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LAGUNA
2021
CAMILA RAMOS KOERICH
LAGUNA
2021
AGRADECIMENTOS
O bairro Daniela possui potencial turístico, ambiental e urbanístico, com 34 Áreas Verdes de
Lazer e a presença de animais silvestres. Em vista disso, percebe-se que esses potenciais não
são devidamente aproveitados, possuindo falhas na educação ambiental, proteção para animais,
drenagem, manutenção, limpeza, acessibilidade e mobilidade urbana. Posto isso, pesquisa-se
sobre os conceitos de Ecologia da Paisagem, Trama Verde e Azul, Sistema de Espaços Livres,
Ecoturismo e Arquitetura Sustentável, tal como referenciais projetuais, a fim de desenvolver o
partido e das diretrizes para o projeto de uma Rede de Espaços Públicos, chamada de Rede
Verde de Lazer, para que ela colabore na valorização da Áreas Verdes de Lazer, protegendo a
fauna e flora, bem como na diminuição dos principais problemas existentes. Para isso, realizam-
se mapeamentos com a metodologia do Sistema de Espaços Livres, da Trama Verde e Azul,
mapas do sistema viário, uso do solo e estudo bioclimático com a finalidade de ter uma melhor
análise da região. Efetivando visitas em campo, levantamentos fotográficos, entrevista e
questionário on-line com o intuito de desenvolver um projeto que condiz com as demandas dos
usuários. Diante disso verifica-se que existe a necessidade de uma requalificação em todo o
bairro, assim como a disponibilidade de mais espaços de lazer e recreação.
The Daniela neighborhood has tourist, environmental and urban potential, with 34 Leisure
Green Areas and the presence of wild animals. Therefore, it is clear that these potentials are not
properly exploited, with deficiency in environmental education, protection for animals,
drainage, maintenance, cleaning, accessibility and urban mobility. Having said this, a research
is done on the concepts of Landscape Ecology, Green and Blue Grid, Public Open Space,
Ecotourism and Sustainable Architecture, besides reference projects, in order to develop the
starting points and the guidelines for the design of a Network of Public Spaces, called the
Leisure Green Network, so that it collaborates for the valorization of the Leisure Green Areas,
protecting the fauna and flora, even as in the reduction of the main existing problems.
Thereunto, mappings are carried out with the methodology of the Public Open Space, Green
and Blue Plots, maps of the road system, land use and bioclimatic study in order to have a better
analysis of the region. Carrying out field visits, photographic surveys, interviews and
questionnaires in order to develop a project that matches with user’s demands. Thereby, it
appears that there is a need for requalification in the neighborhood, as well as the availability
of more spaces for leisure and recreation.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA ................................................... 8
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 11
1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................ 13
1.3.1 Objetivo geral ......................................................................................................... 13
1.3.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 13
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 15
2.1 ECOLOGIA DA PAISAGEM ................................................................................. 15
2.1.1 Manchas .................................................................................................................. 16
2.1.2 Corredores verdes .................................................................................................. 17
2.1.3 Matriz ...................................................................................................................... 18
2.2 TRAMA VERDE E AZUL ...................................................................................... 18
2.3 SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES ......................................................................... 20
2.4 ECOTURISMO ........................................................................................................ 21
2.5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL ........................................................................ 22
3 ESTUDOS DE CASO E CORRELATOS............................................................ 24
3.1 PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO, FLORIANÓPOLIS ..................... 25
3.1.1 Ficha técnica ........................................................................................................... 25
3.1.2 Breve histórico ........................................................................................................ 25
3.1.3 Equipamentos e mobiliário ................................................................................... 25
3.1.4 Materialidade ......................................................................................................... 25
3.1.5 Sede administrativa do parque ............................................................................. 26
3.1.6 Análise CDP ............................................................................................................ 26
3.1.7 Trilhas ..................................................................................................................... 26
3.2 PARQUE BOTÂNICO DO RIO MEDELLÍN, MEDELLÍN .................................. 27
3.2.1 Ficha técnica ........................................................................................................... 27
3.2.2 Diretrizes projetuais .............................................................................................. 27
3.2.3 Materialidade ......................................................................................................... 27
3.2.4 Corredor biótico ..................................................................................................... 28
3.2.5 Mobilidade urbana................................................................................................. 28
3.3 CASA 88º, SÃO PAULO ......................................................................................... 29
3.3.1 Ficha técnica ........................................................................................................... 29
3.3.2 Principal objetivo ................................................................................................... 29
3.3.3 Diretrizes projetuais .............................................................................................. 29
3.3.4 Estudos bioclimáticos............................................................................................. 29
3.3.5 Materialidade ......................................................................................................... 30
3.3.6 Soluções projetuais................................................................................................. 30
3.4 SÍNTESE CRÍTICA DOS ESTUDOS DE CASO E CORRELATOS ..................... 31
4 LEVANTAMENTOS E DIAGNÓSTICO ........................................................... 32
4.1 A CIDADE DE FLORIANÓPOLIS, SC .................................................................. 32
4.2 A PRAIA DA DANIELA ......................................................................................... 33
4.3 ANÁLISE DO LOCAL ............................................................................................ 37
4.3.1 Sistema viário ......................................................................................................... 37
4.3.2 Sistema de espaços livres ....................................................................................... 39
4.3.3 Ecologia da paisagem e Trama verde e azul (TVA) ............................................ 40
4.3.4 Usos do solo ............................................................................................................. 41
4.3.5 Estudo bioclimático ................................................................................................ 43
4.3.6 Levantamento fotográfico ..................................................................................... 44
4.3.7 Fauna ....................................................................................................................... 45
4.3.8 Análise dos usuários e suas demandas ................................................................. 46
4.4 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO VIGENTE .............................................................. 48
4.4.1 Plano Diretor .......................................................................................................... 48
4.4.2 Meio ambiente ........................................................................................................ 49
4.5 SÍNTESE DE ANÁLISES DO BAIRRO ................................................................. 50
5 CONCEITO, PARTIDO E DIRETRIZES .......................................................... 51
5.1 CONCEITO DE REDE VERDE DE LAZER .......................................................... 51
5.2 DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS PROJETUAIS ................................................... 52
5.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES ...................................................................... 54
5.4 SETORIZAÇÃO ...................................................................................................... 54
5.5 PLANO DE MASSAS ............................................................................................. 55
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56
APÊNDICES ........................................................................................................................... 61
7
1 INTRODUÇÃO
O bairro, cujo nome oficial é Pontal de Jurerê, será identificado em todo o trabalho a
partir desse momento como Daniela, por ser a forma como é chamado pela população. Esse
bairro dispõe de 34 áreas classificadas pelo plano diretor da cidade de Florianópolis como Área
Verde de Lazer (AVL) e duas como Área Comunitária Institucional (ACI) (FLORIANÓPOLIS,
2014), identificadas na planta de implantação (Figura 1).
Observa-se nesses espaços a presença de espécies de animais silvestres, além de: horta
comunitária, academia ao ar livre, capela, dois parques infantis, sede do Conselho Comunitário
Pontal do Jurerê (CCPontal), antena de telecomunicação, refúgio do jacaré, quadra
poliesportiva e cursos canalizados d’água.
A Daniela conta com uma região muito importante para a flora, chamada de Pontal, na
parte mais estreita da morfologia, no encontro entre a Praia da Daniela e o Manguezal do Rio
Ratones, nomeada na Figura 1. O Pontal possui 150 espécies de plantas identificadas por Souza
et al. (1991) nos três tipos de vegetações existentes: a restinga, o manguezal e o banhado salino.
Ao analisar os mapas das zonas vegetais homogêneas e hidrografia disponibilizados pela
Prefeitura de Florianópolis (2020) e o mapa disponibilizado pelo CCPontal (2017), percebem-
9
O biólogo Emerilson Emerim (ND mais, 2020), aborda sobre a importância de ações de
educação ambiental eficientes, para um maior cuidado e proteção dos animais silvestres
protegidos por lei, principalmente dos jacarés, tanto para a proteção deles quanto para a
segurança da população e dos animais domésticos. Moradores também relatam os mesmos
incômodos e demonstram o interesse em ações de conscientização, colocação de placas
indicativas e cercas (G1, 2020).
O mapeamento realizado em estudo de vulnerabilidade e riscos naturais da Iniciativa
Cidades Emergentes e Sustentáveis do Banco Interamericano de Desenvolvimento (ICES-BID)
em parceria com a prefeitura de Florianópolis (2015), identificou as principais áreas de
inundação marinha da cidade. A Figura 4 representa um Período de Retorno (PR) de 10 anos
com o clima atual e a Figura 5, um PR de 200 anos e uma elevação da cota média do nível do
mar (SLR) de 1 m.
10
parte das áreas, assim como a presença de elementos de concreto e vegetação que causam uma
barreia física e visual ao pedestre que está passando em frente a elas, podendo influenciar na
pouca utilização das mesmas (Figuras 7).
1.2 JUSTIFICATIVA
A Praia da Daniela é conhecida por possuir águas calmas, propícias e seguras para
banho, por essas características possui como usuários frequentes famílias (SEVERINO;
SCHWEGLER; SILVA, 2006). Em dias quentes, principalmente no verão, a população
flutuante (turistas) é alta. Segundo projeções do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
de Florianópolis (IPUF) em 2020, os turistas representam 39 % do total da população e 64 %
em relação a população residente (FLORIANÓPOLIS, 2007).
12
Esse alto número de turistas que visitam a praia no verão pode ser considerado tanto um
problema quando uma potencialidade. A proposta de uma rede de espaços públicos
requalificados pode ajudar inclusive para que esses turistas não venham somente no verão,
distribuindo melhor o número de pessoas ao longo do ano e diminuindo problemas como a falta
de água, a menor produção concentrada de resíduos sólidos (Quadro 1) e queda de energia.
A Rede Verde de Lazer pode auxiliar, também, na diminuição dos problemas referentes
a drenagem da área, com a utilização de jardins de chuva e pisos drenantes no projeto. Conforme
Cormier e Pellegrino (2008), os jardins de chuva aumentam a evapotranspiração, removem os
poluentes e, se dimensionados de forma correta, podem em poucas horas absorver toda a água
presente na superfície.
Lima e Amorim (2006) ressaltam que “As áreas verdes são importantes para a qualidade
ambiental das cidades, já que assumem um papel de equilíbrio entre o espaço modificado para
o assentamento urbano e o meio ambiente” (LIMA; AMORIM, 2006, p. 69).
13
1.3 OBJETIVOS
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1 Manchas
agricultura, que podem ocasionar danos às espécies ao seu redor. As manchas efêmeras são
quando ocorrem mudanças ambientais temporárias de pouca intensidade. Enquanto as manchas
de recursos ambientais são as únicas que não dependem de perturbações, são apenas as áreas
em que possuem características ambientais diferentes das de seu entorno.
Oseki e Pellegrino (2004) relatam que as manchas podem ser avaliadas de acordo com
o tamanho, forma, quantidade e se possuem ou não interrupções.
Os corredores verdes (water and greenery networks) junto às áreas urbanas têm várias
utilidades: protegem a biodiversidade; constituem rotas de dispersão de espécies,
minorando impactos advindos de mudanças climáticas; permitem o controle adequado
dos recursos hídricos; melhoram as condições de conservação do solo, controlando a
erosão e prevenindo a desertificação, que ocorre tanto em zonas urbanas como rurais;
abrigam atividades recreacionais, como a caça, a pesca, as caminhadas, os esportes
náuticos etc. e promovem maior coesão social entre as comunidades, reforçando sua
identidade espacial (OSEKI; PELLEGRINO, 2004, p. 510).
Ainda de acordo com os autores, como citado no item 2.1, a manutenção do contato
entre as manchas de vegetações nativas está entre os componentes que possuem prioridade
máxima para o plano ecológico. É por intermédio de corredores que façam a ligação entre essas
manchas que se consegue preservar e proteger a biodiversidade, pensando na melhor
movimentação entre as espécies.
A melhor forma de realizar tal manutenção é por meio da rede de corredores verdes, ou
seja, realizar a conexão entre os elementos paisagísticos existentes e segregados em uma
paisagem.
18
2.1.3 Matriz
Forman e Godron (1981) e Oseki e Pellegrino (2004) definem a matriz como a unidade,
o elemento que possui maior influência no ecossistema em relação às outras estruturas da
paisagem. Normalmente é o mais dominante, integrado ou extenso (Figura 8).
O conceito aparece pela primeira vez na Europa na década de 1990, somente como
Trama Verde, passando a ser chamada de Trama Verde e Azul (TVA) e ganhando maior
importância a partir de 2007 com um conjunto de encontros chamados de Grenelle de
l’Environnement1 realizados na França (OLIVEIRA; COSTA, 2018). Por conta de se tratar de
um conceito recente, conforme Beretta (2018) ainda é pouco conhecida a nível nacional.
Com base nos conceitos da Ecologia da Paisagem, a TVA é definida como uma “rede
interconectada de espaços verdes que mantém valores e funções de ecossistemas naturais e
provê benefícios associados às populações humanas” (BENEDICT et al., 2002, p. 12).
De acordo com Dreyer (2018), a TVA é o estudo das diferentes infraestruturas ou tramas
1
A palavra grenelle é uma analogia às negociações feitas entre atores em 1968, chamada de Accords de Grenelle,
em Paris. Sendo l’Environnement do francês meio ambiente (tradução nossa), Grenelle de l’Environnment traz o
significado de um encontro público e amplo sobre o meio ambiente.
19
Para Santos (2006), paisagem e espaço não significam a mesma coisa. Paisagem é um
conjunto de elementos concretos decorrentes de diversos tempos, enquanto o espaço é o
resultado presente da ação da sociedade nesses elementos.
Segundo Macedo (1995) e Magnoli (2006), o espaço livre é todo aquele em que não há
objetos construídos, sejam eles públicos, privados, de lazer, de passagem, com ou sem
vegetação. Macedo (1995) e Abbud (2018) expressam que apesar de não ser construído, o
espaço livre possui uma composição de elementos morfológicos similares aos dos edifícios,
composto por planos verticais e horizontais que remetem ao piso, teto e paredes.
Esses espaços livres, no contexto urbano, formam um sistema que, conforme Queiroga
e Benfatti (2007), apresentam relações de conectividade, complementaridade e hierarquia. A
função desse sistema envolve a circulação de pessoas, drenagem, atividades cotidianas,
interação social, pontos de referência, memória, cuidados ambientais, entre outras.
De acordo com Galender (2005), existem duas visões a respeito dos espaços livres que
se complementam. Uma é mais voltada para a integração social, o uso desses espaços para
atividades humanas, e a outra foca mais na biodiversidade, drenagem e na associação dos
ecossistemas.
Conforme Macedo (1995) e Magnoli (2006), as transformações morfológicas urbanas
das cidades brasileiras aparecem não só com o espaço público, mas também no privado,
decorrente da forma de ocupação dos lotes. Magnoli (2006) reforça que a maior parte dos
espaços livres nas cidades estão dentro de propriedades privadas.
Magnoli (2006), avalia os espaços livres no tecido urbano levando em consideração a
acessibilidade, a contiguidade e o gabarito das edificações. Por seu lado, Macedo (1995) divide
em três os fatores que ajudam a qualificar esses espaços livres, são eles: a adequação funcional,
ambiental e estética. Segundo ele, a carência de espaços livres públicos de lazer, decorrente da
falta de planejamento e valorização desses no Brasil, faz com que eles sejam trazidos para
dentro dos espaços privados, como nos condomínios. Porém, essa solução não está presente na
vida de todos, devido à desigualdade social no país. Para aqueles que não possuem espaços
21
livres privados restam os poucos espaços públicos presentes, que estão, em sua maioria, longe
das residências.
Visto a importância dos espaços livres na vida urbana e social, estuda-se a seguir a
utilização desses espaços pela sociedade, os conceitos de turismo, suas vantagens e
desvantagens, e a definição de ecoturismo.
2.4 ECOTURISMO
Batista (2003), Fontoura, Gastal e Becker (1999) e Ignarra (1999) afirmam que o
turismo é um fenômeno social complexo, dinâmico e que está ligado a vários setores da
economia. Fontoura, Gastal e Becker (1999) reconhecem o turismo como sendo uma das
atividades econômicas mais importantes do mundo.
Informa-se que “o turismo é uma combinação de atividades, serviços e indústrias que se
relacionam com a realização de uma viagem” (IGNARRA, 1999, p. 16). Segundo o autor, a
pessoa que viaja com constância, por motivos profissionais, para o mesmo local não é
considerada um turista, ou seja, apenas quando essa atividade não é habitual.
Severino, Schwegler e Silva (2006) concluem que para fazer turismo, é preciso dois
meios sociais: o turista em sua residência habitual e o deslocamento de local.
Ignarra (1999), por sua vez, define quatro componentes para o fenômeno do turismo: o
turista, os prestadores de serviços, o governo e a comunidade residente do local. Quanto à sua
classificação, o turismo pode ser estudado de acordo com sua amplitude local, regional,
doméstica e internacional. Quanto ao fluxo, este pode ser emissivo, referente aos que saem de
suas residências; e receptivo, referente aos que entram em um local não costumeiro.
Apesar dessa grande importância, “O impacto do turismo precisa ser estudado para que
não ocorra problema na comunidade envolvida” (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA, 2006,
p. 52). Fontoura, Gastal e Becker (1999) citam alguns impactos negativos, como a perda de
identidade cultural do local, o crescimento de problemas sociais e a poluição do meio ambiente.
Porém, os autores informam que quando bem planejado e pensado na preservação do
patrimônio, do meio ambiente e da identidade cultural, o turismo pode resultar em vários
benefícios econômicos e uma melhor qualidade de vida aos residentes.
De acordo com Campos (2006), o ecoturismo surge na década de 1960 e traz melhor
estudo ao planejamento turístico responsável, principalmente com o objetivo de diminuir os
impactos ambientais causados por tal fenômeno. Além disso, serve, em conformidade com
Wearing e Neil (2001), para a conservação e desenvolvimento sustentável.
22
Sustentabilidade, do ponto de vista de Boff (2017), é quando algo é pensado para manter
seu equilíbrio interno, continuando assim vivo e se conservando.
De acordo com Oliveira, Leoneti e Cezarino (2019), a palavra sustentabilidade ganha
importância na década de 1960. Porém, conforme Boff (2017), o termo surgiu nos anos de 1560
na Alemanha, diante da preocupação com o futuro das florestas, pensando no seu uso racional,
para que elas pudessem se regenerar.
Devido a importância do tema, as Nações Unidas (ONU) do Brasil lançam os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (BRASIL, c2021), onde definem metas para o ano de
2030, são elas: erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar;
educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e
acessível; trabalho decente e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura;
redução das desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção
responsáveis; ação contra a mudança global do clima; vida na água; vida terrestre; paz, justiça
e instituições eficazes; parcerias e meios de implementação.
O objetivo 11, diz respeito a cidades e comunidades sustentáveis, com a intenção de
tornar os espaços mais inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Existem dois objetivos
específicos desse item que podem ser explorados nesse trabalho, o de número 11.3 que visa um
planejamento urbano participativo, integrado, inclusivo e sustentável e o de número 11.7 que é
voltado para a obtenção de espaços públicos seguros, com maior número de vegetação e acesso
universal principalmente para mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência.
Ramos (2019) afirma que a arquitetura interfere na sociedade e no meio ambiente, sendo
23
responsável por marcantes impactos ambientais, assim como, mudanças climáticas. Como
forma de compensar e diminuir esses impactos, tem-se a arquitetura sustentável, que pode
ajudar também na valorização social e viabilidade econômica dos objetos construídos. Além
de, segundo Gonçalves e Duarte (2006), poder melhorar fatores urbanos e de infraestrutura.
Além disso, Lima (2013) identifica outros aspectos a serem estudados para a realização
de um projeto sustentável: diretrizes projetuais, eficiência energética, reaproveitamento de água
e de materiais, certificação dos materiais renováveis, aproveitamento das condições
bioclimáticas e planejamento pensado no território.
A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – AsBEA apresenta algumas
dessas diretrizes projetuais e os principais assuntos a serem analisados para tal: aspectos
urbanos, paisagem e mobilidade; acessibilidade e desenho universal; segurança; materiais;
resíduos; água e efluentes; energia; conforto térmico, visual, acústico e olfativo; salubridade;
operação e manutenção (BRASIL, 2012).
24
Neste capítulo será apresentado um estudo de caso e dois estudos de correlatos, que
possuem a finalidade de auxiliar com referências projetuais no desenvolvimento do projeto a
ser elaborado no TCC II.
O estudo de caso teve como foco principal o programa de necessidades, realizado no
Parque Estadual do Rio Vermelho, em Florianópolis. A escolha deve-se, principalmente, ao
fato de se tratar de um parque voltado para a educação ambiental. Para realização desse estudo
foi realizada uma visita de campo guiada pela coordenadora do parque, Adriana Nunes, onde
foram feitas: coletas de informações, entrevista curta em pautas (Apêndice B) e levantamento
fotográfico. As informações presentes nesse item do trabalho têm como fonte Nunes (2020),
site do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA, ca. 2020), reportagem da Record
TV (2018), boletim informativo (UFSC, 2009) e as postagens a respeito do histórico do parque
do Instagram da Associação Eco Paerve (2021).
O estudo de correlato do Parque do Rio Medellín foi escolhido para servir de referência
projetual, por se tratar de um parque com grande potencial urbano e paisagístico e com diretrizes
projetuais que possuem similaridade com as necessidades presentes no atual trabalho. A
principal fonte utilizada para esse estudo é o artigo do site archdaily (CABEZAS, 2014), por
possuir um maior número de informações e imagens.
Por fim, o estudo de correlato da Casa 88º, com interesse primordial em tê-lo como
referência na materialidade e conceitos sobre a sustentabilidade, podendo auxiliar nas soluções
projetuais, visando o menor impacto no meio ambiente. As informações presentes na prancha
foram retiradas do site oficial do projeto (CONEXÃO 88º, 2014) e do escritório (ATELIER
O’REILLY, 2015).
Com objetivo de ajudar o leitor, após o levantamento dos dados a respeito dos
referenciais, no final deste capítulo é feito uma síntese crítica dos estudos, com seus pontos
positivos e negativos.
3 ESTUDO DE CASO 3.1 PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO
1962
Nome: Estação Florestal
Administrada por: Associação Rural Regional de S/ ESCALA
Florianópolis
Fonte: Adaptado de UFSC (2009).
Objetivo principal: Estudar a plantação de Eucalip-
tos e Pinus. 3.1.3 Equipamentos e mobiliário
Observações: As plantações causaram a descaracte-
rização da restinga, mudanças na política, na econo- Conta com bancos, lixeiras, mesas, pergolados, balan-
mia e na urbanização da região. ço, trapiche, placas informativas sobre a flora.
1974
Nome: Parque Florestal Figura 11 - Placa. Figura 12 - Lixeira.
Administrada por: Secretaria da Agricultura
Objetivo Principal: Restauração da fauna e flora
1994
Administrada por: Companhia Integrada de Desen-
volvimento Agrícola de Santa Catarina
Observações: Construção do edifício sede da
Polícia Ambiental
2001
Administrada por: Fundação do Meio Ambiente do
Estado de Santa Catarina (FATMA) Fonte: Acervo da autora Fonte: Acervo da autora
2007 (2021). (2021).
Nome: Parque Estadual do Rio Vermelho
Observações: Unidade de Conservação 3.1.4 Materialidade
Principais atividades: Centro de educação e reabili- Em maioria os objetos construídos do parque são de
tação ambiental. madeira e concreto, com excessão do anexo feito de
2017 container no centro de educação ambiental. As edifica-
Administração: Instituto do Meio Ambiente (IMA) ções antigas feitas de alvenaria são reaproveitadas para
os setores da sede administrativa.
25
3.1 PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO
3 ESTUDO DE CASO
Referencial Programa de Necessidades
Fonte: Acervo da autora (2021). Fonte: Acervo da autora (2021). Fonte: Acervo da autora (2021).
26
3.2 PARQUE DO RIO MEDELLÍN
3 ESTUDO DE CORRELATO
Referencial Projetual
S/ ESCALA
N
estrutural do projeto, atrelando nele aspectos naturais,
culturais e desportivos.
São realizadas requalificações nas áreas livres verdes
fragmentadas, conectando-as com o corredor biótico
A
(Figura 22). Assim como a reutilização de espaços subuti-
lizados, a recuperação do sistema biótico dos corpos
d’água e a distribuição dos usos do solo através de micro-
paisagens como apresentado na Figura 23.
A’
Figura 22 - Mapeamento de áreas verdes e
possíveis conexões.
Áreas verdes com maior
potencial ecológico
S/ ESCALA
Estruturas facilitadoras
de conec�vidade
S/ ESCALA
Fonte: Adaptado de Conexão 88º (2014). Fonte: Adaptado de Conexão 88° (2014).
29
3.3 CASA 88º
3 ESTUDO DE CORRELATO
Referencial Materialidade e Sustentabilidade
LEGENDA:
1) Redução da ilha de calor através de material reflexivo;
2) Produzir energia com o aproveitamento da alta radiação solar;
3) Permi�r a radiação solar no inverno;
1
4) Diminuição da radiação direta através de beirais;
5) Aquecimento solar passivo pelo piso;
4 2 9 11 6) Abertura zenital para a iluminação e ven�lação natural;
7) Isolamento térmico e acús�co pelo uso de cobertura verde;
3 8) Auxílio na preservação do bioma local com o emprego de vegetação
7 6
7 na�va;
9) Captação de águas pluviais;
8 12
10) Reaproveitamento de águas pluviais;
11
8 11) Ven�lação cruzada;
5
12) Produção de energia eólica.
10 10 10
9
Fonte: Adaptado de Atelier O'Reilly (2015).
30
31
Como forma de sintetizar as análises feitas dos estudos de caso e correlatos, desenvolve-
se um esquema com seus principais pontos positivos e negativos.
4 LEVANTAMENTOS E DIAGNÓSTICO
Florianópolis é uma cidade litorânea brasileira, capital do estado de Santa Catarina, que
se localiza na região sul do país e possui uma população estimada de 508.826 habitantes (IBGE,
2020). A cidade dispõe de uma parte insular, conhecida como Ilha de Santa Catarina e outra
continental. Possui clima subtropical úmido, estações bem definidas, bioma de mata atlântica e
conta com 42 praias (FLORIANÓPOLIS, [s.d.]).
Dentro dos seus 674.844 km² de extensão de território (IBGE, 2019), 32% das vias
públicas são arborizadas (IBGE, 2010) e 42% está enquadrada como Área de Preservação
Permanente (APP) (REIS, 2010). Apesar desses percentuais, parte significante da mata
subtropical original da ilha não existe mais, devido atividades agrícolas (FLORIANÓPOLIS,
[s.d.]).
Por essas e outras características, Florianópolis é a capital turística do Mercado Comum
do Sul (Mercosul)2. Conta com um alto número de turistas no verão, em sua maioria pessoas
vindas dos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, assim como da Argentina
(FLORIANÓPOLIS, [s.d.]).
Existe um aumento constante do número de turistas na cidade, conforme a Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Ministério do Turismo (BRASIL, 2020). Em janeiro de
2010, o número de desembarques domésticos totais era de 100.794 e, no mesmo mês de 2020,
chegaram ao total de 168.141. Quanto aos internacionais totais, em janeiro de 2010 somaram
11.711 desembarques e, em 2020, 35.192.
2
O Mercado Comum do Sul é uma organização intergovernamental fundada a partir do Tratado de Assunção de
1991. É uma iniciativa de integração regional da América Latina e tem como membros atuais o Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai.
33
A Praia da Daniela possui estreito vínculo com suas regiões próximas, fica dentro da
Unidade de Paisagem (UP) chamada Jurerê-Daniela, que engloba a região da Daniela, Forte e
Jurerê (BUENO, 2006). Ao analisar os mapas disponibilizados pelo sistema de
geoprocessamento on-line da prefeitura (FLORIANÓPOLIS, c2020), percebe-se que essa UP
não possuía ocupação urbana, começando a se desenvolver na década de 1970, com a
construção das rodovias (Figura 32).
Conforme Reis (2010), a ocupação urbana ocorreu após o declínio da agricultura e com
o aumento dos empreendimentos de caráter turístico, construindo loteamentos de malha regular.
Com a Figura 32 é possível notar as movimentações geomorfológicas da Daniela, onde
“a praia representa um dos ecossistemas litorâneos de maior complexidade, encontrando-se em
permanente estágio de transformação” (DIEHL, 1997, pg. 4). Essas transformações
morfológicas se mostram principalmente na região do Pontal, mencionada na introdução.
A praia é muito frequentada por turistas na alta temporada, com predomínio de casas de
veraneiro e possui baixa no número de pessoas durante o inverno. Por dispor de águas calmas
atrai principalmente famílias (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA, 2006). Possui
proximidade com a Fortaleza de São José da Ponta Grossa, atrativo histórico-cultural localizada
34
na Praia do Forte (BUENO, 2006), tendo acesso através da areia quando a maré está baixa ou
por meio de trilhas, com cerca de 2 km de distância e com a opção de percurso de 5 km através
de veículos (GOOGLE EARTH, c2021).
Ana Cláudia Caldas, em entrevista concedida ao estudo, afirma que o clube era muito
utilizado, possuía bocha, quadras esportivas, restaurante e espaço para festas e shows. Conta
que estranhou o fechamento do clube e que atualmente estão com problemas judiciais, querendo
vender o terreno (CALDAS, 2021).
Por meio de pesquisa das vistas aéreas antigas registradas no Google Earth, percebe-se
que a estrutura do clube foi demolida no ano de 2012. Ao analisar a vista aérea de 2002, nota-
se que a área entre o lote e o balneário está preenchida de grama e algumas árvores. Nesse
espaço, conforme planta de situação apresentada na Figura 35, seria a continuação da via
pública urbana com estacionamento e, de acordo com o Plano Diretor (FLORIANÓPOLIS,
2014), é classificada como Área Verde de Lazer (AVL). Em 2020, é perceptível a diferença
com relação a vegetação, que aumentou consideravelmente nessa área (Figura 36).
36
Foi realizado em 2018 um projeto urbanístico para servir de guia de orientação para as
AVL, apresentado de forma simplificada na Figura 37, tendo como cliente o CCPontal. Esse
projeto teve como base o manual de projeto e execução de passeios públicos, chamado Projeto
Calçada Certa, da prefeitura de Florianópolis em parceria com o IPUF e a Rede de Espaços
Públicos. O projeto é bastante técnico, possibilita a acessibilidade, porém não possui nenhum
elemento paisagístico em sua composição, apenas mantém as vegetações existentes.
A SC-400 se caracteriza por ser uma via arterial que, ao entrar no bairro, se torna uma
coletora. As vias coletoras distribuem o trânsito para as vias locais (Figura 39). Através dessa
análise é possível identificar as zonas de maior movimentação de pessoas e, por conseguinte,
auxiliar na escolha das áreas a serem projetadas. É interessante notar que as vias rentes a orla,
onde se encontram os estacionamentos, são classificadas pela prefeitura de Florianópolis (2020)
como vias locais.
38
O loteamento possui em maioria vias de mão dupla, com exceção apenas da Rua das
Paineiras, que é a única via de sentido único (Figura 40).
É possível analisar a região com base nos conceitos da Ecologia da Paisagem e, de forma
adaptada à escala, nos conceitos da Trama Verde e Azul, onde são mapeados os corpos d’água,
as áreas vegetadas e as ocupações urbanas (Figura 43).
Para uma melhor análise das volumetrias, faz-se na Figura 45 um skyline ou panorama
urbano, com as alturas aproximadas das edificações no trecho destacado no mapa de usos do
solo.
N
Fachada Norte Fachada Leste Fachada Sul Fachada Oeste
Fonte: Adaptado de CCPontal (2017). Fonte: Elaborado pela autora (2021). Fonte: Adaptado de CCPontal (2017). 43
4.3 ANÁLISE DO LOCAL
4. LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO
4.3.8 Fauna
Durante o levantamento foram mapeadas as áreas em que ocorrem o maior aparecimento dos jacarés-de-papo-amarelo
e das tocas de coruja buraqueira. Como pode-se perceber na figura 54, os jacarés aparecem em locais próximos e
conectados com o mangue e as corujas nas áreas proximas a restinga.
1 2
la
a Danie
Praia d
2
Refúgio do jacaré Toca coruja
Fonte: Autoria própria (2021). 1
LEGENDA:
Manguezal do Rio Ratones
Jacaré-de-papo-amarelo
Pontal Tocas de coruja buraqueira
Cursos d’água
25 100 300
50 200 Áreas alagáveis
Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).
A área indicada no mapa com número 1 é onde existe hoje o Posto Avançado das Saracuras, que tem como apoio o
CCPontal e o ICMBio. Apesar desses apoios a área é muito abandonada, assim como na maioria das AVL, existem
caminhos pelas laterais do lote. Uma delas é cuidada pelos próprios residentes da casa que fica ao lado do espaço e em
outra lateral está em abandono (Figuras 55 e 56). Além disso, foi possível identificar plantas aquáticas invasoras nos
cursos d’água (Figura 57).
Fonte: Autoria própria (2020). Fonte: Autoria própria (2020). Fonte: Autoria própria (2020).
45
46
Esse item tem como principal objetivo a identificação do público alvo e o estudo das
carências das pessoas que utilizam os espaços. Os usuários são os verdadeiros clientes dos
projetos urbanos, portanto, com intuito de obter uma base para o desenvolvimento do programa
de necessidades, foram realizadas pesquisas acerca do local, questionário on-line com os
usuários e entrevista com a presidente do centro comunitário do bairro.
O questionário foi disponibilizado através da plataforma Google Forms e divulgado para
aqueles que obtinham conhecimento do bairro, através das redes sociais. Contendo 10
perguntas, foi disponibilizado entre os dias 8 de janeiro e 8 de fevereiro de 2021 totalizando
391 respostas. O apoio da presidente do CCPontal, Ana Cláudia Caldas, foi de suma
importância para a forte adesão dos participantes.
Ao analisar os dados obtidos (Apêndice D), afirma-se que 54,3 % dos respondentes são
pessoas com mais de 45 anos, 80,6 % possuem o ensino superior completo e 38,1 % são
moradores fixos. Um ponto importante levantado pelas respostas que possuem relação com o
perfil do usuário é o da acessibilidade, com 16 respostas de pessoas com deficiência física, seis
visuais, duas auditiva, uma mental e uma múltipla. Quando questionado a respeito da
classificação de zero a cinco para a acessibilidade das áreas públicas do bairro, 44,5 % das
pessoas, responderam a opção três. Em visitas em campo foi possível confirmar essa
deficiência, principalmente em AVL que, em sua maioria, não possuem passeio público.
Percebe-se que apesar de possuir 34 AVL no bairro, ainda há carência de espaços de
lazer e recreação. A pergunta de número 7 do tipo caixas de seleção, confirmou essa afirmação.
Nesta pergunta questiona-se a respeito das atividades/equipamentos urbanos que os
respondentes teriam interesse em realizar/utilizar nas Áreas Verdes de Lazer. Com a inserção
do item “outros” permitiu-se trazer demandas não elencadas pela autora, tornando os dados
mais ricos. Um dos itens mais selecionados foram “percursos para caminhadas ao ar livre” e
“local sombreado/arborizado para piquenique e/ou outras atividades”.
Por conta do aumento na população de jacarés e a falta de proteção nos espaços que eles
aparecem (Figura 60), 79% afirmaram que “gostariam de um local seguro com relação aos
animais silvestres”.
47
moradores.
Em pesquisa por mais estudos efetuados com base nos usuários do bairro Daniela é
encontrado um estudo sobre os impactos do turismo (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA,
2006), onde foram realizadas 47 entrevistas com moradores, obtendo as seguintes constatações:
Conclui-se que, para a realização do programa de necessidades, esse deve ser voltado
principalmente para o meio ambiente, atividades de lazer e recreação e os devidos equipamentos
e mobiliário urbano de suporte e requalificação desses espaços de lazer.
Para uma fácil análise da legislação que diz respeito ao meio ambiente da região, fez-se
um esquema em forma de síntese (Figura 62).
Como modo de resumir todas as informações levantadas e seus diagnósticos, faz-se uma
tabela de condicionantes, deficiências e potencialidades (CDP) de acordo com os aspectos
principais identificados na Daniela (Figura 63).
Após a realização das análises a respeito do bairro Daniela, focando na busca por
melhorias dos problemas e demandas da população, a partir do embasamento teórico e
referenciais arquitetônicos e urbanísticos antes apresentados, é possível traçar o conceito,
partido e as diretrizes do projeto da Rede Verde de Lazer.
Por meio de uma requalificação urbana, pretende-se projetar uma Rede Verde de Lazer.
A palavra “rede” traz um conceito muito forte do projeto, que é o da integração. Essa
integração se dá de várias formas, como a integração entre as AVL presentes no bairro, focando
sempre na intenção de unidade, buscando a identidade desses espaços por meio de padrões de
tamanho, forma e materialidade.
Além disso, a integração aparece entre as pessoas e os espaços que utilizam, aplicando
os princípios do desenho universal, projetando de maneira que não exclua nenhuma pessoa,
sejam quais forem as suas condições e idades.
A palavra “verde” faz alusão a fauna e flora que se fazem bastante presentes no bairro,
tendo a educação ambiental como aliada para a colaboração de suas preservações. Bem como
a ideia de sustentabilidade ambiental, no sentido de sustentar essa rede por mais tempo,
impactar o mínimo possível no meio ambiente, utilizando a eficiência energética e a escolha
por materiais reciclados.
Existe, portanto, uma preocupação com o cuidado e valorização dos animais e plantas,
espaços públicos e a própria comunidade. Com isso, pode ser estimulada a sustentabilidade
econômica, onde, por meio de alugueis de espaços comerciais e quiosques, são arrecadados
fundos para a limpeza e manutenção com maior frequência dos espaços públicos. Além do
estímulo à economia do bairro, em decisões como o posicionamento estratégico de mesas ao ar
livre próximas de comércios alimentícios existentes.
Já o “lazer” faz lembrar que os seres humanos também fazem parte da natureza e que
espaços como esses devem ser pensados tanto na fauna e flora quanto na sociedade em torno
dela. A realização de atividades físicas ao ar livre e a integração das pessoas com a natureza
podem ser fatores que auxiliam para o bem-estar dos seres humanos (ALVES et al., 2019).
Portanto, outro ponto de partida é o projeto de espaços pensados no bem-estar das pessoas,
conectá-las com a natureza e estimular a prática de atividades físicas e recreativas, tal como o
52
estímulo dos sentidos. Esse possibilita que sejam criadas ou trazidas à tona memorias afetivas
e auxilia na localização das pessoas com deficiência visual.
mobiliário urbano que dão suporte para esse lazer. C I Lazer e recreação
II 1 Percursos verdes de lazer
Meio ambiente A 1 Pista de caminhada e
Ambiente Qnt. Observações ciclovia
Espaço protegido para 21 Plantas de forração e cercas de III 2 Ciclofaixa
animais silvestres bambu em áreas com maior apareci- I Mesas ao ar livre próx.
mento de tocas de coruja e em todas C I 1 comércio
as que possuem cursos d’água para
proteção dos jacarés. Com placas B II Pomar
informa�vas sobre os animais 1 III Quadra de beach tennis
silvestres. II
Percurso ecológico 4 Deck elevado de madeira plás�ca
I IV Espaço coberto
com placas informa�vas sobre as IV 1
vegetações na�vas. Compar�lhada 1 Equipamentos e
entre pedestres e ciclistas. mobiliário de apoio
Bosque 2 AVL com número considerável de 1 1 ao lazer
vegetação na�va, com percusos e 1 Estacionamento
placas informa�vas sobre fauna e
flora.
A Centro de visitantes
1 e quiosques
Jardim de chuva 34 Em todas as AVL como forma de B Depósito
auxiliar na diminuição de alagamen-
tos. C Áreas com duchas
e sanitários
ESCALA 1:750
Fonte: Acervo da autora (2021). Fonte: Archdaily (2014). Fonte: Soluções para cidades, apud. Portland
Bureau of Environmental Services (2003).
Como forma de hierarquia entre os caminhos existentes, o caminho principal possui maior largura, de três metros, sendo essa
uma via compartilhada entre pedestres e ciclistas. Na via secundária o caminho se estreita para dois metros, passando a ser
somente para pedestres. Para facilitar o acesso a todas as pessoas, são propostas faixas elevadas posicionadas na direção em
que está indo o percurso, mencionado na setorização como Percurso Verde de Lazer (Figura 69).
Ao análisar o plano de massas com base nos princí-
pios do desenho universal, os quais segundo Story Figura 69 - Croqui do plano de massas.
(2001), são: uso equitativo; flexibilidade de uso; uso
simples e intuitivo; informação perceptível; tolerância
ao erro; baixo esforço físico; e dimensão e espaço
para acesso e uso.
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59
APÊNDICES
ruas são da rede de vizinhos e isso facilitou bastante essa comunicação. Tipo, a gente contratou
um estudo sobre terrenos de marinha do engenheiro Ricardo Cherne. A gente em cinco dias
arrecadou 15 mil reais, por meio das redes. Foi depositado na conta do conselho e ele entregou
agora um estudo nessa semana, que eu estou lendo, para pegar a ART. Tudo está realmente bem
legal.
Camila: Como você classifica os cuidados e proteções dos animais silvestres da região?
Ana Cláudia: Não tenho o mapeamento das áreas onde estão cada animal silvestre da
região. Tinha um jacaré que se chamava Zenóbia, mas quem cuidava era o senhor Queiroz que
72
morava ao lado, ele mesmo montou um instituto e cuidava dele. Quando fecharam o zoológico
do Clube 12, trouxeram aquele jacaré pra cá.
Acontece que faleceu, no instituto de uma pessoa só, então o instituto morreu com ele.
E a Zenóbia faleceu um tempo depois, então não tem mais jacaré ali, e mesmo se tivesse, não
teríamos como cuidar, né? É muita responsabilidade e também muito custo, cada visita de um
profissional é 500 reais, então não temos interesse em promover outra coisa desse gênero não.
Camila: Você tem conhecimento sobre o terreno onde antigamente havia um clube de
nome “Sede Balneário Daniela”?
Ana Cláudia: O que eu sei é isso, que ele foram saindo, não aceitavam mais sócio, não
tinham mais interesse, mas acho muito estranho porque na adolescência e na infância toda a
gente brincava ali, tinha uma super estrutura, tinha bocha, um monte de quadras, restaurante,
salão de festa, faziam até shows ali! E hoje estão com problema judicial bem grande, estão em
briga, tem 8 sócios que dizem que era deles, tem outras pessoas que acham que é público.
Ana Cláudia: Olha, eu sou líder comunitária lá na bacia do Itacurubi também, acho que
comparado com outras regiões, a gente está muito além. Aqui se deixam um sofá um entulho
na frente de casa os próprios outros moradores já cuidam e mandam tirar. A própria limpeza
das áreas.
A proximidade com os bichos, tudo faz com que as pessoas sejam mais conscientes e
cuidem mais. Na minha casa por exemplo, tudo dia a noite tem uma coruja, constantemente
aparecem lagartos, a gralha azul.
Estamos com problemas agora com o grande número de jacarés, o fato de ter muito
alagamento, água empoçada, isso atrai eles, e eles são assim de expansão de território, faz parte
da natureza da espécie deles. Temos problema agora com o aparecimento de saguis também.
Seria legal fazer áreas mais protegidas para os jacarés. Para fazer com que as pessoas
convivam, sem medo, mas também não mexam neles. Até porque tem muita gente, muitos
turistas que jogam pedra para ver se mexerem, tem as pessoas que dão comida. A gente pede,
pede, pede e não adianta. São pessoas idosas. Daí eles acham que “tadinho” né? Daí mora do
lado de onde eles ficam, acabam se afeiçoando, entendeu? É assim. Como que eu vou ficar
brigando toda semana com a pessoa? Não dá. Falam “não, mas é só uma galinha, ele come
fácil” e assim vai. A gente briga, faz postagem, manda no grupo, mas não adianta. Eles
continuam alimentando.
Tem a zona azul de temporada que já temos um pedido na prefeitura também. Daí coloca
só na temporada, fica um lado proibido estacionar e na outra a zona azul.
Muitos turistas vêm para cá para trabalhar, pois não vão embora. Alugam uma casa para
30 pessoas, para trabalhar de ambulante, tem várias coisas que acontecem assim que não é legal.
Tem esses problemas assim, daí a gente vai trabalhando com a prefeitura, tem a fiscalização, aí
vem a guarda, vem a PM, tem bastante fiscalização. Temos uma proximidade com eles assim,
é bem legal.
0 20 40 60 80 100 120
35 a 44 25 a 34 16 a 24 45 a 59 mais de até 15
anos anos anos anos 60 anos anos
RESPOSTA 98 53 27 114 98 1
70
315
Não 368
Sim, de ordem física 13
Sim, de ordem mental 1
Sim, de ordem visual 6
Sim, de ordem auditiva 2
Sim, de ordem múltipla 1
76
91
117
183
Não, desconheço. Sim, conheço algumas. Sim, conheço todas ou a maioria delas.
46
23
23
322
Sim, já visualizei. Sei que existe, mas nunca os vi. Não, nem sabia da existência.
77
Ciclovia 28
Outros:
Péssimo
Não conheço
Muito boa
Ruim
Regular
Boa
32
33
326