Você está na página 1de 43
Aritmética IT PROFMAT Fabio E. Brochero Martinez Carlos Gustavo T. de A. Moreira Nicolau C. Saldanha 16 de Margo de 2012 Contetido 0 Fundamentos 2 0.1 Prinefpio da Indugio Finita . . See eesHe teeters 2 0.2 Principio da Casa dos Pombos ............... 9 0.3 Divisibilidade 2... veces eee 1B 0.4 mde, mme e Algoritmo de Buclides... 2.0.0.0... 16 0.5 O Teorema Fundamental da Aritmética ©... 0.0... 24 0.6 Congruéncias . . 0.7 Bases 08 Anel de Inteiros Médulo n : 0.9 A Fungio de Euler e o Teorema de Euler-Fermat ..... 43 0.10 Equagées Lineares Médulom ........ stand ob BS: 1 Poténcias e Congruéncias 61 L1 Polinémios ..... 61 1.2 Ordem e Ratzes Primitivas 73 1.3 Resfduos Quadraticos e Simbolo de Legendre... ... . 81 1.3.1 LemadeGauB .............. 14 Lei de Reciprocidade Quadrética . 1.4.1 Uma demonstragio combinatéria 1.4.2 Uma demonstragdo trigonométrica .. 6... 92 1.4.3 Uma demonstragio usando corpos finitos ..... 94 2 Funcoes Multiplicativas e as formulas de inversao de Mé- bius 99 21 As fungdes doe ~. 2.2 eee eee 102 22 Fungo de Mobius e Formula de Inversio 110 3 Fragées Continuas 118 3.1 Reduzidas e Boas Aproximagdes 127 3.2. Boas Aproximagées sio Reduzidas 129 3.3. Fragdes Continuas Periddicas ................ 134 3.4 O espectro de Lagrange ..... . cee eee ean CONTEUDO 4 Equacées diofantinas nao lineares 139 4.1 Teorema de Pitagoras e triplas Pitagéricas . . 139 4.2 Triéngulos retangulos de Pitdgoras e Platdo 11 4.3. Triplas Pitagéricas Primitivas . . . . Breer 44 Tridngulos pitagéricos e o método geométrico .. . . . - 146 4.5 Triéngulos com lados inteiros e angulos em progressao aritmética .. . . : . 149 46 Outta relagio de augulos. « 151 4.7 Contando tringulos pitagéricos com um cateto dado. . . 153 4.8 Niimeros que séio somas de dois quadrados. .. 2... . « 155 4.9 Triéngulos pitagéricos com catetos consecutivos . . . . . . 159 49.1 Equacéode Pell .......... 4.10 Solucdo fundamental da equagio de Pell « 4.11 Outras equagées do tipo 2? Ay?=c 1.2.0... 4.12 Contando triaingulos pitagéricos com hipotenusa fixada . . 169 4.13 4.12.1 Inteiros de Gau8 . . Descenso Infinito de Fermat - + 170 - 178 Bibliografia 185 Capitulo 4 Equagoes diofantinas nao lineares 4.1 Teorema de Pitdgoras e triplas Pitagéricas Um dos teoremas bésicos e elementares da geometria euclidiana 6 0 conhecido Teorema de Pitégoras, que relaciona o comprimento dos lados de um triéngulo quando um dos angulos é reto. Nesta segiio estudaremos os triangulos retangulos com a restrigio adicional que o comprimento dos lados sfo ntimeros inteiros, Antes de impor tal restrigo vejamos uma prova, entre as muitas conhecidas, deste teorema. Teorema 4.1 (Pitdgoras). Sejam a, b e ¢ 0s comprimentos dos lados de um tridngulo. O dngulo oposto ao lado c é reto se e somente se a+ ac? DEMONSTRAGAO: Nossa prova se baseia no seguinte desenho, no qual temos colocado quatro triangulos retangulos de catetos a eb e hipotenusa c ao redor de um quadrado de lado c. 139 140 CAPITULO 4. EQUACOES DIOFANTINAS NAO LINEARES Observe que a figura externa formada também 6 um quadrado (com- prove!) de lado a+b. A drea deste quadrado pode ser calculada de duas formas diferentes: uma é a forma natural, elevando o comprimento do lado ao quadrado, isto é (a + b)?, e a outra calculando a area como a soma das dreas dos quatro triangulos mais a rea do quadrado de lado c, isto 6, 2 Subtraindo 2ab dos dois lados da igualdade obtemos a relagiio desejada. a orn? =4(F) +e aab+e, Claramente esta relacio mostra a dependéncia de um lado com res- peito aos outros dois. Desta forma é facil encontrar exemplos de trian- gulos que tem exatamente dois lados de comprimento inteiro, como por exemplo (1,1, V2), (1,2, V5), (3, 2V10,7) etc. Menos evidente é encon- trar triangulos com todos seus lados inteiros, fato que pode ser ilustrado no seguinte Exemplo 4.2. Encontre todos os tridngulos reténgulos com lados intei- ros e um cateto igual a 30. SoLUGgAo: Precisamos encontrar inteiros positivos be c tais que 900 + &? = c?. Esta igualdade pode ser reescrita da seguinte forma 2.37.5 = (c+ b)(c—b). Observe que os mimeros c+b e c—b tém a mesma paridade, logo os dois sao pares, e como c+ b é maior que c — b, as tinicas formas de distribuir os fatores de 900 entre estes fatores siio {rey {rere {rice c-b=6 e-b=10 c-b=18 que gera as solugdes (30, 224, 226), (30, 72, 78), (30, 40, 50) e (30, 16, 34). a N&o temos um método andlogo para determinar os lados de um trién- gulo dado o comprimento da hipotenusa, mas eles podem ser encontrados por uma procura ordenada como é mostrado a seguir Exemplo 4.3. Encontre todos os tridngulos retangulos com lados intei- ros € a hipotenusa igual a 65. Neste caso, precisamos encontrar dois mimeros inteiros a eb, que podemos supor, sem perda de generalidade, satisfazerem a < 6, tais que 4.2. TRIANGULOS RETANGULOS DE PITAGORAS E PLATAO141 a? +b? = 65? = 4225. Como b? +(b—1)? > 4225, temos que 64 > b > 47. Assim temos 18 possfveis valores de b que precisamos testar se verificam que 4225 — b? é um quadrado perfeito. De fato, este nimero é quadrado perfeito quando b é igual a 52, 56, 60 e 63, que gera os triangulos com lados de comprimento (39, 52, 65), (33, 56, 65), (25, 60, 65) ¢ (16,63, 65). a O caso geral do problema anterior seré resolvido por outro método na segdo 4.12. No caso em que os trés mimeros (a, b,c) sejam inteiros e sejam lados de um triangulo retangulo, diremos que estes trés ntimeros formam uma Tripla Pitagérica, que seré o objeto de estudo nas seguintes segdes. Problemas Propostos 4.1. Determine todos os iridngulos reténgulos com lados inteiros e¢ um de seus catetos com comprimento igual a a) 60 b) 825 4.2. Determine todos os tridngulos reténgulos com lados inteiros e hi- potenusa de comprimento 105. 4.3. a) Mostre que 0 quadrado de um niimero tmpar sempre deiza resto 1 quando dividido por 8. 6) Existe algum tridngulo reténgulo com lados inteiros ¢ catetos impa- res? 4.4. Observem que usando o tridngulo reténgulo (1,1, V2), é posstvel construir V2 com régua e compasso. Mostrar que para todo inteiro po- sitivo n, 0 mimero \/n é construtivel com régua e compasso. 4.5. Existe algum tridngulo retangulo com lados inteiros ¢ perimetro igual a uma poténcia de 2? 4.2 Triangulos retangulos de Pitagoras e Platao Observemos que podemos gerar infinitas triplas pitdgoricas a partir de uma. De fato, como 3? + 4? = 52, temos que (3, 4,5) é uma tripla Pitagérica, e a partir dela podemos gerar infinitas multiplicando por um inteiro positivo: (6,8, 10), (3,12, 15),..., (3k, 4k, 5k). 142 CAPITULO 4. EQUACOES DIOFANTINAS NAO LINEARES As triplas nesta lista so chamadas triplas pitagéricas NAO primitivas, porque sao obtidas multiplicado (3,4,5) por um ntimero inteiro maior que 1, enquanto (3,4,5) é chamada tripla pitagérica primitiva, isto é, uma tripla pitagérica (a, b,c) é chamada primitiva se ela nao é obtida a partir de outra multiplicando por uma constante inteira maior ou igual a2 Pitagoras observou que existe uma famflia infinita de triplas pitagé- ricas primitivas: (5, 12, 13), (7,24, 25) (9, 40, 41), ete. Em todos os casos estudados por ele, um dos catetos e a hipotenusa sao inteiros consecuti- vos. Para gerar uma férmula para todas as triplas do tipo (a,b,b + 1) (chamadas triplas pitagéricas cldssicas de primeiro tipo) é suficiente ob- servar que a? = (b+1)?- 0 =2b+1, logo a é um mimero fmpar, portanto a = 2k +1 com k um nimero natural, assim substituindo na formula anterior temos que 4k?+4k4+1 = 2b+1, e assim b = 2k? + 2k ec = 2k? + 2k +1, isto é, obtemos a familia de triplas pitagéricas (2k + 1, 2k? + 2k, 2k? + 2k + 1). Por outro lado, Platao observou outra familia de triplas primitivas em que a diferenca entre a hipotemusa e um cateto 2 (chamadas triplas pitagéricas clissicas de segundo tipo), isto é, triplas da forma (a,b, b-+2). Seguindo o argumento anterior temos que a? = (b+ 2)? — b? = 4b+4. Assim a é par. Escrevendo a = 2s e substituindo na equacao anterior obtemos que s* = b + 1, como estamos interessados somente em triplas Pitagéricas primitivas, entfio b no pode ser par, assim s n&o pode ser impar, assim s = 2k com k inteiro, e neste caso obtemos a familia de triplas pitagéricas (4k, 4k? — 1, 4k? +1). A seguinte tabela mostra as triplas obtidas a partir das equagées de Pitdgoras e Platéio K | (2k + 1,2 + 2k, 2k? + 2k +1) | (4k, 4k? — 1,4k? +1) 1 4,3) 3,5) 2 (5,12, 13) (8,15, 17) 3 (7, 24,25) (12,35, 37) 4 (9,40, 41) (16, 63, 65) 5 (11, 60,61) (20, 99, 101) 6 (13, 84, 85) (24, 143, 145) 7 (15, 112, 113) (28, 195, 197) Problemas Propostos 4.6. Existem triplas pitagdricas primitivas, tais que a diferenga entre a hipotenusa e um cateto seja 3, 4, 5, 6, 7 ou 8? Caso existam em algum dos casos, determine a frmula geral delas. 4.3, TRIPLAS PITAGORICAS PRIMITIVAS 143 4.7. Dado r natural, encontre a familia de todas as triplas pitagéricas primitivas tais que a diferenca entre a hipotenusa ¢ um cateto seja r. 4.8. Encontre todas as triplas pitagéricas tais que os lados estao em progressio aritmética. 4.3 Triplas Pitagéricas Primitivas Como falamos anteriormente, se a, b e ¢ si0 08 comprimentos dos lados de um tridngulo retangulos e queremos caracterizar os triéngulos retdngulos com lados inteiros, o problema é equivalente a encontrar todas as triplas de mimeros inteiros (a,b,c) tais que se verifique a relagao a? +b? = c?. Como ja foi observado anteriormente, tais triplas sao denominadas triplas pitagéricas. Para isto, suponhamos que temos um tripla pitagérica (a,b,c). Po- demos supor que os trés nimeros nao tém fatores em comum dois a dois, porque, por exemplo, no caso em que a e b tém um fator comum d entdo ? divide a? +0? = c?, portanto d também divide c, assim ($, 4, §) tam- bém ¢ tripla pitagérica. Uma tripla pitagérica na qual seus termos nao tém fator em comum dois a dois se denomina tripla pitagérica primitiva. Observemos que a e b nao podem ser simultaneamente fmpares, j4 que se temos um miimero fmpar 2k + 1, ao elevé-lo ao quadrado temos que (2k + 1)? = 4k? + 4k +1 = 4k(k +1) +1, e logo 0 quadrado de um mimero fmpar é sempre congruente a 1 médulo 4, Assim, se somamos dois quadrados de ntimeros fmpares obteremos um niimero que é congruente a 2 médulo 4, mas o quadrado de um niimero par é sempre divisfvel por por 4. Portanto, temos que a 6 b néo podem ser simultancamente impares. Podemos supor entdo que a é impar e b é par, ¢, entdo, c é {mpar. Temos entfio at a B (c—a)(c +a). mas ce a nao tém fator em comum, donde u = “$4 ev = 5% nao podem ter fator em comum (caso contrario, se d divide simultaneamente u e v, entéio d também dividiré a u-+v = ce u—v =a). Daqui segue que b? = wr, isto 6, 0 produto uv é 0 quadrado de um numero inteiro. Mas como u e v nao tém fator em comum, entdo cada um deles tem que ser 0 quadrado de um mimero inteiro. Assim cta 2 ven’, b=2mn, 144 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES onde me n nao tem fator comum. Concluimos entéo que todas as triplas pitagéricas primitivas estéio dadas pelas formulas a=m-n?, b=2mn ce c=mtn? com m en sem fator comum e m-+n {mpar e todas as triplas pitagéricas se encontram a partir de uma tripla pitagérica primitiva, multiplicando por uma constante. Observemos que o resultado encontrado na seco anterior, isto 6, as triplas pitagéricas encontradas por Pitdgoras, correspondem ao caso em que m=k+1en=k, e as triplas pitagéricos encontradas por Plato se reduzem ao caso em que m = 2k en = 1. A seguinte tabela ilustra algumas solugées novas no encontradas pelo método anterior. @b,0, (21, 20, 25) (45, 28, 53) (33, 56, 65) (55, 48,73) ( ) ( ) m 39, 80, 89. 77,36, 85) (65, 72,97) ©} <0 a0] 00] ~a] ~s] cn] ws] 00] en} co] | 20] 00] 8 Como uma aplicacao do resultado anterior, consideremos o seguinte Exemplo 4.4. Encontrar todas as triplas de ntimeros (a,b,c) tais que a?, & ec? estéio em progressdo aritmética. Observemos que a tripla (1,5,7) é solugdo do problema. Sabemos que, em uma progressio aritmética, a diferenga de dois termos conse- cutivos é constante; assim, o problema se reduz a encontrar todas as triplas de mimeros (a,b,c) tais que eH eB, isto é, a? +c? = 267. Daqui segue que a e c tém a mesma paridade e, portanto, existem inteiros re s tais quec =r+sea=r-—s (basta fazer r = $$ e s = $5%). Deste modo, substituindo teremos que z 2 20? =a? +0? = (r— 8)? + (7 +5)? = 2(r? +5?) donde (r,s,b) é uma tripla pitagérica, portanto existem inteiros m e n tais que r = m? — n?, s = 2mn e b= m? + n?, e se conclui que im? —n? —2mn|, b= m+n, c=m' ? —n? + 2mn, com m > nem-+n impar, é uma tripla que satisfaz o pedido. Além disso todas as triplas primitivas sao desta forma. A seguinte tabela mostra os primeiros valores de a, b e c com a?, b? ¢ c? em progressao aritmética 4.3. TRIPLAS PITAGORICAS PRIMITIVAS 145 mn] (a,b) 2/1{ (5,7) 3 [2 | (713,17) 4 [1 (17,23) 4 [3 | (7, 25,31) Usando a mesma técnica podemos resolver o seguinte Exemplo 4.5. Determine todas as ternas (a,b,c) de inteiros positivos tais que a? = 2'+c*. Solugdo. Seja (a,b,c) uma de tais solugdes. Dado que 2 (a-@)(a +c?) =2 existem dois naturais m > n tais que a — Meat =I. Substraindo tais equacdes, obtemos que 2c? = 2" — 2", assim c? = 2r-l(gm—n _ 1). Segue que n —1 é par e que 2-" — 1 = k?, mas k? +1 = 2 (mod 4), portanto m —n = 1. Assim, todas as solugdes sio da forma (3 - 2°", 4r + 3,2") com r EN. Exemplo 4.6. Encontrar todas as solugées inteiras de x? +y?+2" = 1? Solugéo. Observemos inicialmente (considerando congruéncias mé- dulo 4) que pelo menos dois de tais nvimeros tém que ser pares. Sejam y =2lez=2m. Como t > 2, podemos supor que t = 2 + 2n, comn inteiro positivo. Substituindo, teremos que (x + 2n)* = x? + 4l? + 4m?, isto 6, nz +n? = 2 + m2. Obtemos assim que « = +=" Como x 6 inteiro positivo, escolhemos n como sendo um divisor de 12 + m? me- nor que Vi2-+ m2. Conclufmos que todas as solugées da equagio esto dadas por Bie Pam? Fe ay Sl alr be x +n, n onde n 6 um divisor de [2 + m? menor que V2-+ m2. Outra representagdo das solucdes desta equacéo é proposta no pro- blema 4.35 Problemas Propostos 4.9. Determine todas as solugées inteiras da equagéo 2x? + y? = z?. 4.10. Existe algum tridngulo reténgulo com lados inteiros ¢ perimetro 2p* com p um niimero primo e k inteiro? 4,11. Determine todos 08 tridngulos reténgulos com lados inteiros ¢ pe- rimetro 120. 146 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES 4.4 Triangulos pitagéricos e 0 método geomé- trico Nesta seco mostraremos outra forma de encontrar a forma geral das triplas pitagéricas com o uso de um pouco de geometria analitica. Para isto basta observar que a? +b? = c? é equivalente & equagio (4)? + (2)? = 1, isto é, 0 ponto (2,4) é um ponto com coordenadas racionais da circunferéncia C com centro na origem e raio 1, ou, equivalentemente, (2, 4) é uma solugo da equagao «? + y? = 1 com coordenadas que sao niimeros racionais. Note que os pontos (+1,0), (0, +1) so pontos que pertencem & cir- cunferéncia. Agora, se temos outro ponto sobre a circunferéncia que tem coordenadas racionais, digamos (r,s), entdo a reta £ que passa pelos pontos (0,—1) e (r,s) corta a circunferéncia exatamente nesses pontos e tem inclinagéo “#2, que é um niimero racional. Agora pensemos ao contrario, peguemos uma reta £ que passa por (0,1) e tem inclinagdo racional . Ela cortard a circunferéncia C no ponto (0,—1), em algum outro ponto que pode ser calculado resolvendo : «fort yr=l o sistema de equacdes (0,-1) Assim, substituindo y por #2 — 1, obtemos 1aa?+ (et) A equagao anterior possui uma solugao esperada x = 0, A segunda solugao € dada por (1+ ")a = 2%, isto é, «= 3@"5, e portanto b_m_2mn _ m=? c m? +n? ec onm+n2 m+ n?? 4.4. TRIANGULOS PITAGORICOS E O METODO GEOMETRICO147 agora como as fragées so iguais, supondo que mde(m,n) = 1, segue-se que, no caso em que m +n é impar, existe um inteiro k tal que a=2mnk, b= (m?—n?)k, (m? +n%)k. E, no caso em que m+n é par, existe um inteiro k tal que a = mnk, b= meee = ME, O interessante deste método geométrico, 6 que permite resolver equa des mais gerais de tipo quadratico quando conhecemos um ponto, como se mostra no seguinte exemplo Exemplo 4.7. Determinar todas as solugdes inteiras da equagdo a? + 2b? = 1c? Dividindo por c? obtemos (£)? + 2(4)? = 11, assim queremos encon- trar as solugdes racionais da equacio x? + 2y? = 11 que é uma elipse centrada na origem do plano cartesiano. Por inspegdo direta temos que 08 pontos (-t3, +1) sio solugdes. A equagio da reta que passa pelo ponto (—3,-1) e tem inclinagio @ 6 y = B(x +3)-1= "2+ a + 3m=n Os pontos de intersecgfio da reta com a elipse, sao as solugées obtidas quando resolvemos o sistema de equagées {F + 2y? =11 y= r+ ome, agora, substituindo y na equacio da elipse obtemos que 9m? — Gmn +n? 2 ep 7 148 CAPITULO 4. EQUACOES DIOFANTINAS NAO LINEARES assim, x é soluc&o da equacéo quadratica a2 4m(am—n),_ 43n® + Amn — 6m? _ n? + 2m? n? + 2m? Como (—3,-1) é um dos pontos de intersecgio da elipse com a reta, 0 leitor pode comprovar diretamente que z = —3 deve ser solugdo desta equacéio. Agora usando 0 fato que o coeficiente independente de uma equagio quadratica é 0 produto das rafzes, temos que a outra raiz é 3n? + 4mn — 6m? n? + 2m? e assim bm (3n?+4mn—6m?) | 3m—n _ 2m? +6mn—n? ea none n+ Om? Como as fracdes que aparecem em cada igualdade sao iguais, entdo exis- tird um inteiro k tal que k 2 a= ¥(an?+4mn—6m’, b= 5 (2m?+6mn—n*) ec (onde d = mdc(3n? + dmn — 6m?, 2m? + 6mn — n2,n? + 2m?), que pertence a {1,2, 11}, caso mde(m,n) = 1) e usando a simetria da elipse podemos considerar os valores positivos de a, be c. A tabela seguinte ilustra algumas solugGes obtidas a partir das equagées anteriores supondo k=l as a 3, 2 2} 2}. b, 5, & (7,3) (13,19, 9) (39, 37, 19) (77,55, 33) (21,95, 25) #| aloo] ro] HlolHls eof e] ala] a Problemas Propostos 4.12. Determine todas as solugées inteiras da equagdo a? + 3b = 13c?. 4.13. Mostre que a equagdo x? + y? = 62? ndo possui solugdes inteiras positivas. Dica: Mostre que 0 quadrado de todo tmpar deixa resto 1 quando di- vidido por 8, assim os quadrados quando divididos por 8 somente podem deixar resto 0, 1 ow 4 4.5. TRIANGULOS COM LADOS INTEIROS E ANGULOS EM PROGRESSA( 4,14. Demonstre que a equagéo x? +y? = 3z? nao tem solugées inteiras positivas. 4,15. Encontrar todas as solugdes inteiras da equagdo x? + y? = 52?. 4.16. Um bloco retangular é chamado Bloco de Euler se 0 comprimento de seus lados é inteiro e 0 comprimento das diagonais em cada face é inteira. Um bloco de Euler é chamado primitivo se 0 mde dos compri- mentos dos lados é 1. Mostrar que um bloco com medidas 44, 117 e 240 é um bloco de Euler. 4.17. Mostrar que se um bloco com medidas a, b e ¢ é de Euler, entéio um bloco com medidas (bc, ab,ac) é de Euler. 4.18. Encontre um bloco de Buler cuja aresta de menor comprimento é 85. 4.19. Mostrar que existem infinitos blocos de Euler primitivos . Obs.: E um problema aberto a existéncia de um bloco de Euler com diagonal inteira. 4.5 Triangulos com lados inteiros e angulos em progressao aritmética Como uma aplicag&o do resultado da segio anterior, pretendemos caracterizar todos os triangulos AABC com lados de comprimentos in- teiros a, be c que tenham seus angulos em progressao aritmética. Como a soma dos angulos internos de um tridngulo é 180°, se a raziio da pro- gressiio é a, entdo os angulos terdo medidas 60° — a, 60° e 60° + a. Suponhamos que o angulo em B mede 60° e o Angulo em A 60 maior, © seja Do pé da altura desde o vértice A. Observemos que o tridngulo ABAC 6 de fato, meio triangulo equilatero, assim BD = §. Como os triangulos AADB e AADC sio retangulos, aplicando o teorema de Pitagoras temos que ee (§) =4n?=0 que equivale a 1 32 =a? +00- qo 150 CAPITULO 4. EQUAQGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES A 2A L ; oD a- Cc wie ou seja, os tridngulos que tém os lados em progressio aritmética so os tri”dngulos que tém lados que satisfazem a relagao @ act =b, que equivale usando 0 método geométrico, a determinar as solugdes ra- cionais da equacio «? — xy +y? = 1, que representa no plano uma elipse rotacionada. Observemos que esta equacéio possui a solugao (0,—1). Consideremos a intersegao da elipse com a reta y= 2a — 1. A intersecdo da reta com a elipse é formada por pontos cuja coorde- nada x satisfaz (m? — mn +n?)a? — (2m —n)nz = 0. Assim, 4.6. OUTRA RELACAO DE ANGULOS 151 Conclufmos que os comprimentos dos lados dos tridngulos com um an- gulo de 60° so a=k(2mn—n?) b=k(m?—mn+n?) c=k(m?—n?),k EZ. Fica como exercicio para o leitor completar a seguinte tabela, conside- rando k= 1 mn 5,0) 2[1 (33,3) 3 [1 6.7.8) 3 [2 4/2 7/3 5 [1 5 [2 Problemas Propostos 4.20. Mostre que néo existem triéngulos com lados inteiros de tal forma que um de seus dngulos seja 30°, 45° ou 72°. 4.21. Encontre todos os tridngulos com lados inteiros e com um dngulo a tal que cosa = 2. 4.22. Seja 0 1, assim o numero de tridngulos pitagéricos primitivos com M = 2*+1N 6 cottny = {2 sea=0 d(N), sea>0. Por exemplo se M = 60, entéo N = 15 e d(N) = 4, isto 6, 15 = 15 x 1= 5 x 3, assim (m,n) pode tomar os valores (30, 1), (15,2), 154 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES (10,3), ou (6,5), que geram os trifingulos com lados (899, 60, 901), (221, 60, 229), (91, 60, 109) e (11, 60,61). Agora, para contar 0 nimero de triplas pitagéricas que existem com um cateto igual a M, consideraremos dois casos: Se M é impar, para cada m um divisor de M e para cada tripla pitag6rica primitiva com um cateto igual a m é posstvel gerar uma tripla pitagérica com um cateto igual a MM, multiplicando esta termo da tripla por “, assim o total de triplas pitagéricas 6 Lem = YL cm+ Yo cw’) m|M mM, n2|M re =i di : d(n?) = 1) = 3 am +5 Dae’) -1) nm maint ment = 7hdy-5 = 5 (m) — 5 ‘ m|M n3|M No caso que M = p?'p$?---pR*, usando que a funcio d é multi- plicativa temos que 37°: ajay = Dtg(j +1) = Sc2Meity ¢ portanto, o ntimero de tridngulos pitagéricos com um cateto igual aMé Se M é par, isto 6, M = 2°41N (coma > 0) onde N = pf" p§? --«pp* é impar, o niimero de triplas pitagéricas com um cateto igual a M é SY em) = Yelm) + VOY cam). m|M m|N J=1m|N O primeiro somatério jé foi calculado no item anterior ¢ o segundo é igual a YY am = j=l ml (aj +2)(a; +1) Tart aE - Portanto, o miimero de triangulos pitagéricos com um cateto igual aM=21Né Ge k aj+1) 1 aj +1 2 all [37 4.9. TRIANGULOS PITAGORICOS COM CATETOS CONSECUTIVOS163 a n(n +1) = 2m?. Multiplicando a equagao anterior por 4 e comple- tando quadrados obtemos a equagao (2n + 1)? — 8m? = 1. Assim basta encontrar as solugdes da equaciio de Pell 2? —8y? = 1. Esta equacio tem como solugao fundamental (3, 1), e portanto possui infinitas solugdes. As seguintes trés solugdes podem ser calculadas facilmente, pois (3+ V8)? = 17+6v8, (3+ v8) 99+ 35V8 (3+ V8)? = 577+ 204v8. Assim 2n +1 pode ser 3, 17, 99, 577,..., logo n = 1, 8, 49, 288,.... ‘A seguinte proposigéo mostra uma recorréncia simples de segunda ordem que gera todas as solugdes da equagao de Pell a partir das duas primeiras. Proposigio 4.15. Seja a+bVd a solugdo fundamental da equagdo de Pell x?—dy? =1. Se {(tn,Yn)}nen € @ sequéncia de solugées da equacéo, entdo Gny2 = ans — tn Unt2 = 24Yn+1 — Yny para todo n > 1. DEMONSTRAGAO: Como ja foi mostrado anteriormente temos que a Trp = Akn + dyn Yn+1 = barn + Ayn. sequéncia de solugdes satisfaz a recorrencia . As sim temos que In42 = Atn41 + dbyngr = atnyy + db(bay + AYn) = atn41 + db?ty + a(dbyn) = atny1 + db ty + a(tag1 — Atn) = 2atny1 — (a? — db*)an = 2arn+1- Fn, © que prova a primeira recorréncia. A segunda recorréncia é obtida de modo andlogo e é deixada como exercicio ao leitor. D Se aplicarmos estas formulas no problema anterior, podemos compro- var diretamente que 577 = 2-3- 99 — 17 e 204 = 2-3. 35 —6, assim nao 6 necessério calcular a expansio dos binémios para calcular as solugdes de forma recursiva. 164 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES Problemas Propostos 4,36. Observe que 83 — 73 = 13?. Mostre que existem infinitos pares de cubos consecutivos tais que sua diferenga é um quadrado perfeito. 4.37. Mostre que a soma de trés quadrados consecutivos nao pode ser igual a um quadrado. Pode a soma de cinco quadrados consecutivos ser igual a um quadrado? 4.10 Solugdo fundamental da equagao de Pell Para determinar uma solugéio da equagio 2? — Ay? = 1, vamos considerar a fragdo contfnua de VA + |VA] = [a9;a1,a2,...]. Mos- traremos que existem duas sequéncias de inteiros positivos bj e c; de modo que VA+ci bj para todo i > 0, onde os b; e ¢; sao limitados por uma constante que depende unicamente de A, assim em algum momento tais sequéncias comegam a se repetir. Comecamos definindo by = 1 e cy = WA ||. Em geral, definimos recursivamente ci41 = aibi — i © bisa = (A— C2, 3)/bi. Mostremos inicialmente por indugio que b; e cj sio inteiros com 6 Ae tais que bi | Ac? para todo i. Isto é claramente verdade para i= 0. Por hipétese de indugdo, temos que by € «i sdo inteiros, logo cis1 = ajb; — cj também seré inteiro e A —c?,, # 0 jé que A no é quadrado perfeito. Além disso, = [ais asi, ai42--] A- hy = A= (abi — ci)? = Ae} — bi(a?b; — 2aic;) sera miltiplo de b; ja que b; | A—c? por hipétese de indugdo. Assim bia = (A — c2,;)/b; ser um inteiro nao nulo tal que bj41 | A — c?,). Desta forma, temos VA+ei VA~ cin 4 1 SE =a + Ht 2 a + 4 = + ——_ bi i VAton VAton bint de modo que 4+ = fa;41;a;42, 0:43. .], € portanto seré vilida para todo i. Resta provar que bj e c; so positivos. Para isto, vamos provar por indugao que b; > 0 e 0 < ¢ < WA, 0 que é verdadeiro para i = 0 pois co = | WA] e A nao é quadrado perfeito. Além disso, pela definicéo de a; temos AtG 0 por hipétese de indugao) e portanto cig = ib; — cy < VA < aid; — of +8; = Cig +B; e assim cj41 < VA, 0 que implica bjs, = (A — c2,;)/b; > 0 também. Agora suponha por absurdo que ci41 < 0. Neste caso teriamos bj > VA-—ci+1 > VA, mas como V/A > c; por hipétese de indugio, terfamos b; > ci, donde ¢j41 = aibj — cj > bj — c; > 0, 0 que é uma contradigao. Portanto cj1 > 0, completando a inducio. Como 0 < ¢ < VA e b; | A—c?, temos que as sequéncias {c;} e {bi} s6 assumem um niimero finito de valores. Além disso, como b; = (A-c2,,)/bix1 © cj = aid; — ci41 podemos recuperar os valores de b; ec; a partir dos de b;41 € c:41. Portanto estas duas sequéncias, assim como a fragio continua VA + [VA] = [a0:a1,a2,...], sto periddicas puras, digamos de periodo k. Em particular by = 1 ¢ cy = ao. Note que como ap = 2| VA], temos que a expansio em fragio conti mua de V/A é [ag/2; a1, a2, ...]. Logo, para i > 1, denotando por pi/qi a i-ésima convergente desta fragao continua, temos Freep + Da vA asa Sat ga e portanto Agi + ci41VAgi + VAbiHgi—1 = VAD: + Ci41Di + bit 1Pi-1- Separando parte racional da parte irracional obtemos as equacdes Agi =cCitiPitbitipi-1 © Pi = Cit 1G + Bi41gi-1 Isolando ¢;41 nas equagées anteriores e igualando obtemos Agi +1 bisa Pi a 4 => Aq? — bis Pi-1gi = PP — bi41Gi-1Pi = pi — Ag? = bis1(Pigi-1 — Pi-19%) = pi Ag? = (-1)' bint donde obtemos uma solugao da equacéo a? — Ay? = (—1)'t1bi41. Sek é © perfodo teremos que bj = 1 e portanto a equacio x — Ay? = —1 tem solugio se k é {mpar, enquanto que x? — Ay? = 1 sempre tem solugao (tomando i + 1 = 2k). Exemplo 4.16. Determine a solucdo minima da equagdo x? —13y? = 1. 166 CAPITULO 4. EQUACOES DIOFANTINAS NAO LINEARES Sotugdo: Sejam [ap; a1, a2, a3,...] a fragdo continua de ay = V13+3. Os valores aj podem ser calculados recursivamente usando as relagdes aj = Lay], aj41 = hz. Assim neste caso i | ay Oy 6| Vi3+3 523 ey iss ot4 i 3/1 i2 at Paci 5/6] v13+3 Observemos que a linha 0 é igual a linha 5, assim os mimeros vao se repetir, portanto V13 + 3 = (6;1,1,1,1] e V13 = [3;1,1,1,1, 6], assim podemos calcular os primeiro 5 convergentes de 13 obtendo mo8 Bot wot Tm 18 go lem 1 ’m 2% 38 'm 5 logo pj — 13g} = 18? — 13 x 5? = —1 6 a solugdo fundamental da equacgdo x? — 13y? = -1. Para obter a solugao fundamental de x? — 13y? = 1 basta calcular o décimo convergente, de fato ps_ 19 ps _ 137 pr _ 256 pg _ 393 py _ 849 33. qs 38 ‘qr 71.’ gg -:109 gy ‘180° segue que 649? — 13 x 180? = 1 é a solugdo minima desta equacio. Observemos que podemos chegar a este mesmo valor pegando a solugio 18+5V13 e elevando ao quadrado, isto 6, (18 +513)? = 649 + 180/13. o Problemas Propostos 4.38. Calcule a a solugdo fundamental da equagdo de Pell x? — dy? = onde d = a? —2 ed =a? —a parca inteiro arbitrario. 4.39. Determine a fragdéo continua de Va? +2, e determine para que valores de a a equagao x? — (a? + 2)y? = —1 tem solugao. 4.40. Determine a solugdo fundamental da equagao x? — 3ly? = 1. 4.41. Determine a solugdo fundamental da equagdo 2? — 41y? = -1. 4.11. OUTRAS EQUACOES DO TIPO X? — AY? =C 167 4.11 Outras equagées do tipo 2? — Ay? =c Foi mostrado que a equagio x? — Ay? = 1 sempre possui solugao. Por outro lado a equagdo 2? — Ay? = —1 s6 possui solugao se 0 perfodo da fracdo continua de VA tem comprimento {mpar. O seguintes teore- mas respondem de forma simples quando esta equagdo tem ou nao tem soluc&o para alguns valores particulares de A. Teorema 4.17. Se A tem um divisor primo da forma 4k +3, entéo a equacdo x” — Ay? = —1 ndo tem solugéo inteira positiva. DEMONSTRAGAO: Seja p um mimero primo da forma 4k +3 que divide A. Se esta equagiio tiver solugio, entio a congruéncia x? = x? — Ay? = —1 (mod p) teria solugao. Mas elevando A poténcia 251, obtemos que x-! = (—1)-1)/2 = —1 (mod p), logo pelo teorema de Fermat obte- mos que 1 = —1 (mod p), 0 que 6 contraditério. o Teorema 4.18. Seja p um primo da forma 4k +1. Entéo a equacéio a? — py? = —1 sempre possui solugao. DEMONSTRAGAO: Suponhamos que (a,b) é solugio fundamental da equacéo 2? — py? = 1. Como a? — pb? = a? — b? = 1 (mod 4) temos que a é impar e b 6 par, ¢ como a? — 1 = pb? temos que at+la-1_ (6)? 2 2 P\a)- Como os mimeros “$1 e 451 sfo primos entre si, temos duas possibili- dades: eat+1 = 2f? ea—1 = 2pg. Subtraindo estas duas equagoes obtemos f? — pg? = 1, isto 6, o par (f,g) também 6 solugao de x? — py? = 1 menor que a solugio (a,b), 0 que é impossfvel j4 que esta é a solugao fundamental, logo este caso nao pode acontecer. a+1 = 2pf? ea—1 = 2g%. Subtraindo estas duas equagdes obtemos g” — pf? = —1, como querfamos mostrar. Qo Exemplo 4.19. Sabendo que x? — 29y? = 1 possui como solugdo fun- damental « = 9801 ¢ y = 1820, determine a solugdo fundamental de a? — 29y? = -1. SoLugAO: Pela prova do teorema anterior sabemos que a equacdo a? — 29y? = -1 possui uma solugao (g, f) com 2g? = 9801 — 1 = 9800 e 2-29 f? = 9801+1, portanto g = V4900 = 70e f = \/ 82 = V169 = 13. ao 168 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES A seguinte proposigao ajuda a reduzir o trabalho necessério para decidir se a equagao mais geral x? — Ay? = c possui solugées inteiras positivas. Proposigdo 4.20. Seja a = 1; + y,VA > 1 onde (111,41) € a solugéo minima de x? — Ay? = 1. Dado c € Z néo nulo, se existem z,y € N com x? — Ay? = c, entéo eristem u,v € N comu+uVA 0, com N(8) = 2?— Ay? = c. Entao N(8-a*) = c para todo k € Z. Em particular podemos escolher um k € Z tal que V[c] < B-a* < aye]. No caso que viel < B-ak < Vale definimos y = 8 - a* e no caso que Vale] < 6 -a* < ay/|c], podemos definir y = a: |c|/(8-a*) = eBat* onde « = § € {1,—1}, assim N(q) = N(A) = N(8) = ce Vd <7 < Vale). Logo, sem perda de generalidade, podemos supor que we <7< Vole. Assim temos que y = u+vVA com u,v € Z e ainda precisamos verificar que u,v sdo naturais, mas Ny — Av? = (u+ vVA)(u — VA). Temos entio ju — vVAl = ic] Su+ovA. law = eS es Temos assim u—vVA < u+vVA, donde v > 0 e simultaneamente —utoVA 0. o Exemplo 4.21. Determine se a equagéo x? — 10y* = 39 possui solugao. SoLugAo: A equagio x? — 10y? = 1 possui como solugéo fundamental 19 +6VI0. Como 1/39(19 + 6V10) < 39 ¢ y/ 20%6M19 < 13, pela proposigao anterior, e do fato que x? > 39, temos que uma possfvel solugao satisfaz 7 < x < 39 com « impar e y < 12, assim sé precisamos testar 12 valores para y. De fato com y = 1, obtemos x = 7, e portanto ‘a equacao possui solugio. oO Exemplo 4.22. Mostre que a equagéo x*—10y? = 11 ndo possui solugao inteira. 4.12. CONTANDO TRIANGULOS PITAGORICOS COM HIPOTENUSA FIX SOLUGAO: Pelo mesmo processo anterior temos que 11(19 + 6V10) < 21 © jets ar, Considerando a equacdo médulo 4 obtemos x” + 2y = 3 (mod 4), mas esta relagdo somente é possfvel quando « e y sio impares, portanto, se a equagao tem solugio, uma das solugoes deve satisfazer 4 < x < 20 y <6 com = e y impares, assim s6 precisamos testar y = 1,3,5, mas como nenhum dos ntimeros 11 +10 = 21, 11+90 = 101 e 11+ 250 = 261 6 um quadrado perfeito, conchufmos que a equacio nao possui solucées inteiras. a Problemas Propostos 4.42. Determine se a equagdo x? — 19y? = 21 possui solugdo inteira. aie 4.43. Determine todos o: inteira. > possui solucdo 4.44, Usando o fato de que a equagdéo x? — 91y* = 1 tem como solucao fundamental o par (1574, 165), mostre que a equagéo 7x? — 13y” = 1 nao possui solucdes inteiras. 4.12 Contando triangulos pitagéricos com hipo- tenusa fixada Para todo c ntimero natural, denotemos por $2(c) o ntimero de pares de naturais (m,n) com mde(m,n) = 1, m existe 7 € Z[i] tal que 8 = ay. Assim, por exemplo, temos que 1+i | 5+3i pois 5+3i = (1+)(4—7). Note que | =+ N(a) | N(8). Mais geralmente, temos Lema 4.24 (Divisdo Euclidiana). Sejam a, 8 € Z[i] com 8 #0. Entéo existem inteiros de Gauf q,r € Z{i] tais que a=6q+r com N(r)< N(8). DEMonsTRACAO: Escreva § = x + yi com z,y € Q. Agora sejam m,n € Z os inteiros mais préximos de « e y, ou seja, me n sao tais que |a—m| < $e |y—n| < }. Agora basta tomar g =m-+nier=a—8q, pois temos \(e—m) + (y=n)i? Multiplicando por ||?, temos portanto N(r) = a — Aq? < [9 = N(8). oO Note que, ao contrdrio da divisio euclidiana em inteiros, o quociente e o resto na divisaéo em Z|] nem sempre estao unicamente determinados. Por exemplo, dividindo-se a = 5 por 8 = 1 +4, temos mais de uma possibilidade: 5 =(1+i)(2-2i)+1 com 1=N(1) i= -2 (mod 2+ i) <=> 141= 1 (mod 2+ i). Logo (1 + 4)? = (—1)2 (mod 2+ i) => (1 +1)? +1=0 (mod 2+). Q O préximo passo é generalizar 0 conceito de primo: Definigdo 4.30. Dizemos que x € A\ {0} é irredutivel se ele néo pode ser escrito como produto de dois elementos em A\ A*. Dois irredutiveis m € 2 sdo ditos associados se eles diferem por multiplicagdéo por uma unidade: 1 = um com ue AX. Por exemplo, em A = Z, os mimeros da forma +p, onde p 6 um ntimero primo sao primos associados. Intuitivamente, elementos associ- ados devem ser vistos nao como primos distintos mas como um “tinico primo” para efeitos de fatoragio. Primos em Z nio necessariamente sio irredutiveis em Z[#]. Por exem- plo, temos que 5 = (2+ 4)(2— 1). Por outro lado, 2+ i ¢ 2— i possuem norma N(2+ i) =5 prima e logo sao irredutiveis pelo seguinte Lema 4.31. 1. Zfi]* = {+1,+i}. Em particular u € ZX <> N(u) 2. Se m € Zfi] é tal que N(m) é um miimero primo, entdo m é irredu- tvel. 3. Sep €Z é um primo p =3 (mod 4), entio p € irredutivel em Z{i). 174 CAPITULO 4. EQUAQOES DIOFANTINAS NAO LINEARES DEMONSTRAGAO: F facil verificar que +1, +i sfio unidades. Por outro lado, se u € Z[i]*, entao existe v € Z[i] tal que wv = 1, logo N(u)N(v) = 1. Como N(u), N(v) sio inteiros positives, temos N(u) = N(v) Escrevendo u = a+bi com a,b € Z, temos que N(u) =1 <= a? +b? = 1 <> (a,b) = (£1,0) ou (a,b) = (0, +1), ou seja, u € (+1, +i}. Agora suponha que N(z) seja primo. Se 7 = af com a,f € Zi ent&io N(m) = N(a)N (8). Como N(x) é primo, ou N(a) = 1 ou N(8) 1, ou seja, ou a ou f é uma unidade e portanto 7 ¢ irredutivel. Finalmente, seja p = 3 (mod 4). Se p pode ser fatorado como p = af com a, 8 € Z[i] \Z[i]*, temos p? = N(p) = N(a)N(8). Como a e B néo so unidades, N(a) # 1 e N(8) # 1, logo N(a) = N(8) = p. Porém, escrevendo a = a+bi com a,b € Z, temos que a? +b 3 (mod 4), © que é impossfvel, visto que um quadrado perfeito 6 congruente a 0 ou a 1 médulo 4, logo a? +b? é congruente a 0, 1 ou 2 médulo 4, mas nunca a3 médulo 4. o Note que, como no caso de Z, 0 teorema de Bachet-Bézout implica Lema 4.32. Seja + € Z[i] um elemento irredutivel. Entdo rlaB => mla ou z|8 para a, € Zfi). Como “corolario”, obtemos a fatoragio tinica: Teorema 4.33 (Fatoragdo tnica). Qualquer elemento a # 0 de Z[i] admite uma fatoragéo Q@=T72...% em elementos irredutfveis m;. Tal fatoracéo é tinica a menos da ordem dos fatores e de multiplicagéo por unidades (isto é, a menos de associa dos). DEMONSTRAGAO: A prova da unicidade da fatoragao 6 idéntica & dos inteiros, utilizando o lema anterior. A prova da existéncia da fatoragao 6 também similar, mas agora utilizamos indugdo em N(a): se N(a) = 2 (base) entdo a é irredutivel (ver lema) e se a é irredutfvel, nfio hé nada a fazer; caso contrario, existe uma fatoragio a = 8 onde nem 8 nem ¥ so unidades, isto 6, N(3) # 1e N(7) #1. Como N(a) = N(8)N(y), temos que @ e 7 possuem norma estritamente menor do que N(q). Por hipétese de indugao, 8 e 7 podem ser fatorados em irredutiveis, e combinando as duas fatoragdes temos uma fatoragdo de a. fs 4.12, CONTANDO TRIANGULOS PITAGORICOS COM HIPOTENUSA FIX4 Exemplo 4.34. Escreva 50 como produto de irredutiveis em Z{i] SoLugAo: Como 50 = 2-5? e jd sabemos fatorar 5 = (2 + #)(2 — i) em irredutfveis, basta agora fatorar 2. Temos que 2 = (1 +é)(1— i) = i(1— 4)? e 1-4 6 irredut{vel pois sua norma N(1—i) = 2 prima. Logo 50 = i(1 — 1)?(2 + i)2(2 — i)? 6 a fatoragao em irredutiveis de 50. ao Exemplo 4.35. Determine todas as solugdes inteiras da equagdo Bi 4/2 acai a +y’ , com mdec(zx, y) SoLugAo: Fatorando em inteiros de Gauf temos que (+iy)(x—iy) = 2, Além disso, temos mde(z-+iy, iy) = mde(2x, «—iy)| mde(2x, 2¢—2iy) = 2mde(e,y) = 2. O mde destes dois mimeros nfo pode ser 2, porque nesse caso x ¢ y seriam divisiveis por 2. Assim temos dois possiveis casos # Se mdc(x+iy, x—iy) = 1, entao cada um é 0 cubo de um inteiro de Ganuf, isto, és+iy = (a+ib)3, portanto x = a?—3ab?, y = 3ab—b> ez = a? +? com mde(a,b) = 1 e com a +b impar (de fato, se a+b fosse par, entéo a+ ib e x + iy seriam miiltiplos de 1 +i, e terfamos 1+ i| mde(x + iy, x — iy), contradigio). Se mde(« + iy, — iy) = 1+ 4 terfamos « e y da mesma paridade, logo a e y seriam impares, donde a? + y? = 2 (mod 4), e logo 2? +y? nfio pode ser 0 cubo de um inteiro. o Problemas Propostos 4.48. Determine todas as solugdes inteiras da equacao x? + y® = 223. 4.49. Mostre que se p um primo da forma 4k +1 entéo 2? + y? = pz4 possui infinitas solugées com mde(x, y) = 1. 4.50. Mostre que a equagéo 25x? + l4cy + 2y? = z° possui infinitas solugées com mde(z, y) = 1 Agora sim voltemos a nosso problema original de calcular So(c) e Talc). 176 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES Teorema 4.36. Sejam ¢ um inteiro positivo e c= pf'---pt" sua fato- ragéo em fatores primos. Entéo 0 sec é par S2(c) = 40 se existe j com11 6 multiplicativa. Assim 10 Lal) “AEMG) “4 dle dle Usando 0 fato que $ é multiplicativa, temos que para todo primo p se tem que oup=3 (mod 4) (mod 4) t eee se p Y807= {a oa se p= Destes dois fatos obtemos o que querfamos mostrar. o No exemplo 4.23 exibimos 7 triangulos com hipotenusa 325. De fato, como 325 = 5? x 13, aplicando a formula obtida no teorema anterior temos que 7(325) = 3(2 x 2+ 1)(2 x 1+1)—5 = 7, que esté em concordancia com o exemplo. Vamos agora mostrar uma formula para U2(c): Teorema 4.38. Sejam c um ntimero inteiro positivo e C= Wp. pk ght... ght sua fatoragdo em fatores primos, onde os fatores p; sdo congruentes a1 médulo 4 ¢ os fatores q; sdo congruentes a 3 médulo 4. Se algum 8; é impar entéo U2(c) =0. Caso contrério, temos duas possibilidades: Caso algum a; seja impar, Wale) = Flea +1) (on +1), € caso todos os 0% sejam pares, Wale) = H((an +1)-- (an +1) +1). DEMONSTRAGAO: Cada p, pode-se fatorar no anel de inteiros de Gau8 com p; = pjB,, onde py = aj + iby € By = a; — iby sio primos no anel dos inteiros de Gau8. Assim c se fatora nos inteiros de Gau8 como oO) = i(L "pM RE DSRS? BPR at af. 178 CAPITULO 4. EQUAQOES DIOFANTINAS NAO LINEARES Queremos saber de quantas formas podemos escrever ¢ como u2 + v?, isto 6c = (w+ iv)(u — iv), com 0 < u < v, ent&o queremos contar de quantas formas podemos distribuir os fatores de c em dois fatores com a propridedade de que um sejam conjugado do outro. Para cada i <-k, temos as aj +1 escolhas 0,1,...,a1 para o expoente 71 de pi no primeiro fator (sendo o expoente de p, no primeiro fator igual a a; —71), © que nos da (a1 +1)-++ (a, +1) escolhas. Mas se permutarmos esses dois fatores conjugados de c obtemos a mesma solugdo. Assim, devemos dividir 0 ntimero de escolhas por 2, exceto no caso em que algum fator seja conjugado dele mesmo (médulo multiplicagio por invertivel), mas isso 86 € possivel quando todos os a; sao pares, e nesse caso hé um tinico fator com essa propriedade, o que nos dé a férmula do enunciado. 0 Problemas Propostos 4.51. Encontre todos os tridngulos reténgulos com hipotenusa 330. 4.52. Quantos triplas pitagéricas tém hipotenusa igual a 5525? 4.53. Encontre 0 menor valor para ¢ de tal forma que existam exata- mente 28 tridngulos com hipotenusa igual a c. 4.13 Descenso Infinito de Fermat Até agora foram estudadas essencialmente equacdes que principal- mente possuem termos quadréticos. Existem métodos semelhantes ao método geométrico, por exemplo em curvas do tipo y? = «3 + ax +, as chamadas curvas elipticas, mas, em geral, nao existe um método ge- nérico para determinar se uma equagao diofantina possui ou no possui solugao. De fato, em 1970 0 matematico russo Yuri Matiyasevich, com- pletando trabalhos de Martin Davis, Julia Robinson e Hilary Putnam, mostrou que nao pode existir um algoritmo para determinar se uma dada equagao diofantina possui ou no possui solugao, dando resposta negativa ao décimo problema de Hilbert. Apesar disso, em alguns casos, é possfvel mostrar que algumas equa- Ges diofantinas F(t1,--+52n) =0, nao possuem solugdio, O método do descenso infinito (quando aplicavel) permite mostrar que esta equagdo nao possui solugdes inteiras positivas ou, sob certas condigdes, até mesmo encontrar todas as suas solugées inteiras. Se 0 conjunto de solugdes de f A= {(1,...50) €Z"| f(ar,...,2n) =O} 4,13. DESCENSO INFINITO DE FERMAT 179 6 diferente de vazio, entao gostariamos de considerar a solugao “minima” em certo sentido, Em outras palavras, queremos construir uma fungao : A + Ne considerar a solucio (21,...,2n) € A com $(21,...,2n) minimo. O descenso consiste em obter, a partir desta solugio minima, uma ainda menor, o que nos conduz claramente a uma contradigéo, provando que A de fato é vazio. Para ilustrar este método consideremos 0 seguinte Exemplo 4.39. Sejam a e b inteiros positivos tais que b < 2a + 1. Mostrar que a equagao bx? — 2ary — y? = 0 néo possui solugdes inteiras positivas. SoLugAo: Suponhamos que a equagao possui solugdo nao nula (m,n) com m,n EN, isto 6, bm? — 2amn — n? = 0 e escolhemos esta solugaio de tal forma que n seja minimo. Como n? +2amn = bm?, somando aos dois lados a2m? obtemos que (n+am)? = (b+ .a?)m? < (a? + 2a + 1)m? = (a+ 1)?m?, eassim n+am < am+m, isto, én 0. Logo existe uma tal solugao (a,b,c) na qual ¢ é mt nimo. Em particular, temos que a e b sao primos entre si, pois se d = mde(a,b) > 1 poderfamos substituir (a,b,c) por ($,5,%) e ob- ter uma solucéo com c menor. De (a?)? + (b?)? = c? temos portanto que (a, b?, c) é uma tripla pitagérica primitiva e assim existem inteiros positives m e n primos relativos tais que =m -n?, P=2mn e cam +n’. Da primeira equagdo temos que (a,n,m) é uma tripla pitagérica primi- tiva e portanto m 6 impar. Assim, de 6? = 2mn concluimos que b, e portanto n, é par. Observando ainda que b? = (2n)m é um quadrado perfeito e mdc(2n,m) = 1, concluimos que tanto 2n como m sio qua- drados perfeitos, donde podemos encontrar inteiros positivos s e ¢ tais que Qn=4s? ee m=t?. Por outro lado, dado que a? +n? = m?, entao existirao inteiros positivos ie j, primos entre si, tais que n=2%j e m=i?+;*. Portanto s? i=wej=v’. Logo temos que m = 7? + j?,i=w, j =v? em=??, assim ij, logo i e j serdo quadrados perfeitos, digamos Pout, isto 6, (u,v, t) 6 outra solugo da equacio original. Porém t n. Como men dividem m? + n? +1 e no tém fator comum, entdo ™4®"+1 — k € N. Assim temos a relagao m? +n? +1—kmn = 0, isto 6, m é raiz do poliné- mio quadratico X? —knX +(n?+1) =0. A outra solugao desta equagio quadrdtica pode ser calculada de duas formas distintas, j4 que kn é a soma das rafzes e n? +1 6 0 produto das rafzes. Assim esta segunda raiz ‘m! por um lado é igual a kn — m, e portanto inteira, e por outro lado também é igual a “++ o que implica que é positiva. Observe além disso que 2 2 i nétl ow +1 ch m n+1 n+l Por tanto se o par (m,n) é solugaio do problema com m > n, entdo (n,m’) 2 : é solugdo de ™“#"?#1 — k com n > m’, onde esta desigualdade ¢ estrita se n> 1. Assim, neste caso poderfamos de novo aplicar este processo para de novo encontrar uma solug&o menor. Este processo s6 no pode ser aplicado novamente quando n = 1 = m, e neste caso k = 3. Para gerar todas as solugées basta fazer 0 processo inverso. Assim, partindo do par (1,1) podemos construir todas as solugdes usando os termos da recorréncia 1 = 1, 22 = 1 a;41 = 32, — 2)~1, onde os pares (1,1), (2,1), (5,2), (18,5), (84,18), ---, (@j41)2%j),-+ sio todas as solugdes do problema. a 182 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES O método do descenso também pode ser usado para encontrar as solugdes da equagéio de Markey. Exemplo 4.43. Mostrar que a equacao diofantina arty +2? = Bryz. possui infinitas solugdes inteiras positivas, e descrevé-las. Esta equagéo € conhecida como equagdo de Markov. SoLugAo: Por verificagdo direta temos que (1,1,1) e (1,1,2) sao so- lugdes da equago. Além disso, como a equagio 6 simétrica, podemos considerar, sem perda de generalidade, somente as solugdes com as co- ordenadas < y < z ordenadas de forma ndo decrescente. Se 2 = y, teremos x? = 3ry? — ne = (3x — 2)y? > y? > 22, valendo as igualdades seesése z= Assim ieee que (z,y,z) é uma solugéo com « < y < ze portanto com z > 1. O polinémio quadratico — 3ayT + (2? +y?) =0 possui duas solugées, e uma dela é z. Assim a outra é at pil, y 2! = 3ay €Z\ {0} Vejamos que 2’ < y < z, e assim (z/,z,y) & também solugao (menor) da equagdo de Markov. Para isto, suponhamos por contradiggo que 2 yy ce i Ei = 2! > y, isto 6 yz < a? +y? < 2y?, e em particular z < 2y. Segue que Sy? > y? +27 = Bayz — 2? = 2(3yz — 2) > xy(3z-1), e portanto 5y > «(32 — 1). Observemos que se x > 2, entdo 5y > 2(32—1) > 5z, 0 que contradiz a hipétese y > z. Logo x=1e Hi > z, assim # +y 22> y. Portanto devemos ter temos . +y =z, e neste caso y = 1 e z =2, 0 que nos da 2 = 3ry — z= 1 < y, contradicao. Do fato anterior, temos que dada uma solugdo da equacio de Mar- kov (¢,y,2) com z > 2 ,6 sempre possivel encontrar uma solugdo me- nor (z/,2,y) © este proceso somente para quando chegamos & solugéo (1,1,1), isto é estamos gerando uma érvore de solugdes da seguinte forma: 4.13. DESCENSO INFINITO DE FERMAT 183 (1,1,1) (1,1,2) (1,2,5) (1,5,13) (2,5,29) a is3,a4) 3,194) (222109) (5,29, 433) onde de cada né (2,y,2), com « < y < 2, saem duas novas solugdes (x, 2,3az—y) e (y,2,3yz—2). o Problemas Propostos 4.54. Seja p um ntimero primo en um inteiro maior do que 1. Usar 0 método do descenso infinito para mostrar que y/p é um ntimero irracio- nal. 4.55. Seja p um ntimero primo. Mostrar que néo existem inteiros posi- tivos a, b ec tais que a® + pb + pc =0. 4.56. Pode um tridngulo reténgulo com lados inteiros ter drea que seja © quadrado de um inteiro? 4.57. Mostre que a equagdo x + y? + 2? = xy? ndo possui solugdes inteiras positivas. 4.58. Mostre que nao eristem inteiros nao nulos x,y, 2,w tais que cum- P+ypa? 2 prem o sistema de equagées Fae 2P-paw 4.59. Mostrar usando 0 método do descenso infinito que a equagéo x* + y* = 22? nao tem solucées ndo triviais. 184 CAPITULO 4. EQUAGOES DIOFANTINAS NAO LINEARES 4.60. Sejam a e b inteiros postitivos tais que ab divide a? + b? + 2. Mostrar que *+#+2 — 4, 4.61. Sejama eb inteiros positivos tais que ab+1 divide a2+b?. Mostrar 2 que 0 niimero é um quadrado perfeito. ab+1 4,62. Seja k um naimero inteiro distinto de1 e3. Mostrar que a equagéo a? +y? +2? =kayz nao possui solugées inteiras positivas. 4.63. Determine todas as soluées inteiras de «* — 2y? Bibliografia (5) F. E. Brochero Martinez, C. G. Moreira, N. C. Saldanha, E. Tengan - Teoria dos Nimeros: um passcio com primos e outros ntimeros familiares pelo mundo inteiro - Projeto Euclides, IMPA, 2010. A. Caminha. Equagées diofantinas, Revista Eureka! No. 7, pp. 39- 48. T. W. Cusick e M. E. Flahive, The Markoff and Lagrange spectra, Math. Surveys and Monographs, no. 30, A.M.S. (1989). S. C. Coutinho, Niimeros inteiros e criptografia RSA, Colegio Com- putagéio e Matematica, SBM e IMPA (2000). H. Cramér, On the order of magnitude of the difference between consecutive prime numbers, Acta Arithmetica 2: 23-46 (1936). Lorenzo J. Diaz, Danielle de Rezende Jorge, Uma introdugéo aos Sistemas Dinémicos via Fragdes Continuas, 26° Coléquio Brasileiro de Matematica, IMPA (2007) A. Hefez. Elementos de Aritmética, 2a. edig&o. Textos Université- rios, SBM (2005) C. G. Moreira, O teorema de Ramsey, Revista Burcka! 6, 23-29 C. G. Moreira, Geometric properties of the Markov and Lagrange spectra. Preprint-IMPA-2009 D.H. J. Polymath, Deterministic methods to find primes, preprint, http://polymathprojects.files.wordpress.com/2010/07/ polymath.pdf; veja também http://polymathprojects.org/ 2009/08/09/research-thread-ii-deterministic-way-to- find-primes/ e http: //michaelnielsen.org/polymath1/ index.php? title=Finding_primes 185, 186 BIBLIOGRAFIA [11] A. Politi, J. C. F. Matthews, J. L. O’Brien, Shor’s Quantum Fac- toring Algorithm on a Photonic Chip, Science 4 September 2009: Vol. 325. no. 5945, p. 1221. [12] P. Ribenboim, Selling primes, Math. Mag. 68 (1995), 175-182. Tra- duzido como Vendendo primos, Rev. Mat. Univ. 22/23 (1997), 1-13. [13] J.P.O. Santos. Introdugao & Teoria dos Niimeros, 3a. edigiio. Cole- cio Matemética Universitaria, IMPA (2010). [14] J.P. Serre, On a theorem of Jordan, Bull. Amer. Math. Soc. (N.S.) 40 (2003), no. 4, 429-440. [15] A. Shen e N. K. Vereshchagin, Basic Set Theory, AMS, 2002. [16] P. W. Shor, Polynomial-Time Algorithms for Prime Factoriza- tion and Discrete Logarithms on a Quantum Computer, SIAM J. Comput. 26 (5), 1484-1509 (1997). Também em arXiv:quant- ph/9508027v2.

Você também pode gostar