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As implicações da psicologia

em processos judiciais
Dra Denise Ayres d’Avila
Iniciando

🠶 Percurso na psicologia jurídica;


🠶 Graduação 1997: luta antimanicomial x ECA;
🠶 Constituição Federal 1988;
🠶 ECA 1990;
🠶 Poucas discussões na época, mais ligadas ao ECA;
🠶 Estágio internação provisória;
🠶 Pai-PJ;
🠶 SUS;
🠶 Suas em 2014;
FRAGMENTOS: um estudo sobre a discursividade da Rede de
Proteção ao Poder Judiciário em casos de perda do poder familiar

🠶 Número expressivo de artigos na grande mídia que denunciam o tema da perda do poder
familiar, repercutindo causas moralizantes e preconceituosas;
🠶 Reportagens sobre os critérios e epistemologias aplicadas nessas decisões judiciais;
🠶 Há anos pensando em como as práticas da rede de proteção social produzem saberes e
consequências nas vidas acompanhadas, cheguei a minha última pesquisa, que respondo
com uma leitura de como o poder judiciário se debruça sobre tais materiais produzidos
nesta rede e quais as consequências à vida dos interditos.
🠶 A suspensão/perda do poder familiar é uma medida de proteção extrema, prevista no
Artigo 136 do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), após esgotadas as possibilidades
de permanência na família de origem (BRASIL, 1990);

🠶 Meu trabalho discutiu os processos que desqualificam sujeitos ao exercício do poder


familiar;

🠶 O objetivo da pesquisa foi problematizar as estratégias discursivas da chamada Rede de


Proteção Social que sustentaram decisões judiciais de ruptura familiar;
🠶 Foucault (2014) a prática discursiva não se encerra jamais em linguagem e língua,
possuindo espessura política, e nisto, o discurso jurídico, que se sustenta em saberes tais
quais, a psicologia, sociologia, medicina, se sobressai com a convocação de veridicção,
com a promessa de estabelecer para a sociedade um discurso verdadeiro diante dos fatos;
🠶 Produção de saber-poder traz entendimento da ideia de criança e adolescência mobilizadas
no decorrer da história;
🠶 Viés socioeconômica que configura o olhar sobre a criança intervinda em nome da
proteção;
🠶 Realizei uma análise do discurso foucaultiana movida pela arqueogenealogia, isto é,
compreendendo o saber-poder que trama as peças jurídicas.
🠶 O entendimento de como famílias são consideradas “aptas” ou “inaptas” para o exercício
do poder familiar perpassa uma série de questões legais, éticas, morais e,
consequentemente, discursivas. Observa-se nos textos de Michel Foucault constante
discussão de como o sujeito é produzido por meio das normas e discursos.
🠶 Butler (2016) destaca é que essa precariedade deve ser compreendida em uma condição
compartilhada a populações com as mesmas características e não singularizada como
evento isolado.
🠶 A genealogia do complexo científico-jurídico, cujo poder de punir que incide de forma
diferenciada sobre diferentes populações se apoia, é alimentado em justificativas e regras
do aparato tecnobiodiscursivo das ciências humanas.
🠶 “Vigiar e Punir”, Foucault (2014) faz uma genealogia do sistema jurídico e localiza
como, ao final do século XVII, o absolutismo do rei passa a ser questionado e refutado.
Nesse momento, os espetáculos da tortura e do suplício deixam de ser tolerados e o
supliciado vai despertando sentimentos de piedade, enquanto o juiz e carrasco despertam
a percepção de crueldade. Consequentemente, a justiça busca não ser mais ligada à
violência em seu exercício e o delinquente passa a ser objeto de correção: o direito de
punir é deslocado no entendimento de ‘vingança do soberano’ para o conceito de ‘defesa
da sociedade’. Este é o ponto de surgimento das ciências humanas, onde há demanda de
construção do conhecimento da infração, do responsável e da lei. O campo de poder cria
um campo de saber que sustenta sua resposta e controle da população, um campo de saber
que cria o poder que vigia e corrige, o chamado saber-poder.
🠶 Butler (2019) evidencia, em suas teorizações, como a esfera pública é constituída pelo que se
pode dizer e o que se pode mostrar e, nos limites do que se pode, se circunscreve o domínio
de operação do discurso político, que recai ao encapsulamento de atores viáveis. 
🠶 O tecnobiodiscurso objetiva o mundo criando saberes, definindo-o; a ação que o sujeito
aplica a si mesmo, ou como age a partir da objetivação é a subjetivação. Dessa forma, o
tecnobiodiscurso produz uma contínua intervenção constitutiva da definição de humanidade e
suas questões. O tecnobiodiscurso desenvolve suas próprias regras de evidências, cria o
normal e estabelece o anormal, o degenerado, vende a perspectiva imaculada de ‘neutralidade
científica’ e busca continuada do encontro da verdade, quando se instala na fronteira entre
ciência e política, onde o ‘verdadeiro’ responde a interesses. (CAPONI, 2012)
🠶 Juiz garante a lisura do rito processual;

🠶 Promotoria atende exclusivamente a demanda documental;

🠶 Rede de Proteção define o resultado processo;


🠶 Os resultados possibilitam compreender o caráter moralista e burocratizado dos feitos
legais;

🠶 As condutas técnicas não demonstraram compreender a dimensão da intervenção nas vidas


humanas expostas nos casos interpelados;

🠶 A legislação não garante direitos à família ou evita violências institucionais no andamento


do acompanhamento;
🠶 Relatórios de atendimentos pontuais, produzidos por técnicos sobrecarregados e até com
pouca experiência nas demandas atendidas;

🠶 Muitas vezes, travestidos de saber técnico, técnicos conduzem seus relatórios


estabelecendo normalização, imprimindo valores pessoais como conhecimento técnico;
🠶  "a burocracia ou o domínio de um intrincado sistema de órgãos no qual homem algum
pode ser tido como responsável, e que poderia ser chamado com muita propriedade o
domínio de Ninguém" (ARENDT, 2009. p.20). Fico nessa reflexão… após algumas
centenas de páginas, onde ninguém é responsável pelo resultado, os técnicos ponderam o
que pensam, o juiz se embasa nos técnicos; ninguém é responsável e todos são.
Obrigado
pessoa@example.com

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