Você está na página 1de 14
TEXTOS SELECIONADOS DO FUNDADOR 3JETIVOS E METODO DO ADESTRAMENTO LOS LOBINHOS SUIDISMO | (para escoteiras e guias escoteiras) GUIDISMO 11 (para Escotistas) AEDUCACAO PELO AMOR SUBSTITUINDO AEDUCACAO PELO TEMOR & UNIAO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL |S ee ee _ USE TEXTOS SELECIONADOS DO FUNDADOR GUIDISMO | (para escoteiras e guias escoteiras) Bader, *owell {INDICE Prefacio . que fazem as guias . Porque guias . Sempre alerta Estudo da natureza na cidade Caca de Atalaia . © Acampamento . Como adestrar uma aspirante Historia de duas ras e de um pote de creme . Monitoras ......++ Bo Eccotista 7 Nos 60 anos & bs nagem da Directo Nacion a Brastlia, 04/11/84 v PREFACIO* Quero aproveitar @ oportunidade desta nove edi- 40, para dar um conselho a todas que trabalham na divulgacdo de nossos princ{pios. Talvez eu no tenha insistido tanto quanto deveria, na importancia dos conhecimentos da natureza nos nossos programas. Lamento que haja uma tendéncia sobretudo nes cida- des e durante 0s meses de inverno, a se dar mais im- Borténcia aos sinais, formaturas e outros exercicios deste gBnero. Nossa ‘finalidade ¢ principalmente desenvolver 0 cardter e 0 sentimento de civismo por meios naturais endo artificiais. Nao nos esquegamos que é contra os nossos prin efpios impor regras e disciplina: nosso desejo é desper- tar 0 esforco pessoal e a disciplina interior. © amor eo conhecimento da natureza mostram as belezas do plano divino e nos auxiliam a compreender a ligBes das pedras silenciosas e dos regatos sonoros. 2 As guias devem aprender a decifrar o livro maravilho- 50 que nosso Pai celeste nos deu; e viver como diz, Longfellow em seu poema: “E a natureza, me nutriz, ‘Tomando a crianga nos seus joelhos; — Eis um livro de hist6ria, Ihe diz (Que teu Pai escreveu: s80 bons conselhos. Vern! As reaides desconhecidas ‘Vamos juntas partir para ver! Decifremos no manuscrito de Deus, O que ninguém, na terra ou nos céus, Conseguiu, por ventura, ainda ler.”” NareQrrn 4 Fhoo “GUIDISWO" — Exerator do lvra de Lord Baden-Powell. Ttulo (Original: GIRL GUIDING ~ Edited ern 1921 = 0 QUE FAZEM AS GUIAS Seu primeiro dever como guia é prestar servico 20 proximo, tanto nas pequenas como nas grandes coi- 2s. E preciso que voo8 imagine as mil e uma circuns tancias diferentes que podem se apresentar, ¢ o modo como vai agir nesse ou naquele caso particular; s6 assim estar pronta para qualquer eventualidade. Eu vi, certa vez, uma aeroplano alemao deixar cair uma bomba sobre uma estago de Londres. Havia ali © movimento habitual; pessoas que tratavam das bage- gens, que diziam adeus; de repente, um vagio inteiro foi reduzido a pé, e 05 outros pegaram fogo. Sete ou. ‘ito pessoas foram jogadas longe e morreram instan- taneamente, Cerca de trinta ficaram machucades, mutiladas, perdendo sangue. © inesperddo desta cena tornou-a ainda mais tragica. Reparei entZo que uma das primeiras pessoas @ recuperar 0 sengue frio fol uma jovem, bem vestida, que se joelhou ao lado de um operdrio que estava perdendo muito sangue, com, 4 um ferimento na coxa. Ela cortou-Ihe a calca com uma faca ©, com esses pedagos de fazenda, fez um ‘tempo para cobririhe 2 ferida. Encontrou, ndo sei onde, uma xfcara, e encheu-s, na bomba das locomo- tivas. Em vez de perder a cabeca, tornando-e init, estava calma, pronta para fazer o que devia, como se tivesse passado @ vida no meio de bombardeios aéreos. Eis 0 que uma jovem pode fazer, estando preparada. Para poder ajudar, em casos semelhantes, é neces- sério simular situagSes desse género, e ir 20 campo procura de feridos, seguindo-lhes a pista até o lugar fem que se esconderam ou onde foram buscar agua. Voeé precisa saber acender uma fogueira, fazer curati vos ligeiros e preparar uma sopa quente ou uma refei- fo rapida. Também deve conhecer sinais, que permitam pe- dir socorro aos companheiros que estiverem a uma grande distancia. E preciso saber construir um abrigo, com os galhos que encontrar, improvisar padiolas a fim de transportar 0s feridos para carros ou carrogas, © conduzi-los a0 hospital mais préximo, Uma guia & bastante engenhosa para ser capaz de transformar repidamente um quarto ou um pordo numa sala dé hospital, fazer uma cama, conhecer os acessbrios indispenséveis 20s doentes e feridos, sabe igualmente cuidar destes, trocar-Jhes as ataduras, preparar-lhes al mento, arejar 0 ambiente, lavar roupa branca, etc.. POR QUE GUIAS Na fronteira nordeste da India, hé um corpo céle- bre de soldados conhecidos pelo nome de Guias. De- vem estar sempre prontos, a qualquer momento, para repelir do outro lado da fronteira as incursdes das tri- bos hostis, impedindo-as de penetrar nas calmas pla- nicies da India, Esta tropa de homens deve estar preparada para ‘todos os géneros de combate: a pé, a cavalo, na mon- tanha, Fazer muitas vezes trabalho de pioneiro, atra- vessam rios a vau, constroem pontes, etc. Mas, sobre- tudo, devem ser muito 4geis, intrépidos e resistentes, prontos para partir a qualquer hora, em qualquer es- tago do ano, a se sacrificarem, quando necessério, a fim de manter a paz em toda a India, impedindo as incursées inimigas. Sao, -pois, verdadeiros patriotes, com que se pode contar. Na Europa, quando se fala em “Guias", pense-se naturalmente nos montanheses suigos e de outros pat- ses que, pela intrepidez e habilidade com que ven- com 0s obstéculos, pela ajuda que dio aos compa- Aheiros @ pela resisténcia, podem guiar os turistas nas, perigosas ascensdes. So belos tipos, fisica e moral- mente, mas se Ihes pedfssemos para percorrer, na pla- Acie, tantos quilémetros quantos percorrem na mon- tanha, ndo tentariam a tarefa, pois néo poderiam fa- zer uso das qualidades de que dispdem, quando esto, nas montanhas. N&o Ihes interessa andar por cami. nnhos jé batidos. S6 se sentem realmente felizes quan- do se encontram face a face com 0 perigo e conse- guem venoé-lo, para atingir finalmente o cume da montanha que desejam conquistar. Pois bem, penso que € esse 0 caso atual da maioria de nossas jovens. Nao desejam ficar inativas. No que- rem que tudo seja fécil. Ndo pretendem simplesmente atravessar a plan‘cie; preferem tornar-se pessoas ativas ‘com as quais se possa contar, diligentes e prontas, a se sacrificarem, quando necessério, como os Guias na fronteira nordeste da India. Ambicionam também transpor obstculos da vida, enfrentar as montanhas, @ 05 aborrecimentos os perigos para vencé-los, pre- param-se para se tornar corajosas e hdbeis. Querem ainda ajudar os outros nos momentos diffceis. E so quando atinger esse objetivo, sentem-se realmente Vitoriosas e felizes. E uma grande satisfagao para elas ter realizado sua tarefa e ter ajudado as outras a res- lizé-la. Eis 0 que desejam realizar as guias, e nisso se arecem com as guias da montanha. ‘Além disso, uma mulher, capaz de desempenhar bem um trabalho 6 respeitada pelos homens e pelas outras mulheres, que esto sempre prontos a seguir- thes 0s conselhos; ela se tornaré um guia. Mais tarde, 7 se tiver fihos, ou se educar criangas, seré verdadeira- ‘mente um guia para el As guias aprendem, por meio de seus jogos e de suas atividades, tudo que Ihe pode ser Gil na vida. Aprendem também a mostrar 0 caminho 20s outros. Assim, 08 acampamentos, 05 sinais, 08 primeiros so- corros, a cozinha de campo e todos os outros traba- thos farBo delas mulheres de iniciativa, hdbeis, fortes @ de corpo e de espirito. Melhor ainda, isto as unir& num bando de alegres amigas. SEMPRE ALERTA © lema das guias, que Ihes precede o trabalho é: “Sempre Alerta”. Isso quer dizer que devern estar prontas a fazer qualquer trabalho que Ihes seja con- fiado © 0 que é mais importante, que sao capazes de enfrentar qualquer eventualidade. E isso que as guias, aprendem nos jogos e nos acempamentos. Desejam ‘er outras atividades, além das que aprendem na esco- fa, ESTUDO DA NATUREZA NA CIDADE Muita gente pensa que s6 no campo ou na mata podemos estudar a Natureza, observando os animais em liberdade; mas isto é um erro. Podemos aprender muita coisa na cidade, até mesmo em casa, tanto soz rnhas como ajudadas por outra pessoa. Por exemplo, veja no espelho maravilha que é 0 olho, a delicadeze de sua estrutura; parece uma bolha, que um pequeno toque destruiria completamente. Pense depois nos nervos que transmite as imagens das coisas visiveis ao oérebro, no qual séo registrados os pensamentos invistveis. Estes pensamentos criam em seguida o desejo da aco. Por exemplo: se seus olhos véem sobre a mesa um objeto que voc8 deseja pegar, imediatamente o pensamento aciona os nervos do bra- {G0 € este entio pega 0 objeto. : No podemos ver o pensamento, mas podemos ve- rificar que ele existe, quando pegamos um objeto. Da mesma forma, Deus nao é visivel, mas estd sempre presente, e voc constata Sua presenca quando fez uma boa ago. Algumas vezes vocé deixa de fazé-la ou entdo faz alguma coisa que ndo foi sugerida por Deus. Vooé se sentiré naturalmente envergonhads quando isso aperecer, ¢ se recusaré a repetir. Para evitar isto, procure pensar antes de agir, perguntando a si mesma: "Deus aprovaria minha conduta?” Se a sua conscién- 9 P in amaaaeacmmmmmaenaa amma Beis et cia responder “Sim”, continue; se responder “Nao”, pare. Nao seré diffcil levar uma vida reta e pura, se voo8 se lembrar que é preciso pensar antes e agir depois. CAGA DE ATALAIA Como se esconder — Quando vocé deseja observar ‘animais selvagens, fique de atalaia e chegue perto sem que eles possam Ihe ver ou farejar. © cagador que pretende ver sem ser visto, deve ficar completamente escondido. Um policial nfo agar- re 0s gatunos postandose perto deles em uniforme, para examiné-tos; veste-se como qualquer pessoae, néo aro, detemse diante de uma vitrine para observar = pelo espelho tudo que se passa atrés dele, sem o demonstrar. © culpado que se sente vigiado permanece em guarda; 0 inocente que se vé espiado sente-se mal. Assim, a0 observar alguém, no o olhe ostensivamente para ele, mas note as minticias que interessam, em uma ou duas olhadelas; e se quiser estudé-lo melhor, 0. Hé tanta coisa a aprender sobre uma pessoa observando-Ihe de costas, como de frente; as vezes até mais, pois se ela propria no for uma guia e néo se voltar muito, néo saberd que esté sendo seguida. Os cacadores de ateleia lembram-se sempre de duas coisas importantes em suas expedicées: antes de 10 a tudo, tomam 0 cuidado de colocar-se de modo que @ cor do fundo, constitufdo de érvores ou de prédios, seja a mesma que a da roupa que vestem, Em seguida, se 0 inimigo ou a caga olha para eles, ficam absolu' mente iméveis, tanto tempo quanto for necessério. ‘Assim, mesmo a descoberto, uma guia pode evitar ser vista, dando a impressdo de que se congelou de repen- te no lugar. ‘Arte de seguir uma pista — As quias empregem a palavra “sinal” para definir todos os detalhes revela- dores de uma pista, como uma pegada, galhos quebra- dos, capim remexido, restos de alimentos, fésforos gastos, etc. Alguns monteiros indus seguiamn, certa vez, 0 ras- tro de uma pantera que tinha matado ¢ levado consi- go um cabritinho. Ela atravessara uma grande exten- sio de rocha nua, onde, naturalmente, no deixeva vest(gios de suas patas aveludadas. Um dos montelros foi direto a uma aresta aguda, na extremidade do ro- chedo, molhou o dedo e passou-o ao longo da pedra ‘até que encontrou colados nela alguns pélos de cabri- to. Isto indicou-the a passagem da pantera carregando sua presa. Estes poucos pélos constituem 0 que uma guia chama de “sinal”. © mesmo monteiro também descobriu_ursos, ‘observando pequenos sinais dessa qualidade. Certa ‘vez, por exemplo, notou sobre um tronco de érvore " um arranh&o novo, feito evidentemente pelas garras de um urso; depois, encontrou sobre outra drvore um Gnico pélo negro, prova de que o urso tinha se esfre- gado ali. E preciso que uma guia aprenda a no deixar esca- par nada @ sua percepedo, Deve notar os menores indicios e sinais, para, em seguida, fazer a sua dedu- 80; mas € preciso muito treino para uma aspirante adquirir realmente o hébito de notar tudo, de no dei- xar nada desapercebido. Pode-se aprender isso to + bem na cidade como no campo, contanto que se te- nha a cabeca no lugar. Vocé deveré ainda notar cada rufdo estranho, cada cheiro particular e refletir no que Isso significa. Se ndo aprender a observar so sinais, conhecera muito pouco do mundo que a cerca e no seré de grande uti- lidade como guia, No se esqueca de que é forjando que se faz 0 ferreiro, Lembre-se disto; para a guia é uma vergonha se outra pessoa descobre a0 longe ou debaixo de seus olhos, alguma coisa que ela no observou ainda. Nao olhe apenas para o caminho a sua frente; volte muitas vezes, olhe para trés, preste atenc&o aos tragos carac teristicos da regio em que estés, a fim de fixar 0 aspecto do caminho, se tiver de voltar por ele. Nas ruas de uma cidade estrangeira, a quia refard o. seu caminho com o auxilio dos ediffcios pablicos e 12 e2 dos quarteirées, observando as lojas suas vitrines. Observard as pessoas que encontra, seus rostos, roupas, @ sapatos, e seu andar, de modo que, se um guarda civil perguntar, por exemplo: “Viu um homem de sobrancelhas negras e carregadas, de roupa azul, des- ‘cendo a rua?” — ela pode responder mais ou menos assim: "Vi. Ele coxeava um pouco da perne direita, usava sapatos desparelhados e levava um embrulho na mio. Tomou pela rua de Ouro, a segunda a esquerda, ha trés minutos, mais ou menos.”” Muitas vezes informacSes deste género foram Gteis para se seguir 0 rastro de um criminoso, Mas ainda hé muita gente que anda com olhos fechados... Estude também os sinais que deixam as rodas, de maneira a reconhecer uma peca de canho, uma carro- 2, um carro, uma bicicleta, e em que diregio elas rodavam. Na historia de Kim, de autoria de Rudyard Ki pling, dois meninos so ensinados a observar, a fim de se tornarem investigadores, por meio de um jogo. Este consiste em mostrar, durante um minuto, uma super- ficie “onde ha diferentes objetos, que,. em seguida devem ser enumerados ¢ descritos de membria, Prati que este jogo, que ¢ um excelente exercicio pare as guias. Caracterfsticas das pessoas — Quando viajar note sempre tudo que se relacione com os seus companhei- 13 ros de viagem: seus tragos, vestudtio, modo de falar, etc., para que, depois, possa descrevé-los exatamente. Experimente também adivinhar, pelo aspecto e pelas extremidades, se so ricos ou pobres (geralmente os sapatos dizem isso), qual 6 a profisséo provavel, se s&o felizes ou infelizes, se precisam de ajuda Mas, a0 fazer estas observacdes, no deixe perce- ber que esto sendo exarrinados; do contrério eles se oro em guarda, * Dedugdo pelos sinais — Foi dito que se pode conhecer 0 cardter de ur homem pela sua maneira de usar 0 chapéu. Se 0 coloca ligeiramente de lado, é um bom rapaz; j6 0 chapéu inteiramente de banda indica um fanfarrdo; usado para trés, um mau pagador; direi- to no alto da cabeca, um homem provavelmente ho- nesto, mas de inteligéncia curta. © andar do homem ou da mulher &, geralmente, indicio de seu cardter. Como prova, temos 0s passos, curtos e saltitantes do fanfarrdo, que anda agitando os bragos; os passos bruscos e répidos do nervoso; 0 an- dar arrastado do vagabundo; 0 passo leve e silencioso da guia. Quando voeé tiver prética, poderé adivinhar quase que exatamente a personalidade de um homem, pelo seu aspecto. E espantoso ver 0 quanto voc pode aprender, observando a sola do sapato da pessoa que vai a sua frente e as dedugbes que pode tirar. Uma sola e um, 14 salto gastos por igual provam honestidade e capacida- de para 0s negécios; um salto gasto do lado de fora revela um homem de imaginago, amigo de aventuras; @ salto gasto do lado de dentro, acusa fraqueza e irre- solugao; este sinal é mais infalivel em relago aos homens do que em relacdo as mulheres. Lembre-se que, a0 notar esses pontos de referén- rito de dedugdo. Ao encontrar, um dia, um estranho, reparou que ele tinha o ar satisfeito, usava roupa nova com sinal de luto, que seu aspecto era marcial, andava ‘como um marinheiro e, nas méos tatuadas, carregava alguns brinquedos de criangas. Holmes adivinhou que este homem acabara de se reformar no posto de sar- gento da marinha de guerra, que sua mulher morrera que tinha filhos pequenos. Pontos de referéncia no campo — Se vocé estiver no campo, deve notar os pontos de referéncia — isto 6, 08 objetos que poderéo a auxiliar a retomar 0 ca minho, ou a impedir que se perca — tais como monte: nihas distantes, torres de igrejas, ou entio, mais perto, as construcbes caracter{sticas, as drvores, os portdes, rochedos, etc. Lembre'se que, ao notar esse pontos de referén- cia, algum dia vocé poders utilizar seu conhecimento, para auxiliar outra pessoa 2 encontrar o caminho; 6 preciso portanto, observé-los com atengo, de modo a 15 poder descrevé-los sem erro, ¢ na ordem exata. Repa- fe em todos os cruzamentos, todas as picadas e lem- brese deles. A lembranga do que viu, poderd ajudé-lo @ encontrar 0 caminho a noite, ou quando houver evoeiro, ao passo que outras pessoas correm 0 risco, de se perder. ‘Abra os olhos — Que nada escape a sua atencio — um boto, um fésforo, um cabelo, uma cinza de cigarro, uma pena ou uma folha podem ser muito importantes; até uma impresséo digital, quase invis(- vel a otho ni, tem servido freqiientemente para se descobrir um crime. ‘Quando estiver em pleno campo, abra os olhos. Nao se limite a observar os pequenos sinais 20 seu redor, mas também os que estiverem mais distantes, tais como nuvens de p6, péssaros assustados, movi- Mentos anormais nos arbustos ou no capim; preste ouvides a um galho que se quebre, ao latido sibito deum cachorro, ete. Na batalha de Boomplatz, entre ingleses e boers, a vitoria coube aos ingleses, gragas 20 comandante Sir Harry Smith que notou, 20 longe, um veado assus- tado, correndo sem motivo aparente. Desconfiado, en. viou escoteiros em rmissio de reconhecimento. Os rapazes descobriram uma tropa boer tentando armar uma emboscada. E foi fécil desfazer 0 intento do inimigo. 16 A noite, naturalmente, os ouvidos dever substi- tuir os olhos; este género de exerocio deveré comple- tar a observago visual. Uma guia experimentada sabe- 4 os menores sinais, identificara as menores pistes € saberd reuni-lo em seu pensamento e deles tirar rapi damente uma concluséo — coisa de que uma pessoa inexperiente nao seré capaz. Este hébito de observar, se tornaré uma segunda natureza e daré a guia uma habilidade extraordindria. Um dia, durante a guerra dos Matabeles, estava eu com um nativo, nas cercanias dos montes Matopo, numa vasta planicie verdejante; nés dois tinhamos sido destacados como escoteiros. De repente, cru- zamos com uma pista recente; as folhas do capim ain- da estavam Gimidas e curvadas numa mesma direcdo, a que os caminhantes tinham tomado, Seguindo essa pista durante algum tempo, chegamos a um trecho arenoso e af vimos as pegadas de varias mulheres (pés pequenos de contornos retos, passos pequenos) ¢ de meninos (pés pequenos, contornos curvos, passadas mais largas}, que no corriam mas caminhavamn em di- rego’ das colinas situadas a uns sete quilémetros dali, onde supunhamos estar escondido 0 inimigo. Depois, a uns .dez metros da pista, vimos uma folha de érvore. S6 havia érvores a varios quilémetros dali, mas sabfamos que algumas drvores com aquela espécie de folha cresciam numa aldeia situada a vinte 7 quilémetros de distancia, na direcéo de onde vinham 8 passos. Era provével, portanto que es mulheres tinham vindo da tal aldeia, trezendo consigo a folha e seguiam para as colinas. Ao apanhar a folha, notamos que estava imida e cheirava a cerveja ind/gena, Os passos pequenos das mulheres provavam que elas estavem cerregadas. Assim, adivinhamos que, de acordo com 0 costume, levavam na cabega jarros de cerveja ind/gena, tapados com folhas, Uma dessas folhas catra, mas nos a encon- tramos a dez metros do caminho, o que indicava que, naquele momento, estava ventendo. O ar estava cal mo, eram sete horas da noite, mas Id pelas cinco horas tinha ventado, De todos esses pequenos sinais concluimos que um grupo de mulheres ¢ meninos tinham trazido cer- veja durante a noite, da aldeia, que ficava a vinte qui lometros dali, para o inimigo, escondido na colina, chegando lé pouco depois das seis horas. Os homens tinham provavelmente, comecado logo a beber (por- que @ cerveja indfgena azeda em poucas horas) ¢, quando chegassemos 6, deviam estar sonolentos pouco vigilantes, de modo que terfamos uma boa ‘oportuniade para raconhecer suas posigBes. Seguimos, portanto, a pista das mulheres, encon- tramos 0 inimigo, fizemos nosso reconhecimento e vol- tamos sem dificuldades com as informagSes desejadas. 18 E tudo isso gragas ao testemunho de uma énica folha. Assim, voo8 pode ver a importéncia que hé em notar as minticias, O ACAMPAMENTO. Uma das coisas mais apaixonantes do Guidismo & ‘© acampamento. Pode-se acantonar numa fazenda ou. numa casa desocupada, ou acampar em barraces. ‘Algumas pessoas falam da vida dura dos ecampa- mentos, mas em geral so os principiantes que pensam, assim, Uma guia experimente no acha essa vida dura, pois sabe encontrar mil jeitinhos de torné-la conforté- vel Se as barracas, por exemplo, nao tiverem apareci- do ela no se senta tiritando e resmungando, mas co- mega logo a construir um abrigo ou uma cabana. Es- colhe pata isso um lugar que néo esteja arriscado @ ser inundado em caso de chuva. Depois acende um fogo de campo, cozinha o jan- tar e prepara uma came confortével, com musgo ou palha Mas para fazer tudo isso & preciso, naturalmente, que tenha antes aprendido como acender uma foguei- ra, como preparar e cozinhar a comida, como tecer um coleho de campo, etc., coisas que normalmente sfo ensinadas durante as atividades de guias. 19 No acampamento, aprende-se a fazer tudo que & necessério, pois nem sempre é poss(vel encontrar um. armazém por perto onde se possam fazer compres. COMO ADESTRAR UMA ASPIRANTE Voeé se lembra, sem diivida, do que teve que fa- zer como aspirante. Agora chegou a sua vez de ajudar uma candidata, mostrando-Ihe como tornar-se uma guia, Lembre-se de que tudo é conseguido pela bonda- de @ pelo exemplo. Talvez ache sua discipula muito timida, lerda ou avoada. Prepare-se para aceité-la e sorria. Faca-lhe um ambiente alegre. Nao tente ensi- narlhe tudo a0 mesmo tempo, Mostre-the de um mo- do geral, tudo quanto ela tem a fazer; depois tome uma coisa s6, ¢ feca para ela ver; repita em seguida com ela e, finalmente, deixea sozinha, Nao importa que ela erre a principio, mostre-Ihe depois onde ela se enganou. Veré que bem depressa a aspirante saberé fazer 0 que Ihe foi ensinado. (0 seu exemplo também influiré muito. Se voos se mostrar impaciente ou irritada, ela também o fica 4, Se vocé rir e achar prazer na licdo, ela também 0 fard e existiré sempre entre ela e vooé, um lacode ami. zade todo especial. 20 HISTORIA DE DUAS RAS E DE UM POTE DE CREME E uma coisa que o hoquei ensina. Acontece que vocé pode perder uma partide, mas no o bom humor ea alegria. Com efeito, uma guia aclama o vencedor e esquece a derrota, Mas voc no desiste nunca. Muitas vezes vo acredita que as chances esto contra e que é pouco possivel ganhar; porém justamente no fim, a outra equipe cede ou néo presta tanta atengéo e sue equipe acerta a meta uma ou duas vezes nos ditimos minutos e termina vitoriosa. Essa tenacidade ¢ um imenso valor, no somente no jogo, mas também na progresséo como guia e mais tarde, na vida Duas as, em passeio, encontraram no caminho uma tijela de ereme, na qual cafram. Uma delas, pen- sando que se tratava de uma nova espécie de 4qua, € que era indtil tentar nadar, afogou-se porque néo teve energia. A outra, ao contrério, debateu-se, e posse @ nadar vigorosamente. Quando jé, quase sem forcas, sentiu que perdera a luta, algo de estranho aconteceu! Gragas 20 seu trabalho obstinado, conseguiu bater creme, ¢ viu-se 38 e salva sobre um bolo de manteiga! Se voe8, no Guidismo, néo aprender nada além desta historieta das ras, procure, neste caso, no es 2 quecé-la; quando sentir que esté fraquejando no cum- primento do dever, lembre-se das ras e mantenha-se firme! MONITORAS Quando vocé chegar a Monitora, lembre-se que esté ocupando uma funcao verdadeiramente impor- tante € cheia de responsabilidade. Teré sob as suas or- dens um certo niimero de meninas que véo formar 0 caréter de acordo com 0 seu exemplo e a sua direco. Se vocé for indolente elas serdo indolentes,se vocé for entusiasmada, elas também o serdo; a atitude das me- ninas em grande parte dependeré de voc. Também no se tone Monitora somente para impressionar, ‘mas veja se realmente se sente capaz de quiar as outras,, © procure fazer tudo 0 que estiver a seu aleance para toré-las boas guias Vocé tem que dirigir sua patrulha; pois bem, s6 poderé dirigi-la se tiver a confianca das outras e s6 a obterd se tiver confianca em si propria. E a Gnica ma neira de adquiri-la & saber a fundo o que se pede de voc. Deveré por conseguinte estudar este livreto, aprender tudo o que puder sobre as guias e 0 seu pro- pésito, depois sobre a maneira de executar as instru- Ges que Ihe so dadas, Pratique vocé mesma o que Ihe 6 ensinado, fique certa de poder executé-la conve- 22 nientemente, EntZo poderd ter confianga em si mes- mo; suas guias havero de obedecer-Ihe € vooé seré capaz de entusiasmé-las e discipliné-las perfeitamente. Voeé vai iramente pelo seu exemplo pes- soal, no se esqueca, s6 isso & que conta e é 0 melhor meio para se ter sucesso; e mais do que isso, ¢ 0 UNICO meio. ‘Como Monitora, vooé deveré ser aquela que, na patrulha, melhor pe em prética @ Lei Escoteira, e as outras a seguirdo. E preciso também ser a Ifder nos Jogos, a primeira em todos os trabalhos ¢ a que sugere ‘95 bons jogos, a5 boas idéias, os bons pensamentos. Se for assim, a primeira em tudo, suas quias gostarao de segui-la e voc8 conseguiré disciplina. Seu fim deve ser, naturaimente, fazer de sua patrulha a melhor da Tropa e, se todas as patrulhas fizerem o mesmo, esteja certa de que a sua seco estaré ao lado das melhores. Em cada jogo, a patrulha inteira deveria formar uma equipe. Nao tenha uma ou duas boas jogadoras e ‘8 outras completamente nulas, antes procure fazer da patrulha uma equipe; as mais fracas tentargo melhorar por si proprias, para elevar o nivel da patrulha; joge- ‘fo assim pela honta do conjunto e nao por sua honra individual. Se possivel, dé a cada quia um trabalho especial na patrulha. Poderé encontrar uma que faca bem isto; outra que faca bern aquilo; dé-Ihes uma tarefa particular, para que'a guia o faca em beneficio 23 e honra de patrulha. Hé um ponto diffcil, que 6 pre- ciso sempre ter em mente; quanto estiver tentando di- a patrulha © 20 mesmo tempo formar o caréter de suas guias, ndo se esqueca de que cada uma deve fe_.- por sio trabalho que Ihe foi confiado. Dé a cada uma a sua tarefa, observe a execugéo, mas néo faca ela guia ou a menina ficaré sempre a espera de que voos realize o trabalho que s6 ela deverd realizar. No acampamento a patrulha é uma unidade muito Gtil, E>! poderé ocupar uma Gniea barraca, um quar- to, wii c2leiro ou qualquer outro local. Em tais cir- cunstar .1as, os deveres da Mionitora so muito impor- tantes; & preciso zelar pelo bom comportamento das meninas, pela limpeza e pela boa ordem em sua area. 24 + 1984/85 — Publicep’o comemorstve dos 75 ancs am que apareceram fem 4 de seteribro de 1909 28 primeirasescoteras em 20 Diica em Londres © os 70 anes de organizaéo da primeira Tropa de Ercoteirss no Brasil (dszorbro de 1914) pela Assoctapio.Bravlsra de Escoteres, em So Paulo, que ‘mais tarde se ntegrou 8 UEB. 12 EdigGo — 4.000 exemplares 1984

Você também pode gostar