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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC

CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DA REGIÃO SUL - CERES


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CAMILA RAMOS KOERICH

REDE VERDE DE LAZER:


REQUALIFICAÇÃO NO BAIRRO DANIELA,
EM FLORIANÓPOLIS

LAGUNA
2021
CAMILA RAMOS KOERICH

REDE VERDE DE LAZER:


REQUALIFICAÇÃO NO BAIRRO DANIELA,
EM FLORIANÓPOLIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Graduação em Arquitetura e Urbanismo do
Centro de Educação Superior da Região Sul da
Universidade do Estado de Santa Catarina
como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profa. Ma. Ivana Righetto Moser
Coorientador: Prof. Me. Caetano de Freitas
Medeiros

LAGUNA
2021
AGRADECIMENTOS

Posto que o contexto de pandemia mundial proporcionou diversas dificuldades, sou


muito grata à vida, pelos aprendizados e principalmente pela minha saúde e a de todos em minha
volta, garantindo a minha condição para a realização deste trabalho.
Agradeço aos meus pais Suzana e Marco, meu irmão Luis e cunhada Rafaela que sempre
se fizeram presentes me apoiando e acolhendo nessa caminhada. Em especial ao meu
companheiro Guilherme Martins, que nunca mediu esforços para me amparar emocionalmente,
sempre me motivando a seguir em frente. Também à sua irmã Isabella pelo auxílio na revisão
ortográfica do texto e à minha prima Marina por todo o suporte e carinho.
Às minhas amigas Shayene Fernandes, Elisa Kuhn, Lara Elias e Lia Cristina que
estiveram sempre de prontidão para me auxiliar e amparar em todos os momentos. Assim como
os demais colegas de sala que, de alguma forma, me ajudaram para a realização deste trabalho.
Ao Marcio, Jailson e estagiários do Departamento de Registro e Arquivo de Projetos
(DRAP) de Florianópolis, pela realização de cópias de projetos que foram muito importantes
para o desenvolvimento do presente trabalho.
À Adriana Nunes, coordenadora do Parque Estadual do Rio Vermelho (PERV), por me
receber com tanta atenção e simpatia em visita de campo. Mesmo com condições climáticas
não favoráveis fez questão de mostrar todos os locais da sede administrativa do parque.
À Ana Caldas, presidente do Conselho Comunitário Pontal do Jurerê (CCPontal), por
aceitar o convite da entrevista, se mostrar sempre disponível, além de auxiliar na divulgação do
questionário. À estagiária Carla, por me receber e ceder acesso aos projetos presentes na
biblioteca do CCPontal. A todos que responderam e ajudaram na divulgação do questionário.
Às professoras Danielle Rocha Benício, Gabriela Morais Pereira e Lilian Louise Fabre
Santos que colaboraram de forma direta no trabalho, além de todos os demais docentes, por se
dedicarem a garantir sempre o melhor aprendizado dos conteúdos passados. Assim como a
todos os servidores e colaboradores da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Agradeço incondicionalmente à minha orientadora, Profa. Ma. Ivana Righetto, pela sua
dedicação, compreensão e por ter confiado na minha capacidade de chegar até aqui. Ao meu
Coorientador Prof. Me. Caetano de Freitas, que sempre esteve disposto a ceder o seu tempo e
atenção para me auxiliar.
Por fim, deixo aqui meu muito obrigada a todos que contribuíram de forma direta ou
indireta para a realização deste Trabalho de Conclusão de Curso I.
RESUMO

O bairro Daniela possui potencial turístico, ambiental e urbanístico, com 34 Áreas Verdes de
Lazer e a presença de animais silvestres. Em vista disso, percebe-se que esses potenciais não
são devidamente aproveitados, possuindo falhas na educação ambiental, proteção para animais,
drenagem, manutenção, limpeza, acessibilidade e mobilidade urbana. Posto isso, pesquisa-se
sobre os conceitos de Ecologia da Paisagem, Trama Verde e Azul, Sistema de Espaços Livres,
Ecoturismo e Arquitetura Sustentável, tal como referenciais projetuais, a fim de desenvolver o
partido e das diretrizes para o projeto de uma Rede de Espaços Públicos, chamada de Rede
Verde de Lazer, para que ela colabore na valorização da Áreas Verdes de Lazer, protegendo a
fauna e flora, bem como na diminuição dos principais problemas existentes. Para isso, realizam-
se mapeamentos com a metodologia do Sistema de Espaços Livres, da Trama Verde e Azul,
mapas do sistema viário, uso do solo e estudo bioclimático com a finalidade de ter uma melhor
análise da região. Efetivando visitas em campo, levantamentos fotográficos, entrevista e
questionário on-line com o intuito de desenvolver um projeto que condiz com as demandas dos
usuários. Diante disso verifica-se que existe a necessidade de uma requalificação em todo o
bairro, assim como a disponibilidade de mais espaços de lazer e recreação.

Palavras-chave: Urbanismo. Rede de espaços públicos. Educação ambiental. Requalificação.


Florianópolis – SC.
ABSTRACT

The Daniela neighborhood has tourist, environmental and urban potential, with 34 Leisure
Green Areas and the presence of wild animals. Therefore, it is clear that these potentials are not
properly exploited, with deficiency in environmental education, protection for animals,
drainage, maintenance, cleaning, accessibility and urban mobility. Having said this, a research
is done on the concepts of Landscape Ecology, Green and Blue Grid, Public Open Space,
Ecotourism and Sustainable Architecture, besides reference projects, in order to develop the
starting points and the guidelines for the design of a Network of Public Spaces, called the
Leisure Green Network, so that it collaborates for the valorization of the Leisure Green Areas,
protecting the fauna and flora, even as in the reduction of the main existing problems.
Thereunto, mappings are carried out with the methodology of the Public Open Space, Green
and Blue Plots, maps of the road system, land use and bioclimatic study in order to have a better
analysis of the region. Carrying out field visits, photographic surveys, interviews and
questionnaires in order to develop a project that matches with user’s demands. Thereby, it
appears that there is a need for requalification in the neighborhood, as well as the availability
of more spaces for leisure and recreation.

Keywords: Urbanism. Public Spaces Network. Environmental Education. Requalification.


Florianópolis – SC.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA ................................................... 8
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 11
1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................ 13
1.3.1 Objetivo geral ......................................................................................................... 13
1.3.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 13
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 15
2.1 ECOLOGIA DA PAISAGEM ................................................................................. 15
2.1.1 Manchas .................................................................................................................. 16
2.1.2 Corredores verdes .................................................................................................. 17
2.1.3 Matriz ...................................................................................................................... 18
2.2 TRAMA VERDE E AZUL ...................................................................................... 18
2.3 SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES ......................................................................... 20
2.4 ECOTURISMO ........................................................................................................ 21
2.5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL ........................................................................ 22
3 ESTUDOS DE CASO E CORRELATOS............................................................ 24
3.1 PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO, FLORIANÓPOLIS ..................... 25
3.1.1 Ficha técnica ........................................................................................................... 25
3.1.2 Breve histórico ........................................................................................................ 25
3.1.3 Equipamentos e mobiliário ................................................................................... 25
3.1.4 Materialidade ......................................................................................................... 25
3.1.5 Sede administrativa do parque ............................................................................. 26
3.1.6 Análise CDP ............................................................................................................ 26
3.1.7 Trilhas ..................................................................................................................... 26
3.2 PARQUE BOTÂNICO DO RIO MEDELLÍN, MEDELLÍN .................................. 27
3.2.1 Ficha técnica ........................................................................................................... 27
3.2.2 Diretrizes projetuais .............................................................................................. 27
3.2.3 Materialidade ......................................................................................................... 27
3.2.4 Corredor biótico ..................................................................................................... 28
3.2.5 Mobilidade urbana................................................................................................. 28
3.3 CASA 88º, SÃO PAULO ......................................................................................... 29
3.3.1 Ficha técnica ........................................................................................................... 29
3.3.2 Principal objetivo ................................................................................................... 29
3.3.3 Diretrizes projetuais .............................................................................................. 29
3.3.4 Estudos bioclimáticos............................................................................................. 29
3.3.5 Materialidade ......................................................................................................... 30
3.3.6 Soluções projetuais................................................................................................. 30
3.4 SÍNTESE CRÍTICA DOS ESTUDOS DE CASO E CORRELATOS ..................... 31
4 LEVANTAMENTOS E DIAGNÓSTICO ........................................................... 32
4.1 A CIDADE DE FLORIANÓPOLIS, SC .................................................................. 32
4.2 A PRAIA DA DANIELA ......................................................................................... 33
4.3 ANÁLISE DO LOCAL ............................................................................................ 37
4.3.1 Sistema viário ......................................................................................................... 37
4.3.2 Sistema de espaços livres ....................................................................................... 39
4.3.3 Ecologia da paisagem e Trama verde e azul (TVA) ............................................ 40
4.3.4 Usos do solo ............................................................................................................. 41
4.3.5 Estudo bioclimático ................................................................................................ 43
4.3.6 Levantamento fotográfico ..................................................................................... 44
4.3.7 Fauna ....................................................................................................................... 45
4.3.8 Análise dos usuários e suas demandas ................................................................. 46
4.4 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO VIGENTE .............................................................. 48
4.4.1 Plano Diretor .......................................................................................................... 48
4.4.2 Meio ambiente ........................................................................................................ 49
4.5 SÍNTESE DE ANÁLISES DO BAIRRO ................................................................. 50
5 CONCEITO, PARTIDO E DIRETRIZES .......................................................... 51
5.1 CONCEITO DE REDE VERDE DE LAZER .......................................................... 51
5.2 DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS PROJETUAIS ................................................... 52
5.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES ...................................................................... 54
5.4 SETORIZAÇÃO ...................................................................................................... 54
5.5 PLANO DE MASSAS ............................................................................................. 55
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56
APÊNDICES ........................................................................................................................... 61
7

1 INTRODUÇÃO

Este estudo constitui o Trabalho de Conclusão de Curso I (TCC I) do curso de


Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Nele são
apresentados estudos e conceitos a fim de realizar a fundamentação do conceito, partido e das
diretrizes para o projeto de uma requalificação, formando uma rede de espaços públicos
nomeada de Rede Verde de Lazer, no bairro popularmente conhecido como Daniela, em região
norte da cidade de Florianópolis, Santa Catarina.
Com potencialidade turística, o bairro fica em região entre o Manguezal de Ratones e a
Praia da Daniela, além da proximidade com a Fortaleza de São José da Ponta Grossa. Ademais
do turismo, contém potencial para a realização de projetos urbanos, decorrente da existência de
Áreas Verdes de Lazer (AVL) (FLORIANÓPOLIS, 2021), juntamente com o potencial
ambiental, com a presença de animais silvestres como, por exemplo, os vulgarmente conhecidos
o jacaré-de-papo-amarelo e a coruja-buraqueira.
Apesar desses potenciais, por meio de levantamentos, é possível identificar problemas
como: a falha na acessibilidade; falha na educação ambiental, cuidado e proteção com relação
aos animais e as áreas verdes, além da alta incidência de inundações.
Existem, também, problemas na mobilidade urbana, resultante da falha na sinalização e
das interrupções dos bolsões de estacionamento rente à orla, que causam problemas na
circulação e distribuição de veículos ao longo da praia, principalmente no verão com o alto
número de turistas.
Como forma de amenizar tais problemas e tendo como objetivo a melhora na relação
entre pessoas e meio ambiente, apresenta-se, por meio deste trabalho o desenvolvimento de um
estudo para o projeto de requalificação. Para isso, os espaços foram estudados de forma
integrada, pensando na proteção da fauna e flora e em criar espaços de lazer e recreação,
portanto, essa requalificação é nomeada de Rede Verde de Lazer. Rede essa elaborada com base
nos conceitos e princípios da Ecologia da Paisagem, Trama Verde e Azul, Sistema de Espaços
Livres, Ecoturismo e Arquitetura Sustentável. Assim, com o auxílio de referenciais projetuais,
os quais são o Parque Estadual do Rio Vermelho, Parque do Rio Medellín e a Casa 88º, foram
desenvolvidos o conceito, partido e as diretrizes.
A seguir, detalha-se os problemas existentes, as justificativas e os objetivos da
realização desse trabalho.
8

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA

O bairro, cujo nome oficial é Pontal de Jurerê, será identificado em todo o trabalho a
partir desse momento como Daniela, por ser a forma como é chamado pela população. Esse
bairro dispõe de 34 áreas classificadas pelo plano diretor da cidade de Florianópolis como Área
Verde de Lazer (AVL) e duas como Área Comunitária Institucional (ACI) (FLORIANÓPOLIS,
2014), identificadas na planta de implantação (Figura 1).

Figura 1 – Planta de implantação do bairro.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).

Observa-se nesses espaços a presença de espécies de animais silvestres, além de: horta
comunitária, academia ao ar livre, capela, dois parques infantis, sede do Conselho Comunitário
Pontal do Jurerê (CCPontal), antena de telecomunicação, refúgio do jacaré, quadra
poliesportiva e cursos canalizados d’água.
A Daniela conta com uma região muito importante para a flora, chamada de Pontal, na
parte mais estreita da morfologia, no encontro entre a Praia da Daniela e o Manguezal do Rio
Ratones, nomeada na Figura 1. O Pontal possui 150 espécies de plantas identificadas por Souza
et al. (1991) nos três tipos de vegetações existentes: a restinga, o manguezal e o banhado salino.
Ao analisar os mapas das zonas vegetais homogêneas e hidrografia disponibilizados pela
Prefeitura de Florianópolis (2020) e o mapa disponibilizado pelo CCPontal (2017), percebem-
9

se algumas fragmentações tanto da vegetação quanto da continuidade de cursos d’água. Em


consonância com Oseki e Pellegrino (2004), a falta de conexão entre os elementos naturais pode
acarretar em problemas no deslocamento de espécies e, por conseguinte, na conservação da
biodiversidade.
Apesar de Florianópolis ser uma cidade com natureza muito presente, na região do
loteamento estudado, existe a necessidade de uma melhor consciência ambiental, percebida
pelo descuido dos usuários, com a colocação de resíduos sólidos e do poder público, com a falta
de manutenção e a colocação de entulhos de obras públicas (Figuras 2-3).

Figura 2 - Resíduos sólidos em Áreas Figura 3 - Entulho em Áreas


Verdes de Lazer. Verdes de Lazer.

Fonte: Acervo da autora (2020). Fonte: Acervo da autora (2020).

O biólogo Emerilson Emerim (ND mais, 2020), aborda sobre a importância de ações de
educação ambiental eficientes, para um maior cuidado e proteção dos animais silvestres
protegidos por lei, principalmente dos jacarés, tanto para a proteção deles quanto para a
segurança da população e dos animais domésticos. Moradores também relatam os mesmos
incômodos e demonstram o interesse em ações de conscientização, colocação de placas
indicativas e cercas (G1, 2020).
O mapeamento realizado em estudo de vulnerabilidade e riscos naturais da Iniciativa
Cidades Emergentes e Sustentáveis do Banco Interamericano de Desenvolvimento (ICES-BID)
em parceria com a prefeitura de Florianópolis (2015), identificou as principais áreas de
inundação marinha da cidade. A Figura 4 representa um Período de Retorno (PR) de 10 anos
com o clima atual e a Figura 5, um PR de 200 anos e uma elevação da cota média do nível do
mar (SLR) de 1 m.
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Figura 4 - Profundidade para os cenários de Figura 5 - Profundidade para os cenários de


PR de 10 anos. PR de 200 anos e 1 m de SLR.

Fonte: Prefeitura de Florianópolis (2015). Fonte: Prefeitura de Florianópolis (2015).

Há também a identificação de todo o bairro, conforme a Figura 6, em estudo como área


inundável pelo Sistema de Geoprocessamento on-line da Prefeitura de Florianópolis (2020).

Figura 6 - Mapeamento de áreas inundáveis.

Fonte: Prefeitura de Florianópolis (c2020).

A região possui um potencial turístico muito grande e recebe uma quantidade


considerável de turistas principalmente no verão. Porém, por ter sido planejada na década de
1970, possui “infraestrutura turística deficiente e uma baixa oferta de serviços” (SEVERINO;
SCHWEGLER; SILVA, 2006). O alto número de pessoas causa desordem no trânsito,
principalmente pelo mal direcionamento das entradas dos estacionamentos, fazendo com que
os veículos se acumulem apenas nos primeiros bolsões sem a existência de placas que sinalizem
os demais. Também por conta da existência de um único acesso ao bairro.
Observa-se no levantamento fotográfico (Apêndice A), realizado em visitas em campo,
a utilização das AVL por algumas residências como uma espécie de extensão do jardim privado.
Também foram percebidas falhas na acessibilidade com a falta de passeio público na maior
11

parte das áreas, assim como a presença de elementos de concreto e vegetação que causam uma
barreia física e visual ao pedestre que está passando em frente a elas, podendo influenciar na
pouca utilização das mesmas (Figuras 7).

Figura 7 – Arbustos e elementos de concreto


formando barreiras e a ausência de passeio.

Fonte: Acervo da autora (2020).

Parte do bairro se enquadra na Estação Ecológica de Carijós (ICMBio) e, por se tratar


de uma Unidade de Conservação, não são permitidas construções em sua poligonal. Existe um
conflito decorrente de uma ação civil pública que foi realizada 16 anos depois do loteamento
ser consolidado e que a análise foi finalizada no ano de 2020, exigindo a demolição de algumas
edificações e causando bastante preocupação na comunidade (ND mais, 2020).
Diante desses problemas, propõe-se a Rede Verde de Lazer como forma de promover
uma melhor integração entre as AVL e a comunidade, contribuindo para proteção e valorização
do meio ambiente e proporcionando espaços de lazer para a população. Qual o conceito, partido
e as diretrizes necessárias para o projeto dessa requalificação?

1.2 JUSTIFICATIVA

A Praia da Daniela é conhecida por possuir águas calmas, propícias e seguras para
banho, por essas características possui como usuários frequentes famílias (SEVERINO;
SCHWEGLER; SILVA, 2006). Em dias quentes, principalmente no verão, a população
flutuante (turistas) é alta. Segundo projeções do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
de Florianópolis (IPUF) em 2020, os turistas representam 39 % do total da população e 64 %
em relação a população residente (FLORIANÓPOLIS, 2007).
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Esse alto número de turistas que visitam a praia no verão pode ser considerado tanto um
problema quando uma potencialidade. A proposta de uma rede de espaços públicos
requalificados pode ajudar inclusive para que esses turistas não venham somente no verão,
distribuindo melhor o número de pessoas ao longo do ano e diminuindo problemas como a falta
de água, a menor produção concentrada de resíduos sólidos (Quadro 1) e queda de energia.

Quadro 1 - Produção de resíduos, em toneladas, no mês de janeiro (maior volume) e média


dos meses de maio a setembro (menor volume); diferenças porcentuais desses extremos e
projeção das diferenças para 2031 e 2050.
Média Maio/set. Média Jan. Difer. % 2006 Difer. % 2031 Difer. % 2050
Total 8.924 13.129 52,2 75,0 75,0
Fonte: Adaptado de Prefeitura de Florianópolis, apud. COSAN (2007).

Infelizmente, muitas pessoas ainda não reconhecem completamente a riqueza natural


dessa região e a necessidade de uma maior proteção da mesma. A ideia de uma Rede Verde de
Lazer tem como objetivo colaborar para a proteção e valorização essa natureza, além de
proporcionar uma melhor informação sobre ela, por meio de placas informativas. Como
evidencia Diehl, a respeito do bairro Daniela:
Seria ainda aconselhável a adoção de um programa de orientação e educação
ambiental para a população local e turistas utilizando-se de trilhas orientadas, pois
esta área, dinâmica por sua origem e evolução, constitui-se numa paisagem única na
Ilha de Santa Catarina bem como do próprio Estado de Santa Catarina (DIEHL, 1997,
p. 111).

A Rede Verde de Lazer pode auxiliar, também, na diminuição dos problemas referentes
a drenagem da área, com a utilização de jardins de chuva e pisos drenantes no projeto. Conforme
Cormier e Pellegrino (2008), os jardins de chuva aumentam a evapotranspiração, removem os
poluentes e, se dimensionados de forma correta, podem em poucas horas absorver toda a água
presente na superfície.
Lima e Amorim (2006) ressaltam que “As áreas verdes são importantes para a qualidade
ambiental das cidades, já que assumem um papel de equilíbrio entre o espaço modificado para
o assentamento urbano e o meio ambiente” (LIMA; AMORIM, 2006, p. 69).
13

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

Elaborar, mediante o desenvolvimento de estudos, o partido e as diretrizes projetuais


para a proposta da Rede Verde de Lazer: requalificação no bairro Daniela, em Florianópolis,
Santa Catarina.

1.3.2 Objetivos específicos

Decorrente do objetivo geral descrito acima, são listados os seguintes objetivos


específicos:
a) Adquirir conhecimentos a respeito dos conceitos que envolvem a paisagem, o
urbano e sustentabilidade e o turismo;
b) Realizar o estudo de caso com a finalidade de estudar a respeito de um programa de
necessidades voltado para educação ambiental e lazer; e os estudos de correlatos
com objetivo de criar um referencial projetual completo, além de obter repertório de
materialidade e sustentabilidade;
c) Pesquisar a respeito da região de estudo, para compreender suas características
gerais, com um breve histórico de projetos realizados e legislações vigentes;
d) Elaborar uma análise geral do bairro Daniela, a partir de mapeamentos urbanos,
estudo bioclimático, visitas em campo e levantamento fotográfico;
e) Identificar o perfil e as carências dos moradores e usuários dos espaços públicos a
partir de entrevista e questionário on-line;
f) Analisar as informações levantadas e ponderar as principais condicionantes,
deficiências e potencialidades;
g) Desenvolver o conceito, as diretrizes, o programa de necessidades, o mapa de
setorização e o plano de massas, para dar início a proposta da Rede Verde de Lazer.
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1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a consecução dos objetivos descritos acima, descrevem-se os procedimentos


metodológicos utilizados:
a) Revisão da bibliografia acerca dos conceitos da Ecologia da Paisagem, Trama Verde
e Azul, Sistema de Espaços Livres, Ecoturismo e Arquitetura Sustentável;
b) Realização de visita de campo ao Parque Estadual do Rio Vermelho, com
acompanhamento da coordenadora do parque e entrevista curta em pautas com a
mesma, registros fotográficos, anotações sobre o programa de necessidade e análise
crítica dos condicionantes, deficiências e potencialidades;
c) Seleção, pesquisa e análise crítica dos referenciais projetuais do Parque do Rio
Medellín e da Casa 88º;
d) Levantamento e diagnóstico das informações sobre o bairro, características gerais,
histórico de projetos e legislações vigentes;
e) Realização de cópia e análise dos projetos de loteamento do bairro e do antigo clube
de nome Sede Balneário Daniela;
f) Elaboração e aplicação de questionário on-line, com objetivo de estudar o perfil dos
usuários dos espaços públicos, suas percepções e demandas quando a eles;
g) Realização de entrevista semiestruturada com a presidente do Conselho Comunitário
Pontal do Jurerê, para coletar informações sobre os problemas, potencialidades e
carências;
h) Realização de estudo bioclimático, mapas do sistema viário, Sistema de Espaços
Livres e uso do solo, mapa baseado no conceito de Trama Verde e Azul adequado
para a escala regional e visitas em campo com levantamento fotográfico, afim de
diagnosticar e identificar as condicionantes do local de estudo;
i) Análise das informações levantadas e, a partir dessas, desenvolvimento do conceito,
diretrizes, estratégias projetuais, programa de necessidades, mapa de setorização do
projeto e de plano de massas, com a intenção de nortear o TCC II na proposta da
Rede Verde de Lazer.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este Capítulo aborda a fundamentação teórica do tema proposto, iniciando com os


conceitos e definições da paisagem. O mesmo discorre a respeito da Ecologia da Paisagem, por
conseguinte nos seus elementos paisagísticos: as manchas, corredores verdes e matriz.
Posteriormente, neste é dissertado sobre a Trama Verde e Azul, que apesar de se tratar de um
conceito aplicado em grande escala, é estudado afim de partir dele para uma adequação a escala
da região de estudo. Adiante, nesse mesmo item, são comparadas as definições de paisagem e
de espaço, adentrando, no Sistema de Espaços Livres. Isto posto, apresenta-se os impactos e
benefícios do turismo, e no conceito de Ecoturismo. Por último, é dissertado quanto ao conceito
da Arquitetura Sustentável como forma de intervir no espaço, na paisagem e com o objetivo de
gerar o menor impacto possível no meio ambiente.

2.1 ECOLOGIA DA PAISAGEM

Conforme Béguin (1995) e Magnoli (2006) existem diversas interpretações para o


significado de paisagem, que variam conforme a formação disciplinar. Béguin (1995) discorre
que entre elas estão: as que definem com características físicas, técnicas e objetivas, como no
caso da geografia e dos conceitos posteriormente explicados a respeito da ecologia da paisagem;
as que identificam como manifestação de relações sensíveis e mais subjetivas, como em áreas
relacionadas à arte; e as que têm uma visão da relação entre essas duas vertentes citadas.
Magnoli (2006) denota que as paisagens são influenciadas pelo homem e podem ser
divididas de acordo com o nível de intervenção. Além disso, Santos (2006), expressa que a
paisagem é delimitada por uma parcela possível de se visualizar em um território, em que as
formas presentes carregam diferentes momentos do passado que coexistem no presente.
O conceito de ecologia da paisagem surge na Europa, em meados do século XX, e de
acordo com Nucci (2007) é o estudo das relações entre o ser humano, sociedade e o meio físico,
de forma mais integrada. Consoante com Oseki e Pellegrino (2004), esse conceito envolve
várias áreas do conhecimento, entre elas a ecologia, biologia e geografia, além de possuir
grande importância para os arquitetos, urbanistas e paisagistas.
De acordo com os mesmos autores a ecologia da paisagem se apoia resumidamente nos
seguintes princípios: na aplicabilidade tanto em áreas rurais como urbanas; nas três
características da paisagem: estrutura, função e mudança; e no estudo do conjunto de elementos
paisagísticos que fazem parte da estrutura.
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Ao colocar em prática os princípios da ecologia da paisagem é possível atingir uma


maior sustentabilidade no projeto, no sentido de que ele prospere ou se sustente por mais tempo.
É preciso para isso, buscar a estabilidade dos ecossistemas e a conservação dos fatores naturais
e culturais presentes na paisagem em questão.
Como dito anteriormente, dentro desses princípios, a paisagem é dividida em três
características:
a) Estrutura: se caracteriza por um conjunto de elementos paisagísticos, são esses:
manchas, corredores e matriz;
b) Função: é a finalidade do ecossistema, que se define pela movimentação de toda e
qualquer matéria da estrutura;
c) Mudança: são as alterações da estrutura e da função.
Conforme Forman e Godron (1981), a paisagem é dividida entre as características da
estrutura e função que são compostas primariamente por uma matriz, e que se diferem por sua
origem, dinâmica, tamanho, forma e configuração espacial. As estruturas que mais se integram
com a paisagem, segundo os autores, são: a sociedade, os corredores e as conexões entre eles.
Os autores afirmam também que as dinâmicas da paisagem são fluxos de energia, nutrientes
minerais e de espécies dentro de um ecossistema, provocando mudanças nesse.
Oseki e Pellegrino (2004) realçam que os componentes indispensáveis dentro da
estrutura são:
a) Manutenção de manchas de vegetação nativa e do contato entre elas;
b) Corredores largos de vegetação ao longo dos cursos d’água.
Com essa contextualização, nos itens a seguir, explica-se em maior detalhe sobre os
elementos paisagísticos presentes nas estruturas da paisagem.

2.1.1 Manchas

Segundo Forman (1979), as manchas são aqueles fragmentos de vegetação


remanescentes da matriz que se diferem por suas dinâmicas e estabilidades, caracterizadas em
cinco tipos: com pontos de distúrbio, remanescentes, com recursos ambientais, introduzidos e
efêmeros.
Forman e Godron (1981) explicam que as manchas com pontos de distúrbios são
pequenas matrizes que sofreram alguma mudança ambiental severa, por exemplo, um incêndio.
As remanescentes, por sua vez, são quando esses distúrbios ocorrem ao redor de uma área.
Exemplos de manchas introduzidas pelos seres humanos são as plantações de eucalipto ou da
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agricultura, que podem ocasionar danos às espécies ao seu redor. As manchas efêmeras são
quando ocorrem mudanças ambientais temporárias de pouca intensidade. Enquanto as manchas
de recursos ambientais são as únicas que não dependem de perturbações, são apenas as áreas
em que possuem características ambientais diferentes das de seu entorno.
Oseki e Pellegrino (2004) relatam que as manchas podem ser avaliadas de acordo com
o tamanho, forma, quantidade e se possuem ou não interrupções.

2.1.2 Corredores verdes

Forman e Godron (1981), classificam em quatro os tipos de corredores verdes:


a) Lineares e finos, como ao longo de uma rua ou de um terreno, normalmente com
espécies de vegetação mais resistentes;
b) Faixas, que devem possuir largura suficiente para que as espécies de animais e
plantas estejam protegidas dentro dele;
c) Os que se encontram rentes a cursos d’água, que ajudam a controlar o assoreamento
e as inundações;
d) E, por último, as conexões entre os tipos de corredores listados anteriormente e com
outras manchas, que formam a rede de corredores verdes.
Oseki e Pellegrino (2004) apresentam a importância dos corredores verdes junto às áreas
urbanas:

Os corredores verdes (water and greenery networks) junto às áreas urbanas têm várias
utilidades: protegem a biodiversidade; constituem rotas de dispersão de espécies,
minorando impactos advindos de mudanças climáticas; permitem o controle adequado
dos recursos hídricos; melhoram as condições de conservação do solo, controlando a
erosão e prevenindo a desertificação, que ocorre tanto em zonas urbanas como rurais;
abrigam atividades recreacionais, como a caça, a pesca, as caminhadas, os esportes
náuticos etc. e promovem maior coesão social entre as comunidades, reforçando sua
identidade espacial (OSEKI; PELLEGRINO, 2004, p. 510).

Ainda de acordo com os autores, como citado no item 2.1, a manutenção do contato
entre as manchas de vegetações nativas está entre os componentes que possuem prioridade
máxima para o plano ecológico. É por intermédio de corredores que façam a ligação entre essas
manchas que se consegue preservar e proteger a biodiversidade, pensando na melhor
movimentação entre as espécies.
A melhor forma de realizar tal manutenção é por meio da rede de corredores verdes, ou
seja, realizar a conexão entre os elementos paisagísticos existentes e segregados em uma
paisagem.
18

2.1.3 Matriz

Forman e Godron (1981) e Oseki e Pellegrino (2004) definem a matriz como a unidade,
o elemento que possui maior influência no ecossistema em relação às outras estruturas da
paisagem. Normalmente é o mais dominante, integrado ou extenso (Figura 8).

Figura 8 - Esquema gráfico das estruturas da paisagem.

Fonte: Adaptado de Marenzi e Roderjan (2005).

No próximo item é estudado sobre um conceito bastante vinculado com a Ecologia da


Paisagem, que pode auxiliar no entendimento das infraestruturas da paisagem, a Trama Verde
e Azul.

2.2 TRAMA VERDE E AZUL

O conceito aparece pela primeira vez na Europa na década de 1990, somente como
Trama Verde, passando a ser chamada de Trama Verde e Azul (TVA) e ganhando maior
importância a partir de 2007 com um conjunto de encontros chamados de Grenelle de
l’Environnement1 realizados na França (OLIVEIRA; COSTA, 2018). Por conta de se tratar de
um conceito recente, conforme Beretta (2018) ainda é pouco conhecida a nível nacional.
Com base nos conceitos da Ecologia da Paisagem, a TVA é definida como uma “rede
interconectada de espaços verdes que mantém valores e funções de ecossistemas naturais e
provê benefícios associados às populações humanas” (BENEDICT et al., 2002, p. 12).
De acordo com Dreyer (2018), a TVA é o estudo das diferentes infraestruturas ou tramas

1
A palavra grenelle é uma analogia às negociações feitas entre atores em 1968, chamada de Accords de Grenelle,
em Paris. Sendo l’Environnement do francês meio ambiente (tradução nossa), Grenelle de l’Environnment traz o
significado de um encontro público e amplo sobre o meio ambiente.
19

existentes, primeiramente estudadas de forma separada as cinzas, verdes e azuis e


posteriormente interligando-as e analisando como um todo. Ainda de acordo com a autora, as
chamadas de infraestrutura ou trama cinza são aquelas que possuem relação com a ocupação
urbana das cidades, como o sistema de drenagem, a pavimentação de vias e objetos construídos
por seres humanos.
Consoante com Oliveira e Costa (2018), a infraestrutura ou trama verde é aquela em que
há uma relação direta com a fauna e flora, chamados de “espaços de natureza”, muito similares
manchas da ecologia da paisagem, apresentadas no item 2.1.1 deste trabalho.
Por fim, conforme Dreyer (2018), a infraestrutura azul é aquela em que existe a presença
da água, a rede hidrográfica principal, como lagos, rios e quaisquer outros cursos d’água.
Com o desenvolvimento de mapeamentos urbanos e outros levantamentos necessários
das diferentes infraestruturas ou tramas e com o cruzamento das mesmas é possível realizar
uma análise das relações entre os seres humanos, demais animais e plantas e os cursos d’água
(Figura 9).

Figura 9 - Esquema da trama verde e azul.

Fonte: Nór (2017).

Visto os conceitos de Ecologia da Paisagem e da Trama Verde e Azul, estuda-se sobre


os espaços livres e suas características.
20

2.3 SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

Para Santos (2006), paisagem e espaço não significam a mesma coisa. Paisagem é um
conjunto de elementos concretos decorrentes de diversos tempos, enquanto o espaço é o
resultado presente da ação da sociedade nesses elementos.
Segundo Macedo (1995) e Magnoli (2006), o espaço livre é todo aquele em que não há
objetos construídos, sejam eles públicos, privados, de lazer, de passagem, com ou sem
vegetação. Macedo (1995) e Abbud (2018) expressam que apesar de não ser construído, o
espaço livre possui uma composição de elementos morfológicos similares aos dos edifícios,
composto por planos verticais e horizontais que remetem ao piso, teto e paredes.
Esses espaços livres, no contexto urbano, formam um sistema que, conforme Queiroga
e Benfatti (2007), apresentam relações de conectividade, complementaridade e hierarquia. A
função desse sistema envolve a circulação de pessoas, drenagem, atividades cotidianas,
interação social, pontos de referência, memória, cuidados ambientais, entre outras.

Os objetivos para a definição de um sistema de espaços livres devem responder ao


desafio colocado pela crise ambiental atual, isto é, ajudar a cidade a construir uma
relação sustentável com as águas, com o ar, com o clima, com o relevo, com a
vegetação nativa e com os demais aspectos do ecossistema (OSEKI; PELLEGRINO,
2004, p. 501).

De acordo com Galender (2005), existem duas visões a respeito dos espaços livres que
se complementam. Uma é mais voltada para a integração social, o uso desses espaços para
atividades humanas, e a outra foca mais na biodiversidade, drenagem e na associação dos
ecossistemas.
Conforme Macedo (1995) e Magnoli (2006), as transformações morfológicas urbanas
das cidades brasileiras aparecem não só com o espaço público, mas também no privado,
decorrente da forma de ocupação dos lotes. Magnoli (2006) reforça que a maior parte dos
espaços livres nas cidades estão dentro de propriedades privadas.
Magnoli (2006), avalia os espaços livres no tecido urbano levando em consideração a
acessibilidade, a contiguidade e o gabarito das edificações. Por seu lado, Macedo (1995) divide
em três os fatores que ajudam a qualificar esses espaços livres, são eles: a adequação funcional,
ambiental e estética. Segundo ele, a carência de espaços livres públicos de lazer, decorrente da
falta de planejamento e valorização desses no Brasil, faz com que eles sejam trazidos para
dentro dos espaços privados, como nos condomínios. Porém, essa solução não está presente na
vida de todos, devido à desigualdade social no país. Para aqueles que não possuem espaços
21

livres privados restam os poucos espaços públicos presentes, que estão, em sua maioria, longe
das residências.
Visto a importância dos espaços livres na vida urbana e social, estuda-se a seguir a
utilização desses espaços pela sociedade, os conceitos de turismo, suas vantagens e
desvantagens, e a definição de ecoturismo.

2.4 ECOTURISMO

Batista (2003), Fontoura, Gastal e Becker (1999) e Ignarra (1999) afirmam que o
turismo é um fenômeno social complexo, dinâmico e que está ligado a vários setores da
economia. Fontoura, Gastal e Becker (1999) reconhecem o turismo como sendo uma das
atividades econômicas mais importantes do mundo.
Informa-se que “o turismo é uma combinação de atividades, serviços e indústrias que se
relacionam com a realização de uma viagem” (IGNARRA, 1999, p. 16). Segundo o autor, a
pessoa que viaja com constância, por motivos profissionais, para o mesmo local não é
considerada um turista, ou seja, apenas quando essa atividade não é habitual.
Severino, Schwegler e Silva (2006) concluem que para fazer turismo, é preciso dois
meios sociais: o turista em sua residência habitual e o deslocamento de local.
Ignarra (1999), por sua vez, define quatro componentes para o fenômeno do turismo: o
turista, os prestadores de serviços, o governo e a comunidade residente do local. Quanto à sua
classificação, o turismo pode ser estudado de acordo com sua amplitude local, regional,
doméstica e internacional. Quanto ao fluxo, este pode ser emissivo, referente aos que saem de
suas residências; e receptivo, referente aos que entram em um local não costumeiro.
Apesar dessa grande importância, “O impacto do turismo precisa ser estudado para que
não ocorra problema na comunidade envolvida” (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA, 2006,
p. 52). Fontoura, Gastal e Becker (1999) citam alguns impactos negativos, como a perda de
identidade cultural do local, o crescimento de problemas sociais e a poluição do meio ambiente.
Porém, os autores informam que quando bem planejado e pensado na preservação do
patrimônio, do meio ambiente e da identidade cultural, o turismo pode resultar em vários
benefícios econômicos e uma melhor qualidade de vida aos residentes.
De acordo com Campos (2006), o ecoturismo surge na década de 1960 e traz melhor
estudo ao planejamento turístico responsável, principalmente com o objetivo de diminuir os
impactos ambientais causados por tal fenômeno. Além disso, serve, em conformidade com
Wearing e Neil (2001), para a conservação e desenvolvimento sustentável.
22

Conforme o Ministério do Turismo (BRASIL, 2008), o país possui uma grande


biodiversidade, o que facilita as atividades turísticas, principalmente o ecoturismo. Este
contribui para a economia, para a conservação dos ecossistemas e, segundo Layrargues (2004),
para o fortalecimento da cultura dos locais de destino. Ainda de acordo com Brasil (2008) para
efetivar o ecoturismo são necessários referenciais teóricos, práticos e suporte legal, baseados
nos princípios da sustentabilidade, conservação e educação ambiental.
Assim, conclui-se que é possível intervir ecologicamente na paisagem através dos
espaços livres públicos, de forma a incentivar o turismo responsável, a consciência ecológica,
a economia e o desenvolvimento social. Como forma de impactar o mínimo possível o meio
ambiente, apresenta-se, no próximo item, a arquitetura sustentável.

2.5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL

Sustentabilidade, do ponto de vista de Boff (2017), é quando algo é pensado para manter
seu equilíbrio interno, continuando assim vivo e se conservando.
De acordo com Oliveira, Leoneti e Cezarino (2019), a palavra sustentabilidade ganha
importância na década de 1960. Porém, conforme Boff (2017), o termo surgiu nos anos de 1560
na Alemanha, diante da preocupação com o futuro das florestas, pensando no seu uso racional,
para que elas pudessem se regenerar.
Devido a importância do tema, as Nações Unidas (ONU) do Brasil lançam os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (BRASIL, c2021), onde definem metas para o ano de
2030, são elas: erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar;
educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e
acessível; trabalho decente e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura;
redução das desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção
responsáveis; ação contra a mudança global do clima; vida na água; vida terrestre; paz, justiça
e instituições eficazes; parcerias e meios de implementação.
O objetivo 11, diz respeito a cidades e comunidades sustentáveis, com a intenção de
tornar os espaços mais inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Existem dois objetivos
específicos desse item que podem ser explorados nesse trabalho, o de número 11.3 que visa um
planejamento urbano participativo, integrado, inclusivo e sustentável e o de número 11.7 que é
voltado para a obtenção de espaços públicos seguros, com maior número de vegetação e acesso
universal principalmente para mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência.
Ramos (2019) afirma que a arquitetura interfere na sociedade e no meio ambiente, sendo
23

responsável por marcantes impactos ambientais, assim como, mudanças climáticas. Como
forma de compensar e diminuir esses impactos, tem-se a arquitetura sustentável, que pode
ajudar também na valorização social e viabilidade econômica dos objetos construídos. Além
de, segundo Gonçalves e Duarte (2006), poder melhorar fatores urbanos e de infraestrutura.
Além disso, Lima (2013) identifica outros aspectos a serem estudados para a realização
de um projeto sustentável: diretrizes projetuais, eficiência energética, reaproveitamento de água
e de materiais, certificação dos materiais renováveis, aproveitamento das condições
bioclimáticas e planejamento pensado no território.
A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – AsBEA apresenta algumas
dessas diretrizes projetuais e os principais assuntos a serem analisados para tal: aspectos
urbanos, paisagem e mobilidade; acessibilidade e desenho universal; segurança; materiais;
resíduos; água e efluentes; energia; conforto térmico, visual, acústico e olfativo; salubridade;
operação e manutenção (BRASIL, 2012).
24

3 ESTUDOS DE CASO E CORRELATOS

Neste capítulo será apresentado um estudo de caso e dois estudos de correlatos, que
possuem a finalidade de auxiliar com referências projetuais no desenvolvimento do projeto a
ser elaborado no TCC II.
O estudo de caso teve como foco principal o programa de necessidades, realizado no
Parque Estadual do Rio Vermelho, em Florianópolis. A escolha deve-se, principalmente, ao
fato de se tratar de um parque voltado para a educação ambiental. Para realização desse estudo
foi realizada uma visita de campo guiada pela coordenadora do parque, Adriana Nunes, onde
foram feitas: coletas de informações, entrevista curta em pautas (Apêndice B) e levantamento
fotográfico. As informações presentes nesse item do trabalho têm como fonte Nunes (2020),
site do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA, ca. 2020), reportagem da Record
TV (2018), boletim informativo (UFSC, 2009) e as postagens a respeito do histórico do parque
do Instagram da Associação Eco Paerve (2021).
O estudo de correlato do Parque do Rio Medellín foi escolhido para servir de referência
projetual, por se tratar de um parque com grande potencial urbano e paisagístico e com diretrizes
projetuais que possuem similaridade com as necessidades presentes no atual trabalho. A
principal fonte utilizada para esse estudo é o artigo do site archdaily (CABEZAS, 2014), por
possuir um maior número de informações e imagens.
Por fim, o estudo de correlato da Casa 88º, com interesse primordial em tê-lo como
referência na materialidade e conceitos sobre a sustentabilidade, podendo auxiliar nas soluções
projetuais, visando o menor impacto no meio ambiente. As informações presentes na prancha
foram retiradas do site oficial do projeto (CONEXÃO 88º, 2014) e do escritório (ATELIER
O’REILLY, 2015).
Com objetivo de ajudar o leitor, após o levantamento dos dados a respeito dos
referenciais, no final deste capítulo é feito uma síntese crítica dos estudos, com seus pontos
positivos e negativos.
3 ESTUDO DE CASO 3.1 PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

Referencial Programa de Necessidades

3.1.1 Ficha técnica Figura 10 - Mapa da localização do parque e


seu entorno.
Quadro 2 - Ficha técnica do Paque Estadual do N
Rio Vermelho (PERV).
Local Florianópolis - Santa
Catarina, Brasil
Data de criação 24 de maio de 2007
e decreto Decreto nº 308/2007
Área Total 1.532,35 hectares
Nível de proteção Unidade de Conservação
Proteção Integral
Administração Instituto do Meio Ambiente
(IMA)
Fonte: Elaborado pela autora (2021).

3.1.2 Breve histórico


Para sintetizar as mudanças administrativas e de nome
do parque que começou como estação florestal, é feito
uma linha do tempo.

1962
Nome: Estação Florestal
Administrada por: Associação Rural Regional de S/ ESCALA
Florianópolis
Fonte: Adaptado de UFSC (2009).
Objetivo principal: Estudar a plantação de Eucalip-
tos e Pinus. 3.1.3 Equipamentos e mobiliário
Observações: As plantações causaram a descaracte-
rização da restinga, mudanças na política, na econo- Conta com bancos, lixeiras, mesas, pergolados, balan-
mia e na urbanização da região. ço, trapiche, placas informativas sobre a flora.
1974
Nome: Parque Florestal Figura 11 - Placa. Figura 12 - Lixeira.
Administrada por: Secretaria da Agricultura
Objetivo Principal: Restauração da fauna e flora
1994
Administrada por: Companhia Integrada de Desen-
volvimento Agrícola de Santa Catarina
Observações: Construção do edifício sede da
Polícia Ambiental
2001
Administrada por: Fundação do Meio Ambiente do
Estado de Santa Catarina (FATMA) Fonte: Acervo da autora Fonte: Acervo da autora
2007 (2021). (2021).
Nome: Parque Estadual do Rio Vermelho
Observações: Unidade de Conservação 3.1.4 Materialidade
Principais atividades: Centro de educação e reabili- Em maioria os objetos construídos do parque são de
tação ambiental. madeira e concreto, com excessão do anexo feito de
2017 container no centro de educação ambiental. As edifica-
Administração: Instituto do Meio Ambiente (IMA) ções antigas feitas de alvenaria são reaproveitadas para
os setores da sede administrativa.

25
3.1 PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO
3 ESTUDO DE CASO
Referencial Programa de Necessidades

3.1.5 Sede administrativa do parque 3.1.6 Análise CDP 3.1.7 Trilhas


Por meio de visita de campo, acompanhada da coordenadora do parque, Por meio de visista de campo, levantamento fotográfico e entrevista curta em Ao longo da rodovia que cruza o Figura 17 - Trilha ecológica.
Adriana Nunes, faz-se um mapeamento de todos os espaços constuídos da pautas com a coordenadora do parque, contida no Apêndice D, analisa-se as parque existem acessos a campings e
sede administrativa do parque (Figura 15). principais condicionantes, deficiências e potencialidades (CDP) do parque. trilhas. Dentro da chamada sede
administrativa do parque há trilhas
Figura 13 - Espaços construídos da sede administrativa do parque. diferenciadas. Uma delas é a “trilha
N
Condicionantes ecológica” (Figura 17) que foi inau-
7 gurada em 2014, a qual além de
Por se tratar de uma unidade de conservação de proteção integral, não é proporcionar o lazer, auxilia na
9 12 12 permitida a construção de novas edificações no perímetro do parque. Confor-
educação ambiental da população,
8 10 11
me a lei federal nº 9.985 esse nível de preservação é destinado a manutenção
dos ecossistemas, “permitido apenas o uso indireto dos seus atributos natu-
através de viveiros com animais
rais” (BRASIL, 2000). resgatados. Fonte: Acervo Nunes (2021).
2
ACESSOS
7 Próximo ao acesso da trilha, existe uma recepção, onde pode-se pegar ingres-
6 Deficiências sos para ter acesso com o acompanhamento de um guia. Esse explica sobre os
5 A deficiência mais importante e destacada por Nunes (2021) é a necessidade animais, que foram resgatados por terem sido vítimas de alguma ação danosa
3 da construção de um centro de visitantes, que tem como programa de neces- pelo homem, como maus-tratos, atropelamentos, tráfico ilegal, linhas com
4
sidades básica: recepção, museu e loja. O centro de visitantes do parque será cerol, entre outros. Os que estão nos viveiros são os que, por conta do seu
2 realizado futuramente. estado de saúde, não podem voltar a natureza, gerando bastante reflexão para
Outros pontos bastante frisados pela mesma foram a necessidade de mais as pessoas.
1
S/ ESCALA vagas de estacionamento e os problemas na rede de esgoto, eletricidade e
Fonte: Adaptado de Google Earth (2021).
encanamento nas edificações, por terem sido instaladas na década de 1970 e O material utilizado para a trilha é o deck de madeira elevado, com estrutura
1990. de concreto, que possibilita a utilização por pessoas com dificuldade locomo-
LEGENDA:
Ao análisar o parque de acordo com os princípios da Ecologia da Paisagem e tora e diminui o impacto no meio ambiente (Figura 18).
1) Centro de Despetrolização de Animais Marinhos; Trama Verde e Azul, pode ser caracterizada como uma deficiência a fragmen-
2) Polícia Ambiental; tação da vegetação pela Rod. João Gualberto Soares que cruza toda a extensão
3) Mesas ao ar livre (Figura 14); do parque e pode prejudicar na movimentação de animais e, portanto, na Figura 18 - Estrutura do deck elevado.
4) Sanitário em fim de trilha (Figura 15); biodiversidade.
5) Centro de Educação Ambiental, com salas de aula, museu do mar e
biblioteca;
6) Sede administra�va, com cozinha, banheiro, sala de reuniões, escritório Figura 16 - Fragmentação da vegetação pela rodovia.
e ves�ário;
7) Trapiches;
8) Recepção da trilha ecológica, com lanchonete, loja e balcão de informa-
ções;
9) Trilha dos sen�dos (Figura 19);
10) Trilha ecológica de deck elevado, com viveiros de pássaros e animais
silvestres (Figuras 17 e 18);
11) Guarita;
Fonte: Acervo da autora (2021).
12) Estacionamentos públicos principais. Fonte: Acervo da autora (2021).

Figura 19 - Trilha dos sentidos. Outra trilha diferenciada é a “trilha


Figura 14 - Mesas ao ar livre. Figura 15 - Sanitário da trilha. Potencialidades
dos sentidos”, nela foram colocadas
3 4
Segundo Adriana, a principal potencialidade do parque é a participação da plantas que estimulam os sentidos e,
comunidade. Outro fator que funciona muito bem é a capitação de recursos segundo Nunes (2021), é proposto
através das ONGs como no Centro de Triagem de Animais Silvestres - para os visitantes o uso de uma
CETAS e a Associação R3 Animais, além dos recursos vindos de compensa- venda nos olhos, aumentando a
ções ambientais. capacidade de percepção. Existe a
Além disso, a beleza natural do local pode ser considerada uma potencialida- disponibilidade também de equipa-
de, assim como suas trilhas, acessibilidade, educação ambiental e um progra-
mentos para esportes aquáticos, na
ma de necessidades bastante completo.
“trilha aquática”.

Fonte: Acervo da autora (2021). Fonte: Acervo da autora (2021). Fonte: Acervo da autora (2021).
26
3.2 PARQUE DO RIO MEDELLÍN
3 ESTUDO DE CORRELATO
Referencial Projetual

3.2.1 Ficha técnica Para realização dessas diretrizes, o escritório desenhou


um circuito natural para a recuperação da qualidade do
Quadro 3 - Ficha técnica do Parque do Rio Medellín. ar e da água. Pretendendo em sua rota colaborar para
Local Medellín- Antioquia, educação ambiental e reconectar a biodiversidade, com
Colômbia foco na sustentabilidade e na conservação da natureza.
Escritório Latitude Oficina Arquitetura 3.2.3 Materialidade
Área do projeto 424 hectares
Uso de materiais porosos e permeáveis tanto como
Ano do projeto 2014 forma de integrar e amenizar a transição entre o constru-
Ano de inauguração 2016 ído e o externo quanto de absorver a água pluvial.
Exemplos: deck de madeira, pisodrenante, chapas
Fonte: Elaborado pela autora (2021).
micro-perfuradas nas pontes.
O projeto ganhou em primeiro lugar no Concurso Inter-
Figura 20 - Imagem 3D ponte.
nacional: Parque do Río Medellín, que tinha como obje-
tivo integrar a cidade com o rio.

3.2.2 Diretrizes projetuais


a) Desenvolver a consciência ambiental;
b) Preservar espécies nativas da região;
c) Conectar à rede biótica do vale e proteger do rápido
crescimento urbano;
d) Atrair contextos culturais;
e) Articular a rede de espaço público, corpos d’água,
vazios verdes e infraestrutura subutilizada, por meio de
um corredor biótico metropolitano;
f) Aumentar a permeabilidade do solo;
g) Dar maior hierarquia e continuidade a estrutura natu-
ral do rio. Fonte: Cabezas (2014).

Figura 21 - Planta baixa e Imagem 3D com visual aérea do parque.


N

S/ ESCALA

Fonte: Adaptado de Cabezas (2014).


27
3.2 PARQUE DO RIO MEDELLÍN
3 ESTUDO DE CORRELATO
Referencial Projetual

3.2.4 Corredor biótico Figura 23 - Planta de setorização das micropaisagens.


É aproveitada a hierarquia do rio para tê-lo como eixo

N
estrutural do projeto, atrelando nele aspectos naturais,
culturais e desportivos.
São realizadas requalificações nas áreas livres verdes
fragmentadas, conectando-as com o corredor biótico

A
(Figura 22). Assim como a reutilização de espaços subuti-
lizados, a recuperação do sistema biótico dos corpos
d’água e a distribuição dos usos do solo através de micro-
paisagens como apresentado na Figura 23.

A’
Figura 22 - Mapeamento de áreas verdes e
possíveis conexões.
Áreas verdes com maior
potencial ecológico
S/ ESCALA

Estruturas facilitadoras
de conec�vidade

Fonte: Adaptado de Cabezas (2014).

3.2.5 Mobilidade urbana


Fonte: Adaptado de Cabezas (2014).
A cidade de Medellín é dividida pelo vale em sua estrutu-
ra física e social e a construção de um eixo de mobilidade Figura 24 - Corte AA’.
junto ao rio auxiliou na ruptura dessa divisão.
Foram propostas duas novas estações de metrô como O PA O PA PA O O
forma de aumentar a conectividade transversal, além de +0,14

um aumento do número de vias transversais (VT) e


arteriais (VA) (Figura 24). +0,00

Para esses sistemas viários é reforçada uma visão de


maior acessibilidade, pensado nas bicicletas, pedestres e
pessoas com mobilidade reduzida. -11,30
RIO MEDELLÍN
Propõe-se a continuidade da rua paralela ao rio e a cons- -17,50
VA VT
trução de espaços que incentivem o uso para atividades VT VA
recreativas, eventos, encontro e permanência de pessoas. S/ ESCALA
Fonte: Adaptado de Cabezas (2014).
28
3 ESTUDO DE CORRELATO 3.3 CASA 88º

Referencial Materialidade e Sustentabilidade

3.3.1 Ficha técnica 3.3.4 Estudos bioclimáticos


Quadro 4 - Ficha técnica da Casa 88º. Foram feitas diversas simulações e estudos para o melhor
Local Porto Feliz- São Paulo, aproveitamento climático da edificação, entre eles: simu-
Brasil lações dos raios solares, dos ventos e sombras (Figuras
26 e 27).
Escritório Atelier O'Reilly
Prêmio Saint-Gobain Figura 26 - Estudo geral bioclimático.

Ano do projeto 2014


N
Fonte: Elaborado pela autora (2021).

3.3.2 Principal objetivo


Comprovar a viabilidade de construções sustentáveis no
Brasil.

3.3.3 Diretrizes projetuais


N
Existem duas diretrizes principais dessa projeto, a
primeira é propor inovações tecnológicas que possuam
equilíbrio com os aspectos econômicos, ambientais,
sociais e culturais do local. S/ ESCALA
A segunda é implantar um sistema de monitoramento de
Fonte: Adaptado de Conexão 88° (2014).
dados com indicadores mensuráveis para que seja possí-
vel comprovar a eficácia e incentivar o uso das estraté- Figura 27 - Estudos de sol e sombra no verão.
gias de eficiência energética, conforto ambiental, térmico
S/ ESCALA
e acústico em outros empreendimentos.

Figura 25 - Planta humanizada.


N

S/ ESCALA

Fonte: Adaptado de Conexão 88º (2014). Fonte: Adaptado de Conexão 88° (2014).
29
3.3 CASA 88º
3 ESTUDO DE CORRELATO
Referencial Materialidade e Sustentabilidade

3.3.5 Materialidade Figura 28 - Materialidade. 3.3.6 Soluções projetuais


Um dos focos principais desse projeto é a materialidade e para a escolha As estrátegias de soluções para o projeto partem do princÍpio de minimizar os
dos materiais são escolhidos preferencialmente os mais recicláveis, reno- Manta impermeabilizante 12 impactos negativos ao meio ambiente e maximizar os positivos, com base nos
váveis, de origem regional, sem a presença de compostos organicos volá- Isolante termo acús�co conceitos da sustentabilidade e nos estudos bioclimáticos anteriormente apresen-
teis (COV), portanto, menos tóxicos, com maior durabilidade, qualidade, tados (Figura 29).
economia de energia e água, reponsáveis socialmente e que contribuam ao O materiais mencionados no item anterior, também fazem parte dessas estratégias
máximo para o conforto ambiental, térmico, lumínico e acústico. como, por exemplo, o uso da manta impermeabilizante branca que causa a refle-
Na Figura 28, é feito por meio de tópicos o mapeamento dos principais Forro em lambri xão dos raios solares e favorece a diminuição das ilhas de calor.
materiais utilizados, suas observações e/ou características. A radiação solar é muito bem aproveitada, com o emprego de painéis fotovoltai-
cos, o planejamento para uma maior iluminação natural que promovem a econo-
mia de energia e o posicionamento estratégico das formas, aberturas e beirais para
LEGENDA: Vigas em madeira obter a luz do sol somente nos periodos e locais desejados. A entrada dos raios
1) Parede de pedra - baixa transmitância térmica; laminada colada(MLC) solares no período de inverno propiciam vantagens como a renovação do ar, a
2) Parede verde - filtra o ar, reduz a temperatura, ruídos e a emissão de ação bactericida e de aquecimento passivo por intermédio do piso.
Cobertura verde
COV; O estudo dos ventos são de suma importancia para a escolha dos locais e dimen-
3) Reves�mento na parare de pedra plás�ca - reduz a exploração dos sões das aberturas, permitindo a entrada dos ventos predominantes e saída do ar
recursos naturais, 70% madeira reu�lizada e 30% polímeros e fibras vege- quente pelas aberturas zenitais na fachada oposta, realizando assim uma ventila-
tais; 12 ção cruzada. Além da utilização do vento para a produção de energia, novamente
10
4) Pas�lha cerâmica na piscina - reaproveita 75% dos resíduos; permitindo a sua economia.
5) Piso drenante - permeabilidade; Pergolado em MLC 10 Assim como a energia, existe uma economia de água mediante a coleta de águas
6) Deck em madeira plás�ca - permeabilidade, facil instalação, 70% pluviais em cisternas e seu reaproveitamento para o vaso sanitário e a irrigação
3
madeira reu�lizada e 30% polímeros e fibras vegetais; das plantas. São escolhidas para o projeto paisagístico as plantas nativas, o que
7) Pintura interna e externa - �nta mineral a base de água, atóxica, inodo- 6 11 contribui para preservação do bioma local.
1 2 8 A utilização de uma cobertura verde garante um melhor isolamento térmico e
ra e sem COV;
8) Louças e metais - vasos sanitários com baixo consumo de água; acústico, da mesma forma que a cobertura curva chamada de Wave Stud, que
9) Piso de madeira de demolição; Portas e janelas
9
possibilia essa e outras soluções já listadas.
de vidro duplo 7 1
10) Impermeabilizantes e vernizes - base de água, reduzida emissão de 5 3
COV; 4 Figura 30 - Cobertura Wave Stud®.
6 10
11) Piso de porcelanato - 40% do piso e 100% do rodapé de material Wood frame
reciclado;
12) Vidro reciclado. Fonte: Adaptado de Atelier O'Reilly (2015).

Fonte: Conexão 88° (2014).


Figura 29 - Corte humanizado com soluções projetuais.

LEGENDA:
1) Redução da ilha de calor através de material reflexivo;
2) Produzir energia com o aproveitamento da alta radiação solar;
3) Permi�r a radiação solar no inverno;
1
4) Diminuição da radiação direta através de beirais;
5) Aquecimento solar passivo pelo piso;
4 2 9 11 6) Abertura zenital para a iluminação e ven�lação natural;
7) Isolamento térmico e acús�co pelo uso de cobertura verde;
3 8) Auxílio na preservação do bioma local com o emprego de vegetação
7 6
7 na�va;
9) Captação de águas pluviais;
8 12
10) Reaproveitamento de águas pluviais;
11
8 11) Ven�lação cruzada;
5
12) Produção de energia eólica.
10 10 10
9
Fonte: Adaptado de Atelier O'Reilly (2015).
30
31

3.4 SÍNTESE CRÍTICA DOS ESTUDOS DE CASO E CORRELATOS

Como forma de sintetizar as análises feitas dos estudos de caso e correlatos, desenvolve-
se um esquema com seus principais pontos positivos e negativos.

Figura 31 - Esquema síntese crítico dos estudos de caso e correlatos.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Todas as informações levantadas possuem contribuição para o desenvolvimento dos


itens do Capítulo 5.
32

4 LEVANTAMENTOS E DIAGNÓSTICO

Esse Capítulo é destinado a uma análise do local de estudo, mediante levantamentos,


com objetivo de diagnosticar e identificar suas condicionantes, deficiências e potencialidades.
Para tanto, são realizados levantamentos fotográficos, documentais, visitas de campo, entrevista
com integrante do centro comunitário, questionário on-line com usuários, pesquisa a respeito
da cidade e do bairro, estudo da legislação vigente e desenvolvimento de mapas de análise
urbana.

4.1 A CIDADE DE FLORIANÓPOLIS, SC

Florianópolis é uma cidade litorânea brasileira, capital do estado de Santa Catarina, que
se localiza na região sul do país e possui uma população estimada de 508.826 habitantes (IBGE,
2020). A cidade dispõe de uma parte insular, conhecida como Ilha de Santa Catarina e outra
continental. Possui clima subtropical úmido, estações bem definidas, bioma de mata atlântica e
conta com 42 praias (FLORIANÓPOLIS, [s.d.]).
Dentro dos seus 674.844 km² de extensão de território (IBGE, 2019), 32% das vias
públicas são arborizadas (IBGE, 2010) e 42% está enquadrada como Área de Preservação
Permanente (APP) (REIS, 2010). Apesar desses percentuais, parte significante da mata
subtropical original da ilha não existe mais, devido atividades agrícolas (FLORIANÓPOLIS,
[s.d.]).
Por essas e outras características, Florianópolis é a capital turística do Mercado Comum
do Sul (Mercosul)2. Conta com um alto número de turistas no verão, em sua maioria pessoas
vindas dos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, assim como da Argentina
(FLORIANÓPOLIS, [s.d.]).
Existe um aumento constante do número de turistas na cidade, conforme a Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Ministério do Turismo (BRASIL, 2020). Em janeiro de
2010, o número de desembarques domésticos totais era de 100.794 e, no mesmo mês de 2020,
chegaram ao total de 168.141. Quanto aos internacionais totais, em janeiro de 2010 somaram
11.711 desembarques e, em 2020, 35.192.

2
O Mercado Comum do Sul é uma organização intergovernamental fundada a partir do Tratado de Assunção de
1991. É uma iniciativa de integração regional da América Latina e tem como membros atuais o Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai.
33

4.2 A PRAIA DA DANIELA

A Praia da Daniela possui estreito vínculo com suas regiões próximas, fica dentro da
Unidade de Paisagem (UP) chamada Jurerê-Daniela, que engloba a região da Daniela, Forte e
Jurerê (BUENO, 2006). Ao analisar os mapas disponibilizados pelo sistema de
geoprocessamento on-line da prefeitura (FLORIANÓPOLIS, c2020), percebe-se que essa UP
não possuía ocupação urbana, começando a se desenvolver na década de 1970, com a
construção das rodovias (Figura 32).

Figura 32 - Vistas aéreas antigas da unidade de paisagem Jurerê-Daniela

Fonte: Prefeitura de Florianópolis (c2020).

Conforme Reis (2010), a ocupação urbana ocorreu após o declínio da agricultura e com
o aumento dos empreendimentos de caráter turístico, construindo loteamentos de malha regular.
Com a Figura 32 é possível notar as movimentações geomorfológicas da Daniela, onde
“a praia representa um dos ecossistemas litorâneos de maior complexidade, encontrando-se em
permanente estágio de transformação” (DIEHL, 1997, pg. 4). Essas transformações
morfológicas se mostram principalmente na região do Pontal, mencionada na introdução.
A praia é muito frequentada por turistas na alta temporada, com predomínio de casas de
veraneiro e possui baixa no número de pessoas durante o inverno. Por dispor de águas calmas
atrai principalmente famílias (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA, 2006). Possui
proximidade com a Fortaleza de São José da Ponta Grossa, atrativo histórico-cultural localizada
34

na Praia do Forte (BUENO, 2006), tendo acesso através da areia quando a maré está baixa ou
por meio de trilhas, com cerca de 2 km de distância e com a opção de percurso de 5 km através
de veículos (GOOGLE EARTH, c2021).

Figura 33 - Mapa dos acesos à praia e rotas da Daniela para o Forte.

Fonte: Adaptado de Wikiloc (2021).

A seguir, lista-se o histórico de projetos realizados para o bairro, começando com o


loteamento, que foi autorizado pela prefeitura em 1972. Na Figura 34, observa-se a planta baixa
do projeto original.

Figura 34 - Planta baixa do projeto de loteamento da Daniela, 1972.

Fonte: Alencar (1972).


35

Nessa época, o Brasil estava começando a se posicionar mundialmente a respeito do


desenvolvimento sustentável, ainda que de forma ambígua, com a iniciação de políticas
públicas federais com relação ao meio ambiente (OSEKI; PELLEGRINO, 2004). Essa
preocupação recente com o meio ambiente já aparece no traçado do projeto, com desenho de
áreas verdes, pintadas em azul escuro, em todas as calçadas e em lotes em sequência, similar
ao conceito de corredores verdes, iniciando na restinga em direção ao manguezal.
O projeto possui área reservada para o clube de nome Sociedade Balneário Daniela, com
20% do lote passível de construção. Na Figura 35 apresenta-se a planta de situação e locação
da sede, autorizada pela prefeitura em 1978.

Figura 35 - Planta de situação e locação da Sociedade Balneário Daniela.

Fonte: Piccoli (1978).

Ana Cláudia Caldas, em entrevista concedida ao estudo, afirma que o clube era muito
utilizado, possuía bocha, quadras esportivas, restaurante e espaço para festas e shows. Conta
que estranhou o fechamento do clube e que atualmente estão com problemas judiciais, querendo
vender o terreno (CALDAS, 2021).
Por meio de pesquisa das vistas aéreas antigas registradas no Google Earth, percebe-se
que a estrutura do clube foi demolida no ano de 2012. Ao analisar a vista aérea de 2002, nota-
se que a área entre o lote e o balneário está preenchida de grama e algumas árvores. Nesse
espaço, conforme planta de situação apresentada na Figura 35, seria a continuação da via
pública urbana com estacionamento e, de acordo com o Plano Diretor (FLORIANÓPOLIS,
2014), é classificada como Área Verde de Lazer (AVL). Em 2020, é perceptível a diferença
com relação a vegetação, que aumentou consideravelmente nessa área (Figura 36).
36

Figura 36 - Vistas aéreas de 2002 e 2020 do lote onde havia clube.

Fonte: Adaptado de Google Earth (2002, 2020).

Foi realizado em 2018 um projeto urbanístico para servir de guia de orientação para as
AVL, apresentado de forma simplificada na Figura 37, tendo como cliente o CCPontal. Esse
projeto teve como base o manual de projeto e execução de passeios públicos, chamado Projeto
Calçada Certa, da prefeitura de Florianópolis em parceria com o IPUF e a Rede de Espaços
Públicos. O projeto é bastante técnico, possibilita a acessibilidade, porém não possui nenhum
elemento paisagístico em sua composição, apenas mantém as vegetações existentes.

Figura 37 - Projeto padrão simplificado de AVL.

Fonte: Adaptado de Marthendal (2018).


37

4.3 ANÁLISE DO LOCAL

4.3.1 Sistema viário

O bairro da Daniela localiza-se a 22 km de distância do centro da cidade e possui acesso


viário único realizado no sentido centro-bairro pela rodovia estadual SC-400 (Figura 38).

Figura 38 - Rodovias para acesso ao bairro.

Fonte: Adaptado (2021), de Google Earth (2021).

A SC-400 se caracteriza por ser uma via arterial que, ao entrar no bairro, se torna uma
coletora. As vias coletoras distribuem o trânsito para as vias locais (Figura 39). Através dessa
análise é possível identificar as zonas de maior movimentação de pessoas e, por conseguinte,
auxiliar na escolha das áreas a serem projetadas. É interessante notar que as vias rentes a orla,
onde se encontram os estacionamentos, são classificadas pela prefeitura de Florianópolis (2020)
como vias locais.
38

Figura 39 - Mapa do sistema viário.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).

O loteamento possui em maioria vias de mão dupla, com exceção apenas da Rua das
Paineiras, que é a única via de sentido único (Figura 40).

Figura 40 - Mapa do sentido das vias.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).


39

4.3.2 Sistema de espaços livres

Analisando o bairro conforme o conceito de sistema de espaços livres (SEL),


apresentado na fundamentação teórica, a partir dos mapas expostos nas Figuras 41 e 42, nota-
se que o bairro possui uma quantidade considerável de espaços livres, auxiliando na
permeabilidade tanto do solo, quando visual e física. Existe alguns casos de interrupção dessa
permeabilidade por construções principalmente na região mais próxima ao manguezal. É
eminente o espaço livre dentro da área delimitada pela Estação Ecológica de Carijós, por se
tratar de uma unidade de conservação. Da mesma forma se destaca o espaço livre decorrente
do terreno, apresentado no item 4.2. Percebe-se também que, em maior parte, os lotes possuem
maior quantidade em metros de área livre na parte frontal do terreno (Figura 42).

Figura 41 - Mapa do sistema de espaços livres.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).

Figura 42 - Mapa aproximado do SEL.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).


40

4.3.3 Ecologia da paisagem e Trama verde e azul (TVA)

É possível analisar a região com base nos conceitos da Ecologia da Paisagem e, de forma
adaptada à escala, nos conceitos da Trama Verde e Azul, onde são mapeados os corpos d’água,
as áreas vegetadas e as ocupações urbanas (Figura 43).

Figura 43 - Trama verde e azul.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).

Para a realização do mapa, foram necessárias pesquisas para a identificação de cursos


d’água, assim como visitas em campo, entrevista e levantamentos fotográficos, podendo haver
conexões não mapeadas pela inexistência de documentos que as apresente ou por não ser
possível a visualização.
Nesse mapa é possível visualizar com maior clareza a interrupção dos corredores verdes
que para a obtenção de maiores benefícios ecológicos deveriam ligar as duas manchas de
vegetação principais da região de estudo, a restinga e o manguezal, que por sua influência no
ecossistema podem ser consideradas matrizes.
Existem interrupções através das vias públicas e passeios, que poderiam apresentar
riscos a fauna, porém por se tratar em maioria de vias locais de paralelepípedo com a presença
41

de lombadas, que atuam como um moderador de tráfego, diminuem os riscos de acidentes e


favorecem a convivência entre veículos, pedestres e ciclistas. Há trechos em que essa
interrupção se dá por objetos construídos causando um maior espaçamento entre as áreas
vegetadas e por conta desse distanciamento e maior interrupção deixam de ser corredores e
passam a ser identificadas como manchas de vegetação.
Alguns canais presentes nas AVL, apresentados no mapa em questão e segundo Ana
Cláudia Caldas, presidente do CCPontal, em entrevista incluída no Apêndice C, não possuem
conexão com nenhuma fonte natural de água, estão canalizados e conectados apenas entre si.
Conforme relato, em períodos em que há uma incidência menor de precipitação, ocorre o
ressecamento dos mesmos. Nesses casos seria ideal a ligação entre esses canais e o manguezal,
podendo contribuir para melhorias na biodiversidade, trazendo vida e fluidez às águas,
diminuindo o risco sanitário de proliferação do mosquito da dengue, além de poder colaborar
para a diminuição de problemas de enchentes.
Apesar se trazer conclusões similares ao mapa do SEL, este mapeamento é de suma
importância, visto que facilita a análise das relações entre os elementos naturais, água e
vegetação, com as áreas urbanizadas, podendo auxiliar nas decisões projetuais.

4.3.4 Usos do solo

O uso predominante na área é o residencial, com gabarito de até dois pavimentos. Os


comércios e serviços presentes são em grande maioria restaurantes, minimercados e
imobiliárias, não havendo serviços essenciais como farmácias nem supermercados. Existem
poucos hotéis e pousadas, porém, o bairro é ocupado “essencialmente por casas de veraneio”
(SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA, 2006). Há poucos moradores fixos, o que pode explicar
a baixa oferta de serviços. Ao pesquisar serviço on-line comunitário para anuncio de
acomodações e meios de hospedagem (AIRBNB, 2021) consta-se mais de 300 residências
mapeadas, fora as que estão cadastradas nas imobiliárias locais.
42

Figura 44 - Mapa de usos do solo.

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).

Para uma melhor análise das volumetrias, faz-se na Figura 45 um skyline ou panorama
urbano, com as alturas aproximadas das edificações no trecho destacado no mapa de usos do
solo.

Figura 45 – Panorama urbano.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


4.3 ANÁLISE DO LOCAL
4. LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO

4.3.6 Estudo bioclimático Figura 46 - Estudo bioclimático do bairro.


Com auxílio do programa SolAr (2009), verifica-se os ventos predomi-
N
nantes (Figura 44). O vento norte durante a primavera é um dos que
VENTO PREDOMINANTE
possuem maior velocidade. Já o vento nordeste tem a mesma intensidade ANO TODO
durante o ano todo. VENTO PREDOMINANTE
PRIMAVERA
Figura 44 - Ventos predominantes.
la
a Danie
Praia d

Fonte: print screen do sistema operacional SolAr (2009).

A realização de estudo simplificado com os ventos predominantes e a


trajetória solar, indica que o vento norte de maior intesidade na primavera
pode, em alguns casos, formar um fluxo de vento direcionado, por conta
dos vazios formados pelas áreas verdes (Figura 46).
Para um estudo mais aproximado, permitindo a visualização do entorno, e
uma análise bioclimática mais detalhada com uso de carta solar, é selecio-
nada uma AVL, identificada em vermelho na Figura 46. Esta fica localiza-
da entre outras AVL’s, em local movimentado devido à proximidade do LEGENDA:
acesso ao bairro, em uma das vias coletoras apresentadas no mapa do Trajetória do sol
sistema viário. Vento
Área Verde de Lazer (AVL)
Figura 45 - Estudo bioclimático AVL. 25 100 300
VENTO Manguezal do Rio Ratones AVL selecionada para estudo
50 200
N PREDOMINANTE bioclimá�co mais detalhado.
PRIMAVERA
Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).
VENTO
PREDOMINANTE É possível concluir, a partir de análise do estudo bioclimático apresentado na Analisar a trajetoria do sol e a carta solar auxilia nas escolhas de posicionamento
ANO TODO
Figura 45, que o vento nordeste, apesar de estar presente o ano todo, em muitos de mobiliários, por exemplo, ao posicionar uma árvore no centro de uma AVL, e
casos terá as edificações vizinhas como barreira. tendo como objetivo criar um espaço sombreado de descanço, sabe-se que ele
Por meio de carta solar, apresenta-se no Quadro 6, o período em horas de radia- deve ser posicionado para o sul, pois caso colocado em posição norte em relação
ção solar em cada fachada do terreno, de acordo com os solstícios e equinócios. a árvore a mesma trará sombra apenas em horários próximos ao meio dia (Figura
A fachada que possui o maior número de horas com insidencia solar é a norte. 47).
Figura 47 - Estudo solar.
Quadro 6 - Estudo carta solar.

N
Fachada Norte Fachada Leste Fachada Sul Fachada Oeste

Solstício de Verão 12:00-15:30 5:00-12:00 5:00-19:00 12:00-19:00

Equinócio de Outono 7:30-18:00 6:00-12:30 5:00-8:00 12:10-19:00


e primavera
não há
Solstício de Inverno 6:45-17:20 6:40-12:45 12:30-17:20
S/ ESCALA incidencia solar S/ ESCALA

Fonte: Adaptado de CCPontal (2017). Fonte: Elaborado pela autora (2021). Fonte: Adaptado de CCPontal (2017). 43
4.3 ANÁLISE DO LOCAL
4. LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO

4.3.7 Levantamento fotográfico


Com base em visitas de campo e levantamento fotográfico das áreas verdes, contido no Apêndice E, é possível identifi-
car uma série de problemas com relação as AVL’s.
Os principais problemas identificados são: apropriação das áreas utilizando como um jardim / extensão da casa; horta
comunitária com cadeado, impedindo que cumpra seu papel de servir a comunidade; barreiras físicas e visuais através
de vegetação e elementos de concreto; alagamentos constantes e desordem no trânsito de veículos; falta de manutenção;
áreas abandonadas e degradadas (Figuras 48-53).

Figura 48 - Apropriação de AVL. Figura 49 - Cadeado em horta comunitária.

Fonte: Autoria própria (2021). Fonte: Autoria própria (2021).

Figura 50 - Barreira física e visual de AVL. Figura 51 - Alagamento e trânsito de veículos.

Fonte: Autoria própria (2021). Fonte: Autoria própria (2021).

Figura 52 - Falta de manutenção. Figura 53 - Parque infantil abandonado.

Fonte: Autoria própria (2021). Fonte: Autoria própria (2020).


44
4.3 ANÁLISE DO LOCAL
4. LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO

4.3.8 Fauna

Durante o levantamento foram mapeadas as áreas em que ocorrem o maior aparecimento dos jacarés-de-papo-amarelo
e das tocas de coruja buraqueira. Como pode-se perceber na figura 54, os jacarés aparecem em locais próximos e
conectados com o mangue e as corujas nas áreas proximas a restinga.

Figura 54 - Mapa animais silvestres.

1 2

la
a Danie
Praia d
2
Refúgio do jacaré Toca coruja
Fonte: Autoria própria (2021). 1

LEGENDA:
Manguezal do Rio Ratones
Jacaré-de-papo-amarelo
Pontal Tocas de coruja buraqueira
Cursos d’água
25 100 300
50 200 Áreas alagáveis
Fonte: Adaptado de CCPontal (2017).

A área indicada no mapa com número 1 é onde existe hoje o Posto Avançado das Saracuras, que tem como apoio o
CCPontal e o ICMBio. Apesar desses apoios a área é muito abandonada, assim como na maioria das AVL, existem
caminhos pelas laterais do lote. Uma delas é cuidada pelos próprios residentes da casa que fica ao lado do espaço e em
outra lateral está em abandono (Figuras 55 e 56). Além disso, foi possível identificar plantas aquáticas invasoras nos
cursos d’água (Figura 57).

Figura 55 - Caminho Figura 56 - Caminho Figura 57 - Plantas invasoras em curso


lateral em abandono. lateral bem cuidado. d’água.

Fonte: Autoria própria (2020). Fonte: Autoria própria (2020). Fonte: Autoria própria (2020).
45
46

4.3.8 Análise dos usuários e suas demandas

Esse item tem como principal objetivo a identificação do público alvo e o estudo das
carências das pessoas que utilizam os espaços. Os usuários são os verdadeiros clientes dos
projetos urbanos, portanto, com intuito de obter uma base para o desenvolvimento do programa
de necessidades, foram realizadas pesquisas acerca do local, questionário on-line com os
usuários e entrevista com a presidente do centro comunitário do bairro.
O questionário foi disponibilizado através da plataforma Google Forms e divulgado para
aqueles que obtinham conhecimento do bairro, através das redes sociais. Contendo 10
perguntas, foi disponibilizado entre os dias 8 de janeiro e 8 de fevereiro de 2021 totalizando
391 respostas. O apoio da presidente do CCPontal, Ana Cláudia Caldas, foi de suma
importância para a forte adesão dos participantes.
Ao analisar os dados obtidos (Apêndice D), afirma-se que 54,3 % dos respondentes são
pessoas com mais de 45 anos, 80,6 % possuem o ensino superior completo e 38,1 % são
moradores fixos. Um ponto importante levantado pelas respostas que possuem relação com o
perfil do usuário é o da acessibilidade, com 16 respostas de pessoas com deficiência física, seis
visuais, duas auditiva, uma mental e uma múltipla. Quando questionado a respeito da
classificação de zero a cinco para a acessibilidade das áreas públicas do bairro, 44,5 % das
pessoas, responderam a opção três. Em visitas em campo foi possível confirmar essa
deficiência, principalmente em AVL que, em sua maioria, não possuem passeio público.
Percebe-se que apesar de possuir 34 AVL no bairro, ainda há carência de espaços de
lazer e recreação. A pergunta de número 7 do tipo caixas de seleção, confirmou essa afirmação.
Nesta pergunta questiona-se a respeito das atividades/equipamentos urbanos que os
respondentes teriam interesse em realizar/utilizar nas Áreas Verdes de Lazer. Com a inserção
do item “outros” permitiu-se trazer demandas não elencadas pela autora, tornando os dados
mais ricos. Um dos itens mais selecionados foram “percursos para caminhadas ao ar livre” e
“local sombreado/arborizado para piquenique e/ou outras atividades”.
Por conta do aumento na população de jacarés e a falta de proteção nos espaços que eles
aparecem (Figura 60), 79% afirmaram que “gostariam de um local seguro com relação aos
animais silvestres”.
47

Figura 60 - Jacarés em local não protegido.

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Ao possibilitar a escrita de outros itens, houve em maior número a demanda por


“ciclovias”, com um total de 28 respostas, o que pode ter relação com a rota de treino para
ciclistas que ocorre na Rua das Papoulas, principal via de entrada do bairro. Nota-se também a
carências de “mais locais para prática de esportes, academias ao ar livre e parques infantis”.
Outras respostas muito importantes para o trabalho foram as solicitações por “árvores
frutíferas”, “preservação da mata nativa” e por “maior integração entre as AVL”. A necessidade
de “espaços mais seguros, com câmeras”, teve mais de uma manifestação, assim como pedidos
para uma “maior manutenção e limpeza das áreas”.
Ao perguntar sobre o conhecimento das cerca de 30 AVL, na pergunta de número 5,
23,3% das pessoas afirmaram que não conheciam nenhuma delas, 46,8% conheciam algumas e
29,9% tinham conhecimento de todas, confirmando o desconhecimento e desvalorização das
mesmas.
Como forma de obter maiores informações sobre a comunidade, fez-se uma entrevista
com Caldas (2021), no dia 20 de janeiro de 2021, na Sede do Conselho Comunitário Pontal de
Jurerê (Apêndice C). A entrevista foi do tipo semiestruturada e com autorização para gravação
de áudio. Nela foram questionadas as necessidades do centro comunitário e dos moradores,
onde foi declarado que existe uma vontade de que haja um centro de convivência no bairro,
pois existem moradores que gostariam de disponibilizar oficinas de atividades como yoga,
fotografia e escultura. Diz ainda que já recebeu pedidos de uma quadra de Beach Tennis, esporte
de tênis na areia
Durante a entrevista ficou clara a participação ativa da comunidade nas ações para a
melhoria do bairro, relatando, por exemplo, que muitas vias foram pavimentadas pelos próprios
48

moradores.
Em pesquisa por mais estudos efetuados com base nos usuários do bairro Daniela é
encontrado um estudo sobre os impactos do turismo (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA,
2006), onde foram realizadas 47 entrevistas com moradores, obtendo as seguintes constatações:

Identificou-se que é preciso haver reformas na educação, saúde, transporte,


informações, segurança, saneamento, sinalização, alimentação e outros como
proteção ambiental, pavimentação, infra-estrutura turística, comunidade organizada
para todos, segurança o ano inteiro, mais lazer (SEVERINO; SCHWEGLER; SILVA,
2006, p. 56).

Conclui-se que, para a realização do programa de necessidades, esse deve ser voltado
principalmente para o meio ambiente, atividades de lazer e recreação e os devidos equipamentos
e mobiliário urbano de suporte e requalificação desses espaços de lazer.

4.4 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO VIGENTE

4.4.1 Plano Diretor

A principal legislação vigente para este trabalho é a Lei Complementar Municipal


nº 482/14, que institui o Plano Diretor (FLORIANÓPOLIS, 2014). O bairro está dividido em
áreas delimitadas, conforme consta no mapa da Figura 61.

Figura 61 - Plano Diretor de Florianópolis.

Fonte: Adaptado de Prefeitura de Florianópolis (c2020) e CCPontal (2017).


49

Com a sobreposição do Plano Diretor e da Planta de Implantação do bairro (Figura 61),


ficam mais visíveis as ocupações urbanas irregulares em Áreas de Preservação Permanente
(APP) e de Uso Limitado (APL). Pode-se afirmar que a região é classificada em maior parte
como Área Residencial Predominante (ARP) e com Áreas Residenciais Mistas (ARM) apenas
nas proximidades do acesso ao bairro.
O objeto de estudo principal desse trabalho são as AVL, que são destinadas, conforme
o Plano Diretor (FLORIANÓPOLIS, 2014), à prática de atividades de lazer e recreação,
privilegiando sempre que possível a criação ou preservação de vegetações. São permitidas nelas
a construção de equipamentos de apoio ao lazer, como parques infantis, sanitários públicos,
vestiários, quiosques e dependências para os serviços de segurança e conservação da área.

4.4.2 Meio ambiente

Para uma fácil análise da legislação que diz respeito ao meio ambiente da região, fez-se
um esquema em forma de síntese (Figura 62).

Figura 62 - Esquema síntese legislação meio ambiente.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


50

SÍNTESE DE ANÁLISES DO BAIRRO

Como modo de resumir todas as informações levantadas e seus diagnósticos, faz-se uma
tabela de condicionantes, deficiências e potencialidades (CDP) de acordo com os aspectos
principais identificados na Daniela (Figura 63).

Figura 63 - Síntese das condicionantes, deficiências e potencialidades.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Para a realização do Capítulo seguinte com o partido e as diretrizes do projeto, é levado


em consideração as conclusões a respeito do bairro anteriormente apresentadas.
51

5 CONCEITO, PARTIDO E DIRETRIZES

Após a realização das análises a respeito do bairro Daniela, focando na busca por
melhorias dos problemas e demandas da população, a partir do embasamento teórico e
referenciais arquitetônicos e urbanísticos antes apresentados, é possível traçar o conceito,
partido e as diretrizes do projeto da Rede Verde de Lazer.

5.1 CONCEITO DE REDE VERDE DE LAZER

Por meio de uma requalificação urbana, pretende-se projetar uma Rede Verde de Lazer.
A palavra “rede” traz um conceito muito forte do projeto, que é o da integração. Essa
integração se dá de várias formas, como a integração entre as AVL presentes no bairro, focando
sempre na intenção de unidade, buscando a identidade desses espaços por meio de padrões de
tamanho, forma e materialidade.
Além disso, a integração aparece entre as pessoas e os espaços que utilizam, aplicando
os princípios do desenho universal, projetando de maneira que não exclua nenhuma pessoa,
sejam quais forem as suas condições e idades.
A palavra “verde” faz alusão a fauna e flora que se fazem bastante presentes no bairro,
tendo a educação ambiental como aliada para a colaboração de suas preservações. Bem como
a ideia de sustentabilidade ambiental, no sentido de sustentar essa rede por mais tempo,
impactar o mínimo possível no meio ambiente, utilizando a eficiência energética e a escolha
por materiais reciclados.
Existe, portanto, uma preocupação com o cuidado e valorização dos animais e plantas,
espaços públicos e a própria comunidade. Com isso, pode ser estimulada a sustentabilidade
econômica, onde, por meio de alugueis de espaços comerciais e quiosques, são arrecadados
fundos para a limpeza e manutenção com maior frequência dos espaços públicos. Além do
estímulo à economia do bairro, em decisões como o posicionamento estratégico de mesas ao ar
livre próximas de comércios alimentícios existentes.
Já o “lazer” faz lembrar que os seres humanos também fazem parte da natureza e que
espaços como esses devem ser pensados tanto na fauna e flora quanto na sociedade em torno
dela. A realização de atividades físicas ao ar livre e a integração das pessoas com a natureza
podem ser fatores que auxiliam para o bem-estar dos seres humanos (ALVES et al., 2019).
Portanto, outro ponto de partida é o projeto de espaços pensados no bem-estar das pessoas,
conectá-las com a natureza e estimular a prática de atividades físicas e recreativas, tal como o
52

estímulo dos sentidos. Esse possibilita que sejam criadas ou trazidas à tona memorias afetivas
e auxilia na localização das pessoas com deficiência visual.

Figura 64 – Croqui do conceito de rede verde de lazer.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

5.2 DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS PROJETUAIS

Como forma de direcionar as principais intenções do projeto, divide-se as diretrizes em


três tópicos principais. Em primeiro, dar forma a uma rede de espaços públicos com maior
qualidade para a população; em segundo, contribuir para a proteção e valorização do meio
ambiente mencionado diversas vezes neste trabalho, e por último, promover o chamado
ecoturismo, que envolve questões de sustentabilidade e planejamento responsável. A seguir,
tem-se um esquema das diretrizes e as estratégias para que possam ser realizadas.
53

Figura 65 - Esquema das diretrizes e estratégias.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


5. DIRETRIZES DO PROJETO

5.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES 5.4 SETORIZAÇÃO LEGENDA:


Meio ambiente
Como forma de organizar os ambientes e elementos A escolha dos setores que terão cada terreno do projeto tem como base as características estudadas no
1 Espaço protegido animais
necessários para alcançar o partido e as diretrizes levantamento e diagnóstico, listadas também nas observações do programa de necessidades.
2 Bosque
projetuais, faz-se o programa de necessidades. Nele
Figura 63 - Mapa de setorização. Percurso ecológico
pode-se observar uma diferenciação através de cores
para os setores do projeto, dividindo as ações entre as Cursos d’água

possuem maior relação com o meio ambiente, as que N


2 1 Conexão entre canais e
proporcionam lazer e recreação e os equipamentos e 1 1 1
mangue

mobiliário urbano que dão suporte para esse lazer. C I Lazer e recreação
II 1 Percursos verdes de lazer
Meio ambiente A 1 Pista de caminhada e
Ambiente Qnt. Observações ciclovia
Espaço protegido para 21 Plantas de forração e cercas de III 2 Ciclofaixa
animais silvestres bambu em áreas com maior apareci- I Mesas ao ar livre próx.
mento de tocas de coruja e em todas C I 1 comércio
as que possuem cursos d’água para
proteção dos jacarés. Com placas B II Pomar
informa�vas sobre os animais 1 III Quadra de beach tennis
silvestres. II
Percurso ecológico 4 Deck elevado de madeira plás�ca
I IV Espaço coberto
com placas informa�vas sobre as IV 1
vegetações na�vas. Compar�lhada 1 Equipamentos e
entre pedestres e ciclistas. mobiliário de apoio
Bosque 2 AVL com número considerável de 1 1 ao lazer
vegetação na�va, com percusos e 1 Estacionamento
placas informa�vas sobre fauna e
flora.
A Centro de visitantes
1 e quiosques
Jardim de chuva 34 Em todas as AVL como forma de B Depósito
auxiliar na diminuição de alagamen-
tos. C Áreas com duchas
e sanitários

Trecho escolhido para


25 100 300 setorização aproximada
Lazer e recreação 50 200 Pré-existências
Ambiente Qnt. Observações Adaptado de CCPontal (2017).
Área sombreada com 3 Escolhidas de forma a incen�var os
mesas ao ar livre comerciantes locais para fomentar a Equipamentos e mobiliário de apoio ao lazer Cria-se também um padrão de continui- Figura 64 - Setorização aproximada.
economia do bairro. Ambiente Qnt. Observações dade entre as áreas verdes. Para uma
Ciclovia 1 N
Em toda a orla da Praia da Daniela. Percurso verde de lazer 1 Rota para pedestres e ciclistas pelas AVL. melhor análise, é escolhido um trecho
Ciclofaixa 1 Na Rua principal de acesso ao bairro, Áreas com duchas e sanitá- 2 Duchas instaladas próximas a saída da trilha para praia em região modificada
rios onde haviam as barreiras entre estacionamentos. Sanitários construídos em AVL
indicado em amarelo no mapa de setori-
Rua das Papoulas, e proposta de
con�nuação para a SC-400. Por se em frente a elas. zação para realizar o estudo de uma
tratar de uma rota de treino de Estacionamento 2 Com a re�rada das divisões entre bolsões de estacionamento atuais ficarão 2 setoriação mais aproximada dos elemen-
ciclistas. partes de estacionamento, aumentando o número de vagas e promovendo uma
melhor circulação de veículos. Totalizando 488 vagas, 16 para pessoas com
tos principais presentes na maioria dos
Pomar 3 Nos terrenos com menor número de espaços.
deficiência e 27 para idosos.
pré-existencias, facilitando a planta-
Poste solar fotovoltaico 114 3 postes na maior parte das AVL, com acrécimo de 12 postes, por conta de
ção das árvores fru�feras.
espaços de bosque e percursos ecológicos.
Espaço semiaberto 1 Escolha do terreno com maior área Ponto com câmera de 6 Nos percursos ecológicos, por conta de se tratarem de espaços em mata mais
para a�vidades livre para evitar o corte de árvores segurança fechada o que poderia causar insegurança.
diversas. na�vas. Espaço proposto para
Depósito 1 Com localização central em relação ao bairro. Espaço construído de apoio a LEGENDA:
incentivar atividades comunitárias Poste solar Mesas ao ar livre próx.
manutenção e limpeza das áreas.
como eventos e oficinas ao ar livre fotovoltaico ao comércio
Conjunto de mobiliário 34 Um conjunto de mobiliário em cada AVL (3 bancos e 3 lixeiras) obje�vo principal
com cobertura para o caso de chuva.
urbano de criar pontos de descanso. Conjunto de
Quadra de tênis de 1 Atendendo aos pedidos de morado- Bicicletário 9 Jardim de chuva
mobiliário
areia. res ao centro comunitário por uma Sinalização percurso 18 Uma placa em cada mudança de direção do Percurso Verde de Lazer.
quadra de areia para prática de tênis. Sinalização veículos 8 Placas indicando a direção dos estacionamentos e da saída para a SC-400. Bicicletário Percurso Verde de
Possui 16 x 8 metros e a escolha do Lazer
Centro de visitantes 1 Proposta de compra pela prefeitura do terreno onde havia um clube muito Placas sinalização
terreno deve-se a proximidade com a
importante para a comunidade, para a realização de um espaço de recepção, pedestres e ciclistas Comércio alimen�cio 25 100
praia e ao espaço com poucas
com balção de informações, banheiro, lojas e quiosques. próximo a áreas com
pré-existências. 50
Faixa elevada 38 Em todas as partes do percurso em que é necessário a travessia de pedestres. Faixa elevada mesas ao ar livre Adaptado de CCPontal (2017).
54
5. DIRETRIZES DO PROJETO
Figura 70 - Plano de massas.
5.5 PLANO DE MASSAS N
Dando início ao planejamento do projeto, é realizado um plano de massas, a partir do mesmo trecho detalhado na setorização
e o estudo mais aproximado de uma delas.
3,00
Nele foram feitas escolhas a respeito do porte, forma e densidade das vegetações, bem como as sombras, materiais, texturas, 1 Forração e cercas de bambu para proteção
formas e cores (Figura 70). de animais silvestres. 2 1
A materialidade principal do projeto que auxilia na padronização das AVL será o uso de deck e mobiliários de madeira plásti-
2 Jardim de chuva, auxiliando na drenagem.
ca e piso cimentício drenante. O deck aparece tanto elevado, como apresentado no estudo de caso do Parque Estadual do Rio 3
Vermelho (Figura 65), quanto compondo o piso, como no Parque do Rio Medellín (Figura 66). A escolha pela madeira prásti- 3 Caminho principal de piso cimen�cio drenante.
ca, utilizada no projeto da Casa 88º, foi por ser um material composto por 30% de plástico reciclado e 70% de madeira reuti- 4 Caminho secundário de piso cimen�cio drenante.
lizada.
Outro elemento que é presente em todos os espaços é o jardim de chuva, como forma de amenizar o problema de alagamen-
5 Árvore de grande porte copa densa e horizontal, 7,00 4

para proporcionar sombra para a�vidades de maior


tos frequentes no bairro (Figura 67). Esses estão posicionados no plano de massas nos cantos extremos do terreno a fim de permanencia.
permitir um maior espaço livre para utilização da comunidade, possuindo formato similar ao caminho principal (Figura 70). 6
6 Árvore de pequeno e médio porte com forma 12,00
Ao analisar o bairro com os princípios da ecologia da paisagem e da metodologia da trama verde e azul, concluise que é irregular e densidade de tranparência da copa 7
necessária a conexão entre os cursos d’água e o mangue. Como essa ação pode trazer jacarés para as áreas urbanas, são média, para sombrear levemente o caminho.
5

propostas vegetações de forração e cercas de bambu para proteção. 8


7 Deck, bancos e lixeira de madeira plás�ca. 9
2,00
Figura 65 - Deck elevado. Figura 66 - Pisos drenantes. Figura 67 - Jardim de chuva 8 Arbusto alto ver�cal copa densa, servindo de
barreira visual das edificações adjacentes ao lote.
9 Poste solar fotovoltaico.

ESCALA 1:750

Fonte: Acervo da autora (2021). Fonte: Archdaily (2014). Fonte: Soluções para cidades, apud. Portland
Bureau of Environmental Services (2003).

Como forma de hierarquia entre os caminhos existentes, o caminho principal possui maior largura, de três metros, sendo essa
uma via compartilhada entre pedestres e ciclistas. Na via secundária o caminho se estreita para dois metros, passando a ser
somente para pedestres. Para facilitar o acesso a todas as pessoas, são propostas faixas elevadas posicionadas na direção em
que está indo o percurso, mencionado na setorização como Percurso Verde de Lazer (Figura 69).
Ao análisar o plano de massas com base nos princí-
pios do desenho universal, os quais segundo Story Figura 69 - Croqui do plano de massas.
(2001), são: uso equitativo; flexibilidade de uso; uso
simples e intuitivo; informação perceptível; tolerância
ao erro; baixo esforço físico; e dimensão e espaço
para acesso e uso.

Figura 68 - Ícone desenho universal.

Fonte: DesignABLE Environments (c2021).

Conclui-se que será necessário o desenho de pisos


tatéis em todos os percursos, assim como o desenho
de todos os espaços com o mesmo nível, como forma
ESCALA 1:2000
de promover o fácil acesso. Fonte: Elaborado para autora (2021).
Adaptado de CCPontal (2017).
55
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61

APÊNDICES

APÊNDICE A – Levantamento fotográfico

Por meio de visitas em campo, nos dias 15 de agosto de 2020, 9 e 14 de fevereiro e 11


de março de 2021, são realizados levantamentos fotográficos. No quadro 6 estão as fotografias
mais significativas para o trabalho, separadas por temas, com suas respectivas datas e horas.

Quadro 6 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).


Depósito de resíduos sólidos e entulhos

sábado, 15 de agosto de 2020, 13:29:00 quinta-feira, 11 de março de 2021, 10:46:09

sábado, 15 de agosto de 2020, 13:24:00 sábado, 15 de agosto de 2020, 13:28:00


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
62

Quadro 7 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).


Baixa frequência de manutenção e limpeza

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:42:14 quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:21:16

domingo, 14 de fevereiro de 2021, 15:13:43 quinta-feira, 11 de março de 2021, 10:43:27


Barreiras físicas e visuais

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 14:36:02 terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:36:26


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
63

Quadro 8 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).


Degradação e abandono

sábado, 15 de agosto de 2020, 14:09:00 sábado, 15 de agosto de 2020, 14:02:00


Pré-existências

sábado, 15 de agosto de 2020, 14:05:00 terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 11:07:40

quinta-feira, 11 de março de 2021, 10:57:20 quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:00:38


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
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Quadro 9 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:32:59 quinta-feira, 11 de março de 2021, 12:14:20

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 11:04:16 sábado, 15 de agosto de 2020, 13:23:00

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:18:04 terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 11:12:19


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
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Quadro 10 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).


Divisão entre os bolsões de estacionamento

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:46:40 quinta-feira, 11 de março de 2021, 12:01:50

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:44:12


Cuidados parciais das AVL

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:58:38 terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 14:36:48


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
66

Quadro 11 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:15:46 quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:06:54


Falha na drenagem

quinta-feira, 11 de março de 2021, 10:51:59 quinta-feira, 11 de março de 2021, 10:52:35


Falha na acessibilidade

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:44:10 quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:44:42


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
67

Quadro 12 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (continua).

quinta-feira, 11 de março de 2021, 12:14:06 quinta-feira, 11 de março de 2021, 12:14:40


Apropriações

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:33:49 sábado, 15 de agosto de 2020, 13:52:00

sábado, 15 de agosto de 2020, 14:08:00 quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:05:52


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
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Quadro 13 - Levantamento fotográfico do bairro Daniela (conclusão).


Fauna

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:03:22 terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:15:44

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 17:38:43 quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:58:30

quinta-feira, 11 de março de 2021, 11:11:39 terça-feira, 9 de fevereiro de 2021, 10:42:19


Fonte: Acervo da autora (2020, 2021).
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APÊNDICE B – Entrevista em pautas com Adriana Nunes

Nome da entrevistada: Adriana Nunes


Cargo: Coordenadora do Parque Estadual do Rio Vermelho
Local: Parque Estadual do Rio Vermelho
Data e hora: 19/01/2021 às 14h
Metodologia: Entrevista em pautas.

Camila: Quais são os espaços essenciais para um parque?


Adriana: Centro de visitantes, setor administrativo, auditório, museu, alojamento de pesquisas
e estacionamento.
Camila: O que melhor funciona no parque?
Adriana: A principal potencialidade é a participação da comunidade. Outro fator que funciona
muito bem é a capitação de recursos através das ONGs como no Centro de Triagem de Animais
Silvestres- CETAS e a Associação R3 Animais, além dos recursos
vindos de compensações ambientais.
Camila: O que pode ou ainda será alterado?
Adriana:
• É necessária a construção de um centro de visitantes, futuramente será realizada.
• A contratação de mais funcionários para a limpeza e cuidados do parque.
• Precisa de mais vagas para estacionamento.
• O centro de triagem hoje existente não é o mais indicado para uma Unidade de Conservação,
pois os animais recuperados podem transmitir doenças.
• Existem diversos problemas nas edificações existentes, por se tratarem de construções antigas
da década de 70 e 90, não foram construídas pensando no futuro,
tendo hoje problemas com relação ao esgoto, encanamento, eletricidade, internet e outros.
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APÊNDICE C – Transcrição da entrevista a CCPontal

Nome da entrevistada: Ana Cláudia Caldas


Cargo: Presidente do Conselho Comunitário Pontal do Jurerê (CCPontal)
Local: CCPontal
Data e hora: 20/01/2021 às 9:30h
Metodologia: Entrevista semiestruturada com gravação autorizada em áudio.

Camila: Me fale um pouco sobre o Conselho Comunitário e os trabalhos que vocês


fazem.
Ana Cláudia: O centro comunitário existe desde 1995. Foi mais ou menos quando teve
essas discussões em relação à sociedade Amigos da Daniela, daí foi fundado um outro conselho.
A gente é bem atuante aqui, não só a minha diretoria, mas já desde 95 assim todas as coisas que
são feitas no balneário basicamente vêm da atividade comunitária.
O calçamento foi feito em parceria com a COMCAP, na época a COMCAP prestava
esse tipo de serviço e isso foi feito por proprietário, cada pessoa fez um contrato diretamente
com a COMCAP, e aí por isso ele ficou com várias falhas, a pessoa que não pagava, que não
aderia e ficava sem, passavam para próxima e assim ia. Tiveram vários casos, mas assim
basicamente tudo feito pela força da comunidade.
A igreja a Capela, o salão ecumênico ali atrás da capela, foi tudo construído pela
comunidade. O postinho policial lá na frente, a horta comunitária. É tudo feito bem... A gente
fez um levantamento topográfico tudo comunitariamente, o plano de drenagem
comunitariamente. A gente fez três festas e uma piscina para rifar e arrecadar o dinheiro para
custear o engenheiro. Para serem feitos os projetos de AVL, projeto padrão de AVL, também
pelo Conselho Comunitário. Tudo feito assim.
Agora a gente fez esse calçamento das ruas ali, está na segunda fase agora, a gente fez
uma parceria, nós articulamos tudo, organizamos dois coordenadores para cada rua que
precisava de calçamento, para não ter problema e intermediários com a prefeitura. A prefeitura
deu o material e os moradores pagaram mão de obra. Cerca de 16 trechos de ruas que estavam
sem calçamento.
Como já tem essa cultura aqui de participação então fica mais fácil. A gente tem a rede
de vizinhos, que é um programa da PM voltado para a segurança e articulação comunitária
realmente ele é pra isso, a própria comunidade promovendo mudanças. Antes tinham bastante
problemas de segurança, agora deu uma melhorada. Ai a gente tem em todas as ruas, todas as
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ruas são da rede de vizinhos e isso facilitou bastante essa comunicação. Tipo, a gente contratou
um estudo sobre terrenos de marinha do engenheiro Ricardo Cherne. A gente em cinco dias
arrecadou 15 mil reais, por meio das redes. Foi depositado na conta do conselho e ele entregou
agora um estudo nessa semana, que eu estou lendo, para pegar a ART. Tudo está realmente bem
legal.

Camila: Como é a utilização das áreas verdes de lazer?


Ana Cláudia: Muitas delas não têm nada, não tem acesso, até pouco tempo atrás não
tinham nem limpeza, tudo era matagal. Que também foi feito pela comunidade, o aterramento
dessas áreas, tudo foi feito... Foi feito comunitariamente na década de noventa, e aí foram feitas
todas as áreas, todas. Então ficou tudo prontinho para receber equipamentos, mas aí imagina,
um por um, o estacionamento da igreja, o parquinho das crianças. Depois teve uma parada, não
foi feito mais nada e agora já está retomando. Mas é mais trabalho, porque se fosse feito na
área, quando ela tivesse mantido limpo, tivesse feito calçadas, não tem calçada. Agora a gente
está tentando retomar, só que é um trabalho a mais que agora tem que fazer a limpeza. Essa
limpeza é feita hoje pela COMCAP e os moradores, a maioria dos moradores de cada quadra
que fazem a limpeza dela. Às vezes, quando fica muito complicado, aí a gente também
intervém, a prefeitura agora fez uns calçamentos.

Camila: Acha que a população as valoriza?


Ana Cláudia: Eu acho que durante muito tempo foi fonte de muita reclamação, por
causa dos matos. Como a gente tem essas restrições assim com relação ação civil pública,
ICMBio, durante muito tempo, não podia mexer, teve toda essa discussão sabe? Então meio
que ficou abandonado por cerca de 20 anos, não por falta de participação, mas porque as pessoas
ficavam com receio de mexer. Então quando a gente assumiu, por conta da minha formação em
advocacia, eu tinha um maior conhecimento do que pode ou não ser feito, o que facilitou a
utilização dessas áreas. As AVL, por exemplo, podem ser transformadas em ACI, se viesse um
centro de saúde pra cá, ou algo do tipo. Essas áreas são da prefeitura, a matrícula de imóvel
tudo é da prefeitura.
Na capela tem um pouco de restrição de uso, porque quem usa é a Igreja.

Camila: Como você classifica os cuidados e proteções dos animais silvestres da região?
Ana Cláudia: Não tenho o mapeamento das áreas onde estão cada animal silvestre da
região. Tinha um jacaré que se chamava Zenóbia, mas quem cuidava era o senhor Queiroz que
72

morava ao lado, ele mesmo montou um instituto e cuidava dele. Quando fecharam o zoológico
do Clube 12, trouxeram aquele jacaré pra cá.
Acontece que faleceu, no instituto de uma pessoa só, então o instituto morreu com ele.
E a Zenóbia faleceu um tempo depois, então não tem mais jacaré ali, e mesmo se tivesse, não
teríamos como cuidar, né? É muita responsabilidade e também muito custo, cada visita de um
profissional é 500 reais, então não temos interesse em promover outra coisa desse gênero não.

Camila: Você tem conhecimento sobre o terreno onde antigamente havia um clube de
nome “Sede Balneário Daniela”?
Ana Cláudia: O que eu sei é isso, que ele foram saindo, não aceitavam mais sócio, não
tinham mais interesse, mas acho muito estranho porque na adolescência e na infância toda a
gente brincava ali, tinha uma super estrutura, tinha bocha, um monte de quadras, restaurante,
salão de festa, faziam até shows ali! E hoje estão com problema judicial bem grande, estão em
briga, tem 8 sócios que dizem que era deles, tem outras pessoas que acham que é público.

Camila: Quais são os principais problemas do bairro na sua opinião?


Ana Cláudia: Drenagem e pavimentação. As ruas em que o calçamento é muito antigo,
as vezes foram feitos pelos próprios moradores, então é complicado, pode ter sido feito
inadequadamente, porque não tem drenagem, daí a água não escoa, fica empoçada.
Temos um grande problema também com relação aos canais, que ficam abertos, não
estão canalizados, então quando para de chover eles secam.
De problemas mais é isso, a drenagem e a pavimentação antiga, os jacarés que estão em
grande número, estão entrando na área urbana. Energia elétrica é um problema constante
também, principalmente no verão, a queda de luz, porque é muito antiga a instalação, é de 1972,
imagina! O projeto que era para atender as casas naquela época, não tinham condicionado, esse
tanto de aparelhos elétricos, como temos hoje.

Camila: Com qual frequência acontecem alagamentos?


Ana Cláudia: Sempre que chove. Mas não fica assim “alagamento”, sabe? Fica
empoçado. Onde fica mais tempo alagado é na rua das Papoulas, onde foi feito o asfalto, foi
feito a drenagem certinho, mas não foram feitas nas ruas adjacentes, então a água não para onde
escorrer. Não é nem pela impermeabilização do asfalto em si, é mais por isso.

Camila: Como é a consciência ambiental dos usuários do bairro?


73

Ana Cláudia: Olha, eu sou líder comunitária lá na bacia do Itacurubi também, acho que
comparado com outras regiões, a gente está muito além. Aqui se deixam um sofá um entulho
na frente de casa os próprios outros moradores já cuidam e mandam tirar. A própria limpeza
das áreas.
A proximidade com os bichos, tudo faz com que as pessoas sejam mais conscientes e
cuidem mais. Na minha casa por exemplo, tudo dia a noite tem uma coruja, constantemente
aparecem lagartos, a gralha azul.
Estamos com problemas agora com o grande número de jacarés, o fato de ter muito
alagamento, água empoçada, isso atrai eles, e eles são assim de expansão de território, faz parte
da natureza da espécie deles. Temos problema agora com o aparecimento de saguis também.
Seria legal fazer áreas mais protegidas para os jacarés. Para fazer com que as pessoas
convivam, sem medo, mas também não mexam neles. Até porque tem muita gente, muitos
turistas que jogam pedra para ver se mexerem, tem as pessoas que dão comida. A gente pede,
pede, pede e não adianta. São pessoas idosas. Daí eles acham que “tadinho” né? Daí mora do
lado de onde eles ficam, acabam se afeiçoando, entendeu? É assim. Como que eu vou ficar
brigando toda semana com a pessoa? Não dá. Falam “não, mas é só uma galinha, ele come
fácil” e assim vai. A gente briga, faz postagem, manda no grupo, mas não adianta. Eles
continuam alimentando.

Camila: Na sua opinião, quais são os benefícios e malefícios do turismo de alta


temporada aqui na Praia da Daniela?
Ana Cláudia: De benefício só o dinheiro.

Camila: Quais os malefícios?


Ana Cláudia: No verão vem muita gente e o bairro não tem estrutura para isso. A gente
sofre bastante com a desordem do trânsito, muito desordenado. A gente já tem pedidos para a
prefeitura de proibir estacionar de um lado, pois tem o ônibus e o caminhão de lixo que ficam
com dificuldade para passar. Se ficasse um lado proibido, além de limitar o número, você
também consegue fazer com que usem a praia inteira e não se concentrem só na entrada.
Se você vai restringindo e ordenando, vai informando, naturalmente as pessoas vão indo
para as outras áreas da praia, né? Porque a maioria nem sabe que tem essas outras áreas de
estacionamento. Daí claro, ocorrem muitos danos porque é muita gente, agora se você distribui
esse fluxo, já melhora. Já conseguimos placas em alguns lugares, nas pontas a gente conseguiu.
Mas o ideal seria que fossem todos.
74

Tem a zona azul de temporada que já temos um pedido na prefeitura também. Daí coloca
só na temporada, fica um lado proibido estacionar e na outra a zona azul.
Muitos turistas vêm para cá para trabalhar, pois não vão embora. Alugam uma casa para
30 pessoas, para trabalhar de ambulante, tem várias coisas que acontecem assim que não é legal.
Tem esses problemas assim, daí a gente vai trabalhando com a prefeitura, tem a fiscalização, aí
vem a guarda, vem a PM, tem bastante fiscalização. Temos uma proximidade com eles assim,
é bem legal.

Camila: Existe alguma carência/ demanda dos moradores e do centro comunitário de


espaços aqui no bairro?
Ana Cláudia: Olha, se você projetasse um centro de convivência, eu iria ficar bem feliz.
Temos pessoas que tem interesse em ter um espaço para fazer aulas de yoga, tem muitos pedidos
de área para atividades. Tem um senhor que faz esculturas em madeira, tem 4 fotógrafos que
moram aqui. Recebi pedidos também de quadra para Beach Tennis. Porque tem demanda, tem
demanda e tem participação.
Quando assumimos aqui a gente fez, lá atrás, construiu uma parte com depósito para a
horta, que eles não tinham onde colocar as coisas lá. Tem uma pessoa da COMCAP que trabalha
aqui todo dia também, ele é praieiro e cuida das áreas verdes. E aí também ele não tinha
material, fizemos ali um cantinho para ele também.
Aqui só dá para ser administrativo. Não tem espaço nem para reunião direito. Tem a
biblioteca comunitária também, a biblioteca hoje tem quase 3 mil livros. Antes tinha um pouco
menos de mil. Mas, porque? A gente abriu, antes tinha fichinha, a estagiária ficava ligando.
Então o que a gente fez, deixou livre, as pessoas trazem livros para doar, levam, não tem mais
controle e deu super certo.
Nessa área em frente ao CCPontal meu sonho é fazer um bosque do Monteiro Lobato,
daí colocar umas plaquinhas, colocar os bichinhos que tem do sítio do pica-pau amarelo, a Cuca
que tem a ver com os jacarés, tudo simples. Daí precisa dos voluntários, alguém para coordenar.
O conselho tem dinheiro para contratar um técnico, por exemplo, um biólogo para escrever as
plaquinhas da fauna e da flora, mas quem executa são sempre os voluntários, criam-se equipes,
com coordenadores.
Única coisa que eu acho que pode complicar, para ser executado é a ideia de Parque
Ecológico. Porque isso é instituindo por lei municipal, estadual ou federal. Aí você cria diversas
restrições ali.
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APÊNDICE D – Questionário on-line Praia da Daniela

Data de realização: 08/01/2021 à 08/02/2021.


Número de respostas: 391.
Plataforma: Google Forms.

1. Qual é a sua faixa etária?


até 15 anos
mais de 60 anos
45 a 59 anos
16 a 24 anos
25 a 34 anos
35 a 44 anos

0 20 40 60 80 100 120
35 a 44 25 a 34 16 a 24 45 a 59 mais de até 15
anos anos anos anos 60 anos anos
RESPOSTA 98 53 27 114 98 1

2. Qual o seu grau de escolaridade?


6

70

315

Ensino superior Ensino médio Ensino fundamental

3. Você possui alguma deficiência? Resposta

Não 368
Sim, de ordem física 13
Sim, de ordem mental 1
Sim, de ordem visual 6
Sim, de ordem auditiva 2
Sim, de ordem múltipla 1
76

4. Com que frequência visita o bairro?

Apenas durante o verão.


17
24 59
Todos os dias, sou
47 morador.
Aos finais de semana.
27
Aproximadamente uma
vez ao mês.
150
67 Poucas vezes ao ano.

Visitei uma ou poucas


vezes.

5. Você sabia que existem cerca de 30 Áreas Verdes de


Lazer no bairro?

91
117

183

Não, desconheço. Sim, conheço algumas. Sim, conheço todas ou a maioria delas.

6. Você já visualizou no bairro algum animal silvestre,


como o jacaré-de-papo-amarelo ou a coruja
buraqueira?

46
23
23
322

Sim, já visualizei. Sei que existe, mas nunca os vi. Não, nem sabia da existência.
77

7. Quais atividades/equipamentos urbanos que você


RESPOSTAS
teria interesse em realizar/utilizar nessas áreas?
Um percurso para caminhadas ao ar livre. 289

Local seguro com relação aos animais silvestres. 310

Caminho com placas informativas sobre a fauna e flora. 235

Bancos e lixeiras. 253

Local sombreado/arborizado para piquenique e/ou outras atividades. 245

Nada, gosto de como está. 28

Ciclovia 28

Outros:

Locais para prática esportiva 4

Maior segurança, câmeras, iluminação 2

Pomar / Árvores frutíferas 3

Maior manutenção e limpeza 2

Padronização, maior integração entre as áreas. 2

Preservação permanente da mata nativa 1

Mais academias ao ar livre 3

Mais parques infantis 2

Espaço coberto para leitura 1

O problema das AVLs do bairro é não terem manutenção regular,


com o mato alto ficam com aspecto de sujas, convidando ao descarte 1
de lixo e gerando insegurança

Arrumar canalização que é um deposito de dengue 1

8. Sobre essas áreas, como você as classifica?

Péssimo

Não conheço

Muito boa

Indiferente, não utilizo

Ruim

Regular

Boa

0 20 40 60 80 100 120 140


78

9. Sobre a acessibilidade de todas as áreas públicas do


bairro, de 0 a 5, como você as classifica?
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4 5 6

10. Você visitaria um Parque Ecológico no bairro


Daniela?

32
33

326

Sim Não Talvez

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