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Leitura para fins de

estudo
Introdução: leitura para
fins de estudo

Toda atividade de leitura tem um objetivo.

Localizar uma oferta de Preparar um prato. Divertir-se, entreter-se.


emprego, veículo etc.

Agora, vamos examinar as práticas de leitura que têm como


finalidade específica o estudo, a construção de conhecimentos.
Introdução: leitura para fins de estudo

Às vezes, o texto a ser estudado foi indicado em uma


bibliografia; outras, é a própria pessoa quem deve decidir o
que ler. Mas, mesmo no primeiro caso, não é aconselhável
ficar limitado a fontes predeterminadas.
O estudante precisa aprender a localizar
e selecionar fontes de consulta por conta
própria. Além disso, ele deve saber como
utilizar as informações encontradas, seja
para o simples estudo, seja para a
produção de outros textos.
Alfabetização
informacional

 Áreas como a Ciência da Informação e a Biblioteconomia


estudam há décadas o processo de busca de informações.
 Foi nessas áreas que nasceu o conceito de letramento ou
alfabetização informacional.
 Ser alfabetizado do ponto de vista informacional significa ser
capaz de:

Localizar Selecionar Utilizar


informações informações informações
de maneira com precisão e
com eficiência criatividade
criteriosa

Fonte: AASL; AECT, 1998. (Adaptado.)


Localização das informações

• O primeiro passo da localização de informações é o


estabelecimento de objetivos.
• Para tanto, é interessante listar as principais perguntas cuja
resposta se pretende obter com a busca.

Exemplo: tema = lesões por esforço repetitivo

 O que são lesões por esforço repetitivo?


 Quais são suas principais causas?
 Quais são os principais sintomas?
 Qual é o tratamento mais adequado?
 Existe um tratamento preventivo? Em caso positivo, qual é ele?
 Como a legislação trabalhista brasileira aborda o problema?
Localização das informações

Com base nessa lista de perguntas, o consulente pode imaginar


quais seriam as fontes de consulta mais adequadas (livros, jornais,
sites de instituições confiáveis, entrevistas com especialistas etc.).

Se preferir iniciar por uma Acervos digitais,


ferramenta de busca (como o como o Google
Google®), o consulente deve Livros®, o Google
Acadêmico® e o
selecionar palavras-chave
Scielo®, podem ser
específicas, a fim de limitar os de grande
resultados, bem como adotar utilidade.
estratégias de busca eficientes.
Dicas para busca on-line
Tipo de busca Exemplo Descrição
Busca básica lesão esforço repetitivo Serão buscadas páginas em que
apareçam todas as palavras-
chave, juntas ou separadas e
em qualquer ordem.
Busca por expressão “lesões por esforço Serão buscadas páginas em
exata (com aspas) repetitivo” que apareça a expressão exata.
Busca sem um ou “lesões * repetitivo” Serão buscadas páginas em que
mais termos apareça a expressão entre
(asterisco) aspas e, no lugar do asterisco,
uma ou mais palavras.
Busca dentro de um “lesões por esforço Serão buscadas páginas apenas
site repetitivo” site: dentro do domínio indicado.
saude.gov.br Neste exemplo, o site do
Ministério da Saúde.
Seleção das informações

Quando tiver reunido um bom número de resultados, o passo


seguinte é selecioná-los segundo a utilidade que possam ter para a
busca. Para entender o critério da utilidade, precisamos
compreender o que é lugar social.

O lugar ocupado pela pessoa


na sociedade ajuda a
determinar o sentido do que
ela diz e, também, a definir se
ela tem autoridade para se
manifestar sobre determinado
assunto.
Seleção das informações

Imagine que você pretenda comprar um ar-condicionado e esteja


buscando informações sobre certo modelo na Internet. Você
encontrou duas fontes:
 um fórum de consumidores que trocam opiniões sobre
produtos;
 o site do fabricante do ar-condicionado.
Em qual dessas fontes você esperaria encontrar
informações mais confiáveis sobre:
• o desempenho real do aparelho?
• um dado técnico do ar-condicionado – por
exemplo, sua dimensão exata, em milímetros?
Seleção das informações

Esse exemplo nos mostra que:

A utilidade das informações fornecidas por


determinada fonte depende do que se busca. Não se
trata de uma qualidade inerente à fonte em si.

No âmbito acadêmico (ou científico), a tarefa de definir a


utilidade de uma fonte de informações não é tão simples
quanto foi nesse exemplo. Um traço particular da
comunicação acadêmica diz respeito justamente à
aceitação das fontes de informação.
Seleção das informações

Para avaliar a aceitabilidade de uma fonte de informação sob o


ponto de vista acadêmico, é preciso considerar três aspectos:
1. A fonte passou pela mediação editorial? Damos o nome de
mediação editorial ao trabalho realizado pelos agentes que
participam do processo de produção de um livro ou revista
(editores, copidesques, revisores etc.) – enfim, todos os que
intermedeiam a comunicação entre um autor e seu leitor.
Um livro produzido pelos meios convencionais é, em tese,
uma fonte de informação mais aceitável do que um blog, já
que este não foi editado nem revisado por ninguém além
do próprio autor.
Seleção das informações

2. A fonte passou pela revisão dos pares? O meio acadêmico


também estabelece como critério de aceitabilidade um tipo
mais específico de mediação: a revisão dos pares, ou seja,
dos outros acadêmicos. Uma dissertação de mestrado
(depois de aprovada) e um artigo publicado em um
periódico acadêmico são exemplos de textos que
receberam o “carimbo” de aprovação da comunidade
acadêmica; portanto, são fontes válidas para consulta e
citação.
Seleção das informações

3. A fonte é primária ou secundária?


Esta distinção é fundamental no âmbito acadêmico:
• fontes primárias (ou de primeira mão) são os textos
diretamente relacionados ao tema que se quer
examinar, ou que oferecem informações inéditas sobre
ele;
• fontes secundárias (ou de segunda mão) são os textos
produzidos por pessoas que comentam as fontes
primárias.
Fontes primárias x fontes secundárias

Exemplo:
Um estudante precisa escrever um texto sobre o liberalismo
econômico proposto por Adam Smith. Sua fonte primária será o
livro A riqueza das nações, em que Smith expõe sua doutrina, e as
fontes secundárias serão todos os textos de outros autores, de
qualquer época e nacionalidade, que comentam essa obra.
A leitura das fontes primárias é indispensável. Em outras palavras, é
impossível escrever um texto sério sobre o liberalismo econômico de
Adam Smith sem ter lido A riqueza das nações, pelo menos
parcialmente. Por outro lado, as fontes secundárias também são
importantes, pois contribuem para ampliar e atualizar a leitura das
primárias.
Utilização das informações

Conforme vimos na definição da alfabetização informacional, as


informações devem ser utilizadas com precisão e criatividade.

CRITÉRIO DA
PRECISÃO
Está relacionado com a fidelidade aos textos
lidos. Utilizar informações com precisão significa não
distorcer as ideias da fonte consultada, não “colocar
palavras na boca” do autor, nem omitir aspectos
essenciais de seu pensamento.
Utilização das informações

CRITÉRIO DA
CRIATIVIDADE
Está relacionado ao grau em que o
leitor é capaz de reelaborar de maneira crítica as
informações que encontra.

• Mas até que ponto se pode esperar que um estudante de


graduação seja capaz de reelaborar criticamente textos
de autores muito mais experientes do que ele?
• Para responder a essa pergunta, o educador Pedro Demo
(1997, p. 40-42) propôs uma escala de níveis de
reconstrução crítica, em relação às fontes de
consulta, que é justo esperar de acadêmicos.
Níveis de reconstrução
dos textos lidos

Criação/descoberta –
quebra de paradigma
Construção –
Reconstrução – criação de
mestrado e vanguarda
doutorado

Interpretação própria –
paráfrase
Níveis de reconstrução
Interpretação crítica esperados na
reprodutiva – graduação.
cópia benfeita
Fonte: Demo, 1997, p. 40-42. (Adaptado.)
Leitura com fins de resumo
Leitura com fins de resumo

No ambiente educacional, os resumos têm


basicamente três finalidades (LIMA, 2004):

servem como instrumento de aprendizagem, pois


permitem ao aluno organizar e fixar as informações
de um texto lido;
servem como subsídio para a produção de um texto
próprio (uma resenha ou monografia, por exemplo);
servem, para os professores, como instrumento de
avaliação da aprendizagem dos alunos.
Classificação dos resumos

Resumos

Críticos
Descritivos
(resenhas)

Esquemáticos

Fontes: ABNT, 2003;


Lineares Silva; Mata, 2002.
Resumo esquemático
A preparação de um resumo esquemático segue duas diretrizes
básicas:

Nominalização – nominalizar um enunciado complexo


significa reduzi-lo a um sintagma nominal, isto é, uma
unidade linguística organizada em torno de um nome
(substantivo, adjetivo, formas nominais dos verbos etc.).
Exemplos:
• Resumos • Esquemáticos • Lineares
• Localizar informações com eficiência
Estabelecimento de relações lógicas entre os tópicos – as
relações básicas são a de coordenação (mesmo nível
hierárquico) e a de subordinação (submissão a outro nível).
Coordenação e subordinação (sumário)

As relações de coordenação e subordinação podem


ser observadas no sumário de um livro ou artigo.
1. Barreiras tarifárias
Estão no 1.1 Específicas
mesmo nível 1.2 Ad valorem Estão no mesmo nível e
hierárquico. 1.3 Mistas submetidos ao item 1.
2. Barreiras não tarifárias
2.1 Cotas
Estão no mesmo nível e
2.2 Monopólio estatal
submetidos ao item 2.
2.3 Exigências
Estão no mesmo nível e 2.3.1 Exigências sanitárias
submetidos ao item 2.3. 2.3.2 Exigências técnicas
Coordenação e subordinação (resumo esquemático)
Outros tipos de relações em um resumo
esquemático
Resumos lineares

No fim da década de 1970, o linguista Teun A. van Dijk juntou-se


ao psicólogo Walter Kintsch para propor um modelo capaz de
descrever como compreendemos um texto. De acordo com os dois
autores, o que fazemos é captar as informações presentes nas
microestruturas textuais (palavras, frases, parágrafos) e integrá-las
em uma macroestrutura maior.

Segundo van Dijk (1980), para realizar essa espécie de “resumo


mental”, aplicamos inconscientemente quatro regras de
redução:
• o cancelamento • a seleção
• a generalização • a construção
Regra do cancelamento

Consiste em excluir todas as informações de menor relevância


para a compreensão geral do texto.
Original Aplicação da regra do cancelamento
Aristóteles (384-322 a.C.), filho de um Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em
médico, nasceu em Estagira, no norte da Estagira, na Grécia. Com 17 anos, foi para
Grécia. Com 17 anos, foi para Atenas Atenas estudar na Academia de Platão, aí
estudar na Academia de Platão, aí permanecendo por quase 20 anos.
permanecendo por quase 20 anos, onde Depois de abandonar a cidade após a
se destacou a ponto de ser chamado por morte de Platão, retornou a Atenas aos 49
Platão de “a inteligência da escola”. anos, quando fundou sua própria escola
Depois de abandonar a cidade após a filosófica, o Liceu (335 a. C.).
morte de Platão, retornou a Atenas aos
49 anos, quando fundou sua própria
escola filosófica, o Liceu (335 a.C.).

Fonte: Mattar, 2010, p. 55.


Regra do cancelamento

Ao aplicar a regra do cancelamento, é importante tomar


cuidado para não eliminar uma informação necessária à
compreensão de outra afirmação do texto.

Exemplo:

Se eliminássemos o trecho “Depois de abandonar a cidade após


a morte de Platão”, o trecho seguinte, “retornou a Atenas aos
49 anos”, ficaria sem sentido – o leitor perguntaria “por que
Aristóteles retornou a Atenas, se ele não saiu de lá?”.
Regra da seleção

É semelhante à regra do cancelamento: a única diferença é que as


informações eliminadas pelo cancelamento estão “perdidas para
sempre”, ao passo que as informações eliminadas pela seleção
podem ser recuperadas por inferência.
Original Aplicação da regra da seleção
Ficou para trás aquela história de que só Ficou para trás aquela história de que só
as mulheres têm seu ritual de beleza as mulheres têm seu ritual de beleza
diário. Como os homens estão cada vez diário. Hoje, os homens investem tanto
mais preocupados com a aparência, quanto elas em tratamentos estéticos e
investem tanto quanto elas em produtos que melhoram a apresentação
tratamentos estéticos e produtos que pessoal.
melhoram a apresentação pessoal. Evidentemente, quem investe em
tratamentos estéticos está
Fonte: adaptado de www.oxcosmeticos.com.br preocupado com a aparência.
Regra da generalização

Consiste em transformar palavras e expressões específicas


(concretas) em palavras e expressões gerais (abstratas).

Original Aplicação da regra da


generalização
O bar do hotel oferece O bar do hotel oferece
vodca, uísque, rum e as mais bebidas destiladas.
refinadas cachaças.
Regra da construção

Consiste em substituir um grupo de informações por uma informação


genérica que as inclui — e que não está no texto. É semelhante à regra da
generalização, mas se distingue desta por envolver a substituição de frases
ou mesmo parágrafos inteiros, e não apenas de palavras e expressões.
Original Aplicação da regra da construção
Ela o encontrou pensativo em frente aos Separado há um ano, o casal encontrou-se
vinhos importados. Quis virar, mas era por acaso no corredor de um
tarde, o carrinho dela parou junto ao pé supermercado.
dele. Ele a encarou, primeiro sem
expressão, depois com surpresa, depois
com embaraço, e no fim os dois sorriram. Essa regra é muito
Tinham estado casados seis anos e aplicada em resumos
separados um, e aquela era a primeira vez de livros e filmes.
que se encontravam depois da separação.

Fonte: Verissimo, 1994, p. 55.


Referências

AMERICAN ASSOCIATION OF SCHOOL LIBRARIANS (AASL); ASSOCIATION FOR


EDUCATIONAL COMMUNICATIONS AND TECHNOLOGY (AECT). Information power:
building partnerships for learning. 2. ed. Chicago: ALA Editions, 1998.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: Informação e


documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.

DEMO, Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no


caminho de Habermas. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

LIMA, Renira Lisboa de Moura. O ensino da redação: como se faz um resumo. 3.


ed. Maceió: Ed. Ufal, 2004.

MATTAR, João. Introdução à filosofia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
Referências (cont.)

SILVA, Jane Q. G.; MATA, Maria Aparecida da. Proposta tipológica de resumos: um
estudo exploratório das práticas de ensino da leitura e da produção de textos
acadêmicos. Scripta, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 123-133, 2º sem. 2002.

VAN DIJK, Teun A. Macrostructures: an interdisciplinary study of global structures


in discourse, interaction, and cognition. Hillsdale (NJ): Lawrence Erlbaum, 1980.

VERISSIMO, Luis Fernando. O encontro. In: ______. Comédias da vida privada:


101 crônicas escolhidas. Porto Alegre: L&PM, 1994.

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