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Psicologia e Neurociencias Limpando Terr
Psicologia e Neurociencias Limpando Terr
EDITORIAL
Me ajuda a olhar!, Luiz Carlos de Lima Silveira................................................................................... 59
OPINIÕES
Muito jogo para ser ciência, muita ciência para ser jogo, Givago da Silva Souza,
Jaime Nonato de Oliveira, Luiz Carlos de Lima Silveira ........................................................................ 64
Quimiocinas no sistema nervoso central: além da inflamação,
Antonio Lucio Teixeira ....................................................................................................................... 67
Ondas de visão, Bruno Duarte Gomes, Luiz Carlos de Lima Silveira ...................................................... 69
Psicologia e neurociências: limpando terreno,
Amauri Gouveia Jr, Iza Batista Taccolini.............................................................................................. 72
ARTIGOS ORIGINAIS
Caracterização de respostas comportamentais para o teste de Stroop
computadorizado – Testinpacs, Cláudio Córdova, Margô Gomes
de Oliveira Karnikowski, José Eduardo Pandossio, Otávio Toledo Nóbrega............................................. 75
Visão de cores em Cebus apella: Avaliação de discriminação de cores
por meio de um monitor CRT padrão e ferramenta de edição de cores
do Windows XP, Paulo Roney Kilpp Goulart, Sheila Tetsume Makiama,
Abraão Roberto Fonseca, Karoline Luiza Sarges Marques, Olavo de Faria Galvão .................................. 80
Acuidade visual para padrões espaciais periódicos medida pelos potenciais
visuais evocados de varredura em crianças com hidrocefalia, Marcelo Fernandes Costa,
Filomena Maria Buosi de Haro, Solange Rios Salomão, Dora Fix Ventura .............................................. 87
REVISÕES
Neurônios-espelho, Aline Knepper Mendes,
Fernando Luiz Cardoso, Cinara Sacomori............................................................................................ 93
Com gosto de FEO: a procura pelo oscilador circadiano sincronizado
pelo alimento, Judney Cley Cavalcante............................................................................................. 100
RELATO DE CASO
Investigação clínica, bioquímica e genética de pacientes do Norte do Brasil
com adrenoleucodistrofia ligada ao cromossomo X, Lorena Martins Cunha,
Regina Célia Beltrão Duarte, Luiz Carlos Santana da Silva ................................................................. 107
ISSN 1807-1058
Revista Multidisciplinar das Ciências do Cérebro
Conselho editorial
Aniela Improta França, UFRJ (Neurolingüística)
Carlos Alexandre Netto, UFRGS (Farmacologia)
Cecília Hedin-Pereira, UFRJ (Desenvolvimento)
Daniela Uziel, UFRJ (Desenvolvimento)
Dora Fix Ventura, USP (Neuropsicologia)
Eliane Volchan, UFRJ (Cognição)
João Santos Pereira, UERJ (Neurologia)
Koichi Sameshima, USP (Neurociência computacional)
Leonor Scliar-Cabral, UFSC (Lingüística)
Lucia Marques Vianna, UniRio (Nutrição)
Marco Antônio Guimarães da Silva, UFRRJ/UCB (Fisioterapia e Reabilitação)
Marco Callegaro, Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (Psicoterapia)
Marco Antônio Prado, UFMG (Neuroquímica)
Rafael Linden, UFRJ (Neurogenética)
Rubem C. Araujo Guedes, UFPE (Neurofisiologia)
Vera Lemgruber, Santa Casa do Rio de Janeiro (Neuropsiquiatria)
Wilson Savino, FIOCRUZ (Neuroimunologia)
Rio de Janeiro
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Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 59
Editorial
Me ajuda a olhar!
Luiz Carlos de Lima Silveira, Editor
Médico, Doutor em Ciências Michael A. Dyer (St. Jude Children’s Research Hospital, Memphis, Tennes-
Biológicas (Biofísica), Diretor see, E.U.A.), e um grupo de neurocientistas coordenados por ele que inclui o
Geral do Núcleo de Medicina brasileiro Rodrigo Alves Portela Martins, Itsuki Ajioka, Ildar T. Bayazitov, Kelli
Tropical, Universidade Federal Boyd, Samantha Cicero, Stacy Donovan, Sharon Frase, Dianna A. Johnson
do Pará, Professor Associado e Stanislav S. Zakharenko, identificaram recentemente que as células hori-
de Neurociência, Departamen- zontais retinianas maduras que já emergiram do ciclo celular e se tornaram
to de Fisiologia, Instituto de diferenciadas, são capazes de entrar novamente no ciclo celular, sofrer no-
Ciências Biológicas, Universi- vas divisões e originar retinoblastoma, um tipo de câncer ocular altamente
dade Federal do Pará agressivo [1,2]. O retinoblastoma decorre de uma mutação na proteína Rb,
acomete principalmente crianças em um ou ambos os olhos e representa
Endereço para correspondên- 3% do câncer em menores de quinze anos. Sua incidência anual é estimada
cia: luiz@ufpa.br em cerca de 4/1.000.000 de crianças [3].
60 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Dyer e colegas, com a sua descoberta, mostraram progenitora (célula tronco) [1,2]. Além disso, esses
que um princípio do desenvolvimento e crescimento resultados também têm impacto nas estratégias de
neural há muito estabelecido precisa ser revisto [1,2]. tratamento de tumores do sistema nervoso central
Há cerca de 100 anos, o médico e anatomista espa- que se concentram na indução de diferenciação de
nhol Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), laureado células tumorais [1,2].
com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, em Michael A. Dyer é um jovem neurocientista ame-
1906, propôs que no sistema nervoso central maduro ricano que acaba de receber o Cogan Award de 2008
os neurônios estão num estado completamente di- [1]. O Prêmio Cogan foi estabelecido pela ARVO em
ferenciados, estendendo seus neuritos e realizando homenagem ao médico oftalmologista americano
sinapses com outros neurônios conforme construído David Glendenning Cogan (1908-1993) e é conferido
ao longo do desenvolvimento e amadurecimento do a um pesquisador com quarenta anos de idade ou
organismo. De acordo com Ramón y Cajal e como menos que tenha dado uma contribuição científica
é ainda amplamente aceito nos dias atuais, nesse importante para a Oftalmologia ou para a Ciência
estado quiescente permanente esses neurônios Visual diretamente relacionada a alterações do olho
diferenciados são incapazes de entrar novamente ou do sistema visual do ser humano e cuja carreira
no ciclo celular e simultaneamente manter o seu aponte promissoramente para o desenvolvimento fu-
estado diferenciado. Essa incompatibilidade entre turo da área. Michael Dyer realiza também pesquisas
diferenciação e proliferação explicaria o fato de que noutras áreas da Neurobiologia Celular e tem uma
tumores altamente diferenciados são menos agres- colaboração importante com Barbara LeVerne Finlay
sivos do que os relativamente menos diferenciados. (Cornell University, Ithaca, New York, E.U.A.), Luiz
Dyer e colegas mostraram pela primeira vez que um Carlos de Lima Silveira e Manoel da Silva Filho (Uni-
tipo de neurônio pós-mitótico diferenciado do sistema versidade Federal do Pará, Belém, Pará, Brasil), José
nervoso central, a célula horizontal da retina, pode Augusto Pereira Carneiro Muniz (Centro Nacional de
entrar novamente no ciclo celular e multiplicar-se de Priamatas, Ananindeua, Pará, Brasil) e Rodrigo Alves
forma clonal, enquanto simultaneamente mantém Portela Martins (formado na Universidade Federal do
as características celulares e moleculares de um Rio de Janeiro e atualmente trabalhando no St. Jude
neurônio diferenciado, preservando seus neuritos e Children’s Research Hospital) sobre os mecanismos
sinapses [1,2]. As células horizontais em proliferação celulares que guiam o desenvolvimento da retina de
expandem-se rapidamente para formar retinoblasto- primatas diurnos e noturnos, cujos resultados foram
mas constituídos por células neoplásicas que também apresentados em Belém, no 19º Simpósio da ICVS
têm neuritos e sinapses características das células [4]. Ao longo dos anos de desenvolvimento dessas
originais e, apesar desse alto grau de diferenciação pesquisas, Michael Dyer tem visitado Belém e Ana-
celular tumoral, formam retinoblastomas dos mais nindeua muitas vezes e é muito bem quisto pelos
agressivos até hoje vistos [1,2]. neurocientistas brasileiros que lá trabalham.
O St. Jude Children’s Research Hospital é reco- visuais mencionadas, por uma especificação genética
nhecido internacionalmente pelo seu trabalho pioneiro diferente da maioria dos indivíduos. Existem duas
na busca da cura do câncer e de outras doenças formas dessa condição dicromata, sendo que a forma
graves que ameaçam as vidas de muitas crianças. O mais comum, chamada daltonismo, ocorre quando um
hospital, fundado pelo comediante e ator americano dos genes do cromossoma X não está presente, não
de ascendência libanesa Danny Thomas (Amos Al- se expressa ou é muito parecido com o outro gene do
phonsus Muzyad Yaqoob) (1912-1991), compartilha mesmo cromossoma. Essa forma é muito comum em
suas descobertas com a comunidade científica e homens, que possuem um único cromossoma X, e é
médica de todo o mundo. O tratamento que é dispen- rara em mulheres, que possuem dois cromossomas X
sado às crianças no St. Jude é inteiramente gratuito e e, assim, precisam ser homozigotas para essa condi-
nada é cobrado das famílias ou dos planos de saúde, ção, ou seja, apresentá-la em ambos os cromossomas
sendo o hospital financiado por recursos levantados X. Esses indivíduos possuem visão de cores chamada
pela American Lebanese Syrian Associated Charities protan ou deutan, conforme a condição ocorra com o
(ALSAC) e por recursos conferidos por instituições gene L ou M, respectivamente. Sua visão é composta
que dão suporte à pesquisa científica (consulte www. apenas pelas dimensões brilho e azul-amarela e eles
stjude.org para maiores informações). enxergam amarelos e azuis nos seus vários graus de
saturação, assim como os diversos tons de cinzas. A
Terapia gênica e a “cura” do daltonismo diferença comportamental entre protans e deutans é
sutil e necessita de testes de visão de cores especiais
A visão diurna da maior parte dos seres humanos para ser estabelecida [5,7].
é tricromática, ou seja, as cores que eles distinguem
na natureza à sua volta são representadas por quanti- Protans e deutans
dades em três dimensões: brilho, azul-amarelo e verde-
vermelho. A combinação dessas três grandezas produz John Dalton (1766-1844), químico, metereologista
todas as sensações visuais de cores: vermelhos, ala- e físico inglês, mais conhecido pelo seu trabalho pio-
ranjados, amarelos, verdes, azuis, violetas e púrpuras neiro no desenvolvimento da teoria atômica moderna,
nos seus vários graus de saturação e brilho, incluindo tinha visão dicromata desse tipo, assim como seu ir-
as cores completamente dessaturadas que são os vá- mão, e ambos tinham dificuldade em distinguir determi-
rios tons de cinza. A base morfofuncional para a visão nadas cores, tarefa fácil para a maior parte das outras
tricromática reside em dois aspectos importantes da pessoas com visão tricromata [7]. Dalton supunha que
anatomia e fisiologia do sistema visual. Em primeiro o humor vítreo dos seus olhos estava tingido por um
lugar, a visão de cores depende da presença na retina pigmento azul o qual absorveria comprimentos de onda
de cones pertencentes a três classes diferentes – S, M longos e instruiu seus médicos que o examinassem
e L – contendo fotopigmentos específicos sensíveis a após a morte; naturalmente, esse exame não revelou
regiões parcialmente diferentes do espectro luminoso. qualquer alteração nos humores ou nos tecidos ocu-
O espectro de absorbância dos fotopigmentos S, M lares tal como os procedimentos disponíveis na época
e L sobrepõem-se consideravelmente mas possuem puderam informar [7]. Embora durante muito tempo
absorbância máxima em locais diferentes do espectro tenha se acreditado que Dalton era protan, a análise
luminoso, 420 nm, 530 nm e 558 nm, respectivamente do DNA preservado de seu tecido ocular guardado até
(valores medidos in vitro) [5]. Em segundo lugar, a visão hoje mostrou que ele era, na verdade, deutan, sendo
tricromática necessita do funcionamento de circuitos esse forma de visão de cores inteiramente de acordo
neuronais presentes na retina, tálamo e córtex cere- com os relatos cuidadosos que ele fez sobre as cores
bral, os quais comparam a informação sobre absorção que ele e seu irmão confundiam [7].
de fótons fornecida pelos cones e extraem os valores
para as três grandezas mencionadas acima – brilho, O químico, metereologista e
azul-amarelo e verde-vermelho [6]. físico inglês John Dalton e seu
O fotopigmento S é codificado por um par de irmão tinham visão dicromática,
genes, um em cada cromossoma 7, enquanto os o que levou o cientista a ser um
fotopigmentos L e M são codificados por dois genes dos primeiros a estudar essa
presentes no cromossoma X [5]. Existem alguns seres condição sistematicamente, a
humanos que normalmente têm visão de cores dicro- qual leva o nome de daltonismo
mática, restrita a apenas duas das três dimensões em sua homenagem.
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Como mencionado acim, o daltonismo não se ou seja com uma mistura de três classes de cones,
trata de uma doença e sim de uma outra forma de S, M e L. Os resultados foram acompanhados com
visão de cores encontrada em seres humanos, mas métodos eletrorretinográficos e comportamentais.
a possibilidade de procedimentos que permitissem a Antes do tratamento, os animais discriminavam cores
esses indivíduos verem cores da mesma maneira que tipicamente como dicromatas, confundindo determi-
a maioria dos seres humanos foi sempre um tema de nadas cores, como previsto para esse tipo de visão.
grandes discussões entre os pesquisadores de Ciên- Após o tratamento, a sua visão foi progressivamente
cia Visual. Até há pouco tempo, esses procedimentos adquirindo as características tricromatas. Mancuso e
pertenciam ao reino da ficção científica. Entretanto, colegas concluíram que apesar do conhecimento até
recentemente, Katherine Mancuso (Medical College aqui estabelecer que existem períodos críticos para
of Wisconsin, Milwaukee, Wisconsin, E.U.A.) e seus o desenvolvimento de novas capacidades visuais,
colegas Thomas B. Connor Jr., William W. Hauswirth, o que levanta objeções sobre a possibilidade do
James Kuchenbecker, Q. Li, Matthew C. Mauck, Jere- tratamento de adultos com condições congênitas,
my Neitz e Maureen Neitz, utilizaram terapia gênica o fato da introdução de um terceiro tipo de fotopig-
em macacos-de-cheiro, Saimiri sciureus, primatas mento através da terapia gênica num animal adulto
neotropicais nos quais todos os machos e um terço ser suficiente para transformar um animal com visão
das fêmeas têm visão dicromata e conferiram-lhes dicromata em tricromata, contradiz essa afirmação,
visão tricromata, tendo esses resultados sido apre- tem repercussões importantes sobre a nossa com-
sentados no 19º Simpósio da ICVS de 2007, em preensão de como funcionam os circuitos corticais e
Belém [8], e na recente reunião deste ano da ARVO a plasticidade do sistema visual de primatas adultos,
[9]. Diversos primatas neotropicais têm populações e nos encoraja a usar terapia gênica para tratar uma
compostas por indivíduos dicromatas e tricromatas grande variedade de problemas visuais humanos que
porque nessas espécies o cromossoma X apresenta atingem os fotorreceptores [8,9,12].
um único gene que codifica fotopigmento de cones.
Dependendo do número de alelos na população, uma
certa proporção de fêmeas heterozigotas possui visão
tricromata, enquanto as fêmeas homozigotas e os
machos têm visão dicromata [10].
Tricromatas e dicromatas
Essas belas palavras do escritor uruguaio 5. Sharpe LT, Stockman A, Jägle H, Nathans J. Opsin
Eduardo Hughes Galeano foram-me há alguns anos genes, cone photopigments, color vision, and color
blindness. In Gegenfurtner KR, Sharpe LT (eds) Color
presenteadas por Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, emi- vision: from molecular genetics to perception, p 3-51.
nente imunologista brasileiro e Editor Associado do Cambridge, England: Cambridge University Press;
Neurociências. Ao ver os esforços de jovens pesqui- 1999. 492 p.
sadores como Michael Dyer e Katherine Mancuso, 6. Silveira LCL, Grünert U, Kremers J, Lee BB, Martin PR.
Comparative anatomy and physiology of the primate
desvendando as fronteiras do conhecimento e, cada
retina. In Kremers J (ed). The primate visual system:
um a seu modo, numa extraordinária batalha para a comparative approach, p 127-160. Chichester, Eng-
estender a capacidade humana de ver, para fazer com land: John Wiley & Sons; 2005. 367 p.
que o futuro distante aconteça em nossos dias, em 7. Hunt DM, Dulai KS, Bowmaker JK, Mollon JD. The
chemistry of John Dalton’s color blindness. Science
nome dos editores do Neurociências sinto que preciso
1995;267:984-8.
compartilhar com nossos leitores essa emoção, essa 8. Mancuso K, Connor Jr TB, Mauck MC, Kuchenbecker
alegria de encarar um futuro onde as fronteiras do J, Hauswirth WW, Neitz J, Neitz M. Welcome to the
conhecimento alargam-se a perder de vista. wonderful world of color: gene therapy treatment for
colorblindness. In Silveira LCL, Ventura DF, Lee BB
(eds). Abstracts Book of the 19th Symposium of the
Referências International Colour Vision Society (ICVS), p 41-42.
Belém: Universidade Federal do Pará (UFPA), Núcleo
1. Dyer MA. Cogan Award and Lecture. The role of the de Medicina Tropical (NMT), EDUFPA. São Paulo:
Rb family in retinal development and retinoblastoma. Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Psico-
ARVO Annual Meeting. Invest Ophthalmol Vis Sci logia (IP), Núcleo de Neurociências e Comportamento
2008;49:E-Abstract 3705. (NeC); 2007. 240 p.
2. Ajioka I, Martins RA, Bayazitov IT, Donovan S, John- 9. Mancuso K, Neitz M, Hauswirth WW, Li Q, Connor Jr
son DA, Frase S, Cicero SA, Boyd K, Zakharenko TB, Kuchenbecker J, Mauck MC, Neitz J. Colorblind-
SS, Dyer MA. Differentiated horizontal interneurons ness cure: gene therapy confers a new sensation.
clonally expand to form metastatic retinoblastoma in ARVO Annual Meeting. Invest Ophthalmol Vis Sci
mice. Cell 2007;131:378-390. 2008;49:E-Abstract 3252.
3. American Cancer Society. Cancer reference informa- 10. Mollon JD, Bowmaker JK, Jacobs GH. Variations of
tion. Detailed guide: retinoblastoma. [citado 2008 colour vision in a New World primate can be explained
Mai 10]. Disponível em: URL:http://www.cancer. by polymorphism of retinal photopigments. Proc R Soc
org/docroot/CRI/CRI_2_3x.asp?rnav=cridg&dt=37. Lond B 1984;222:373-99.
4. Finlay BL, Dyer MA, da Silva Filho M, Muniz JAPC, Sil- 11. Smallwood PM, Ölveczky B, Williams GL, Jacobs
veira LCL. Developmental programs coordinating size GH, Reese BE, Meister M, Nathans J. Genetically
and niche variations in the primate eye and retina. engineered mice with a novel class of cone photore-
In Silveira LCL, Ventura DF, Lee BB (eds). Abstracts ceptors: Implications for the evolution of color vision.
Book of the 19th Symposium of the International Proc Natl Acad Sci USA 2003;100:11706-11.
Colour Vision Society (ICVS), p 67-68. Belém: Univer- 12. Mancuso K, Hendrickson AE, Connor Jr TB, Mauck
sidade Federal do Pará (UFPA), Núcleo de Medicina MC, Kinsella JJ, Hauswirth WW, Neitz J, Neitz M. Re-
Tropical (NMT), EDUFPA. São Paulo: Universidade de combinant adeno-associated virus targets passenger
São Paulo (USP), Instituto de Psicologia (IP), Núcleo gene expression to cones in primate retina. J Opt Soc
de Neurociências e Comportamento (NeC); 2007. Am A 2007;24:1411-6.
240 p. 13. Galeano E. O livro dos abraços. Porto Alegre: L±
2005.
64 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Opinião
Crangberg e Albert sugeriram que a habilidade de mentaram esses resultados através da utilização de
jogar xadrez fosse uma especialização do hemis- magnetoencefalografia para investigar a atividade
fério cerebral direito devido a uma alta freqüência que ocorre dentro da chamada banda gama (20-40
de grandes mestres canhotos [8]. Nos últimos Hz) em grandes mestres enxadristas e enxadristas
vinte anos, as técnicas de imageamento cerebral amadores durante uma partida de jogo de xadrez
funcional contribuíram para a aquisição do conheci- contra um computador [19]. A atividade da banda
mento sobre as áreas encefálicas envolvidas pelo gama vem sendo correlacionada ao processamento
raciocínio do enxadrista durnate o jogo de xadrez. de informação visual, percepção e aprendizado [20].
Nichelli et al. [9] usaram tomografia por emissão de Foi observado que nos grandes mestres a atividade
pósitrons para investigar quais áreas encefálicas de banda gama concentra-se no neocórtex frontal
estavam ativadas para tarefas de discriminação e parietal, enquanto nos jogadores amadores a
espacial, tarefas para interpretar as regras do jogo maior atividade gama focaliza-se no lobo temporal
de xadrez e tarefas para avaliar a possibilidade e no hipocampo. Isto sugere que ao contrário dos
de cheque-mate nas jogadas subseqüentes. Os grandes mestres que, de acordo com a teoria do
resultados relacionados à interpretação da regra chunking, já possuem um plano pré-programado
apresentaram maior ativação do hipocampo e lobo em estágios superiores do processamento cortical,
temporal esquerdo em relação à condição da tarefa os jogadores amadores codificam e analisam cada
de discriminação espacial. O hipocampo é uma área nova informação em níveis corticais e subcorticais.
reconhecidamente envolvida com a memória [10] e Cheque-Mate.
o lobo temporal tem sido relacionado à identificação
de objetos e formação inicial da memória [11]. Já a Referências
condição de avaliação do cheque-mate sobressaiu-
se em relação à condição de interpretação da regra 1. D’agostini OG. Xadrez básico. Rio de janeiro: Ediouro;
2002. 614 p.
com maior ativação dos lobos occipital, parietal e
2. Enciclopédia Barsa. Xadrez. [citado 2008 Apr 2]. Dis-
regiões pré-frontais. O lobo occipital é ativado pelo ponível em URL: http//www.barsa.com.
processamento do estímulo visual mas, nesse caso, 3. Tahan M. Homem que calculava. Ed. RCB, 1990, 120
pode também ter outro papel não esclarecido visto pp.
4. Vasconcellos FA. Apontamentos para uma história do
que todas as outras atividades também necessitam
xadrez & 125 partidas brilhantes. São Paulo: Da Anta
processar a imagem para sua realização [12]. O lobo Casa; 1991. 350 p.
parietal é ativado quando sujeitos alternam a aten- 5. Binet A. Psychologie des grands calculateurs et
ção entre lugares diferentes [13] e as regiões pré- joueurs d’échecs. Paris: Hachette; 1894.
frontais são ditas responsáveis por processamentos 6. Groot AD. Thought and choice in chess. Basic Books;
1965.
cognitivos complexos como o reconhecimento de 7. Chase WG, Simon HA. Perception in chess. Cognit
si e o raciocínio lógico e matemático especializado Psychol 1973;4:55–81.
[14,15]. Onofrj et al. [16] estudaram com tomografia 8. Cranberg LD, Albert ML. The chess mind. In: Kober L,
por emissão de pósitrons como mestres e grandes Fein D, eds. the exceptional brain: neuropsychology of
talent and special abilities. The Guilford Press; 1988.
mestres enxadristas resolvem problemas complexos p. 156-90.
do jogo de xadrez. Eles observaram que em todos 9. Nichelli P, Grafman J, Pietrini P, Alway D, Carton J,
havia maior ativação dos lobos pré-frontal e temporal Miletich R. Brain activity in chess playing. Nature
nos hemisférios não dominantes manuais. Cavalo 1994;369:191.
10. Bird CM, Burgess N. The hippocampus and memory:
da Rainha preta em C6. insights from spatial processing. Nat Rev Neurosci
Rainha branca em F7. Atherton et al. utilizaram 2008;9:182-94.
ressonância magnética funcional para comparar 11. Squire LR, Wixted JT, Clark RE. Recognition memory
como jogadores amadores e experientes resolvem and the medial temporal lobe: a new perspective. Nat
Rev Neurosci 2007;8:872-83.
problemas do jogo de xadrez [17,18]. Durante a
12. Callaway EM. Local circuits in primary visual cor-
execução desse tipo de tarefa, ocorre ativação do tex of the macaque monkey. Annu Rev Neurosci
hipocampo e do lobo temporal dos jogadores ama- 1998;21:47-74.
dores mas, nos jogadores experientes, além da 13. Nebel K, Wiese H, Stude P, de Greiff A, Diener HC,
Keidel M. On the neural basis of focused and divided
ativação dessas áreas, ocorre também a ativação
attention. Brain Res 2005;25:760-76.
de regiões do lobo frontal sugerindo que nesses 14. Keenan JP, Wheeler MA, Gallup GG Jr, Pascual-Leone
indivíduos ocorrem formas mais complexas de pro- A. Self-recognition and the right prefrontal cortex.
cessamento cognitivo [17,18]. Amidizic et al. comple- Trends Cogn Sci 2000;4:338-44.
66 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Opinião
da liberação de neurotransmissores por via cálcio-de- 5. Szczuciski A, Losy J. Chemokines and chemokine re-
pendente e ativação de canais de membrana [11,12]. ceptors in multiple sclerosis. Potential targets for new
therapies. Acta Neurol Scand 2007;115:137-46.
Nesse sentido, demonstrou-se que as quimiocinas 6. Bielekova B, Martin R. Development of biomarkers in
participam do estabelecimento e da manutenção de multiple sclerosis. Brain 2004;127:1463-78.
síndromes dolorosas crônicas [11]. 7. Sousa-Pereira SR, Teixeira AL, Silva LC, Souza AL, An-
Concluindo, as quimiocinas, além de estarem tunes CM, Teixeira MM, Lambertucci JR. Serum and
cerebral spinal fluid levels of chemokines and Th2 cy-
classicamente envolvidas em processos inflamatórios
tokines in Schistosoma mansoni myeloradiculopathy.
sistêmicos e do SNC, parecem exercer atividades Parasite Immunology 2006;28:473-8.
neuromoduladoras, o que abre interessantes per- 8. Guerreiro JB, Santos SB, Morgan DJ, Porto AF, Muniz
spectivas de investigação. AL, Ho JL, Teixeira AL, Teixeira MM, Carvalho EM.
Levels of serum chemokines discriminate clinical
myelopathy associated with human T lymphotropic
Referências virus type 1 (HTLV-1)/tropical spastic paraparesis
(HAM/TSP) disease from HTLV-1 carrier state. Clin
1. Charo IF, Ransohoff RM. The many roles of chemo- Exp Immunol 2006;145:296 - 301.
kines and chemokines receptors in inflammation. N 9. Teixeira AL, Reis HJ, Nicolato R, Brito-Melo GE, Correa
Engl J Med 2006;354:610-21. H, Teixeira MM, Romano-Silva MA. Increased serum
2. Sousa-Pereira SR, Silva LC, Lambertucci JR, Teixeira levels of CCL11/eotaxin in schizophrenia. Prog Neuro-
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Bras Neurol 2005;41:23-9. 10. Kronfol Z, Remick DG. Cytokines and the brain:
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Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 69
Opinião
Ondas de visão
Bruno Duarte Gomes*, Luiz Carlos de Lima Silveira**
tive dye) [6-10]. A VSD é uma técnica de imageamento do estreitamento que se encontra em V2 e se propaga
óptico que permite visualizar em alta resolução com forte intensidade e velocidade em direção à V1,
temporal e espacial, os padrões de ativação do cór- causando uma despolarização em toda a área V1/V2
tex cerebral in vivo através do registro de ondas de analisada. Xu et al. observaram o mesmo padrão de
excitação ou ondas de propagação cortical. Na VSD propagação das ondas corticais em vários animais e,
a área cortical a ser analisada é exposta e marcada em cada animal, com várias varreduras. Tanto a onda
com o corante sensível à voltagem. As moléculas do primária quanto a refletida puderam ser claramente
marcador ligam-se à superfície externa das membra- discernidas usando quatro detectores ópticos de um
nas celulares e atuam como transdutores eletro-óp- total de 464 usados.
ticos ou seja transdutores de variações elétricas em O estudo de Xu et al. mostrou ainda que de modo
sinais ópticos através das alterações na absorção similar ao que ocorre com as ondas do potencial
ou emissão fluorescente que ocorrem na escala de cortical provocado visual registrado com eletródios
microsegundos. Essas alterações são monitoradas eletroencefalográficos posicionados no couro ca-
por detectores ópticos quando a superfície cortical beludo [12-13], a probabilidade de produzir a onda
marcada é iluminada com luz de comprimento de primária e portanto todo o padrão de propagação
onda correspondente ao pico de excitação espectral observado, diminuía com a redução de tamanho e
do corante usado. A partir daí é construída uma se- contraste da rede apresentada. Finalmente, o estudo
qüência de imagens das variações da fluorescência destaca ainda a imensa diferença entre os padrões
do córtex cerebral que correspondem às variações de propagação provocados por estimulação e aqueles
de voltagem, utilizando-se uma câmara de altíssima espontâneos. Em comparações repetidas usando os
resolução temporal [10-11]. mesmos animais, as ondas espontâneas demonstra-
Xu et al. publicaram os resultados de seus ram ser mais rápidas do que as ondas provocadas.
trabalhos com VSD mostrando o padrão de variação Além disso, iniciam-se em pontos variados e possuem
espaçotemporal de ondas de propagação cortical em padrão de propagação em várias direções. Nenhuma
V1 e V2 de ratos anestesiados [10]. Neste estudo, já compressão foi observada com as ondas de propa-
influente entre os pesquisadores da área, as ondas gação cortical espontâneas.
são produzidas mediante estimulação com redes Um outro achado bastante interessante foi o
quadradas acromáticas em movimento (drifting grat- fato de que resultados similares aos encontrados
ings). As ondas de propagação cortical mostradas com propagação cortical espontânea foram obtidos
por Xu et al. indicam uma variação espaço-temporal mediante a estimulação com as redes quando Xu et
estereotipadas que inicia com a produção de uma al. injetaram na superfície cortical estudada pequenas
onda primária, com latência de aproximadamente doses de bicuculina, um antagonista de receptores
100 ms (99,8 ± 18,2 ms), em uma pequena área de GABAA, um dos principais grupos de receptores ligan-
representação retinotópica monocular de V1, e que tes do ácido gama aminobutírico (GABA), o aminoácido
se espalha depois por toda a área primária, propa- que constitui o principal neurotransmissor inibitório do
gando-se em direção à V2 onde, na borda entre V1 sistema nervoso central. Sob influência da bicuculina,
e V2 sofre uma redução de velocidade e uma forte ocorreu a produção da onda primária mas, no entanto,
compressão. Após a compressão, uma onda é então não houve compressão ou reflexão. Esse resultado
produzida em V2 e se propaga até V1. Essa segunda sugere um papel crítico para a inibição devida à libera-
onda foi chamada pelos autores de onda refletida. ção de GABA no comportamento espaçotemporal da
Pode-se descrever o que foi observado por esses resposta visual e mostra de modo elegante o balanço
pesquisadores numa região do córtex cerebral que dinâmico entre excitação e inibição das redes neurais
continha uma parte de V1 e V2 separadas por uma corticais em atividade por estimulação visual tal como
fronteira sinuosa porém contínua. O início da onda ocorre na borda V1/V2 do sistema visual.
de despolarização primária em V1 é vista como um As “ondas de visão” de Xu et al. mostram de
clarão que inicia 100 ms após o início do movimento forma sólida que pelo menos quando se considera
do estímulo visual periódico espaçotemporal, a drift- grandes populações de neurônios, o padrão espa-
ing grating. Esse clarão propaga-se em alta velocid- çotemporal de ativação de áreas corticais contém
ade tal qual uma onda de choque em direção a V2, o código no qual está representada a informação
sofrendo na fronteira entre V1 e V2 uma redução de sensorial no córtex cerebral visual.
velocidade e um estreitamento. Logo após, uma onda
se inicia já em V2 de modo quase contínuo à região
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 71
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72 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Opinião
Psicologia e neurociências:
limpando terreno
Amauri Gouveia Jr*, Iza Batista Taccolini**
fato gera uma confusão semântica que separa mais 2) A publicação em curto espaço de anos dos livros
ainda os dois programas. de Luria [3] e Hebb [2], indicando o fenômeno da
Hume levou a introspecção como técnica ao plasticidade neural [10];
seu limite, de tal forma que passa a considerar que 3) A emergência de uma visão “computacional” da
o acesso a subjetividade do outro (seus pensam- mente, abrindo as portas para modelos matemáti-
entos, sentimentos, etc) é impossível, bem como o cos de função mental [11];
conhecimento objetivo do mundo, dado que este só 4) O surgimento das técnicas de biologia molecular,
existe como representação pessoal, inacessível aos permitindo a exploração das alterações molecula-
outros. Kant inicia o prefácio de seu livro A critica res dos organismos (talvez o principal fato)3;
da razão pura afirmando que Hume o “despertou” 5) O surgimento das primeiras drogas psiquiátricas
de seu sonho metafísico, e resgata a concretude da contemporâneas, com o uso extensivo dos neu-
experiência e do mundo, mas ressalta que o acesso rolépticos, dos antidepressivos triciclícos e dos
a subjetividade continuava interdito, dado que não ansiolíticos benzodiazepínicos e o tratamento
poderia ser descrito por vários observadores [7]. farmacológico das patologias psiquiátricas.
Desta forma, Kant [7] afirma que a psicologia
como ciência era impossível. Apesar disto, grupos de Tais fatos geraram conseqüências imediatas,
físicos tentaram estudar as categorias empiricistas, unificando as áreas da neurobiologia em um único
gerando a Psicologia da Gestalt1. Por outro lado, cien- núcleo; dessa forma, a neurofarmacologia, a neuro-
tistas como Thordike tentaram criar alternativas para o anatomia e a neurofisiologia passaram a compartilhar
estudo do comportamento de forma independente da técnicas e deixaram de ser, respectivamente, uma
fisiologia, seja com objetivos descritivos (como Wat- disciplina da estrutura, da ação de agentes externos
son, Hull ou Skinner [8]), seja com objetivos clínicos e da função, para unificarem a linguagem e cruzarem
(através de médicos como Freud ou Binswanger). Tais objetivos em um todo coerente [12], com linguagens
modelos reforçaram a divisão entre os programas de convergentes, que passaram a estudar o cérebro em
pesquisa da mente e do seu cérebro, afastando-os termos de alterações micro e ultra-estruturais, dando
mais ainda. Cada vez mais a psicologia era uma ciência uma base biológica para plasticidade proposta e sub-
da mente (em alguns casos, como no behaviorismo, da sidiando a ação da neurologia e psiquiatria em termos
aprendizagem), e cada vez mais a biologia do sistema de base biológica dos transtornos que superaram
nervoso era uma ciência sem mente. Mesmo alterna- as dicotomias estrutura-função e orgânico-funcional.
tivas pretensamente calcadas no darwinismo, como O comportamento passa a poder ser explicado em
o behaviorismo de Skinner, afirmavam um dualismo uma base material, identificada com o sistema ner-
de propriedades [2] entre o organismo e o comporta- voso central, o qual é plástico, ou seja, é modelável
mento, que inibia as colaborações mútuas. em sua estrutura e função por agentes externos e
Em paralelo a este movimento, a nascente neu- endógenos, entre eles drogas. Os comportamentos
rologia do século XIX se divide entre seguidores de passam a ser explicados em termos computacionais,
doutrinas equipotenciais, em que o que conta para o integrando as disciplinas do comportamento em um
comportamento e função do cérebro é a quantidade todo coerente.
de massa encefálica, e localizacionistas, em busca Tal fato levou à superação das visões equipoten-
de mapas de localização de funções neurais [9]. ciais e localizacionistas para outra, em que o cérebro
No fim da década de 50 do século 20, uma serie é formado por módulos funcionais, que se organizam
de fatos ocorreu: em sistemas sob pressão de eventos ambientais e
desenvolvimentais que sustentam a emergência de
1) a emergência de técnicas de neuroimagem, que comportamentos.
permitiram o estudo do cérebro em funciona- Este movimento são as neurociências, que
mento2; não se constituíram em uma área da psicologia, da
1 A psicologia da Gestalt, ao contrario do que afirmam os livros de história da psicologia, continua viva e forte na psicofísica praticada
no mundo.
2 Para se ter uma idéia de como a evolução das técnicas de imagem é recente: o raio-X é de 1895; a pneumografia é de 1919; o ul-
trassom craniano é de 1956; A tomografia de raio X é de 1972; a Tomografia de emissão de positrons (PET) de 1974, e a tomografia
funcional, de 1994. (confira mais datas em http://staff.washington.edu/chudler/hist.html).
3 Para uma historia da biologia molecular, confira [13].
74 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
fisiologia, ou de qualquer outra das ciências que as de novos compostos farmacológicos e conhecimentos
sustentam, mas em um campo de interesse comum, sobre o funcionamento neural.
das relações entre cérebro e comportamento (ou Dado o exposto, esperamos que mais estudio-
mente). Tal entendimento surge no fim da década sos do comportamento surjam nas neurociências, e
de 60 [12]. auxiliem no conhecimento das relações entre mental
O campo que se vislumbra tem um núcleo duro, (comportamental) e biológico e consolidem a unifica-
composto das disciplinas do programa de biologia, ção dos programas de pesquisa.
unificadas por técnicas e objetos comuns. Ao redor
deste gravitam as ciências do comportamento, mais Referências
próximas da psicologia e da etologia, e as ciências
da informação, bem como suas interfaces. 1. Starling RR. A interface comportamento/neurofisiolo-
gia numa perspectiva behaviorista radical: o relógio
Este campo (as neurociências) se subdivide em
causa as horas? In: Kerbauy RR, ed. Sobre compor-
grandes áreas de interesse: Neurociência molecular tamento e cognição. Santo André: ESITEC; 2000. vol.
e celular, Desenvolvimento do sistema nervoso, 5. p. 3-15.
Sistemas sensoriais, Sistemas motores, Sistemas 2. Hebb DO. The organization of behavior: A neuropsy-
regulatórios, Neurociência comportamental e cognitiva chological theory. New York: John Wiley & Sons;
1949.
e Neurofilosofia [12,14]. 3. Luria AR Higher cortical functions in man. New York:
Podemos agora determinar quais as relações Basic Books; 1966.
entre neurociências e psicologia. 4. Descartes R. O discurso do método. Porto Alegre:
1) As neurociências não são uma linha em L± 2005.
5. Rorty R. A filosofia e o espelho da natureza. São
psicologia – embora algumas linhas relacionadas Paulo: Relume Dumará; 1994.
com as ciências cognitivas tenham uma afinidade 6. Matson W. Why is the mind-body problem ancient?
intensa com estas (confira por exemplo [15]) – os 1966. In: Rorty R. A filosofia e o espelho da natureza.
fatos que apóiam essa afirmação são os seguintes: São Paulo: Relume Dumará; 1994
7. Kant E. A crítica da razão pura. Versão eletrônica.
a) os neurocientistas não compartilham a fé em me- Merege JM trad [citado 2004 Apr 05]. Disponível em
canismos comuns e pressupostos outros que não a URL: http://www.dca.fee.unicamp.br/~gudwin/ftp/
materialidade das funções neurais, e mesmo esta ia005/critica_da_razao_pura.pdf.
não é um dogma inabalável entre eles [16]; b) os 8. Mills JA. Control: a history of behavioral psychology.
New York: New York University Press; 2000.
neurocientistas não compartilham, em sua maioria,
9. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Essentials of
um programa de pesquisa em comportamento com neural science and behavior. Stanford: Apletton &
vistas a subsidiar ou gerar tecnologias, como as Lange; 1995.
grandes linhas da psicologia; 10. Kristensen CH, Almeida RMMA, Gomes WB. Historical
development and methodological foundations of cog-
2) As neurociências não são uma alternativa à
nitive neuropsychology. Psicol Reflex Crit 2001;14
psicologia, mas se apropriam de conhecimentos e téc- :259-74.
nicas destas para pesquisa, quando de interesse; 11. Gardner H. A nova ciência da mente. São Paulo:
3) As neurociências não pretendem acabar com EDUSP; 1995.
a psicologia, mas tem um desenvolvimento à parte 12. Zigmond MJ, Bloom FE, Landis SC, Robert JL, Squire
LR. Fundamental neurosciences. New York: Academic
destas, embora por vezes, convirjam em assuntos e Press; 1999.
objetivos. 13. Hausmann R. História da biologia molecular. Ribeirão
Um comentário se deve às relações entre as neu- Preto: Sociedade Brasileira de Genética; 1997.
rociências e a clínica psicológica: embora de maneira 14. Churchland P. Neurophilosophy: toward a unified sci-
ence of the mind-brain. Cambridge, Mass: MIT Press;
geral o desenvolvimento de pesquisa na área privilegie 1989.
as pesquisas básicas, o que chega à mídia é princi- 15. Gazzaniga MS, ed. The new cognitive neurosciences.
palmente clínica; a clínica neuropsicólogica tem se Cambridge, Mass: MIT Press; 1999.
beneficiado de técnicas de imagem e a clínica médica 16. Penrose R. A mente nova do rei: computadores,
mentes e as leis da física. Rio de Janeiro: Campus;
tem se beneficiado muitíssimo dos desenvolvimentos 1993.
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 75
Artigo original
Resumo
Introdução: O teste de Stroop é um instrumento útil para a investigação de aspectos executivos
do controle atencional. Mecanismos atencionais são exigidos para inibir o processamento au-
tomático da identidade da palavra enquanto prioriza processos menos automáticos como a cor
da palavra. No Brasil, não há relato de versão computadorizada do testes de Stroop. Objetivo:
Investigar a confiabilidade do teste de Stroop computadorizado – Testinpacs como instrumento
para a avaliação cognitiva. Métodos: 40 participantes foram submetidos a 4 sessões de prática
*Professor Adjunto nos cursos para a avaliação da fidedignidade do teste (r) e dos efeitos da prática. Resultados: Os coefici-
de Psicologia e Medicina da entes r foram classificados como satisfatórios [0,70 – 0,79]. As estatísticas d revelaram que a
UCB, Laboratório de Processos magnitude dos efeitos da prática variou de 0,23 a 1,54 desvios padrões. Modelos de regressão
Básicos em Psicologia (LPBP), curvilíneos explicaram melhor a distribuição dos dados em relação ao linear simples. Conclusão:
Sugere-se que a presente versão computadorizada do teste de Stroop - Testinpacs é um eficiente
Universidade Católica de Bra-
instrumento para avaliar atenção seletiva associada ao estresse psicológico agudo.
sília – UCB-DF, **Pesquisador
do Programa de Pós-Graduação
Palavras-chave: teste de Stroop computadorizado, estresse psicológico agudo, efeitos da
em Gerontologia, Laboratório prática, atenção seletiva.
de Imunogerontologia, Uni-
versidade Católica de Brasília
– UCB-DF, Brasil, ***Doutor Abstract
em Ciências pela USP – Ri- Background: The Stroop task is a particularly useful tool for the investigation of executive aspects
of attentional control. Attentional mechanisms are required to suppress the automatic processing
beirão Preto
of the word’s identity while prioritizing the less automatic processing of the word’s ink color. There
are no descriptions of a computerized version of the Stroop tests in Brazil. Objective: To assess
Recebido 22 de maio de 2007; the reliability of the computerized Stroop test – Testinpacs as an instrument for cognitive evalua-
aceito 15 de fevereiro de 2008. tion. Methods: 40 subjects were submitted to 4 practice sections to evaluate the reliability of the
Endereço para test (r) as well as the practice effects. Results: The r coefficients rendered satisfactory results
[0,70 – 0,79]. Cohen statistics (d) revealed that the magnitude of the practice effects ranged
correspondência: Dr. Cláudio
from 0,23 to 1,54 standard deviations. Curve-form regression models rendered more adequate
Córdova, SHIS QI 17 conj. 03 data distribution when compared to simple linear models. Conclusion: The results suggest that
casa 19, Lago Sul 71645-030 the present computerized version of the Stroop test is an useful instrument to evaluate selective
Brasília DF, Tel: (61) 9265 attention associated to acute psychological stress.
5854, E-mail; claudioucb@
yahoo.com.br Key-words: computerized Stroop test, acute psychological stress, practice effects, selective
attention.
76 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
palavra. Em todas as etapas os estímulos foram Estes resultados foram comparados com as estatísti-
apresentados de forma automática e aleatória cas d de Cohen [10]. Quando apropriado, contrastes
(12 tentativas/etapa). O TR para cada tentativa planejados foram realizados com o propósito de com-
foi medido em milissegundos. parar os escores d para os intervalos: d 1- 2 versus
2. Teste Controle. Listas de palavras foram impres- d 2 –3 e d 2 –3 versus d 3 –4.
sas em folhas de papel A-4 e organizadas aleato-
riamente em uma coluna central. No Stroop 1, as Resultados
palavras, verde, vermelho, amarelo e azul foram
impressas em cor preta. No Stroop 3, as cores Os coeficientes de fidedignidade (r) para o C situ-
foram incompatíveis com as palavras impressas. aram-se no intervalo de 0,47 a 0,86, sendo a maioria
O TR e número de erros foram medidos durante ≥ 0,53 (Tabela I). Para o PC verificou-se o intervalo de
as 12 tentativas/etapa. O tempo para a realização 0,68 a 0,89, com a maioria dos coeficientes ≥ 0,7.
de cada etapa do teste foi medido em centésimos Os coeficientes para o C foram classificados como
de segundos por um cronômetro. Os participantes insuficientes (≤ 0,9), enquanto para o PC como sa-
foram instruídos a responder, verbalmente, o mais tisfatórios [0,70 – 0,79] [7].
rápido possível, às tentativas.
Tabela I - Coeficientes de fidedignidade (r) para me-
Análises dos dados didas do tempo de resposta entre pares de sessões
de prática.
A análise foi dividida em quatro etapas: 1) Medi- Tipo de teste Prática 1 – 2 Prática 2 – 3 Prática 3 – 4
das de fidedignidade teste/reteste para TR foram esti- N = 40 N = 40 N = 40
madas entre sessões de práticas utilizando o teste de PC
correlação de Pearson; 2) Avaliação do desempenho Stroop 1 0,70** 0,78** 0,72**
sobre o TR por análises de variância com medidas Stroop 3 0,82** 0,68** 0,89**
repetidas (ANOVA); 3) Modelos de regressão foram C
utilizados com o objetivo de explicar o comportamen- Stroop 1 0,47* 0,86** 0,76**
to dos dados quando ANOVAs revelaram diferenças Stroop 3 0,53* 0, 57* 0,67**
significativas (efeito da prática); 4) A magnitude do PC – Teste Computadorizado; C – Teste Controle; *p <
efeito da prática foi estimada como o percentual da 0,05; **p < 0,01 (testes bicaudais).
diferença entre as médias de consecutivas práticas.
Tabela II - Resultados sobre as medidas do tempo de resposta e erros cometidos para as sessões de prática.
Testes Prática1 Prática2 Prática3 Prática4 F Diferença Dif. (%) d
M (DP) M (DP) M (DP) M (DP) entre
médias
(P4 –P1)
PC
S1 (TR) 1707,64 (277,06) 1507,59 (204,24) 1416,28 (157,23) 1380,20 (147,44) 21,31* - 327,44 - 19,17 1,54
S3 (TR) 2256,42 (386,34) 2047,31 (330,72) 1939,07 (261,17) 1932,33 (238,03) 13,67* - 324,09 - 14,36 0,68
C
S1 (TR) 5671,50 (1011,56) 5467,00 (821,16) 5396,00 (959,50) 5433,00 (1056,71) 0,97 NS - 238,50 - 4,2 0,23
S3 (TR) 13229,00 (3855,45) 10913,50 (2573,76) 10323,00 (3053,56) 9970,50 (2023,00) 6,93* - 3258,50 - 24,6 1,11
S1 (E) - - - - - - - -
Com base Tabela II, verificou-se que os dois média da estatística d sobre o intervalo de prática
testes apresentaram as maiores médias sobre o 1 - 2 foi significativamente superior em relação ao
TR durante as primeiras sessões de práticas. Como intervalo 3 – 4 (p < 0,01).
esperado, a maior parte dos erros cometidos para o
PC aconteceu durante as primeiras sessões do Stroop Discussão
3. Os resultados das ANOVAs com medidas repetidas
sobre o TR revelaram diferenças significativas entre as Os resultados das medidas comportamentais
práticas, a exceção do Stroop 1 para o C. Ainda nesta sugerem que o teste de Stroop computadorizado - TES-
Tabela, as estatísticas d revelaram que os efeitos TINPACS é um instrumento confiável para a avaliação
da prática foram responsáveis por uma variação de da atenção seletiva associada ao estresse psicológico
0,23 a 1,54 desvios padrões. Surpreendentemente, agudo. Por exemplo, quando os participantes sofre-
o maior escore d foi evidenciado na etapa Stroop 1 ram os efeitos da interferência palavra-cor (situação
para o PC. Entretanto, acreditamos que este resultado de conflito) em relação à etapa de identificação da cor
seja, em parte, decorrente da menor dispersão dos do retângulo, as medidas sobre o tempo de resposta
dados, estimada pelo desvio padrão, quando com- e erros cometidos elevaram substancialmente. Estes
parado ao C. Portanto, mascarando o resultado da resultados foram consistentes com outros trabalhos
estatística d. Por outro lado, os modelos de regressão que utilizaram versões de Stroop baseada em leitura
evidenciaram que a função inversa, em relação à loga- de lista de palavras [11] ou em teste computadori-
rítmica e linear, foi o modelo matemático-estatístico zado [4].
que melhor descreveu o efeito da prática para os dois Embora os coeficientes de estabilidade temporal
testes (Tabela III). representem uma boa estimativa para a avaliação da
A Tabela IV apresenta a diferença entre as fidedignidade do instrumento, fontes de confundimen-
médias e as estatísticas d para os três pares de to podem ter viesado os nossos resultados, uma vez
intervalos de prática. Em conjunto, os resultados re- que para as sucessivas reavaliações experimentais
velaram índices de maior magnitude sobre o intervalo utilizamos o mesmo instrumento. Os coeficientes de
de prática 1 – 2. Análises de variância com medidas estabilidade são sensíveis aos efeitos da prática e
repetidas evidenciaram diferenças significativas para não revelam diretamente a magnitude destes efeitos
o PC na etapa do Stroop 3 [F(2,38) = 3,89; p < 0,05]. [7]. Portanto, é provável que os valores dos coeficien-
Testes de comparações planejadas revelaram que a tes verificados em nossa investigação tenham sido
Tabela III - Equações que descrevem o comportamento dos dados para o tempo de resposta.
Etapas Linear simples r2 Logarítmica r2 Inversa r2
Stroop 1(C) - - - - - -
Stroop 3 (C) y = 13700,50 – 1036,60x 0,83 y = 12997,70 – 2377,10ln(x) 0,95 y = 8838,81 + 4358,77x-1 0,99
Stroop 1(PC) y = 1771,33 – 107,33x 0,89 y = 1695,01 – 241,65ln (x) 0,98 y = 1276,20 + 435,46 x-1 0,99
Stroop 3 (PC) y = 2313,91 – 108,05x 0,85 y = 2239,51 – 246,35ln (x) 0,96 y = 1810,50 + 447,90 x-1 0,99
PC – Teste Computadorizado; C – Teste Controle.
subestimados, uma vez que os modelos de regres- o sucesso da aprendizagem. O programa Testinpacs
são curvilíneos explicaram melhor a distribuição dos encontra-se disponível sem nenhum ônus para labo-
dados em relação ao linear simples. Este resultado ratórios ou instituições que o desejarem.
é relevante uma vez que chama a atenção para dois
aspectos: primeiro, a administração de formas alter- Referências
nativas ou pseudo-aleatórias de apresentação dos
estímulos não é uma técnica de controle experimental 1. Stroop JR. Studies of interference in serial verbal
reactions. J Exp Psychol 1935;18:643-62.
satisfatória para o controle efetivo dos efeitos da
2. Salgado-Pineda P, Vendrell P, Bargalló N, Falcon
prática; segundo, uma conduta mais cautelosa e, C, Junque C. Resonancia magnética funcional en
conseqüentemente mais apropriada para a interpre- la evaluación de la actividad del cingulado anterior
tação dos dados em população de indivíduos neuro- mediante el paradigma de Stroop. Rev Neurol
logicamente normais é a exclusão das três primeiras 2002;34(7):607-11.
3. Hoshikawa Y, Yamamoto Y. Effects of Stroop color-
sessões de prática, assumindo cada sessão com 12 word conflict test on the autonomic nervous system
tentativas/etapa. Connor et al. também evidenciaram responses. Am J Physiol 1997;272:1113-21.
curvas assintóticas de aprendizagem após três retes- 4. Renaud P, Blondin JP. The stress of Stroop
tes com o Stroop [12]. Outra estratégia metodológica performance: physiological and emotional responses
to color-word interference, task pacing, and pacing
sugerida é a inclusão do grupo controle cuja quan- speed. Int J Psychophysiol 1997;27(2):87-97.
tificação dos efeitos da prática pode contribuir para 5. Herbert TB, Cohen S, Marsland AL, Bachen EA, Rabin
análises e interpretações mais precisas. BS, Muldoon MF, et al. Cardiovascular reactivity
Entre as limitações do trabalho, pode-se destacar and the course of immune response to an acute
psychological stressor. Psychosom Med 1994;56
que a análise dos dados limitou-se a comparação (4):337-44.
dentro dos grupos, uma vez que diferenças sobre 6. Stein PK, Boutcher SH. Heart-rate and blood-pressure
a precisão na escala original das medidas para o responses to speech alone compared with cognitive
tempo de resposta (segundos versus milissegundos) challenges in the Stroop task. Percept Mot Skills
1993;77(2):555-63.
e o tipo de resposta (verbal versus motora binária)
7. Strauss E, Sherman EMS, Spren O. A Compedium of
poderiam ter mascarado potenciais diferenças entre Neuropsychological Tests – Administration, Norms,
os grupos. and Commentary. 3 ed. New York: Oxford Press;
2006. p. 3-43.
8. Córdova C, Bravin AA, Oliveira RJ, Barros JF. The
Conclusão reaction time in socio-cultural adult retardates and its
relationship with differences in motor development.
Em síntese, nossos resultados sugerem que o Neurobiologia 2003;66(1-4):53-9.
teste de Stroop computadorizado – Testinpacs é um 9. Duchesne M, Mattos P. Normatização de um
instrumento útil para investigações que apresentam teste computadorizado de atenção visual. Arq
Neuropsiquiatr 1997;55(1):62-9.
por objetivo avaliar o processamento de atenção se- 10. Cohen J. A Power Primer. Psychol Bull 1992;112(1):155-
letiva associada ao estresse psicológico agudo. Dada 9.
sua praticidade, o teste tem aplicação potencial no 11. Adleman NE, Menon V, Blasey CM, White CD,
campo da educação, sobretudo no desenvolvimento Warsofsky IS, Goler GH, et al. A developmental fMRI
study of the Stroop color-word task.. Neuroimage
infantil, tendo em vista que o teste de Stroop mede o 2002;16:61-75.
controle intencional ou voluntário do comportamento. 12. Connor A, Franzen M, Sharp B. Effects of practice and
Do ponto de vista educacional, a atenção e o con- differential instructions on Stroop performance. J Clin
trole voluntário do comportamento são passos para Exp Neuropsychol 1988;100:1-4.
80 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Artigo original
Resumo
A visão de cores dos primatas platirrinos caracteriza-se por polimorfismo ligado ao sexo: al-
gumas fêmeas são tricromatas e os machos e demais fêmeas são dicromatas. Este trabalho
buscou avaliar a discriminação de cores de dois macacos-prego, um macho e uma fêmea. Os
animais foram submetidos a 8 sessões sucessivas de treino de discriminações simples, cada
uma com um par de matizes, seguidas de uma sessão de simulação de teste, que apresentou
três pares novos. Em todas as sessões, cada tentativa apresentava 16 quadrados na tela do
computador, sendo um deles de cor diferente (S+) dos demais (S-). Na primeira rodada de treino
e teste, as discriminações podiam ser realizadas com base em dicas de intensidade. Na segunda
rodada, os 16 estímulos foram definidos com valores diversos de luminância e saturação, de
modo que o matiz era a única propriedade que poderia guiar consistentemente a dicriminação.
Os sujeitos falharam em discriminar entre os pares “amarelo”-“vermelho, “amarelo”-“verde”
e “verde”-“vermelho”, o que era esperado para os fenótipos dicromatas característicos da es-
pécie. Embora preliminares, os dados sugerem a viabilidade da presente abordagem. Estudos
adicionais, com equipamento de alta precisão e comparação com dados genéticos, permitirão
a verificação desses dados.
Programa de Pós-Graduação
em Teoria e Pesquisa do Palavras-chave: discriminação simples, visão de cor, primatas do Novo Mundo, Cebus apella.
Comportamento, Universidade
Federal do Pará
Abstract
Platyrrhine primates show polymorphic color vision: some females are trichromats, while all
Recebido 15 de fevereiro de males and the remnant females are dichromats. This study aimed to assess the color discrimi-
2008; aceito 15 de março de nation of two capuchin monkeys, a male and a female. Subjects were exposed to eight simple
2008. discrimination sessions, each with a different pair of hues. Trials displayed 16 stimuli on a
Endereço para touchscreen, one of which was programmed with a different color (S+). Following exposure to
the eight training pairs animals were exposed to one session simulating the test condition by
correspondência: Paulo Roney
introducing three novel pairs. In this first exposure to the training/test sequence the discrimina-
Kilpp Goulart, Av. Conselheiro tions could be made based on properties other than hue. In a second training/test sequence
Furtado, 1776/206 Nazaré the 16 stimuli varied both in luminance and saturation, in such a way that discriminations could
66040-100 Belém PA, Tel: be made only on the basis of hue. Subjects failed at the “yellow”-“red”, “yellow”-“green”, and
(91) 8190-1575, E-mail: “red”-“green” discriminations, an outcome that is coherent with theoretical predictions. Although
goulartprk@gmail.com refinements are mandatory, the present results encourage further efforts in developing low cost
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 81
strategies for the assessment of color discrimination with monkeys. Future results obtained
with this technology are to be validated against genetic data and behavioral data produced with
high precision equipment.
Key-words: simple discrimination, color vision, New World primates, Cebus apella.
1 As únicas exceções conhecidas sendo o macaco guariba, Alouatta sp., e o macaco da noite, Aotus sp.
82 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
talvez menos precisa, mas certamente mais flexível o conjunto (“VM” para “vermelho”, “AM” para “amare-
por sua portabilidade e baixo custo, para medidas da lo”, “VD” para “verde”, “AZ” para “azul” e “CZ” para
visão de cores de macacos. “cinza”) e por números (de 1 a 15) representando sua
posição relativa no contínuo “luminância”.
Material e métodos A Tabela I mostra que a manipulação da proprie-
dade “luminância” implicou de fato na variação da
Sujeitos luminância (representada por Y, a partir de medidas
feitas com um colorímetro CS-100A em condições
Participaram do experimento dois macacos-prego, idênticas às das sessões experimentais), embora de
um macho (Raul) e uma fêmea (Preta), ambos adul- forma não linear. Além disso, como pode ser visto
tos. Os dois sujeitos tiveram experiência prévia em na Figura 1, embora a manipulação da propriedade
experimentos de discriminações simples simultâneas “luminância” tivesse pouco efeito nos “cinzas”, ela
e de escolha de acordo com o modelo com atraso influenciou a pureza colorimétrica dos demais estí-
zero, ambos usando de duas a quatro escolhas. As mulos, com o aumento na “luminância” se traduzindo
sessões eram realizadas entre 9h e 14h, antes do em diminuição da pureza colorimétrica. Assim, na
acesso a comida, às 15h. Os protocolos de pesquisa condição de teste, cada “cor” consistia em um con-
e de manejo geral dos animais foram reconhecidos junto de 15 estímulos com o mesmo comprimento de
pelo IBAMA e pelo Comitê de Ética em Pesquisa com onda dominante e variando tanto em luminância como
Animais da Universidade Federal do Pará (documento em pureza colorimétrica. Por exemplo o conjunto dos
CEPAE-UFPA PS001/2005). “vermelhos” era composto por “VM#01”, “VM#02”,
“VM#03” e assim sucessivamente, até “VM#15”,
Estímulos cada um apresentando o mesmo matiz dominante,
mas diferentes valores de luminância e saturação (ver
Os estímulos foram gerados por meio da ferra- Tabela I para uma caracterização mais detalhada dos
menta de edição de cores do aplicativo “Paint” do estímulos em termos do diagrama CIE 1931).
Windows XP (Microsoft), manipulando-se as proprieda-
des “matiz”, “saturação” e “luminância”2. No decorrer Figura 1 - Representação do diagrama de cores CIE
deste trabalho, os estímulos serão nomeados a partir 1931 mostrando a distribuição dos estímulos utiliza-
das categorias de cor características de humanos tri- dos no teste de discriminação de cores. As letras VD,
cromatas (“vermelho”, “azul”, etc.). Cada categoria é AM e VM identificam os 15 matizes pertencentes a
caracterizada pela propriedade “matiz” do aplicativo: cada um dos conjuntos “Verde”, “Amarelo” e “Vermel-
“vermelho” (matiz 0), “amarelo” (42), “verde” (85) e ho”, respectivamente. Os “cinzas” estão agrupados na
“azul” (170). Os estímulos “cinza” também tinham região de convergência no centro do diagrama.
“matiz” 170, mas sua “saturação” foi definida como
0 (todos os demais estímulos tinham “saturação”
255). O termo “cor” será aqui utilizado para se referir
a conjuntos de estímulos definidos com o mesmo
matiz, ainda que variem em outras propriedades.
Durante o treino inicial e na primeira exposição
dos sujeitos ao formato de teste (simulação de teste),
todos os estímulos foram definidos com “luminância”
120. Na condição de teste propriamente dito, cada
cor podia ser apresentada com um de 15 valores de
“luminância” variando em espaços iguais entre 15 e
240. A Tabela I apresenta as definições dos estímulos
com base nas propriedades do Paint e sua caracteri-
zação em termos do diagrama CIE 1931. Seguindo a
notação da Tabela I, os membros individuais de cada
conjunto serão identificados por letras representando
2 Ao longo do presente trabalho “matiz”, “saturação” e “luminância” (apresentados entre aspas) referir-se-ão às propriedade assim
denominadas no aplicativo Paint.
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 83
Tabela I - Propriedades dos estímulos utilizados no estudo. As letras indicam os conjuntos de cor agrupados
pelo matiz dominante. Os números indicam a posição relativa dos estímulos no contínuo brilho/saturação.
“Mat”, “Sat” e “Lum” indicam os valores das propriedades “Matiz”, “Saturação” e “Luminância” no aplica-
tivo Paint. Os valores “x”, “y” e Y são as coordenadas de cromaticidade no diagrama CIE 1931, de acordo
com medidas feitas com um colorímetro CS-100A em condições idênticas às das sessões experimentais. Os
estímulos identificados com o número 07 têm a mesma caracterizão dos estímulos utilizados no treino sem
ruído e na simulação de teste.
# VM AM VD AZ CZ # VM AM VD AZ CZ # VM AM VD AZ CZ
Mat 0 42 85 170 170 Mat 0 42 85 170 170 Mat 0 42 85 170 170
Sat 255 255 255 255 0 Sat 255 255 255 255 0 Sat 255 255 255 255 0
Lum 30 30 30 30 30 Lum 105 105 105 105 105 Lum 180 180 180 180 180
01 06 11
x 0,45 0,33 0,25 0,18 0,27 x 0,54 0,33 0,24 0,15 0,25 x 0,38 0,31 0,24 0,18 0,25
y 0,40 0,53 0,51 0,15 0,38 y 0,40 0,56 0,63 0,08 0,36 y 0,38 0,50 0,53 0,17 0,35
Y 2,72 8,26 6,49 1,78 3,83 Y 14,00 60,40 47,60 7,47 19,30 Y 34,20 86,60 72,50 26,90 49,10
Lum 45 45 45 45 45 Lum 120 120 120 120 120 Lum 195 195 195 195 195
x 0,51 0,33 0,25 0,16 0,26 x 0,54 0,34 0,24 0,14 0,25 x 0,33 0,30 0,24 0,19 0,25
02 07 12
y 0,40 0,55 0,61 0,12 0,37 y 0,40 0,56 0,63 0,08 0,35 y 0,37 0,47 0,48 0,21 0,35
Y 5,87 14,40 11,40 2,46 5,96 Y 17,70 74,00 60,90 9,37 24,20 Y 42,40 87,40 75,30 36,00 57,10
Lum 60 60 60 60 60 Lum 135 135 135 135 135 Lum 210 210 210 210 210
x 0,50 0,33 0,24 0,15 0,26 x 0,53 0,33 0,24 0,15 0,25 x 0,30 0,28 0,24 0,21 0,25
03 08 13
y 0,40 0,55 0,62 0,10 0,37 y 0,40 0,56 0,63 0,09 0,35 y 0,36 0,44 0,44 0,25 0,35
Y 5,90 21,80 17,90 3,36 8,50 Y 20,50 85,20 68,00 11,30 29,60 Y 52,50 88,40 78,80 47,40 65,40
Lum 75 75 75 75 75 Lum 150 150 150 150 150 Lum 225 225 225 225 225
x 0,52 0,33 0,24 0,15 0,26 x 0,48 0,33 0,24 0,16 0,25 x 0,23 0,27 0,24 0,22 0,25
04 09 14
y 0,41 0,56 0,62 0,09 0,36 y 0,40 0,55 0,60 0,11 0,35 y 0,35 0,40 0,40 0,28 0,34
Y 8,15 33,20 26,20 4,48 11,60 Y 23,50 85,40 68,90 14,70 35,50 Y 64,20 90,10 82,70 60,70 74,00
Lum 90 90 90 90 90 Lum 165 165 165 165 165 Lum 240 240 240 240 240
x 0,53 0,33 0,24 0,15 0,25 x 0,42 0,32 0,24 0,17 0,25 x 0,26 0,26 0,25 0,23 0,25
05 10 15
y 0,41 0,56 0,63 0,09 0,36 y 0,39 0,53 0,57 0,14 0,35 y 0,35 0,37 0,37 0,31 0,34
Y 10,80 45,60 36,00 5,84 15,20 Y 28,00 86,00 70,40 19,80 42,10 Y 78,20 91,50 87,80 76,20 83,50
e o início de um IET de 6s. Tocar em quaisquer dos conjunto que fosse definido como S+ participaria de
outros 15 quadrados encerrava a tentativa e dava iní- uma linha de confusão dicromata contendo um dos
cio ao IET apenas. Toques no fundo preto não tinham membros do outro conjunto definido como S- (Figura
conseqüências programadas. As sessões eram en- 2), uma situação em que dois estímulos teriam a
cerradas ao fim de todas as tentativas programadas, mesma aparência. Uma vez que o controle de estí-
após 20 minutos de duração total ou após 5 minutos mulos estabelecido no treino se baseava na seleção
sem que uma resposta fosse efetuada. do matiz diferente, a deterioração do desempenho
Nas sessões de treino, os sujeitos foram expos- seria indicativa de que o par em questão seria um
tos às seguintes discriminações: “azul”-“amarelo”, par de confusão.
“azul”-“vermelho”, “cinza”-“amarelo”, “verde”-“azul”,
“verde”-“cinza”, “azul”-“cinza” e “vermelho”-“cinza”. Figura2 - Representação do diagrama CIE 1931
Nessa primeira etapa, os estímulos eram apresen- mostrando os estímulos utilizados no teste e sua inter-
tados com a mesma “luminância” nominal, sem a ação com linhas de confusão dicromatas. As linhas de
adoção de qualquer estratégia para mascarar as confusão utilizadas no exemplo foram inspiradas nas
diferenças de eficácia luminosa, de forma que as linhas previstas para a protanopia humana. Tais linhas
discriminações poderiam ser feitas facilmente com servem como uma possível aproximação das linhas de
base nas diferenças de intensidade entre os estímu- confusão de um animal dicromata que apresentasse
los. Cada participante foi exposto pelo menos uma fotopigmento M/L com sensibilidade espectral semel-
vez a todas as oito discriminações antes de serem hante ao do à do cone M humano.
expostos à condição de simulação de teste.
Simulação do teste. Após serem expostos a uma
seqüência de treino, os animais foram submetidos
a uma sessão de simulação de teste, na qual foram
introduzidos três pares que não haviam participado
do treino: “amarelo”-“vermelho”, “verde”-“amarelo”
e “verde”-“vermelho”. Nessa primeira exposição à
condição de teste, os pares de teste também foram
apresentados com a mesma “luminância” nominal e
sem a adoção de estratégias de mascaramento das
diferenças de intensidade. Esse arranjo tinha como
objetivo verificar se haveria deterioração do desem-
penho com a introdução de pares novos.
Treino de discriminação com ruído de luminância.
Tendo passado pela simulação de teste, os animais
foram expostos ao mesmo procedimento geral de
treino, com a diferença de que cada matiz agora po- Resultados e Discussão
deria apresentar quaisquer de 15 diferentes valores
de luminância (e saturação). Assim, numa tentativa A Tabela II apresenta os resultados das sessões
da discriminação “azul”-“amarelo”, por exemplo, um de simulação de teste e de teste propriamente dito.
dos 15 membros de um conjunto de cor era arbitra- Serão comentados apenas os pares que levaram a
riamente definido como S+ (por exemplo, “AM#03”) problemas de discriminação para cada animal, con-
enquanto todos os 15 membros do conjunto “azul” siderados indicadores potenciais das limitações de
funcionavam como S-. Esse arranjo foi planejado no visão de cores do animal em questão. Raul não foi
intuito de garantir que a única propriedade consistente capaz de discriminar os pares “amarelo”-“vermelho”
o suficiente para servir de base para a discriminação e “vermelho”-“verde” no teste, embora o tenha feito
fosse o matiz. Tendo passado pela seqüência de oito na simulação de teste. Esse animal também não foi
discriminações treinadas, os sujeitos foram submeti- capaz de efetuar consistentemente a discriminação
dos ao teste propriamente dito. “amarelo”-“verde” tanto na simulação de teste com
Teste. Na sessão de teste, foram introduzidos os no teste em si. Preta efetuou consistentemente as
pares de teste “amarelo”-“vermelho”, “verde”-“ama- discriminações “amarelo”-“vermelho” e “vermelho”-
relo” e “verde”-“vermelho”. Dada a distribuição dos “verde”, mas falhou na discrimnação “amarelo”-“ver-
matizes no diagrama CIE, qualquer membro de um de” (também em ambas as condições).
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 85
Na simulação de teste, é de se esperar que a Tabela III - Estímulo programado como correto e
seleção correta dos S+ tenha sido feita pelo menos estímulo selecionado incorretamente nas tentativas
em parte com base em diferenças de intensidade. em que houve erro nas de teste. Em negrito, são
Ainda assim, o par “amarelo-verde” se mostrou de apresentados os estímulos incorretamente seleciona-
difícil discriminação para os três sujeitos já nessa dos mais de uma vez. As letras indicam os conjuntos
condição. Uma possível explicação para isso (embora de cor agrupados pelo matiz dominante. Os números
o presente experimento não tenha investigado tal indicam a posição relativa dos estímulos no contínuo
possibilidade) é que os estímulos que compunham brilho/saturação.
aquele par (“AM#07” e “VD#07”) sensibilizavam de RAUL PRETA
forma similar seus sistemas visuais (i.e., apresenta- Tentativa S+ S- sele- S+ S- sele-
vam eficácia luminosa semelhante). cionado cionado
3 VM (6) VD (14) - -
Tabela II - Desempenho global nas sessões de 5 VM (6) VD (14) - -
simulação de teste e de teste. Em negrito são 6 - - - -
apresentados pares introduzidos apenas nas sessões 7 VD (4) AM (14) VD (4) AM (14)
de simulação e de teste. Em cada sessão, ambos 9 AM (11) VM (13) - -
os estímulos de um par de discriminação (S1 e S2) 12 VD (7) VM (13) - -
funcionaram com S+. 14 VD (4) AM (14) VD (4) AM (13)
Sujeito RAUL PRETA 15 - - AZ (10) VD (14)
Condição Simulação Teste Simulação Teste 16 AM (12) VD (13) - -
S1 – S2 S1+ S2+ S1+ S2+ S1+ S2+ S1+ S2+
17 - - - -
“AZ” – “AM” 1/1 3/3 1/1 3/3 1/2 2/2 1/1 3/3
18 - - VM (5) AZ (1)
“AZ” – “VM” 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 1/2 19 VD (3) AM (14) - -
“AM” – “CZ” 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 1/2 2/2 2/2
20 - - - -
“AZ” – “CZ” 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 1/2 2/2 2/2
22 AM (5) VD (14) - -
“AZ” – “VD” 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 2/2 1/2 24 VM (3) AM (14) VM (3) AM (10)
“VD” – “CZ” 3/3 2/2 2/2 2/2 1/1 3/3 2/2 2/2
28 VM (2) VD (14) - -
“VM” – “CZ” 2/2 2/2 2/2 2/2 3/3 1/1 2/2 1/2 29 - - CZ (6) VM (15)
“AM” – “VM” 1/1 2/2 0/2 0/2 2/2 2/2 1/2 2/2 31 - - - -
“AM” – “VD” 1/5 0/2 0/3 0/3 1/5 0/1 1/4 0/3 32 VM (6) VD (3) - -
“VM” – “VD” 2/3 0/2 0/4 0/2 3/3 3/3 2/2 5/5 33 - - - -
34 AM (6) VM (2) AM (6) VM (12)
37 AM (4) VD (1) AM (4) VD (14)
Como explicado anteriormente, no teste propria- 40 VM (11) AM (13) - -
mente dito, com 15 S- diferentes, cada S+ provavel- 41 - - - -
mente compartilhava uma linha de confusão com 42 VD (12) AM (15) - -
um dos S-. Visto que os animais haviam aprendido 43 - - - -
a selecionar consistentemente o estímulo que fosse 45 AM (13) VD (14) - -
mais conspicuamente diferente, a redundância no 46 - - AM (13) VD (14)
controle de estímulos corresponderia a uma dete- Erros/Total: 17/45 Erros/Total: 9/46
rioração do desempenho. A Tabela III mostra com
maior detalhamento os erros cometidos por cada Embora os pares contendo estímulos “cinza”
animal nas sessões de simulação de teste e de tenham sido planejados como pares de treino, foram
teste propriamente dito. É possível perceber que, na observados alguns erros nesses pares. Isso prova-
maioria dos erros, o animal selecionou os estímulos velmente se deve ao fato, não percebido inicialmente
mais brilhantes ou mais saturados, sugerindo uma pelos experimentadores, de que os “cinzas” também
transferência de controle para diferenças no contínuo participam em algumas possíveis linhas de confusão,
saturação/luminância na ausência do matiz como a saber aquelas que passam pela região “branca” ou
propriedade controladora confiável. neutra do diagrama.
86 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Conclusão Referências
O modelo biológico prevê dificuldade na dis- 1. Jacobs GH. Primate photopigments and primate color
vision. Proc Nat Acad Sci USA 1996;93:577-81.
criminação entre alguns “verdes”, “vermelhos” e
2. Jacobs GH. A perspective on color vision in platyrrhine
“amarelos” para as formas de dicromacia esperadas monkeys. Vis Res 1998;38:3307-13.
entre macacos do Novo Mundo. Que matizes serão 3. Jacobs GH, Deegan II JF. Cone pigment variations
confundidos por um determinado animal dependerá in four genera of new world monkeys. Vis Res
do seu arranjo de fotopigmentos. O presente estudo 2004;43:227-36.
4. Jacobs GH, Neitz J. Color vision in squirrel monkeys:
buscou criar uma situação de teste na qual animais Sex-related differences suggest the mode of
de diferentes fenótipos pudessem ser testados sem inheritance. Vis Res 1985;25:141-3.
a necessidade de conhecimento prévio de seu genó- 5. Harada ML, Schneider H, Schneider MPC, Sampaio
tipo. Embora de forma preliminar, os resultados são I, Czesluniak J, Goodman M. DNA evidence on the
phylogenetic systematics of New World monkeys:
coerentes com o modelo biológico e sugerem que a Support for the sister-grouping of Cebus and Saimiri
metodologia e tecnologia adotadas podem ser úteis from two unlinked nuclear genes. Mol Phyl Evol
para uma avaliação mais acessível da discriminação 1995;4:331-49.
de cores de macacos-prego. 6. Jacobs GH. Within-species variations in visual
capacity among squirrel monkey (Sairmiri sciureus):
Entretanto, ainda se fazem necessários uma me- Color vision. Vis Res 1984;24:1267-77.
lhor caracterização dos estímulos e um número maior 7. Jacobs GH, Neitz J. Inheritance of color vision in a
de pares de teste para se determinar com precisão New World monkey (Saimiri sciureus). Proc Nat Acad
a faixa de confusão bem como o tipo específico de Sci USA 1987;84:2545-9.
8. Mollon JD, Bowmaker JK, Jacobs GH. Variations of
dicromacia apresentado pelos animais. A validação
colour vision in a New World primate can be explained
dessa abordagem deverá ser buscada, futuramente, by polymorphism of retinal photopigments. Proc R Soc
na comparação com dados obtidos paralelamente por B 1984;222:373-99.
meio de equipamentos de alta precisão. Validação 9. Shyue SK, Boissinot S, Schneider H, Sampaio I,
Schneider MPC, Abee CR et al. Molecular genetics of
adicional poderá ser obtida pela realização de expe-
spectral tuning in New World monkey color vision. J
rimentos utilizando animais cujos genótipos sejam Mol Evol 1998;46:697-702.
previamente conhecidos, o que permitiria verificar a 10. Grether WF. Red-vision deficiency in Cebus monkeys.
consistência entre os dados genotípicos e compor- Psych Bull 1937;34:792-3.
tamentais. 11. Grether WF. Color vision and color blindness in
monkeys. Comp Psych Monog 1939;29:1-38.
12. Gunter R, Feigenson L, Blakeslee P. Color vision in
Agradecimentos the Cebus monkey. J Comp Phys Psych 1965;60:107-
13.
Essa pesquisa recebeu apoio do CNPq por meio 13. Pessoa VF, Tavares MC, Aguiar L, Gomes UR, Tomaz
C. Color vision discrimination in the capuchin monkey
de Bolsa de Produtividade para Olavo Galvão e bolsa Cebus apella: evidence for trichromaticity. Beh Brain
de doutorado para Paulo Goulart e da CAPES por meio Res 1997;89:285-8.
de bolsa de mestrado para Sheila Makiama e Karoline 14. Jacobs GH. Prospects for trichromatic color vision in
Marques e bolsa de iniciação científica para Abraão male Cebus monkeys. Beh Brain Res 1999;101:109-
12.
Fonseca. Agradecemos a Anderson R. Rodrigues do 15. Gomes UR, Pessoa DMA, Tomaz C, Pessoa VF. Color
Departamento de Fisiologia da UFPA pelo auxílio com vision perception in the capuchin monkey (Cebus
as medidas colorimétricas. Agradecemos também a apella): a re-evaluation of procedures using Munsell
Klena Sarges pela assistência veterinária e a Adilson papers. Beh Brain Res 2002;129:153-7.
Pastana pelo excelente tratamento dispensado aos
sujeitos.
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 87
Artigo original
Resumo
Objetivos: Avaliar a testabilidade do método do potencial visual evocado de varredura e medir
a acuidade visual de resolução de grades em crianças com hidrocefalia. Material e Métodos:
Vinte e duas crianças hidrocefálicas, com avaliação neurológica e oftalmológica, com fundo de
olho normal. Para as medidas foi utilizado um sistema computadorizado de apresentação de
estímulos e análise da acuidade visual, expressa em logMAR (NuDiva - Digital Infant Visual As-
sessment). Os estímulos foram grades de onda quadrada de 10 diferentes freqüências espaciais
crescentes apresentadas como padrões reversos a 6 Hz, sendo cada freqüência apresentada
*Setor de Psicofísica e durante 1s. Resultados: A testabilidade foi de 95,45% (21/22). Detectou-se perda visual em
Eletrofisiologia Visual do 42,86% (9/21) dos hidrocéfalos (p = 0,003), 75% (3/4) com anticonvulsivantes, 60% (3/5) das
Departamento de Psicologia derivações ventrículo-peritoneal, 55,5% (5/9) no déficit neurológico moderado/grave e em 62,5%
(5/8) das dilatações ventriculares moderadas/intensas (p>0,05). Conclusão: Não foi encontrada
Experimental – Instituto de
nesta população correlação entre gravidade neurológica, dilatação ventricular e redução da visão;
Psicologia USP, **Setor de o exame é possível em crianças com hidrocefalia e em uso de anticonvulsivante.
Eletrofisiologia Visual do Depar-
tamento de Oftalmologia da Palavras-chave: hidrocefalia, acuidade visual, potencial visual evocado de varredura.
Universidade Federal de São
Paulo, UNIFESP-EPM
Abstract
Recebido 15 de fevereiro de Purpose: To determine the application of Sweep VEP and visual acuity in children with hydro-
cephalus. Material and Methods: Twenty-two children with hydrocephalus, and normal fundus and
2008; aceito 15 de março de
neurological and ophthalmological screening. A computer system NuDiva Digital Infant Assess-
2008. ment was used and the visual acuity was expressed in logMAR. Ten different spatial frequencies
Endereço para of grade square waves were used and each frequency was presented during one sec. Results:
correspondência: Marcelo Sweep VEP was applied in 95.45% (21/22). Visual impairment was detected in 42.86% (9/21)
Fernandes Costa, Instituto de (p = 0,003); 75% (3/4) with use of antiepileptical drugs; 60% (3/5) with ventriculoperitoneal
shunt; 55.5% (5/9) in severe abnormal neurological findings and in 62.5% (5/8) of moder-
Psicologia, Depto. Psicologia
ate/severe ventricular enlargement. Conclusion: In this population we did not detect statistical
Experimental, Av. Professor significance with abnormal neurological findings; ventricular enlargement and visual impairment;
Mello Moraes, 1721 Cidade this method permits to know the visual acuity in hydrocephalic children with or without use of
Universitária 05508-900 São antiepileptical drugs.
Paulo SP, Tel: (11) 3091-1915,
E-mail: costamf@usp.br Key-words: hydrocephalus, visual acuity, Sweep VEP.
88 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
medir amplitude e fase do segundo harmônico. A AV inclusão. Apenas em uma criança o teste não foi rea-
foi estimada por um algoritmo automático, através de lizado por não ter sido possível a captação de sinais
uma regressão linear e extrapolação para amplitude corticais, (testabilidade de 95,45%). As 21 crianças
zero da porção descendente desta reta, relacionando- restantes foram divididas em dois grupos de acordo
se a amplitude do potencial do segundo harmônico com a idade gestacional ao nascimento. No grupo 1
à freqüência espacial linear. Para esta estimativa da foram incluídas as crianças prematuras (n = 11) e no
acuidade visual foi utilizada uma relação sinal-ruído grupo 2 foram incluídas as crianças nascidas a termo
no pico da amplitude de 3:1. O resultado final da AV (n = 10). As características gerais dos dois grupos
foi calculado em logMAR e transformados em equiva- encontram-se descritas na Tabela II.
lentes de Snellen, utilizando-se o canal que apresen-
tou o melhor limiar. A diferença interocular máxima Tabela II - Características gerais das crianças avali-
(DIO) de 0,13 logMAR foi considerada normal sendo adas.
valores superiores utilizados para caracterização de Características Grupo 1 (prematuro) Grupo 2 (termo) n
ambliopia [7]. Para a interpretação dos resultados, gerais n (%) (%)
foram utilizadas tabelas próprias do serviço constru- Sexo masculino 4 (36,36) 6 (60)
ídas a partir de recém-nascidos a termo e lactentes feminino 7 (63,63) 4 (40)
Peso nascimento* 1106,5 + 341,3 g 3209,3 + 410,56 g
normais e que apresenta valores comparáveis ao da
variação 790-2000 g 2450-3665 g
literatura [5] (Tabela I). Idade gestacional* 29,75 + 1,97 sem 39,53 + 0,84 sem
variação 25,57-33 sem 38-40 sem
Tabela I - Valores médios e mínimos de logMAR e Variação Apgar 5o 7-9 9-10
correspondente para Snellen referentes a idade cor- min
rigida em meses. Cor negra 3 2
branca 8 8
Idade corrigida Mínimo Mínimo Média Média Parto normal 1 6
(meses) logMAR Snellen logMAR Snellen cesáreo 10 4
0 1,18 20/300 0,93 20/170 * média + desvio
1 1,10 20/250 0,88 20/150 padrão
2 0,93 20/170 0,70 20/100
3 0,88 20/150 0,60 20/80 As etiologias relacionadas à hidrocefalia nos dois
4 0,81 20/130 0,54 20/70 grupos, assim como o grau de dilatação ventricular e
5 0,78 20/120 0,48 20/60 as alterações do desenvolvimento neuropsicomotor
6-8 0,65 20/90 0,30 20/40
(DNPM) estão listadas na Tabela III.
9-11 0,60 20/80 0,30 20/40
12-17 0,48 20/60 0,18 20/30
18-23 0,35 20/45 0,10 20/25 Tabela III - Etiologia da hidrocefalia; grau de
24-29 0,24 20/35 0,10 20/25 dilatação ventricular e comprometimento neu-
30... 0,18 20/30 0,00 20/20 rológico.
Prematuros Termos
A análise dos resultados foi feita utilizando-se (%) (%)
o programa Jandel SigmaStat Statistical software Meningomielocele lombar 2 4
versão 2.0, 1992-1995, Jandel Corporation. Para Hidrocefalia congênita 0 4
Hemorragia intracraniana grau II 4 0
a análise dos dados utilizou-se o teste exato de
grau III 4 1
Fischer (considerando-se significante p < 0,05) e grau IV 1 0
correlação de Spearman para os cruzamentos entre Pós meningite 0 1
DNPM e grau de dilatação ventricular com redução Dilatação ventricular leve 4 3
da acuidade visual. moderada 6 5
intensa 1 2
Resultados Alteração DNPM não 1 2
leve 3 2
moderada 2 0
Do grupo total de crianças portadoras de hidro- grave 5 6
cefalia referendadas para o setor de Psicofísica e
Eletrofisiologia Visual do Departamento de Psicologia Com relação aos achados oftalmológicos asso-
Experimental do Instituto de Psicologia da Universi- ciados encontrou-se estrabismo em 54,5% (6/11) no
dade de São Paulo, 22 preencheram os critérios de grupo 1 e em 30% (3/10) no grupo 2 correspondendo
90 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
a uma freqüência de estrabismo de 43% (9/21) entre 62,5% (5/8) crianças apresentaram AV reduzida no
os dois grupos analisados e ambliopia em 33,3% grupo com dilatação moderada/intensa enquanto que
(3/9). Foi detectado um caso de nistagmo vertical apenas 16,6% (1/7) no grupo com dilatação leve, não
no grupo 2. havendo uma correlação negativa significativa entre
Considerando-se o grupo de 21 crianças tes- gravidade da dilatação e redução na AV (p = 0,119).
tadas pelo PVE encontrou-se detecção de baixa AV Na análise da AV frente à gravidade do quadro neu-
em 42,86% (9/21) (p = 0,003). Do grupo inicial de rológico, encontrou-se que no grupo de crianças sem
prematuros, foram excluidas as crianças usuárias déficit neurológico/déficit a AV foi reduzida em 33,3%
de anticonvulsivantes e as com antecedentes de (2/6) enquanto que no grupo das crianças com déficit
meningite. Das oito crianças restantes, 25% (2/8) moderado/grave a AV foi reduzida em 55,5% (5/9),
apresentaram valores de AV abaixo do mínimo es- não encontrando-se também correlação negativa
perado. No grupo de recém-nascidos a termo, sem significativa entre gravidade do déficit neurológico e
a associação de meningite e anticonvulsivante, 57% redução na AV (p = 0,608).
(4/7) apresentaram baixa AV. Em 40% (2/5) das O comportamento da AV em todas as crianças
crianças que desenvolveram quadro associado de analisadas, comparadas com os valores médios e
meningite foi detectado baixa AV. No grupo de crian- mínimos relacionados para cada idade está demons-
ças usuárias de medicação anticonvulsivante (4), trado na Figura 1.
apenas 25% (1/4) apresentou AV dentro dos limites
de normalidade, independente do tipo de fármaco Discussão
utilizado e/ou associações. (Tabela IV)
Dez crianças foram submetidas à derivação Os resultados acima demonstrados mostram a
ventrículo-peritoneal. Excluíndo-se o uso de anti- possibilidade da utilização deste método para avalia-
convulsivantes e ocorrência de meningite (5), a AV ção da acuidade visual nas crianças portadoras de
mostrou-se reduzida em 60% (3/5). Com relação à hidrocefalia. Sobretudo nas formas mais graves, onde
intensidade da dilatação ventricular, analisado in- há normalmente pouca cooperação e interferência na
dependente da idade gestacional, observou-se que resposta motora, que dificultam a realização de tes-
tes comportamentais, o PVE pode ser aplicado pois interferência da própria válvula na captação dos sinais
apresenta respostas que dependem basicamente do e portanto dificuldade na realização e interpretação
sistema visual. Neste grupo estudado sua testabilidade dos resultados. Ao contrário do que pensamos inicial-
foi de 95,45% (21/22), não sendo aplicado em apenas mente, nossos resultados mostram que é possível
uma criança, devido a não captação de sinais corticais. sua realização, principalmente o PVE de varredura, por
A ocorrência de estrabismo e nistagmo neste grupo exigir menor tempo de exame destas crianças.
foi semelhante à descrição de outros autores, tendo Com relação à associação entre intensidade da
sido detectado ambliopia (diferença inter ocular > 0,13 dilatação ventricular e comprometimento neurológico
logMAR em 4 crianças,todas do grupo 1) [1,2]. com redução da AV, nossos achados foram concor-
Quando foi avaliado o grupo total das crianças dantes com os dados de vários autores, que demons-
com hidrocefalia, independente da idade gestacio- traram que apesar do risco aumentado de redução da
nal, detectou-se perda visual em 42,86% (9/21) (p AV não foi encontrado significância estatística entre
= 0,003), porcentagem esta semelhante a descrita as variáveis [9,16,17].
por outros autores [8,9]. No grupo de recém-nascidos
prematuros, excluindo-se a ocorrência de meningite Conclusão
e uso de medicação anticonvulsivante, a deficiência
visual foi detectada em 25% (2/8) ao contrário do Através dos resultados encontrados concluímos
grupo de recém-nascidos a termo que demonstrou que 1) é possível a realização de PVE de varredura
baixa AV em 57% (4/7). Estes dados são contrários para medida da AV em pacientes portadores de hidro-
ao descritos para a população geral de crianças cefalia mesmo na presença de derivação ventrículo-
nascidas prematuramente ou a termo e também no peritoneal; 2) é possível a realização do exame em
grupo de crianças portadoras de paralisia cerebral, pacientes utilizando medicação anticonvulsivantes.
onde a prematuridade parece ser um fator de risco Uma maior casuística seria necessária para melhor
relacionado à menor AV, mesmo excluindo-se os definir os fatores relacionados à baixa AV observada;
portadores de retinopatia da prematuridade [10,13]. 3) as crianças portadoras de hidrocefalia apresentam
Uma explicação possível para este achado poderia maior porcentagem de redução da AV, independente
ser a diferença da etiologia da hidrocefalia nos dois da necessidade de derivação ventrículo-peritoneal; 4)
grupos. A maior parte dos casos no grupo de pre- não foi possível demonstrar correlação da redução da
maturos foi secundária à hemorragia intracraniana AV com gravidade do comprometimento neurológico e
ocorrida após o nascimento, enquanto que no grupo a extensão da dilatação ventricular e 5) os resultados
termo a etiologia predominante foi meningomielocele encontrados reforçam a necessidade de acompanha-
e hidrocefalia congênita, com dilatação ventricular já mento oftalmológico para este grupo de crianças.
presente intra-útero.
Com relação ao uso de anticonvulsivantes, ape- Agradecimentos
sar da amostra ser pequena, foi possível a realização
do exame em todas as crianças, sendo detectada a Profa Dra Terezinha Dias de Andrade; Profa Dra
deficiência visual em 75% (3/4) do grupo. Apesar Daisy Pires Noronha e todas as pessoas envolvidas
dos sinais do PVE sofrerem interferência da ativida- no curso pelo ensinamento e carinho que estiveram
de elétrica anormal do EEG e déficit de atenção nas presentes durante todo o período.
crianças submetidas à técnicas com maior tempo de
execução, não houve dificuldade na realização do PVE Referências
pelo método do Sweep VEP. Esta técnica fornece uma
rápida medida da AV e concomitante com uma análise 1. Drigo P, Bortolin C, Pinelo L, Carollo C. Neurological
and ophthalmological findings in spins bifida. Ital J
discreta de Fourier que fornece uma melhor relação
Pediatr 1998;24:1105-8.
sinal/ruído [14]. A grande porcentagem de deficiên- 2. Chou SY, Drige KB. Neuro-ophthalmic complications
cia visual observada neste grupo pode representar a of raised intracranial pressure, hydrocephalus,
gravidade da lesão neurológica, porém não é possível and shunt malfunction. Neurosurg Clin N Am
excluir alguma interferência do próprio fármaco pela 1999;10:587.
3. Sokol S. Measurements of infants’ visual acuity
lentificação da condução elétrica cerebral ou sua ação from pattern reversal evoked potentials. Vision Res
sobre a retina [15]. 1978;18:133-47.
A presença da derivação ventrículo-peritoneal 4. Zemon V, Hartmann EE, Gordon J, Prunte-Glowaski
também foi analisada, pois uma preocupação seria a A. An electrophysiological technique for assessment
92 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
of the development of spatial vision. Optom Vis Sci 12. Salomão SR, Berezovsky A, Cinoto RW, de Haro FMB,
1997;74:708-16. Ventura DSF, Birch EE. Longitudinal visual acuity
5. Norcia AM, Tyler CW. Spatial frequency Sweep VEP: development in healthy preterm infants [abstract].
visual acuity during the first year of life. Vision Res IOVS 2000; 41:no 3879 – B977. [presented at ARVO;
1985;25:1399-408. 2000 May; Fort-Lauderdale (USA)].
6. Harding GFA, Odom JV, Spillers W, Spekreuse H. 13. Costa MF, Ventura DSF, Salomão SR, Berezovsky A,
Standard for visual evoked potentials 1995. Vision de Haro FMB, Tabuse MKU. Grating acuity measured
Res 1996;36:3567-72. by Sweep VEP in children with spastic cerebral
7. Harmer RD, Norcia AM, Tyler CW, Hsu-Winges C. The palsy [abstract]. IOVS 2001; 42: no 4536 – B238.
development of monocular and binocular VEP acuity. [presented at ARVO; 2001 May; Fort-Lauderdale
Vision Res 1989;29:397-408. (USA)].
8. Taylor MJ, Boor R, Keenan NK, Rutka JT, Drake JM. 14. Bane MC, Birch EE. VEP acuity, FPL acuity and visual
Brainstem auditory and visual evoked potentials behavior of visually impaired children. J Pediatr
in infants with myelomeningocele. Brain Dev Ophthalmol Strabismus 1992;29:202-9.
1996;18:99-104. 15. Goto Y, Brizell M, Herrington V, Celesial G. The
9. Oud KTM, Steggerda SJ, Nanninga-Van den Neste effects of antiepileptical drugs on the visual system:
VMH, Gooskens RHJM, van Nieuwenhuizen O. Visual a study of flash ERG and VEP. Electroencephalol Clin
acuity in children with hydrocephalus. Clin Neurol Neurophysiol 1995;97:S239-40.
Neurosur 1997;99:73-5. 16. Eken P, de Vries LS, van der Graaf Y, Meiners LC, van
10. Morante A, Dubowitz LM, Levene M, Dubowitz V. Nieuwenhuizen O. Haemorragic-ischaemic lesions
The development of visual function in normal and of the neonatal brain: correlation between cerebral
neurologically abnormal preterm and fullterm infants. visual impairment, neurodevelopmental outcome and
Develop Med Child neurol 1982;24:771-84. MRI in infancy. Med Child Neurol 1995;37:41-55.
11. Jongmans M, Mercuri E, Henderson S, de Vries L, 17. O’Keefe M, Kafil-Hussain N, Flitcroft I, Lanigan B.
Sonksen P, Dubowitz L. Visual function of prematurely Ocular significance of intraventricular haemorrhage in
born children with and without perceptual-motor premature infants. Br J Ophthalmol 2001;85:357-9.
dificulties. Early Hum Dev 1996;45:73-82.
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 93
Revisão
Neurônios-espelho
Mirror neurons
Aline Knepper Mendes*, Fernando Luiz Cardoso**, Cinara Sacomori*
Resumo
“A descoberta dos neurônios-espelho representa para os estudos da mente o que o DNA
representou para a biologia”. Essa frase dita pelo neurocientista indiano V. S. Ramachandram
demonstra a importância do conhecimento acerca dos neurônios-espelho para a compreensão
de diversos fenômenos da mente. Esse estudo, exploratório-bibliográfico, se propôs a apresentar
os conceitos sobre os neurônios-espelhos em humanos e macacos baseando-se em estudos que
demonstrassem claramente a importância dessa classe de neurônios. Os textos apresentados
nos mostram a importância da observação-ação e da compreensão-ação no desenvolvimento
das relações humanas, desenvolvimento motor e aprendizagem motora. Além disso, permitem
fazermos uma ponte com os conhecimentos da reabilitação podendo, por exemplo, aplicar esses
conceitos com a recuperação de pacientes neurológicos.
*Mestrado em Ciências do
Palavras-chave: neurônios-espelho, sistema espelho, neurociência.
Movimento Humano, CEFID/
UDESC, Florianópolis SC,
**Professor da Universidade
Abstract
do Estado de Santa Catarina, “The discovery of the mirror neurons represents for the studies of the mind what the DNA
Mestrado em Ciências do Movi- represented for biology”. This phrase pronounced by the Indian neuroscientist V. S. Ramach-
mento Humano, CEFID/UDESC andram demonstrates the importance of the knowledge concerning the mirror neurons for the
comprehension of diverse phenomena of the mind. This study is exploratory and bibliographical
and aimed to present the concepts about the mirror neurons in human beings and monkeys,
Recebido 25 de setembro de
being based on studies that demonstrated clearly the importance of this category of neurons.
2007; aceito 15 de fevereiro de The texts presented showed us the importance of the action-observation and the importance of
2008. the action-comprehension towards human relations development, motor development and motor
Endereço para learning. Moreover, these texts allowed us to make a bridge towards the knowledge concern-
correspondência: Aline ing the rehabilitation, being able, for example, to apply these concepts in the direction of the
recovery of neurological patients.
Knepper Mendes, Rua José
Gonzaga de Lima, 340/104
Key-words: mirror neuron, mirror system, neuroscience.
Kobrasol 88102-250 São José
SC, E-mail: alinekm@gmail.
com, Tel: (48) 8416-2636, Fax:
(48) 3259-1341
94 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
efetiva para evocar a descarga dos NE. Da mesma Metta et al. [6] defendem que ao observar ações
forma, atividades realizadas com ferramentas mesmo de outros indivíduos, nossa compreensão pode ser
quando conceptualmente idênticas às realizadas com moldada nos termos do que nós já sabemos sobre
as mãos (agarrar com alicates), não ativam os NE ou essas ações. Resumidamente, se vemos alguém
os ativam de forma muito fraca. Os pesquisadores bebendo um líquido escuro em uma xícara de café,
perceberam que as ações que com maior freqüência então podemos hipotetizar que uma ação particular
ativam os NE são: agarrar, manipular e prender. Além que eu já conheço em termos motores é usada para
disso, muitos desses neurônios respondem de forma obter aquele efeito particular de beber.
seletiva para apenas um tipo de ação (agarrar, ou Baseado nisso compreendemos que os seres
manipular, ou prender). Buccino, Binkofski e Riggioa humanos reconhecem as ações feitas por outros
[4] também destacaram algumas peculiaridades dos seres humanos, pois durante a observação de deter-
NE, apresentadas acima e confirmadas por Metta et minada ação é ativado um circuito neural pré-motor
al. [6]. São elas: similar ao de quando se está executando a própria
ação. Por isso, acredita-se que esse sistema ação-
1) durante a observação de uma ação, só há ativação reconhecimento foi a base para o desenvolvimento
dos neurônios quando um efetor biológico interage da linguagem [2].
com um objeto (exemplo, uma mão pegando uma
banana). A ativação não ocorre se for utilizado um Área F5 e área de Broca: similaridades entre
instrumento com a mesma característica funcional humanos e macacos
(exemplo, uma pinça pegando uma banana);
2) Os NE também não são ativados quando a ação Rizzolatti e Craighero [7] revelam que estudos
observada for simplesmente imitada, isto é, exe- com imagem funcional mostraram a ativação cerebral
cutada sem a presença do objeto; de uma área homóloga à F5 dos macacos: a área de
3) Os NE não são ativados durante uma mera apre- Broca. Diversas são as razões para que realmente
sentação de objetos. a área de Broca seja um homólogo da área F5 dos
macacos [2]:
A descoberta dos Neurônios-Espelhos em
humanos 1) A área F5 e de Broca são partes da área inferior
6 e sua posição dentro córtex frontal agranular é
A primeira demonstração de um sistema espelho similar;
dentro dos seres humanos foi fornecida através de 2) Cito-arquitetônicamente há fortes semelhanças
uma experiência que funcionou da seguinte forma: entre a parte caudal da área de Broca (área 44
se a observação de uma ação ativa o córtex pré-mo- de Brodmann) e F5;
tor humano como acontece com os macacos, então 3) A área F5 está associada nos macacos a movi-
uma estimulação magnética transcranial deve captar, mentos da mão. Atualmente se descobriu que as
durante a observação de uma ação, um realce de propriedades motoras da área de Broca não se
potenciais motores evocados dos músculos ativados relacionam exclusivamente ao discurso. Dados
quando a ação observada é executada. Os resultados tomográficos indicaram que a área de Broca
do experimento confirmaram a hipótese: durante a pode também ser ativada durante a execução
observação de várias ações, um aumento do potencial de movimentos da mão ou do braço, ao imaginar
motor evocado ocorreu nos músculos que os sujeitos um movimento de pegar, e também, durante ati-
normalmente usam para executá-las [2-7]. vidades que envolvem rotações não-mentais do
O cérebro humano tem ainda múltiplos siste- braço no espaço. Isso foi percebido em pacientes
mas de NE especialistas em realizar e entender não em recuperação de infartos sub-corticais quando
apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o solicitados a usarem o braço paralisado.
significado social de seus comportamentos e de suas 4) Experimentos com o PET scan mostraram que as
emoções [1]. Segundo Rizzolatti [8] nossa sobrevivên- áreas ativadas durante a observação de um sujeito
cia depende do entendimento de ações, intenções pegando um objeto foram:
e emoções de outras pessoas. Ele acredita que os • Sulco temporal superior (STS);
NE permitem que nós entremos na mente de outras • Lobo parietal inferior;
pessoas não com o raciocínio conceitual, mas com • Giro frontal inferior (área 45); sendo que todos
a simulação direta. os achados estavam presentes no hemisfério
96 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
esquerdo do participante. Isso corrobora para a Giacomo Rizzolatti fez uma colocação importante:
aceitação da área de Broca como homóloga à F5 “Enfrentamos um grande problema no Ocidente. A
[2]. base da cultura é não imite, seja original. Isso é um
erro. Primeiro temos que imitar e depois podemos ser
Iacoboni et al. [9] acreditam que a localização de originais”. Sem esse processo de imitação as bases
NE no sulco temporal superior, lobo parietal inferior do relacionamento humano não podem ser realizadas.
e na Pars Opercularis podem servir como uma rede Um exemplo desse problema está no autismo. Se-
neural para a compreensão da ação. gundo Giacomo Rizzolatti, os transtornos básicos do
Um outro estudo realizado por Ferrari et al. [10] autismo se dão no sistema motor. Esses pacientes
descreveu respostas dos neurônios F5 que codificam têm problemas para organizar seu próprio sistema
as ações motoras da boca: a maioria dos NE da boca motor e como conseqüência não desenvolvem o sis-
torna-se ativa durante execuções de ações relaciona- tema de NE. Devido a isso, não entendem as outras
das à funções ingestivas (mascar, sugar ou quebrar o pessoas por que não podem relacionar seus movimen-
alimento), mas os estímulos visuais mais eficazes em tos com os que vêem nos demais. Como resultado
ativar os neurônios da área F5 foram relacionados a disso, um gesto simples torna-se uma ameaça para
gestos comunicativos da boca. Esses achados cola- um autista [12]. Pela falta da capacidade de imitar,
boram para a teoria de que a área F5 é um homólogo seus relacionamentos humanos são extremamente
da área de Broca nos humanos, já que ela também problemáticos.
está envolvida em funções comunicativas. Entretanto, a base neural da imitação, assim
Aziz-Zadeh et al. [11], não concordou com os como seus mecanismos funcionais, são mal com-
achados de NE somente no hemisfério esquerdo, preendidos. As áreas corticais responsáveis pela
como apresentado no texto acima. Segundo os auto- imitação devem ser dotadas de propriedades motoras
res, as pesquisas não foram realizadas controlando e, mais importante, devem ser mais ativas quando
a lateralidade dos participantes, assim realizaram a ação a ser executada for eliciada pela observação
um novo estudo e perceberam que aconteceram dessa ação. Para avaliar se tal mecanismo existia,
ativações bilaterais do Pars Opercularis (com sinais os pesquisadores Iacoboni et al. [3] utilizaram a
de presença de sistema espelho, já que as ativa- Ressonância Magnética Funcional. Para melhor com-
ções ocorreram durante a ação da tarefa e durante preender os mecanismos das imitações, os autores
sua observação), independente do campo visual da propuseram 3 condições de observação e obser-
apresentação e da lateralidade da mão resposta ou vação-execução aos participantes do estudo. Nas
da mão observada. Assim, os dados de seu estudo condições de observação-execução, comportamentos
mostraram que o sistema espelho fronto-parietal hu- imitativos e não-imitativos de simples movimentos
mano é distribuído bilateralmente em suas atividades. de dedos foram comparados, onde nos imitativos os
Segundos os autores, os aspectos de lateralização participantes precisavam executar os movimentos que
esquerda da linguagem podem estar relacionados eram observados. Já nas não-imitativas, a partir de
à outros fatores, pois recentemente encontrou-se um sinal, eles executavam determinada ação. Os au-
uma ativação pré-motora ventral esquerda mais forte tores propuseram que na área frontal inferior há uma
aos sons de ações. Os autores ainda aventam uma descrição da ação observada em termos de objetivos
hipótese: uma possibilidade é que a progressão para motores (exemplo, levantar o dedo), mas sem definir
a lateralização esquerda das funções da linguagem os detalhes precisos do movimento. Em contraparti-
possa ter sido facilitada por um componente auditivo da, a área parietal, codificaria os aspectos precisos
esquerdo-lateralizado de um sistema multimodal de e sinestésicos do movimento (por exemplo, quando
NE. o dedo deve ser levantado). Os autores salientaram
ainda que a ativação foi lateralizada na maior parte
A imitação como ferramenta de no hemisfério cerebral direito, e que lesões no lobo
desenvolvimento humano parietal inferior direito são tipicamente associadas
à desordens no esquema corporal. Esses estudos
Como falado na introdução desse trabalho, a demonstram que se pode propor diversas formas de
imitação tem um importantíssimo papel no desen- utilização da imitação como técnica para tratamento
volvimento humano, na aprendizagem motora, na de pacientes, treinamento de atletas, aperfeiçoamen-
comunicação e nas habilidades sociais. Segundo to de modo geral, e etc. Através de um biofeedback
Boto [12], durante uma entrevista sobre empatia, as pessoas tomam consciência de que as atividades
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 97
embora não sejam realizadas ainda, já são percebidas mas apenas ouvindo e com isso evocando idéias
por seu cérebro. motoras.
A descoberta dos NE audiovisuais pode ser um
Se os neurônios espelho são responsáveis passo para a evolução da linguagem, por duas razões:
pelo reconhecimento da ação, então eles primeiramente, estes neurônios têm a capacidade
também podem ser ativados quando a de representar ações; em segundo, têm acesso à
seqüência inteira da ação não for vista? conteúdos auditivos característicos da linguagem
humana [14].
Essa questão foi estudada por Umiltà et al. [13]. Em outro estudo apresentado por Gazzola et al.
Na experiência, duas circunstâncias foram apresen- [15], a mesma evidência foi buscada. Os pesquisa-
tadas: primeiramente o macaco poderia ver toda a dores também acreditavam que os NE pudessem ser
seqüência de movimento da ação da mão (condição ativados por estímulos sonoros. Quando os sujeitos
de visão); num segundo momento a parte final da do estudo foram expostos à sons característicos da
ação foi escondida da visão do macaco por meio boca (biscoito sendo mordido, beijo, bebendo o final
de uma tela (condição de circunstância escondida). do refrigerante com canudinho) e também das mãos
Nessa segunda circunstância foi mostrado ao animal (rasgar uma folha de papel, fechar um zíper), as
que um objeto (um pedaço de comida) foi colocado áreas ativadas se sobrepuseram às áreas ativadas
atrás da proteção o que o impediu de ver a parte final quando essas ações eram realizadas pelos próprios
da observação da ação. Os resultados desse experi- participantes. Isso demonstrou que os NE também
mento mostraram que a ativação dos NE ocorreu não são ativados com estímulos sonoros.
somente quando a ação inteira é visualizada, mas
também quando sua parte final é escondida. Como Existe sistema espelho ao pronunciarmos
controle os autores realizaram um experimento com frases literais? Essa situação ativará os
uma imitação de ação nas mesmas circunstâncias neurônios espelhos responsáveis pelas ações
(por exemplo, ao invés de uma mão pegar um objeto referidas?
era apresentado uma mímica de mão pegando um
objeto imaginário). Nesse caso não houve ativação Em um recente trabalho de Aziz-Zadeh et al.
quando a ação inteira foi mostrada nem quando a [16] os pesquisadores utilizaram uma técnica de
parte final dela foi escondida. Isso por que como imagem cerebral para investigar como frases literais
apresentado anteriormente os NE só são ativados descrevendo ações executadas pela boca, mão ou
quando há um objeto real e uma ação acontecendo pé, influenciariam os neurônios corticais que são
simultaneamente. ativados pela visualização de ações executadas
pela boca, mão ou pé. Os autores encontraram algo
Os neurônios-espelho podem ser ativados por interessante: eles verificaram que quando os parti-
sons típicos apenas? Isso pode acontecer cipantes liam frases do tipo “morder o pêssego” ou
sem a visualização da ação? “morder a banana” eram ativadas as mesmas áreas
de quando eles observavam a imagem de alguém
Kohler et al. [14] mostraram que ações também “mordendo um pêssego” ou “mordendo uma bana-
podem ser reconhecidas quando são apresentados na”, ou seja, há uma ligação entre os sentidos da
sons típicos daquelas ações. Segundo os autores visão e da audição. Achados similares também foram
grande parte das ações objeto-relacionadas pode ser encontrados quando as tarefas eram realizadas com
reconhecida somente por seu som. Eles encontraram as mãos ou pés.
que os NE foram ativados quando um macaco execu-
tava, observava ou ouvia as ações propostas. Esses O estímulo tátil como desencadeante de
neurônios foram classificados como audiovisuais. atividade nervosa: neurônios espelhos e o
Esta descoberta também contribui para a teoria da toque
área F5 ser um homólogo da área de Broca. Isso tam-
bém pode ser uma etapa da aquisição da linguagem Keysers et al. [17] testaram a existência de NE
gestual nos macacos. Os NE audiovisuais poderiam ao estímulo do toque. Segundo os autores a ques-
ser usados para planejar/executar ações (como nas tão motivadora do estudo aconteceu numa exibição
condições motoras) e para reconhecer as ações de cinematográfica onde uma aranha subia no braço
outras pessoas (como nas condições sensoriais), de alguém e os espectadores tinham a sensação
98 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
de que a aranha subia neles próprios. Os autores produziu movimentos do corpo. Esses movimentos,
encontraram uma ativação do córtex somatossenso- entretanto, são acompanhados de respostas auto-
rial secundário quando os participantes do estudo nômicas e víscero-motoras.
foram tocados e também quando observaram outras Um estudo com imagens do cérebro mostrou
pessoas sendo tocadas da mesma forma. Segundo que nos seres humanos a insula anterior recebe
os pesquisadores, os mecanismos neurais por trás uma ordem grande de informação visual (além do
da nossa própria sensação de toque podem ser uma estímulo olfatório e gustativo). A hipótese de que
janela para a compreensão desse mecanismo. nós percebemos as emoções dos outros ativando
em nós a mesma emoção foi também apresentada
As emoções e a representação das mesmas por Carr et al. [19].
pelo Sistema Espelho
Conclusão
Na vida social, mais importante do que imitar
as ações é a capacidade de decifrar as emoções. Conhecer os NE permite que formulemos diver-
Para compreendermos as emoções os mecanismos sas hipóteses sobre sua utilização em diferentes
são diferentes daqueles apresentados até aqui, nas áreas científicas, como na área da saúde com recu-
ações sem envolvimento emocional. Uma hipótese peração de pacientes, em treinamentos de atletas
para compreensão das emoções de outra pessoa etc. Evidentemente pensar em utilizar esses novos
consiste na elaboração cognitiva dos aspectos conceitos na saúde é apenas uma hipótese e também
sensoriais das emoções do observado (nesse caso uma tentativa de modificar nossos conceitos a cerca
compreende-se a emoção expressa, mas não a sen- do que se tem feito até o momento. Certamente os
te). A outra consiste em traçar aspectos sensoriais conceitos dos NE não se restringem somente a isso.
diretos do comportamento emocional do observado Eles nos permitem uma possibilidade de reflexão
nas estruturas motoras que o determinam no obser- acerca da maneira como cada um observa o mundo
vador. Na primeira hipótese um padrão facial ou do e as outras pessoas. Com eles poderemos compreen-
corpo é reconhecido, indicando medo, ou felicidade der muitas peculiaridades e emoções que até então
ou aflição. Não há participação emocional do obser- ficavam em segundo plano por falta de conhecimento
vador, ele apenas reconhece as emoções do outro de como atingi-las. Espera-se que com essa breve
pelo reconhecimento da expressão corporal ou facial. apresentação, surjam pesquisas no Brasil abordando
Na segunda hipótese o reconhecimento se dá através essa teoria que é tão encantadora.
da experiência do sentimento do observado (por que
o sentimento é provocado no observador), ou seja, Referências
a emoção da outra pessoa penetra a vida emocional
do observador, despertando nele sentimentos que o 1. Blakeslee S. Cells That Read Minds. New York Times;
2006.
levam à experiências similares.
2. Rizzolatti G, Arbib MA. Language within our grasp.
Para comprovar essa segunda teoria, que reme- Trends Neurosci 1998;21:188-94.
te aos conceitos dos NE, Rizzolatti e Craighero [18] 3. Iacoboni M, Woods RP, Brass M, Bekkering H,
realizaram um experimento com apenas um senti- Mazziotta JC, Rizzolatti G. Cortical Mechanisms of
mento – a aversão. Os pesquisadores escolheram a Human Imitation. Science 1999;286:2526-8.
4. Buccino G, Binkofski F, Riggioa L. The mirror neuron
aversão como sentimento pesquisado, pois segundo system and action recognition. Brain Lang 2003:1-7.
eles, essa é uma emoção básica cuja expressão 5. Rizzolatti G, Fogassi L, Gallese V. Neurophysiological
tem um significado importante para a sobrevivência. mechanisms underlying the understanding and
Aversões a um alimento indicam, por exemplo, que imitation of action. Nat Rev Neurosci 2001;2:661-
70.
ao cheirá-lo ou pior ao prová-lo podem ter complica- 6. Metta G, Sandini G, Natale L, Craighero L, Fadiga L.
ções perigosas. Pelo seu forte valor comunicativo, Understanding mirror neurons: A bio-robotic approach.
a aversão foi perfeita para testar a hipótese apre- Interaction Studies 2006;7(2);197–231.
sentada anteriormente. Segundo os autores quando 7. Rizzolatti G, Craighero L. The Mirror Neuron System.
Annu Rev Neurosci 2004;27:169–92.
os sujeitos são expostos a odores aversivos, há 8. Rizzolatti G. The mirror neuron system and its function
ativação intensa de duas áreas: amigdala e insula, in humans. Anat Embryol 2005;210:419-21.
além disso eles afirmam que a insula não é uma 9. Iacoboni M, Molnar-Szakacs I, Gallese V, Buccino G,
área exclusivamente sensorial, pois em macacos e Mazziotta JC, Rizzolatti G. Grasping the intentions of
others with one’s own mirror neuron system. PLoS
seres humanos, ao ser estimulada eletricamente,
Biol 2005;3:1–7.
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 99
10. Ferrari PF, Galeese V, Rizzolatti G, Fogassi L. Mirror 15. Gazzola V, Aziz-Zadeh L, Keysers C. Empathy and the
neurons responding to the observation of ingestive and somatotopic auditory mirror system in humans. Curr
communicative mouth actions in the monkey ventral Biol 2006;16(18):1824-9.
premotor cortex. Eur J Neurosci 2003;17:1703-14. 16. Aziz-Zadeh L, Wilson SM, Rizzolatti G, Iacoboni M.
11. Aziz-Zadeh L, Koski L, Zaidel E, Mazziotta J, Iacoboni Congruent Embodied Representations for Visually
M. Lateralization of the Human Mirror Neuron System. Presented Actions and Linguistic Phrases Describing
J Neurosci 2006b;26(11):2964 –70. Actions. Curr Biol 2006a;16: 1818-23.
12. Boto A. Las neuronas espejo te ponen en el lugar 17. Keysers C, Wicker B, Gazzola V, Anton JL, Fogassi L,
del otro. Jornal El Pais. Madrid – 2005. [citado 2007 Gallese V. A Touching sight: SII/PV activation during
Jun 28]. Disponível em URL: http://www.elpais. the observation and experience of touch. Neuron
com/articulo/futuro/neuronas/espejo/ponen/lugar/ 2004; 42:335-46.
elpfutpor/20051019elpepifut_6/Tes. 18. Rizzolatti G, Craighero L. Mirror neuron: a neurological
13. Umiltà MA, Kohler E, Gallese V, Fogassi L, Fadiga approach to empathy. Neurobiology of Human Values.
L, Keysers C et al. I Know What You Are Doing: A Heidelberg: Springer; 2005. p.107-23.
Neurophysiological Study. Neuron 2001;31:155-65. 19. Carr L, Iacoboni M, Dubeau MC, Mazziotta J, Lenzi GL.
14. Kohler E, Keysers C, Umiltà MA, Fogassi L, Gallese Neural mechanisms of empathy in humans: A relay
V, Rizzolatti G. Hearing Sounds, Understanding from neural systems for imitation to limbic areas.
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100 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
Revisão
Resumo
A habilidade dos animais de se organizarem temporalmente em antecipação aos ritmos ambien-
tais é um mecanismo chave para sua sobrevivência. A disponibilidade rítmica de alimento é um
forte sincronizador e mesmo roedores com o núcleo supraquiasmático (marcapasso circadiano
sincronizado pela luz, LEO) lesado apresentam aumento de atividade (FAA), da temperatura e
de hormônios em antecipação ao alimento. Apesar das bases neurais da sincronização pelo
alimento ser diferente das bases neurais da sincronização pela luz, pouco se sabe sobre elas e
faltam fundamentos anatômicos e moleculares para caracterizar o oscilador sincronizado pelo
alimento (FEO). Lesões têm descartado a existência periférica do FEO e diversas técnicas, como
a expressão da proteína Fos, as lesões neuronais, a expressão e o nocaute dos genes relógio,
têm sido aplicadas na tentativa de identificar o FEO na parte central do sistema nervoso. Apesar
de todos os esforços, muitas frustrações e contradições têm sido geradas, o que nos leva a
idéia de que o FEO não está localizado em uma estrutura única, mas em um sistema.
ao alimento, valendo salientar que a informação observaram redução na FAA em ratos com grandes
gustatória isolada não é suficiente para gerar sincro- lesões por radio-frequência do PVT.
nização [21].
O sistema digestório tem como contactar à par- Figura 2 - Restrição alimentar gera um aumento na
te central do sistema nervoso através de diversos expressão de Fos no núcleo dorso-medial do hipo-
hormônios, mas a identidade de um sinal humoral tálamo (DMH) de rato em antecipação ao alimento.
servindo ao propósito de sincronização por alimento Coloração de Nissl mostrando a citoarquitetura do
ainda não foi descoberta. DMH em corte frontal (A). Fotomicrografias most-
O status nutricional parece também ter importân- rando a expressão Fos (imunoistoquímica) no DMH
cia dado que ratos com obesidade induzida por dieta de rato em regime ad libitum (B) ou de restrição
apresentam redução na FAA [22] e ratos que possuem alimentar (C) no mesmo horário do dia (equivalente
uma mutação no receptor para leptina, um hormônio ao horário de entrega do alimento). Barras: 500 μm
que funciona como um sinalizador da quantidade de A; 200 μm B e C. Abreviações: Tabela I. Modificado
tecido adiposo, são obesos mas apresentam FAA de [9].
mais acentuado [23], indicando que a antecipação ao
alimento é influenciada negativamente pelo estoque
energético e que a leptina é um bom candidato a
sinalizador periférico inibitório da FAA.
Entradas sensoriais visuais e olfatórias parecem
não afetar a FAA [15,24,25]. Apesar de alterações
de níveis hormonais fazerem parte do repertório de
alterações fisiológicas causadas pelo regime de res-
trição alimentar, adrenalectomia e hipofisiectomia
não alteram a FAA [26,27]. Tabela I - Abreviações.
Diversas técnicas têm sido utilizadas na tenta- 3v Terceiro ventrículo
tiva de identificar o FEO dentro da parte central do Arc Núcleo arqueado
sistema nervoso. DMH Núcleo dorso-medial do hipotálamo
Estudos utilizando a expressão da proteína Fos FAA Atividade antecipatória ao alimento
como marcador da atividade neuronal têm demonstra- FEO Oscilador sincronizado pelo alimento
fx Fórnice
do que o SCN não altera seu ritmo de “atividade” em
LEO Marcapasso sincronizado pela luz
resposta à restrição alimentar, que diversas áreas da
LH Área hipotalâmica lateral
parte central do sistema nervoso estão “ativadas” em NPY Neuropepitídeo Y
antecipação ao alimento e que em algumas áreas a PVT Núcleo paraventricular do hipotálamo
expressão de Fos persiste em livre-curso. Entre estas SCN Núcleo supraquiasmático
áreas estão o núcleo paraventricular do tálamo (PVT), TMN Núcleo túbero-mamilar
o núcleo túbero-mamilar (TMN), a área hipotalâmica
lateral (LH) e o núcleo dorso-medial do hipotálamo A mesma controvérsia ocorre com o DMH. Goo-
(DMH; Figura 2) [9, 28-31]. ley et al. [9] demonstraram que o ritmo de Fos nos
Estudos de lesões têm se mostrado ineficientes neurônios no DMH é sincronizado e antecipatório ao
e controversos na identificação do FEO. Lesão da área ritmo diário de disponibilidade de alimento, que essa
postrema, uma área desprovida de barreira hemato- “atividade” se sustenta em livre-curso, e que lesões
encefálica, não altera a FAA [32]. Ratos com lesão por ácido ibotênico de mais de 75% dos neurônios do
do núcleo ventro-medial do hipotálamo perdem a FAA, DMH abolem a FAA, os aumentos antecipatórios ao
mas após alguns dias a sincronização reaparece [33]. alimento da temperatura corporal e da vigília. Nova-
Lesão do núcleo paraventricular do hipotálamo (PVH) e mente, Landry et al. [36,37] utilizando-se de grandes
LH, assim como estruturas extra-hipotalâmicas (hipo- lesões por rádio-frequência, afirmam que a destruição
campo, amígdala e núcleo acumbens), não previnem do DMH não altera a FAA. Algumas possíveis expli-
a FAA [3]. Lesão do núcleo parabraquial atenua o cações para tais discrepâncias estão na diferença
FAA [34]. Nakahara et al. [31] mostraram que lesão do tamanho e tipo de lesão, onde lesões por rádio-
eletrolítica do PVT reduziu consistentemente a FAA e o frequência são geralmente grandes e destroem fibras
aumento de corticosterona antecipatório ao alimento de passagem, enquanto lesões por ácido ibotênico
em ratos, mas recentemente Landry et al. [35] não as preservam e podem ser menores. Outra diferen-
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 103
ça pode estar no tipo de dado coletado. Enquanto Neuropeptideo Y (NPY) apresenta expressão elevada
Landry et al. [36-37] analisaram o ritmo de atividade no DMH em ratos em restrição alimentar [44, 45]. NPY
locomotora de aproximação ao alimento (através de é o principal neuropeptideo de ação orexigênica na
um detector de movimentos próximo ao comedouro) parte central do sistema nervoso e sua elevada expres-
em animais sob claro/escuro (12:12), Gooley et al. são no DMH vem sendo relacionada com modelos de
[9] analisaram os ritmos de atividade/repouso geral, obesidade e com comportamento alimentar de fêmeas
sono/vigília e temperatura corporal (utilizando tele- lactantes [46-48]. Injeções diárias de NPY parecem ser
metria, eletro-encefalograma e eletro-miograma) em bons sincronizadores do comportamento alimentar em
animais sob claro/escuro ambiental (12:12) e escuro ratos [49], no entanto, o papel do NPY na antecipação
constante. A locomoção em direção ao alimento é ao alimento não tem sido bem explorado.
apenas uma variável e talvez não seja a melhor for-
ma de se analisar a FAA como um todo, pois mesmo Genes relógio
aprendendo a que horas o alimento estará disponível
o animal continua a se antecipar, portanto a procura Recentemente, as pesquisas sobre os meca-
pelo alimento pode não ser o principal (pelo menos nismos de funcionamento do marcapasso central
não o único) objetivo da antecipação. Além disso, Lan- têm introduzido uma nova forma de olhar os ritmos
dry et al. [35-37] analisaram os animais sempre sob biológicos que é através dos genes relógio.
influência do ciclo ambiental de claro/escuro, desta Os genes relógios são uma série de genes que
forma, não descartando o componente de aprendizado coordenam o funcionamento do SCN através de
associativo (mascaramento) do animal. No entanto, mecanismos de transcrição/tradução que se retroa-
a título de resultados, o DMH e o PVT parecem ter limentam [50]. Os principais genes relógio da alça de
influência em outros parâmetros antecipatórios que retroalimentação positiva são BMAL1 e Clock. Suas
não a de aproximação do alimento. Contudo, a meto- proteínas formam dímeros que ativam a transcrição
dologia a ser aplicada no estudo da antecipação ao dos genes Period (Per 1, 2 e 3) e Cryptochrome (Cry 1
alimento permanece em discussão [38,39]. e 2). O dímero PER-CRY inibe sua própria transcrição
e interage com o dímero BMAL1-CLOCK, formando a
Neuromediadores alça de retroalimentação negativa principal [50, 51].
O dímero BMAL1-CLOCK também é capaz de ativar
Alguns neuromediadores têm sido envolvidos outros genes, chamados assim de “genes controlados
na FAA e podem dar pistas de onde se encontra o pelo relógio”.
FEO. Animais nocaute para alguns genes relógio têm
Orexina, um neuropeptídeo expresso primordial- sido gerados e suas funções estão começando a ser
mente na LH, vem sendo relacionada com comporta- desvendadas. Por exemplo, camundongos nocaute
mento alimentar e sono, e neurônios orexinérgicos para os genes Per1 (Per1-/-) ou Per2 (Per2-/-) não
expressam Fos em antecipação ao alimento durante o perdem seus ritmos circadianos de atividade loco-
regime de restrição alimentar [40]. Camundongos com motora em regime de claro/escuro ambiental, mas
morte prematura de neurônios orexinérgicos apresen- mostram-se arrítmicos quando colocados em escuro
tam atenuação na FAA [41]. No entanto, Mistlberger et constante. Já camundongos duplo nocaute Per1/Per2
al. [42], utilizando injeção de hipocretina-2-saporina, são totalmente arrítmicos [52,53]. Camundongos
uma toxina que lesiona neurônios orexinérgicos, na BMAL1-/- são arrítmicos em escuro constante [54].
LH, mostraram que tal lesão em ratos não causa Camundongos Clock-/- apresentam, sob escuro cons-
alteração na FAA. Vale salientar que a injeção de tal tante, um imediato alongamento no período do ritmo
toxina pode ter causado a destruição de um número de atividade locomotora que precede uma perda total
de neurônios orexinérgicos insuficiente para que haja desse ritmo [55]. Camundongos nocaute para o gene
uma redução na FAA. Cry1, sob escuro constante, apresentam um período
Neurônios que produzem histamina também estão encurtado do ritmo de atividade, enquanto camun-
“ativados” em antecipação ao alimento em ratos em dongos nocaute para o gene Cry2 apresentam o ritmo
restrição alimentar [28,43]. Neurônios histaminérgicos alongado e camundongos duplo nocaute Cry1/Cry2
estão restritos ao TMN e são relacionados à ativação são arrítmicos [56].
cortical, portanto podem estar envolvidos com o des- A descoberta dos genes relógios e sua funciona-
pertar em antecipação ao alimento. O neuromediador lidade dentro do SCN tem incentivado a busca destes
104 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
56. van der Horst GT et al. Mammalian Cry1 and Cry2 60. Mieda M et al. The dorsomedial hypothalamic nucleus
are essential for maintenance of circadian rhythms. as a putative food-entrainable circadian pacemaker.
Nature 1999;398:627-30. Proc Natl Acad Sci U S A 2006;103:12150-55.
57. Pitts S, Perone E, Silver R. Food-entrained circadian 61. Waddington Lamont E et al. Restricted access to food,
rhythms are sustained in arrhythmic Clk/Clk mutant but not sucrose, saccharine, or salt, synchronizes the
mice. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol expression of Period2 protein in the limbic forebrain.
2003;285:R57-67. Neuroscience 2007;144:402-11.
58. Feillet CA et al. Lack of food anticipation in Per2 62. Wakamatsu H et al. Restricted-feeding-induced
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59. Iijima M et al. Altered food-anticipatory activity phase-shift of the expression of mPer1 and mPer2
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2005;52:166-73. not in the suprachiasmatic nucleus of mice. Eur J
Neurosci 2001;13:1190-6.
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 107
Relato de caso
Resumo
A Adrenoleucodistrofia Ligada ao Cromossomo X (X-ALD) é uma desordem peroxissomal com pa-
drão de herança recessiva ligada ao cromossomo. A X-ALD apresenta heterogeneidade fenotípica
e é caracterizada por uma progressiva desmielinização da substância branca do sistema nervoso
central e insuficiência da glândula adrenal. Os sinais e sintomas da X-ALD podem se manifestar
em crianças (formar cerebral) e adultos (forma mielopatia progressiva). O defeito bioquímico
está associado à bêta-oxidação peroxissomal de ácidos graxos de cadeia muito longa (AGCML),
*Laboratório de Erros Inatos levando a processos neuroinflamatórios e subseqüente desmielinização da substância branca. O
do Metabolismo – Instituto presente estudo relata os achados clínicos, bioquímicos e genéticos de 02 casos de pacientes
de Ciências Biológicas – Uni- com X-ALD, com a idade variando de 8 a 9. Os níveis plasmáticos dos AGCML foram mensurados
versidade Federal do Pará, no Laboratório do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, utilizando
a técnica da cromatografia gasosa. Considerando a relevância para o diagnóstico da X-ALD, a
**Disciplina de Neurologia,
desmielinização do sistema nervoso central foi o principal achado clínico encontrado nos dois
Instituto de Ciências da Saúde pacientes. Este estudo aponta para a importância do diagnóstico precoce da X-ALD, repercutindo
– Universidade Federal do Pará, no tratamento e também para o aconselhamento genético das famílias dos pacientes.
***Laboratório de Erros Inatos
do Metabolismo – Instituto de Palavras-chave: adrenoleucodistrofia, sistema nervoso central, desmielinização da substância
Ciências Biológicas – Universi- branca.
dade Federal do Pará
Recebido 15 de fevereiro de
Abstract
Adrenoleukodystrophy (X-ALD) is an X-linked recessively inherited peroxisomal disorder, pheno-
2008; aceito 15 de março de typically heterogeneous, characterized by progressive white-matter demyelination of the central
2008. nervous system and adrenocortical insufficiency. The signs and symptoms of X-ALD can manifest
Endereço para in childhood as cerebral ALD or in adulthood in the form of a progressive myelopathy (AMN). The
correspondência: Luiz Carlos consistent metabolic abnormality in all forms of X-ALD is an inherited defect in the peroxisomal
β-oxidation of very long chain fatty acids (VLCFA) which may in turn lead to a neuroinflammatory
Santana da Silva, Universidade
process associated with demyelination of the cerebral white matter. The clinical, biochemical
Federal do Pará, Instituto de and genetics aspects were investigated at two patients with X-ALD, varying in age from 8 to 9
Ciências Biológicas, Laboratório years. Plasma concentrations levels of VLCFA were measured at laboratory of Medical Genetics
de Erros Inatos do Metabolismo. Service of Hospital of Clinics of Porto Alegre (RS), using gas chromatography (GC). The white-
Avenida Augusto Correa, 1 matter demyelination of the central nervous system was mean symptom found at 2 patients,
who are relevant for diagnosis. The early identification of X-ALD is important for treatment and
Guamá 66075-900, Belém PA,
the family of patients could benefit with the genetic counseling.
Tel: (91) 3201-8030, E-mail:
lcss@ufpa.br
Key-words: Adrenoleukodystrophy, central nervous system, white-matter demyelination.
108 Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008
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in patients with x-linked adrenoleokodystrophy. y descripción de las anomalias bioquímicas. Rev
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peroxissomes. Biochim Biophys Acta 1997;1361: with pathogenetic considerations. Neuropathol Exp
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http://www.al3com.org/guias/x-ald.pd.f.htm. observations on 12 patients. Mol Genet Metab
2000;69:312-22.
Instruções aos autores
A revista Neurociências é uma publicação com periodicidade às neurociências. Revisões consistem necessariamente em
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos síntese, análise, e avaliação de artigos originais já publicados
científicos das várias áreas relacionadas às Neurociências. em revistas científicas. Todas as contribuições a esta seção
Os artigos publicados em Neurociências poderão tam- que suscitarem interesse editorial serão submetidas a revisão
bém ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) por pares anônimos.
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros Formato: Embora tenham cunho histórico, revisões não
que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos expõem necessariamente toda a história do seu tema, exceto
na revista, os autores concordam com estas condições. quando a própria história da área for o objeto do artigo. O texto
A revista Neurociências assume o “estilo Vancouver” deve conter um resumo de até 200 palavras em português e
(Uniforme requirements for manuscripts submitted to biomedical outro em inglês. O restante do texto tem formato livre, mas
journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de deve ser subdividido em tópicos, identificados por subtítulos,
Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas para facilitar a leitura.
a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uni- Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada
formes no site do International Committee of Medical Journal Edi- e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 25.000
tors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de caracteres, incluindo espaços.
2007 (o texto completo dos requisitos está também disponível, Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos artigos originais.
em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf). Referências: Máximo de 100 referências.
Submissões devem ser enviadas por e-mail para o
editor (artigos@atlanticaeditora.com.br). A publicação dos 4. Perspectivas
artigos é uma decisão dos editores, baseada em avaliação por Perspectivas consideram possibilidades futuras nas
revisores anônimos (Artigos originais, Revisões, Perspectivas várias áreas das neurociências, inspiradas em acontecimen-
e Estudos de Caso) ou não. tos e descobertas científicas recentes. Contribuições a esta
Como os leitores da Neurociências têm formação seção que suscitarem interesse editorial serão submetidas
muito variada, recomenda-se que a linguagem de todos os a revisão por pares.
artigos seja acessível ao não-especialista. Para garantir a Formato: O texto das perspectivas é livre, mas deve
uniformidade da linguagem dos artigos, as contribuições às iniciar com um resumo de até 100 palavras em português e
várias seções da revista podem sofrer alterações editoriais. outro em inglês. O restante do texto pode ou não ser subdi-
Em todos os casos, a publicação da versão final de cada artigo vidido em tópicos, identificados por subtítulos.
somente acontecerá após consentimento dos autores. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada
e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000
1. Editorial e Seleção dos Editores caracteres, incluindo espaços.
O Editorial que abre cada número da Neurociências Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
comenta acontecimentos neurocientíficos recentes, política Referências: Máximo de 20 referências.
científica, aspectos das neurociências relevantes à sociedade
em geral, e o conteúdo da revista. A Seleção dos Editores traz 5. Estudo de caso
uma coletânea de notas curtas sobre artigos publicados em São artigos que apresentam dados descritivos de um
outras revistas no bimestre que interessem ao público-alvo ou mais casos clínicos ou terapêuticos com características
da revista. Essas duas seções são redigidas exclusivamente semelhantes. Contribuições a esta seção que suscitarem
pelos Editores. Sugestões de tema, no entanto, são bem- interesse editorial serão submetidas a revisão por pares.
vindas, e ocasionalmente publicaremos notas contribuídas Formato: O texto dos Estudos de caso deve iniciar com um
por leitores na Seleção dos Editores. resumo de até 200 palavras em português e outro em inglês. O
restante do texto deve ser subdividido em Introdução, Apresen-
2. Artigos originais tação do caso, Discussão, Conclusões e Literatura citada.
São trabalhos resultantes de pesquisa científica Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada
apresentando dados originais de descobertas com relação e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000
a aspectos experimentais ou observacionais. Todas as con- caracteres, incluindo espaços.
tribuições a esta seção que suscitarem interesse editorial Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
serão submetidas a revisão por pares anônimos. Referências: Máximo de 20 referências.
Formato: O texto dos artigos originais é dividido em
Resumo, Introdução, Material e métodos, Resultados, Dis- 6. Opinião
cussão, Conclusão, Agradecimentos e Referências. Esta seção publicará artigos curtos, de no máximo uma
Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada página, que expressam a opinião pessoal dos autores sobre
e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 25.000 temas pertinentes às várias Neurociências: avanços recen-
caracteres (espaços incluídos), e não deve ser superior a tes, política científica, novas idéias científicas e hipóteses,
12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New Roman críticas à interpretação de estudos originais e propostas de
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como interpretações alternativas, por exemplo. Por ter cunho pes-
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O resumo deve ser enviado soal, não será sujeita a revisão por pares.
em português e em inglês, e cada versão não deve ultrapas- Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato
sar 200 palavras. A distribuição do texto nas demais seções livre, e não traz um resumo destacado.
é livre, mas recomenda-se que a Discussão não ultrapasse Texto: Não deve ultrapassar 3.000 caracteres, inclu-
1.000 palavras. indo espaços.
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
no formato Excel ou Word. Referências: Máximo de 20 referências.
Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, 7. Resenhas
com resolução de 300 dpi. Publicaremos resenhas de livros relacionados às Neu-
Referências: Máximo de 50 referências. rociências escritas a convite dos editores ou enviadas espon-
3. Revisão taneamente pelos leitores. Resenhas terão no máximo uma
São trabalhos que expõem criticamente o estado página, e devem avaliar linguagem, conteúdo e pertinência
atual do conhecimento em alguma das áreas relacionadas do livro, e não simplesmente resumi-lo. Resenhas também
não serão sujeitas a revisão por pares.
112 Neurociências • Volume 3 • Nº 5 • setembro-outubro de 2006
Formato: O texto das Resenhas tem formato livre, e - Nome do membro do Conselho Editorial cuja área de con-
não traz um resumo destacado. centração melhor corresponde ao tema do trabalho;
Texto: Não deve ultrapassar 3.000 caracteres, inclu- - Título do trabalho em português e inglês;
indo espaços. - Nome completo dos autores;
Figuras e Tabelas: somente uma ilustração da capa do - Local de trabalho dos autores;
livro será publicada. - Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone
Referências: Máximo de 5 referências. e E-mail;
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8. Cartas para paginação;
Esta seção publicará correspondência recebida, neces- - Número total de caracteres no texto;
sariamente relacionada aos artigos publicados na Neurociên- - Número de palavras nos resumos e na discussão, quando
cias Brasil ou à linha editorial da revista. Demais contribuições aplicável;
devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos - Número de figuras e tabelas;
eventualmente citados em Cartas serão informados e terão - Número de referências.
direito de resposta, que será publicada simultaneamente.
Cartas devem ser breves e, se forem publicadas, 3. Resumo e palavras-chave
poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A segunda página de todas as contribuições, exceto
Opiniões e Resenhas, deverá conter resumos do trabalho em por-
9. Classificados tuguês e em inglês. O resumo deve identificar, em texto corrido
Neurociências Brasil publica gratuitamente uma seção (sem subtítulos), o tema do trabalho, as questões abordadas, a
de pequenos anúncios com o objetivo de facilitar trocas e metodologia empregada (quando aplicável), as descobertas ou
interação entre pesquisadores. Anúncios aceitos para publi- argumentações principais, e as conclusões do trabalho.
cação deverão ser breves, sem fins lucrativos, e por exemplo Abaixo do resumo, os autores deverão indicar quatro
oferecer vagas para estágio, pós-graduação ou pós-doutorado; palavras-chave em português e em inglês para indexação do
buscar colaborações; buscar doações de reagentes; oferecer artigo. Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos
equipamentos etc. Anúncios devem necessariamente trazer DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual
o nome completo, endereço, e-mail e telefone para contato da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br.
do interessado.
4. Agradecimentos
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes da
Literatura Citada, em uma seção à parte.
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em proces- 5. Referências
sador de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte As referências bibliográficas devem seguir o estilo Van-
maneira: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas couver. As referências bibliográficas devem ser numeradas
as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre- com algarismos arábicos, mencionadas no texto pelo número
scrito, etc. entre parênteses, e relacionadas na literatura citada na ordem
1.2 Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, em que aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
e Figuras com algarismos arábicos. Livros - Sobrenome do autor, letras iniciais de seu
1.3 Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
isoladas das ilustrações e do corpo do texto. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
1.4 As imagens devem estar em preto e branco ou tons de ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula,
cinza, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif Exemplo:
ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and manage-
(histologia, neuroimagem, etc.) ment. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail
para o editor (artigos@atlanticaeditora.com.br). O corpo do Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à editora, letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
e deve conter: Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
(1) identificação da seção da revista à qual se destina a seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
contribuição; pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
(2) identificação da área principal das Neurociências onde o ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo
trabalho se encaixa; com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in
(3) resumo de não mais que duas frases do conteúdo da Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível
contribuição (diferente do resumo de um artigo original, no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
por exemplo); ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de
(4) uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi 6, colocar a abreviação latina et al.
publicado em outros meios além de anais de congresso; Exemplo:
(5) uma frase em que o autor correspondente assume a Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
responsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
todos os outros autores estão cientes e de acordo com in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
o envio do trabalho;
(6) uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os
procedimentos e experimentos com humanos ou outros Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail
animais estão de acordo com as normas vigentes na para: artigos@atlanticaeditora.com.br
Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
(7) telefones de contato do autor correspondente. Atlantica Editora
Jean-Louis Peytavin
2. Página de apresentação Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
A primeira página do artigo traz as seguintes informa- 20021-180 Rio de Janeiro RJ
ções: Tel: (21) 2221 4164
- Seção da revista à que se destina a contribuição;
Neurociências • Volume 4 • Nº 2 • março-abril de 2008 113
Eventos
Maio Setembro
22 a 24 de maio 1 a 4 de setembro
IV Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamental e I NEUROLATAM
Emoções I Congresso Ibro/Larc de Neurociências da América La-
Novo Centro de Convenções Bento Gonçalves, Porto tina, Caribe e Península Ibérica
Alegre, RS XXXII Congresso da Sociedade Brasileira de Neurociên-
Informações: (51) 3028 3878 cias e Comportamento
XXIII Congreso de la Sociedad Argentina de Neurociencias
Junho IV reunião anual de la Sociedad Chilena de Neurociencia
12 a 14 de junho IX Congreso de la Sociedad de Neurociencias del Uru-
Simpósio de 70 anos do IPUB guay
Diretrizes no tratamento de Transtornos Mentais Buzios, RJ
Informações: ipub@ipub.ufrj.br Informações: www.sbnec.org.br
Tel: (21) 2295 3449/3499/9549/5549 4 a 7 de setembro
30 de junho a 2 de julho III Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamen-
Symposium on Development & Plasticity of the Nervous tal
System IX Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental
Rio de Janeiro Niterói, RJ
Informações: www.anato.ufrj.br/unescochair2008 Informações: www.fundamentalpsychopathology.org
Julho 20 a 25 de setembro
XIV Congresso Mundial de Psiquiatria
26-31 de julho Praga, República Tcheca
International Conference on Alzheimer´s Disease 2008 Informações: www.wpa-praga2008.cz
McCormick Place, Chicago, EUA
Informações: www.alz.org/icad Outubro
31 de julho a 3 de agosto 10 a 15 de outubro
II Congresso Brasileiro de Psicoterapia da ABRAP XXVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria
VIII Congresso da Federação Latino-Americana de Psico- Brasília, DF
terapia Informações: www.abpbrasil.org.br
Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo
Novembro
Agosto 15 a 19 de novembro
16 a 21 de agosto Neuroscience 2008
XXIII Congresso Brasileiro de Neurologia Walter E. Washington Convention Center, Washington DC,
Centro de Convenções, Belém, PA EUA
Informações: www.neuro2008.com.br Informações: Society for Neuroscience www.sfn.org
congresso@eventussystem.com.br 23 a 27 de novembro
Tel: (71) 2104 3477 MBEC Congress 2008, European Biomedical Engineering
Congress
4th European Congress of IFMBE
Antuérpia, Bélgica
Informações: www.mbec2008.be