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O que é o passado?

Herman Paul

Uma Igreja Medieval

Eu sempre fico pensando, na esquina da rua alta com a faixa estreita que leva à
entrada da igreja do vilarejo, passando pelo cemitério. Quantas vezes eu admirei
esse monumento medieval e olhei para cima, da pequena varanda no lado sul,
passando pela alta janela gótica no transepto, para as telhas pretas no telhado.
Quantas vezes eu vi os tijolos vermelhos desse prédio brilharem à luz do sol e
pensei que o Gótico era um dos estilos arquitetônicos mais belos do mundo. O
interior da igreja também é impressionante. Especialmente nos dias
ensolarados de verão, não me canso da luz que entra pelo coro. A poeira dança
pelo espaço ao longo dos candelabros de cobre, do púlpito finamente esculpido e
da grade do batistério, todos do século XVIII. Nesses dias, os afrescos da
abóbada medieval também se veem no seu melhor. O Julgamento Final, em
particular, bem no alto do coro, é excepcionalmente belo. Cristo está entronado
em um arco-íris, seus pés sobre um globo, flanqueado por uma espada (símbolo
de justiça) e um lírio (símbolo de piedade). Os turistas vêm de longe para
admirar essa arte eclesiástica.
Mas eu não sou um turista; venho aqui para trabalhar na minha técnica de
órgão. Então eu ando até o lado oeste da igreja, escalo uma escada estreita e ligo
o soprador. Esse motor não é original, é claro, mas em todo o resto o órgão do
final do século XVII resistiu extraordinariamente bem à prova do tempo. É,
portanto, algo como uma sensação histórica (ver a caixa SENSAÇÃO
HISTÓRICA) tomar o meu lugar atrás das teclas, acionar alguns registros e dar
voz a tubos tão antigos. Quantas gerações de musicistas se sentaram neste
banco do órgão? Quantos milhares de hinos, entoados por homens e mulheres
há muito falecidos, foram acompanhados por este instrumento? Como é que
este órgão realmente soava em 1696? É ingenuidade pensar que o som da

*Capítulo 2 de PAUL, Herman. Key Issues in Historical Theory. Abingdon: Routledge, 2015, p.
17-29. Tradução livre para uso exclusivo no curso IHI111 – Introdução aos Estudos Históricos.
Não distribuir.
Tromba e os timbres íntimos da Hol Flute e da Spindle Flute (nomes de três
registros do órgão) soam mais ou menos iguais ao que soavam três séculos
atrás?

Sensação Histórica
O que é uma sensação histórica? O historiador holandês Johan Huizinga
(1872-1945), que criou o termo, o descreveu em 1920 com um “contato
imediato com o passado, uma sensação tão profunda quanto a apreciação
mais pura da arte, uma percepção quase (não ria) extasiada de não ser
mais eu mesmo, de fluir ao mundo ao meu redor, tocando a essência das
coisas, experimentando a Verdade através da história”**. Uma tal
experiência pode ser desencadeada por um detalhe em um impresso
histórico, mas também por um registro notarial ou uma rua serpenteante
de pedras em uma cidade antiga. Huizinga logo adiantou que uma tal
experiência mística de contato imediato com o passado tem pouco ou nada
a ver com a profissão do historiador. Uma sensação histórica não produz
conhecimento histórico e certamente não oferece – como alguns
intérpretes posteriores pensaram ou desejaram – um acesso privilegiado
ao passado (acabado). Ela estimula, nas palavras de Huizinga, uma
“paixão pelo passado”: o amor pela pesquisa histórica e o cuidado com o
que hoje chamamos de “patrimônio histórico”.**
** J. Huizinga, ‘Het historisch museum’, in Verzamelde werken, vol. 2,
Haarlem: H. D. Tjeenk Willink & Zoon, 1948, p. 566.

Essas questões se multiplicam quando coloco o Pequeno Livro para Órgão, de


Johann Sebastian Bach, no suporte de partitura e começo a tocar “Acabou o Ano
Velho” (BWV 614) [Das alte Jahr vergangen ist]. Assim que as vozes desse
arranjo coral se sobrepõem, associações começam a se debater na minha mente.
Seria esse o tempo que Bach tinha em mente? Esse fraseado da melodia está de
acordo com o que sabemos sobre as convenções musicais do século XVIII? Em
que tipo de mundo religioso vivia o letrista do século XVI? E quão
estranhamente o passado se faz presente aqui: um hino do século XVI,
arranjado por um compositor do século XVIII, tocado em um órgão do século
XVII, em uma igreja do século XIV, por um teórico da história do século XXI
passando por organista! Quando os últimos tons se silenciam na acústica
cavernosa do prédio, não consigo não pensar sobre isso por um tempo. Esse
antigo lugar de adoração e essa música esplêndida – eles pertencem ao passado,
uma vez que foram construídos e compostos em dias há muito passados? Eles
formam parte do presente, uma vez que eu ainda posso entrar no prédio e tocar
a música? Ou uma oposição simples entre passado e presente deixa de
funcionar quando se tratam de relíquias como uma igreja medieval e uma peça
musical de Bach?
Antes de começarmos a refletir sobre como as pessoas no presente se
relacionam com o passado, precisamos definir esse “passado”. O que é o
passado? O mundo tal qual existia nos dias de Bach? Aquilo que pode ser
reconstruído com base em fontes históricas? Aquilo que suscita sentimentos de
melancolia, como no poema de Cavafy, ou admiração silenciosa, como na igreja
medieval? Ou o passado pode ser também sinônimo de memórias traumáticas
que assombram as pessoas em noites escuras e insones? Este capítulo
argumenta que, na linguagem cotidiana, “o passado” se refere à “realidade
histórica”, isso é, ao mundo tal qual existiu em algum momento anterior no
tempo. No entanto, ele mostrará que há tipos diferentes de “passados”, que
serão nomeados sucessivamente como o passado cronológico, o acabado, o
estranho e o passado-presente. Diferente da “realidade histórica”, que existiu
independentemente do que as pessoas de hoje pensam ou sentem a respeito
dela, esses quatro “passados” só existem na medida em que são moldados e
refratados na imaginação do historiador. Portanto, não importa o quão real o
passado possa ser em seus efeitos no presente, este capítulo concluirá que tudo
que as pessoas dizem sobre “o passado” resulta da admiração, da ansiedade, da
fascinação e/ou do estudo presentes.

O Passado Cronológico

Por que eu prefiro tocar “Acabou o Ano Velho” no dia 31 de dezembro? E por
que dificilmente uma noite de ano novo passa sem alguns momentos de reflexão
sobre a passagem do tempo? Desde tempos imemoriais a virada do ano tem sido
um marcador do tempo. Isso prova, entre outras coisas, o quão profundamente
enraizada está a tendência de definir o passado, o presente e o futuro pelo
relógio e pelo calendário. Um coral melancólico de Bach, fogos de artifício
subindo no céu à meia-noite e brindes com taças de champagne – “Feliz Ano
Novo!” – são tributários, cada um à sua maneira, do poder de Chronos, o deus
que, com seu rosto enrugado e longa barba cinzenta, era visto pelos antigos
gregos como uma personificação do tempo.
Mas o ano velho é realmente coisa do passado no dia de ano novo? Quando
acordo no dia 1º de janeiro, as alegrias e as tristezas do último ano estão longe
de terem terminado. No final das contas, pouco mudou desde 31 de dezembro.
Portanto, faz pouco sentido definir o passado como o tempo que precedeu as
doze badaladas do sino ou o momento “agora”. Um “presente instantâneo”,
como chama o filósofo americano Preston King, não proporciona um conceito
útil de passado. Na prática, quase todo mundo interpreta o presente como um
“presente estendido”: como um certo período de tempo que medimos melhor
pelo calendário do que pelo relógio.1 O presente é o “nosso tempo”, embora a
duração do tempo que chamamos de nosso esteja sempre em debate. Pois onde
na linha do tempo o tempo dos nossos ancestrais passa a ser o “nosso tempo”?
Como um historiador americano coloca o problema na forma de pergunta:

Onde essa linha poderia ser traçada? Um segundo atrás? Um


milissegundo? O ano passado? O nascimento de Cristo? A
criação do universo? Esses são exemplos de alguns pontos no
tempo em que poderíamos tentar traçar a linha. Todos eles têm
algo a seu favor. Mas só para algumas pessoas e para algum
período. Nenhum pode afirmar que representa a linha divisória
entre o presente e o passado. Se o presente pudesse realmente
ser dividido do passado, teria de ser dividido por tantas linhas
quanto há momentos presentes: não uma linha entre um
presente e um passado, mas uma infinidade de linhas entre uma

1Preston King, ‘Thinking Past a Problem’, in Preston King (ed.), The History of Ideas: An
Introduction to Method, London; Canberra; Totoaw, NJ: Croom Helm; Barnes & Noble Books,
1983, pp. 21-65, esp. pp. 24-32.
infinidade de presentes e uma infinidade de passados, uma para
cada movimento gradual do futuro.2

Por sorte, a linguagem cotidiana segue certas convenções sobre o que pode ser
chamado de “passado” e de “presente”. Ninguém consegue indicar exatamente a
diferença, mas, no contexto de uma campanha eleitoral, todo mundo sente que
“oitenta anos atrás” pertence ao passado. Nem tanto em um museu geológico:
lá, “oitenta anos atrás” é parte do presente. Da mesma forma, todo mundo
concorda que Bach pertence ao passado, mas Homo sapiens ao presente. Então,
embora a distinção entre passado e presente dependa bastante de contexto e da
escala de tempo considerada apropriada nesse contexto, convenções
amplamente aceitas ajudam a evitar confusão.
Nos domínios dos estudos históricos profissionais, tais convenções também
existem. Citando dois teóricos contemporâneos da história:

A maioria dos historiadores parece ter presumido que o tempo é o que os


calendários e os relógios sugerem que ele é: (1) o tempo é homogêneo – o que
quer dizer que todo segundo, todo minuto e todo dia é idêntico; (2) o tempo é
distinto – o que quer dizer que todo momento no tempo pode ser concebido
como um ponto em uma linha reta; (3) o tempo é, portanto, linear; e (4) o
tempo é direcional – o que quer dizer que ele segue sem interrupções do futuro,
através do presente, para o passado; (5) o tempo é absoluto – o que quer dizer
que o tempo não é relativo ao espaço ou à pessoa que o está medindo.3

Essa visão cronológica do tempo explica por que os historiadores podem falar
sobre “uma ‘regra informal dos vinte anos’ que deixa o estudo do passado mais
recente para os jornalistas, sociólogos e cientistas políticos”. (O historiador da
arte Erwin Panofsky [1892-1968] até chegou a afirmar que “nós normalmente
precisamos de sessenta a oitenta anos”.) O que quer que se pense dessas

2 Constantin Fasolt, The Limits of History, Chicago; London: University of Chicago Press, 2004,
p. 10.
3 Berber Bevernage e Chris Lorenz, ‘Breaking up Time: Negotiating the Borders between

Present, Past and Future: An Introduction’, in Chris Lorenz e Berber Bevernage (eds.), Breaking
up Time: Negotiating the Borders between Present, Past and Future, Göttingen: Vandenhoeck
& Ruprecht, 2013, p. 17.
reservas sobre a história contemporânea (Zeitgeschichte, em alemão), fica claro
que se supõe que a cronologia define a fronteira entre passado e presente.4
No entanto, ao mesmo tempo, essas hesitações apontam para um conceito
diferente, não-cronológico, do passado. Se os historiadores preferem não chegar
“muito perto do presente”, como eles dizem, isso não é apenas devido à “regra
dos vinte anos”, mas sobretudo pela crença de que eles precisam considerar um
evento ou desenvolvimento a partir de alguma distância (ver a caixa-texto
DISTÂNCIA HISTÓRICA) para que possam estabelecer onde ele começou e
onde terminou, que tipos de efeitos teve e que tipos de paralelos ou influências
podem ser reconhecidos. Nas palavras de um teórico americano da história: “A
verdade completa a respeito de um evento só pode ser conhecida depois, e, às
vezes, somente muito depois que o evento aconteceu, e essa parte da história só
os historiadores podem contar”.5 A maioria das hesitações que os historiadores
frequentemente sentem sobre a história contemporânea vem da crença de que o
período sob investigação ainda não acabou e, portanto, não pode ainda ser
colocado no contexto de seu tempo. Os historiadores preferem investigar aquilo
que, parafraseando Preston King, poderíamos chamar de “passado acabado”.6

Distância Histórica
No começo do século XIX, o filósofo e teólogo alemão Friedrich
Schleiermacher (1768-1834) disse a seus alunos que ele não poderia dar
aulas sobre a história europeia posterior a 1648, porque os historiadores
precisam de alguma “distância” dos seus temas. Os historiadores
frequentemente mediram essa distância em termos temporais. Mas essa
não é a única forma de distância que os historiadores mantêm em relação
aos seus temas. Existe também a distância afetiva (um envolvimento mais

4 James T. Patterson, ‘Americans and the Writing of Twentieth-Century United States History’,
in Anthony Molho e Gordon S. Wood (eds.), Imagined Histories: American Historians
Interpret the Past, Princeton: Princeton University Press, 1998, p. 190; Erwin Panofsky, ‘The
History of Art’, in Franz L. Neumann et al., The Cultural Migration: The European Scholar in
America, Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1953, p. 91.
5 Arthur C. Danto, Analytical Philosophy of History, Cambridge: Cambridge University Press,

1965, p. 151.
6 King, ‘Thinking Past a Problem’, pp. 33-37.
ou menos intenso com um tema histórico) e a distância discursiva (será
que um pesquisador ou leitor tenta chegar próximo a uma pessoa
histórica, como na microstoria do historiador italiano Carlo Ginzburg, ou
olha, ao invés disso, para estruturas maiores e desenvolvimentos de longa
duração?). De acordo com o historiador canadense Mark Salber Phillips, a
“distância histórica” é, portanto, um termo geral para diferentes
dimensões de envolvimento: “A distância histórica abrange as várias
maneiras pelas quais somos colocados em relação ao passado”.** Largas
distâncias temporais podem se combinar com pequenas distâncias afetivas
e vice versa. Quando os historiadores falam de distância histórica,
precisam especificar a que tipo de distância eles se referem.
** Mark Salber Phillips, On Historical Distance, New Haven: Yale
University Press, 2013, p. 12.

O Passado Acabado

Esse passado acabado pode ser interpretado de duas formas diferentes:


enquanto uma série de épocas homogêneas ou enquanto um conjunto de
camadas parcialmente sobrepostas e parcialmente complementares. Aqueles
que subscrevem à primeira visão pensam sobre o passado em termos de
períodos que se sucedem uns aos outros. Esse pensamento epocal influenciou
profundamente a historiografia ocidental através do historicismo do século XIX
(ver a caixa-texto HISTORICISMO). Historicistas como Leopold von Ranke
viam a história como uma sucessão de épocas, cada qual caracterizada por sua
própria “ideia” ou “tendência”. Na Europa do século XVI, por exemplo, essa
ideia típica teria sido religiosa; no século XVIII, a busca da utilidade
(Utilisierungsbestreben). A frase bastante conhecida de Ranke, de que “toda
época é imediata a Deus”, sublinhava a particularidade desses períodos. Toda
época tem sua própria identidade característica – e é tarefa do historiador
identificar essas características distintas.7 Nessa visão, portanto, o passado está
pronto e acabado no sentido de que é caracterizado por uma ideia diferente
daquela que atua no presente. Sempre que uma nova ideia se apresenta, a ideia
velha, junto da sociedade que ela caracteriza, se torna “passado”. O passado é,
portanto, um cemitério de ideias que um dia reinaram supremas, mas foram
substituídas por ideias novas.

Historicismo
Originalmente, historicismo (como todos os ismos) era um termo abusivo.
Considerava-se que qualquer um acusado de historicismo no final do
século XIX havia colocado muita ênfase no contexto histórico do
pensamento humano, negando, por exemplo, que haveria normas e valores
atemporais ou que os humanos seriam capazes de se distanciar de seus
próprios tempos e lugares. “Historicismo”, assim, ficava próximo de
“relativismo”. Mas desde Ernst Troeltsch e Friedrich Meinecke –
intelectuais alemães que escreveram livros influentes sobre o historicismo
no período entreguerras – Historismus também se refere de maneira
menos polêmica à maneira de pensar do século XIX que conquistou as
mentes de milhares, particularmente no mundo de fala alemã. De acordo
com Meinecke, a característica distintiva desse historicismo é que ele
interpretava o mundo em termos de desenvolvimento (Entwicklung) e
individualidade (Individualität). De um lado, toda nação, toda ideia ou
todo indivíduo deveria ser compreendido a partir de suas raízes históricas
(desenvolvimento)- - uma noção parcialmente responsável pelas inúmeras
sociedades e museus históricos estabelecidos na Alemanha no século XIX.
De outro, cada momento nesse desenvolvimento tem suas próprias
características (individualidade), dependendo do espírito do tempo
(Zeitgeist) pelo qual ele foi influenciado – um pensamento que contribuiu
para a ideia de que o passado é sempre, até certo ponto, “estranho”. Desde

7Leopold von Ranke, Über die Epochen der neueren Geschichte: Vorträge dem Könige
Maximilian II von Bayern im Herbst 1854 zu Berchtesgaden gehalten, ed. Alfred Dove, Leipzig:
Duncker & Humboldt, 1888, p. 17.
Troeltsch e Meinecke, os historiadores têm debatido se os dois significados
de historicismo se referem a um único fenômeno (concretamente: se a
tradição do século XIX fomentou uma forma de relativismo) ou se é
melhor manter esses dois significados separados.

É nesse sentido que a seção inicial deste capítulo se referiu aos períodos como o
Gótico e o Barroco, que tiveram suas próprias características distintivas. É
verdade que tais periodizações são úteis enquanto permanecem confinadas à
arquitetura ou à música. Mas será que uma sociedade como um todo pode
realmente ser capturada por uma única ideia? E será que essas ideias típicas, se
é que elas existem, sucedem umas às outras tão abruptamente quanto a
Ideenlehre (doutrina de ideias) historicista supunha? Será que a mudança não é
um processo muito mais complexo, em que a continuidade em um nível pode
muito bem coexistir com a descontinuidade em outro? Será que não há todo tipo
de forças atuando na história, algumas mais velozes do que outras, algumas
tendendo mais à mudança, outras mais à conservação? E, se for assim, será que
o passado está inequivocamente terminado, tal qual afirma a primeira
perspectiva? Será que o acabado e o inacabado não estão mais misturados? Será
que podemos sequer estabelecer sem ambiguidades a fronteira entre passado e
presente?
Não, dizem os apoiadores da segunda perspectiva. O passado não é uma
procissão de épocas, mas uma acumulação de camadas, algumas das quais já
estão terminadas enquanto outras continuam. Assim, o historiador francês
Fernand Braudel (1902-1985), em seu famoso O Mediterrâneo e o Mundo
Mediterrâneo na Época de Filipe II (1949), distinguiu entre processos de longa,
média e curta duração na história (la longue durée, histoire conjuncturelle e
histoire événementielle). Como esses processos têm durações diferentes, uma
época pode terminar em um nível sem que nada de essencial mude em outro.
Uma revolução política, por exemplo, pode acontecer sem que a estrutura
econômica de uma sociedade mude com ela. Isso quer dizer que a estrutura
econômica pertence ao presente, enquanto o regime político rejeitado pertence
ao passado? Essa questão se torna ainda mais importante uma vez que Braudel
admitiu em sua obra tardia que sua tripartição em O Mediterrâneo era somente
um esboço rápido. Na verdade, disse ele, há também camadas intermediárias,
como aquela do inconsciente, que Braudel via como que pertencente “metade
das vezes ao tempo das conjunturas e totalmente ao tempo estrutural”.8 Quanto
mais camadas o historiador francês distinguia, mais difícil ficava falar sobre
períodos estritamente delimitados. Aqueles que, como Braudel, reconhecem
uma multiplicidade de camadas na história só podem distinguir entre passado e
presente restringindo o escopo dessa distinção a um campo ou uma atividade
bem definida (economia, política, arquitetura e por aí vai). Apesar disso, em
ambas as perspectivas, aquela de Ranke e a de Braudel, o passado está acabado
no sentido de “finalizado”, “terminado” ou “concluído”. O passado não é só
passado em um sentido cronológico; seu conteúdo, também, não faz mais parte
do tempo que chamamos de presente.

O Passado Estranho

O passado acabado está a apenas um pequeno passo do passado estranho – o


passado que difere do presente pela sua alteridade ou estranheza. Embora
provavelmente poucos historiadores tenham lido The Go-Between (1953), de L.
P. Hartley (1895-1972), muitos gostam de citar a famosa afirmação do romance
de que “o passado é um país estrangeiro”.9 A frase expressa de maneira
eloquente que Bach viveu em um mundo diferente do nosso e que os
construtores de igrejas medievais tinham ideias completamente diferentes dos
turistas modernos ou dos conservadores de patrimônio a respeito de religião e
de arquitetura. Mas o que os historiadores querem dizer com essa alteridade ou
estrangeiridade? O que torna o passado estranho?
Uma resposta vem do historiador americano Constantin Fasolt, para quem o
passado é simplesmente o que pessoas confiantes declaram ser passé. A
diferença entre o presente “familiar” e o passado “desconhecido” não é dada,
mas feita. A diferença é criada pelas pessoas que declaram confiantemente: esse
é o presente em que queremos viver, com o qual queremos nos identificar ou
pelo qual queremos trabalhar – o resto é história. Como coloca Fasolt:

8 Fernand Braudel, On History, trans. Sarah Matthews, Chicago: University of Chicago Press,
1980, p. 39.
9 L. P. Hartley, The Go-Between, London: Hamish Hamilton, 1953, p. 9.
“Reivindicamos um lugar para nós mesmos no aqui-e-agora e o colocamos em
oposição ao lá-e-naquela-hora. Traçamos uma cerca ao redor de uma parte da
realidade, chamamos aquilo de passado e o exploramos pelo conhecimento no
qual os historiadores se especializam. Esse é o ato fundador da história”. 10
Fasolt vê sua tese confirmada por pensadores renascentistas como Petrarca
(1304-1374) e Flavio Biondo (1392-1463), que foram os primeiros a falar dos
“tempos sombrios” da Idade Média. Isso foi uma grande revolução, porque o
termo explodiu a unidade da história e colocou em seu lugar a tripartição entre
Antiguidade, Idade Média e Era Moderna. Dessa forma, o termo não apenas
chamou a atenção para a descontinuidade na história, mas também causou uma
ruptura entre um mundo no qual a tradição e a autoridade eclesiástica eram
altamente respeitadas e um mundo de pesquisas humanistas. Enquanto homens
renascentistas autoconfiantes, Petrarca e Biondo se distanciaram, portanto, de
um mundo que ainda conheciam muito bem, mas não queriam mais prolongar
– assim como Nicolau Maquiavel (1469-1527), em O Príncipe, se dissociou da
tradição cristã ao redefinir a expertise do político em termos seculares. “Eles
transformaram coisas que pareciam evidentemente verdadeiras em coisas do
passado que eram, dali em diante, impossíveis de saber sem um esforço
especial”.11
O teórico holandês da história Frank Ankersmit também considera o passado
como “estranho”. Como Fasolt, ele empresta seus exemplos do Renascimento
italiano. Mas diferentemente de Fasolt, Ankersmit enxerga a estranheza do
passado como originada não no ato da autoafirmação, mas no que podemos
descrever melhor como automutilação. Francesco Guicciardini (1483-1540), o
político e historiador florentino que registrou a catástrofe das Guerras Italianas
(1494-1559), por exemplo. Guicciardini tinha um olhar atento às consequências
indesejadas da ação humana – para a catástrofe, por exemplo, que o duque
milanês Lodovico il Moro (1452-1508) havia causado à Itália em 1494 ao firmar
a aparentemente prudente, mas retrospectivamente desastrosa aliança com o rei
francês Carlos VIII (1452-1508). O próprio Guicciardini experimentou
pessoalmente o quão trágicas podem ser tais consequências indesejadas quando
aconselhou o papa Clemente VII (1478-1534) a escolher o lado da França em um

10 Fasolt, Limits of History, p. 12.


11 Ibid., p. 20.
conflito entre o imperador germânico Carlos V (1500-1558) e o rei francês
Francisco I (1494-1547). O resultado foi ruim: a fúria de Carlos V caiu sobre a
Itália, resultando na conquista e saque de Roma. O amargurado Guicciardini
escreveu uma oratoria accusatoria em que culpou a si mesmo pela calamidade
que atingiu a cidade. Ele havia desejado dar um conselho prudente, mas se
tornou uma praga para o país, um inimigo até de Deus e do povo. De acordo
com Ankersmit, essas crises de identidade subjazem à consciência de que o
passado é “diferente”. A estranheza proibitiva do passado emerge quando as
pessoas se sentem divididas entre quem elas eram e quem elas são. A
estrangeiridade do passado vem à luz quando pessoas como Guicciardini
erguem as mãos e se perguntam como puderam ser tão insensatos a ponto de
recomendar uma aliança com a França. Nas palavras do próprio Ankersmit:

A consciência histórica moderna emerge da experiência dessa


discrepância entre a perspectiva do passado e aquela do
presente. [...] E é o reconhecimento da discrepância de nossas
intenções (a perspectiva do passado) e suas consequências
indesejadas (visíveis somente da perspectiva do presente) que
separou o passado e o presente.12

Para Ankersmit, a diferença entre o passado e o presente emerge quando as


pessoas se tornam conscientes de quem elas eram, mas não são mais. O
nascimento do passado não é mais do que “a experiência traumática do
historiador ao ter entrado em um novo mundo” na “consciência de ter perdido
um mundo anterior para sempre, de maneira irremediável”.13
Portanto, embora tanto Fasolt quanto Ankersmit afirmem que a estrangeiridade
do passado é uma consequência da ação humana, suas ideias sobre a relação
entre essa ação e essa estranheza são quase opostas. Enquanto um vê a
alteridade do passado como uma consequência das intenções de Petrarca e
Biondo – a maneira intencional com a qual esses homens romperam com a
Idade Média – o outro acredita que as consequências indesejadas das ações de

12 Frank Ankersmit, Sublime Historical Experience, Stanford: Stanford University Press, 2005,
pp. 357-358.
13 Ibid., p. 265.
Lodovico e Guicciardini criaram uma cisão entre passado e presente. A ousadia
com que os homens renascentistas de Fasolt reivindicam seu lugar na história,
declarando de maneira autoconfiante que o passado está passé, contrasta
fortemente com como Ankersmit enxerga os mesmos homens renascentistas em
sua descoberta de que não coincidiam mais consigo mesmos e que deveriam
viver então com a dor de um passado amputado.

O Passado-Presente

Se o que vimos mostra alguma coisa, é que não podemos usar uma frase como
“o passado é um país estrangeiro” sem qualificações. Teremos de distinguir
entre o passado cronológico e o acabado, e temos de especificar o que
entendemos por passado acabado. Afinal, nem tudo que pertence
cronologicamente ao passado deixou de existir. Embora a era Barroca tenha
terminado, a música de Bach ainda está bastante viva. O gótico não é mais um
estilo contemporâneo da arquitetura, mas as igrejas medievais com que
começamos o texto ainda se ergue orgulhosamente sobre o vilarejo. Portanto,
faz pouco sentido chamar todo o passado cronológico de “estranho” ou
“diferente”. É preciso especificar: qual passado percebemos como diferente do
presente? E será que esse passado estranho é sempre um passado acabado, ou
poderia ele, consciente ou inconscientemente, continuar a assombrar o aqui-e-
agora, como um “passado que não quer passar” (Ernst Nolte)?14
Por vários motivos, os teóricos da história passaram a distinguir o passado-
presente junto dos passados cronológico, acabado e estranho. Vejamos de novo
a igreja medieval do vilarejo, com seu rico interior dos séculos XVII e XVIII. É
uma relíquia de um passado que terminou em um sentido cronológico, mas
ainda está materialmente presente. Essa presença material do passado se
tornou um tema de bastante interesse nos últimos anos, especialmente no
contexto dos estudos e da tutela do patrimônio. A UNESCO define patrimônio
como “nosso legado do passado, aquilo com que vivemos hoje e aquilo que

14Ernst Nolte, ‘Vergangenheit, die nicht vergehen will: eine Rede, die geschrieben, aber nicht
gehalten werden konnte’, Frankfurter Allgemeine Zeitung (6 de junho de 1986).
deixamos para as futuras gerações”.15 Embora essa definição ampla tenha sido
desafiada, ela indica claramente que o passado está presente enquanto
visitamos igrejas velhas, tocamos músicas antigas ou nos cercamos de objetos
antigos.
Tal patrimônio também pode ser imaterial. Um exemplo óbvio é a tradição
musical em que me insiro ao tocar Bach. Mais cedo ou mais tarde, qualquer um
que se interesse por música clássica descobrirá Bach, assim como qualquer um
que tenha aulas de órgão será confrontado eventualmente pelo Pequeno Livro
para Órgão. Todos os frequentadores de igreja na Europa ocidental estão
familiarizados com o canto de hinos antigos. E não somos todos influenciados
em termos de música e religião, seja positiva ou negativamente, por nossos pais
e pares? As tradições são talvez as formas mais visíveis de patrimônio imaterial,
uma vez que elas cultivam conscientemente uma ligação com o passado. Mas
ideias, costumes e comportamentos do passado também podem viver
inconscientemente no presente. Pessoas que foram criadas religiosamente às
vezes afirmam ter deixado essa criação para trás. Mas quanto mais
intensamente eles o declaram, menos provável que tenham realmente sido
capazes de banir essa educação religiosa de suas vidas. Será que o passado não
assombra o presente de maneiras mais sutis que aquelas que termos como
“acabado” e “estranho” sugerem? Será que as pessoas não são sempre em parte
um produto do passado?
Falando sobre essas influências inconscientes do passado sobre o presente, o
filósofo americano da história Dominick LaCapra usa o termo psicológico
“transferência”: o deslocamento de um sentimento de um contexto para outro.
Quão frequentemente biógrafos tendem a imitar seus biografados? Quão
frequentemente os historiadores adoram inconscientemente padrões e ideias
das pessoas sobre as quais escrevem?

Assim, para mim, transferência significa basicamente a implicação de alguém


nos problemas com que ela lida, implicação que envolve repetição, no seu
próprio discurso, de forças ou movimentos ativos naqueles problemas. A

Citado em John Carman e Marie Louise Stig Sørensen, ‘Heritage Studies: An Outline’, in
15

Marie Louise Stig Sørensen e John Carman (eds.), Heritage Studies: Methods and Approaches,
London; New York: Routledge, 2009, p. 12.
transferência tem lugar em relações entre pessoas (por exemplo, alunos, em
particular da pós-graduação, e professores) e, talvez mais interessante – porque
menos desenvolvido –, na relação de alguém com o próprio objeto de estudo.
Quando você estuda alguma coisa, em algum nível você sempre tem uma
tendência a repetir os problemas que estuda. Algo como uma transferência [...]
sempre ocorre.16

O teórico holandês da história Eelco Runia oferece um exemplo notável dessa


transferência. Em 2002, ele foi a uma reunião dedicada à investigação oficial
que o governo holandês abrira em 1996 a respeito da queda de Srebrenica
(1995) e o papel dos militares holandeses que deveriam ter protegido esse
enclave muçulmano contra os sérvios da Bósnia. Isso é o que Runia escreve
sobre o presidente do comitê de investigação, o historiador Hans Blom:

Conforme eu ouvia o Professor Blom, fiquei surpreso que as


palavras com as quais ele descrevia, explicava e defendia seu
projeto lembravam muito as palavras que as autoridades
políticas e militares haviam usado lá em 1993, 1994 e 1995 para
falar da missão holandesa na e para a Bósnia. “Nós sabíamos”,
disse Blom, “que nossa empreitada era muito arriscada”. E:
“Arriscamos ter um resultado altamente infeliz”, “Tivemos de
construir as coisas do zero”, “Era incerto se conseguiríamos
reunir recursos adequados”, e por aí vai.17

Então, o que Runia sugere é que os historiadores haviam ouvido tão


atentamente ao pessoal militar que começaram a adotar, muito provavelmente
sem perceber, a sua linguagem e a imitar suas metáforas. O quão plausível é tal
sugestão permanece em aberto: explicações alternativas para as frases que Blom
usou foram oferecidas. Apesar disso, a passagem oferece um exemplo notável do
que a transferência pode parecer. Por sua vez, essa transferência, ou
“processamento paralelo”, como Runia chama, ilustra de maneira poderosa que

16 Dominick LaCapra, Writing History, Writing Trauma, Baltimore, MD: Johns Hopkins
University Press, 2001, p. 142.
17 Eelco Runia, Moved by the Past: Discontinuity and Historical Mutation, New York: Columbia

University Press, 2014, p. 18.


o passado não pode ser sempre considerado como “acabado”. Preston King está
correto: “O passado não é cronologicamente presente. Mas não há escapatória
para o fato de que muito dele é substancialmente presente”.18

A Construção do Passado

Então, aonde isso nos leva? No início deste capítulo, disse que, na linguagem
ordinária, “o passado” é sinônimo de “realidade histórica”. “O passado”
geralmente é entendido como que se referindo a um mundo existente em um
momento anterior no tempo. Então, se murmuro “Que belo tesouro do
passado!” enquanto entro na igreja medieval do vilarejo, provavelmente
considero que “o passado” se refere ao primeiro quartil do século XIV, quando o
prédio foi construído, ou a 1599, o ano inscrito em um afresco da abóbada em
lembrança das renovações substanciais realizadas no final do século XVI. De
maneira semelhante, se podemos dizer que as pessoas são moldadas pela sua
relação material com o passado, “o passado” em questão é a realidade história
na qual as pessoas nasceram e foram criadas.
Apesar disso, há dois motivos que explicam por que “o passado” não pode ser
simplesmente igualado à “realidade histórica”. O primeiro é que a realidade
histórica não existe mais. Embora relíquias daquela realidade – a igreja
medieval, o órgão do século XVII, os autógrafos de algumas das composições de
Bach – ainda estejam entre nós, o mundo em que essas relíquias foram criadas
se foi de vez. A realidade histórica “não é aberta à nossa observação, e não há
motivos para pensar que quaisquer resquícios que temos dela agora constituem
em si mesmos o que pode ser chamado de transcrições cruas da realidade
passada”.19 Consequentemente, tudo que podemos dizer sobre aquela realidade
é hipotético, inferido de relíquias, baseado em memórias ou enraizado em
fantasias sobre um passado que serve aos nossos propósitos.
Quando os teóricos da história às vezes falam sobre “a construção do passado”,
eles o fazem precisamente para enfatizar esse ponto. Sem negar que o passado
no sentido de realidade história como tal existiu um dia, eles argumentam que

18King, ‘Thinking Past a Problem’, p. 52.


19W. H. Walsh, ‘Truth and Fact in History Reconsidered’, History and Theory, 1977,
supplement 16, 54.
tudo que as pessoas dizem, pensam ou sentem sobre aquela realidade é
“construído” em sua imaginação com base em informação, relíquias, ideias e
emoções disponíveis no presente. Seja o vilarejo medieval que eu imagino ao
redor do prédio gótico da igreja, seja a maneira que imagino que Bach tocava
“Acabou o Ano Velho”, seja o mundo que os historiadores tentam construir peça
a peça a partir de vários pedaços de informação, cada qual é uma construção
baseada no que está disponível aqui e agora. Por mais real que “o passado”
possa ser nos seus efeitos sobre o presente, tudo que as pessoas dizem sobre ele
é mediado por memórias, sentimentos, estórias e argumentos do presente.20
Um segundo motivo para não igualar “o passado” e “realidade histórica” vem
dos adjetivos que encontramos nas seções anteriores. Se “o passado” é decorado
com adjetivos como “acabado”, “estranho” e “outro”, o passado em questão não
é simplesmente uma “realidade em algum ponto anterior no tempo”, mas aquela
parte da história que, de um ponto de vista contemporâneo, parece “acabado”,
“estranho” ou “diferente do presente”. Assim, na celebrada frase de Hartley – “O
passado é um país estrangeiro: eles fazem as coisas diferentes por lá” – o
passado é como uma campina cercada e habitada por espécies estranhas de
animais. Possivelmente, essa metáfora ressoou com muitas pessoas, não porque
elas tenham experimentado a história em geral como “estrangeira” e “diferente”,
mas porque elas sentiram que os tópicos particulares em que estavam
trabalhando ou os temas específicos sobre os quais se interessavam eram
melhor abordados com uma maior sensibilidade para a individualidade, a
diversidade e a mudança. Então, embora “o passado” geralmente se refira à
“realidade histórica”, tudo que as pessoas dizem sobre ele é uma questão de
inferências ou hipóteses construídas com base em relíquias, memórias e
influências do aqui-e-agora. Como conclui King: “O passado, falando
estritamente, nunca é visto, mas apenas suposto, e evidências como as que
temos no presente podem ser distribuídas de acordo com essa suposição”. 21
Se isso é verdade, então a questão seguinte é: o que é que incita as pessoas a
lidarem com o passado? Como é que eu me relaciono com o passado, em um ou
mais dos sentidos distintos acima, quando me sento em um órgão do século

20 Isso é verdade até para o passado cronológico, dado que, pelo menos historicamente, as
cronologias vêm em diferentes tipos e formas. Ver Daniel Rosenberg e Anthony Grafton,
Cartographies of Time, New York: Princeton Architectural Press, 2010.
21 King, ‘Thinking Past a Problem’, p. 47.
XVII em uma igreja do século XIV e escuto com ouvidos do século XXI os sons
que tiro do instrumento? Enquanto este capítulo lidou com “o passado”, o
próximo examinará que tipos de relações as pessoas mantêm com esse passado
e, com base nisso, desenvolverá um modelo que servirá de enquadramento para
o resto do livro.

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