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FACULDADE CATHEDRAL FACULDADE CATHEDRAL CURSO DE DIREITO DIREITO AGRARIO Prof. Vilmar A Silva AULA -IMOVEL RURAL 1, IMOVEL RURAL: 1.1 - Definigio legal: legislador patrio se encarregou de definir o imével rural. No nosso “Cédigo Agrario” (Estatuto da Terra = Lei no 4.504/64), o art. 4° assim o define: Art. 48, 1 Imével rural, o prédio ristico, de érea continua, qualquer que seja ‘sua localizagio, que se destine a exploragdo extrativa, agricola, pecudria ou agroindustrial, quer através de planos piblicos de valorizagio, quer através da iniciativa privada, ino 329/93 (reguladora do capitulo da Politica Agraria da CF/88) dispde, em seu artigo 4°, I que: “Imével rural — o prédio ristico de érea continua, qualquer que seja a sua localizagéo, que se destine ou possa se destinar 4 exploraydo agricola, pecusria, extrativa vegetal, florestal ou agroindustral;”. Nota-se que hé quase nenhuma diferenga na definigao legal de 1964 e da lei 8.629/93. 1.2- CRITERIO DE CONCEITUACAO: © critério basico estabelecido nas definigdes legais é a destinacio do imével. Assim, é a area de terras, qualquer que seja a sua localizagio, que se destina 4 atividade agropecuaria. Isto significa dizer que, pelos critérios inseridos nos textos legais, 0 elemento diferenciador é a atividade exercida no imével. Portanto, o imével, mesmo localizando-se_no_perimetro_urbano, mas _sendo _destinado__producio agropecudria, para os fins do Direito Agrario, é classificado como rural. Da mesma forma, fato de um imével localizar-se fora do perimetro urbano, mas nio tendo finalidade agropecuéria, no se enquadra nos conceitos de imével rural. Ex. érea utilizada para uma igreja, escola, posto de gasolina, ete. Estes critérios fogem da visio civilista onde a diferenciagio se dé pela localizagao, Porém, para fins tributarios, o legislador adotou outro critério, 0 da localizagio do imével. Assim, 0 artigo 29 do Cédigo Tributario Nacional (Lei Complementar no 5.172/66) refere-se a imével rural por natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana do municipio. Este entendimento sofreu modificagdes posteriores, ¢ a Lei 5.868/72, reafirmou 0 critério da destinagdo independente da localizagao do imével, como critério para a definigao do tipo de imposto. Assim, o ITR seria cobrado de iméveis (art. 6° © pardgrafo nico) destinados a exploragio agropecuaria, independentemente de sua localizago, que tivessem drea superior a 1 (um) hectare, Apesar destes dispositivos legais, a matéria nfo se manteve pacifica. Em maio/82, 0 STF, em sua composigdo plena, em Recurso Extraordinario vindo de Minas Gerais, entendeu que, pelo fato do Cédigo Tributario Nacional ser Lei Complementar, tornava- se inconstitucional o disposto no art, 6° da Lei 5.868/72 (lei ordindria), de forma que estariam mantidos os dispositivos dos artigos 29 ¢ 32 do CIN. Ainda assim, a Lei 8,629/93, em seu artigo 4°, repetiu © mesmo critério da destinagao que ja estava fixado no Estatuto da Terra. Por fim, lei 9.393/96 reafirmou 0 critério da localiz a classificagai 0 pa verificar no art. 1° e pardgrafos deste diploma legal. de iméveis rurais para fins de tributagdo, como se pode Desta forma fica claro que HA DOIS CRITERIOS DE CLASSIFICACAO DOS IMOVEIS NA LEGISLACAO BRASILEIRA: um especifico para fins tributarios, que determina 0 tipo de cobranga em fungdo da localizagdo do imével, e outro para os fins do Direito Agrério, utilizado para a fixagio de direitos e obrigagSes de natureza agréria, como também para as questdes de natureza trabalhista da atividade agraria 1.3 - CARACTERISTICAS DO IMOVEL RURAL. Os elementos constitutivos, ou caracteristicas, esto inseridos na propria definigao legal de imével rural. PREDIO RUSTICO: Prédio aqui tem sentido de toda e qualquer propriedade territorial, de qualquer terreno, independente de onde estiver localizado. Riistico tem sentido de cultivo ow seja, o imével destinado a cultivo. Por isso, a finalidade ou a destinagao do imével o classifica em riistico, ou rural, quando utilizado para as atividades agrérias AREA CONTINUA: A Area continua tem sentido de utilidade, de uso para a mesma finalidade. Assim, a divisio, ao meio, de um imével, por uma estrada, nio Ihe tira 0 sentido de rea continua como elemento caracterizador do imével rural. Hé unidade econdmica na definigio do que venha a ser prédio ristico. Mesmo que ocorra a interrupgdo fisica, havendo a exploragio conveniente pelo proprietario ocorre a unidade econémica = drea continua, E possivel dizer, entio, que determinada Area de terras, constituida_por diversas _propriedades, ou_diversas glebas, com documentos ¢ registros préprios, se transforma em um dinico imével do proprietario, sobretudo quando se caracteriza por uma unidade econdmica. Assim, o conceito de imével como rea continua se aproxima da designagao comum de fazenda, sempre observada a regta de correto aproveitamento nos termos da fungdo social. Qualquer que seja a localizacio e que se destine (ou possa se destinar) & produgao agropecudria: Estes elementos j4 foram analisados quando da definigéo de imével rural OBSERVACAO Acerca da conceituagao do termo “imével rural”, em consulta efetuada pelo INCRA ao Instituto de Registro Imobilidrio do Brasil, em 3 de julho de 2006, vejamos parte do documento de resposta: Trata-se de consulta formulada pelo Inera com o intuito de esclareeer um ponto de grande importincia para a execugio do programa de georreferenciamento de iméveis rurais, que & a definigo da “unidade imobilidria rural”, porque, sem a determinagdo de um s6lido marco juridico, ‘98 geomensores nao saberio como proceder para que seus trabalhos técnicos estejam aptos tanto para o sistema cadastral do Incra como para o fiel ‘cumprimento da Lei de Registras Pablicos. ‘Visando a facilitar a compreensfo e a tomar 0 texto menos cansativo, 0 termo georreferenciamento” foi utilizado neste parecer como “o integral ccumprimento da legislaso em vigor visando a obtengio da certificagio do Inera e posterior ingresso na matricula”, endo como uma mera técnica de agrimensura. Com mesmo objetivo, foi denominado “geomensor” 0 profissional devidamente habilitado © credenciado para a claboracio dos Irabalhos téenicos. 1. Conceito de Imével Rural Afinal, o que & um imével rural? Essa & a questo que esté causando dividas em todo o Brasil devido a um equivoco que, mesmo pequeno, gera sérias repercussdes, O equivoco esti cexatamente na divergéncia sabre o conceito de imével rural. ‘Questiona-se se o imével rural é a unidade econémica agropastoril constante do cadastro do Inera, a unidade descrita na matricula ou, até mesmo, se é a 4rea englobada na declaragio do ITR. Esse problema de interpretago ocorre porque compete ao Incra efetuar 0 cadastro rural, fiscalizar a corregdo dos trabalhos georreferenciados c, principalmente, porque também é sua a misso de emitir a certificago de que 108 vertices do imavel georreferenciado nao invadem a drea de outro imovel, rural eertificado. E, para o Inera, imével & e sempre foi, a unidade econdmica rural Tora-se necessirio, portanto, analisar a divergéncia para, depois, dirimir esse equivaco, Imével, pela lei civil, &‘0 solo e suas acessdes". Apenas e tio-somen Céaigo Civil — Lei n? 10.406/2002: Art. 79 ~ Sto bens iméveis 0 solo ¢ tudo quanto se the incorporer natural ou astificialmente Sob esse prisma, poderiam ser considerados unidades imobilidrias um pais inteiro, um municipio, uma fazenda ou até mesmo uma diminuta area dolimitada por uma cerca de arame, Nao existem normas para definigdo dessa “‘unidade” ¢ nem seré possivel crié-las, por total inviabilidade tenia ¢, até ‘mesmo, pritica, Portanto, ndo ha e nem sera possivel haver uma regra geral, quer técnica ou juridica, que defina a “unidade imobilidria” de forma a atender todas as atuais necessidacles piblicas ou privadas, © Bstatuto da Terra, legislagdo diretamente ligada as atividades especificas do Incra, define © que vem a ser imével rural. Apesar de no-muito esclarecedor seu texto (ha inclusive divergéncias sobre sua abrangéncia), uma coisa esté bastante clara na norma legal, que esse conceito vale apenas “para os efeitos dessa lei”. Extatuto da Terra—Lein®4.504/66 [Art 4° -Para os efeitos desta Li, definem-se: 1 imivel Rural, o prédio ristico, de drea continua, qulauer que seit sus lcalizagio, ‘que se destine& exploragdo exativa agricola, poculria ou agro-industal, quer ataves de planos piblicos de valorzagio, quer através de iiciatva privada. ‘Segundo o que se extrai desse conceito legal, o imével rural: a) deve possuir potencial para exploragdo agropecuaria, agroindustrial ou extrativista; b) no perde sua caracteristica tio-somente por estar localizado no perimetro urbano; ¢ ©) deve ter érea continua (eis aqui um outro foco de divergéncia) Portanto, a legislagao agréia enfatiza aquilo que esta diretamente ligado aos seus objetivos, que é a caracteristica rural do imével, em que o incentivo, a regulacio ¢ o controle da produtividade agropecusria ¢ agroindustrial reflete diretamente na economia e no desenvolvimento do pais. © controle efetuado pelo Estado sob o aspecto agrario nao depende diretamente das informagdes sobre a titularidade, os Gnus reais eventualmente existentes ou a forma e 0s valores das transagdes no comércio imobilidrio, mas sim do potencial produtivo da terra, com 0 intuito de incentivar o desenvolvimento dese importante setor_econémico, promover 0 assentamento de familias em busca de sua dignidade ¢, também, identificar as terras no aproveitadas e desaproprid-las para fins de reforma agréria (missa0 do Incra). Dessa forma, é comum um imével rural cadastrado no Incra ser formado por uma pluralidade de matriculas ou transerigdes (ou seja, so virias propriedades rurais) ou ainda por éteas nio tituladas (Areas de posse) . Esse fato nunca atrapalhou 0s objetivos funcionais da autarquia, haja vista nao serem relevantes, até entio, as informagdes quanto & titularidade ou aos 6nus reais que pesam sobre os iméveis. Por esse motive, o cadastro do imével rural munca precisou coincidir cxatamente com a propriedade rural (que ¢ representada pela matricula) , bastando que esse “im6vel rural” a ser incluido no eadastro se encaixasse no conceito na legislagdo agraria, 2- DIMENSIONAMENTO DO IMOVEL RURAL: Trata-se de se definir qual ¢ a medida de area de terras ideal para que o agricultor, com sua familia, tenha condigdes de exploré-la com eficécia e possa garantir o seu progresso social e econémico. Qual a medida ideal de propriedade, visando o desenvolvimento socio-econdmico do pais ? Esta foi a preocupagio do legislador, ao fixar uma unidade de medida padrao denominada de médulo rural. 2.1 - Médulo Rural No artigo 4° do Estatuto da Terra foram cstabelecidas varias definigécs, entre as quais ade Médulo Rural. O inciso II do referido artigo diz: “Médulo Rural, a drea fixada nos_termos do o_ante ". © inciso anterior aqui referido define 0 que & sim dispondo: Propriedade familiar, o imével rural que, direta ¢-pessoalmente explorado pelo agricultor ¢ sua familia, thes absorva toda a forca de propriedade familiar, as trabalho, garantindo-lhes a subsisténcia e o progresso social ¢ econémico, com érea méxima fixada para cada regiéo e tipo de exploracéo, eventualmente trabathado com @_ajuda de terceiros.” Estas definigdes permitem dizer que 0 médulo rural foi estabelecido como medida da propriedade familiar © médulo rural equivale area da propriedade familiar, variavel no somente de regio para regido, como também de acordo com o modo de exploragio da gleba. No fundo, como afirma Pinto Ferreira (1995:209): "o médulo rural confunde-se com a propria érea da propriedade familiar". 2.2 ELEME! S PARA A SUA FIXACAO (ART. 5° DA LEI N’ 4.504): © Médulo Rural é a medida de Area fixada como propriedade familiar, de tamanho suficiente ¢ ideal para a correta exploracio agropecudria, Exatamente por esta razo, o Médulo Rural, assim como a dimensdo da propriedade familiar, em fungao da rea fixada como médulo, yariam de uma regio para outra, levando em conta a qualidade da terra, a sua localizacio geogrifica ea forma _e condigées de aproveitamento econdmico. (art. 11, do Decreto 55.891/65, que regulamenta parte do Estatuto da Terra.) Nas reas de assentamentos do sudeste do estado de Roraima, também conhecido como agrovilas, cujo médulo rural é de 60ha, pratica-se agricultura de subsisténcia de mandioca, milho, feijéo, banana e arroz de sequeiro. Essas colénias, em numero de 45 distribuidas em todo 0 estado, tiveram como orientagao inicial do INCRA o estabelecimento de culturas tipicas da regido como o cupuagu, porém, por falta de orientacéio e acompanhamento técnico, as agrovilas nao tiveram sucesso. © médulo rural, calculado para cada imével a partir dos dados constantes no cadastro de Iméveis Rurais no SNCR - Sistema Nacional de Cadastro Rural - gerenciado pelo Instituto Nacional de Colonizasio e Reforma Agrdria, é considerada uma unidade de medida que permite estabelecer uma comparagdo mais adequada entre os iméveis rurais, pois leva em consideragao outros atributos do imével, além de sua dimensio. 2.3 FINALIDADE: art. 11 do Decreto 55.891/65 — fixar unidade de medida eficaz para os iméveis rurais, caracterizada pela interdependéncia entre dimensio, qualidade da terra, localizacao e condigdes de uso, 2.4 TIPOS DE MODULOS: © Médulo Rural é entéio uma espécie de fixagdo de area ideal para cada regio. Mas, em fungdo do estabelecido no art. 11 do Decreto 55.891/65, a propria lei se encarregou de estabelecer varias categorias de_médulos, de acordo com o tipo de exploragio existente e predominante no imével (art. 14 do Decreto 55.891/65). Assim, existe 0 médulo_de_exploraeio_hortigranjeira (intensiva e extensiva); médulo_para_a lavoura permanente e outro para a lavoura temporaria; médulo para a exploracio pecuaria (de pequeno, médio ¢ grande portes); ¢ médulo para a exploragio florestal. Além destas classificagGes, existe, ainda, 9 médulo da propriedade, como resultado da soma de médulos de exploragio indefinida, quando no imével existem varias exploragdes, sem indicagao especifica. Também existe 0 médulo do proprictario, nos casos em que o proprietério possui varios iméveis, corespondendo & soma da quantidade de médulos obtido em cada area e dividido pelo total das Areas que poss que resulta numa espécie de médulo médio. 2.5 -IMPORTANCIA: (art. 11, 12 ¢ 13 do Decreto 55.891/65) A idéia inserida nos textos legais evidencia a preocupagdo com o estabelecimento de reas de terras que fossem ideais para a perfeita e eficaz exploragdo agropecudria, o que resultaria numa estrutura agréria democratizada. Ao mesmo tempo, visava evitar 0 fracionamento dos iméveis em areas inferiores a necesséria para 0 desenvolvimento produtivo, evitando-se assim a proliferagdo do minifiindio. Historicamente, 0 médulo rural tem sido utilizado para fins de classificago do imével como empresa rural, latifiindio ou propriedade familiar, para caracterizar o imével desapropriavel (cfe. ET); como unidade tributaria padrio, © que permitia a instituigao da tributagdo progressiva; enquadramento sindical; distribuigdo de terras devolutas ou em projetos de reforma agraria; ¢ para fixar a indivisibilidade do im6vel (art. 65 do ET), entre outras finalidades praticas. ‘Art, 65. © imével rural no é divisivel em areas de dimenso inferior & cconstitutiva do médulo de propriedade rural 2.5 - FRACAO MINIMA DE PARCELAMENTO: Esta nova figura foi introduzida no ordenamento juridico br 5.868/72 (art. 8°) e pelo Decreto 72.106/73. sileiro pela Lei n0 O art. 39 deste decreto estabeleceu que nenhum imével rural poderd ser desmembrado ou dit jido em area de tamanho inferior Aquele previsto no art. 8° da Lei 5 868/72. Como se pode verificar, por esta nova determinacdo, a figura do médulo foi, ao menos em parte, superado pela idéia de frasio minima de parcelamento. Nos termos do art. 8° ¢ seus pardgrafos, a fragdo minima de parcelamento acabou por permitir a divisio de iméveis em Area inferior & do médulo rural, contrariando 0 espirito do Estatuto da Terra (art. 65), possibilitando dividi-lo até a medida do médulo de exploragio hortigrangeira, que é de 2 ou 3 hectares na maioria dos municipios. 2.6- MODULO FISCAL: A partir da Lei 6.746/79 foi introduzida nova figura juridica, usada inclusive para a classificagdo dos iméveis, modificando os artigos 49 ¢ 50 do Estatuto da Terra, Alias a referida lei tem finalidade de fixar os parametros para o Imposto Territorial Rural Porém, o Decreto nO 84.685/80, em seu artigo 22, trouxe uma nova classificagao de imével rural. Assim, o médulo fiscal, além de servir para a fixacio do valor do ITR, também passou a ser a medida adotada para a classificacio dos iméveis rurais. A Lei n° 8.629/93 veio selar este entendimento ao utilizar a expressio médulo fiscal ao def no art. 4°, a pequena e a média propriedade. De qualquer forma, a idéia de manutengao de uma érea ou fragiio minima abaixo da qual no deveria ser dividido o imével rural, tem sua importéncia no sentido de evitar 0 fracionamento de iméveis em areas econdmica ¢ socialmente invidveis, 0 que levaria, também, ao descumprimento da fungo social da terra, O proprio art. 65 do ET ja estabelecia a indivisibilidade do imével em Area inferior & dimensio do médulo. Por outro lado, com os avancos tecnoligicos verificados nos iltimos anos ¢ as téenicas de produgdo intensiva, através de processos de irrigagdo ¢ plantio direto, permitem garantir sucesso econdmico em Areas pequenas, dependendo, evidentemente, da localizagdo ¢ do tipo de cultura explorada. Ainda assim, a observaneia de padrdes de érea minima, que poderiam ser revistos periodicamente, continua sendo importante na perspectiva da garantia da fungo social da terra. Nestas condigdes, 9 que vigora atualmente, sio as regras relativas a fracio minima de parcelamento, conforme tabela verificavel nos cartérios de registros de iméveis e, de resto, na classificacio dos iméveis, aplica-se o instituto do médulo fiscal, Vejamos as instrugdes disponiveis no site do INCRA: Médulo Conecito Unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada municipio, considerando os seguintes fatores: Tipo de exploragio predominante no municipio; Renda obtida com a explorago predominante; Outras exploragies existentes no municipio que, embora nao predominantes, sejam significativas em fungo da renda ou da area utilizada; e Conceito de propriedade familiar. Finalidades do Médulo Fiscal serve de pardimetro para classificagio do imovel rural quanto a sua dimensio, definindo os limites para a pequena e média propriedade nos termos do art. 4° + incisos IIe IIT da Lei n® 8.629 de 25 de fevereiro de 1993; dclimitagéo dos beneficiarios do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar — PRONAF; cestabelece os critérios de resgate da divida agréria pagos como indenizago das desapropriagdes por interesse social, de acordo com o art, 5°, pardgrafo 3°, da Lei n” 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 e suas alteragies; base de céleulo para a contribuigdo do Servigo Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR. ‘© Médulo Fiscal, vigente de cada municipio, foi fixado pelos seguintes atos normativos: InstrugGes Especiais/INCRA N° 19/80, 20/80, 23/82, 27/83, 29/84, 32/85, 33/86 © 37/87; Portaria/MIRAD n’ 665/88 e 33/89; Porcaria ‘MA n° 167/89; Instrugdo Especial/INCRA n° 39/90, Portaria Interministerial sal - MF MEEP/MARA n® 308/91 e n° 404/93; Instrugdo Especial INCRA n° 51/97, Instrugo Especial INCRA N° 1/2001¢ Instrusio Especial INCRA N° 03/2005, 3. CLASSIFICACAO DOS IMOVEIS RURAIS: Conforme estabelecido pelo legislador, no Estatuto da Terra, existiam, ao menos até 1988, os seguintes tipos de iméveis rurais: propriedade familiar, minifiindio, latifiindio e empresa rural. A C88 passou a utilizar novas terminologias, estabelecendo novos institutos ou novas categorias de iméveis rurais, como a pequena propriedade, a média propriedade, a grande propriedade, a propriedade_produtiva_e, por via de conseqiiéncia, a propriedade improdutiva. Contudo, o texto constitucional no definiu estas novas categorias, o que ficou para a legislagdo complementar, vindo depois inserido no texto da Lei n0 8.629/ Esta nova lei no se valeu dos mesmos critérios utilizados pelo Estatuto da Terra, sobretudo no tocante ao fiel cumprimento da fungdo social da terra pelas novas categorias definidas, uma vez que a definigdo de propriedade produtiva ficou restrita ao aspecto econdmico da fungdo social da terra. Assim, para alguns autores no cabe mais falar em minifindio € em latifiindio. Contudo, os contornos dos novos institutos ainda nao estdo bem definidos doutrinariamente. Estes tipos de iméveis rurais, definidos no ET ena Lei n0 8.629/93, serdo objeto de estudo especifico. 3.1, LATIFUNDIO: ‘A denominagio latifindio veio inserida nas definigdes do artigo 4° do Estatuto da Terra, Porém, nao foi repetida no texto constitucional ¢ na Lei no 8.629/93, que regulamenta os dispositivos constitucionais relativos & politica agréria, razdo porque alguns autores entendem que se trata de classificagdo em desuso na atualidade. £ o imével rural que, com rea igual ou superior ao médulo rural, é inexplorado ou_explorado inadequada_ou_insuficientemente, ou_ainda_porque tem grande jimensio a ponto de ser incompativel com a justa distribuicao da terra. CLASSIFICACAO: Nas proprias definigbes do Estatuto da Terra, ha dois tipos de latifiindio: 0 latifindio por extensio e o latifindio por exploracio. O LATIFUNDIO POR EXTENSAO OU POR DIMENSAO esta definido na Jetra a” do inciso V do artigo 4° do Estatuto da Terra, dizendo ser o imével rural que Sexceda a dimenséio méxima fixada na forma do art. 46, § 1°, alinea “h” desta mesma Lei, tendo-se em vista as condicies ecolégicas, sistemas agricolas regionais ¢ 0 fim a que se destine”, Tb. Art, 22,lI do Decreto 84,685/80, Porém, 0 Decreto n0 84.685/80, em seu artigo 22, dando regulamentagdo ao disposto nos artigos 40 e 46 da lei 4.504/64, com redagdo nova e mais clara, passou a classificar o latiffindio por dimensiio como sendo o imével rural que: art. 22, Tl, a) exceda a seiscentas vezes 0 médulo fiscal, calculado na forma do art. 5% Estes dispositivos evidenciam o entendimento de que iméveis rurais de grandes dimensGes, além de impedirem a exploragdo de sua totalidade ante as possibilidades variadas de investimento que a tecnologia oferece, caracterizando-se como antieconémico, é também anti-social na medida que o monopélio de terras nas maos de poucos significa a exclusio social de grandes contingentes de trabalhadores ou de agricultores por ndo terem acesso a terra, além de propiciar a maior concentragio de renda. LATIFUNDIO POR EXPLORACAO, é 0 imével de area igual ou superior ao médulo fiscal que esta inexplorado ou deficientemente explorado pelo mau uso da terra (artigo 4°,V, alinea b do ET, combinado com o disposto no artigo 22,lI, alinea b do Decreto n° 84.685/80). Aqui cabe também a exploracio predatéria do imével, a falta de uso de téenicas de conservacio, a manutencio do imével para fins especulativos, etc., 0 que impede a classificagdo do imével como empresa rural Pelos conceitos estabelecidos ¢ possivel dizer que, tanto os iméveis de grandes dimensdes, como aqueles de Area igual ou superior ao médulo fiscal, inexplorados ou inadequadamente explorados, devem ser considerados propriedade improdutiva. Aqui a idéia de produtividade tem dimensio mais ampla do que o simples aspecto econdmico. Por outro lado, o imével de dimensao igual ou superior ao médulo fiscal, adequada e racionalmente explorado, equipara-se ao conceito de empresa rural HA instrumentos legais de combate ao latifiindio. © principal deles & o instituto da desapropriagdo, objeto de estudo posterior. Além deste, a lei ( ET, art. 49.) prevé a tributagdo progressiva de forma a ficar desvantajoso para o proprietério a manutengdo de dreas consideraveis de terras de forma inexplorada. Contudo, apesar da lei, 0 governo historicamente nao foi capaz de tomar a decisio politica de sobretaxar os latifiindios. Cabe lembrar, por oportuno, que existem areas onde nao se aplicam os conceitos de latifindio, mesmo sendo inexploradas, 4 exemplo das dreas de preservagdo florestal, parques nacionais, etc. 3.2 -MINIFUNDIO: CONCEITO: Imével rural de area e possibilidades inferiores as da propriedade familiar (art. 4°, V do ET). Em outras palavras, é 0 imével com dimensao inferior 4 de um médulo fiscal, traduzido na dimensio necessaria e fixadora da propriedade familiar. (art 22,I do Dec. $4.685/80). Portanto, ¢ 0 imével com dimensao inferior ao necessirio para © progresso social e econdmico do proprietario e de sua familia (agricultor familiar). De qualquer forma, sabendo-se que o médulo fiscal é fixado para 0 municipio, ¢ tendo em vista as teenologias disponiveis, seria necessério o periddico recélculo do médulo fiscal, mesmo porque, a depender do tipo de exploragio, do local e da qualidade da terra, & possivel garantir progresso social ¢ econémico em dreas menores que as do médulo fiscal, 3.2.1 - INSTRUMENTOS DE COMBATE AO MINIFUNDIO: restringem-se ao instrumento da desapropriago (sem grande aleance social, a no ser com o objetivo de efetuar remembramentos de iméveis), e 0 estabelecimento de fragdo minima de parcelamento ¢ a proibigio de diviso dos iméveis em éreas inferiores. 3.3 - PROPRIEDADE FAMILIAR: CONCEITO: Ea drea de terras compativel com as necessidades do agricultor ¢ de sua familia, que Ihe garanta 0 progresso social e econémico, mesmo que com a ajuda eventual de terceiros ( art. 4°, II do ET). Da definigio legal evidenciaese que, além das dimensdes estabelecidas, deve ser explorada direta e pessoalmente pelo agricultor ¢ sua familia, podendo contar apenas eventualmente com a ajuda de terceiros. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: A propria definigdo legal insere os elementos constitutivos. TULAGAO: em principio a propriedade familiar supée a existéncia do titulo de dominio do imével em nome de um dos membros da entidade familiar. No entanto, como a prépria lei permite a concessio de uso, inclusive na distribuigao de terras no processo de reforma agraria, 0 titulo de dominio deixa de ser elemento essencial. - EXPLORACAO DIRETA E PESSOAL PELO AGRIC! ULTOR E SUA FAMILIA: a propria idéia de dimensio necessria compée a nogdo de propriedade familiar. Ou seja, parte-se da caracterizaeio de propriedade familiar como também de_médulo, como sendo a area necessaria_ao progresso social e econémico do agricultor e de sua familia, Supde entio a Area que ele pessoalmente exploraré. [a perfeita nogdo de posse agraria que no admite a idéia de posse indireta, - AREA IDEAL PARA CADA TIPO DE EXPLORACAO: ja foi discutida na definig&o dos médulos. - POSSIBILIDADE EVENTUAL DE AJUDA DE TERCEIROS: como se vé, 0 normal & a dimensio da area ¢ 0 tipo de exploragdo absorver a forca dos membros da familia, Mas, como ocorre em algumas atividades, sobretudo em colheitas de produtos que exigem maior quantidade de mio-de-obra em tempo exiguo, a propria lei permite a ajuda eventual de terceiros, sem desnaturar a propriedade familiar. Observe-se, contudo, que a propriedade familiar nio comporta a ajuda do trabalho de empregados. Atualmente ha certas polémicas, em fung’o dos novos conceitos de pequena ¢ media propriedade, em comparagdo com a definigio de propriedade familiar, principalmente para fins de obtengdo de recursos em condigdes especiais, para definigio de enquadramento na organizagio ¢ estrutura sindical do meio rural, e para fins previdencidrios enquanto categoria de segurados especiais, 3.3.1 - IMPORTANCIA NO PROCESSO DE REFORMA AGRARIA E DE COLONIZAGA! instituto da propriedade familiar esté diretamente relacionado com a demoeratizacio da terra, em atendimento a um dos principios fundamentais do Direito Agririo brasileiro que visa garantir o acesso a terra a um maior ndmero possivel de pessoas. Trata-se, portanto, de formula que garante a melhor distribuigo da terra, ao mesmo tempo que viabiliza 0 progresso social ¢ econdmico de seus possuidores ¢ do pais, através da geragio, descentralizagao ¢ distribuigdo de renda, Grandes extensdes de terras, mesmo atendendo ao aspecto econdmico da produgio, so socialmente incorretas ou injustas. Este entendimento & questionado por alguns autores, sobretudo os defensores dos Complexos Agroindustriais, para quem a propriedade familiar no se encaixaria no atual estigio de desenvolvimento tecnolégico experimentado pela agricultura, Cabe lembrar, contudo, que © Direito Agrario preocupa- to econdmico da tanto com 0 asp produgio © da produtividade, como também das questdes sociais. Neste sentido, a propriedade familiar, em alguns paises (Europa) chamada de empresa agricola familiar, € vidvel do ponto de vista econémico e social. E claro que o aspecto organizativo, em associagSes ou cooperativas, é fundamental, alm do efetivo investimento piiblico que deve estar presente para garantir competitividade a qualquer empreendimento rural. Ademais, nas condigdes brasileiras, & perfeitamente_possivel_a_convivéncia_de complexos agroindustriais, para o desenvolvimento de algumas atividades, com a agricultura familiar. Ver Lei n° 11.326, de 24/07/2006 — Diretrizes para a agricultura familiar. 3.4- Empresa rural ou empresa agraria: 4.4.1 - CONCEITOS: Utilizando a denominagao empresa rural, 0 proprio Estatuto da Terra se encarregou de conceitué-la no Inciso VI do Artigo 4°, Porém, o artigo 22, IIT do Decreto 84.685/80, retomando 0 conceito, trouxe mais detalhes, inserindo os elementos caracterizadores da fungio social do imével rural. No aspecto econdmico, a regulamentagdo do ET, exigia a utilizagdo de 50%, depois passou para 70%, e por liltimo, pelo decreto supra citado, exigiu 80% de utilizagdo © 100% de eficiéncia, além dos outros elementos da fungo social, inclusive © cumprimento das obrigagSes trabalhistas. Como se pode verificar, sobretudo a partir da alteragao conceitual introduzida pelo Decreto 84.685/80, a empresa rural deve cumprir os requisitos da fungdo social. Nestes se englobam os elementos econémicos (produgo © produtividade) © os elementos sociais, 3.4.2 — NATUREZA: A empresa agraria tem natureza civil, com registro no INCRA (se pessoa fisica), salvo a empresa SA que, por lei, tem natureza comercial. A empresa rural pessoa juridica, nao sendo SA, tem registro no Cart. de Reg. de Pessoas Juri Titulos e Documentos. 3.4.3 - ELEMENTOS DA EMPRESA AGRARIA: Trata-se de empreendimento que explora atividades agrarias, podendo o empresario ser, ou no, dono do estabelecimento ou do imével. Além disso, o empreendimento, de natureza civil, tem finalidade de lucro. A empresa rural tem, portanto caracteristicas proprias, que a diferenciam das demais empresas, A ago concreta da empresa rural na realizagdo da atividade agréria, deve, portanto, atender aos requisitos econdmicos minimos estabelecidos em lei, observar as justas relagées de trabalho ¢ garantir o bem estar das pessoas que vivem no empreendimento. Alem disso, deve atuar dentro dos padrdes de rendimento tecnologico © garantir a preservagdo ambiental através. de priticas _conservacionistas. Historicamente, muitas empresas do setor industrial, financeiro, ete, se beneficiaram com incentivos fiscais, adquirindo extensas areas de terras e, apesar de nfo terem apresentado rendimento econdmico ¢ satisfatério, eram, perante © érgdo competente, rotuladas como empresa rural. Seré que © conceito de empresa rural & equivalente ao de propriedade produtiva? Pelos conceitos, a empresa rural é mais do que propriedade produtiva 3.4.4- COMPARACAO COM A PROPRIEDADE FAMILIAR: Entre a empresa rural e a propriedade familiar ha diferengas e pontos de identificagio. A empresa rural, como empreendimento econémico, explora atividade agréria mediante a forga de trabalho de terceiros, com o objetivo principal de lucro, através da venda da produgio, Na empresa rural ocorre a associagdo da terra, capital, trabalho ¢ as técnicas empregadas na realizagdo da atividade agréria, dentro de um fim econdmico, Quanto a0 tamanho da area que explora, pode ser igual ou superior ao da propriedade familiar. Contudo, alguns entendem que necessariamente a area deve ser superior 4 da propriedade familiar. A propriedade familiar, tem como clemento principal, a exploragao direta e pessoal do imével pelos membros da familia, Contudo, tanto a empresa como a propriedade familiar precisam atuar dentro das condigdes de cumprimento da fungdo social, se bem que este critério ¢ mais rigido para com a empresa rural, uma vez que a propriedade familiar, pela sua propria constituigdo, jé atende a varios requisitos da fungdo social 3.4.5 - IMPORTANCIA DA EMPRESA AGRARIA NO PROCESSO PRODUTIVO: A empresa rural situa-se dentro de um modelo produtivo com o fim de atender as necessidades de aumento da produgdo ¢ da produtividade, com a adogio de padries ¢ processos téenicos, De qualquer forma, a produgo e a produtividade devem ser alcangadas também com a adogdo de priticas conservacionistas. A pesquisa agropecuaria tem favorecido o modelo de monocultura ¢ de grande empresa, a qual atua em grandes extensdes, utilizando méquinas pesadas. Nestas condigdes, os avangos tecnolégicos deixaram a desejar no que se refere ao atendimento das necessidades dos agricultores familiares, que alguns preferem chamar de empreendimento ou empresa agricola familiar. 3.5 - PEQUENA PROPRIEDADE RURAL: Como jé se afirmou, o legislador constituinte inovou nos conceitos e termos utilizados, de forma que, no meio rural, passamos, a partir de 1988, a contar com novas figuras juridicas, ou novos institutos. A Constituigo Federal, em diversos artigos ( 5° , 185), refere-se & pequena propriedade, mas ndo a define. A definigdo do que é pequena propriedade ficou por conta da regulamentago do texto constitucional, e desta forma, estabelecida pelo artigo 4° ,II da Lei n° 8.629/93, como sendo “o imével rural de drea compreendida entre um e quatro médulos fiscais.” Como se pode verificar, esta definigdo foge do conceito de propriedade familiar. Esta ¢ tida como compativel com o médulo rural ou fiscal. Hé o entendimento de que, em fungao desta nova definigdo, a propriedade familiar pode alcangar até quatro médulos fiscais. Agora, com a Lei 11.326/06, propriedade familiar & tida como aquela com até 04 médulos fiscais. 3.6 - MEDIA PROPRIEDADE: Nos termos do artigo 4°,I11, da mesma lei, é “o imével rural com drea superior a quatro e até quinze médulos fiscais”. Como 1 disse, nos termos da legislagdo, a propriedade familiar também deve cumprir a fungdo social. E a pequena ¢ média propriedade esto isentas desta obrigago? A média propriedade, pelas dimensdes que Ihe foram conferidas, se ndo cumprir os requisitos da fungio social, deveria ser denominada de latifimdio, nos termos do disposto no Estatuto da Terra e scus regulamentos. E qual a consequéncia que isto traria para referida propriedade? No entanto, esta conceituagdo de pequena e média propriedade, esti diretamente relacionada com a isengio de desapropriagdo, a menos que o proprietirio tenha outros iméveis, Os menos preocupados com 0 resultado produtivo, com 0 bem estar dos envolvidos no processo produtivo com a preservago ambiental, entendem que estas propriedades esto dispensadas do cumprimento da fungdo social. Nao sendo assim, qual a sangdo cabivel ante o descumprimento da lei, além de cobranga de ITR com aliquota maior? 3.7- GRANDE PROPRIEDADE: A lei ndo se encarregou de definir, mas, por dedugdo, & 0 imével que possui rea acima de quinze médulos fiscais. 3.8 - PROPRIEDADE PRODUTIVA: E a pequena, a média e a grande propriedade que atingem os niveis de produgao e produtividade exigidos por lei. Sendo propriedade que, ultrapassando as dimensdes de 15 médulos fiscais ¢ tendo grau de utilizagdo (GUT) de, no minimo, 80%, e o grau de eficiéncia na exploragdo (GEE) no minimo de 100%, é classificada como grande propriedade produtiva, nos termos do disposto no art. 6° © pardgrafos da Lei n° 8.629/93. E possivel dizer que a empresa rural se confunde com a propriedade produtiva, tendo ‘em vista os elementos que compdem o conceito de propriedade produtiva. No entanto, estes se restringem aos aspectos econdmicos, de forma que dé a impressfo de estar dispensada do cumprimento dos demais elementos da fimgdo social. Esta ai uma das contradigdes inseridas no texto constitucional, evidenciada pela regulamentagio posterior e objeto de controvérsias doutrinarias. Neste especifico hé um vazio legal, uma vez que o legislador ordindrio ainda nao regulamentou 0 disposto no pardgrafo tinico do artigo 185 da CF. Assim, ainda ndo ha lei estabelecendo 0 indicado tratamento especial ¢ a fixago de normas para o cumprimento dos requisitos relativos 4 fungo social para a propriedade produtiva Nem por isso a propriedade assim definida esté isenta do cumprimento da fungao social, até porque se trata do principio fundamental do Direito Agririo ¢ 0 seu conteiido es perfeitamente explicitado na lei. 3.9 - PROPRIEDADE IMPRODUTIVA: Por exclusio, a propriedade que nfo alcanga os indices de produgdo ¢ produtividade estabelecidos em lei, independente do tamanho (pequena, média ou grande propriedade) & classificada como improdutiva. Tendo acima de 15 médulos fiscais, classifica-se como grande propriedade improdutiva, passivel de desapropriagio para fins de reforma agraria, Isto quer dizer que a propriedade, mesmo nao cumprindo todos os requisitos da fungio social, se produtiva, no pode ser desapropriada? Esta ¢ a interpretagdo majoritéria atualmente na visio dos tribunais. No entanto, ha teses defendendo a posigo de que, se o imével no cumpre os demais requisitos da fungdo social (aspecto social ambiental), também pode ser objeto de desapropriagdo, mesmo que no aspecto econémico seja classificado como propriedade produtiva, em vista da exigéncia constitucional de aproveitamento racional e adequado, que nio existe no descumprimento dos aspectos social ¢ ambiental. Sendo pequena ou média, para poder ser desapropriada & necessério que 0 proprietério tenha outra propriedade, conforme o disposto no art. 185 da CF. RECAPITULANDO!!! Agricultura familiar ¢ a legislagao brasileira A legislacdo brasileira definiu 0 que é Propriedade Familiar na Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964 (Estatuto da Terra), a) Estatuto da Terra “Art. 4° Para os efeitos desta Lei, definem-se: Il ~ Propriedade familiar, o imével rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua familia, thes absorva toda a forga de trabalho, garantindo-lhes a subsisténcia e 0 progresso social e econémico, com area maxima fixada para cada regio e tipo de exploracdo, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros; II - Médulo Rural, a area fixada nos termos do inciso anterior; IV — Minifiindio, 0 imével rural de area ¢ possibilidade inferiores as da propriedade familiar.” 4) Decreto n° 55.891/65 (que regulamentou 0 Capitulo I do Titulo ¢ a Segao IIT do Capitulo IV doTitulo II da Lei 4.504/64 — Estatuto da Terra): “Art. 6° O imével rural, para os efeitos do Estatuto da Terra, classifiea-se como: 1 — Propriedade familiar, quando, direta ¢ pessoalmente explorado pelo agricultor e sua familia, thes absorva toda a forga de trabalho, garantindo-lhes a subsisténcia © 0 progresso social ¢ econémico, com area fixada para cada regio ¢ tipo de explorago, e, eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros. A area fixada constitui 0 médulo rural, © serd determinada nos termos do art, 5° do Estatuto da Terra ¢ na forma estabelecida na Secao III deste Capitulo; (art. 5° do Estatuto da Terra - "a dimensdo da rea dos médulos de propriedade rural seré fixada para cada zona de caracteristicas econdmicas ¢ ecolégicas homogéneas, distintamente, por tipos de explora¢ao rural que nela possam ocorrer") II — Minifiindio, quando tiver area agricultavel inferior 4 do médulo fixado para a respectiva regiio ¢ tipo de exploracao”. “Art. 11 O médulo rural, definido no inciso II do art. 4° do Estatuto da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer uma unidade de medida que exprima a interdependéncia entre a dimensio, a situagdo geografica dos iméveis rurais e a forma e condigdes do seu aproveitamento econdmico”. “Art. 12. O dimensionamento do médulo define a area agricultavel que deve ser considerada, em cada regio e tipo de exploragio, para os iméveis rurais isolados, os quais constituirio propriedades familiares se, nos termos do inciso It do art. 4° do estatuto da Terra: 1 — forem direta e pessoalmente explorados pelo agricultor ¢ sua familia, admitida a ajuda de terceiros em carater eventual; TI — absorverem, na sua explorago, toda a forga de trabalho dos membros ativos do conjunto familiar; III garantirem a familia a subsisténcia e progresso social e econdmico. ©) Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993- Dispde sobre a regulamentagio dos dispositivos constitucionais relativos 4 Reforma Agraria, previstos no Capitulo III, Titulo VII da Constituigao Federal: “Art. 4° Para os efeitos desta lei, conceituam-se: 1 - Imével Rural - o prédio riistico de érea continua, qualquer que seja a sua localizagio, que se destine ou possa se destinar 4 exploracao agricola, pecuaria, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial; II - Pequena Propriedade - o imével rural: a) de area compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) médulos fis III - Média Propriedade - o imével rural: a) de area compreendida entre 4 (quatro) e quinze médulos fiscais;” Consideragées © 0 inciso II, art. 4° do Estatuto da Terra, ao conceituar propriedade familiar, fala em rea maxima fixada para cada regio c tipo de exploragdo; ja 0 Decreto 55.891/65, que regulamentou o Estatuto da Terra, fala em Area fixada para cada regio e tipo de cexploragao (retirou a palavra maxima), @ 0 Estatuto da Terra define 0 minifiindio como o imével rural de area e possibilidade inferiores as da propriedade familiar; 0 Decreto 55.891/65 classifica como o imével rural, para os efeitos do Estatuto da Terra, 0 minifiindio, quando tiver drea agriculta vel inferior 4 do médulo fixado para a respectiva regido e tipo de exploragao. Logo, quando a propriedade tiver area (ou area agricultavel, que & mais restrito ainda) abaixo do médulo rural, é considerada como minifimdio e nio propriedade familiar. © Utilizando-se da interpretagio da Lei 8.629/93, o INCRA classifica como minifiindio o imével rural com area inferior a | (um) médulo fiscal. @ Assim, no pode prosperar a interpretago de que a propriedade familiar & aquela com area de até 1 (um) médulo rural, e sim aquela com pelo menos 1 (um) médulo rural, atendendo aos demais requisitos previstos na Lei, Boa Sorte. Professor Vilmar

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