Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direito Econômico e
Socioambiental
ISSN 2179-8214
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
REVISTA DE DIREITO
ECONÔMICO E
SOCIOAMBIENTAL
vol. 11 | n. 2 | maio/agosto 2020 | ISSN 2179-8214
Periodicidade quadrimestral | www.pucpr.br/direitoeconomico
Curitiba | Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCPR
Revista de
Direito Econômico e
doi: 10.7213/rev.dir.econ.soc.v11i2.26872 Socioambiental
ISSN 2179-8214
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
Como citar este artigo/How to cite this article: KRELL, Andreas Joachim; SOUZA, Carolina Barros de
Castro. A sustentabilidade da matriz energética brasileira: o marco regulatório das energias
renováveis e o princípio do desenvolvimento sustentável. Revista de Direito Econômico e
Socioambiental, Curitiba, v. 11, n. 2, p. 157-188, maio/ago. 2020 doi:
10.7213/rev.dir.econ.soc.v11i2.26872
*
Professor Titular de Direito Ambiental e Constitucional dos Cursos de Graduação e Mestrado da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas (Maceió-AL, Brasil). Coordenador do Mestrado
em Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas. Professor permanente do PPGD
da Faculdade de Direito do Recife. Doctor Juris da Freie Universität Berlin (Alemanha). Pesquisador
Bolsista do CNPq (PQ - Nível 1A). E-mail: akrell@uol.com.br
**
Mestranda em Direito Internacional na Université de Strasbourg (Strasbourg, França). Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas. Advogada. E-mail:
caolinabarroscs@gmail.com
Resumo
O artigo tem como objetivo analisar os aspectos jurídicos do panorama regulatório da matriz
energética brasileira no contexto de intensa preocupação da comunidade internacional com
o meio ambiente, questionando se a referida matriz pode ser considerada “sustentável”. Fixa-
se um parâmetro de sustentabilidade para estudar as leis que compõem o marco regulatório
nacional das energias renováveis. Essas são cotejadas com as políticas públicas de promoção
da energia limpa, para verificar a sua compatibilidade. Revela-se que a fonte de energia
hidráulica, por si só, não pode garantir o caráter de sustentabilidade à matriz energética
brasileira. Apesar dos esforços empreendidos para diversificar a política energética nacional,
ainda se está longe de atingir uma dinâmica coerente, sobretudo em razão do caráter de
complementaridade que incide sobre as fontes de energias renováveis no Brasil. Torna-se
evidente que a divergência entre a legislação e a realização de políticas públicas enseja a
violação de direitos fundamentais. Por fim, são avaliadas as possibilidades de uma política
energética mais limpa, o que requer uma nova interpretação do desenvolvimento
sustentável, a incorporação de uma racionalidade socioambiental na legislação e a elaboração
de políticas públicas.
Abstract
This paper aims to analyze the legal aspects of regulation regarding the Brazilian energy grid,
in a context of a great concern from the international community with the environment,
questioning whether the Brazilian energy matrix really can be considered as sustainable. First,
a sustainability parameter is set as the basis for study the laws that make up the national
regulatory framework for renewable energies. These are compared with public policies to
promote clean energy to verify their compatibility revealing that the source of hydraulic
energy, by itself, cannot guarantee the sustainability character of the Brazilian energy matrix.
Despite the efforts made to diversify national energy policy, we are still far from achieving a
coherent dynamic, mainly because of the belief that renewable energy sources are only
complementary in Brazil. It becomes clear that the divergence between legislation and the
implementation of public policies means the violation of fundamental rights. Finally, the
possibilities for a cleaner energy policy are assessed; these must undergo a new interpretation
of sustainable development and the incorporation of a socio-environmental rationality both in
terms of legislation and public policy making.
Sumário
1. Introdução. 2. O desenvolvimento sustentável no direito brasileiro. 2.1. O conteúdo do
princípio do desenvolvimento sustentável. 2.2. As críticas dirigidas ao conceito do
desenvolvimento sustentável. 2.3. O direito fundamental ao desenvolvimento sustentável;
2.3.1. A concretização pela doutrina brasileira. 2.3.2. A virada da posição do Supremo Tribunal
Federal referente ao direito ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. 3. A
sustentabilidade da matriz energética brasileira. 3.1. A importância da energia limpa no Brasil.
3.2. O marco regulatório e as políticas públicas de promoção da energia limpa no Brasil:
PRODEEM, PROINFA e PNPB. 4. Os desafios das energias renováveis no Brasil; 5. Propostas
para a solução do problema. 6. Conlusão.
1. Introdução
desprezível” (BENJAMIN, 2007, p. 81, 98). Assim, ele reduz o espaço de livre
conformação do legislador ordinário em todos os níveis federativos na
formulação de normas sobre o assunto e constitui um dado importante para
a interpretação adequada das leis ordinárias e do exercício correto dos
espaços de poder discricionário pelos órgãos administrativos. Na formulação
de políticas públicas, o Poder Público deve optar pela alternativa menos
gravosa às condições ambientais ou até vetar a realização de projetos e
atividades contrários a este valor.
O direito ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável leva a
uma “proibição de retrocesso ambiental”, vetando ao poder estatal tomar
medidas que diminuam o nível de proteção normativa, uma vez alcançado,
independentemente do instrumento jurídico de regulação (cf. AYALA, 2011,
p. 256ss.). Por fim, ele concede ao cidadão o direito a um “mínimo existencial
ecológico”, que é judicialmente exigível; seus limites devem ser definidos,
em cada caso concreto, mediante o emprego do método de ponderação das
posições jurídicas, bens e interesses envolvidos, a partir dos princípios da
integração e da máxima efetividade (SARLET; FENSTERSEIFER, 2014, p.
123ss.).
A força de indução das normas constitucionais para um uso mais
intenso das energias renováveis no Brasil dependerá em grande medida da
eficiência dos instrumentos utilizados na formulação e na implantação das
respectivas políticas públicas. Outros importantes fatores são as
competências constitucionais legislativas (art. 22, 24 CF) e administrativas
(art. 23 CF) a respeito dessas políticas, os meios de tributação em relação às
diferentes fontes energéticas e os instrumentos de coordenação previstos
na Ordem Econômica e Financeira constitucional (LANZILLO; XAVIER, 2009,
p. 8ss.).
6. Conclusão
da República. Para tanto, deve ser enfatizada cada vez mais a relação íntima
entre a política energética nacional e os direitos fundamentais dos cidadãos
a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao desenvolvimento
sustentável da sociedade. Uma maior inserção das energias renováveis na
Política Energética brasileira representa uma tarefa que visa dar efetividade
aos ditames já impostos em nível constitucional.
Referências
BRASIL (2018). Supremo Tribunal Federal. ADI 4.901/DF. j. 28/02/2018 (N. 19).
Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=75050453>.
Acesso em: 15 abr. 2020.
BRASIL. (2017a). Balanço energético nacional: ano base 2016. Empresa de Pesquisa
Energética. Rio de Janeiro: EPE, 2017.
COSTA NETO, Nicolão Dino de Castro. e. Proteção jurídica do meio ambiente. Belo
Horizonte: Del Rey, 2003.
FGV ENERGIA (2017). Caderno Fórum de Energia. Fórum Nacional de Energia - VII
Seminário sobre matriz e segurança energética brasileira. Rio de Janeiro, 2017.
IEA – International Energy Agency. Key world energy statistics. 2017. Disponível em:
https://www.iea.org/publications/freepublications/publication/KeyWorld2017.pdf.
Acesso em: 24 abr. 2018.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 21. ed. São Paulo:
Malheiros, 2013.
MOURA JÚNIOR, Flávio P. de. O Direito Constitucional ambiental. In: SOUZA NETO,
C. P.; SARMENTO, D. (orgs.). A constitucionalização do Direito: Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007, p. 783-802.
SLAPER, Timothy F.; HALL, Tanya J. The triple bottom line: what is it and how does it
work? Indiana Business Review (Kelley School of Business), Spring 2011, p. 4-8.
Disponível em: <http://www.ibrc.indiana.edu/ibr/2011/spring/pdfs/article2.pdf>.
Acesso em: 25 abr. 2018.
SUNDFELD, Carlos Ari V. Direito Administrativo para céticos. 2. ed., São Paulo:
Malheiros, 2014.
VIZEU, Fabio; MENEGHETTI, Francis K.; SEIFERT, René E. Por uma crítica ao
desenvolvimento sustentável. Cadernos EBAPE.BR [online], vol. 10, nº 3, p. 569-583,
2012. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S167939512012000300007&lng=pt&tlng=p>. Acesso em: 15 abr. 2018.