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[FINOLOGIA B A SOCIOLOGIA NO BRAStt 189 Nio pudemos, infelizmente, expor todos os resultados da_an (© ctitério de exposicio, que visa sobretudo focalizar empiti ge as tendéncias caracterstcas, obvia até cert ponto tal Ii sogiltm, dis, visio suds ‘abordam 0 desenvolvimento Cariruto IV sociologia no Brasil como processo intelectual ‘D. Néles o Iei- Pi poles feces cos a respeito dos focos de interheest dts sociol6gica © da pesquisa sociolégica, ou iniormacbes.sbbr DESENVOLVIMENTO HISTORICO-SOCIAL DA EP corenessoalgicttoplias «ort smeicney ocioldgicas européias e orte-americanas, SOCIOLOGIA NO BRASIL“ ‘nfo nos podiam interessar aqui. I — INTRODUCAO — EPOCAS DE DESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA ‘A sociologia, como os demais complexos culturais, pode see carada e analisada como um fendmeno histérico-cultural, Sob, A sociologia foi recebida, no Brasil, como “novidade” intelec: fspecto, parece haver um duplo condicionamento social do simultineamente 4 sua ‘criagio na’ sociedade caropéia. Faz mento sociolégico. De um lado, a explicasio seciologica do processo da vida literaria de povos cultural te _muito certa eeesaia e coordenacio dos efeitos produzidos por dentes manter um intercimbio eoeae aa faves es ‘cessos sociais, na esfera da secularizacio das atitudes e na d ngeitos de producio intelectual. As “novidades” assinaliveis tor- Gonalizagio dos modos de compreender a existéncia humana mse ripidamente conhecidas, ainda que nio fossem reclabo: oso dos events istics, De outro, «peas de ama forma sutinoma. "© destino do sabe acumulado ensino da sociologia exigem um complexo suporte instit do, se regulava pelos padrées de vida lit que faziam neat ese formae © se deeavolveu, ms sociede exiainenss, uma forma de iusayio'e um ee leant péias ¢ n0s Estados Unidos, em conexio com a formasio ¢ © dade em circulos lettados. _ Volvimento da ordem social capitalista, As duas conexdes sio indices de que o aparecimento € 0 florescimento da hos tempos. modemos, se vinculam a necessidades intel Jim conseqiincia, a sociologia reponta nos escritos de autores irs quase que paralclamente & divlgasio da obra de Comte 2 ary mony eo 2 ee Bese, Pence fo pesmi. Ow pres do forigem histérico-social eo sentido de uma mudanca culty aa pee cen eslealdae dianee) da ee ‘© presente artigo toma por objeto o desenvolviment® Rem uma grande confusio, no que concerne 20 seu sentido ciologia em uma sociedade cuja organizacio interna 90 laments, quanto 0 mateilismo, 20 soxialisno, 2 filo tava aquéle duplo condicionamento. Por isso, os resultados da Maia.) © ‘ontexto em que semelhante uso eplsédico ei apresentam cefto interésse tebrico, na medida em que POE Ho. ko, Noctbulo se processava ato. possuia, ei visio, nenbu- dencia: 1) como a auséncia de certas condigées socials so de anilise positiva, mesmo’ assistematia, Se reflete no grau de elaboracio do pensamento racional ¢ aplicagio; 2) de que modo 2 delimitagio do sentido do, pGM BRS eeecitmnns Roger Bale “tclny i vista sociolégico depende e varia com as condicées socials Nis, Taetlth Cenury _Socitagy, Philosophie!" Liiy, ‘New Vor téncia € com os mbvels dominantes da atividade incest sig alter barat, al Ess“ Raruress das conexdes dinimicas da transformagio da sociedad Bt dens VE Beat Ree Hi Cotes eae, eee ft emergéncia ¢ 0 desenvolvimento da sociologia, como fouls fib lisde weetind Slog 8c da orgat Sve Garcia, Note sbbre ts Pesephas ee Esa Sock pan aera fate dhe es Roepe ote Somes Sete fifa de explicagio do comportamento omino © {a sociedade'e como mésodo positivo de invesigaslo. ee eee a Rie sito ee res Soe See eee Pee piste triage a ee ae ea ‘Sere em Hameo lodigns, 18h, Ee Plast dofrepslgie ‘re ie rien de Enola prssenteatigo fol escrto par vik solBaun bal eat tlcrencai gue sect, dopetsive uitcado Se tata i dnbembs, vols Vil, 75-8 36, 190 HLOMESTAN FERNANDES ‘A intengio de anilise positiva comeca a esbocarse no terceiro quartel do século XIX. A partir dai, € possivel reconhecet — dei- xando de lado © uso improprio da nogio, que vem até o presente, fem diversos circulos sociais — trés épocas de desenvolvimento da reflexio sociolégica na sociedade brasileira. A primeira _época se caracteriza pelo fato dominante de ser a sociologia explorada como uum recurso parcial e uma perspectiva dependente de interpretacio. A intengio néo é a de fazer, propriamente, obra de investigacéo so- iolégica, mas de esclarecer certas relagdes, mediante a consideragio dos fatdres sociais. Désse modo, a Infeligéncia brasileira passa a se interessar por conexdes entre o direito € a sociedade, a literatura € 0 contexto social, 0 estado € a organizacéo social, etc, muito pa- recidas com as que foram elaboradas na Europa pelo pensamento racional pré-cientifico. ‘A segunda época se catacteriza pelo uso do pensamento racio- al como forma de conscéndia e de explicagdo das condigies his: trico-sociais de existéncia na sociedade brasileira. Ela frutifica du- rante 0 primeiro quartel do século XX, tanto sob a forma de anilise historico-geogrifica e sociogesfica do presente, quanto sob a inspi ragio de um modélo mais complexo de anilise hist6rico-prag fica, em que a interpretacio do presente se associa a disposicdes de ervencio facional no processo social. As obras pioneiras, que dio sentido As duas orientagSes, nfo deixam entrever intencdes de- liberadas de fazer obra sistemitica de investigacio sociolégica. Mas, isso € 0 de menos, quando se considera 0 papel das con de Montesquieu, de Marx, de Quételet, etc, 20 desenvolvimento da sociologia na Europa. A etc dpoen. se carnceriza pela preocopato, dominant, de subordinar 0 labor intelectual, no estudo dos fendmenos socisis, aos padres de trabalho cientifico sistemitico. Essa intencio se re vela tanto nas obras de investigacio empirico-indutiva (de recons- trucio histérica ou de campo), quanto nos ensaios de sistematizagao te6rica, Com isso, formam-se aspiracies definidas, no sentido de contribuir para o progresso da sociologia como disciplina cientifics, © se evidencia uma mentalidade nova, através da qual prevalecem (os imperativos da especializagio na escolha dos centros de interés se do investigador individual. Essa época é recente, e embors lan- ce raizes no inicio do segundo quartel do presente século, sé agora comeca a configurar-se plenamente. Isso significa, em outras palavras, que foi depois de longa evo- lugio que os padres de trabalho intelectual, prevalecentes 10 cam po da reflexio sociolégica, atingiram niveis’ e orientacdes ja esbo- fados ou estabelecidos na Europa desde o terceiro quartel do século XIX. Podem-se apontar virias vantagens nessa situacio, que, ofe rece um ponto de partida mais rico a0 jovem socidlogo brasileir0 fou que Ihe concede uma posigio ideal para realizar uma sintese neutra entre os resultados e as tendéncias metodoldgicas da socio logia em paises europeus ¢ nos Estados Uridos. Contudo, nos limites do que nos interessa aqui, ela tradur um ritmo de desenvol, vimento da sociologia que nfo é sob nenbum aspecto, comparivel 0 que ocorreu na Europa, Ml — OBSTACULOS CULTURAIS A ACEITAGAO DA SOCIOLOGIA Os resultados da sociologia do conhecimento permitem air mar que existe uma relacio entre as formas de concepeio do mundo € as téenicas de consciéncia social. Sob ésse ponto de vista, & claro que a sociologia, como modo cientifico de explicacio das situagaes sociais de existencia, dificilmente poderia encontrar condicdes aces. siveis de integracéo a uma sociedade escravocraia e senhorial. Fun. damentalmente, a sociologia se defrontou com dois tipos de obs. ticulos culturais na sociedade brasileira do século XIX! a) os que emanavam da incompatibilidade da ordem patiimonial com a livre exploracio do peasamento tacional; b) os que provinham de re fistéocas culeurais do mei os fandamentos da concepcio cent- Quanto ao primeizo tipo de obsticulo cultural, seria bastante lembrar que quafquer técnica de consciéncia social para set ut Hrivel na ordem social exstnte, precisarin ser compativel com as fungoes da tradigio da experiéncia rotineira na formacio do. hori onteintelecwal, "0 recorso a thenias taionas de consiéncie ey ial poderia sex considerado legitimo, ¢ até necessirio, se a sua coe pelt ¢ ulidade para a ordem patrimonialia fsse.socalmente evidente, Atente-se a0 que se passou, naquela ordem social, com a buroctacia e com o diteito, “Ambos eram necessios e. ao fnesne tempo, assimiléveis pelo patrimonialismo @. Po: intermédio de uma € de outro aplicava-se 0 pensamento racional em certas esferas da vida social. Essa aplicacéo, porém, nfo 6 ficava confinada social. Rents, como aio iocerferia com os fandamentos da. sociedade es cravocrata € senhorial, opetando-se de modo a respeitar o influxo dos mores 0 poder’ do senor patiarcl oa im ais condigdes, apresentavam a maior importincia para a Grdem ‘social os critérios de selegio de personalidades aptas para lesempenhar papéis intelectuais ativos na constnicio do sistema de concepeio do mundo, O peneicamento se fazia de modo a garan. tir a fidelidade manifesta & ordem pattimonial: aos interésses. so. saheeeh pe Rebus ar eee, pean, am, ese ile) wee Geb, ase pee 192 FLORESTAN FERNANDES. ciais, politicos © econdmicos das familias grandes e da dominacio senhorial. Era irtelevante se essa fidelidade nascia da conviccio tima, da devosio a0 senhor ou a sua familia, da obediéncia, da con- escendéncia, de compromissos ou de interésses calculados, Uma situagio dessa espécie conduzia, naturalmente, a uma relativa indi- isio dos papéis.sociais, inerentes as atividades intelectuais, Na mesma posicio social se concentravam papéis sociais discrepan- tes, que inm das atividades de lideranca a0 grupo doméstico ¢ na proptiedade rural as atividades profissionais no Ambito das profissdes Viberais eda burocracia, onde se instilavam as agies intelectusis, Em conseqiiéncia, pela prépria situagio do sujeito criador, a atividade intelectual ficava, por assim dizer, sufocada dentro de um cosmos moral fechado, conservador ¢ de interésses espirituais limi- fados, © ressentimento contra semelhante situacio extravasou-se fem atitudes de insatisfagio diante da falta de receptividade do meio ou contra a estreitera mental ambiente. Contudo, ésse ressen- timento no possuia condigSes para afirmar-se abertamente, atra- vés de uma critica consistente da ordem social. Parece-nos de todo ispensivel estabelecer qualquer contraste entre essa situagio e as exiggncias morais da investigacio cientifica, inclusive na sociologia, ue pressupdem liberdade e autonomia suficientes para permitir 20 Sujeito investigador a realizacio de sua atividade intelectual. ‘Quanto ao segundo tipo de obsticulos culturais, deve-se obser- var que uma técnica de explicagio racional do comportamento hu- mano e da origem ou do funcionamento das instiuigées, como a Sociolégica, encontrava natural fesistincia em uma sociedade na qual fatitudes aprovadas diante désses objetos eram pautadas pelas tra- igdes, por interésses conservadores e por valores religiosos. Pot conseguinte, os obsticulos que resistiam, neste nivel, A inclusio da sociologia ao sistema cultural brasileiro eram de natureza mental fou fesultavam da influéncia conservadora das instituicSes que com figuravam a vida espiritual. claro que em uma sociedade na qual os ajustamentos cotidia- nos sto. predominantemente regulados elas tradigbs, as quests, relativas 4 legitimidade ou aos fundamentos das aces © das rela- Ses sociais nao se elevam a esfera do raciocinio critico dos agentes Nem mesmo os numerosos pontos de contacto e de comunicacio sociedade brasileira com o exterior foram suficientes para alterar “ poder dos costumes”. £ que déles emanava a justificagio moral da Srdem existente, e, portato, da escravidio, da dominacio senhorial ¢ de tida desiguaidade social ou econdmica inereate & organizacio patrimonialista.” A dominacio senhorial e a ordem pattimonislista Fepousavam na observincia estrita dos costumes e das tradicées. Pot feren isso, wm ponto de vista que tendesse a expor o comportamento Bu ‘mano A anilise racional chocava a mentalidade dominante © suse A ETNOLOGIA # A sociotoctA NO ARASH ws tava desconfiangas. Ble poderia ser tolerado em circulos_restritos, como motivo de discussio literiria ow evidéncia de ilustracéo. Mas, fio se inseria entre os componentes regulares e ativos do sistema de Bete acai ps : No terreno das influéncias das instituicdes @ oposigio & socio- Togia assumia a forma deliberada de defesa do sistema tradicional ¢ catélico de concepsio do mundo. Os dois tipos humanos, que in- tervieram de modo aberto neste terreno, foram o padre e 0 bacharel (). Gragas i conteibuigio da Igreja Catélica na formagio da sociedade brasileira, a distincia intelectual entre ambos se reduzia diversidade dos papéis sociais especificos de um e de outro. Por isso, a preten- sio do sociélogo de estudar objetivamente 0 direito ou a religiao achou em ambos decidida repulse. As concepsses do direito, que podiam receber aceitacio e legitimacio na ordem patrimonialista, im- plicavam em defini-lo como uma realidade a-histotica ¢ como expres- sio de uma “ordem natural”. Doutro lado, a concepeio dominante sobre a vida religiosa, a existéncia de Deus, a origem das instituigdes religiosas e da criatura humana, era de natureza teolégica ¢ se subor- dinava & doutrina oficial da Igreja Catélica. Em conseqiiéncia, 0 pon- to de vista sociolégico foi repelido e identificado como sendo uma posicio materialista, impia e dissolvente. Em suma, os dois tipos de obsticulos culturais operavam de maneita uniforme. As impulses inconscientes, que resultavam do apégo as tradigées, produziam efeitos compariveis & rejeicio deli herada dos que defendiam intelectualmente quer a intangibilidade do direito, quer 0 cariter sagrado da religiio ou das institicdes de Bese oe aoe ee significacio precisa do ponto de vista sociolégico, como se tornava impossivel aprecié-lo como um valor, cultural e socialmente desejivel IV — FATORES SOCIO-CULTURAIS DA INCLUSAO DA SOCIOLOGIA © florescimento da sociologia nas sociedades curopéias moder nas foi precedido de dois processos histérico-sociis. Em _primeiro ugar, de um processo de secularizacio de atitudes e dos modos de ‘compteender naturcza humana, a origem ou o funcionamento das instituigées, e os motivos do comportamento humano. Em_segundo fogar, de um process de racionalizagio que projetou na esfera de Bro coletiva a ambigio de conbecer, explicar ¢ dicigit 0 curso dos Acontecimenos, das relaghes dos homens com o universo is conde le existéncia social, Ambos os processos criaram condicdes para a Stacefornacto do pensumenta raceaal ex fermento eel, ito'6, em G) eedese, wampee, bacharel em disci. 194 FLORESTAN FERNANDES fator constrtivo na dintnica da vida em sociedade, A. primeira etapa desea transformacio foi alcancada culturalmente quando 6 pensemen- to racional pode libertarse dos contréles sociais, que confinavam Soa"Infladncl aca imperacives moris ou eligisrs © 10s iatertees {tc og ecoobmies da ond socal erlang w quando 0 pensamento racional passou a set aplicado, sistematica- Prado h eitce dos fundamentos dessa ordem social: 1) inicialmen- te, aoe fundamentos do direito natural, da vida religiosa, da atividade onbrles, et, coosidccados, como eferns calnmals da socledadey 2) em seguida, ® propria organizacio da sociedade como um todo. B tat eames que a foceloga'seconstitl e que a ida de aplicar 0 mé- todo cientifico A explicagio da vida humana em sociedade adquire tia sgnifeacko prec. Ne andedade! braseics, uma transformagio paraela se ini com 9 solapamesto e a. desagregacio. do regime escravoctata © se- Sri @ chm a tnsiolo pact o sogime de auch sacle. © soles amento da orden social prtsinoaialitateve inicio precce. Em con Seqincia de transformacdes politicas “), que se refletiram na orga- ‘lagto da vida ecoobmice, # arstocmcia tual teve que se eavolver fu areoa police, pars inluir na organizagio do Estado’ e a pre: seevacio do stat quo social, Por iss0, acabou comprometendo uma parcela dos interésses do patriménio rural na prospetidade das ci ites e na consttuigto de uma Intlighacla apta pars as fungSes po. Hidons © burocriticas Dal resultou o crescimenta, dentro da otdem patrimonialists, de atividades que pressupunham recurso cotidiano rears eicticaa do. pecament> rational” Dureote algum tnp0, of efeitos dessas atividades puderam ser contidos os limites do que onvinha a0 regime escravocrata ¢ senhorial. Com o paulatino au ments, da tase de epecialisias, ex diversos ramos das “profisdes I berais” (advogados, juizes, jornalistas, engenheiros, médicos, fart caries, et).re de funcionkios, orem se restringindo as, posubii- dades de manter a vinculagdo de suns ages com a6 expectativas 08 fnterses da eamada seahorial, © contrble que eta, podia exerce iabce tals agSer dependia do contacio direty das relagtes pessoal Continuss © do influéacia moral, "© lento progresto dav cidades © © rescimento selativamente rapido da Inteligéncia, envolvida nas re feridas atividades, fizeram com que 2 eficécia de semelhante tipo dé ontsle se eduzise considervelmente.-_Dg-gnodo que, por volta do fercelzo quartl do século XIX, jd ext no Brasil una Intligeodla Cajon componeotes. individ ‘eagiam de modo uniforme 48 pressdes consetvadoras das camadas dominantes. (Bins carters pines aly or comet fleeselg dy Beal {"eatepont fpgensiedo da mmomaequas "A familie ‘real’ c difeia 180 procimada ‘om’ 7 ae Seembeo de io A zante te ona wa ee faye Bea aa eae ‘A ETNOLOGIA E A SOCIOLOGIA NO BRASIL 195 E nos setores radicais dessa Inteligéncia que se processa a cres cente liberdade na aplicagio de técnicas do peasamento racional, entio conhecidas no Brasil, ¢ que surgem as primeiras tentativas de explorar a reflexdo sociolégica, Esta emerge lentamente, como uma critica econdmica e politico-administrativa (A. C. Tavares Bastos, Cartas do Solitério, 1862 ¢ A Provincia, 1870) ou como uma critica jusidico-social (A. M, Petdigio Malheitos, A Escravidio no Brasil. Ensaio Histérico-juridico-social, 2 volumes, 1866, Joaquim Nabuco, © Abolicionismo, 1883) da ordem patrimonialists ©). Mas logo as- sume o cariter definido de um recurso de interpretagio, que permitia compreender as origens sociais e as vinculagdes estruturais de segmen. tos da sociedade brasileira com o seu contexto (Silvio Romero, A Poe- sia Popular no Brasil, 1879-1880; Histéria da Literatura Brasileira, 2 volumes, 1888; Ensaios de Sociologia e Literatura, 1901; etc.), oa ofe ecia uma petspectiva para a discussio normati progresso humano, visto em t&rmos das condigées de formacio e de evolugio da sociedade brasileira (Anibal Falcio, Formula da Cis zagio Brasileira, 1883) ou nas suas relacées com os fatdres da vida fem sociedade (Paulo Egydio, Estudos de Sociologia Criminal. Do Gonceito geral do Crime segundo o Método Comtemporinco, A Propbsito da Teoria de E, Durkheins, 1900; Florentino Menezes, Es tudo de Sociologia. Escola Social Positiva, 1912 — 19 edigio, 2 vo- James, 1917) © processo_de_desagtegacio_da_sociedade exravocrata ¢ senhow ial OTe refleta de duss maneiras sobre 0 desenvolvimento di t0 iologia no Brasil. De um lado, mediante a influéacia dos movimen: tos abolicionistas na formagio do horizonte intelecwual médio. De ou- fo, pelas conseqiiéncias intelectuais da propria cesagregagio da or- ders estabelecida ee ae Os movimentos abolicionistas constituiram a primeira grande ex. petigacia histérica de populagoes urbanas ou rutal-urbanas brasileiras na esfera da secularizagio do pensamento e dos modos de entender 0 fancionamento das instituicSes. A escolha da escravidiio como foco moral de ataque a regime eseravocrata e seabotial apresentou, sob © ponto de vista que nos interessa, a vantagem de permitir a gradual extensio do campo de anilise critica da ordem social existente. As- sim, quando 0 abolicionismo ganhou maior impulso'™), todos os as- cide rales Com © process de dsemolvineto a sslcegian” Bor han oo imconbecieaco tas Compleoy 0 feast’ deve yilecse don tttdos eniadon” sey TTS ha te nse ett ete (7, © iaviments abot. gahou entiot inpulso 'e poder revelucionto 0 196 FLORESTAN TEENANDES pectos da vide social brasileira, ligados direta ou indiretamente a Excravidio, cairam na esfera de consciéncia social ¢ puderam ser apre- Gados, axioldgicamente, acima do influxo do “poder dos costumes” do “eatiter sagrado das instituicées”. Com isso, no 36 se processou tum alargamento do horizonte intelectual médio, mas comecaram a sex Solapadas as fontes de incompatibilidades das téenicas racionais de pensamento e de explicacio do mundo com a ordem social. "As conseqiiéncias intelectuais da desagregacio do regime escra- vocrata ¢ senhorial se manifestaram de duas mancitas. Primeito, du. ante as campanhas abolicionistas se formara a convicgio generaliza- dla de que, com a exting’o da escravidio, os fatbres adversos a0 de- Senvolvimento econdmico, politico ¢ social do Brasil seriam remo- vidos. Uma era de prosperidade se iniciaria, na qual os grandes pro- blemas nacionais se resolveriam naturalmente, A Aboligio ¢ a im- plantacio da Repiblica ocorreram ®?, sem que tais efeitos se reve: Tassem’na escala esperada. Isso provocou um estado de depressio € de perplexidade no animo dos lideres das camadas dominantes, inclu- sive nos da Tnteligéncia. Originow-se, désse modo, outsa convicsio dde que os desequilibrios da sociedade brasileira, que eclodiam pesid- dicamente na cena hist6rica, possuiam causas mais profundas. Para conhecé-los, seria preciso levar a anilise historica da sicuagio até 0 plano em que operavam tais causas. Utilizando-se dos recursos inte- Tectuais disponiveis, varios autores tentaram fazer 0 diagnéstico ob- jetivo das inconsisténcias ¢ das tensGes que minavam inteznamente 0 equilibeio da sociedade brasileira. A obra que marcou época e adqui- iu uma significagio tipica foi, porém, a de Euclides da Cunha (Os Sertdes, 1902), que se situa como 0 primeiro ensaio de descricio s0- ciogrifica e de interpretacio histbrico-geogrifica do meio fisico, dos tipos hhumanos e das condigées de existéncia no Brasil. Com seus defeitos e limitagies, e apesar da auséncia de intencio. sociolégica, tessa obra possui 0 valor de verdadeiro marco. Ela divide o desea yolvimento histérico-social da sociologia no Brasil. Dai em di © pensamento sociologico pode ser considerado como uma técni onsciéncia e de explicagio do mundo, inserida no sistema sécio- cultural brasileiro. ‘Segundo, em alguns circulos sociais e intelectuais surgiu a dis: posigio de reagir aos efeitos da crise por que passava a sociedade bra: Sileira, mediante intervengio pritica na organizacio seletiva dos fatores de progresso econémico € social. A. prosperidade desgover nada e demasiado ripida passou a ser temida como provavel fonte de desorganizacio, de dependéacia e de desequilibrio. Por isso, 0 it- ese pela anilise histérico-sociolégica do presente assumiu, nesses circulos, um cariter pragmitico. Entre todas, predominava a idéia TOA Abolisto ocrren com 4 Lei Aurea, de 13 de mmio de 188s; + procamsl da Hepatic NO EE novebra” de ND. de que 0 conkecimento objetivo da situacio braileira constituia uma condigio para a formulagio de uma politica realista mas patritica. No fundo, esta ofientagio resultava do receio e do ressentimento ‘que as perspectivas de prejuizos na posicio dominante dentro da es- trutura de poder iastilavam no Animo dos descendentes das antigas familias seahoriais. Tal coisa se evidencia pelo valor atribuido & organizacio politica como meio para restringir seletivamente os in- fluxos do desenvolvimento econémico, social © politico-administra tivo do pais e como instrumento para manter a lideranga na mio das elites constituidas. Alberto Torres foi o autor cujas obras conseguiram estabelecer tipicamente a ligagio entre a anilise historica e as inten- ‘es pragmiticas, inerentes a semelhantes orientacies ideolégicas e urépicas (O Problema Nacional Brasileiro. Introdugao a um Progra- ma de Organizagso Nacional, 1914; A Organizesao Nacional, 1914) Ble ocupa 0 papel pioneiro na formulacio pragmitica do pensamento sociolégico do Brasil Em_-suma, é legitimo admitir que a desigeegacio do regime eseravocrata e senhorial possui, para o desenvolvimento da sociolo- gia no Brasil, uma significagio similar & da revolugio burguesa para 4 sua constituicio na Europa. A ela se associam a formacio de uma mentalidade nova, na Inteligtacia brasileira, a criagio de um hori- zonte intelectual ‘médio menos intolerante e conservador ¢, enfim, ‘2 autonomia do pensamento racional no sistema sécio-cultural. Além disso, as duas orientagGes que adquiriram um sentido fundamental no desenvolvimento historico-social do pensamento sociolégico no Brasil se vinculam diretamente aquele processo social. ‘As limitacGes, que se poderiam notar, sfo fnitos da propria orga nizagio da sociedade brasileira. De um lado, cs efeitos do processo de secularizacio de atitudes ¢ dos modos de conceber 0 mundo ti: veram que ficar restritos As populagées das cidades com maior de. seavolvimento utbano, Doutro-lado, a desagregacio do regime es- cravocrata € senhorial se operou como uma revolugio social que afe tou a ordem econémica, juridica e politica sem provocar recomposi Bes imediatas na estrutura social. Por isso, muitos obsticulos_cul- turais, que impediam 2 aceitacio da sociologia no passado, subsist ram em diversas freas (especialmente nas regiées rurais mais isola- das ¢ nas cidades com escasso desenvolvimento arbano; mas também, indistintamente, em circulos ultra-conservadores). Eas formulacoes do pensamento histérico-sociolégico, por sua vez, acabaram receben- do a influéncia de polarizagées intelectuais insuficientes para inspirar 4 anilise sistemitica do presente, tanto tedrica quanto pragmitica- mente. ‘A evolugio do_segime de classes sociais aisumiu, no Brasil, os Padres dinimicos de um desenvolvimento desigual, heterogéaco ¢ e ritmo instivel. Somente nas regides em que a expansio urba- wa LORESTAN FERNANDES. na e a industrializagio aceleraram 0 processo é que a divisio do tra- batho ¢ a diferenciagio social se fizeram sentir com alguma intensi- dade, Nessas regides, ocorreram alteracSes simultineas na estrutura social ¢ na organizacéo da cultura, que condicionaram a transforma. cio da sociologia em uma especialidade. Na esfera da cultura, as fontes de incompatibilidade da expli. casio ional do mundo ‘com sentimentos, idéias, interésses e valo- res consagrados socialmente vio perdendo, com relativa rapider, seus ppontos de apoio na vida social organizada, Essa tende, a0 contritio, 1 fazer pressio em favor do recurso erescente: 2) a concepsbes secu. larizadas da existéncia e do comportamento humano; b) a explica- ses racionais da atividade econdmica, politica e administrativa; c) & exploracio regular, tedrica e pritica, de técnicas e de conhecimen- tos cientificos. A’ civilizagio emergente € uma civilizasio industrial e urbana. Seus componentes nucleares mais ativos sio a tecnologia fe a ciéncia, Os proptios problemas sociais, que se apresentam no presente, no podem mais ser resolvidos pelo arbitrio de um chefe ou [por intermédio de téenicas tradicionais. Bles exigem manipalacies de maior complexidade e contribuem, por isso, para a expansio da ivilizagio em emergéncia, industrial © urbana. [Nessa esfera, foram a alteracio da ideologia das camadas do- compreensio racional das fungSes da educacio que ss propicias ao aparecimento da sociologia como uma especialidade, A expansio urbana e a industralizacio se refletitam ‘na composisio das camadas dominantes e na fotma de selecio de suas lites. Estas revelaram certa acuidade, com teferéncia i situacio de interésses em formacio, e deram algum relévo a preocupacoes pri ticas, de cunho intelectual. Primeiro, durante a fase de convulsies ppoliticas, que se seguiu & Revolugio Constitucionalista ®, procusa- ram incentivar o ensino das ciéncias sociais, tendo em vista dois ‘objetivos: 1°) educar as novas geragdes para as tarefas de lideran- ‘a econémica, administrativa e politica; 2.*) eriar recursos para a so- lugio racional e pacifica dos problemas sociais brasileiros ®, Segua: ensaiaram a utilizagio conservadora das descobertas e dos conhe- “cimentos das ciéncias sociais. Instituigées mantidas pelo capital pri- vado intervém na divulgagio da economia, da administracéo, da po- Titica e da sociologia e tentam novo estilo de adestramento de me: tres ou de dirigentes (da indistria ou do comércio), com 0 propé- sito de assegurar e de manter a “paz social”. No setor da Inteligéncia prdpriamente dita, foram os educt- dores que procuraram enfrentar as necessidades da situacio nova € ] ,A Revolueio Consiacioeaien se deencideon om. Slo Paulo, em 1982, © 1 cou Se tite poles alate dae Exo ont @" Gover a Uno (i) “Be Sjecivor Seferidos se revelam, por exempla, na fundacie da” Escola Live 4. sovtone ¢ Puig (em 1983) "e z"clagio es" Uaivesidnde de Slo Paulo (eO 1Ss6)s no ied! de So Palo A EENOLOGIA # A SOCIOLOGIA NO BRASH 9 propor reformas que ajustassem o ensino brasileiro & ordem social democritics. Gracas a essas reformas, o sistem educacional bras Ieiro comegou a atender & diferenciacio que se esti processando na procura da educagio escolarizada, Devido 4 sua importincia teérica pritica para os educadores, a sociologia encontrou nessas_reformas ‘um reconhecimento de sua utilidade na fotmacéo intelectual do pro- fessor. Por isso, desde 1925 ela tem sido introduzida, alternadamen- te, nos curriculos de escolas de nivel médio e de nivel superior”, Com isso, a sociologia ganhou um lugar definido e estivel dentro do sistema sécio-cultural’ brasileiro, Na esfera da estrutura social, precisam ser apontadas trés trans- formagies paralelas, cujas conseqincias sio evicentes. Primeiro, a ‘ttansicao para o regime de classes sociais esta se processando de modo 4 alterar 0 antigo sistema institucional. Os efeitos da divisio do tra- alho e da especializagio repercutem intensamente nas formas de diferenciacéo social e de organizacio das atividedes humanas. De modo que a transformacio das antigas instituigbes ow a cri ‘glo de instituigSes novas constituem processos simultineos. Os dois processos afetam de varias maneiras as possibilidades de integracio da sociologia ao sistema sécio-cultural, De um lado, a transformacio do sistema escolar inseriu a pesquisa ¢ 0 ensino da sociologia no corpo das atividades institucionalizadas. De outro, sob 2 influéncia de interésses variados, a sociologia foi incorporada a0 funcionamen: to regular de varios servigos, departamentos e instituigdes, oficiais € particulares. Tomando-se uma cidade como Sio Paulo, como ponto de referéncia, verifica-se: a utilizacio da pesquisa sociologica nas ins- tituigies oficiais, em fins estritamente cientificos (como no Departs. mento de Cultura da Prefeitura Municipal ou no Museu Paulista); a exploragio da pesquisa sociolégica em fins comercais, pela iniciativa privada (como no Instituto de Estudos Sociais e Econdmicos e n0 Ins tinuto de Pesquisas de Opinio e Mercado, por exemplo); 0 ensino € a divulgasio de conhecimentos sociolégicos em diversas organizacies com fungoes culturais (como nos cursos do Museu de Arte ¢ nas ati- vidades patrocinadas pela Federacio das Indistrias, pela Federacio do Comércio, etc.); 0 aproveitamento de especialistas, em escala re- duds, por, tmprises que posuem depatamentes de pest ett tica, controle de produgio ou servigos proprios de propaganda. Segundo, 20 proceso. de intitcionaizago. dis atvidades de en- sino, de pesquisa ou de aplicagio, relaciona-se a formacio de status papéis Sociais, que dio suporte estrutural 2 transformacto da socio- ogia em especialidade. © mercado para a miode-obra especializa- GH). Sib nro spluctdotes ate" Gram feet quence! ao sarna Soviltie lee cite re Bre Broil Sto Pave, Compan Bars Nacloal, 45" edo,“ ae tern ah leis wo pin gin, parma « sn. “aut forsande 200 HLORESTAN TERNANDES da € naturalmente pobre). Mas 0 especialista encontra, nas di- versas instituigbes mencionadas, certas oportunidades de empréigo re- gular. Os papéis sociais estruturalmente organizados sio: os de “professor” (ensino de sociologia nas escolas normais e superiores); os de “assistente” e os de “auxiliar de ensino” (no ensino superior); os de “pesquisador” e os de “téenico” (em algumas instituigies ofi particulares). Todavia, nenhum désses papéis ¢ capaz de oferecer i Sociologia, como especialidade, uma posigdo inalteravel no siste ma de ocupasies. Por sua propria natureza, sio paptis sociais dependentes, que se qualificam ‘nas reas profissionais em que se insetiram as ativi- dades.socioldgicas especializadas. Podem contribuir muito pouco, por si mesmos, para alargar as oportunidades profissionais ou para ‘Ampliar 0 campo de pesquisa sociolégica fundamental e aplicada. Terceiro, a institucionalizacio das atividades de ensino © de pes- quisa provocou a organizacio em novas bases das tarefas de produ- Gao sotiolégica © a constituicio de um piblico consumidor organico. © ensino universitirio, principalmente, deu 2 atividade_profissional dos socidlogos o cariter de uma carreirs, regulada académicam ‘A necessidade de obter graus académicos ¢ de usi-los na competi intelectual defini culturalmente certos alvos e obrigacSes na carreira cientifica dos sociélogos. Mas, acima disso, 0 ensino_universitirio possibilita a associacZo do ensino & pesquisa, cria padz6es de crabs tho intelectual ¢ orienta as atividades individuais segundo os méveis bisicos da investigacio cientifica, Por isso, foi no ambito do ensino superior que se revelaram os primeiros frutos da transformacio da sociologia em especialidade. Nio s6 2 produsfo socioldgica aumentou fem quantidade ¢ melhorou em qualidade, mas ainda se diversificou, para atender is necessidades do pablico orginico daquela producio, Constituido principalmente dos alunos das escolas normais € supe- riotes. Exceptuando-se 0s especialistas, éste pablico é ainda extrema: mente mével ¢ instivel; mas, como € relativamente extenso, possui tuma capacidade de consumo ponderivel. Na medida em que {ér eres ae oe puder entrozarse no circulo de competicio cientifica, tornarse-a tum elemento estimulante na Area da produgio sociolégica ‘Na esfera da mudanca cultural e social, podem-se distinguir duas espécles de fatdres: os que produziram efeitos reconheciveis; os que estio operando no presente, cujos efeitos s6 podem ser presumidos Quanto aos primeiros, cumpre assinalar que as mudangas na ideologia io_por Laie Aguiae dt Os feadoe de ama peo, regent, teads leo port ! ‘GR op nie ‘das camadas dominantes ¢ a institucionalizacio das atividades soci sgicas no nivel do ensino superior engendraram necessidades que 1: existente no pais. Isso inspirou uma politica inovadora, de aprovet famento continuo e em escala considerivel de especialistas estrangei- tos. A colaboragio désses especialistas assumiu 0 cariter de um po- deroso fator de mudanga intelectual. Foi gracas a ela, principalmen te, que a distincia intelectual, que se havia estabelecido entre o en- sino superior brasileiro e 0 ensino superior europeu ou norte-ameri ‘ano, s¢ atenuou de modo rapido e construtive. Quanto aos fatdres cujos efeitos presumivelmente favorecerio 4 inclusio da sociologia 0 sistema sécio-cultural brasileiro, é pre- iso considerar tr8s tipos de repercussées. Existem as que nascem, priticamente, das exigéncias da situacio. histbrico-social_ brasileira Muitas instituisdes, constitufdas no passado, foram organizadas ten do em vista condicdes estiveis de existéncia. Com a ripida expansio dos centros urbanos, essas instituigées tornatam-se inconsistentes Fstio nesse estado varios secvigos publicos, de assisténcia a menores, a dependentes, a delingiientes, etc., cuja reorganizagio implicart no aumento de postos de chefia ou de administragio pata pessoal com treinamento sociolégico e no desenvolvimento interno da pesquisa so ciolégica, nos fins especificos dos servicos. Existem as que nascem das limitagies dos meios de pesquisa e de condigbes insatisfatorias ou improdutivas para o trabalho cientifico, imperantes nas universidades. Tais limitades € inconsisténcias tenderio a ser suplantadas com a prd- pria expansio da pesquisa cientifica nesse nivel eo gradual aumento do interésse pelas possibilidades praticas das cifacias sociais no mun- do moderne. Na remogio delas caberi muita responsabilidade aos especialistas, que poderio intervir na organizagio das condigoes do trabalho cientifico, no s6 com o fito de expandir a pesquisa funda- mental, mas também com 0 de forcar 0 aproveitamento dos seus re- sultados. Por fim, existem repercusses que se manifestam no plano da administragioe no da politica. Problemas graves, nascidos do crescimento tumultuoso das cidades ou os efeitos da industralizacio, sto sendo enfrentados com recursos obsoletos. Embora a mental dade dominante e a escassez de recursos financeirys dificultem a explo- racio de téenicas cientificas, & de esperarse que nesta irea surgirio 0s principais incentives ao aumento de interésse pelas ciéncias sociais. Em conexio ou sob o influxo da transformacio da sociologia em especialidade, surge um novo estilo de aplicacio do ponto de vista sociolégico. "A anilise histérico-sociol6gica da sociedade brasileira se ‘tansforma em investigagio positive. Este acontecimento marca, no plano intelectual, « primeira transicéo importante, no desenvolvimens to da sociologia no Brasil, para padres de interpretacio propriamen- Xe cientificos. © processo se inicia com as obras de F. J. de Oliveira Tiana, sob intengées que permitiam fundir as duas orientagdes hist6- Viens sob intnses ate Peomncoads ("Popuagées Mesidionis do Brasil,” 1920; “Pequenos Estudos de Psicologia Sc emp Povo Babies” se “Tatas Pl do, Powe, Brn 199% pit ns contigs de Gil 190) tuleste por tte pineio especial braleeo to rare, considers Feicaa Gand a Seman, 1938, “Sobrados com formas cent, (Bil 1940; ee) de Cilo Msc eG Be Cocmpocins, Colin”, 206). As Prado J. orm dooce, mesa intel de dat fe obras de snes revelam, igus 4 “hacsperngto don procech wim cl tatamdo ae Annoy "A. Cat Basi a ern ae eRataes do Bra, 1956, Clo Sr cman Se Sade Say 14), © spo se Soars, TFomatio toc fo, sob lnfadaia dow copes esrangeies, a fovnigaso Ee paar: por Holes da Beat), °O cousin das eakas de inven Cana, Os Ser ao cn. do pree, dependia oa fhente de adestramento sistemitico, Por isso, éste segundo desenvol: ee a elo dicdo de pests © Hei See eee “Gros ants do esno ones de eat, Semi Ee pina gu ee ee, ane Fa Oe eee Bal cpus © gene mint So O- seria pes, econo cms en, nt fo hscoriea ("Avsigrantes Germniicos ¢ seas Descendentes", 140; Sciclopeo sete « san Doce" 15 a oe ea iecologia. do Penirameato", 194 Pehla ea al Exo Antropaigico des Imigntes Ale vies e seus Descendentes no Brasil”, 1946; “Cunha. Tradigéo e Tran- 1952; ete). _Contudo, & dificil separar influéncias diretora, oa Ses ‘Dosald’ Pierson, Roger Bastide, Fernando de Jal Yedo, Jacques Lambert, Claude Lévi-Strauss, Paul, Arbousse-Bastid® ‘e Herbert Baldus, Arthur Ramos, Carles Wesley a a 2 8 ae tonnage) Coe a cor cnet de campo,, Pop can ot Mt ean ab ca, sorte a, SE Sree ata Bere Aste oe wha ee oa ‘os dois acontecimentos apontados — transformacio da anilise hist co-sociolégica em investigacio positiva e introdugio da pesquisa de campo como recurso sstemitco de trabalho — situ bisdricamen- te a fase em que, no Brasil, a sociologia se toma disciplina propria. Boa ee eae eee zasio dos conhecimentos socioldgicos, empreendidas com 0 propésito de contribuir para o progresso da teotia sociolégica (Fernando de Aze- vedo, “Sociologia Educacional. Introducio ao Estudo dos Fendme- ‘ducacionais ¢ de suas Relacdes com os outros Fenémenos So- Roger Bastide, a) “Arte © Sociedade”, 1945; b) “Socio- wnilise”, 1948; Pontes de Miranda, “Introducio i Socio- logia Geral”, 1926; Mario Lins: a) “Espaco-Tempo e Relacées So- 5”, 1940;'b) “A Transformacéo da Logica Conceitual da Sociolo- gia”, 1947), ow para servir 4 formacio teérica dos alunos de esco- las normais'e superiores (Fernando de Azevedo, “Principios de So- ciologia. Pequena Introdugio 20 Estudo da Sociologia Geral”, 1935; Pontes de Miranda, “Introducio 4 Politica Cientifica on Fundamen- tos da Ciéncia Positiva do ”, 1924; Delgado de* Carvalho: a) “Sociologia”, 1931; b) “Sociologia Educacional”, 1933; c) "So- ciologia Experimental”, 1934; d) “Sociologia Aplicada”, 1935; Arthur Ramos: a) “Introducio a Psicologia Social”, 1936; b) “Introducio 4 Antropologia Brasileita”, 1.° volume, 1943’: 2.° volume, 1947; A. Carneiso Leo: a) “Fundamentos de Sociologia”, 1940; b) "Socio Iogia Rural”, 1941; Donald Pierson: a) “Teoria e Pesquisa em So- ciologia”, 1945; b) como organizador: “Estudos de Ecologia Hu- mana”, 1948, ¢ “Estudos de Organizagio Social", 1949; “Gilberto Freyze, “Sociologia”, 2 volumes, 1945; Herbert Baldus e Emilio Wil: lems, “Diciondrio de Etnologia e Sociologia”, 1939; Emilio Willems, “Dicionirio de Sociologia”, 1950; além da revista “Sociologia”, fun dada em So Paulo, em 1939, por Romano Barreto e Emilio Willems, com objetivos predominantemente didaticos). © valor positiyo ¢ a originalidade dessa produgio socioldgica, considerada em conjunto, podetio ser disutivis sob muitos aspectos Contudo, ela sirua bem a nova posicio que a sociologia passou a ocu: Par mo cosmos intelectual brasileiro, depois de 1920, pela obra das dtuas geragdes mencionadas e gracas A colaberacio dos especialistas estrangeiros. Verifica-se, principalmente: 1.°) que o ponto de vista sociolégico comesou a ser entendido com clareza e a ser aplicado com crescente precisio cient 2) que 0s focos de interésse da analise sociolégica se ampliaram, a ponto de compreender agora, além Hiedo de io Paulo), shee o trbtho « a orkatagdes di modems geraglo de sol ‘orca, ange de Antentp Cinaido, mencinnade ‘ar nats Stare’ fase ‘Sa fer eaniconblogs, ‘oar bras de Hubert Boldes, Hgonhnden e Enero isto, ir tenidas augue ota; “lp tem oles dipetanoscs ae falter wt shone edo" complet "dow mauris de ‘toc Sodomar tor" gue alo ‘ais pr chsivon,'edeiaatos de tats pub de notes cries tds Pisa" poruputs depo de 150 dos temas referentes & formagio étnica, econdmica e social d ciedade brasileira, os problemas sociais emergentes nas diversas regides do pals; 32) que a sociologia se integra, como disciplina cientifica e como txio do saber positivo, no sistema institucional de ensino € dde pesquisa. Doutro lado, na’ medida em que as investigagoes socio légieas ‘empirico-indutivas tomam por objeto os processos_histbrico- sosas de formacio da sociedade brasileira ou de wm orga transformagio a0 presente, a sociologia tende a assumir 0 cariter e as fungbes de uma tenia ractonal de consiénia ede explicaio das condigoes de existéacia e do curso dos eventos historico-socais. Isso significa que, aa nova ordem social em elaboragio, sociologia po- deri corresponder a determinadas necessidades intelectusis e encontrar, assim, impulsdes culrurais propicias ao seu desenvolvimento auténomo. y — LIMITACOES INSTITUCIONAIS A EXPANSAO DA PESQUISA SOCIOLGGICA [As possibilidades atuais de desenvolvimento da sociologia no Brasil tendem a depender, de maneica crescente, das perspectivas aber tas A pesquisa clentifica pelas instituigdes que operam nas esferas do ensino superior, da investigacio cientifica pura ou aplicada, e dos ser Vigos técnicos de cunho cientifico. Apesar de terem elas “aumentado hos ailtimos anos, com selativa celeridade, parece-nos claro que a si Jo em que aquelas instituicSes se encontram constitai um fator de inércia, no que concerne 20 ensino e i pesquisa no campo da so ologia. Para se entender isso, é preciso ter em mente certas condi 8es de desenvolvimento do sistema centifico no Brasil Primeiro, a falta de recursos econémicos, técnicos e humanos se reflete em todos os setores da investigacio cientifics. Condigies desfavoriveise dficientes de tabalno imperam mesmo nas istuiges estinadas & pesquisa experimental ou a servicos téenico-cientificos, reconhecidos como esencas. Desa limiagfo. de meios rsaltam es alas de priotidade ou de preferéncias, no fomento 2 investigacio Cientifica, pouco seasiveis as dificuldades com que se defrontam os cientistas’ socials. { Segundo, o financiamento ¢ 0 incentivo da pesquisa cientifica ainda hoje recaem, quase totalmente, nos orgamentos dos Estados. € da Unio. As subvengoes particulares sio raras e, com freqiiéncia, ir regulates e minguadas, Como o poder piblico no dispde nem de recursos financeitos suficientes, nem de meios politico-administrativos adequados para fazer face As exigéncias impostas pela organizagio, Imanutengio’e renovagio. do siktema clentific, es lacunas de #88 atividade ao podem ser cortigidas de forma conveniente, todas as instituigées cientificas sfo entravadas, embora em grau vasiivel pela burocracia, pela escasser ou incerteras das verbas, e pela auséo- iéncias de Iaboratério”. Por isto, & compreensivel que texan, le submeter as investigacées realizadas em seu cat pelea bah cain nasa mts © 8 GPO 24 pais do Terceito, € recente o desenvolvimento da ciénci var tein, € sce olvimento da citncia no Brasil. Ape pritica © proceso € dos mais complicados elentos, em virtade do com Junto de alteragbes sécio-culturas do meio que ela pressupGe (con sias das insticuigbes cientiicas braileiras — tanto na hetcrgercndy do pessoal cientifico © dos equipamentos de pesquiss, quants me vas — so direta ou indiretamente imputiveis n essa condigio. “O'veng ¢ aus clas pronem efeitos negatives © delorives so cal parcos recursos postos i disposicio da pesquisa cientificn, deere Ie eter soli on soni ee ei, dpe tifica, indiferenca na selegio das reas de investigagéo, com prejaine los temas ou dos problemas que poderiam ser atacados frutiter mente pelos cientistas brasileitos. Gracas as mencionadas inconcie sins com so eal de ees, gue as pues insniies ce inci no Bra, “AS ciénit sociay, por se acncens Cee so dace nate harem Bo pe quisa empitico-indutiva, sofrem duramente (e quase ‘sem defen) 5 impacto de influgncias so destrutivas, ag oer eieeed i lavia, € possivel situa a questio em tétmos concretos. ‘Tome: sos. como exemplo a Universidade de Sio Paulo, em cuja Faculdade Ciencias e Lettas 0 ensino e a pesquisa no campo das clea, iis ganharam certa notoriedade. O que se observa Em pon. Ginamtls de dois dectnios alcangou-se grande progreso em mba ss Gitesbes, do ensino ¢ da pesquisa, de tal forma que se pode afirmet Shine can Sonam, salen ponidads de de ssa autOnomo nessa instituigio. Nela jf se pode dispen etores expecializados do ensino e da pesquisa. E, mesmo em ale uns désses stores, € prescindivel a colaborasio. daqueles especial Tseontude, © nosso exemplo demonstra que no dispomos de con. aides © de recursos para explorar racionslmente todos os efeitos pro Aitivos de uma experince ruil a tren da mudangaedcscogel See Rorada. "Assim que se atingiu uma etapa em que os efclios. da eriéncia passaram a exigit novas condikbes. opetstivas, com reaparelhamento e a reorganizacio da instituicio — faltaram. 206 ELORESTAN FERNANDES. ‘nos os meios para pé-las em pritica e ti Progrexo pom gmail s professbres e especialistas, estrangeiros ou nacionais, que s pee teed ere reer sidade de Sio Paulo, lutarem com grandes dificuldades. Nao con- favam com pessoal especializado, em niimero suficiente, para coope- far com ter em tareas do ensioo ou de pesquisa; ni dspunham de verbas para excursées ¢ pesquisas nem de condigdes materiais de trabalho adequadas; e nfo podiam orientarse por diretrizes segu- tas, quanto a0 que se esperava déles em suas atividades académicas Entretanto, puderam trabalhar de forma produtiva: © principal alvo do ensino universitirio das ciéncias sociais consistia, na ocasiio, em teanplantar para o Brasil cet tena e conbecimentos cle fentro dessa Area. O adestramento pela pesquisa possula, nessa con eae ere a or er comunicagio no plano diditico ¢ a ministracio intensiva de leitu- ras constieuiam a esfera essencial das atividades daqueles professores fe especialistas, pois era através delas que alcancavam, de modo ré- pido mas eficiente, o fim mais explicito e dominante de suas atribui- ges. Em conseqiiéacia, conseguiram corresponder brilhantemente as fecesidades do meio, malgrado as condigdes insatisfaérias de tx2- bathe, Em cur perodo de tempo, deiprtarm_o intere dos alunos pelas ciéncias sociais e prepararam-nos para competir pelas spel tee eS ne noe a criagio do ensino superior daquela disciplina ou que existia gris 20 ensino oom i etek ‘Transcorrida essa etapa, de integragio das ciéncias sociais no curriculo universitirio e de formagio dos primeiros quadros de es- Pecialistas, a referida configuragio’ pedagégica comecou a alterar-se Fipidamente, De um lado, modificou-se « qualidade das exigéncias feitas A colaboracio dos especialistas estrangeiros. Alguns dos mo- tivos mais fortes, que tomaram imperativo 0 recurso indiscriminado is misses estrangeiras, deixaram de existir com 0 paulatino au- ‘mento de pessoal especializada, formado pela propria Universidade de Séo Paulo, Em virtude déise desenvolvimento, porém, surgicam necessidades novas, tanto no terreno do ensino quanto no da pesqui s2, que exigem o' recurso, em bases diferentes, aos especialistas s- tcangeiros. A colaboracio déstes é ainda imprescindivel, mas em determinados campos de especializagio. De outro lado, foi atin: xgido um nivel de trabalho que impSe maior articulagio entre o ¢ Sino e a pesquisa. O adestramento pela pesquisa, todavia, aio esti previsto na atual organizacio do ensino universitirio, em particu- Jar no que conceme as citncias socsis. Nao existem bOlsas nem do- facies egulares, que possibilitem recrutamento de jovens com boas perspectivas de especializagio. Além disso, a estrutura de pes- i proveito completo do tae soal das cadeiras ¢ departamentos € rigida e fixa, Por isso, tam- fim, nfo existem oportunidades iniciais de carreira, que permitam Completar a formagio dos estudantes, mantendo-os durante algum fempo em projetos definidos de pesquisa. As necessidades novas, fgue emergem nesta esfera, sfo ainda mais prementes que as associa HEE Go contrato de cientistas estcangeitos, especializados em fceas (que nos interessam, Se elas nfo forem atendidas de forma conve ieate, a alternativa sera a estagnacio, no processo de, deseavolvi mento das cléncias sociais na Universidade de Sio Paulo. ‘Como vemos, as ciéncias sociais atravessam, naquela universi dade, um petiodo verdadeiramento critico de desenvolvimento, que poe em isco mesmo os progressos ji realizados. Para superi-lo, sem Pomprometer a continuidade do processo, sera indispensivel: 1.) fiat novas condigies de trabalho, que permitissem reter 0s alunos tnethor dotados, com 0 objetivo restrito de completar sua educacio cen fica e adestriclos como investigadores; 2°) cocstituir equipes de pes Tigas. junto a5 cadeiras, tendo em vista o tieinamento dos alunos Ios cursos de especializacio ou de doutoramento e as fungdes da uni- Yersidade como agéncia de produsio de conhecimentos cientificos ori- finais, 3°) ampliar os quadros docentes, part dar melhor assitén- ea acs alunos e, especialmente, garantir maior plasticidade & estru- qe de pessoal das cadciras ou departamentos — 0 que facilitaria a Solugio He dificuldades que impedem, atualmente, 0 contrato de es pecialistas estrangeiros e a retengio de jovens com vocagio cient fica comprovvel. Qual seria, porém, a viabilidade de medidas désse género?_ Em face do cas0 em'aptéso, @ evidente: 1.) que a.Universidade de Sto Paulo ‘no. dispoe de recursos financeiros para pO-las em pritica © Frantélas com eficiéncia; 2.*) cla esti longe de contar com meios dequados para enfrentar ¢ remover os entraves. politicos, burocri; fico e legals, que se opdem 4 renovagio da organizacio estratural f fancional dos servigos de ensino ¢ de pesquisa; 3.2) medidas des Sedem encoitram fraco apoio fora dos circolos universitirios Crelarecidos, seja porque agitam interésses contradit6rios nas ‘cama- Gas ou grupos sociais dominantes, seja porque sio mal interpretadss, pelos gastos que podem acarretar. Como sistema insttucions), universidade em que feria feagir mais ou menos prontamen- te a exigincias do meio social inclusivo. Mas, de fato, possui limita: das resetvas interoas para conduzir a seus limit ites extremos certas al- (eikcoes que, apesar de recomendivels, esto sujeltas a avaliasies discrepantes. Parecenos que o exemplo escolhido tem o mérito de compro- var as explanacoes de cariter geral, feitas acima, e de sugerit, con: Teramente, em que sentido as limitagies insitucionais estio restrin- findo o desenvolvimento das ciéncias socais no Brasil, Poderseis 208 FLORESTAN FERNANDES alegar que 0 exemplo € pouco representative, em virtude da situacio do casino walverstcio tm outmas rogides do. pals. —Contudo, mes mo sob se ponto de vista a escolha € boa, pois a Universidade de Sio Paulo ilustraria as possibilidades de uma instituigio universi- tiria brasileira na qual 0 casino ¢ a pesquisa, no campo das cién cias sociais, aleancaram condigbes para um desenvolvimento autdnomo. £ dlaro que as limitagSes indicadas s6 podem ser cottigidas pelos efeitos diretos ou indiretos da transformacio do meio social inclusivo, Se a procura de pessoal qualificado, com formagio universitiria, au. mentar de forma continua, e se os problemas emergentes na vida co tidiana — na esfera da organizagio econdmica, politica e adminis: trativa — passarem 2 exigir, em escala crescente, novas técnicas de intervengio na realidade, € presumivel que dois tipos de influén- cias convergentes irio concorrer para precipitar a renovacio. do sistema universitirio brasileiro: as pressées externas, nascidas da necessidade de pessoal, de servigos € de conhecimentos especializa dos; e a mudanca de mentalidade nos proprios circulos universiti- rios, nos quais ainda prevalece a antiga concepcio juridica de tratamen to dos problemas sociais e de manipulacio pritica das instituicées. Como vimos em outra parte déste artigo, as presses externas se fazem sentir com certa intensidade, contribuindo para projetar diferentes tipos de interésses priticos em térno das ciéncias sociais. Quanto. i mentalidade que. preside ao” tatamento dos. problemas universitrios, € preciso atentar para duas coisas: o habito de lidar com 0 ensino superior como se éle fésse um todo estivel € de acdr- do com critérios juridicos vem de longe, o que faz déle um elemento central no horizonte intelectual de muitos educadores brasileizos; além disso, 0 referido hibito & beneficiado pelo prestigio e pela efi ciéncia que possuiu no passado, na época em que o ensino superior Imig atscdia a ascemideles sovisis relacvameate) invactvely vincaladas & formagio e A renovacio das elites intelectuais das madas dirigentes. Entretanto, parece que poueas condi 1a favorecer, atualmente, a perpetuagio daquela mentali mo nos citculos universitérios menos interessados nas relagies da estrutura © das funcées do sistema universitirio com as necessidades novas do meio social surgiram preocupagies pertinentes i expansio da pesquisa cientifica junto as cadeiras, departamentos ow servi- gos da Universidade de Sio Paulo, Portanto, é provivel que a organizacio interna das institui dedicadas 20’ ensino © i pesquisa no campo das ciéncias sociais se transforme com certa regularidade e rapidez. Enquanto isso no ccorrer, virios obsticulos a0 desenvolvimento da pesquisa sociolé- gica, inerentes & incapacidade daquelas instituigdes de assegurar co jentes a0 trabalho cientifico planejado, continuarao operar de forma obsteutiva ou contraproduceate Cariruto V © PADRAO DE TRABALHO CIENTIFICO DOS SOCIGLOGOS BRASILEIROS “ I — INTRODUGAO © padréo de trabalho intelectual, explorado nos diversos ramos da investigacio cientifica, € determinado, formalmente, 4 valores ¢ ideais do saber cientifico. Contudo, as condicées materiais € morais do meio social ambiente refletem-se, de varias manciras, nas possibilidades de organizacio e de expansio das instituigSes de’ pes quisa cientifica. Os proprios cientistas assimilam e defendem, de for- mas também variiveis, as preocupacées que traduzem as expectativas dos leigos a respeito das aplicagées e das fung5es do conhecimento cientifico na vida pritica, No presente trabalho, tentamos examinar, sucintamente, alguns aspectos mais importantes dessa interacio entre a cigncia e a sociedade, tendo em vista a situacio da investigacio so- ciolégiea no Brasil. II — REFLEXOS DA SITUAGAO SOCIAL NA ORGANIZACAO DO TRABALHO CIENTIFICO Os estudiosos da cigncia costumam encari-la através de entidades intelectuais abstratas. Assim, fala-se na ciéncia como forma de saber positive, que envolve certa atitude intelectual diante da realidade, Aeterminados procedimentos de obtengio, verificasio e sistematizasio do conhecimento, ¢ uma concepcio definida do mundo © da posicio do homem dentro déle. __ Essa maneira de ver as coisas é naturalmente, legitima neces- ‘nos mostra 0 cientista como particizante de um cosmos cultural aut6nomo, 0 qual possui_ normas e walcres préprios, capazes Ge promover a ctdesiao iar Charen ‘avileder ieee) de cunho cientifico, Déste angulo, o conjunto de instituigSes, que forma © “sistema cientifico”, pode ser entendido, etnoldgicamente, como uma Trek pba, piven, we cleo Banfor Soe,» Pullen, 3. Edin ds ‘yg haa i" Brndor Poesy elo Hortons, Uniatade de Minas “Gv

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