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TRAUMA E SOLIDÃO

O trauma é um mal silencioso, mais comum do que pensamos. Os que estão a volta da
pessoa traumatizada, e até mesmo a própria pessoa, muitas vezes não percebem o efeito
pernicioso do trauma. Por trás da fachada de uma pessoa bem adaptada a sociedade, pode
haver um ser humano em sofrimento, que perdeu sua capacidade de sentir a vida plenamente.

Um dos sinais do trauma é a perda de esperança e confiança na vida, com isso a


pessoa pode se retirar das relações e buscar cada vez mais a solidão, deixando de buscar
vínculos. A conexão com outras pessoas proporciona a corregulação do sistema nervoso
autônomo, reparando o dano sofrido pelo evento traumático, mas se a pessoa escolhe o
isolamento, a tendência é a cronificação do estado de choque vivenciado no trauma.

Após uma tragédia, um evento gerador de um choque traumático, muitos se


compadecem daqueles que foram mais afetados, procuram prestar condolências e se fazerem
presentes, mas com o passar do tempo, o esquecimento dos que estão a volta é inevitável,
apesar de o corpo traumatizado ainda carregar os registros da situação vivida.

O corpo que carrega a lembrança do trauma apresenta-se contraído e amortecido; na


busca de se proteger contra o impacto sofrido, refugia-se no enrijecimento. Quem olha de
fora, pode acreditar que tudo está normal com aquela pessoa, mas no fundo não está. Eu li em
um trecho de um livro: “Acho que vem daí a palavra solidão, pessoas tão sólidas que ninguém
vem checar se estão ruindo”.

A solução para retomar a vida para esse corpo, a saída para o isolamento e o
congelamento, é a expressão das emoções, seja aquele choro profundo que alcança soluços na
barriga ou aquela raiva que foi guardada em cada fibra de seus músculos porque não pôde ser
expressa em um momento de perigo. Mas mais importante do que qualquer autoexpressão, é
a presença de um olhar humano que possa acolher e amparar aquele que se encontra em
situação de extrema vulnerabilidade.

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