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Paulo Henrique Borges da Rocha José Luiz Quadros de Magalhaes Patricia Miranda Pereira de Oliveira Hustragio por Vinicius Bonfim Decolonialidade 4 partir do Brasil re eee VOLUME II DIALETICA Digitalizada com CamScanner “” Copyright © 2020 by Editora Dialética Ltda. . ique Borges da Rocha, Josg It © 2020 by Paulo Henrique José Luiz on Magalhites ¢ Patricia Miranda Pereira de Oliveigg, tS de Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edigdo pode ser utilizada oy Feproduzia em qualquer meio ou forma, seja mecanico oy eletrénico, id fotocépia, gravacdo etc. ~ nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorizagao da editora Capa: Natalia Sayuri Lara Ilustracao: Vinicius Bonfim Diagramagao: Natalia Sayuri Lara Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagao (CIP) Bibliotecdria: Mariana Brandao Silva CRB-1/3150 R672d_— Rocha, Paulo Hentique Borges da, Decolonialidade a partir do Brasil / Paulo Henrique Borges da Rocha, José Luiz Quadros de Mogalhtes, Patricia Miranda Pereira de Oliveira. ~ 1. ed, ~ Belo Horizonte: Editora Dialética, 2020, 360 p. = (Coletdnea; v, 11) Inclui bibliografia, ISBN 978-65-5877-005.3, 1. Decolonialidade ~ Brasil, 2, Modemidade. 3. Sistemas Sociais, 1. Rocha, Paulo Henrique Borges da. Il. Magalhites, José Late Quadros de. II. Oliveira, Patricia Miranda Perera de IV. Titulo. V. Série, CDD 300 CDU 316.3(81) Bo DIALETICA EDITORA veditoradialetica Q@ecitoradiatetica www.editoradialetica.com Digitalizada com CamScanner 2 Decolonialidade e 0 ensino de inglés como Le/L2 Karla Marcondes Sacilotto Silva‘ Neuda Alves do Lago® 1. Introdugao Sempre que a diferenga colonial nao éfocalizada, 0 ensina correo rsco de se tornar parte do problema, em vez da solugio. (AMAN, 2018, p. 81)" Este capitulo visa demonstrar algumas das maneiras pelas quais as teorias decoloniais se aplicam ao ensino da lingua inglesa como LE/L2° apresentar uma proposta pedagégica pautada na perspectiva decolonial. Ensinar uma lingua nunca é simplesmente ensinar uma lingua. Além de to- dos os elementos estruturais envolvidos, como o ambiente de aprendizado os recursos didaticos adotados, hd uma série de outros fatores nao tio vi- siveis que esto envolvidos no processo, como a(s) identidade(s) ¢ historia de vida dos participantes, bem como a trajetoria do idioma, as abordagens 4 Professora de Lingua Inglesa, Especialista em Ensino de Linguas Estrangeiras ¢ Mestranda no PPGLL da UFG, 5 Professora Doutora da Faculdade de Letras/UFG, Goiinia, Traducio nossa para: “Whenever the colonial difference is not Kept in view, tea ching risks becoming part ofthe problem, rather than the solution.” LE/L2. Os termos Lingua Estrangeira (LE) e Segunda Lingua (L2) sio usados nes- se capitulo para se referirem a aprendizagem de qualquer lingua nio materna, nio havendo aqui distingao de sentidos, embora diversos autores defendam as divergéncias de significados entre eles. Digitalizada com CamScanner Qade Magalies | Patri José Luiz 2 rong uetlo Henrique Beda Kock! repadas para seu ensino € os objetivos almejados, o aap Ge } inglés tem dominado as salas de aula de j gua franca, nia do norte global. Para propagagao da hegemo' no comunicagdo € como cultura sao manifest Nyy aig alingua e 0 modo de usi-la subjugag SF: ie de alse, Tal compreensio forma necessrio repeng lingua inglesa como LE/L2, sob o enfoque da decolonialidade, Com a implantagao da escola colonial, 0 inglés pag, ling oficial da educasdo formal, todas as outrastiveram gt © mnetera ela (THIONGO, 1981, p.11).O idioma tem sido majong’ te estudado como fim em si mesmo ~ o idioma pelo idion desconsderatragos histricos, ideoldgicos e culturais que se nin com ele, por séculosa fio. O foco do estudo da lingua normale sobre sua gramiética, vocabuldrios, expressGes e proniinciaendoss em mente o pais eleito modelo padrao para o ensino; o que Normalmers, varia entre o chamado inglés americano, ou seja, pertencente aos fe. Unidos da América, ¢ 0 inglés Briténico, aquele que é da Inglaters = cando dezenas de outros povos e nagdes cuja lingua oficial & o ingle, dos livros diditticos, das salas de aula e, portanto, do conhecimento alunos/as. Entretanto, uma lingua nao é definida, estanque ou perten. cente a um povo, uma cultura ou uma nagao. ‘Uma’ lingua nio express ‘uma’ cultura, assim como ‘uma’ cultura nao € definida por ‘ume liu, A lingua ¢ fluida, toma forma e ¢ ressignificada a partir de cada fala Por ser “parte integral da cultura, da sociedade e da psique” (RISAGER 2006, p.3), a lingua deve ser vista e estudada por varias perspectivas, po fazem parte do nosso mundo de comunicacio e interagao. Asala de aula é uma rede social onde varias histdrias de vida ste contram, e cada ator social é provido de recursos e repertérios linguistces? culturais prdprios. Professores/as e alunos/as trazem consigo suas langu* tures’ que, por meio dos fluxos linguisticos e dos fluxos culturais comp Ihados, podem ser transformadas, pois, ao aprenderem uma LE/L2, ae Outras redes linguisticas que podem ser combinadas com aquelasnasq) Participam (RISAGER, 2006, p. 92). Tentar homogeneizar 0 ensinds ling a cultura é desconsiderar as varias languacultures e os fluxos linguistic para a 15), lingua como ais, portanto definir ———_ 8 Tradugio nossa para: “Integral part of culture and society and of the PS 9 Definigio de Languaculture: Languaculture € um termo criado por Mit on Pes autora para explicar que lingua mio se trata somente de tN yt Kim abarca a histria de vida pessoal, sociale cultural. Assim sero. TY tuma languaculture que pode fhur por caminhos diversos (RISAGER: 2006? Digitalizada com CamScanner Deculonialidedte a partir de brasil culturais existentes, ¢ crer em uma estrutura acabada do idioma a ser ensi nado a alunos/as que possuem as mesmas habilidades cognitivas, as mesmas necessidades e 08 mesmos objetivos. Dar liberdade para que as languacultu- resdos alunos fluam em sala de aula é nao somente reconhecer sua pessoali- dade e individualidade como tornar a aula mais significativa e mais proxima da realidade dos/as alunos/as. E papel do/a professor/a reconhecer como a lingua e 0 ensino de LE/L2 tém sido impostos por meio de um padrio oriun- do do norte global, e permitir que fluxos linguisticos e culturais oriundos de outros povos ¢ nagées fluam nas aulas e transformem as languacultures tanto dos docentes quanto dos discentes. £ preciso decolonizar a estrutura ocidentalizada de ensino por questionar as relagdes de poder e problematizar questdes sociais proximas aos/as alunos/as, além de inserir nas aulas outras vozes antes esquecidas, silenciadas ou mesmo apagadas. O presente capitulo esta dividido em quatro sessdes. A primeira é destinada as teorias que fundamentam uma pedagogia decolonial; a segunda abarca as praticas atuais do ensino de LE/L2, enquanto a ter- ceira apresenta uma proposta didatica decolonial de como romper com tais praticas. A ultima traz algumas consideragoes finais. 2, Algumas teorias Ainda que as abordagens de ensino de uma LE/L2, em especial O inglés, evoluam em termos de métodos, técnicas e ferramentas, as pra- ticas continuam sendo, dominantemente, do mesmo jeito. Para romper com 0 ciclo vicioso do “as coisas sio como sao porque sempre foram as- sim” e “voce precisa aprender inglés para ter mais oportunidades’, autores decoloniais como Kramsch (2019) e Garcia (2019) trazem a superficie a uestao de poder que ha por tras do ensino da lingua, e buscam nao ape- "as problematizar mas também resistir 4 dominagao velada propagada Por meio dela. De acordo com Mignolo e Walsh (2018, p.60), 0 capita- lismo radical de dominagio, opressio e exclusio comeca na educacao, Portanto se ha predominancia de fluxos linguisticos e culturais da lingua inglesa eo silenciamento de outros fluxos, cabe ao/a professor/a inter- “it Para compreender como ofa professor/a pode intervir em suas Pautadofa €m uma perspectiva decolonial, tratamos de alguns cone: ‘e6ricos aqui, bem como suas aplicacées ao contexto da sala de aula, © primeito passo ¢ adquirir conscigncia da colonialidade 3 qual subconscientemente submetidos/as. Nos, professores/as, muitas aulas tos Somos Digitalizada com CamScanner hk 0. de Magli Paulo Henvique B. dea Rocha { doce LnlsQ. de Maguth vezes nos habituamos a reproduzir ensinos em sala de aula sem questi. narmos as ideologias por detris deles, ow ainda indagar suas origens, ¢ i . ento, em que um atleta pega o bast como em uma corrida de rev amento, q! Gas ran aes tio ecorre para alcangar seu tinico objetivo: Pas Tr a . _ pin ba ito competidor, Nao se requer dos corredores que a vn nos to bas. Lio, ou por que o uso de um bastio e nao autre yh een —— i qué suta participagio encerra, assim que entrega oobje Re cnt i le equi. pe. Todas as informagoes mencionadas sio de conhecin 0s criado.. res ow idealizadores do esporte, ¢ certamente possuem uma razao de Ser para cada um dos questionamentos feitos. Aos atletas cabem a preparacig ceatwagio, o que certamente demanda muito esforgo fisico, mas pouco oy quase nenhum conhecimento hist6rico ou te6rico. Com 0 ensino de lin. gua, nao parece ser muito diferente. Salvo excegées, o/a professor/a-alu- no/a recebe o bastio de seu/sua professor/a, se prepara e vai para a sala de aula passar o bastao para aquele/a que um dia podera ocupar seu lugar, A essela professor/a cabe planejar, peparare executar (0 que implica corr. gir eavaliar, é claro), sem muitas vezes se perguntar 0 porqué da estrutura, dos materiais e, principalmente, da lingua. Como nao ha ensino neutro, a ideologia primeira se perpetua até que alguém decida parar, olhar pra tras e questionar, Uma vez que os olhos se abrem e nos tornamos conscientes de que 0 que é reproduzido nas aulas de lingua inglesa é gerado e propa- gado pelo norte global nos tornamos capazes de problematizar, resistir ¢ até refutar tais ensinos, Esse processo de rompermos as amarras com esse conhecimento ocidentalizado e atarmos epistemes outras ao ensino da lingua inglesa em sala de aula € um ato de decolonizacio. Decolonizar é pensar fora da zona de conforto; é transpor os limites; € ctiticar epistemes ocidentais e incluir outros Povos, conhecimentos e cosmo- visGes; é delink de conceitos epistémicos comuns a todas as reas de conhe- cimento estabelecidas no mundo ocidental e pregadas ao resto do mundo; é ver ars narrativas e saberes sio silenciados, quais sio ouvidos e quais sio GRO Resin eee a0 Sul (WALSH, 2018; MIGNOLO, 2018; ee DAU; OLIVEIRA, 2010). &, ainda, ter uma (WALSH, 2018), Na pris decoloniah nie ening Lear © que fazer dentro de sua geopolitica, Em suma,a in de ee shrank € para as instituigdes. 10 O termo delink significa se desligar de algo, descon, eclar, romper ou desvinculare é usado no texto tanto como verbo quanto como substantive, hang eee’ stantivo, indicando aquela agio. Digitalizada com CamScanner Decoloniatidady a partir da Bras! Um conceito normalmente abordado/aplicado em aulas de inglés como LE/L2 com aparéncia de decolonialidade por lidar com discrimi- nagoes de cunho racial é o de interculturalidade. Segundo Candau (2010, p36 ¢ 340) a interculturalidade deve conscientizar o individuo da sua prépria dentidade cultura, além de denunciar manifestagies de discr- minagio racial presentes nas sociedades latino-americanas, e combater a ideologia de mestigagem ¢ da democracia racial. Embora Mignolo ¢ Wal- sh (2018, p- 76) defendam que decolonialidade e interculturalidade sejam conceitos imbricados, ambos se diferem quanto a pratica, pois a intercul- furalidade questiona apenas as diferengas culturais, e nao as relagdes de poder, Portanto, é colonial. termo que melhor cumpre 0 propésito da decolonialidade ¢ interculturalidad, pois, segundo Aman (2018, p. 72), rompe com a colonialidade. A Interculturality surgiu no norte global e re- presenta 0 buen vivir, ou seja, viver bem com todos: pessoas ¢ natureza, pois é visto apenas como o modus operandi para saber sobre e se comuni- car com o Outro e aprender a lidar e conviver com as diferengas culturais, mas ignora seus saberes e suas vozes além de nio questionar as relagoes de poder (AMAN, 2018). Jaa interculturalidad é oriunda do Sul e questiona as diferengas coloniais, pois visa problematizar, questionar hegemonias e ins- tigarreflexao, além de dar vez.e voz & minoria, sendo, portanto, decolonial. ‘Além das diferengas culturais/raciais e coloniais, cada individuo possui uma languaculture. Embora o termo languaculture lembre lingua + cultura, ndo se restringe a esses dois eventos, embora os englobe. Al- gumas teorias defendem que lingua e cultura sao imbricadas e nunca se separam. Entretanto, Risager (2006, p. 2) defende que lingua e cultura podem se separar em certos aspectos. A autora (2006, p. 3) apresenta dois niveis em que lingua e cultura se relacionam: o nivel diferencial ¢ 0 gené- rico. No nivel diferencial, lingua e cultura se separam, pois ha varias lin- guas e varios fendmenos culturais; no genérico, lingua e cultura so fend- menos comuns a toda a humanidade, portanto indissocidveis. Tomando o nivel diferencial, fica latente o fato de que, apesar de compartilhar, por vezes, linguas semelhantes, cada individuo comporta culturas advindas de historias e experiéncias particulares, ou seja, sua propria languacultu- re. Assim sendo, “a lingua nunca ¢ languaculturalmente neutra’"!, pois os recursos linguisticos/languaculturais e discursivos ndo podem ser sepa rados da vida do sujeito como um todo (RISAGER, 2006, p. 123). — 11 Tradugdo nossa para: “A language is never languaculturally neutral” ry Digitalizada com CamScanner SUG Como mencionamos, uma lingua nio esté para uma cultura, como uma cultura nao esté para uma lingua, e nao hé ligacao iret, Pritica linguistca em determinada lingua e sua capacidade de a condicées culturais e sociais especificas, pois os “fluxos linguist wi dem ir a qualquer lugar se ligara qualquer forma de contexto eens? discursive” (RISAGER, 2006, p. 167). Segundo a autora (2006, yn etéfora do fluxo permite considerar ‘Tingua fluxos linguistien, pee» @ ra flaxs cultura, come pris que se espraiam por dversen can t™ Por causa da interagdo humana em redes sociais, Enquanto os fluxos lin guisticos lidam com a fludez da Kingua, embora nao sejam as linguse Aluem, mas as vria interlinguas - iioleto proprio que uma pessoa pecs da lingua alvo -, 0s luxos culturais passam de pessoa para pessoa e conn, buem com a produgao e reproducio tanto do sistema social quanto de uma Pessoa como individuo e ser social que se transforma constantemente ng processo de externalizacao e interpretagio (RISAGER, 2006, p.71). As languacultures nao sao estaticas ou permanentes. A cada re. lacionamento, aprendizagem e experiéncia, a languaculture de alguém ¢ transformada, pois novas informagées sio agregadas. Risager (2006) afir- ma que quando potenciais languaculturas se misturam com as Tangua- culturas de outras linguas elas mudam durante o processo por cultivar 9 significado de palavras que jé existem e de outras novas. Quando o/a pro- fessor/a de LE/L2 lida coma sala de aula por uma perspectiva decolonial, ha maiores oportunidades de que a languaculture de cada aluno/a fluae seja impactada pela demais Janguacultures, o que certamente enriquece nao apenas a aula, mas sua propria languaculture. Uma vez conscientes da colonialidade incutida no ensino da lingua e dispostos a expd-la e questiond-la, compreender e permitir que fluxos linguisticos languacul- turais acontegam nas aulas em vez de utopicamente exigir ou esperar que todos reproduzam uma mesma lingua padrao desprovida de nuances e de historia contribui com a decolonizagio do ensino. Partindo dessa compreensao, quatro questdes devem ser focalizadas para se engajar em uma pedagogia decolonial em sala de aula: I) olhar deco- lonial sobre as praticas e teorias; II) olhar decolonial sobre as demarcagées € pesquisas em aquisi¢ao de segunda lingua (ASL); III) olhar decolonial sobre co conceito de lingua e sua compartimentalizacao; e IV) olhar decolonial so- bre o uso da lingua eo papel do aluno. Kramsch, Ortega, Garcia e Penny: cook, respectivamente, so seminais para desenvolver cada item supracitado. 12 Tradugdo nossa para: “Linguistic flows can go anywhere and link up with any form of context and discursive content. ” 50 Digitalizada com CamScanner Decolonialidade a partir do brasil 3. Olhar decolonial sobre as praticas e teorias ‘As teorias sobre sala de aula sio produtos culturais e podem ser co- Joniais, portanto ¢ importante que seja adotado um olhar decolonial meta- cognitivo sobre as praticas ¢ teorias. Kramsch (2019), partindo do contexto situado na Alemanha, apresenta trés questionamentos quanto a sala de aula, de uma perspectiva decolonial, que podem ser aplicados na realidade brasi- leira, O primeiro diz respeito a delink (desconectar) das praticas ¢ teorias da globalizagio em sala de aula, em que a autora indaga sobre o uso da tecno- logia como resposta; 0 segundo questiona a criagdo da sala de aula, o livro didético em que todos possuem o mesmo estilo de vida e o inglés como uma lingua a-hist6rica, franca, neutra; enquanto o terceiro questiona o que de fato écompeténcia intercultural e se existe uma moral decolonial por tras. O ensino de lingua estrangeira (ELE) abarca a globalizacao. Se- gundo Kramsch (2019, p. 50), a mercantilizacio da educagao e a instru- mentalizacao da lingua estrangeira (LE) existem para suprir as necessida- des dos alunos, e deveria contribuir com as relagdes econdmicas e sociais entre pessoas de culturas diferentes. Houve avancos em pesquisas na area de ensino e aprendizagem de lingua estrangeira que expandiram a glo- balizagio e levaram & implementacao da tecnologia em sala de aula, pois permitiriam ao aluno exposigdo a materiais auténticos, os colocaria em contato com a variagdo padrao e a nao padrao, além de encorajé-los a comunicar com nativos e com aprendizes de outros lugares (ibid.: p.52). Entretanto, para a autora, tal crenga ¢ ingénua, pois “a aprendizagem de lingua assistida por computador serve para individualizar o aprendizado conforme interesses, estilos, preferéncias de modalidade e disponibilidade de agenda do aprendiz”® (KRAMSCH, 2019, p. 53), que como um ‘aves- truz’ coloca a cabega na terra para ndo enxergar a realidade, Em decorrén- cia da globalizacio, o ensino de outros idiomas mirrou ¢ o inglés passou a ser quase a iinica lingua ensinada nas escolas em paises cuja LI nio é 0 inglés, o que propagou em ainda mais larga escala a lingua imposta pelos colonizadores aos paises colonizados (THIONG'0,1981). Como relatado Por Kramsch (2019, P. 52), 0 inglés como ‘lingua franca’ fez do ensino do a hecessario porém mais controverso, pois ainda que permita radigna cli membro de uma comunidade de fala quer seja pelo pa- ico, viabilizando acesso a uma cultura mais elevada; quer seja B ‘i Taduto ‘ossa para: “Computer-aided language learning technology serves to in- 'vidualize learning according to learner's interests, learning styles, modality prefe Fences, and schedule availability” : on Digitalizada com CamScanner 1 de Magulhies | Patricia Miranda Pde Oj paulo Henrique Beda ttocka 1J0s6 icing sidade no ensino: LE, L2, LH (heranca), lingua para fins académicos, negocios ¢ prafissionas nio écolaborativg aaaee rr yaluoa pensar em sociedadealém de cPergs 10 como us, abstrato que paira no mundo neutro, pasteurizado € criado do idioma, foco esti no hoje e no agora, tanto online quanto cm sums individuajg face a face, a aprendizagem é baseada cm tarefas, cm rien ene: nho etc., portanto menosprezi historia ea ears Ie oe identidade nacional. Portanto, a globalizagio confirma ainda mais a co lonialidade, Je uma cultura sobre outras, por isso ¢ im. juperioridade de uma Lingua e de uma cultur ors i? iticas e teorias oriundas da globalizagao e que ortante se desligar das pra i lizagioe defendem que o uso da tecnologia seria a resposta para unir € viabilizar portunidades para pessoas de diversos lugares, ragas € linguas porque a tecnologia em sala de aula na decoloniza, pois € um produto cultural e é tao colonial quanto qualquer outra ferramenta (KRAMSCH, 2019, p. 52), Uma pedagogia decolonial requer também questionar a criagio da sala de aula, o material didatico ea lingua inglesa. A sala de aula, uma esfera monolingue e cheia de regras quanto 4 forma correta de falar deve passar a compreender um contexto multilingual, cujo objetivo é legitimar a lingua que 0 aluno traz para a sala de aula e permiti-lo alternar e mistu- rar idiomas, ou seja, fazer usa da translanguage ou translinguagem, pratica comum entre pessoas bilingues que revela as identidades fluidas que estao sendo construidas, além de representar uma forma de resisténcia a or- dem colonial dominante (KRAMSCH, 2019, p. 56). A autora (2019, p. 54) também defende adotar uma visio pés-estruturalista, uma perspectiva decolonial quanto ao material didatico e propée a desinstitucionalizagio do ELE, a diversificagao das fontes de conhecimento oriundo dos livros didaticos e propde dar voz e vez.a autores que nao fazem parte do cinone classico, vozes oriundas da periferia colonial (mulheres, negros, latinos...) e das minorias que representam o falante nao ideal (homem americano branco heterossexual). Os livros didaticos produzidos pelo norte global e adotados nos mais diversos lugares do mundo dotados das mais diversas culturas normalmente retrata uma familia branca tradicional (um pai, uma mie, um filho e uma filha) de classe média que possui uma linda casa, viagens incriveis e uma vida tranquila e feliz, portanto perfeita ¢ desejavel ou até mesmo invejavel. Longe de ser a realidade da maioria esmagadora das pessoas que manuseiam tais materiais, esse retrato, além de constranger a quem cuja vida nem de longe se assemelha a esta, ou inci outro 2 ee a realidade seu objetivo de vida, express ‘a de decolonizar os contetidos propagados ¢ in- pelo moderno, propiciando di 52 5 Digitalizada com CamScanner Decal tialidade a partir d do Bras cuir outras vidas, historias e culturas que realmente compdem o cenério real global, o que pode gerar no discente um sentimento de epertenca além de promover consciéncia da diversidade e, tribuir com a diminui¢ao do preconceito. Decolonialidad duzir 0 norte global. O globalismo neocolonial defende que tudo 0 que é bom pro norte global ¢ bom para o resto do mundo, Pois representa a voz de pessoas reais em um mundo real, além de ser sensivel as diferencas culturais, entretanto, é preciso dar yoz ao Sul global e empreender um olhar decolonial sobre o conhecimento produzido e publicado na lingua do, e pelo norte global e suas geopoliticas de conhecimento (KRAMSCH, 2019, p. 59 € 62). Por fim, Kramsch (2019, p. 54 e 55) defende adotar um olhar decolonial para enxergar 0 passado colonial do idioma, uma vez que as linguas ensinadas, bem como suas gramiticas e dicionérios, refor- am o poder da elite dominante e silenciam ou eliminam todas as outras faladas entre os menos letrados, e propée inverter seu papel, de objeto de estudo para ferramenta a mediar outras atividades entre comunidades de pratica, Para tanto, a autora (2019) propée duas viradas, a virada social que considera o aspecto social da lingua ea virada multilingual que visa “desinventar” as barreiras entre as linguas criadas por missionarios, revo- lucionarios ou reformadores e “revitalizar” as linguas adormecidas. Em suma, decolonizar ELE requer “questionar as nogdes adquiridas de uma lingua ou de outra, reconstruir seus significados histéricos e engajar com teorias produzidas em outros locais sem julgd-las menos progressivas, menos relevantes ou menos importantes que aquelas produzidas pelo centro anglo-americano”* (KRAMSCH, 2019, p. 66). Retomamos aqui a interculturalidade, brevemente, para concluir o terceito questionamento de Kramsch. Para a autora (2019, p. 53), 0 ensino de linguas tem se interessado na abordagem intercultural bem como nas cinco competéncias interculturais de Byram'* com o fim de ensinar a/os alunos/as asaber sobre o Outro e sobre como lidar com esse Outro em termos de dife- Tengas culturais, 0 que serve aos propésitos da globalizagio com uma agenda ‘moral e politica. Assim sendo, por problematizar apenas as questdes culturais —__ M4 Tradusio nossa para: “To question notions taken from one language into another, reconstruct their historical meanings, and engage with other theories produced el- sewhere without judging them less progressive, less relevant, or ess important than those produced in the Anglo-American center’ identificagao Portanto, con- le é nao repro- 0: 1, Savoir comprende | ntos: 3. Savoir AAs cinco competéncias interculturais, segundo Byram, si habilidades de interpretagio e relacionamento; 2. Savoirs /conhe conscidncia critica cultural; 4. Savoir tre atitudes (savoir étreh 8. Sat are | fire Phabilidades de descoberta e interagio. soir appre Digitalizada com CamScanner Mivane, raulo Henigne Bde Rocha | dass LuizQ.de Magathtes | Patric , boy ¢ nio questionarasrelagdes de poser ni existiria moral decotonial Ostrés questionamentos apresentados por Kramsch ressalt ne tess © ensino da lingua, por meio de suas praticas e teorias, corroboram om permanéncia e propagagio do pensamento colonial ocidental. E, com, os anteriormente, pesquisas em ASL foram impulsionadas pela mecesidade aprimorar a comunicagao entre povos oriundos de diferentes culturas va le vistas a beneficiar relagdes econdmicas e sociais. Destarte, também se tome crucial adotar um olhar decolonial sobre as pesquisas em ASL ¢ as demarca, nduz ao segundo ponto a ser discutido, goes da lingua, 0 que nos co 2.2, Olhar decolonial sobre as demarcagées e pesquisas em ASL [As pesquisas em ASL tém sido realizadas quase que exclusiva. mente pela area da linguistica e focado, majoritariamente, na aquisicio da lingua por nao nativos, comparando-os & aquisicao da L1 por criangas nativas, embora novas pesquisas tenham refutado essa compara¢do por considerar intimeras varidveis como idade, tempo de aprendizado etc, Tomar a lingua de determinado local como padrao ou seu falante como ideal para explicar como uma pessoa aprende uma LE/L2 ignora o fato de que a lingua nao é um produto pronto a ser reproduzido, e de que as formas como o aprendizado ocorre transcendem fronteiras. A aborda- gem transdisciplinar oferece uma lente valiosa para avaliar 0 progresso disciplinar em ASL, pois, segundo Ortega (2019, p. 112), além de encon- trar necessidades atuais complexas que sejam titeis para a sociedade, essa abordagem permite que as ciéncias humanas trabalhem junto com outras ciéncias, e une a escola e a comunidade para a solugdo de problemas. Decolonizar a pritica pedagdgica do ensino de inglés significa, tam- bém, desconstruir pesquisas nesse ambito por compreender o Papel da ASL no estudo da ontogenia da lingua (ORTEGA, 2019). Para promover uma reorientagio disciplinar, Ortega (2019) apresenta trés teorias: 1) a fikicia comparativa de Bley-Vroman (1983); 11) a perspectiva do desvio do flyo de Klein (1998); € II) 0 multilingualismo de Cook (1992). A falicia comparativa defende que nio se deve comparar a ASL por um nio nativo com falantes nativos monolingues, e sugere que se observe a lingua do aprendiz por mnesina, A perspectiva do desvio do avo credita a culpa da falta de intorya da ASL em outras ciéncias, por investigar 0 objeto errado, e critica g Se & ° tia de uma lingua real ea idea de que a do aprendiz€uma versio defies desta. Klein sugere que em vez de pesquisar “onde” "por que". capaci) ade Digitalizada com CamScanner humana nao. funciona sob algumas circunstanci da L2 como principios que podem rege stancias, GA, 2019, p. 122). Por fm,'o multiivea ten quanto ao objeto de pesquisa, aos cee ae Propoe uma reformulacao monolingues e bilingues sio diferentes, Cook morta er SAS oss semelhana e diferengas entcenativs eno natine messes gqueétinicoaose aprender uma inguatardiamene (itt bGe see” A virada social deu inicio uma dvesiae pee mens6es sociais foram inseridas no centro das pesquis epistemolégica, e di. nigio, gramatica, interago, aprendlzado e identidede (KRAMSCH Dare agian Tear etorcos para se Geligaren da eisten Egle cee tat pou ry i gias positivistas, quantita tivas, cognitivas dominantes no campo da ASL, e 0 foco foi redirecionado eee individuo, em ver de para o universal eos grupos. do sugiu uma nova abordager de ensno, 0 pensimentoba- seado-no-uso” com a inclusio de vérias teorias & ASL, entre elas, novos focos de investigacdo em decorréncia da ampliagio dos contextos, e populacdes investigadas por pesquisadores nessa drea: aprendizes da lingua de heranga, missiondrios servindo fora do pais, minoria em idade escolar etc. Provavelmente, a reestruturagdo mais profunda para a ASL seja uma virada bi/multilingual, por representar um renovo dos objetivo dis- eficios de estudar o bi/multilingualismo e 0 aliza importantes conexGes transdisciplina- we (ORTEGA, 2019, p. 123). Para Ortega (2019, p. 117) adotar um olhar Gecolonial requer que, mesmo que se investiguea ASL por adultos compa ieee os com uma crianca aprendendo sua L1, que também se observe a aquisiggo bilingue de LI desde o nascimento, pois segundo a autora (2019, p. 124), assim como toda mente humana é preparada para adquirir uma L1, ela também é preparada para adquirir duas L1s. Portanto, 0 objeto de estu- do da ontogenia da lingua pelas ciéncas da lingua deveriaser8 hipotese de que a faculdade humana da linguagem ¢ potencialmente bi/multilingual e que provavelmente perpassa todas as fases da yida do ser humano. Beeraer decolonizar as pesquisas em ASL ¢ suas deme ¢ées implica envolver reas outras de conhecimento no estudo da onto- genia da lingua, e adotar como objeto de estudo 2 quantidade de ings © tempo de aprendizado. Por conseguinte, ssirio também decolonizar 0 conceito de lingua ¢ 05 compartin que se usem as evidencias ‘oltada as linguas (ORTE. ciplinares e aproveitar os ben aprendizado tardio enquanto re faz-se nece! mentos que a compoem. Digitalizada com CamScanner 2.3. Olhar decolonial sobre 0 conceito de lingua Ae compartimentalizagao a Com as viradas e os novos construtos, a lingua Passou a Sey partimentada e ter varios objetos de eoncee come Se houvesse ut t ticdo correspondente a cada situago Fequerid lingua de heranga ( a LI tardia, L2, entre outras demarcagées (ORTEGA, 2019, Pld i, ‘ais compartimentos constrangem os aprendizes a se encaixaremy een deles, para que seja possivel defini como a aprendizagem oconrea iss0 nao ocorra, o/a aluno/a vagueia em um limbo. Garcia (2019, ag, propée, entio, um olhar decolonial sobre o conceito de lingua ¢ Sua com, partimentalizagao, pois lingua é 0 que os falantes produzem, Tio 0 g,, estados-nagdes legitimam ou escolas ensinam em compartimentos Lin. gua nativa (LN), ensino de lingua estrangeira (ELE), ensino da lingua de heranga (ELH), ensino bi/multilingual (EB/ML). Quem estabeleceu os parametros para definir 0 que é e 0 que nig é uma lingua? Embora a maioria das Pessoas nao se questione a Tespeito do conceito de lingua, é certo dizer que sua definicao foi criada Por alguém, em algum lugar. O conceito de linguas auténomas, nomeadas, é uma criagio social externa, em que a elite impde uma maneira de usar a lingua que reflita suas préprias praticas e exclui a dos que foram conquistados, Pois “as ideolo- gias acerca da superioridade das linguas nomeadas foram usadas como ferra. mentas racistas para excluir e para oprimir'® (GARCIA, 2019, p. 152. 158). Entretanto, antes mesmo de haver qualquer explicagao do que vem a ser uma lingua, a mesma sempre existiu e fluiu, conforme as Pessoas se moviam e se comunicavam, Decolonizar esté em compreender que as linguas europeias nomeadas so construgdes dos estados-nagdes que nao hé fronteiras lin- Suisticas; as linguas sao fluidas, partem das Pessoas, nao do sistema. A compartimentalizacio construida pelos estados-nages ¢ Suas escolas existe para controlar o acesso dos alunos as oportunidades e domina-los, além de consolidar 0 poder e criar ‘sujeitos’ governdveis (GARCIA, 2019, p. 152 ¢ 159). Para que o ensino ocorra em um ambiente seccionado, é necessirio que o aprendiz se identifique com o tipo de en- sino ali alocado e se amolde aquela forma, Por exemplo, se aprende inglés como LH, entdo deve agir conforme o esperado pelo programa; se come 12, deve preencher outros Tequisitos. O grande problema & que mio ¢ assim que as coisas funcionam no mundo ‘real. Com o crescente ntimero —___ 16 ae aaa ideologies about the Is to exclude and oppres superiority of named Langusg’s 56 Digitalizada com CamScanner de imigracdes, familias formadas com pe Fi além do acesso cada vez mais ficil » et mai: ‘sas origens, por meio da internet, em vez de compartimentec ha va ens esis linguas convivendo umas com a8 outras aug ce en cmranhade de ocasido pede. Garcia (2019, p. 163) prope ae Se expressam segundo a escolares de forma decolonial, e decolonizara idea de ane reen uniformes, fixas e compartimentadase que devemocor econ ee duas instdncias: primeiro, por descompartimentalizar a lingua: L1 iB 12, LH; € segundo, por reconhecer a translingua do individu. - oO fim nao deveria ser 0 estudo da lingua como A, B ou C, mas lan- car mio da lingua como ferramenta para transformacao do individuo e da sociedade, pois, segundo Garcia (2019, p. 162), “o sucesso nas tarefas aca- démicas nao deveria requerer convencées padronizadas da lingua; em vez disso, deveria requerer pensamento, criticismo e criatividade.'” Ao estudar a lingua como meio e nao como fim, os professores nunca devem ignorar variagdes e praticas da lingua, por exemplo, os Latinx (género neutro), pois todas sio igualmente relevantes e devem ter liberdade de fluir. Para des- compartimentalizar 0 ensino de lingua, é necessdrio criar programas que reconhecam o multilingualismo fluido daqueles que nao se encaixam em nenhum dos compartimentos artificiais criados por programas de ensino (GARCIA, 2019), e que deem liberdade de fluidez as translinguas. Como resposta ao colonialismo latente nas salas de aula, a peda- gogia translingual nao insiste em performances monolingues, mas parte das praticas de fala do aprendiz multilingue. Portanto, devolve o poder de lingua ao falante (GARCIA, 2019, p. 162). Essa pedagogia reconhece a capacidade dos que se tornaram minoria linguistica de “produzir” lingua, e representa uma ferramenta para justica social, pois rompe com hierar- quias da lingua e do povo (GARCIA, 2019, p. 164e 165). Segundo a autora (GARCIA, 2019, p. 165), os alunos sao seres humanos dotados de potencial linguistico, recursos méveis, repertorios diversos, flexiveis e praticas flui- das da lingua. Para impulsionar 0 translingualismo do aluno, é necessirio adotar praticas pedagdgicas que aceitem seus repertorios e que discutam as diferengas, assumir um comportamento que reconhega que a pritica do aluno transcende o padrio, criar materiais que integrem praticas da lingua em casa e na escola, além de confiar nos turnos de fala dos participantes. ould not require standardized siticality and creativity jc tasks shi “success in acade Traducio nossa para’ hey should instead requite thinking, sonventions; the Digitalizada com CamScanner José Luiz Q.de Magalies | Patricia Miranda p Paulo Henrique B.da Rocket! | deny Garcia (2019) defende que enxergar a sala de aula sob oe iva decolonial perpassa ressignificar 0 conceito ‘criado’ de lingua pectiva imentaliza-lo. Deve-se tirar 0 foco dos nomes criados come eae os recursos que os/as alunos/as trazem PY Sala de Riseesiisis assim que a translingua de cada um flua no ambien escolar/académico. Por fim, tio importante quanto a Proposta de Garcia édecolonizar o uso da lingua, bem como o papel exercido pelo/a aluno/a, 2.4. Olhar decolonial sobre o uso da lingua eo papel do aluno Nos tépicos anteriores, vimos como enxergar a sala de aula, a5 teorias, as praticas, os materiais, as pesquisas, o conceito de lingua, a lin- gua € os compartimentos por uma perspectiva decolonial. Pennycook (2019), por sua vez, propde um olhar decolonial sobre o uso da lingua e o papel do aluno. Em linha com os autores anteriormente citados, o autor questiona a existéncia da lingua e do aluno c decolonizar a visio do aluno “zero” e enxer; varios recursos, pois, assim como Garcia ‘oMo commodities e sugere 8i-lo como falante provido de (2019), 0 autor reconhece que o ao adentrar uma sala de aula. O rt : ‘ decolonial requer delink da arrogincia do ease coe etimir um olhar S¢ pode falar a lingua de forma neutra, de uma perro, PO" acreditar que ralizivel, universal, assim como deixar deen dee S80 andnima, gene- cultura, politica e de sua histéria colonial PENN Yon ees € separado de Para a decolonizagio do papel do aluno edo an of" 2019, p. 174). apresenta a perspectiva translingual e um ativisme (oo ¢ lingua, 0 autor (PENNYCOOK, 2018, p. 170), € preciso legitin ° translingual. Para ele aluno tae contigo, ea translinguagem permite n¢ aeesimento que o linguas e outros recursos em seu aprendizado, Ele gar? USar diferentes transinguais evitam rétulos demolingusticos «pers nde gue aa cursos ingustios eprticas culturaiscom as quai e™ Ae dn eS Sejam apreciados, além de facilitar 0 uso do que » aha? Po ee a sua vida extraclasse faz parte da sua vida em sale dent autor (PENNYCOOK, 2019, p. 171), 0 Principal foco ie Na soe eNgajar « MSigo, pois S Palay deve ser desenvolver falantes “criticos echeios de rec, {° sing TAs do SUrsos Guy = "euas, ete as “Ahan un 58 Digitalizada com CamScanner Decoloniatidade a Parr do f bom acesso i a.uma variedade de recursos jingu alternar estilos, discursos, ee A 20S, Tegistros ¢ gé COS, que sejam bons desenvolvimento almejem nao somente men rats a lingua em nte mudz puaem autor (2019, p. i ‘anga pes jal”! Fi ( 9, p. 169) sugere ainda repensar a ma Pessoal, mas socal. lingua, bilinguismo e mistura de li aneita como falamo © . Inguas. Para - guismo nao deve ser enxergado como fare mpeeig a ; . s lingui idos socialmente, independentes e separados, mas cor inguisticos constru- linguas providas de recursos que atuam de for mo um conjunto de jai is . rmas diferent sociais e redes di y tes em espacos S discursivas, € que se preocupa com a lingua na vida weaken praticas sociais, discriminacao, acesso a recursos ¢ desigualdade. __ Como aprender inglés é um lerbreteconstante da histria rail colonial nas prticas socks, politica, econbmics da lingua, hoje a sario enxergar as fissuras nas aulas e abordar as relagdes de poder, além de uestionar os mitos que propagamos para que surjam formas de resisténcia (PENNYCOOK, 2019, p. 171). Como o ingles esta embutido na globali- zacao, na economia e na modernizagao, ha uma complexa relacéo entre a lingua e seus usuarios, pois a mesma lingua que oferece oportunidades, cria barreiras e contribui para desigualdades sociais, politicas e econdmi- cas, por ser altamente divistvel (PENNYCOOK, 2019). O autor destaca a importancia de compreender como 0 inglés discrimina, provoca disparida- de e diferencas e, portanto, importa decolonizar e provincializar a lingua. Decolonizar é se comprometer com 0 povo. Pennycook (2019, p. 179) defende que se aborde uma politica que se comprometa com os ‘Commons ~ 0 Povo, € que promova mudanca social por meio do reconhe- cimento transformativo — género, raga: homem/mulher, branco/negro ~ de uma redistribuigao transformativa: mudancas na infraestrutura da eco- nomia de estado. Os Commons representam uma alternativa de resisténcia ao capital (neoliberalismo) cujo foco est no espago-tempo, na formacio éticae na preocupagio com o viver junto que resiste a privatizaga0 eindi- “idualizacao da vida, O autor (2019) defende ser nesta ma ave para garantir que a decolonizagio do ELE inclua praticas ae cio" nais, e propde pensar em termos de conhecimento compar il a a a miitua, trabalho cooperativo € propriedade comum, em vez zack do desempenho, produgso incessanie€ governabilidade neoiber 's sobre ee 18 Tradugio nossa retir ces, access toa range of linguistic resour ' acces 102 range of Fn oge developing angie ft wage Users « "Critical and resourceful language ahve ada des" Critica aT good at siting beeen SY esti : actices aim not just rses, registers and genres, personal but aso social change Digitalizada com CamScanner Que Magathiies | Pa José atricig prado enrique B de foc! . Meda © ycook (2019, p. 180 € 181) defen saéncia a0 ensino de inglés, epensar politica ¢ pedagoyin < snc a ec que 0 inglés uma Tagua Sempre trantinguais © 260 dos de varios recursos. O autor rope que os ane alos do ncliberalismo e adotar um atvisme fe ingles 7 s recursos dos alunos a agoes Ppoliticas que visem decor I oes os (escols) € lingutas (PENNYCOOK, 20109, Pelsleig expos pone estamos inseridos na colonialidade e ssa pos com advcadoras, é de que devemos buscar uma visio decolonh oO lonial panorimico que comega sobre as praticas e teorias ( KRAMscy 2019), a0 questionar epistemes oriundas do norte global e permit, ©. nhecimentos diversos que foram silenciados; perpassa as demarcagies, pesqusts em ASL (ORTEGA, 2019), 20 compreender que o tiico ns rencial ao aprender uma lingua no é uma crianga nativa aprendendo sy, Ll; abarca 0 conceito de lingua e sua compartimentalizacio (GARCIa, 2019), por reconhecer que lingua nomeada é uma criacdo dos estados. -nagBes e que 0s alunos sio dotados de varios recursos linguisticos ei turais que podem, e muito, contribuir com sua aprendizagem; e abrang: uso da lingua e 0 papel do aluno (PENNYCOOK, 2019), uma vez com Preendido que a lingua nao é neutra, mas carregada de ideologias e uz oaluno nao ‘zero, mas um ser translingual. E preciso questionar a ideit comprada de aprendizagem de lingua e abordar questées de poder inc

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