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Introdução
Desde muito cedo, a primeira capital do Piauí, Oeiras, apresentava, segundo seus
governantes, alguns empecilhos para o desenvolvimento econômico e social do Estado.
Depois de muitas discussões acerca da transferência da capital surgiu, em 1844, o nome
da Vila do Poti. José Antônio Saraiva, presidente da província à época, empreendeu
uma viagem até a Vila para se certificar das condições do lugar e refutando as objeções
dos adversários consegue, através de uma eleição realizada em 15 de janeiro de 1852, a
aprovação da transferência.
Surge então Teresina escolhida, desde o início, em função do imaginário
progressista estabelecido por um grupo de políticos liderado por José Antônio Saraiva,
para ser a nova sede política da província do Piauí (CHAVES, 1998; ARAÚJO, 1997).
Inicialmente Teresina era acanhada, com ar típico de “Chapada do Corisco”;
possuía uma população composta principalmente por pescadores, vaqueiros,
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É notório que uma série de valores modernos ia dando significados aos espaços,
transformando-os em territórios classificados segundo a moralidade da época. Como
ressalta Brandin (2006) os territórios considerados bons, civilizados, prósperos, eram
aqueles condizentes “com um gosto estético cada vez mais refinado, conforme
atestaram os jardins, cinemas, cafés, coretos, arborizações;” em contraposição, eram
classificados como “incivilizados” todos aqueles espaços associados ao signo da sujeira,
da insalubridade, presentes, ainda no século XX, em muitos pontos da cidade.
As classes pobres, dentro deste contexto, passam a serem vistas como
“elementos vulcânicos”, capazes de destruírem toda a estrutura social com sua violência
explosiva. É possível perceber nos discursos da época a existência de um sentimento
misto de compaixão e de intolerância, nojo e até rejeição aos mendigos e todos aqueles
considerados “inúteis e imprestáveis”. Os mendigos eram alvos fáceis dos jornais
teresinenses, podemos encontrar, folheando suas páginas, afirmações como esta:
Penso que se tratava de uma espécie de punição que ao mesmo tempo se voltava
para o indivíduo que cometia um ato delituoso, mas também para aqueles que podiam
vir a cometê-los. Neste sentido, a punição, desde que aplicada com regularidade, era
vista como um mecanismo que servia para desencorajar outros indivíduos a cometerem
atos criminosos. Atuando sobre as virtualidades dos indivíduos ela poderia prevenir a
criminalidade.
Estas modificações propostas pelo Dr. Gervásio acompanhava as transformações
pelas quais o poder punitivo passava ao longo do século XIX. Neste processo a punição,
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em si, vai-se tornando a parte mais velada do processo penal, dessa maneira, gerando
um processo que tenta dissociar da justiça a parte violenta que lhe cabe fazendo com
que sua eficácia seja atribuída não mais ao teatro dos suplícios sangrentos em praças
públicas, como no antigo regime punitivo, mas à sua fatalidade, à certeza de que a cada
crime corresponderá necessariamente uma punição. A partir deste momento o ato de
punir não precisa mais ser visto por todo o corpo social, ele passa ao campo da
“consciência abstrata”, o que o torna mais sutil e menos dispendioso tanto do ponto de
vista político quanto do ponto de vista econômico. No antigo regime punitivo, embora
as punições fossem bem mais violentas, nem tudo era punido, pois existia uma margem
de marginalidade, que embora fosse proibida por lei era consentida na prática
(FOUCAULT, 2004, p. 12-13).
Neste caso, esta reforma tinha como objetivo principal fazer do poder punitivo, e
conseqüentemente da repressão das ilegalidades, uma “função regular, coextensiva à
toda sociedade; não punir menos, mas punir melhor; [...] talvez com uma severidade
atenuada, [...] [porém] com mais universalidade e necessidade” (Idem, ibidem, p. 69).
Crimes que antigamente contavam com certa indulgência por parte do Estado, passam
agora a serem vistos como algo intolerável e extremamente nocivos à organização
social.
Visando melhorias neste sentido, Mathias Olympio de Mello, no ano de 1900,
afirma que o edifício onde estava situada a Casa de Detenção não possuía nenhum dos
mais rudimentares requisitos de higiene e nenhuma propriedade para o serviço a que se
destinava. O que fazia com que nela se encontrassem:
Portanto, é possível afirmar que existia um discurso que dizia que era preciso
punir, mas, no entanto não se podia punir de qualquer jeito. Para que o poder punitivo
fosse exercido da forma mais eficaz possível era necessário estar-se atento a uma série
de normas técnicas definidas principalmente por uma ciência criminalística que toma
por base os saberes médico-higienistas.
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Afinal, a medicina, por essa época voltará sua atenção cada vez mais para as
questões sociais assumindo em grande medida, de forma direta ou indireta, a tarefa de
vigilância e controle do espaço urbano. Emprestando o seu saber à Câmara Legislativa
do Piauí, ela orientará a elaboração dos Códigos de Posturas e dos Regimentos Internos
não só dos hospitais e asilos como também da Casa de Detenção e, conseqüentemente,
influenciará de forma decisiva no ordenamento da cidade (ARAÚJO, 1995, p. 73-84).
Dentro deste quadro o alienismo, “sob o marco da teoria da degenerescência”,
terá suas preocupações voltadas, sobretudo, para a “‘limpeza’ e disciplinarização do
meio urbano” (CUNHA, 1986, p.22). Em especial para aqueles sujeitos que, “às
margens da sociedade do trabalho”, se empenhavam “em fraudar e resistir às
disciplinas”. Estes indivíduos se tornarão objeto de um saber específico que
inicialmente terá sua forma de intervenção oscilando entre a criminologia e o alienismo.
Este “parentesco entre loucura e crime”, provavelmente fruto dos longos anos de
internação conjunta, abriu a possibilidade de uma loucura ligada “à esfera dos
comportamentos. [...] corporificada nas figuras ameaçadoras dos vadios, dos jogadores,
das prostitutas e seus cafetões, [...] de todos os tipos de ‘desordeiros’ contidos na
população urbana” (CUNHA, 1986, p.24-25).
Portanto,
Conclusão
REFERÊNCIAS
_____A Invenção do Nordeste. Recife: FJN, Ed. Massangana; São Paulo: Cortez,
2001.
COIMBRA, Cecília M. B.; NASCIMENTO, Maria Lívia do. Jovens pobres: o mito da
periculosidade. In: FRAGA, Paulo César Pontes & IULIANELLI, Jorge Atílio Silva.
Jovens em Tempo Real. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003.
MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem Anos de Solidão. Rio de Janeiro: Editora Record,
1995.
FONTES