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Organizado por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado O Brasil Republicano O tempo da experiéncia democratica - da democratizacgéo de 1945 ao golpe 2° edicdo IRA © amASIL REPUBLICANO ro: Dominio sblico, Catone, Ed (1945-1964) Sio Paulo: Difel. Carvalho, José Mur ‘0 de 30. Semindtic Castelo Branco, Humberto de A. 1° se inaugucal proferida dia 13 de margo de jo, 1980. Ciclo revoluciondrio br 1 Armadas e politica, 1930-1945”, In A Revolu- Brasilia: UnB. University of Texas Press. Labaki, Amit. 1986, 1961: A crise da remtincia e a solugdo parlamentarista. Sio Paulo: Brasiliense. Markun, Paulo ¢ Hamilton, Duda. 2001. 1961 Que as armas ndo falem. Si0 Paulo: SENAC. ‘Moniz Bandeira, Alberto, 2001. © govemto Jodo Goulart: As lutas sociais no Brasil, 1964- 1961. Brasilia/Rio de Janeiro: UnB/Revan. ‘Munhoz da Rocha Netto, Bento. 1961, 2*ed. (acrescida de um capitulo e de trés docu ‘mentos inéditos). Radiografia de novembro. Rio de Janeiro: Ci Oliveira, Eliezer R. de. 1976. Forcas Armadas: politica e ideologia no Brasil Petrépolis: Vozes. Peixoto, Antonio Carlos Peixoto. 1992. “O Clube Militar e os confrontos no seio das Forgas Armadas”. In Rouguié, Alain (org.). Os partidos militares no Brasil. Rio de Janeiro: Record. Silva, Golbery do Couto e. 1981. Conjuntura politica nacional: O Poder Executivo & fica do Brasil. Rio de Jar Partidos politicos e frentes parlamentares: projetos, desafios e conflitos na democracia Lucilia de Almeida Neves Delgado Professora Titular do Departamento de Histéria da PUC-Minas. ‘A Hist6ria é um processo em construgio permanente. Processo marcado por temporalidades e delimitagdes espaciais. Processo construfdo por sujeitos individuais e sujeitos coletivos. Dindmica complexa, que envolve ideologias, cultura, vida privada, agbes paiblicas, representagdes, imaginarios, lutas, rea- es, resisténcias, valores, instituigées, entre miiltiplas variaveis que consti- ‘tuem a complexa rede da insercao do homem na vida em comunidade através, ia politica, por sua vez, caracteriza-se por se constituir como uma teia tecida por heterogéneas realidades que, imbricadas entre si e inter-rela- cionadas no seu conjunto, constituem dinamicas sociais muitas vezes conflituosas e outras consensuais. Os sujeitos construtores da histéria politica sao diversos e represen- tam interesses plurais préprios & realidade humana. Sao sujeitos ind duais, mulheres ¢ homens que escolhem a vida puiblica como profissio, ow se inserem nas lutas sociais como milita institucionais, como organizagées politicas ¢ partidos que retinem pessoas que tém como identidade 0 compartilhamento de projetos comuns — ainda que somente no terreno da teoria — & sociedade ou ao pais nos quais estdo inseridos. Partidos politicos, sistemas e frentes partidérios inclufdos no rol dos cha- mados sujeitos institucionais ¢ coletivos da Histéria so essenciais & pritica da cidadania e a consolidacio de regimes democriticos. Sua auséncia no ce- nério de algum pafs, em qualquer perfodo de sua Hist6ria, significa também auséncia de democracia. Quando 0s partidos estio postergados da cena po- Iitica outros institutos peculiares ¢ necessarios A dindmica da democracia politica ¢ democracia eleitoral ficam automaticamente prejudicados. A re- presentagio da sociedade civil junto ao Estado fica imitada, senio inviabi- lizada. A competigao pluralista, que representa interesses regionais, ideol6- gicos, econdmicos, culturais,émicos, entre outros, nao alcanca real possibilidade de expressfo junto a0 Estado, As liberdades de pensamento e organizagio so tolhidas. Durante 0 periodo autoritério do Estado Novo os partidos foram ex- luidos da cena politica nacional brasileira, Na seqiiéneia, foram fechadas todas as casas legislativas do Brasil, desde as Camaras de Vereadores nos mu- niefpios, as Assembléias Legislativas nos Estados, 8 Camara dos Deputados € a0 Senado na instincia federal. A filosofia ea politica do governo estadono- vista eram incompativeis com a prética da democracia eleitoral, competiti- va, descentralizada e ancorada em pressupostos liberais, tal qual prevalecera a0 longo da Reptiblica Velha. Na verdade, 0 decreto presidencial de Getilio Vargas que determinou a retirada de cena das agremiagGes partidarias que atuavam naqueles anos in- dlui-se no elenco das diferentes medidas governamentais, que, a0 longo do periodo republicano, tem contribufdo para que, no Brasil, os sistemas parti- \ dérios tenham a marca da efemeridade e os partidos politicos, na maior par- | te das vezes, perfis e projetos pouco detinidos. Em decorréncia da atvica fra gramética dos partidos, tem sido comum, no decorrer da trajetéria poli- fica brasileira, a formagao de frentes partidarias ou politicas, que se ~organizaram em alguns contextos, na tentativa de se construlr organiza- bes caracterizadas por identidades mais bem definidas entre seus inte- grantes. Foi assim, por exemplo, ao final da década de 1950 e inicio da de 1960, quando se formaram a Frente Parlamentar Nacionalista (FPN), que reunia politicos que defendiam reformas sociais € a adogio de politi- \ cas nacionalistas por parte do governo federal, e a Agio Democratica Par- lamentar (ADP), que incorporava parlamentares que se opunham & adocio, | pelo governo federal, tanto do reformismo social como de politicas nacio- nalistas efetivas. PARTIDOS POLITICOS © FRENTES FARLAMENTARES DEMOCRACIA, PARTIDOS POLITICOS & FRENTES PARLAMENTARES: (BRASIL DE 1945 A 1964 O pluripartidarismo ea nova ordem democrética A Historia movimenta-se através de ritmos, que adquirem velocidade pecu- liar conforme as conjunturas ¢ as forcas politicas ¢ sociais que nelas atuam. Ritmos que, portanto, s4o em determinadas fases mais lentos e, em outras, mais acelerados. O ano de 1945 no Brasil, assim como no mundo, foi marca- do por uma série de acontecimentos, que aceleram 0 ritmo da Histéria, Contudo, apesar de muitas e significativas mudangas terem se processado no cenétio politico nacional naquele curto perfodo de um ano, a marca do pa- radoxo foi a caracteristica mais pungente daquela conjuntura. Paradoxo traduzido pela dicotomia de continuidade na transformagio ou, mais pr: samente, de transformacées com permanéncias. De fato, a transigio politica do Estado Novo 4 nova ordem democratica foi permeada por contradigées, e adquiriu feigio peculiar ¢ instigante, que cas ¢ desafiado historiadores ¢ cientistas tem alimentado divergéncias an: politicos que se dedicam ao objetivo de interpreté-la. Processada sem a pres- sio de qualquer movimento contestatério liderado por amplas bases sociais, a0 regime que entrava em derrocada (Souza, 1983, p. 105), pode ser consi- derada como um marco de rupsura que apontou alternativas de transforma- io do antigo regime politico. Simultaneamente, pode ser entendida como um marco de permanéncia na mudanga, principalmente em relagio a0 mer- cado econdmico ¢ as condigdes de regulagio da forca de trabalho (Delgado, 1989, p. 25). Nao foi sem razao que Werneck Vianna, considerando tais pa- radoxos ¢ também o fato da referida transigao ter sido pressionada pelas el tes — e de certa maneira planejada ¢ conduzida pelo proprio governo que estava sendo destituido — denominou-a de “transigdo pelo alto” (Vianna, 1999). — Consideradas as forgas politicas e sociais atuantes no decorrer do ano de 1945, fica evidente que a corrente anti-Estado Novo, apesar de alimentada pelos fortes ventos liberais democriticos que varreram 0 mundo ao final da Segunda Guerra Mundial, era numericamente limitada e de extragio social ¢ 0 BRASIL RePUsLICANO jtada: reunia empresios, bacharéis, mil } politica muito bem definida ¢ li ares de alta patente — principalmente os vinculados & Aeronautica — e seg- of ‘mentos da intelectualidade comprometidos com principios liberais que jé \ haviam inspirado praticas politicas postergadas do cenério nacional pela ) tadura do Estado Novo. ‘No outro extremo, se posicionava parte da popullacio brasileira compro- metida com o projeto social getulista/trabalhista. Beneficiada, através de conquistas miateriais € simbélicas, conformavam um amplo segmento social que sc sentia ameacado pelas potenciais mudangas que a cada dia se torna- ‘vam mais nitidas no cendrio politico nacional. Foi nesse estrato da populagio que surgiu o movimento Queremista que, apoiado por forgas governamentais, ganhou amplitude de massa e forte capacidade de mobilizacao. Os queremistas postulavam a continuidade de Getilio no poder, mas sobretudo defendiam acontinuidade da politica — nacionalista e principalmente trabalhista e so- | cial — implementada pelo presidente Vargas (Ferreira, 1998). Considerando as miltiplas varidveis integrantes ao processo de transi- cio supracitado ¢ 0s diversos desdobramentos dele decorrentes, o presente ensaio dedica-se de forma prioritaria 4 andlise das organizagdes partidarias ¢ frentes parlamentares que atuaram no Brasil nos anos de 1945 a 1964. De- dica-se, também, a interpretar um movimento da histéria, que se estendew por um perfodo de dezenove anos. Uma fase da trajetéria nacional brasileira ‘que, apesar das intimeras contradigdes que a marcaram, encontrou na efer- vescéncia da vida partidéria uma efetiva contribuigao para a ampliagio da prética da democracia politica no Brasil Democracia que, tendo passado por diferentes fases ¢ até provagées,! perdurou até 1964, quando foi interrompida pela implantagao de um regi- me politico que deu origem a um novo ciclo de autoritarismo na vida nacio- nal. Regime que, por ironia da Hist6ria, elegeu como um de seus principais objetivos bloquear a prépria experiéncia democrética que, iniciada em 1945, ganhava consisténcia ¢ potencializava crescimento ¢ aprofundamento, Logo apés a intervengio pol ocorrida em abril de 1964, os novos governantes brasileiros passaram a adotar uma série de medidas instirucionais, que visavam eliminar do cenério da politica setores da popu- lagi, organizagées da sociedade civil e pessoas que ainda mantivessem for- PARTIDOS POLITICOS © FRENTES PARLAMENTARES: a, legitimidade e representatividade para se opor ordem institucional au- toritdria entio implantada. No esteio dessas medidas, foi editado em 1965 0 Ato Institucional de niimero dois, que extinguiu o sistema pluripartidério criado em 1945, por ocasiao da queda do Estado Novo. Para substitui-lo, através de lei complementar, foi do um novo sistema — desta feita bipartidario e, na sua esséncia, dicotémico —, completamente diferente da- quele que vigorara desde 1945, cuja marca principal era o pluralismo. De fato, na conjuntura democratica que antecedeu ao regime autoritério implantado em 1964, predominou na vida politica nacional brasileira um sistema pluripartidério, criado quando os ventos da democracia sopravam fortes. A ditadura do Estado Novo comegou a se esgotar to logo os rumos da Segunda Guerra Mundial também comecaram a mudar. A derrocada dos paises do cixo ¢ a iminente vitéria dos pafses aliados, comprometidos for- malmente com os valores da liberal democracia, influenciaram de forma determinante a queda do regime autoritério que vigorava no Brasil. O pré- prio governo federal, mesmo que ainda apoiado por parte expressiva da populagio brasileira, foi premido por diferentes presses internacionais e nacionais, sentindo-se compelido — nao por populares — a adotar medidas auc “abrandassem” as priticas autortiias por ele lenient © governo brasil’ transigio, definindo-Ihe regras, -etapas € processos. Mas esse intento, apesar dé apoiado por segmentos expressivos da populagio que queriam a conti- hiuidade do presidente no poder, sofreu press6es de variadas naturezas, es- pecialmente por parte daqueles que desejavam o fim imediato e definitivo do regime autoritério do Estado Novo. Tratava-se, na verdade, de uma etapa da vida nacional brasileira, na qual a disputa entre diferentes sujeitos hist6- ricos pelo poder expressava a adesio, por parte desses mesmos sujeitos, a diferentes projetos para o Bra: Mas um fato era inequfvoco: a ditadura estava esgotada eo clamor mun- dial por democracia pressionava 0 governo a adotar estratégias de controle de uma transigio que se mostrava inevitavel. Em outras palavras, ao governo ‘$6 se apresentava uma alternativa: integrar-se ao processo em curso, procu- rando dirigi-lo, se nao com rédeas curtas, ao menos com alguma eficécia. Somente esse recurso poderia evitar o afastamento definitive de Getilio 0 BRASIL REPUBLICANS Vargas do cenério nacional. Além disso, poderia também criar inaeumenos de controle que garantissem a manutengio de bases materiais e simb6licas para preservacio do antigo poder na nova ordem institucional. ‘Uma dessas estratégias referiu-se & definigio das regras politicas do Pros ‘cesso: convocagio de eleig&es proporcionais para o Parlamento Nacional, que voltaria a funcionar de forma permanente ¢ em seu primeiro ano de atua~ gio (1946) como Assembléia Nacional Constituintes convocagio de eleigdes majoritérias para presidéncia da Repiblica ¢ implantacéo de um sistema ases nacionais. a ert mo de 1945, foi publicado um decreto lei que ficaria conhecido por “Lei Agamenon”.? Pela primeira vez na hist6ria republicana adotou-se como condigao obrigatoria para o registro de qualquer agremiacio partidéria seu cardter nacional. Essa medida rompeu, de forma definitiva, com a velha tradigio brasileira de estruturagio partidéria regional, que du- rante anos consecutivos alimentou 0 poder das oligarquias estaduais. De acordo com o novo decreto-lei, para registrarem-se ¢ habilitarem-se eleito- ralmente, os partidos deveriam cumprir as seguintes condigdes: «+ registro em cinco ou mais estados da federacio (atuagao em Ambity nacional); ; + referendo inicial de pelo menos dez mil eleitoress + personalidade jurfdica de acordo com © Cédigo Civil. (05 NOVOS PARTIDOS NACIONAIS. Anova lei visava, portanto, garantir dois pilares principais ao sistema parti- dério: pluralismo e abrangéncia nacional, Sistema que, tio logo implantado ce consolidado, marcaria época, tanto pelas caracteristicas dos partidos que ta, que, incrustada na pluralidade, conformaram, como pela polarizacao/dh d ‘0 marcou de forma definitiva. Em outras palavras, no conjunto das organi- zacdes partidarias que se formaram a partir de 1945 e que atuaram até 1965, a competigéo dicot6mica, conduzida por um triangulo partidério, foi bem mais determinante que a competigio pluralista PARTIOOS POLITICOS © FRENTES PARLAMENTARES. Esse fato se explica: entre as diferentes agremiagées que se organizaram a partir da Lei Agamenon, trés se destacaram e ocuparam o espago da cena piiblica: a Unido Democrética Nacional (UDN), o Partido Social Democrati- €0 (PSD) ¢ 0 Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Esses partidos formaram uma estrutura triangular de poder ¢ de disputa pelo poder. Todavia, durante \ os treze primeiros anos de sua existéncia, representaram duas forcas nitidas © opostas que atuavam no cenério da vida nacional: o getulismo, incorpora- do e defendido principalmente pelo PTB, mas também apoiado pelo PSD, embora com menor énfase € com estratégia peculiar; ¢ o antigetulismo, que fer da UDN seu principal ancoradouro e baluarte. No novo cenério politico partidario implementado em 1945, a heranga getulista, pelo menos na primeira fase de atuagio dos partidos, foi elemento catalisador de conflitos, pois a ela se vincularam, por afirmagao e apoio, duas res agremiagbes partidarias do pais, o PTB e o PSD, e, por negagio € oposigio, a também importante e expressiva UDN. No novo quadro pluripartidario que se formou, cabe também destacar 0 retorno a legalidade do jé legendario Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1922, mas que permanecera na ilegalidade durante anos consecutivos. No novo sistema partidério, o Partido Comunista apresentava-se como uma agremiacio bastante diferenciada das demais. Em primeiro lugar, por ter sido fundado em 1922, no esteio da Revolugao Bolchevique de 1917, era um partido de atuagao histérica bastante anterior a0 novo sistema, Em se- gundo, apresentava-se, desde a sua fundagio, a época dos partidos de inser- ‘sao regionalista, como uma agremiagio de base nacional, com fortes lacos internacionais. Em terceiro, possufa vinculos ideolégicos umbilicais com o marxismo. Era, portanto, um partido com programa nitido, vinculado a0 projeto de revoli Considerando-se os anos subseqtientes de clandestinidade por que pas- sara eo clima da guerra fria que jé comegava a se difundir no mundo e no Brasil, nas eleig6es de 1945 obteve resultados expressivos, Para a presidén- cia da Repablica, seu representante Yedo Fiiza contabilizou 9,7% dos votos ¢, no pleito parlamentar, seus candidatos ficaram préximos aos do PTB. O Partido Trabalhista Brasileiro, mesmo apoiado pela maquina governamental € pelo movimento sindical, 86 obteve 7,79 dos votos € 0 PCB, 4,9%. No © BRASIL REPUBLICANO mesmo processo, a agremia¢o comunista conseguiu também cleger Luts Carlos Prestes para o Senado Federal ‘Apresenga oficial do PCB na vida politica brasileira, contudo, teria vida curta. Em maio de 1947, em pleno clima de expansio da guerra fria, quando do man- dato presidencial do pessedista, Eurico Gaspar Dutra, ex-Ministro da Guerra do Estado Novo, 0 Tribunal Superior Eleitoral “respaldado” pelo artigo 141 da nova Constituigao da Reptiblica dos Estados Unidos do Brasil,’ determinow a cassacio do seu registro, Poucos meses depois, foram cassados os mandatos dos representantes do PCB nos poderes legislativos federal, estaduais ¢ municipais. ‘Um novo paradoxo se constituin na vida politica do Brasil: em uma conjuntura de plena vigéncia da democracia politica e de avangos na cidadania eleitoral, comecava um novo ciclo de clandestinidade para os comunistas br ros. UDN, PSD € PTB: UMA HISTORIA DE CONFLITOS & ALIANGAS. Unido Democnética Nacional: liberalismo, antigetulismo e intervencionismo A Unido Democratica Nacional nasceu de um movimento articulado por uma ampla frente de oposigo ao Estado Novo (Benevides, 1981, p. 23). Durante © processo de transi¢io que levou a derrocada do regime autoritério que prevalecera no Brasil de 1937 a 1945, os integrantes da futura UDN contri- bufram, de maneira efetiva, para o desenlace dos acontecimentos que leva- ram A queda de Gerilio Vargas em outubro de 1945. Nio 86 se articularam visando a queda do Estado Novo, como criaram intimeras oportunidades para se declararem liberais ¢ antigetulistas. Assim ocorreu na época da divulgagio do “Manifesto dos Mineiros”, em 1943; no Primeito Congresso de Escritores Brasileiros, realizado em fevereiro de 1945, também pela vor do escritor José Américo de Almeida, através de entrevis ta por ele prestada & imprensa. No inicio daquele mesmo ano, jornalistas, conseguiram burlar a jé combalida censura do Departamento de Imprensa © Propaganda ¢ publicaram contundente entrevista do escritor, criticando 0 presidente Vargas ¢ 0 regime autoritério por ele dirigido. PARTIDOS POLITICS & FRENTES PARLAMENTARES Dessa forma, foi pela pratica da critica contumaz a Getilio e ao getulismo, incluindo simbolos, realizagdes ¢ pregacées, que o udenismo se relacionou com Vargas. Uma relagio ditada pela critica e negacio dos udenistas a tudo que se vinculasse ao presidente, Uma negagio, na sua esséncia, contradité- ria, pois, ao negar, reconhecia. A principal linha de agio da UDN consistia em fazer das agremiagées pré- getulistas seu principal alvo de oposigio, tanto no parlamento, como através, das crfticas publicadas pelos principais jornais que circulavam no Brasil. “A época de sua fundacio, encarnando um ‘espitito liberal’ os udenistas toma- 'vam para si bandeiras de oposigio ao estado de arbitrio e 4 auséncia de liber- dade politica” (Delgado, 1989, p. 27). Objetivavam, a curto prazo, romper ‘com a cadeia de sustentagéo do Estado Novo e, a longo prazo, eliminar da ‘Vida politica nacional a forga pragmética e mitica do getulismo e também do trabalhismo. Como toda frente politica sua composicdo inicial era diversificada, ape- sar de basicamente limitada as elites, Benevides classifica 0 conjunto de I rais que se reuniu na UDN da seguinte forma: a) as oligarquias destronadas com a Revolugio de 1930; b) os antigos aliados de Geuilio, marginalizados depois de 1930 ou em 19375 ©) 9 que participaram do Estado Novo e se afastaram antes de 1945; 4) 08 grupos liberais com uma forte identificagio regional; ©) as esquerdas (Benevides, 1988, p. 29). A histéria da UDN foi bastante contraditéria em relagio ao doutrinarismo liberal que a marcara em sua origem, caracterizado pela defesa incisiva do retorno a pritica da politica liberal democratica. partido concorreu com candidatura prépria em trés pleitos presiden- ciais, Em 1945, com o brigadeiro Eduardo Gomes, que perdeu a eleicao para ‘© marechal Eurico Gaspar Dutra, apoiado pela coligagéo PSD/PTB. Nesta eleigao, 0 candidato do PSD obteve 55,3% da votacio e o da UDN, 34,7%. Em 1950, novamente tendo o brigadeiro como o seu candidato & presi- déncia da Repiiblica, voltou a ser derrotada por Gettilio Vargas, que se © aRAsiL REPUALICANO candidatara pela sigla do PTB em coligacio com o Partido Social Progressis- ta (PSP), que apresentou como vice Café Filho, Nessa eleigao, Vargas, que também contou com 0 apoio oficioso do PSD, obteve 48,7% dos votos € Eduardo Gomes, 29,7%. Finalmente, em 1955, a Unido Demoerética Nacional langou como can- didato Juarez Tavora, que também foi derrotado pela coligacéo PSD/PTB, representada, respectivamente, por Juscelino Kubitschek ¢ Joio Goulart. Kubitschek obteve 36% dos votos e Tévora 30%. Tanto no pleito de 1950 quanto no de 1955, inconformada com os re- sultados que néo a favoreceram, a UDN tentou impugnar as eleigdes, ale- gando que os candidatos vitoriosos nao haviam alcangado maioria absoluta dos votos, requisito esse que nfo estava previsto pela legislacéo eleitoral do Brasil. A UDN, durante esses acontecimentos, jé deixava despontar certa orientagio antidemocritica, que se exacerbaria em momentos hist6ricos sub- seqiientes, como nas conjunturas da rentincia de Janio Quadros & presidén- cia da Reptblica cm 1961 € no contexto que antecedeu ao golpe de estado de 1964. No primeiro episédio, segmentos expressivos do partido posi- cionaram-se contra a posse constitucional do vice-presidente eleito Joao Goulart; no segundo, a UDN incluiu-se entre os principais articuladores da intervengio que levou a derrocada do regime democritico ¢ & instauragao de um regime autoritério no pais. Partido Social Democrético: pragmatismo, habilidade e conservadorismo © PSD, partido que deixou como principais marcas de scu perfil o prag- matismo, a habilidade e a forga eleitoral, foi fundado dentro da perspectiva getulista de continuismo na transformagio. Sua habilidade ¢ capacidade de alcangar e se manter no poder marcaram época. Como resultado dessa pré- tica, seus principais integrantes, que foram grandes mestres da negociagio, ficaram conhecidos como “raposas” da politica brasileira. Aliado de primeira hora do PTB tinha, contudo, bases sociais muito di versas daquelas que vieram a compor o conjunto da agremiagio trabalhista. Criado de dentro para fora do Estado, reuniu em seus quadros os interventores do perfodo do Estado Novo, alguns segmentos da classe média urbana ¢, principalmente, representantes das oligarquias estaduais. As origens sociais do PSD ¢ scus fortes vinculos politicos com o PTB sugeriram um ditado popular segundo o qual: “O PTB era o PSD de macacdo e 0 PSD 0 PTB de casaca”, As bases estruturais do PSD estavam enraizadas na maquina adminis- trativa do primeiro governo Vargas em nivel federal e, principalmente, como to bem demonstrou Liici: ito, nas interventorias na esfera estadual. (Hipélito, 1985, p. 119-137), Essa sustentagao contribuiu para que © partido ja nascesse com meio caminho andado para o sucesso elei- toral, uma vez que, desde antes de sua fundagao, j4 controlava sélida infra- estrutura administrativa € também clientelista nos diferentes estados da federacao. Outra caracteristica também contribuiu para que os pessedistas pudes- sem participar do jogo politico sem estarem presos a restrigdes que, normal mente, dificultam a flexibilidade necessdria aos embates da vida piiblica. Em outras palavras, os politicos do PSD, de acordo com Monta, mantiveram a0 longo da histéria do partido uma constante disposigo para “negociar com diversas correntes de opiniao” (1999, p. 4). Em decorréncia dessa postura, era considerado como um bom politico pelo PSD aquele que, além de ser bom de voto, cultivava 0 gosto pela negociacio, pela tessitura de acordos e pela construgio do consenso. A postura pragmatica dos politicos pessedistas desagradava a UDN que, atada a um excessivo moralismo ¢ a um doutrinarismo muitas vezes dog- mitico, nao possufa a mesma flexibilidade do Partido Social Democratico, Flexibilidade ¢ habilidade que, intimeras vezes, foram vitais para o éxito das atticulagdes p turas eleitorais. Contudo, a alianga PSD/PTB que marcou a hist6ria politica brasileira, principalmente pelas seguidas vitérias nas eleigées para presidéncia da Re- piblica, nao teve uma trajetéria linear. Nos primeiros treze anos de existén- cia dessas agremiagSes foi mais coesa ¢ abrangeu acordos e coligagées nas esferas dos poderes executivo ¢ legislativo. Passou, entretanto, a sofrer algu- ‘mas fissuras, especialmente na instancia parlamentar quando, ao final da iticas emprcendidas pelo partido, principalmente em conjun- 139 0 BRASIL REPUBLICANS década de 1950 ¢ inicio da de 1960, o PTB aproximou-se de seu antigo ad- versario, o PCB. Aliadas, as duas agremiagées passaram a defender a adocio de uma efetiva reforma agréria no Brasil. Diante desse objetivo, que atingia 08 enraizados interesses dos proprietirios rurais, muitos dos integrantes do PSD, principalmente os de origem oligirquica, nio hesitaram em se aliar a sua antiga adverséria, a UDN. O objetivo circunstancial, mas com certeza profundo dessa alianca, visava impedir a aprovagio pelo Congresso Naci nal de qualquer lei relativa a implementagio da reforma agréria no Br Dentre os muitos paradoxos da hist6ria politica brasileira, esse consti- tuiu-se como mais um. Adversirios hist6ricos, pessedistas € udenistas apro- ximaram-se conjunturalmente no Poder Legislativo, mas mantiveram a antiga rias para 0 Poder Executivo Federal. disputa em relagio as eleig6es maj ‘A reciproca foi verdadeira em relagao aos petebistas e aos pessedistas. A medida que PSD e UDN tornavam-se aliados no Parlamento, mesmo que so- mente circunstanciais, o PTB também se afastava, naquele contexto, de sua cara metade, o Partido Social Democritico. Simultaneamente, como jé assi- nalado, desenvolvia um movimento voltado para o didlogo e alianga com os comunistas. Quando se iniciou a década de 1960 a estrutura triangular partidaria, que se tornou hegeménica no conjunto dos partidos que formavam o siste- ma pluripartidério brasileiro, no mais apresentava a mesma sustentagio € objetivos que nortearam a atuagio da UDN, PSD e PTB, os trés partidos que 1 formaram nos idos de 1945. Partido Trabalhista Brasileiro: getulismo, trabalhismo, reformismo e nacionalismo © PTB constitui-se como um dos vértices das estrutura triangular partidéria que se tornou hegeménica no conjunto dos partidos fundados em 1945. Na época do sew registro alicergou sua organizacio nos sindicatos urbanos ¢ na burocracia do Ministério do Trabalho. Seus principais quadros foram recru- tados entre operdrios e demais trabalhadores sindicalizados ¢ também junto 05 funciondrios piblicos que integravam a poderosa maquina do Ministé- rio do Trabalho em todo 0 territério nacional. PARTIDOS POLITICOS E FRENTES PARLAMENTARES Entre os partidos do p6s-1945 foi considerado a agremiagio partidéri mais ardentemente getulista (Motta, 1999), apresentando, entretanto, inse io regional fragmentada. Era muito forte em alguns estados da federac —como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Amazonas — ¢ paradoxalmet te fraco em outros, como, por exemplo, Séo Paulo, que reunia 0 maior cor tingente de operarios de todo o Br: Quando de sua fundagio, buscou atender dois objetives principais: de fender 0 conjunto da legislagao trabalhista na nova ordem democritica e servi como anteparo ao potencial crescimento do PCB junto a classe operdri (Delgado, 1989). No conjunto das maiores organizag6es partidarias fundadas a partir d 1945, foi o partido que apresentou programa mais nitido e bem definid quanto a metas ¢ projetos, incluindo questoes de ordem politica e econémi ca além de proposigées de forte cunho social. A incluso de questées sociai na sua plataforma programética foi, sem divida, um fator diferencial d agremiagao trabalhista em relagao aos partidos que atuaram na conjuntur de 1945 a 1964. Por isso, merece referéncia espe No elenco de propostas que constituiram 0 Programa do Partido Traba ista Brasileiro destacaram-se as seguintes metas entre outras: defesa do regime democratico e do voto universal; *+ defesa dos prinefpios contidos na Consolidagio das Leis do trabalho + amparo da legislacio social aos trabalhadores rurais;¢ * diteito ao trabalho, a salério razoavel e a + aprimoramento profis: * maior autono! jornada de oito horas; nal ¢ intelectual de trabalhadores; para entidades si + aumento do nfvel de vida da populagio brasileira; + educacio priméria obrigatéria e gratuita; * protecio ampla 4 maternidade ¢ a infanci + planificagao econémica pelo Estados + melhor distribuigao da riqueza; ical *+ participagio eqiitativa dos trabalhadores nos lucros das empresas; cextingio dos latifindios improdutivos, assegurando-se direito da posse da terra a todos os que queiram trabalhé-la; vay + maior solidariedade entre os povos; + defesa do dircito de greve pacifica c distingao entre greve legal eilegal.$ © Partido Trabalhista Brasileiro foi, sem diivida alguma, 0 que mais cresceu durante os anos de prevaléncia do pluripartidarismo criado em 1945. Quan- do de sua fundaco, encontrou grandes dificuldades para cumprir as condi- 6es exigidas pela lei para registro de uma agremiagio partidéria, inclusive a referente ao niimero mfnimo de proponentes. No decorrer de sua trajetéria, entretanto, foi ganhando forga e ampliando sua penetragao junto a socieda- de civil. Seu desempenho eleitoral também cresceu de forma expressiva. Se em 1945, em comparagio ao PSD € AUDN, aparecia como o partido de menor representatividade em relagéo ao ntimero de deputados eleitos para a Cama- ra Federal — sua bancada, como ja registrado, nao alcangou 89% dos parla- mentares —, em 1962 ostentava um orgulhoso segundo lugar, com 29,8% dos parlamentares. Nesta eleigio praticamente ficou colado ao poderoso PSD, que tornou-se responsavel por 30,3% da representagao na casa legislativa federal, como demonstra 0 quadro a seguir. COMPOSICAO PARTIDARIA DA CAMARA FEDERAL (1945-1964) PARTIDOS| 1945 | 1950 | 1954 | 1988 | 19@2 PSD 280 | 370 | 350 | 353] 303 DN 20 | 24 | 227 | 215 | 234 Pr 77 | 8 | 172 | 202 | 298 "SP w | 78 38 77 sa PCB 49 : = : PEQuENoS | 56 | 139 | 1a | 153 [reame TOTAL 100,0 | 10,0 | 1000 | 100.0 | 1000 (286) 303) (326) (326) (389) on plo PSP do contados entre os pequenos chase em 1962 edazido a4 deputados por MG (no ni do period tnha dezenove represen DDC é maior dos pequenon,com 20 depuradcn,somente n+ menoe da que o PSP O crescimento do PTB deveu-se a iniimeros fatores. Entre cles destaca se sua defini¢ao partidaria e programatica. Portanto, nao seria ousado afir mar que o perfil programético da legenda trabalhista, caracterizado pele definigao das questées sociais como sendo prioritécias para orientagio de sua pratica politica, em muito contribuiu para que a agremiagao alcangasse cres- cente credibilidade, principalmente junto a populagio trabalhadora brasilei- 1a, tanto rural quanto urbana, Contudo, a trajetéria ¢ o crescimento do PTB nao ocorreram livres de atribulaces ¢ dificuldades. Como alvo privilegiado da UDN, por simbolizar no universo partidario a principal forca getulista, o Partido Trabalhista Bra- sileiro, incluindo seus principais lideres, foi perseguido pela critica contun- dente dos udenistas, que divulgavam constantemente através da grande imprensa acusagdes que relacionavam o petebismo ao peronismo, a perspec- tiva de implantacao de uma Reptiblica sindicalista no Brasil, quando nao a0 “petigo do comunismo”, O ano de 1954, considerado chave para a Historia do Brasil, também o foi para hist6ria do PTB. Com a morte de Getilio Vargas, o Partido Traba- Ihista Brasileiro, que tinha sua imagem fortemente vinculada 3 do presiden- ‘€, comegou a ganhar maior autonomia em relacio 2o personalismo varguista Além disso, passou a incorporar em seus quadros alguns politicos que mes- mo sendo getulistas, tinham personalidades muito fortes e projetos de trans- formar o PTB em uma agremiagio trabalhista ainda mais comprometida com 4 causa nacionalista e com a defesa de reformas sociais e econdmicas profun- das no pais Esse aprofundamento de énfase, que levou o PTB a caminhar liberando- se de um crabalhismo marcadamente getulista para um trabalhismo menos ersonalista ¢ mais reformista, provocou uma rearticulagio no espectro das. aliangas do partido, Por um lado, sua ligago umbilical com o PSD perdew a forca motriz do lago inicial que unia as duas agremiagSes getulistas. Como jé assinalado, em algumas ocasides, em especial quando se tratava da defesa ou da negacio da reforma agréria, os dois partidos chegaram a ficar em campos opostos no Parlamento Nacional Por outro lado, sua oposicao aproximacio e m ial ao PCB foi se transformando em antes comunistas chegaram a se utilizar da legen- 0 BRASIL REPUBLICAN da trabalhista para concorrer a cargos eleitorais, uma vez que seu partido rio era registrado no Tribunal Superior Eleitoral. © acolhimento dos tantes do PCB traduzia uma nova realidade, mais profunda e significativa em relagéo a um projeto para o Brasil. Trabalhistas ¢ comunistas comparti- tharam, mesmo que conjunturalmente, alguns objetivos. Entre eles, destaca- ram-se projetos reformistas de forte impacto social e econOmico e propostas, nacionalistas, que complementavam o elenco dos objetivos reformistas. ‘A aproximacio dos trabalhistas com os comunistas foi um elemento diferenciador no cenério politico brasileiro e acabou sendo usada como uma das justificativas para a intervengio militar em 1964. Em plena era da guerra fria ¢ da bipolaridade, o conjunto dos articuladores da deposigao do presi- dente trabalhista, Joo Goulart, consideraram que 0 avango do trabalhismo era um caminho aberto para a penetragio comunista no Brasil. Por isso, nao hesitaram em intervir no processo politico através de uma ago que pode- mos definir como golpe preventivo. DEMOCRACIA E REPRESENTAGAO; TRANSFORMAGOES NO QUADRO ELEITORAL No perfodo compreendido entre os anos de 1945 e 1964, ocorreram quatro cleig6es majoritérias para o Poder Executive Nacional e cinco pleitos para o Poder Legislativo, incluindo eleigées para Camara ¢ Senado Federais. O pro- cesso histérico eleitoral dessa fase da vida republicana brasileira traduz, de forma muito direta, as transformagées sociais ¢ econdmicas por que passou ‘a nagio naqueles anos. As aliangas e coligagées partidérias também funcio- naram como ¢cos das mudangas pelas quais também passava a sociedade ci- vil brasileira, organizada ou nao, Em outras palavras, o Brasil dos primeiros meses de 1964 — mais urba- no, industrializado ¢ democratico — era muito diferente do Brasil de 1945, predominantemente agrdrio ¢ ainda marcado pela estrutura autoritéria do Estado Novo. ‘A forga e representatividade dos partidos também se modificaram com 0 decorrer dos anos. Em 1945, as principais agremiagées tinham no getulismo, como jf assinalado, sua referéncia nuclear tanto para apoio como para opo- PARTIDOS POLITICOS € FRENTES PARLAMENTARES sigio. Em 1964, novos politicos e liderancas haviam surgido na dinamica do processo politico ¢ o getulismo se transformara: de poder efetivo, trans- mudou-se em heranga com forte poder simbélico. A dinamica do processo histérico eleitoral apresentou, todavia, espe- cificidades em relagao as eleig6es para o Poder Executivo ¢ aos pleitos para © Poder Legislativo. Ref nova conjuntura el por sua vez, através das aliancas tecidas a cada oral, 0 arranjo e rearranjo das forcas politicas no palco da vida nacional. Também traduziu nas plataformas dos candidatos, que dis- putavam os votos dos cidadaos bra ros, suas posicdes ea de seus partidos frente as transformagées por que passava o Brasil no terreno das questoes sociais, econémicas, culturais ¢ poltticas. jéncia da Reptblica, durante os qua- se vinte anos analisados pelo presente ensaio, predominow, como também ja demonstrado, uma disputa essencialmente dicotomica. De um lado se apre- sentava, como uma das op¢ao para os eleitores, a imbativel alianga PSD/PTB. ‘Até o pleito de 1955, esta alianca levou ao poder, pela ordem: Eurico Gaspar Dutra, Gerilio Vargas (com participacio oficiosa do PSD na eleigao) e Jusce- lino Kubistcheck. De outro, postava-se a Unitio Democritica Nacional, der- rotada de forma recorrente nas urnas ¢, repetidamente, ancorada em uma plataforma de oposigio a coligagio pessedista/trabalhista Em 1960, contudo, ocorreu uma alterag4o no que parecia ser uma roti- na estabelecida na dindmica das eleigdes presidenciais. Dessa feita, a conten- da eleitoral foi vencida por Janio Quadros, candidato pelo Partido Democrata Cristo, apoiado pela UDN. Como a lei eleitoral nao exigia a formagao de chapa completa para presidéncia e vice-presidéncia, nesse pleito ocorreu uma grande contradi¢ao que, poucos meses depois, teria fortes repercussdes na vida nacional, JAnio Quadros, adotado como candidato pelos udenistas, ven- ceu a eleigio presidencial, mas o vice-presidente escolhido pela populacio no representava o mesmo espectro das forcas politicas que elegeram o pre- sidente. O vice-presidente eleito era Jodo Goulart, um dos principais Iideres do maior adversario politico da UDN: o PTB. A cleigio de Janio Quadros, saudada aos quatro ventos pelos udenistas que enfim chegavam ao poder, acabou por se transformar em uma panacéia: sete meses apés sua posse na presidéncia da Repiiblica, 0 novo pr 145 renunciou ao mandato e, apesar da contundente resisténcia dos udenistas ¢ de setores militares a ela aliados, 0 poder voltou as maos do PTB ¢ do PSD através de uma solugio negociada: 0 parlamentarismo. ‘Acordada a solugio parlamentarista, que se constituiu na formula possi- vel para garantia da posse presidencial do vice-presidente Joso Goulart, © Partido Trabalhista Brasileiro ficou com a presidéncia da Repiiblica ¢ 0 Par- tido Social Democratico assumiu, com Tancredo Neves, a Presidéncia do Con- setho de Ministros. ‘Mas a solugdo duraria pouco tempo. Um ano € meio depois, através de tum plebiscito, realizado em janeiro de 1963, 2 populagio brasileira vorou pelo retorno ao presidencialismo. Joio Goulart péde assim assumir a presi- déncia da Reptiblica com todos os poderes que o cargo Ihe conferia. Entretanto, ndo contou com condigdes minimas de governabilidade, nio tendo alcangado a estabilidade necessaria para se manter no poder. Pressiona- do por dois grupos de forcas opostas, manteve-se, durante seu curto mandato, em equilforio precario. Contudo, seu governo, como demonstraram os fatos histéricos, foi bastante atuante.’ Mesmo assim, foi pressionado a esquerda pelos nacionalistas ¢ reformistas que exigiam do governante maior determinagao em relagio as reformas sociais eecondmicas por eles reivindicadas. Quanto as forgas de direita, essas nao Ihe deram qualquer trégua. Pressionaram-no até a exaustéo, culminando no cerco que Ihe impuseram com sua deposigao, em abril de 1964. Enfim, apés intimeras tentativas de alcancar 0 poder executivo federal ¢ que se conclufam em sucessivas derrotas, a UDN chegou ao poder. Ironica- mente, no pela pratica democratica eleitoral, que tanto defendera em 1945, ‘mas sim pela via intervencionista, que depds um presidente constitucional- mente eleito ¢ empossado. No contexto que antecedeu a queda de Goulart, a vinculagéo de alguns parlamentares a seus partidos de origem tornou-se também menos sélida. Surgitam nesse processo as Frentes Parlamentares, que reuniam em seus qua- dros politicos de diferentes ageemiagoes, em uma clara demonstracdo de que o pluripartidarismo instituido em 1945 jé nao representava, com a eficécia necessédria, os interesses da sociedade civil brasileira. A partir do final da dé- cada de 1950, através de um movimento iinico e aparentemente contradit6- rio, esses interesses passaram a se fragmentar e a se polarizar. FRENTES PARLAMENTARES: POLARIZACAO E CRISE O final do governo presidencial de Juscelino Kubitscheck, em especial a partir de 1958, foi como um preniincio da extensa e profunda mobilizagio da socie- dade civil brasileira, que marcaria, de forma inédita, a politica nacional até 1964. Foi uma conjuntura de ampliagio da participagio cidada. Foi também ‘uma conjuntura de franco crescimento de miiltiplas formas de organizagéo social e politica, tanto no espectro da sociedade civil, como no interior do aparelho de Estado. Na verdade, naqueles anos, a principal mudanga no cam- po da politica ocorreu através de um forte movimento de ampliagao da cida- dania, traduzido pela presenga — nos embates proprios & democracia — de iativas de se inserir no processo participativo. Iniciava-se um efetivo movimento de rup- tura com a tradigio hist6rica brasileira, consolidada em torno da prética da exclusdo dos segmentos menos favorecidos da populacio do pats. Tradigio ssa, na maior parte das vezes, caracterizada pela pratica da cooptacio e da coergio em resposta as tentativas desses sujeitos histéricos de levantarem suas vores ¢ lutarem por seus direitos. De diferentes manciras a sociedade democracia politica, nizagées que atuar se fez presente no cendrio da multaneamente a proliferagao de heterogéneas orga- n com muita determinagao na defesa de seus projetos, ocorreu uma polarizacao nitida dos grupos sociais e politicos que entraram em conflito entre si, Defendendo projetos diferentes para a nacio brasileira, esta polarizacao se fer presente nos cendrios nacional, estadual ¢ municipal —dicotomia igualmente marcante em instituigdes como o poder legislativo € 0s partidos politicos. indo-se a composi¢ao das forgas que atuaram naquela conjuntura, podemos dividi-las em dois blocos bem definidos, que absorviam nos seus quadros diferentes organizacdes e segmentos da sociedade brasileira. De um lado, postavam-se grupos reformistas e nacionalistas e, de outro, em contra- posigio aos primeiros, segmentos que defendiam uma maior internacio- nalizago da economia nacional, um alinhamento efetivo aos EUA e a0 bloco capitalista ea no implementagio pelo governo federal das reformas de base, principalmente da reforma agraria. 0 BRASIL REPUBLICANS ‘Acfervescéncia era tamanha que, na sociedade civil, varias organizagbes contrapostas atuavam em conflito aberto, Umas situavam-se no terreno iden tificado como progressista e, outras, no campo conservador, No espectro das organizagbes progressistas, além de imimeros sindicatos, que também passar ram a atuar na Grea rural, cabe referéncia & Unio Nacional dos Estudantes, os Movimentos de Educagio de Base, as Ligas Camponesas, entre outros. Nesse campo também se organizaram frentes politicas, que objetivavam an- gariar maior apoio da populagio para os candidatos a cargos piblicos com- prometidos com projetos nacionalistas ¢ reformistas. Entre elas, destacou-se a Frente de Mobilizagao Popular (FMP), movi- mento nacionalista surgido em 1962, sob a lideranga do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. A FMP objetivava pressionar os poderes Executivo ¢ Legislativo a adotarem medidas voltadas para implementacao, «programas eco- ‘em curto espaco de tempo, das reformas de bases ¢ de nomicos de cunho nacionalista, Congregou organizagoes da sociedade civ como as Ligas Camponesas, 0 Comando Geral dos Trabalhadores, a UNE ¢ a Frente Parlamentar Nacionalista, que funcionava como principal porta-voz dos reformistas no Congresso Nacional. No campo oposto, cabe ressaltar a atuagio do Instituto Brasileiro de Ago Democritica (IBAD), organizagao fundada em 1959, sob forte influéncia do lima da guerra fria, € que tinha como principal meta combater a propagagio do comunismo no Brasil. © IBAD, financiado por empresirios brasileiros ¢ cestrangeiros, possufa contabilidade prépria ¢ apoiou, nas eleigées de 1962, candidatos que se opunham as reformas de base ¢ a medidas governamentais de cunho nacionalista. Entre as organizag6es da sociedade civil que © apoia- ram, destacaram-se: Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE); Fren- te da Juventude Democratica (FJD) ¢ Movimento Sindical Democratico (MSD). No Poder Legislativo, o IBAD contou com o respaldo da Agio Democratica Parlamentar (ADP), que era por ele financiada Duas grandes frentes parlamentares traduziram no Congreso Nacional a polarizacio e efervescéncia da sociedade civil e de suas intimeras organiza~ ges. Representaram também projetos, na sua esséncia, muito diferentes para ‘Brasil, Suas ages referiam-se a concepgées ideol6gicas opostas, essencial- mente bipolares. PARTIDOS POLITICOS E FRENTES PAR LAMENTARES Outros fatores que também contri am para que as Frentes Parla tares se organizassem foram as dissidéncias internas pelas quais passaran partidos. Tornou-se usual a aproximagio e alianga nas casas parlament: do Brasil de politicos vinculados a agremiagao que oficialmente e1 adversdrias. Quando, por exemplo, projetos como o da reforma agraria ou me: da reforma tributéria eram apresentados para votagio, um movimente reorganizacao das forcas politicas se processava quase que de maneira at matica no Parlamento Nacional. Esse movimento redundava na articula de aliangas temporérias, com objetivo bem definido: impedir a aprova dos referidos projetos pela maioria dos parlamentares. Todavia, de aliangas contextuais a aproximagio dos politicos foi se ¢ cretizando em organizagbes efetvas, mais duradouras, embora ndo registra oficialmente como partidos. O movimento era o seguinte: os politico: vam as frentes parlamentares, mas continuavam vinculados oficialme a seus partidos de origem. Formavam, entretanto, blocos coesos para del ou para contraposicao a determinados projetos. FRENTE PARLAMENTAR NACIONALISTA: POR UM BRASIL AUTONOMO- A Frente Parlamentar Nacionalista atuou entre os anos de 1956 ¢ 1964. uma iniciativa que sucedeu & Liga de Emancipagio Nacional, fechada Juscelino em 1956. Representou no Congresso Nacional a op¢ao nacional de um segmento expressivo ¢ muito combativo da sociedade civil, que f das bandeiras nacionalistas ¢ desenvolvimentistas expressio de um Brasil n “autonomo e soberan Suas iniciativas, durante algum tempo, for divulgadas pelo jornal "O Semandrio” e, posteriormente, por “O Naciom que, no entanto, circulou por pouco tempo (Delgado, 1994). Os documentos da FPN refletiam a pluralidade ideolégica de seus ir grantes € apoiadores. No entanto, a questio da autonomia nacional era u referéncia que a todos unia, ainda que 0 nacionalismo também apresenta conforme seu defensor, uma caracteristica peculiar. 14s 0 BRASIL REPUBLICANO ‘Apesar da hegemonia de parlamentares recrutados nos quadros do PTB, reuniu deputados e senadores de varios partidos ¢ buscou fundamentos te ricos junto a intelectuais ligados & ala mais nacionalista do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Seu programa® era bem definido ¢ em seus quadros s6 eram accitos politicos que se identificassem, de forma explicita e formal, com 0 elenco de proposicdes que constitufam suas diretrizes prin- cipais. ‘A Frente Parlamentar Nacionalista caracterizou-se por marcada atuagio no Poder Legislativo. Além de apresentar projetos de lei especificos em rela- sransformou-se em advogada de defesa das gio a questées nacionalistas, manifestagdes, greves ¢ reivindicagdes do movimento social junto ao Con- gresso Nacional. Os politicos da Frente assumiram muitas vezes a fungio de porta-vozes de organizagdes como o CGT, o PUA, as Ligas Camponesas ¢ a UNE, junto ao poder legislativo” (Delgado, 1989, p. 239) Em 1964, quando os militares assumiram o poder, apoiados por um for- te esquema politico civil, os integrantes da Frente Parlamentar Nacionalista transformaram-se nos principais alvos das cassagbes e perseguigdes politicas no ambito do Congreso Nacional. AGAO DEMOCRATICA PARLAMENTAR: POR UM BRASIL INTEGRADO ‘AO CAPITALISMO INTERNACIONAL No terreno oposto ao da FPN surgiu,, no primeiro semestre de 1961, a Agio Democratica Parlamentar, que objetivava nao apenas fazer frente ao cres- cimento dos nacionalistas, mas também, segundo seus principais Ifderes, combater a expansio da ideologia comunista junto & sociedade brasileira ‘Sua composigio era basicamente alimentada por deputados da UDN, do Partido Republicano (PR) e por alguns integrantes do PSD que, afastados do PTB, reagiam fortemente aos programas nacionalistas, distributivos ¢ reformistas. Instalada inicialmente na Camara dos Deputados, ampliou sua atuagao com grande rapidez para diferentes estados da federacao brasileira, combatendo de maneira unissona, o reformismo, nacionalismo ¢ a ameaga comunista. PARTIDOS POLITICOS € FRENTES PARLAMENTARES Suas principais bandeiras eram: defesa intransigente da iniciativa priva- da, apoio incondicional aos investimentos estrangeiros no Brasil e defesa de princ{pios liberais. A Acio Democrética Parlamentar conseguiu bloquear projeto de refor- ma agréria enviado por Joio Goulart ao Congresso Nacional em marco de 1963. Seus parlamentarcs eleitos em 1962 contaram com o forte apoio fi- nanceiro ¢ estratégico do IBAD e do Instituto de Pes Sociais (IPES), que fazia cerrada propaganda contra 0 governo Goulart e oposigao aos projetos sociais por ele encampados. Em 1964, a ADP participou ativamente das articulagées que culminaram com a deposicao de Joio Goulart e com a instalagdo de um governo autori- ‘Grio no Brasil. A maior parte de seus integrantes veio a ocupar, em seguida, Posigdes estratégicas na nova ordem institucional do pais. PARTIDOS E FRENTES PARLAMENTARES: PLURIPARTIDARISMO E ALIANCAS O perfodo de 1945 a 1964 pode ser considerado, sem sombra de dtivida, como um dos mais democraticos da experigncia republicana brasileira, Os partidos que nele atuaram animaram a prética da cidadania politica, através de articulagdes, embates eleitorais, manifestagao clara dos dissensos, estabe- lecimento de relagdes com organizagdes da sociedade civil, articulacao de aliangas mais permanentes tanto no Congresso Nacional quanto nas Assem- bléias Legislativas e Cémaras de Vercadores ¢ formacio de coligagées con- junturais, Foi uma fase de ampliagao das priticas democrticas e de crescimento da uma fase de polarizagao de interesses, proliferagao de organizacées politicas € sociais e de profundas transformagées histéricas. Em decorréncia, © pacto politico articulado em 1945 foi aos poucos envelhecendo ¢ deixando de corresponder as novas demandas de uma so- ciedade que se urbanizava e se tornava mais reivindicativa ¢ atuante. Os par- tidos fundados por ocasiso da ebuligao liberal democratica da década de 1940 também passaram por mudangas internas significativas. Novas liderangas surgiram, novas demandas eram apresentadas pelos eleitores ¢ novas neces- sidades sociais ¢ econdmicas tornaram-se realidade em um pais em constan- te transformacao. Com dificuldade para manter as antigas aliangas ¢ atender as exigéncias de uma sociedade civil cada dia mais ativa e propositiva, os partidos politi- representativos, ressentiam-se da au- ‘cos, mesmo que ainda fortes e mui séncia de uma marca mais clara, demarcadora de suas identidades e diferengas. Surgiram entao as frentes parlamentares, indicando que os rumos ¢ a pratica da politica partidaria no Brasil estavam em transformagao. autoritério e avesso a heterogeneidade peculiar 4 democracia, tratou de in- polar, distante das, Encerrou-se uma etapa da vida politica br: por muitos identificada como 0 melhor ensaio de democracia jé vivido pelo Brasil. Se tal considera- gio muito significa para um pais tatuado por priticas autoritérias, nao corresponde a realidade daqueles anos. Entre 1945 ¢ 1964, nao se ensaiou I. Praticou-se. ica e eleitoral no Br democracia pi NoTas 1. 0 petiodo histérico em foco néo pode ser comparado a uma estrada linear, Foi extre- contflitos entre as diferentes forgase partidos que competiam de impedir a posse do pre- sidente eleito Getilio Vargas em 1951; a8 presses que culminaram com a crise a provocou seu suicidio em 1954; a nova tentativa de impedir a posse do presi to Juscelino Kubitsc a cise provocada pela reniincia do presidente Janio Quadros em 1961, e conseqlente rentativa de impedir a posse do vice-presidente Joao Goulart, sio apenas exemplos mai lamente conhecidos, das ag6es que visaram desestabilizar a democracia que, com grande esforgo, se construia no Brasil 2. A Lei Agamenon foi elaborada por Agamenon Magalhies, ex-interventor em Pernambuco, que a no dia 3 de marco de 1945, sob determinagao presidencial de “regul ‘ondigées da transigio”. PARTIDOS POLITICOS € FRENTES PARLAMENTARES 3. O artigo 141, pardgrafo 13° da Constituigio da Repiiblica dos Estados Unidos do definia: “E vedada a organizagio, o registro ou ofuncionamento de qualquer partido politico ou associacio cujo programa ou agi © regime democrs- >, baseado na pluralidade de partidos e na garantia dos direitos fundamentais do iomem.” IBGE. Constituigao dos Estados Unidos do Brasil — 1946 (edicio come- morativa — 1° decénio). Rio de Janeiro: IBGE, 1956. 4. A Consolidagio das Leis do Trabalho de 1943 nio contemplou os trabalhadores ru- ‘is, Somente no governo Joo Goulart, na década de 1960, € que foi aprovado pelo Congresso Nacional o Estatuto do Trabalhador Rural. Nesse sentido, o Programa do PTB antecipou-se como proposiglo lei, que s6 se tornaria realidade muitos anos depois da fundagio do partido. S. Asselegio e sintese dos itens constantes do Programa do Partido’ 10, foi realizada pela autora deste texto segundo argumentacio do préprio artigo. 6. A composigio da Cémara Federal f cos cassados pelo governo autoritério 7. Entre as iniimeras realizagbes do governo Joio Goulart, tanto na fase parlam: ‘quanto na fase presidenci la informaes foram selecionadas n fil Parlamentar — Tancredo Neves. Br 10 de Documentagio e Informasio — Coordenasio de PublicagSes, 2001 p. 243-294 8. Durante 0s anos de sua atuagio a FPN apresentou dois programas. Um na época de sua fundagio, 6 de junho de 1956, assinado por 55 parlamentares ¢lido no plenscio dda Cimara Federal pelo deputado Abguar Bastos ¢ outro, datado do mé assinado por 65 deputados ¢ apresentado pelo Deputado Oswaldo Lima ‘que diferenciava os dois programas era uma defini ccondigoes de filiagio a FPN, constantes do segundo texto. 2.396-2.406.) BIBLIOGRAFIA Abreu, Altra Alves de et ali. 2001. Dicionario Histérico, Bogrdfico Brasileiro pés-1930. Rio de Janeiro: Fundacio Getilio Vargas — CPDOG, 5 vol. (edigio revista ampliada). asa Benevides, Maria Vitéria. 1981. A UDN ¢ 0 udenismo, Rio de Janciro: Paz e Terra. Delgado, Lucilia de Almeida Neves. 1989, PTB: do getulismo ao reformismo. Sio Paulo: ‘Marco Zero. 1994. “Frente formagio-Coordenagio de Publicagées. Ferreira, Jorge. 1999, “Quando os Trabalhadores Querem”. Hist6ria Oral (1). Sao Pau ‘ABH. 001. O populismo e sua histéria: debate e critica. Rio de Janeiro: Civiliza- 1985. PSD: de raposas e reformistas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, igdo dos Estados Unidos do 1964). Sao Paulo, Alfa Omega. Os anos JK: industrializagdo e modelo oligarquico de desenvolvimento rural Vania Maria Losada Moreira Professora Adjunta do Departamento de Hi Federal do Espirito Santo, ia da Universidade

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