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WUTO OF PESQUISAS TECNOLOGICAS Bo ESTADO DE SAO PAULO B/A. ~ IT iviade de intormacis Tecostigicn ~ BITES ANTONIO CARLOS MARTINS PONTES Metodologia para Elaboracdo de Laudo Pericial de Defeitos em Revestimentos de Argamassa Trabalho Final Apresentado ao Instituto de Pesquisas Tecnolégicas do Estado de Sao Paulo — IPT, para Obtengao do Titulo de Mestre Profissional em Habitagao. Area de concentragao: Tecnologia em Construgao de Edificios. Orientador: Prof. Dr. Claudio Sbrighi Neto IPT - CITEC TomBo | CLassiFICAacAo Jesagy } 644.53 (043 PBA ne 5 Sao Paulo 2002 ii AGRADECIMENTOS Agradego ao meu orientador Prof. Dr. Claudio Sbrighi Neto, o apoio e estimulo que possibilitou o desenvolvimento deste trabalho, Aos Profs. Dr. Carlos Eduardo de S. Tango e Dra. Silvia Maria de S. Selmo, agradego as sugestbes e comegdes propostas ‘Ao Desembargador Benedito Silvério Ribeiro, pela revisio do texto juridico corregdo ortogritfica e gramatical de todo o trabalho. Ao Prof Gilberto de Ranieri Cavani, pelos empréstimos e sugestées de bibliografias e pelo auxilio sempre encontrado, ‘Aos funcionarios da EMBRAPE, pelo empenho ao trabalho durante minha auséncia. Aos funcionarios da Biblioteca e Secretaria do IPT - (CENATEC), pela constante paciéneia e boa vontade em ajudar. A minha familia, esposa e filhas, pelo incentivo e compreensio durante o desenvolvimento deste trabalho. SUMARIO Lista de Figuras Lista de Fotos. Lista de Tabelas Resumo, Abstract, 1, Introdugao soo 1.1. Importincia e Justificativa do Trabalho 1.2. Objetivos . 1.3, Estrutura do Trabalho... 2. Pericias de Engenharia 2.1, Introdugao . 2.2. Vicios de Construgao, 2.3. Fundamentos Legais... 2.4, Laudo 3. Defeitos em Revestimentos de Argamassa 3.1. Tipos de Defeitos 5 3.2. Defeitos mais Encontrados em Vistorias, 3.3. Descrig&o e Causas de Defeitos em Revestimentos de Argamassa 3.3.1. Eflorescéncia ene 3.3.2. Bolor... scsi 3.3.3. Vesiculas 3.3.4. Descolamentos de revestimentos em argamassa. 3.3.5. Fissuras.. 4. Metodologia para Pericia de Defeitos em Revestimento de Argamassa 4.1. Descrigao das Etapas do Trabalho do Perito 4.1.1. Inicio do processo judicial... ae iii vi vii viii ix ol 01 02 02 ee 07 08 12 15 18 20 21 21 24 25 25 29 36 iv 4.1.2. Plano de trabalho. a 39 4.13. Vistoria de campo. — Al 4.1.4. Despacho em juizo e protocolo do laudo em cartério,... 42 4.15, Manifestagdo do autor e réu. a2 4.2. Metodologia para Vistoria de Campo ne nee AB 4.2.1, Estudo dos autos... nnn 45 4.2.2. Vistoria de campo, a eens 45 42.3. Anilise visual, coleta de testemunhos ¢ complementagio de dados en seas 45 4.2.4. Realizagdo de ensaios. one AS 4.2.5, Identificagao da origem do problema 46 5, Laudos Técnicos Periciais de Casos com Defeitos em Revestimentos de Argamassa. AB 5.1, Caso A . ~ sas we ese AB 5.1.1. Consideragdes preliminares_ a . actresses lS 5.1.2. Vistoria._.. 50 5.1.3. Resposta aos quesitos. oe ennai D 5.1.4, Conclusao. freon reese 5.2. Caso B... scccpainn 54 5.2.1. Consideragdes preliminares. 0000. cteee 54 5.2.2. Vistoria,.. 54 5.2.3. Conclusio.... 56 6. Conclusio...... ST 7. Propostas para Prosseguimento do Trabalho. 58 ‘Anexo A Modelo da planilha utilizada para levantamento de defeitos em laudos 59 ‘Anexo B — Modelo preliminar de planilha para_vistoria de defeitos em revestimento de argamassa. 61 Anexo C ~ Resumo de ensaios, Referéncias Bibliograticas Bibliografia Complementar. 63 69 72 vi Lista de Figuras Figura 1. Prevengao de danos de revestimentos nas diferentes etapas de construgio"? 18 Figura 2. Fissuras horizontais, devido a expansio das juntas da alvenaria sob 0 revestimento de argamassa..... 31 Figura 3. Fissuras decorrentes da auséncia de contraverga 32 ruz™, 33 Figura 4, Fissuramento tipico de laje simplesmente apoiada, armada em c Figura 5. Fissuras tipicas em pilares de concreto armado: a) por esmagamento do conereto; b) por insuficiéncia de estribos; ¢) por solicitagao de flexo-compressio™. 33 Figura 6. Etapas do trabalho do perito.... 37 Figura 7. Etapas para levantamento e anélise de defeitos em revestimento de Ad argamassa...... Figura 8. Sequéncia de realizagao do ensaio”, Figura 9. Tipos de ruptura no ensaio de determinagao da resisténcia de aderéncia & tragio = coves a 66 Figura 10. Ensaio de permeabilidade & agua, conforme o método do CSTB (Cahier 2669-4, 1993), ST Figura 11, Método do cachimbo proposto pelo CSTC (NIT n° 140, 1982)... 67 vii ita de Fotos Foto 1. Manchas de cor marrom em brises, decorrentes da corroséo de armaduras ain 22 Foto 2. Manchas de umidade proximas ao rodapé, em ambiente interno. 23 Foto 3. Ocorréncia de bolor e eflorescéncia em revestimento externo....... 24 Foto 4. Descolamento do revestimento em ambiente interno.. 26 Foto 5. Descolamento superficial do revestimento e pintura em ambiente externo 26 Foto 6. Revestimento com fissura em mapa . 30 Foto 7. Trincas devidas a recalques diferenciais em edificagao assentada sobre aterro mal compactado™) oo... . seed 4 Foto 8. Trinca a 45° na parede do hall de entrada do imovel (retirada de Jaudo pericial) 34 Foto 9. Fissuras horizontais em fachada lateral, 52 Foto 10. Fissuras horizontais em fachada frontal. __ 52 Foto 11. Manchas de umidade no canto direito do caixilho... 3 Foto 12. Manchas de umidade e empolamento do revestimento interno. me] Foto 13. Fissuras e empolamento do revestimento interno. exsccmasa Foto 14. Fissura horizontal no revestimento interno. _ sig Foto 15. Arrancamento de pastilha a tragio, colada ao corpo-de-prova, em revestimento vertical. 65 Lista de Tabelas Tabela 1. Materiais constituintes das argamassas de revestimento™”.. Tabela 2. Manifestagdes patologicas dos revestimentos de argamassa Tabela 3. Defeitos mais encontrados em vistorias.____ 3) viii 1S 19 2 ix RESUMO Pontes, Anténio Carlos Martins. Metodologia para elaboracao de laudo pericial de defeitos em revestimento de argamassa. Trabalho final apresentado ao Instituto de Pesquisas Tecnolégicas do Estado de Sao Paulo ~ IPT, para obtengo do titulo de Mestre Profissional em Habitagao. Sao Paulo, 2002 Do ponto de vista funcional, os sistemas de revestimento de argamassa so integrantes das vedagSes ¢ fundamentais para a durabilidade dos edificios, e refletem com mais fidelidade os possiveis e eventuais defeitos ou falhas da edificago como um todo. Este trabalho tem como objetivo propor uma metodologia para avaliagio pericial de defeitos em revestimentos de argamassa, que comumente se manifestam sob a forma de fissuras, descolamentos, eflorescéncias, bolor, etc.; consubstanciada em uma linguagem acessivel ao meio juridico, servindo de subsidio aos peritos judiciais e profissionais atuantes nesta rea técnica, haja vista a inexisténcia de materiais bibliograficos especificos destinados exclusivamente a esta atividade. O presente trabalho aborda a responsabilidade civil e criminal do perito judicial e como ele deve agir ao ser nomeado pelo juiz, tanto do ponto de vista téenico como também juridico. Com auxilio da metodologia proposta, podera © técnico atribuir responsabilidades pelos defeitos encontrados em edificagdes durante as vistorias de campo. Este acaba sendo o principal papel do perifo, visto que esta informagao, contida em Laudo Técnico Pericial, embasara uma decisao legal. Para tanto foram coletados dados de campo, oriundos de vistorias, que sto parte integrante dos processos judiciais, que tramitaram nas principais Cortes de Justiga de Séo Paulo. Também serviu de base para este trabalho a realizagéo de pesquisa bibliografica contida em publicagdes técnico-cientificas voltadas para este tema. Palavras-chaves: argamassa; revestimentos, defeitos; avaliagio pericial; metodologia; atribuigdo de responsabilidades. ABSTRACT Pontes, Antonio Carlos Martins. Methodology for legal investigation of mortar rendering submitted to failure process. This final work presented to “Instituto de Pesquisas Tecnologicas do Estado de So Paulo — IPT”, has the objective obtain the Professional Master Degree in Building Construction Technology. Mortar plays an important role from the functional point of view, mainly in covering the buildings and protecting them against weather conditions, which is fundamental to the durability of the buildings. The purpose of this work is to introduce a methodology for appraisal of failures in mortar rendering, that usually appear as cracks, unglueds, efflorescence, mold, ete.; demonstrated in an accessible language among the jurists, serving also as support to the legal engineering experts and to other professionals, who work in this ficld, in view of the fact that there is no specific bibliography dedicated exclusively to this activity. This present work intends to approach, as to the technical and legal point of view, about the civil and criminal liability of the legal engineering experts, and how he or she must act, after his or her designation to work in a law case by the judge in a court house. With the help of the methodology proposed, the legal engineering expert will be able to impute responsibility for the found failure in an edification during site inspections, what comes to be the main role of the legal engineering expert, in face that information contained inside the technical report will support the legal decision. For this purpose, technical data colected during the site inspection are part of law suits that went through procedure in the main court houses of So Paulo. This work was based on the professional experience, but with the many bibliography research, mainly in technical scientific publications about this subject. Key-words: mortar; rendering (covering); failures; expertise appraisal, methodology; attribution of liabilities. 1- INTRODUCAO 1.1, Importancia e Justificativa do Trabalho No Brasil, so freqientes os edificios com paredes de alvenaria revestidas de argamassa. Do ponto de vista funcional, os sistemas de revestimento de argamassa siio integrantes das vedagdes e fundamentais para a durabilidade dos edificios, Além disso, interferem no valor comercial dos iméveis e na imagem da construtora, pois seus defeitos so facilmente perceptiveis por compradores ou usuarios “?. © revestimento em argamassa acaba sendo empregado muitas vezes simplesmente para encobrir as imperfeigdes da estrutura € vedagdes, esquecendo-se de suas importantes fungdes, como por exemplo, a estanqueidade a agua, aos gases ¢ a0 isolamento termo-acistico das paredes, fatores importantes para que se cumpra 0 requisito de durabilidade da edificagio. Os danos em revestimentos de argamassa seja pela sua gravidade ou pela sua freqiiéncia, tém importincia do ponto de vista da economia e satisfagao do usuario. O fator econdmico tem importancia relevante quando se leva em conta 0 custo dos materiais de construgéo ¢ da mio-de-obra, como também o fato de um dano de revestimento, mesmo sem gravidade, apresentar-se em dezenas ou centenas de unidades, quando se trata de um conjunto habitacional . A preocupagao do usuario com o custo do reparo do revestimento, deve-se acrescer a sensagio desagradavel do mesmo ter que coexistir com um ambiente visualmente antiestético ®. As constantes atuagdes nos casos praticos de pericia judicial mostraram uma caréncia de material didético nessa Area, que agregue informagdes técnicas com vistas aos trabalhos desenvolvidos por peritos judiciais. A proposta de metodologia apresentada neste trabalho pretende contribuir para 0 preenchimento dessa lacuna junto ao meio técnico, ja que se desenvolve na interface dos conhecimentos juridico e de engenharia, tendo como abordagem 08 defeitos em revestimentos de argamassa. A importancia deste tema pode ser reforgada por CINCOTTO (1983)! apud SELMO et al.” ¢ MEDEIROS & SABBATINI (1994), que ressaltam a ocorréncia de alguns defeitos, tais como fissuras, descolamentos e problemas de umidade, em todo 0 pais. Os defeitos em revestimentos de argamassa mais frequentes em vistorias de campo de pericias dentro do Estado de Sio Paulo, podem ser vistos no item 3.2 deste trabalho. 1.2, Objetivos © principal objetivo do trabalho é apresentar uma metodologia para avaliagao pericial de defeitos em revestimento de argamassa. Deste modo, sera feita uma proposta para desenvolvimento da vistoria no campo, apés a nomeagio pelo juiz, apresentando 0 conteido de informagdes que deve ser obtido, além das diretrizes gerais para a definicao dos defeitos relativos ao revestimento de argamassa. Com isso, busca-se atingir um nivel de procedimento técnico de vistoria mais elevado, obtendo-se melhores resultados para o desempenho funcional do perito. Pretende-se ainda, demonstrar 0 procedimento processual, incluindo os tramites judiciais, necessarios para elaboragio do Laudo Técnico Pericial, apresentando um processo metodoldgico pratico € consistente. 1.3. Estrutura do Trabalho © trabalho encontra-se estruturado em seis capitulos, sendo este primeiro a introdugo. No segundo, é abordado o procedimento da pericia na esfera judicial, conceituando os vicios de construgdo, jurisprudéncia € como ' CINCOTTO, M. A. Patologia das argamassas de revestimento: andlise ¢ recomendasies. S10 Paulo, IPT, 1983. ( monografias, 8-publicago n. 1252). deve ser elaborado um Laudo Técnico Pericial, incluindo quais os itens importantes que deverao fazer parte integrante do mesmo. No terceiro capitulo, sio abordados os diversos tipos de defeitos possiveis € que so normalmente encontrados em vistorias em revestimento de argamassa e suas provaveis causas, buscando estabelecer um conceito adequado a apresentagao do Laudo Técnico Pericial. No quarto, é estabelecida uma proposta metodologica para o desenvolvimento da pericia, desde a vistoria até o desfecho do laudo’, sistem: izando as fases e seus principais itens que deverio fazer parte do trabalho. No quinto capitulo, a partir da proposta metodolégica, apresentam-se exemplos de Laudos Técnicos Periciais desenvolvidos na cidade de~Sao Paulo, mostrando os diversos defeitos existentes em revestimento de argamassa € 0 procedimento a ser adotado nesses casos, incluindo-se as fases ¢ 08 itens obrigatorios para fechamento do trabalho de pericia. No sexto, sto apresentadas as conclusdes e a contribuigao do autor ao tema proposto. No sétimo colocam-se algumas propostas para seqiéncia do trabalho e em seguida véem-se os anexos e as referéncias bibliograficas. 2 No decorrer do texto sera utilizada a palavra Jaudo como “abreviatura” de Laudo Técnico Pericial. 2. PERICIAS DE ENGENHARIA 2.1. Introdugio Pericia ¢ a prova destinada a levar ao juiz elementos instrutérios sobre algum fato que dependa de conhecimentos especiais de ordem técnica. Ela pode consistir numa declaragao de ciéncia, na afirmativa de um Juizo ou em ambas as operagdes, simultaneamente. E declaragao de ciéncia quando relata as percepgdes colhidas; ¢ afirmagdo de um Juizo quando constitui parecer que auxilie 0 juiz na interpretagao ou apreciagao dos fatos da causa. Segundo declara o art. 420, do Cédigo de Processo Civil, a pericia consiste em exame, vistoria ou avaliagao. Exame € inspecdo realizada por perito para cientificar-se da existéncia de algum fato ou circunstancia que interesse & solugao do litigio. Por exemplo: exame de materiais aplicados na construgdo e/ou no reparo de um determinado servigo construtivo. Vistoria & a pericia que recai sobre bem imével. Outrora, vistoria era Gesignagao genérica de toda e qualquer prova pericial que nio fosse avaliagdo ou arbitramento 0 pedido de pericia, pelas partes, deve ser formulado pelo: a) autor, na petig&o inicial, ou na réplica, se dai resultar a necessidade dessa prova; b) pelo réu, na contestagao e também na reconvengio. pedido sera examinado pelo juiz quando do saneamento do proceso, ato em que ele “determinara as provas a serem produzidas” (art. 331, § 2°). O juiz nomearé o perito e fixara de imediato prazo para a entrega do Jaudo, incumbindo as partes dentro de cinco dias contados da intimagdo desse despacho, indicar assistentes Iécnicos e apresentar quesitos (art. 421, § 1°, Te TI), sem prejuizo de poderem apresentar quesifos suplementares durante a diligéncia (art. 425) “Quando a natureza do fato o permitir, a pericia poderd consistir apenas na pelo juiz. do perito e dos assistentes, por ocasido da audiéncia de instrugéo inquiti € julgamento, a respeito das coisas que houverem informalmente examinado ou avaliado” (art. 421, § 2°), Consiste a pericia’ em uma declaragio de ciéncia sobre fatos relevantes & causa emitida por pessoa entendida, também chamada experto ou mesmo “expert”, ‘com 0 objetivo de esclarecer aspectos técnicos ou inerentes dos fatos, mediante ‘exame, vistoria, indagagao, investigaclo, arbitramento, avaliagdo ou certificagao. E requerida por uma das partes litigantes ou determinada pelo juiz, com o objetivo exclusivo de fazer prova perante este e as partes. A pericia, por si s6, nao resolve os conflitos existentes entre as partes litigantes, mas é um meio de oferecer provas para dirimir davidas, para esclarecer paradoxos e conduzir 4 convergéncia, permitindo alcangar uma decisio justa ©. Para que justifique a realizagaio de uma pericia, é mister que exista ou tenha existido um fato que possa ser examinado sendo diretamente, ao menos indiretamente. O juiz negara a pericia requerida quando 0 fato no depender do parecer especial do técnico, entender desnecessaria face a outras provas ou sua verificagao for impraticavel ©. Muitas vezes o fato que 0 juiz precisa conhecer nao é provado por meio de declaragdes das partes ou até mesmo de testemunhas, razdo pela qual admite-se a pericia, que € uma prova de cardter especial (art. 420, pardgrafo unico, I). A realizagao da pericia se justifica nos casos em que os fatos exijam a apreciagao pelo Juizo técnico. trabalho do perito devera ser objetivo sem desatender a melhor técnica de engenharia, mas procurando atingir o nivel de conhecimento do juiz ¢ do leigo. Evidentemente, no se pode chegar ao exagero de dizer que os perifos devessem abandonar as formulas mateméticas para ingressar no velho e tradicional empirismo, mas 0 que se pretende para atender aos anscios judiciais ¢ que estas formulas sejam traduzidas numa linguagem ao alcance de todos, através de explicagdes ° A palavra pericia vem do latim peritia (habilidade, saber), que, na linguagem juridica, significa pesquisa, exame, acerca da verdade de fatos, efetuados por pessoa de reconhecida habilidade ou cexperiéncia na matéria investigads. fundamentadas, de modo que possam perfeitamente ser incluidas no trabalho pericial, sem torna-lo prolixo e/ou magante. Do trabalho do perifo resultara uma parte vencedora e outra perdedora ou um acordo ou uma conciliagao, devendo a neutralidade subsistir, para que a justiga possa sempre prevalecer ©. © alcance social do trabalho do perito é algo pouco divulgado. Talvez s6 saiba seu valor social quem dele ja se tenha beneficiado. No Brasil, a grande concentragao de trabalho pericial ¢ demandada pela justica. Trata-se da pericia judicial, Neste contexto, o perito & uma extenstio do Juizo, sendo, portanto, indiscutivel o seu papel social , A pericia de engenharia serve de suporte técnico judicioso ao Juizo, de forma a dar sustentagio de cariter técnico juridico na sua deciséo, uma vez que 0 Magistrado nfo possui conhecimentos especificos de engenharia, razo pela qual ele se vale de um engenheiro de sua confianga para representé-lo em particular nestas situages. Nesses casos em particular 0 engenheiro € a extensao da mao ¢ da mente 4o juiz, pois sera aquele o responsive em levar ao conhecimento do Magistrado sem dolo e malicia resultado da prova técnica pericial, afim de que o julgador possa decidir com seguranga, com base no resultado pericial Nas ages judiciais em que a pericia técnica se impée, constantemente os peritos se defrontam com problemas variados, tais como: escorregamento de encostas, ocorréncia de recalque diferencial, descolamento da pintura, avarias intrinsecas do revestimento de argamassa, infiltragdes decorrentes de avarias na rede de distribuigao de agua, etc. Resulta, assim, que as pericias judiciais abrangem um vasto campo de atuagao para o engenheiro civil, que, em face desses vicios de construgdo. ensejaré um remédio juridico apropriado mediante ages proprias, relacionando-thes os artigos do Cédigo de Processo Civil pertinentes & pericia ¢ as leis especificas, tais como ago cautelar, agdo de produgao antecipada de provas, agdo de nunciagdo de obras novas, ago de obrigagio de fazer, ago de constatagao de danos e muitas outras no que se conceme a engenharia legal na 4rea da construga0 civil 2.2. Vicios de Construgio E uma expressao juridica, que do ponto de vista da engenharia civil equivale a “defeitos de construgio”, no caso de defeitos visivelmente aparentes denomina-se de vicio aparente ¢ aqueles de dificil percepgo denomina-se de vicio oculto ou redibitério. Assim sendo, vicio de construgéo pode ser definido como sendo todo qualquer defeito c/ou mau funcionamento emergente em uma edificagdo ja entregue a0 adquirente, ressalvado aqueles de mau uso ou falta de manutengao adequada, em face da pressuposta existéncia do Manual de Manutengdo de responsabilidade autoral do construtor’, resultante de um ou mais dos seguintes fatores: * Falhas de projeto (dimensionamento incorreto, auséncia de detalhamento, alteragio ou inadequagao das especificagdes); '* Deficiéncia da mao-de-obra e/ou das técnicas de execugaio empregadas durante a obra, ® Selegdo de tragos e materiais inadequados, observando-se 0 prazo de vida itil. ‘A manutengio de edificios tem sido um assunto negligenciado dentro dos estudos tecnolégicos®, além de mal instruida pelo construtor, ainda que atualmente é pritica obrigatoria por lei, a elaborago de manual de manuteng&o para as obras entregues. Os defeitos em revestimento de argamassa, salvo raras excegdes, apresentam manifestagdes externas caracteristicas, a partir das quais, geralmente se pode identificar suas origens, bem como comprovar suas provaveis conseqiiéncias. ‘No caso de vicios de construcdo, o trabalho de pericia objetiva: a) Identificar os danos existentes, evidenciando aqueles efetivamente oriundos de defeito de construgdo; “A falha na manutengio s6 sera de responsabilidade do usuério caso este tenha negligenciado no ‘cumprimento das instrugdesconstantes no Manual de Manutengo de autoria do construtor/incorporador, cujo fornecimento ¢ de sua responsabilidade, conforme consia no Cédigo do ‘consumidor. b) Determinar as obras necessarias para reforgo e/ou recuperacao; ©) Orgar as obras pertinentes, apontadas no lado; 4) Quantificar valores de indenizagao e perdas e danos. 2.3, Fundamentos Legais No caso particular da pericia de engenharia, 0 juiz ao nomear o perito judicial de sua confianga, faculta as partes a apresentagio de quesitos® ¢ indicagdo de assistentes técnicos. O perito, uma vez nomeado, tem 0 dever de cumprir 0 encargo no prazo fixado pelo juiz, podendo, entretanto, escusar-se do mister, alegando motivo legitimo, que devera ser apresentado dentro de cinco dias, contados da intimagao ou impedimento, sob pena de perder esse direito ®. Dentro do processo judicial também podem funcionar peritos assistentes das partes (assistentes 1écnicos), ¢ estes, diz. 0 Cédigo de Processo Civil, séo peritos contratados pelas partes para assisti-las nas pericias determinadas judicialmente ©. ‘Ao contrério do que muitos rotulam, o assistente técnico nao € um fiscal do erito, mas um técnico que, junto aquele, havera de satisfazer a busca da verdade, assemelhando-se ao perito como auxiliar da justiga; tanto é que o art. 429 do Cédigo de Processo Civil, para o desempenho de sua fungao, faculta ao perito e assistentes técnicos utilizarem todos os meios necessarios, solicitando documentos as partes ou em repartigdo piblica, obtendo informagées, ouvindo testemunhas (engenheiros projetistas, gerenciadores, pedreiros, mestre da obra e/ou qualquer outro trabalhador envolvido no evento), assim como também, instruirem 0 Jaudo com plantas, fotografias, resultados de ensaios técnicos, etc. Ha que se ter em mente que o trabalho em conjunto, na vistoria e na conferéncia reservada, além de eticamente recomendavel, porque ambos tém a ‘mesma consecugdo, toma seu desenvolvimento mais célere e eficaz. Por esta razio, 5 Sao perguntas elaboradas pelo Juiz ¢ pelas partes, a serem respondidas pelo perito, como forma de ‘obterem as respostas necessarias ao deslinde da causa“, perito © assistente téenico devem realizar juntos a vistoria e dar continuidade, fazendo a conferéncia reservada, mesmo que nao mais obrigatoria. Estio relacionados com o exercicio dos peritos judiciais e assistentes técnicos os seguintes artigos do Cédigo de Processo Civil”, que esto apresentados a seguir de modo resumido: Art. 19. Salvo as disposigdes concernentes 4 justiga gratuita, cabe as partes prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-thes © pagamento desde o inicio até a sentenga final; e bem ainda, na execugao, até plena satisfago do direito declarado pela sentenga Art. 33 Cada parte pagaré a remuneragao do Assistente Técnico que houver indicado, a do Perito sera paga pela parte que houver requerido 0 exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de oficio pelo Juiz. Art. 130. Caberi 20 Juiz, de oficio ou a requerimento da parte, determinar as provas necessirias a instrugdo do proceso, indeferindo as diligéncias initeis ou meramente protelatérias. Art. 138. Aplicam-se também os motivos de impedimento e de suspeigio, no caso do inciso III ~ a0 perito, sob pena de preclusio, a suspeicdo do perito deve ser argiida na primeira oportunidade em que a parte falar nos autos, apés ter ciéncia da nomeagao, ou apos haver tomado conhecimento do fato que autoriza a alegagéo de suspeigdo. A parte néo pode recorrer desde logo da nomeagao; ha de primeiro aduzir a excegao; se repelida é que Ihe cabera recorrer. A remogo do perito, a pedido da parte por motivo justificado, pode ser livremente determinada pelo juiz, sem necessidade de obedecer ao proceso prescrito no art. 138, ‘Art.145, Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou cientifico, o Juiz sera assistido por Perito, segundo o disposto no art. 421 Art. 146, O Pefito tem o dever de cumprir 0 oficio no prazo que lhe assina a lei, empregando toda sua diligéncia: pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legitimo. Art. 147. 0 Perito que, por dolo ou culpa, prestar informagées inveridicas, responderé pelos prejuizos que causar a parte, ficara inabilitado, por dois (2) anos, a funcionar em outras pericias ¢ incorrerd na sango que a lei penal estabelecer. Art, 421. O Juiz nomeara perito (Vide arts. 145 e 425). ‘Art. 422. © Perito cumpriré escrupulosamente 0 encargo que Ihe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. Os Assistentes Técnicos, sio de confianga da parte, nao sujeitos a impedimentos ou suspei Art. 423. O Perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por impedimento ou suspeig&o (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnagao, o Juiz nomearé novo Perito. Art. 424. O Perito pode ser substituido quando: I- carecer de conhecimento técnico ou cientifico; 11 — sem motivo legitimo, deixar de cumprir 0 encargo no prazo que Ihe foi assinado. Art 425, Poderéo as partes apresentar, durante a diligéncia, quesitos suplementares, Da juntada dos quesitos aos autos dard o escrivao ciéncia 4 parte contraria. Art 426. Compete ao Juiz: I~ indeferir quesitos impertinentes; TI formular os que entender necessérios ao esclarecimento da causa Art. 427. O Juiz poderé dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestagio, apresentarem sobre as questdes de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficiente. ‘Art. 428, Quando a prova tiver de realizar-se por carta, podera proceder-se & nomeagao de Perito ¢ indicagao de Assistentes Técnicos no Juizo ao qual se requisitar a pericia. ‘Art. 429. Para 0 desempenho de sua fungao, podem o Perito e Assistentes Técnicos utilizar-se de todos os meios necessirios, ouvindo testemunhas, obtendo 0 an informagdes, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em repartigées piblicas, bem como instruir 0 laudo com plantas, desenhos, fotografias € outras quaisquer pegas. Art. 432. Se o Perito, por motivo justificado, no puder apresentar 0 laudo dentro do prazo, Juiz conceder-Ihe-a, por uma unica vez, prorrogacio, segundo o seu prudente arbitrio. Art. 433. O Perito apresentaré o laudo em cartério, no prazo fixado pelo Juiz, pelo menos vinte (20) dias antes da audiéncia de instrugao ¢ julgamento. ‘Art. 434, Quando o exame tiver por objetivo a autenticidade ou a falsidade de documento, ou for de natureza médico-legal, o Perito seré escothido, de preferéncia, entre os Técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados. O Juiz autorizard a remessa dos autos, bem como do material sujeito a exame, ao estabelecimento, perante cujo diretor o Perito prestara o compromisso. 7 Art. 435. A parte que desejar esclarecimento do Perito e do Assistente ‘Técnico requereré ao Juiz que mande intimé-lo a comparecer a audiéncia, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos. Art. 436, O Juiz. nfo esta adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicgao com outros elementos ou fatos provados nos autos. Art. 437. O Juiz poderd determinar, de oficio ou a requerimento da parte, a realizagio de nova pericia, quando a matéria nfo lhe parecer suficientemente esclarecida (Vide paragrafo tinico do art, 439) Art. 438. A segunda pericia tem por objetivo os mesmos fatos sobre que recaiu a primeira ¢ destina-se a corrigir eventual omissdo ou inexatidio dos resultados a que esta conduziu. Art. 439. A segunda pericia rege-se pelas disposigdes estabelecidas para a primeira (Vide art. 437). Paragrafo tinico: A segunda pericia nao substitui a primeira, cabendo ao Juiz apreciar livremente o valor de uma e outra. 12 Art, 440. 0 Juiz, de oficio ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato, que interesse fi decisto da causa. ‘Art. 441. Ao realizar a inspegio direta, 0 Juiz podera ser assistido de um ou mais Peritos, ‘Art, 442. O Juiz ira ao local, onde se encontre a pessoa ou coisa, quando: 1 julgar necessério para a melhor verificagio ou interpretagao dos fatos que deva observar; II —a coisa nao puder ser apresentada em Juizo, sem consideriveis despesas ou graves dificuldades; III — determinar a reconstituigao dos fatos. ‘Art. 443. Concluida a diligéncia, o Juiz mandara lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for itl ao julgamento da causa. 2.4. Laudo Laudo & © resultado da pericia, expresso em conchus6es escritas ¢ fundamentadas, onde sero apontados os fatos, circunstancias, principios e pareceres sobre a matéria submetida a exame do especialista, adotando-se respostas objetivas aos quesitos. Nao hé uma legislagao prescritiva no meio forense, quanto a forma de como 08 laudos devam ser apresentados. No entanto, o laudo deverd atender a requisites extrinsecos (forma escrita e subscrita pelo autor ou autores) ¢ intrinsecos (ser completo, claro, circunserito ao objeto da pericia e fundamentado) Um Jaudo completo devera conter basicamente os seguintes itens: °: Preliminares ou Hist6rico: onde constaré um relatério ou . Item sintese das alegagdes e posigdes conflitantes das partes. 13 © Item 2%: Vistoria: neste item o perito devera proceder ao exame técnico do objeto do feito ou ago judicial com muita acuidade, coligindo todos os elementos imprescindiveis para apuragio dos fatos, bem como descrever todas as circunstincias ocorridas no curso das diligéncias, consubstanciando todas as informagoes coligidas no campo em uma descrigdo objetiva ¢ clara, de modo a permitir respostas precisas aos quesitos usualmente formulados pelas partes. Deve-se evitar reprodugées literais de todas as questdes levantadas na petigiio inicial e na de comestagdo, pois corre-se o risco de cair em dissertagdes prolixas com assuntos irrelevantes para o deslinde da pericia © Jaudo deve ser redigido com clareza, abrangéncia, sem omissdes, obscuridade e em estilo simples, evitando-se termos rebuscados, que no trazem qualquer beneficio pritico as técnicas explicitadas no laudo. O perito deve-se ater 20 objeto da pericia, sem ultrapassar os seus limites. O laudo deveré ser convenientemente fundamentado, em face dos fatos observados, pesquisas, informages colhidas, principios ¢ normas técnicas pertinentes. Sem embasamento nas respostas aos quesitos apresentados pelas partes, o /audo tornar-se-4 imprestavel. 0 laudo tera sua credibilidade em decorréncia da justificativa das respostas ¢ no das opinides subjetivas do perito AA fonte primaria de pesquisa para obtengao de dados ¢ elementos que serdo utilizados em um Jaudo é 08 proprios autos, até mesmo outros que guardem alguma conexio. Com eles, 0 perito pode vir a suprir, i inclusive, respostas completas a alguns quesitos. Portanto examind-los exaustivamente é de suma importncia, no inicio das diligéncias. Deste modo, o perito pode otimizar com objetividade o seu trabalho de campo nesta ocasiao. 0 Jaudo pode ser instruido com documentos, plantas, croquis, fotografias, pesquisas, orgamentos, ou quaisquer outras pegas elucidativas e/ou complementares”. A pratica demonstra que a melhor maneira de exposi¢do consiste ‘em se preparar com bastante cuidado os capitulos de anexos, onde estarao inseridas todas as documentagdes julgadas como pertinentes, tais como: a 14 - Relatorio Fotografico; Plantas baixas, cortes e fachadas com indicagdes dos defeitos; - ‘Memoriais técnicos - Normas técnicas; - Possiveis cépias do diario de obra se houver interesse, - Outros documentos. ‘A anilise do Laudo Técnico Pericial podera ser feita com relativa facilidade se ele for bem concatenado ¢ logico em sua sequéncia; para tanto, deve o perito seguir a ordem natural dos trabalhos, atendendo com clareza e objetividade a resposta aos quesitos, Se eventualmente os quesitos nio forem suficientemente claros como desejado, deve-se formar 0 corpo do Jaudo, primeiro com a efetiva demonstragao do que se pretende aleangar na pericia. > > > > > > > > » > > > > 15 3. REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA A norma NBR 7200" da ABNT - Associagao Brasileira de Normas Técnicas define argamassas como a mistura de aglomerantes e agregados com digua, possuindo capacidade de endurecimento ¢ aderéncia. As argamassas utilizadas em obras so ‘comumente compostas de areia natural lavada, e os aglomerantes sio em geral 0 cimento Portland e/ou a cal hidratada. Sua denominagae ¢ fungao do aglomerante utilizado. Assim tem-se argamassa de cal, de cimento ou mista de cal ¢ cimento"”, A Tabela 1, abaixo, apresenta um resumo dos materiais constituintes das argamassas de revestimento"”. Tabela 1. Materiais constituintes das argamassas de revestimento””). Cal hidratada Cimento de alvenaria* Cimentos Portland Cimento Portland branco Aglomerantes Agregados Filito ceramico Material pozolanico** 6 calcario Saibro Solo fino Solo fino beneficiado Redutores de permeabilidade Retentores de agua Tncorporadores de ar Hidrofugantes Agua Agua de amassamento Adigoes Aditivos * Apresenta alto teor de material inerte e tem finura elevada. O seu uso indiscriminado poderd apresentar aderéncia deficiente ** Os materiais pozolénicos naturais sio cinzas vulcdnicas, no encontradas no Brasil. Os materiais pozolénicos nacionais so obtidos artificialmente. (Exemplos: cinza volante ¢ argila calcinada). 16 Em PAROIS ET MURS EN MACONNERIE® apud CINCOTTO™? as cexigéncias funcionais que os revestimentos devem atender podem ser caracterizadas da seguinte forma: «© Seguranga: Associado a parede, o revestimento deve apresentar estabilidade mecénica dimensional (resisténcia a tragdo, compressio, impacto ¢ abrasio) ¢ resisténcia ao fogo; © Habitabilidade: O revestimento deve constituir-se em uma barreira a penetragao de agua contribuindo para a estanqueidade da parede ¢, conseqientemente, para o conforto higrotérmico do ambiente. O revestimento, além de contribuir também para © conforto acistico, tem fungao estética. © Compatibilidade com a base (parede ou suporte): E 0 caso da compatibilidade entre a planeza da parede ¢ a espessura do revestimento ¢ a adequagiio da resisténcia da(s) argamassa(s) a resisténcia da base; © Compatibilidade entre materiais: Os materiais que compéem o revestimento devem ser compativeis entre si © com os materiais da base, respeitando-se as condigdes necessérias para que no ocorram reagdes que levem a deterioragao. © PAROIS et mairs en magonnerie. Cahiers du Centre Scientifique et Technique du Batiment, L. 193, . 1530, oct. 1978, 7 Dados levantados (MASCARO, J. L.,1985” apud CINCOTTO"? indicam que, no custo global da construgio, 40% refere-se aos custos dos elementos dos planos verticais (alvenaria, acabamento, esquadrias) e que mais de um tergo deste percentual corresponde aos acabamentos constituidos pelos revestimentos, que apresentam muitas alternativas em termos de materiais e suas combinagdes, 0 que repercute também no tempo de execugio e no consumo de méo-de-obra. Constata-se entdo que parte dos defeitos em revestimentos de argamassa provém de decisdes tomadas para “redugdo de custo” nos planos verticais. Por outro lado, a redugdo dos prazos de execugo tem comprometido as priticas de execugio com relagdo as caracteristicas dos materiais empregados. Na fase de produgo da argamassa existem aspectos de controle de recebimento dos materiais, conhecimento das técnicas de dosagem, preparo € aplicagdo, que afetam significativamente o desempenho e devem ser equacionados tanto através de controle da qualidade de produtos © servigos, como através do A seguir na Figura 1 sio mostrados os cuidados que devem ser tomados nas diferentes etapas as, treinamento da mao-de-obra ¢ planejamento da execugao dos servigos “ da construgao, de modo a prevenir danos de revestimento 7 MASCARO, J. L. O custo das decisbes arquiteténicas, S30 Paulo, Nobel:1985. 18, + ' Danos Etapa Construga0 Exemplo Cuidados evitados Selestodotie_, argamasns Revestimento compativel Jc revestimento coma qalidade 7 Projto esejod: imprest; —> S108 estética, protegio: em (coisa, temic, fogs) ‘Teor de finos —+ desagregagio faemees Agropado —+ (arcia) Pirita, montmorilonita -rexpansio ie ‘Matéria orgiinica —, raters ra epinie ——s,Vesculas ‘adequados Min ante Zeca” Cuslede cespecificada-rempolamento Aalomanote < cme vests fesso ——» Compiilidade aglomernts exte i expansto pees Reston Hirt compl + vss re de 48h. socal ‘empolamento Execugd 2 Alico de Aplicagto do Preparo da ese de shape ou similar ree Nao aplicar muito: itl jecolanneni: desman as formas deconcreto Aplicagio ds) camad(s) _ Propero pulveruléncia de revesimento elomerant 6888S esto adequada mh Espeana ‘descolamento_ Axlicago do Secyem do ‘acabamento __, Aplisaglo de pintura, revestimento decorative —* pastilha etc omaugtoaa ca mato daca sutvoruléncia ‘do revestimento Figura 1. Prevengao de danos de revestimentos nas diferentes etapas de construgao"? 3.1. Tipos de Defeitos A Tabela 2 apresenta as principais manifestagdes patolégicas* de revestimentos de argamassa, apresentando-se as fases do processo construtivo em que podem se originar. * Utiizou-se aqui o termo “manifestagbes patolégicas” © nifo “defeites”, por se tratar de uma referéncia bibliografica 19 ‘Tabela 2, Manifestagées patolégicas dos revestimentos de argamassa “”, Manifestagdes | Aspectos Observados Fases do processo ; Mandhas de umidade. Pd branco|» Projeto Eflorescéncia | acurmulado sobre a superficie + Especificagio de materiais. + Produgao da argamassa. # Execugao, Bolen Mancha esverdeadas ou esturas.[ Projto Desagregagao do revestimento. + Execugao em obra. Galioke Empolamento da pintura, Bolhas |» Especificago de materials. contendo umidade no interior. * Produgio da argamassa + Execugaio em obra. ‘superficie do reboco descola do| » Especificacdes de Descolamento com | cmbogo, formando bolhas. O reboco| materiais empolamento _| apresenta som cavo. * Produgao da argamassa, ‘A placa apresenta-so _endurecida, |» Especificagao de materiais quebrando com —_dificuldade. |e componentes. placas revestimento apresenta som cavo. «© Produgao da argamassa ‘A placa apresenta-se endurecida, mas) e Execugdo em obra. quebradica _desagregando-se com facilidade. O revestimento apresenta som avo. Descolamento em ‘A pelicula de tinta descola arrastando o| « Especificagao de materia. reboco que se desagrega com facilidade. |» Produgao da argamassa pulveruléncia © reboco apresenta som cavo. O|e Execugdo em obra revestimento em monocamada desagrega ‘com facilidade. Descolamento com “Apresenta-se ao longo de toda a parede, |» Especificagao de materiais. ‘com aberturas variaveis. Descolamento| » Produgdo da argamassa horizontais do revestimento em placas apresentando| » Execugao em obra. ‘som cavo. Fissuras Distribuem-se por toda a superficie do| « Especificagio de materiais. revestimento. Pode ocorrer descolamento | « Produgo da argamassa, do revestimento em placas, de facil] Execugo em obra. Fiscuras mapeadas desagregagao. a ‘Acompanham 0 contomo do componente | Projeto do edificio. a alvenaria + Espocificagio de materiais. geométricas + Produgao de argamassas. + Exocugio em obra Salienta-se que a origem dos problemas ¢ defeitos podem estar na estrutura ou na sua interface com as vedagGes e ainda pode advir de causas acidentais. Serdio consideradas neste trabalho também estas possibilidades, pois cabe a0 perito diagnosticar todos os defeitos que se manifestam no revestimento, sabendo discernir suas origens. Esta identificagio dara ao perito condigdes de atribuir 20 responsabilidades — informag&o levada ao Juiz através das conclusées do Laudo Técnico Pericial. 3.2. Defeitos mais Encontrados em Vistorias ‘A amostra que serviu de base para os dados que compdem a Tabela 3 é composta por Laudos Técnicos Periciais j4 concluidos e pertencentes ao arquivo do autor. Foram analisados Jaudos datados entre os anos de 1991 e 2001, onde se encontrou em seu corpo alusio a qualquer um dos defeitos em revestimento de argamassa descritos na Tabela 2. No Anexo A encontra-se modelo da planilha utilizada Os Jaudos analisados apresentam edificagdes com idades bem variadas, de 2 anos a mais de 20 anos de uso. Observou-se que, no caso de Laudos Técnicos Periciais, nao existe uma relago entre as ocorréncias de defeitos com as idades das edificagdes; haja vista que a iniciativa de se realizar uma reclamagdo legal (que pode vir a gerar um Jaudo) depende de varios fatores, nao sendo necessariamente coincidente com 0 surgimento dos referidos defeitos. Porém, observa-se que na grande maioria dos Jaudos a parte reclamante é um condominio (apartamentos habitacionais) e que na maior parte dos casos os defeitos tém origem em problemas na execugao da obra e/ou na elaboragdo do projeto. IOSHIMOTO et al. (1994)'* apresenta resultado de levantamento realizado em 36 (trinta e seis) conjuntos habitacionais em Séo Paulo, onde foram catalogados como defeitos mais frequentes em revestimentos de argamassa, a umidade, trincas € fissuras e descolamento do revestimento, respectivamente. Observa-se que este resultado assemelha-se com o obtido no levantamento realizado nos Laudos Técnicos Periciais deste autor. 21 Tabela 3. Defeitos mais encontrados em vistorias. Manifestacdes Ocorréncia (%) Eflorescéncia 38 Fissuragio 30 Vesiculas 12 Bolor 10 Descolamento da 10 argamassa 3.3, Descrigio e Causas de Defeitos em Revestimentos de Argamassa. 3.3.1, Efloreseéncia Eflorescéncia ¢ 0 mecanismo pelo qual surgem as formagoes salinas na superficie dos materiais. Na maior parte dos casos as eflorescéncias nao causam problemas maiores que o mau aspecto resultante, mas ha circunstncias em que 0 sal formado pode levar a lesdes tais como descolamento dos revestimentos ou pinturas"”. Sendo materiais porosos, 0 concreto © a argamassa apresentam em seu interior vazios, bolhas de ar, poros abertos e fechados, bem como uma rede de canais de reduzidas ¢ variadas dimensdes (rede capilar). Um fluxo de quantidade apreciével de agua pode ocorrer no interior destes materiais, por absorgio ou por permeabilidade, introduzindo substincias agressivas do solo na rede capilar do concreto ¢ argamassa, ou dissolver e transportar certos sais soliiveis que podem estar presentes no concreto, na argamassa ¢ no material cerdmico. Trazidos A superficie, tais sais podem se apresentar como depésitos esbranquigados nos poros abertos mais fciais e na superficie do revestimento, caso as condigdes ambientais proporcionarem suficiente evaporagio. Caso o fluxo tenha vazio superior a capacidade de evaporagéo, notar-se-o bolhas de solugo concentrada de sais que apresentardo alta viscosidade™, Na grande maioria dos casos as eflorescéncias em materiais de construgao so causadas por sais de célcio, de magnésio, de potassio, de sodio ou de ferro, raramente por outros. E também na maioria dos casos esses sais jé fazem parte integrante do 22 material de construgao que, ao ser atravessado pela umidade, os dissolve na agua. Entdo a 4gua com o material dissolvido vem a superficie. Ali a agua evapora, mas 0 sal se deposita formando as manchas, O sal também pode se formar quando @ agua retine dois ou mais compostos diferentes que reajam entre si. De qualquer modo, uma constante a necessidade de umidade para a formagao de eflorescéncias"” FIORITO"® também afirma que a eflorescéncia tem como elemento determinante a presenga e a agao dissolvente da agua, e que sem gua no havera eflorescéncia ‘A seguir sio apresentados os tipos mais comuns de eflorescéncias em alvenarias, inclusive revestimentos e coneretos "”: a) Manchas de cor castanha, ou de ferrugem'”, E um tipo de mancha mais comum no conereto armado e mais raro nas alvenarias de tijolos, pedras, ete. B ferrugem, e pode aparecer na superficie de tijolos ou revestimentos, vinda do concreto ou pela presenga de particulas metélicas eventualmente misturadas & massa (pedagos de arame, pregos, etc.), ou quando o agregado contém minério de ferro, ou quando a argila dos tijolos contém pirita, ete (Foto 1), Foto 1, Manchas de cor marrom em brises, decorrentes da corrosio de armaduras. a - b) Manchas brancas, com aspecto de nuvem e aqui ditas “eflorescéncias pulverulentas™””. Geralmente so causadas por sulfatos (de s6dio, de potassio, calcio ou magnésio) e mais raramente por carbonato de s6dio ou carbonato de potassio. Elas so bastante € facilmente solaveis em agua ¢ néo desagregam os materiais. Os sais eflorescentes podem jé estar contidos nos tijolos, nos blocos, no cimento, na cal, nos agregados, na agua de amassamento, ou até se originar de reagdes entre outros materiais. Mas, as vezes, 0 sal é depositado por atmosferas industriais, ou vem do solo junto com a égua de capilaridade. Nesses casos a deposigo seré permanente, Ento € preciso eliminar a causa da formago, se possivel, e depois proceder a limpeza (Foto 2). Foto 2. Manchas de umidade préximas ao rodapé, em ambiente interno. ©) Manchas de cor branca, escorridas € aqui ditas “eflorescéncias aderidas”. Este tipo de eflorescéncia nao é soliivel em agua e é muito aderente. S40 manchas de carbonato de calcio, comumente formado pela reagao do hidroxido de calcio (nata de cal) com 0 gis carbénico do ar. O carbonato pode ser identificado rapidamente derramando-se acido cloridrico sobre a incrustagdo: forma efervescéncia. Estas manchas também ndo corroem o material, mas dio péssimo aspecto a superficie & podem causar o descolamento dos revestimentos ou pinturas, porque o sal ¢ mais _grosso que os sulfatos € no as atravessa to facilmente. A eliminagdo da mancha de carbonato é dificil, porque o sal tem baixa solubilidade em Agua, razo pela qual a lavagem normal ou chuva no a remover. 3.3.2, Bolor De acordo com o IPT (1988)° apud SOUZA E TORALLES-CARBONARI"® © aparecimento de bolor (Foto 3), isto é, 0 crescimento de fungos nos revestimentos 86 sera possivel se houver umidade relativa do ar acima de 75%, e temperatura média entre 10°C © 35° C. O desenvolvimento de bolor nas edificagdes esti associado existéncia de agua no estado liquido ou gasoso. A presenga dessa agua nos ‘componentes internos e externos da edificagao sio decorrentes das infiltragdes, da ‘condensagio do vapor de agua, de vazamentos, e umidade provenientes da obra e do solo. A precariedade da ventilagdo ¢ uma das responsaveis mais significativas, especialmente se a edificagao ¢ ocupada por um grande ntimero de pessoas Foto 3. Ocorréncia de bolor ¢ eflorescéncia em revestimento externo. Fungos sto organismos pertencentes ao Reino Fungi e ndo apresentam clorofila. Podem existir como célula tinica, ou formar um corpo multicelular dito micélio, que consiste em filamentos denominados hifas. Nos vegetais ditos superiores & a clorofila que decompée as substancias organicas mais complexas para formar as substincias mais simples que servem de alimento para 0 vegetal. Como os fungos nao tém clorofila, suas raizes segregam enzimas, que fazem a decomposigio. Essas enzimas funcionam como um acido sobre © material onde cresce 0 fungo: o material é atacado e queimado, tomando na maioria das vezes a cor escura quase preta. Ha ento 0 surgimento de manchas ¢, numa idade ° Tecnologia de Edificagdes/Projeto de Divulgagdo Tecnologica Lix da Cunha, So Paulo: PINI ~ Instituto de Pesquisas Tecnologicas, Divisio de Edificagdes do IPT, 1988, eeooee eovvee0" a | 25 mais avancada, desagregagao da superficie. Em alguns tipos de fungos as manchas podem ter outra cor que no a preta (esverdeada, branca, avermelhada, etc.) devido 20 tipo de reago quimica ou devido a deposigio de esporos (sementes dos fungos) ou ainda devido a cor do proprio fungo, quando visivel. Os fungos tém preferéncia por bases orginicas. E também tém preferéncia por frestas ¢ fissuras, onde 0 ambiente & mais abrigado. E eles se desenvolvem mais facilmente em ambiente imidos por condensago, onde a agua nao é corrente e entio nao leva embora as hifas (parte externa do fungo) ". 3.3.3. Vesiculas Costuma-se chamar de vesiculas os descolamentos pontuais isolados no revestimento, formando pequenas crateras de, no maximo, 7 cm de diémetro. Este tipo de defeito geralmente é devido a criptoflorescéncia'”. Assim, por exemplo, é 0 caso de argamassas que contenham barro. A argila se expande quando umedece, as vezes com forga suficiente para formar vesicula. Também € 0 caso do magnésio, caracterizado pela presenga de um ponto branco no fundo da cratera. Mas também pode existir algum tipo de matéria organica misturada com a argamassa, entio, o fundo fica escuro, geralmente pardo-escuro, Também a presenga de residuos meiélicos (a ferrugem € expansiva), ou a madeira (incha ao umedecer) pode causar vesiculas, Mais raramente as vesiculas podem ser formadas quando a propria cal da argamassa foi levada ao revestimento antes de estar bem extinta neste caso apresentara um ponto branco no fundo 3.3.4, Descolamentos de revestimentos em argamassa. Muitas vezes os descolamentos se caracterizam ou iniciam pela ocorréncia de empolamentos (bolhas) no revestimento, as vezes com os didmetros aumentando progressivamente; com som cavo percusséo; pulveruléncia; revestimento quebradigo; presenga de umidade; descolamento em placas; etc. As Fotos 4 © 5 ilustram este defeito. As causas so diversas ¢ muitas vezes tém a contribuigio da base e/ou da argamassa ‘© Criptoflorescncias so formagées salinas ocultas, Em sentido restrito, é © crescimento de sais ou cristais no interior dos materais. 000600000 0000000000000000000000000000000000000000 26 externo, Foto 4. Descolamento do revestimento em ambiente interno.” Foto 5. Descolamento superficial do revestimento e pintura em ambiente 27 Pode-se apontar como principais causas: “) a) Auséncia de chapiseo Independente do niimero de camadas de argamassa aplicado como revestimento ou da qualidade dos materiais empregados, é essencial que existam condigdes de aderéncia do revestimento 4 base. A aderéncia se dé pela penetragdo da nata do aglomerante nos poros da base ¢ endurecimento subseqiiente. Conseqiientemente, vai depender da textura e da capacidade de absorgio da base bem como da homogeneidade dessas propriedades®. A norma NBR 7.200" recomenda a aplicagao prévia de chapisco quando a superficie a revestir ndo for suficientemente spera ou constituir-se de materiais de graus de absorgao diferentes. Na auséncia de chapisco, tem-se observado o descolamento do revestimento externo em placas”. Pode-se iniciar com a formagio de vazios em grandes areas, em diversos locais Depois o revestimento descola, caindo em placas, ) Superficie da base impregnada com produtos gordurosos ou hidrofugantes Ocorre quando a base esta com manchas ou pelicula hidrofugas ou impermedveis, tais como dleos, graxas, vernizes, sabes, asfaltos, desmoldantes, etc. Para se rebocar paredes nessas condigées primeiro ¢ preciso remover esses materiais com solventes apropriados, seguindo-se da lavagem e execugio de chapisco. Eventualmente é preciso até raspar ou apicoar a parede, se a penetragao do material hidrorepelente for profunda. ©) Argamassa aplicada em camada muito espessa Quando o revestimento € muito espesso a forga de aderéncia no é bastante para suportar seu peso ou a sua retragio volumétrica, havendo o descolamento. A espessura de um revestimento, de preferéncia, deve se limitar a 2 cm. Se o revestimento é de argamassas de cal ha uma demora em carbonatar as camadas mais internas que permanecem plsticas, tanto maior quanto mais espesso € 0 revestimento, Se o revestimento & de argamassa de cimento haveré uma retragao hidrdulica mais acentuada quanto mais espessa a camada, com a proporcional perda de ancoragem. Este caso ainda vai ser agravado com 0 tempo devido as variagdes de 28 origem térmica, que sio bastante pronunciadas no caso do cimento e de blocos de concreto, Pode se iniciar com a formagao de vazios em grandes areas, em diversos locais. Depois o revestimento descola, caindo em placas, d) Argamassa muito rica em cimento ou cal Diz-se que a argamassa é rica quando ha excesso de aglomerantes (classificagio das argamassas segundo o trago™), O descolamento pode ocorrer devido a muita retragdo por secagem. A retrago podera ser mais forte que a ancoragem ¢ 0 revestimento descola. Lesdes deste tipo geralmente implicam em remover ¢ refazer 0 revestimento, mas se ela se limita a uma area pequena as vezes basta fazer 0 conserto nessa rea, porque é um descolamento que s6 aparece nas primeiras idades. Inicia-se geralmente com a formagao de vazios em grandes areas, em diversos locais. Depois 0 revestimento descola, caindo em placas. e) Argamassa magra" ‘Apresentam pouca adeséo inicial e aderéncia final aos tijolos. A ancoragem de uma argamassa é feita exclusivamente pelo aglomerante, 0 agregado néo da aderéncia Logo, argamassa magra ou pobre teré pouca adesio ¢ facilmente cairé, iniciando-se com a formagio de vazios em grandes areas ¢ em diversos locais, Depois 0 revestimento descola, caindo em placas, Esta argamassa se diferencia da argamassa rica pela pulveruléncia e baixa resisténcia mecanica, f) Utilizagio de areia contaminada com materi: argilosos, excesso de mica, etc. No caso da fragdo argila conter argilo-minerais montmoriloniticos, sio possiveis reages de expansio, cuja origem esté na estrutura cristalina desses argilo-minerais. ‘A mica, por cristalizar-se em forma de placas, prejudica a homogeneidade das caracteristicas fisicas do revestimento ou a aderéncia da argamassa a base. Durante a aplicago, o alisamento da argamassa orienta as placas de mica, paralelamente & superficie da base. Situando-se as placas cristalizadas na interface de contato entre camadas, reduz-se a aderéncia entre as mesmas. No interior da massa atuam como "A argamassa€ dita pobre ou magra quando o volume do aglomerante¢ insufciente para preencher (0s varios entre os gritos do agregado { rts 29 superficies diminutas de descolamento, resultando num fenémeno de esfoliagao do revestimento™. g) Infiltragio de agua Caracteriza-se pela formagao de um bolsio localizado sob o revestimento. Esse descolamento vai se acentuando com 0 tempo € depois o revestimento cai. Pode ser decorrente de infiltragdo e umidade pela outra face da parede, que produz pressio. h) Aplicacao prematura de tinta impermedvel Pode levar a formagao de vesiculas — bolhas contendo umidade em seu interior. Neste caso 0 reparo deve iniciar-se pela climinagdo da infiltragaio de umidade ¢ realizar-se a renovagao da pintura. i) Hidratagao retardada da cal Ocorre quando a cal no foi completamente extinta, Se ela foi aplicada ainda na forma de xido, precisa primeiro se transformar em hidroxido para depois carbonatar. Essa reagdo intermediéria implica em variagio de volume, com o conseqiente descolamento j) Descolamento por movimentacao da base Problemas que se desenvolvem na base, ao longo do tempo, podem afetar o revestimento, Tal & 0 caso da corroséo de armadura de concreto; a fissuragdo © expansio do concreto, 0 aciimulo do produto de corrosao na interface, acabam por descolar o revestimento ‘"”. 3.3.5. Fissuras a) Fissuras originérias do préprio revestimento: © Fissuras mapeadas: De acordo com a norma NBR 13,7497”, estas fissuras “podem se formar por retrag3o da argamassa, por excesso de finos no trago, quer sejam de aglomerantes, quer sejam de finos no agregado, ou por excesso de 30 desempenamento. Em geral, apresentam-se em forma de mapa”. As fissuras mapeadas em revestimentos so das mais freqitentes, ocorrendo até para tragos padrio de argamassas e cal CH I ou CH IIT (SELMO & SIQUEIRA, 1995'? apud SELMO). Sao intrinsecas do revestimento. A Foto 6 a seguir ilustra este tipo de fissura Foto 6. Revestimento com fissura em mapa ®. © excesso de finos do agregado leva a um consumo maior de agua de amassamento € consequente retrago por secagem. As microfissuras formadas nesta fase acentuam-se por choque térmico, aparecendo em menor prazo e de modo mai acentuado nas fachadas ensolaradas. Além do trago, esta configuragdo também pode ter relagdo com os seguintes fatores: processo de execugao (espessura, nimero de camadas, no observancia do tempo de secagem da camada inferior antes da aplicagao da camada superior), argamassas com baixa retengao de agua ¢ argamassas com incapacidade de absorver as movimentagdes das camadas anteriores Gis), © SELMO, S.M.S.; SIQUEIRA, NM. Estudo de casos de revestimentos externos de argamassas mistas e de cimento com solo fino beneficiado. In: Simpésio Brasileiro de Tecnologia das ‘Argamassas, 1., Goiania, 1995, Anais. Goisinia, UFGO/ANTAC, 1995. p. 271-82. INBTITUTO D5 FF PROLOGICAS Be FS sat 31 b) Fissuras decorrentes de problemas na alvena + Fissuras horizontais: Existe um tipo de fissuramento comum nos revestimentos mais antigos. So fissuras na dirego horizontal, motivadas pela expansio da argamassa de assentamento da alvenaria. A expansio ocorre predominantemente no sentido vertical e pode ser identificada por fissuras horizontais no revestimento (Figura 2). Pode ser provocada por reages quimicas entre os constituintes dessa argamassa ou mesmo entre compostos do cimento dos tijolos ou blocos que compéem a alvenaria”. De acordo com 0 BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT (1968)'? apud CINCOTTO®, a expansio torna-se evidente apés um periodo de 2 anos, aproximadamente. As fissuras podem ser finas, lade de serem corrigidas no reparo da pintura, até largas, exigindo que iento seja refeito*). Pode ocorrer entre a viga superior € a alvenaria inferior o aparecimento de uma fissura horizontal, devido ao encunhamento precoce ou a falta de encunhamento"”? Figura 2. Fissuras horizontais, devido a expansio das juntas da alvenaria sob 0 revestimento de argamassa, © Fissuras geométricas: “Quando acompanham 0 contorno do componente da base, podem ser devidas a retragao da argamassa de assentamento. Fissuras na vertical podem ser devidas a retragio higrotérmica do componente, interfaces de base constituida de materiais diferentes, locais onde deveriam ter sido previstas juntas de dilatago” (NBR 13.749°”), BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT (1968). Sulphate attack on brick-work. Garston, Her “Majesty's Stationery Office. 6p. (Digest 89: second series). 32 © Fissuras verticais: provocadas pela auséncia da “amarrago” convencional nos cantos ou nas interseogdes, geralmente em paredes de blocos de conecreto comuns ou leves, que distribuiria as tensdes de compressa para as duas paredes © Outras fissuras: um caso nfo muito raro decorre da concentragao de de contravergas nos peitoris de cargas excessivas sobre a alvenaria devido a ausén janelas (Figura 3) man HHH Ne Figura 3. Fissuras decorrentes da auséncia de contraverga cr) ) Fissuras decorrentes da corrosio de armaduras em concreto: ‘A base de um revestimento também pode ser parte da estrutura da edificagdo, e podem ocorrer fissuras devido ao processo de corroséo das armaduras. Muitas vezes seguem a posigdo da ferragem principal. 4d) Fissuras de ordem estrutural: Podem ser ocasionadas devido a recalques diferenciados de fundagdes, decorrentes da deformabilidade excessiva da estrutura de concreto, pela atuagao de sobrecargas e/ou por causas acidentais 33 Um dos pontos de maior responsabilidade pela deterioragio dos revestimentos de argamassa ¢ o desenvolvimento das tensdes geradas nfo sO nas argamassas mas também aquelas oriundas de uma trago axial, uma compresstio axial ou excéntrica; flexdo; isalhamento ¢ torgao sobre as alvenarias e ou lajes de conereto, decorrentes da movimentagao do conjunto da estrutura da edificacdo Nos casos em que as vigas suportes de alvenarias fletiram além do previsto, muito embora a estrutura permanecesse estavel, transmi m para as alvenarias € estas para o revestimento de argamassa tensGes indesejaveis que provocaram trincas ou até mesmo o seu descolamento da base As Figuras 4 e 5 e as Fotos 7 e 8, a seguir, ilustram alguns tipos de fissuras de ordem estrutural EN NX Z| Face Superior Foce tatertor Figura 4. Fissuramento tipico de laje simplesmente apoiada, armada em cruz”, ° oD 2 ww BN Figura 5. Fissuras tipicas em pilares de concreto armado: a) por esmagamento do concreto; b) por insuficiéncia de estribos; ¢) por solicitagSo de flexo- compressio™.

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