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ESCOLA POLITECNICA DA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS E FUNDAGOES CURSO DE PONTES E GRANDES ESTRUTURAS PROJETO: SUPERESTRUTURA DE PONTE EM VIGAS ISOSTATICAS DE CONCRETO ARMADO MOACYR DE FREITAS JUNHO 1977 UNIVERSIDADE DE SAO PAULO ESCOLA POLITECNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS E FUNDACOES. CURSO DE PONTES E GRANDES ESTRUTURAS Projeto: Superestrutura de Ponte em Vigas Isostaticas de Concreto Armado Moacyr de Freitas 1977 APRESENTA A presente publicacao liga-se as aulas de ae da disciplina PEF-401, "Pontes e Grandes Estruturas I", lecionada pelo Depar- tamento de Engenharia de Estruturas e Fundagoes da Escola Poli- técnica da Universidade de Sao Paulo. Esta publicagao esta sendo feita em uma fase de transicio na parte da Teoria das Estruturas correspondente ao projeto das es truturas de concreto em geral, e das pontes em particular. Es= sa transicao deve-se as profundas modificacdes havidas nos alti mos anos na forma de introduzir a seguranca no projeto, e teoria do comportamento mecanico das pecas e estruturas de con- creto, gracgas a0 desenvolvimento revolucionario iniciado com as atividades do CEB. Esse desenvolvimento levou & revisado da NB-1, ja completada, e da NB-2 e NB-116, apenas iniciadas. Levou tambem todo o meio técnico brasileiro ligado ao projeto de estruturas de concreto a um enorme esforco para incorporar essas modificagoes as suas praticas de projeto, esforco esse que hoje se encontra ainda jonge de estar completo. Os conceitos e os calculos se tornaram mais complexos, existem muitas duvidas a serem esclarecidas, existem muitas sistematicas de calculo a serem desenvolvid existem muitos problemas ainda a serem resolvidos. Essas mesmas modificacgoes, embora se constituam em um progresso notavel, permitindo projetos em que a seguranca e a economia das estruturas como um todo sejam consideradas de forma muito mais racional, exigiram uma revisao completa dos cursos de "Concreto Armado e Protendido", que ate hoje, internacionalmente, ainda nao conseguiram se reestabilizar, e, direta ou indiretamente, exigem tambem uma revisao dos cursos de “Pontes e Grandes Estru turas", e ate mesmo de "Resistencia dos Materiais e Estatica— das Construgoes". Para todos os cursos citados deve ser lembrado que autilizacao corrente dos computadores digitais, juntamente com o desenvolvi mento do Método dos Elementos Finitos, levou a uma outra revolu G80, agora nos métodos de analise do comportamento mecanico das estruturas, que fatalmente deve se refletir também nos cursos Ja citados. Pelo fato desta publicagéo ser feita na fase de transi acima indicada, devera ela sofrer revisoes em muitos pontos, a medida que as idéias evoluam, e isto @ previsivel a curto prazo. Pelo mesmo fato, alguns dos procedimentos seguidos sao controverti dos, mesmo no projeto de_uma estrutura simples como aquela aqui considerada. Trata-se no de um defeito da publicacao ou de falta de conhecimento do seu competente autor, mas de uma decor réncia_do panorama atual da Teoria das Estruturas, que result, como j@ foi visto, de uma evolucéo técnica muito grande, muito rapida e muito recente, que precisa ser absorvida em seus aspec tos gerais e desenvolvida em seus detalhes para a sua aplicagao corrente em projetos, 0 que esta sendo feito, mas o que ainda nao foi feito de forma completa, em todo o mundo. 0 cilculo e dimensionamento da infraestrutura (aparelhos de apoio, pilares e fundacoes) nao foi incluido aqui porque devera ser alvo de publicacao especifica. 0 detalhamento da armadura também n3o foi ainda inclutdo, o que devera ser feito na proxi- ma edicgao. © grupo de professores de “Pontes e Grandes Estruturas" da FPUSP solicita criticas e sugestoes que possam ser feitas para melhorar o trabalho, em suas futuras revisoes. Sao Paulo, 12 de marco de 1977 Decio de Zagottis_ | Professor Responsavel pelas Disciplinas "Pontes e Grandes Estruturas I e II" iM. 12. 13. 14, 15. 16. 7 18. 19. 20. 21. 22. 23. eran eons INDICE INTRODUCAO E COMENTARIOS Memorial de Calculo Anteprojeto Normas Estruturais Classe da Ponte Materiais Bibliografia Calculo da Superestrutura Agdo da Carga Permanente Acao da Carga Mével Preparo do Trem-Tipo Disposigao Longitudinal do Trem-Tipo Linhas de Influéncia Valores Finais Dimensionamento - Momentos Fletores Fadiga Disposigao da Armadura Dimensionamento - Forgas Cortantes Fadiga - Armadura Transversal Espagamento dos Estribos Lajes Hipdteses de Calculo da NB2/61 para o Calculo de Lajes Aplicagao das Condicdes da NB2/61 - Art.24 Aco de Carga Horizontal no Guarda-Rodas 1.01 1.01 1.02 1,02 1.03 1.03 1.03 1.04 1.04 1,05 1.06 1,08 1.10 1.10 THF 2 1.14 1414 1.15 1.15 1.16 1.16 1.17 1.18 INDICE Mm. MEMORIAL DE CALCULO 1. Anteprojeto 2. Preliminares 3. 'Calculo da Superestrutura 3.1 Vigas Principais 3.1.1 Agdo da Carga Permanente 3.1.2 Agao da Carga Mével 3.1.2.1 Preparo do Trem-Tipo 3.1.2.2 Forgas Cortantes 3.1.2.3 Momentos Fletores 3.1.3 Valores Finais 3.1.3.1 Forgas Cortantes 3.1.3.2 Momentos Fletores 3.1.4 Dimensionamento 3.1.4.1 Momentos Fletores 3.1.4.2 Forgas Cortantes 2.2 Lajes 3.2.1 Lajes Centrais 3.2.1.1 Lajes dos Tramos em Balancos 3.2.1.2 Lajes do Tramo Central 3.2.2 Lajes em Balancgo 3.2.3 Dimensionamento das Lajes 3.2.3.1 Lajes dos Tramos em Balancos 3.2.3.2 iayes do Tramo Central Pag. i Il, Tle 02 II 1. The 1h. II. Il, 1,00 (%, em metros, € um valor especificado pela NB2/61 conforme © tipo de estrutura da super e @ funcao do comprimento dos tra - mos da ponte). 10 - Preparo do Trem-Tipo Estabelecidas as cargas moveis que vio agir sobre a ponte, de- ve-se determinar a sua disposigao sobre 0 tabuleiro, de modo que provoque solicitacées extremas (maximas ou minimas) sobre o_elemento estrutural considerado. Em particular, no caso do calculo das vigas principais, dispoe-se as cargas moveis trans versalmente, de forma a produzir, no eixo da viga principal considerada, reagoes maximas e minimas. Dessa forma obtem-se a0 longo desse eixo um conjunto de cargas moveis ficticias, Que representarao a agao das cargas moveis reals sobre a viga principal. Esse conjunto de cargas ficticias denomina-se “trem-tipo", e apresenta as seguintes propriedades: a. 0s valores parciais das cargas séo constantes, bem como a sia posigao relative. b. Pode-se deslocar as cargas ao Tongo do eixo da viga de forma a ocupar nas Tinhas de influen - cia as posigoes mais desfavoraveis. A determinacao dessas reagdes das cargas moveis sobre o eixo de uma viga principal de modo a constituir o correspondente “trem-tipo" depende do tipo estrutural da superestrutura, No caso simples de tabuleiro apoiado sobre duas vigas principais como @ 0 caso do presente projeto, @ usual o emprego de proce: $0 aproximado para o estudo da distribuigao transversal das gargas moveis, admitindo-se que o tabuleiro seja simplesmente apoiado sobre essas vigas principais. Dessa forma, a reacao Sobre a viga I, por exemplo, provocada por uma carga qualquer P agindo sobre o tabuleiro, pede ser facilmente determinada através da linha de influenciadareacao de apoio, isto @, va- Rr = Pp Figura 1-01 De acordo com este critério, quando a carga P se encontrar so- bre o eixo de uma das vigas principais, a reacao sobre a outra viga sera nula. Este processo de distribuicao transversal de cargas em pontes cuja Superestrutura apresenta duas vigas principais constitue uma simplificagao, e esta a favor da seguranca. Processos mais exatos mostram que essa distribuicao transversal de cargas nao obedece uma lei linear, como a adotada normalmente. Existe uma colaboracao maior entre as duas vigas, de modo que, mesmo quan do a carga se situe sobre o eixo de uma das vigas, uma parcela dessa carga se transmite para a outra viga. 0s processos estu dados mostram que, nesse caso, a viga diretamente carregada ab. sorve_de 70% a 85% da carga aplicada, o restante sendo transmT tido 3 outra viga. Um processo simples para levar em conta @ distribuigado transversal mais aproximada das cargas . aplicadas » por exemplo, o apresentado por Max Herzog, na revista alema Briicke-Strasse-Tunnel" - 1/71, 1,08 Figura 1-02 A determinacao das cargas que constituem o trem-tipo_torna-se mais complexa quando a superestrutura apresenta um numero de vigas principais superior a dois, isto @, nas grelhas. Nesses tales, ha diversos processos a disposigao para o estudo da Gictribuicgo transversal das cargas e a consequente formagao Go trem-tipo para cada viga principal. Dependendo das carac- eristicas de rigidez dos elementos que formam a superestrutu ra eo grau de precisao desejado, podem ser empregados os W tods de Engesser-Courbon, Guyon-Massonet ou mesmo métodos mais completos, come os computacionais. 11 = Disposicgao Longitudinal do Trem=Tipo No caso da aplicagdo da NB6/60, o trem-tipo & normalmente cons titutdo por tres tipos de cargas: ~ a. Trés cargas concentradas, gue representam o efei to do peso das rodas do veiculo tipo (cargas P)~ b. Uma carga uniformemente distribuTda, situada no mesmo trecho ocupado pelo verculo (multidao m, » com extensao longitudinal de 6,00 m). c. Uma carga uniformemente distributda, situada an- tes_e depois do trecho ocupado pelo vetculo (mu) tidio m,, com extensao ilimitada). 1.09 150 — Ft 04 180. TU m2 Figura 1-03 Disposigao Longitudinal Para vaos superiores a 30,00 m, & posstvel fazer as seguintes simplificagdes no esquema do trem-tipo para calculo das vigas principais: a. utilizacao de uma inica carga uniformemente dis- tribuida m, e tres cargas concentradas P'. 1 pl pl 150 Peo 180), 150 ‘ so] is] i \ + t — Mooatoctel ——_SEomue me m™ Me ™2 Figura I-04 Am = 6,00 (m, - m,) Pt =p - 4 dm ou P! = P - 2,00 (m2 - m) isto @, reduzem-se as cargas concentradas ao mes. mo valor que corresponde ao acrescimo de carga uniformemente distribuida. b. utilizagao de uma Gnica carga uniformemente dis- tribuida mz e uma nica carga concentrada Pp". PPP pll 180] 1804180}180] fl ms Iii m m m ™ 2 ‘ Figura 4-08 2 dm = 6,00 (m, = m,) » 3P - Am Estas transformacdes sao admitidas sempre que, na determinagdo dos esforcos solicitantes nas varias seccdcs da viga principal, a5 diferencas obtidas em relacdo_aos valores correspondentes a0 trem-tipo original sejamdespreziveis. Isso ocorre quando os vaos das vigas principais superam 30,00 m de comprimento. Tra ta-se, todavia, de uma questao de opcao em relacao.@ precisa desejada nos calculos, de forma a ser determinada, previamente, ual a porcentagem de erro que pode ser considerada admissivel tax, Ss°ou mais). 12 - Linhas de Influéncia uma vez determinado o trem-tipo para a viga principal em estu- do, a acdo das cargas moveis € considerada atraves do emprego de'linhas de influencia de esforcos solicitantes, referentes a um certo numero de seccdes da mencionada viga. Essas seccdes devem ser as mesmas para as quais ja se determinou, em calculo anterior, a acao das cargas permanentes, de forma a ser possi- vel, posteriormente, obter a superposicao dos dois efeitos, de vidos as cargas permanentes e as cargas moveis, respectivamen= te, e proceder ao correspondente dimensionamento. 0 tracado degsas linhas de influéncia, no caso de estruturas isostaticas, como @ 0 exemplo das vigas principais do presente projeto, @ bastante simples, sendo constituidas por trechos retos. Através do emprego das linhas de_influéncia relativas a forgas cortantes e momentos fletores, sao determinados os valores ma- ximos e minimos desses esforcos solicitantes, devidos a agao das cargas moveis, pela disposigao conveniente do trem-tipo ao Jongo da viga principal, carregando-se apenas, de cada vez, os trechos das linhas de influencia que apresentam o mesmo sinal. 13. - Valores Finais Obtidos os valores das forcas cortantes V e momentos fletores M, devidos 4 acado das cargas permanentes e moveis, e relativos 3S seccoes previamente estabelecidas ao longo da viga, os valo res finais_desses esforcos solicitantes sao determinados pela superposigado dos valores parciais que se correspondem. Os valores caracter?sticos de V eM sao obtidos pela simples soma dos valores correspondentes a acao das cargas permanentes e cargas moveis em cada secgao: ‘RF Yq + Vy Mt Mg + Mp indice 9 - cargas permanentes indice p - cargas mévets ru De acordo com a NBI/76, os valores de calculo seréo obtidos multiplicando-se os valores caracteristicos pelo coeficiente de majoragao y¢ = 1,4: Vg = 164 Vy Mg = 1.4 My Todavia, tendo sido feita a utilizagdo das "Tabelas para Dimen sionamento de Concreto Armado" - segundo a NB1/76 - Promon 1975/76 no dimensionamento das secgoes a flexaéo, empregou-se apenas o valor caracteristico My dos momentos fletores, vez que, nas referidas tabelas, 0 coeficiente de majoracgao ve = 144 Ja se encontra considerado. Os valores finais dos estorcos solic tantes Vv eM (respectiva- mente V sao dispostos em tabelas, a fim de facilitar a siyuciiisaghy poctertors wa fase ide diiensianaaentes 14 = Dimensionamento - Momentos Fletores © dimensionamento das secgdes da viga principal em concreto ar mado, isto @, a_determinagao da secgao da_armadura a partir do conhecimento prévio das dimensoes da seccdo de concreto e das resistencias de calculo dos materiais, foi feito, no presente projeto, com o emprego das ja referidas Tabelas da Promon. De- vem ser distinguidos dois casos nesse dimensionamento, a sabe: a. Secgdes sujeitas a momentos positivos, isto &, seccoes T. b. Secgdes sujeitas a momentos negativos, isto é, secgées retangulares. No caso das seccdes T, deve ser previamente determinada a “lar gura colaborante", ou seja, a parte da laje do tabuleiro que deve ser considerada como fazendo parte da.secgao e mnstituin- do a "mesa" superior da seccao T. Essa largura colaborante @ obtida a partir da NBI/76 - ArtQ 3.2.2.2. No caso,das secgoes T, @ importante a determinagao do coeficiente B,= 2, atraves do qual @ posstvel saber se a linha neutra situa-se dentro da mesa superior ou corta a alma (nervura) da seccao. No primeiro caso, o dimensionamento @ feito como para uma sec- gao retangular, com largura by = be, sendo br a largura colabo Fante, enquanto que no segund® casé havera neécessidade de con= siderar o trecho comprimido da nervura. As Tabelas da Promon permitem a consideracdo dos dois casos. 1.12 15 - Fadiga A presenga de cargas moveis atuando sobre pegas de concreto ar mado pode determinar, nas mesmas, a ocorréncia do fendmeno da fadiga, isto 6, a ruptura das barras de ago para tensoes infe- riores as que corresponderiam a essa mesma ruptura sob @ agao de cargas estaticas. 0 estudo detalhado da fadiga @ de nature za complexa. Para facilitar a sua consideragao nas pegas de concreto armado, a EB3/71, em seu Anexo I, estabelece que a ocorrancia da fadiga @ exclusivamente funcao da variacao de tensdes na armadura, provocada pela acao das cargas moyeis e da forga centrifuga, nao se considerando, nessa variacao de tens30, os efeitos da retracao, deformacao lenta, variacao de temperatura e outros esforcos secundarios. A consideragdo da possibilidade de ocorrer o fendmeno da fadi- ga em pecas de concreto armado tornou-se necessaria pelo empre go, atualmente quase exclusivo, de barras de ago de alta resis tencia ede grande aderéncia. Em virtude de ser solicitada por tensdes muito elevadas, pela acao das cargas moveis (prin- cipalmente nas pontes), existe a possibilidade de ocorrerem grandes oscilagoes no valor da tensao na armadura e, portanto, 0 perigo da fadiga. Para facilitar os calculos, a £B3/71 estabelece que, para le- var em consideracao os efeitos da fadiga na armadura_em pegas de concreto armado, pode-se determinar a sua seccao A, com a tensao de escoamento normal do aco fy,; essa secgao vera ser multiplicada, no caso de barras retas (ou § pa- ra aquelas cujos raios de curvatura apresentem valores mini = mos dados no item 6 da £B3/71), por um coeficiente k, cuja expressao 6: em que My. M, = valores algébricos do maior e menor momentos fletores que podem ocorrer na seccao, respec tivamente. Quando M, eM, forem de sinais opostos, assume-se M,/2 em lugar de Ma fy, = tensdo de escoamento caracteristica do tipo de aco utilizado (em kgf/cm?) 6, = 2822 kgtyem? com y = 1,00 - pontes em estradas principais p = 0,75 - pontes em estradas secundarias

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