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À história estão intimamente conectados dois progressos essenciais: a definição de

pontos de partida cronológicos (fundação de Roma, era cristã, hégira e assim por
diante) e a busca de uma periodização, a criação de unidades iguais, mensuráveis,
de tempo: dia de vinte e quatro horas, século, etc.
Hoje, a aplicação à história dos dados da filosofia, da ciência, da experiência
individual e coletiva tende a introduzir, junto destes quadros mensuráveis do tempo
histórico, a noção de duração, de tempo vivido, de tempos múltiplos e relativos, de
tempos subjetivos ou simbólicos. O tempo histórico encontra, num nível muito
sofisticado, o velho tempo da memória, que atravessa a história e a alimenta.
3-4) A oposição passado/presente é essencial na aquisição da consciência do tempo.
Para a criança, "compreender o tempo significa libertar-se do presente" (Piaget),
mas o tempo da história não é nem o do psicólogo nem o do lingüista. Todavia o
exame da temporalidade nestas duas ciências reforça o fato de que a oposição
presente/passado não é um dado natural mas sim uma construção. Por outro lado, a
constatação de que a visão de um mesmo passado muda segundo as épocas e que o
historiador está submetido ao tempo em que vive, conduziu tanto ao ceticismo sobre
a possibilidade de conhecer o passado quanto a um esforço para eliminar qualquer
referência ao presente (ilusão da história romântica à maneira de Michelet – "a
ressurreição integral do passado' – ou da história positivista à Ranke – "aquilo
que realmente aconteceu'). Com efeito, o interesse do passado [pg. 014] está em
esclarecer o presente; o passado é atingido a partir do presente (método regressivo
de Bloch). Até o Renascimento e mesmo até o final do século XVIII, as sociedades
ocidentais valorizaram o passado, o tempo das origens e dos ancestrais surgindo
para eles como uma época de inocência e felicidade. Imaginaram-se eras míticas:
idades-do-ouro, o paraíso terrestre... a história do mundo e da humanidade aparecia
como uma longa decadência. Esta idéia de decadência foi retomada para exprimir a
fase final da história das sociedades e das civilizações; ela se insere num
pensamento mais ou menos cíclico da história (Vico, Montesquieu, Gibbon, Spengler,
Toynbee) e é em geral o produto de uma filosofia reacionária da história, um
conceito de escassa utilidade para a ciência histórica. Na Europa do final do
século XVII e primeira metade do XVIII, a polêmica sobre a oposição antigo/moderno,
surgida a propósito da ciência, da literatura e da arte, manifestou uma tendência à
reviravolta da valorização do passado: antigo tornou-se sinônimo de superado, e
moderno de progressista. Na realidade, a idéia de progresso triunfou com o
Iluminismo e desenvolveu-se no século XIX e início do XX, considerando sobretudo os
progressos

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