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Pode-se dizer que desde os primeiros tempos a Igreja tem se preocupado com a

pesquisa e o estudo da doutrina cristã em toda a sua profundidade. Os tratados


teológicos escritos pelos Padres da Igreja e as escolas teológicas que alguns deles
fundaram dão testemunho disso. Foi, no entanto, a Idade Média que viu esta
tendência frutificar nas primeiras Universidades. Nelas – além de outras
disciplinas necessárias para o desenvolvimento da sociedade, como a Medicina ou o
Direito – se ensinava Teologia, Filosofia e Direito Canônico. E desde o primeiro
momento, algumas se destacaram nestas disciplinas: os estudos de Teologia na
universidade de Paris eram conhecidos em toda a Cristiandade, assim como os de
Direito Canônico na de Bolonha.

Com o passar do tempo foram se distinguindo, com maior nitidez, as disciplinas


seculares das eclesiásticas. A todo momento a Igreja Católica reclamou o direito
exclusivo de estruturar o ensino das disciplinas eclesiásticas em todos os níveis.
Atualmente, organiza-se principalmente através das Universidades e Faculdades
eclesiásticas.

“Universidades eclesiásticas” poderiam ser definidas como aqueles centros de ensino


superior dedicados «à investigação das disciplinas sagradas ou daquelas outras
relacionadas com estas, e à instrução científica dos estudantes nestas matérias»
(cânon 815). Regem-se pelos cânones 815 a 821 do Código de Direito Canônico e pela
Constituição Apostólica “Sapientia Christiana”, de 15 de abril de 1979 naquilo que
não se opõe aos cânones citados, visto que se trata de uma matéria não reordenada
totalmente pelo Código (cf. cânon 6, §1, 4). Também se deve levar em conta as
Normas da Sagrada Congregação para a Educação Católica, de 29 de abril de 1979, com
vistas à reta aplicação da Constituição Apostólica “Sapientia Christiana”.

Segundo a Constituição Apostólica “Sapientia Christiana”, as Universidades ou


Faculdades Eclesiásticas são aquelas “canonicamente eregidas ou aprovadas pela
Santa Sé, que se dedicam ao estudo e ao ensino da doutrina sagrada e das ciências
com ela relacionadas, gozando do direito de conferir graus acadêmicos com a
autoridade da Santa Sé” (art. 2). As Normas esclarecem que, por efeito da normativa
da Santa Sé, pelo nome de “Universidade” se deve entender também aos Ateneus,
Institutos e outros centros acadêmicos que podem conferir graus acadêmicos com a
autoridade da Santa Sé (art. 1).

A prática da Santa Sé indica que as Universidades eclesiásticas deverão ter pelo


menos três faculdades, ainda que não seja necessário aos Ateneus se ajustarem a
esse número mínimo de faculdades.

Somente as Universidades e Faculdades eclesiásticas canonicamente eregidas podem


conferir graus acadêmicos com valor canônico, exceto a Pontifícia Comissão Bíblica
(cf. art. 6), a qual organiza o ensino da Sagrada Escritura e outorga os
correspondentes títulos. As Universidades e Faculdades eclesiásticas não
necessitam, portanto, de autorização das autoridades civis, ainda que – de acordo
com a legislação de cada lugar – seus estudos costumem a ter algum reconhecimento.

REGIME DAS UNIVERSIDADES E FACULDADES ECLESIÁSTICAS

Segundo o art. 5 da Constituição Apostólica “Sapientia Christiana”, “a ereção


canônica ou a aprovação das Universidades e das Faculdades eclesiásticas está
reservada à Sagrada Congregação para a Educação Católica, que as governa por
direito”. Portanto, podem ser promovidas pela Santa Sé ou por outras pessoas
jurídicas públicas como uma diocese, uma ordem religiosa ou uma conferência
episcopal. Se é promovida por uma pessoa jurídica pública, a Universidade deve ser
aprovada pela Congregação para a Educação Católica. O art. 4 da “Sapientia
Christiana” incentiva as Conferências Episcopais promoverem as Universidades e
Faculdades eclesiásticas.

Toda Universidade ou Faculdade eclesiástica tem de redigir alguns Estatutos que


deverão ser aprovados pela mesma Congregação (cf. Constituição Apostólica
“Sapientia Christiana”, art. 7). O Apêndice I das Normas da Sagrada Congregação
para a Educação católica, de 29 de abril de 1979, oferece um guia para a redação
dos Estatutos.

Nas Universidades e Faculdades eclesiásticas se designa um Grão-Chanceler, o qual


“representa a Santa Sé perante a Universidade ou Faculdade e igualmente a esta
perante a Santa Sé” (art. 12). “O Grão-Chanceler é o Prelado Ordinário de quem
depende juridicamente a Universidade ou Faculdade, a não ser que a Sé Apostólica
disponha outra coisa” (art. 13, §1). Também pode haver um Vice-Grão Chanceler.

Também se deve nomear um Reitor (para as Universidades) e um Presidente (para as


Faculdades). Em muitos países por costume se emprega o nome de “Decano” para
designar o presidente da Faculdade. Suas funções devem ser detalhadas nos
Estatutos, porém em geral será o Reitor ou Decano quem realizará o acompanhamento
diário da vida da Universidade ou Faculdade. Nas Universidades costuma-se ter
vários Vice-Reitores e nas Faculdades costuma-se ter vários Vice-Decanos ou Vice-
Presidentes. Serão os Estatutos que concretizarão seu número e suas competências.
Também se deve prover para a coordenação das Faculdades, com as autoridades do
Reitorado, no caso de fazerem parte da Universidade.

Pode haver outros órgãos de governo individuais e coletivos previstos nos


Estatutos.

O PROFESSORADO E OS ALUNOS

Em toda Faculdade deve haver um corpo estável de professores. Os Estatutos deverão


indicar as classes de professores e suas funções, ainda que em geral as classes de
professores costumem seguir os usos de cada país. Pode haver professores
catedráticos, titulares, etc. Os Estatutos costumam agrupar os professores em
departamentos, que têm funções de coordenação na docência e na pesquisa.

Para nomear professores, deve-se levar em conta o artigo 25 da Constituição


Apostólica “Sapientia Christiana”:

“Artigo 25. §1. Para que alguém possa ser legitimamente assumido entre os
professores estáveis da Faculdade, se requer:
1) que seja pessoa distinta por seu preparo doutrinal, seu testemunho de vida e seu
sentido de responsabilidade;
2) que tenha o doutorado congruente, um título equivalente ou méritos científicos
do todo singulares;
3) que tenha provado sua idoneidade para a pesquisa científica, de maneira
documentalmente segura, sobretudo mediante a publicação de trabalhos científicos;
4) que demonstre ter aptidão pedagógica para o ensino”.

É o Grão-Chanceler ou o seu delegado quem nomeia ou concede a autorização para


ensinar depois [de o professor] ter feito a profissão de fé, se este vai ensinar
matérias de fé e costumes: “Os que ensinam matérias concernentes à fé e aos
costumes, devem receber a missão canônica do Grão-Chanceler ou do seu delegado,
depois de ter feito a profissão de fé, já que não ensinam com autoridade própria
mas em virtude da missão recebida da Igreja. Os demais professores devem receber a
permissão para ensinar do Grão-Chanceler ou do seu delegado” (art. 27).

Os alunos podem provir de qualquer origem: “As Faculdades eclesiásticas estejam


abertas a todos aqueles, eclesiásticos ou seculares, que, apresentando certificado
válido de boa conduta e de haver realizado os estudos prévios, sejam idôneos para
inscrever-se na Faculdade” (art. 31), contanto que tenha os títulos necessários
para aceder à Universidade civil do país em que esta esteja.

ESTUDOS ECLESIÁSTICOS

Nas universidades e faculdades eclesiásticas se compartilham aquelas matérias


relacionadas diretamente com a doutrina da Igreja. Como em todas as universidades
as matérias costumam a ser agrupadas em faculdades, as quais são as responsáveis
pelo ensino e pesquisa nas matérias a seu cargo.

São três as faculdades eclesiásticas comuns em todas as universidades: Filosofia,


Teologia e Direito Canônico. Algumas Universidades têm ademais outras faculdades,
como Comunicação Institucional, História Eclesiástica, Liturgia ou Missionologia,
entre outras.

Cada Faculdade deve oferecer estudos dos três ciclos que se dão no ensino
eclesiástico. Estes graus são: o Primero Ciclo, ao final do qual se concede o grau
de Bacharelado; o Segundo Ciclo, que concede o grau de Licenciatura; e o Terceiro
Ciclo, que outorga o grau de Doutorado. No entanto, “os graus acadêmicos podem ser
expressados com outros nomes, considerando o costume das Universidades da região,
enquanto se indique claramente sua equivalência com os graus acadêmicos” já
mencionados (art. 48). “O doutorado é o grau acadêmico que habilita, e se requer,
para ensinar em uma Faculdade; a licenciatura, por sua vez, habilita, e se requer,
para ensinar em um seminário maior ou em uma escola equivalente” (art. 50). O
bacharelado, por sua vez, se requer em certos ofícios eclesiásticos.

Cada Faculdade elabora o seu próprio plano de estudos adequado às finalidades da


faculdade. Nas Normas da Sagrada Congregação para a Educação católica, de 29 de
abril de 1979, se detalha o conteúdo geral do plano de estudos das três faculdades
habituais (cf. art. 50 e ss.). Para as demais Faculdades a Congregação para a
Educação católica tem dado normas especiais.

Autor: Pedro María Reyes Vizcaíno


Fonte: http://iuscanonicum.org
Tradução Livre: Carlos Martins Nabeto

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