos interesses de nossos representados.

Assegurada a data-base, prossegue-se na negociação coletiva que, se


bem sucedida, resultará na celebração de convenção coletiva de trabalho.
Frustradas as tratativas, é facultada a instauração de dissídio coletivo de natureza
econômica, perante o tribunal do trabalho competente para conhecê-lo e julgá-lo.

A representação para instauração da instância é regulada pelos itens VI e


VII da Instrução Normativa n.º 4, do TST.

VI– A representação para instauração da instância judicial coletiva


formulada pelos interessados será apresentada em tantas vias quantas
forem as entidades suscitadas mais uma e deverá conter:
a) designação e qualificação da(s) entidade(s) suscitada(s), sindical ou
empregadora(s);
b) a indicação da delimitação territorial de representação das entidades
sindicais, bem assim das categorias profissionais e econômicas envolvidas
no dissídio coletivo e, ainda, do quorum estatutário para deliberação da
assembléia;
c) exposição das causas motivadoras do conflito coletivo e/ou greve, se
houve, e indicação das pretensões coletivas, aprovadas em assembléia da
categoria profissional, quando for parte entidade sindical de trabalhadores
de primeiro grau, ou pelo conselho de representantes, quando for suscitante
1
O debate sobre a incorporação ou não das vantagens estabelecidas em instrumentos coletivos
aos contratos individuais de trabalho tem sido travado nos tribunais trabalhistas, pois entendem
vários autores e operadores do direito aplicável a teoria da ultratividade da norma, que assegura
esta incorporação.
entidade sindical de segundo grau ou de grau superior;
d) a comprovação da tentativa de negociação ou das negociações
realizadas e indicação das causas que impossibilitaram o êxito da
composição direta do conflito coletivo;
e) a apresentação em forma clausulada de cada um dos pedidos,
acompanhados de uma síntese dos fundamentos a justificá-los;
f) data e assinatura do representante.
VII– A representação deverá estar acompanhada dos seguintes
documentos:
a) correspondência, registros e atas alusivas à negociação coletiva tentada
ou realizada diretamente ou mediante a intermediação do órgão competente
do Ministério do Trabalho, na forma do item I;
b) cópia autenticada da sentença normativa anterior, do instrumento
normativo do acordo ou convenção coletiva, ou, ainda, do laudo arbitral,
acaso existente;
c) cópia autenticada da cópia da ata da assembléia da categoria que
aprovou a pauta de reivindicações e concedeu poderes para a negociação
coletiva e para o acordo judicial, ou, ainda, aprovação das cláusulas e
condições acordadas, observado o quorum legal;
d) cópia autenticada do livro ou das listas de presença dos associados
participantes da assembléia deliberativa, ou outros documentos hábeis à
comprovação de sua representatividade.

A representação deverá estar acompanhada dos mesmos documentos


relacionados quando tratamos da formulação de protesto judicial, bem como da
comprovação de configuração do impasse nas negociações, que pode se dar
diretamente entre as partes ou perante a Delegacia Regional do Trabalho, como
estabelecido pelo item I da Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST, redigido nos
seguintes termos:

I– Frustrada total ou parcialmente a autocomposição dos interesses


coletivos em negociação promovida diretamente pelos interessados, ou
mediante intermediação administrativa do órgão competente do Ministério
do Trabalho, poderá ser ajuizada a ação de dissídio coletivo.

Da mesma forma como na formulação de protesto judicial, a não


apresentação da documentação necessária implicará na concessão de prazo de 10
dias para emendar a inicial, sob pena de indeferimento da petição inicial de acordo
com o item VIII da Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST:

Protocolizada e autuada a representação, com os documentos que a


acompanham, os autos serão conclusos ao Presidente do Tribunal, ou ao
Magistrado competente, na forma do Regimento Interno, que verificará a
observância dos requisitos. Verificado que a representação não reúne os
requisitos exigidos ou apresenta defeitos ou irregularidades capazes de
dificultar a sua apreciação, ou ainda, se estiver desacompanhada dos
documentos aludidos nesta Instrução, será determinado que o(s) suscitante
(s) emende(m) ou complemente(m) no prazo máximo de dez dias.

Além da exposição dos motivos que levaram à instauração do dissídio


coletivo, as reivindicações deverão ser formuladas de forma clausulada, com a
respectiva justificativa ao pleito, informação sobre sua existência ou não no
instrumento revisando, a oferta patronal nas rodadas de negociações, e a aceitação
ou não da categoria profissional (itens VI e VII e suas alíneas da Instrução
Normativa n.º 04 de 1993 do TST).

Recebida a instância regularmente instruída, será designada audiência


de tentativa de conciliação. Embora o item XI da Instrução Normativa n.º 04 de 1993
do TST afirme que à audiência conciliatória a representação suscitada deva
apresentar sua defesa, no TRT da 3ª Região é prática que isso apenas se dê após
fracassada a tentativa conciliatória do juiz instrutor, quando, então, é concedido o
prazo de 10 dias para apresentação de defesa.

A audiência de conciliação é procedida, após sua instalação, na maior


parte das vezes, com a oitiva em separado das respectivas representações
econômica e profissional, a fim de que seja apresentada proposta conciliatória pelo
juiz instrutor às partes para que se manifestem através de seus respectivos
representados, em assembléia.

Acatada por suscitante e suscitado, o acordo obtido poderá resultar em


instrumento heterônomo, requerendo-se sua homologação perante a Seção de
Dissídios Coletivos (sentença normativa), ou instrumento autônomo, com a
desistência da instância e depósito do pacto (convenção coletiva, no caso) perante
a Delegacia Regional do Trabalho.

Anteriormente à nova redação do Enunciado n.º 286 do TST era mais


comum a remessa do pacto para homologação perante o Tribunal do Trabalho,
pois, enquanto equivalente a sentença normativa, não haveria discussão sobre a
possibilidade de propositura de ação de cumprimento (art. 872, parágrafo único, da
CLT). Com a nova redação do Enunciado n.º 286 do TST e mesmo em razão da Lei
n.º 8.984 de 1995, não mais se resiste à propositura de ação de cumprimento de
convenção ou acordo coletivo de trabalho.

Cabe ainda uma observação. Não poucas vezes os sindicatos obreiros,


cientes dos riscos de uma decisão normativa – pois até mesmo a substituição de um
julgador por outro poderá alterar o resultado do litígio – instauram a instância como
mais uma oportunidade de composição da pendência, visando obter, através da
tentativa de conciliação obrigatória, um acordo melhor do que aquele passível de
obtenção se não esgotada esta última tentativa. Evita-se o julgamento.

Porém, se frustrada a composição acordada, é colhida a defesa da


representação suscitada, que será formulada na forma preconizada pelo item XI da
Instrução Normativa n.º 04 de 1993 do TST, assim redigida:

XI– À audiência designada o suscitado deduzirá sua defesa, acompanhada


de proposta de conciliação amigável da lide, fundamentada nas
circunstâncias fáticas e jurídicas que recomendariam sua adoção,
destacando, em relação às cláusulas que importem em elevações salariais,
as condições financeiras da(s) empresa(s), bem assim a situação
econômica do respectivo setor de atividades.

Entendemos que a redação do dispositivo normativo transcrito impõe à


categoria econômica o ônus probatório de sua incapacidade econômica em atender
às reivindicações de caráter econômico dos trabalhadores. A não demonstração
deveria implicar no atendimento dos pleitos obreiros, não sendo, porém, o que se vê
em julgamentos de dissídios coletivos de natureza econômica que, em termos de
reivindicações econômicas, limitam-se, quando muito, a deferir o reajustamento
salarial de acordo com o índice de inflação acumulada entre datas-base apurado
pelo INPC/IBGE e correção idêntica aos pisos salariais, se já previstos no
instrumento revisando.

Atualmente é possível destacar-se duas correntes de pensamento entre


os julgadores do TRT da 3ª Região: a primeira mantém as conquistas anteriores
estabelecidas no instrumento revisando, em sintonia com o estabelecido pelo § 2º,
do art. 114 da Constituição da República de 1988; a segunda entende que devem
ser deferidas apenas as reivindicações que contem com a anuência da
representação econômica ou se apoiarem em precedentes normativos normativos
do TST ou do próprio TRT, sob o curioso argumento de que a pretensão não
acordada pela representação econômica deve ser fruto de negociação coletiva. Ora,
se a instauração da instância coletiva teve como base o insucesso da negociação
coletiva, parece-nos contraditório que a ela sejam as partes remetidas pela decisão
regional, com o indeferimento das pretensões obreiras, de forma a que a decisão
normativa se reduza praticamente a homologação das ofertas patronais.

Como exemplo dessa corrente, majoritária no julgamento do já citado


dissídio coletivo TRT/DC – 08/99 (Sindicato dos Professores do Estado de Minas
Gerais x Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Nordeste Mineiro), temos
essa ementa:

EMENTA: DISSÍDIO COLETIVO – PROFESSORES – As cláusulas que


contaram com a concordância do sindicato suscitado, explicitadas em sua
defesa, merecem ser deferidas. Da mesma forma, o reajuste salarial
ajustado entre as partes em audiência preliminar. Por outro lado, pretensões
onerosas ou mesmo aquelas que impliquem ingerência no estabelecimento
de ensino devem ser indeferidas, já que viáveis apenas mediante a
autocomposição das partes, como entendeu recentemente o Supremo
Tribunal Federal ao julgamento do RE-197911/PE (julgado em 24.09.96 –
DJ 07.11.97 – Relator: Ministro Otávio Gallotti) (publicado no DJMG de
01.10.99).

A decisão do STF mencionada, anexa a este trabalho, não comporta a


interpretação restritiva que lhe emprestou o julgado.

Com isso, foram indeferidas as seguintes cláusulas já constantes de


convenções coletivas de trabalho anteriores há mais de 10 anos: Férias escolares
(coletivas no mês de janeiro); recesso escolar (quinze dias no mês de julho); aulas
de recuperação (regulamentação sobre a matéria); vale e adiantamento
(adiantamento de 40% da remuneração ou pagamento até o último dia do mês
trabalhado); adicional por atividade extraclasse (da ordem de 20% sobre o salário
mensal do docente, para remuneração das atividades desenvolvidas fora da sala de
aula – preparação de aulas, elaboração e correção de provas); bolsas de estudo –
professor do estabelecimento; bolsas de estudo – outros professores.

Por outro lado, foi majoritária a corrente pela manutenção de conquistas


constantes em instrumentos autônomos anteriores, no julgamento do dissídio
TRT/DC 04/01 (Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais x Sindicato
dos Estabelecimentos de Ensino do Triângulo Mineiro), cuja ementa é a seguinte:

EMENTA: DISSÍDIO COLETIVO. PROFESSORES. MANUTENÇÃO DE


CONQUISTAS ANTERIORES. A expressa revogação do artigo 1º, § 1º e
2º, da Lei 8542/92, pela Lei 10192/01 retirou o fundamento legal que previa
a incorporação ao contrato de trabalho das conquistas obtidas na esfera
coletiva. Acontece que vindo as partes a juízo, em decorrência do fracasso
nas negociações diretas, caberá ao Judiciário, no exercício do poder
normativo, dizer da viabilidade de manutenção dessas conquistas, além de
lhe caber o exame das reivindicações novas e contrapropostas, sem olvidar
que a norma nascida da sentença normativa deverá adequar-se ao quadro
social e econômico do país. Ademais, essa norma constituirá a resultante
equilibrada da conjugação entre as reivindicações propostas pela categoria
profissional e a expectativa econômica da classe patronal, atingindo, na
medida do possível, um ponto de equilíbrio entre esses dois interesses,
quase sempre antagônicos. Tendo em vista a necessidade de assegurar
critérios objetivos na apreciação das cláusulas, para maior segurança das
partes, necessário fixar balizamento antes de ingressar no exame da
proposta clausulada. E assim é que, invocando os princípios da proteção,
da razoabilidade e da boa-fé, a exclusão de quaisquer das vantagens
conquistadas pela categoria exige prova da inviabilidade econômica de sua
manutenção, a ser produzida pela parte suscitada. De outro lado, a inserção
de vantagens novas deverá vir respaldada em índices claros e objetivos a
fim de confirmar o melhor desempenho econômico do setor envolvido
(publicado no DJMG de 19.10.01).

Cabe ressaltar uma das críticas mais comumente produzidas em relação


ao poder normativo da Justiça do Trabalho – o compreensível desconhecimento por
parte dos julgadores das características específicas de cada setor econômico ou
profissional. Deste modo, especialmente no tocante aos precedentes normativos,
temos a prolação de sentenças normativas muitas vezes genéricas e inespecíficas
às características dos setores profissional e econômico envolvidos.

A sentença normativa é desafiada por recurso ordinário, que terá efeito


meramente devolutivo (art. 6º da Lei n.º 4.725 de 1965), salvo se concedido, pelo
Presidente do TST, efeito suspensivo, que, na forma do art. 14, da Lei n.º 10.192 de
2001 (Plano Real) terá extensão e limites estabelecidos a seu critério.

Polêmica existente diz respeito a possível revogação do estabelecido


pelo art. 9º da Lei n.º 7701 de 1988, que dispõe prazo de eficácia improrrogável de
120 dias ao efeito suspensivo, pelo art. 14 da Lei n.º 10.192 de 2001.

Entendemos que o art. 14 da Lei n.º 10.192, de 14 de fevereiro de 2001,


não revogou o estabelecido pelo art. 9º da Lei n.º 7.701, de 1988, que reza:

Art. 9º. O efeito suspensivo deferido pelo Presidente do Tribunal Superior do


Trabalho terá eficácia pelo prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias
contados da publicação, salvo se o recurso ordinário for julgado antes do
término do prazo.

Por seu turno, a redação do art. 14, da lei n.º 10.192, de 2001, é a
seguinte, in verbis:

Art. 14. O recurso interposto de decisão normativa da Justiça do Trabalho


terá efeito suspensivo, na medida e extensão conferidas em despacho do
Presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

Para melhor análise sobre revogação legislativa, recorremos à Lei de


Introdução ao Código Civil (LICC), que a define no seu art. 2º, § § 1º e 2º, assim
redigido:

Art. 2º- Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.
§1º- A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria
de que tratava a lei.
§2º- A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

Confrontando as duas normas – art. 9º da Lei n.º 7.701 de 1988 e art. 14


da Lei n.º 10.192 de 2001 – verificamos não ocorrer qualquer das hipóteses de
revogação.

Com efeito, se o art.14 da Lei n.º 10.192 de 2001 trata da extensão do


efeito suspensivo, isto é, da autonomia e poder discricionário do Presidente do TST
para conferir eventual efeito suspensivo a cláusula(s) ou norma(s) estabelecida(s)
em sentença normativa, de outro lado, o art. 9º da Lei n.º 7.701 de 1988 diz respeito
à eficácia do efeito suspensivo.
Dois institutos distintos, que em nada se confundem ou contradizem.

Como não houve expressa declaração de revogação do art. 9º da Lei n.º


7.701, de 1988; como não são incompatíveis os institutos de extensão e eficácia;
como não houve inteira regulamentação da matéria – efeito suspensivo – pela nova
lei, que apenas trata da extensão, nada dizendo a respeito da eficácia, analisando
sob o prisma do § 1º, do art. 2º, da LICC, impossível, respeitadas as posições
divergentes, entendermos como revogado o art. 9º, da Lei n.º 7.701, de 1988, pelo
estabelecido pelo art. 14, da n.º Lei 10.192, de 2001.

Já analisando a questão sob o prisma do §2º, da LICC, temos que a


regulamentação sobre a medida e extensão do efeito suspensivo em nada se choca
com o estabelecido pelo art. 9º, da Lei n.º 7.701, de 1988.

Neste ponto, cabe outra observação. O poder ilimitado conferido ao


Presidente do TST para concessão de efeito suspensivo ao recurso ordinário é um
argumento a mais em desfavor do poder normativo da Justiça do Trabalho. Ao
redigirmos este texto, temos à frente da Corte Superior Trabalhista um magistrado,
Min. Francisco Fausto, que o concede a partir do critério de ofensa a precedente
normativo do TST, o que implica, felizmente, em menor número de cláusulas
sujeitas ao efeito suspensivo. No entanto, no período em que presidia a Corte
Superior Trabalhista o Min. Almir Pazzianoto, seu posicionamento praticamente
implicava concessão de efeito suspensivo sobre a integralidade das cláusulas objeto
da insurgência ordinária da categoria econômica, dilacerando o instrumento
heterônomo, de modo a que a suposta vitória dos obreiros nos Tribunais Regionais
não fosse concretizada na prática. Além disso, conhecedores de seu
posicionamento, os sindicatos econômicos tendiam a fomentar o descumprimento
das determinações sentenciais entre seus representados2. Vitórias de Pirro!

O descumprimento das sentenças normativas implica a propositura de


ações de cumprimento, calcadas no art. 872, parágrafo único da CLT, que deve ser
conjugado com o estabelecido pelo art. 7º, § 6º, da Lei n.º 7.701, de 1988, de modo
a permitir sua extensão a todas as cláusulas deferidas e não abrangidas por
eventual efeito suspensivo concedido pelo Presidente do Tribunal Superior do
Trabalho.
2
Anexos ao presente trabalho estão os despachos em pedidos de efeito suspensivo a recursos
ordinários contra sentenças normativas do TRT da 3ª Região, proferidos pelos Ministros Almir
Pazzinotto Pinto (TST-ES-13.328/2002-000-00-00-6) e Francisco Fausto Paula de Medeiros (TST-
ES-21.874-2002-000-00-00-0), de forma a permitir a exata noção de seus respectivos
posicionamentos sobre a matéria.
art. 7º- Das decisões proferidas pelo Grupo Normativo dos Tribunais
Regionais do Trabalho, caberá recurso ordinário para o Tribunal Superior do
Trabalho. [...] §6º - A sentença normativa poderá ser objeto de ação de
cumprimento a partir do 20º (vigésimo) dia subseqüente ao do julgamento,
fundada no acórdão ou na certidão de julgamento, salvo se concedido efeito
suspensivo pelo Presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

Acrescente-se aos elementos anteriormente apresentados, o previsto


pelo Enunciado n.º 246 do TST, que afirma ser dispensável o trânsito em julgado da
sentença normativa para propositura de ação de cumprimento. A competência para
conhecer e julgar as pretensões é da Justiça do Trabalho, ainda que envolvendo
litígio entre substituídos e empresa-ré não vinculados por relação de emprego ou
contrato de prestação de serviços, como no caso da cláusula, constante das
sentenças normativas pertinentes aos professores, referente à concessão de bolsas
de estudo para professores de outro estabelecimento de ensino (TRT/DC - 04/01;
TRT/DC – 05/01; TRT/DC – 14/01).

Sustentamos essa competência com base na redação do caput do art.


114 da Constituição de 1988 que afirma:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e


coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de
direito público externo e da administração pública direta e indireta dos
Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União e, na forma da lei,
outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os
litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças,
inclusive coletivas (Grifos nosso).

Também deve ser invocado o art. 8º, III da Constituição da República, de


modo a impedir a restrição constante da redação original do parágrafo único do art.
872, da CLT, no que diz respeito à limitação da substituição processual apenas aos
associados à entidade sindical autora. É claro o art. 8º, III da Constituição da
República de 1988, ao afirmar que cabe aos sindicatos a defesa dos interesses
individuais e coletivos da categoria. Também julgamos não recepcionada pela atual
Constituição a limitação de substituição processual aos associados à entidade
sindical obreira, pois ofende o princípio da não discriminação, insculpido no art. 5º,
da Carta Constitucional, e o princípio da livre filiação à entidade sindical (art. 8º, V),
em suas dimensões positiva e negativa (DELGADO, 2001, p. 42), assegurado pela
Constituição de 1988.

Infelizmente, apesar da ampla gama de dispositivos legais e


jurisprudenciais que tratam da matéria, muitos julgadores solenemente os
desconsideram, ora suspendendo a ação de cumprimento aguardando o trânsito em
julgado da sentença normativa, ora, julgando improcedente a pretensão por não
comprovação de seu trânsito em julgado. Posicionamento de difícil compreensão.

Finalmente, cabe destacar que vige ainda em nosso ordenamento jurídico


o estabelecido pelo art. 6º, § 3º, da Lei n.º 4.725, de 1965, assim estabelecendo:

Art. 6º - Os recursos das decisões proferidas nos dissídios coletivos terão


efeito meramente devolutivo.
[...]
§ 3º - O provimento do recurso não importará restituição dos salários ou
vantagens pagos, em execução do julgado.

O dispositivo transcrito é mais uma demonstração inequívoca do incorreto


procedimento daqueles magistrados que suspendem ou julgam improcedentes os
pleitos calcados em sentença normativa não transitada em julgado.

Cabe, também, destacar a correção dos dispositivos que arrimam a


execução da sentença normativa independentemente do trânsito em julgado da
sentença normativa, muito embora, ou até por isso, criado em período negro de
nossa curta história republicana (pós-golpe militar de 1964). Ora, se a sentença
normativa substitui instrumento autônomo, tendo vigência temporal restrita a um ou
dois anos, as relações contratuais por ela abrangidas não podem ficar ao desabrigo
de regras outras que não aqueles estabelecidas em norma consolidada ou estatal
genérica. É importante sua efetividade, nada valendo se solvida apenas dois ou três
anos após sua expiração, de modo a gerar incertezas para ambas as partes,
profissional e econômica.

Todas essas variantes que afetam os dissídios coletivos e que vão desde
dispositivos legais supostamente conflitantes, até os magistrados que relutam em
observá-los – são mais uma demonstração de que mais vale a celebração de
instrumento autônomo que a busca pelo Poder Judiciário para suprir a
intransigência e, não raro, até mesmo incompetência das partes litigantes, na
formulação de instrumento normativo autônomo.

Vemos, então, que recorrer ao poder normativo da Justiça do Trabalho


ainda é uma opção dos sindicatos, até mesmo, repetimos, como forma de
resistência, se consideradas as dificuldades de mobilização das categorias
profissionais para se contraporem às investidas patronais e frente à inexistência –
na verdade ausência de confiança e tradição na arbitragem e mediação ou
impossibilidade de realização de greves – de outras formas de solução do conflito.
No entanto, a própria resistência do Judiciário Trabalhista em exercê-lo e as
dificuldades de cumprimento e execução de suas sentenças normativas, muitas
vezes impostas pelo próprio Judiciário, têm sido um fator de afastamento das
entidades desta alternativa.

Dir-se-á que é incoerente defender o fim do poder normativo, como já o


fizemos, e ao mesmo tempo criticar as dificuldades que o Poder Judiciário tem
criado para o seu exercício.

Não é assim, porém.

Entendemos que se deva distinguir, de um lado, a permanência ou não


de um determinado instituto, e, de outro, a sua utilização, enquanto direito posto.

O poder normativo, para nós, não ajuda no desenvolvimento de uma


consciência cidadã. Ou seja: não auxilia os trabalhadores a terem noção do seu
papel na conquista de direitos e na formulação de seu próprio destino.

No entanto, o fato é que ele existe, e a ele são levadas as entidades


sindicais por razões as mais diversas.

Algumas vezes, é verdade, por lhes faltar organização suficiente para a


luta direta. Outras vezes, porque de todo modo se trata de um instrumento
disponível, e que num caso ou noutro, pode vir a ter algum efeito positivo – como,
por exemplo, o de pressionar a classe empresarial. Outras vezes, por fim, porque é
possível que o próprio sindicato se veja levado aos tribunais, como no caso de
greve.

Em outras palavras, a existência de um mecanismo – por mais falho que


ele seja – insere-o no rol das estratégias que as classes em conflito se utilizam.
Desse modo, não faz sentido impor barreiras artificiais à sua utilização.

Como vimos, essas barreiras, quase sempre, acabam se voltando contra


os trabalhadores, embora nem sempre, como vimos, eles sejam autores na ação.

Observe-se que a instauração de um dissídio coletivo não é alternativa


exclusiva da classe trabalhadora. Também os representantes do patronato
trabalham em suas estratégias de negociação com a possibilidade de sua
propositura, gerando inclusive uma verdadeira corrida ao setor de distribuição dos
tribunais.

Com efeito. Há decisões da Justiça do Trabalho no sentido de que, em


havendo distribuição de dissídio pelas duas partes em conflito, deverá ser
conhecido e julgado o primeiro deles, o que significa que, se o dissídio da categoria
econômica vencer a corrida, será extinto o da categoria profissional3.

Nessa hipótese, as reivindicações patronais, em número bem inferior e


com objetivos bem distintos, serão o trilho do julgamento, ditando o seu norte e
inviabilizando ou reduzindo eventuais conquistas da classe trabalhadora. É que,
naturalmente, o sindicato patronal, em seu dissídio, não fará constar cláusulas que
quer ver excluídas.

Note-se ainda que a simples existência do dissídio já cria expectativas, e


a sua frustração acaba enfraquecendo ainda mais a entidade sindical. Como se não
bastasse, a postura dos tribunais vem de encontro a toda a tendência do processo
moderno, que pela de-formalização e simplificação, o que é mais uma prova de seu
artificialismo.

Em suma: se existe um instrumento de solução de conflitos,


independentemente de sua origem e de suas falhas, deve-se ter a possibilidade de
acioná-lo de modo real e não fictício, e aqueles que têm o dever-poder de exercê-lo
não podem furtar-se a isso através da criação de obstáculos ou subterfúgios.

O poder normativo, como forma de solução de conflitos, tem muito mais


defeitos que qualidades. No entanto, exercido – ou não exercido – da forma como
vem se dando, consegue ser ainda pior para a classe trabalhadora.

Que se extinga então esse poder – como nós defendemos com vigor –
mas de forma clara, aberta e sobretudo democrática, através de discussão no
Congresso e dentro da sociedade.

Essa discussão poderá trazer como resultado novas alternativas de


solução de conflitos. Talvez até, como defendem alguns, com o aproveitamento da
experiência adquirida em todos esses anos pelos próprios magistrados, para
transformá-los em colegiados de árbitros.

Essa nova alternativa deverá ter como base o aprendizado e a prática


construídos pela classe trabalhadora brasileira

Se o C. TST, ainda que de forma não declarada, quer que se extinga o


poder normativo, não pode ele próprio fazer isso, já que nessa hipótese também
estaria usando um poder normativo... E o que é pior: nesse caso, sem qualquer
respaldo na Constituição, já que não se trata de conflito entre empregadores e
empregados.
3
Há decisões que entendem tratar-se de litispendência e outras entendem tratar-se de conexão.
A propósito, o Prof. Silva (2000) já sugeria a seguinte redação a respeito
da competência da trabalhista, nela não incluído o poder normativo da Justiça do
Trabalho:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar:


I– Os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores, empregadores,
trabalhadores e empregadores, abrangidos os servidores públicos, da
União, Estado, Municípios e Distrito Federal, independente de seu regime
jurídico.
II– Os dissídios de empregados das empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações instituídas pelo poder público,
independentemente de seu regime jurídico.
III– Os empregados de entes de direito público externo sujeitos à legislação
do trabalho brasileira (SILVA, 2000, p. 112).

Obs: Capítulo da Dissertação de Mestrado “O Exercício do Poder Normativo


da Justiça do Trabalho” de Marcelo Lamego Pertence

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