Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FRANCA
2011
Catalogação na fonte – Biblioteca Central da Universidade de franca
CDU – 801:808.51:34
ACIR DE MATOS GOMES
Franca
DEDICO à minha esposa, Juliana, ao meu filho, Gabriel, e
demais familiares que me apoiaram na realização deste sonho.
AGRADECIMENTOS
Toma-se como corpus de análise neste estudo a chamada “Lei Maria da Penha” –
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 –, que cria mecanismos para coibir e prevenir
a violência doméstica e familiar contra a mulher, dispõe sobre a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e estabelece medidas
de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
A lei é ato político que representa a vontade do povo. Considerando que todos
(homem e mulher) são iguais de acordo com o artigo 5.º da Constituição Federal do
Brasil, a escolha do corpus justifica-se por considerarmos relevante o modo como se
concebe institucional, legal e discursivamente a mulher contemporânea em nossa
sociedade: um ser frágil, que necessita de proteção em razão de um posicionamento
machista, ainda vigente na atualidade. A opção pelo referencial teórico da Análise do
Discurso Francesa justifica-se pelo fato de ela investigar o campo dos enunciados a
fim de entender os acontecimentos discursivos que possibilitaram o estabelecimento
e a cristalização de certos sentidos em nossa cultura, considerando ainda o
inconsciente, a história e a ideologia. Os sentidos, por não serem evidentes, abrem
espaço à interpretação do que não é dito, e não se esgotam. Um mesmo enunciado
pode, em diferentes condições de produção, criar efeitos discursivos diversos. O
objetivo geral da pesquisa é averiguar a trajetória discursivo-legislativa da mulher
brasileira e identificar o contexto ideológico de surgimento da “Lei Maria da Penha”,
que tem como finalidade coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Como objetivo específico pretendemos verificar qual a imagem, a constituição
institucional, legal e discursiva da mulher na sociedade contemporânea por ser uma
lei publicada recentemente no Brasil. A pesquisa é bibliográfica e a análise dos
dados, qualitativa e comparativa. Entendemos que a “Lei Maria da Penha” reflete, de
certo modo, a contemporânea tensão entre os papéis sociais da mulher brasileira:
mulher submissa e mulher protagonista de grandes feitos. Os resultados identificam
um posicionamento em favor da mulher frágil/vitimizada, pressupondo um homem
agressor. Apontam a presença de discursos que rompem a memória discursiva de
família constituída por sexos opostos, pelo casamento civil e pela coabitação.
Take as the corpus examined in this study called the "Maria da Penha Law" – Law
nº. 11340 of August 7, 2006 – establishing mechanisms to curb and prevent
domestic violence against women, provide for the creation of Courts and Domestic
Violence against Women, and establishes measures to protect and assist women in
situations of domestic violence. The law is a political act that represents the will of the
people. Considering that all (men and women) are equal in accordance with article
5.º of the Constitution of Brazil, the choice of corpus is justified by considering how
relevant is conceived institutional, legal discourse and the contemporary woman in
our society : a fragile being that needs protection because of a chauvinistic position,
still dominant today. The choice of theoretical framework of French Discourse
Analysis is justified by the fact that she investigates the field of the statements in
order to understand the events that made possible the establishment of discourse,
and crystallization of certain meanings in our culture, and considering the
unconscious, history and ideology. The senses, for not being clear, open space to
the interpretation of what is not said and not are exhausted. The same statement
can, in different conditions of production, producing various discursive effects. The
overall goal of this research is to investigate the discursive and legislative history of
Brazilian women and identify the ideological context of the emergence of the "Maria
da Penha Law" which aims to curb domestic violence against women. As a specific
objective which aims to examine the image, setting up institutional and legal
discourse of women in contemporary society by being a law recently published in
Brazil. The research is literature and analysis of qualitative and comparative data. We
understand that the "Maria da Penha Law" reflects a sense, the contemporary
tension between the social roles of the Brazilian woman: submissive woman and
woman protagonist of great deeds. The results identify a position in favor of the frail
woman / victimized, assuming an aggressor. They point to the existence of
discourses that disrupt the discursive memory of family consisting of opposite sexes,
the civil marriage and cohabitation
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09
1 ANÁLISE DO DISCURSO: PRINCIPAIS FUNDAMENTOS TEÓRICOS ..... 13
1.1 LINGUAGEM E IDEOLOGIA ........................................................................ 17
1.2 SUJEITO ...................................................................................................... 18
1.3 FORMAÇÃO DISCURSIVA E FORMAÇÃO IDEOLÓGICA .......................... 21
1.4 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO .................................................................... 24
1.5 TEXTO E DISCURSO .................................................................................. 26
1.6 INTERDISCURSO, PRÉ-CONSTRUÍDO E MEMÓRIA DISCURSIVA ......... 31
2 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DISCURSIVA: FAMÍLIA E MULHER
NO CAMPO LEGISLATIVO-JURÍDICO ..................................................... 35
2.1 O CONCEITO DE FAMÍLIA NA LEGISLAÇÃO ............................................ 35
2.2 A TRAJETÓRIA DISCURSIVO-LEGISLATIVO-JURÍDICA DA MULHER..... 39
2.3 MODIFICAÇÕES DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÕES DISCURSIVAS
COM A VIGÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ..................... 53
3 “LEI MARIA DA PENHA”: UM DISCURSO MARCADO POR
CONTRADIÇÕES E IDEOLOGIAS .............................................................. 58
3.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O GÊNERO PRESCRITIVO ......... 59
3.2 FEMININO & MASCULINO OU FEMININO X MASCULINO ........................ 64
3.3 MARCAS LINGUÍSTICAS E TEXTUAIS REVELADORAS DO DISCURSO. 67
3.3.1 O emprego das preposições “contra”, “com” e “sem” na “Lei Maria da
Penha”... ....................................................................................................... 68
3.3.2 O emprego dos pronomes “toda” e “qualquer” na “Lei Maria da Penha” ...... 71
3.3.3 Os verbos no contexto da “Lei Maria da Penha” .......................................... 75
3.4 CONTRADIÇÃO: TRAÇO IDENTIFICADOR DO DISCURSO ...................... 79
3.5 POSICIONAMENTO E IDENTIDADE ENUNCIATIVA .................................. 83
3.6 LEI QUE “NÃO PEGA” EXISTE? .................................................................. 89
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 99
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 101
ANEXOS .............................................................................................................. 108
9
INTRODUÇÃO
1
Para Pêcheux (1990, p. 34-55) “as coisas-a-saber” coexistem, assim como objetos a propósito dos
quais ninguém pode estar seguro de “saber do que se fala”, porque esses objetos estão inscritos em
uma filiação e não são o produto de uma aprendizagem.
12
2
Outro com a letra “O” inicial maiúscula possui significado diferente de outro com “o” inicial
minúsculo. O outro “designa o exterior, o social constitutivo do sujeito, refere-se ao desejo e sua
manifestação pelo inconsciente. O Outro refere-se ao desejo do outro como constitutivo do desejo do
„eu‟. Esse „eu” seria o sujeito” (FERNANDES, 2005, p. 42).
15
em que surgiu a obra de Michel Pêcheux – Análise automática do discurso. Foi uma
tese universitária defendida em 1968, na qual ele faz referência ao materialismo
histórico e à psicanálise sob um terreno da epistemologia e da crítica às ciências
humanas e sociais. Para o fundador, nessa época, os instrumentos, antes de se
tornaram científicos, podem ser apenas técnicas, ou seja, só há um instrumento em
razão da teoria. Ao contestar o conceito/método de ciências atribuído às disciplinas
que ignoravam o sujeito psicológico e a sua relação com a política, nasce a Análise
Automática do Discurso.
da linguagem; o real da história é afetado pelo simbólico que exige dos fatos o
sentido e um sujeito afetado pelo inconsciente e pela ideologia. O sujeito é afetado
pelo real da língua e da história sem poder controlar o modo de afetação.
No Brasil, de acordo com Gregolin (2006, p. 23-25), a AD encontrou
solo propício com o início da abertura política nos anos 1980. Nessa época, a teoria
já havia passado pelos três principais momentos de refacções e se encontravam em
crise teórica e política na França, circunstâncias essas que produziram
consequências teóricas e metodológicas. Uma delas decorre do fato de a circulação
dos textos, no Brasil, não seguir a ordem cronológica francesa, o que levou à falta
de visibilidade das diferenças teórico-metodológicas, durante um tempo, nos
trabalhos brasileiros. Alguns conceitos que foram suplantados da AD na França
continuam sendo utilizados em nossos trabalhos, como, por exemplo, a noção
pecheutiana de formação discursiva.
Por não termos vivenciado, no Brasil, tais discussões metodológicas,
convivemos com uma chamada ausência de explicitação de metodologias na Análise
do Discurso. Mesmo sabendo ter sido, a discussão do método, central no
desenvolvimento da AD na França e que o seu fundador, Michel Pêcheux, perseguiu
uma metodologia utilizando-se de ferramentas sofisticadas para atender a
complexidades teóricas refinadas, sabemos que, no início dos anos 1980, a
computação no Brasil engatinhava e praticamente não havia computadores nas
instituições que realizavam os primeiros trabalhos de AD. Todavia, a não
explicitação de métodos não impediu a expansão da AD no Brasil, que hoje goza de
campo fértil e consolidado de estudos.
Partindo desse panorama, é possível perceber as descontinuidades
entre a AD feita na França e no Brasil; contudo, a base conceitual/teórica no Brasil
possui fortes e estreitos vínculos com os trabalhos franceses.
Dessa forma, fundamentado nos trabalhos de Pêcheux, cujo projeto
ainda não se esgotou do ponto de vista teórico e metodológico, elegemos a Análise
do Discurso para análise do corpus escolhido: “Lei Maria da Penha”.
Embora existam críticas e interrogações sobre a Análise do Discurso,
especialmente em face de disciplinas como a Comunicação, a História, a Sociologia
e a Psicologia, a Pragmática, a Análise da Conversação, a Análise Textual, ela se
mantém em razão de princípios sólidos.
17
1.2 SUJEITO
19
autor. O texto é a unidade que o analista tem diante de si e faz a sua análise de
discurso procurando em suas regularidades as formações discursivas e as
formações ideológicas dominantes na conjuntura, as condições de produção em
relação à memória na qual também intervém o inconsciente, o esquecimento, a falha
e o equívoco. O texto funciona como unidade de análise que se estabelece pela
historicidade, unidade de sentido em relação à situação. O texto é considerado como
um fato discursivo que nos permite alcançar a memória da língua e a compreensão
do modo como o texto funciona enquanto objeto linguístico.
Fiorin (1998, p. 41) afirma que o discurso é a materialização das
formações ideológicas, por isso é determinado por elas. O texto é unicamente um
lugar de manipulação consciente, em que o homem organiza, da melhor maneira
possível, os elementos de expressão que estão a sua disposição para veicular seu
discurso. O discurso possui uma função citativa, através da qual um discurso remete
a outro discurso, logo, há uma restrição à liberdade discursiva. Cada dizer é uma
reprodução inconsciente do dizer do grupo social. Nesse contexto, quem determina
a discursivização não é o indivíduo, mas as classes sociais. O indivíduo não pensa e
fala o que quer, mas o que a realidade lhe impõe. O que está na consciência é
provocado por algo exterior a ela e independe dela. A consciência humana depende
da linguagem assimilada. A linguagem contém e reflete as práticas sociais; o
discurso reflete uma categorização do mundo, uma abstração efetuada pela prática
social.
O discurso, segundo Fiorin (1998, p. 55), contém em si, como parte da
visão de mundo que veicula, um sistema de valores, estereótipos dos
comportamentos humanos que são valorizados positiva ou negativamente. Ele
veicula os tabus comportamentais. A sociedade transmite aos indivíduos
determinados comportamentos e esses estereótipos entram na consciência
tornando-os naturais. O discurso é uma prática social cristalizada e modelador de
uma visão de mundo.
Enfatizando o ensinamento de Edward Lopes, Fiorin (1998, p. 42)
ressalta que, “combinando uma simulação com uma dissimulação, o discurso é uma
trapaça: ele simula ser meu para dissimular que é do outro”, demonstra que o
discurso simula ser individual para ocultar que é social e, ao realizar esse jogo, a
30
história. Para Orlandi (2007, p. 35), é por causa desse esquecimento que se tem a
ilusão de ser original quando, em verdade, apenas se retomam os sentidos já
existentes. Ao nascer, o sujeito já é afetado pelos discursos em processo. O sujeito
é afetado pela língua e pela história. O esquecimento é estruturante por ser parte da
constituição dos sujeitos e dos sentidos: o sujeito “esquece” que o sentido é formado
em um processo exterior. O outro esquecimento (o de n. 2) é da ordem da
enunciação e está diretamente ligado à paráfrase. Trata-se de um esquecimento
parcial, semiconsciente. O dito sempre pode ser dito de outra forma e nem sempre
se tem consciência disso. Há a impressão (ilusão referencial) de que existe uma
ligação direta entre o mundo, o pensamento e a linguagem, uma relação “natural”
entre a palavra e a coisa. O discurso não é originado no e pelo sujeito. É também
chamado de esquecimento enunciativo, ou seja, o modo de dizer não é indiferente
aos sentidos.
Essa ilusão não é um defeito, como diz Orlandi (2007, p. 36), mas uma
necessidade para que a linguagem funcione nos sujeitos e na produção de sentidos.
O “esquecimento” do que foi dito, que não é voluntário, ao ser identificado pelo
sujeito, o constitui. As palavras adquirem sentidos quando retomam palavras já
existentes como se fossem originais e, nesse movimento, o sujeito e o sentido vão
sendo construídos de muitas e variadas formas, sempre as mesmas e sempre
outras.
Pêcheux (1990, p. 54) explica que
as várias mutações que essa instituição sofreu e vem sofrendo até os dias atuais,
inclusive nas legislações.
É inquestionável que a definição de família vem sofrendo modificações
em razão das transformações históricas e políticas; definir família, portanto, exige
um olhar abrangente, haja vista a existência de várias formas de organização social
consideradas como tal, gerando imprecisões terminológicas.
A família que considera o homem como seu chefe (o patriarcado)
começou a sofrer mudanças a partir do fim do século XIX (teorias dos estágios) e no
século XX com uma nova força do feminismo. O patriarcado refere-se ao poder dos
homens, dominação dos homens e submissão das mulheres: é poder ou autoridade
do pai. Esse sistema foi combatido pelo movimento feminista, nos anos 1970.
Delphy (2009, p. 175) afirma que em relação aos termos quase sinônimos
“dominação masculina” e “opressão das mulheres” há duas características distintas.
De um lado designa “no espírito daqueles que o utilizam, um sistema e não relações
individuais ou um estado de espírito; do outro lado, a argumentação feminista opôs
„patriarcado‟ a „capitalismo‟, o primeiro é diferente do segundo, um não se reduz ao
outro”. Embora ainda vigente o termo “patriarcado”, convivem com ele “gênero” e
“sistema de gênero”, os quais têm em comum a pretensão de descrever atitudes não
individuais ou de setores da vida social, mas um sistema que comanda atividades
humanas, coletivas e individuais. Nesse conjunto lexical feminista os termos se
completam e se opõem ao “sexismo” ou “machismo”, são mais teóricos que
“dominação masculina” e “opressão das mulheres”.
Para Durham (1982), família é um grupo social com vínculos e
constituído como unidade de reprodução humana. O termo família é considerado
como uma instituição; refere-se a grupos sociais concretos e a modelos culturais.
Por grupos domésticos entendem-se as pessoas da família não coabitantes do
mesmo domicílio. Parentesco é uma forma mais ampla de organização das relações
de afinidade, descendência e consanguinidade e determina as formas de herança e
sucessão.
Diniz (2002, p. 9-11) enfatiza que os sentidos do termo família são
vários por decorrerem da plurivalência semântica existente no vocabulário jurídico.
Três são as definições existentes no campo jurídico, ou seja, amplíssima, lata e
restrita. Por amplíssima, considera-se a família abrangida por todos os indivíduos
37
O pai indica ao seu filho a norma individual: 'Vá ao Colégio'. O filho interroga
o pai: 'Por que tenho de ir ao Colégio?' Quer dizer, por que o sentido
subjetivo do ato da vontade de seu pai constitui nele um sentido objetivo, ou
seja, uma norma obrigatória?(...) Qual é o fundamento que outorga validez a
esta norma? Respondeu o pai: 'Porque Deus ordenou que obedecêssemos
40
aos pais. Ou seja, Ele autorizou aos pais dirigir ordens aos seus filhos'.
Segue o filho: 'Por que temos de obedecer aos mandamentos de Deus?'(...)
E a única resposta possível a esta pergunta é: 'Como somos homens
crentes em Deus, pressupomos que devemos obedecer aos seus
mandamentos'. É a afirmação sobre a validez de uma norma, que deve ser
pressuposta... é uma norma-base (Grund-norm), a fundante, porque não se
pode perguntar pelo fundamento de sua validez... É uma norma
3
pressuposta no pensamento de um homem crente .
3
KELSEN, H. La Función de La Constitución. In: Derecho y Psicoanálisis, Teoria de las ficciones
y función dogmática, Buenos Aires: Libreria Hachette, [s.d.], p. 80 a 88, traduzido do alemão para o
espanhol pelo Sr. Enrique Bein. Este artigo estava destinado a ser pronunciado como discurso central
na Segunda Jornada Austríaca de Juristas, mas uma indisposição de Kelsen o impediu. O texto foi
então agregado às atas dessa Jornada, Viena, 1964, v. 7, p. 67 e segs.
4
O Brasil adotou a forma republicana de governo, o sistema presidencialista de governo e forma
federativa de Estado. A Federação surgiu com a primeira Constituição Republicana de 1891 com o
artigo 1.º “A nação Brazileira [...] constitui-se por união perpétua e indissolúvel das suas antigas
províncias em Estados Unidos do Brazil” (LENZA, 2005, p.173-176).
41
o
Art. 6 São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, I), ou à maneira
de os exercer:
I - os maiores de 16 (dezesseis) e os menores de 21 (vinte e um) anos (arts.
154 a 156);
II - os pródigos;
III - os silvícolas.
Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar,
estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará à medida
que se forem adaptando à civilização do País.
5
BRASIL. Código Civil comentado. 7. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2009.
6
BRASIL. Código Civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Juarez de Oliveira.
43. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
44
o
Art. 9 Aos 21 (vinte e um) anos completos acaba a menoridade, ficando
habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil.
º
§ 1 Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - por concessão do pai, ou, se for morto, da mãe, e por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver 18 (dezoito) anos cumpridos. (grifo nosso).
Art. 252. A falta não suprida pelo juiz, de autorização do marido, quando
necessária (art. 242), invalidará o ato da mulher; podendo esta nulidade ser
alegada pelo outro cônjuge, até 2 (dois) anos depois de terminada a
sociedade conjugal.
Art. 242. A mulher não pode, sem autorização do marido (art. 251):
I - praticar os atos que este não poderia sem o consentimento da mulher
(art. 235);
II - alienar ou gravar de ônus real os imóveis de seu domínio particular,
qualquer que seja o regime dos bens (arts. 263, II, III e VIII, 269, 275 e 310);
III - alienar os seus direitos reais sobre imóveis de outrem;
IV - contrair obrigações que possam importar em alheação de bens do
casal.
Art. 243. A autorização do marido pode ser geral ou especial, mas deve
constar de instrumento público ou particular previamente autenticado.
Art. 244. Esta autorização é revogável a todo o tempo, respeitados os
direitos de terceiros e os efeitos necessários dos atos iniciados. (grifos
nossos).
7
Termo jurídico que significa que uma lei foi totalmente modificada, extinta por outra e, em razão
disso, deixa de ter vigência e eficácia.
8
BRASIL. Código Civil comentado. 7. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2009.
50
um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia
doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas
possa exigir.
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos
que possam integrar futura meação. (grifos nossos)
Art. 179, XII: A lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue o
recompensará em proporção dos merecimentos de cada um (BRASIL,
Constituição de 1824).
Art. 72, § 2.º - Todos são iguais perante a lei. A República não admite
privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza e extingue as
52
Art. 113, § 1.º - Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios,
nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissões
próprias ou do país, classe social, riqueza, crenças religiosas ou idéias
políticas (BRASIL, Constituição 1934).
Art. 122, § 1.º - Todos são iguais perante a lei (BRASIL, Constituição de
1934).
Art. 141, § 1.º - Todos são iguais perante a lei (BRASIL, Constituição de
1946).
Art. 150, § 1.º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo,
raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. O preconceito de
raça será punido pela lei (BRASIL, Constituição de 1967).
Art. 153, § 1.º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo,
raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. Será punido pela
lei o preconceito de raça (BRASIL, Emenda Constitucional nº 1, de
1969).
Art. 5.º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição (BRASIL, Constituição de 1988).
9
Entrevista concedida pela Sra. Maria da Penha à revista VERO, ano 11, número 129, setembro de
2010, p. 16-20.
58
10
CHARADEAU, P. ; MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso, 2008, p. 249.
60
Art. 59
I – emendas à Constituição
II – leis complementares.
III – leis ordinárias.
IV – leis delegadas.
62
V – medidas provisórias.
VI – decretos legislativos.
VII – resoluções.
Parágrafo único – Lei complementar disporá sobre elaboração, redação e
consolidação das leis.
A cultura [...] dos séculos XVIII e XIX produziu uma quantidade inédita de
discursos cujo sentido geral era promover uma perfeita adequação entre as
mulheres e o conjunto de atributos, funções, predicados e restrições
denominada feminilidade [...] A feminilidade aparece aqui como conjunto de
atributos próprios a todas as mulheres, em função das particularidades de
seus corpos e de sua capacidade procriadora; partindo daí, atribui-se às
mulheres um pendor definitivo para ocupar um único lugar social – a família
e o espaço doméstico –, a partir do qual se traça um único destino para
todas: a maternidade (KEHL, 1998, p. 58).
3.3.1 O emprego das preposições “contra”, “com” e “sem” na “Lei Maria da Penha”
Artigo 1.º - Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de
assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e
familiar (grifos nossos).
nunca está ligada à preposição “com”, que possui o sentido de adição, companhia,
associação, mas à preposição “contra”.
A preposição “contra”, ligando a mulher à violência, produz um efeito
de sentido e de veracidade, de que a mulher está subordinada ao homem. Há uma
“dependência” da mulher em relação ao homem.
Por outro lado, a preposição “com” é utilizada quando a lei trata das
medidas de integração, prevenção e de conjunto articulado de ações da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e quando trata das medidas protetivas
de urgência que obrigam o agressor. Constatamos, portanto, o efeito de sentido
produzido com a preposição “com”, que é o da adição, de comunidade, está
diretamente ligado à soma de esforços na aplicação da lei e na obtenção das suas
finalidades.
o
Art. 8 A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social,
saúde, educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações
relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes
às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica e
familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem
unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das
medidas adotadas;
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores
éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a
perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao
agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas
de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação
o
ao órgão competente, nos termos da Lei n 10.826, de 22 de dezembro de
2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer
meio de comunicação (grifo nosso);
o
Art. 5. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
indefinido. Podem também ser utilizados como forma de antecipação por palavra
gramatical.
Muita atenção nos chamou o pronome “toda” constante no art. 2.º da
“Lei Maria da Penha”, notadamente por ser precedido de um substantivo feminino,
“mulher”. Esse pronome produz uma divisão entre o homem e a mulher e entre as
próprias mulheres. Para que não haja “desigualdade” no texto foram inseridos outros
substantivos, tais como: “classe”, “raça”, “etnia”, “orientação”, “sexual”, “nível
educacional”, “idade”, “religião”. Considerando ainda que a finalidade do pronome
“toda” seguido do substantivo indica a totalidade da parte, podemos concluir que ao
ser utilizado esse pronome há uma marca textual e linguística que revela a
subordinação/dependência da mulher.
O pronome “toda” tem como antônimo a divisão e produz um sentido
de que as mulheres, sem exceção, podem ser vítimas de violência doméstica e
familiar.
Artigo 2.º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza
dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência,
preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual e social (grifos nossos).
O pronome “qualquer” aparece no texto legal nos arts. 5.º, 7.º e 22. No
art. 5.º a lei trata das disposições gerais sobre a configuração da violência doméstica
e familiar. No art. 7.º, das formas de violência, e no art. 22, das medidas protetivas.
No art. 5.º a indefinitude refere-se à violência praticada contra a mulher
através de ação ou omissão, ou seja, a violência pode ocorrer por ato omissivo ou
comissivo do agressor. Revela ainda que a relação de afeto não é decorrente do
matrimônio, mas de várias outras possíveis relações, podendo ser uma união
74
estável, concubinato, relacionamento íntimo etc., basta que haja uma relação de
afeto para os efeitos da lei serem alcançados.
Art. 7.º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja
a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de
seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
75
o
Art. 3 Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício
efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
o
§ 1 O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos
humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no
sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
o
Art. 9 A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar
será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes
previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e
políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
o
§ 1 O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação
de violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do
governo federal, estadual e municipal.
o
§ 2 O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e
familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da
administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do
local de trabalho, por até seis meses.
o
§ 3 A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar
compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento
científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de
emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos
médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual (grifo nosso).
Artigo 1.º - Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência
e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Artigo 2.º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza
dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência,
78
o
Art. 5 caput – Configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de
imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no
Código de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação
a termo, se apresentada;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao
juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de
urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e
requisitar outros exames periciais necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha
de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou
registro de outras ocorrências policiais contra ele;
o
§ 1 O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e
deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela
ofendida.
o o
§ 2 A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1 o
boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em
posse da ofendida (grifos nossos).
dualista, como o bem e o mal. A mulher é boa e o homem é mau! A mulher é vítima
e o homem, agressor. A mulher não se defende e o homem ataca, violenta. Trata-se
de regularidades que geram sentidos de veracidade por estarem atrelados a uma
formação ideológica de uma conjuntura atual. Há uma materialidade linguística e
histórica que não reflete a totalidade da sociedade, mas parte dela. Nem todas as
mulheres são boas, honestas, frágeis; há mulheres fatais, que agridem, que atacam,
que são más, enfim, essas características são de ambos os sexos: mulher e homem;
porém, na lei, há um apagamento dessas características e uma evidente formação
ideológica “feminista”.
A contradição também está marcada, presente, na fixação das medidas
protetivas de urgência que obrigam o agressor (art. 22) e nas medidas protetivas de
urgência à ofendida (art. 23). Nota-se que ao agressor (homem) são apresentadas
somente as sanções, as punições, enquanto que para a mulher (ofendida) somente
as proteções, revelando assim uma dualidade, um antagonismo.
Ademais, podemos entender que a lei cria a figura dos “direitos
humanos das mulheres” como contraponto aos “direitos humanos” já existentes.
Consideramos estes de utilização apenas em favor dos homens, pois se fossem
dedicados também à mulher, não haveria necessidade da lei. Toda e qualquer
violência praticada contra todo e qualquer ser humano é uma violação aos direitos
humanos.
o
Art. 6 A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das
formas de violação dos direitos humanos.
Art.8º
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da
violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e
à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção
aos direitos humanos das mulheres.
IX – o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para
os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de
raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a
mulher (grifos nossos).
o
Art. 5
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientação sexual (grifos nossos).
o
Art. 3. Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício
efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
o
§ 2. Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições
necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.
Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos
nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Ministério
Público e por associação de atuação na área, regularmente constituída
há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado
pelo juiz quando entender que não há outra entidade com
representatividade adequada para o ajuizamento da demanda coletiva.
83
vítima de vários tipos de violência, desde violência física à moral, passando pela
psicológica, sexual e patrimonial.
Por que a lei utiliza a palavra “violência” contra a mulher e não
“agressão”? Definir e distinguir esses conceitos não é tarefa fácil; para muitos,
agressão é ato instintivo, enquanto a violência é um ato cultural, ou seja, uma
agressão com a finalidade de destruir o outro. Adotamos o conceito de violência
apresentado por Andrade (2007, p. 6) como sendo
o
Art. 7 São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe
cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja
a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de
seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.
o
Art. 8 A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não
governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social,
saúde, educação, trabalho e habitação;
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
o
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n 9.099,
de 26 de setembro de 1995.
11
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8850&Itemid
=1052. Acesso em: 5 dez. 2010.
92
12
Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/index.php?option=com_content&view=article&id=7105:jornadas- lei-maria-da-
penha&catid=175:geral. Acesso em: 5 dez. 2010. Ver Anexo B.
93
13
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/827860-cnj-afasta-juiz-de-mg-que-chamou-lei-
maria-da-penha-de-conjunto-de-regras-diabolicas.shtml. Acesso em: 12 dez. 2010.
94
Sob Medida
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970.
BRASIL. Código Civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por
Juarez de Oliveira. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
______. Código Civil comentando. 7. ed. ver., ampl. e atual. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009.
102
COLLIN, Françoise. Teoria das diferenças dos sexos. In: HIRATA, Helena et al.
(Org.) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Ed. da Unesp, 2009.
COSTA, Jurandir Freire. Violência e psicanálise. 2. ed. São Paulo: Graal, 1986.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 5: direito de família. 18.
ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10.01.2002):
São Paulo: Saraiva, 2002.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 6. ed. São Paulo: Ática, 1998.
104
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 3. ed.
Rio de Janeiro: Fontes, 1987.
GADET, Françoise; HAK, Tony. Por uma análise automática do discurso: uma
introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Unicamp, 1997.
GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, Maria Silvia Olivi; IVAMOTO, Regina. O texto sem
mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
LEMOS, Ada Pellegrini. Sempre a mesma família... Nunca a mesma família. In: A
família, pai, mãe e filhos ainda existe? O resultado de uma pesquisa. Núcleo de
Pesquisa e Estudos de Família – NUFEP – PUC.SP. Julho 1996.
LOUZADA, Maria Silvia Olivi. Belas e feras. A mulher brasileira na mídia impressa,
uma relação polêmica. Estudos linguísticos, v. 37, p. 87-96, 2008. Disponível em:
http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/v37-3_sumario.php. Acesso em: 24 nov.
2010.
______. Gênese dos discursos. Tradução de Sírio Possenti. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, 1979. v. 2.
106
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Atlas, 1999.
______. A Análise de Discurso: três épocas (1983). In: GADET, F.; HACK, T. (Org.).
Por uma análise automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel
Pêcheux. Campinas: Ed. da Unicamp, 1997.
PEREIRA, Virgílio de Sá. Direito de família. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1959.
107
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil; direito de família. São Paulo: Saraiva, 1980. v. 6.
VITALE, Maria Amália Faller. Socialização e família: uma análise intergeracional. In:
Família Contemporânea em Debate. São Paulo: EDUC/ Cortez, 2003.
108
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
CAPÍTULO III
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas
causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e familiar contra a
mulher.
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras
atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando
necessário:
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação,
de assistência social e de segurança, entre outros;
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de
imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer
irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher.
CAPÍTULO IV
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em
situação de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado,
ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica
e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária
Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento
específico e humanizado.
TÍTULO V
119
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após sua
publicação.
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185o da Independência e 118o da
República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Dilma Rousseff
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006
123
Anexo I - Supremo Tribunal Federal, Praça dos Três Poderes, S/N - Brasília - DF -
Brasil - CEP: 70.175.901 - 55.61.2326-4607 ou 55.61.2326-4608 - Dúvidas? -
Telefones Úteis - Como chegar
126