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HISTÓRIA DA ARTE 2 | PROF.

GUSTAVO LOPES

semana 3
A ARTE BIZANTINA
Ao comparar
obras do início da
arte bizantina,
exemplificada ao
lado, a obras
paleocristãs e
pagãs,
percebemos tanto
uma continuidade
quanto uma
ruptura.

O Milagre dos Pães e


dos Peixes, mosaico.
Basílica de Santo
Apolinário, Ravena, c.
520 d. C.
Por um lado, percebemos que
características da arte pagã
greco-romana, bastante
presentes nas primeiras obras
cristãs, não desapareceram.
Como exemplos, podemos
apontar a sugestão do volume
por meio da luz e da sombra,
e a sugestão da anatomia (por
exemplo, o joelho de Cristo a
se projetar) sob os
planejamentos. Tampouco
desapareceu totalmente o
contrapposto, pose de origem
grega muito comum em obras
paleocristãs e caracterizada
por um perna apoiada (na
qual o peso do corpo se
apoia) e uma perna livre, com
o joelho levemente
flexionado.
Por outro lado, as figuras e
a composição mais
esquemáticas, assim como
o espaço mais abstrato e
sem profundidade da arte
bizantina, deixam claro que
Antiguidade clássica ficou
para trás. Podemos
perceber como essa
metamorfose
gradualmente acontece
quando justapomos obras
dos século IV (quando o
classicismo greco-romano
ainda era muito forte), V e
VI.
Século IV

Século V

Século VI
Entre o século IV e VI, observamos
que azul do céu e elementos dos
plano de fundo (arquitetura, árvores
etc.) vão se tornando mais raros nos
mosaicos.

Cristo, trazendo na mão


um livro em forma de
rolo, com 7 selos, aberto
por ele no Apocalipse, e
sentado sobre a esfera
celeste (símbolo de seu
status de Senhor do
Universo) entrega a São
Vital (extrema-esquerda)
a coroa dos mártires. O
“Z” em suas vestes é
incial de “Zoe” (“vida”
em grego). Mosaico,
anos 540. Basílica de São
Vital, Ravena.
O processo de transição da arte paleocristã à bizantina
é contemporâneo do declínio econômico do Império
Romano do Ocidente. Constantinopla, capital
administrativa do Império Oriental desde Constantino,
torna-se cada vez mais o centro da cultura romana.
Embora desde o início do século VI
existam obras que podemos
considerar bizantinas (como o
mosaico no slide 2, de c. 520), por
algum tempo o fim de um período
e o início do outro se confundem.
De um modo geral, a transição da
arte paleocristã à bizantina se
completa durante o reinado do
imperador Justiniano I, retratado
aqui em um mosaico de c. 547,
feito durante seu governo.

Justininano I (482-565)
Essas figuras
longilíneas, com
pouco volume,
das quais o
contrapposto
clássico está
ausente,
exemplificam
uma arte
plenamente
bizantina.

Justinianiano e seu
séquito,mosaico
Basílica de São Vital,
Ravena, c. 547
Essas figuras
longilíneas, com
pouco volume,
das quais o
contrapposto
clássico está
ausente, indicam
que a transição
do estilo
paleocristão ao
bizantino está
completa.

Essas mesmas características se mostram no


mosaico à direita, que retrata a imperatriz Justinianiano e seu
séquito,mosaico
Teodora (também dotada de um halo),
Basílica de São
esposa de Justiniano. Vitale, Ravena, c. 547
O esplendor do interior da Basílica de São Vital não
se reflete no seu exterior que, como o das demais
igrejas da época, é relativamente simples.
Guardadas as devidas
proporções, isso vale
também para a mais
grandiosa das igrejas
bizantinas, Santa Sofia,
projetada pelos
arquitetos Artêmio de
Trales e Isidoro de Mileto
e erguida em
Constantinopla entre 532
e 537.
A Virgem com o
Menino no mosaico da
abside (século IX), visto
no slide anterior.
A igreja tem 55m de altura. Contribuem para
sua sustentação os pendentes e os
contrafortes. Os pendentes, que ficam sob a
cúpula, têm forma triangular.

Pendente
Os pendentes, que são
quatro, direcionam o peso da
cúpula para os quatro pilares
principais, que ficam
parcialmente embutidos nos
cantos das paredes.

Pendente
Adicionalmente, existem do lado de
fora os contrafortes, ou seja,
projeções que atuam como
escoras. Contrafortes maiores
existem junto à base da igreja
(figura abaixo). Conectados a eles
podemos ver também arcobotantes
– arcos que conectam os contraforte
contrafortes às paredes.

arcobotante

Pendente
Como em outras igrejas
bizantinas, a sustentação da
igreja também depende de
colunas. O capitel (parte
superior) desta coluna combina
as volutas do capitel jônico e as
folhas de acanto do capitel
coríntio. Mas essas referências
são profundamente
transformadas pela cultura
bizantina, de modo que o
capitel visto aqui não se
confunde com seus ancestrais
greco-romanos.
A arte bizantina é longeva, estendendo-se
do século VI até o XV. Durante esse tempo
ela passou por mudanças importantes. Esta
miniatura (pintura em manuscrito,
normalmente separada do texto) executada
em um saltério (livro de salmos) representa
David compondo os salmos e exemplifica
uma dessas mudanças: o retorno à tradição
figurativa greco-romana, entre os séculos IX
e XI. As representação tridimensional do
espaço, o volume das figuras, os
planejamentos, a perspectiva aérea (os
objetos distantes ficam azulados) e as
personificações (da Melodia, ao lado de
David, de Eco, atrás da coluna e da
Montanha de Belém, no canto inferior
direito) remetem à arte da Antiguidade.
Miniatura do Saltério de Paris, c. 900
Esse retorno ao classicismo ocorreu em graus
diferentes no mundo bizantino. Alguns artistas
mantiveram-se mais próximos do estilo
bizantino de séculos anteriores. Outros
buscaram combinar o classicismo redescoberto
a características tipicamente bizantinas,
produzindo obras como esta crucificação. Além
dos planejamentos, do modelado e do
contraposto, o mosaico apresenta outro
aspecto clássico: o pathos, ou apelo à emoção,
presente em muitas obras de arte pagãs e
produzido, aqui, por gestos, feridas e
expressões faciais, além da cabeça de Cristo a
pender dos ombros, em contraste com suas
representações triunfantes anteriores.

Crucificação, mosaico da igreja do Mosteiro de


Dafne, século XI.
“Onde e quando surgiu esta
interpretação humana do
salvador, não sabemos dizê-lo:
parece ter-se desenvolvido na
esteira da Questão Iconoclasta.
É rara antes da Crucificação de
Dafne e nenhuma suscita tão
poderosamente as emoções do
contemplador. Este sentido de
compaixão na arte sacra foi
talvez a maior contribuição da
Segunda Idade do Ouro ...”
(W. H. Janson)
Os séculos finais do
“Onde e quando surgiuImpério
esta Bizantino
interpretação humana são
do marcados por
salvador, não sabemos reveses
dizê-lo:militares e
declínio econômico.
parece ter-se desenvolvido na uma arte
Por serem
esteira da Questão Iconoclasta.
de produção cara, os
É rara antes da Crucificação de se tornam
mosaicos
mais raros nesse
Dafne e nenhuma suscita tão
período. Os pintores
poderosamente as emoções do passam a
de afrescos
contemplador. Este sentido de da maior
se incumbir
compaixão na arte sacraparte
foi da decoração
parietal (de parede).
talvez a maior contribuição da
Segunda Idade do Ouro ...”
Afrescos na Igreja do
(W. H. Janson) Salvador, em Istambul.
Este afresco do séc. XIV representa a
descida de Cristo ao Inferno, depois da
crucificação e antes da Ressurreição:
envolvido por uma mandorla (espécie de
halo de corpo inteiro, em forma de
amêndoa, em geral restrito a representações
de Cristo e de Maria), ele retira do Inferno,
pelas mãos, Adão e Eva, além de libertar
outras figuras do Velho Testamento.
Para saber mais:
“Onde e quando surgiu esta
interpretação humana do
Mosaicos da villa romana do Rabaçal, Penela, Portugal: Prelúdio de arte bizantina?
salvador, não sabemos dizê-lo:
https://run.unl.pt/handle/10362/12473
parece ter-se desenvolvido na
esteira
Arte bizantino antiguo de tradición clásica en el desierto da Questão
jordano: Iconoclasta.
los mosaicos de Um-er-Rasas
http://www.cervantesvirtual.com/research/arte-bizantino-antiguo-de-tradicin-clsica-en-el-desierto-
É rara antes da Crucificação de
jordano--los-mosaicos-de-umerrasas-0/014447.pdf
Dafne e nenhuma suscita tão
poderosamente
The Glory of Byzantium: Art and Culture of the Middle Byzantine as emoções
Era, A.D. 843–1261 (outros do
livros em pdf
contemplador.
disponíveis ao se buscar pela palavra-chave Este sentido de
“byzantine”)
https://www.metmuseum.org/art/metpublications/The_Glory_of_Byzantium_Art_and_Culture_of_the_Mid
compaixão na arte sacra foi
dle_Byzantine_Era_AD_843_1261?Tag=byzantine&title=&author=&pt=0&tc=0&dept=0&fmt=0
talvez a maior contribuição da
Criando mosaicos antigos e bizantinos [observação: oSegunda Idade
vídeo mostra do Ouro
a criação ...” de piso; a
de mosaicos
camada preparatória dos mosaicos parietais (de parede) é mais fina]
https://www.youtube.com/watch?v=fvX1vorZgF4 (opção(W. H. Janson)
de traduzir automaticamente nos comentários)

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