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MARCELO DE CARVALHO BORBA RICARDO SCUCUGLIA R. DA SILVA GEORGE GADANIDIS Fases das tecnologias digitais em Educacao Matematica Sala de aula e internet em movimento auténtica Copyright © 2014 Os autores Copyright © 2014 Auténtica Editora Todos 05 direitos reservados pela Auténtica Editora, Nenhuma pa publicagao poder ser reproduzida, seja por melos mecdnicos, elite CO! via cOpia xerografica, sem a autorizacdo prévia da Editora 5 sla CCOORDENADOR DA COLEGAO TENDENCIAS —_—_—EDITORA RESPONS VEL Et EDUCAGRO MATEMATICA Rejane Dias ‘Marcelo de Carvalho Borba ~ gpimem@rc.unesp.br ee Priscila Justina CCONSELHO EDITORIAL Livia Martins Airton Carriso/Coltec-UFMG, Arthur Powell/Rutgers University; eed ‘Marcelo Borba/UNESP, Ubiratan Alberto Bittencourt D’Ambrosio/UNIBANIUSP/UNESP; DIAGRAMACAO Maria da Conceiclo Fonseca/UFMG. Jairo Anvrenga Fonseca Dados internacionais de Catalogacao na Put (Camara Brasileira do Livro, SP, Br Botta, Marcelo de Carvalho Fases das tecnologias digitals em EducacSo Matematica : sala de aulae internet em movimento / Marcelo de Carvaino Borba, Ricardo Scucugla da Silva, George Gadanidis. -2.ed.;2.reimp. Belo Horizonte : Autentica Editora, 2018. ~ (Colegio Tendéncias em EducacSo Matematica) 14-09887 coo-so7 | Indices para cataiogo sistemstco: 1. Tecnologia digital: Matematica : Estudo e ensino $10.7 @ cavroaurtnrica Belo Horizonte Rio de Janeiro 0 Paulo Rua Carlos Turner, 420 Rua Debret, 23, sala 401 Av. Paulista, 2073. Silveira. 31140-520 Centro . 20030-0860 Conjunto Nacional, Hosa! 23° andar. Con. 2310-2312 Cerqueira César .01311-949 $580 Paulo. SP Tals (55 11) 3034 468 Belo Horizonte . MG Rio de Janeiro RI Tel. (55 31) 34654500 Tel: (55 21) 3179 1975 ‘www.grupoautentica.com.br Capitulo V Tecnologias digitais em Educagao Matematica Tecnologias digitais e o futuro da sala de aula Como sera a educagio matematica no século XXI? Ela seré fun- damentalmente alterada pelas tecnologias digitais, ou teremos uma educacao semelhante aquela do século XX? Este livro nao se propos a debater questées tao amplas como essas, mas, por outro lado, que- remos langar conjecturas por meio de discussdes sobre 0 que ja esta acontecendo em algumas salas de aula. E claro que, ao arriscarmos algumas previsdes, estamos sujeitos ao erro, mas elas poderio servir para que mais atores do campo educacional consigam participar e interferir conscientemente nas mudangas que estado em cul Uma caracteristica do século XX, que parece permanecer intacta no século XXI, é a tentativa de reducao da educagao, em geral, e con- sequentemente da educa¢ao matematica, aos testes. Assim, se diz que um sistema educacional de um dado pais est em crise porque ele nao se encontra bem colocado em um teste internacional. Por exemplo, podemos citar 0 Programme for International Student Assessment (PISA- “Programa Internacional de Avaliagao de Estudantes"), “uma iniciativa internacional de avaliagéo comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 13 anos, idade em que se pressupde o término da esco- latidade basica obrigatoria na maioria dos paises” (INEP, s/d). Esse tipo de comparagao tem se tornado uma constante “intranacional” 135 ae Cousgho “Tnotncias 4 Eoucagko MasbebIca” ¢ internacionalmente. Em estados do Brasil como Sao Paulo, os pro- fessores ganham bonus se os resultados dos seus alunos forem bons, (© que tornam os professores, que tém baixo salério, faceis de serem cooptados pela ideia de que melhorar o desempenho dos alunos em testes é 0 “fim” da educagio. No caso, “fim” foi utilizado como objetivo ou meta, mas pode também ser pensado como “final”, como 0 final do que entendemos por educacio. Mas o que éeducagao? De novo, é necessério dizer que este livro nao se propds a responder a essa questao, mas uma rdpida olhada, mais uma vez na Wikipédia, nos leva a seguinte definicao: “Educacao engloba os processos de ensinar e aprender. E um fend- meno observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsavel pela sua manutengdo e perpetuacdo a partir da transposicao, as geracdes que se seguem, dos modos culturais de ser, estar ¢ agir necessarios 4 convivéncia ¢ ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade (grifo do original)”. Se pensarmos em uma classificagio mais precisa, podemos utilizar as ideias de Paulo Freire que qualifica a educagao como bancéria ou libertadora. Nesse caso, vemos que esta acepgao de teste pode se tornar ainda mais complicada. No dicionério feito em home- nagem a sua obra, Roméo (2010) discute, no verbete “Educacao” e em ‘outros, que os seres humanos, homens e mulheres, sao incompletos ¢ inacabados, ¢ que a consciéncia de tal fato, uma caracteristica do ser humano, é 0 que 0 leva a educacio, Essa visio construida por esse educador pernambucano, € compartilhada por varios outros, faz com que o papel do professor seja o de manter um didlogo com 0 educando para que ele lide e supere a sua incompletude. Ou em suas palavras: E na inconclusdo do ser, que se sabe como tal, que se funda a educacao como processo permanente. Mulheres ¢ homens se tornam educiveis na medida em que se reco- nheceram inacabados. Nao foi educagao que fez mulheres, e homens educaveis, mas a consciéncia de sua inconclu- sio é que gerou sua educabilidade (FReiRE, 1996, p. 64). -chuip://www ptwikipedia.org/wiki/EducaSC3%A7%C3%A30> 136 A visio que permeia este livro é muito mais préxima d que da visio que reduz educacio a testes, Tentamos — como uma marca do nosso tempo, que consti e& constr pelo humane. A nogio de seres-humanos-com-midias tenta enfatizar que vivemos sempre em conjunto de humanos e que somos frutos de um momento histérico, que tem as tecnologia historicamente definidas como coparticipes dessa busca pela educagio, As tecno- logias digitais sao parte do processo de educacao do ser humano, ¢ também partes constituintes da incompletude e da superacio dessa incompletude ontoldgica do ser humano, Eassim que autores como Villarreal e Borba (2010) discutem que a lousa tradicional nao é natural a sala de aula, Ela também foi uma tecnologia introduzida de forma diferenciada em diferentes paises. Em paises como Brasil e Argentina, ela est presente de forma intensa nas salas de aula ha cerca de cem anos. A lousa foi coparticipe de um proceso educacional, de producao de conhecimento produzido por coletivos de seres-humanos-com-midias. A popularizacao do lapis e papel ajudou a moldar um tipo de educagdo e suas possibilidades. £ dessa forma que entendemos que a nogio de seres-humanos- com-midias é vista neste livro, como uma forma de enfatizar que as possibilidades do conhecimento, feito socialmente por coletivos, se alteram com diferentes humanos e diferentes tecnologias. Nesse sentido, as quatro fases aqui apresentadas tentam, na forma de zoom, detalhar as contribuigdes e desconfortos (no sentido de que tornam artefatos naturais nfo mais tao naturais) trazidos pelas incessantes camadas de novas tecnologias, que brotam a cada instante no coti- diano da vida de uma parcela consideravel da populagio mundial. Este livro ilustra como na quarta fase ha uma intensificagao do uso da internet em todas as dimensées de nossas vidas. A sala de aula resiste, mas a internet ja faz parte dos coletivos que geram conhecimento, estando a sala de aula conectada ou nao. Ja dissemos ¢ :mostramos que as tecnologias digitais modificam o que é serhumano €comoa propria nocdo de sala de aula esta em cheque (Bora, 2012). Cremos que é possivel dizer que a sala de aula pode nao mais se tornar a.arena, o espaco fisico onde a educagio se dé fundamentalmente Assim como a lousa nem sempre existiu na sala de aula, é possvel quea sala de aula seja transformada, ou mesmo se dilua na internet. vera tecnologia 137 Couto “Tenotneas e4 Ebveagto Marensnca” que era previsdo ou conjectura em Borba (2012), jéé realidade em uma universidade inteira na Finlandia: a universidade sem sala de aula. Nao é possivel saber se essa universidade é um ponto fora da curva ou se representa uma tendéncia, mas parece cada vez mais que a internet, gerada por coletivos de seres-humanos-com-outras- tecnologias, se incorpora a novos coletivos de forma arrebatadorae transforma até mesmo o espaco fisico que talvez tenha resistido ao maximo a sua entrada: a sala de aula. Hoje, no Brasil, com a imensidao do projeto de formacao de professores da UAB, e de outros cursos a distancia, aproximadamente metade dos professores que esto em formagio nao possuem a sala de aula fisica como lécus central de sua educagao. Serao professores em salas de aula presenciais, mas sendo formados em um espaco fisico que envolve polos, o sofé da sua casa, a mesa do seu escritério, © seu celular, o seu computador ¢ a internet, Nao é possivel saber o que isso significa tanto em termos pedagégicos como em termos de acesso, Nao sabemos ainda se est se dando de fato uma interiori- zagao da educacao piblica ¢ gratuita brasileira que redundara em, pelo menos, reducao do inchaco das grandes cidades e uma maior “democracia geografica”. ‘Sabemos também que 0 acesso a tecnologia ndo ¢ igual para todos, e que mais da metade da populagao mundial nao tem acesso a internet ou nao tem nogao do que venha a ser um computador. Um relatério da ONU, de outubro de 2013,” mostra que, embora mimero de celulares no mundo praticamente seja equivalente 4 populacdo mundial, ainda hé uma imensa parte da populagio mundial sem acesso & internet. © Brasil nao est bem situado, do ponto de vista mundial, no item de acesso a internet. Por outro lado, a imprensa nacional j4 noticia que ha mais celulares que habitantes no pais. A tendéncia é que esses celulares passem a ter acesso a grande rede, tornando esse acesso pessoal mais proximo da universalidade. 2 chupufwwwnoticias7.comveducacao/otosfinlandia-conheca-a-universidade-de-has- s-+primeira-do-mundo sem-alunos-professores-ou-sla-de-ala-26112013#/et/l> » chttp://www.onu.org.br/onu-4-bilhoes-de-pessoas-permanecem-sem-acess0-2 -internet/> 138 Tecnologia digitais em Educagdo Matemtica Este livro, entao, tenta detalhar as possibilidades das tecnologias digitais na educacao matematica, entendida como um componente da educagao, no sentido que Freire tentava nos ensinar, Apresenta- mos diversos exemplos, nao para que sejam seguidos, mas em uma tentativa de dialogar de maneira mais préxima com o professor, ou futuro professor. Esses exemplos so ancorados na experiéncia co- letiva, de um coletivo de seres-humanos-com-midias, que é 0 grupo de pesquisa GPIMEM, com sede em Rio Claro, mas com conexées. virtuais que extrapolam, em muito, os limites geogréficos da Unesp eda cidade ‘Uma busca na pagina de nosso grupo de pesquisa” e no Curri- culo Lattes de seus integrantes permitiré ao leitor ver como nossas inquietagées se manifestam em projetos de pesquisa. Sio investiga- gées acerca da qualidade do uso de tecnologias digitais nos cursos da UAB e de novas formas de incorporé-las na sala de aula presencial, virtual e hibrida. Um mapa do uso das TD nas escolas do estado de Sao Paulo est em construgao, assim como continuam as investiga- oes sobre PMD. A interface dessa discussdo com a tendéncia em educacao matematica de organizar o curriculo em torno de projetos de modelagem, assim como a transformacao do livro didatico diante da existéncia das tecnologias digitais sao objetos de estudo. Os autores deste livro constituem um dos inimeros subgrupos desse grupo de pesquisa e foi constituido por meio de encontros em congressos, de orientacio, de discusses formais e informais, mas, sobretudo, de projetos. Foram projetos de pesquisa que uniram os trés autores deste livro, Foram encontros em congressos de educagio que _geraram o primeiro projeto, a que se seguiram varios outros, e que an- coraram a nocio de performance matemitica digital, um dos simbolos para nds da quarta fase, Assim, autores que moram no Brasil, Canada, ‘0ujé moraram em ambos os paises, constituiram um coletivo de seres- -humanos-com-internete se assumiram enquanto seres-humanos que estdo sendo modificados pela internet, mas que se sentem empoderados para também tentar influenciar, mesmo que minimamente, ocaminho da internet e, em particular, da educagio matemitica que nela se faz e que é moldada, também, por essa tecnologia. chttpiliwww:reunesp.br/gpimem>. 139 Covegho “Texotrras ex Eoveagho Maronkcia” Esperamos que o leitor se una a nés no projeto de modificar de forma consciente os caminhos das tecnologias digitais na educagao matemitica, Compreender as transformacdes que essas tecnologias trazem para a prépria nogdo do que é ser humano é um desafio que temos que enfrentar de forma coletiva e dinamica, j4 que somos modi- ficados por elas ¢ 0s artefatos digitais estdo em constante modificacao. 140

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