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Revista de

Direito Econômico e
Socioambiental
ISSN 2179-8214

Licenciado sob uma Licença Creative Commons

REVISTA DE DIREITO
ECONÔMICO E
SOCIOAMBIENTAL
vol. 11 | n. 2 | maio/agosto 2020 | ISSN 2179-8214
Periodicidade quadrimestral | www.pucpr.br/direitoeconomico
Curitiba | Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCPR
Revista de
Direito Econômico e
doi: 10.7213/rev.dir.econ.soc.v11i2.26872 Socioambiental
ISSN 2179-8214
Licenciado sob uma Licença Creative Commons

A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o


marco regulatório das energias renováveis e o
princípio do desenvolvimento sustentável

The sustainability of the Brazilian energy matrix: the regulatory


framework for renewable energies and the principle of
sustainable development

Andreas Joachim Krell*


Universidade Federal de Alagoas (Brasil)
akrell@uol.com.br

Carolina Barros de Castro e Souza**


Université de Strasbourg (França)
carolinabarroscs@gmail.com

Recebido: 31/03/2018 Aprovado: 23/06/2020


Received: 03/31/2018 Approved: 06/23/2020


Como citar este artigo/How to cite this article: KRELL, Andreas Joachim; SOUZA, Carolina Barros de
Castro. A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório das energias
renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável. Revista de Direito Econômico e
Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020 doi:
10.7213/rev.dir.econ.soc.v11i2.26872

*
Professor Titular de Direito Ambiental e Constitucional dos Cursos de Graduação e Mestrado da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas (Maceió-AL, Brasil). Coordenador do Mestrado
em Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas. Professor permanente do PPGD
da Faculdade de Direito do Recife. Doctor Juris da Freie Universität Berlin (Alemanha). Pesquisador
Bolsista do CNPq (PQ - Nível 1A). E-mail: akrell@uol.com.br
**
Mestranda em Direito Internacional na Université de Strasbourg (Strasbourg, França). Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas. Advogada. E-mail:
caolinabarroscs@gmail.com

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Resumo
O artigo tem como objetivo analisar os aspectos jurídicos do panorama regulatório da matriz
energética brasileira no contexto de intensa preocupação da comunidade internacional com
o meio ambiente, questionando se a referida matriz pode ser considerada “sustentável”. Fixa-
se um parâmetro de sustentabilidade para estudar as leis que compõem o marco regulatório
nacional das energias renováveis. Essas são cotejadas com as políticas públicas de promoção
da energia limpa, para verificar a sua compatibilidade. Revela-se que a fonte de energia
hidráulica, por si só, não pode garantir o caráter de sustentabilidade à matriz energética
brasileira. Apesar dos esforços empreendidos para diversificar a política energética nacional,
ainda se está longe de atingir uma dinâmica coerente, sobretudo em razão do caráter de
complementaridade que incide sobre as fontes de energias renováveis no Brasil. Torna-se
evidente que a divergência entre a legislação e a realização de políticas públicas enseja a
violação de direitos fundamentais. Por fim, são avaliadas as possibilidades de uma política
energética mais limpa, o que requer uma nova interpretação do desenvolvimento
sustentável, a incorporação de uma racionalidade socioambiental na legislação e a elaboração
de políticas públicas.

Palavras-chave: matriz energética brasileira; desenvolvimento sustentável; direitos


fundamentais; energias renováveis; políticas públicas.

Abstract
This paper aims to analyze the legal aspects of regulation regarding the Brazilian energy grid,
in a context of a great concern from the international community with the environment,
questioning whether the Brazilian energy matrix really can be considered as sustainable. First,
a sustainability parameter is set as the basis for study the laws that make up the national
regulatory framework for renewable energies. These are compared with public policies to
promote clean energy to verify their compatibility revealing that the source of hydraulic
energy, by itself, cannot guarantee the sustainability character of the Brazilian energy matrix.
Despite the efforts made to diversify national energy policy, we are still far from achieving a
coherent dynamic, mainly because of the belief that renewable energy sources are only
complementary in Brazil. It becomes clear that the divergence between legislation and the
implementation of public policies means the violation of fundamental rights. Finally, the
possibilities for a cleaner energy policy are assessed; these must undergo a new interpretation
of sustainable development and the incorporation of a socio-environmental rationality both in
terms of legislation and public policy making.

Keywords: Brazilian energy matrix; sustainable development; fundamental rights; renewable


energies; public policies.

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Sumário
1. Introdução. 2. O desenvolvimento sustentável no direito brasileiro. 2.1. O conteúdo do
princípio do desenvolvimento sustentável. 2.2. As críticas dirigidas ao conceito do
desenvolvimento sustentável. 2.3. O direito fundamental ao desenvolvimento sustentável;
2.3.1. A concretização pela doutrina brasileira. 2.3.2. A virada da posição do Supremo Tribunal
Federal referente ao direito ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. 3. A
sustentabilidade da matriz energética brasileira. 3.1. A importância da energia limpa no Brasil.
3.2. O marco regulatório e as políticas públicas de promoção da energia limpa no Brasil:
PRODEEM, PROINFA e PNPB. 4. Os desafios das energias renováveis no Brasil; 5. Propostas
para a solução do problema. 6. Conlusão.

1. Introdução

O primeiro alerta para a insustentabilidade do sistema econômico


industrial foi dado na década de 70. Desde então, a comunidade
internacional vem se reunindo para debater sobre questões ambientais
como as mudanças climáticas e o nível de emissões de gases estufa,
resultado do modelo energético global baseado na exploração de
combustíveis fósseis. É praticamente um consenso que o desenvolvimento
dos países deve considerar a recuperação e a preservação do meio ambiente,
pois a atual forma não se sustentará por muito tempo.
No momento, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA,
2017), a energia renovável representa apenas 1,5% da geração de energia
global, que, somado à contribuição da energia hidráulica, totaliza 4%
(nuclear: 4,9%; biomassa: 9,7%; gás natural: 21,6%; petróleo e derivados:
31,7%; carvão: 28,1%). Isso significa que ainda há um grande espaço a ser
desbravado pelas energias renováveis, porquanto se está bem longe de
alcançar os objetivos firmados em acordos internacionais para reduzir a
emissão de CO2.
Em 2017, a matriz energética do Brasil – que inclui as fontes de energia
destinadas a transportes, geração de eletricidade e para cozinhar alimentos
– foi composta quase pela metade (42,9%) por fontes renováveis (EPE,
2018).1 Na matriz elétrica, que abrange apenas as fontes utilizadas para gerar
energia elétrica, o país chegou, em 2017, à alta cifra de 80,3% de fontes

1Fontes renováveis (42,9%): derivados da cana (17%); energia hidráulica (12%); lenha e carvão vegetal
(8%); lixívia e outras renováveis (5,9%). Fontes não renováveis (57,1%): petróleo e derivados (36,4%); gás
natural (13%); carvão (5,7%); nuclear (1,4%); outras não renováveis (0,6%).

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renováveis (hidroelétricas: 65,2%; biomassa: 8,2%; energias eólica e solar:


6,9%), 2 o que se deve, sobretudo, à quantidade de bacias hidrográficas
espalhadas pelo território nacional.
Entretanto, o fato de o consumo de energias renováveis no Brasil ser
bem maior que no resto do mundo (14%) não anula as críticas acerca da
sustentabilidade do modelo energético adotado pelo país, que assumiu o
compromisso internacional de reduzir as emissões de gases de efeito estufa
e de aumentar o uso de energias renováveis em 18% até 2030 (BRASIL,
2015).
Ademais, pesquisas preveem o aumento do consumo de energia
elétrica e advertem sobre a demora no desenvolvimento da oferta
energética brasileira, o que poderia provocar uma crise similar à de 2001-02,
quando a falta de investimentos no setor da energia somada à crise hídrica
levou o Governo federal à implantação de uma rigorosa política de
racionamento, a fim de evitar o colapso da oferta de energia. Ainda é pouco
expressiva a participação da energia eólica e solar na matriz energética
nacional, embora o potencial energético seja altíssimo.
As consequências do debate acerca da sustentabilidade dos recursos
energéticos vão além dos limites da oferta energética, abrangendo a própria
dinâmica econômica e ambiental. Como o Direito deve estar preparado para
as crises do modelo econômico, é imprescindível que o conceito de
desenvolvimento sustentável seja bem definido, fixando-se os seus
contornos e a extensão de seus efeitos no ordenamento jurídico. Esse
trabalho procura delimitar o desenvolvimento sustentável a fim de fazer
sobressair os aspectos da sustentabilidade e da responsabilidade ambiental,
sem olvidar os elementos econômicos e sociais que o compõem.
A partir da Constituição Federal de 1988, que confere alto grau de
proteção ao ambiente natural, pode-se fixar o conceito de direito
fundamental ao desenvolvimento sustentável, não apenas como
prerrogativa, mas como dever, pois impõe ao Poder Público e à coletividade
o dever de defender e preservar o meio ambiente (art. 225 CF). Como a
questão do desenvolvimento sustentável depende de seu marco regulatório,
o estudo da sustentabilidade da matriz energética brasileira deve analisar os
mecanismos jurídicos que possam efetivar a promoção da energia limpa,
ainda que existam omissões e imperfeições técnicas. Ademais, serão

2 As fontes não renováveis (19,7%) da matriz elétrica são: gás natural (10,5%); carvão (4,1%); nuclear
(2,6%); petróleo e derivados (2,5%).

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analisadas as diretrizes e políticas energéticas adotadas pelo Executivo, e


discutidos os desafios ligados ao fortalecimento das energias renováveis no
Brasil.

2. O desenvolvimento sustentável no direito brasileiro

2.1. O conteúdo do princípio do desenvolvimento sustentável

Muito se tem escrito sobre os princípios no Direito brasileiro. Em


virtude da sua imprecisão, eles podem ser utilizados para justificar quase
qualquer decisão, privilegiando as convicções individuais do intérprete, em
detrimento do seu verdadeiro significado (SUNDFELD, 2014, p. 205ss.).
São onipresentes nas mídias e nas publicações acadêmicas os termos
sustentabilidade e sustentável. Trata-se de uma etiqueta que, uma vez
colada a produtos, confecções, economias e processos de gestão, agrega-
lhes valor. O que ocorre com frequência é o “pintar de verde” (greenwash),
a falsa sensação ecológica utilizada para ocultar as agressões à natureza. Por
isso, impõe-se um senso crítico mais apurado para saber o que é sustentável
(ou não).
Misturar os termos princípio e sustentabilidade gera tamanha
amplitude que torna impossível a imediata revelação da norma que o
princípio do desenvolvimento sustentável contém. Para extrair os seus
efeitos normativos, é imperioso que o Direito construa esse significado e
defina a extensão dos efeitos, para além da fixação de conceitos
demasiadamente abertos por autores e instituições pertencentes a outras
áreas das ciências. É preciso, portanto, delimitar melhor o conceito de
desenvolvimento sustentável, a fim de defender a existência de um direito
fundamental a ele inerente, que poderia vincular os parlamentos e os órgãos
de governo e da Administração Pública àquele modelo, inclusive no que diz
respeito à matriz energética brasileira.
O princípio do desenvolvimento sustentável é oriundo da fusão de
dois princípios jurídicos: o direito ao desenvolvimento e o da preservação do
meio ambiente (VARELLA, 2004, p. 5s.). A sua terminologia surge a partir da
Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo
(1972). Em 1987, o Relatório Brundtland, visando conciliar o crescimento
econômico e a preservação do meio ambiente, conceituou o
desenvolvimento sustentável como aquele que corresponde às necessidades

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atuais sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de fazerem o


mesmo.
Já na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (ECO-92), o tema discutido foi a relação entre o meio
ambiente e o desenvolvimento, mormente em virtude do reconhecimento
da insustentabilidade do atual modelo econômico, em que o crescimento
desordenado causou o aumento da degradação dos recursos naturais.
Durante a Conferência “Rio +5” (1997), a importância das relações sociais,
dos direitos humanos e da democracia foi associada à discussão econômica,
e o conceito de desenvolvimento sustentável passou a priorizar o
desenvolvimento qualitativo, representando a soma dos elementos
ambiental, econômico e social.
No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) foi a
responsável por introduzir a noção de desenvolvimento sustentável à
legislação pátria, normatizando, no seu art. 4º, I, “a compatibilização do
desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio
ambiente e do equilíbrio ecológico”. Mais recentemente, a Política Nacional
de Mudança do Clima (Lei nº 12.187/09) estabeleceu que o princípio do
desenvolvimento sustentável deve ser observado pelos gestores públicos,
que têm o dever de atuar em benefício das presentes e futuras gerações (art.
4º, I-II), visando reduzir os impactos causados pelo homem sobre o sistema
climático, bem como destacou que o desenvolvimento sustentável é
condição indispensável ao enfrentamento das alterações climáticas (art. 4º,
IV).
Winter (2009, p. 2ss.) critica o conceito de desenvolvimento
sustentável que se resume à junção de três pilares (bem-estar social,
economia e meio ambiente) e à afirmação de sua equivalência, uma vez que
o desenvolvimento socioeconômico é sustentado por sua base, a biosfera,
que possui fundamental importância para a vida dos seres humanos. Estes
devem respeitar as limitações da natureza enquanto a exploram, já que
possuem os conhecimentos necessários para fazê-lo. Assim, o conceito
apropriado de desenvolvimento sustentável seria aquele que se sustenta
sobre dois pilares e um fundamento que o apoia.
Para o autor, o modelo dos três pilares (triple bottom line, de
Elkington), que mede a sustentabilidade do desempenho das corporações
nas dimensões social, econômica e financeira (SLAPER; HALL, 2011, p. 4s.), é
imprudente, pois sacrifica a natureza em nome da economia ou para

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privilegiar interesses sociais em curto prazo. Interesses estes que no longo


prazo seriam altamente destrutivos para a própria sociedade e sua
economia. Caso o princípio do desenvolvimento sustentável fosse assim
definido, ele poderia ser utilizado para “colorir de verde” (greenwash)
qualquer decisão (WINTER, 2009, p. 5s.).
Antunes (2005, p. 17ss.), por sua vez, entende que a razão de ser do
Direito Ambiental é o ser humano. Para tanto, o desenvolvimento seria
essencial, mas não se realizado de forma ilimitada. Nesse sentido, parece
lógico que a proteção ao meio ambiente será inútil se não for atrelada a uma
maior distribuição de renda, já que os principais problemas ambientais se
encontram nas áreas mais pobres e as maiores vítimas das condições
ambientais precárias são os setores mais vulneráveis da sociedade. Logo, o
direito ao desenvolvimento não se opõe ao direito ao meio ambiente
saudável; na verdade, são direitos complementares e indissociáveis.
É importante entender que o termo desenvolvimento envolve
melhoria, mudança, movimento. Não se confunde com crescimento
econômico, pois os seus objetivos vão além da mera multiplicação de riqueza
material. O crescimento é necessário, mas não pode ser um objetivo em si
mesmo, e tampouco considerado suficiente para alcançar uma vida melhor.
O desenvolvimento é um direito humano de terceira geração, ao lado dos
direitos coletivos ao meio ambiente, de modo que a igualdade, a equidade e
a solidariedade estão a ele agregados. Assim, o seu objetivo maior não seria
maximizar o PIB, mas reduzir as desigualdades a fim de diminuir a pobreza.
Desenvolvimento, portanto, seria o processo histórico pelo qual os povos se
apropriam de seus direitos (SACHS, 2008, p. 13s.).
Já a ideia de sustentabilidade ambiental é composta por três
elementos: o tempo, a duração de efeitos e a consideração do estado do
meio ambiente em relação ao presente e ao futuro. A harmonização desses
conceitos é tão difícil na teoria quanto na prática (CUNHA JR., 2013, p. 1.236).
Por vezes, os aspectos econômicos foram privilegiados em detrimento do
meio ambiente; por isso, o maior desafio da concepção de desenvolvimento
sustentável é o de conciliar a preservação dos recursos ambientais e o
desenvolvimento econômico.
A sustentabilidade ambiental é um princípio segundo o qual há de se
garantir uma condição de vida mais digna para as pessoas cujas atuais
condições são inaceitáveis, ao passo que o esgotamento dos recursos
naturais não é uma opção. O desenvolvimento sustentável não se limita a

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um equilíbrio entre as questões ecológica e econômica, mas de todos os


elementos que compõem o meio ambiente, incluindo não somente os
naturais, assim como os artificiais e culturais (CUSTÓDIO; VIEIRA, 2015).
Para Sachs (2000, p. 50ss.), na Conferência de Estocolmo surgiu uma
alternativa entre os extremos do “economicismo arrogante” e do
“fundamentalismo ecológico”. O primeiro alegava que o crescimento
sempre iria oferecer soluções técnicas, razão por que o meio ambiente não
deveria ser uma preocupação de peso. Já o segundo anunciava o apocalipse
caso o crescimento econômico e demográfico não fosse contido. O caminho
do meio seria o desenvolvimento sustentável. A suspensão do crescimento
econômico não era negociável, pois pioraria a situação – já inaceitável – dos
mais pobres. Assim, a conservação do meio ambiente não podia levar ao não
uso dos recursos naturais, mas apenas a um aproveitamento racional desses
recursos como componente da própria estratégia de desenvolvimento.
Segundo Sachs (2004, p. 15), seriam cinco as dimensões do
desenvolvimento sustentável: social, econômica, ambiental, espacial e
política. A transição para um mundo sustentável exige progresso em todas
essas frentes, de forma simultânea. Entre essas dimensões, o autor destaca
a sustentabilidade social em virtude da probabilidade de um colapso social
acontecer antes mesmo de uma catástrofe ambiental. Para ele, o
desenvolvimento sustentável era incompatível com o livre jogo econômico,
pois “os mercados são por demais míopes para transcender os curtos prazos,
e cegos para quaisquer considerações que não sejam lucros e a eficiência de
alocação de recursos”. Daí ser necessário aproveitar a natureza de forma
sensata, a fim de construir uma boa sociedade (SACHS, 2000, p. 70ss.).
O aspecto do desenvolvimento sustentável que mais chama atenção é
a sua feição ambiental. A quantidade de seres humanos e a produção
econômica se tornaram tão altas que os seus efeitos no planeta são
devastadores. Pela primeira vez na história, uma espécie está ameaçando
uma parte fundamental da dinâmica mundial – o sistema climático, o ciclo
da água, do nitrogênio e dos oceanos. A economia mundial produz uma
receita de 80 a 90 trilhões de dólares por ano, e continua a se expandir. Como
resultado disso, a água, a energia e as terras utilizadas para alimentar as
pessoas, os produtos químicos e a poluição causada estão levando a uma
crise ambiental sem precedentes. Um dos fatores determinantes das
mudanças climáticas é o imenso consumo de combustíveis fósseis, como
carvão, petróleo e gás natural (SACHS, 2019, p. 18).

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Nessa perspectiva, analisar o posicionamento do Legislador


Constituinte brasileiro e do Supremo Tribunal Federal é de fundamental
importância, a fim de verificar se o ordenamento jurídico do país está
inserido no contexto mundial de preocupação com o meio ambiente.
Também deve ser analisado o que o Estado brasileiro tem feito para
compatibilizar a matriz energética às necessidades modernas, ao seu próprio
ordenamento jurídico e aos compromissos internacionais assumidos. Antes,
contudo, serão apresentadas as críticas dirigidas ao desenvolvimento
sustentável.

2.2. As críticas dirigidas ao conceito do desenvolvimento sustentável

Neste ponto, é preciso discutir algumas críticas que pairam sobre as


interpretações atribuídas ao desenvolvimento sustentável, a fim de afastá-
las e assegurar uma maior robustez do conceito.
Para Lélé (1991, p. 607ss.), o desenvolvimento sustentável teria se
tornado uma expressão da moda que todos respeitam, mas que ninguém se
importa em definir, o que impediria a verificação de se as políticas adotadas
sob esse pretexto possuem, de fato, um viés ambiental e social em prol do
desenvolvimento. Segundo ele, os objetivos do desenvolvimento sustentável
foram mal conceituados e operacionalizados, visto que são quase iguais aos
tradicionais que minaram os recursos naturais, provocando efeitos
devastadores. Assim, seria equivocada a premissa da superação da pobreza
como condição da sustentabilidade ecológica, já que os pobres não teriam
como abandonar essa condição sem atacar o meio ambiente. Na realidade,
a pobreza e a degradação ambiental resultariam do tipo de desenvolvimento
praticado, sendo necessário mudar a qualidade do crescimento econômico
para afastar a destruição ambiental.
Redclift (1984) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável
baseia-se no alcance do nível de desenvolvimento dos países desenvolvidos,
fundamentado num alto consumo de energia e, portanto, insustentável a
médio e longo prazo. Antes, cada sociedade deveria se estruturar em termos
próprios de sustentabilidade, respeitando sua cultura, história e composição
étnica, definindo seu padrão de consumo. Assim, o termo “sociedade
sustentável” seria mais adequado que “desenvolvimento sustentável”.

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Rattner (1999, p. 233ss.), por sua vez, sustenta que a imprecisão do


conceito de sustentabilidade reflete a inércia e a indecisão das elites em
definir um plano de ação que incorpore as críticas direcionadas ao modelo
tradicional de desenvolvimento, ainda preponderante. Dessa forma, os
atores que estão no poder acabam impondo suas visões acerca do tema da
sustentabilidade, interferindo nos movimentos sociais, nas ONGs e até
mesmo nas diretrizes governamentais.
Outros autores entendem que a lógica do desenvolvimento
sustentável seria uma utopia, pois busca preservar a natureza sem
reconhecer a necessidade de se limitar o consumo e a expansão econômica.
Para eles, esse modelo não questiona o mercado como fator determinante
da atividade produtiva, bem como ignora a organização do capitalismo,
baseada em princípios desiguais e sem compromisso com a justiça social
(VIZEU et al., 2012). Assim, a ideia do desenvolvimento sustentável seria
apresentada sem associação com seus limites e sua relação com o real.
Entretanto, a grande maioria doutrinária reconhece a utilidade da
discussão sobre o conceito do desenvolvimento sustentável, na medida em
que este incluiu o tema da equidade social, discutindo a necessidade de as
futuras gerações terem acesso aos recursos naturais finitos. Além disso, o
conceito trouxe à mesa das negociações as implicações ambientais,
amplamente desconsideradas no passado (BARONI, 1992, p. 14ss.).
No fundo, as críticas se dirigem ao próprio conceito de três pilares de
desenvolvimento sustentável, oriundo do Relatório Brundtland e já
contestado por outros autores. Apesar de este modelo conectar a sociedade,
a economia e a natureza, sugerindo o balanço dos três elementos em caso
de conflitos, ele pode levar a um julgamento inadequado acerca do peso do
elemento natureza, permitindo o seu sacrifício em favor da economia ou de
outros interesses ditos sociais, que, no longo prazo, podem ser
autodestrutivos. Por isso, ele deve ser superado pelo conceito de dois
pilares, segundo o qual a humanidade é suportada pela biosfera e pelos
recursos renováveis, que não devem ser utilizados além de sua taxa de
reprodução, respeitando-se a capacidade de absorção de poluentes do meio
ambiente (WINTER, 2009).
Este debate acerca dos conflitos sociais e econômicos causados pelo
uso dos recursos naturais é a chave para uma melhor definição do próprio
conceito do desenvolvimento sustentável.

2.3. O direito fundamental ao desenvolvimento sustentável

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2.3.1. A concretização pela doutrina brasileira

A Constituição Federal (CF) de 1988 representou uma “virada


ecológica” para o ordenamento jurídico brasileiro, por ter centralizado os
valores e direitos ecológicos em seu texto. A proteção do meio ambiente
passou a integrar a estrutura normativa constitucional mediante a inserção
do artigo 225 no texto da Lei Maior, que atribuiu ao direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado o status de direito-dever fundamental.
Assim, o art. 225 CF assume função de uma tarefa estatal e, ao mesmo
tempo, de um direito e dever fundamental do indivíduo e da coletividade,
ensejando um complexo de direitos e deveres de cunho ecológico (SARLET;
FENSTERSEIFER, 2017, p. 122). A norma leva a uma responsabilidade social
que estabelece para o Estado o dever de produzir normas e adotar medidas
que viabilizem a colaboração e a participação social nas decisões relativas às
questões ambientais, impondo ao Poder Público a adoção de políticas
públicas voltadas ao equilíbrio ambiental e ao desenvolvimento (CUNHA
JUNIOR, 2013).
O art. 170 CF 3 incluiu no rol dos princípios norteadores da ordem
econômica a defesa do meio ambiente, consagrando a preocupação do
legislador na formação da economia nacional em um modelo econômico
sustentável. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento estabelece no seu Princípio 4º que, “para alcançar o
desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte
integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada
isoladamente deste”. Destarte, o desenvolvimento sustentável constitui
uma “meta de política econômica” que deve ser concretizada mediante a
promulgação de normas de proteção ao meio ambiente. Entendido assim, “o
desenvolvimento sustentável não constitui uma norma jurídica suscetível de
coação, ao contrário das normas ambientais” (PASSEGGI, 2009).
Como resultado, o direito ao meio ambiente equilibrado, a sua defesa
como princípio constitucional econômico e o desenvolvimento sustentável

3 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (...).

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são intrinsecamente ligados, pois é a harmonização desses direitos que


viabiliza a utilização racional dos recursos naturais, conservando a
preservação ecológica e possibilitando o desenvolvimento econômico-social
do país (CUSTODIO; VIEIRA, 2015). Considerando essa perspectiva, o direito
fundamental ao meio ambiente equilibrado corresponde a um dever
fundamental de preservá-lo em prol das gerações presente e futuras.
Ter direito ao meio ambiente corresponde a um direito ao não
desequilíbrio deste, o que não significa uma estabilidade absoluta, em que
nada se altere, mas se traduz no desafio científico, social e político de aferir
se as mudanças são positivas ou negativas. É o Direito Ambiental que deve
identificar as situações que conduzem as condições naturais a uma maior ou
menor estabilidade, com o fim de apresentar regras para prevenir, evitar
e/ou reparar o desequilíbrio.
Os deveres fundamentais atinentes ao meio ambiente, uma vez
descumpridos, inviabilizam o direito fundamental ao desenvolvimento
sustentável. A Constituição não utiliza o termo desenvolvimento sustentável
de forma expressa, mas, uma vez instituídos o direito ao meio ambiente, o
dever de defender e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, bem
como o modelo econômico pautado pela defesa ambiental, está instituído,
implicitamente, o direito fundamental ao desenvolvimento sustentável (
MACHADO, 2013). Este direito também representa um princípio da
ordem constitucional brasileira, no sentido de que as normas da legislação
ordinária de todos os níveis federativos devem ser interpretadas de acordo
com a sua axiologia. (COSTA NETO, 2003, p. 102ss.).
No caso dos direitos fundamentais difusos, existem espaços mais
abrangentes que o legislador deve preencher para concretizá-los, já que sua
densidade mandamental é menos expressiva do que a dos direitos
individuais de liberdade. O art. 225 estatui um direito de aplicação imediata
(art. 5º, § 1º), vinculando todas as entidades públicas e privadas; sua
regulamentação por lei ordinária ajuda apenas na densificação da
exequibilidade deste direito. A consagração constitucional do direito ao
ambiente tornou possível a anulação (ou não aplicação) de normas jurídicas
contrárias a tal objetivo (MOURA JR., 2007, p. 794s.).
A elevada posição hierárquica deste direito ao ambiente também
obriga à (re)leitura das normas legais e deve ser considerada no
sopesamento de interesses conflitantes. Nenhum agente, público ou
privado, pode tratá-lo como “valor subsidiário, acessório, menor ou

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 169

desprezível” (BENJAMIN, 2007, p. 81, 98). Assim, ele reduz o espaço de livre
conformação do legislador ordinário em todos os níveis federativos na
formulação de normas sobre o assunto e constitui um dado importante para
a interpretação adequada das leis ordinárias e do exercício correto dos
espaços de poder discricionário pelos órgãos administrativos. Na formulação
de políticas públicas, o Poder Público deve optar pela alternativa menos
gravosa às condições ambientais ou até vetar a realização de projetos e
atividades contrários a este valor.
O direito ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável leva a
uma “proibição de retrocesso ambiental”, vetando ao poder estatal tomar
medidas que diminuam o nível de proteção normativa, uma vez alcançado,
independentemente do instrumento jurídico de regulação (cf. AYALA, 2011,
p. 256ss.). Por fim, ele concede ao cidadão o direito a um “mínimo existencial
ecológico”, que é judicialmente exigível; seus limites devem ser definidos,
em cada caso concreto, mediante o emprego do método de ponderação das
posições jurídicas, bens e interesses envolvidos, a partir dos princípios da
integração e da máxima efetividade (SARLET; FENSTERSEIFER, 2014, p.
123ss.).
A força de indução das normas constitucionais para um uso mais
intenso das energias renováveis no Brasil dependerá em grande medida da
eficiência dos instrumentos utilizados na formulação e na implantação das
respectivas políticas públicas. Outros importantes fatores são as
competências constitucionais legislativas (art. 22, 24 CF) e administrativas
(art. 23 CF) a respeito dessas políticas, os meios de tributação em relação às
diferentes fontes energéticas e os instrumentos de coordenação previstos
na Ordem Econômica e Financeira constitucional (LANZILLO; XAVIER, 2009,
p. 8ss.).

2.3.2. A virada da posição do Supremo Tribunal Federal referente o direito


ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável

O Supremo Tribunal Federal (STF), em 1995 (MS 22.164/SP),


consagrou o direito ao meio ambiente como um direito fundamental. Em seu
voto condutor, o ministro Celso de Mello proclamou que se tratava “de um
típico direito de terceira geração que assiste, de modo subjetivamente
indeterminado, a todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a
especial obrigação – que incumbe ao Estado e a toda a coletividade – de

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


170 KRELL, A. J.; SOUZA, C. B. C.

defendê-lo e de preservá-lo em benefício da presente e das futuras gerações.


Em 2005, o mesmo ministro afirmou que a tensão entre os valores
constitucionais do desenvolvimento nacional e da preservação ambiental
teria de ser superada mediante a ponderação concreta dos interesses e
direitos conflitantes, com o fim de harmonizá-los, “tendo-se como vetor
interpretativo (...) o princípio do desenvolvimento sustentável”, que
possuiria “caráter eminentemente constitucional”.
Registre-se que o STF reconheceu a titularidade subjetiva coletiva para
a tutela do meio ambiente, assim como a sua natureza jurídica na condição
de bem e valor constitucionalmente protegido. Assim, também para o STF,
existe um dever fundamental de proteção do meio ambiente, oriundo do art.
225 CF, que vincula o Estado, a coletividade e o particular (WEDY, 2017).
Observe-se, ainda, o reconhecimento do princípio constitucional do
desenvolvimento sustentável, legitimado pelos compromissos
internacionais assumidos pelo país e que representa o justo equilíbrio entre
economia e ecologia, sendo aquela subordinada a esta, e não podendo o seu
conteúdo essencial (a preservação do meio ambiente) ser esvaziado em
quaisquer hipóteses.
No entanto, apesar desses marcantes posicionamentos, o STF tem se
manifestado, ultimamente, de forma retrógrada, como num julgamento de
2015 (RE 586.224/SP), em que declarou inconstitucional uma lei local que
proibia o emprego de fogo para limpeza e preparo do solo na área rural do
município para fins de colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas. Neste
caso, o Tribunal entendeu necessária a ponderação entre a proteção do meio
ambiente e a manutenção dos empregos dos trabalhadores do setor,
prevalecendo os pilares do desenvolvimento socioeconômico em
detrimento da tutela ambiental.
O mesmo ocorreu nas cinco ações (ADC 42 e ADIs 4.901, 4.902, 4.903
e 4.937) que discutiram vários dispositivos do novo Código Florestal (Lei
12.651/2012), nas quais o Tribunal declarou constitucionais a maioria das
normas contestadas, em nome da separação dos poderes e do
entendimento de que a vedação do retrocesso não possuiria valor absoluto
quando invocado em matéria ambiental. Isto porque “o princípio da vedação
do retrocesso não se sobrepõe ao princípio democrático no afã de transferir
ao Judiciário funções inerentes aos Poderes Legislativo e Executivo, nem
justifica afastar arranjos legais mais eficientes para o desenvolvimento
sustentável do país como um todo” (STF, 2018).

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 171

Nessas sentenças, o STF não demonstrou coerência em relação às


decisões que proferiu no passado sobre o tema. Ainda que tenha
reconhecido a fundamental importância dos recursos naturais, fez
prevalecer interesses econômicos e aqueles ditos sociais. De um lado,
reconhece o princípio da vedação ao retrocesso social, e de outro, entende
que, em se tratando de matéria ambiental, este deve ser flexibilizado.
Constata o status constitucional do princípio desenvolvimento sustentável,
mas o invoca para decidir contra o meio ambiente. Trata-se de exemplo
prático da aplicação do conceito de três pilares de desenvolvimento
sustentável: “esverdeia-se” a decisão, fazendo preponderar os pilares
econômicos e sociais e esvaziando a tutela ambiental.
Muito embora a Constituição de 1988 tenha adotado o modelo de
desenvolvimento sustentável, na prática, o meio ambiente ainda vem sendo
desacreditado e degradado, sem a devida preocupação do Poder Público,
que não desenvolve políticas públicas sustentáveis, conforme se verá a
seguir, bem como do próprio Judiciário. Apesar de o desenvolvimento
sustentável ser não somente um princípio, mas um direito fundamental, ele
não é amplamente aceito para fins de representação da opinio iuris geral.
Não obstante o seu reconhecimento, sobre o desenvolvimento sustentável
ainda não existe a crença de que se trata de uma obrigação legal vinculante,
mas tão somente de um guia político.
Isso pode ser explicado também pela sua imprecisão, uma vez que
conceitos indeterminados dificultam a previsibilidade das decisões judiciais,
enquanto os termos dotados de maior especificidade mais facilmente
produzem normas vinculantes, para além de meras diretrizes. Daí
recomendar-se a adoção do conceito de dois pilares do desenvolvimento
sustentável e defender-se a formulação de regras específicas que sejam
conclusivas o suficiente para serem assim consideradas (WINTER, 2009, p.
15ss.).
Será visto a seguir o teor do marco regulatório da energia limpa no
Brasil, em que está incluída a Lei da Política Nacional sobre Mudança do
Clima, de 2009, além da política energética fixada pelo Ministério de Minas
e Energia ‒ MME, por meio dos dados fornecidos pela Empresa de Pesquisa
Energética ‒ EPE. Verificar-se-á, inicialmente, o nível de compatibilização
entre as normas constitucionais e legais sobre o tema, e, posteriormente,
será analisada a sustentabilidade da matriz energética brasileira.

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


172 KRELL, A. J.; SOUZA, C. B. C.

3. A sustentabilidade da matriz energética brasileira

3.1. A importância da energia elétrica para o desenvolvimento

No mundo moderno, a energia é um bem essencial, indispensável às


indústrias, aos transportes e ao dia a dia das pessoas. A própria economia se
baseia na geração de energia, que por sua vez depende dos recursos
naturais, sua principal fonte. Assim, a relação entre energia e
desenvolvimento é intrínseca, a ponto de o indicador de consumo de energia
per capita medir o nível de desenvolvimento dos países. Onde o consumo de
energia comercial per capita fica abaixo de certo nível, as taxas de
analfabetismo e mortalidade infantil são altas e há uma baixa expectativa de
vida. À medida que aumenta este consumo, as condições sociais melhoram,
o que prova a sua qualidade como indicador do desenvolvimento humano
(GOLDEMBERG, 1998).
Justamente por ser bem imprescindível, o Estado se incumbiu da sua
geração, controle e distribuição. Consequentemente, o fornecimento dos
serviços de energia é considerado serviço público, sujeito ao regime de
Direito Administrativo, ao tempo que se manifesta como política pública. No
Brasil, o meio mais comum de geração de eletricidade tem sido a energia
hidráulica (68,1% da oferta total), o que se explica pela grande quantidade
de bacias hidrográficas no país. Contudo, a geração de energia pelas
hidrelétricas é questionada em virtude dos danos ambientais causados por
sua implantação, como também pelo desvio do fluxo das águas e pela sua
dependência do recurso inconstante da precipitação pluviométrica (MELO,
2017, p. 63s.).
A preocupação com a segurança energética e as mudanças climáticas
estimula pesquisas em prol de fontes de energias alternativas e sua
regulação. No tocante à segurança energética, a geração de energias limpas
a partir de fontes nacionais minimiza a dependência de combustíveis fósseis,
cujos preços são regulados pelo mercado internacional. Quanto às mudanças
climáticas, estas são mitigadas pela produção de energia a partir de recursos
naturais. Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a geração de energia
por meio de fontes renováveis é da maior importância, já que elas podem
contribuir para a redução dos problemas ambientais causados pelos
combustíveis fósseis e primam pela preservação do meio ambiente
(FRANCO, 2016).

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 173

Por isso, é preciso traçar o marco regulatório das energias limpas no


Brasil, sob um enfoque infraconstitucional da regulação do setor. Serão
analisados os dados fornecidos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
bem como as políticas públicas do Ministério de Minas e Energia (MME) para
a promoção da energia alternativa no país, a fim de responder às questões
de se a matriz energética brasileira realmente é sustentável e se o Executivo
põe em prática as normas em vigor. Além disso, cabe indagar se o Brasil tem
cumprido os compromissos de proteção ambiental e do uso de energias
renováveis assumidos perante a comunidade internacional.

3.2. O marco regulatório e as políticas públicas de promoção da energia


limpa no Brasil: PRODEEM, PROINFA e PNPB

Segundo o art. 20, VIII, da CF, os potenciais de energia hidráulica são


bens da União, a quem compete explorar, diretamente ou mediante
autorização, concessão ou permissão, os serviços de instalações de energia
elétrica e o aproveitamento energético dos cursos da água (art. 21, XII, b). O
Poder Público está incumbido de prestar, diretamente ou sob o regime de
concessão ou permissão, os serviços públicos de geração e distribuição de
energia elétrica (art. 175); à União Federal cabe legislar, privativamente,
sobre energia (art. 22, IV). No ordenamento jurídico há diversas normas que
incentivam a energia renovável na matriz energética brasileira, para
construir uma política de energia mais diversificada.
Assim, a Lei 9.478, de 1997, que instituiu a Política Energética
Nacional, determina no seu art. 1º que as políticas nacionais para o
aproveitamento racional das fontes de energia visarão aos objetivos da
proteção do meio ambiente (IV), da utilização das fontes alternativas de
energia (VIII), do incremento, em bases econômicas, sociais e ambientais, da
participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional (XII), do
incentivo da geração de energia elétrica a partir da biomassa e de
subprodutos da produção de biocombustíveis (XIV), do fomento à pesquisa
e ao desenvolvimento relacionados à energia renovável (XVII) e da mitigação
das emissões de gases causadores de efeito estufa e de poluentes nos
setores de energia e de transportes, inclusive com o uso de biocombustíveis
(XVIII).
Ainda que o texto do citado art. 1º tenha também uma função política,
ele vincula os órgãos públicos a cumprir os respectivos deveres, os quais já

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


174 KRELL, A. J.; SOUZA, C. B. C.

foram traçados, anteriormente, pela própria Lei Maior. A necessidade da


maior inserção das fontes alternativas na matriz energética nacional emerge
de metas legais positivadas, que não formulam um mero apelo nesse
sentido, mas geram verdadeiras obrigações jurídicas para o Estado
(PASSEGGI, 2009, p. 38s.).
Já a Lei 9.991, de 2000, obriga as empresas concessionárias,
permissionárias e autorizadas do setor elétrico a investir uma parcela
mínima em eficiência energética, pesquisa e desenvolvimento tecnológico,
beneficiando as fontes renováveis, que recebem parte desses recursos e que
foram isentas desse encargo. Ademais, há uma quantidade elevada de
instrumentos regulatórios que incentivam a participação das fontes
renováveis na matriz energética, indicando a intenção do legislador em
manter elevada a sua sustentabilidade.
Nesse sentido, o Executivo criou uma série de programas a fim de
inserir as fontes renováveis na matriz energética. A seguir, apresentam-se as
iniciativas consideradas mais importantes.
Instituído em 1994, o Programa de Desenvolvimento Energético dos
Estados e Municípios (PRODEEM) tinha como objetivo contribuir para o
desenvolvimento de comunidades não atendidas pelos sistemas
convencionais de suprimento de energia através das fontes renováveis. Os
sistemas energéticos criados pelo PRODEEM incluíam a utilização de painéis
fotovoltaicos, aerogeradores e cata-ventos, pequenas centrais hidrelétricas,
combustíveis gerados a partir da biomassa, biodigestores, entre outros
(MME, s/d).
O Programa foi implantado em seis estágios, nos quais priorizou a
instalação de sistemas fotovoltaicos. Nos dois primeiros, tinha como
responsável o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), com a
instalação de 1.189 sistemas de geração de eletricidade para residências,
bombeamento de água e iluminação pública; nos terceiro e quarto estágios,
agora sob a responsabilidade do MME, foram 3.967 sistemas. Durante o
quinto estágio, instalaram-se 3 mil sistemas de geração de eletricidade para
residências (HASHIMURA, 2012, p. 69ss.).
A execução do PRODEEM enfrentou sérios problemas, ensejando a
realização de uma auditoria pelo Tribunal de Contas da União (TCU, 2003), a
fim de avaliar os resultados obtidos pelo Programa. O relatório concluiu pelo
descontrole patrimonial, baixa integração com outras políticas e programas
públicos, baixo nível de envolvimento das comunidades beneficiadas e baixa

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A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 175

participação da tecnologia e da indústria nacional. Em contrapartida, o MME


implementou o PRODEEM Revitalização e Capacitação (PRC), visando
recuperar os sistemas instalados e capacitar as pessoas beneficiadas.
Em 2005, os objetivos do PRODEEM foram incorporados pelo
Programa Luz Para Todos, que previu a transferência da responsabilidade
pelos sistemas fotovoltaicos instalados para as concessionárias de energia
elétrica, encarregadas de atender as comunidades em suas áreas de
concessão (HASHIMURA, 2012, p. 71s.).
O Programa Emergencial de Energia Eólica, criado durante o
racionamento de energia, em 2001, para instalar 1.050 mW de capacidade
até o final de 2003, nunca saiu do papel. A Lei nº 10.438 estabeleceu então,
em 2002, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(PROINFA), regulamentado pelo Decreto nº 5.025/04, com o objetivo de
aumentar a participação de fontes alternativas renováveis na geração de
energia elétrica.
A primeira fase do Programa pretendia adicionar 3.300 mW,
provenientes de energia eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas,
ao sistema integrado nacional até o final de 2006. Já a segunda etapa fixava
a meta de que, em 24 anos, 10% de toda a eletricidade do país deveriam ser
fornecidos pelas fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa. A
implantação do PROINFA passou por várias dificuldades, como as rescisões
contratuais no setor da biomassa e os atrasos da construção dos parques
eólicos; mesmo assim, o Programa é uma das principais iniciativas à
promoção das energias renováveis no Brasil, abrindo o caminho para a
realização dos leilões específicos para a comercialização de energia
(HASHIMURA, 2012, p. 73ss.).
Em 2004, o Governo lançou o Programa Nacional de Proteção e Uso
do Biodiesel (PNPB), com o objetivo de introduzir o biodiesel na matriz
energética brasileira. Trata-se de um combustível biodegradável
proveniente de fontes renováveis de energia, tais como os óleos vegetais e
as gorduras animais, os quais, uma vez estimulados por catalisador, reagem
quimicamente com álcool. No Brasil, existem diferentes espécies de
oleaginosas que servem para produzir o biodiesel: mamona, dendê, canola,
girassol, amendoim, soja e algodão. Esse biocombustível substitui total ou
parcialmente o diesel de petróleo em motores de caminhões, tratores,
camionetas, automóveis e, também, em motores de máquinas que geram

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energia. Assim, introduzir biodiesel na matriz energética brasileira significa


reduzir a quantidade de petróleo utilizada no país (BRASIL, 2017b).
A Lei 11.097, de 2005, além de instituir o Programa, fixou os
percentuais mínimos (de 2% e 5%) de adição de biodiesel ao óleo diesel
tradicional, a serem atingidos, respectivamente, nos anos de 2008 e 2013. A
meta foi antecipada em três anos, já que o percentual de 5% de mistura do
biodiesel ao diesel fóssil foi alcançado em 2010. Embora o Programa possa
ser considerado como bem-sucedido, há entraves que dificultam a expansão
do biodiesel, a exemplo das variações de custo de produção, da falta de
matérias-primas viáveis ao atendimento da demanda e das diferenças nas
alíquotas de tributação (SIMIONI, 2006, p. 235s.).
Diante do exposto, devem ser reconhecidos os esforços
governamentais de expandir a matriz energética brasileira e obter uma
maior diversificação do parque gerador. De fato, desde a inclusão das fontes
renováveis de energia em leilões, em 2009, é notável sua expansão; em
2016, elas corresponderam a 43,5% da oferta interna de energia, composta
pela energia hidráulica (12,6%), lenha e carvão vegetal (8%), derivados da
cana-de-açúcar (17,5%), energia eólica (1%) e outras renováveis (4,4%).
Ainda assim não se pode afirmar que a matriz energética brasileira seja
“sustentável”, já que ela permanece majoritariamente (56,5%) baseada em
fontes não renováveis, como o petróleo e derivados (36,5%), gás natural
(12,3%), carvão mineral e coque (5,5%), urânio (1,5%) outras energias não
renováveis (1%) (FGV ENERGIA, 2015, p. 34).
Diante da quantidade de leis que incentivam a inclusão das energias
renováveis no Brasil, depreende-se que o Executivo ainda está longe de
cumprir com todas as previsões legislativas. O meio ambiente parece não ser
a principal preocupação na hora da elaboração das políticas públicas ou da
criação das leis sobre política energética do país, ao contrário dos demais
elementos do desenvolvimento sustentável (economia e sociedade).
As leis sobre a matéria que orientam as políticas públicas consideram
as fontes alternativas de energia quase sempre como complementares às
hidroelétricas e aos combustíveis fósseis, e não como a possível fonte
principal de energia. Isso impede que o país suplante a dependência do seu
modelo energético, ainda focado na energia hidráulica e nas fontes
tradicionais; para tanto, seria necessária a adoção de uma nova
racionalidade, inclusive do próprio legislador, que busque formas de gerar
energia ambientalmente sustentável.

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A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 177

O fenômeno do greenwashing pode ser observado não apenas no


âmbito do Judiciário, mas também no trabalho dos Poderes Legislativo e
Executivo: afirma-se com facilidade que uma decisão está sendo tomada em
prol do meio ambiente quando, na verdade, a sua sustentabilidade não é
priorizada. Surgem as perguntas: quais seriam os empecilhos para o Brasil
fazer jus aos ditames do desenvolvimento sustentável e quais percalços
ainda devem ser enfrentados para se chegar a uma maior inserção das
energias renováveis no país?

4. Os desafios das energias renováveis no Brasil

O Balanço Energético Nacional (BEN), relatório elaborado anualmente


pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), contabiliza a oferta e o consumo
de energia no Brasil, bem como os processos de conversão de produtos
energéticos e de comércio exterior. Uma análise dos dados do BEN, de 2017,
pode esclarecer algumas dúvidas acerca da atual conjuntura da matriz
energética, que tem como principais fontes o petróleo, o gás natural, a
eletricidade, o carvão mineral, a energia eólica, o biodiesel e os produtos
derivados da cana.
No tocante à energia eólica, a produção de eletricidade registrou, em
2016, um aumento de 54,9% em relação ao ano anterior, de modo que o
parque eólico alcançou a potência instalada de 10.124 MW (BRASIL, 2017a).
Apesar desse crescimento, o que efetivamente se produz de eletricidade
derivada da energia eólica ainda é muito pouco quando comparado ao
potencial do país. Para alturas de torres de cinquenta metros, estima-se um
potencial de 143 GW; em alturas maiores, esse potencial pode chegar a 500
GW, o que superaria em quase duas vezes o potencial hidrelétrico total do
país, estimado em 260 GW (FGV ENERGIA, 2015).
Em relação ao biodiesel, houve um recuo de 3,5% em sua produção, e
o percentual que é compulsoriamente adicionado ao diesel mineral
permaneceu em 7%, não sofrendo alterações entre 2015 e 2016. Já a
produção de cana-de-açúcar teve um aumento de 1,5%, atingindo 670,6
milhões de toneladas; a produção de açúcar, por sua vez, registrou alta de
13,7%, alcançando 38,9 milhões de toneladas; entretanto, a fabricação de
etanol caiu 6,5% (BRASIL, 2017b).
O potencial da biomassa está atrelado à produção sucroalcooleira e
aos resíduos do bagaço da cana, produzida de forma concentrada nas regiões

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Sul e Nordeste, nos meses de maio a novembro. A biomassa é a terceira


fonte de energia elétrica, apenas atrás das hidrelétricas e das térmicas a gás
natural. Isso se deve às usinas de açúcar, que investiram em plantas de
cogeração, aproveitando os resíduos para gerar eletricidade, como é o caso
do bagaço da cana-de-açúcar (FGV ENERGIA, 2015).
A produção de energia elétrica, em 2016, caiu 0,4%. Sua principal
fonte de geração, a hidráulica, teve expansão de 5,9% em comparação ao
ano anterior, totalizando 68,1% da oferta interna de energia elétrica. As
fontes renováveis correspondem ao total de 81,7% da oferta, somando a
produção nacional e as importações. Já as fontes não renováveis geraram
19,6% da eletricidade, contra 25,9% no ano anterior. A produção nacional de
petróleo, em 2016, cresceu 3%, atingindo a média de 2,52 milhões de barris
diários, avanço devido ao aumento da produção em alguns campos do “pré-
sal”. A participação do gás natural na matriz energética nacional atingiu o
patamar de 12,3%; já a geração de eletricidade com base nesta fonte obteve
um declínio de 30,9% desde 2015. A demanda por gás natural acompanhou
o baixo desempenho da atividade industrial do ano de 2016, que sofreu uma
redução de 4,5% (BRASIL, 2017a).
Torna-se evidente que o Brasil possui uma matriz energética baseada,
majoritariamente, em fontes não renováveis, pois os combustíveis fósseis
produzem mais do que a metade da energia gerada no país (56,5%). Ainda
não existe uma matriz energética ambientalmente sustentável. Observa-se,
também, que a matriz elétrica do país é dominada pelas usinas hidrelétricas.
Por muito tempo, a predominância da fonte hidráulica de eletricidade
colocou o Brasil numa posição privilegiada, sendo visto, até mesmo, como
principal sinalizador da sustentabilidade de toda matriz, mas essa
configuração não pode permanecer (FGV ENERGIA, 2017).
A expansão das hidrelétricas registrada pelo BEN de 2017 indica que
os estímulos à geração de eletricidade vão na contramão dos interesses
socioambientais defendidos na legislação federal, já que o uso do potencial
hidrelétrico traz consigo uma série de impactos ambientais, econômicos e
sociais que não podem ser desconsiderados na análise da sustentabilidade
da matriz energética brasileira. São impactos como o deslocamento das
populações das áreas que serão alagadas quando da formação de represas e
a consequente alteração da dinâmica local, inviabilizando as atividades
econômicas dessas comunidades. Além disso, costuma haver uma piora da

Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020


A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 179

qualidade da água em virtude dos lagos artificiais, do desmatamento, da


perda de espécies de fauna e flora e dos impactos erosivos.
Os reservatórios das hidrelétricas também podem emitir gases de
efeito estufa. Há tempo, denuncia-se a liberação de gases como o metano
(CH4), produzidos pela decomposição da biomassa em sua bacia de
acumulação, ali depositada pelo represamento da água. Nessa linha, um
estudo revelou que a emissão de gases de uma usina hidrelétrica da região
Amazônica era superior à de uma termelétrica movida a carvão mineral,
constatando-se também a emissão de dióxido de carbono (CO2), causada
pela decomposição da vegetação submersa nos lagos das usinas. Deve haver
estudos adicionais para avaliar a efetiva emissão de gases de efeito estufa
pelas hidrelétricas. Ignorando esse aspecto, porém, muitos consideram, até
hoje, a energia hidráulica “limpa”, o que pode conduzir o país à formulação
de políticas energéticas destituídas de sustentabilidade (ANDRADE; MATTEI,
2013).
É notório que a construção dessas usinas costuma causar os já
referidos danos sociais e ambientais graves, que dificilmente são
incorporados nos estudos que antecedem à realização desses projetos. A
questão ainda se agrava com o dado de que os maiores potenciais
hidrelétricos do país estão localizados em terras amazônicas, marcadas por
um delicado equilíbrio ecológico e conhecidas como a morada de inúmeras
comunidades tradicionais e povos indígenas que dependem dos recursos
naturais para sobreviver (FRANCO, 2014, 191s.).
Outro aspecto interessante dos dados fornecidos pela EPE é o
crescimento maior de 50% da geração de energia eólica no Brasil, entre 2015
e 2016, cuja rapidez se deu em razão da inclusão das energias renováveis nos
leilões de energia, a partir de 2009. Entretanto, este valor ainda é muito
baixo, dado o potencial do país de produzir energia tendo esta fonte como
base. Diversamente, a expansão da produção de energia solar (fotovoltaica)
ainda é muito incipiente. Somente em 2014, o Governo passou a inserir a
fonte solar em leilões de energia para fins de abastecimento do mercado
regulado, razão por que a sua participação na matriz energética persiste
inexpressiva (0,01%). O grande desperdício de potencial nessa área é
ilustrado pelo fato de que a região Sul, com a pior insolação do país, tem
índices superiores ao melhor local da Alemanha, país com o maior mercado
de energia solar do mundo (FGV ENERGIA, 2015).

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Uma maior inserção das energias renováveis no mercado nacional é


dificultada também pela falta de tecnologias nacionais apropriadas para a
utilização dessas fontes (eólica, solar, biomassa e marés) em larga escala, o
que eleva o seu custo em comparação com as tradicionais. A substituição
total dos combustíveis fósseis nunca foi uma opção para o Poder Público
brasileiro, que sempre considerou estratégico o uso do petróleo, que possui
toda uma cadeia produtiva a ele atrelada. Ter conquistado a autossuficiência
em sua produção implica uma tática de geopolítica (SIMIONI, 2006, p. 230s.).
Ainda que existam algumas políticas públicas de incentivo às energias
renováveis, não há intenção de substituir os combustíveis fósseis. Ao
contrário, o Legislativo e o Executivo, nos diferentes níveis federativos do
país, consideram as fontes alternativas de energia complementares, mas não
essenciais à matriz energética nacional. Prova disso é a quantidade de leilões
de energia realizados anualmente para cada fonte. Segundo os dados da
Agência Nacional de Petróleo (ANP, 2020), estão previstas, para o biênio de
2020-21, três rodadas de licitações de blocos para petróleo e gás natural (7ª
e 8ª Rodadas de Partilha de Produção – Pré-Sal e 18ª Rodada de Licitação de
Blocos).
Já em relação aos leilões de energias renováveis, foram contabilizados,
em 2017, cinco leilões em que não eram exclusivas as fontes limpas (eólica,
solar e biomassa), incluindo também as fontes hidrelétrica, termelétrica,
carvão e gás natural. Houve, ainda, um Leilão (1/2017) exclusivo para a
concessão de usinas hidrelétricas (ANEEL, 2019). O mesmo se deu nos anos
2018 e 2019, em que os leilões destinados à geração de energia proveniente
de novos empreendimentos incluíam a contratação daqueles que produziam
energia elétrica a partir de carvão e gás natural (ANP, 2018).
As políticas públicas voltadas à expansão dos combustíveis fósseis e
das hidrelétricas são consideradas muito mais relevantes que aquelas
dirigidas à incorporação de uma matriz energética mais limpa e diversificada.
Esse fato valida a incongruência entre a política energética interna, os
ditames da legislação incidente e os compromissos internacionais
assumidos, a exemplo do recente Acordo de Paris, de 2015, em que o Brasil
se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 37%,
em 2025, e até 43%, em 2030, o que restringe o teto anual de emissões a
1.300 e 1.200 milhões de toneladas de CO2 (BRASIL, 2019).
Essa meta é bastante ousada, pois as emissões nacionais de gases de
efeito estufa subiram 9% em 2016, contabilizando 2,278 bilhões de

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A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 181

toneladas de CO2, o maior nível de emissões desde 2008 e a elevação mais


acentuada desde 2004. As principais causas desse aumento foram o
desmatamento na Amazônia e as atividades agropecuárias; entretanto, no
setor energético, as emissões também vinham crescendo, havendo
estagnação apenas em virtude da detração econômica. A meta da Política
Nacional de Mudança do Clima, que fixa o valor máximo de 2,2 bilhões de
toneladas de CO2 até 2020, não será cumprida caso o setor energético volte
a emitir cada vez mais gases de efeito estufa (SEEG, 2017).
Os diversos componentes para uma estratégia de sustentabilidade nas
políticas governamentais da área energética estão longe de formar um todo
coerente. Ao contrário, os pontos acima elencados indicam que a dinâmica
atual vai na contramão desses elementos positivos, que, de alguma forma,
prestigiam a proteção ambiental, mas distanciam-se da ideia do
desenvolvimento sustentável (ABRAMOVAY, 2010, p. 101s.).
Em termos jurídicos, essa divergência entre as previsões legais e a
efetiva realização das políticas públicas significa uma violação não somente
do direito ao desenvolvimento sustentável, mas também do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, da vedação do retrocesso socioambiental e da
dignidade da pessoa humana. Em 2015 e 2016, a elevação de emissões
totalizou 12,3%, contra um recuo de 7,4 pontos no Produto Interno Bruto
(PIB), sendo o Brasil a única grande economia no mundo a aumentar a
poluição ambiental sem gerar mais riquezas (SEEG, 2017).
O alcance de certo nível de desenvolvimento com menos degradação
ambiental gera um patamar que não pode sofrer retrocessos, sob pena de
infringir direitos fundamentais. Uma vez alcançado um determinado nível de
sustentabilidade, este não poderá diminuir, porquanto os danos ambientais
geram impactos sociais incalculáveis e irremediáveis no futuro.

5. Propostas para a solução do problema

A regulação das energias renováveis pela legislação brasileira é


demasiadamente dispersa e pouco homogênea, o que dificulta o alcance de
resultados satisfatórios. Deveria haver uma unificação das diretrizes gerais
sobre o mercado de energia no país, com o fim de aumentar o nível de
integração e de substituição entre as diferentes fontes energéticas,
mediante a criação das condições normativas para uma maior
competividade (LANZILLO; XAVIER, 2009, p. 8ss.).

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182 KRELL, A. J.; SOUZA, C. B. C.

Neste sentido, o Brasil deve adotar uma série de medidas para


diversificar a sua matriz energética e cumprir as metas nacionais e
internacionais legalmente postas, sendo imprescindível uma combinação
dinâmica entre os aspectos econômicos e ecológicos da questão. Ainda que
caiba, preferencialmente, às ciências naturais determinar o que será
necessário para um mundo sustentável, compete às ciências sociais
aplicadas, incluindo o Direito, articular as estratégias de transição rumo a
esse caminho (SACHS, 2000, p. 60, 73).
Tal proposta requer, necessariamente, uma nova racionalidade em
relação à sustentabilidade e à questão ambiental. O desenvolvimento
sustentável exige o planejamento local e participativo, envolvendo as
autoridades locais, as comunidades e as associações responsáveis pela
proteção ambiental. É necessário, também, o reconhecimento do direito
legítimo ao desenvolvimento sustentável e ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem como a vedação do retrocesso e a
observância da dignidade da pessoa humana e das respectivas políticas
públicas.
As propostas para incorporar no setor energético novos critérios
ambientais nos processos de planejamento e decisão ainda não vingaram.
Uma nova política energética dependerá da definição de critérios mais
específicos em favor do meio ambiente e da efetivação desses padrões de
sustentabilidade. Por isso, uma mudança de perspectiva deverá ser adotada
não apenas pela sociedade, mas também pelos governos federal, estaduais
e municipais. Sem políticas dirigidas para induzir – ou, até mesmo, obrigar –
uma modificação estrutural do setor energético, dificilmente serão
alcançadas as exigências de um desenvolvimento sustentável (SIMIONI,
2006, p. 237s.).
A transição nessa direção deve começar no âmbito do Judiciário, a
quem cabe uma formulação mais específica do conceito de desenvolvimento
sustentável, imprescindível para a efetiva qualificação desse termo como
norma jurídica vinculante. O reconhecimento do desenvolvimento
sustentável como princípio de status constitucional pelo STF surtiu poucos
efeitos no trabalho diário dos operadores do Direito no Brasil, que
dificilmente se sentem vinculados a tal princípio na interpretação e na
aplicação das normas jurídicas.
Essa necessária reafirmação judicial concreta do direito fundamental
ao desenvolvimento sustentável poderá levar a uma verdadeira mudança de

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A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório
das energias renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável 183

paradigma, sem a qual a formulação e a implantação de uma nova matriz


energética em favor das fontes renováveis dificilmente avançarão. Com essa
ênfase no controle judicial não se põe em dúvida que a participação pública
e a responsabilização (accountability) dos agentes públicos e privados são
instrumentos imprescindíveis para garantir a efetividade das políticas
públicas energéticas. A utilização de fontes renováveis de energia terá
“pouco efeito na sustentabilidade do desenvolvimento, se estiver dissociada
de políticas públicas que promovam um consumo consciente e uma redução
da demanda por energia” (BIANCHI, 2019, p. 11ss.).

6. Conclusão

O setor de energia, por ser intimamente conectado à economia de um


país, é um dos principais agentes de degradação ambiental e de geração de
problemas sociais. As energias renováveis surgem como uma alternativa ao
modelo econômico atual do Brasil, ainda baseado em combustíveis fósseis.
A elevada participação da fonte hidráulica na geração de energia elétrica não
é capaz de garantir o selo de sustentabilidade à política energética nacional,
uma vez que a construção e a operação de usinas termelétricas costumam
criar diversos problemas ecológicos e sociais.
A discussão da sustentabilidade e da responsabilidade da matriz
energética brasileira no tocante às mudanças climáticas não norteia a
formulação das políticas públicas de promoção das energias renováveis,
visto que a maior parte das emissões de gases de efeito estufa do país é
proveniente do desmatamento e da agropecuária. Assim, o desenvolvimento
do país corre o risco de dissociar-se das tendências internacionais de
proteção ao meio ambiente, que são privilegiadas pela própria legislação
federal.
As políticas energéticas nacionais não cumprem o dever de substituir
gradualmente os combustíveis fósseis no âmbito do uso sustentável da
biodiversidade, perpetuando a ideia de que as energias limpas são apenas
complementares e acessórias, mas jamais essenciais à matriz energética.
Com isso, revela-se uma tendência contraditória entre a legislação vigente,
o discurso político e as políticas públicas setoriais.
O Brasil está diante do desafio de formular uma estratégia de
desenvolvimento sustentável para a sua matriz energética, sendo
indispensável uma mudança de paradigma que deve incluir os três Poderes

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184 KRELL, A. J.; SOUZA, C. B. C.

da República. Para tanto, deve ser enfatizada cada vez mais a relação íntima
entre a política energética nacional e os direitos fundamentais dos cidadãos
a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao desenvolvimento
sustentável da sociedade. Uma maior inserção das energias renováveis na
Política Energética brasileira representa uma tarefa que visa dar efetividade
aos ditames já impostos em nível constitucional.

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