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Isensenres2| revistainter-legere AS CONTRIBUICOES DOS ESTUDOS CULTURAIS, POS-COLONIAIS E DAS TEORIAS FEMINISTAS PARA O ENSINO DE SOCIOLOGIA Ligia Wilhelms Eras (UFPR)“ Resumo A Educacio constitui-se como um dos problemas globais de destaque na atualidade. Gesatio deste artigo seri o de observar as possiveis contribuigdes no campo tedtico- epistemolégico e temitico na perspectiva de andlise dos estudos culturais, das teorias feministas € pds-coloniais que permeiam o pensamento social, a cultura ¢ a educacao como meios de subsidiar as reflexdes acerca do campo de estudos sobre o ensino de sociologia e as realidades desafiadoras da escola para o fazer sociolégico e qual o papel das ciéneias sociais e das intelectualidades na apreensdo do plural e das contendas das questdes educacionais no campo académico sociolégico. Palavras-chave: Educagio; Teoria Social e Epistemologia; Ensino de Sociologia. % © Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Parané. Bolsista CAPES/REUNI. E-mail: @hotmail.com Educagao e Sociedade | 85 revistainter-legere (0) I. PROBLEMAS EDUCACIONAIS CONTEMPORANEOS E OS DESAFIOS PARA OENSINO DE SOCIOLOGIA No contato com as teorias pos-coloniais, dos estudos culturais ¢ feministas percebe-se a importincia do contato com essa historia, evitar a primazia de contar apenas uma histéria tinica. Ha duas problemiticas centrais quanto aos riscos da historia iiniea que sio impostas as Liceneiaturas de Cigneias Sociais: a) o sentido “pritico” do conhecimento pedagégico sociolégico; b) as representagies sociais sobre a profissio de ensinar, Também ¢ importante observar como a localizagao colonizada da Educagio impediram uma acomodagdo mais privilegiada — dentro e fora da escola — das novidades que sio gritantes no espago escolar como a interculturalidade, o risco da paralisia do conhecimento escolar ¢ da inovacao social e a emergéneia da composi¢ao de uma agenda de discusses para o Ensino de Sociologia: entre possibilidades ¢ epistemologias. A Licenciatura € um grau académico do ensino superior em que habilita 0 formando a atuar numa especificidade de trabalho que é 0 de ser professor. No caso das Ciéncias Sociais ~ s4o varias grades eurriculares, algumas ja inserem diseiplinas ligadas & formagio da Licenciatura ao longo do curso, outras concentram 0 ensino para a preparacao do oficio pedagégico nos tltimos anos do curso — recebe a mesma formagao do miicleo duro do acesso as teéricas clissicas, contemporineas ¢ teméticas da Sociologia, da Antropologia e da Cigncia Politica e se inserem outras disciplinas ao longo da grade que irdo distinguir a atuagao do formando em cigncias sociais para a pesquisa ou para o ensino, A Lei de Diretrizes e Bases da Educagio Brasileira (LDB) Lei n° 9.394/96 e 0 Decreto n° 3276/99 sio regulamentagdes para a profissdo do magistério que consistem em: Art, 62.A formacdo de docentes para atuar na educagao basica Far-se- 4 em nivel superior, em curso de licenciatura, de graduacao plena, em universidades e institutos supetiores de educacdo; admitida, como formacdo minima para o exercicio do magistério na edueagao infantil @ nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nivel médio, na modalidade Normal. (Regulamentado pelo Decreto n 3276/99) Para ser professor se deve dominar além do conteiido do nficleo comum de sua disciplina especifiea ~ no caso, como socidlogo, deve ser capaz de desenvolver, eriar, Educ Sociedade | 86 revistainter-legere (0) imaginar, pensar e (porque nio dizer) teorizar sobre a sua propria pratica de ensino. E uma atividade altamente reflexiva de se trabalhar com a interconexao entre as teorias € priticas, de imaginar diferenciadas e adequadas priticas de ensino para cada nivel de ensino, para cada contetido e com aquilo que também se ajuste ao perfil de profissional ¢ intelectual do professor na maneira de conduzir suas aulas. Ser capaz de fazer uma leitura das experiéneias — do ensino superior, do ensino escolar, da vida pessoal e coletiva — e gerar conhecimento pedagégico com dominio de comportamentos, atitudes, culturas, sociabilidades e novas linguagens de ensino e teenologias. O uso da aniilise sociolégica, antropologica e politica sio altamente relevantes e necessdrias. A LDB (96) ainda descreve alguns fundamentos importantes para o ato de ensinar: At, $°(..) § °C.) I~ comprometimento com os valores estéticos, politicos e éticos inspiradores da sociedade democratica; Tl - compreensio do papel social da escola; IIL - dominio dos contetidos a serem socializados, de seus significados em diferentes contextos e de sua articulacdo interdisciplinar; TV - dominio do conhecimento pedagégico, incluindo as novas linguagens e teenologias, considerando os Ambitos do ensino e da gestdo, de forma a promover a efetiva aprendizagem dos alunos; V_ = conhecimento de processos de investigacdo que possibilitam 0 aperfeigoamento da pritica _pedagégica: VI- gerenciamento do proprio desenvolvimento profissional. Ao atuar como professor hi uma grande necessidade de se construir uma interface entre os saberes académicos e os pedagégicos para garantir um acesso a um saber que contribua e desperte o estudante para a sua realidade social e o leve a melhor compreender a sua sociedade, 0 contexto a sua volta e a desenvolver um espirito mais atuante € critico no uso de seus direitos e de sua cidadania. Veja que a expressio interdisciplinar aparece no sentido de se gerar uma inteligibilidade que garanta além do didlogo com os saberes dos alunos e com as outras Areas ¢ saberes. Educar ¢ uma atividade altamente complexa porque a formagao é antes de tudo humana, mas que 0 tome apto a conviver numa sociedade com crivo teenolégico, profissionalizante e que permita além de sobreviver, também a querer transformé-lo e interagir com esse mesmo contexto. Mas quais so as distingdes e as lutas aqui presentes para a inserglo das discusses educacionais no campo académico? Duas indagagdes provocam nossas reflexdes: a) como seri constituida a nogdo de conhecimento da geragio jovem em Educ Sociedade | 87 revistainter-legere (0) nossa atualidade; b) qual tem sido o papel das ciéneias sociais e das intelectualidades na apreensio do plural e das contendas das questées educacionais ainda dentro desse campo académico sociolégico. Poderiamos identificar uma série de aproximagdes com a perspectiva de andlise dos estudos culturais, das teorias feministas e do pés- colonialismo nas relagdes que permeiam o pensamento social, a cultura ¢ a educagao. Podemos dizer que o desafio se constitui em duas questdes fundamentais: a) O sentido da pritica do conhecimento pedagégico sociolégico; b) As representagdes sociais sobre a profissio de ensinar: Quanto aos primeiros cursos de Cigneias Sociais no Brasil, surgidos na década de 30, havia inimeros desafios para a sua institucionalizagio. Se pensava na formagio da lideranga politica brasileira — cuja vocagao ficou mais proxima do modelo carioca e mineiro, principalmente — ¢ do quadro intelectual ¢ promotor de um pensamento que ausiliasse © desenvolvimento socioeconémico do pais. Havia também uma grande emanda de formagao do quadro de profissionais para atuagio no ensino secundario: as Licenciaturas (em que recebeu um mimero expressivo de mulheres). Em Sao Paulo estava concentrado um tergo das escolas do pais, pelo seu contexto de expansio da industrializacdo e urbanizaglo, Havia uma nitida necessidade dos trabalhadores urbanos saberem interagir com maquinas, com orientagdes de trabalho e ser alfabetizado para essas tarefas, Portanto, a necessidade de professores que os levasse a previamente se inserirem nesse molde de sociedade. Em Botelho e Lahuerta (2005) ¢ Miceli (1989) — existe uma problematizacao da tarefa de decifrar 0 pais, os projetos de sociedade e 0 proprio trabalho do cientista social e sua natureza auto-reflexiva, além da formagdo e geragdo do consenso e a produgio das distingdes disciplinares que definiriam os horizontes intelectuais, disciplinares ¢ cientificos atribuidos a pratica do fazer sociolégico e da novidade como se apresentava a formagio ligada as Ciéncias Sociais durante as décadas de 30 a 70. Ha também uma deniincia quanto a responsabilizagio da marginalizacao politica das massas — que volta tona em Florestan Femmandes, Octavio Iauni, Fernando Henrique Cardoso ~ quando discutem sobre a légica racial (e porque nfo lembrar, ainda que nao pensados & debatidos na época — a condigao feminina) e a produgao das desigualdades numa sociedade capitalista brasileira ~ cujos sujeitos nao detém 0 acesso a participagao dos Educ Sociedade | 88 revistainter-legere (0) canais de decisio efetivos. Indiretamente, podemos perceber isso em ambos os textos, em que a Edueagao das massas ficou relegada a um segundo plano, posterior ao periodo de institucionalizagdio das Cigncias Sociais, quanto aos horizontes de atuagio que chamava a atengio dos cientistas sociais e dos intelectuais da época. Buscaram se afirmar nos quadros de atuagéo no ensino superior ou em carreiras politicas — a educagio entra na agenda de discussio apenas como um aparato para o projeto nacional desenvolvimentista — ¢ no ainda como um canal de autonomizagao dos sujeitos e de formagio e participagao politicas. Ontras searas delimitavam a interago entre 0 quadro de formagio do bacharelado e da licenciatura em Ciéncias Sociais. O passado, portanto, ¢ uma dimensio permanente do presente na construgio das ideias e na consciéneia humana, Um componente inevitivel das instituigdes, valores e outros padres da sociedade e da interatividade. Da forma como o passado da disciplina de Sociologia — ou das praticas intelectuais de se pensar os fendmenos educacionais em uma perspectiva sociologica — so importantes como forma de fixar padres presentes — dos desafios e dos efeitos do cariter intermitente da Sociologia no Ensino Médio e/ou da aventura, imaginacio e redescobertas sociolégicas no jeito de se elaborar novas priticas de ensino de Sociologia Descobrir quais so as disputas e as incertezas que permeiam o campo dos estudos do Ensino de Sociologia também é uma tarefa que se revela uma perspectiva historica, uma vez que a Edueagio esteve localizada em lugares menos privilegiados do campo académico ~ em que ha uma “queda de bragos” que tem envolvido o quadro de disputa — e da Historia das Ideias e dos Intelectuais — nesse focus no sentido de conquistas de lutas por essa legitimicade ou “Iugar de igualdade” da educagao ¢ dos estudos do ensino de Sociologia no campo académico sociolégico. Quais as origens histéricas que tem impedido um avango e © que se coloca como barreira para esse contimmum? Algumas evidéneias histéricas so percebidas por Guerreiro Ramos (1982), em O Ensino de Sociologia no Brasil, wn caso de geracéo espontdnea?, quando problematiza o carater imediatista e emergencial da ocupagio das catedras de Sociologia da Educagdo nas universidades e a caréncia de correntes de pensamento sociolégico na area: © ensino da matéria, carece de funcionalidade, pois que nao cria no educando comportamentos operativos vinculados a sta vida comunitiria, nao estimula a autonomia mental do aprendiz, Nao se Educ Sociedade | 89 revistainter-legere (0) tem conseguido, no Brasil, na medida desejavel, formar especialistas aptos a fazer 0 uso sociolégico da Sociologia (GUERREIRO RAMOS: 1982, p. 122) Mais adiante, Guerreiro Ramos é ainda mais incisivo, quando observa o campo a partir de dentro das orientagdes universitarias: Os professores brasileiros de sociologia, em grande parte, tem exercido a cétedra por acaso (...) aqui as catedras de sociologia surgiram para consagrar uma tradigao militamte e de trabalho pedagégico, como é a regra em todos os paises avancados. As cétedras apareceram de modo intempestivo ¢ foram providas, inicialmente, por pessoas que, no momento eram diletantes, quando muito, ou desconheciam completamente os estudos da sociologi Muitos foram estudar a matéria depois de nomeados professores; duramte algum tempo, ao menos, foram, nos seus postos, verdadeiros simuladores, aparentando um saber que realmente nao possuiam (Id: p. 123). Esse mesmo sentimento de mal estar e de deslocamento das ideias educacionais no campo académico e intelectual sociolégico pode ser confirmado por diversos autores pedagogos® — que durante uma boa parcela de tempo — se debrugaram e acolheram a tarefa de pensar inclusive o ensino de Sociologia. Diante desse impasse sobre o cariter cientifico e/ou pragmiitico das atividades de ensinar, 0 lugar fragilizado da Sociologia no Ensino Médio, levou a temitica a se inserir no campo académico e nos cursos de Cigncias Sociais como uma logica subaltema, de pouco interesse que mobilizasse os docentes ¢ maiores titulagdes ou com carreiras mais ligadas ao ambito da pesquisa — que detém no ensino superior € nos ‘Srgios de fomento — um prestigio e um reconhecimento maiores. Podemos dizer que a Historia das Licenciaturas comegam a ganhar um corpo mais “sélido” e com maior dinamicidade de produgdes nesse contexto bastante recente. Porque houve um imenso vazio e nulidade das produgaes e uma dificuldade de adequagao das metodologias de ensino de Ciéncias Sociais porque o publico, a cultura e a sociabilidade dos jovens no contexto atual é extramente diferenciados das antigas discussées das Ciéncias Sociais do periodo da institucionalizagao. © Vide SAVIANI, Demerval, Epistemologia ¢ teorias educacionais no Brasil. Pro-Posigdes. Vol. 18, 1°L 2007; Historia das Ideias Pedagogicas no Brasil: Campinas: Avtores Associados, 2008; KONDER, Leandro. Sociologia para educadores, Rio de Janeiro: Quartet, 2006. Sociedade | 90 revistainter-legere (0) © campo tem aumentado a sua abrangéneia, mas o nimero de professores pensadores ainda é pequeno. As estratégias de incorporagio da discussio no espago académico — porque hi necessidade de se repensar o ensino de Sociologia na graduagio, na licenciatura eno ensino médio ~ sio bem similares as propostas lancadas pelas intelectuais feministas. A militincia foi um caminho que garantiu a legalidade do Ensino em cariter obrigatério conforme Lei n° 11.684 de 2 de junho de 2008. As proximas estratégias é atuar no sentido de produgdes materializadas — de artigos em revistas, em eventos de destaque na area de Cigncias Sociais (como a Sociedade Brasileira de Cigncias Sociais, ANPOCS, Eneontros Nacionais na area). Esta havendo um maior ingresso de jovens pesquisadores, porém a resisténcia ainda é forte na disputa de temas que detém um interesse e um prestigio maior na hierarquia de tematicas & saberes das Cigneias Sociais. Dentro da questao da hierarquizagio, uma contenda forte a de mediar um debate que quebre a tradigo da dualidade inserida na formagio do cientista social no bacharelado ¢ na Licenciatura. As duas habilitagdes interconectadas dariam impactos significativos para as Ciéncias Sociais. Nao hé como ser professor sem ter uma atitude para a pesquisa em uma pritica constante. Para criar metodologias de ensino inovadoras necessario estar Gesenvolvendo também uma anélise sociolégica particular de cada contexto, escolas, redes de ensino e desenhar ali suas possibilidades e superagdes na profissto de ensinar. Do mesmo modo, entre os pesquisadores, 0 contato com 0 campo educacional pode Gespertar uma maior sensibilizagio e dinamizago de temiticas de pesquisa que atravessam o campo sociolégico (cultura juvenil, midia, violéncia, tecnologias, género, subjetividades, multiculturalismo, participagao politica e uma série de outros fenémenos localizados nese focus de interagio social) © que possuem urgéneia de serem compreendidos. A questiio do pertencimento e da acolhida das Liceneiaturas nos departamentos de Cigneias Sociais & sempre uma discussio delicada. Nas Universidades Estaduais tendem a funcionar no mesmo departamento, embora as agdes priticas is vezes logrem © contrario, E nas Universidades Federais predomina casos em que as Licenciaturas estio situadas em departamentos apartados das Cigneias Sociais — como o Departamento de Educagdo, por exemplo — 0 que acaba podando um maior envolvimento do corpo docente nas discussdes particulares desta formagdo e o que move uma sensagao de identidade instavel de quem esta localizado na Licenciatura — Educ Sociedade | 91 revistainter-legere (0) quem eu sou: Sou de quem? Educagio ou Cigneias Sociais? ~ que pode inibir agdes e projetos conjuntos do bacharelado e da Licenciatura. Além da antiga e conflituosa relagdo entre a pritica cientifica e a pritica escolar, considerada pragmiitica demais e a necessidade cada vez mais emergencial da teorizagao desta pritica — no crescimento do campo ¢ de um ensino mais adequado e de qualidade, Ha também uma intermiténcia com relagio 4 imagem e as representagdes pejorativizadas do professor ¢ que sfo socialmente construidas. O que é pritico nio é valorizado, acaba conferindo uma hierarquizagio ¢ um efeito politico na educagio, 0 que seria mais interessante explorar as historias dessa ciéncia no sentido do compartilhamento de experiéncias e de interpenetragdes das historias pos-modemas No texto “Tabus que pairam sobre a profissio de ensinar” em Adomo (2009), existe o relato de uma expressiva aversio a docéneia e uma crise geracional expressiva para a atividade. Atualmente também esta claro esse esvaziamento de sentido conferidos a profissio de ensinar. Grande parcela das cadeiras das Licenciaturas das Universidades Piiblicas nao so preenchidas, por conta do receio do risco profissional que envolve a atividade. Da violéncia, do nio reconhecimento e de uma carreira que 0 estabilize financeiramente ¢ intelectualmente. E das condigdes de trabalho bastante precirias ~ no sentido institucional, diditico, pedagdgico, infra-estrutura fisica e teenoldgica, remunerativas. A subalternizagio do oficio do professor é debatida em Adorno no contexto europeu, Da necessidade de se diferenciar um professor do ensino superior e do ensino médio e como o canal lingtiistico € uma mediagao das representacdes que tendem a nivelar por baixo a profissao. A semelhanga relatada por Adomo sobre o caso europeu & © Ambito do contexto brasileiro atual, ndo ¢ mera coincidéncia, Ha a reprodugdo da experiéncia de mal estar dos licenciados mais talentosos ¢ a repugnaneia contra aquilo que a formagao o habilita. Da docéncia associada a tabus e representagdes inconscientes e pré-conseientes dos candidatos a profissio sempre condicionados a uma pré- concepgio de inabilidade, de incapacidade e de ineficiéncia. Preconceitos psicol6gicos e sociais que se conservam e reagem produzindo forgas, materializadas em expressdes depreciativas sobre o ensino, entre as quais Adomo cita: 0 pauker (0 que bate bumbo), © Streisstrommler (0 mais vulgar; baterista de traseiros); em inglés (0 Shoolmarm: professoras solteironas, ressequidas, amaras, murchas); 0 lacaio melhor. Veja ainda Sociedade | 92 revistainter-legere (0) como Adomo apresenta a questi do ensino superior ¢ a problematizacao do ato de ensinar: Sociologia da educago e universidade nfo se ocupam suficientemente desse fato (...) no se considera © professor, embora tenha formacao universitéria, como digno de reconhecimento social; quase se poderia dizer que é um individuo ao qual nao se trata de Herr (Senhor) com a especial conotagao de que esse termo esta revestido no linguajar alemao moderno (ADORNO: p. 86, 2009). Ha um binarismo de carreiras docentes © possibilidades segmentadas. Atualmente existem alguns projetos e agdes que tentam incentivar uma maior abordagem e aproximagdo do ensino superior com o ensino da educagao basica, A necessidade de uma intervengao maior no sentido de buscar saidas quanto a melhoria da qualidade e de metodologias de ensino. Daquilo que Adomo (2009) trata como, “a carreira do professor universitirio como a mais altamente cotada, por outro, 0 surdo 6dio que paira sobre o magistério aponta para algo mais profundo”. Dentro do mesmo contexto insereve-se 0 fato de que na Alemanha os professores universitirios tenham bloqueado o titulo de Professoren aos mestres (Oberlehrem) ou, como agora sio denominados, os Studientiiten (p. 86). Sao antes diserepancias no reconhecimento nos niveis de intelectualidade que nunea foi plenamente satisfeita. O professor é herdeiro do escriba, do copista. © menosprezo por ele, como indiquei tem raizes feudais e o encontramos documentado desde a Idade Média e comecos do Renascimento (pg. 87) (...) na cancao dos Nibelunos, o desdém de Hagen pelo capelio, como fraco, © qual, contudo, é precisamente aquele que escapa com vida (ADORNO: 2009, p.87) E possivel fazer um cruzamento com as contribuigdes ¢ as reflexdes promovidas a partir dos estudos culturais, pés-coloniais e dos estudos feministas. As miltiplas barreiras que tem se concentrado sobre a profissio de ensinar, abrangem: a) A Educagio e o ensino como sentido essencialmente normativo e disciplinador; b) A forma pela qual o campo educacional foi um canal de dominagao e colonizagao do saber, ¢ ainda o €, em alguns casos, quando os contetidos, as grades curriculares, os métodos esto prontos e impostos a toda a communidade educacional, sem abertura para possibilidades de mudanga e atuacao; Sociedade | 93 revistainter-legere (0) ©) 0 oficio de ensinar enfrenta um momento pesaroso, porque esti ausente o sentido ontolégico da profissio. Daquilo que Adomo fala“ do ser capaz de auto-reflexio. O professor universitério (akademischer) tem da eitedra © fazer uso da palavra pra argumentar mais extensamente e sem que algum possa contradizé-lo (p. 92)”.Isto & a atividade da persuasio se dé pela dtica do argumento e no o da forga fisica, Da necessidade escolar em libertar o seu professor para a liberdade e formacio intelectual. © professor, em geral, nao tem controle e decisio sobre o seu saber. Isso 0 limita numa atuagiio em que nem ele mesmo se reconhece: 4) Hi um grande contingente de professores que so do género feminino, Ha uma luta que pode também estar atrelada a um maior reconhecimento do oficio e a necessidade de estudar até que ponto as oportunidades limitadas de atuagio docente podem revela motivagdes de invisibilidade femininas nesse processo; e) E talvez o que seja mais grave. Conforme aponta Adorno (2009), o isolamento da escola ~ frente a sua capacidade de interagir, buscar parcerias, de ser um /ocus de produgao ~ nao apenas reprodutora de conhecimento especializado ~ € um aspecto importante. Sera a chave de uma mudanea profunda que deve residir na sociedade e na sua relagdo com a escola, “a profissdo de ensino tem ficado arcaicamente para tris com respeito a civilizagiio que representa “(p. 99), O professor e a escola como forga coletiva devem ter consciéneia dessa heranga fatidica de representagdes que pesa sobre ela. E preciso entender o que se fala e como & pereebida, Daquilo que é verdadeiro e o que ¢ preconcebido para que a formacio do professor seja capaz de habilité-lo a superar esse lugar mal posicionado e colonizado em ‘que se encontra, Tais contendas e dilemas educacionais transferem esses efeitos na constituigao do que aprender. Como seri constituida a nocio de conhecimento da geragio jovem em nossa atualidade? Os desafios langados para a intelectualidade esto em perceber limites e possibilidades no plano das teorias e epistemologias do ensino de Sociologia. Entre elas temos: Sociedade | 94 a —— revistainter-legere (0) a) Interculturalidade e sociabilidade na producdo do conhecimento escolar A sugestio de aproximar o aluno a disciplina e seu contetide é provocar nele a projec fora do conceito chave — tempo e espago. Que na escola ainda é um conceito ‘inico, arriscado e limitado ~ do tempo seriado, do que se estuda numa série € no se pode estudar em outra — que gera saberes e experiéncias podadas e ausentes de conexdes e de uma sensacdo de incompletude, conforme jé alertava Felski (1995) em relagdo as experiéneias femininas De se pensar a realidade edueacional e a formagao do cientista social a partir da Idgica cultural que constitui os individuos que comparece a escola e quer ser reconhecido como sujeito de direitos, mas, sobretudo, na légica da afirmagdo da sua diferenga identititia? Como poderiamos tomar emprestados do espaco educacional a compreensio sociocultural que também participa de uma nova maneira de construir conhecimento da diversidade cultural reunidos no locus de uma sala de aula? Como os sujeitos so ali construidos, das identidades evidenciadas e das identidades ocultadas? Como 0 curiculo escolar, na busca de “contemplar” a diferenga também desenvolve conifitos? Quem est inserido ou nfo na “cartilha” da cidadania? Como os fenémenos culturais, atravessam a logica da construgdo da realidade locais ¢ regionais, logo, sto também transferidos para o espago escolar? Sao questdes desafiadoras e que tem instigado a reflexto mais acentuada a partir do primado cultural, e, pasmem, em grande medida, apagados pelo primado patriarcal. A complexidade de se trabalhar com o intercultural se instala no risco de uma pritica que anule ou empobrega a cultura do outro, quando estiver valorizando uma cultura especifica. O que se expressa so as diferentes formas de pensar (tradigdes ¢ transformacdes ou tradugGes e tradic6es). Novos conhecimentos e tecnologias também podem ser abstraidas de uma relaclo cultural como os saberes ¢ filosofia de vida dos antepassados ou os que so constituidos nos grupos de comunidades quilombolas, imigrantes, indigenas e diversas possibilidades de se elaborar epistemologias numa interpretagao intercultural. A relacio entre a cultura e a identidade sao duas dimensdes presentes na escola, A cultura & o elemento no manusedvel ¢ que nao se encerram, que est no curriculo imerso em grandes fatores inconscientes ¢ de construgao social. Ja a identidade é um Educ Sociedade | 95 revistainter-legere (0) trabalho de um grupo de elementos escolhidos como comuns, promovidos para que se rie a diferenga. A constituigio de uma luta politica que passa a ser institucionalizada e administrada, Essa é a logica de se criar a diferenca, a fronteira. Ela esta contida na agao de construgdo de identidades, que na escola se depara com o miltiplo que ora se integram e ora se exelui, A escola detém um compromisso com a identidade. E um espaco proprio de formulagio de politiea de um povo que possa gerar a unidade e planejamento politico de nagao. A escola tem sido essa busca da “integragio” dessa diversidade num discurso nacional. Para isso a escola tem utilizado de uma identidade de determinados saberes_consideradoslegitimos, porém, em sua _maioria, ocidentalizados € cientificos. A pratica inversa, de valorizagio e do espirito da convivéncia ¢ da tolerineia com o diferente tem sido um locus de reordenamentos de discursos, necessérios de serem rearticulados mais uma vez no campo escolar, quando ages recentes de inclusdo curricular — da historia da cultura africana e afrobrasileira, indigenas, da incluséo de portadores de necessidades especiais e do encontro de linguagens, habitos e modos de ser permitem 0 conhecimento do outro e seus saberes, mas que também suscita a habilidade de saber gerenciar conilitos do processo de integragao e exclusio na profissio de ensinar e pesquisar b) Risco e inovaeio socioeducacional O acesso escolar a formas de elaboragdo de conhecimento é travado em especial por uma condicao socioeconémica de origem familiar que impede o incentive e a participagao de experiéncias escolares cientificas e a formagdo de um gosto especifico para essa frea de estudos, portanto, o problema é além de educacional também social. Poda a possibilidade criadora do nascimento de novos talentos em instincias sociais tratadas e naturalizadas como distantes desse ambiente; A esirutura da escola trabalha com o fator cientifico de forma estitica, inerte e de outra dimensio. © aluno tem dificuldade de aproximar teoria e pritica ao que ele experimenta em sua vida. A estrutura escolar também deveria passar por um novo letramento educacional, de incluir no curriculo, no espago escolar e na formagao dos professores um letramento adequado com relacao ao mundo cientifico. Incentivar a iniciativa piblica e privada a investir nisso, fomentando bolsas de iniciagao cientifica Educ Sociedade | 96 revistainter-legere (0) desde 0s primeiros anos da educacio fundamental, que o leve a aprender desde 0 contetdo, como “sentir” 0 ambiente da pesquisa, como algo diferente, curioso & instigante, que provoque a participagio do aluno no seu proprio aprendizado. A escola esta distante da criago de conhecimento, portanto, distante das esferas de geragio de cigncia e, portanto, paralisa-se posteriormente, toda a possibilidade de inovagio e mudanga social. THT Uma agenda de diseussdes para o Ensino de Sociologia: entre possibilidades e epistemologias Pensar o ensino de Sociologia é pensar os desafios de se criar epistemologias num proceso de interagao entre esses trés campos: © ensino académico, laureado pela formagiio sGlida e “dura” das teorias clissicas e contemporineas e 0 seu desafio intemo de pensar as suas reatualizagdes; 0 campo do ensino médio, no delicado exercicio da tradugio e transferéneia de conhecimentos aplicados a realidade do jovem e da comunidade educacional em que estiver inserido, quanto ao desafio também movido pelas reatualizagdes das respostas, teorias, praticas € metodologias de aprendizado; ¢ 0 campo das politicas piiblicas educacionais e dos curriculos educacionais, que muitas vezes também se coloca como uma entrave dura e inflexivel, no momento de se interagir criativamente com a esfera do aprendizado e da vida social. ‘Uma abordagem levantada por Teisi Silva esté na condigao primeira de se trabalhar com 0 Ensino de Sociologia no Ensino Médio. A capacidade de se motivar uma inaginagdo socioldgica — conceito emprestado de Wright Mills ~ pela capacidade Ge intervengao e ruptura na realidade do aluno e da escola - trabalhando a partir das subjetividades — que permite estabelecer uma relago de anilise entre obras e biografias, contextos & producdes, “a imaginagao sociologica nos permite compreender a historia e a biografia e as relagdes entre ambas, dentro da sociedade. Essa é sua tarefa e sua promessa, A marca do analista social clissico é o reconhecimento delas” (MILLS, 1975, p. 11-12). Qual tem sido a sugestao didédtica e epistemolégica nesse caso? E estabelecer um a interagao das teorias sociais com a experiéncia de vida dos sujeitos e de suas realidades A metodologia aqui analisada é de caréter qualitativo: 0 uso de historias de vida como recurso de anslise sociolégica. Esse exereicio foi aplicado aos alunos de ensino médio das escolas estaduais da regidio metropolitana de Viamao ~ Porto Alegre (RS). O Educ Sociedade | 97 revistainter-legere (0) objetivo central de realizagio desta pritica era gerar o entendimento das relagdes individuo-sociedade da formagio do ser humano como um “ser social”. Ha riscos € acertos na aplicagiio desta metodologia. Erros, no sentido de que é necessério 0 acompanhamento por orientagio dos professores para que a realizagio desta critica autobiografica ndo se tome apenas um apelo subjetivo. E, acertos, no sentido de que pode mobilizar nos alunos a motivagdo e o espirito de pesquisa em compreender a sua trajetéria de vida como uma construgio social e de intervengdes que tiverem origens eminentemente sociais. E, portanto, uma das possibilidades de trabalho em sala de aula, “a historia de vida, no ambito das metodologias cientificas, pode ser entendida segundo uas perspectivas: como documento e como técnica de captaglio de dados, conforme Haguette (1987, p. 69)”. Segundo Mota (2005), a produgio eserita, por cada aluna/o, da sua historia de vida a partir de eixos tematicos, tais como: local de origem, familia, orientagio religiosa, profissio, trabalho, lazer, grupos de amigos, género, identidade étnica, expectativas em relagio a escola eram a diregdo das andlises a ser apresentada ¢ discutida com a turma de aula, O fazer as/os estudantes argumentarem os motivos de suas escolhas de vida, de suas opinides, de seus modos de ser, enfim, evidenciam claramente as influéneias sociais e, ao mesmo tempo, a intencionalidade do proprio individuo ligado aos grupos a que pertence ‘um primeiro objetivo ¢ conseqtténcia desse trabalho é fazer com que as alunas e os alunos principiem “desuaturalizar” as formas de vida e compreendé-las como consequéncias de uma aprendizagem social e cultural, portanto, condicionada, embora n&o determinada, por contextos socials e culturais especificos. Nesse sentido, a metodologia da histétia de vida, utilizada dentro das condicdes possiveis com estudantes do ensino médio, apresenta a intengio de instalar esse tipo de raciocinio, a fim de que eles construam uma disposigtio de estudo e analise sobre temas sociais. Do contritio, raramente eles tém a percepcao de “construg4o” do mundo social: a realidade social seguidamente € compreendida como inevitavel (...) (MOTA: 2008, p. 15). A tentativa de aproximar a teoria social ou histérica da vida dos sujeitos ¢ os elementos que oferecem significagio de mundo: a cultura, o grupo, as experiéncias vividas também esta presente em Enno Liedke e suas reflexdes sobre a sua produgaio intelectual e pedagégica das Ligdes do Rio Grande: Ciéneias humanas e suas tecnologias. Cadernos do Professor. Sociologia (2010). Coaduna dois elementos Educ Sociedade | 98 revistainter-legere (0) interessantes na produgio dessa obra: a) a complexidade de habilidades e formagio na motivagio do olhar e da andlise sociolégica a ser desenvolvida por jovens ¢ adolescentes (complexidade e religagdo dos saberes) e o foco nos aspectos culturais que circunda a construgio de mundo, sentidos e significados desses jovens em trés perspectivas: a) a cultural musical; b) a cultura da paz; ¢) a situagao dos adolescentes dos jovens no Brasil em nossa atualidade: direitos e deveres. Como pauta de discussio elege trés grandes temas na provocagio de um aprendizado na perspectiva sociolégica: 1) Sociedade e Desenvolvimento Humano Sustentavel e Eqiiitativo; 2) Os papéis sociais ¢ a identidade dos jovens e adolescentes: 3) A cultura da paz. Nota-se que houve a necessidade prévia a realizaco desse material, © intelectual/professor de compreender essa dindmica especifica que envolve 0 jovem hoje e pensar elementos que possam unir a formagio conceitual e teériea e dos contetidos teméticos que estio diretamente ligados a experiéncia de mundo dos momentos. Segundo Enno Liedke (2010: p. 100, 102), as habilidades exigidas para esse exercicio sdo bem complexas ¢ exigirao do adolescente e do jovem: a) Leitura e interpretagdo de textos e de realidades sociais; b) Diagnésticos breves de causas e de situagdes sociais complexas; ) Capacidade de resolver problemas sociai 4) Identificagao dos elementos que compdem o sistema societario; e) Capacidade de ordenar e explicar os eventos sociais; £) Analisar a manifestagdes culturais significativas do nosso tempo; 2) Analisar e observar a diversidade de patriménios socioculturais (arte, miisica, esculturas, urbanas e rurais); 1h) Analisar o sistema social do adolescente e do jovem hoje Além das habilidades levantadas, Liedke (2010) acredita que é uma modalidade de aprendizado que partindo do seu contexto, ira ser capaz de perceber semelhangas ¢ diferengas de sociabilidades, além de motivar um trabalho mais intensivo daquilo a que € convocada a Sociologia ~de uma formagio que o pemmita olhar 0 mundo a sua volta, se perceber nele e ser 0 “protagonista de seus direitos e deveres”, além de ser capaz de Educagao ¢ Sociedade | 99 revistainter-legere (0) equacionar problemas pessoais, comunitarios, locais, sociais. Outro aspecto, de intervengio e de politica piblica é levar para uma agenda de discussio educacional a ideia de uma cultura da paz, Simultaneamente, trata-se de eleger elementos teérico-conceituais & contetidos temiticos relevantes para a construcdo da cidadania do educando enquanto protagonista de seus direitos e deveres, oferecendo-the perspectivas analiticas que permitam a desnaturalizacao e o estranhamento do estar no mundo, em oposic¢ao naturalizacao e habitualidade tipicas dos conhecimentos do senso comum.Esses objetivos sao assumidos pelo Referencial Curricular de Sociologia do Estado do Rio Grande do Sul, sob a égide das concepgaes de Cultura da Paz, de desenvolvimento humano sustentivel ¢ equitativo, e de Etica Universal, propostas pela UNESCO.Em outras palavras, a questo central do processo de desenvolvimento € determinar que politicas promovem um verdadeiro desenvolvimento humano sustentivel e equitativo, ao ‘mesmo tempo em que estimulam o florescimento de diferentes culturas no contexto de uma efetiva Cultura da Pa: (LIEDKE, apud UNESCO, 1997, p. 109). Ontra questio bastante provocativa apontada pelo autor é a forma de construgio do texto e do contexto, levando um possivel envolvimento com o universo de mundo do aluno. Uma das sugesties didaticas sera desenvolver um concurso de bandas ou musieais, a partir das tendéncias musicais da regio sul — nesse caso, mais especificamente gauchescasi: - como & 0 caso do “Tehé Music”, 0 “Tinha de tudo no Rodeio de Santo Antonio “Rock visita o galpito além da milonga, vanertio, samba, rock balada, rock pauleira, reggae rap, hip hop (tendéncias mais nacionalizados ou mesmo globalizadas, que também estio presentes no locus de estudos, no caso as tendéncias musicais dos jovens do Rio Grande do Sul)*. ® A questdo local pode ser um ingrediente interessante para se criar epistemologias do ensino de Sociologia, Porém, elas devem estar em interlocucio direta com quest¥es centrais que envolvam wma agenda nacional do ensino de Sociologia: :o trabalto, a questo ambiental, as tecnologias, a cultura, a commnicacio, a violéncia como temas privilegiados para compreensio do contexto atual de experiéncia de mando Educagao e Sociedade | 100 revistainter-legere (0) CONSIDERAGOES FINAIS Ao analisarmos a construgdo dos olhares que herdamos de um longo e intenso proceso social e cultural do que somos, e, que, ao conhecer o outro, estranho diferente, revela-se uma grande aventura no sentido de relativizar as priticas antes consideradas como certas e legitimas e também langar-se um olhar estranhado. Isso é um grande desafio langado pelas teorias feministas, dos estudos culturais e pés- coloniais sobre um mundo em miiltiplo processo de transformagao e para o interior da propria cigucia e das teorias sociolgicas — clissicas e contemporineas — em promover novas maneiras de pensar, cercar e estudar novos objetos ¢ temiticas de estudos cada vez mais pluralizados. A riqueza dessa experiéneia esta justamente em visualizar o ser humano sempre como uma possibilidade nova de conhecimento e de saber. E ao fazer uma leitura desses processos para o campo educacional, mais especialmente, para o ensino de Sociologia se percebe que 0 que acontece na escola hoje & 0 sentido do letramento que nio pode ser apenas perceptivel em relagio a niimeros, mas a efeitos de longo prazo sobre a formagio do individuo e sua atuagio na sociedade. Ler, escrever e calcular sio exercicios contidos em diversas experiéncias sociais, culturais, politicas, profissionais. Um raciocinio semelhante pode ser transferido para o letramento em matemitica e cigncia que pode esperar mais do homem, das formagées, do firturo, dos relacionamentos, de tolerneia, de gerar conhecimentos cada vez mais plurais ¢ interdisciplinares, de criar ¢ inovar situagdes sociais, ser capaz de resolver problemas, lidar com incertezas ¢ insegurangas modemnas, de entender a finalidade das tecnologias © de motivar uma maior participagdo na sociedade e dos avangos teenologicos. Ha que se considerar também a importancia da acdo dos intelectuais — em nosso caso, 08 intelectuais professores (especialmente os que tem se debrugado para a intervengio no espaco pliblico da producio da circulagdo e da visibilidade das ideias e sobre o Ensino de Sociologia); b) 0 aspecto metodoldgico que ainda est em processo de construgio — que atravessa o trabalho de trés perspeetivas: a) no sentido histérieo; b) no sentido linguistico; c) no sentido da diversidade cultural, regional e institucional Educagao e Sociedade | 101 Isensenres2| revistainter-legere REFERENCIAS ADELMAN, Miriam. A Voz e a Escuta: encontros desencontros entre a teoria feminista e a Sociologia Contemporsnea, Si Paulo: Editora Blucher, 2009. ADORNO, Theodor. Tabus que pairam sobre a profissio de ensinar. In: Palavras ¢ sinais. Modelos eriticos 2. Sto Paulo: Vozes, 2009. APPIAH, Anthony. Na capa de meu pai. Sao Paulo: Contraponto Editora, 2000 BOTELHO, André; LAHUERTA, Milton. 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