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A IMPORTÂNCIA DAS COTAS NA PÓS-GRADUAÇÃO

UMA REFLEXÃO SOBRE QUAL É O “PERFIL” DO ESTUDANTE LATO E STRICTO SENSO

Mariana Cristina da Silva Gomes


(Mestranda em Geografia na FCT-UNESP)
Guilherme dos Santos Claudino
(Doutorando em Geografia na FCT-UNESP)

Um resumo da história do Brasil deveria ocorrer em todas as análises que tivessem como
proposta uma mudança justa e igualitária nas reverberações passadas e que até hoje se
desdobram nos diferentes contextos da vida no cotidiano brasileiro. As cotas – raciais,
indígenas, sociais e para portadores de alguma deficiência – passaram a fazer parte de diversas
instancias do serviço público do Estado Brasileiro. Suas reverberações, notadamente positivas,
ainda causam calorosos debates no universo acadêmico. A pós-graduação, neste sentido, precisa
estabelecer um diálogo com o que entendemos por ações afirmativas.
O léxico e a genealogia da palavra Universidade parecem não incorporar seu sentido
originário. O universo que deveria estar presente em seu núcleo como princípio fundamental
quebra-se ao aderir apenas a determinados aspectos, que não aqueles que abraçam a totalidade
dos povos e, assim, que anima a própria vida humana, isto é, a diversidade e a coexistência com
a diferença. Também assim o é com o que chamamos de pós-graduação no Brasil. Esta
instituição, cujo papel é incorporar a função de local e âmbito da produção do conhecimento
científico, deixa de lado o potencial de universo com a pouca aderência - às vezes nula - das
ações afirmativas.
Uma mudança significativa no ensino superior e no perfil dos estudantes se iniciou em
2003, momento que programas sociais de acesso ao ensino superior foram implementados, entre
eles o Programa de Universidade para Todos (PROUNI), a flexibilização do Fundo de
Financiamento Estudantil (FIES) para classes médias e a Restruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI), bem como o estabelecimento de um sistema único de acesso
as instituições federais a partir do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) via o Sistema de
Seleção Unificada (SISU). Mesmo com todo esse incentivo -, construção de novas instituições
e a popularização das já existentes, podemos observar (o que ainda grita aos olhos) a falta de
alunos afrodescendentes dentro dessas instituições, sobretudo no conjunto das pós-graduações
distribuídas pelo território brasileiro, como representado na tabela 1, através de dados colhidos
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Ainda que os dados sejam referentes ao ano de 2010, eles revelam o perfil da pós-
graduação brasileira e, sobretudo, dos sujeitos que nela produzem conhecimento. Esses
flagrantes reclamam uma política de cotas efetiva, que perpasse os cursos de graduação
mirando, portanto, as pós-graduações.

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