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iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais (Mercês e Jean) pelo apoio e incentivo em prosseguir
buscando conhecimento e novos aprendizados.
À UFSJ por se tornar a minha casa e por me abrir tantas portas na vida, por ser
responsável pelo ser humano e pelo profissional que sou hoje.
Ao PPMEC por me permitir executar esta pesquisa e realizar o sonho de me
tornar mestre. Obrigado Claudete, professores Frederico e Lincoln.
Aos amigos de longa e curta data por serem a família que eu escolhi. De forma
especial gostaria de citar alguns nomes muito importantes. Obrigado Ana, Daniele,
Endrio, Fabiola, Iolanda, Ismael, Jefferson, Juan, Larissa, Letícia, Maicol, Mariana,
Marina, Natália, Thalita, Vanessa e Yuri.
Aos amigos que a França me deu e que permanecem presentes na minha vida e
nos meus pensamentos Bengisu, Hugo e Mathieu.
A minha família são-joanense que me trata como um filho e onde, durante estes
dois anos, me refugiei dos problemas, muito obrigado Cláudia e Spitzberg.
Aos queridos amigos de caminhada no mestrado Crislayne, Cássio, Filipe,
Pâmela e Thaís pelos momentos de descontração e boas conversas durante a rotina
exaustiva, pela troca de conhecimento e pelo companheirismo.
Gostaria de deixar um agradecimento carinhoso ao meu querido mestre Prof.
Felipe Soto Pau por ter me incentivado a seguir na carreira acadêmica e por ter sido quem
me disse que eu tinha “dom e gosto pela pesquisa”. Obrigado pelo incentivo.
Um agradecimento mais do que especial a todos servidores da UFSJ (técnicos,
secretários, auxiliares de limpeza e vigilantes) que me receberam todos os dias com um
sorriso no rosto e com toda a disponibilidade em ajudar no meu trabalho, sem contar que
são insubstituíveis engrenagens desta instituição. Meu eterno obrigado Carlinhos,
Claudia, Humberto, Janaina, Nice, Simone e Valdir.
Aos técnicos do Centro de Inovação e Tecnologia em Compósitos (CITeC),
Alexandre Einstein e André por todo apoio, ensaios e ideias para o meu trabalho.
Aos estagiários, Renato e Arthur, e técnico, Lazaro, dos laboratórios do
DEMEC por toda a ajuda.
Ao escritório da ASSIN (Daniel Gallo, Daniel Rocha, Daniele e Liliane) por ter
me “suportado” por todo este longo tempo e me dado a oportunidade de conhecer tanta
gente, vinda do mundo todo.
v
Ao excepcional quadro de professores do PPMEC pelos valiosos ensinamentos
e conselhos durante este período de amadurecimento em minha carreira. De forma
especial agradeço ao Prof. Artur Malafaia, que além de um grande mestre é um amigo.
À Débora por ter sido uma das pessoas mais importante no desenvolvimento
deste trabalho. Obrigado pela recepção no INT, por todo o conhecimento transmitido,
por toda a paciência e por todo o empenho em tornar meu trabalho de mestrado tão rico.
Não tenho palavras que descrevam minha admiração, carinho e gratidão por tudo que fez
por mim.
A minha orientadora Roseli por ter me confiado este trabalho, por ter me dado
o caminho a ser seguido e por ter orientado todo meu trabalho com extremo zelo,
primazia e profissionalismo. Obrigado por ser uma referência profissional, a qual quero
seguir a vida toda, e por ser muito mais do que uma simples orientadora. A você, minha
eterna gratidão por ter me aberto as portas ao maravilhoso mundo dos biomateriais.
Ao meu coorientador Alexandre por abrir as portas do INT, me acolher e me
orientar de forma extremamente profissional, me permitindo crescer enquanto futuro
pesquisador. Obrigado pelos inúmeros contatos que você fez para que o meu trabalho
fosse desenvolvido e pelas inúmeras e valiosas orientações e correções (projeto de
pesquisa, artigos, pôsteres, dissertação, etc.).
Ao INT, em especial ao LATEP por ter me acolhido e auxiliado na maior parte
da produção de minhas amostras, de forma especial à Amanda pelas compactações das
amostras, à Fernanda e à Carla (CENANO) pelas imagens excepcionais feitas em MEV
e FEG. Obrigado a todos os laboratórios que estiveram abertos para nossas análises
(Laboratório de Análise Orgânica Instrumental - LANOI; Laboratório de Corrosão e
Proteção - LACOR; Laboratório de Catálise - LACAT; Laboratório de Caracterização
de Propriedades Mecânicas e Microestruturais - LACPM).
Ao CBPF por permitir a realização das análises de DRX e GIXRD, em especial
à Raquel por nos ter orientado como operar os equipamentos.
Ao Inmetro, nas pessoas de Braulio Archanjo e Geronimo Perez, pelas
extraordinárias análises em FIB e MET.
Aos professores Sebastião Ribeiro e Carlos Ângelo por permitirem o uso do
forno astro do DEMAR (EEL-USP) para sinterização das amostras dos ensaios
biológicos. E um agradecimento especial ao doutorando Lucas por me acompanhar
durante toda a sinterização.
A professora Erika (DCNAT-UFSJ) por se disponibilizar em realizar os ensaios
vi
biológicos em nosso material e por ser tão solicita e disponível em ajudar. Agradeço
também a seus alunos que conduziram os ensaios.
A CAPES pelo financiamento deste projeto, permitindo que eu me dedicasse
totalmente a execução do mesmo.
vii
“Le savant n’est pas l’homme qui fournit les vraies réponses, c’est celui qui pose les
vraies questions.” (Claude Lévi-Strauss)
viii
RESUMO
ix
ABSTRACT
Studies show that porous titanium alloys promote osteointegration at the implant-bone
interface improving the mechanical stability. However, researches on bioactive coatings
that induce the formation of new bone tissue on the surface of metal implants have been
gaining prominence, being calcium phosphate (CaP) coatings of great potential. In this
work, samples of Ti35Nb were produced by powder metallurgy and coated with calcium
phosphate (CaP) by biomimetic method, for use in orthopedic or dental implants. High
purity titanium and niobium powders were mixed and uniaxially compacted. For
fabrication of macroporous samples, a pore former additive was added in the mixture
(Ammonium Bicarbonate – AB). The sintering of samples was performed at 1300 ºC for
2 h in an ASTRO furnace under argon atmosphere. The samples underwent a chemical-
thermal treatment for bioactivate the surface by means of the formation of a sodium
titanate interlayer. Then, the samples were immersed in a simplified biomimetic solution
with ionic CaP-forming composition, for periods of 14 and 21 days. The samples were
characterized in terms of density and porosity, as well as chemical, physical and
mechanical analyzes were performed by SEM / EDS, SEM / FEG, XRD, RAMAN, XPS,
SEM / FIB, TEM, Profilometry and Ultra Microhardness. In general, the formation of
micro and macroporous Ti-β alloys were observed. The deposited coatings were
identified as biocompatible hydroxyapatite phase. According to the literature
hydroxyapatite is the most desired phase for implants application because it presents
chemical composition closer to the bone.
x
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
® - Marca Registrada
1D - Uma Dimensão
2D - Duas Dimensões
3D - Três Dimensões
ASTM - American Society for Testing and Materials
BA - Bicarbonato de Amônio
CaP - Fosfato de Cálcio
CBMM - Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração
CBPF - Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
CCC - Cúbica de Corpo Centrado
CENANO - Centro de Caracterização em Nanotecnologia para Materiais e Catálise
CITeC - Centro de Inovação e Tecnologia em Compósitos
CP - Comercialmente Puro
DCP - Fosfato Dicálcico
DCPD - Fosfato Dicálcico Dihidratado
DEMEC - Departamento de Engenharia Mecânica
DICOR - Divisão de Corrosão e Degradação
DR - Densidade Relativa
DRX - Difração de Raios-X
EBID - Deposição Induzida por Feixe de Elétrons
EBSD - Difração de Elétrons Retroespalhados
EDS - Espectroscopia por Energia Dispersiva
EUA - Estados Unidos da América
FCS - Fluído Corpóreo Simulado
FEG - Emissão de Elétrons por um Canhão de Emissão de Campo
FIB - Feixe de Íons Focalizados
GIS - Sistema de Injeção de Gases
GIXRD - Difração de Raios-X a Ângulo Rasante
HADF - Detector de Campo Escuro de Alto Ângulo
xi
HAP - Hidroxiapatita
HC - Hexagonal Compacta
HV - Dureza Vickers
INT - Instituto Nacional de Tecnologia
JPDS – Intenational Center for Diffraction Data
LACAT - Laboratório de Catálise
LACOR - Laboratório de Corrosão e Proteção
LACPM - Laboratório de Caracterização e Propriedades Mecânicas e Microestruturais
LATEP - Laboratório de Tecnologia de Pós
MA - Macroporosa
Map - Massa Aparente
MEV - Microscopia Eletrônica de Varredura
MI - Microporosa
MO - Microscopia Ótica
MP - Metalurgia do Pó
Ms - Massa Seca
Mu - Massa Úmida
Ra - Rugosidade Média
RGA - Analisador de Gases Residuais
SS - Solução Simplificada
MET - Microscopia Eletrônica de Transmissão
TQT - Tratamento Químico e Térmico
TTCP - Fosfato Tetracálcio
UFSJ - Universidade Federal de São João del-Rei
WDS - Espectroscopia de Raios-X Dispersiva no Comprimento de Onda
XPS - Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios-X
α-TCP - Alfa Fosfato Tricálcio
β-TCP - Beta Fosfato Tricálcio
xii
ÍNDICE DE FIGURAS
xiii
Figura 33: Comparação dos resultados de porosidade 70
Figura 34: Micrografias dos pós de (a) Ti, (b) Nb e (c) BA. ...................................................................... 71
Figura 35: Espectros EDS dos pós de: (a) Ti, (b) Nb. ................................................................................ 72
Figura 36: Difratograma do pó de Ti. ......................................................................................................... 72
Figura 37: Difratograma do pó de Nb. ....................................................................................................... 73
Figura 38: Microestrutura das ligas com amplificação de 200x: (a) Microporosa; (b) Macroporosa......... 74
Figura 39: Microestruturas obtidas em MEV das ligas: (a) Microporosa; (b) Macroporosa, com uma
amplificação de 1.000x............................................................................................................................... 74
Figura 40: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI sinterizada. .................................. 75
Figura 41: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA sinterizada. ................................ 75
Figura 42: Difratograma das ligas sinterizadas: (a) MA e (b) MI. ............................................................. 76
Figura 43: Microestruturas obtidas em MEV das ligas após o TQT, com amplificação de 1.000x (a)
Microporosa (MI_TQT); (b) Macroporosa (MA_TQT). ............................................................................ 77
Figura 44: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI após o TQT (MI_TQT). .............. 77
Figura 45: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA após o TQT (MA_TQT). ........... 78
Figura 46: Difratograma das ligas após TQT: (a) MA e (b) MI. ................................................................ 78
Figura 47: Microestruturas obtidas, em MEV, das ligas após revestimento de 14 dias, com uma
amplificação de 1.000x (a) Microporosa (MI_TQT_14); (b) Macroporosa (MA_TQT_14)...................... 79
Figura 48: Microestruturas obtidas, em MEV, das ligas após revestimento de 21 dias, com uma
amplificação de 1.000x (a) Microporosa (MI_TQT_21); (b) Macroporosa (MA_TQT_21)...................... 80
Figura 49: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI após o revestimento por 14 dias
(MI_TQT_14)............................................................................................................................................. 80
Figura 50: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA após o revestimento por 14 dias
(MA_TQT_14). .......................................................................................................................................... 81
Figura 51: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI após o revestimento por 21 dias
(MI_TQT_21)............................................................................................................................................. 81
Figura 52: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA após o revestimento por 21 dias
(MI_TQT_21)............................................................................................................................................. 81
Figura 53: Difratogramas das superfícies das ligas após deposição do revestimento de CaP por 14 dias: (a)
MA (MA_TQT_14) e (b) MI (MI_TQT_14). ............................................................................................ 82
Figura 54: Difratogramas das superfícies das ligas após deposição do revestimento de CaP por 21 dias: (a)
MA (MA_TQT_21) e (b) MI (MI_TQT_21). ............................................................................................ 83
Figura 55: Micrografia da superfície das amostras após o revestimento, aumento de 50.000x: (a)
Microporosa 14dias (MI_TQT_14); (b) Macroporosa 14dias (MA_TQT_14); (c) Microporosa 21dias
(MI_TQT_21); (d) Macroporosa 21dias (MA_TQT_21). .......................................................................... 84
Figura 56: Espectro RAMAN da amostra MI_TQT_14. ............................................................................ 85
Figura 57: Espectro RAMAN da amostra MA_TQT_14. .......................................................................... 85
Figura 58: Espectro RAMAN da amostra MI_TQT_21. ............................................................................ 86
Figura 59: Espectro RAMAN da amostra MA_TQT_21. .......................................................................... 86
Figura 60: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, e O1s para a amostra MI. .......................................... 87
Figura 61: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, e O1s para a amostra MA. ........................................ 87
Figura 62: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s e O1s para a amostra MI_TQT. ........................ 88
Figura 63: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s e O1s para a amostra MA_TQT........................ 89
Figura 64: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s, O1s, Ca2p e P2p para a amostra MI_TQT_21.... 91
Figura 65: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s, O1s, Ca2p e P2p para a amostra MA_TQT_21. . 92
Figura 66: Imagem de microscopia eletrônica de transmissão da seção transversal da amostra
MI_TQT_21. .............................................................................................................................................. 96
Figura 67: Imagem de microscopia eletrônica de transmissão da amostra MI_TQT_21 e espectros de EDS
da região do substrato (Área 1) e da região do revestimento de HAP (Área 2).......................................... 96
Figura 68: Imagem de microscopia de transmissão e espectro de EDS do revestimento de HAP da amostra
MI_TQT_21. .............................................................................................................................................. 97
Figura 69: Imagens de MEV (a) e MET (b,c) do revestimento de CaP da amostras MI_TQT_21:
identificação de duas diferentes morfologias de HAP. ............................................................................... 98
Figura 70: Difratograma da amostra MI_TQT refinado pelo método de Rietveld. .................................... 99
Figura 71: Imagens de MET do revestimento de HAP da amostra MI_TQT_21. Sequência de
magnificações da região do revestimento de HAP da amostra MI_TQT_21. ............................................ 99
Figura 72: Imagem de MET com aumento de do revestimento de HAP da amostra MI_TQT_21:
determinação da distância interplanar. ..................................................................................................... 100
Figura 73: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após sinterização e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 101
xiv
Figura 74: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após TQT e imagem 3D correspondente.101
Figura 75: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após revestimento e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 102
Figura 76: Evolução da rugosidade na amostra MI para revestimento de 14 dias. ................................... 102
Figura 77: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após sinterização e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 102
Figura 78: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após TQT e imagem 3D correspondente.103
Figura 79: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após revestimento e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 103
Figura 80: Evolução da rugosidade na amostra MI para revestimento de 21 dias. ................................... 104
Figura 81: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após sinterização e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 104
Figura 82: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após TQT e imagem 3D correspondente.
.................................................................................................................................................................. 105
Figura 83:Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após revestimento e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 105
Figura 84: Evolução da rugosidade na amostra MA para revestimento de 14 dias. ................................. 106
Figura 85: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após sinterização e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 106
Figura 86: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após TQT e imagem 3D correspondente.
.................................................................................................................................................................. 107
Figura 87: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após revestimento e imagem 3D
correspondente.......................................................................................................................................... 107
Figura 88: Evolução da rugosidade na amostra MA para revestimento de 21 dias. ................................. 108
Figura 89: Comparação entre as microdurezas das ligas MI e MA. ......................................................... 109
xv
ÍNDICE DE TABELAS
xvi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 19
1.1 OBJETIVOS............................................................................................................................ 21
1.1.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................... 21
1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 21
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 21
2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 23
2.1 BIOMATERIAIS .................................................................................................................... 23
2.1.1 CLASSIFICAÇÃO DOS BIOMATERIAIS ..................................................................... 24
2.1.2 PROPRIEDADES MECÂNICAS ..................................................................................... 25
2.1.3 PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS .......................................................................... 27
2.1.4 BIOCOMPATIBILIDADE ................................................................................................ 27
2.2 TITÂNIO ................................................................................................................................. 30
2.2.1 LIGAS QUASE-α (NEAR-α) ............................................................................................. 34
2.2.2 LIGAS α + β ........................................................................................................................ 34
2.2.3 LIGAS β-METAESTÁVEIS .............................................................................................. 35
2.2.4 LIGAS β............................................................................................................................... 35
2.3 SISTEMA TITÂNIO-NIÓBIO .............................................................................................. 36
2.4 FOSFATO DE CÁLCIO ........................................................................................................ 38
2.4.1 HIDROXIAPATITA e β FOSFATO TRICÁLCIO ......................................................... 39
2.5 POROSIDADE ........................................................................................................................ 41
2.6 METALURGIA DO PÓ ......................................................................................................... 44
2.7 MODIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIE ..................................................................................... 44
2.7.1 TRATAMENTOS QUÍMICOS E TÉRMICOS (TQT) ................................................... 45
2.7.2 MÉTODO BIOMIMÉTICO .............................................................................................. 46
2.8 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO ................................................................................ 47
2.8.1 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) ....................................... 47
2.8.2 ESPECTROSCOPIA POR ENERGIA DISPERSIVA (EDS) ........................................ 48
2.8.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX) .................................................................................... 48
2.8.4 ESPECTROSCOPIA RAMAN ......................................................................................... 49
2.8.5 ESPECTROSCOPIA DE FOTOELÉTRONS EXCITADOS POR RAIOS-X (XPS) .. 50
2.8.6 FEIXE DE ÍONS FOCALIZADOS (FIB) ........................................................................ 50
2.8.7 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO (MET) .................................... 51
2.8.8 PERFILOMETRIA ............................................................................................................ 52
2.8.9 MICRODUREZA ............................................................................................................... 53
3. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 54
3.1 MATERIAIS ........................................................................................................................... 54
3.2 MÉTODOS .............................................................................................................................. 55
3.2.1 PRODUÇÃO DAS LIGAS ................................................................................................. 55
3.2.2 DEPOSIÇÃO DO REVESTIMENTO .............................................................................. 58
3.3 CARACTERIZAÇÕES .......................................................................................................... 62
xvii
3.3.1 DENSIDADE E POROSIDADE ....................................................................................... 62
3.3.2 MEV/EDS ............................................................................................................................ 63
3.3.3 MEV/FEG ........................................................................................................................... 64
3.3.4 DRX e GIXRD .................................................................................................................... 64
3.3.5 RAMAN ............................................................................................................................... 65
3.3.6 XPS ...................................................................................................................................... 65
3.3.7 MEV/FIB e MET ................................................................................................................ 66
3.3.8 PERFILOMETRIA ............................................................................................................ 68
3.3.9 ULTRA MICRODUREZA ................................................................................................ 68
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................................................... 69
4.1 DENSIDADE E POROSIDADE ............................................................................................ 69
4.2 MEV/EDS, DRX e GIXRD ..................................................................................................... 71
4.2.1 MATÉRIAS-PRIMAS........................................................................................................ 71
4.2.2 LIGAS APÓS SINTERIZAÇÃO ...................................................................................... 73
4.2.3 LIGAS APÓS TQT ............................................................................................................. 76
4.2.4 LIGAS APÓS REVESTIMENTO ..................................................................................... 79
4.3 MEV/FEG ................................................................................................................................ 83
4.4 RAMAN ................................................................................................................................... 84
4.5 XPS ........................................................................................................................................... 86
4.6 MEV/FIB ................................................................................................................................. 95
4.7 PERFILOMETRIA .............................................................................................................. 100
4.7.1 AMOSTRA MI PARA REVESTIMENTO DE 14 DIAS .............................................. 100
4.7.2 AMOSTRA MI PARA REVESTIMENTO DE 21 DIAS .............................................. 102
4.7.3 AMOSTRA MA PARA REVESTIMENTO DE 14 DIAS ............................................. 104
4.7.4 AMOSTRA MA PARA REVESTIMENTO DE 21 DIAS ............................................. 106
4.8 ULTRA MICRODUREZA................................................................................................... 108
5. CONCLUSÕES .............................................................................................................................. 110
6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................................................ 112
7. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 113
xviii
1. INTRODUÇÃO
1
Stress shielding: efeito de perda de densidade óssea, de um ser humano ou de um animal, devido à substituição do órgão
(osso) por um implante. A remodelação óssea se dá em forma de resposta as cargas mecânicas aplicadas no mesmo e
quando se tem um implante, este impede que o tecido seja exposto à níveis normais de esforço. Sendo que, quanto menor
a carga sobre o osso, menos denso e mais frágil ele será, podendo ocasionar a sua perda (KUHN, 2012).
19
de fundição ainda apresentam um módulo de elasticidade muito maior que o osso cortical
(MATSUMOTO et al., 2007; GRIZA et al., 2014). Assim, o uso de estrutura porosa representa uma
possível solução para o problema de stress shielding. Além da redução do módulo de elasticidade, a
porosidade leva ao aumento da área superficial de contato implante-osso, o que permite maior
interação e o crescimento de tecido ósseo dentro dos poros, favorecendo a adesão celular e a
osteointegração dos implantes (HUANG et al., 2014; SHI et al., 2017).
Estudos têm mostrado que a Metalurgia do Pó (MP) é uma técnica alternativa eficiente para
fabricar implantes biomédicos com porosidade controlada, com a vantagem de todas as etapas serem
realizadas na fase sólida. Além disso, o grau de consolidação dos pós pode ser alcançado pelo
controle dos parâmetros de processamento (MEDIASWANTI, 2012). A metalurgia do pó também
permite produção mais barata de ligas β-Ti, fácil processamento e fabricação de pequenos elementos
de formas complicadas (FOJT, 2013; OLIVEIRA, 2015).
O tipo de fixação mecânica que ocorre em estruturas metálicas porosas é eficaz em
implantes ortopédicos já comercializados. Contudo, além da fixação mecânica devem ocorrer
ligações químicas entre o osso e o implante, as quais são favorecidas por revestimentos à base de
fosfato de cálcio - CaP (XIONG et al., 2010). Diferentes métodos têm sido desenvolvidos para
modificar química e topograficamente a superfície dos implantes de Ti e ligas de Ti (por exemplo,
liga de TiNb) no intuito de obter respostas biológicas favoráveis (RIBEIRO et al., 2012, HELTH et
al., 2014). Dentre estes, se destaca o processo biomimético, que imita o processo de mineralização
óssea (RIBEIRO et al., 2013; OLIVEIRA, 2014).
O processo biomimético envolve a nucleação e crescimento de cristais similares ao do osso
sobre um substrato (pré-tratado quimicamente) por imersão em uma solução de CaP sob condições
fisiológicas de temperatura (37 ºC) e pH (7). Este método, originalmente desenvolvido por Kokubo
(1998), tem sofrido aprimoramento e refinamento por vários grupos de pesquisa. O processo é
simples, de baixo custo, pode ser aplicado mesmo em materiais sensíveis ao calor, não condutores,
porosos, de grandes dimensões e com geometrias de superfície complexas, sem afetar a morfologia
dos poros. O processo confere boa adesão da camada de CaP no substrato (LIU e HUNZIKER,
2009).
O pré-tratamento químico pode envolver tratamentos ácidos, tratamentos térmicos alcalinos
ou tratamentos com peróxidos, para produzir grupos hidroxilas (OH-) e induzir a formação de
hidroxiapatita na superfície (XIONG et al., 2010). Por exemplo, quando o titânio e suas ligas são
submetidos ao pré-tratamento com hidróxido de sódio (NaOH), o óxido de titânio reage com a
solução de NaOH, formando uma camada de hidrogel de titanato de sódio que se transforma em
titanato de sódio amorfo e/ou cristalino através do tratamento térmico. Posteriormente, durante a
20
imersão em Fluido Corpóreo Simulado (FCS), o íon sódio na superfície da camada substitui o H3O+
no FCS para produzir grupos Ti-OH na superfície do Ti ou liga de Ti e aumentar a atividade iônica
do CaP no FCS. Esses grupos induzem a nucleação do CaP, aumentando a sua atividade. Após
imersão em FCS, a nucleação heterogênea e o crescimento de CaP na superfície do titânio ou liga de
titânio são iniciados pela ligação química dos aglomerados nanométricos, com dimensão na faixa de
100-150 nm de espessura (de ANDRADE et al., 2002).
Estudos in vitro e in vivo mostram que implantes de titânio revestidos com hidroxiapatita
produzem um suporte funcional quimicamente adequado possuindo grande área específica,
garantindo melhor adesão do osso regenerado à superfície do implante (METIKOS-HUKOVIC et
al., 2003; TOBIN, 2017). Esta aposição óssea é resultado da calcificação da superfície de implantes,
devido à supersaturação do FCS e propriedades da superfície de titânio ou liga de titânio (REY et
al., 2007; TRUJILLO-DOMÍNGUEZ et al., 2017). Como demonstrado por Ribeiro et al. (2012), o
método biomimético é aplicável para a deposição do revestimento de CaP em substratos de titânio
densos e porosos. Sendo assim, esta técnica possui potencial para ser utilizada em ligas Ti-Nb
porosas.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 OBJETIVO GERAL
Objetivou-se com este projeto de mestrado produzir ligas de titânio-nióbio com estruturas
micro e macroporosa, via metalurgia do pó e revestidas com fosfato de cálcio, depositado pelo método
biomimético, para aplicação como biomaterial.
1.2 JUSTIFICATIVA
O constante desenvolvimento da medicina leva a um crescente aumento da expectativa de
vida, além de que a população busca cada vez mais a melhoria do bem-estar do ser humano. Desta
21
forma se faz necessário o desenvolvimento de biomateriais cada vez mais adaptados as necessidades.
É cada vez maior a procura por materiais que não interfiram, de forma negativa, no ser vivo e que
sejam mais biocompatíveis e bioativos.
As próteses ortopédicas possuem geometrias cada vez mais complexas e que devem ser
produzidas de forma muito específica a cada paciente, demandando a utilização de técnicas de
fabricação adaptadas, como a metalurgia do pó.
Implantes mais adequados levam a redução do número de cirurgias de revisão e de re-
implante, diminuindo custos com despesas médicas e amenizando o sofrimento dos pacientes. Sendo
assim, a utilização de materiais adequados e tratamentos de superfícies apropriados podem tornar os
materiais metálicos bioativos e com isso acelerar o processo de osteointegração, culminando em um
período pós-operatório reduzido ao paciente, o que é traduzido em incontáveis benefícios.
Os materiais de mais ampla utilização em implantes ortopédicos nos dias atuais são as ligas
de titânio, que apresentam elevado módulo de elasticidade quando comparadas ao osso e não induzem
a osteointegração (LIU et al., 2017). Entretanto, Chicardi et al. (2018), afirma que ligas de titânio do
tipo β, estabilizadas por Nb, por exemplo, possuem baixo módulo elástico. Trujillo-Domínguez et al.
(2017) demostraram a potencialidade da porosidade na osteointegração do implante. Desta forma, o
desenvolvimento de uma liga de Ti-Nb com porosidade controlada apresenta grande potencial para
aplicação em implantes. Finalmente, no intuito de melhorar a osteointegração do implante, a
aplicação de revestimento bioativo de fosfato de cálcio é de grande valor (TOBIN, 2017).
22
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo é dedicado a uma ampla revisão de conceitos essenciais para a compreensão
deste trabalho de pesquisa. Inicialmente é apresentada uma vasta explanação a respeito de
biomateriais, suas características e algumas de suas classificações. Em seguida são apresentadas
propriedades e características das matérias-primas utilizadas neste trabalho, assim como os materiais
obtidos nos processos experimentais. As técnicas produtivas adotadas também serão aqui
apresentadas e por fim as caracterizações empregadas.
2.1 BIOMATERIAIS
A temática a respeito de biomateriais foi pautada pela primeira vez durante um encontro de
pesquisadores realizado em 1969 na Universidade de Clemson na Carolina do Sul (EUA) e desde
então vem sendo aprimorada (ROCHA, 2016).
Uma acepção mais atual do termo biomaterial é definida como:
“uma substância que foi projetada para assumir uma forma que, sozinho ou como
parte de um sistema complexo, é usado para direcionar, pelo controle das interações
com os componentes dos sistemas vivos, o curso de qualquer procedimento
terapêutico ou de diagnóstico, em medicina humana ou veterinária” (WILLIANS,
2009).
São muito conhecidos como biomateriais os implantes dos mais diversos tipos (dentários,
ósseos, enxertos, etc.), mas além destes, também se enquadram nesta gama os dispositivos médicos,
como órgãos artificiais. Deve-se ressaltar, porém, que materiais que não somente estão em contato
com a pele, não são definidos como biomateriais, já que a pele serve de barreira de proteção entre o
corpo e o meio exterior (ROCHA, 2016).
De forma geral e simplificada, os biomateriais são aqueles que têm por função substituir
e/ou melhorar a função de tecidos e órgãos, permitindo uma melhoria da expectativa e qualidade de
vida de pacientes. Esta classe de materiais vem se expandindo de forma expressiva desde a década
de 1980, mas ainda possui um longo caminho a percorrer. Na Figura 1 tem-se uma ilustração dos
rumos seguidos por esta evolução. Em um primeiro momento a medicina procurava materiais que
pudessem “imitar” um órgão ou tecido, sem grande preocupação com as interações em pequena
escala, o que vem mudando a partir de 2010. Atualmente, os estudos focam em processos de
produção de biomateriais inspirados nas atividades celulares e as interações moleculares e sistêmicas
material-organismo são extremamente relevantes.
23
Figura 1: Evolução dos biomateriais.
24
2.1.1.2 MATERIAIS BIOINERTES
Já tratando-se desta outra gama de biomateriais, temos que eles são análogos aos
biotolerantes, exceto pelo fato de permitirem uma interação entre o órgão e o material. No caso de
implantes ortopédicos, por exemplo, ocorre uma neoformação óssea - osteogênese (ROCHA, 2010).
Os mais conhecidos desta classe de materiais são: o titânio e suas ligas, o óxido de alumínio,
o óxido de zircônio, o carbono e o nitreto de silício.
25
Dureza: de forma simplificada, esta propriedade diz respeito à resistência de um material ao
ser deformado, indentado ou penetrado. Assim como para o módulo de elasticidade, a dureza do
implante deve ser próxima a do osso com o qual está em contato direto, pois caso haja grande
diferença, o material mais duro pode acabar penetrando no menos duro (HUDECKI; KIRYCZYŃSKI
e ŁOS, 2019).
Resistência à fadiga: tal propriedade é associada a movimentos cíclicos que levam a alteração
da microestrutura, causando a falha do material. Próteses de substituição do quadril, por exemplo,
estão sujeitas a constante e cíclica movimentação, o que pode levar à alteração da microestrutura
inicial e consequente falha da mesma. Desta forma, é necessária a adequação de tal propriedade à
devida aplicação (TEOH, 2000).
Resistência ao desgaste: como o próprio nome já diz, esta é a propriedade associada à
capacidade do material não se desgastar e perder massa em um processo de fricção, por exemplo. Se
um implante sofre os efeitos de desgaste e libera no organismo resquícios de material, isso pode
ocasionar sérios problemas de saúde, principalmente de ordem inflamatória (PATEL et al., 2012).
Quando se trata de biomateriais metálicos o desgaste pode acelerar o processo corrosivo e liberar íons
tóxicos ou até mesmo cancerígenos na corrente sanguínea (SINGH e DAHOTRE, 2007).
Tabela 1: Propriedades dos principais materiais empregados em implantes (ZHURAVLEVA, 2014; KAUR e SINGH,
2019; LEYENS e PETERS, 2003; AJEEL, ALZUBAYDI e SWADI,, 2007; ORLOVSKII, KOMLEV e BARINOV, 2002;
MORAES, 2004).
Limite de Tenacidade a
Densidade Módulo
Material Escoamento fratura
(g/cm3) Elástico (GPa)
(MPa) (MPa/√𝒎)
Osso cortical2 1,8 - 2,1 15 - 30 30 - 70 3-6
Aço Inoxidável 7,9 - 8,1 189 - 210 170 - 690 50 - 200
Ligas Co-Cr 8,3 - 9,2 210 - 253 310 - 1586 N.A.
Ligas Ti-α 4,4 - 4,5 110 - 117 758 - 1117 55 - 115
Ti6Al4V 4,4 - 4,5 110 - 140 800 - 1100 33 - 110
Ti6Al7Nb 4,51 - 4,53 100 - 110 895 - 905 68 - 75
Alumina 3,94 - 3,97 380 N.A. 4-6
Zircônia 5,74 - 6 210 N.A. 7 - 15
2
O osso cortical é a superfície externa densa do osso que forma uma camada protetora ao redor da cavidade interna. Esse
tipo de osso, também conhecido como osso compacto, representa quase 80 % da massa esquelética e é imprescindível
para a estrutura do corpo e para o peso devido à sua alta resistência à flexão e torção.
26
De forma geral, busca-se sempre utilizar, em implantes, materiais com as características
mecânicas mais próximas possíveis às dos tecidos que irão substituir e/ou reparar. Sendo assim, na
Tabela 1 são apresentadas as propriedades mecânicas de alguns materiais comumente usados em
implantes, em comparação às propriedades de ossos humanos.
2.1.4 BIOCOMPATIBILIDADE
Uma outra característica de grande importância para um biomaterial é a biocompatibilidade.
Este conceito vem sofrendo grandes mudanças ao longo dos anos, principalmente por conta dos
significativos avanços na engenharia de tecidos. De uma forma geral, esta é a habilidade do material
27
não-vivo (biomaterial) de desenvolver resposta biológica apropriada ao entrar em contato com o
organismo (WANG et al., 2009).
2.1.4.1 OSTEOINTEGRAÇÃO
O conceito de osteointegração surgiu a partir de experimentos realizados por Brånemark em
1962 em animais. Na época, o pesquisador observou o fenômeno de ancoragem óssea direta dos
implantes ao serem fixados na arcada dentária dos animais. Então, em 1976 o mesmo pesquisador
batizou esta ancoragem direta com o nome de osteointegração, e a definiu como um contato direto
entre implantes e ossos em nível microscópico (ADELL et al., 1981). A Figura 2 traz um esquema
ilustrativo do processo de osteointegração, onde é possível observar o processo de adesão celular ao
implante, assim como as modificações celulares que ocorrem na interface implante-osso.
A osteointegração tornou-se um fenômeno de grande importância não somente para a
odontologia, mas também para a ortopedia, sendo que diversos outros pesquisadores iniciaram
pesquisas nesta temática. A osteointegração ocorre quando não há movimento relativo progressivo
entre o implante e o osso com o qual está em contato direto (GUGLIELMOTTI, OLMEDO e
CABRINI, 2019).
Segundo Mavrogenis et al. (2009) o processo de osteointegração passa por três etapas:
1) Resposta inicial do tecido ao implante: este estágio se inicia no procedimento cirúrgico,
com a perfuração e encaixe do implante no osso. A primeira estabilidade que ocorre é
decorrente da aposição mecânica passiva e do envolvimento entre o implante e o osso
(LEE e BANCE, 2019). Traumas ou lesões causados durante a cirurgia geram uma
resposta inflamatória, onde há liberação de citocinas que formam uma matriz
extracelular e um hematoma para reparo ósseo. (LOTZ et al., 2018). Dentro do coágulo,
as plaquetas sofrem adesão e agregação, e a matriz de fibrina resultante serve de suporte
para a migração (osteocondução), proliferação e diferenciação (osteoindução) de
leucócitos e células mesenquimais das vênulas pós-capilares para o local peri-implantar
(NEUSS et al., 2010). Esse processo ocorre entre 1 a 3 dias após o implante cirúrgico
(LEE e BANCE, 2019).
2) Osteogênese peri-implantar: durante os primeiros 7 dias após implantação, a
angiogênese ocorre dentro do espaço peri-implantar, e do dia 1 a 2 semanas, as células
mesenquimais se diferenciam em osteoblastos, que formam um tecido rico em células
ósseas, mas imaturo, por meio da ossificação intramembranosa (BERGLUNDH et al.,
2003). As células produzem uma matriz extracelular não colagenosa afibrilar de 0,5 mm
de espessura, rica em cálcio, fósforo, osteopontina e sialoproteína óssea, na superfície
28
do implante (MEYER et al., 2004). O tecido ósseo continua a se formar por duas
semanas após o implante, com a superfície do implante agindo como um suporte
biomimético (NIKLAUS et al., 2011).
3) Remodelação óssea peri-implantar: os osteoclastos conduzem um processo de
reabsorção e remodelação óssea do tecido e uma substituição pelo osso lamelar com
maior grau de mineralização. O implante induz o hospedeiro a favorecer a remodelação
óssea sobre a reabsorção. Os osteoclastos aderem à matriz de colágeno mineralizado,
formando uma zona de vedação, depositando o osso diretamente na superfície do
implante. O osso lamelar suporta uma carga maior, com fibras ósseas depositadas em
formação paralela e novos osteons circulando ao redor do implante com seus eixos
longos perpendiculares ao eixo longo dos implantes (LEE e BANCE, 2019), isso
fornece fixação secundária ativa do implante por meio de ligação biológica (MULARI
et al., 2004). Após 3 meses do implante, uma textura mista de tecido e osso lamelar
pode ser encontrada ao redor do implante, enquanto o estágio tardio da osteointegração
pode levar um ano ou mais para ser concluído (LEE e BANCE, 2019).
Figura 2: Mecanismo de osteointegração entre implante de titânio e osso (BIGUETTI et al., 2015).
2.1.4.2 OSTEOINDUÇÃO
A osteoindução pode ser definida como o processo em que células primitivas,
indiferenciadas e pluripotentes são estimuladas a se desenvolverem em uma linhagem celular óssea
(ALBREKTSSON e JOHANSSON, 2001). Em síntese, é o processo indutor da osteogênese e um
mecanismo biológico básico que ocorre na cicatrização de fraturas e na incorporação de implantes.
29
Além das células ósseas diferenciadas, osteoblastos, osteoclastos e osteócitos, o osso e os
tecidos em seu entorno possuem um número de células menos diferenciadas (ALBREKTSSON e
JOHANSSON, 2001). Estas células são de extrema importância para o processo de cura, ou seja,
para a ancoragem óssea do implante, uma vez que podem formar células osteoprogenitoras e, com o
tempo, evoluir para células ósseas diferenciadas.
2.1.4.3 OSTEOCONDUÇÃO
Este processo é definido por Albrektsson e Johansson (2001) como o crescimento ósseo em
uma superfície de material diferente, no caso, um implante. Sendo assim, temos que uma superfície
é considerada osteocondutora quando permite que haja crescimento ósseo, seja em seus poros, canais
ou tubos.
O processo ostecondutivo depende da diferenciação de células ósseas na superfície, sendo
que estas podem se originar de pré-osteoblastos/osteoblastos pré-existentes, que são ativados em
traumas, ou em células recrutadas a partir de células mesenquimais primitivas de osteoindução
(ALBREKTSSON e JOHANSSON, 2001). Essa é a forma que o processo de osteocondução é
dependente de uma prévia osteoindução na superfície.
No entanto é relevante o fato de que esse processo não depende apenas das condições
celulares, mas também do biomaterial utilizado e das reações que ele causa. Tem-se, por exemplo,
que a condução óssea não é possível com materiais, como cobre e prata (ALBREKTSSON e
JOHANSSON, 2001).
2.2 TITÂNIO
Em 1791 o reverendo William Gregor avistou pela primeira vez o titânio na forma de uma
areia preta chamada menachanita na Cornualha, Inglaterra. Ele então analisou e deduziu que era um
composto de óxidos de ferro e de um metal desconhecido, e relatou tal fato à Royal Geological
Society of Cornwall. Quatro anos após este fato, o cientista alemão Martin Heinrich Klaproth, de
Berlim, estava investigando um minério vermelho conhecido como Schörl, proveniente da Hungria.
Este minério é uma forma do rutilo (TiO2). Klaproth percebeu que era um óxido de um elemento
anteriormente desconhecido que o denominou de titânio. Quando foi informado da descoberta de
Gregor, ele investigou a menachanita e confirmou que ela também continha titânio (EMSLEY,
1998).
Contudo, somente em 1910 o engenheiro Matthew A. Hunter, trabalhando na General
Electric nos EUA, conseguiu produzir o metal titânio em sua forma pura, aquecendo o tetracloreto
de titânio e sódio.
30
O titânio é um metal alotrópico, ou seja, pode se cristalizar em diversas estruturas, porém
cada modificação somente é estável dentro de faixas de temperatura específicas, sendo a respectiva
temperatura de transformação chamada de temperatura transus (LEYENS e PETERS, 2003).
A Tabela 2 traz as principais características físicas do Ti, enquanto na Figura 3 é possível
visualizar as principais transformações alotrópicas e respectivas estruturas cristalinas do elemento
em sua forma pura.
Propriedades do Ti Valores
Número atômico 22
Configuração eletrônica externa 3d24s2
Peso atômico 47,90
Densidade (g/cm3) 4,54
Volume atômico (cm3) 10,81
Ponto de fusão (ºC) 1668
Ponto de ebulição (ºC) 3260
Coeficiente de expansão térmica a 20 ºC (K-1) 8,4 × 10-6
Condutividade térmica (W/(mK)) 19,2
Temperatura de transição de fase (ºC) 882,5
Módulo de elasticidade (GPa) 105
Tensão de escoamento (MPa) 692
Tensão de ruptura (MPa) 785
Resistividade elétrica (μΩ.cm) 42 - 55
Potencial de ionização (eV) 6,83
Eletronegatividade 1,6
Em condição ambiente o Ti puro possui uma microestrutura hexagonal compacta (HC), que
também é conhecida por fase alfa (α). Acima de 882,5 ºC ocorre a transformação alotrópica do Ti-α
em uma nova estrutura, a cúbica de corpo centrado (CCC), também conhecida por fase beta (β).
31
Figura 3: Transformações alotrópicas do Ti (adaptado de Rocha, 2010 e LEYENS e PETERS, 2003).
Figura 4: Diagramas de fases esquemáticos sobre a influência de diversos elementos de liga (adaptado de BANERJEE
e WILLIAMS, 2013).
Figura 5: Diagrama de fases tridimensional para classificar ligas de Ti (adaptado de LEYENS e PETERS, 2003).
2.1.1 LIGAS α
Este grupo de ligas é normalmente empregado nas indústrias de engenharia química e de
processos, devido à sua alta resistência, excelente resistência à corrosão e comportamento na
deformação.
O titânio CP possui microestrutura inteiramente composta por grãos da fase α, sendo assim
possui elevada resistência à corrosão (CHUN et al., 2005). As subclassificações deste tipo de liga
baseiam-se na quantidade de O e Fe presentes. Ti grau 1 contém 0,2 % em peso de Fe e 0,18 % em
peso de O e baixa resistência mecânica, mas excelente conformabilidade a frio (LEYENS e PETERS,
2003). Todavia, o Ti grau 2 é o mais utilizado entre as ligas de Ti-α, possuindo 0,3 % em peso de Fe
e 0,25 % em peso de O. Sua resistência a tração varia entre os valores de 390 e 540 MPa (LEYENS
e PETERS, 2003). Já as ligas Ti grau 3 (0,3 % em peso de Fe e 0,32 % em peso de O) aparecem
como ligas menos utilizadas, sendo empregadas apenas onde se exige alta resistência e espessura de
parede do componente reduzida (vasos de pressão, por exemplo) (LEYENS e PETERS, 2003). Por
sua vez, o Ti grau 4 (com 0,5 % em peso de Fe e 0,4 % em peso de O) possui elevada resistência à
tração (acima de 740 MPa) (LEYENS e PETERS, 2003). Finalmente, existem as ligas Ti graus 7 e
12, as quais possuem o mesmo teor de O e Fe do Ti grau 2 mas com adição de Mo e Pb, o que
aumenta a resistência à corrosão (LEYENS e PETERS, 2003).
As ligas Ti-α ligadas, usualmente são empregadas em altas temperaturas ou em condições
criogênicas. Os principais elementos alfa estabilizadores são: Al, Sn, Zr, N e O (SCOTTI, 2016).
Esses elementos formam uma solução sólida e levam a um aumento da dureza da liga, o que as torna
inadequadas para operações de forjamento, por exemplo (SCOTTI, 2016), mas por serem insensíveis
33
a tratamento térmico são adequadas para soldagem. A liga Ti-α ligada mais comum e utilizada é a
Ti5Al2,5Sn, usada em tanques de armazenamento de hidrogênio líquido para veículos espaciais
(WEISS e SEMIATIN, 1998).
2.2.2 LIGAS α + β
As ligas α + β contêm uma fração mais alta de estabilizadores β em relação às ligas α e
quase-α. O campo bifásico α + β permite a realização de variados tratamentos térmicos e
processamentos, os quais são geralmente recozimentos nos campos da fase β ou α + β. Estes
tratamentos podem ainda ser de solubilização ou envelhecimento, o que leva a uma variedade de
combinações de microestrutura e de propriedades. Ligas com baixo teor de β estabilizadores são
altamente soldáveis, mas com o aumento dos mesmos, a dureza aumenta e a soldagem se torna mais
dificultada. Estas ligas possuem menor densidade e maior resistência à corrosão quando comparadas
às ligas de alumínio e aos aços de baixa liga (ZHANG, 2009).
A liga mais popular desta categoria é a Ti6Al4V, desenvolvida nos Estados Unidos há mais
de 60 anos e é amplamente utilizada na indústria aeroespacial. O sucesso de seu uso é advindo do
bom equilíbrio de suas propriedades: boa ductilidade e resistência mecânica, associadas à boa
resistência à corrosão e oxidação, tendo sua microestrutura constituída por grãos α e β não
34
transformados (SCOTTI, 2016). A microestrutura típica da Ti6Al4V é composta pela fase α acicular
e uma pequena quantidade de β intergranular na matriz α equiaxiada (KIM et al., 2004). Outras ligas
α+β conhecidas são as Ti-6-6-2 e a IMI 550, desenvolvidas para aplicações que demandam alta
resistência mecânica; a Ti-6-2-4-6 caracterizada por sua alta resistência e tenacidade, a Ti-6-2-2-2-2
e a Ti-17 usadas em aplicações com temperaturas elevadas, como motores de turbinas a gás.
(LEYENS e PETERS, 2003)
2.2.4 LIGAS β
Tem-se, por definição, que as ligas β são aquelas onde não ocorre transformação
“martensítica” após a têmpera até a temperatura ambiente e há a formação de uma fase β metaestável.
A fase α pode ser precipitada a partir da fase β metaestável em forma de partículas finas e fortes após
envelhecimento e resfriamento à temperatura ambiente. Este tipo de liga exibe alta resistência
mecânica, que pode ser controlada pela dispersão da fase α na matriz β (ZHANG, 2009).
Estas ligas podem ser facilmente laminadas a frio e em tiras, diferentemente das ligas α +
β, que apresentam limitações quanto à redução da espessura de suas chapas. Além disso, para peças
forjadas a quente ou em forjamento isotérmico de precisão, algumas ligas β podem ser trabalhadas
em temperaturas mais baixas, resultando em menores custos. As ligas β podem ser tratadas
termicamente para se obter uma ampla faixa de resistência mecânica, superando 1400 MPa,
permitindo, assim, uma combinação de resistência e tenacidade à fratura (ZHANG, 2009).
Algumas ligas β comerciais são a Beta C (Ti3Al8V6Cr4Mo4Zr), a TIMETAL® 15-3
(Ti15V3Cr3Sn3Al), a TIMETAL® 21S (Ti15Mo3Nb3Al0,2Si), a TIMETAL® 10-2-3
(Ti10V2Fe3Al) e a Beta-CEZ® (Ti5Al2Sn2Cr4Mo4Zr1Fe), sendo a maioria delas empregadas na
indústria aeronáutica (ZHANG, 2009).
35
2.3 SISTEMA TITÂNIO-NIÓBIO
Inúmeras pesquisas têm se concentrado no desenvolvimento de ligas de titânio β pois estas
apresentam boa biocompatibilidade, não são citotóxicas, possuem bom comportamento mecânico e
alta resistência à corrosão (LUZ et al., 2019). Atualmente, dentro dessa classe de ligas, as de Ti-Nb
vêm ganhando preferência nas aplicações biomédicas, por conta da ótima combinação de
biocompatibilidade e de propriedades mecânicas (VISHNU et al., 2019). MILOŠEV et al. (2008)
demonstraram que ambos elementos possuem excelente biocompatibilidade realizando a liberação
de íons metálicos de Ti e Nb em meio de células osteoblásticas L929 e fibroblásticas MC3T3-E1.
Este estudo in vitro verificou que os íons não exercem efeito prejudicial no crescimento celular.
Quanto à compatibilidade mecânica das ligas de Ti-Nb, é importante observar que o módulo
elástico das ligas de Ti pode ser reduzido a valores correspondentes aos do osso humano quando a
liga formada é completamente composta por fase β (LI et al., 2014).
Quando se trata do diagrama de fases de equilíbrio do sistema Ti-Nb, existem apenas duas
fases sólidas estáveis: a hexagonal compacta (α) e a cúbica de corpo centrado (β). Como pode ser
observado no diagrama de fases (Figura 6), a temperatura de transformação alotrópica do titânio é
de 882 ºC.
Com um teor de Nb muito baixo, até 3 % em massa atômica, a fase estável à temperatura
ambiente é a fase α de HC, já com o aumento do teor de Nb, a mistura α+β se estabiliza à temperatura
ambiente. Quanto maior o teor de Nb na liga, maior a fração de fase β presente. A uma concentração
de 40 % em peso de Nb, a fase beta torna-se estável à temperatura ambiente. Normalmente, a fase β
é uma fase que se estabiliza em altas temperaturas, sendo que a mesma diminui com o aumento do
teor de Nb.
Figura 6: Diagrama de fases no equilíbrio do sistema binário Ti-Nb (adaptado de ASM International, 1996).
36
Em concentrações entre 14,3 e 25,5 % em peso de Nb, as ligas podem apresentar
precipitados de uma fase chamada ω, se resfriadas de forma lenta a temperaturas abaixo de 20 ºC
e/ou fase “martensítica” se submetidas a rápida têmpera. Já as ligas com concentrações superiores a
25 % em peso de Nb nunca terão microestrutura “martensítica” à temperatura ambiente. Para ligas
temperadas com composições variando entre 25,5 e 42,2 % em peso de Nb podem ocorrer
precipitados da fase ω em temperatura ambiente, e por fim, ligas que possuem teores maiores que
42,2 % em peso de Nb sempre serão monofásicas (fase β) a temperatura ambiente (MOFFAT e
KATTNER, 1988; ZHURAVLEVA, 2014).
As diferentes fases das ligas Ti-Nb, tanto estáveis quanto metaestáveis, possuem variados
valores de módulo de elasticidade. A fase β está associada aos menores valores deste módulo e a fase
ω aos mais elevados (SUN et al., 2007; IKEHATA et al., 2004). Em seu trabalho, Ozaki et al. (2004)
demonstrou a correlação existente entre a concentração de Nb e o módulo de elasticidade da liga. É
necessário se atentar para o fato que a curva foi plotada para ligas fundidas após a têmpera em moldes
de Cu, cobre (Figura 7).
Figura 7: Efeito do teor de Nb no módulo de elasticidade de ligas Ti-Nb temperadas (Ozaki et al., 2004).
É notável através da curva que ligas com baixo teor de Nb apresentam módulo de
elasticidade muito próximo ao do Ti puro (110 GPa). Já com um aumento no teor de Nb, ocorre a
redução do módulo de elasticidade devido ao aparecimento das fases “martensíticas” α' ou α''. Com
uma concentração de 15 % em peso de Nb tem-se um baixo valor do módulo (em torno de 70 GPa),
mas a partir deste ponto o acréscimo de Nb eleva o módulo até atingir valores próximos a 90 GPa (~
30 % de Nb). O que se observa neste intervalo é a presença de precipitados da fase ω, que eleva o
valor do módulo (ZHURAVLEVA, 2014). Logo em seguida é possível observar um ponto de
mínimo para o módulo (~ 40 % de Nb) e é correspondente a formação da liga monofásica. O valor
deste módulo de elasticidade atinge um valor de 62 GPa (OZAKI et al., 2004).
37
2.4 FOSFATO DE CÁLCIO
Fosfatos de cálcio (CaP) são uma classe de materiais cerâmicos e que são muito conhecidos
por suas excelentes propriedades biológicas e de não-citotoxicidade. Dentre os materiais bioativos,
são os mais empregados para aplicações odontológicas e ortopédicas. Seu emprego pode ser em
variadas formas, como em grânulos, cimentos ou em scaffolds porosos, assim como forma de
revestimento para implantes metálicos (BELLUCI et al., 2016); atualmente também são utilizados
como uma fase em compósitos (RICHTER et al., 2019). Sua vasta utilização deve-se ao fato de
possuir composição química muito similar a apatita biológica se ligando fortemente com o tecido
circundante, o que, consequentemente, gera uma forte interação entre o implante e o osso (WANG
et al., 2013; LI et al., 2010). Desta forma ocorre osteocondução, osteoindução e reabsorção pelo
organismo (LIN, CHOW e LENG, 2008; Tsiridis et al., 2006). Este fato ocorre devido à capacidade
do material de provocar um estímulo biológico no hospedeiro semelhante ao causado pelo osso
natural, promovendo uma resposta celular osteoclástica e osteogênica (ELBADAWI, 2018).
38
Os CaP são uma família de compostos resultantes da combinação de diferentes formas
ácidas do ácido fosfórico (𝐻 𝑃𝑂 ), como 𝐻 𝑃𝑂 , 𝐻𝑃𝑂 - ou 𝑃𝑂 -, com o íon cálcio. Outros
elementos ou grupos iônicos, como, por exemplo, cobre, zinco, cloro, flúor, silicatos, carbonatos,
etc. também podem ser inseridos na malha cristalina de certos fosfatos de cálcio, a fim de modificar
suas propriedades físico-químicas ou biológicas (PIERRE, 2018).
Os CaP normalmente são identificados pela sua razão atômica Ca/P, sendo os mais
conhecidos e estudados para aplicações como biomateriais: o fosfato tetracálcico (TTCP), o beta
fosfato tricálcico (β-TCP), o alfa fosfato tricálcico (α-TCP) e a hidroxiapatita (HAP). Vale ressaltar
que estudos afirmam que fosfatos com razões Ca/P menores que 1 não são ideais para aplicações em
implantes, devido à alta solubilidade (ELLIOTT, 1994). Na Tabela 3 tem-se uma relação dos CaP
mais conhecidos, assim como seus nomes, fórmulas químicas e relações Ca/P.
39
aumento na área superficial em comparação com a HAP estequiométrica (REY, 1990), além disso,
a apatita óssea contém traços de outros elementos, como magnésio, cobre, zinco, flúor e potássio
(JOSCHEK et al., 2000). Na Figura 8 tem-se exemplos de onde as substituições catiônicas e
aniônicas podem ocorrer.
Da mesma forma que a HAP, os fosfatos TCP (fosfato tricálcico) têm sido extensivamente
pesquisados na forma de grânulos, scaffolds e revestimentos. O TCP existe em diferentes formas
polimórficas, tendo assim, diferentes taxas de reabsorção pelo organismo (YAMADA et al., 2007),
no entanto, eles sempre são mais frágeis do que a HAP. As propriedades de cada fosfato de cálcio,
como solubilidade, estabilidade térmica e propriedades mecânicas, são uma função de sua estrutura
cristalina, mas o fator determinante na reabsorção do material pelo ser vivo é sua solubilidade
(KAMITAKAHARA, OHTSUKI e MIYAZAKI, 2008; RANGAVITTAL et al., 2000; SHI, JIANG
e BAUER, 2002; USKOKOVIÉ, 2015; MATSUMOTO et al., 2009). Alguns trabalhos mostraram
que a inclusão do grupo hidroxila produz uma ordem atômica maior e, portanto, mais estável (SHI,
JIANG e BAUER, 2002; PASTERIRS et al., 2004; EL-GHANNAM, NING e MEHTA, 2004), o
que, consequentemente, diminui a bioatividade e a reabsorção osteoclástica da mesma
(USKOKOVIÉ, 2015). Dessa maneira, a hidroxiapatita é menos bioativa do que o β-TCP, já que este
último não possui um grupo hidroxila em sua rede cristalina (ELBADAWI, 2018). Outro estudo
mostrou que a composição bifásica de β-TCP e HAP ocasiona o aumento da bioatividade com o
aumento da concentração de β-TCP (KAMITAKAHARA, OHTSUKI e MIYAZAKI, 2008).
Figura 8: Esquema de possíveis substituições iônicas na estrutura da HAP (Bigi et al., 2016).
40
contraste, a substituição iônica com HAP, que leva à expansão da estrutura cristalina, causou um
aumento da solubilidade (SCHUMACHER et al., 2013). Outros estudos mostraram que uma
diminuição nos parâmetros de rede melhora as propriedades mecânicas (UYSAL et al., 2014; RYU
et al., 2004).
ROYER et al. (1993) também demonstraram que a razão Ca/P pode afetar a resistência à
flexão. Boa resistência à flexão foi observada para razões Ca/P entre 1,60 e 1,66. Defeitos na
estrutura cristalina também foram relatados como contribuintes na bioatividade do β-TCP (BOW,
LIOU e CHEN, 2004). Outros fatores que também influenciam a bioatividade incluem a carga
superficial e a disponibilidade de sítios de ligação para, por exemplo, realizar a ligação com proteínas
(PIGHINELLI e KUCHARSKA, 2013; KIM et al., 2005; VANDIVER et al., 2005; NAKAMURA
et al., 2010; FUJII et al., 2006; LEE, LOO e ROHANIZADEH, 2014; dos SANTOS et al., 2008).
Portanto, as propriedades fundamentais dos fosfatos de cálcio afetam suas propriedades
biológicas e mecânicas. Comparando HAP e β-TCP, os CaP mais frequentemente pesquisados, o
primeiro possui uma relação Ca/P mais alta, menores parâmetros de rede e um grupo hidroxila, que
contribuem para sua taxa de bioatividade relativamente mais lenta (ELBADAWI, 2018).
2.5 POROSIDADE
Estruturas porosas permitem que um implante imite estruturas ósseas e ao mesmo tempo
forneça propriedades mecânicas únicas. Assim, a porosidade é benéfica tanto para a melhoria da
osteointegração quanto para a redução do módulo de elasticidade de um implante, mas em
contrapartida, tem como desvantagem a redução da resistência mecânica.
O trabalho de Oh et al. (2003) exemplifica uma correlação entre propriedades mecânicas e
porosidade. As amostras foram sinterizadas a partir de pós Ti puro atomizados a gás. Como esperado,
o módulo de elasticidade sofreu redução linear com o aumento da porosidade (Figura 9). Desta
forma os autores puderam concluir que o módulo de elasticidade das amostras pode ser controlado
na faixa de 110 GPa (amostra densa) a 9 GPa (35 % de porosidade), e que os valores do módulo de
elasticidade para porosidade de 32 a 36 % são compatíveis aos de ossos corticais humanos, ou seja,
cerca de 20 GPa.
NOMURA et al. verificaram que, com um aumento de 10 para 40 % da porosidade de amostras
de Ti puro sinterizado, o módulo de elasticidade diminui de acordo com a seguinte equação:
𝐸 = 𝐸 ∙ (1 − 𝑃)
onde E0 é o módulo de elasticidade do Ti denso (110 GPa), P é a porosidade, e b é uma constante, que
para este material é igual a 5.
41
Figura 9: Módulo de elasticidade de amostras de Ti puro compactadas e sinterizadas em função da porosidade
(adaptado de OH et al., 2003).
Assim como a porosidade reduz o módulo elástico do material, ela também reduz a resistência
mecânica. Oh et al. mostraram que com porosidades entre 32 e 36 %, a resistência das amostras ficava
abaixo de 100 MPa (Figura 10). Sendo assim, encontrar um balanço ideal entre um baixo módulo de
elasticidade e uma adequada resistência mecânica de uma liga é um grande e importante desafio em
projeto de implantes ortopédicos.
Figura 10: Resistência à flexão em três pontos e resistência à compressão de amostras de Ti poroso em função da
porosidade (adaptado de OH et al., 2003).
43
2.6 METALURGIA DO PÓ
Esta técnica é usada para fabricar variados tipos de materiais poliméricos, cerâmicos,
compósitos e metais, como por exemplo ligas de Ti, diretamente a partir de pós. É considerado um
dos processos de fabricação mais atrativos, devido ao seu baixo custo em comparação com outros
processos avançados, à simplicidade da técnica e à sua alta eficiência (LIU et al., 2006).
O processo pode ser basicamente divido em três etapas principais: a primeira consiste na
mistura dos pós que serão a base do material final e também do agente formador de poros, se esse
for o caso. Esses pós podem passar por uma classificação de formato e tamanho das partículas. A
segunda etapa é a fabricação dos corpos à verde, normalmente feita por compactação, seja uniaxial,
biaxial ou isostática. Uma pressão é aplicada e se forma uma amostra compactada. A última etapa é
o tratamento térmico (sinterização) que conecta, tornando as partículas. Antes desta última etapa
alguns materiais podem passar por processos intermediários de retirada do formador de poros
(SURYANARAYANA et al., 1990).
A liga Ti13Nb13Zr, de aplicação na indústria aeroespacial, foi fabricada empregando-se a
metalurgia do pó. Os pós foram misturados e prensados a frio com carga de 300 MPa e, em seguida,
as amostras foram sinterizadas em um forno a vácuo (10-6 Torr) sob uma temperatura de 900 a
1500 ºC, durante 1 hora (VAR et al., 2005). Além disso, ligas de Ti com os mesmos elementos de
liga e space holder (NH4HCO3) foram produzidas para aplicações biomédicas. A mistura foi
prensada a frio e sinterizada em vácuo (10-5 Torr). O processo de sinterização deu-se em duas etapas,
cuja primeira consistia em remover o space holder a 175 ºC por 2 horas e a segunda, aquecimento à
temperatura de 1200 ºC por 1 hora (WANG et al., 2009). Ligas Ti35NbxSn também foram fabricadas
via metalurgia do pó (NOURI, HODGSON e WEN, 2011).
Oliveira et al. (2015) fabricaram amostras da liga Ti35Nb porosa via metalurgia do pó por
meio da adição de 30 % em peso de BA. Os pós foram misturados em moinho orbital por variados
tempos e em seguida compactados uniaxialmente e isostaticamente. Antes do processo de
sinterização o material passou por um processo de retirada do formador de poros a 170 ºC por 2 horas
e por fim foi sinterizado à vácuo a uma temperatura de 1300 ºC por 2 horas. Os resultados mostraram
a formação de uma liga homogênea e com porosa.
45
2.7.2 MÉTODO BIOMIMÉTICO
Este é um método que utiliza soluções semelhantes, em composição iônica, aos fluidos
fisiológicos objetivando criar um revestimento com propriedades semelhantes ao tecido ósseo
(BARRÈRE, 2002). Quanto maior a semelhança entre o revestimento produzido e a fase mineral
óssea maior se torna a bioatividade da superfície (BAKER et al., 2006). A camada depositada
aumenta a atividade das células ósseas que entram em contato com o revestimento, promovendo
assim, uma integração mais rápida do implante ao organismo (BARRÈRE, 2002).
O processo imita a mineralização óssea (Figura 11), baseando-se na nucleação e
crescimento do fosfato de cálcio (amorfo ou cristalino), em um ambiente similar ao do corpo (pH 7
e temperatura de 37 ºC). Foi inicialmente proposto por Kokubo (1998), e utilizava Fluido Corpóreo
Sintético (FCS). De Andrade, Filgueiras e Ogasawara (2002) mostraram que amostras de titânio após
a formação da camada de titanato de sódio têm os íons sódio da superfície substituídos por H3O+ em
meio ao FCS, formando grupos Ti-OH, que facilitam a atividade iônica do fosfato de cálcio.
Figura 11: Mudanças na superfície do titânio submetido à pré-tratamentos e imersão em FCS: (a) formação da
camada de hidrogel do titanato de sódio por meio de tratamento com NaOH; (b) representação da formação da
camada de titanato de sódio amorfo e/ou cristalino através do tratamento térmico; (c) formação da camada de HAP em
FCS (adaptado de KOKUBO, 1998).
Os revestimentos produzidos por este método exibem grandes vantagens para aplicação em
implantes, incluindo alta biocompatibilidade in vitro e in vivo (KEIM et al., 2011; XU et al., 2009),
osteogenicidade e capacidade de ligação óssea (BARRÈRE, 2003). Outras vantagens incluem a
possibilidade de revestir implantes de geometrias complexas e também porosos, a baixa temperatura
46
de trabalho (o que permite revestir substratos de baixa temperatura de fusão), simplicidade do
processo e baixo custo (WEN et al., 1997; LEON e JANSEN, 2009).
48
Na Figura 13 tem-se um esquema com o princípio de funcionamento desta técnica utilizada
nas mais diversas áreas da ciência:
Figura 13: Esquema do princípio de funcionamento de um DRX (adaptado de Sima et al., 2016).
Figura 16: Diagrama esquemático do posicionamento das colunas de íons e elétrons (adaptado de Rajput e Luo, 2015).
A maior parte dos equipamentos é integrada a várias outras técnicas de caracterização, tais
como EDS, analisador de gases residuais (RGA) e difração de elétrons retroespalhados (EBSD). O
feixe de íons é amplamente utilizado no estudo de materiais, tais como semicondutores, células
solares e filmes finos, onde a informação estrutural abaixo da superfície é de extrema importância
(ORLOFF, SWANSON e UTLAUT, 2003; KANT e LOSIC, 2003). O FIB é capaz de preparar
secções muito finas (~ 100 nm) permitindo a análise de amostras no Microscópio Eletrônico de
Transmissão (TEM).
2.8.8 PERFILOMETRIA
Esta é uma técnica que permite a obtenção de características topográficas de uma superfície
através da passagem de uma sonda mecânica (leitura com contato) ou óptica (leitura sem contato).
A sonda percorre os contornos de cada ponto da superfície, são registradas as alturas na forma de um
resultado de uma dimensão (1D) e posteriormente transformadas em um mapa com duas
dimensões(2D) (ASSENDER, BLIZNYUK e PORFYRAKIS, 2011).
Os parâmetros normalmente obtidos por esta técnica são os de rugosidade, como a média
aritmética da altura dos pontos do perfil (Ra) (MURTHY, 2011).
A perfilometria é muito usada na avaliação de superfícies metálicas de implantes cirúrgicos.
Estes implantes são tratados de variadas formas, com a finalidade de modificar as superfícies
topográfica e quimicamente no intuito de melhorar a osteointegração e a performance biomecânica
dos mesmos (MURTHY, 2011).
52
2.8.9 MICRODUREZA
A medida de microdureza Vickers, segundo a norma ASTM E 384 - Standart Method for
Microhardness of Materials, define o ensaio de microdureza como a dureza de microindentações
realizadas em equipamento calibrado com penetradores de diamantes de geometrias específicas.
A indentação é realizada com a aplicação de uma carga P, o tamanho da “marca” indentada,
d, é medida com a ajuda de um microscópio ótico (Figura 18) e por fim, a dureza é calculada em
função da tensão aplicada na amostra.
53
3. METODOLOGIA
Aqui são apresentados os materiais, metodologias e equipamentos utilizados na elaboração
deste trabalho de pesquisa.
Baseando-se em toda a revisão bibliográfica realizada e apresentada no capítulo anterior
este trabalho de pesquisa deu sequência a uma série de estudos que já foram realizados pelo grupo.
Titânio comercialmente puro (Ti Cp) com diversas porosidades já foi produzido, assim como estudos
de suas propriedades mecânicas, químicas, físicas e biológicas. Isto permitiu estabelecer
procedimentos de produção e também meios de validação do material.
A liga Ti35Nb também já foi alvo de estudos do grupo, sendo que a produção da liga e de
poros foi estudada, mas ainda deixando algumas lacunas, que este trabalho visa preencher.
Com relação ao revestimento bioativo de CaP, o mesmo já foi realizado em superfícies, com
diferentes porosidades, de Ti Cp, permitindo abrir horizontes para as ligas de Ti.
Desta forma, neste trabalho, optou-se por seguir os estudos com ligas Ti35Nb de diferentes
porosidades e acrescentar a deposição do revestimento, agregando ainda mais valor ao material.
3.1 MATERIAIS
Como matérias-primas para a produção das ligas metálicas foram utilizados pós elementares
de titânio puro grau 1 (pureza de 99,5 %) importado da empresa Baoji First Titanium Industry Co.,
Ltd. /China e de nióbio (pureza de 98,9 %) produzido pela Companhia Brasileira de Metalurgia e
Mineração (CBMM), além do aditivo orgânico formador de poros bicarbonato de amônia (pureza de
99,0 %) produzido pela Sigma-Aldrich.
Os três pós foram separados em faixas granulométricas específicas, que são apresentadas
na Tabela 4.
Granulometria
Material
ASTM/Mesh μm
54
Para a deposição do revestimento foram utilizados os sais formadores de CaP: CaCl2•2H2O
(cloreto de cálcio dihidratado) da Merck e Na2HPO4•2H2O (fosfato dissódico dihidratado) da
Emsure.
3.2 MÉTODOS
Abaixo são apresentadas as técnicas utilizadas em toda a produção das ligas, deposição dos
revestimentos e caracterizações realizadas em todas as fases do estudo.
55
Figura 20: Esquema da geometria das amostras produzidas.
A mistura dos pós foi realizada em moinho vibratório Retsch MM400 por 15 min sob uma
frequência de 15 Hz (Figura 21).
56
Figura 22: Prensa hidráulica Marconi (LATEP).
Como procedimento final da produção das ligas, as amostras, tanto Micro quanto
Macroporosas, foram sinterizadas em forno do tipo Astro da marca Thermal Technology (Figura
24), sob atmosfera de argônio e temperatura de 1300 ºC por 2 h, sendo o aquecimento a 10 ºC/min e
resfriamento natural até a temperatura ambiente dentro do forno.
Após o processo de sinterização das amostras, as mesmas foram lavadas em uma sequência
de banhos ultrassônicos, em sabão neutro, álcool etílico, acetona e água destilada e em seguida secas
em estufa a 60 ºC por no mínimo 1 h.
57
Figura 24: Forno tipo Astro (LATEP).
(a) (b)
Figura 26: (a) autoclave para TQT; (b) amostras após tratamento químico e térmico.
Análises preliminares em MEV/EDS nas amostras apontaram que não houve mudança
química expressiva no material, ou seja, não foi formada a intercamada desejada. Isto pode ser
explicado pelo fato de que a liga Ti-Nb é quimicamente mais resistente do que o titânio puro (LIU e
XU, 2017; TODEA et al., 2018). Desta forma realizou-se uma busca bibliográfica sobre este tipo de
tratamento em ligas Ti-Nb e o que foi encontrado como solução para a formação da intercamada era
a modificação de alguns parâmetros do TQT, como: aumento da concentração da solução de NaOH
e/ou aumento de temperaturas ou tempos dos tratamentos químico e térmico. (TODEA et al., 2018;
YAO et al., 2019).
Como alternativa escolhida foi realizado o aumento do tempo do tratamento químico de 2 h
para 24 h e não a alteração dos demais parâmetros. As amostras submetidas ao TQT com os novos
parâmetros foram submetidas à análise em MEV/EDS, onde se pode constatar a alteração química
esperada.
Desta forma estabeleceu-se que o TQT a ser aplicado em todas as amostras de Ti35Nb seria
o seguinte: tratamento químico com NaOH 1M em autoclave a 130 ºC por 24 h, seguido de
tratamento térmico por 1 h a 200 ºC.
Como etapa subsequente, foi realizado o processo biomimético de deposição de
revestimento de CaP. Primeiramente, toda a vidraria e materiais de laboratório a serem utilizados
nesta etapa passaram por um processo de limpeza, que envolveu enxague em água e sabão e água
destilada, rinsagem com acetona, álcool etílico e água destilada, nesta sequência. Posteriormente,
59
para eliminar qualquer resíduo orgânico/inorgânico, todos os utensílios foram enxaguados com a
seguinte sequência: solução de HCl a 1 molar, solução de detergente neutro (solução de detergente
Dextran) e água destilada (até a completa remoção do detergente). Em seguida, foi realizada uma
secagem em estufa a 60 ºC.
A preparação da Solução Simplificada (SS) se deu com a solubilização de dois sais
precursores de fosfatos de cálcio, o cloreto de cálcio dihidratado (CaCl2•2H2O) e o fosfato dissódico
dihidratado (Na2HPO4•2H2O), em água destilada (ANDRADE et al., 2002).
Para a preparação da solução cada um dos dois sais foi dissolvido em 100 mL de água
destilada separadamente. Após a completa dissolução dos sais, a solução de CaCl2•2H2O foi vertida
na solução de Na2HPO4•2H2O, e a mistura foi mantida sob agitação magnética e temperatura de
37°C por 10 min (Figura 27). Ao fim desta etapa, foi aferido o pH, devendo o mesmo ser ajustado
para o valor de 7. Se o pH estivesse ácido, adicionava-se Ca(OH)2 (Spectrum) na forma de pó. Se o
pH estivesse básico, era adicionado uma solução de HCl 1M. Durante o ajuste do pH a mistura foi
mantida sob agitação contínua e temperatura de 37 ºC. Com o pH ajustado, a mistura foi transferida
para um balão volumétrico e completado com água destilada até um 1 L. Esta solução foi então
armazenada em um frasco plástico (polietileno) para evitar precipitação do material.
60
Tabela 6: Concentração iônica da SS.
61
Figura 28: Esquema das etapas de deposição do revestimento de CaP sobre as ligas Ti35Nb.
3.3 CARACTERIZAÇÕES
Na sequência são apresentadas todas as caracterizações realizadas durante o trabalho. Tais
caracterizações foram conduzidas em todas as etapas produtivas do material e de forma mais enfática
nas amostras finais com revestimento de CaP.
62
das mesmas, seguido de um polimento com alumina (3 µm).
Em seguida as amostras foram analisadas em Microscópio Ótico (MO), para a contagem
porosidade. Foram adquiridas 30 imagens de cada amostra, em diversas áreas, a fim de se obter uma
quantificação significativa da fração volumétrica dos poros.
No intuito de analisar a porosidade no interior das amostras, após o primeiro embutimento
em baquelite, as mesmas foram cortadas ao meio, em cortadora automática e com disco de corte de
carbureto de silício, e novamente preparadas, seguindo o mesmo procedimento utilizado nas faces.
Sendo assim, obteve-se a porosidade na face e no interior das amostras.
Todas as imagens foram obtidas com uma magnificação de 50x.
3.3.2 MEV/EDS
Foi utilizado um microscópio eletrônico de varredura FEI, modelo Inspect S, com filamento
de tungstênio, acoplado a um sistema de análise de espectroscopia por dispersão de energia (EDS)
do Centro de Caracterização em Nanotecnologia para Materiais e Catálise (CENANO) do INT.
Os pós metálicos de Ti e Nb tiveram a morfologia de suas partículas analisadas, para isso
63
empregou-se uma tensão de 20 kV no equipamento. Já o pó de BA foi metalizado com uma fina
camada de platina a fim de tornar-se condutor e a tensão utilizada foi de 25 kV. Análises semi-
quantitativas via EDS também foram realizadas, nos pós metálicos, no intuito de verificar a
composição química elementar de cada um dos três materiais.
As ligas, após sinterização e limpeza, tiveram suas microestruturas caracterizadas e
porosidades quantificadas, o que permitiu a verificação da eficiência do processo de consolidação
do material. A distribuição elementar do Ti e Nb foi averiguada por mapeamento de EDS e para tais
análises foi utilizada uma tensão de 20 kV.
Aplicando-se tensões de 20 a 25 kV, foram realizadas as análises das amostras após receber o
processo de TQT e também ao fim do processo de deposição do revestimento. Pode-se verificar,
através de imagens, a evolução da morfologia e das estruturas formadas ao longo do processo
biomimético. Os resultados do EDS permitiram a verificação semi-quantitativa dos elementos
químicos presentes e sua distribuição em toda a superfície.
Como a camada de CaP depositada possui baixa condutividade elétrica, foi realizada a
metalização das amostras revestidas com uma fina camada de platina, no intuito de torna-la
condutora. Este processo de metalização ocorreu após a realização das análises por EDS, pois o pico
da platina (Pt) pode se sobrepor ao pico do fósforo (P), no espectro EDS, por possuírem níveis de
energia muito próximos.
3.3.3 MEV/FEG
A análise dos revestimentos em MEV (item 3.3.2) não forneceu imagens com resolução
adequada para a visualização da camada de CaP, por esta razão, as amostras revestidas foram
analisadas em um microscópio eletrônico de varredura Quanta FEG 450 (FEI Company), equipado
com recursos de imagens em Elétrons Secundários, Elétrons Retroespalhados e EDS. O equipamento
operou com uma tensão de 20 kV e alcançou ampliações de até 150.000x com boa resolução.
64
monocromática Cu Kα (λ=1,54 A°), e foram utilizados empregando-se uma tensão de 40 kV e
corrente de 40 mA.
Para os pós metálicos de Ti e Nb a varredura 2θ foi executada no intervalo de 5° a 90°, o passo
e a velocidade foi de 0,02 θ por segundo e tempo de leitura de 50 segundos. Já para as ligas
sinterizadas (MI e MA) o intervalo de varredura do 2θ foi de 20˚ a 90˚ e as demais configurações
semelhantes as das análises dos pós elementares.
Os materiais após o TQT e após deposição do revestimento foram analisados em GIXRD, pois
o mesmo permite uma análise adequada de finas camadas superficiais. A varredura das amostras se
deu no intervalo 2θ de 20° a 90°, sendo empregado um passo de 0,1 θ por segundo e tempo de leitura
de 4 segundos.
Para a identificação das fases cristalinas presentes nos difratogramas de DRX, foram
utilizadas as fichas de padrões contidas no JPDS – Intenational Center for Diffraction Data (2000).
3.3.5 RAMAN
As amostras com revestimento foram analisadas via espectroscopia Raman, para identificação
de grupos funcionais presentes. Foi utilizado um espectrômetro Raman modelo HR800 da HORIBA,
do Laboratório de Catálise (LACAT) do INT. As análises foram feitas em ponto escolhido
aleatoriamente, utilizando 20 mW de potência do laser de excitação de HeNe (l = 632,8 nm).
3.3.6 XPS
As amostras foram analisadas utilizando um analisador de energia hemisférico (Specs Phoibos
150), pertencente ao CENANO. O equipamento é equipado com fonte de AlKα (1486,6 eV) e a
pressão base utilizada foi menor que 10-10 mbar. Os espectros de ampla varredura (Survey) foram
registrados com passo de 1,0 eV e energia de passagem do analisador de 50 eV. Por sua vez, os
espectros das regiões de alta resolução foram registrados com passo de 0,08 eV e energia de passagem
de 20 eV. O pico C1s foi empregado para calibração em 284,6 eV. A presença de carbono nos
espectros de XPS é normal, o qual é proveniente da atmosfera, sendo usado como referência para a
calibração dos espectros, mas acima de determinados níveis é considerado contaminação (Swift,
1982). Foram usados ajustes de background do tipo Shirley e o software empregado foi o CasaXPS,
versão 2.3.16 (Casa Software Ltd., Cheshire, UK). Para os picos de titânio metálico, que apresentam
assimetria, foi aplicado o modelo LA(1.1,5,7).
É importante ressaltar que as análises de XPS das amostras com TQT e revestimento de CaP
foram realizadas na superfície que ficou voltada para cima durante as etapas de tratamento químico e
térmico e de deposição do revestimento, respectivamente.
65
As amostras revestidas por 14 dias não foram caracterizadas por XPS, uma vez que o objetivo
da análise era identificar os componentes químicos e verificar se os procedimentos de modificação
da superfície aplicados foram efetivos. O tempo de deposição do revestimento de CaP influencia
apenas na espessura do filme e, por isso, não havia justificativa técnica para realizar as análises em
ambas as superfícies (14 e 21 dias).
Além das análises nas amostras após o TQT e deposição do revestimento, foram utilizadas
amostras padrões das ligas Ti35Nb, chamadas de controle. Estas estavam isentas de qualquer
modificação de superfície e serviram de parâmetro para a verificação da evolução química no
processo de TQT e deposição da camada de CaP.
66
(a) (b) (c)
Figura 29: Etapas de deposição das camadas protetoras de: (a) carbono com feixe de elétrons, (b) platina
com feixe de elétrons e (c) platina com feixe de íons.
Em seguida, iniciou-se a sequência de etapas de desbaste para abertura das fossas laterais e
corte da amostra, como indica a Figura 30. A amostra, de dimensões 10 x 15 µm, foi então afinada
e polida e, por fim, transferida para a grade de cobre (Cu) usando o nanomanipulador Omniprobe e o
sistema de injeção de gases (GIS), para análise no MET FEI Titan.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 30: Etapas de preparação da amostra MI_TQT_21 usando FIB, para análise em microscópio
eletrônico de transmissão.
67
3.3.8 PERFILOMETRIA
A evolução dos parâmetros de rugosidade das amostras antes e depois do TQT e após a
deposição dos revestimentos foram determinados com base na norma técnica ISO 4287, em
perfilômetro da marca Nanovea (Modelo ST 400Z) pertencente ao Laboratório de Corrosão e Proteção
(LACOR) da Divisão de Corrosão e Degradação (DICOR) do INT.
O procedimento consiste em fixar a amostra no porta-amostra com o auxílio de uma fita dupla
face, para evitar erros de leitura causados por deslocamentos indevidos. Em seguida, a lente objetiva
é posicionada sobre a superfície a ser analisada e a captura da imagem realizada. Sendo que, as
dimensões da imagem são definidas automaticamente pelo equipamento, a qual varia de acordo com
a lente utilizada. Através do software do perfilômetro, seleciona-se o perfil/região onde o valor médio
de rugosidade (Ra) foi medido. Foram selecionados três perfis/regiões diferentes (superior, centro e
inferior) de uma única imagem, para se obter uma maior representatividade do valor de Ra
(rugosidade média).
68
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Esta seção é dedicada à apresentação de todos os resultados obtidos nesta pesquisa, assim
como as devidas considerações e discussões.
Amostras Ti35Nb
69
Já para a porosidade, foram empregadas três diferentes técnicas. Além das duas utilizadas
anteriormente na aferição da densidade, utilizou-se a análise metalográfica das amostras (Figura
31), para quantificação dos poros. Na Tabela 9 tem-se os resultados obtidos para todas as medidas
de porosidade.
Metalografia
Método Geométrico Princípio de Arquimedes
Amostra Face Interior
Porosidade (%) Porosidade (%) Porosidade (%)
Os gráficos apresentados nas Figuras 32 e 33 trazem de forma mais clara uma comparação
entre os resultados obtidos, assim como seus respectivos erros de medida.
Figura 32: Comparação dos resultados de porosidade Figura 33: Comparação dos resultados de porosidade
para amostra MI. para amostra MA.
70
Ainda em comparação ao trabalho de Oliveira et al. (2015) verificou-se valores de
porosidade muito similares para as amostras MA (63 %). Já para as amostras MI foi observado um
um aumento na porosidade, de 17 % para 27 %, o que contribui para maior adsorção de proteínas e
posterior adesão celular.
A diferença observada na porosidade deste trabalho em comparação ao de Oliveira et al.
(2015), pode ser atribuído a diferente granulometria utilizada. No trabalho anterior os pós de Ti
estavam na faixa de 50 - 149 µm e os de Nb entre 31 - 500 µm. Além disto, o processamento da liga
possui algumas diferenças também, como a forma de compactação dos pós.
4.2.1 MATÉRIAS-PRIMAS
Os pós de Ti, Nb e BA tiveram sua morfologia e tamanho médio de grãos medidos por
análise de imagens de MEV. A seguir tem-se as imagens obtidas em MEV com uma amplificação
de 200x.
Figura 34: Micrografias dos pós de (a) Ti, (b) Nb e (c) BA.
71
Tabela 10: Tamanho dos grãos dos pós de Ti, Nb e BA, medidos no MEV.
Ti 38,40 15,35
Nb 68,53 23,24
BA 536,42 78,44
Os pós metálicos passaram por análise química semi-quantitativa em EDS, onde foi possível
verificar que eram materiais livre de contaminações significativas (Figura 35).
(a) (b)
Figura 35: Espectros EDS dos pós de: (a) Ti, (b) Nb.
73
arredondamento de poros, formação de “pescoços” e aparição de “estrias”. Estas observações
também foram feitas no trabalho de Oliveira et al. (2015).
Figura 38: Microestrutura das ligas com amplificação de 200x: (a) Microporosa; (b) Macroporosa.
(a) (b)
Figura 39: Microestruturas obtidas em MEV das ligas: (a) Microporosa; (b) Macroporosa, com uma
amplificação de 1.000x.
74
contribuem para uma melhor fixação celular e osteointegração (RIBEIRO et al., 2012). Estas
diferenças são resultado da utilização de faixas granulométricas distintas das usadas por Oliveira et
al. (2015) neste trabalho.
As ligas também tiveram sua composição química elementar averiguadas por EDS. Nas
Figuras 40 e 41 têm-se os espectros e os respectivos mapas. Ambos mostram a presença dos
elementos Ti e Nb por toda a superfície de forma homogênea, confirmando assim a eficiência do
processo de mistura (homogeneização) dos pós e ausência de contaminações.
100
- Ti-
80 - Ti-
- TiO2
60
Intensidade (%)
40
20 (a)
0 MA
100
80
60
40
20 (b)
MI
0
20 30 40 50 60 70 80 90
2 ()
Figura 42: Difratograma das ligas sinterizadas: (a) MA e (b) MI.
Estes dados corroboram o que havia sido verificado nas análises de MEV/EDS (Figuras 40
e 41), pois mostram que há presença da fase Ti-β (Ficha 01-089-4913), produzida a partir da
incorporação do Nb. Além desta fase, ainda é possível identificar Ti-α, visto que 35 % em massa de
nióbio não é suficiente para estabilização total da fase β (Mello, 2004). Também foram identificados
alguns picos associados à possível formação de óxido na superfície da liga, o que não é prejudicial,
pois o óxido identificado é biocompatível (KAUR e SINGH, 2019).
Figura 43: Microestruturas obtidas em MEV das ligas após o TQT, com amplificação de 1.000x (a)
Microporosa (MI_TQT); (b) Macroporosa (MA_TQT).
Figura 44: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI após o TQT (MI_TQT).
77
Figura 45: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA após o TQT (MA_TQT).
Mais uma vez, complementando as análises anteriores, foi realizada a difração de raios-X das
amostras tratadas química e termicamente. Por se tratar de uma camada superficial foi empregada
uma técnica em que os raios incidentes são de baixo ângulo (rasante), permitindo uma melhor
caracterização da modificação superficial realizada. Os difratogramas são apresentados na Figura
46.
100 - Ti-
- Ti-
80 - Na TiO
2 3
60 - TiO2
- 3Nb2O3 TiO2
40
Intensidade (%)
20
0
MA_TQT
100 (a)
80
60
40
20
(b) MI_TQT
0
20 30 40 50 60 70 80 90
2 ()
Figura 46: Difratograma das ligas após TQT: (a) MA e (b) MI.
Os picos de Ti-β e Ti-α foram identificados, mas em menor intensidade do que nas amostras
sem TQT (Figura 42) e, além disto, foram identificados picos que são associados a óxidos de Ti e
Nb. Mas os picos de maior interesse foram os θ = 22,6º e θ = 27, 5º. Segundo as bases de dados
78
(Ficha 00-037-0345), estes picos são uma indicação da presença do composto Na2TiO3 (titanato de
sódio). Tal resultado corrobora com as análises em MEV/EDS (Figuras 44 e 45), mas ainda assim
se fazem necessárias caracterizações mais aprofundadas da natureza química do composto formado.
(a) (b)
Figura 47: Microestruturas obtidas, em MEV, das ligas após revestimento de 14 dias, com uma amplificação de 1.000x
(a) Microporosa (MI_TQT_14); (b) Macroporosa (MA_TQT_14).
79
(a) (b)
Figura 48: Microestruturas obtidas, em MEV, das ligas após revestimento de 21 dias, com uma amplificação de 1.000x
(a) Microporosa (MI_TQT_21); (b) Macroporosa (MA_TQT_21).
Como isso é possível visualizar nas Figuras 49, 50, 51 e 52 há uma distribuição elementar
homogênea por toda a superfície. Como esperado, observa-se a presença dos elementos Ca e P, além
de Ti, Nb, Na e O.
Análises pontuais nas partículas brancas também foram realizadas, mostrando uma maior
concentração de Ca e P. Os fosfatos são normalmente caracterizados pela sua relação Ca/P, mas
como o EDS se trata de uma técnica semi-quantitativa, não é adequado o cálculo desta razão a partir
dos resultados obtidos. Se fazem necessárias caracterizações mais aprofundadas da composição
química presente.
Figura 49: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI após o revestimento por 14 dias (MI_TQT_14).
80
Figura 50: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA após o revestimento por 14 dias (MA_TQT_14).
Figura 51: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MI após o revestimento por 21 dias (MI_TQT_21).
Figura 52: Espectro EDS e mapa de distribuição elementar da liga MA após o revestimento por 21 dias (MI_TQT_21).
81
Da mesma forma que para o TQT, as amostras que passaram pelo processo de revestimento,
também foram caracterizadas por GIXRD, no intuito de averiguar as possíveis fases de CaP
formadas. As ligas revestidas por 14 dias apresentaram os difratogramas mostrados na Figura 53. Já
para as ligas com revestimento de 21 dias os resultados estão expressos na Figura 54.
Picos associados à presença de óxidos (principalmente rutilo) foram identificados na
superfície das amostras (Ficha 03-065-0191), o que é natural, visto que as mesmas foram expostas
ao ar atmosférico e passaram por aquecimentos, podendo ocorrer oxidação. De toda forma, os
compostos formados são biocompatíveis e, portanto, não oferecem nenhum risco à saúde.
Os picos associados ao Ti-β e Ti-α foram novamente identificados, sendo que
asintensidades são variadas, provavelmente devido à presença mais ou menos espessa do
revestimento na superfície.
100
- Ti-
80 - Ti-
- TiO2
60 - Ca (PO )
3 4 2
Intensidade (%)
40 - Ca (PO ) (OH)
10 4 6 2
20
(a)
0 MI_TQT_14
100
80
60
40
20
(b) MA_TQT_14
0
20 30 40 50 60 70 80 90
2 ()
Figura 53: Difratogramas das superfícies das ligas após deposição do revestimento de CaP por 14 dias: (a) MA
(MA_TQT_14) e (b) MI (MI_TQT_14).
Em todos os difratogramas nota-se a presença de picos não presentes nas ligas anteriormente
ao processo de deposição do revestimento (Figuras 51 e 52). Tais picos, segundo bases de dados,
são referentes a HAP (22,5º e 52,5º) (Ficha 01-077-0566) e ao β-TCP (20,2º; 27,4º e 36,1º) (Ficha
01-086-1585).
82
100 - Ti-
80 - Ti-
- TiO2
60 - Ca (PO )
3 4 2
Intensidade (%)
40 - Ca (PO ) (OH)
10 4 6 2
20
(a)
0 MA_TQT_21
100
80
60
40
20 (b) MI_TQT_21
0
20 30 40 50 60 70 80 90
2 ()
Figura 54: Difratogramas das superfícies das ligas após deposição do revestimento de CaP por 21 dias: (a) MA
(MA_TQT_21) e (b) MI (MI_TQT_21).
4.3 MEV/FEG
Devido ao fato do revestimento de CaP ser de ordem nanométrica, as micrografias obtidas
em MEV tradicional (Figuras 47 e 48) não foram suficientes para identificação da microestrutura
formada. Sendo assim as amostras MI e MA revestidas por 14 e 21 dias, passaram por análises em
equipamento MEV/FEG. Vale ressaltar que por se tratar de material não condutor (cerâmica), foi
realizada a deposição de uma fina camada de platina sobre as amostras, permitindo que grandes
ampliações fossem realizadas.
Tem-se na Figura 55 a microestrutura formada na superfície das amostras. É possível notar
uma distribuição homogênea de um composto por toda a superfície, demonstrando que o processo
de revestimento foi uniforme e não houve áreas de crescimento preferencial. Nota-se a formação de,
basicamente, dois tipos de morfologias, o que pode indicar a presença de duas fases de CaP.
As amostras MI com revestimento por 14 e 21 dias (Figuras 55 (a) e (b)), assim como a
amostra MA com revestimento de 14 dias (Figura 55 (c)), apresentaram uma morfologia
predominantemente lamelar, muito característica da fase β-TCP (RIBEIRO et al., 2013). Já a amostra
MA revestida por 21 dias (Figura 55 (d)) apresentou, de forma geral, uma microestrutura globular,
que na literatura é associada a fase HAP do fosfato de cálcio (RIBEIRO et al., 2013).
Vale ainda ressaltar que com ampliações maiores foi possível averiguar a presença de
ambos os tipos de morfologia, lamelar e globular, em todas as quatro amostras, levando a crer que
houve a formação de uma estrutura de fosfato dicálcio (DCP) (RIBEIRO et al., 2013; PIERRE,
2018).
83
(a) (b)
(c) (d)
Figura 55: Micrografia da superfície das amostras após o revestimento, aumento de 50.000x: (a) Microporosa 14dias
(MI_TQT_14); (b) Macroporosa 14dias (MA_TQT_14); (c) Microporosa 21dias (MI_TQT_21); (d) Macroporosa
21dias (MA_TQT_21).
Mais uma vez, os resultados reforçam que duas fases de CaP foram formadas na superfície,
mas de todo modo, caracterizações adicionais são necessárias para complementação dos resultados.
4.4 RAMAN
Espectroscopia Raman foi utilizada no intuito de identificar a existência de bandas
características de fosfato de cálcio nas superfícies que receberam a deposição do revestimento. As
Figuras 54, 55, 56 e 57 apresentam os espectros obtidos.
As identificações das bandas se deram baseadas na literatura, mais especificamente no
trabalho de Aza et al., (1997). Podem ser vistos basicamente dois tipos de bandas, as associadas a
hidroxilas (da água ou HAP) e os fosfatos (dos compostos CaP).
84
Os compostos PO43- podem ser identificados em 4 diferentes bandas, ou modos de vibrar,
tendo frequência de vibração υ1 = 938 cm-1, υ2 = 420 cm-1, υ3 = 1017 cm-1 e υ4 = 567 cm-1. Estas
frequências são, respectivamente, associadas ao modo de extensão simétrico do P-O, os modos de
flexão O-P-O duplamente degenerados, os modos de extensão tri-degenerados assimétricos de P-O e
os modos triplamente degenerados, principalmente os de flexão de O-P-O.
Todas as amostras apresentaram os modos de vibração 1, 2 e 4. Apenas o modo 3 não foi
identificado. Estes resultados, mais uma vez corroboram com a hipótese da formação de uma camada
de CaP na superfície das ligas após a imersão das mesmas em SS. Esta técnica permitiu a confirmação
da existência de compostos CaP, mas não permite a identificação de qual fase ou fases presentes,
sendo assim outras análises devem ser realizadas.
85
Figura 58: Espectro RAMAN da amostra MI_TQT_21.
4.5 XPS
Os espectros de XPS das amostras MI e MA nas regiões de alta resolução do Ti2p, Nb3d, e
O1s são apresentados nas Figuras 60 e 61, respectivamente. Os espectros na região do Ti2p indicam
a presença de três espécies: Ti4+, Ti3+ e Ti metálico. As distâncias entre os referidos dubletes
empregadas nos ajustes foram respectivamente 5,7, 5,2 e 6,1, conforme indicado na literatura
(HAUKKA et al., 1993; LEBUGLE et al., 1981). A presença de Ti+4 se deve à presença de TiO2 (LI
et al., 2016; TAKADAMA et al., 2001), enquanto o Ti+3 é indicação de Ti2O3 na superfície (HELTH
et al., 2013). Já os espectros do Nb3d exibem a presença de apenas um componente, que foi ajustado
com distância entre o dublete de 2,72 (STEINER e HOECHST, 1979). O dublete se refere à presença
de Nb2O5 (HELTH et al., 2013).
86
Figura 60: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, e O1s para a amostra MI.
Figura 61: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, e O1s para a amostra MA.
Os espectros de XPS das amostras MI_TQT e MA_TQT nas regiões de alta resolução do
Ti2p, Nb3d, Na1s e O1s são apresentados nas Figuras 62 e 63, respectivamente. Com relação aos
espectros na região do Ti2p e do Nb3d, tanto os ajustes quanto os componentes identificados foram os
mesmos das amostras MI e MA. No entanto, vale destacar que houve significativa diminuição dos
87
picos de Timetálico após o tratamento químico e térmico das amostras, sugerindo que o procedimento
foi efetivo. Ademais, o dublete referente ao Ti+4, que para as amostras MI e MA (Figuras 60 e 61)
indicava a presença apenas de TiO2, passa a incluir também a presença de titanato de sódio
(Na2Ti3O7), como confirmado na análise da região do Na1s.
O espectro do Na1s apresentou dois componentes (Na-O e Na2O2) para a amostra MI_TQT
(Figura 62) e três componentes (Na-O, Na2O2, Ti LMM Auger) para a amostra MA_TQT (Figura
62). O pico que se refere à presença de Na-O, provavelmente inclui a formação de titanato de sódio
na superfície dos substratos, como desejado. Também foi identificada a formação de Na2O2
(MARCINIUK et al., 2014). Por fim, o pico de Na1s é fortemente sobreposto pelo pico de Ti LMM
Auger. Essa sobreposição é particularmente importante, por exemplo, quando se analisa a formação
de apatita em ligas de titânio bioativas, pois pode influenciar na quantificação do elemento sódio 3.
Figura 62: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s e O1s para a amostra MI_TQT.
3
https://xpssimplified.com/elements/sodium.php, acesso em 30/07/2019
88
Figura 63: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s e O1s para a amostra MA_TQT.
Ainda nas Figuras 62 e 63, os espectros do O1s exibem quatro componentes. O componente
Na KLL surgiu devido à interferência do pico Auger do sódio presente nas amostras
(SHCHUKAREV e Korolkov, 2004). O segundo e terceiro componentes indicam a presença de
oxigênio ligado ao carbono (C-O) e hidroxilas (O-H), respectivamente. E o quarto componente foi
identificado como oxigênio ligado a metal (Metal-O), que pode ser tanto o titânio quanto o nióbio
(Li et al., 2016; Marciniuk et al., 2014). É interessante notar que houve aumento substancial do pico
referente à hidroxila quando comparado ao pico do Metal-O em relação às amostras MI (Figura 60)
e MA (Figura 61). Isso acontece porque quando o substrato é submetido ao TQT, a camada de óxido
(passiva) dá lugar a uma camada contendo íons Na+ na superfície, na forma principalmente de
titanato de sódio (MIYAZAKI et al., 2002; TEIXEIRA et al., 2004). No entanto, os óxidos metálicos
TiO2 e Nb2O5 presentes na superfície da liga de Ti35Nb também se transformam em hidróxidos
Ti(OH)4 e Nb(OH)5 até certo ponto (XIONG et al., 2010). Dessa maneira, além da presença do
titanato de sódio, o aumento dos picos de OH- observado nas amostras tratadas com NaOH também
indica que o ataque químico foi efetivo.
Imediatamente após a imersão na solução biomimética simplificada, os íons Na+ da camada
amorfa de titanato de sódio são trocados pelos íons H3O+ do fluido circundante, resultando na
89
formação da camada de Ti–OH. Os íons OH- presentes na superfície capturam os íons de Ca2+ da
solução, incorporando-os na camada hidratada de Ti-OH e Nb-OH. Os íons Ca2+ carregados
positivamente atuam como locais de nucleação heterogênea de fosfato de cálcio, anexando a carga
negativa (PO4)3- para formar uma camada superficial enriquecida com Ca-P que cristaliza em apatita
semelhante ao osso. O consumo de H3O+ causa um aumento do pH e induz a precipitação de fosfato
de cálcio. (JONÁSOVÁ et al., 2004).
A Tabela 11 mostra as posições dos picos de cada componente para as amostras MI, MA,
MI_TQT e MA_TQT após a deconvolução dos espectros de alta resolução, Figuras 60, 61, 62 e 63.
Os resultados sugerem que os componentes identificados foram similares para todas as amostras. A
diferença de porosidade não influenciou significativamente na análise da composição química da
superfície. A única exceção foi na região do Na1s, em que para a amostra MA_TQT (Figura 63), foi
identificada a interferência de pico Auger do titânio, que não apareceu na amostra MI_TQT (Figura
62).
Tabela 11: Posições dos picos de cada componente para as amostras MI_TQT e MA_TQT.
Dublete Ti+4 458,1 e 463,8 458,1 e 463,8 457,9 e 463,6 456,8 e 462,5
Ti2p Dublete Ti+3 460,1 e 465,3 460,4 e 465,6 458,5 e 463,7 455,7 e 460,9
Dublete Timetálico 455,8 e 462,9 454,8 e 460,9 452,6 e 458,7 452,3 e 458,4
Nb3d Dublete Nb+5 206,6 e 209,4 206,8 e 209,5 206,3 e 209,0 205,2 e 207,9
90
anterior acerca das amostras controle (Figuras 60 e 61) e aquelas submetidas ao TQT (Figuras 62
e 63), verifica-se que para as regiões do Ti2p e Nb3d os espectros apresentam componentes similares.
Porém, o pico do Timetálico sofreu mais uma vez uma redução em sua intensidade, possivelmente
devido à presença das camadas de titanato de sódio e fosfato de cálcio. A análise mostrou que os
resultados são consistentes, portanto, com o que já era esperado para os espectros do titânio e do
nióbio pós-deposição. Porém, com relação aos espectros das regiões do Na1s e O1s, mudanças
significativas foram observadas com a presença do revestimento de fosfato de cálcio. Nos espectros
do Na1s foram identificados apenas dois componentes, sendo o primeiro referente à interferência do
pico Auger Ti LMM e o segundo referente à presença de titanato de sódio (Na2Ti3O7) na superfície
das amostras (TAKADAMA et al., 2001). Já o espectro do O1s, passou a apresentar três
componentes, tais como: hidroxilas (O-H), hidroxiapatita (HAP) e oxigênio ligado a elementos
metálicos (Metal-O), nesse caso titânio e/ou nióbio (LI et al., 2016; MARCINIUK et al., 2014).
Figura 64: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s, O1s, Ca2p e P2p para a amostra MI_TQT_21.
91
Figura 65: Espectros de XPS das regiões Ti2p, Nb3d, Na1s, O1s, Ca2p e P2p para a amostra MA_TQT_21.
A identificação do fosfato de cálcio formado foi confirmada com auxílio da análise dos
espectros do Ca2p e P2p apresentados nas Figuras 64 e 65. O dublete identificado no espectro do Ca2p
foi ajustado com distância de 3,5, conforme indicado na literatura (DEMRI e MUSTER, 1995), o
qual sugere ser hidroxiapatita - HAP/Ca10(PO4)6(OH)2, fosfato dicálcico - DCP/CaHPO4 ou fosfato
dicálcico dihidratado - DCPD/CaHPO4 • 2H2O. Com relação aos espectros na região P2p, foi
identificado apenas um componente em ambas as amostras. O componente se refere à presença de
fosfato tanto na amostra MI_TQT_21 (Figura 62) quanto na amostra MA_TQT_21 (Figura 63)
(TAKADAMA et al., 2001). Como a literatura reporta que picos com energias de ligação entre 531,0
e 532,2 eV no espectro do O1s se referem à presença de hidroxiapatita (DURDU et al., 2013; LI et
al., 2016; TODEA et al., 2018), pode-se considerar que o fosfato de cálcio formado durante a etapa
de deposição dos revestimentos na superfície das amostras MI_TQT_21 e MA_TQT_21 é
hidroxiapatita.
92
Tabela 12: Posições dos picos de cada componente para as amostras MI_TQT_21 e MA_TQT_21.
Tabela 13: Composição das espécies de titânio (% área) da superfície das amostras MI, MA, MI_TQT, MA_TQT,
MI_TQT_21 e MA_TQT_21 a partir dos espectros de XPS da região do Ti2p.
93
Os resultados traduzem em números o que já havia sido constatado visualmente. Ademais,
uma tendência de aumento da área do pico do Ti+4 é observada, o que associada à diminuição do
Timetálico, comprova que a modificação da superfície foi efetiva.
A Tabela 14 mostra a composição química em % atômica da superfície de cada amostra a
partir dos espectros de XPS de ampla varredura. É importante destacar que para a quantificação dos
elementos, não foi usado o pico de Na1s, porque houve interferência do pico Ti LMM Auger (Figuras
62, 63, 64 e 65). Dessa forma, foi usada a região do Na2s. Assim, nota-se mais uma vez que o
tratamento químico e térmico realizado nas amostras MI_TQT e MA_TQT modificou ambas as
superfícies, uma vez que os percentuais atômicos de titânio e nióbio foram significativamente
reduzidos quando comparados aos percentuais das amostras MI e MA. A formação de titanato de
sódio na superfície das amostras é o principal responsável pela diminuição do percentual das espécies
metálicas. No entanto, após a deposição do revestimento, os percentuais de Ti e Nb voltam a
aumentar. Esse aumento pode estar associado ao pico referente à ligação C-O, que foi identificado
na região do O1s das amostras MI_TQT e MA_TQT (Figuras 62 e 63, respectivamente), mas não
estava presente nas amostras MI_TQT_21 e MA_TQT_21 (Figuras 64 e 65, respectivamente). A
literatura reporta a formação de espécies oxigenadas indesejáveis à base de carbono, especialmente
de carbonato de sódio, durante o ataque químico com NaOH (LIN et al., 2013; TEIXEIRA et al.,
2004), o que justifica o pico presente nas amostras antes da etapa de revestimento (Figuras 62 e 63)
e que também contribui para a diminuição das porcentagens atômicas de Ti e Nb detectados na
análise de XPS. Porém, ao inserir as amostras na solução biomimética simplificada, esses compostos
possivelmente foram removidos da superfície das amostras, expondo mais a camada de óxidos
metálicos, que se encontrava parcialmente recoberta por compostos oxigenados à base de carbono.
Tabela 14: Composição química (% atômica) da superfície das amostras MI, MA, MI_TQT, MA_TQT, MI_TQT_21 e
MA_TQT_21 a partir dos espectros de XPS de ampla varredura.
% atômica
Amostra
Ti Nb Na O Ca P
94
Com relação às amostras revestidas com fosfato de cálcio, nota-se o aparecimento dos
elementos cálcio e fósforo em quantidades expressivas, sugerindo que houve a deposição do
revestimento na superfície das amostras MI_TQT_21 e MA_TQT_21 independentemente do nível
de porosidade dos substratos. Ainda vale ressaltar que não foi detectada a presença de contaminantes.
Os resultados de XPS corroboram com todos os anteriores no que diz respeito a modificação
de superfície (TQT) e a deposição do revestimento de CaP. As análises de MEV/EDS, DRX, FEG e
Raman já haviam indicado a ocorrência de uma alteração química nas ligas após o processo de TQT
e possível formação de titanato de sódio. Assim como a deposição de um revestimento de CaP, após
a imersão na SS biomimética.
A hipótese levantada anteriormente sobre formação de uma estrutura DCP pode ser
mantida, visto que a fase β-TCP, não identificada no XPS é precursora da HAP, podendo estar
presente em uma forma transitória para esta última. Mas de forma geral, pode ser afirmado que o
método biomimético produziu uma camada de revestimento biocompatível à base de fosfato de
cálcio, que era um dos objetivos principais do trabalho.
4.6 MEV/FIB
Como mencionado na metodologia de preparação por MEV/FIB da amostra para
MI_TQT_21 para análise em MET, foram depositadas camadas protetoras sobre a amostra de
carbono por feixe elétrons (Figura 29 (a)), platina por feixe de elétrons (Figura 29 (b)) e platina por
feixe de íons (Figura 29 (c)), para proteger o revestimento de CaP.
A Figura 66 mostra a imagem da seção transversal da amostra MI_TQT_21 obtida por
MET. A imagem apresenta 5 camadas, sendo elas referentes a: camada protetora de platina
depositada com feixe de íons (Pti); camada protetora de platina depositada com feixe de elétrons
(Pte); camada protetora de carbono depositada com feixe elétrons (C); revestimento de hidroxiapatita
(HAP) e, finalmente, liga de Ti35Nb (TiNb). A espessura do revestimento de HAP formado variou
entre 100 e 150 nm e é possível notar uma interface substrato/revestimento coerente e sem falhas em
alta resolução, indicando uma camada contínua de CaP depositada na superfície de Ti35Nb com
ligação química adequada fornecida pelo TQT.
Através da análise química por EDS, realizada no modo STEM, apresentada na Figura 67,
é possível certificar a diferença entre a camada de HAP e o substrato metálico. A Área 1, que
corresponde à região do substrato, apresenta somente os elementos referentes à liga de Ti35Nb e o
elemento cobre, que surge devido à presença do metal na grade usada na análise de microscopia de
transmissão. Já na Área 2, são identificados também o cálcio e o fósforo da hidroxiapatita, além dos
elementos da liga metálica.
95
Figura 66: Imagem de microscopia eletrônica de transmissão da seção transversal da amostra MI_TQT_21.
Figura 67: Imagem de microscopia eletrônica de transmissão da amostra MI_TQT_21 e espectros de EDS da região do
substrato (Área 1) e da região do revestimento de HAP (Área 2).
96
Ainda explorando a região referente ao revestimento de HAP, observa-se na Figura 68 a
formação de duas regiões com diferentes morfologias. A camada inferior, mais densa, sugere ser
formada por uma microestrutura porosa esponjosa, enquanto a camada superior representa a
microestrutura porosa lamelar identificada na imagem de MEV/FEG (Figura 48). Hu et al. (2018)
também observaram que o revestimento se apresentou mais denso próximo à interface
substrato/fosfato e tornou-se mais poroso quanto mais próximo à superfície, porém não explicaram
esse fenômeno.
Figura 68: Imagem de microscopia de transmissão e espectro de EDS do revestimento de HAP da amostra
MI_TQT_21.
97
perpendicularmente (se projetando para fora) do substrato e tem aparência globular. A orientação
preferencial observada no plano (001) é limitada a alguns poucos nanômetros a partir da superfície
do substrato. A partir daí o crescimento é randômico. Dessa forma, os cristais de hidroxiapatita
possuem aparências diferentes dependendo da superfície em que crescem, o que justifica as duas
camadas observadas na Figura 69 (XIA et al., 2011).
Figura 69: Imagens de MEV (a) e MET (b,c) do revestimento de CaP da amostras MI_TQT_21: identificação de duas
diferentes morfologias de HAP.
98
GOF = 1,22 Calculado
DB = 2,00 Observado
Intensidade (u.a.)
47% TiO
37% Nb
10% TiO2
6% TiO0.325
30 40 50 60 70 80 90
2 (º)
Figura 70: Difratograma da amostra MI_TQT refinado pelo método de Rietveld.
Figura 71: Imagens de MET do revestimento de HAP da amostra MI_TQT_21. Sequência de magnificações da região
do revestimento de HAP da amostra MI_TQT_21.
99
Figura 72: Imagem de MET com aumento de do revestimento de HAP da amostra MI_TQT_21: determinação da
distância interplanar.
4.7 PERFILOMETRIA
Quatro amostras foram submetidas a análises de qualidade superficial após cada etapa de
processamento, com a finalidade de acompanhar a evolução da rugosidade. Desta forma foi possível
averiguar como se comporta a rugosidade da liga após receber o TQT e os revestimentos de 14 e 21
dias de CaP. Na sequência serão apresentados os resultados para cada uma das amostras em separado
e ao fim uma análise geral.
100
Figura 73: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após sinterização e imagem 3D correspondente.
Esta amostra foi então submetida ao TQT, para a formação da intercamada de titanato de
sódio. Após este tratamento a amostra apresentou uma redução expressiva da rugosidade média
(Figura 74), passando a um valor de Ra = 6,290 µm.
Figura 74: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após TQT e imagem 3D correspondente.
101
Figura 75: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após revestimento e imagem 3D correspondente.
30
25
20
Ra (m)
15
10
0
MI16 MI16_TQT MI16_TQT_14
Figura 77: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após sinterização e imagem 3D correspondente.
102
Em sequência, a amostra passou pelo TQT e teve sua rugosidade média avaliada e calculada
em Ra = 8,923 µm. O que novamente mostra uma redução muito significativa dos valores, mostrando
mais uma vez que a intercamada de titanato suavizou a superfície (Figura 78).
Figura 78: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após TQT e imagem 3D correspondente.
Figura 79: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MI após revestimento e imagem 3D correspondente.
103
30
20
Ra (m)
10
0
MI17 MI17_TQT MI17_TQT_21
Figura 81: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após sinterização e imagem 3D correspondente.
Esta mesma amostra passou pelo TQT e em seguida sua superfície foi caracterizada em
perfilometria, novamente mostrando uma superfície ainda heterogênea. A rugosidade se manteve
elevada e com valor médio de Ra = 41,220 µm. Por mais que a redução da rugosidade média, com
relação a análise anterior, tenha sido muito baixa, é notável que a superfície se torna “suave”, com
certa homogeneização das áreas sem presença de macroporos (Figura 82).
104
Figura 82: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após TQT e imagem 3D correspondente.
Dando sequência as análises, a amostra passou por imersão em SS por 14 dias e então teve
sua rugosidade média verificada, atingindo um valor de Ra = 31,389 µm. Percebe-se uma redução
expressiva do valor médio de rugosidade, o que pode ser explicado pela camada de CaP depositada.
Isto ocorre em toda a superfície, inclusive nos poros, tornando-a mais homogênea (Figura 83).
Para esta amostra, novamente, ocorreu uma redução de Ra ao longo de seu processamento,
sendo a redução mais expressiva decorrente da deposição do revestimento e não mais do TQT, como
nas amostras MI. De toda forma, se observa que houve a formação das camadas, seja de titanato ou
de CaP, favorizadas pela grande área superficial das ligas sinterizadas.
Outro fator de grande relevância na análise desta amostra diz respeito a alta dispersão dos
valores médios (Figura 84) Este fato é causado pela presença de macroporos, que possuem
rugosidade muito mais elevada do que o restante da superfície.
105
70
60
50
40
Ra (m)
30
20
10
0
MA16 MA16_TQT MA16_TQT_14
Figura 85: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após sinterização e imagem 3D correspondente.
O processo de TQT nesta liga produziu uma superfície com Ra = 33,611 µm, que demonstra
a marcante redução da rugosidade média. Na Figura 86 ainda é visível a expressiva presença dos
macroporos, mas também se nota uma superfície mais homogeneizada do que anteriormente.
106
Figura 86: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após TQT e imagem 3D correspondente.
Por fim, a mesma amostra foi imergida por 21 dias em SS, a fim de depositar o revestimento
de CaP e o que pode ser observado, mais uma vez, é o efeito causado na redução dos valores médios
de rugosidade (Figura 87). Obteve-se Ra = 27,266 µm.
Figura 87: Mapa topográfico 2D da superfície da amostra MA após revestimento e imagem 3D correspondente.
Uma vez mais esta amostra Macroporosa apresentou alta dispersão de resultados (Figura
88), proveniente da presença de macroporos.
As amostras Macroporosas demonstraram um comportamento similar as Microporosas,
com redução da rugosidade média após TQT e deposição do revestimento. Mas, por se tratar de
superfícies com presença de macroporos, as reduções foram menos expressivas, mas não
desconsideráveis. As análises físicas e químicas realizadas provaram que houve formação
homogênea da intercamada de titanato de sódio e deposição em toda a superfície de CaP,
independentemente da porosidade.
107
70
60
50
40
Ra (m)
30
20
10
0
MA17 MA17_TQT MA17_TQT_14
108
al. (2015), a liga Microporosa apresenta maior quantidade de Nióbio em sua estrutura, o que está
diretamente ligado a maior dureza do material (Silva et al., 2017).
De forma geral, quando comparados a trabalhos da literatura, os resultados obtidos são
coerentes e similares (OLIVEIRA et al., 2015; XU et al., 2009), mostrando que a porosidade não
exerce influência sobre esta propriedade.
Microdureza (HV)
250
200
150
HV
100
50
0
MI MA
Figura 89: Comparação entre as microdurezas das ligas MI e MA.
109
5. CONCLUSÕES
Os procedimentos estabelecidos para a produção da liga (mistura, compactação, tratamento
térmico e sinterização) foram capazes de produzir ligas do tipo Ti-β micro e macroporosas e de baixa
densidade, características importantes quando se trata de material para aplicação em ortopedia e
odontologia. Os difratogramas e espectros EDS mostraram a formação homogênea da liga, com boa
distribuição dos elementos. Ainda foram verificadas as morfologias formadas nas ligas, assim como
dos poros, indicando a eficiência processo.
A adição do formador de poros BA se mostrou eficiente em produzir macroporos
interconectados de tamanho e morfologia capazes de permitir a penetração dos fluidos corpóreos
dentro dos poros.
Os tratamentos químico e térmico (TQT) produziram uma intercamada de titanato de sódio
homogênea e por toda a superfície, que por sua vez torna a superfície ativa e propícia a receber o
revestimento de CaP.
A análise dos espectros de XPS comprovou a presença de fosfato de cálcio do tipo
hidroxiapatita na superfície das amostras MI_TQT_21 e MA_TQT_21, demonstrando que foi
possível revestir ambos os substratos pelo método biomimético, independentemente do nível de
porosidade.
Os espectros de EDS obtidos no ME/FIB sugeriram que há maior concentração de nióbio
próximo à superfície do que no bulk, devido ao efeito de segregação por tamanho das partículas de
Ti e Nb, que possivelmente ocorreu na etapa de compactação dos pós durante o preparo dos
substratos.
A análise por microscopia eletrônica de transmissão indicou que o revestimento depositado
possui espessura entre 100 e 150 nm e também confirmou que a fase de CaP depositada é de
hidroxiapatita.
A avaliação da evolução da rugosidade média das superfícies permitiu identificar o TQT
como principal processo de redução de Ra. Além disto, o TQT e a deposição do revestimento fizeram
com que a superfície se torne mais homogênea.Os resultados de dureza, apesar da dispersão,
indicaram valores correspondentes a outros trabalhos que produziram o mesmo tipo de liga,
confirmando mais uma vez o sucesso do processo de sinterização.
De forma geral, todos os resultados corroboram que os processamentos aplicados foram
capazes de produzir biomateriais micro e macroporosos com valores de dureza adequados e com um
revestimento bioativo de CaP. O TQT e o método biomimético foram capazes de modificar, de forma
positiva, a superfície do material, tornando-o mais propenso a osteointegração. Sendo assim, este
110
trabalho de pesquisa trouxe expressivos resultados sobre técnicas para a produção de ligas de Ti35Nb
micro e macroporosas com revestimento bioativo de HAP.
111
6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
112
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