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O falocentrismo e seus descontentes.

Por uma leitura


feminista da antropofagia

Emanuelle Oliveira

Nuevo Texto Crítico, Año XII, Número 23/24, Enero-diciembre 1999, pp.
261-272 (Article)

Published by Nuevo Texto Crítico


DOI: https://doi.org/10.1353/ntc.1999.0014

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O FALOCEjNTRISMO E seus
DESCONTENTES.
POR UMA LEITURA FEMINISTA
DA ANTROPOFAGIA
_____________EMANUELLE OLIVEIRA_____________
University ofMissouri

Eu estava comendo os textos, estava lambendo-os, chupándoos, beijando-os, Eu sou a


inumerável criança de suas multiplicidades.
Helene Cixous, La venue à l'écriture
Introduçâo
Oswald de Andrade tem sido constantemente celebrado pela crítica
brasileira como o detonador de uma verdadeira renovaçâo estética na litera-
tura brasileira. Contudo, para os estudiosos do autor, Andrade sempre este-
ve além da reformulaçâo estética, constituindo-se como promotor de uma
nova ética, caracterizada pela superaçao da "civilizaçâo patriarcal e capita-
lista, com as suas normas rígidas, no plano social, e os seus recalques impos-
tos, no plano psicología)" (Candido e Castello, citado em Campos, "Poética"
xxxvi). Neste sentido, é curioso notar que as categorías comumente utiliza-
das para designar o caráter da produçâo artística de Oswald de Andrade
encontram-se impregnadas de profundas conotacóes políticas. Palavras co-
mo "revoluçâo", "radicalismo", "ruptura", projetam no plano do inconsciente
uma correspondencia quase que imediata entre inovaçâo artística e transfor-
maçao social. Esta correlaçâo, muitas vezes, pode produzir um perigoso re-
ducionismo, uma vez que posicóes estéticas radicáis näo necessariamente
implicam em posicóes políticas radicáis (Johnson 31).
No prefacio a Serafim Ponte Grande, o proprio Oswald de Andrade per-
cebe a disparidade entre o campo estético e o campo social. Nesse texto, o
autor repudia a Antropofagia, movimento que havia lançado em 1928 com o
Manifesto antropófago e afasta-se do Modernismo, para abracar as diretrizes
do Partido Comunista, ao qual se filiou em 1931:
O movimento modernista, culminando no sarampáo antropofágico, parecía indi-
car um fenómeno avançado. Sao Paulo possuía um poderoso parque industrial.
Quem sabe se a alta do café näo ia colocar a literatura nova-rica da semicolónia
ao lado dos custosos surrealismos imperialistas? (...) Eu prefiro simplesmente

©1999 NUEVO TEXTO CRITICO Vol. XII No. 23/24, Enero a Diciembre 1999
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me declarar enojado de tudo. E possuído de uma única vontade. Ser, pelo me-
nos, casaca de ferro na Revoluçâo Proletaria. (10-11)

Assim, o que parece permanecer tanto no Manifesto antropófago quanto


em Serafim Ponte Grande é o sarcástico e corrosivo humor oswaldiano; um
humor que funciona, nao como detonador de estruturas sociais, mas sim
como arguto crítico de uma elite pré-capitalista e patriarcal, socialmente
caduca e culturalmente identificada com os padróes europeus.
O objetivo deste trabalho é problematizar o alcance da crítica social
oswaldiana, através de uma releitura das duas obras ácima mencionadas. No
caso do Manifesto antropófago, o ponto de partida é o instigante argumento
de Leslie Bary, apresentado no artigo "The Tropical Modernist as Literary
Cannibal: Cultural Identity in Oswald de Andrade." Segundo a autora, ao
pretender inaugurar uma cultura contra-hegemónica através de uma "deglu-
tiçao antropofágica" de valores culturáis europeus, a fim de adaptá-los e
incorporá-los à cultura nacional, Oswald termina por reafirmar a sociedade
patriarcal que tanto condena (12-13). Do mesmo modo, propóe que, em
Serafim Ponte Grande, a representaçao de uma sexualidade anarquizante,
longe de inaugurar uma "sociedade antropofágica", caracterizadora de uma
utopia de liberdade e renovaçâo (Campos, "Serafim" 169), constitui-se verda-
deiramente um repositorio dos mesmos ideáis burgueses que o autor julga
repudiar. Sugere que ambas as obras circulam através de uma economía
falocêntrica, uma vez que o Manifesto antropófago e Serafim Ponte Grande
sao regulados por uma lógica patriarcal, que se traduz no privilegio do falo
tanto no espaço simbólico quanto no campo sócio-económico. Neste senti-
do, Bary postula que a antropofagia de Oswald de Andrade apresenta uma
discrepancia entre a formulaçâo teórica que se quer propor através de uma
experimentaçâo estética e a representaçao simbólica que de fato se deriva
da sua narrativa. No entanto, näo deixamos de destacar a contribuiçâo do
autor —a intuiçâo de Oswald de Andrade sobre a problemática da produ-
çâo de um novo estilo de sociedade, que viria da deglutiçâo canibalística das
culturas européias e indígenas, possui um tremendo impacto simbólico. En-
tretanto, a intuiçâo oswaldiana nao conhece reflexäo maior que permita ex-
plorar todas as potencialidades e contradiçôes de sua proposta.
Um "Manifesto antropofálico"?
Em Speculum of the Other Woman, Lucy Irigaray afirma que o pensa-
mento filosófico ocidental sempre produziu um discurso sobre o feminino,
no qual a mulher é o alvo e o objeto do discurso masculino. De acordó com
a crítica belga, o sujeito atribuí uma representaçao simbólica e social à mu-
lher, inscrevendo-a em uma lógica de produçâo e reproduçâo social e sexual
organizada pelo masculino (13-14). Assim, a mulher se constituí em mero
espelho da fala masculina: "In patriarchal culture the feminine as such (and
whatever that might be will become the subject of further discussion) is re-
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pressed; it returns only in its acceptable form as man's specularized other"


(Moi 134). Portanto, no universo falocêntrico, näo há um lugar possível para
o feminino propriamente dito.
Näo seria estranho portanto que, ao realizar uma crítica à sociedade
patriarcal burguesa e a todo seu sistema de racionalidade, Oswald de An-
drade tenha escolhido privilegiar o espaço do feminino. Contra os males
desta sociedade "vestida e opressora, cadastrada por Freud" (Manifesto an-
tropófago), Oswald postula a "necessidade da vacina antropofágica" (15). A
inversäo antropofágica da cultura ocidental levaría a "um novo estado de
natureza, que nos devolve à infancia da especie, onde, numa sociedade ma-
triarcal, alcançaremos na alegría (...) a prova dos nove de nossa felicidade"
(Nunes, "Antropofagia" xxxiv). Essa sociedade verdadeiramente revoluciona-
ria se daria no "Matriarcado de Pindorama".
Oswald de Andrade opóe o Matriarcado ao Patriarcado, pensando des-
se modo em subverter a lógica burguesa capitalista, que, no entanto, se man-
tém através de relacóes binarias de oposiçâo: primitivo / desenvolvido, selva
/ cidade, lógica / instinto. Entretanto, afirma Bary, com sua ênfase na orga-
nizaçâo social primitiva e no ideal do matriarcado, o Manifesto antropófago
termina por reproduzir a idéia do irracional, instintual, feminino e selvagem
como a construçâo especular do Outro (14). A propria escolha de um primi-
tivo matriarcado como lugar privilegiado da utopia representa sua identifi-
caçâo com o mundo patriarcal civilizado:
The location of Utopia in the space of the Other, then, reveals the MA's speaker
as a (male) urban intellectual. It is already problematic that this speaker presents
himself as an anonymous but representative Brazilian who can speak for all with
one voice and with no mention of race and class. But beyond the simple elision
of social divisions, Oswald's speaker consolidates his metropolitan power preci-
sely by valorizing the rural, the natural, the feminine, the savage. The speaker's
identification with such othernesses relegates them to controlled or ideal realms,
permitting them symbolic but not actual power (15).

Considerando as idéias de Irigaray e a análise de Bary do Manifesto


antropófago, monta-se a equaçao que problematiza a visäo de Oswald de
Andrade: Pindorama nâo é mais do que o reflexo da propria masculinidade
do autor. Oswald, como idealizador do discurso do feminino, cria Pindora-
ma, espaço do feminino utópico, que, por sua vez, devolve a imagem refleti-
da, confirmando a posiçao de poder simbólico e social em que se encontra o
modernista:

Oswald — Pindorama
Masculino — Feminino / Utopia
Falo — reflexo do Falo
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Assim, Oswald "falocentriza" o matriarcado, ao circunscrevê-lo na pro-


pria lógica do masculino. Daí cabe perguntar se o antropófago seria real-
mente um "desconstrutor" ou um reafirmador das estruturas do pensamento
ocidental. Como bem apontam os críticos Roberto Schwarz e Leslie Bary,
na sua construçâo literaria, Oswald de Andrade muitas vezes apresenta uma
noçâo "desproblematizada" do Brasil, na qual questóes de classe ou säo
apresentadas de forma quase que condescendente ou näo aparecem de to-
do. Uma análise da questäo do género na fase antropofágica da obra do
modernista revela que Oswald de Andrade näo logra se libertar do patriar-
calismo inerente as estruturas sociais brasileiras. Assim, o antropófago ter-
mina por reproduzir o discurso falocêntrico nas utópicas terras do Pindora-
ma.

Serafim, o homem que come


Serafim Ponte Grande é uma obra dominada pelo símbolo fálico. Em
suas 135 páginas, existem 67 referencias diretas (com o uso da palavra pro-
priamente dita) ou indiretas (através de metáforas ou alegorías) ao órgao
sexual masculino. Isto representa 4.% alusóes por página, numa saturaçâo
completa do uso da imagem. A supremacía do falo cria uma economía falo-
céntrica, na qual tudo existe em relaçâo a ele, e todas as açôes se resumem
à sua presença. Nesta seçao, desvendaremos a importancia do falo e sua
significaçâo em Serafim Ponte Grande.
No inicio do livro, Serafim apresenta-se ao leitor "de capa de borracha e
galochas", um "personagem através de uma vidraça" (137). O protagonista
aparece protegido, de capa e galochas e através de uma vidraça, acentuando
um sentimento de irrealidade causado pelos papéis sociais que a sociedade
burguesa impóe ao individuo. Como aponía Marilia Leite, a denominaçao
Serafim possui duas composiçôes — Ser-a-fïm e Será-fim— uma indicando
afirmaçao e outra um futuro indeterminado, mas que oferece uma noçâo de
potencialidade (109).
Deslocando o nome do campo puramente lingüístico para o campo so-
cial, observa-se que Ser-a-fim constitui-se pelas funcóes invariantes que a
sociedade burguesa lhe atribuiu; ou seja, o personagem é construido com o
objetivo de servir as estruturas de poder. Em sua infancia e adolescencia,
Serafim possui uma descarga sexual violenta e indiscriminada, que tem de
ser regulada para a reproduçâo social e económica. Segundo Jon Stratton,
"the bourgeois —middle class— culture which is articulated in and through
the capitalist economic structure is unique in its mobilization of sexuality as
the realizing force of that social order" (vii).
No capítulo "Vacina Obrigatória", o protagonista é delineado tanto em
torno da sua funçao económica, "professor de geogragia e ginástica ... 7°
escriturario" (144), quanto do seu papel social, futuro marido de D. Lalá.
Portanto, o processo de socializaçâo de Serafim se completa, terminando
por inserir o personagem na lógica da sociedade burguesa.
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Se a designaçâo Ser-a-fim representa uma consolidaçâo do status quo, a


composicäo Será-fim marca o indicio da destruiçâo do mesmo. Serafim pos-
sui uma obsessäo sexual que o acompanha desde a infancia. O sexo poderia
ser lido como elemento anarquizante no livro, destruindo a sociedade bur-
guesa em suas bases. Serafim, que inicia a obra "de capa e galocha" e casa-
do, literalmente desveste-se ao longo do romance para reafirmar sua liber-
dade sexual e social. Em Serafim Ponte Grande existe uma tensäo entre a
moral burguesa, representada pelo binomio casamento-trabalho (capítulos
"Vacina Obligatoria" e "Repartiçâo Federal de Saneamento"), e a amoralida-
de anárquico-sexual que deseja a derrubada das estruturas sócio-económi-
cas. Assim, Serafim é um personagem essencialmente dialético, pois contém
em sua elaboraçao a tese e a antítese: o Ser-a-fim e o Será-fim, apontando
para a síntese de uma nova ordem social, mais precisamente, uma nova or-
dem sexual.
No entanto, o sistema anárquico formulado por Oswald em Serafim está
baseado na figura do falo, sendo o órgao sexual masculino sinónimo de for-
ça irracional que contém potencial destrutivo. No contexto da obra, as estru-
turas da sociedade burguesa ruiriam pelo poder liber(t)ador do falo: é atra-
vés deste que todos passam a ser iguais, "despidos" (literalmente) de dife-
renças sociais e económicas, como na cena orgiástica final do navio El Du-
rasno. Entretanto, é necessário que se problematize a escolha de uma lógica
falocéntrica na constituiçâo de uma sociedade ideal. As limitaçôes deste mo-
delo säo claras: 1) reforça o modelo capitalista de produçâo, ao reafirmar a
organizaçâo sexual burguesa; 2) estabelece desigualdades mais que as elimi-
na, promovendo a dominaçâo do masculino (falo) sobre o feminino (vagina);
3) por fim, näo propöe uma contra-soluçao ao problema sócio-político-eco-
nómico brasileiro, dando ao livro um carácter niilista — em realidade, a pro-
posta final de Oswald näo cria, apenas desconstrói. Estes très processus se
encontram demarcados no romance através de tres momentos distintos, a
serem analisados: a disputa pelo falo, a potencia do falo e afalocentrizaçao.
Em "Testamento de um Legalista de Fraque", o falo, além de manter sua
significaçâo sexual, adquire potencial destrutivo. Neste capítulo, uma revolu-
çâo agita a cidade de Säo Paulo, e Serafim participa desta de forma insólita,
disparando um canhäo abandonado por soldados rebeldes no seu quintal:
"Mas eu sou o único cidadâo livre desta famosa cidade, porque tenho um
canhäo no meu quintal" (168). O canhäo aparece como alegoría do órgao
sexual masculino (canhäo = falo), onde este transforma-se também em ins-
trumento revolucionario (falo = revoluçâo). Em "Testamento", há uma luta
pela hegemonía do poder falocêntrico, na medida em que Serafim detém o
poder, mas nécessita consolidá-lo através da eliminaçâo de seus antagonis-
tas, a saber: Pery Astiades (o vulgo Pombinho), o seu proprio filho e Bene-
dito Pereira Carlindoga, o chefe da repartiçâo. Com seu canhäo, Serafim
deseja eliminar o filho e o paträo, numa clara metáfora da destruiçâo de
duas das principáis instituicóes burguesas, o matrimonio e o capital.
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No caso de Pery, ocorre uma releitura do complexo de Édipo, pois Pery


conhece a presença do falo, fazendo com que o pai o castre. "Pombinho é
hoje senhor deste segredo de eu possuir um canhäo" (168), observa Serafim,
comparando posteriormente o seu órgao com o do filho: "O Pombinho ré-
gressa de carabina virginal, equilibrando a noite na cabeça de cow-boy"
(169). Portanto, o falo de Pombinho näo possui potencia ("virginal") nem
força ("carabina"). Contra quaisquer ameaças a supremacía da sua ordem
falocêntrica, Serafim adverte: "Se o Pombinho aparecer por aqui, neste alto
refugio, onde abro o meu canhäo azul, fuzilo-o!" (170). Já o fim de Carlindo-
ga é tanto insólito quanto representativo: Serafim o elimina "com um certei-
ro tiro de canhäo no rabo" (171). Portanto, a presença avassaladora do falo
gigante/canhâo contribuí para a feminilizaçâo tanto do filho quanto do chefe
da Repartiçâo, uma vez que o primeiro tem seu objeto fálico transformado
em clitoris e o segundo é penetrado por Serafim ("enrabado"). O falo repre-
senta também instrumento de redençao sócio-sexual na viagem empreendida
pelo transatlántico Rumpe-Nuve, no episodio "No Elemento Sedativo, onde
se narra a viagem do Stem-Ship ROMPE-NUVE por diversos océanos."
Contudo, o motor desta liberaçao näo é Serafim, mas seu fiel amigo Pinto
Calçudo. Marilia Leite aponta para as conotaçôes sexuais presentes nesta
designaçâo: "na gíria, pinto vai designar o órgao sexual masculino e calçudo
é aquele que usa calcas excessivamente compridas. Calçudo estaría enco-
brindo o Pinto, o que vai provocar no texto uma inventiva sempre caracteri-
zada pela hilariedade" (100, grifos da autora).
Pinto Calçudo, no seu desejo de "fazer esporte", enfia no buraco da ca-
bine de passageiros um enorme pau, deslocando o navio de sua rota origi-
nal. O Rompe-Nuve vai progressivamente se distanciando das convencóes
sociais e a anarquía crescente se mésela com os resquicios da manutençâo
de uma ordem burguesa, como nos mostra o episodio do "Olho do Porco":
E tratando-se de desenhar o Olho do Porco da cara vendada, Pinto Calçudo nao
tarda em produzir no soalho do tombadilho uma piroquinha, razäo por que o
Capitäo apita, o Rompe-Nuve estaca e quatro-robustos marinheiros o agarram e
trancafiam nas masmorras do poräo. (191)

No incidente do desvio de rota do navio, o falo adquire proporcóes


gigantescas, como o canhäo de Serafim. Marilia Leite afirma que Pinto Cal-
çudo seria o alter-ego de Serafim, provocando uma situaçâo de disputa pela
hegemonía entre os dois personagens (101). Somente o falo de Pinto Calçu-
do apresenta-se como pareo para o falo/força de Serafim, e por esta razäo o
primeiro é expulso da historia pelo segundo. Em um episodio anterior, Sera-
fim já havia tentado feminilizar Pinto Calçudo, já que considera penetrá-lo:
"Vem-me à cabeça a toda hora, uma idéia idiota e absurda. Enrabar o Pinto
Calçudo. Cheguei a ficar com o pau duro. Preciso consultar um médico!"
(154)
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Está claro entäo que no Rompe-Nuve há somente lugar para o dominio


falocéntrico de Serafim. O proprio nome do barco, Rompe-Nuve, aponta
tanto para as rupturas das estruturas sociais quanto para o rompimento dos
corpos femininos (húnen), antecipando a temática das "conquistas" sexuais
do protagonista, nos capítulos posteriores.
Portanto, nos capítulos "Testamento" e "No Sedativo" emergem equacóes
equivalentes: canhäo = falo / falo = revoluçâo; pau = falo / falo = libera-
cao. Revoluçâo e liberaçâo säo binomios que apontam para a destruiçâo de
estruturas sociais burguesas. Contudo, no modelo oswaldiano de transforma-
cao social, encontram-se contradicóes inerentes ao proprio caráter da pro-
posta. O canhäo é falo gigantesco que, quando ejacula, destrói, corporifican-
do uma força estéril — o proprio Serafim menciona o fato, afirmando que os
brasileiros "têm canhäo e näo sabem atirar". O pau constitui-se num falo que
penetra o feminino: o mar. De fato, säo diversas as referencias de identifica-
çâo entre o mar e a mulher, como o balanço das ondas e o caminhar femini-
no. Todavía, o mesmo pau que penetra no mar näo o fertiliza, tornando-se
também estéril.
Assim, ao contrario de ruir as estruturas da sociedade burguesa, o mo-
delo falocéntrico de Oswald termina por reafirmá-las. Primeiro, o autor feti-
chiza o falo, supervalorizando-o e, deste modo, ratifica o sistema capitalista
de organizaçâo sexual; segundo, subordina a sexualidade feminina a este,
provocando antes uma confirmaçâo do poder patriarcal do que seu destro-
namento. Segundo John Stratton:
Capitalist economic organization requires a fundamental unit of conversion
which we understand by the term money. In the sexual organization of bourgeois
society the universal solvent is desire. It is the deployment of money which ena-
bles the market economy to exist and the deployment of desire which brings into
being the fetishism which gives bourgeois society its reality. (3)

Stratton indica ainda que, na vida burguesa, o penis adquire caráter


icónico: quanto maior o penis, melhor será a construçao de mundo (15). Em
Serafim, o órgao sexual masculino se coloca no sistema de troca na medida
em que a disputa pela supremacía do falo indica uma valorizaçâo do seu
poder de uso/atuacäo (canhäo = pau = falo = força = potencia). O corpo
feminino, entäo, somente pode ser compreendido a partir desta equaçâo,
pois seu valor de circulaçâo é estabelecido pelo falo: A commodity —a wo-
man— is divided into two irreconcilable bodies: her natural body and her
socially valued, which is a particularly mimetic expression of masculine va-
lues" (Irigaray, 180, grifos da autora).
No campo económico, as mulheres, como objetos-fetiche, säo mera ma-
nifestacäo do poder falocéntrico. Elas participam como mercadorias que
ajudam a estabelecer conexóes de compadrio e parentesco entre os distintos
grupos masculinos (Irigaray, 183), consolidando assim o poder patriarcal.
No campo cultural, a sociedade capitalista reconhece o falo como o lugar
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definitivo de todo o discurso, sendo o modelo da verdade e da propriedade.


Irigaray indica que, tanto na construçâo de sistemas filosóficos quanto na
organizaçâo da propriedade, a mulher sempre desempenhou a funçao de
objeto, e näo de sujeito (67), sendo construida (e regulada) por um discurso
masculino.
É pois a potencia do falo que imprime os papéis sociais e sexuais femi-
ninos em Serafim. Näo é por acaso que, após o episodio do Rompe-Nuve,
seguem-se as cenas em que Serafim realiza inúmeras conquistas amorosas.
Dona Blanca Clara, Solanja e Claridad-Caridad aparecem como desafíos
para a potencia do seu órgao sexual; todavía, Serafim logra seduzi-las, pene-
tra-las e até mesmo reorientá-las sexualmente, inserindo-as no sistema de
trocas masculino. Um rápido inventario de suas qualidades demonstra a im-
portancia destas personagens para a vitória do falo: D. Blanca Clara é frígi-
da; Solanja, virgem e Claridad-Caridad, lésbica. Todas elas possuem "falhas"
que devem ser corrigidas, representando uma clara ameaça ao universo falo-
céntrico.
No sistema de diferenciaçâo sexual lacaniano, o homem "tem" o falo, e a
mulher "é" o falo. "Ser" o falo é constituir-se em significante do desejo do
outro, ou seja, é "ser" o objeto, o outro de um desejo masculino heterosse-
xual, representando e refletindo este desejo: "For women to be the Phallus
means, then, to reflect the power of the Phallus, to signify that power, to
embody the Phallus, to supply the site to which penetrates, and to signify the
Phallus through being its Other, its lack, the dialectical confirmation of its
identity" (Butler, 44).
Ao encontrar-se a>m Serafim, D. Blanca Clara adverte-o: "...Todos os
homens que se aproximaram de mim até hoje, brocharam. Todos!" (203). É
importante notar que há uma estreita relaçâo entre a falta de interesse pelo
falo e sua impotencia. D. Clara näo fetichiza o órgao sexual masculino, colo-
cando-se fora do poder de influencia do mesmo. Segundo Lacan, a mulher
frígida é aquela que bloqueou qualquer tipo de identificaçâo com o modelo
fálico, näo possuindo portanto desejo sexual (Lacan, 94). Por näo repre-
sentar o falo, D. Clara tanto näo o reconhece quanto se recusa a conceder
qualquer tipo de poder a este, provocando a derrocada do mesmo (impo-
tencia). Entretanto, Serafim recupera a sua potencia ao desvirginar Solanja
e ao resgatar "Claridad" para a heterosexualidade.
Irigaray coloca a mulher virgem na ordem social burguesa como puro
valor de troca; ela é nada mais que mera possibilidade, potencialidade, um
signo de relacóes entre os homens (186). Irigaray utiliza a metáfora do enve-
lope para descrever a mulher virgem na ordem sexual burguesa: em si mes-
ma, ela nao representa nada; sendo apenas um envelope fechado, esperando
que alguém a viole, isto é, rompa seu hímen (186). Solanja é a "mulher mis-
terio": a fim de que possa ser penetrada, nécessita primeiro ser decifrada. É
curioso notar como o protagonista se refere a Solanja: "Näo fora difícil para
ele, hábil manejador da psicología feminina, diagnosticá-la." Serafim se
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constituí em "hábil manejador da psicología feminina", pois o personagem


constrói as mulheres de acordó com a sua ótica falocéntrica, podendo entäo
"diagnosticá-las" e encontrando para estas o melhor uso dentro da ordem
masculina. Ao desvirginar Solanja, Serafim nao somente posiciona a perso-
nagem em relaçâo ao seu falo, como também promove sua circulaçâo na
economía falocéntrica.
Por fim, a conquista de Claridad-Caridad representa uma dupla vitória
para a sociedade burguesa: preenche o vazio deixado pela ausencia do falo
e reorienta-a de acordó com o falocentrismo — lésbica-homossexual se torna
heterosexual. Para Lacan, a ordem (hetero)sexual tem o falo como fetiche; a
mulher lésbica é aquela que toma para si o lugar de fetiche. Serafim supre
Caridad com o falo de que esta nécessita, empregando um processo gradati-
vo de socializaçâo / sexualizaçâo de acordó com o sistema falocéntrico. Näo
é por acaso que a cena de conquista de Caridad é descrita em detalhes,
passo a passo:

Me fez pegar no seu lança-perfume! Isso me deu um incómodo horrível de espi-


rito. Era a primeira vez. Nao será a última. (245)
Caridad deitara a cabeça no coló dele e cheirava-lhe voluptuosamente as viri-
lhas. (246)
Hoje fíquei em pelo no quarto e notei que minhas coxas se arredondaram, fica-
ram gordinhas e macias trabalhadas pelas suas mäos, minhas curvas se afírma-
ram, meus peitinhos ficaram duros e rebitados. Mas que coceira no bibico! (247)
Caridad acordou como um tomate nos lencóis. Estava na cama de nosso herói.
(248)

Caridad passa de temor / rejeiçao à aceitaçâo do falo, celebrando-o


com o ato sexual da penetraçâo. As cenas mesclam entre um narrador em
terceira pessoa e o relato em primeira pessoa de Caridad, que registra a
experiencia em seu diario. Este fato é significativo, pois o falo tanto "inscre-
ve" (no seu modelo económico) quanto "escreve" (no seu sistema de repre-
sentacóes) Claridad.
A potencia do falo portanto regula as personagens femininas do roman-
ce. As implicacóes deste ato sao claras: 1) a mulher é condenada a espelhar
o falo, näo havendo sexualidade possível fora dele, ou seja, näo existe sexua-
lidade feminina; 2) a mulher é marcada pelo sinal da ausencia, logo, é o
Outro e näo "possui" o falo; 3) a mulher é subjugada económica e social-
mente ao homem, portanto, o feminino é visto como construçâo masculina.
Assim, longe de ser elemento de inversäo social, a potencia do falo confirma
a ordem burguesa.
Por fim, este estudo examina brevemente a sociedade utópica delineada
por Oswald de Andrade. Em Serafim, a libertinagem sexual (des)organizada
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por Pinto Calçudo no navio El Durasno parece indicar uma metáfora da


libertaçao individual da sociedade burguesa. No capítulo final —o "Fim de
Serafim"— o protagonista näo é mencionado e temos o retorno do seu ami-
go Pinto Calçudo, orquestrador da cena orgiástica final. A pergunta parece
ser: o que aconteceu com Serafim? Desaparece ou morre? Uma vez que o
personagem já cumpriu sua parte no livro —a total afirmaçao do dominio
falocéntrico—, ele perde totalmente a identidade, transformando-se num
grande e indiferenciado falo, El Durasno. A crescente despersonalizaçao de
Serafim pode ser também identificada pela narraçâo que vai de primeira
pessoa (no inicio da obra) à terceira pessoa (em sua conclusäo); culminando
com a falocentrizaçao do protagonista, ou seja, a sua transformaçao em gi-
gantesco falo. A falocentrizaçao é a utopia oswaldiana tal como apresentada
em Serafim: uma sociedade (des)regulada para e pelo falo, onde o objeto
sexual masculino se constituí em totem supremo.
Assim, Serafim Ponte Grande, longe de criar uma sociedade utópica de
caráter anarquizante, baseada na "rejeiçao da permanencia" ou na "mobili-
dade incessante", descreve um mundo fechado na adoraçâo e eternizaçâo do
falo. O modelo de Oswald, portanto, nao se encontra radicalmente oposto a
uma matriz de pensamento burgués.
Conclusäo

Neste trabalho examinou-se o papel de Oswald de Andrade como críti-


co das estruturas sociais do Brasil pré-capitalista de começos do século XX.
Priorizou-se sua fase antropofagia, a fim de evidenciar que a experimenta-
çao estética näo se traduziu em uma visäo problematizada de uma sociedade
de caráter patriarcal. Sugeriu-se que tanto o Manifesto antropófago quanto
Serafim Ponte Grande terminam por reafirmar as mesmas estruturas que jul-
gam repudiar, uma vez que prívilegiam um discurso falocéntrico.
No Manifesto antropófago, a utopia do "Matriarcado de Pindorama" ter-
mina por representar um reflexo do discurso falocéntrico produzido por Os-
wald. Já em Serafim Ponte Grande, o autor condena as personagens ao siste-
ma falocéntrico: na cena final, os tripulantes do El Durasno sao "aprisiona-
dos" numa orgia sem fim, onde o falo é o elemento preponderante.
Portanto, ao contrario de uma renovaçâo, a utopia oswaldiana traduz-se
num eterno condicionamento ao falo. Este regula e organiza os desejos e
corpos de modo a provocar a subordinaçao do feminino à lógica masculina.
Neste sentido, a utopia oswaldiana è mais bem compreendida como disto-
pia: longe de construir a linguagem em simbólica do feminino, acaba por
condená-lo a representar um mera imitaçâo ao discurso masculino.
O FALOCENTRISMO E SEUS DESCONTENTES______________________________271
NOTAS

1.Este trabalho foi realizado graças ao apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico, CNPq, Brasil.
2.Haroldo de Campos descreve a poesía de Oswald de Andrade como "radical" e "revolu-
cionaria" (xii, xvii) Augusto de Campos ressalta o caráter "revolucionario" da Antropofagia
(113), por Hm, Lucia Helena aponta que a Antropofagia se constituí em uma "opçâo pela
ruptura radical" (37).
3.Randal Johnson, no seu artigo "Notes on a Conservative Vanguard", sugere que a
historiografía literaria tende a desconsiderar as contradiçoes políticas do movimento. Johnson
afirma que a critica identifica a primeira fase do Modernismo brasileiro com aquetas facçôes
vistas como estéticamente progressistes, lideradas por Mario de Andrade e Oswald de Andra-
de. Johnson postula: "This has occurred in part by way of a rather curious ideological separa-
tion of the wheat from the chaff in which certain figures, such as Menotti del Picchia, who were
in the forefront of the movement in the 1920s are now denied the status of modernist. Concu-
rrently there has been a highly questionable retrospective projection of political radicalism
onto those, such as Oswald de Andrade, who were aesthetically daring, as if advanced and
frequently radical aesthetic positions necessarily implied radical politics" (31).
4.Haroldo de Campos, em "Serafim: urn grande näo-livro", refere-se assim ao "prefacio"
de Oswald: "É no prefacio do Serafim —urn dos mais impressionantes documentos de nosso
Modernismo, desabusada página de critica e autocrítica, balanço contundente de um contexto
histórico-social e de um confuto pessoal nele inscrito— que a utopia do Serafim é justiçada
restrospectivamente por seu autor, agora talando na primeira pessoa biográfica. Manifestando
a sua vontade de ser, pelo menos, casaca de ferro na Revoluçâo Proletaria, o Oswald engajado,
que emerge para o teatro de tese da década de 30 e para a tentativa de mural social do Marco
Zero, na década de 40" (170).
5.Com relaçâo ao humor oswaldiano, consultar ainda: Boaventura, Maria Eugenia. A
vanguarda antropofágica. Sâo Paulo: Ática, 1985 (22-45), e Helena, Lucia. Totens e tabus da
modernidade brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985 (171-74). Roberto Schwarz, no
seu artigo "A carroça, o bonde e o poeta modernista", apresenta uma visâo mais critica do
humor oswaldiano, ao analisar, na poesía do modernista, a problemática das relacóes sociais
de classe no Brasil: "Já com Oswald o tema [dualidade do Brasil burgués e pré-burgués],
comumente associado a atraso e desgraça nacionais, adquire uma surpreendente feiçâo otimis-
ta, até eufórica: o Brasil pré-burgués, quase virgem de puritanismo e cálculo económico, assi-
mila de forma sabia e poética as vantagens do progresso, prefigurando a humanidade pós-bur-
guesa, desrecalcada e fraterna; além do que oferece uma plataforma positiva de onde objetar à
sociedade contemporánea. Um ufanismo critico, se é possível dizer assim" (13, grifos do au-
tor).
6.Irigaray começa sua critica com uma análise do complexo de Edipo. Freud primeiro
identifica o objeto do desejo, a mulher / a mâe, segundo ele "um misterio", para posteriormen-
te desenvolver a sua teoría da castraçâo do pénis. Irigaray afirma que, neste processo, a meni-
na seria, em realidade, um menino, já que, no desenvolvimento da sexualidade infantil, o clito-
ris é visto como o penis diminuido. A mulher portanto, longe de ser o "Outro", como postula
Simone de Beauvoir, representa um espelho, um espectro "inferiorizado" do masculino. Para
uma análise concisa da obra de Luce Irigaray, consultar Moi, Toril. Sexual/Textual Politics:
Feminist Literary Theory. London: Routledge, 1994. 127-149.
7.Falocentrismo é o sistema que privilegia o falo como o locus e a fonte de todo o poder.
8.Em sua análise da poesía oswaldiana, Schwarz afirma que, devido as relacóes quase
coloniais que o café reproduzia, Oswald fazia com que este aparecesse como "elemento de vida
e progresso (...), um progresso mais pitoresco e humano do que outros, já que nenhuma das
partes ficava condenada ao desaparecimento. Digamos que a poesía de Oswald perseguía a mi-
ragem de um progresso inocente." (24, grifos do autor). Prossegue o autor "Oswald buscou
fabricar e auratizar o mito do país no oficial, que nem por isso era menos proprietário" (25).
272EMANUELLE OLIVEIRA

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