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BEBÊS
Segundo estudos da abordagem Pikler, o olhar atento e sensível para o bebê é o
primeiro passo para identificar o que ele já é capaz de fazer por si só e, a partir desse
indício, permitir que ele realize pequenas ações como: virar-se de barriga para baixo,
engatinhar, segurar a mamadeira ou o pedaço de fruta, retirar as meias, entre outras.
Nesse sentido, o que cabe ao adulto? Oportunizar condições para que o bebê possa
realizar essas ações, compondo o ambiente e os espaços de maneira que ele tenha a
oportunidade de agir e decidir com o que e como brincar, assim como se movimentar.
Deixar o bebê livre de carrinho, de bebê conforto, de cadeirinhas ou de colo vai
propiciar a conexão com o mundo. O chão é um aliado do desenvolvimento,
possibilitando ampliação de movimentos e descobertas incríveis.
Para que o adulto responsável em casa possa compor situações de exploração e
brincadeiras para os bebês, é importante aproveitar as conversas para fornecer dicas
práticas e explicações: prepare o espaço a ser utilizado, com cuidado e atenção. Se o
bebê ainda não se locomove, deixe ao seu alcance retalhos de tecidos
(aproximadamente 35 x 35cm), materiais naturais, como pequenos objetos de palha
ou madeira, e também fitas de cetim (curtas se o bebê não for acompanhado de
perto), caixas ou potes que podem ser enchidos e esvaziados e explorados livremente.
Ao escolher os materiais, é fundamental levar em conta o tamanho dos objetos que
invariavelmente serão levados à boca.
Situações do cotidiano familiar como ajudar a colocar a mesa, varrer o quintal, auxiliar
o irmão menor, conviver com os idosos, dar água para o bichinho de estimação, mexer
na horta, fazer um bolo, separar o lixo comum dos recicláveis, apagar a luz quando
sair do ambiente, fechar a torneira enquanto escova os dentes, tomar banho rápido
para evitar o desperdício, doar brinquedos que não utiliza mais, são momentos que
contribuem para o desenvolvimento das crianças deste grupo etário. Sem perceber o
valor destas experiências, muitas famílias deixam de incentivá-las, e recaem na crença
de que as crianças “não aprenderam nada” fora da escola, e não estão aptas a
avançar.
Outro aspecto da infância que precisa ser enaltecido é a brincadeira em família, que
aprofunda os vínculos. Por isso, é preciso resgatar as brincadeiras tradicionais como
dominó, jogo da velha, memória, cartas, quebra-cabeça, cinco Marias, construções
com caixas e caixotes, entre outras, que possibilitam inclusive a momentos coletivos
de confecção dos brinquedos, proporcionando experiências marcantes e cheias de
aprendizagens. Nada melhor do que o afeto da família e, em especial, dos avós, tios,
irmãos mais velhos, para que essas interações se tornem significativas e repletas de
sentidos… deixando lembranças para toda vida.
Este período de isolamento social se estendeu mais que o previsto, e temos que
aproveitar as oportunidades educativas sem estresse.
A família e a escola tiveram que reinventar suas relações e atividades, elaborando
uma nova rotina. Adaptações foram feitas em poucos dias e com o mínimo de
treinamento. Espaços foram reorganizados para compor o trabalho em casa, a
educação remota, o serviço doméstico e outras tantas tarefas que muitas vezes
provocaram ansiedade e medo. Pensando nisso e, tentando minimizar os efeitos deste
distanciamento físico, surge uma grande e benéfica oportunidade – o estreitamento
das relações, que possibilita as trocas de experiências e amplia a cultura vivenciada
pelas crianças e suas famílias, estimulando e possibilitando as aprendizagens.
Estamos construindo uma diversidade de caminhos, tempos, lugares e olhares, em
que a experiência do aprender envolve todos os sentidos. Qualificar estas
experiências exige intencionalidade no trabalho pedagógico, apoiado na observação e
na escuta atenta dos interesses, curiosidades e necessidades das crianças, bases
para ajudá-las a construir seu próprio eu.
Neste contexto o „tempo‟ passou a ser nosso aliado para definir com clareza todas as
tarefas que podemos fazer. Aprendemos que para manter a saúde do corpo e da
mente é fundamental estabelecer um „tempo‟ para descansar, além de considerar as
demandas de imprevistos que poderão acontecer durante o trabalho remoto (internet,
energia, ruídos…).
As contribuições trazidas pela tecnologia deverão permanecer mesmo depois deste
período de distanciamento. O maior desafio será a busca de equilíbrio entre o que há
de mais afetivo nas relações presenciais, a utilização das infinitas possibilidades
trazidas pelas ferramentas digitais e a garantia da participação ativa e crítica das
crianças.
¹ Elinor Goldschmied