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SERGIO MICELI ComPANHIA Das LETRAS bse MTOM ke Re oR eo M Memes Mole ah Leto een CRTC OMS oc Drews Er RUE MEER ML TELM ck N o k M Eo MUM CUR ASTM uN cue Sorelle MOU om ce ROC MEL (el Pree Mel eRe MRI Ue Peeler Ok MOORE dirigentes; no fio da argumentacao, arti- CoN ea ole MRT Eee eek Tene eCoM MSM La (eel Pr on eM ear eee COMI Republica Velha e no periodo Vargas — PATE oM a Nilo oR Oc esa TS Ute se MC COR CCMaU U o Oc siano Ricardo, entre varios outros — é Cee Ten Cer Meo OO MUO OR Dero OC eas praticas de uma geracao oriunda de FU Roum ro aM ae Ure CaerectoRl Mel Se reco An es (OUR) origens, dramas individuais, infortunios e Buy CM CUM Eom kee oo ir MM Sen oo Heard Reece rae Role kel SOT meee eget CMU ole cae) sua vez, leva o intérprete a aferir mudan- CeO oem att PSU} EOC omic eRe cy Cee coe wer eel SM Mateo) UR M terre telP Mao ual «:1o) me Me A OR Ror eo) OM MCE sa ule CMC alog CCT een ee tele em sel ey (ae Rom Mir nema icon Lie Bates co 1e[e)ir eee ML el tancia decisiva para a compreensao das politicas culturais e do lugar dos intelec- bel RST cg ol ee a tor expe os bastidores da in ner ed oat Pou de sua légica, no estabelecims Deron eee riais Ce Wa ee ee ey emogao da descoberta que como ele mesmo diz, o “tran eo ec iso} Nop eM Mes eR Cone SUL SA ie scem ck Pele nero eB Re pe RoR Uo Reo ps a Chicago e Gainesville, na Escuela N: nal de Antropoligia e Historia (Cidade do Oey Uses kaa eda to Sciences Sociales. E autor, entre outros. Imagens negociadas (1996), e Vangu Cristea.) m SERGIO MICELI Intelectuais a brasileira 22 reimpressio CToMPANHIA b LETRAS Copyright © 2001 by Sergio Miceli Capa Ettore Bottini Indices onoméstico¢ remissivo Miguel Said Vieira Preparagao Carlos Alberto Inada Revisao Marcio Caparica Carlos José Augusto de Abreu Nascimento ‘Ana Maria Barbosa Isabel Jorge Cury ‘Dados lnteacionas de Caalogagao na Publiasto (it) (Camara Brasieia do Livro, Bras) ee, Sergio Tatelctsis 4 braieia / Sergio Mice, — St6 Paulo Compania das Het, 2001, Bibliograi sty 978-45-359-0113.9 1. meletuis 2 ntlectuas~ Aspects soci 3. eects = Bras Titulo, ovis con. 305 592 Indie para ctalogo sistema I.tntelecuais: Sociologia 308882 [2012] Todos os direitos desta EDITORA SCHWARCZ S.A. Rua Bandeira Paul 4532-002 — Sto Paulo — se ‘Telefone (1) 3707-3500 Fax (1) 3707-3501 ‘www.companhiadasletras.com.br ‘wwwblogdacompanhia.com.br Sumario Nota de esclarecimento. ANALISES PODER, SEXO E LETRAS NA REPUBLICA VELHA (ESTUDO CLINICO DOS ANATOLIANOS) «.. +0465 1, Elementos para leitura do quadro . 2. Os“parentes pobres”: a divisao sexual do trabalho de reproducao «. 3. Tenentes ¢ intelectuais..........+ 4. Doenga e carreira masculina interrompida ..... 5.O trabalho politico do pai ....... Ayes 6.1mprensae poligrafos 7-Dupla dependéncia e posicao interna . 8.Galomania Notas . INTELECTUAIS E CLASSE DIRIGENTE NO BRASIL (1920-45) ....seeeeeerene 69 Nomadismo e mobilizagao do capital .........-.+ a2 166 Preficio — Antonio Candido . 7 O processo de feminizagao .. J Introdugao, ey er: | Autodidatas e profissionais do trabalho literario . . 182 As transformacoes sociais e politicas .. 7 A situagao profissional dos romancistas . silane 187 ‘As mudangas no mercado de trabalho intelectual ......0600000008 79 3, Osintelectuaiseo Estado ....... a 195 As estratégias das familias dos escritores .. 81 A constituigao de um mercado central depeans pauls ‘ 199 As fontes..... Bier pe eee ave. Condigdes materiais e institucionais dos funcionarios publicos 200 1.A transformagao do papel ce ecultural dos intelectuais da O novo estatuto das profissdes liberais sere 204 oligarquia .. Sag A hierarquia salarial dos altos funcionarios . z 206 Diferenciagao politica e expansao do campo de produgao Os dominios reservados aos intelectuais no servigo publico ...... 207 ideolégica em Sao Paulo ... 89 Aclite intelectual e burocratica do regime 209 Oswald de Andrade: dandie lider est Os“homens de confianga” .... edhe Alene ne an do Partido Republicano Paulista .. 96 Osadministradores da Cultura e Cia. ....... sons a 21a Monteiro Lobato: anatoliano antimodernista ................... 98 As carreiras tradicionais . ages oer a3 A derrota politica da oligarquia..........00..064 100 ‘As novas carreiras técnicas ....... ah a4 Mario de Andrade: lider eeetaie Part tidoD Democratico...... 103 O Estado como arbitro em assuntos culturais........- ++ a Os escritores modernistas . 104, Os educadores profissionais e os pensadores autoritarios 219 Os“primos pobres 105 Joaquim Pimenta: a trajetéria de um antigo militante .. cess 006 Os“homens sem profissao” vey arcenees 06) Osescritores-funciondrios ¢ os funciondrios-escritores . 2g A situacao do mercado de diplomas no inicio da década de 1930... 15, Conclusées .......+ + La Hermes Lima: modelo de bacharel “livre” at aoe Notas ... paaaue o 247 O“rearmamento” institucional da Igreja catélica wy Bibliografia ...... potas 281 Os intelectuais reacionarios 131 2. A expansdo do mercado do livro ea génese de um grupo de © CONSELHO NACIONAL DE EDUCACAO: ESBOGO DE ANALISE DE UM romancistas profissionais ..... Ee cee ac ects 141 APARELHO DE ESTADO (1931-7) -++eess0seceesseeeeeeeenseees a Pongetti: um editor imigrante da década de 1930 .........00..0.+ 142 1. Composigao institucional . ie 298 As caracteristicas do boom no mercado do livro . 146 2. Méveis da luta interna .. 308 A situacao do mercado dolivro . “149 Autonomia do cn versus ingeréncia do Poder Executivo . 308 As desigualdades regionais e 0 mercado editorial 151 Autonomia estadual versus unificagao “nacional” . 318 A hierarquia dos géneros eas transformagoes do publico . Wins Ensino “ptiblico” versus ensino“privado” ...... 322 Perfil de investimentos dos editores nos diferentes géneros ....... 156 ‘Tomadas de posicao e filiagao politico-institucional ............. 33 Os cronistas da “casa assassinada” . 158 3. Anotagoes acerca das fontes ...... ease 334 As caracteristicas sociais dos romancistas ..... edecires sail Aer 16O, Notas ....-.. reper ad satiate toe eae es Lea 338 Nomadismo, desclassificagao e feminizagao . 166 BIOGRAFIA E COOPTAGAO (0 ESTADO ATUAL DAS FONTES PARA A HISTORIA SOCIAL E POLITICA DAS ELITES NO BRASIL) Notas ..... irae SPHAN: REFRIGERIO DA CULTURA OFICIAL .- INTELECTUAIS BRASILEIROS, Notas .. Bibliografia suméria .. A.CONSTRUGAO DO TRABALHO INTELECTUAL «. Indice onomastico ......-. Indice remissivo . ARTIGOS DEPOIMENTO 345 355 357 369 396 397 403 47 427 Nota de esclarecimento Este livro pretendia reunir 0 conjunto de meus: trabalhos sobre intelectuais brasileiros, objetivo alcancado apenas em parte. Por consideragoes de ordem pratica, preferi deixar de fora os textos suscitados pela pesquisa sobre cientistas sociais: a) as introdugoes aos dois volumes da Histéria das ciéncias sociais no Brasilsob minha coordenagao (1989, 1995); b) “Condicionantes do desenvolvi- mento das cigncias sociais”, no volume 1; ¢) “A Fundagao Ford e os cientistas sociais no Brasil, 1962-1992”, no volume 2; d) 0 livreto A desilusto americana, relagdes académicas entre Brasil e Estados Unidos, publicado pela Editora Sumaré em 1990 eainda disponivel no mercado. O leitor interessado podera consultar a obra coletiva mencionada, cujo primeiro volume acaba de ser reeditado. ‘Também ficaram de fora alguns textos de feigao académica, quase sempre destinadosa simpésiosaquie no exterior, inclusive um escrito provocativo sobre o mercado brasileiro de arte contemporanea, e resenhas publicadas no Jornal de Resenhas, encarte mensal da Fotha de S, Paulo, Por tiltimo, um texto ainda inédi- to, em que analiso as obras de estréia da primeira geracao de escritores moder- a nistas paulistas, deverd ser divulgado em breve numa revista de cultura. Ain que em medida desigual, todos os texto ficagdes importantes em sua forma original. s incluidosneste volume sofreram modi- Embora 0s editores Luiz e Lilia Schwarcz tivessem formulado a intencao de langar esta coletanea em dobradinha com meu livro recém-terminado sobre 0 modernismo artistico em Sao Paulo, nao foi possivel conclui-loa tempo deaten- dé-los. Fico-Ihes muitissimo reconhecido pelas provas de amizade pessoal, bem como pelo interesse na feitura deste volume, 0 segundo de minha autoria sob chancela do selo dos “meios de transporte”, Quero ainda registrar minha divida com Maria Emilia Bender, companhei- ra de etnias imaginarias, Ettore Bottini, autor da vigorosa capa grafica, e Carlos Alberto Inada, escrutinador implacavel, pelo capricho e empenho nas suas res- pectivas contribuicées a confeccao do livro. Sergio Miceli Anilises dees PODER, SEXO E LETRAS NA REPUBLICA VELHA (ESTUDO CL{NICO DOS ANATOLIANOS)* * Texto publicado originalmente em francés sob o titulo “Division du travail entre les sexes et divi sion du travail de domination”, Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n™ 5-6, Paris, Centre de Sociologie Européenne/Maison des Sciences del’ Homme, novembro de 1977, pp. 162-82, edepois em portugués,em livro intitulado Poder, sexo e letras na Reptiblica Velha (Estudo clinico dos anato~ Tianos). Sao Paulo, Perspectiva, 1977. Colesao Elos, vol. 4, Os protetores sio 0s piores tiranos Lima Barreto Este texto examina a trajetéria social de uma categoria de letrados atuantes no periodo da Republica Velha (1889-1930) no Brasil. Esse periodo — situado entre o desaparecimento da geracao de 1870,' por volta de 1908-10, anos da morte de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, e a eclosao do movimento modernista em 1922’— constitui aos olhos dos historiadores e criticos literarios uma espécie de intermezzo que designam como o pré-modernismo. A historia literaria adotou tal expressao com vistasa englobar um conjunto de letrados que, segundo 0s principios impostos pela “ruptura” levada a cabo pelos modernistas, se colocariam fora da linhagem estética que a vitoria politica do modernismo entronizou como dominante. Afora algumas exce¢Ges que certas capelas literd= rias acharam por bem recuperar em certas circunstancias, dando-lhes o status de precursores isolados de uma tradicao estética que a “vanguarda” modernist teria restaurado — gente como Augusto dos Anjos, José Albano, Adelino Magalhaes, aos quais criticos tidos por “menores” acrescentaram Monteiro Lobato, Raul de Leoni, e alguns heterodoxos, até mesmo Lima Barreto, segundo 16 as conveniéncias conjunturais dos embates na vida literaria —, os demais passa- rama valacomum sem direitoa nome proprio. Encontram-se, pois, privados do aparato de celebracao com que hoje se cultua o pantedo modernista, cujo legado subsiste como a fonte maxima de autoridade estética. O termo pré-modernismo constituiu um recurso politico dos modernistas com o qual dataram os detentores da autoridade intelectual na década de 1920: seriam 0s epigonos das escolas dominantes no final do século x1x, 0s deserdados das grandes causas politicas — como, por exemplo, a Independéncia para os romAnticos, 0 abolicionismo e o movimento republicano para a geragao natu- ao simbo- ralista—, os importadores otimistas das escolas européias periféri lismo, os descristianizados. Também se conseguiu eufemizar o fato de que maioria dos autores da primeira geragao modernista havia estreado em plena Republica Velha, alguns bem antes de 1922: escritores como Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Ribeiro Couto, Oswald de Andrade e outros que, em geral por raz6es extraliterdrias, tiveram cond es para reconverter sua trajetoria intelectual na diregdo do modernismo. Em vez de ser uma fase de estagnagao da atividade literdria, “uma fase de repouso, de empobrecimento, de esterilidade em nossas letras’, nos termos da fa raveis a profissionalizacao do trabalho intelectual, sobretudo em sua forma lite- concepgao corrente hoje, nessa fase se desenvolveram condigoes sociais favo- raria, ea constituigdo de um campo intelectual relativamente autonomo, em conseqiiéncia das exigéncias postas pela diferenciacao e sofisticagao do trabalho de dominacao. Expurgar esse momento de expansao da atividade intelectual no Brasil, relegar os produtores da época, tachando-os de “subliteratos’, tratar suas obras segundo critérios elaborados em estados posteriores do campo, em suma, trans- formé-los numa espécie de lixo ideolégico, como o fazem certas correntes que nao obstante nao tém mais quase nada em comum, é 0 mesmo que desconhecer as condigdes sécio-historicas em meio as qual e constituiu o campo intelectual sob cuja vigéncia estamos vivendo. E 0 mais lamentavel é o fato de que muitos desconhecem esses letrados e invocam autores de outras eras cujas obras mani- festariam rupturas que s6 existem na cabega e nos interesses, esses bem determi- nados, de grupos que agora se enfrentam pela monopolizacao da autoridade de legislar em materia estética, acobertados por adesdes meramente simbdlicas a ak valores e programas politicos que nenhuma de suas praticas culturais ou politi cas poderia confirmar. Nao havendo, na Republica Velha, posigdes intelectuais autonomas em. relagao ao poder politico, o recrutamento, as trajetérias possiveis, os mecanis mos de consagracao, bem como as demais condicoes necessarias 4 produgio intelectual sob suas diferentes modalidades, vao depender quase que por com- pleto das instituigdes e dos grupos que exercem 0 trabalho de dominagao. Em termos concretos, toda a vida intelectual era dominada pela grande imprensa, que constituia a principal instancia de produgao cultural da época e que forne cia.a maioria das gratificagoes e posigdes intelectuais. Os escritores profissionais viam-se forcados a ajustar-se aos géneros havia pouco importados da imprensa francesa: a reportagem, a entrevista, 0 inquérito literario e, em especial, a cronica. Oestudo da vida intelectual brasileira em seu periodo de formagao consti tui uma ocasiao privilegiada de compreender as modalidades com que a produ cao literdria contribui para o trabalho de dominagao, contribuigao que assume: formas mais complexas e dissimuladas num campo intelectual dotado de maior autonomia relativa. De outro lado, tal estudo permite captar alguns dos determi m despercebidos nantes sociais da atividade intelectual que muitas vezes pass num campo intelectual mais autonomo, dispondo de aparelhos de celebragio cuja funcao basica consiste em encobriras condigdes sociais que presidem a pro- dugao e a recepgao das obras. Aselegao dos autores para este estudo foi determinada na pratica pela exis~ ténciade memsriaspublicadas e,em medida menor, pelo recurso a biografias. Os riscos em que tal procedimento poderia incorrer ficam bastante minimizados quando se levam em contaas propriedades sociais dos memorialistas e dos auto- (0 incluiu a reveréncia biografi esses tipos de material fornecem dados ¢ informagdes a respeito de categori Na verdade, res cujo processo de consagra de escritores que ocupam momentaneamente posigdes diferentes no campo. Enquanto as biografias sio dedicadas, via de regra, aos autores que desfrutavam de uma posi¢do dominante ainda vivos ou, entao, aqueles autores que os emba- tes posteriores acabaram convertendo em objetos de uma consagragao postuma, © género memiérias constitui uma estratégia a que recorrem no mais das vezes ritas intelectuais dominados. A nao ser nos casos em que as memérias sao es por intelectuais jé reconhecidos, cuja trajetoria se encontra em declinio, verifi- v7 QUADRO 1 — TRuNFOs, HANDICAPS £ CARREIRAS. tscrones Data ugar de ‘Profssbo do pe | Oiapidacto vocal Estas | | ener. os pas Humbertode Campos | 1886, Miitibe J Comerciante Orfbo ato, fe mt 2886, Mi | Grid de pi asses | Muito, eo ‘Morea Hanviquae,, [18SI,Abaalaneto | Tnlewt7 Toss | Oris Ge, mie me ab taro ca Uma Barreto ‘anos, Pai louco aos deze- | nagées, internamer Nove anos Jonatas Archanjo daSil- | 1885, Riode Janeiro | Capitio-de-mare-guer- | Oro de pais agi te wera Serrano rarsenade | aos sete anos ae ‘Hermes Floro Bartolo- meu Martins de Araujo Fontes 1888, Sevgpe Lavrador, oficial da Guarda Nacional Orfae de mae ja rapar 20s dezoto anos Mulsto, surdo, gago, Gerido do capital de jelacdes Socios jabaino de costura da ‘he Prtninno ministo {ipo pola mie e peia vd matorna ‘Apo ivogular do irmBio Posico na fraria @ carrira dos irmaos Primogénito do segun do casamento do pai Unico fio homem Primogénito de quatr filhos, um itmo guar dda-civil, um irmdo con: | Cuno superior ‘Sern diplorna universitério 1 | Engenharia, inter utor de bondes Filho unico Direito Décimo segundo. filho | Sem diploma ‘numa prole de quinze | universitario Careira Baiconista de armazém, jorna: lista, em Belém @ no Rio, depu lado, funciona publico Fedueno funcionirio na Secre: taria da Guerra, jornalista, pro fessor particular Professor de Escola Normal ‘professor universitaro, divetor de Escola Normal, diretor de diversas organizagoes catdll as, cargos publicos Pequeno funcionario dos Cor reios, jomalista, poeta Romances, contos, fo Tipo de produgao Crinicas, poesia, conto, cea tera, folnetins, Comentarios politicos, humor, memnértas Inetim, crdnicas, Bic 1s polticos Manuals de historia, dh reito, poesia, romances ‘obras de proseliisme ceatoico Poesia, crdnicas, lets de cangoes, anuncios: Krtiovespacrinno | tmbos ofa. msi, racon pecturo uncon dno ee ‘Vivaldo Goaracy 1882, Riode Janeiro | Jomnatista, gramaturgo, | Orfaode paiemae | Nenh foun ~ [ho din Escola Minar, TJomalisia, professor parlicular, | Romances, escrltos pos : |, dramalurg, wim tor ea professor | Fito anico itadtor cic teal Mi cote Pole etotscrica professor no curso deeerold: | ticos, obfos teenies, ae pax wee a Escola Poihécnica AKG nica, engenheiro, gerente em | histoncas, memdons fmpiesa prvada Tianna ara [eer ae ae Se Tae ia cc ee ar Souza Bandera (Pernambuco) aie Mione'prmero | pequenc’s trabalhos e enc: | ges, mans Je Mislo eae, ‘eg aoe fendasliterarias, professor | a iterana,tradugoes Unverst,fungées publieas Paul Setibal 1893, atl Comerciante to de pa aos m5 Mgbetho ce contre da | Segundo fhe homem: | Dito Professor secundano em um | Romances hstéieos, (Sto Paulo) fe a y in : seminario e-em uma escola | poesia, teatro, ensai0e ee moeceee ie si we meer comercial, promotor piblico, | civicos ecto de advacacla Gilberto de Lima Aze-| 1887, Estancia Comerdanie "| rene rt Tpnsiita a cued anita de catorze | Farmacia, deta | Jomalista, professor de direto | Ensaios soclas @ poll: eee Ae eae eee aes tw ptea da ciaae« | Pumogénto de ctorze Jonas prise te ee do de Faria Fncgho oligarquica advogados, professo” pplitico no Rio de Janeiro, de- | cronicas, meméias, 4 Pe tioerates putado federal, senador, diplo- | cursos ’ mata José Maria Bello 1885, Baneios Senhordeengenho | Faléncia econdmi Pak membvo miltante de r Direto Funciondrio na Biblioteca Na: | Cilia litera, ensaios aes wre [lgacnincs [oom ier forage pe ppt ei Teng ta | i a * Assembltia Nacional, jornalista | histonicas, politico, alto funcionario, depu- fad, sonador,povernador ee toe reconhecioo (nbo tomou posse, dovio 8 Revolugao de 30 TENENTES at a mr aS: ido da Gama Barata] 1905, Rio de Janeiro | Tenente daMatinha | Orfaode palaos sete | Nenhum ‘las paricularese outs | Segundo fhodo segun- | Escolas militares do | Miltar | Memérias: Abate on Imperial engenhero | meses de mae aos cow Jo nde (costurse | do. casamento. dai | Rio Grande do Sul e naval auinze anos deca'o), ausho.do mec: |{cneo meostméos) | do. Rlo.de Janeiro. | oe padintiomedio ‘Realengo) Bl Juarez Nascimento 1898, Joguaribe- Pequeno proprietario de ‘Nenu llisitio Tévora, tio ma- | Cacula de quinze fihos, | Escola Politécnica, | Militar, “Vice-rel” do Nordeste | Escritos politicos e eo: Feinandez Tavora Mirim (Ceara) terras 2 Hea re eas | memaosengennonos ca; |intetompida; Escolo | NO Inicio. do_pertodo Vargas | ndmicos, memoras wy Bistro Federal aes: | piaemedtc,funcrons | Millar do Ro de To | (als tard, miisbo e candida thn Hermes da Fonseca, | todos Cores feo Realengo) | #08 Pesidéncia da Repu) iba) ‘Jo80 Alberto Lins 1897, Recife (Pernam- | Professor secundaio de Nenhum Tercerofihodosegundo | Escola Politecnica, | Militar, interventor de Sao Paulo | Menxérias de Bans Duco) matematica Tecerenodo at ene | ineromypda, Escola | dufente operiodo Vargas ec melos mos e nove | itr do io deJo- - imsos) ret Relengo) ‘is Carlos Prestes 1898, Porto Alegre | Militar de carreva Faléncia material; értao | Nenhum Mie profes Unico tho homem; | Escola Militar do| Militar, miltante politico (pce) _| Escritos politicos (oGrandedoSu | (captdo-engenneio) | de par pend quatro umes" | Realengo FONTE 1) Memontas Humberto de Campos, Memsrias, 1* parte, Rio de Janeiro, Livraria Editora Marisa, 1933; Humberto de Campos, Memdrias inacabadas. Rio de Janeiro, José Olympio, 1935; Humberto de Campos, Didrio secreto, 2 vols. Rio de Janeiro, Ed. 0 Cruzeiro, 1984; Lima Barreto, Didrio intimo, 2+ ed. Sao Paulo, Brasiliense, 1961; Vivaldo Coaracy, Todos contam Sua vida (memérias da infancia e adolescéncia). Rio de Janeiro, José Olympio, 1959: Vivaldo Coaracy, Encontros com a vida. Rio de Janeiro, José Olympio, 1962; Manuel Bandeira, Itinerario de Pasargada. Rio de Janeiro, Livratia S20 José, 1957; Paulo Setibal, Confiteor. Sao Paulo, Companhia Editora Nacional, 1937; Gilberto Amado, Histéria da minha infancia Rio de Janeiro, José Olympio, 1954; Gilberto Amado, Minha formagao no Recife, Rio de Janeiro, José Olympio, 1955; Gilberto Amado, Mocidade no Rio e primeira viagem a Europa Rio de Janeiro, José Olympio, 1956; Gilberto Amado, Presenga na politica, 2+ ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1960; Gilberto Amado, Depots da politica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1960; José Maria Bello, Memorias. Rio de Janeiro, José Olympio, 1958; Agildo Barata, Vida de um revoluciondrio — Memerias. Rio de Janeiro, Ed. Melso, s. 4. ; Juarez Tavora, Uma vida e muitas jutas — Memérias, 1. Da planicie a borda do altiplano. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973; Joao Alberto Lins de Barros, Memerias de um revoluciondrio, 1. Amarcha da coluna. Rio de Janeiro, Civilizacao Brasileira, 1953. 2) BIOGRAFIAS. Povina Cavalcanti, Hermes Fontes. Rio de Janeiro, José Olympio, 1964; diversos autores, fonathas Serrano (in Memoriam). Rio de Janeiro, Federacao das Academias de Letras do Brasil, 1945, suplemento ne 54 da Revista das Acaclemias de Letras; Francisco de Assis Barbosa, A vida de Lima Barreto (1881-1922). Rio de Janeiro, José Olympio, 1952; Jorge Amado, Vida de Luls Carlos Prestes — 0 Cavaleiro da Esperanga, 4+ ed. S40 Paulo, Martins, 1945, ca-se que os intelectuais consagrados costumam recorrer ao género em suas variantes mais idealizadas e eufemizadas e, ainda assim, com freqiiéncia quando as circunstancias numa dada conjuntura do campo lhes sao desfavoraveis. Entao, a infancia constitui o tinico periodo de sua vida que consentem em evo- car, pois tal periodo se presta mais a um tratamento eminentemente poético e, em conseqiiéncia, facilita uma apreciagao das memérias com base apenas em critérios estéticos. Entretanto, convém salientar que esses dois tipos de fonte fornecem infor- Magoes diferentes. Se a celebragao biografica é uma maneira de reconstituir 20 vidas exemplares num registro apologético, dissimulando-se os mec anismos reais que regem as trajetorias socials ¢ intelectuais, os memorialistas, por sua os nilo escondem 0 jogo de que participam, pois sua propria situagdo os faz enxer gar melhor os moveis da luta de cujas gratificagdes mais importantes se véem excluidos. Por essa razao, o investimento no género memorias é tanto maior € mais freqdente quanto mais baixo o grau de consagragao relativa, hsrada om queo proprio produtorassuma ele mesmo o encargo de proceder sem ary is ceber, d sua propria consagragio. Assim, os célculos simbdlicos doonearee que o investimento nesse género supde sao sobremaneira visiveis no caso ‘ los. produtores mais inseguros quanto sua consagracao e que acabam por adiar post mortema data de publicagao de suas memorias ou de parte delas, em geral a parte mais “intima” e “secreta”. 21 1. Elementos para leitura do quadro Afora o fato de que os letrados em questdo sao originarios de familias oli- garquicas cuja situagao material esta em declinio ecujo tinico vinculo comas fra- goes dirigentes é de parentesco ou de compadrio, 0 quadro das caracteristicas pertinentes extraidas das biografias desses escritores revela duas séries de deter- minagoes, uma positiva e outra negativa: o ingresso nas carreiras intelectuais associa-se, de um lado, a posse de trunfos que resultam da posicao na fratria ou na linhagem (como, por exemplo, fato de ser filho tinico, de ser 0 primoggnito, deser o tinico filho homem etc.) e, de outro, aos efeitos que provocam handicaps sociais (tais como a morte do p: i, a faléncia material da familia etc.), biolégicos (em especial, nos casos de tuberculose), ou, entao, estigmas corporais (como, por exemplo, a surdez, a gagueira ete.). Essas diferentes formas de mutilagao social parecem substituiveis do ponto de vista dos efeitos que provocam sobre a trajetéria social na medida em que todas elas tendem a bloquear o acesso as carreiras que orientam o preenchimen- to das posi¢oes dominantes no ambito das fracdes dirigentes e, por essa razao, determinam, ainda que de maneira negativa, uma inclinagao para a carreira de intelectual. A mudanga de sentido da trajetoria familiar desses“parentes pobres” da oligarquia ocorre na maioria dos casos durante a primeira infancia ou entao, em alguns poucos casos, durante a adolescéncia dos futuros escritores. Em Outros terMos, Oo acesso d posigdo de escritor aparece, Nessa conjuntura, como oO produto de uma estratégia de reconversilo que se impoe por forca do desapare: cimento do capital de que a familia dispunha outrora, ou ainda pela impossibi lidade de herdar esse capital em toda sua extensdo, Assim, 0 éxito maior ou menor desse genero de estratégia depende da capacidade de utilizar a inica espé- cie de capital disponivel, a saber, o capital de relagdes sociais ¢ de honorabilida de que,em certos casos ¢ sob certas condigdes, os“parentes pobres” da oligarquia poderdo acionar a seu favor. Para aquelas familias em declinio que ocupam uma posigao em falso em virtude do desequilibrio entre o capital material dilapidado e 0 capital social dis- ponivel, a tinica possibilidade de reconversao depende das possibilidades de fazer valer 0 capital de relagdes sociais— em especial em conjunturas estratégi- cas como a educagao dos filhos, a “escolha” dos cursos superiores, 0 casamento, a nomeagao para cargos ptiblicos etc. —, por ser o tinico com que ainda podem contar para escapar a um rebaixamento social ainda maior. Nao obstante, qual- quer que seja a maneira como essas familias langam mao da rede de prestagbes contraprestagdes que essa espécie de capital hes proporciona, tais estratégias nao conseguem devolver a essas familias sua posi¢ao so! A prestacao de diferentes tipos de servico, desde 0 trabalho politico do pai (apoio nas eleigdes, manipulagao das eleicdes etc.) até os mais diversos trabalhos femininos (a costura, as rendas etc.), vai permitir apenas que os “parentes pobres” da oligarquia possam ocupar as novas posicdes criadas pela expansiio do mercado de postos administrativos, politicos e culturais, a qual, por sua vez, se encontra ligada a transformagao ea consolidacao do modo de dominagao da oli- garquia. Seas familias de“parentes pobres” tiveram éxito em fazer valerseu capi- tal social, isso se deve ao fato de que suas estratégias de reconversio coincidiram com um momento determinado de expansao do mercado de postos disponiveis, | anterior. que veio favorecer seus interesses. Vale dizer, a rentabilidade do capital de rela- Ges sociais depende, no limite, das exigéncias do trabalho de dominagao — ou seja, de fatores externos a légica interna do funcionamento desse mesmo capi- tal—, que tendema encaixar os filhos dos “parentes pobres” nos postos que esta~ vam sendo abertos e cujo acesso estava de todo vedado aos agentes das demais classes. Em face de uma mesma situagio de declinio familiar, os “parentes pobres” poderao fazer valer seu capital de relagdes de maneiras diferentes. A manuten ¢40 na classe de origem mediante a reconversao as carreiras intelectuais se reali- za seja em virtude dos lucros obtidos pelo trabalho feminino (Humberto de Campos Véras, Paulo Settibal, Jonatas Serrano), seja por conta da protesao que podem propiciar substitutos do pai, tais como padrinhos e tutores (Vivaldo Coaracy, Afonso Henriques de Lima Barreto), seja por forca dos rendimentos obtidos por intermédio do trabalho politico do pai (Gilberto Amado, José Maria Bello). Afinal, a reconversao referida pode também suceder em conseqiiéncia da interrupgao pela doenca de uma carreira masculina (Bandeira).' De maneira geral, os estigmas corporais tendem a reforgar as disposigoes (“recusa” das car- reiras mais gratificantes, interiorizagao de qualidades como a “sensibilidade”) adquiridas ao longo do proc ‘0 de relegagao mediante o qual os “parentes pobres” transmitema seus filhos todasas modalidades de handicapsligados sua posigao social em falso. Essas reconversdes manifestam-se por deslocamentos no espaco da classe dirigente, cuja estrutura o proprio exame d. s trajetorias permite captar. As posi- ges ocupadas nesse espaco se hierarquizam quer em funcao do poder politico ou econémico que implicam, ou seja, por conta da distancia em relacao a oligarquia e,de outro lado, sem que os dois principios de hierarquizacao sejam de todo inde- pendentes, quer em fungao da predominancia dos valores masculinos —associa- dos ao poder — ou dos valores femininos. A carreira literaria, socialmente defi- nida como feminina, ocupa no espectro das carreiras dirigentes (do proprietario ao homem politico) uma posig¢ao dominada, a meio caminho entre a carreira militar (a mais préxima do pélo masculino dominante, embora desfrutando de uma posigao inferior no campo do poder) e a carreira eclesidstica, que constitui ‘oexemplo-limite da mais feminina das carreiras masculinas na medida em que se define negativamente, no ambito dos agentes, pela auséncia de propriedades que caracterizam as profissoes viris (poder econdmico, poder sexual etc. ). A carreira eclesiastica constitui 0 exemplo mais acabado de um trabalho contaminado pela modalidade feminizada de incorporagao do habitus, a come- gar pela propria batina, que dissimula, no nivel do corpo, a perda simbolica dos atributos masculinos (perda assumida ou vivida como “vocagao”, “entrega’, “casamento com Deus’, omo se pode perceber com base no Iéxico matrimonial 24 eerdtico que metaforizaa vida dos santos), Pode-se perceber com nitider tal pro: cesso na ideologia da vocagito descrita em termos de um desprendimento das “serviddes” temporais, como o casamento, a familia ete Desse Angulo, a oposigao entre a feminilidade mascarada da carreira ecle sidstica e a virilidade declarada da carreira militar é muito menos pertinente do que a primeira vista pode parecer: 0 convento esta para o quartel assim como a graga esta para a forga. Para explicar essa oposigao, conviria descre' er 08 ritos que tanto 0 convento como 0 quartel impdem aos agentes que recrutam, fazen do com que interiorizem pela manipulacao do corpo a ruptura radical com o meio de origem ecom 0 “mundo”, que nao € outra coisa senao uma maneira de separar do mundo social tanto os agentes como as instituigdes. A batina ea cen sura que ela impinge ao corpo em favor do exercicio espiritual e das faculdades de devogao e de piedade sao homologas a farda e as proibigdes e censuras em meio as quais ela encerra 0 pensamento em favor do treinamento, do aperfeigoa mento, do cuidado e da apresentacao do corpo e das virtudes ligadas a um bom uso do corpo — como, por exemplo, a seguranga, 0 dominio de si, a firmeza, a energia. Assim como a batina traduzacastracao social deseus portadores,a farda dota seus usuarios de uma espécie de virilidade oficial, ambas exprimindo os dois polos-limites da dominagio. Nao € por acaso que, num estagio incipiente de formagao de um campo especializado de produgao de bens simbolicos, quando ainda nao existe uma (0 estrita do trabalho intelectual, o trabalho socialmente definido como simbolico recai sobre as mulheres ¢ os homens que com elas se identificam e que poressa via seapropriam dessa espécie de trabalho, ainda um tanto destituido de valor econdmico, mas que pode vir a adquirir um valor especifico, de inicio indi- reta e depois diretamente econdmico, num estado ulterior das relagoes entre as fragoes e entre as classes. Tendo em vista a dualidade dos principios de estrutu- ragao desse espaco, constata-se que os deslocamentos nesse mesmo espago, isto é, as trajetorias concretas que encaminham para 0 oficio de escritor, podem ser referidos a dois principios: de um lado, as propriedades relativas ao grupo fami- liar e, na raiz,a faléncia econdmica e/ou a perda do pai, ¢, de outro, as proprieda- des relativas a héxiscorporal e que sao propiciasao favorecimento de disposigdes socialmente definidas como femininas. Esses dois conjuntos de fatores tendem 25

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