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W.R. BION * O APRENDER COM A EXPERIENCIA raceme Cte porte ‘Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Bion, W. R. (Wilfred Ruprecht), 1897-1979 JAYME SALOMAO Bo oer Pe ae M6p. (Série Analytica) PAULO DIAS CORREA eae de: from experience. sah ISBN 85-312.0153-5 1 Pci Tada G CDD — 616.8917 cou 1999642 Nogehaeio 91.0762 615.851.1 . CAPITULO QUINTO A fungao-alfa nao se consolida 1, Examinamos agora cisio inevitavel que se associa a re- ago perturbada com o seio € substitutos. Do scio o bebé recebe leite ¢ demais confortos humanos; também amor, compreensio ¢ consolo, Suponha o bloqueio a sua iniciati- va por temor 4 agressio sua ou de outrem, Sc a emocio € muito intensa, inibe-Ihe o impulso para accitaro sustento, Nobebé ouna mic, ouemambos,oamormaisaumenta que diminui 0 bloqucio, em parte porque é inseparavel da inveja' do objeto que assim ama, em parte por sentir que desperta inveja ¢ citime num tercciro objeto exclui- do. A parte que o amor desempenha escapa a observa- do, pois a inveja, a rivalidade € 0 édio a encobrem, embora no exista édic sem presenga de amor. A violén- cia da emogio impele ao reforgo do bloqucio porque cla nio se diferencia da destrutividade, da culpa c depressiio subseqiientes. © pavor 4 morte, por inanico, compele a0 reinicio da succo, Desenvolve-se a cisio entre a satis fagio material ¢ psiquica. 2. Tao temidos 0 medo, 0 ddio¢ a inveja que surgem medidas para destruir a percepeao dos sentimentos, em- bora indistinguivel isto de exterminar a vida. Se presente Serra que cmogdes o subvertam, o sentido de "ca 0 bebé a retomar o amamentar-se, situa- =30— ss gio que the estimula amor © gratidio, ¢ a intolerancia pelt inveja c odio conduzem a cisto diversa da cfetivada para obstar a depressio. Difere da cisio em que, por im- pulsos sidicos, 0 behé se sente compelido a nio reco- nhecer que existe 0 objeto vivo de que depende para os beneficios que, mais tarde na vida, se chamam comodi- dades materiais. A inveja obriga-o a negar amor, com- preensio, experiéncia ¢ sensatez que o scio Ihe propicia ¢ impede se desenvolva c consolide a aco da funcio-alfa. Isto faz seio © bebé apenas concretos, sem representagio men- tal equivalente, culpabilidade ¢ medo seqiiente de suicidio © homicidio passado, atual ¢ iminente. O anscio por amor, compreensio ¢ desenvolvimento mental nao satisfeitos, deflete-se agora em Snsia por comodidades materiais. Inten- sificados 0s descjos pelas comodidades materiais, o anclo Por amor continua insatisfeito, transformando-se em vora- cidade arrogante ¢ desregrada. 3. A cisio, reforgada pela fome € pavor 4 morte por inanig&o de um lado e, de outro, pelo amor e medo 3 inve- jac ao 6dio homicidas juntos, produz um estado mental em que o paciente vorazmente se precipita sobre toda forma de comodidade material; insaciavel ¢ implacavel aum tempo, na busca de saciedade. Em tal estado advin- do do impulso a livrar-se das complicagdes emocionais de perceber vida ¢ relacionamento com objetos vivos, 0 Paciente sem poder de representagio mental equivalen- te, afigura-se incapaz de gratidio ou solicitude por si os outros. Esse estado implica inexistir interesse pela verda- de. De vez que, sente, Ihe falta algo, semelhantes disposi tivos nio o livram das ageuras, empenha em salvar-se sob forma de busca por objeto perdido que culmina em su- di ente ds comodidades materiais; a quan- bordinagio cre tidade ¢ motivaciio dominante, nao a qualidade. Sente-se rodeado de objetos bizarros,’ de modo que, mesmo as co- ao modidades matcriais Ihe sio mas ¢ insatisfatorias das ne cessidades. | do aparetho, a fang’ que mitiga tal pentiria. Vorazmente ¢ apavorado, um pés ou- tro contata o elemento-beta, ineapaz, 20 que parece, de alcangar atividade outra que nao conviver sempre com elementos-beta, com a coneretude. Observar isto na ana ise € sentir paciente que nao abandona sua busca de li- nha de agio que, imagina-se, por certo no deixa de reconhecer como desesperante. As interpretagdes, s¢ 0 analista nio Ihc acompanha a auséncia de repre- sentagdes mentais, parecem-Ihe mas, sem exce¢io, em- bora as requeira mais ¢ mais. Ele no sente entanto recebé-las pois isto pressupde capacidade de ter repre- sentacio mental do analista, relagio equivalente a infantil com o scio, provedor de solicitude material ¢ amor. $6 al- canga todavia, apenas 0 correlato concreto do tipo de re- lacionamento cujo vinculo € 0 dos objetos inanimados; as interpretagdes analiticas sio-Ihe ainda flatos (prédro- mos da abstragio a alcangar), nitidas contribuigées do que apesar de nio serem vio chegar a ser. A circunstin- cia que o paciente nao tem, no contato consigo, capaci- dade para a abstra¢io, explica sua propensio a confundir © contato com o inanimado diante da percep¢io que, de fato, esta vivo.‘ Conquanto nio sinta existam no ambien- te caracteristicas que alcance, no que toca as interpreta- gGcs do analista ¢ cm sua auséneia de possibilidade para aprender com a experiéncia, por fim, pelo alcance do analista, atinge parte do sentido do que Ihe esta sendo in- terpretado. NOTAS 1. Uso 0 termo “inveja” para referir geralmente os fendmenos descritos em pormenor por Melanie Klein, em Envy and Gra- =32- Hiturle, texdwride para 0 portuguis sob 0 titulo Fontes do In- consciente ¢ publicado por Zahar kdhtores, 1464, Rio. 2. Ver capitulo quarto, parigrafo 4, pig, 29. 3. W. R. Bion, “The Differentiation of Psychotic from non-psy- chotic Personalities", Int J. of Peycho-analysis. 4. Ver capitulo sexto, paragrafo 2, pag. 35. =33-

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