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Boa tarde a todos.

Hoje trago vos a história de um homem que lutou para viver durante
muitos anos. Tudo começou em meados de 2015, numas férias em família no destino de
sonho que iria celebrar uns felizes anos de casados. Contudo, numa noite uma queda da
escadaria do restaurante dita o resto da vida deste homem. Um traumatismo craneano
grave deixa este senhor preso dentro de um corpo completamente paralisado. Depois de
meses de cuidados e cirurgias no estrangeiro e depois de todas as burocracias, recebo
este doente na unidade para uma suposta recuperação funcional. Pouco tempo de
começar o programa era cada vez mais notório as sequelas graves e a incapacidade
permanente que aquele doente iria ter. Ele não olhava, não respondia, não se mexia...
No outro lado havia um núcleo familiar em sofrimento que fazia imensa pressão para
que fizéssemos quase um milagre. Foram anos de dedicação a reabilitação deste doente.
Quando se falava em cuidados paliativos a esta família era logo recusado. Eles achavam
que nessa altura o iríamos abandonar. E era completamente o contrário. Só lhe
queríamos dar mais. Quando engravidei, estive fora um ano da unidade e nessa altura
tive de deixar este doente a outro colega. Expliquei a esposa que viu esta minha saída
como uma nova oportunidade para o marido. Ela achava que eu não tinha feito o
suficiente. Um ano depois quando regresso (2019), este doente continuava lá ( prova
que um doente paliativo pode durar anos). Não fazia sentido voltar para mim. Mas o
estado dele tinha piorado substancialmente e neste momento ele já era um doente
paliativo "oficialmente". Por coincidência voltei a estar com este doente nas férias
grandes do meu colega. A esposa ficou surpresa quando me viu. Depois de uns dedos de
conversa ela acaba por me dizer: " Não a quis ouvir porque não queria dizer adeus ao
meu marido. Mas afinal o meu marido não voltou da nossa viagem. Gostava que o
voltasse a ajudar agora". Aquelas palavras foram especiais. O doente partiu passado uns
dias. Confortável e sem sofrimento. Mas o melhor foi que a família conseguiu fazer o
seu luto antecipadamente e cedo ou tarde foi possível ajudar este senhor como ele
merecia. As boas memórias ficam no paraíso.
#cuidadospaliativos #paliativos #fisioterapia #cuidar
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