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ISSN 2175-9251

Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais,


Ambientais e Climáticas
Volume 1 | Setembro 2021
ISSN 2175-9251
Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais,
Ambientais e Climáticas
Volume 1 | Setembro 2021
Relatório de Riscos e
Oportunidades Sociais, Ambientais
e Climáticas
Publicação anual do Banco Central do Brasil (BCB)

A consolidação das informações do BCB e dos correspondentes quadros estatísticos e gráficos


relacionados à gestão de riscos são de responsabilidade do Departamento de Riscos Corporativos
e Referências Operacionais (e-mail: deris@bcb.gov.br).

Informações sobre o relatório

Telefone: (61) 3414-2685

É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Banco Central do Brasil,
Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas, v. 1.

Atendimento ao Cidadão

Banco Central do Brasil


SBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo
70074-900 Brasília – DF
Telefone: 145 (custo de uma ligação local)
Internet: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/faleconosco
Sumário

Prefácio, 5

Sumário Executivo, 7

1 Introdução, 9
1.1 Apresentação , 9
1.2 Estrutura do relatório, 10

2 Governança, 11
2.1 Propósito, 11
2.2 Estrutura e engajamento, 13
2.3 Gestão integrada de riscos corporativos , 14
2.3.1 Riscos estratégicos , 15
2.3.2 Riscos operacionais, 20

3 Planeta, 21
3.1 Mudanças climáticas e impactos financeiros, 21
3.1.1 Governança sobre riscos de mudanças climáticas, 22
3.1.2 Estratégia, 23
3.1.3 Gestão de Riscos, 24
3.1.4 Métricas, 25
3.2 Água, energia e materiais, 29

4 Pessoas, 31
4.1 Cidadania financeira, 31
4.2 Educação, 32
4.3 Dignidade e igualdade de tratamento, 33

5 Prosperidade, 35
5.1 Inclusão, 35
5.2 Inovação e competitividade, 36
5.3 Relacionamento com a sociedade, 39

6 Agenda BC# Sustentabilidade, 40


6.1 Regulação, 41
6.2 Supervisão, 45
6.3 Políticas, 47
6.4 Ações Internas, 48
6.5 Parcerias, 50
Prefácio

É com grande satisfação que o Banco Central do Brasil (BCB) divulga seu primeiro
Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas. Esta nova
publicação reforça a transparência das ações da Instituição em temas relevantes e
marca também o compromisso do BCB em participar, no âmbito do seu mandato
institucional, do enfrentamento de um dos grandes desafios de nossa geração:
a mitigação dos riscos, decorrentes tanto de mudanças ambientais e climáticas
quanto da existência de disparidades de oportunidades de participação e afluência
social, que possam afetar o alcance da missão do BCB, que é a de garantir a
estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um sistema financeiro
sólido, eficiente e competitivo, e fomentar o bem-estar econômico da sociedade.

Responsabilidade socioambiental é um valor corporativo incorporado há muito


tempo em nossas práticas internas, de regulação e supervisão do Sistema
Financeiro Nacional (SFN). Especialmente na última década, o BCB deu um passo à
frente e emitiu normativos com o intuito de iniciar a integração de fatores sociais
e ambientais na análise de risco das instituições financeiras (IFs). À medida que os
governos e o setor privado de diversos países se movimentavam para formalizar
questões sociais, ambientais e climáticas em suas atividades, percebeu-se que
a ação antecipada do BCB foi acertada. No entanto, o trabalho da autoridade
monetária no estabelecimento de regras prudenciais e como indutora de boas
(e necessárias) práticas está apenas começando.

De fato, da perspectiva ambiental e climática, serão necessárias adaptações nas


mais diversas atividades econômicas. Essa etapa de transição certamente não
acontece da noite para o dia e, do ponto de vista do funcionamento da produção
e do consumo, pode provocar o surgimento de novos setores econômicos e o
desaparecimento de outros. É papel do BCB estar vigilante e agir para que os riscos
que possam comprometer o alcance da nossa missão nessa transição estejam
monitorados e controlados, bem como as eventuais consequências econômicas
de eventos climáticos cada vez mais frequentes e extremos.

Mas esse momento de atenção para os riscos também revela oportunidades


importantes. O Brasil é extremamente privilegiado no que se refere a variedade
ambiental e climática. Possuímos biomas vastos e riquíssimos em biodiversidade
animal e vegetal, além de alta tecnologia para manejo da agricultura e pecuária.
Com o apoio de um sistema financeiro avançado e capaz de prover recursos para
esses setores com rapidez e eficiência, a transição para uma economia de baixo
carbono pode, sem dúvida, ser benéfica para o desenvolvimento do país.

5 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


E, abraçando essas mudanças tão necessárias para um futuro melhor e sustentável,
entendemos que também é oportuno avançarmos em temas igualmente
relevantes. O BCB apoia a democratização do conhecimento financeiro, o
amplo acesso ao sistema financeiro e as opções para alocação mais eficiente e
capilarizada do crédito. Para atingir esses objetivos, investe em parcerias para
difusão de educação financeira, implementa continuamente novas soluções
tecnológicas para atendimento ao cidadão e ao sistema financeiro, e também
tem modernizado temas como microcrédito, cooperativismo, conversibilidade
da moeda e mercado de capitais. Além disso, o BCB reconhece a importância
da redução das disparidades sociais e, internamente, busca a igualdade de
oportunidades e de tratamento do seu quadro funcional à Instituição. Afinal,
dignidade, prosperidade e bem-estar da sociedade como um todo sem dúvida
fazem parte da equação.

Felizmente, nas diversas frentes tratadas neste Relatório, o BCB não está sozinho.
Desde 2017, bancos centrais de todo o mundo têm se reunido em torno de uma
rede formal, a Network for Greening the Financial System (NGFS), acelerando
importante troca de experiências, recomendações e melhores práticas. Há grande
esforço coordenado e global para identificação e quantificação dos riscos e das
oportunidades que permitam ações efetivas para reduzir as desigualdades e
alcançar uma relação mais equilibrada da atividade econômica com a natureza.
Embora não haja ainda a consolidação de um padrão para as métricas, forma-se,
aos poucos, um corpo de conhecimento que nos ajuda a avançar. Algumas medidas
e métricas iniciais já estão cobertas neste Relatório, e certamente outras virão,
conforme se evolua na construção de um consenso sobre mensuração e divulgação
desses riscos. Trata-se de importante instrumento de gestão para a Instituição e
de prestação de contas à sociedade, ao dar transparência a ações do BCB.

Os temas em destaque neste Relatório estão na fronteira, local em que os bancos


centrais precisam estar. São necessárias, ainda, pesquisa e geração de dados
em muitas frentes na área. Este próprio Relatório é a primeira edição de uma
publicação regular que terá sua evolução contínua com o tempo. Assim, espero
que a leitura seja proveitosa e informativa dos desafios e oportunidades que
se avizinham, mas cujas soluções também estão em nossas mãos, indivíduos e
organizações.

Roberto Campos de Oliveira Neto


Presidente do Banco Central do Brasil

6 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Sumário Executivo

Este Relatório apresenta de forma integrada as ações do Banco Central do


Brasil (BCB) relacionadas à gestão de riscos e oportunidades sociais, ambientais
e climáticas. Esses riscos e oportunidades estão associados aos fatores ASG
(ambientais, sociais e de governança), ou ainda, em inglês, fatores ESG
(environmental, social and governance), incluindo os riscos e as oportunidades das
mudanças climáticas, que podem impactar o próprio BCB e o Sistema Financeiro
Nacional (SFN).

O BCB mantém em sua agenda pública de trabalho, denominada Agenda


BC#, uma pauta centrada na evolução tecnológica para desenvolver questões
estruturais do SFN. A Agenda BC# está organizada em cinco dimensões: Inclusão,
Competitividade, Transparência, Educação e Sustentabilidade. Dentre as ações
apresentadas nesta publicação, destaca-se, em capítulo específico, o andamento
das ações que compõem a dimensão Sustentabilidade da Agenda BC#.

São detalhadas diversas frentes de trabalho em que o BCB se engajou para efetivar
sua participação na identificação e gestão dos riscos ASG, internos à organização e
perante o SFN e a sociedade. Como autoridade monetária, regulador e supervisor
do SFN, o BCB lançou a dimensão Sustentabilidade da Agenda BC# em setembro de
2020. Desde então, o BCB segue cronograma detalhado de medidas relacionadas à
sustentabilidade e à mitigação de riscos sociais, ambientais e climáticos.

Entre as medidas anunciadas na ocasião do lançamento da dimensão


Sustentabilidade, ressalta-se a recente publicação de normativos que estabelecem
critérios para o tratamento de riscos e oportunidades sociais, ambientais e
climáticas por parte de agentes financeiros sob sua supervisão. O tema ASG
também passou a fazer parte de discussões relacionadas à execução de políticas
monetária e cambial, e as discussões relativas ao tema na gestão das reservas
internacionais foram ampliadas.

Neste Relatório, os aspectos relacionados à gestão das reservas internacionais e


os esforços de alinhamento às recomendações da Task Force on Climate-related
Financial Disclosure (TCFD) recebem maior atenção. Embora ainda não exista um
padrão aceito internacionalmente para apresentação de métricas sobre o tema,
os dados deste Relatório visam contribuir com o estágio atual da discussão.

No cenário global, destaca-se a participação do BCB em fóruns e organismos


internacionais, como em grupos de trabalho do Bank of International Settlement
(BIS), do Basel Committee on Banking Supervision (BCBS), do Financial Stability

7 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Board (FSB), da Network for Greening the Financial System (NGFS) e do G-20. No
contexto interno à Instituição, são apontados avanços relacionados às atividades
de responsabilidade social e ambiental do BCB e às ações operacionais, como a
execução de operações de utilização dos resíduos de cédulas do meio circulante.

As ações e os dados e apresentados nesta publicação têm ênfase no ano de


2020, porém algumas informações mais recentes também são contempladas, e,
à medida que são apresentadas, o período de referência é indicado.

8 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


1 Introdução

1.1 Apresentação
Este Relatório apresenta de forma integrada as ações realizadas em 2020 e algumas
em 2021, pelo Banco Central do Brasil (BCB), relacionadas à gestão de riscos e
oportunidades sociais, ambientais e climáticas. Em geral, associam-se esses riscos
aos fatores ambientais, sociais e de governança, denominados fatores ASG ou,
em inglês, ESG (environmental, social and governance), bem como aos fatores
associados às mudanças climáticas.

Embora ainda não exista consenso quanto à apresentação de ações relacionadas


aos fatores ASG pelas organizações, este Relatório busca alinhamento com as
recomendações apresentadas em documentos do World Economic Forum (WEF),
da TCFD1 e da rede de bancos centrais NGFS.

As informações apresentadas no texto contemplam ações do BCB que provocam


impacto externo à organização, como regulação e supervisão do SFN, e aspectos
do contexto no qual o BCB está inserido e que trazem impactos internos, como,
entre outros, reduzir impacto ambiental nos processos do meio circulante.

O BCB tem promovido uma série de iniciativas para modernizar o Sistema


Financeiro Nacional (SFN). Essas ações, integrantes da agenda institucional
denominada Agenda BC#, estão organizadas em cinco dimensões: Inclusão,
Competitividade, Transparência, Educação e Sustentabilidade – sendo esta
última incorporada à Agenda BC# em setembro de 2020. Um capítulo específico
deste Relatório foi destinado para o acompanhamento da ações da Agenda BC#
Sustentabilidade.

Esta primeira edição do Relatório será aprimorada ao longo do tempo, em


compasso com a evolução da maturidade sobre o tema, dado que outros bancos
centrais ao redor do mundo também estão em processo de busca das melhores
práticas para avaliação e comunicação dos riscos e oportunidades sociais,
ambientais e climáticas. As versões seguintes do relatório permitirão uma avaliação
das medidas anunciadas na ocasião do lançamento da dimensão Sustentabilidade
da Agenda BC# e contarão com o aprimoramento e a evolução do tema entre os
bancos centrais e no sistema financeiro global.

1 Força-tarefa criada em 2015 pelo FSB e coordenada pelo setor privado, com o objetivo de
desenvolver recomendações para permitir divulgações de informações claras, comparáveis e
consistentes sobre riscos e oportunidades de negócios associados às mudanças climáticas.

9 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Assim, com esta publicação o BCB dá mais um passo na ampliação da transparência
de suas ações relacionadas à gestão de riscos e oportunidades sociais, ambientais
e climáticas, alinhado às melhores práticas para divulgação dessas informações.

1.2 Estrutura do relatório


O BCB adotou neste Relatório a estrutura proposta pelo WEF para a apresentação
de informações associadas a fatores ASG.2 De acordo com o WEF, essas informações
são distribuídas em quatro pilares: Princípios de Governança, Planeta, Pessoas e
Prosperidade. Cada pilar constitui um capítulo desta publicação, que ainda traz
um capítulo adicional específico para apresentar a evolução das iniciativas da
dimensão Sustentabilidade da Agenda BC#.

Em Princípios de Governança, são apresentadas informações sobre o propósito e


o engajamento organizacional no tema Sustentabilidade, e a atividade de gestão
dos riscos envolvidos.

No capítulo Planeta, encontram-se informações relativas às ações do BCB voltadas


para o gerenciamento dos riscos resultantes das mudanças climáticas sobre as
carteiras de ativos da instituição – particularmente, nesta edição, relativos às
reservas internacionais – e para o gerenciamento dos riscos climáticos sobre a
estabilidade financeira, com destaque para as ações de regulação e supervisão.
O gerenciamento de riscos é uma ferramenta necessária para que a Instituição
preserve tanto a estabilidade econômica quanto a estabilidade financeira, evitando
possíveis perdas para a sociedade. Para esse capítulo, o WEF sugere o uso das
recomendações da TCFD, que divide a divulgação das informações financeiras
específicas sobre riscos climáticos nos seguintes grupos: Governança, Estratégia,
Gestão de Riscos, e Métricas e Metas. A NGFS também sugere o uso da abordagem
da TCFD para os riscos de mudanças climáticas.

No capítulo Pessoas, são apresentadas as ações do BCB para a promoção da


cidadania financeira, como o programa Aprender Valor, importante iniciativa que
contempla projetos escolares com educação financeira integrados aos conteúdos
de matemática, português, geografia e história, além de trabalhar aspectos ligados
às habilidades socioemocionais dos estudantes. O capítulo apresenta ainda as
ações voltadas ao próprio BCB na busca por igualdade de oportunidades de
tratamento do corpo funcional.

No capítulo Prosperidade, são abordadas as ações relacionadas a inclusão


financeira, inovação e relacionamento com a sociedade.

Finalmente, o último capítulo apresenta as iniciativas do BCB integrantes da


dimensão Sustentabilidade da Agenda BC#, com seus respectivos estágios de
implementação.

2 Ver documento: Measuring Stakeholder Capitalism – Towards Common Metrics and Consistent
Reporting of Sustainable Value Creation.

10 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


2 Governança

2.1 Propósito
A missão do BCB é garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar
por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, e fomentar o bem-estar
econômico da sociedade. Responsabilidade Socioambiental e Integridade estão
entre seus valores institucionais, e o BCB atua com respeito aos cidadãos, ao meio
ambiente, aos colaboradores e às demais partes interessadas, com vistas ao
desenvolvimento sustentável. A visão do BCB é ser reconhecido pela promoção
da inclusão, transparência, sustentabilidade e competitividade no sistema
financeiro e pelo estímulo à educação financeira do cidadão.

MISSÃO
Garantir a estabilidade do poder de compra da
moeda, zelar por um sistema financeiro sólido,
eficiente e competitivo, e fomentar o
bem-estar econômico da sociedade.

VALORES
• Integridade
• Foco em resultados
• Abertura para mudanças
• Excelência
• Cooperação
• Responsabilidade socioambiental

VISÃO
Ser reconhecido pela promoção da inclusão,
transparência, sustentabilidade e
competitividade no sistema financeiro e pelo
estímulo à educação financeira do cidadão .

Considerando sua missão, o BCB contribui para o desenvolvimento sustentável nas


três frentes: social, ambiental e econômica. Relativamente aos riscos associados
às mudanças climáticas, são avaliados e monitorados os impactos para o SFN e
para a economia.3

3 Esses riscos estão associados a um aumento da temperatura do Planeta acima de 2 °C neste


século, comparativamente às temperaturas do período pré-industrial. Com o Acordo de Paris,
assinado pelo Brasil em 2015, os países signatários assumiram o compromisso de que o aumento
da temperatura do planeta não ultrapassará os 2 °C neste século e que serão envidados esforços
para que esse aumento seja inferior a 1,5 °C.

11 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


No seu Plano Estratégico Institucional (PEI-BCB), o BCB destaca atenção aos riscos
associados aos fatores ASG na sua declaração da visão de futuro e na explicitação
do objetivo estratégico “promover finanças sustentáveis e contribuir para redução
de riscos socioambientais e climáticos na economia e no Sistema Financeiro”.

Observando o PEI-BCB e a cadeia de valor, é possível notar contribuições do BCB


para diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela
Assembleia Geral das Nações Unidas no documento “Transformando o Nosso
Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

Para acessar a página da ONU sobre ODS, clique aqui

1 Erradicação da pobreza
1.4 Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e
vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos econômicos, bem como acesso a
serviços básicos, (...) e serviços financeiros, incluindo microfinanças.

2 Fome Zero e agricultura sustentável


2.3 Até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de
alimentos, particularmente das mulheres, povos indígenas, agricultores familiares,
pastores e pescadores, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, (...) serviços
financeiros, mercados (...).

5 Igualdade de gênero
5.a Empreender reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos,
bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade,
serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais.

8 Trabalho decente e crescimento econômico


8.1 Sustentar o crescimento econômico per capita, de acordo com as circunstâncias
nacionais e, em particular, pelo menos um crescimento anual de 7% do produto interno
bruto nos países de menor desenvolvimento relativo.

8.3 Promover políticas orientadas para o desenvolvimento, que apoiem as


atividades produtivas, geração de emprego decente, empreendedorismo, criatividade e
inovação, e incentivar a formalização e o crescimento das micro, pequenas e médias
empresas, inclusive por meio do acesso a serviços financeiros.

8.10 Fortalecer a capacidade das instituições financeiras nacionais para incentivar


a expansão do acesso aos serviços bancários, financeiros e de seguros para todos.

12 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


9 Indústria, inovação e infraestrutura
9.1 Desenvolver infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável e robusta (...)
para apoiar o desenvolvimento econômico e o bem-estar humano, com foco no acesso
equitativo e a preços acessíveis para todos.

9.3 Aumentar o acesso das pequenas indústrias e outras empresas, particularmente em


países em desenvolvimento, aos serviços financeiros, incluindo crédito acessível e
sua integração em cadeias de valor e mercados.

10 Redução das desigualdades


10.c Até 2030, reduzir para menos de 3% os custos de transação de remessas dos
migrantes e eliminar “corredores de remessas” com custos superiores a 5%.

10.5 Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mercados e instituições


financeiras globais, e fortalecer a implementação de tais regulamentações.

10.6 Assegurar uma representação e voz mais forte dos países em desenvolvimento em
tomadas de decisão nas instituições econômicas e financeiras internacionais globais, a
fim de garantir instituições mais eficazes, críveis, responsáveis e legítimas.

12 Consumo e produção responsáveis


12.6 Incentivar as empresas, especialmente as empresas grandes e transnacionais, a
adotar práticas sustentáveis e a integrar informações de sustentabilidade em seu
ciclo de relatórios.

16 Paz, justiça e instituições eficazes


16.a Fortalecer as instituições nacionais relevantes (...) para a construção de
capacidades em todos os níveis, em particular nos países em desenvolvimento, para a
prevenção da violência e o combate ao terrorismo e ao crime.

16.b Promover e fazer cumprir leis e políticas não discriminatórias para o


desenvolvimento sustentável.

16.4 Até 2030, reduzir significativamente os fluxos financeiros e de armas ilegais,


reforçar a recuperação e devolução de recursos roubados, e combater todas as formas
de crime organizado.

16.6 Desenvolver instituições eficazes, responsáveis e transparentes em todos os níveis.

17 Parcerias e meios de implementação


17.13 Aumentar a estabilidade macroeconômica global, inclusive por meio da
coordenação e da coerência de políticas.

2.2 Estrutura e engajamento


O BCB é dirigido por sua Diretoria Colegiada e conta com uma Secretaria Executiva,
uma Procuradoria-Geral, departamentos e unidades administrativas. A instância
máxima de decisão do BCB é a Diretoria Colegiada, composta pelo presidente e
pelos diretores da Instituição. Paralelamente, existem três comitês no nível da
Diretoria Colegiada:

• o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne ordinariamente oito


vezes por ano, para definir a meta da taxa básica de juros da economia;
• o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), que estabelece diretrizes para
manutenção da estabilidade financeira e prevenção do risco sistêmico; e

13 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


• o Comitê de Governança, Riscos e Controles (GRC), que define diretrizes e
estratégias relativas à governança corporativa e à gestão de riscos e controles
internos, e adota medidas para a sistematização de práticas nessas áreas. Entre
os riscos tratados pela Política de Gestão Integrada de Riscos do Banco Central
do Brasil (PGR-BCB) estão os riscos sociais, ambientais e climáticos.

Em 2017, o BCB instituiu sua própria Política de Responsabilidade Socioambiental


(PRSA) e criou a estrutura de governança para sua implementação e monitoramento.
O Comitê de Responsabilidade Socioambiental Organizacional do BCB (CRSO)
foi criado no mesmo ano para coordenar ações internas de responsabilidade
socioambiental, consolidar as boas práticas e favorecer a integração e a troca
de experiências sobre as ações e os projetos de sustentabilidade desenvolvidos
no BCB.

O BCB participa de diversos fóruns e organismos internacionais, com destaque à


sua participação no Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (BCBS), no FSB,
na NGFS e no G-20, que contam com grupos específicos para discutir as questões
climáticas e seus possíveis impactos no sistema financeiro. O BCB também apoia
a TCFD.

Entre os integrantes da Diretoria Colegiada, compete à diretora responsável


pelos Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos representar o
BCB na plenária da NGFS e promover a coordenação dos esforços das áreas do
Banco Central relacionados a finanças verdes e riscos climáticos. Em 2020, o BCB
anunciou um conjunto de ações que compõem a Agenda BC# Sustentabilidade,
compreendendo ações corporativas internas e ações voltadas para o SFN. Essas
ações são destacadas no capítulo 6 deste Relatório.

2.3 Gestão integrada de riscos corporativos


O BCB possui uma estrutura de gestão de riscos corporativos robusta e bem
estabelecida, com modelos baseados nas melhores práticas internacionais. Ao
adotar a abordagem de Enterprise Risk Management (ERM), a gestão de riscos
busca avaliar a exposição do BCB de forma abrangente, considerando não só os
diferentes tipos de riscos incorridos, mas também a interação entre eles.

Como parte da Política de Gestão Integrada de Riscos do BCB, as informações


geradas no âmbito do processo de gestão de riscos corporativos, por meio
de metodologia específica, servem de apoio à tomada de decisão e buscam o
fortalecimento da defesa dos processos da organização, ao identificar, avaliar,
controlar e mitigar a possibilidade de perdas, criando e protegendo valor, conforme
ilustrado na figura a seguir.

14 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Decisão

Estratégico

Defesa
Operacional

A figura mostra que a relevância dessas duas abordagens da gestão de riscos


corporativos, ou seja, de decisão e de defesa, varia dentro da estrutura hierárquica
da organização. No nível estratégico, destaca-se o uso das informações de risco
como subsídio para a tomada de decisão da alta administração, como, por
exemplo, na alocação de recursos e na definição de ações estratégicas.

Uma vez tomada a decisão, a gestão dos riscos no nível operacional possibilita
que a implementação dessa decisão seja realizada de forma controlada, após a
adoção de medidas adicionais de mitigação de risco, quando necessárias. Ao nível
tático da organização, por sua vez, os dados gerados pela gestão de riscos servem
como abordagens complementares entre as abordagens de decisão e de defesa.

Os riscos sociais, ambientais e climáticos fazem parte da Política de Gestão


Integrada de Riscos do BCB e estão sendo introduzidos nos modelos utilizados
para as diferentes tipologias de risco, de forma a permear a cadeia de valor da
Instituição, alcançando todos os seus processos institucionais. Isso permitirá o
gerenciamento desses riscos, bem como a sua consideração no processo decisório.

2.3.1 Riscos estratégicos


Para facilitar o alcance dos objetivos institucionais, é necessária a gestão dos
riscos relativos à estratégia do BCB. Assim, os chamados riscos estratégicos
correspondem à mensuração da incerteza relativa aos potenciais eventos externos
e internos que possam afetar o cumprimento da missão institucional do BCB ou
de seus objetivos estratégicos.

Além da mensuração desses impactos, por meio da análise da magnitude dos


possíveis efeitos para os objetivos estratégicos, outro fator considerado é a
probabilidade de ocorrência de cada risco.

A identificação e a mensuração dos riscos estratégicos são realizadas por intermédio


de um modelo de percepção por consenso,4 seguido de expert judgment,5 cujos

4 Modelo de percepção por consenso: modelo desenvolvido pelo BCB e composto de rodadas para
avaliação de riscos com a participação de especialistas do BCB até que seja alcançado o consenso
a respeito da relevância dos riscos e de suas mensurações.
5 Expert judgement: validação pelos membros do GRC do BCB dos riscos mapeados no modelo
de percepção por consenso, e eventual reavaliação.

15 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


resultados compõem a matriz de riscos estratégicos do BCB. Por fim, a análise
conjunta da criticidade possibilita conhecer os principais riscos estratégicos com
sugestão de maior prioridade de tratamento, ou seja, de definição de respostas
para redução da exposição do BCB aos riscos identificados com impacto.

Encontra-se a seguir a ilustração da matriz de riscos estratégicos de 2021 referente


ao objetivo estratégico “Promover finanças sustentáveis e contribuir para redução
de riscos socioambientais e climáticos na economia e no Sistema Financeiro” e
as principais medidas para mitigação desses riscos.
Probabilidade

Baixo Alto
Impacto

A. Falha na coordenação das ações


Risco de falha na coordenação de ações institucionais em resposta
aos riscos climáticos, sociais e ambientais para a economia
brasileira. Possíveis consequências na materialização desse risco
são incertezas relacionadas ao cumprimento de padrões e acordos
sobre o clima entre os países que, por sua vez, podem impactar
fluxo de investimentos para o Brasil.

Para enfrentamento desse risco, o BCB destacou dentro da Agenda


BC# a dimensão “Sustentabilidade”, para promover transparência
e efetividade nas ações dentro do seu âmbito de atuação, facilitar
a coordenação entre agentes econômicos e mitigar os riscos no
atingimento da missão da Instituição.

16 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


B. Risco legal
Risco de litígios judiciais e extrajudiciais envolvendo questões
sociais, ambientais e climáticas relacionadas: (i) à atuação do BCB
como autoridade monetária ou como regulador e supervisor do
sistema financeiro, inclusive quanto à extensão de seu mandato
legal; ou (ii) à atuação de entidades reguladas, quando tais litígios
apresentarem relevância sistêmica.

Esse risco é mitigado pela atuação proativa no âmbito da Agenda


BC#, dimensão “Sustentabilidade”, e por meio de monitoramento
e ação preventiva em instâncias judiciais e órgãos de controle,
inclusive para fins de obtenção de insumos para o desenvolvimento
permanente da Agenda BC#.

C. Deterioração econômica em função de crise sanitária


Riscos relacionados ao aumento da incidência de doenças com
consequências na economia.

Como resposta a riscos dessa natureza, o BCB ampliou o conjunto


de instrumentos de política e regulação disponíveis para fomentar
o bem-estar econômico da sociedade, sempre que necessário,
tais como medidas para incentivo ao crédito e para manutenção
da estabilidade financeira.

D. Impacto de alterações climáticas no setor agrícola


Riscos de alterações climáticas que possam impactar a produção
agrícola brasileira e, por consequência, produzir um choque
relevante sobre a economia nacional.

O aprimoramento do gerenciamento de riscos sociais, ambientais


e climáticos no SFN e a criação do Bureau de Crédito Rural
Sustentável atuam com vistas à mitigação desse risco e
demonstram o cuidado do BCB em relação ao tema.

E. Riscos de imagem
Riscos de não alcançar a visão do BCB em ser reconhecido pela
promoção da sustentabilidade no sistema financeiro.

A atuação do BCB em suas ações corporativas para o alcance


de sua missão, em particular no que se refere aos riscos e às
oportunidades sociais, ambientais e climáticas, buscando a
transparência com a divulgação da dimensão “Sustentabilidade”
da Agenda BC# e com a publicação do presente Relatório de Riscos
e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas, mitiga o risco
de imagem. Além disso, entre outras ações, a inclusão do tema
social e ambiental no Museu de Economia do BCB e a atuação
do Comitê de Responsabilidade Socioambiental Organizacional
também atuam como veículos de mitigação dos riscos de imagem.

17 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


F. Alterações climáticas
Riscos ligados às alterações climáticas, principalmente àquelas
com potencial de se materializarem por meio de condições
ambientais desfavoráveis à economia, cada vez mais frequentes
e severas e por alterações ambientais de longo prazo, como
escassez de recursos, aumento do nível do mar e modificação do
regime pluvial.

A definição de requisitos de divulgação de informações relativas


aos riscos e às oportunidades decorrentes de questões sociais,
ambientais e climáticas pelas instituições financeiras, e a
homogeneização das informações a serem publicadas atuam na
mitigação desse risco. Além disso, o desenvolvimento de testes
de estresse no SFN incorporando cenários de risco climático
possibilitará ao BCB monitorar e identificar potenciais ameaças
à estabilidade financeira advindas desse risco.

G. Entendimento dos conceitos relativos a sustentabilidade


Riscos ligados a percepção equivocada ou falta de entendimento
completo sobre os novos conceitos que a Agenda BC#, dimensão
“Sustentabilidade”, requer.

A revisão da Política de Responsabilidade Socioambiental do


BCB, a promoção da cultura de sustentabilidade pelo CRSO e o
desenvolvimento do presente Relatório de Riscos e Oportunidades
Sociais, Ambientais e Climáticas são iniciativas para melhorar o
entendimento dos agentes internos e externos ao BCB sobre o
tema sustentabilidade.

H. Perda de oportunidade
Riscos de o BCB não agir de forma urgente e tempestiva, perdendo,
assim, a oportunidade de contribuir na transição para uma
economia mais limpa e sustentável.

Para enfrentamento desse risco, o BCB destacou dentro da Agenda


BC# a dimensão “Sustentabilidade”. O intuito é de promover
transparência e efetividade nas ações do seu âmbito de atuação.

18 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


I. Adesão às práticas internacionais
Risco de ser visto como um banco central não aderente às
melhores práticas internacionais sobre o risco climático e
ambiental. A materialização desse risco pode impactar a confiança
dos investidores no país.

O Brasil tem o compromisso de implementar as recomendações


estabelecidas pelo FSB e pelo BCBS, e participa ativamente dos
grupos de trabalho voltados aos debates sobre possíveis impactos
das mudanças climáticas para o setor financeiro.

Ao subscrever expressão formal de apoio às recomendações da


TCFD e ao aderir à NGFS, o BCB também demonstra publicamente
seu compromisso em relação às melhores práticas internacionais
de transparência em sustentabilidade.

J. Coordenação interna
Riscos ligados aos procedimentos internos do BCB para planejar,
organizar, controlar e entregar os resultados da Agenda BC#,
dimensão “Sustentabilidade”.

A indicação da Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão


de Riscos Corporativos para coordenar os esforços das áreas do
BCB relacionados a finanças verdes e riscos climáticos promove a
adequada governança interna dos processos institucionais. Além
disso, destacam-se a inclusão dos riscos sociais, ambientais e
climáticos na Política de Gestão Integrada de Riscos da Instituição e
a revisão da política interna de Responsabilidade Socioambiental.

K. Atraso em entregas
Riscos de atrasos relevantes na entrega de resultados da agenda
de sustentabilidade do BCB acordados com a sociedade.

A publicidade da Agenda BC#, dimensão “Sustentabilidade”,


assim como o estabelecimento de metas e prazos para cada
ação anunciada demonstram o comprometimento do BCB com
a mitigação de riscos dessa natureza. A publicação do Relatório
de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas tem
entre seus objetivos oferecer informações mais detalhadas sobre
o andamento das ações.

19 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


2.3.2 Riscos operacionais
Dentre os riscos operacionais, destacam-se neste Relatório aqueles relativos a
possíveis impactos ambientais nos processos internos de trabalho:

• Descarte inadequado de cédulas após o processo de saneamento – Como


resposta a esse risco, desde 2017 o material tem servido como insumo
energético na fabricação de cimento, por meio do coprocessamento. A meta
atual é a destinação integral dos resíduos para coprocessamento até 2023.
• Inundações nos prédios do BCB provocadas por condições ambientais extremas,
de modo a afetar a manutenção das operações – O plano de continuidade de
negócios do BCB contempla esse cenário para evitar o comprometimento dos
processos internos críticos.
• Falta de água nas instalações do BCB, de modo a afetar a manutenção das
operações – O plano de continuidade de negócios do BCB também contempla
esse cenário para evitar o comprometimento dos processos internos críticos.

20 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


3 Planeta

Este capítulo busca aderência às recomendações da TCFD para divulgação de


informações financeiras sobre riscos climáticos. A construção de um consenso sobre
a melhor forma de medir os riscos financeiros associados às mudanças climáticas
é um processo em evolução, e a divulgação dessas informações contribui com o
esforço de alcançar um entendimento comum quanto à forma de mensuração.

Seguindo o alinhamento à TCFD, o capítulo aborda também as ações recentes do


BCB visando à incorporação na regulação prudencial e no conjunto de práticas de
supervisão do SFN do tratamento dos riscos social, ambiental e climático.

São apresentadas, ainda neste capítulo, iniciativas da administração do meio


circulante que tratam de destino de resíduos, bem como ações de redução de
consumo de água, energia e materiais.

3.1 Mudanças climáticas e impactos financeiros


No que se refere às iniciativas do BCB relacionadas à gestão de riscos associados
às mudanças climáticas e seus impactos econômicos e financeiros, as informações
apresentadas nesta seção estão divididas em quatro pilares: Governança,
Estratégia, Gestão de Riscos, e Métricas.

Os pilares recomendados pela TCFD,6 apresentados na figura a seguir, inspiraram


a organização desta seção, buscando enfatizar o processo de gestão de carteiras
do BCB, com destaque para as reservas internacionais, e as ações do BCB para
aprimorar o tratamento dos riscos e das oportunidades sociais, ambientais e
climáticas na regulação prudencial e nas práticas de supervisão do SFN.

6 Ver documento: Recomendations of the Task Force on Climate-related Financial Disclosures,


publicado em junho de 2017.

21 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Governança

Estratégia

Riscos

Métricas

Fonte: Adaptado de TCFD

3.1.1 Governança sobre riscos de mudanças climáticas


Reservas internacionais
O Balanço Patrimonial do BCB é apresentado de forma esquemática na figura a
seguir. A carteira de títulos públicos federais (ativo em moeda local) é composta
apenas por títulos emitidos pelo Tesouro Nacional do Brasil e não será analisada
nesta edição do relatório. No balanço, observa-se que as reservas internacionais
representam parte significativa dos ativos do BCB. Essas reservas são investidas em
diversos ativos nos principais mercados financeiros internacionais, e as métricas de
riscos climáticos apresentadas a seguir se referem a esses investimentos.

(R$ bilhões)
A�vo Passivo e PL

Passivo em moedas estrangeiras


166
A�vo em moedas estrangeiras
2.112 Passivo em moeda local
3.195
Meio circulante
343
A�vo em moeda local Patrimônio Líquido (PL)
2.041 322
Contas de resultado
127

Total do A�vo Total do Passivo e PL


4.153 4.153

Compete à Diretoria Colegiada, reunida na forma do Comitê de Governança, Riscos e


Controles do Banco Central do Brasil (GRC), estabelecer os objetivos estratégicos
e o perfil de risco e de retorno das reservas internacionais do país.

No que diz respeito ao gerenciamento dos investimentos, a estrutura de governança


das reservas está amparada na Política de Gestão Integrada de Riscos do BCB. Os
investimentos são realizados de acordo com diretrizes estabelecidas pelo GRC,
que define o perfil de risco e de retorno esperado por meio de uma carteira de
referência detalhada e replicável, limites operacionais para os desvios em relação à

22 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


carteira de referência e critérios de mensuração de resultados. Entre os critérios de
alocação estratégica, parâmetros relacionados aos riscos ambientais e climáticos
estão sendo introduzidos gradativamente no processo decisório.

Regulação e supervisão do SFN


O BCB regula e supervisiona o SFN. Eventos climáticos são acompanhados de
alterações nas principais variáveis econômicas no horizonte relevante para a
política monetária, além de trazerem riscos significativos para o SFN.

Choques climáticos, tais como incêndios, secas, enchentes, temperaturas


extremas, põem em risco o SFN e podem afetar os preços relativos na economia,
podendo alterar a demanda por moeda, valores de bens físicos e de colaterais,
além de trazerem custos financeiros altos para a sociedade como um todo. No
BCB, o Comef e o Copom avaliam esses riscos em seu processo decisório.

Os riscos associados aos eventos climáticos, considerados relevantes pelo BCB,


passaram a integrar o arcabouço normativo e as práticas de supervisão em ações
coordenadas pelas áreas de regulação e supervisão.

3.1.2 Estratégia
Reservas Internacionais
Os investimentos das reservas internacionais possuem perfil conservador e
buscam realizar o hedge cambial da dívida externa bruta do país, com o objetivo
de reduzir a exposição do país a oscilações cambiais, e uma alocação com perfil
anticíclico. A alocação é feita com o auxílio de técnicas de otimização risco-
-retorno de carteira, observados os critérios de segurança, liquidez e rentabilidade,
priorizados nessa ordem.

Ainda não há metodologias e métricas consolidadas na literatura e no mercado


internacional como melhores práticas de avaliação de riscos climáticos para
a construção de carteiras de investimentos. Por outro lado, está em curso um
esforço para que investidores e instituições divulguem e acompanhem os riscos
climáticos de suas posições financeiras com base em métricas existentes de modo
a contribuir para a construção de um consenso com relação à melhor forma de
mensuração. Os exercícios de otimização para a alocação estratégica das reservas
internacionais levam em consideração diversas classes de ativos, incluindo aquelas
associadas a títulos verdes ou green bonds.

Regulação e supervisão do SFN


O BCB, em consonância com outros bancos centrais e com recomendações de
organismos internacionais para a adoção das melhores práticas, elaborou uma
série de medidas e normas voltadas às questões socioambientais ao longo dos
últimos anos. Dada a evolução do tema, que aponta para mudanças estruturais
na economia, o BCB tem se preparado para responder aos desafios, incorporando
de forma mais precisa na regulação e nas práticas de supervisão os riscos e as
oportunidades relacionadas aos aspectos sociais, ambientais e climáticos.

23 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


A dimensão Sustentabilidade da Agenda BC# inventariou as ações adotadas até
então e lançou as bases das novas medidas para um sistema financeiro sustentável.

As ações normativas com enfoque prudencial dedicaram-se ao aprimoramento


das regras de gerenciamento dos riscos social, ambiental e climático aplicáveis ao
SFN, e à definição de requisitos de divulgação de informações relativas aos riscos
e às oportunidades decorrentes de questões sociais, ambientais e climáticas que
impactam as instituições financeiras (IFs). Outra ação normativa, com enfoque
na conduta das IFs, definiu requisitos a serem observados pelas instituições no
estabelecimento de sua Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática
(PRSAC).

Antes de serem publicadas, as ações normativas foram colocadas em consultas


públicas, o que aproximou a sociedade civil do processo de regulação, aumentando
a transparência nas interações e a abrangência das participações, além de contribuir
para o equilíbrio das expectativas entre as partes interessadas. O aperfeiçoamento
da regulação prudencial foi ancorado em três objetivos fundamentais:

1. manutenção da vanguarda brasileira no estabelecimento de regras sobre o


tema, por meio da incorporação das discussões internacionais mais recentes
sobre o assunto;
2. inclusão explícita de aspectos relativos às mudanças climáticas no arcabouço
regulatório brasileiro, tanto sob a ótica de gerenciamento de riscos quanto de
política de responsabilidade; e
3. aprimoramento de definições e comandos aplicáveis.

A ação normativa sobre a divulgação de informações tem o objetivo específico de


promover a transparência e a disciplina de mercado. Embora tenha utilizado como
referência as recomendações da TCFD, limitadas às questões climáticas, a norma
trouxe um escopo ampliado para também abarcar a divulgação de informações
sobre o risco social e o risco ambiental, alinhados à concepção ASG (Ambiental,
Social e Governança).

O BCB trabalha na evolução do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro


(Sicor), que passará a constituir um Bureau de Crédito Rural Sustentável, também
orientado pelos princípios do Open Banking, o que permitirá aos beneficiários
do crédito rural disponibilizarem informações cadastradas no novo sistema a
qualquer interessado.

Além das ações normativas, a área de supervisão está desenvolvendo um padrão


de coleta de informações junto às IFs, para auxiliar no monitoramento dos riscos
social, ambiental e climático.

3.1.3 Gestão de Riscos


Reservas Internacionais
A análise dos riscos associados ao processo de investimento é fundamental para
o entendimento dos resultados financeiros e para a adequação da carteira de
referência aos objetivos de investimento das reservas.

24 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Os diferentes riscos assumidos na aplicação das reservas internacionais são
monitorados diariamente pelo BCB. Além dos riscos financeiros, como riscos de
mercado, crédito e liquidez, também são acompanhados os registros de eventuais
incidentes operacionais bem como as métricas associadas às emissões de gases de
efeito estufa que são construídas com base em emissões equivalentes de CO2 (CO2e).

O acompanhamento das métricas de CO2e visa à avaliação do impacto de


diferentes estratégias de investimento no perfil de carbono da carteira. A carteira
das reservas internacionais é investida majoritariamente em títulos soberanos e,
embora exista exposição ao mercado acionário norte-americano, não há aquisição
de ações de empresas. Assim, o acompanhamento de índices e métricas associados
à carteira é predominantemente influenciado por indicadores associados a países,
e não a empresas.

Regulação e supervisão do SFN


O BCB tem monitorado e avaliado como relevante a percepção positiva dos
investidores tanto na direção de padrões econômicos e sociais sustentáveis quanto
no enfrentamento dos riscos associados às mudanças climáticas. O mesmo vale
para as discussões sobre o tema que vêm sendo construídas entre outros bancos
centrais e reguladores financeiros. Esse acompanhamento é um trabalho contínuo
e tem como objetivo manter atualizadas a regulação e a supervisão do SFN, haja
vista as ações normativas publicadas em setembro de 2021.

No tocante aos riscos social, ambiental e climático, destaca-se também o trabalho


exploratório para verificação do estágio atual de identificação e gestão desses
riscos pelas Entidades Supervisionadas dos segmentos S1 e S2.7 Esse trabalho
consistiu na coleta, junto às instituições financeiras, de informações sobre a sua
forma de gestão dos riscos sociais, ambientais e climáticos afetos às operações
de crédito. Adicionalmente, aprimorou-se a Matriz de Risco Socioambiental,8
pelo desenvolvimento de processo de qualificação do risco associado ao setor de
atividade do agente que enseja a exposição, por meio da utilização de informações
públicas relevantes.

Os indicadores para o monitoramento dos riscos social, ambiental e climático


associados ao SFN estão em fase de construção. A previsão é que comecem a ser
utilizados pelo BCB em 2023.

3.1.4 Métricas
As métricas podem considerar dois aspectos. O primeiro seria relacionado às
exposições do BCB aos riscos climáticos (inward). O segundo envolveria ações
do BCB que impactam os riscos climáticos (outward).

7 A Resolução 4.553, de 30 de janeiro de 2017, estabelece a segmentação do conjunto das


instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB para fins de aplicação
proporcional da regulação prudencial. As instituições S1 e S2 são as de maior porte.
8 A Matriz de Risco Socioambiental do BCB consiste em duas dimensões: a adequação da gestão
do risco socioambiental (RSA) pelas IFs e a relevância de suas exposições de crédito ao RSA,
considerando os setores de atividade econômica dos clientes das instituições. A combinação de
notas para essas duas dimensões resulta na nota de RSA residual de cada instituição, que é utilizada
para a priorização de ações de supervisão.

25 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Reservas Internacionais
A literatura acadêmica ainda não oferece métrica única de avaliação dos
investimentos das reservas internacionais sobre o âmbito da sustentabilidade.
Assim, ante a ausência de um consenso e visando aumentar a transparência e
contribuir para a discussão sobre o tema, o presente relatório recorre a medições
alternativas de forma exploratória.

O Gráfico 1 mostra a evolução da alocação por países no âmbito do investimento


das reservas internacionais ao final de cada ano. Verifica-se, em todo o período,
o dólar norte-americano como moeda de maior participação nos investimentos
das reservas internacionais, primordialmente devido à estratégia de hedge do
passivo externo, em que o dólar norte-americano é a moeda dominante na dívida
externa bruta do Brasil.

Gráfico 1 – Distribuição por país das reservas internacionais brasileiras


Distribuição por países das Reservas Internacionais

100%

50%

0%
2015 2016 2017 2018 2019 2020
EUA Europa China Japão Reino Unido Austrália Canadá Outros

desconsiderados os greenbonds, supranacionais e FOREX e normalizado ex-ouro

Fonte: Banco Central do Brasil

Na gestão da carteira das reservas internacionais, o BCB acompanha métricas que


são utilizadas internacionalmente, como a média ponderada da intensidade de
carbono (weighted average carbono intensity – Waci). A combinação da alocação
por países com dados de emissão de CO2e normalizados pelo PIB leva à composição
da métrica que é exibida no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Média ponderada da intensidade de carbono das reservas internacionais

259,8
260 252,6
247,7
250 244,5
237,8
240
231,1 230,6
230 224,8
219,4
220 213,1
210 202,2 200,9
200
190
180
2015 2016 2017 2018 2019 2020
WACI (t CO2e/$MM USD PIB) Reservas internacionais Cofer

Fonte: BCB, com dados da International Energy Agency (IEA) e do Fundo Monetário Internacional (FMI)

26 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


O Gráfico 2 apresenta também como ilustração o Waci de uma carteira teórica de
bancos centrais composta pela distribuição de moedas das reservas internacionais,
conforme apresentado no sítio do FMI (Currency Composition of Official Foreign
Exchange Reserve – Cofer). A queda consistente entre 2015 e 2020 no valor do
Waci das carteiras analisadas reflete basicamente a queda de emissões de carbono
dos países normalizada pelo PIB. Percebe-se, ainda, maior participação de países
com menor emissão de carbono relativa ao PIB na carteira teórica Cofer.

Outra métrica para avaliação refere-se às emissões de CO2e per capita, que
permite acompanhar a intensidade das emissões em relação à população do país.
A média mundial atual de emissão per capita é de 6,5 t CO2e por pessoa e, para
o cumprimento da meta do Acordo de Paris até 2050, seria necessário alcançar
a média de cerca de 2 t CO2e por pessoa até 2030.

Semelhante à métrica Waci, o Gráfico 3 apresenta a média ponderada dada pela


combinação da alocação nos países com os dados de emissão de CO2e agora
normalizados pela população, ou seja, emissões per capita. Os dados de emissões
por países, em 2020, são estimados e indicam queda das emissões dos países
padronizadas pela população em relação a 2020.

Média
Gráfico 3 – Ponderada da Emissão
Média ponderada de CO
da emissão per per
de2 CO2 Capita
capita

14,0 14,1
13,9
14
13,5 13,4

12,9
13 12,6
12,2 12,3
11,8 11,8
12

11 10,6

10
2015 2016 2017 2018 2019 2020
(t CO2e/ População) Reservas Internacionais COFER

Fonte: BCB, com dados da IEA, do FMI e do Banco Mundial

Uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa é a geração de


energia. A partir de dados da Agência Internacional de Energia (International Energy
Agency – IEA) sobre a composição da matriz energética dos países, é possível compor
o perfil de geração de energia associado à alocação das reservas internacionais
nas diferentes moedas. Essa composição permite acompanhar de que forma as
reservas internacionais são distribuídas entre as diversas fontes de geração de
energia produzidas pelos países. A IEA discute dois cenários de evolução do perfil
de geração de energia e sua aderência ao compromisso estabelecido pelo Acordo
de Paris. Esse compromisso é de que, neste século, o aumento da temperatura
global não ultrapasse 2 °C em relação às temperaturas do período pré-industrial.

A IEA não procura realizar projeções do que vai acontecer, mas se propõe a explorar
diferentes cenários possíveis: um cenário em que são refletidas as intenções
e metas políticas anunciadas até o momento e outro cenário com base no
cumprimento integral das metas de energia sustentável. Trata-se, respectivamente,
do Cenário de Políticas Declaradas (Stated Policies Scenario, STEPS) e do Cenário de
Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Scenario – SDS).

27 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


O Cenário de Políticas Declaradas (STEPS) reflete não apenas as políticas existentes,
mas também as intenções e os planos já anunciados, e seus impactos no clima.

O Cenário de Desenvolvimento Sustentável (SDS) propõe uma evolução do perfil das


políticas de forma aderente aos objetivos do Acordo de Paris de manter o aumento
da temperatura média global abaixo de 2 °C, comparativamente às temperaturas
do período pré-industrial, e buscar esforços para limitar o aumento da temperatura
a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Para atingimento desse objetivo, é exigido
um nível de emissões líquidas zero (balanço de emissões produzidas com remoções
por captura e sequestro de carbono) na segunda metade deste século.

O Gráfico 4 ilustra o perfil de fontes de geração de energia ponderado das aplicações


das reservas internacionais nos países que compõem seus investimentos. O perfil
é afetado pelas mudanças de alocação dos ativos que compõem as reservas e
também pelo perfil da matriz energética dos países. O gráfico apresenta também
os perfis para os cenários (STEPS e SDS).

Gráfico 4 – Perfil de geração de energia


Perfil de geração de energia
100%

80%

60%

40%

20%

0%
2015 2020 2025 2030 2040 2025 2030 2040
Evolução do perfil IEA STEPS IEA SDS
das reservas Carvão Petróleo Gás natural Nuclear Hidro Renovável

Fonte: BCB, com dados da IEA – International Energy Agency

O Gráfico 5 apresenta a alocação das reservas em títulos verdes ao final de cada


ano desde 2015. O investimento em green bonds aconteceu em títulos de renda
fixa emitidos por agências governamentais, supranacionais e governos centrais
no âmbito da gestão ativa dos investimentos das reservas internacionais. O valor
total máximo alcançou US$195 milhões em março de 2019.

Gráfico 5 – Títulos verdes nas reservas internacionais


Exposição em green bonds
200

160

120
Milhões USD

80

40

-
dez-15 dez-16 dez-17 dez-18 dez-19 dez-20

Supranacionais Agências governamentais Soberanos

Fonte: BCB, dez/2020

28 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


3.2 Água, energia e materiais
O CRSO é responsável por coordenar ações de responsabilidade socioambiental,
consolidar as boas práticas e favorecer a integração e a troca de experiências sobre
as ações e os projetos de sustentabilidade desenvolvidos no BCB.

Aprovado pelo CRSO, o BCB publicou o Plano de Gestão de Logística Sustentável


(PGLS) 2019-2020, com o objetivo de implantar práticas de sustentabilidade em suas
instalações e processos com potencial de gerar resíduos. Cabe mencionar que, desde
2018, a Instituição aderiu à Agenda Ambiental para a Administração Pública (A3P).

Tendo em vista os princípios de sustentabilidade aplicados às suas instalações, a


Instituição está envolvida em diversas iniciativas, que vão desde a compostagem
até a utilização dos resíduos de cédulas como combustível de fornos de cimento
ou insumos na fabricação de revestimento, itens de mobiliário e briquetes, que
são tijolinhos de cédulas fragmentadas distribuídos como brinde. Cabe também
destacar a formalização de projeto para avaliação do ciclo de vida do numerário.

Nos últimos dez anos, o BCB retirou de circulação, por meio de processo de seleção
e fragmentação, mais de 15 mil toneladas de cédulas desgastadas e inadequadas
para o uso. Essas atividades foram realizadas nas nove representações regionais
do BCB no país.

Além disso, integrando princípios de sustentabilidade com preocupações


sociais, o BCB também mantém política de descarte de materiais recicláveis com
cooperativas de catadores. Computadores e outros itens eletrônicos inservíveis
são doados de acordo com a Política de Desfazimento de Bens Eletrônicos, sob
responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Em 2020, o projeto “Operação de Edifício Sustentável Certificado LEED Silver”, que


trata das ações ambientais realizadas no prédio da regional do BCB em Salvador,
venceu o 8º Prêmio Melhores Práticas de Sustentabilidade (Prêmio A3P), na
categoria “Inovação na Gestão Pública”. O prêmio é promovido bienalmente
pelo Programa Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), vinculado ao
Ministério do Meio Ambiente.

O objetivo do Prêmio A3P é reconhecer o mérito das iniciativas de órgãos e


instituições do setor público na promoção e na prática da A3P, entre elas a
contribuição para a sustentabilidade; a implementação de iniciativas inovadoras
de gestão socioambiental que contribuam para a melhoria do ambiente
organizacional e do meio ambiente; o compartilhamento de informações que
sirvam de inspiração ou referência para iniciativas de outras instituições; e o
encorajamento e recompensação das instituições que possuem compromisso
com a implementação da A3P, conforme informações constantes no site da A3P.
O BCB foi o vencedor entre 29 projetos concorrendo na mesma categoria, sendo
que 137 projetos concorreram no total.

No período de 2010 a 2020, houve a redução de aproximadamente 75% no


consumo de papel A4, em consequência do uso mais racional das impressoras e
da obrigatoriedade da utilização de processos eletrônicos. O BCB adotou, ainda,

29 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


medidas para aumento da eficiência energética e redução do consumo de água,
por meio da execução de obras de revitalizações prediais.

Dentre as ações realizadas em 2020 para incentivar a redução do consumo de


recursos naturais, destacam-se:

• efetivação de licitação para compra de lixeiras de coleta seletiva, a fim de


substituir as lixeiras individualizadas por compartilhadas, em todos os prédios
do BCB, em 2021;
• realização da primeira fase da campanha de conscientização nacional sobre
coleta seletiva de resíduos, em fase de implementação em todos os prédios
do BCB;
• destinação, em todo o país, de resíduos recicláveis descartados às associações
e cooperativas de catadores de materiais recicláveis, em atendimento ao
Decreto 5.940, de 25 de outubro de 2006;
• destinação, nas praças de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, dos resíduos
gerados por meio da destruição de Listagens de Eliminação de Documentos
(LED) do BCB para cooperativas de catadores de materiais recicláveis;
• realização de reuniões com membros do SFN, para apresentar as práticas de
sustentabilidade que vêm sendo desenvolvidas dentro do BCB, servindo como
benchmarking para eles;
• adaptação dos processos de autorização para eliminação da recepção e
remessa de documentos em papel, sendo que foi viabilizada a adoção do
Protocolo Digital, eliminando a recepção de documentos em papel na instrução
dos pleitos de autorização realizados por instituições ao BCB. Anualmente, nos
processos de autorização, são protocolados em torno de 7.000 documentos,
e são enviadas comunicações de decisões para aproximadamente 3.500
processos. Assim sendo, a eliminação do trânsito de documentos em papel
trouxe ganhos tanto ao BCB quanto aos pleiteantes, ao tornar o processo
mais ágil, mais seguro e menos oneroso. Soma-se a isso o benefício em
sustentabilidade trazido pela expressiva redução do consumo de papel;
• participação de edições do evento “Café com PLS”, organizado pela Advocacia-Geral
da União (AGU), com vistas à troca de experiências com outros órgãos e entidades
públicas sobre as melhores práticas de sustentabilidade que vêm sendo adotadas.

30 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


4 Pessoas

Este capítulo é dedicado a oportunidades identificadas pelo BCB para promover


o respeito e a proteção de direitos humanos, incluindo direitos e garantias
fundamentais. A promoção da cidadania e da educação financeira visa contribuir
no atingimento da missão do BCB, já que fomenta, entre outros aspectos, o
consumo consciente, a formação de poupança e a redução da inadimplência.
Além disso, temas como diversidade, dignidade, igualdade, saúde e bem-estar
são tratados com atenção pelo BCB, que presta serviços à sociedade brasileira,
valorizando também seus servidores e prestadores de serviços terceirizados, que
se configuram como o principal ativo da Instituição.

4.1 Cidadania financeira


O BCB busca promover a cidadania financeira, ou seja, o exercício de direitos e
deveres que permite ao cidadão a possibilidade de gerenciar adequadamente
seus recursos. O desenvolvimento da cidadania financeira se dá por meio de
um contexto de inclusão e educação financeira, de proteção ao consumidor de
serviços financeiros e de participação no diálogo sobre o SFN.

Uma das maneiras de o BCB promover a cidadania financeira é pela participação


na Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). Em 2020, foram criados
o Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF) e a nova Enef, por meio do
Decreto 10.393, de 9 de junho de 2020. A presidência desse fórum funcionará
em sistema de rodízio a cada período de 24 meses, sendo que a primeira
presidência do novo colegiado está sendo exercida pelo BCB desde julho de 2020.
A redefinição da Enef e a instituição do FBEF asseguram a aderência do Brasil a
boas práticas internacionais, contribuindo para fortalecer a estabilidade financeira,
o desenvolvimento inclusivo e o bem-estar de indivíduos e famílias.

Em 2020, foram realizadas quarenta palestras de educação financeira, que


alcançaram um público de 10.339 pessoas, sendo 7.406 participantes no âmbito
da “7ª Semana Nacional de Educação Financeira – Semana Enef”. Foram realizadas
presencialmente no início de 2020, previamente à pandemia da Covid-19, cinco
oficinas, com público de aproximadamente quatrocentas pessoas.

Em 2020, o número de visitantes ao Museu de Valores foi de 1.614 e de 354 à


Galeria de Arte. O Museu e a Galeria estão fechados desde março de 2020, devido
às restrições decorrentes da crise sanitária da Covid-19.

No ambiente virtual, foram disponibilizados os cursos de Gestão de Finanças Pessoais


(GFP) e Formação da Série “Eu e Meu Dinheiro”, alcançando 16.753 concluintes.

31 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Além disso, houve 101.068 visualizações dos vídeos do “É da Sua Conta” e da série
“Eu e Meu Dinheiro”, e 229.191 pessoas acessaram a página de Cidadania Financeira,
no sítio do BCB, e suas subpáginas com conteúdo de educação financeira. Nessa
mesma linha, o BCB lançou também um hotsite com orientações de educação
financeira para a população durante esse período de crise.

O cidadão tem acesso a serviços O cidadão tem oportunidade de


financeiros que se adequam desenvolver capacidades e autoconfiança
às suas necessidades para gerenciar bem seus
recursos financeiros

Inclusão Educação
Financeira Financeira

cidadania
financeira
é o exercício de direitos e
deveres que permite ao
cidadão gerenciar bem seus
recursos financeiros
Proteção do
Consumidor Par�cipação

O cidadão conta com


ambiente de negócios que gera O cidadão tem canais
confiança, com informações simples e para par�cipar do debate sobre
mecanismos de solução de conflitos o funcionamento do sistema financeiro

Veja mais sobre as ações do BCB, cursos on-line, cartilhas, relatórios


e estudos em nosso sítio: bcb.gov.br/cidadaniafinanceira

4.2 Educação
Programa Aprender Valor capacita gestores e professores
O Aprender Valor contempla projetos escolares com educação financeira
integrados aos conteúdos de matemática, português, geografia e história, além
de trabalhar aspectos ligados às habilidades socioemocionais dos estudantes. O
programa possui o potencial de alcançar mais de 21 milhões de estudantes em
todo o país. O público-alvo do programa inclui também professores, diretores e
técnicos das secretarias de educação. São eles que são capacitados para efetivar
a viabilização do programa nas escolas.

32 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Cerca de dois mil profissionais se inscreveram nos eventos de lançamento dos
cursos de formação do programa em sua fase-piloto, que conta com a participação
de seis UFs (DF, CE, MG, MS, PA e PR).

O programa segue as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e


é executado com recursos do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), do
Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ). A iniciativa é uma ação estratégica
do BCB e faz parte da dimensão Educação da Agenda BC#.

Para desenvolver a ação, o BCB também conta com o apoio do Centro de Políticas
Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/
UFJF), responsável, entre outros aspectos, pelo desenvolvimento da plataforma
na qual estão os conteúdos a serem ministrados.

No âmbito interno, em 2020, para ampliação da capacitação formal no tema


sustentabilidade, houve participação de vários servidores do BCB no curso Climate
Risks and Sustainable Finance, oferecido pela London University, desenhado
especialmente para o BCB e custeado pela Sociedade Alemã para a Cooperação
Internacional (GIZ). O curso apresentou aos servidores as implicações das
mudanças climáticas para o sistema financeiro e para a economia, de forma
geral, e como os principais supervisores e reguladores do mundo estão atuando
de forma a facilitar a transição para uma economia global de baixo carbono.
Vale destacar que o BCB deu sequência a seu engajamento no projeto FiBraS,
que conta com o apoio técnico e financeiro do governo da República Federal da
Alemanha e é operacionalizado pela GIZ e por Unidades do BCB. O projeto tem
como objetivo “melhorar as condições estruturantes para o desenvolvimento
do mercado de financiamento verde no Brasil”, sobretudo para a fiscalização
da implementação das normas relativas à gestão do risco socioambiental pelas
instituições financeiras nas concessões de crédito. Com o apoio do projeto, o
BCB promoveu aprimoramentos regulatórios, capacitou servidores em temas
relacionados a finanças verdes e implementou ferramentas na área de supervisão.
Além disso, o projeto viabiliza ampla troca de experiências e conhecimentos na
seara sustentável.

4.3 Dignidade e igualdade de tratamento


O BCB orgulha-se de buscar a igualdade de oportunidades e de tratamento dentro
da Instituição. A composição do quadro de pessoal tem proporções diferentes
entre homens e mulheres e entre as diversas origens étnicas daquelas verificadas
na população brasileira. Uma vez que o ingresso no BCB se dá por concurso público,
está fora do controle direto da Instituição equilibrar esse quadro. Contudo, dentro
da composição do quadro de servidores ingressados por concurso público, há
evidências de equidade de gênero e de raça no acesso a funções comissionadas. No
quadro funcional atual do BCB, 18% dos servidores do BCB se declaram de origens
étnicas diferentes de “branca”, e esses servidores ocupam o mesmo percentual,
18%, das funções comissionadas. Entre os ocupantes de funções comissionadas,
2,2% são pessoas com deficiência, ante a proporção de 2,6% do quadro total
de servidores. Por fim, 23% dos servidores do BCB são mulheres e ocupam 19%

33 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


das funções comissionadas. Todavia, com a contínua promoção da igualdade de
oportunidade, espera-se que haja maior equidade de gênero, assim como a que
se verifica para origens étnicas e pessoas com deficiência.

Na última pesquisa de clima organizacional, o item “Não sou discriminado em razão


de idade, gênero, cor, credo ou orientação sexual” obteve média geral de 87,7, em
uma escala de zero a cem. A média das respostas das mulheres (81,5), ainda que
mais baixa que a dos homens (89,7), é considerada adequada no modelo adotado.

A média do grupo que se declara “negro” foi de 86,8, enquanto dos que se declaram
“pardos”, “amarelos” e “brancos” foi, respectivamente, de 89,3, 87,8 e 88,4.
Com os objetivos de erradicar qualquer tratamento desigual, de garantir que o
BCB seja uma organização acolhedora e inclusiva a todos os seus colaboradores,
e de utilizar a diversidade como fonte propulsora de resultados para a instituição,
busca-se promover conscientização, como no evento em celebração ao Dia das
Mulheres em que se discutiu a “Participação da Mulher na Gestão Pública”. Além
disso, está previsto no Plano Diretor de Gestão de Pessoas o desenvolvimento
do Programa de Promoção de Diversidade e Inclusão, com ações estruturadas de
promoção à igualdade.

34 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


5 Prosperidade

A prosperidade está intimamente ligada ao tema sustentabilidade, pois reflete


a capacidade dos seres humanos de terem uma vida próspera, marcada pelo
contínuo desenvolvimento e progresso à luz da evolução social, econômica e
tecnológica, tudo isso em harmonia com o meio ambiente, de modo a gerar
desenvolvimento e, ao mesmo tempo, preservar os recursos para as futuras
gerações. O BCB entende que a inclusão financeira, o desenvolvimento de
inovações e a ampliação da competitividade representam oportunidades que
contribuem para o atingimento da sua missão, uma vez que facilitam o acesso aos
mercados financeiros, favorecendo a solidez do SFN e o fomento do bem-estar
econômico da sociedade. Além disso, o fortalecimento do relacionamento com
a sociedade amplia a credibilidade da Instituição.

5.1 Inclusão
Na dimensão Inclusão da Agenda BC#, as ações e iniciativas visam a facilitar o
acesso de todos ao mercado financeiro, pequenos e grandes usuários, investidores
e tomadores de crédito, brasileiros e estrangeiros. Tendo como premissa a inclusão
no sistema financeiro, são desenvolvidos os temas microcrédito, cooperativismo,
conversibilidade e mercado de capitais.

O processo para orientação dos pequenos empreendedores na obtenção de


microcrédito produtivo orientado passou a ser feito de forma 100% digital.
Anteriormente, exigia-se que o primeiro contato entre instituição financeira e
microempresário fosse presencial. Agora, todas as etapas da concessão de crédito
podem ser feitas a distância. Essa medida agiliza o processo e reduz os custos
de deslocamento dos agentes de crédito, significativos em relação ao valor das
operações de microcrédito.

A faixa de renda dos microempresários potencialmente contemplados também


aumentou. O limite de receita bruta anual para ser aceito no programa de
microcrédito passa de R$200 mil para R$360 mil. Desde o Programa Nacional de
Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), o saldo da carteira de crédito com
recursos de microcrédito destinado a microempreendedores subiu de R$4,3
bilhões em março de 2018 para 8,6 bilhões em novembro de 2020, como mostra
a figura a seguir.

35 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo Orientado (PNMPO)

R$200 R$360 R$8,6 bilhões


novembro de 2020
mil mil
limite de receita bruta anual
para ser aceito no programa de microcrédito R$1,6 bilhão
novembro de 2020

R$4,3 bilhões
março de 2018

R$795 milhões
março de 2018
Saldo da carteira Concessão de crédito
de crédito

O cooperativismo, por sua vez, oferece importante contribuição para a inclusão


financeira da população e tem desempenhado um papel cada vez mais importante
na oferta de crédito, notadamente aos microempreendedores e às micro e
pequenas empresas, em operações como empréstimos e capital de giro. Além
disso, tem participação relevante no crédito rural, em especial a pessoas físicas.
As cooperativas ofertam produtos e serviços financeiros a um número crescente
de cidadãos brasileiros, mesmo em localidades mais remotas, incluindo pessoas
com menor disponibilidade de atendimento pelo sistema bancário tradicional, o
que favorece a inclusão, a cidadania e a educação financeiras. Por exemplo, em
dezembro de 2020, em 231 municípios (8,3% dos municípios onde as cooperativas
atuavam) essas instituições eram a única alternativa presencial para obtenção
de serviços financeiros. A própria participação dos associados na gestão das
cooperativas, especialmente, mas não só, por meio das assembleias, contribui
para a formação de uma consciência financeira.

5.2 Inovação e competitividade


O Sandbox Regulatório
O Sandbox Regulatório é um ambiente em que entidades são autorizadas pelo BCB
para testar, por período determinado, projeto inovador na área financeira ou de
pagamento, observando um conjunto específico de disposições regulamentares
que amparam a realização controlada e delimitada de suas atividades.

Em 17 de dezembro de 2020, foi publicada a Resolução BCB 50, de 16 de dezembro


de 2020,9 que estabelece os requisitos e procedimentos para o serviço e define as
datas de inscrição para o Ciclo 1 da iniciativa, com duração de um ano, podendo
ser prorrogado por igual período, sendo limitado a dez participantes, podendo
este número ser ampliado em até cinquenta por cento.

O BCB elencou como prioridades temas como soluções para o mercado de câmbio,
fomento ao mercado de capitais por intermédio de mecanismos de sinergia
com o mercado de crédito, fomento ao crédito para microempreendedores
e empresas de pequeno porte, soluções para o Open Banking, soluções para

9 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-bcb-n-50-de-16-de-dezembro-de-2020-
294621288.

36 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


o Pix, soluções para o mercado de crédito rural, soluções para o aumento da
competição no SFN e no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), soluções
financeiras e de pagamento com potenciais efeitos de estímulo à inclusão
financeira e fomento a finanças sustentáveis.

O produto ou serviço objeto desses temas terá de se adequar às regras de


prevenção à lavagem de dinheiro e de combate ao financiamento do terrorismo,
ao cumprimento às normas do BCB sobre o atendimento de reclamações
realizadas por clientes e usuários e à realização de transações com integridade,
confiabilidade, segurança e sigilo.

Iniciador de transação de pagamentos


O BCB criou uma nova instituição de pagamento, chamada iniciador de transação
de pagamentos, que atuará no Open Banking e no Pix. Hoje em dia, toda vez
que o cliente vai realizar uma compra ou uma transferência, ele precisa de
um instrumento de pagamento na hora de pagar, sendo o cartão um dos mais
utilizados. A partir de agora, a compra poderá ser iniciada por essa nova instituição,
que não gerencia nem movimenta os recursos da conta.

O iniciador de pagamentos é responsável por disparar o comando do cliente


pagador, mesmo sem deter a conta dele, e fazer o recurso cair diretamente na
conta do recebedor. Cabe ao iniciador tão somente esse passo inicial, ou seja, ele
não pode nem precisa ter acesso aos fundos movimentados pelo cliente.

O objetivo da criação dessa nova instituição é dar mais opções ao consumidor,


sem extinguir nenhum meio ou instrumento de pagamento. A decisão de qual
instrumento usar é do cidadão e das empresas. Essa nova instituição permitirá a
ampliação da abrangência do Open Banking, ecossistema cujos participantes são
instituições autorizadas a funcionar pelo BCB. Nesse ambiente, a prestação do
serviço de iniciação de transação de pagamento independe do estabelecimento de
contratos entre o iniciador de transação de pagamento e as entidades detentoras
das contas de depósitos ou de pagamentos.

O Pix
Pix é o pagamento instantâneo brasileiro, o meio de pagamento criado pelo BCB
em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a qualquer
hora ou dia, e pode ser realizado por meio de uma conta-corrente, conta de
poupança ou conta de pagamento pré-paga.

Além de aumentar a velocidade em que pagamentos ou transferências são feitos


e recebidos, o Pix visa alavancar a competitividade e a eficiência do mercado;
baixar o custo, aumentar a segurança e aprimorar a experiência dos clientes;
incentivar a eletronização do mercado de pagamentos de varejo; promover a
inclusão financeira; e preencher uma série de lacunas existentes na cesta de
instrumentos de pagamentos disponíveis atualmente à população.

O Pix foi criado para ser um meio de pagamento bastante amplo. Qualquer
pagamento ou transferência que hoje é feito usando diferentes meios (TED, cartão,
boleto etc.) é feito com o Pix, simplesmente com o uso do aparelho celular ou a
partir do internet banking.

37 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


O Pix é mais uma opção disponível à população que convive com os tipos
tradicionais. Usar o Pix é simples e prático, a transação pode ser iniciada, por
exemplo, a partir da leitura de um QR Code ou informando-se a chave Pix do
recebedor, que é um método que facilita a identificação da conta beneficiária a
partir de um único dado.

Fazer um Pix é gratuito para pessoas físicas, inclusive empreendedores individuais.


Já para as pessoas jurídicas, o uso do Pix pode ser tarifado, porém seu custo é mais
baixo que os demais instrumentos de pagamentos eletrônicos, dada a estrutura
do Pix com menos intermediários e com as plataformas centrais sendo providas
pelo BCB, além do ambiente de alta competição.

Outra vantagem é que o Pix não tem limite de horário nem de dia da semana, e os
recursos são disponibilizados ao recebedor em poucos segundos. O Pix funciona
24 horas, 7 dias por semana, entre as instituições participantes, que podem ser
bancos, fintechs, instituições de pagamento, cooperativas, entre outras.

Open Banking
O Open Banking, ou sistema financeiro aberto, é a  possibilidade de clientes
de produtos e serviços financeiros permitirem o compartilhamento de suas
informações entre diferentes instituições autorizadas pelo Banco Central e a
movimentação de suas contas bancárias a partir de diferentes plataformas, e não
apenas pelo aplicativo ou site do banco, de forma segura, ágil e conveniente. A
Resolução Conjunta 1, de 4 de maio de 2020, dispõe sobre a implementação do
sistema financeiro aberto.

A expectativa é aumentar a eficiência, a competividade e a transparência no


sistema financeiro. O modelo parte da premissa de que o consumidor financeiro
é o titular de seus dados pessoais, em consonância com as disposições da Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais, e que a ele cabe escolher o que fazer com
esses dados, na busca de serviços melhores e mais baratos.

O compartilhamento será implementado de forma gradual e em etapas, de


acordo com o nível de complexidade, a sensibilidade e a possibilidade de acesso
aos dados compartilhados.

Na primeira fase de implementação, serão compartilhados os dados das próprias


instituições participantes; na segunda fase, as informações de cadastro de clientes
e de representantes e os dados transacionais de clientes relativos aos produtos
e serviços indicados na primeira fase; na terceira fase, os dados relativos aos
serviços de iniciação de transação de pagamento e de encaminhamento de
proposta de operação de crédito; na quarta fase, os dados de produtos e serviços
e de transações de clientes relacionados com operações de câmbio, serviços de
credenciamento em arranjos de pagamento, investimentos, seguros, previdência
complementar aberta e contas-salário.

38 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


5.3 Relacionamento com a sociedade
O relacionamento do BCB com a sociedade é realizado por meio de ações
para promoção da cidadania financeira; da regulação e supervisão do SFN; do
atendimento à imprensa, aos poderes públicos, aos investidores e às agências de
rating; da colaboração com esferas de governo e sociedade civil; da cooperação
técnica com entidades nacionais e estrangeiras; da participação em fóruns e
organismos internacionais; e da troca de conhecimento com a academia e o
mercado, entre outros. Os canais de comunicação ativos e passivos mantidos
pelo BCB, assim como os esforços de governança, fortalecem as interações com
transparência e credibilidade.

ATENDIMENTO NOS CIDADANIA EVENTOS PARA AÇÕES DE SUPERVISÃO EVENTOS COM


CANAIS OFICIAIS FINANCEIRA A IMPRENSA PARTICIPAÇÃO EXTERNA

4 16
715 mil apresentações do
1.198
40
palestras alcançando
Relatório de Inflação
ações de supervisão Destaques

mais de 10 mil pessoas Lançamento do Pix


MUSEU DE VALORES E
GALERIA DE ARTE
(fechados desde março de 2020)
65 Lançamento da dimensão
Sustentabilidade da Agenda BC#
20
acordos de cooperação
coletivas
Ações Regulatórias da Dimensão
Sustentabilidade da Agenda BC#
técnica para promoção

1.968 da cidadania financeira LIFT Day

visitantes 332 29
17,2 mil
notas para imprensa
supervisões de crédito
rural e do Proagro
CONSULTAS PÚBLICAS pessoas participaram de REDES SOCIAIS
cursos e oficinas

Mais de
5.073 3.443
7 100 mil
atendimentos aos
profissionais de imprensa
publicações sobre Pix, cédula de 200
reais, Sandbox, Open Banking,
educação financeira e informações
acessos às séries de vídeos
para o mercado e para a sociedade

EVENTOS NO
CONGRESSO NACIONAL Destaques
17 *
fiscalizações da custódia
de numerário do BCB
68 milhões
229 mil
pessoas acessaram
Eventos de lançamento:
PIX, Cédula de 200 reais, Dimensão
*Número reduzido devido à pandemia de alcances de conteúdo do BCB
no Twitter, Linkedin, Facebook,

6 os conteúdos da página Sustentabilidade da Agenda BC# Instagram e Youtube.


de cidadania financeira

39 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


6 Agenda BC# Sustentabilidade

A dimensão Sustentabilidade da Agenda BC# trata da promoção de finanças


sustentáveis, do gerenciamento adequado dos riscos sociais, ambientais e
climáticos na economia e no SFN, além de integrar variáveis sustentáveis no
processo de tomada de decisões do BCB.

As oportunidades no campo da sustentabilidade são concentradas em segmentos


que compartilham valores básicos presentes na agenda institucional do BCB, em
especial a inovação, a eficiência e a transparência. De modo a manter o BCB na
fronteira do tema, é necessário equilibrar ajustes ao arcabouço normativo vigente
e o desenvolvimento de novos conceitos, instrumentos e fronteiras.

Um tipo de barreira a ser transposta reside na comunicação. O lançamento da


Agenda BC# Sustentabilidade visa liderar pelo exemplo, arraigada tanto em ações
de cunho interno quanto no diálogo com o setor financeiro. É possível mitigar
gargalos na área, por meio do simples alinhamento de diferentes agentes em torno
da seara sustentável, compartilhando conhecimentos e percepções. A ampliação
da comunicação ainda traz o benefício de fomentar parcerias importantes,
processo fundamental para geração de dados e de conhecimento sobre o tema.

A Agenda BC# Sustentabilidade foi lançada em setembro de 2020, e este


capítulo do Relatório apresenta o andamento dos itens da agenda e as ações
correspondentes.

Ação Deadline
Regulação Aprimoramento da regulação sobre riscos Realizado
socioambientais (RSA)
Ampliação de divulgação de informações por
IFs, com base nas recomendações da TCFD

• Fase 1 – Aspectos qualitativos Realizado


• Fase 2 – Aspectos quantitativos Dezembro/2022

Criação do Bureau de Crédito Rural Dezembro/2022


Sustentável e Estabelecimento de incentivos
à sustentabilidade das operações de crédito
rural
Supervisão Estruturação e ampliação da coleta de Dezembro/2021
informações sobre riscos sociais, ambientais e
climáticos
Construção de testes de estresse (TE) para Abril/2022
riscos climáticos

40 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Políticas Inclusão de critérios de sustentabilidade Dezembro/2021
para seleção de contrapartes na gestão das
reservas internacionais e para a seleção de
investimento
Criação de linha financeira de liquidez Novembro/2021
sustentável
Ações internas Reduzir impacto ambiental verificado nos Dezembro/2023
processos de meio circulante
Incluir o Tema RSA no Museu de Economia Junho/2023
Desenvolvimento de relatório de riscos Realizado
socioambientais do BCB
Inclusão de aspectos socioambientais na Realizado
Gestão Integrada de Riscos do BCB
Promoção da cultura de sustentabilidade pelo Março/2023
CRSO
Revisão da Política de Responsabilidade Dezembro/2021
Socioambiental do BCB pelo CRSO
Parcerias Memorando de Entendimento com a Climate Realizado
Bond Initiative (CBI)
Expressão formal de apoio às recomendações Realizado
da Task Force on Climate-related Financial
Disclosure (TCFD)
Adesão à Network for Greening the Financial Realizado
System (NGFS)

6.1 Regulação
Aprimoramento da regulação sobre riscos socioambientais
A ação foi concluída em agosto de 2021, com a aprovação pelo Conselho Monetário
Nacional das seguintes peças normativas publicadas pelo Banco Central do Brasil:

1. Resolução CMN 4.943, de 15 de setembro de 2021, que altera a Resolução


CMN 4.557, de 23 de fevereiro de 2017, para a inclusão de seção específica
com definições e requisitos para o gerenciamento dos riscos social, ambiental
e climático aplicáveis às instituições enquadradas no Segmento 1 (S1), no
Segmento 2 (S2), no Segmento 3 (S3) e no Segmento 4 (S4), nos termos da
Resolução 4.553, de 31 de janeiro de 2017;
2. Resolução CMN 4.944, de 15 de setembro de 2021, que altera a Resolução
CMN 4.606, de 19 de outubro de 2017, para a inclusão de seção específica
com definições e requisitos para o gerenciamento dos riscos social, ambiental
e climático aplicáveis às instituições enquadradas no Segmento 5 (S5); e
3. Resolução CMN 4.945, de 15 de setembro de 2021, que revoga a Resolução
CMN 4.327, de 25 de abril de 2014, e estabelece novos requisitos aplicáveis às
instituições enquadradas no S1, no S2, no S3, no S4 e no S5, relativamente ao
estabelecimento da Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática
(PRSAC) e à implementação de ações com vistas à sua efetividade.

41 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


As novas regras de gerenciamento de riscos têm como foco o tratamento da
possibilidade de perdas para as instituições reguladas. A norma redefine o risco
social, relacionado a práticas de violação de direitos e garantias fundamentais
ou de interesses comuns, e o risco ambiental, associado a atos de degradação
do meio ambiente. Além disso, são introduzidos os conceitos de risco climático
de transição, relacionado ao processo de transição para uma economia de baixo
carbono, e de risco climático físico, relativo à ocorrência de intempéries frequentes
e severas ou por alterações ambientais de longo prazo, que possam ser associadas
a mudanças em padrões climáticos.

É reforçada a integração desses riscos ao gerenciamento dos riscos tradicionais


(crédito, mercado, liquidez e operacional), com critérios mínimos a serem
observados pelas instituições. Também passam a se aplicar, de forma mais
direta, comandos como a inclusão dos riscos social, ambiental e climático na
Declaração de Apetite por Riscos (RAS) e no programa de testes de estresse, com
a determinação explícita para que as instituições mais complexas realizem análises
de cenários considerando hipóteses de mudanças climáticas e de transição
para uma economia de baixo carbono. Outras inovações são a identificação de
percepções negativas sobre a reputação da instituição, que possam impactá-la
de maneira relevante, de eventuais concentrações em setores econômicos ou
regiões geográficas mais suscetíveis de sofrer ou causar danos sociais, ambientais
e climáticos.

Já as novas regras referentes à PRSAC, documento que deve ser elaborado pela
própria instituição regulada, focam no estabelecimento de diretrizes de natureza
social, ambiental e climática que orientem seus negócios e a sua relação com
clientes, fornecedores, comunidade interna, entre outros stakeholders. Foram
aprimorados os requisitos de implementação de ações com vistas à efetividade
da PRSAC, com fortalecimento da estrutura de governança e dos requisitos de
divulgação de informações ao público externo.

Ampliação de divulgação de informações por IFs, com base nas


recomendações da TCFD
Os requisitos de divulgação de informações relativas aos riscos e às oportunidades
decorrentes de questões sociais, ambientais e climáticas descritos pela regulação
prudencial10 organizam as informações em quatro grupos: governança, estratégias,
gerenciamento de riscos, e métricas e metas.

Considerando a complexidade, optou-se pela adoção gradual dessas


recomendações, com implementação em duas fases:

I. fase 1, concluída em setembro de 2021, com a publicação da regulação, em


que são abordados aspectos qualitativos das recomendações, com foco na
governança, nas estratégias das instituições e no gerenciamento de riscos; e
II. fase 2, prevista para 2022, em que serão incorporados aspectos quantitativos
das recomendações, com foco em métricas e metas.

10 Para mais detalhes, consultar a Resolução BCB 139, de 15 de setembro de 2021.

42 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Detalhamento da regulação prudencial
Os requisitos para divulgação compreendem:

I. o gerenciamento do risco social, do risco ambiental e do risco climático,


considerando aspectos como a governança e as estratégias adotadas pelas
instituições em diferentes horizontes de tempo;
II. os indicadores utilizados no gerenciamento do risco social, do risco ambiental
e do risco climático; e
III. as oportunidades de negócios associadas aos temas sociais, ambientais e
climáticos.

A norma define um formato de divulgação inspirado nos requerimentos do


Relatório de Pilar 3, parte do arcabouço prudencial do Comitê de Basileia para
Supervisão Bancária (BCBS), no sentido de efetuar a divulgação de informações por
meio de tabelas padronizadas. A adoção desse formato permite maior facilidade
na identificação de temas pelo público-alvo e propicia maior comparabilidade.

A nova regra torna a divulgação de informações obrigatória para os tópicos


governança de riscos, estratégia e gerenciamento de riscos social, ambiental e
climáticos, nas vertentes do risco físico e de transição.

As informações relativas aos indicadores quantitativos e às oportunidades de


negócios fazem parte do escopo da norma, mas a sua divulgação será facultativa
na primeira fase. Essa escolha procura reconhecer os avanços da indústria no uso
desses indicadores e na identificação dessas oportunidades.

A divulgação das informações será requerida de forma compatível com os


requisitos atuais de divulgação de informações estabelecidos para o Relatório de
Pilar 3, conforme o segmento em que as instituições do SFN estão enquadradas,
abarcando o Segmento 1 (S1), o Segmento 2 (S2), o Segmento 3 (S3) e o Segmento
4 (S4), nos termos da Resolução CMN 4.553, de 2017.

As instituições do Segmento 5 (S5) estarão dispensadas dessa divulgação, de


maneira análoga à dispensa de divulgarem o Relatório de Pilar 3, considerando
o custo de observância para instituições de menor porte e de perfil de risco
simplificado.

Criação do Bureau de Crédito Rural Sustentável e estabelecimento de


incentivos para operações de crédito rural sustentável
O crédito rural, disciplinado pela Lei 4.829, de 5 de novembro de 1965, tem sua
base normativa nas diretrizes e instruções emitidas pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN), cabendo ao BCB coordenar e fiscalizar o cumprimento de suas
deliberações.

As autoridades monetárias de todo o mundo vêm adotando medidas que refletem


o reconhecimento do impacto dos riscos sociais, ambientais e climáticos, que
se refletem em riscos para as instituições financeiras e, consequentemente, na
estabilidade de curto e longo prazos dos sistemas financeiros. Por essa razão,
o BCB e o CMN têm estabelecido, desde 2008, diretrizes de caráter social e
ambiental para a concessão de crédito pelas instituições financeiras, que inclui a
regulamentação específica aplicável ao crédito rural.

43 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Entre as iniciativas no âmbito do BC# Sustentabilidade, inclui-se a evolução
do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), que passará
a constituir um Bureau de Crédito Rural Sustentável, também orientado pelos
princípios do Open Banking, o que permitirá que beneficiários do crédito rural
disponibilizem informações cadastradas no novo sistema a qualquer interessado,
sem necessidade de intermediação de agentes financeiros.

O Sicor, cujas operações de registro são processadas em tempo real, realiza


cruzamentos de bases de dados e consultas a outros sistemas externos ao BCB,
validando registros e atestando a veracidade de informações, evitando que
operações em desconformidade com a regulamentação sejam formalizadas como
crédito rural. São registrados anualmente cerca de dois milhões de operações de
crédito rural no Sicor, que somam mais de R$180 bilhões em valores contratados.
No registro das operações, são coletadas informações em 270 campos de dados,
que estão sujeitos a 1.300 verificações. Diversos desses campos trazem informações
que evidenciam boas práticas ambientais e de sustentabilidade de cada operação.

A partir da consulta a diversas entidades técnicas especializadas que se dedicam


a estabelecer padrões para emissão de títulos de crédito verdes (green bonds),
e reuniões com especialistas de várias instituições públicas e privadas envolvidas
com o tema da sustentabilidade nas operações de crédito rural, será elaborado um
conjunto de parâmetros associados à sustentabilidade do empreendimento rural, que
permitirão aos formuladores da política agrícola avaliar a possibilidade de conceder
incentivos adicionais aos financiamentos desses empreendimentos, viabilizando o
direcionamento de maior fluxo de recursos para empreendimentos sustentáveis.

Ao tornar explícita a caracterização de operações de crédito rural como


sustentáveis dos pontos de vista social, ambiental e climático, a expectativa é de
que sejam oferecidas pelo sistema financeiro, no acesso a novos financiamentos
rurais, condições mais favoráveis aos produtores cujas iniciativas apresentem
características sustentáveis, pois o cenário atual indica que as instituições
financeiras deverão mitigar de forma mais rigorosa o risco de concessão de
crédito para financiamentos com maior risco social ou ambiental. Além disso,
as informações relativas às operações sustentáveis permitem sua utilização por
certificadoras de títulos de crédito verdes, agências de rating especializadas nos
critérios ambientais, sociais e de governança e prestadores de serviços contratados
para auditar a aderência de empreendimentos a requisitos sociais e ambientais.

A aplicação dos parâmetros de sustentabilidade resultará nas seguintes situações:

a) empreendimentos que não podem ser financiados com crédito rural, em razão
da existência de comandos legais ou infralegais já existentes que impedem a
concessão do financiamento ou a exploração da área apresentada na proposta
de crédito;
b) empreendimentos que poderão ser financiados com crédito rural, com o
alerta à supervisão de que a operação representa potencial risco social ou
ambiental, em razão de a área do empreendimento se encontrar inserida em
alguma parcela de área com restrição estabelecida pela legislação ambiental,
ou por possuírem características que elevam o risco social ou ambiental;

44 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


c) empreendimentos que poderão receber incentivos destinados a operações
sustentáveis, em razão do atendimento a parâmetros de sustentabilidade
sociais, ambientais ou climáticos.

Categorização dos parâmetros

Impedimentos Alertas Incen�vos3

Terras indígenas* Áreas embargadas2* Programa ABC4


Terras quilombolas* Trabalho infan�l Outorga de água*
Unidades de conservação* Cer�ficação de sustentabilidade
Bioma Amazônia1* por terceiros*
CAR (ausência) Uso de energia renovável*
Trabalho escravo

1 Áreas embargadas pelo Ibama por desmatamento ilegal, quando ao amparo do Programa Nacional de Reforma Agrária,
para proponente de crédito rural com restrição devido a desmatamento ilegal.
2 Áreas embargadas pelo Ibama.
3 A serem definidos em GT Mapa/ME/BCB.
4 Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC).
*Novas verificações no Sicor feitas a partir de normatização já existente.

Com o Bureau de Crédito Rural Sustentável, o Sicor se integrará a bases de


dados governamentais, aumentando a eficiência na concessão do crédito rural;
fomentando a melhoria do gerenciamento do risco pelas instituições financeiras,
com o consequente aumento da eficiência e solidez do SFN, permitindo, ainda,
o acesso a novas fontes de recursos, por sua integração aos princípios do
Open Banking.

6.2 Supervisão
Estruturação e ampliação da coleta de informações sobre riscos
socioambientais
Com essa ação, o BCB pretende criar documento para coleta, em parceria com
instituições financeiras, de informações sobre os riscos sociais, ambientais e
climáticos em determinadas operações de crédito e títulos e valores mobiliários,
elegíveis com base em critérios de alocação a segmentos sensíveis, valor, finalidade
e/ou situação. Adicionalmente, o BCB pretende aprimorar a Matriz de Risco
Socioambiental, pela inclusão, no processo de qualificação da exposição ao risco,
de aspectos relacionados ao risco climático, bem como de informações públicas
relevantes sobre o cliente e a operação.

A criação do Documento de Riscos Social, Ambiental e Climático tem por objetivo


captar a avaliação do potencial de uma contraparte, seja pela atividade econômica,
por práticas ou projetos específicos, e de forma direta ou indireta:

I. violar direitos e garantias fundamentais ou interesses coletivos;


II. causar a degradação do meio ambiente; ou
III. serem afetadas por eventos associados a condições ambientais extremas, que
possam ser relacionadas a mudanças em padrões climáticos, ou pelo processo
de transição para uma economia de baixo carbono, em que a emissão de gases
do efeito estufa é reduzida ou compensada.

45 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


A expectativa é de que o documento possibilite um amplo mapeamento do crédito
no SFN por temas sociais, ambientais e climáticos, com a geração de estatísticas
e informações evolutivas (séries temporais e relatórios). Ao possibilitar análises
de consistência e comparativas, os dados subsidiarão a avaliação dos processos
das instituições e, juntamente com a utilização dos dados oriundos de bases
públicas relevantes, o refinamento da Matriz de Risco Socioambiental. Como
resultado, espera-se a maturação e o desenvolvimento do monitoramento micro
e macroprudencial, no escopo aqui tratado, além da priorização de trabalhos de
supervisão. Sendo uma referência prática, o documento serviria ainda para o
alinhamento das expectativas da supervisão na indústria e poderia eventualmente
subsidiar publicações das próprias instituições.

As etapas para implementação da “Estruturação e ampliação da coleta de


informações sobre riscos sociais, ambientais e climáticos”, até a disponibilização
da estrutura para recepção dos dados, são as seguintes:

Documento
a. Apresentação de proposta de leiaute do documento e instruções básicas de
preenchimento.
b. Discussão e aprovação da proposta de leiaute de documento.
c. Publicação das normas necessárias para a implementação do documento e
coleta das informações.
d. Estruturação dos processos e desenvolvimento da infraestrutura de TI para
recepção dos dados.

Matriz de Risco Social, Ambiental e Climático


a. Automatização da disponibilização de bases de dados públicas previamente
mapeadas, com o objetivo de qualificar os riscos sociais e ambientais ensejados
pelo setor de atividade do agente avaliado.
b. Prospecção e avaliação de novas bases de dados, com o objetivo de qualificar
os riscos sociais e ambientais ensejados pelo setor de atividade do agente
avaliado.
c. Aperfeiçoamento da Matriz de Risco Socioambiental, ora em andamento, com
a inclusão de aspectos relacionados ao risco climático e a incorporação das
informações obtidas nas bases de dados públicas.
 
Após os trâmites internos ao BCB, a proposta será discutida com a indústria.

As bases de dados, previamente identificadas, para qualificação da exposição aos


riscos sociais e ambientais ensejados pelo setor de atividade do agente avaliado
foram disponibilizadas para homologação.

Construção de testes de estresse para riscos climáticos


O principal objetivo dos testes de estresse tradicionais é avaliar se um banco, ou
um conjunto de instituições financeiras (IFs), possui capital suficiente para cobrir
eventuais perdas em cenários severos. O BCB já possui desenvolvidos os seus
modelos de testes de estresse e publica semestralmente os resultados de forma
agregada no Relatório de Estabilidade Financeira (REF).

46 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


Adicionalmente, ficou decidido que o BCB irá incorporar cenários de riscos
advindos das mudanças climáticas nos testes de estresse já desenvolvidos
pela autarquia. Assim sendo, o desenvolvimento do teste de estresse climático
(TEC) irá compreender não apenas os impactos de perdas derivadas dos riscos
tradicionais nos balanços das instituições financeiras, mas também potenciais
perdas relativas às exposições das IFs a ambos os riscos físicos e de transição.11
Dessa forma, o BCB passará a monitorar e identificar potenciais ameaças à
estabilidade financeira advindas desse novo tipo de risco. Esse item da agenda
compreende as seguintes fases:

a. pesquisa e revisão literária sobre testes de estresse climáticos;


b. obtenção de dados e esboço do modelo de teste de estresse climático;
c. versão preliminar e programação do teste de estresse climático;
d. versão final do teste de estresse climático e apresentação dos resultados.

Inicialmente foi realizada uma profunda revisão literária, sendo feitas pesquisas
em diversos artigos voltados ao risco climático e testes de estresse publicados
por acadêmicos, autoridades reguladoras e organismos multilaterais. Como
grande parte desse acervo foi desenvolvida por autores estrangeiros, essa fase
possibilitou que os especialistas do BCB se inteirassem das melhores práticas
internacionais sobre o tema.

Atualmente, a ação encontra-se na fase de estruturação da base de dados e


especificação dos modelos necessários para a realização do teste. O teste de
estresse será realizado segundo a abordagem top-down, para uma melhor
comparabilidade de resultados e monitoramento contínuo do risco.

6.3 Políticas
Inclusão de critérios de sustentabilidade para seleção de contrapartes
na gestão das reservas internacionais e para a seleção de investimento
Relativamente à inclusão de critérios de sustentabilidade para seleção de
contrapartes para as operações de investimento das reservas internacionais,
há um processo de avaliação anual de contrapartes, em que são pontuados
critérios como execução, back-office e research. Esse ranking é usado para
eventuais rodízios entre as instituições financeiras elegíveis para operar com o 
BCB. Entre esses critérios, deve-se incluir um indicador que pontue o ranking de
sustentabilidade dessas contrapartes, de modo a incentivar os bancos a atentarem
cada vez mais para suas ações em relação aos riscos e oportunidades sociais,
ambientais e climáticas. Está em andamento o estudo para seleção de provedor
do ranking de sustentabilidade a ser utilizado, e espera-se que o indicador de
sustentabilidade seja observado no processo de Avaliação de Contrapartes previsto
para ocorrer em dezembro de 2021.

11 Riscos físicos se referem a mudanças em aspectos climáticos que possam impactar a economia.
Riscos de transição, por sua vez, compreendem alterações socioeconômicas derivadas da transição
para uma economia de baixo carbono. Climate-related risk drivers and their transmission channels.
BCBS, 2021. Disponível em: https://www.bis.org/bcbs/publ/d517.htm.

47 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


O BCB acompanha indicadores de sustentabilidade na gestão das reservas
internacionais. A inclusão da classe de ativos green bonds no universo de ativos
elegíveis para investimento reforça o caráter estratégico do tema sustentabilidade
para o BCB, como elemento adicional à política de investimento das reservas,
observados os critérios de segurança, liquidez e rentabilidade.

Criação de linha financeira de liquidez sustentável


O BCB vem estudando a adoção de critérios ligados às finanças sustentáveis no
âmbito do projeto de suas novas linhas financeiras de liquidez. A inclusão do pilar
de sustentabilidade requer a maturação das características sociais, ambientais e
climáticas no mercado de capitais e de crédito, especialmente nos instrumentos de
dívida corporativos negociados em mercados, e a incorporação das externalidades
positivas dessas características em termos de riscos de liquidez e de crédito. Uma
vez amadurecidos esses efeitos, a consideração de aspectos relativos aos riscos
social, ambiental e climático na classificação do risco de crédito dos emissores
diferenciará os ativos sustentáveis nas Linhas Financeiras de Liquidez de forma
orgânica, sem a necessidade de alteração normativa ou operacional das Linhas.

Além disso, condicional à evolução e à maturidade do mercado e das práticas


de classificação dos riscos social, ambiental e climático, o Banco Central
estuda utilizar classificação específica para esses riscos como componente
adicional a ser considerado no modelo de apreçamento e na definição dos
percentuais de haircut aplicados, a exemplo do que é realizado atualmente
com as debêntures incentivadas. Para isso, é necessário que as características
relevantes da sustentabilidade estejam organizadas, especificadas, classificadas,
padronizadas e com acesso público por reguladores em geral. Somente a partir
desse condicionante é possível estudar o comportamento de algumas das
variáveis fundamentais para o estabelecimento de critérios específicos para
papéis sustentáveis. Com isso, torna-se possível desenhar políticas específicas
em função da classificação dos riscos social, ambiental e climático, como de
aceitação de garantias, de apreçamento e de fatores de mitigação de riscos de
títulos associados às operações de provimento de liquidez pelo BCB.

6.4 Ações Internas


Reduzir impacto ambiental verificado nos processos de meio circulante
Em 2020, o BCB retirou de circulação, por meio de processo de seleção e
fragmentação, 280 toneladas de cédulas desgastadas e inadequadas para o uso.
A Instituição tem trabalhado para identificar e adotar formas mais sustentáveis
para destinação dos resíduos de cédulas de real.

Desde 2017, o material tem servido como insumo energético na fabricação de


cimento, por meio do coprocessamento, que ajuda a reduzir o uso de recursos
naturais não renováveis e a emissão de CO2, bem como auxilia na eliminação
de novos passivos ambientais nos aterros sanitários, em conformidade com as
diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esse modelo já é adotado
na destinação de resíduos de numerário oriundo das representações do BCB

48 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Curitiba, em Porto Alegre, em Recife
e em Salvador, que, em conjunto, representam mais da metade das cédulas
fragmentadas anualmente. Há como meta a destinação integral dos resíduos para
coprocessamento até 2023.

Incluir o tema RSA no Museu de Economia


O tema sustentabilidade é um dos princípios que devem nortear o desenvolvimento
da exposição do novo museu de economia. A sustentabilidade deve ser vista
como conteúdo em si ou de forma transversal, a ser abordado ao longo da
exposição. Também deve ser uma prática do próprio museu e um convite ao
visitante para práticas sustentáveis. Assim, a inclusão do tema de responsabilidade
socioambiental representa uma oportunidade de o Banco Central ampliar sua
interação com a sociedade, sendo mais um elemento que se integra ao conteúdo
do novo museu de economia.

A ação é executada no âmbito do Termo de Execução Descentralizada 7/2019,


celebrado entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública, por intermédio do
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), e o BCB para implantação do primeiro
Museu de Economia da América do Sul. O projeto prevê a duração de 36 meses
e R$19,3 milhões em recursos financeiros para reforma e nova museografia do
Museu de Valores.

Desenvolvimento de relatório de riscos socioambientais do BCB


Essa ação corresponde ao lançamento deste Relatório de Riscos e Oportunidades
Sociais, Ambientais e Climáticas, o qual tem como objetivo prestar contas e dar
transparência de forma consolidada às principais ações do BCB relacionadas ao tema
sustentabilidade e reflete o esforço institucional para contribuir com a construção
de um consenso sobre as melhores práticas de mensuração dos riscos sociais,
ambientais e climáticos, permitindo que estes sejam adequadamente gerenciados.

Inclusão de aspectos socioambientais na Gestão Integrada de Riscos do


BCB
A Política de Gestão Integrada de Riscos do BCB foi revisada e aprovada pelo GRC
em 2021, com destaque para os riscos socioambientais, que passam a subsidiar
as decisões e a incorporar a matriz de riscos da Instituição.

Promoção da cultura de sustentabilidade pelo CRSO


O BCB prosseguiu seus esforços para fortalecimento da cultura de sustentabilidade,
com os destaques apresentados no capítulo 3.2 deste Relatório.

Revisão da Política de Responsabilidade Socioambiental do BCB pelo CRSO


Encontra-se em andamento a revisão da Política de Responsabilidade Socioambiental
do BCB.

49 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas


6.5 Parcerias
Assinatura de memorando de entendimento com a Climate Bond Initiative
A Climate Bond Initiative (CBI) é uma organização sem fins lucrativos que apoia o
desenvolvimento de instrumentos financeiros verdes, para acelerar a transição
para uma economia global de baixo carbono. O Memorando estabelece o objetivo
comum na troca de informação e experiências para promoção da agenda de
finanças sustentáveis e adequado gerenciamento de riscos sociais ambientais e
climáticos no sistema financeiro.

Expressão formal de apoio às recomendações da Task Force on


Climate-related Financial Disclosure
A TCFD trabalha para ampliar e aprimorar a publicação de informações financeiras
relacionadas ao clima por parte das empresas e outras organizações. A premissa
é de que a disponibilidade de informações claras, abrangentes e de qualidade
sobre os impactos das mudanças climáticas permite aos agentes do mercado
melhor gerenciamento de riscos e alocação de capital. Ao subscrever como
TCFD Supporter, em 2020, o BCB demonstra publicamente seu compromisso de
estimular maior transparência de aspectos climáticos no sistema financeiro e,
dessa forma, contribuir para sua resiliência.

Adesão à Network for Greening the Financial System


A NGFS é uma rede de cooperação entre bancos centrais e autoridades de
supervisão que busca fomentar a adoção de práticas sustentáveis no sistema
financeiro. O trabalho da rede está estruturado em cinco frentes: pesquisa,
geração de dados, supervisão, macrofinanças e promoção às finanças verdes. Com
o ingresso na NGFS em 2020, o BCB tem acesso a valiosas trocas de experiências
com seus pares sobre mitigação de riscos climáticos e socioambientais.

50 Setembro 2021 | Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas

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